controle estrutural e estudo das inclusões fluídas dos ... · controle estrutural e estudo das...
TRANSCRIPT
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS
Jonas Mangoni Rambo
Controle estrutural e estudo das Inclusões Fluídas dos
garimpos da região de Terra Nova do Norte e Nova Santa
Helena, Província Aurífera Alta Floresta, Cráton Amazônico.
Orientador: Profº Drº Francisco Egídio Cavalcante Pinho
Cuiabá, 2014
ii
Cuiabá, 2014
REITORIA
Reitora
Profª. Drª. Maria Lucia Cavalli Neder
Vice-Reitor
Prof. Dr. João Carlos de Souza Maria
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Pró-Reitora
Profª. Drª. Leny Caselli Anzai
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
Diretor
Prof. Dr. Martinho da Costa Araújo
DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS
Chefe
Prof. Dr. Paulo César Corrêa da Costa
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS
Coordenador
Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz
Vice-Coordenadora
Prof. Dr. Ronaldo Pierosan
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Nº 51
Controle estrutural e estudo das Inclusões Fluídas dos garimpos da região de Terra Nova do
Norte e Nova Santa Helena, Província Aurífera Alta Floresta, Cráton Amazônico.
JONAS MANGONI RAMBO
Orientador: Prof. Dr. Francisco Egídio Cavalcante Pinho Co-orientador: Prof. Dr. Elzio da Silva Barboza
Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-
Graduação em Geociências do Instituto de Ciências Exatas
e da Terra da Universidade Federal de Mato Grosso como
requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em
Geociências; Área de concentração: Metalogênese.
CUIABÁ
2014
iv
v
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS
Controle estrutural e estudo das Inclusões Fluídas dos garimpos da região de Terra Nova do
Norte e Nova Santa Helena, Província Aurífera Alta Floresta, Cráton Amazônico.
JONAS MANGONI RAMBO
MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Presidente: Profº. Dr. Francisco Egídio Cavalcante Pinho
_____________________________________________
1º Examinador: Profº. Dr. Paulo Cesár Corrêa da Costa
____________________________________________
2º Examinador: Profº Dr. Adelir José Strieder
Cuiabá, 2014.
vi
Dedico esse trabalho a todos os meus familiares e amigos, em especial para os meus pais, Fridolino Spies
Rambo e Cleoni de Fátima Mangoni Rambo, a minha irmã Bruna Raissa Mangoni Rambo e a minha
esposa Ana Paula Martins Pinheiro Santos.
vii
“O Senhor é meu pastor e nada me faltará...”
Salmos 23:1
viii
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a meu Senhor e Salvador Jesus Cristo
pela dádiva da vida. Sei que sem Ele eu não teria conseguido. Seu amor, carinho e
fidelidade para comigo foram de extrema importância para que o sonho um dia se
tornasse realidade.
Não posso deixar de agradecer a minha família. Todos os meus parentes que
tiveram grande importância nesta conquista, mas gostaria de ressaltar a
importância dos meus pais e irmã. Gostaria de agradecer a minha mãe Cleoni de
Fátima Mangoni Rambo por todas as mensagens matinais, por todas as ligações
dirigidas a mim durante esses longos anos, por todas as noites que lhe fiz passar
em claro, sendo para me acalmar, sendo para cuidar de mim quando estava
enfermo ou por qualquer outro motivo. Agradeço-lhe por ter me enchido de amor,
carinho e atenção. Eu não poderia ter tido mãe melhor que você, mulher guerreira,
forte, batalhadora, amorosa, carinhosa, protetora, preocupada... enfim, uma Super
Mãe. Agradeço a meu pai, Fridolino Spies Rambo, por ser esse homem
maravilhoso, esse guerreiro, batalhador, espelho. Agradeço-te pai por nunca se
contentar com o pouco, por querer sempre mais, e querer sempre o melhor para a
nossa família, por não olhar para trás, por saber superar os golpes da vida e seguir
ix
sempre adiante de cabeça erguida. Saiba que se hoje tenho esses valores comigo
foi porque tive em quem me inspirar. Poucas vezes disse isso a você, e me
arrependo de não ter dito mais vezes, mas você é meu orgulho, sinto-me lisonjeado
de dizer que você é meu pai, o cabeça da família. Agradeço a minha irmã por ser
essa pessoa tão especial, por estar sempre comigo, me apoiando, me dando força
quando precisava, por torcer sempre por mim. Mana, você é um diamante que
Deus me deu, um diamante de valor imensurável, um presente inestimável.
Não posso deixar de agradecer aquela que me acalmou no meu sufoco, que
me deu ombro para chorar, que me deu carinho para acalmar, aquela que sem a
qual eu não teria decidido fazer mestrado, aquela que mudou a minha vida, que
mudou meu jeito de agir e de pensar, a mulher dos meus sonhos, a minha esposa
amada Ana Paula Martins Pinheiro Santos. Amor saiba que tudo que fiz foi
buscando o melhor para nós dois. Amor, se hoje eu realizo esse sonho, se hoje eu
alcanço essa vitória, se hoje concluo mais essa etapa da minha vida, é porque tive
você do meu lado. Se não fosse você eu não teria forças para chegar aonde chego
hoje.
Agradeço a Universidade Federal de Mato Grosso por ter me dado não só o
titulo de Bacharel em Geologia como também a oportunidade de ingressar no
Programa de Pós-Graduação em Geociências. Agradeço ao meu orientador
x
Francisco Egídio Cavalcante Pinho por ter aceitado esse desafio, por ter lutado
comigo e ter me ajudado com seu conhecimento e sua dedicação.
Por fim, mas não menos importante, gostaria de agradecer todos os
professores e amigos que um dia entraram na minha vida e de diferentes formas me
ajudaram a realizar esse sonho. Essa vitória também é vossa.
Agradeço a todos, com muito amor e carinho.
xi
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................................................ xviii
ABSTRACT ........................................................................................................................................................... xix
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS ......................................................................................................................... 20
2. LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO ..................................................................................................................... 22
3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................................................... 24
4. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS ............................................................................................................................... 26
5. GEOLOGIA REGIONAL....................................................................................................................................... 29
5.1. CONTEXTO GEOTECTÔNICO ............................................................................................................................. 29
5.2. PROVÍNCIA AURÍFERA DE ALTA FLORESTA ....................................................................................................... 31
6. GEOLOGIA LOCAL ............................................................................................................................................. 36
6.1. ROCHAS ENCAIXANTES DAS OCORRÊNCIAS ESTUDADAS ................................................................................. 36
6.1.1. GRANITO NHANDU ................................................................................................................................... 36
6.1.2. SUÍTE INTRUSIVA MATUPÁ ....................................................................................................................... 38
7. OCORRÊNCIAS AURÍFERAS ESTUDADAS ........................................................................................................... 42
7.1. MINA DO EDU ................................................................................................................................................... 42
7.2. GARIMPO DO PETECA ....................................................................................................................................... 49
7.3. FILÃO DO LAJE .................................................................................................................................................. 55
7.4. FILÃO DO COCHEIRA ......................................................................................................................................... 62
7.5. FILÃO DO VINTE ................................................................................................................................................ 70
8. INCLUSÕES FLUÍDAS ......................................................................................................................................... 78
8.1. INCLUSÕES FLUÍDAS – MINA DO EDU .............................................................................................................. 79
8.1.1. MICROTERMOMETRIA DA MINA DO EDU ................................................................................................. 81
8.2. INCLUSÕES FLUÍDAS – GARIMPO DO PETECA .................................................................................................. 84
8.2.1. MICROTERMOMETRIA DO GARIMPO DO PETECA .................................................................................... 87
8.3. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO LAJE .............................................................................................................. 89
8.3.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO LAJE ................................................................................................ 92
xii
8.4. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO COCHEIRA ..................................................................................................... 94
8.4.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO COCHEIRA ...................................................................................... 97
8.5. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO VINTE.......................................................................................................... 100
8.5.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO VINTE ........................................................................................... 103
9. TRABALHOS DE INCLUSÕES FLUÍDAS NA PAAF ............................................................................................... 105
9.1. Garimpos estudados por Assis (2006) ............................................................................................................ 106
9.2. Garimpos estudados por Silva et al. (2008) .................................................................................................... 107
9.3. Garimpo do Papagaio estudado por Galé et al. (2011) .................................................................................. 112
9.4. Garimpo do Trairão estudado por Dias (2012) ............................................................................................... 113
10. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 115
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................................... 122
ANEXOS ............................................................................................................................................................. 125
xiii
LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mapa de localização da Mina do Edu e dos garimpos em epígrafe e vias de acesso. ................ 23
Figura 2: A) Laboratório de Inclusões Fluídas da UFMT; B) Platina de aquecimento e resfriamento
acoplada ao microscópio. ............................................................................................................................ 26
Figura 3: Localização da PAAF na compartimentação geocronológica do Cráton Amazônico
(Modificado de Tassinari & Macambira, 2004). ......................................................................................... 30
Figura 4: Mapa de localização e domínios geológicos da PAAF, destacando a área em epígrafe
(Modificado de Lacerda Filho et al. 2004 e Paes de Barros 2007). ............................................................ 35
Figura 5: A) Sienogranito de granulação fina; B) Sienogranito de granulação média; C)
Fotmomicrografia mostrando quartzo com textura poiquilítica; D) Fotomicrografia mostrando
plagioclásio com textura mirmequítica; E) Fotomicrografia mostrando microclima; F) Fotomicrografia
mostrando biotita alterando para clorita. ..................................................................................................... 37
Figura 6: Diagrama QAP plotadas as amostras do Granito Nhandu. ........................................................ 38
Figura 7: A) Forma de ocorrência do granito da Suíte Intrusiva Matupá; B, C) Amostra do granito da
Suíte Intrusiva Matupá; D) Forma de ocorrência dos diques. ..................................................................... 39
Figura 8: Diagrama QAP da Suíte Intrusiva Matupá. ................................................................................ 40
Figura 9: A, B) Fotomicrografia mostrando quartzo em objetiva de 4x; C) Fotomicrografia mostrando
biotita alterando para clorita em objetiva de 4x; D) Fotomicrografia mostrando microclina em objetiva de
4x. ............................................................................................................................................................... 41
Figura 10: Mapa da Mina do Edu mostrando a variação na granulometria do Granito Nhandu e a posição
da cava garimpeira. ..................................................................................................................................... 43
Figura 11: A, B) Foto da cava garimpeira da Mina do Edu....................................................................... 44
Figura 12: Estereograma de isovalores e polos da zona de cisalhamento da Mina do Edu. ...................... 44
Figura 13: A) Foto das Vênulas de Sulfeto; B) Foto das slikensides da zona de cisalhamento da Mina do
Edu. ............................................................................................................................................................. 44
Figura 14: Halos de alteração hidrotermal no Garimpo do Edu: 1) Halo de Sulfetação; 2) Halo de
Silicificação; 3) Halo de Cloritização; 4) Halo de Potassificação. ............................................................. 46
Figura 15: Localização das amostras enviadas para geoquímica. ............................................................. 47
Figura 16: Fotos da cava garimpeira do Garimpo do Peteca. .................................................................... 50
Figura 17: Mapa da cava garimpeira do Garimpo do Peteca mostrando sulfetação no entorno da área da
cava. ............................................................................................................................................................ 51
Figura 18: Estereograma de isolvalores e polos da falha do Garimpo do Peteca. ..................................... 52
xiv
Figura 19: A e B) Slikensides do Garimpo do Peteca, mostrando o movimento sinistral. ........................ 52
Figura 20: Granito sulfetado do Garimpo do Peteca. ................................................................................ 53
Figura 21: A) Veio de quartzo perpendicular ao cisalhamento (contorno amarelo); B) Veio de quartzo
paralelo ao cisalhamento (contorno amarelo). ............................................................................................ 53
Figura 22: Mapa de localização dos garimpos dentro da Fazenda Figueira Branca (modificado de CPRM
2013). .......................................................................................................................................................... 56
Figura 23: A,B) Fotos da cava garimpeira do Filão do Laje. .................................................................... 56
Figura 24: A) Fácies do Granito Matupá de granulometria grossa; B) Fácies do Granito Matupá de
granulometria fina. ...................................................................................................................................... 57
Figura 25: Mapa da cava garimpeira do Filão do Laje. ............................................................................. 59
Figura 26: Estereograma de isovalores e polos da zona de cisalhamento do Filão do Laje. ..................... 60
Figura 27: A e B) Veio principal do Filão do Laje. ................................................................................... 60
Figura 28: ) Foto da antiga cava garimpeira do Filão do Cocheira; B) Foto da nova cava garimpeira do
Filão do Cocheira. ....................................................................................................................................... 63
Figura 29: Mapa do Filão do Cocheira. ..................................................................................................... 65
Figura 30: A, B) Veios de quartzo do Filão do Cocheira. ......................................................................... 66
Figura 31: A,B) Veios de quartzo com textura em pente. ......................................................................... 66
Figura 32: A) Dique intemperizado perpendicular a atitude principal (contorno branco). B, C, D) Veios
de quartzo paralelos à direção principal (contorno branco). ....................................................................... 67
Figura 33: Estereograma de isovalores e polos dos veios de quartzo do Filão do Cocheira. .................... 68
Figura 34: A, B) Fotografias da Cava garimpeira do Filão do Vinte. ....................................................... 70
Figura 35: A) Veio de quartzo paralelo ao filão principal (contorno preto); B,C) Veio principal do Filão
do Vinte (contorno branco). ........................................................................................................................ 71
Figura 36: Mapa geológico da área do entorno do Filão do Vinte. ........................................................... 72
Figura 37: Shaft usado para retirada de material e para translado de pessoas. .......................................... 73
Figura 38: Estereograma de isovalores e polos do veio principal do Filão do Vinte com atitudes de
N05E/85°SE. ............................................................................................................................................... 74
Figura 39: A,B) Filão principal visto de dentro do shaft, a uma profundidade de 45 metros.................... 74
Figura 40: A,B,C,D) Ouro livre (contornado pelas linhas brancas) no material do filão principal do Filão
do Vinte. ...................................................................................................................................................... 75
Figura 41: Mapa geológico do Filão do Vinte em profundidade de 45 metros (Shaft). ............................ 76
Figura 42: Inclusão do Grupo I da Mina do Edu. A) Foto de inclusão fluída monofásica; B) Desenho da
inclusão fluída monofásica. ........................................................................................................................ 80
xv
Figura 43: Foto da inclusão do Grupo II da Mina do Edu. A) Inclusão fluída trifásica; B) Desenho da
inclusão fluída trifásica. .............................................................................................................................. 81
Figura 44: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão de CO2; B) Homogeneização total.................................................................................................... 82
Figura 45: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão de CO2; B) Fusão do Clatrato; C) Salinidade; D) Homogeneização do CO2; E) Temperatura de
homogeneização total. ................................................................................................................................. 83
Figura 46: Inclusão do Grupo I do Garimpo do Peteca. A) Inclusão Fluída Bifásica; B) Desenho da
inclusão. ...................................................................................................................................................... 85
Figura 47: Inclusão do Grupo II do Garimpo do Peteca. A) Inclusão fluída Trifásica; B) Desenho da
inclusão fluída trifásica. .............................................................................................................................. 86
Figura 48: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. ............................ 88
Figura 49: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. ............................ 89
Figura 50: A) Trilhas de inclusões fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões. ..................................... 90
Figura 51: Inclusão do Grupo I do Filão do Laje. A) Foto de inclusão fluída bifásica; B) Desenho da
inclusão fluída bifásica. .............................................................................................................................. 90
Figura 52: Inclusão do Grupo II do Filão do Laje. A) Inclusão fluída trifásica; B) Desenho da inclusão
fluída trifásica. ............................................................................................................................................ 91
Figura 53: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. ............................ 93
Figura 54: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. ............................ 94
Figura 55: A) Trilhas de Inclusões Fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões. .................................... 95
Figura 56: Inclusão do Grupo I do Filão do Cocheira. A) Foto de inclusões fluídas bifásicas; B) Desenho
das inclusões fluídas bifásicas..................................................................................................................... 96
Figura 57: Inclusão do Grupo II do Filão do Cocheira. A) Foto de uma inclusão tifásica; B) Desenho da
inclusão fluída trifásica. .............................................................................................................................. 97
Figura 58: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. ............................ 99
Figura 59: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. .......................... 100
xvi
Figura 60: A) Trilha de inclusões fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões fluídas.......................... 101
Figura 61: Inclusão do Grupo I do Filão do Vinte. A) Inclusão fluída bifásica; B) Desenho da inclusão
fluída bifásica. ........................................................................................................................................... 101
Figura 62: Inclusão do Grupo II do Filão do Vinte. A) Foto da inclusão fluída trifásica; B) Desenho da
inclusão fluída trifásica. ............................................................................................................................ 102
Figura 63: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. .......................... 104
Figura 64: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. .......................... 105
Figura 65: Modelo de diagrama Riedel com as orientações predominantes do domínio dúctil-rúptil
(modificado de Souza et al. 2005). .......................................................................................................... 116
xvii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Produção de ouro no período de 1980 - 1999 em vários distritos auríferos do Estado de Mato
Grosso (METAMAT 2003, dados não publicados). ................................................................................... 21
Tabela 2: Resultados das análises geoquímica para as amostras da Mina do Edu. Valores em ppm. ....... 47
Tabela 3: Resultados da geoquímica para elementos traços da Mina do Edu. Valores em ppm, exceto o
Enxofre (S) que está em porcentagem. ....................................................................................................... 49
Tabela 4: Resultados da geoquímica para as amostras do Garimpo do Peteca. Valores apresentados em
ppm. ............................................................................................................................................................ 54
Tabela 5: Resultados da geoquímica para elementos traços do Garimpo do Peteca. Valores dados em
ppm, exceto Enxofre (%). ........................................................................................................................... 55
Tabela 6: Tabela com os resultados da geoquímica para amostras do Filão do Laje. Valores dados em
ppm. ............................................................................................................................................................ 61
Tabela 7: Tabela com os resultados da geoquímica para elementos traços do Filão do Laje. Valores dados
em ppm, exceto Enxofre (%). ..................................................................................................................... 62
Tabela 8: Tabela dos resultados da geoquímica das amostras do Filão do Cocheira. Valores dados em
ppm. ............................................................................................................................................................ 68
Tabela 9: Dados geoquímicos do Filão do Cocheira para elementos traços. Valores dados em ppm,
exceto Enxofre (%). .................................................................................................................................... 70
Tabela 10: Tabela de resultados da geoquímica do Filão do Vinte. Valores dados em ppm. .................... 77
Tabela 11: Dados geoquímicos para elementos traços do Filão do Vinte. Valores em ppm, exceto
Enxofre (%). ................................................................................................................................................ 78
Tabela 12: Tabela simplificada de elementos químicos correlacionáveis com o ouro para cada depósito.
Os quadros brancos apresentam teores baixos, os amarelos teores médios e os vermelho apresentam altos
teores. ........................................................................................................................................................ 117
Tabela 13: Dados da microtermometria dos Grupos I e II da Mina do Edu. Os valores apresentados são
os valores de maior ocorrência ................................................................................................................. 117
Tabela 14: Dados da microtermometria dos Grupos I e II do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do
Cocheira e do Filão do Vinte. Os valores apresentados são os valores de maior ocorrência.
.................................................................................................................................................................. 118
xviii
RESUMO
A Província Aurífera Alta Floresta (PAAF) localiza-se no norte do estado de Mato
Grosso, delimitada ao norte pelo Gráben do Cachimbo e ao sul pelo Gráben dos Caiabís. Se
enquadra na porção sul do Cráton Amazônico, entre as províncias geocronológicas Ventuari –
Tapajós e Rio Negro – Juruena. Na porção leste da PAAF foram selecionados 5 alvos para
elaboração deste trabalho: (i) Mina do Edu; (ii) Garimpo do Peteca; (iii) Filão do Laje; (iv) Filão
do Cocheira e (v) Filão do Vinte. O corpo mineralizado do Edu tem atitudes de
N55ºE/subvertical, e é classificado como estruturas do tipo T. Essas estruturas são fraturas
extensionais que ocorreram com a mesma atitude do esforço principal e, portanto, indicam a
direção do esforço compressivo principal e são preenchidas por veios de quartzo. A Mina do Edu
apresenta fluídos carbônicos e aquosa-carbônico. O Garimpo do Peteca e o Filão do Laje, com
atitudes de E-W/subvertical, são classificados como estruturas do tipo R. Os Filões do Cocheira e
do Vinte, com atitudes N-S/subvertical, são classificados como estruturas do tipo X, que são
zonas confinadas de cisalhamento transcorrente geradas a partir da nucleação de fraturas de
cisalhamento dextral. O Garimpo do Peteca, o Filão do Laje, Filão do Cocheira e Filão do Vinte
apresentam fluídos estritamente aquosos, variando de alta a média salinidade. Esses fluídos
distintos sugerem mineralizações provenientes de uma mesma fonte magmática, no entanto,
devido à distância de algumas ocorrências da fonte, o fluído foi interagindo com outros fluídos,
se distinguindo assim do fluído primário.
Palavras-chave: Inclusões Fluídas, veios mineralizados a ouro, estruturas tectônicas, Província
Aurífera de Alta Floresta.
xix
ABSTRACT
The Alta Floresta Gold Province (PAAF) is located in the northern state of Mato Grosso,
bounded on the north by the Gráben do Cachimbo and on the south by Gráben dos Caiabis. The
PAAF fits in the southern portion of the Amazon Craton, between the Ventuari - Tapajós and
Rio Negro - Juruena geochronological provinces. In the eastern portion of PAAF 5 targets were
selected for the present work: (i) Mina do Edu (ii) Garimpo do Peteca (iii) Filão do Laje , (iv)
Filão do Cocheira (v) Filão do Vinte. The mineralized body of the Mina do Edu has attitude of
N55ºE/subvertical, and is classified as structures of the T type. These structures are extensional
fractures that occurred with the same attitude as the main effort, and therefore indicate the
direction of the main compressive stress and are filled by quartz veins. The Mina do Edu
presents carbonic and aqueous-carbonic fluid inclusions. The Garimpo do Peteca and Filão do
Laje, with attitudes of EW/subvertical, are classified as structures of the R type. The Filão do
Cocheira and Filão do Vinte, with attitudes NS/subvertical, are classified as structures of the X
type, which are enclosures transcurrent shear generated from the nucleation of dextral shear
fractures. The Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira and Filão do Vinte presents
strictly aqueous fluid inclusions, ranging from high to medium salinity. These different fluids
suggest mineralization from the same magmatic source, however, due to the distance of the
source from some instances, the fluid was interacting with other fluids, thus distinguishing from
the primary fluid.
Keywords: Fluid Inclusions, gold mineralized veins, tectonic structures, Alta Floresta Gold
Province.
20
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
O Cráton Amazônico corresponde a uma das maiores áreas cratônicas do planeta,
abrangendo aproximadamente 4,3 milhões de km2 (Tassinari & Macambira, 2004). Sua gênese
teria ocorrido mediante a acresção de sucessivos arcos magmáticos que envolveram a formação
de material juvenil, além de subordinados processos de retrabalhamento crustal durante o
Paleoproterozóico em torno de um núcleo arqueano (Província Amazônia Central) estabilizado
por volta de 2,5 Ga (Dardene & Schobbenahus, 2000; Tassinari & Macambira, 2004; Cordani et
al., 2009). A Província Aurífera Alta Floresta (PAAF) está localizada na porção centro-sul do
Cráton Amazônico (centro-norte do estado do Mato Grosso). Essa província configura uma área
alongada de direção noroeste-sudeste limitada a norte pelo Gráben do Cachimbo, que a separa da
Província Aurífera do Tapajós (PAT), e a sul pelo Gráben dos Caiabis. A PAAF engloba partes
das Províncias Geocronológicas Ventuari-Tapajós (1,95 – 1,8 Ga) e Rio Negro-Juruena (1,8 –
1,55 Ga) na concepção de Tassinari & Macambira (1999).
As primeiras ocorrências auríferas na região remetem aos municípios de Peixoto de
Azevedo e Matupá, no ano de 1978, com a construção da rodovia BR-163, que liga a capital
mato-grossense Cuiabá a Santarém, no estado do Pará (Paes de Barros 1994, Moura 1998). Essas
ocorrências atraíram um grande contingente de garimpeiros à região, o que resultou na
descoberta de inúmeros depósitos auríferos aluvionares ao longo do Rio Peixoto de Azevedo e
seus afluentes. Com a diminuição e exaustão destas reservas de enriquecimento secundário,
abriu-se caminho ao descobrimento de várias ocorrências de ouro primário em filões (Moreton &
Martins 2005, Paes de Barros 2007), etapa que se estende até o presente.
O potencial metalogenético da província para mineralizações auríferas pode ser
demonstrado pela sua produção acumulada de ouro da ordem de 160 ton, gerada no período entre
1980 a 1999 (Tab. 1), quando foi uma das principais regiões auríferas do país. O seu histórico de
produção e o grande número de ocorrências primárias indicam que a PAAF ainda sustenta um
potencial exploratório significativo. Além disso, sempre que ocorre a ascensão do preço do ouro,
várias empresas de exploração mineral, na sua maioria Juniors, investem na descoberta de novos
depósitos ou na reavaliação do potencial daqueles já conhecidos na PAAF.
21
Atualmente, uma grande parcela desses depósitos concentra-se no setor leste da
província, particularmente na região que abrange os municípios de Peixoto de Azevedo, Novo
Mundo, Guarantã do Norte, Matupá e Terra Nova do Norte. Neste cenário, a área em epígrafe se
localiza entre os municípios de Nova Santa Helena e Terra Nova do Norte, abrangendo, entre
outros, a mina do Edu, o garimpo do Peteca e os Filões do Vinte, do Laje e do Cocheira, estes
últimos localizados na Fazenda Figueira Branca, alvos dos estudos.
Tabela 1: Produção de ouro no período de 1980 - 1999 em vários distritos auríferos do Estado de Mato Grosso (METAMAT 2003, dados não publicados).
Província e/ou distrito
Extensão da área explorada (há)
Produção (ton) 1980-1999
Reservas em metal (ton)
Produção Tonelada
Cubada Potencial 1999 2000
Baixada Cuiabana 15.000 70
13,85 200 1,8 2,2
Xavantina 500 6 19,84 20 - -
Guaporé 2.000 30 48,6 300 1,5 2,0
Alta Floresta 500.000 160 26 600 3,2 3,8
Sub-Total 517.500 266 108,29 1.120 6,5 8,0
As inclusões fluídas são paleolíquidos trapeados em minerais, que na verdade são as
verdadeiras amostras dos fluídos responsáveis pelas mineralizações e que colaboram
significativamente na construção de modelos metalogenéticos favorecendo a descoberta de novas
reservas com melhor potencial exploratório. Os dados gerados a partir destas inclusões
oportunizam conhecer as condições físico-químicas reinantes durante e/ou após a cristalização e
a recristalização do mineral hospedeiro, fornecendo informações sobre os processos que estão
relacionados à formação ou aos eventos superimpostos a este mineral. Alguns trabalhos de
inclusões fluídas têm sido realizados na PAAF com a intenção de caracterizar as condições
físico-químicas dos fluídos mineralizantes (Silva et. al 2008, Gale et al. 2011, Dias 2012).
Este trabalho objetiva caracterizar as mineralizações na área de pesquisa enfatizando
aspectos geológicos estruturais e determinar a natureza dos fluídos mineralizantes. Para alcançar
tais objetivos foi utilizada a geologia estrutural concomitante com o estudo das inclusões fluídas.
22
2. LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO
A área em epígrafe localiza-se entre as sedes dos municípios de Nova Santa Helena e de
Terra Nova do Norte (Fig. 1), no norte do estado de Mato Grosso, a uma distância de
aproximadamente 700 km de Cuiabá, capital do Estado. O acesso terrestre é feito pela BR 163, a
qual corta a área de estudo e dá acesso as sedes municipais de Nova Santa Helena a Terra Nova
do Norte. Abaixo as descrições detalhadas de como se chegar as ocorrências auríferas estudadas:
- Mina do Edu (Longitude: 698124; Latitude: 8802548): A mina do Edu se localiza a
aproximadamente 3 km do centro da cidade de Nova Santa Helena, a margem esquerda da BR
163 com sentido Nova Santa Helena a Terra Nova do Norte.
- Garimpo do Peteca (Longitude: 726516; Latitude: 8813013): O acesso ao Garimpo do
Peteca pode ser feito tanto pelo município de Nova Santa Helena quanto pelo município de Terra
Nova do Norte. Para o acesso pelo município de Nova Santa Helena, se faz necessário tomar a
MT 320 que liga a cidade de Nova Santa Helena a cidade de Marcelândia. Após
aproximadamente 10 km na MT 320, toma-se uma estrada vicinal que dará acesso ao Garimpo
do Peteca. Já para o acesso ao Garimpo do Peteca partindo da cidade de Terra Nova do Norte, se
faz necessário tomar a BR 163 com sentido ao município de Peixoto de Azevedo, e após 3 km na
BR 163 adentra-se a margem direita da BR em estradas vicinais que nos levarão até ao Garimpo
do Peteca.
- Fazenda Figueira Branca: A Fazenda Figueira Branca contém 3 ocorrências auríferas
estudadas por esse projeto, Filão do Laje (Longitude: 736889; Latitude: 8814471, Filão do
Cocheira (Longitude: 737215; Latitude: 8816925) e Filão do Vinte (Longitude: 737980;
Latitude: 8817710). O acesso a Fazenda Figueira Branca pode ser feito pelas duas cidades já
mencionadas, Terra Nova do Norte e Nova Santa Helena. Para se fazer o acesso pela cidade de
Nova Santa Helena, toma-se a MT 320 com sentido á cidade de Marcelândia, onde, ao andarmos
aproximadamente 10 km na MT 320, tomamos estradas vicinais, as quais nos levam até a sede da
Fazenda Figueira Branca através de placas. Para o acesso pela cidade de Terra Nova do Norte,
23
percorre-se aproximadamente 3 km pela BR 163 com sentido ao município de Peixoto de
Azevedo, onde toma-se na margem direita da BR 163 estradas vicinais que nos levam até a sede
da Fazenda Figueira Branca por informações contidas em placas.
Figura 1: Mapa de localização da Mina do Edu e dos garimpos em epígrafe e vias de acesso.
24
3. MATERIAIS E MÉTODOS
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A primeira etapa deste trabalho consistiu em levantamento e estudos de referências
bibliográficas tanto dos métodos aplicados quanto do contexto geológico regional, dando ênfase
em trabalhos realizados na Província Aurífera Alta Floresta.
TRABALHO DE CAMPO
Para alcançar os objetivos propostos foram realizadas 3 etapas de campo que totalizam 25
dias. A primeira etapa foi compreendida entre os dias 17 a 27 de Abril de 2012 (10 dias), a
segunda etapa foi realizada entre os dias 20 a 30 de Outubro de 2012 (10 dias) e a última etapa
entre os dias 19 a 24 de Abril de 2013 (5 dias).
Durante essas etapas de campo foram coletadas amostras para geoquímica e para
petrografia, foram realizados levantamentos de dados estruturais, reconhecimento dos veios
mineralizados e classificação das diferentes fácies litológicas. Através destes dados, foi possível
dar prosseguimento as outras etapas do projeto.
PETROGRAFIA
Para o estudo da petrografia foram confeccionadas 7 lâminas delgadas no Laboratório de
Laminação da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Os estudos petrográficos foram
realizados no laboratório de pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso em microscópio
petrográfico modelo Olimpus Bx 41. Para captura das fotomicrografias foi utilizada uma câmera
com conexão USB acoplada ao microscópio (Infinity 1).
25
GEOQUÍMICA
No total, 34 amostras representativas dos garimpos e de suas proximidades foram
enviadas para análises geoquímicas de teor de ouro, sendo estas coletadas em diferentes zonas de
alteração hidrotermal dos garimpos.
Essas amostras foram encaminhadas para o laboratório ACME LABS, em Vancouver,
Canadá, e analisadas através do pacote Au+ICP, o qual utiliza o espectrômetro de massas para
obter os resultados. O pacote selecionado foi escolhido para obtenção dos metais preciosos (Au,
Ag), metais de base (Cu, Zn, Pb) e alguns elementos-traço (As, Bi, Cd, Hg, Mo, Ni, Sb, Se, Tl).
ESTUDO DE INCLUSÕES FLUÍDAS
Para o estudo de Inclusões Fluídas foram confeccionadas 10 lâminas bi-polidas, duas
lâminas para cada ocorrência estudada, no laboratório de laminação da Universidade Estadual de
São Paulo (UNESP).
Os estudos de inclusões fluídas foram realizados em quartzos provenientes dos filões
mineralizados, com foco na caracterização das populações de inclusões fluídas, distribuição e
tipos dos fluídos presentes em cada caso. As análises microtermométricas foram realizadas no
Laboratório de Inclusões Fluidas do Departamento de Recursos Minerais da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT) (Fig. 2A), em uma platina de aquecimento/resfriamento
LINKAM THMSG600 adaptada a um microscópio convencional Olympus (Fig. 2B).
26
Figura 2: A) Laboratório de Inclusões Fluídas da UFMT; B) Platina de aquecimento e resfriamento acoplada ao
microscópio.
4. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS
GEOMORFOLOGIA
A geomorfologia comumente encontrada na área de estudo, corresponde a um relevo
dessecado, característico do granito Matupá, devido a exposição ao intemperismo das regiões
tropicais.
Com base em ZSEE-MT (O Zoneamento Sócio-Ecológico-Econômico do Estado de
Mato Grosso), essa região compõe a Depressão Inter Planáltica da Amazônia Meridional,
podendo haver resquícios de Planaltos Residuais, no norte do Mato Grosso.
A altimetria observada na área de estudo, varia entre 250 a 350 m acima do nível do mar,
compondo um relevo aplainado, com locais pontualmente elevados. O granito Matupá apresenta
elevações na forma de morrotes isolados, com topos ovalados e geralmente ricos em
afloramentos. Na porção NE da área é possível se observar lineamentos na forma de cristas de
direção E-W que representam grandes veios de quartzo estéreis, com capacidade de realçar o
relevo em sua volta.
27
Nos locais onde ocorre a Suíte Colíder as cotas variam entre 300 a 450m acima do nível
do mar, com lineamento passives de serem delineados sob a forma de serras, platores e vales.
Essa litologia sustenta uma densa cobertura vegetal. Dados esses obtidos com o auxilio de
imagens SRTM e satélite auxiliando na interpretação geomorfológica da área.
SOLOS
Os solos desenvolvidos na área são derivados da alteração in situ, das rochas Pluto-
vulcânicas mapeadas em campo. Os solos de matriz fina, argilosa proveniente da alteração do
Granito Matupá rico em K-Feldspato, mineral facilmente alterado para argila, apresenta
coloração vermelha a rósea. Pode ainda haver fácies de cristalização ou intrusões de pequenos
corpos ígneos, mais ricos em plagioclásio, gerando solos de cor amarela. Os solos encontrados
nas regiões de Terra Nova do Norte, Alta Floresta e Peixoto de Azevedo, condizem com
Neosolos e Alissolos.
Os Neossolos apresentam ausência de horizonte B, as cores variam entre vermelho,
amarelo até cores mais claras, possuem textura arenosa de granulometria média caracterizando
solos pouco profundos.
Os Alissolos são mais distribuídos na área de estudo, apresentam cores variando entre
vermelho e amarelo, apresentando uma textura media a argilosa que variam de pouco profundo a
profundo.
Quando na presença de rochas básicas, que ocorrem restritos a diques pouco espessos, os
solos são argilosos de coloração vermelha. Semelhante a ocorrências de solo produto de
alteração das rochas vulcânicas do extremo NE da área.
HIDROGRAFIA
As drenagens que influenciam a área de estudo são pertencentes à bacia do Rio Peixoto
que é uma sub-bacia do Rio Amazonas. Foram observadas através de tratamento digital,
drenagens de 1a,2
a, 3
a e 4
a ordens, que geralmente se apresentam com direções NE, N-S e W-E.
28
Existem dois rios principais na área, Rio do Pombo e o Rio Figueira, estes dois rios possuem
depósitos auríferos aluvionares, ainda hoje explorados por alguns garimpeiros da região.
O padrão de drenagem retângulo dentrítico observado em imagens SRTM e satélite,
evidencia rochas homogêneas em que as drenagens estão esporadicamente encaixadas em
padrões estruturais. Deste modo o padrão dentrítico se estabelece em terrenos suavizados
compostos por superfície saprolítica, enquanto que os padrões retangulares ocorrem encaixados
em distintos planos de fraqueza.
CLIMA
A região é marcada por um clima equatorial quente e úmido, temperaturas variando de
15°C no período de junho e julho a 35°C no período de agosto a setembro. A precipitação fica
entre 1500 a 2000 mm com secas periódicas de 3 meses nos meses que se estendem de maio até
agosto.
29
5. GEOLOGIA REGIONAL
5.1. CONTEXTO GEOTECTÔNICO
A área em estudo situa-se na Província Mineral de Alta Floresta (Souza et al. 2005), ou
como adotado neste e nos recentes trabalhos realizados na região, Província Aurífera de Alta
Floresta (PAAF), especificando o fato desta corresponder a uma província a qual, até o
momento, tem como principal minério o ouro.
A PAAF insere-se no centro-sul do Cráton Amazônico, mais precisamente na faixa
limítrofe entre as Províncias Ventuari-Tapajós e Rio Negro-Juruena de acordo com o modelo de
Tassinari & Macambira (1999) (Fig. 3).
Tassinari & Macambira (2004) dividiram os conhecimentos sobre a evolução tectônica
do Cráton Amazônico em duas grandes linhas. A primeira, oriunda de autores fixistas, propõe
que a tectônica pré-cambriana do cráton foi caracterizada por processos de reativação de
plataforma e formação de blocos continentais ou paleoplacas por meio de retrabalhamento de
crosta continental no Arqueano e Paleoproterozóico. Durante o Mesoproterozóico, segundo essa
concepção, teriam ocorrido apenas processos de reativação e/ou retrabalhamento de rochas
preexistentes. A segunda linha é baseada nos conceitos das orogenias modernas, nas quais,
durante o Arqueano, Paleo e Mesoproterozóico teriam ocorrido uma sucessão de arcos
magmáticos envolvendo a formação de material juvenil, derivado do manto, como também
processos subordinados de retrabalhamento crustal. Com o avanço dos conhecimentos
geológicos, a segunda linha é mais bem suportada, e dentro desta situam-se os principais
modelos do Cráton Amazônico (Tassinari & Macambira, 1999; Tassinari et al., 2000; Tassinari
& Macambira, 2004, Santos et al., 2000 e Ruiz, 2005).
Em virtude desta variedade de modelos evolutivos, a PAAF pode inserir-se em distintos
segmentos. Segundo a compartimentação proposta por Santos et al. (2000), por exemplo, a
PAAF estaria enquadrada entre as províncias geocronológicas-geotectônicas do Tapajós-Parima
(2,03 – 1,88 Ga) e Rondônia Juruena (1,82 –1,54 Ga), enquanto que no modelo proposto por
Tassinari & Macambira (1999) e Ruiz (2005), a PAAF estaria situada na faixa limítrofe das
30
Províncias Geocronológicas Ventuari-Tapajós (1,95-1,8 Ga) e Rio Negro- Juruena (1,8-1,55 Ga).
Neste trabalho usaremos as divisões propostas por Tassinari & Macambira (1999), Tassinari &
Macambira (2004) e Ruiz (2005).
Figura 3: Localização da PAAF na compartimentação geocronológica do Cráton Amazônico (Modificado de
Tassinari & Macambira, 2004).
31
A província geocronológica Ventuari-Tapajós ocorre no setor norte da PAAF e
compreende uma associação granito-gnáissica cálcio alcalina de composição quartzo-diorítica a
granodiorítica, com intercalação de rochas sedimentares e vulcânicas que apresentam
predominantemente trends estruturais NW-SE e N-S, caracterizada por Tassinari & Macambira
(1999) como um arco magmático juvenil. Tassinari et al. (1996) obtiveram, através do método
U-Pb (SHRIMP) em monocristais de zircão destes granitóides, a idade de 1835 ± 17 Ma.
Associadas a essas rochas, que constituem o embasamento deste domínio, ocorrem dioritos a
granodioritos de caráter sin a pós-tectônico com tendências cálcio-alcalinas e toleíticas, isentos
de recristalização metamórfica, considerados na PAAF como pertencentes ao Grupo Colíder.
A Província Rio Negro-Juruena ocorre na porção ocidental do Cráton Amazônico e no
setor sul da PAAF, sendo seu embasamento composto por gnaisses, granodioritos, tonalitos,
migmatitos, granitos e anfibolitos (Tassinari & Macambira, 2004). Em geral, estas rochas
apresentam direções estruturais predominantes para NW-SE, cortadas em algumas áreas por
estruturas NE-SW. Tassinari et al. (1996) obtiveram na região do rio Aripuanã idades Rb-Sr e
Pb-Pb de, respectivamente, 1700 ± 21 Ma (87Sr/86Sr inicial de 0,7048 ± 0,0006), 1674 ± 85 Ma
e 1717 ± 120 Ma. Embora estejam distribuídos preferencialmente na Província Ventuari-
Tapajós, os granitos sub-vulcânicos, considerados como granitos Teles Pires também ocorrem na
região da PAAF inseridos na Província Rio Negro-Juruena como corpos circulares, de natureza
cálcio-alcalina, alcalina e peralcalina. Ainda neste domínio ocorrem várias gerações de granitos
anorogênicos, incluindo corpos com textura rapakivi, de natureza sub-alcalina, exibindo
características de granitos do tipo A, intra-placa. Esse magmatismo granítico compreende termos
que variam de granitos alcalinos a biotita, sienogranitos leucocráticos a hololeucocráticos
(Tassinari & Macambira, 2004).
5.2. PROVÍNCIA AURÍFERA DE ALTA FLORESTA
Geograficamente a PAAF insere-se em uma faixa W-NW com mais de 500 km nonorte
de Mato Grosso, delimitada entre as nascentes do rio Peixoto de Azevedo, a leste e o rio
Aripuanã, a oeste, ao norte pelo Gráben do Cachimbo e ao sul pelo Gráben dos Caiabís (Fig. 4).
32
O embasamento da PAAF, atualmente denominado de Complexo Cuiú-Cuiú por Pessoa
et al. (1977, in: Lacerda Filho et al., 2004), abrange rochas metamórficas de médio a alto grau
(gnaisses ortoderivados) e plutônicas associadas (granitos pouco deformados, leucogranitos e
granitos hololeucocráticos). Outros litotipos mais raros correspondem a migmatitos, dioritos,
anfibolitos e xenólitos de metapiroxenitos (Klein et al., 2001). As rochas desta unidade são
caracterizadas por deformação rúptil e dúctil e afloram, segundo Souza et al. (2005) na região do
município de Matupá, leste da PAAF, onde estes autores obtiveram em zircão de ortognaisse
granítico (U-Pb SHRIMP) a idade de 1992±7 Ma. Entretanto, Paes de Barros (2007) caracteriza
esta unidade como composta por granitoides cálcio-alcalinos, metaluminosos a fracamente
peraluminosos, de composição quartzo diorítica, tonalítica a granodiorítica, de idade Pb-Pb em
zircão (evaporação) entre 2.816 e 1.984 Ma, que sinalizam a presença de um embasamento
heterogêneo.
Inseridas neste arcabouço encontram-se unidades plutono-vulcânicas representadas em
escala regional pelo granito Nhandu (1.889-1.879 Ma), Suíte Intrusiva Matupá (1.872 Ma), Suíte
Intrusiva Flor da Serra (idade indeterminada), Suíte Colíder (1,786-1.781 Ma) e Suíte Intrusiva
Teles Pires (1.782 a 1.757 Ma) (Santos, 2000; Souza et al., 2005; Moreton & Martins, 2005;
Silva & Abram, 2008).
O Granito Nhandu foi descrito inicialmente por Souza et al. (1979) e corresponde a
rochas metaluminosas a peraluminosas, álcali-cálcicas a cálcio- alcalinas, subalcalinas, de médio
K e enriquecidas em FeO (Souza et al., 2005). De acordo com Paes de Barros (2007), esta
unidade tem uma tendência geoquímica de granitoides de arcos magmáticos a granitos intra-
placa, por hospedar mineralizações auríferas primárias (e.g. garimpos Natal e Trairão). Essa suíte
comumente mostra evidências de alteração potássica com microclina, acompanhada de
precipitação de sulfetos e magnetita. Silva & Abram (2008) estabeleceram a idade do granito
Nhandu entre 1.889 ±17 Ma e 1.879 ±5,5 Ma (U-Pb em zircão).
A Suíte Intrusiva Matupá, assim definida por Moura (1998), é constituída por quatro
litofácies que foram definidas por Souza et al. (2005) em: (i) Fácies 1, constituída de biotita
granitos e biotita monzogranitos, com a presença constante de mineralizações auríferas; (ii)
Fácies 2, de hornblenda monzogranitos, hornblenda monzodioritos, biotita-hornblenda
monzonitos, onde a presença de mineralizações auríferas também é constante; (iii) Fácies 3, com
33
clinopiroxênio-hornblenda monzogranitos e clinopiroxênio-hornblenda monzodioritos
magnéticos, os quais dão origem a solos vermelhos ricos em magnetita e (iv) Fácies 4, de maior
distribuição geográfica, composta por granitos, biotita granitos e monzogranitos, com
microgranitos e granófiros subordinados. As rochas desta fácies possuem textura porfirítica,
rapakivi e anti-rapakivi. Os dados litogeoquímicos indicam que essa suíte representa uma
manifestação plutônica de composição cálcio-alcalina, metaluminosa a peraluminosa, semelhante
aos granitos tipo I, além de ETR que exibem um padrão fortemente fracionado e forte anomalia
negativa de Eu (Moura, 1998; Souza et al., 2005). Uma idade Pb-Pb em zircão de 1.872 ±12 Ma
foi obtida em rochas da fácies 1(Moura 1998).
Na parte sul e sudoeste da PAAF ocorrem uma faixa onde Paes de Barros (2007) agrega
um grupo de rochas supracrustais, plutônicas e sequências vulcano-sedimentares, que foram
afetadas por um metamorfismo que varia desde baixo a alto grau, correspondentes as unidades
Grupo São Marcelo-Cabeça, Suíte Vitória, Complexo Nova Monte Verde e Complexo Bacaeri-
Mogno (Silva & Abram, 2008).
O Grupo Colíder é composto por uma variedade de rochas vulcânicas, subvulcânicas,
piroclásticas e epiclásticas de composição ácida a intermediária, (Silva & Abram, 2008). As
rochas de composição ácida são constituídas por riolitos, riodacitos e ignimbritos, enquanto que,
as rochas intermediárias compreendem corpos andesíticos de cor cinza-escuro a preta e estrutura
maciça os quais originam solos avermelhados e ricos em magnetita. De modo geral,
correspondem a rochas cálcio-alcalinas de alto potássio, peraluminosas a metaluminosas, que
exibem afinidade geoquímica com as séries graníticas orogênicas (Moreton & Martins, 2005;
Souza et al., 2005). Souza et al. (2005) classificam o ambiente tectônico da Suíte Colíder como
sendo predominantemente de arco vulcânico e Lacerda-Filho et al. (2004) relacionam essas
rochas ao Arco Magmático Juruena que foi gerado entre 1.85-1.75 Ga (método U-Pb em zircão).
Suítes granitóides cálcio-alcalinas, formadas no intervalo de 1,84 a 1,77 Ga, preenchem
boa parte do embasamento da PAAF, antigamente denominadas pelo Projeto RadamBrasil (Silva
et al., 1980) como Complexo do Xingu, agora são diferenciadas em unidades que fazem parte da
porção menos deformada do arco Juruena como: Suíte São Pedro e São Romão; Granitóides
Juruena, Apiacás e Paranaíta (Silva & Abram, 2008). Associados cogeneticamente a Suíte
Intrusiva Paranaíta ocorrem corpos básicos representados por gabros, microgabros, diabásios e
34
dioritos porfiríticos sob a forma de stock intrusivo e também sob a forma de enclaves e
megaenclaves (Souza et al., 2005).
A Suíte Vulcano-Plutônica Teles Pires engloba um conjunto de rochas vulcânicas
representadas por ignimbritos félsicos com intercalações de riolitos porfiríticos, basaltos e rochas
sedimentares de derivação vulcânica, associados a corpos graníticos, pós-orogênicos, não
deformados, calcioalcalinos de alto potássio, plutônicos e subvulcânicos e compostos
predominantemente por biotita granitos avermelhados e com rochas subvulcânicas subordinadas
(Pinho, 2002 e Lacerda Filho et al, 2004). De acordo com Lacerda Filho et al. (2004), os corpos
graníticos distribuem-se em stocks e batólitos subcirculares a elipsoidais, ao longo da
estruturação regional (WNW – ESE). Estes corpos encontram-se intrusivos preferencialmente
nas rochas vulcânicas da Suíte Colíder e nos granitos Matupá e a delimitação de sua área de
ocorrência é facilitada por seu relevo alçado em imagens de satélites e por suas expressivas
anomalias cintilométricas, em contraste com baixos valores nos mapas magnetométricos. Os
dados geoquímicos apontam para granitos do tipo A, de natureza cálcio-alcalina de médio a alto
potássio, metaluminosos a peraluminosos, que correspondem a intrusões pós-colisionais com
idades U-Pb em zircão de 1.757 ±16 Ma e 1.782 ±17 Ma (Santos, 2000; Pinho et al., 2003; Silva
& Abram, 2008).
A Formação Dardanelos, pertencente ao Grupo Caiabís, recobre parcialmente as unidades
plutono-vulcânicas citadas anteriormente e é representada por sequências de arenito e arenito
arcoseano, ambos de granulação média, com frequentes níveis conglomeráticos. Essas coberturas
apresentam estratificações plano-paralelas e cruzadas acanaladas interpretadas como um sistema
de leques aluviais de rios entrelaçados (Moreton e Martins, 2005). Saes & Leite (2003)
obtiveram idades U-Pb em cristais de zircão detrítico compreendidas entre 1.987 ±4 Ma a 1.377
±13 Ma, o que implica a idade máxima de 1,44 Ga como representativa para o início da
sedimentação (Souza et al., 2005). O Grupo Caiabis é ainda interpretado como uma bacia do tipo
pull-apart, ou possivelmente do tipo strike-slip onde as principais zonas de transcorrência
sinistrais NW/SE foram as responsáveis pela sua geração (Souza et al., 2005).
35
Figura 4: Mapa de localização e domínios geológicos da PAAF, destacando a área em epígrafe (Modificado de
Lacerda Filho et al. 2004 e Paes de Barros 2007).
36
6. GEOLOGIA LOCAL
6.1. ROCHAS ENCAIXANTES DAS OCORRÊNCIAS ESTUDADAS
6.1.1. GRANITO NHANDU
Na área de estudo foi mapeado como Granito Nhandu um sienogranito com granulação
média, fanerítica, cor rosa. Esta unidade aflora como pequenos corpos arredondados e por vezes
como pequenos morrotes. Ao percorrer o corpo aflorante percebe-se que próximo à zona de
cisalhamento da Mina do Edu, o sienogranito apresenta um aumento na quantidade de biotita,
uma oscilação de granulação de fina a média e uma coloração cinza (Fig. 4A), porém, essas
mudanças nas características do granito estão restritas as bordas da zona de cisalhamento. Para
estudo da petrografia desta unidade foram confeccionadas 3 lâminas de diferentes pontos que
representam o corpo. Em escala microscópica a rocha é observada como sendo holocristalina, de
granulação inequigranular fina a media, os contatos dos minerais são irregulares (Fig. 4B). As
alterações de saussuritização podem ocorrer em quantidades variadas dependendo da amostra,
assim como a sericitização, sua presença é bem marcante nos minerais de plagioclásio. A
paragênese mineral é composta por quartzo, plagioclásio, feldspato potássio, biotita e opacos, os
minerais oriundos de alteração são muscovita, clorita, epidoto e titanita.
O quartzo apresenta extinção ondulante, e raramente bordas serrilhadas, observa-se
textura poiquilítica (figura 4C), com inclusões de biotita alterando para clorita.
O plagioclásio apresenta localmente saussuritização, embora predomine inalterado, e
mais raramente apresenta textura mirmequítica (figura 4D) onde há o intercrescimento de
quartzo no plagioclásio.
Os minerais de feldspatos alcalinos são encontrados como microclina (figura 4E) e
ortoclásio pertítico, com poucos minerais demonstrando processos de saussuritização. A biotita
em geral encontra-se alterando para clorita (figura 4F).
37
Figura 5: A) Sienogranito de granulação fina; B) Sienogranito de granulação média; C) Fotmomicrografia
mostrando quartzo com textura poiquilítica; D) Fotomicrografia mostrando plagioclásio com textura
mirmequítica; E) Fotomicrografia mostrando microclima; F) Fotomicrografia mostrando biotita alterando para
clorita.
Ao serem plotados os dados de contagem modal realizada nas 3 lâminas delgadas
analisadas, observa-se que os pontos concentram-se no campo do sienogranito (Fig. 6).
38
Figura 6: Diagrama QAP plotadas as amostras do Granito Nhandu.
6.1.2. SUÍTE INTRUSIVA MATUPÁ
A Suíte Intrusiva Matupá também foi mapeada como rocha encaixante das ocorrências
auríferas estudadas. Seguindo a definição de Moura (1998) o corpo aflorante corresponde a
Fácies 2 da Suíte Intrusiva Matupá.
A Suíte Intrusiva Matupá ocorre na área como um relevo arrasado entre morrotes e
morros. Geralmente aflora como um conjunto de blocos e matacões arredondados (Fig. 7A), com
cor vermelha e com diferentes estágios de alteração intempérica. Os blocos arredondados
apresentam tamanho que variam de alguns centímetros até 2 metros de altura.
Esses granitos são constituídos essencialmente por feldspato potássico, quartzo,
plagioclásio e biotita (Fig. 7B e 7C). Os feldspatos potássicos variam entre 1 e 3 cm, são euedrais
e apresentam coloração vermelha, por vezes ressaltam texturas porfiríticas. Cristais de quartzo
variam de 0,5 a 1 cm, com hábitos intersticiais com cor branca. O plagioclásio ocorre próximo ao
39
quartzo, e geralmente com hábitos anédricos e dimensões menores que 0,5 cm. A biotita ocorre
de forma intersticial ao quartzo e feldspatos, e constitui um importante indicador do estado de
alteração do granito, possuem cor escura, porém quando alteradas ficam foscas e mostram
diversas tonalidades, indo de marrom até cinza.
Ocorrem diversos diques máficos encaixados na Suíte Intrusiva Matupá com atitudes
N80°W e por vezes N45°W (Fig. 7D). Os diques geralmente variam em espessura de 1 a 5 m,
apresentam cor escura, podendo ser observados fenocristais de plagioclásio em meio a matriz
fina a vítrea. De acordo com Moura (1998) existem duas famílias de diques máficos intrusivos
no granito Matupá, o tipo predominante é porfirítico com fenocristais de plagioclásio imersos a
matriz ofítica. Enquanto o segundo tipo, apesar de mostrar a mesma composição que o primeiro,
apresenta textura granular hipidiomórfica, subofítica com granulação media a fina. A autora
ainda sugere que o fraturamento do granito é paralelo às duas direções de diques.
Figura 7: A) Forma de ocorrência do granito da Suíte Intrusiva Matupá; B, C) Amostra do granito da Suíte
Intrusiva Matupá; D) Forma de ocorrência dos diques.
40
Quatro lâminas delgadas foram descritas para a caracterização desta rocha encaixante, e
quando os dados da contagem modal são plotados no diagrama QAP os pontos se concentram no
campo dos monzogranitos (Fig. 8). Apresentam textura holocristalina, com uma trama
mineralógica, composta por quartzo, feldspato potássico, plagioclásio, biotita, clorita, sericita e
epidoto, raramente ocorrem hornblenda. Como minerais traços têm zircão, apatita, titanita e
opacos.
Figura 8: Diagrama QAP da Suíte Intrusiva Matupá.
O quartzo geralmente apresenta cristais em tono de 2mm, com texturas granulares
extinção ondulante (Fig. 9A e B). Foram observadas várias inclusões no cristal de quartzo, sendo
as mais significativas são as inclusões de epidoto, cristais de titanita e de rutilo.
O K-Feldspato, ocorre com hábitos subedrais e anedrais, geralmente prismáticos, com
granulação variado ente 1 a 5 mm. Foram descritos 3 tipos de K-Feldspato: (i) Microclina (Fig.
9D); (ii) Ortoclásio; (iii) Pertita.
41
O plagioclásio ocorre como cristais de em torno de 1 a 2 mm, hábito euedral e subedral.
Geralmente, estes cristais estão saussuritizado e levemente sericitizados. O processo de
saussuritização é marcado pelo desenvolvimento de epídoto, com hábitos euedrais. Já o processo
de sericitização desenvolve pequenos cristais de micas na forma de ripas dentro do plagioclásio.
As cloritas possuem cor verde, sugerindo composições ricas em ferro, variam em
granulação de 0,5 a 1mm e ocorrem sempre associadas aos plagioclásios alterados, substituindo
biotitas primarias, adquirindo uma pseudoforma desse mineral (Figura 9C).
A biotita primária foi substituída em sua maioria por clorita e geralmente está associada
a pequenos cristais de epidoto. Cristais formados sobre um regime de intercrescimento de clorita
+ biotia, podem ser observados objetivas de 40X.
Figura 9: A, B) Fotomicrografia mostrando quartzo em objetiva de 4x; C) Fotomicrografia mostrando biotita
alterando para clorita em objetiva de 4x; D) Fotomicrografia mostrando microclina em objetiva de 4x.
42
7. OCORRÊNCIAS AURÍFERAS
ESTUDADAS
7.1. MINA DO EDU
A Mina do Edu está localizado no município de Nova Santa Helena (Fig. 1), a
aproximadamente 3 Km da cidade sede deste município, as margens da rodovia BR 163. Sua
mineralização está associada a uma zona de cisalhamento que corta o Granito Nhandu. Essa
estrutura planar é subverticalizada, tem direção N55ºE e se ressalta da presença de tramas de
colorações variadas devido à alteração provocada por fluídos hidrotermais que percolaram
pervasivamente as rochas. Quando distante da zona de cisalhamento o Granito Nhandu é maciço,
com tonalidade rosada, inequigranular de granulação média, constituído por quartzo, feldspato
potássico, plagioclásio e biotita. Porém, na frente de lavra, sob o efeito deformacional da zona de
cisalhamento e suas alterações hidrotermais, apresenta granulometria fina (Fig. 10), e tonalidades
que variam entre rosada (alteração potássica), esverdeada (cloritização) e amarelada (sulfetação).
A cava garimpeira mede aproximadamente 120m de comprimento e 50m de largura, com
até 50 m de profundidade, e uma orientação NNE/SSW (Figs. 10, 11A e B). A zona de
cisalhamento principal mede 2,5 m de largura e 9m de altura. Foram coletadas 54 medidas da
atitude da zona de cisalhamento da Mina do Edu (Fig. 12), apresentando atitudes preferenciais de
N55ºE/80ºNW e caráter dextral (Fig. 13B). Esse cisalhamento serviu de canal para a percolação
de fluidos hidrotermais responsáveis pelas mineralizações que ocorrem sob a forma de vênulas
de sulfetos (Fig. 13A).
43
Figura 10: Mapa da Mina do Edu mostrando a variação na granulometria do Granito Nhandu e a posição da cava garimpeira.
44
Figura 11: A, B) Foto da cava garimpeira da Mina do Edu.
Figura 12: Estereograma de isovalores e polos da zona de cisalhamento da Mina do Edu.
Figura 13: A) Foto das Vênulas de Sulfeto; B) Foto das slikensides da zona de cisalhamento da Mina do Edu.
45
A percolação de fluídos hidrotermais canalizados pela zona de cisalhamento formou 4
halos de alteração hidrotermal.
O primeiro halo de alteração hidrotermal é o Halo de Sulfetação. O halo de sulfetação é
composto por sienogranito totalmente silicificado, composto essencialmente por quartzo e por
vênulas de sulfetos (pirita e calcopirita). Mede aproximadamente 2,5 metros de espessura e está
localizado no centro da zona de cisalhamento. Ocorrem inúmeras vênulas de sulfetos, chegando
até a 40 vênulas de sulfeto por metro linear. As vênulas de sulfeto apresentam largura de
milímetros até 2 cm e comprimentos variados, chegando no máximo a 10cm.
O Halo de Silicificação é composto pelo sienogranito totalmente silicificado, alterado
pelo hidrotermalismo decorrente do cisalhamento que obliterou a textura original do protólito.
Mede um metro de comprimento ao norte do halo de sulfetação e um metro e meio ao sul do halo
de sulfetação. É distinto do halo de sulfetação por apresentar menor quantidade de vênulas de
sulfeto (8 vênulas por metro linear) além das mesmas terem uma largura de milímetro até no
máximo 1 cm e comprimentos de no máximo 5 cm.
O Halo de Cloritização se localiza ao norte do halo de silicificação por 2,5 metros de
largura, e a ao sul do halo de silicificação por 3 metros de largura. É caracterizado pela coloração
esverdeada decorrente da alta concentração de minerais de clorita. Apresenta raras vênulas de
sulfetos. A mudança do halo de cloritização para o halo de potassificação é gradativa, por isso,
não é raro encontrar partes muito potassificadas dentro do halo de cloritização e vice-versa, o que
acaba dificultando a definição do contato entre os dois halos.
O Halo de Potassificação é encontrado ao norte e ao sul do Halo de Cloritização, porém,
não é possível mencionar a largura desse halo de alteração, pois ele se expande além da cava
garimpeira, mas não são encontrados afloramentos do mesmo entorno da cava. Este halo é
caracterizado pela coloração avermelhada decorrente da alta concentração de minerais de
feldspato potássico. São raras, porém, existem vênulas de sulfetos.
46
Figura 14: Halos de alteração hidrotermal no Garimpo do Edu: 1) Halo de Sulfetação; 2) Halo de Silicificação; 3)
Halo de Cloritização; 4) Halo de Potassificação.
Na Mina do Edu foram selecionados 9 amostras para geoquímica com o objetivo de se
obter os teores principalmente de ouro. A Mina do Edu foi dividida em 4 halos de alteração
hidrotermal, assim as amostras foram selecionadas para representar estes halos (Fig 15). Os
valores obtidos através das análises geoquímica para as 9 amostras selecionadas estão
apresentadas na Tabela 2.
47
Figura 15: Localização das amostras enviadas para geoquímica.
Tabela 2: Resultados das análises geoquímica para as amostras da Mina do Edu. Valores em ppm.
Amostra Au Ag Pb As Cu Zn Te Co
Zsulf 4 0,5 0,26 1,74 0, 2 51,13 3,8 8,40 54,6
Zsulf 5 0,57 0,57 1,30 0, 4 1281,74 4,1 2,70 22,3
Zsulf 6 1,04 2,12 2,43 >0, 1 123,78 6,4 3,69 23,3
Zsio2 4 0,63 1,09 1,47 0 930,98 3,4 8,44 23,1
Zsio2 5 0,049 0,34 1,23 0, 2 5,65 1,7 1,24 32,6
Zsio2 6 0,17 0,67 2,01 0, 3 34,71 2,3 4,17 98,1
Zclorita4 0,031 0,17 2,41 1,1 103,13 107,2 0,04 25,2
Clorita+Potassio 0,03 0,23 8,08 0, 5 13,12 22,1 1,51 15,0
Zpotassio 2 0,012 0,091 4,27 1 80,31 50,3 0,09 8,1
48
A amostra denominada Zsulf 4, Zsulf 5 e Zsulf 6 correspondem ao halo de alteração
hidrotermal de sulfetação, sendo a amostra Zsulf 6 retirada do centro da zona de cisalhamento e
as amostras Zsulf 4 e Zsulf 5 foram coletadas na borda dos halos de alteração de sulfetação e da
silicificação.
Os valores obtidos para as amostras Zsio2 4, Zsio2 5 e Zsio2 6 são correspondentes do
halo de alteração hidrotermal de silicificação, sendo a amostra Zsio2 4 amostra representativa da
borda da silicificação com a sulfetação, a amostra Zsio2 6 do centro do halo de silicificação e a
amostra Zsio2 5 representa a borda dos halos de silicificação com o halo de cloritização.
No halo de alteração da cloritização foram coletadas duas amostras: Zclorita4 e
Clorita+Potássio. A amostra Zclorita4 é representativa do contato entre o halo de alteração da
cloritização com o halo de alteração da silicificação. A amostra Clorita+Potássio representa os
teores no contato entre o halo de cloritização com o halo de potassificação.
A amostra Zpotassio 2 corresponde a zona de potassificação. Por isso os valores de teor
de ouro mais baixos que os demais (0.012ppm).
A mina do Edu apresentou teores relativamente baixos para ouro, no entanto, podemos
observar que os melhores teores de ouro se encontram nas amostras mais próximas do
cisalhamento principal. Isso confirma que o minério (ouro) está diretamente ligado ao fluído que
percolou o cisalhamento principal.
A presença de muitos sulfetos que contém cobre em sua composição química
(calcopirita), explica os altos teores de cobre (Cu) das amostras analisadas. Outro elemento que
apresenta um enriquecimento nessa mina foi o cobalto (Co)
Ao observamos a tabela 3, com os valores de elementos traços, e a tabela 2, podemos
deduzir sobre uma forte relação do ouro com outros elementos químicos, como Cobre (Cu),
Bismuto (Bi), Enxofre (S) e Cobalto (Co). Estes elementos podem ser atribuídos como elementos
farejadores de ouro para esta mina.
49
Tabela 3: Resultados da geoquímica para elementos traços da Mina do Edu. Valores em ppm, exceto o Enxofre
(S) que está em porcentagem.
Amostra Bi S (%) Mo Sb Sn Sr W U
Zsulf 4 14,23 5,83 0,27 <0.02 <0.1 2,0 0,32 0,83
Zsulf 5 4,23 2,44 0,40 0,03 <0.1 2,7 0,30 1,03
Zsulf 6 4,13 1,67 0,45 0,04 <0.1 4,5 0,29 3,42
Zsio2 4 13,98 3,32 0,61 <0.02 <0.1 1,2 0,17 0,22
Zsio2 5 2,23 1,72 6,25 <0.02 <0.1 1,5 0,08 0,64
Zsio2 6 14,40 4,33 32,97 <0.02 <0.1 1,3 0,14 0,66
Zclorita4 0,30 0,05 0,22 0,06 0,1 95,1 0,15 0,10
Clorita+Potassio 3,02 1,72 0,55 0,08 0,2 9,8 0,42 3,64
Zpotassio 2 0,46 0,05 0,36 0,07 0,3 60,7 0,59 2,27
7.2. GARIMPO DO PETECA
Conhecido regionalmente como “Garimpo do Peteca” ou “Garimpo do Goiano”, está
localizado no norte do município de Nova Santa Helena, próximo a divisa de municípios entre
Nova Santa Helena e Terra Nova do Norte (Fig. 1). Distante aproximadamente 33 km da cidade
de Terra Nova do Norte e 37 km da cidade de Nova Santa Helena. Para se chegar até o Garimpo
do Peteca, toma-se a BR 163 até a entrada para a cidade de Marcelândia – MT através da MT
320, onde toma-se estradas vicinais até o Garimpo.
O Garimpo do Peteca já foi explorado nos anos 90, até inicio dos anos 2000, porém, com
o fim do ouro livre devido ao intemperismo, o garimpo foi abandonado. A mineralização está
associada a uma falha de direção E-W/Subvertical. A cava garimpeira tem como dimensões
aproximadamente 80 metros de comprimento, largura de cerca de até 15 metros e profundidade
variando de 4,5 metros a 40 metros nos shafts (Fig. 16). Atualmente o garimpo se encontra
abandonado, o que nos impossibilita de usar os shafts antigos para amostragem.
50
Figura 16: Fotos da cava garimpeira do Garimpo do Peteca.
O Garimpo do Peteca encontra-se hospedado na Suíte Intrusiva Matupá, onde localmente
é representada por um monzogranito de granulação média a grossa, coloração vermelha e
constituído por feldspato potássico, quartzo, micas e plagioclásio. Encontra-se pouco fraturado e
sem deformação. Nas proximidades de zonas de falhas é possível se observar que a rocha
encaixante apresenta sulfetação (Fig. 17) oriunda dos fluídos hidrotermais que percolaram pela
falha.
Foram realizadas 26 medidas da atitude da falha, sendo que esta se apresenta subvertical,
com direção E-W (Fig. 18) e um caráter sinistral, o qual foi possível obter através das slikensides
presentes nas paredes da falha (Fig. 19A e B). O Garimpo do Peteca tem como característica a
alta sulfetação da rocha encaixante (Fig. 20). O hidrotermalismo percolante na falha sulfetou a
encaixante nas suas proximidades. Os sulfetos encontrados nas rochas encaixantes do Garimpo
do Peteca são as piritas e as calcopiritas. Veios de quartzo paralelos e perpendiculares à falha são
visíveis nas proximidades da cava (Fig. 21A e B). Os veios de quartzo paralelos à falha variam
de comprimento entre poucos centímetros (10-15 cm) até 1,5m e espessuras variando de >1 cm
até 3,5 cm. Já os veios de quartzo perpendiculares a falha apresentam comprimentos de até 45
cm e espessuras que variam de 1 até 4,5 cm.
51
Figura 17: Mapa da cava garimpeira do Garimpo do Peteca mostrando sulfetação no entorno da área da cava.
52
Figura 18: Estereograma de isolvalores e polos da falha do Garimpo do Peteca.
Figura 19: A e B) Slikensides do Garimpo do Peteca, mostrando o movimento sinistral.
53
Figura 20: Granito sulfetado do Garimpo do Peteca.
Figura 21: A) Veio de quartzo perpendicular ao cisalhamento (contorno amarelo); B) Veio de quartzo paralelo ao
cisalhamento (contorno amarelo).
54
Nas proximidades da cava garimpeira descrita encontram-se várias áreas arrasadas pela
exploração do ouro livre pelo intemperismo. Recentemente, novas escavações foram feitas em
material oriundo de intemperismo para a exploração de ouro, porém, os resultados obtidos não
foram satisfatórios e as escavações foram abandonadas.
Com o objetivo de obter os teores de ouro e de outros elementos, foram selecionadas 6
amostras representativas do garimpo. A tabela 4 contem os resultados obtidos das 6 amostras
selecionadas.
Tabela 4: Resultados da geoquímica para as amostras do Garimpo do Peteca. Valores apresentados em ppm.
Amostra Au Ag Pb As Cu Zn Te Co
JP 2 0,48 1,45 15,65 0,2 176,36 4,32 18,98 10,3
JP 3 0,41 1,25 16,21 0,4 364,03 3,89 9,17 9,7
JP 8 0,01 0,017 4,31 >0,1 3,67 7,89 0,06 2,3
JP 9 0,08 0,019 3,12 0,3 2,27 6,11 0,16 1,2
JP 12 0,03 0,018 1,09 0,5 8,70 0,42 0,03 0,4
JP 14 0,18 0,021 3,30 0,3 5,11 0,62 0,35 0,6
Os valores das amostras JP 2 e JP 3 são representativas do granito sulfetado da parte
central da falha. As amostras JP 8, JP 9 e JP 12 correspondem a veios de quartzo perpendiculares
a falha. E a amostra JP 14 representa um veio de quartzo paralelo à falha.
Os resultados mostram que o ouro está associado à falha principal, onde percolaram
fluídos hidrotermais que sulfetaram a rocha. Os veios de quartzo perpendiculares à falha
principal apresentam teores muito baixos para ouro. O ouro está diretamente relacionado aos
sulfetos (pirita e calcopirita) presentes na rocha encaixante. Isso fica evidente ao observamos os
valores de ouro para as amostras JP2 e JP3, correspondentes do granito sulfetado, e a amostra
JP14, do veio de quartzo paralelo a falha. Nas amostras JP2 e JP3 observamos valores altos de
Cobre (Cu), 176,36 e 364,03 ppm respectivamente, devido a presença de calcopirita.
Ao observarmos a tabela 4 e a tabela 5 de elementos traços, observamos que as amostras
JP2 e JP3 apresentam uma forte correlação entre a Prata (Ag), o Telúrio (Te) o Bismuto (Bi) e o
Cobre (Cu). Elementos como Ag, Te, Bi e Cu podem ser considerados elementos farejadores
para o ouro neste garimpo.
55
Tabela 5: Resultados da geoquímica para elementos traços do Garimpo do Peteca. Valores dados em ppm,
exceto Enxofre (%).
Amostra Bi S (%) Mo Sb Sn Sr W U
JP 2 37,14 3,76 13,74 0,03 0,1 2,3 0,21 1,11
JP 3 23,32 3,08 7,65 0,02 0,1 2,8 0,22 0,79
JP 8 0,24 <0.02 0,42 <0.02 <0.1 2,5 <0.05 0,70
JP 9 0,23 <0.02 0,46 <0.02 <0.1 2,4 0,05 0,78
JP 12 0,08 <0.02 0,47 0,02 <0.1 1,6 0,06 0,14
JP 14 0,76 <0.02 1,33 0,07 <0.1 2,5 0,15 0,98
7.3. FILÃO DO LAJE
O Filão do Laje, como é conhecido popularmente, se localiza na parte sul da área da
Fazenda Figueira Branca (Fig. 22). O terreno apresenta escassos afloramentos, sendo que em
grande parte estão recobertos por pastagem. Este corpo mineralizado a ouro foi lavrado por
garimpeiros durante os anos de 1994 a 1996. A extração de ouro neste local deu forma a uma
cava garimpeira de 130 m de comprimento e 40 m de largura, com ate 25 m de profundidade, e
se encontra alongada em uma direção principal W-E (Fig. 23A e B). As porções mais profundas
da cava tendem a ficar submersas por boa parte do ano formando um extenso terreno alagado no
centro da cava, que torna a ficar exposta durante a estiagem. Essa variação do lençol freático
pode desencadear escorregamentos, cobrindo e expondo parcialmente veios e estruturas
filoneanas ao longo da cava. Através do mapeamento realizado foram constatadas duas fácies do
granito da Suíte Intrusiva Matupá: (i) fácies de granulometria grosseira (Fig. 24 A); (ii) fácies de
granulometria fina (Fig. 24 B).
56
Figura 22: Mapa de localização dos garimpos dentro da Fazenda Figueira Branca (modificado de CPRM 2013).
Figura 23: A,B) Fotos da cava garimpeira do Filão do Laje.
57
A fácies do granito de granulometria fina foi delimitada com uma geometria alongada na
direção N-S, margeada por fraturas. Esse corpo apresenta granulação fina, cor cinza, sendo
composto por quartzo, feldspato potássico, plagioclásio e biotita. Difere da fácies de
granulometria grossa por ser mais pobre em feldspato potássico. Aflora na forma de blocos
arredondados de diâmetros métricos. Somente nesta porção da área aflora a fácies de
granulometria fina.
A fácies do granito de granulometria grossa é predominante em toda área, sendo
isotrópico, e localmente se apresentando com um sistema de fraturas (N80°W), perceptível
principalmente nas proximidades das áreas mineralizadas da cava garimpeira do Filão do Laje. É
composto por feldspato potássico, quartzo, plagioclásio e biotita, e aflora como blocos
arredondados de tamanhos que variam de centímetros a 2,5 metros.
Figura 24: A) Fácies do Granito Matupá de granulometria grossa; B) Fácies do Granito Matupá de granulometria
fina.
Os diques máficos ocorrem predominantemente com direções N80°W com espessuras
entre 2 a 5 m, apresentam cor cinza escura, e tons de laranja com intemperismo avançado. Os
diques geralmente afloram como blocos de 0,30 a 0,50 m alinhados e podem se estender por
dezenas de metros. Descritos com fenocristais de plagioclásios em meio a matriz afanítica de
minerais máficos (piroxênios e anfibólios), esta rocha foi interpretada em campo como diques de
diabásio, possivelmente correlacionáveis a Suíte intrusiva Flor da Serra.
Com a delimitação dos limites geográficos da cava garimpeira e de suas estruturas
mineralizadas, observou-se que a geometria da cava, não por acaso, coincide com a posição
estrutural de veios de quartzo mineralizados (Fig. 25). Ainda que a intensa alteração intempérica
58
tenha modificado a rocha hospedeira, de modo que apenas o saprólito foi encontrado nas paredes
da cava, afloramentos de rocha fresca, junto a veios de quartzo e diques máficos, puderam ser
descrito nas proximidades desta zona mineralizada.
O Filão principal da cava garimpeira do Filão do Laje encontra-se alojado em uma
fratura. Não foram encontrados indicadores cinemáticos de movimento. Foram realizadas 36
medidas no filão principal que apontam para uma atitude que varia de E-W/subvertical a
N85ºW/subvertical (Fig. 26). O filão principal possui uma espessura que varia de 10 a 50 cm
(Fig. 27 A e B). Nas paredes da cava garimpeira se encontra um conjunto de pequenos veios de
quartzo (variando de milímetros a 7 cm) que possuem atitudes paralelas ao filão principal.
Famílias de veios de quartzo com atitudes perpendiculares a cava, e consequentemente,
perpendiculares ao filão principal, com pequenas espessuras, também são encontrados.
59
Figura 25: Mapa da cava garimpeira do Filão do Laje.
60
Figura 26: Estereograma de isovalores e polos da zona de cisalhamento do Filão do Laje.
Figura 27: A e B) Veio principal do Filão do Laje.
61
Ainda no interior da cava garimpeira ocorrem afloramentos de diques máficos, marcados
por um alto grau de intemperismo. Esses corpos foram descritos variando entre 20 cm a 1 m e
atitudes N80°W /80°SW.
Para esta cava garimpeira foram selecionadas 6 amostras. A tabela 6 apresenta os
resultados da geoquímica para as 6 amostras selecionadas.
Tabela 6: Tabela com os resultados da geoquímica para amostras do Filão do Laje. Valores dados em ppm.
Amostra Au Ag Pb As Cu Zn Te Co
JLAJE1 17,691 3,93 110,93 78,1 43,70 67,1 15,54 1,5
JLAJE2 3,43 2,82 11,10 25,9 87,59 12,0 9,68 0,7
JLAJE3 1,70 1,43 6,68 8,0 45,80 5,7 4,71 0,6
JLAJE4 3,22 0,44 54,26 30,1 15,33 53,5 3,52 1,6
JLAJE5 3,05 0,64 20,78 10,1 28,61 17,7 1,24 16,0
JLAJE7 0,96 0,20 36,28 23,2 19,80 56,3 0,23 8,0
A amostra Jlaje 1 corresponde ao filão principal do garimpo. As amostras Jlaje 2, Jlaje 4 e
Jlaje 5 foram retiradas de veios de quartzo de menor espessura, porém, paralelos ao filão
principal. A amostra Jlaje 3 corresponde a uma amostragem de canal, na qual foi coletado o filão
principal e 50 cm de material do granito intemperizado de cada lado do filão. Amostra Jlaje 7
correspondem a um veio de quartzo perpendicular ao filão principal.
Os valores apresentados na tabela 6 indicam que o ouro está relacionado com o fluído que
percolou e que cristalizou o filão principal, com atitudes de E-W/subvertical a
N85ºW/subvertical, e veios com menor espessura, porém, com as mesmas atitudes do filão
principal. Os valores obtidos para a amostra JLAJE7, amostra de veio de quartzo perpendicular
ao filão principal, apresenta teores de ouro e prata inferiores aos teores das outras amostras, o
que nos confirma que o fluído mineralizante é o fluído que preencheu falhas/fraturas com
atitudes E-W/subvertical a N85ºW/subvertical.
Dados de Teores de elementos traços, apresentados na tabela 7, junto com os dados
apresentados na Tabela 6 nos apresentam uma forte correlação do ouro com elementos como
Telúrio (Te), Bismuto (Bi) Chumbo (Pb) e Arsênio (As), e teores medianos para Prata (Ag) e
62
Cobre (Cu). Estes elementos podem ser chamados de elementos farejadores do minério em
questão para esse filão.
Tabela 7: Tabela com os resultados da geoquímica para elementos traços do Filão do Laje. Valores dados em
ppm, exceto Enxofre (%).
Amostra Bi S (%) Mo Sb Sn Sr W U
JLAJE1 36,87 0,03 0,88 0,08 0,2 8,9 0,06 0,80
JLAJE2 12,04 0,11 0,86 0,05 0,4 3,5 0,77 0,44
JLAJE3 6,44 0,13 1,36 0,05 0,1 1,4 0,20 0,93
JLAJE4 9,21 <0.02 0,91 0,08 0,3 3,4 0,37 1,31
JLAJE5 6,79 <0.02 1,73 0,03 <0.1 5,2 0,16 0,71
JLAJE7 1,59 <0.02 0,56 0,03 0,3 2,7 0,10 1,26
7.4. FILÃO DO COCHEIRA
O Filão do Cocheira (Fig.22), como é conhecido popularmente, foi descoberto em 1993
por garimpeiros. Da sua descoberta até o ano de 1997 o filão foi lavrado pelos garimpeiros, que
com o passar do tempo foram adquirindo maquinários, e lavrando assim um maior volume de
minério. No ano de 1995, os garimpeiros abriram um shaft, que no final do ano de 1997 estava
com 45 metros de profundidade e mais de 50 metros de galerias horizontais. A cava a céu aberto
deixada pelos garimpeiros no início do ano de 1998 tem como dimensões 130 metros de
comprimento e 45 metros de largura. A cava encontra-se alongada na direção N-S (Fig. 28A).
Após 7 anos de abandono, no ano de 2004, os proprietários da Fazenda Figueira Branca
abriram trincheiras prospectivas as quais interceptaram os veios lavrados pelos garimpeiros.
Formou-se então uma segunda frente de lavra, alongada na mesma direção da frente de lavra dos
garimpeiros (N-S) mas com dimensões de 50 metros de comprimento por 25 metros de largura
(Fig. 28B).
63
Figura 28: ) Foto da antiga cava garimpeira do Filão do Cocheira; B) Foto da nova cava garimpeira do Filão do
Cocheira.
O Filão do Cocheira, como todos os filões localizados na Fazenda Figueira Branca, é
hospedado pela Suíte Intrusiva Matupá Fácies 2. Nas proximidades da cava garimpeira o granito
encontra-se intemperizado. Porém, a poucos metros distante da cava garimpeira encontram-se
muitos blocos arredondados da Suíte Intrusiva Matupá Fácies 2. O granito apresenta granulação
grossa, cor vermelha e geomorfologia arrasada. No extremo NE da área afloram rochas
graníticas ricas em xenólitos de rochas máficas. No local onde estão expostas essas rochas
descritas o relevo é de morros e morrotes. Diques máficos com direções N80ºW são encontrados
nas paredes das cavas.
A cava garimpeira antiga apresenta paredes íngremes e está sempre alagada, o que
dificulta a coleta de dados. No entanto, a cava aberta pelos proprietários da fazenda apresenta-se
mais preservada e de acesso mais fácil. Por isso, a maioria dos dados deste filão foram coletados
na cava mais recente.
O Filão do Cocheira encontra-se alongado na direção N-S, direção essa que coincide com
a direção dos veios de quartzo com teor de ouro (Fig. 29). O Filão do Cocheira difere do Filão do
Laje, além da atitude dos veios, por ser composto por uma grande quantidade de veios de quartzo
de espessuras que variam de 2 a 5 cm (Fig. 30A e B). Esses veios ocorrem na forma de estruturas
tabulares que podem se estender por vários metros, ou na forma de vênulas descontinuas que se
estendem por poucos centímetros. Os veios são constituídos de quartzo leitoso, pobres em sulfeto
64
e comumente apresentam textura maciça, e subordinadamente texturas em pente e custriforme
(Fig. 31A e B). Texturas em pente e custriformes são formadas por meio do desenvolvimento do
quartzo em espaços vazios, de modo que a cristalização tem início nas paredes marginais do veio
em direção ao centro. São encontrados também, veios de quartzo perpendiculares à direção
principal N-S. Esses veios perpendiculares tem as mesmas características morfológicos e se
estendem com menos expressividade que os veios de atitude N-S. São veios verticalizados com
espessuras que não ultrapassam 2 cm e comprimentos inferiores a 15 cm.
Na antiga cava deixada pelos garimpeiros, foi observado um dique máfico com 20 cm de
espessura que atravessa a cava perpendicularmente na direção N80ºW (Fig. 32A). No entanto, o
mesmo não aflora nas proximidade da cava, somente é visível nas paredes da mesma, onde se
encontra intemperizado, o que impossibilitou a amostragem. Na figura 32B, C e D podemos
observar alguns veios de quartzo paralelos à direção principal N05-12°E/88°SE.
65
Figura 29: Mapa do Filão do Cocheira.
66
Figura 30: A, B) Veios de quartzo do Filão do Cocheira.
Figura 31: A,B) Veios de quartzo com textura em pente.
67
Figura 32: A) Dique intemperizado perpendicular a atitude principal (contorno branco). B, C, D) Veios de quartzo
paralelos à direção principal (contorno branco).
68
Nos veios do Filão do Cocheira foram coletadas 43 medidas as quais nos mostram um
atitude principal que varia entre N05-12°E/88°SE (Fig. 33). Estes veios se encontram
hospedados em pequenas fraturas. Devido ao alto grau de intemperismo da rocha hospedeira, não
foram reconhecidos indicadores cinemáticos que possibilitariam dizer se houve ou não
movimento.
Figura 33: Estereograma de isovalores e polos dos veios de quartzo do Filão do Cocheira.
Sete amostras representativas foram analisadas para a obtenção dos teores de ouro e
outros elementos no Filão do Cocheira. As amostras em geral obtiveram significativos resultados
para ouro variando entre 0,66 a 28,78 ppm (Tab. 8).
Tabela 8: Tabela dos resultados da geoquímica das amostras do Filão do Cocheira. Valores dados em ppm.
Amostra Au Ag Pb As Cu Zn Te Co
JCH1 1,96 0,032 10,48 6,0 2,86 3,1 0,09 1,3
JCH2 28,780 2,726 13,30 27,3 4,85 3,9 0,21 1,6
JCH3 8,38 0,162 13,54 26,8 3,45 4,2 0,14 0,6
JCH4 1,26 0,098 22,90 4,0 7,23 5,5 0,11 3,0
69
JCH5 0,66 0,048 20,05 4,0 9,94 6,3 0,11 2,6
JCH6 5,42 0,454 14,10 2,1 3,68 4,7 0,08 1,2
JCH7 2,32 2,282 6,64 2,1 4,04 4,0 6,56 0,5
As amostras JCH 3, JCH 4 e JCH 7 foram retiradas de veios de quartzo, sendo a amostra
JCH 3 representante dos veios com direção N05°E/88°SE e as amostras JCH 4 e JCH 7 são de
veios de quartzo perpendiculares a atitude principal.
A amostra JCH 2 é um concentrado de bateia obtido a partir de veios de quartzo paralelos
a direção principal, os quais foram encontrados no interior do garimpo.
Amostragens de canalaletas foram obtidas através de 3 amostras, JCH1, JCH5 e JCH6. A
amostra JCH 6 é um canal ao qual foi coletado material do veio com direção N05°E/88°SE e 60
cm do granito intemperizado em ambos os lados do veio. As amostras JCH1 e JCH5 são
amostras de canal contendo material das rochas encaixantes e de veios perpendiculares a atitude
principal (N-S).
Os dados mostram que a mineralização neste local ocorre nos fluídos que deram origem
aos veios de quartzo com atitudes de N05°E/88°SE. Podemos observar também, que quando
acrescentamos material da encaixante nas amostras geoquímicas (amostras JCH1, JCH5 e
JCH6), os teores são reduzidos se compararmos com amostras dos veios (JCH3. JCH4 e JCH7).
Isso nos possibilita dizer que o ouro se encontra nos veios e não na encaixante.
Podemos concluir também que a mineralização desta ocorrência aurífera está ligada
principalmente aos veios de direção N-S, sendo os teores, para os demais veios, inferiores aos
veios N-S. Ao contrário do que ocorre no Filão do Laje e no Garimpo do Peteca, onde a
mineralização está ligada a atitudes E-W.
O Filão do Cocheira apresenta valores de elementos traços (Tab. 9) que nos mostram uma
correlação do minério (Au) com alguns outros elementos. Elementos como o Antimônio (Sb),
Molibdênio (Mo) e Urânio (U) apresentam uma forte correlação com o ouro para este filão. O
Filão do Laje apresenta também, teores medianos para Arsênio (As). Esses elementos são
considerados elementos farejadores para o minério nessa ocorrência aurífera.
70
Tabela 9: Dados geoquímicos do Filão do Cocheira para elementos traços. Valores dados em ppm, exceto
Enxofre (%).
Amostra Bi S (%) Mo Sb Sn Sr W U
JCH1 0,19 <0.02 1,59 0,13 0,4 2,3 0,36 4,12
JCH2 0,28 <0.02 6,91 0,16 0,4 4,3 1,84 2,55
JCH3 0,30 <0.02 2,30 0,16 0,2 3,4 1,07 2,60
JCH4 0,58 <0.02 2,22 0,17 0,2 6,4 0,72 3,40
JCH5 0,39 <0.02 2,17 0,16 0,3 3,5 0,50 4,46
JCH6 0,22 <0.02 1,36 0,12 0,3 1,9 0,29 3,33
JCH7 0,09 <0.02 2,43 0,06 <0.1 4,5 0,16 0,39
7.5. FILÃO DO VINTE
O Filão do Vinte (nome este dado pelo proprietário da fazenda) localiza-se no nordeste da
Fazenda Figueira Branca, distante 3 km do Filão do Cocheira (Fig.22). A cava garimpeira
encontra-se alagada e com a rocha hospedeira intemperizada. A cava tem dimensões de 50 x 30
m, alongada na direção N-S e lavrada até a profundidade de 15 m (Fig. 34A e B).
Figura 34: A, B) Fotografias da Cava garimpeira do Filão do Vinte.
71
O corpo mineralizado em superfície é composto por um veio de quartzo com atitudes
N5°E/85°SE, com aproximadamente 60 cm de espessura que aflora por mais de 2 m de altura na
parede da cava (Fig. 35 B e C). Esse veio atravessa toda a extensão da cava, estando presente em
duas paredes da mesma. Estruturas de veios paralelas e perpendiculares também foram
reconhecidas no local (Fig. 35A).
O Filão do Vinte encontra-se hospedado pela Suíte Intrusiva Matupá Fácies 2, onde o
granito apresenta granulação grossa, isotrópica, cor vermelha e geomorfologia de pequenos
morrotes. Porém, nas paredes da cava garimpeira o granito se encontra intemperizado (Fig. 36).
Figura 35: A) Veio de quartzo paralelo ao filão principal (contorno preto); B,C) Veio principal do Filão do Vinte
(contorno branco).
72
Figura 36: Mapa geológico da área do entorno do Filão do Vinte.
73
O Filão do Vinte é o único que está sendo lavrado no momento. Os proprietários da
Fazenda Figueira Branca abriram um shaft com 45 metros de profundidade pelo qual
interceptaram o filão e removem o material a ser beneficiado (Fig. 37).
Figura 37: Shaft usado para retirada de material e para translado de pessoas.
A mineralização de ouro é apresentada na forma de um único veio de quartzo, de
tipologia filoneana. Foram coletadas 57 medidas da atitude do filão principal que apontam para
uma direção principal de N05E/85°SE (Fig. 38). O corpo mineralizado apresenta textura maciça
e com espessura variando de 2 cm a 1,5 m e até 70 metros de comprimento.
Em profundidade de 45 metros foram abertos mais de 30 metros de galeria horizontal na
qual o filão principal é visível no teto (Fig. 39A e B) e no piso. As galerias apresentam 1,5 m de
largura e variam entre 1,80 a 10 m de altura. Amostras retiradas de sub-superficie, apresentam
características de brechas até então não reconhecidas, nos filões visitados. O quartzo preenche os
espaços entre os fragmentos da rocha hospedeira hidrotermalizada, gerando feições,
possivelmente formadas em ambientes crustais rasos, em que a pressão do fluido, somado ao
domínio rúptil da encaixante, gera o que é conhecido na literatura como brecha hidráulicas. Não
foram identificados marcadores cinemáticos que pudessem nos informações se houve ou não
movimento. Por isso, acreditamos que o filão principal está encaixado em uma fratura. Dentro da
galeria, onde se é possível observar o contato do filão principal com a rocha encaixante, sem a
última estar intemperizada, percebe-se que o veio de quartzo está encaixado entre as
74
descontinuidades do granito, que por sua vez se encontra alterado hidrotermalmente
(potassificação). Essa alteração hidrotermal está relacionada com a percolação do fluído
hidrotermal da fase de cristalização do filão principal.
Figura 38: Estereograma de isovalores e polos do veio principal do Filão do Vinte com atitudes de N05E/85°SE.
Figura 39: A,B) Filão principal visto de dentro do shaft, a uma profundidade de 45 metros.
75
A ausência de sulfetação proporcionou o desenvolvimento de ouro livre (Fig. 40A, B, C
e D), registrado em amostras de mão. Essa mineralização ocorre alojada no veio de quartzo
principal, variando em aglomerados cristalinos de 1 a 2 cm com cor amarela geralmente
associados a altos níveis de oxidação determinada pela cor vermelha no quartzo.
Figura 40: A,B,C,D) Ouro livre (contornado pelas linhas brancas) no material do filão principal do Filão do Vinte.
Dentro das galerias foi observado um dique máfico de atitude N80ºW com até um metro
de espessura perpendicular ao filão principal.
Nas galerias, a uma profundidade de 45 metros, podemos observar que quanto mais ao
norte, mais espesso é o filão principal, e que o mesmo vem diminuindo a sua espessura conforme
andamos em direção ao sul, passando de 1,5 metros de espessura no norte da galeria para 2 cm
no sul da galeria (Fig. 41).
76
Figura 41: Mapa geológico do Filão do Vinte em profundidade de 45 metros (Shaft).
77
O Filão do Vinte, apesar de ser o único em que podemos observar a formação de ouro
livre, foi o que apresentou teores de ouro mais baixos entre os filões estudados. Esses valores
baixos podem ser associados ao efeito pepita. Foram enviadas para análise 6 amostras
representativas do garimpo. A tabela 10 apresenta os resultados da geoquímica para amostras do
Filão do Vinte.
Tabela 10: Tabela de resultados da geoquímica do Filão do Vinte. Valores dados em ppm.
Amostra Au Ag Pb As Cu Zn Te Co
JVT 1 0,0082 0,062 21,70 14,0 0,85 6,5 0,02 15,8
JVT 2 0,0095 0,044 25,68 11,4 1,24 11,6 0,02 5,9
JVT 3 0,0002 0,038 12,11 2,6 1,61 17,5 <0.02 6,2
JVT 4 0,029 0,027 12,35 5,4 0,84 3,9 <0.02 6,6
JVT 5 0,014 0,035 9,70 3,6 1,73 16,4 <0.02 7,2
JVT 6 0,022 0,03 3,91 1,0 1,57 22,3 <0.02 4,4
As amostras JVT 4, JVT 5 e JVT 6 foram retiradas de diferentes pontos do filão principal
em superfície. São as amostras que apresentaram o maior teor de ouro dentre as amostras do
Filão do Vinte.
As amostras JVT 1 e JVT 2 são amostragens de canaletas, no qual foram retirados
material do filão principal e 40 cm do granito intemperizado de ambos os lados do filão. Os
resultados obtidos não foram satisfatórios, pois os baixos teores do filão principal são diluídos
em meio ao granito intemperizado. Teor de ouro em veio de quartzo perpendicular ao filão
principal foi obtido através da análise da amostra JVT 3, e apresentou o mais baixo resultado
para teor de ouro dentre as amostras analisadas.
Os dados contidos na tabela 10, apesar de conterem teores baixos de ouro, nos mostram
que o ouro está associado à estrutura do filão principal, que tem atitude principal de N05E/85°SE
(assim como ocorre no Filão do Cocheira). O veio de quartzo perpendicular ao filão principal
(JVT 3) apresentou teor abaixo daqueles apresentados pelas amostras do filão principal.
A tabela 11 apresenta valores dos elementos traços das amostras do Filão do Vinte.
Observando esses dados, podemos concluir que o Filão do Vinte apresenta uma correlação do
78
minério (Au) com alguns outros elementos. Elementos como Antimônio (Sb) e Molibdênio (Mo)
apresentam uma forte correlação com o ouro para este filão, assim como também há um
enriquecimento em Arsênio (As) neste filão. Esses elementos são elementos farejadores para o
minério em questão nessa ocorrência aurífera.
Tabela 11: Dados geoquímicos para elementos traços do Filão do Vinte. Valores em ppm, exceto Enxofre (%).
Amostra Bi S (%) Mo Sb Sn Sr W U
JVT 1 0,23 <0.02 1,30 0,16 0,1 2,9 0,06 0,38
JVT 2 0,16 <0.02 0,72 0,22 <0.1 3,2 <0.05 0,29
JVT 3 0,04 <0.02 1,33 0,07 <0.1 3,0 <0.05 0,51
JVT 4 0,15 <0.02 1,07 0,13 <0.1 1,7 0,06 0,15
JVT 5 0,02 <0.02 1,22 0,08 0,2 2,9 0,09 0,33
JVT 6 0,04 0,12 1,25 0,04 0,2 8,8 0,11 0,04
8. INCLUSÕES FLUÍDAS
Pesquisas envolvendo Inclusões Fluidas (IFs) tem dado importante contribuição para
compreensão do caráter, origem e evolução dos fluídos hidrotermais, bem como a formação dos
bens minerais. Antes do desenvolvimento desses estudos, assumia-se que os fluídos formadores
de determinado mineral eram apenas enriquecidos nos constituintes presentes nos minerais
observados petrograficamente. No momento em que dados geológicos foram integrados a
resultados obtidos da análise de inclusões fluídas, sendo estas as verdadeiras amostras dos
fluidos mineralizadores, observou-se que estas soluções possuíam componentes adicionais como
compostos voláteis e sais solúveis, os quais não estão presentes no mineral propriamente dito
(Shepherd et al. 1985).
Os dados gerados a partir destas inclusões oportunizam de modo geral conhecer as
condições físico-químicas reinantes durante ou após a cristalização e/ou recristalização do
79
mineral hospedeiro, fornecendo informações sobre os processos que estão relacionados a
formação ou a eventos superimpostos a este mineral.
O conhecimento sobre os fluídos geológicos exige muito cuidado, paciência e perspicácia
por parte dos pesquisadores ao analisarem estas gotículas de líquido. A inclusão fluída trata-se de
paleolíquidos trapeados em cristais de minerais de rochas, que na verdade são as verdadeiras
amostras dos fluidos responsáveis pelas mineralizações e que colaboram significativamente na
construção de modelos metalogenéticos favorecendo a descoberta de novas reservas com melhor
potencial exploratório (Roedder, 1984).
O estudo das inclusões fluídas é realizado através de 5 etapas: (i) amostragem do material
em campo; (ii) confecção de lâminas bipolidas; (iii) mapeamento das lâminas bipolidas; (iv)
microtermometria das inclusões mapeadas; (v) tratamento dos dados microtermométricos.
8.1. INCLUSÕES FLUÍDAS – MINA DO EDU
No estudo de inclusões fluídas da Mina do Edu foram confeccionadas duas lâminas bi-
polidas de amostras retiradas do centro da zona de cisalhamento (halo de sulfetação conforme
definido neste trabalho). Foram confeccionadas as lâminas desse halo de alteração devido a
relação da alteração hidrotermal com a zona de cisalhamento mineralizada.
Com a caracterização ao microscópio das lâminas bi-polidas, foi possível se distinguir as
características de diferentes inclusões fluídas, sendo as mesmas separadas em diferentes grupos,
conforme as características apresentadas. Abaixo a descrição dos grupos das inclusões fluídas da
Mina do Edu.
GRUPO I – Inclusões Carbônicas Monofásicas (Líquido): Essas inclusões são
encontradas em todos os grãos de quartzo da lâmina, geralmente se encontram em nuvens
de inclusões ou isoladas nos grãos (primárias), por vezes são encontradas em trilhas de
inclusões que ultrapassam os limites do grão de quartzo e/ou em trilhas que se mantem
restritas a um único grão (secundárias e pseudosecundárias). São inclusões de pequenas
dimensões, variando entre 6 e 10 μm, apresentam relevo baixo a moderado e possuem a
80
fase líquida preenchendo 100% do volume da inclusão (Fig. 42 A e B). Possuem formas
que variam de alongadas, arredondadas a subarredondadas.
Figura 42: Inclusão do Grupo I da Mina do Edu. A) Foto de inclusão fluída monofásica; B) Desenho da inclusão
fluída monofásica.
GRUPO II – Inclusões Aquosas-Carbônicas Trifásicas (Líquido H2O + Líquido CO2
+ Vapor CO2): Essas inclusões, assim como as inclusões do Grupo I, são frequentemente
encontradas em nuvens de inclusões e isoladas nos grãos de quartzo (primárias). São
vistas também em trilhas de inclusões (secundárias e pseudosecundárias). Possuem
dimensões que variam de 6 a 12 μm e relevo moderado a alto. A fase líquida (H2O)
apresenta um volume que varia de 50 a 60% do volume total da inclusão. A fase líquida
(CO2) apresenta volume que varia de 30 a 35% do volume total, possuindo a fase gasosa
(CO2) um volume que não ultrapassa 15% do volume total das inclusões (Fig. 43 A e B).
Possuem formas que variam de angulares, arredondadas a alongadas.
81
Figura 43: Foto da inclusão do Grupo II da Mina do Edu. A) Inclusão fluída trifásica; B) Desenho da inclusão fluída
trifásica.
GRUPO III – Inclusões Aquosas-Carbônicas Bifásicas (Líquido H2O+ Líquido
CO2): São observadas somente em trilhas de inclusões, trilhas essas que atravessam os
limites de grãos e/ou que estão restritas a um único grão. Essas inclusões são chamadas
inclusões secundárias e pseudosecundárias. Apresentam dimensões que variam de 5 a 8
μm, relevo leve a moderado e formas que variam de alongadas, arredondadas e
angulosas. As inclusões fluídas pertencentes a esse grupo apresentam feições de
estrangulamento. A fase líquida (H2O) ocupa um volume que varia de 70 a 90% do
volume total da inclusão, já a fase líquida (CO2) ocupa no máximo 20% do volume total
da inclusão.
8.1.1. MICROTERMOMETRIA DA MINA DO EDU
A microtermometria foi aplicada somente nas inclusões pertencentes ao Grupo I e II por
serem consideradas de origem primária. Foram selecionadas inclusões que não estivessem em
trilhas de inclusões (secundárias e pseudosecundárias) ou que apresentassem feições de
estrangulamento.
82
Grupo I: Um total de 54 inclusões fluídas pertencentes a esse grupo foi analisado. A
temperatura de fusão do CO2 para essas inclusões variaram de -56,6 a -56,8ºC (Fig. 44A).
O ponto tríplice do CO2 é de -56,6ºC, por isso, foi considerado que as inclusões
pertencentes a esse grupo são formadas por CO2 puro, ou praticamente puro para as
temperaturas de -56,8ºC que contém poucos voláteis misturados ao CO2, dando uma
salinidade insignificante, modelando assim um fluído de composição CO2±N2±CH4. A
homogeneização total ocorre para a fase líquida. A temperatura de homogeneização total
varia de 30,7 a 31ºC, sendo o pico de maior ocorrência a temperatura de 30,7ºC (Fig.
44B). Tendo sido o fluído considerado como constituído de CO2 puro ou praticamente
puro em algumas inclusões, pode-se afirmar que quase não há outros voláteis, assim,
modelando-se um fluído constituído somente por CO2 variando para um fluído
CO2±N2±CH4. Só se pode afirmar que os voláteis presentes em pequena quantidade
sejam o N2 ou o CH4 através da espectroscopia RAMAN.
Figura 44: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A) Fusão de CO2;
B) Homogeneização total.
Grupo II: Foram analisadas 40 inclusões pertencentes a esse grupo. A temperatura de
fusão do CO2 para essas inclusões varia de -60,5 a -65ºC, com um pico de ocorrência de -
64,8ºC (Fig. 45A), modelando um sistema H2O-CO2-NaCl-CaCl2(±N2±CH4). A
temperatura de fusão do clatrato (Tfclat) variou de 1,2 a 2,1ºC, com maior ocorrência na
temperatura de 1,8ºC (Fig. 45B). A salinidade do fluído variou de 10 a 14% equiv., com
pico de maior ocorrência o valor de 13% equiv. peso NaCl (Fig. 45C). A primeira fase a
83
se homogeneizar é a fase gasosa do CO2. Essa fase se homogeneiza a temperaturas que
variam de 17 a 23ºC, sendo o pico de maior ocorrência a temperatura de 17ºC (Fig. 45D).
A homogeneização total ocorre para a fase líquida, e ela ocorre a temperaturas que
variam de 265 a 308ºC, com maior ocorrência a temperatura de 285ºC (Fig. 45E).
Figura 45: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A) Fusão de CO2;
B) Fusão do Clatrato; C) Salinidade; D) Homogeneização do CO2; E) Temperatura de homogeneização total.
84
8.2. INCLUSÕES FLUÍDAS – GARIMPO DO PETECA
Para realizar o estudo de inclusões fluídas do Garimpo do Peteca, tomou-se o cuidado de
se amostrar veios de quartzo que tivessem a mesma atitude que a falha por onde percolou os
fluídos mineralizantes. Por isso, foram confeccionadas duas lâminas bi-polidas de veios de
quartzo encontrados nas paredes da falha principal e que fossem paralelos a mesma.
Com base na caracterização microscópica das lâminas bi-polidas, foi possível traçar as
características das inclusões fluidas pautadas na ocorrência espacial, morfologia, relações
cogenéticas, distinção quanto à origem (primárias, secundárias e pseudosecundárias) bem como
mensurar suas dimensões. Sendo assim, as inclusões fluídas foram agrupadas com base nas suas
características. Segue abaixo os grupos de inclusões fluídas encontrados no Garimpo do Peteca.
Grupo I – Aquosas Bifásicas (Líquido + Vapor): estas inclusões ocorrem isoladas, em
pequenas nuvens de inclusões fluídas (tidas como inclusões primárias) e em trilhas de
inclusões que atravessam vários grãos ou que estão contidas em um único grão
(secundárias e pseudosecundárias). Possuem relevo intermediário a alto, líquido claro,
sendo pouco comuns as de aspecto sujo. Apresentam diâmetro variando entre 5 e 10μm,
com formas irregulares, desde alongadas, angulares e subarredondadas (Fig. 46A e B).
No seu conjunto apresenta a fase vapor com volume variando de 5% - 15% da superfície
da Inclusão. A fase gasosa forma uma bolha escura.
85
Figura 46: Inclusão do Grupo I do Garimpo do Peteca. A) Inclusão Fluída Bifásica; B) Desenho da inclusão.
Grupo II – Aquosas Trifásicas Saturadas (Líquido + Vapor + Sólido): ocorrem de
formas isoladas e em nuvens dispersas, mas também são encontradas em trilhas de
inclusões (secundárias e pseudosecundárias) São consideradas inclusões fluídas
primárias. Suas formas são irregulares, variando de alongadas a subarredondadas. Estas
inclusões apresentam a fase vapor de tonalidade escura com volume variando entre 5% -
15%. A fase sólida possui volume que raramente ultrapassa os 5% do volume total da
inclusão, o que por vezes a torna quase imperceptível (Fig. 47A e B). O sólido apresenta
hábito cúbico, sendo considerado como um cristal de halita. Possuem líquido incolor,
trazendo às vezes o líquido com aspecto sujo. Possuem dimensões homogêneas entre
6μm e 12μm. As inclusões do Grupo II são encontradas em nuvens de inclusões junto
com as inclusões do Grupo I, mais um fator que nos leva a afirmar que esses dois grupos
de inclusões são de origem primária.
86
Figura 47: Inclusão do Grupo II do Garimpo do Peteca. A) Inclusão fluída Trifásica; B) Desenho da inclusão fluída
trifásica.
Grupo III – Monofásicas (Vapor): essas inclusões são encontradas em trilhas que
atravessam de um grão de quartzo a outro (origem secundária) e às vezes em trilhas
dentro de um mesmo grão (origem pseudosecundária). Nessas inclusões a fase gasosa
ocupa um volume de 100% das inclusões. O seu relevo é alto e seu aspecto, em sua
grande maioria, é sujo. Estas inclusões mostram um fenômeno conhecido no estudo das
inclusões fluídas de “estrangulamento”. Essa feição de estrangulamento é quando a
inclusão se apresenta claramente dividida, como se estivesse sido estrangulada, dando
origem a uma segunda inclusão. Esse fenómeno não é bom para o estudo de inclusões
fluídas, pois esse estrangulamento divide o fluído inicial em duas ou mais inclusões, o
que altera as propriedades do mesmo fluído. Por não serem inclusões primárias, essas
inclusões ficaram restritas as observações microscópicas. Apesar de terem o menor
tamanho quando comparada as outras inclusões, cerca de 5 μm, pode-se afirmar que elas
são as mais abundantes nas lâminas, chegando a ocupar 40% do número de inclusões
observadas.
Grupo IV – Multifásicas (Líquido + Vapor + SSS): Estas inclusões são consideradas
inclusões de origem secundária e pseudosecundária por serem encontradas em trilhas que
cortam vários grãos de quartzo e em trilhas dentro de um mesmo grão. Assim como as
87
inclusões do Grupo III, ficaram restritas a observações microscópicas. Elas apresentam
de 2 a 3 sólidos, todos de hábito cúbico, interpretados como halita. Os sólidos ocupam de
40-60% das inclusões, enquanto a fase líquida ocupa 30 a 50% e a fase gasosa 10%.
Apresentam relevo médio a alto, tamanho de até 8 μm e formas que variam de
subarredondadas a angulares. Assim como o Grupo III, o Grupo IV também apresenta
feições de “estrangulamento”.
8.2.1. MICROTERMOMETRIA DO GARIMPO DO PETECA
Análises microtermométricas foram realizadas nas inclusões fluídas dos Grupos I e II por
terem sido considerados de origem primária. Apesar da maioria das inclusões fluídas destes dois
grupos serem encontradas em trilhas de inclusões, só foram analisadas microtermometricamente
aquelas encontradas em nuvens de inclusões ou isoladas nos grãos, na tentativa de se obter como
dados as propriedades do líquido primário.
Grupo I: Os dados microtermométricos foram coletados em 60 inclusões fluídas. As
temperaturas de fusão do gelo (Tfg) variam de -15 até – 21,7 ºC, com pico de ocorrência
de -18,5ºC (Fig. 48A). As temperaturas do eutético (Te) variam de -47 a – 52ºC, com
pico de ocorrência de -50,3ºC (Fig. 48B). O pico de ocorrência da temperatura do
eutético estabelece um sistema H20-NaCl-CaCl2.
Os valores de salinidade deste grupo variam de 15 a 22,5% equiv. peso de NaCl, com
pico máximo de ocorrência de 21% equiv. peso de NaCl (Fig. 48C). As temperaturas de
homogeneização total (Th) variam de 70 a 125ºC, com pico de ocorrência de 83ºC (Fig.
48D). A homogeneização total ocorre para a fase líquida.
88
Figura 48: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do gelo;
B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.
Grupo II: Os dados microtermométricos nesse grupo foram coletados em 40 inclusões
fluídas. As temperaturas de fusão do gelo (Tfg) para esse grupo de inclusões variou de -
17 a -23ºC, com pico de ocorrência de -21ºC (Fig. 49A). As medidas de temperatura do
eutético (Te) variam de -46,5 a -55ºC, com pico de ocorrência de -52,6ºC (Fig. 49B).
Estas temperaturas do eutético indicam um fluído de composição H20-NaCl-CaCl2.
Os resultados de salinidade do fluído variam de 28 a 39% equiv., com pico de ocorrência
no valor de 35% equiv. em peso de NaCl (Fig. 49C). A homogeneização total se deu no
intervalo de temperatura de 153 a 198ºC, com um pico de ocorrência na temperatura de
177ºC (Fig. 49D), sendo que a dissolução do sólido se fez após o desaparecimento da fase
gasosa em todas as inclusões deste grupo.
89
Figura 49: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do
gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.
8.3. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO LAJE
Duas lâminas do filão principal do Filão do Laje foram confeccionadas e serviram de
estudo para este trabalho. Com base na caracterização microscópica das lâminas bi-polidas, foi
possível traçar as características das inclusões fluidas pautadas na ocorrência espacial,
morfologia, relações cogenéticas, distinção quanto à origem (primárias, secundárias e
pseudosecundárias) e dimensões. Sendo assim, as inclusões fluídas foram agrupadas com base
nas suas características. Abaixo os grupos de inclusões fluídas encontrados no Filão do Laje.
GRUPO I – Aquosas Bifásicas (Líquido + Vapor): estas inclusões ocorrem isoladas,
em pequenas nuvens de inclusões fluídas (tidas como inclusões primárias) e em trilhas de
inclusões que atravessam vários grãos ou que estão contidas em um único grão
(secundárias e pseudosecundárias) (Fig. 50A e B). Possuem relevo intermediário a alto,
90
líquido claro, não foram encontradas inclusões com aspecto de líquido sujo. Apresentam
diâmetro variando entre 7 e 13μm, com formas irregulares, variando de alongadas a
subarredondadas (Fig. 51A e B). No seu conjunto apresenta a fase vapor com volume
variando de 5 - 10% da superfície da Inclusão. A fase gasosa forma uma bolha escura.
Figura 50: A) Trilhas de inclusões fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões.
Figura 51: Inclusão do Grupo I do Filão do Laje. A) Foto de inclusão fluída bifásica; B) Desenho da inclusão fluída
bifásica.
91
GRUPO II – Aquosas Trifásicas Saturadas (Líquido + Vapor + sólido): ocorrem de
formas isoladas e em nuvens dispersas, mas também são encontradas em trilhas de
inclusões (secundárias e pseudosecundárias). São consideradas inclusões fluídas
primárias (Fig. 52A e B). Suas formas são irregulares, variando de alongadas a
subarredondadas. Estas inclusões apresentam a fase vapor de tonalidade escura com
volume variando entre 10 e 15%. A fase sólida possui volume que raramente ultrapassa
os 10% do volume total da inclusão, com maior número de ocorrências os sólidos com
valores de 5% do volume total da inclusão. Os sólidos foram considerados como cristais
de halita, por apresentarem hábito cúbico. Possuem líquido incolor e dimensões
homogêneas entre 5μm e 10μm. As inclusões do Grupo II são encontradas em nuvens de
inclusões juntas com as inclusões do Grupo I, mais um fator que leva a afirmar que esses
dois grupos de inclusões são de origem primária.
Figura 52: Inclusão do Grupo II do Filão do Laje. A) Inclusão fluída trifásica; B) Desenho da inclusão fluída
trifásica.
GRUPO III – Monofásicas Líquidas: Essas inclusões são observadas somente em
trilhas de inclusões, trilhas essas que por vezes cortam vários grãos e em outros casos
trilhas que ficam restritas a um único grão (inclusões de origem secundária e
pseudosecundária). A fase líquida ocupa 100% do volume total da inclusão. Seu relevo é
de fraco a médio, suas formas variam de arredondadas a subarredondadas, alongadas e
92
angulares. Possuem dimensões que variam de 6 a 15μm. Este grupo de inclusões ficaram
restritos a observação de microscópio, pois apresentam muitas feições de
estrangulamento.
GRUPO IV – Monofásicas Gasosas: Essas inclusões, assim como as inclusões do
Grupo III, são inclusões de origem secundárias e pseudosecundárias, pois são
encontradas somente em trilhas de inclusões, junto com as inclusões do Grupo III. A fase
gasosa ocupa 100% do volume total da inclusão. Seu relevo é moderado a forte e suas
formas são variadas, podendo ocorrerem em formas alongadas, arredondadas e angulares.
Sua dimensão varia de 10 a 4 μm. As inclusões que pertencem a esse grupo apresentam
muitas feições de estrangulamento, ficando seu estudo restrito a observação de
microscópio.
8.3.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO LAJE
Análises microtermométricas foram realizadas nas inclusões fluídas dos Grupos I e II por
terem sido os dois grupos considerados de origem primária. Apesar de inclusões fluídas de esses
dois grupos também serem encontradas em trilhas de inclusões, só foram analisadas
microtermometricamente aquelas em nuvens de inclusões ou inclusões isoladas nos grãos. Não
foram analisadas inclusões que estivessem em trilhas nem as que aparentavam ter sofrido um
estrangulamento, na tentativa de se obter como dados as propriedades do líquido primário.
Grupo I: Os dados microtermométricos foram coletados em 58 inclusões do grupo I. A
temperatura da fusão do gelo (Tfg) dessas inclusões variaram de -14 a -20,1ºC, sendo o
pico de maior ocorrência no valor de -19,3ºC (Fig. 53A). As temperaturas do eutético
(Te) variaram de -49,8 a -54,7 ºC, sendo mais comum o valor de -51,7ºC (Fig. 53B).
Esses valores de Te modelam um sistema H20-NaCl-CaCl2.
Os valores de salinidade das inclusões desse grupo variaram de 17 a 22% equiv. peso de
NaCl, com pico de maior ocorrência de 22% equiv. peso de NaCl (Fig. 53C). A
homogeneização total ocorre para a fase líquida com valores de Temperatura de
93
homogeneização total (Tht) variando de 80 a 115ºC, com pico de ocorrência na
temperatura de 88ºC (Fig. 53D).
Figura 53: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do gelo;
B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.
Grupo II: 50 inclusões foram analisadas microtermometricamente. As inclusões
apresentaram temperatura de fusão do gelo de -19,8 a -27ºC, sendo o pico de maior
ocorrência na temperatura de -22,4ºC (Fig. 54A). As temperaturas do eutético variaram
de -51,3 a -55,5ºC, sendo o pico de maior ocorrência na temperatura de -52ºC (Fig. 54B).
Os valores de temperatura do eutético modelam para as inclusões desse grupo um sistema
H20-NaCl-CaCl2.
Os valores de salinidade para as inclusões deste grupo variam de 33 a 39% equiv., sendo
os valores com maior ocorrência de 37% equiv. peso NaCl (Fig. 54C). A
homogeneização total ocorre para a fase líquida, onde primeiro desaparece a fase gasosa
para depois desaparecer a fase sólida. Isso ocorre em temperaturas que variam de 175 a
225ºC, com valores de maior abundância de 185ºC (Fig. 54D).
94
Figura 54: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do
gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.
8.4. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO COCHEIRA
Duas lâminas bi-polidas foram confeccionadas a partir de amostras retiradas de veios de
quartzo com atitude N05-12°E, direção principal dos veios mineralizados do Filão do Cocheira.
As inclusões fluídas foram divididas em grupos considerando-se as suas propriedades. Abaixo os
grupos de inclusões e suas características.
GRUPO I – Inclusões Aquosas Bifásicas (Líquido + Vapor): estas inclusões estão
presentes em nuvens de inclusões e isoladas em grãos de quartzo (origem primária), mas
também são encontradas em trilhas de inclusões fluídas, trilhas essas que atravessam de
95
um grão para outro, ou que por vezes se encontra restrita a um único grão (Fig. 55A e B).
A fase vapor chega a ocupar o volume de 20% do volume total da inclusão, porém, é
mais comum se encontrar inclusões com volume da fase vapor ocupando no máximo
15% do volume da inclusão. As inclusões pertencentes a esse grupo possuem relevo
moderado a forte e líquido claro. A fase gasosa se apresenta sempre mais escura que a
fase líquida. As formas são as mais variadas possíveis, partindo de formas alongadas,
arredondadas, a subarredondadas e angulosas (Fig. 56A e B). Possuem dimensão que
pode variar de 10 a 15μm.
Figura 55: A) Trilhas de Inclusões Fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões.
96
Figura 56: Inclusão do Grupo I do Filão do Cocheira. A) Foto de inclusões fluídas bifásicas; B) Desenho das
inclusões fluídas bifásicas.
GRUPO II – Inclusões Trifásicas Saturadas (Líquido + Vapor + Sólido): estas
inclusões, assim como as inclusões do grupo I, são consideradas inclusões primárias, pois
são encontradas em nuvens de inclusões e isoladas em grãos de quartzo. Com frequência
são também encontradas em trilhas de inclusões (secundárias e pseudosecundárias). A
fase vapor apresenta um volume homogêneo em todas as inclusões de 15% do volume
total. Já o volume da fase sólida varia de 5 a 10%. O sólido apresenta hábito cúbico, o
que leva a sugerir que seja uma halita (Fig. 57A e B). A dimensão das inclusões varia de
6 a 10μm, por diversas vezes é quase imperceptível a fase sólida. As ocorrências dessas
inclusões são em formas arredondadas a subarredondadas. Seu relevo é moderado a forte.
97
Figura 57: Inclusão do Grupo II do Filão do Cocheira. A) Foto de uma inclusão trifásica; B) Desenho da inclusão
fluída trifásica.
GRUPO III – Trifásicas Aquocarbônicas (Líquido + Líquido CO2 + Vapor CO2):
estas inclusões estão presentes nas trilhas de inclusões, o que as define como inclusões
secundárias e pseudosecundárias. São raras e de difícil percepção devido a má qualidade
das suas características. Apresentam inúmeras feições de estrangulamento, formas
angulares e alongadas, dimensões que não ultrapassam 7 μm e relevo forte. Estas
inclusões ficaram restritas apenas ao estudo ao microscópio.
GRUPO IV – Aquosas Monofásicas (Líquido): Essas inclusões são encontradas
somente em trilhas de inclusões, tanto em trilhas que ultrapassam os limites de um grão
quanto em trilhas que são restritas a um único grão (secundárias e pseudosecundárias).
Apresentam a fase líquida ocupando 100% do volume da inclusão. Apresentam relevo
baixo a médio e dimensões que não ultrapassam 8 μm. Suas análises ficaram restritas a
observações microscópicas devido a origem do líquido ser secundário.
8.4.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO COCHEIRA
98
Foram selecionados para a microtermometria somente as inclusões pertencentes aos
grupos I e II, por serem consideradas de origem primária, e que não estivessem com feições de
estrangulamento ou inseridas em trilhas de inclusões.
Grupo I: Foram analisadas 83 inclusões fluídas desse grupo. Elas apresentam
Temperatura de fusão do gelo variando de -15,3 a -21,8ºC, com um pico de maior
ocorrência na temperatura de -18ºC (Fig. 58A). A temperatura do eutético variou de -50 a
-54ºC, com um pico de maior concentração na temperatura de -50,9ºC (Fig. 58B). Essa
temperatura do eutético modela um sistema H20-NaCl-CaCl2.
A salinidade das inclusões analisadas variou de 18 a 22% equiv. peso de NaCl, com
valores de maior ocorrência sendo os de 20,8% equiv. peso de NaCl (Fig. 58C). A
homogeneização total ocorre para a fase líquida e no intervalo de temperatura de 75 a
98ºC, com um valor de maior ocorrência de 82ºC (Fig. 58D).
99
Figura 58: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do gelo;
B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.
Grupo II: Foram analisadas 43 inclusões fluídas para este grupo. As inclusões analisadas
apresentam Temperatura de fusão do gelo entre -18 a -23,5ºC, com um valor de maior
ocorrência sendo -18,9ºC (Fig. 59A). A temperatura do eutético das inclusões analisadas
varia de -49,8 a -55ºC, com um pico de ocorrência na temperatura de -51,4ºC (Fig. 59B).
Essa temperatura do eutético modela um sistema H20-NaCl-CaCl2.
As salinidades das inclusões desse grupo variam de 31,8 a 39% equiv. peso de NaCl,
sendo o valor de maior ocorrência 35,4% equiv. peso de NaCl (Fig. 59C). A
homogeneização total ocorre para a fase líquida, sendo a primeira fase a desaparece a
fase gasosa e por último a fase sólida. A temperatura da homogeneização total varia de
175 a 243ºC, sendo a temperatura com maior ocorrência de 180ºC (Fig. 59D).
100
Figura 59: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do
gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.
8.5. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO VINTE
Os dados de inclusões fluídas do Filão do Vinte foram obtidos através de análises de duas
lâminas bi-polidas que foram confeccionadas de amostras do filão principal do Filão do Vinte em
superfície. As inclusões fluídas foram divididas em grupos conforme as suas características.
Abaixo os grupos de inclusões fluídas e suas características.
GRUPO I – Aquosas Bifásicas (Líquido + Vapor): as inclusões fluídas desse grupo
estão presentes em nuvens de inclusões ou isoladas em grãos de quartzo, porém, também
são encontradas em trilhas de inclusões, que por vezes atravessam os limites de um grão,
mas que também são observadas em trilhas restritas a um único grão (Fig. 60A e B). A
fase gasosa ocupa até 30% do volume total da inclusão, mas são mais comuns as
101
inclusões com volume entre 20 e 15% do volume total. O relevo das inclusões desse
grupo varia de moderado a alto. As formas de ocorrência são variadas, sendo observadas
inclusões com formas arredondadas, subarredondadas, alongadas e angulosas (Fig. 61A e
B). Possuem dimensões que variam de 8 a 15μm.
Figura 60: A) Trilha de inclusões fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões fluídas.
Figura 61: Inclusão do Grupo I do Filão do Vinte. A) Inclusão fluída bifásica; B) Desenho da inclusão fluída
bifásica.
102
GRUPO II – Inclusões Trifásicas Saturadas (Líquido + Vapor + Sólido): essas
inclusões, assim como as do grupo I, são encontradas em nuvens de inclusões ou
isoladas, porém, também são encontradas em trilhas de inclusões, tanto nas trilhas que
ultrapassam os limites de grãos, como em trilhas que são restritas a um único grão. A fase
gasosa pode chegar até 60% do volume total, sendo as mais comuns com 20% do volume
total. Já a fase sólida não ultrapassa 5% do volume total. Como as inclusões possuem
dimensões de 6 a 12 μm, por vezes é quase imperceptível a fase sólida, sendo por vezes
observada somente na microtermometria, na tentativa de se obter a temperatura de
homogeneização total (Fig. 62A e B). O relevo dessas inclusões é forte. As formas de
ocorrência variando de arredondadas, subarredondadas e alongadas.
Figura 62: Inclusão do Grupo II do Filão do Vinte. A) Foto da inclusão fluída trifásica; B) Desenho da inclusão
fluída trifásica.
GRUPO III – Inclusões Monofásicas (Vapor): essas inclusões são encontradas somente
em trilhas de inclusões, tanto nas trilhas que ultrapassam os limites de grãos como as que
estão restritas a um grão (secundárias e pseudosecundárias). A fase gasosa ocupa 100%
do volume total da inclusão. O relevo é de moderado a alto. Suas dimensões variam de 10
a 6 μm. Suas formas variam de angulosas a subarredondadas. São observadas feições de
estrangulamento nas inclusões desse grupo.
103
GRUPO IV – Inclusões Monofásicas (Líquida): essas inclusões são encontradas junto
com as inclusões do Grupo III, e também são consideradas de origem secundária e
pseudosecundária. A fase líquida ocupa 100% do volume total da inclusão. Seu relevo é
baixo a moderado. Suas dimensões variam de 8 a 10μm. Suas formas de ocorrência são as
mesmas que as formas de ocorrência do Grupo III.
GRUPO V – Inclusões Multifásicas (Líquido + Gasoso + SSS): Essas inclusões são
consideradas inclusões de origem secundária e pseudosecundária por serem encontradas
em trilhas que cortam vários grãos de quartzo e em trilhas dentro de um mesmo grão.
Apresentam de 2 a 3 sólidos, todos de hábito cúbico, interpretados como halita. Os
sólidos ocupam de 40 a 60% das inclusões, enquanto a fase líquida ocupa 30 a 50% e a
fase gasosa 10%. Apresentam relevo médio a alto, tamanho de até 6 a 8μm e formas que
variam de subarredondadas a angulares. Essas inclusões apresentam feições de
“estrangulamento”. Essas inclusões ficaram restritas a observações microscópicas.
8.5.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO VINTE
A microtermometria foi realizada nos Grupos I e II por serem os únicos grupos
considerados de origem primária. Para a microtermometria, foram selecionadas inclusões que
estivem em nuvens de inclusões ou isoladas. Foram dispensadas inclusões que estivem em trilhas
de inclusões e/ou que apresentassem feições de estrangulamento.
Grupo I: o estudo microtermométrico foi realizado em 65 inclusões desse grupo. A
temperatura de fusão do gelo (Tfg) variou de -16 a -28ºC, sendo o pico de maior
ocorrência a temperatura de -24ºC (Fig. 63A). A temperatura do eutético variou de -51 a -
54,8ºC, sendo o pico de maior ocorrência a temperatura de -52,8ºC (Fig. 63B). Essa
temperatura do eutético modelam um sistema H20-NaCl-CaCl2.
A salinidade dessas inclusões variam de 18,5 a 26% equiv. peso de NaCl, sendo a
salinidade de maior ocorrência 25% equiv. peso de NaCl (Fig. 63C). A temperatura de
104
homogeneização total (Tht) ocorre entre 90 e 115ºC, sendo o pico de maior ocorrência a
temperatura de 97ºC (Fig. 63D). A homogeneização total ocorre para a fase líquida.
Figura 63: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do gelo;
B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.
Grupo II: o estudo microtermométrico desse grupo foi realizado em 45 inclusões. A
temperatura de fusão do gelo (Tfg) variou entre -23 a -29,5ºC, sendo o pico de maior
ocorrência a temperatura de -24,9ºC (Fig. 64A). A temperatura do eutético (Te) varia de -
51,8 a -55ºC, sendo o pico de maior ocorrência a temperatura de -53,3ºC (Fig. 64B). Essa
temperatura do eutético modela um sistema H20-NaCl-CaCl2.
A salinidade das inclusões variou de 36 a 39% equiv. peso de NaCl, sendo mais comum
os valores de 39% equiv. peso de NaCl (Fig. 64C). A temperatura de homogeneização
total (Tht) varia de 180 a 225ºC, sendo a temperatura de maior ocorrência 215ºC (Fig.
64D). A homogeneização total ocorre para a fase líquida, sendo a primeira fase a
desaparecer a fase gasosa, e por último a fase sólida.
105
Figura 64: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do
gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.
9. TRABALHOS DE INCLUSÕES
FLUÍDAS NA PAAF
Sobre as ocorrências auríferas e áreas de garimpo da Província Aurífera Alta Floresta já
foram publicados dados de estudos de inclusões fluídas. Neste tópico, foi elaborado um resumo
de alguns desses trabalhos, o que ajudará no entendimento do comportamento dos fluídos
hidrotermais nos garimpos estudados no presente trabalho.
106
9.1. Garimpos estudados por Assis (2006)
Assis (2006) estudando inclusões fluídas em veios de quartzo dos depósitos Paraíba e
Novo Mundo observou as seguintes propriedades e características para cada um dos depósitos:
* Garimpo Paraíba: estudos petrográficos e microtermométricos de inclusões fluidas
revelaram grupos distintos de inclusões, classificados como dos tipos I, II e III. Nesse depósito as
inclusões fluidas estudadas de natureza primária e foram caracterizadas como bifásicas,
monofásicas, carbônicas, trifásicas saturadas e aquo-carbônica.
Petrograficamente, essas inclusões se distribuem aleatoriamente, possuindo formas sub-
arredondadas a sub-angulares com dimensões entre 7 a 15 μm. Os dados de microtermometria
para os dois grupos tipos I e II respectivamente são: temperaturas do eutético total entre -48,4°C
a 43,8°C e -46,8°C a -43,8°C correspondendo ao sistema fluido H2O-NaCl-CaCl2. As
temperaturas para a fusão do gelo para as inclusões estão em -6,7°C para o tipo I; -8,3°C para o
tipo II com salinidade correspondendo a 10% de NaCl (I) e 40,3% de NaCl (II). As temperaturas
de homogeneização total para o tipo I situam-se entre 78,7°C e 234,3°C variando principalmente
entre 145°C a 150,0°C. Nas Inclusões tipo II as temperaturas de homogeneização total foram
registradas entre 285,5°C e 362,1°C.
Para as Inclusões do tipo III (aquo-carbônicas) as temperaturas de homogeneização total
(Tht) variam entre 159°C e 315°C com valor modal em 285°C, com a maioria delas ocorreu
crepitação nos intervalos de 295°C e 310°C. As conclusões preliminares de Assis (2006) para o
depósito Paraíba se pautam nas seguintes argumentações e indagações: os fluidos ricos em CO2
no depósito Paraíba coexistindo com fluidos aquosos de alta salinidade possivelmente
demonstram um sistema em imiscibilidade que interagiu progressivamente com fluidos aquosos
mais diluídos (seriam de origem metamórfica ou magmática?).
* Garimpo Novo Mundo: petrograficamente as inclusões fluidas em veios de quartzo do
granito hidrotermalizado desse depósito foram definidas como tipo I (aquo-salinas bifásicas) e
tipo II (aquo-salinas saturadas). Ambos os tipos se distribuem aleatoriamente, classificadas como
primárias, tamanhos entre 0,5 a 7,5μm, apresentando formatos alongados, irregulares, sub-
107
angulares a sub-arredondados. As do tipo I e II ocupam um Vg (proporção L/V) entre 10% a
20% e 10% a 30% respectivamente.
Os resultados de microtermometria para o grupo I apresentam temperatura de
homogeneização total num campo de 60,9°C e 185°C com moda de 129°C. A temperatura
eutética ocorre entre -82,9°C e 39,1°C com valor modal em 62,5°C e salinidade 5,67°C de NaCl
e temperatura de fusão do gelo de -9,7°C a -1,3°C . As inclusões do tipo II possuem temperatura
do eutético variando de -80°C a -39,1°C com moda em -64,6°C e temperatura de fusão do gelo
entre -6,1°C e 0,7°C com pico de concentração em -2,63°C. Possuem salinidade de 33,61% em
NaCl. A temperatura de homogeneização do sal se deu por volta de 230,8°C e a homogeneização
da bolha se deu em 130°C.
Quanto aos dados do depósito Novo Mundo, estes refletem um regime puramente aquoso
trazendo fluidos de alta salinidade (magmático?) que tendem a se misturar com fluidos de mais
baixa temperatura de origem externa (meteóricos?) (Assis 2006).
9.2. Garimpos estudados por Silva et al. (2008)
* Garimpo Paraíba: A) Tipo 1: monofásicas (LCO2) e bifásicas (LCO2) carbônicas
raras, apresentam dados de homogeneização (Th) para líquido entre 30,1°C e 31,1°C,
temperatura de fusão de CO2 entre -57,9°C e -56,6°C, sistema CO2 ± N2 ± CH4. B) Tipo 2: aquo-
carbônicas trifásicas (LH2O + LCO2 + VCO2) e bifásicas (LH2O + LCO2), primárias, TfCO2
entre -58,6°C e -56,6°C temperaturas de fusão do clatrato (Tfclat) de -12°C a 7,6°C, com
concentração modal de 0°C a 6°C.
O Th do CO2 (homogeniza tanto para L e V) entre 9,1°C a 31,1°C com moda em 28°C. A
homogeneização total (Tht) para líquido entre 230°C a 320°C com moda em 270°C a 320°C. A
eutética ocorre em média a 42°C, sistema H2O-NaCl-CaCl2-CO2(±N2±CH4). C) Tipo 3:
bifásicas (LH2O+VH2O), primárias, temperatura de fusão do gelo (Tfg) -2,6/C a -0,6°C, Tht(L)
200°C a 340°C e moda em 230°C e temperatura do eutético de -52,0°C a -44,2°C, sistema H2O-
NaCl-CaCl2. D) Subtipos 4a e 4b: as primeiras secundárias, bifásicas (4a) (LH2O+VH2O) com
Tfg -26,0°C a -9,2°C, Tht (L) 103°C a 207°C, eutético (Te) de -53,4°C a -42,0°C. As segundas
108
aquosas trifásicas (L+V+S) apresentam Tfg de -27,2°C a -18,3°C, o Tht (L) vai de 153°C a
200°C e Te variando de -53°C a -43,0°C, o sistema para ambos os casos é o H2O+NaCl+ CaCL2.
As inclusões analisadas nos veios de quartzo desse filão mostram evidências de fluidos
predominantemente aquocarbônico, com salinidade variando entre < 5 % a 25% em peso equiv.
de NaCl, resultando num sistema H2O-NaCl-CaCl2-CO2(±N2±CH4).
Silva et al. (2008) concluíram que as inclusões analisadas nos veios de quartzo nesse filão
mostram evidências como:
- Fluidos são predominantemente aquocarbônico, modelando um sistema H2O-NaCl-
CaCl2-CO2(±N2±CH4).
- Presença de fluidos aquosos quentes, de baixa salinidade (< 5% de NaCl) ocorrendo de
forma restrita, contemporâneos a esses fluidos aquocarbônico.
- Fluidos aquosos mais salinos (13% a 28% de NaCl) , Tht < 200°C, tardios, permitiram
determinar sistema H2O+NaCl+ CaCL2, possivelmente sofrendo influência externa (água
meteórica).
-Os fluidos com variada salinidade e altas temperaturas provavelmente foram os
responsáveis pela geração do minério, se concluí, que tal minério teve sua origem a partir de
fluidos relacionados a granitos de ambiente de arco magmático.
- Características, mesmo subordinadas, desses fluidos, são parecidas as de fluidos
relacionados a depósitos alojados em veios de regiões de colisão continental (depósito de caráter
orogênico) onde há predomínio de fluidos aquocarbônico de salinidade baixa, < de 5% em NaCl,
e presença dominante de voláteis como N2 e/ou CH4. Tal processo pode ser visto como uma
mistura de fluidos, assim como da superposição de processos metamórfico-hidrotermal no
depósito.
* Garimpo Trairão: A) Tipo 1: primárias, aquo-carbônicas trifásicas
(LH2O+LCO2+VCO2) e bifásicas (LH2O+VCO2) mostram dados com as seguintes variações:
TfCO2 -58,5°C a -56,6°C, Tfclat de -13,2 a 9,6°C com maior frequência em 8,4°C, salinidade
entre 0,8% e 26,2% de NaCl.
O Th do CO2 (L/V) vai de -9,4 a 30,9°C com moda em 28°C e Tht(L) e crepitação numa
faixa de 176°C a 301°C e moda de 270°C, sistema H2O-NaCl-CaCl2-CO2(±N2±CH4. B) Tipo 2:
109
bifásicas (LH2O+VH2O) primárias, Tfg -12,2°C e -1,1°C salinidade em valores de 1,9% a
16,1%, Tht (L) 248°C a 353°C. O eutético de -53,0°C a -49,3°C, sistema H2O – NaCl – CaCl2.
C) Tipo 3a: aquosas bifásicas, (LH2O+VH2O), secundárias, com Tfg -15,8°C a -0,2°C, Tht (L)
101°C a 222°C, Te -53,6°C a -44,5°C, sistema H2O - NaCl - CaCL2. D) Tipo 3b: trifásicas
(LH2O+VH2O+S) a multifásicas (LH2O+VH2O+SSS) secundárias, Tfg ocorrem no intervalo de -
24,7°C a -22,7°C, salinidade com intervalos de 28,5% a 34,4% de NaCl. A temperatura do
eutético vai de -52,7°C a -42,6°C, sugerindo sistema H2O - NaCl - CaCL2.
Para Silva et al. (2008) no tocante a esse garimpo os dados sugerem para os fluidos as
seguintes considerações feitas pelos autores citados:
- Presença de fluidos, supostamente primários, aquocarbônico aquosos marcando sistemas
H2O-NaCl-CaCl2-CO2(±N2±CH4) e H2O - NaCl - CaCL2 respectivamente, com salinidade em
peso equiv. entre 0 a 20% e (Th) entre 250°c e 350°C são os responsáveis pela mineralização do
depósito.
- Fluidos tardios (sistema H2O - NaCl - CaCL2), provavelmente sem relações com o fluido
mineralizante de mais altas temperaturas, encontram-se aprisionados em fraturas dos cristais de
quartzo da rocha mineralizada.
- Os fluidos mineralizadores tem relevante contribuição magmática, coerentes com dados
de outros depósitos da região, indicando que as mineralizações estão relacionadas á evolução de
granitos de arco magmático.
* Garimpo Pé de Fora: A) Tipo 1: primárias, bifásicas (LH2O+ LCO2) e aquo-
carbônicas Trifásicas (LH2O+LCO2) com valores de TfCO2 de -59,9°C a -57,0°C, Tfclat -5,7°C
a 8,5°C, Th (L) do CO2 com valores de 12,7°C a 30,8°C, salinidade de 3% a 22% de NaCl. O
Tht (L) é de 210°C a 44°C, modelando o sistema H2O-NaCl-CaCl2-CO2(±N2±CH4. B) Tipo 2:
primárias, bifásicas (LH2O+VH2O), temperaturas de fusão do gelo (Tfg) situadas num intervalo
de -14,0°C a -11,5°C, salinidade de 15% a 8% de NaCl, Tht (V) indo de 360°C a 382°C, com
eutético entre -51,8°C a -50,4°c, indicando sistema H2O - NaCl - CaCL2. C) Tipo 3: compreende
inclusões bifásicas monofásicas (LH2O) e bifásicas (LH2O +VH2O), secundárias, com Tfg em
110
torno de -5,2°C a -0,2°C, valores de salinidade entre 0,4% a 8,1%. O Tht (L) variaram de 163°C
a 188°C, Te de -51,8°C a -48,8°C indicando um sistema fluido H2O - NaCl - CaCL2.
Silva et al. (2008) interpretaram os dados acima citados a respeito do Garimpo Pé de Fora
demonstrando que:
- Fluidos predominantemente aquocarbônico, representados pelo sistema H2O-CO2-NaCl-
CaCl2(±N2±CH4), indicando salinidade entre 3% a 22% de NaCl, aprisionados em temperaturas
aproximadamente entre 200°C e 350°C.
- Fluidos aquosos, quentes, ricos em vapor e de salinidade intermediária, aparecem em
locais restritos dos grãos de quartzo, espacialmente com as inclusões aquocarbônicas.
- Fluidos aquosos, pouco salinos, homogeneização entre 160°C e 180°C são tidos como
tardios.
- Os dados mostram similaridade com um fluido hidrotermal de alta temperatura,
provavelmente de contribuição magmática, contaminado por fluidos meteóricos. - Os fluidos
responsáveis pela mineralização nesse depósito possuem características semelhantes às de
depósitos auríferos em veios de quartzo geneticamente a granitos de arco vulcânico.
* Garimpo do Edu: A) Tipo 1: inclusões primárias, carbônicas raras, monofásicas
mostram temperaturas de fusão do CO2 de -65,3°C a -62,0°C e homogeneização total (Tht-L) de
26,6°C a 29,3°C, fluido modelado pelo sistema CO2±N2±CH4. B) Tipo 2: inclusões primárias,
aquosas carbônicas, bifásicas (LH2O+LCO2) e trifásicas (LH2O+LCO2+VCO2) com TfCO2 -
63,4°C a -62,0°C, Tfclat indo de -1,4°C a 2,1°C, Th do CO2 (L) ocorrendo entre 10,6/C a -0,6°C,
salinidade de 13% a 17% de NaCl, com Tht(L) 229°C a 326°C, sistema (H2O-CO2-NaCl-
CaCl2(±N2±CH4). C) Tipo 3: secundárias, temperatura de fusão do gelo (Tfg°C) -10,2 a -0,6°C,
salinidade de 1,1% a 14,1% peso equiv. De NaCl com Tht (L) situando num intervalo de 115°C
a 237°C e Te numa faixa de -52,7°C a -49,9°C, fluido revelado pelo sistema H2O - NaCl -
CaCL2.
Segundo Silva et al. (2008) as medidas microtermométricas das inclusões fluidas para
esse depósito aurífero determinam que:
111
- Os fluidos tidos como primários nesse garimpo são carbônicos e aquocarbônico, e que
TfCO2 são as mais baixas dentre os depósitos pesquisados, demonstrando uma provável
contribuição de N2, na fase não-aquosa.
- Fluidos de mais alta temperaturas de homogeneização modelam o sistema H2O-CO2-
NaCl-CaCl2(±N2±CH4) com salinidade de 13% a 17% de NaCl e presença de CaCl2 no sistema
indica contribuição magmática.
- Sem influência na mineralização, com salinidade baixa a moderada e homegeneização
indo de 200°C a 250°C, provavelmente tardios, são os fluidos modelados pelo sistema H2O -
NaCl - CaCL2.
- Os dados mostram coerência com os fluidos mineralizadores parecidos aos dos
depósitos hospedados em veios geneticamente associados a magmatismo granítico.
* Garimpo Tapajós: A) Tipo 1: são inclusões primárias, aquocarbônicas bifásicas
(LH2O+LCO2), sugerem TfCO2 -61,1°C a -57,7°C, a Tfclat ocorre de -11,6°C a 5,1°C,
apresentando Th do CO2 (L) -3,7°C a 17,7°C, salinidade 8,8% a 22,6%, com homogeneização
total (Tht) (L) 299°C a 314°C, sistema H2O - CO2 - NaCl - CaCl2 ( ±N2 ± CH4). B) Tipo 2:
aquosas bifásicas (LH2O + VH2O), primárias, Tfg°C -2,5°C a 0,1°C, salinidade 0,2% a 4,2%. O
Tht (L) ocorre de 325°C a 368°C com Te -52,0°C a -50,1°C, portanto, sistema H2O - NaCl -
CaCL2. Tipo 3: inclusões bifásicas (LH2O+VCO2), secundárias com Tfg entre -18,1°C a -0,4°C
com moda em -2,5°C e salinidade entre 0,6% a 21%. O Tht (L) concentrou-se entre 95°C e
231°C com eutético entre -52,8°C e -48,1°C, sustentando o sistema fluido H2O - NaCl - CaCL2.
Para Silva et al. (2008) a integração dos dados para esse depósito possibilitou traçar as
características dos fluidos mineralizadores da seguinte forma:
- Fluidos aquocarbônico com temperaturas mínimas de aprisionamento de 300°C com
salinidades entre 8,8% a 22,6 % e fluidos modelados pelo sistema H2O - NaCl - CaCL2, são os
prováveis responsáveis pela mineralização do depósito.
- Fluidos aquosos de temperaturas de homogeneização < de 200°C com salinidade
variada são tidos tardios.
112
- Fluidos primários de alta salinidade e as referidas temperaturas de homogeneização
sugerem que os fluidos que deram origem ás mineralizações de ouro tem sua gênese ligada ao
magmatismo granítico.
* Garimpo do Fabinho: estudos de inclusões fluidas em veios de quartzo nesse depósito
revelaram serem bifásicas (LH2O+VCO2) e monofásicas líquidas (LH2O+VCO2). A Tfg varia de
-3,6°C a 0°C com valor modal entre -0,5°C a 0°C e salinidade de 0% a 6% em peso equivalente
de NaCl. A homogeneização total com temperaturas de 88°C a 358°C e moda entre 300°C e
360°C. Inclusões com feições de estrangulamento decrepitaram com temperatura acima de
300°C.
Silva et al. (2008) definiram a natureza do fluido mineralizante desse garimpo a partir dos
dados acima descritos revelam que:
- O Fluido aquoso, de composição homogênea, de baixíssimos valores de salinidade
modela o sistema H2O - NaCl - CaCL2.
- Os valores baixos da salinidade são condizentes com ausência de contribuição
magmática na composição dos fluidos aprisionados nos veios de quartzo estudados.
- Valores variados da temperatura de homogeneização total (Tht) podem ser causados
pela mistura de fluidos com níveis diferentes de temperaturas, ou seja, mistura de fluidos
externos (meteóricos) com fluidos metamórficos profundos.
9.3. Garimpo do Papagaio estudado por Galé et al. (2011)
* Depósito do Papagaio: Tipo I: exibem dois padrões de temperaturas para o ponto
eutético: (i) um entre -68,2 e -58,9 °C e (ii) um segundo, mais representativo (89,5 % dos casos ),
entre -43,5 a -20,4 °C, com uma moda em 35,0 °C. Houve em alguns cristais a formação de
hidrohalita, da qual obteveram-se temperaturas de dissolução de entre -28,1 a -18,2°C. A Tfg
oscilou desde -22,5 até 0°C, o que consequentemente demonstra baixos a moderados valores de
salinidade, entre 0,5 a 24,0 % em peso equivalente em NaCl. A Tht total varia de 115,1 a
216,2°C. Tipo II: A variação nas dimensões aliadas a elevada quantidade de cristais de saturação
(aprisionamento acidental) nas inclusões do tipo II dos veios mineralizados não permitem
113
confiabilidade quanto aos dados microtermométricos obtidos e, portanto, impossibilita
estimativas confiáveis dos reais parâmetros físico-químicos deste fluido. Tipo III: Temperatura
de Fusão do CO2 variou de -59,2 a -56,2 °C, porém, com maior concentração dos valores entre -
56,6 a -56,4 °C. Essas temperaturas indicam que a fase volátil dessas inclusões é constituída
apenas por CO2, sem apresentarem adição de outros voláteis, a exemplo do N2 e/ou CH4, os
quais provocariam um abaixamento do ponto triplo do CO2 (-56,6°C). Houve a nucleação de
clatrato durante o resfriamento das inclusões, o qual exibe temperaturas de dissolução entre 6,1 a
8,8°C, representativas, portanto, de baixas salinidades: 2,4% a 7,2% em peso equivalente de
NaCl. A homogeneização do CO2 predominantemente para a fase líquida (86,5% dos casos)
ocorreu no intervalo de 18,9 a 30,9 °C, com visível moda em torno dos 29,0 °C. Não foi possível
obter as temperaturas de homogeneização total para esse grupo de inclusões, visto que as
mesmas apresentaram crepitação a partir dos 325 °C.
Considerando que o Depósito do Papagaio é predominantemente aurífero e encontra-se
em ambiente de arco, o posicionamento dos veios ocorreu em profundidades moderadas a rasas
da crosta (2-5 km) e que está hospedado em rochas sub-vulcâncias ácidas com grandes halos de
alteração hidrotermal provindos por colaboração de fluidos magmáticos, pode-se concluir que o
trata-se de um depósito do tipo Ouro Pórfiro (Galé et al. 2011).
9.4. Garimpo do Trairão estudado por Dias (2012)
* Depósito do Trairão: Tipo I e Tipo II: São inclusões monofásicas líquidas e
monofásicas vapor, respectivamente. Os estudos dessas inclusões ficaram restritas ao
microscópio, por serem inclusões secundárias. Tipo III: Aquosas Bifásicas com temperaturas de
fusão do gelo variaram entre -18°C a -0,75°C com moda -19,5°C a -18,1°C. As temperaturas do
eutético foram registradas nas faixas -50,6°C a -30°C e -28,5°/C a -20,0°C, com moda de maior
frequência nos intervalos de -43,5°C a -42,5°C e -21,5/C a -20,0°C. Os picos de concentrações
dos eutéticos estabelecem os sistema H2O -NaCl - CaCl2 e H2O - NaCl. Os valores de salinidades
deste grupo situam na faixa de 2,5% a 26% NaCl equiv., com picos máximos entre 20,8% a
22,3% equiv. peso de NaCl. As temperaturas de homogeneização variaram entre 50°C a 140°C,
com moda entre 80°C e 90°C. A homogeneização total (vapor) ocorre sempre para a fase líquida.
114
Tipo IV: Aquosas Trifásicas com medidas da fusão de gelo que variam entre -26°C a -6°C, com
moda de maior frequência entre -20°C a -18°C. As medidas das temperaturas do eutético
correspondem ao intervalo de -49,7°C a -39,0°C e -36,4°C a -31,5°C com respectivas modas nos
intervalos de -45,0°C a -43,5°C e -33,0°C a -31,5°C temperaturas estas obtidas para fluidos de
H2O-CaCl2 e H2O- MgCl2 respectivamente. Os resultados das medidas de salinidade variam
numa faixa de 28,5% a 35,0% com moda equivalente variando de 29% a 29,5% em peso de
NaCl. A homogeneização total (dissolução da fase sólida se deu após o desaparecimento da
bolha escura de vapor) ocorreu para líquido a temperaturas entre 120°C a 240°C com valores
modais entre 170°C a 180°C.
Segundo Dias (2012) a variação apresentada para as salinidades das inclusões pode ser
vista como consequência da mistura de fluidos onde: a) - inclusões de baixa salinidade
representam um fluido mais frio, externo (água meteórica), com aumento de temperatura durante
sua descida ao percolar as fraturas da rocha daí tornando-se um fluido meteórico transformado.
b) - inclusões fluidas com salinidade intermediária são representadas como resultados da mistura
de dois produtos distintos, um fluido aquoso meteórico (baixa salinidade) tende a se misturar
com um fluido de natureza magmática (alta salinidade). c) - inclusões fluidas com valores de
salinidade alta são caracterizadas como de filiação magmática que durante a trajetória de sua
ascensão passou por decréscimo de temperatura.
115
10. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
Lacerda Filho et al. (2004) constataram, a partir da cartografia geológica sistemática
realizada pelo Projeto Alta Floresta, a predominância de dois domínios tectono-estruturais: (i)
um domínio rúptil/rúptil-dúctil e outro domínio (ii) dúctil; em estilos deformacionais
progressivos.
O domínio rúptil a rúptil-dúctil é distribuído nos terrenos com deformação não-penetrativa,
descontínua, próprio do nível estrutural encontrado no cinturão plutovulcânico (suítes intrusivas
Matupá, Flor de Serra, Juruena e Paranaíta, granitos Nhandu e Teles Pires e Suíte Colíder) e
coberturas sedimentares proterozóicas. Esse domínio é caracterizado por zonas de cisalhamento
transcorrentes com larguras centimétricas a métricas e na maioria das vezes descontínuas,
formadas a partir de nucleação de fraturas e/ou falhas preexistentes, com direções predominantes
NW-SE e EW, de cinemática sinistral e N-S (dextral), num regime compressivo com direção
N50ºE.
O domínio dúctil, vinculado às rochas de médio a alto grau metamórfico está associado
aos complexos Bacaeri-Mogno e Nova Monte Verde, Suíte Vitória, granitos São Pedro, São
Romão e ao Grupo São Marcelo-Cabeça, mostra um estilo deformacional progressivo,
desenvolvido sob regime compressivo, onde formaram mega zonas transcorrentes oblíquas, com
direção predominante NW-SE a E-W, cinemática dextral conjugada às vezes com movimentos
sinistrais, caracterizadas por uma superfície milonítica Sn+1, que transpôs total ou parcialmente
o bandamento gnáissico Sn, geralmente disposto em dobras abertas assimétricas, confinadas por
shear bands.
Com o aumento de trabalhos realizados na Província Aurífera de Alta Floresta a idéia
desses domínios propostos por Lacerda Filho et al. (2004) evoluíram. Souza et al. 2005,
utilizando o diagrama de RIEDEL, tratou as orientações predominantes dos veios de quartzo
auríferos da Província Aurífera de Alta Floresta, e os divide em 6 conjuntos de falhas/fraturas
conforme o ângulo delas em relação ao vetor principal de maior esforço, com atitude de N55ºE.
Estas estruturas do regime rúptil-dúctil a rúptil foram geradas em função de esforços
compressivos com o vetor principal orientado N55ºE que ensejou o desenvolvimento de fraturas
116
extensionais (T) e fraturas de cisalhamento (R, R’, P, Y e X), as quais possuem atitudes distintas
uma das outras (Fig. 65).
Figura 65: Modelo de diagrama Riedel com as orientações predominantes do domínio dúctil-rúptil (modificado
de Souza et al. 2005).
Através da proposta de Souza et al, 2005, concluímos que a Mina do Edu, descrito neste
trabalho, com atitudes de N50ºE, pertence a estruturas T, que são fraturas extensionais que
ocorreram com a mesma atitude dos esforços. Sendo assim, as fraturas extensionais (T) indicam
a direção do esforço compressivo principal e são preenchidas por veios de quartzo. Por ser
fratura extensional, a mesma apresenta uma espessura superior a dos outros garimpos estudados,
além de uma percolação de fluídos mais intensa que as demais, definindo 4 halos de alterações
hidrotermais: (i) Halo da Sulfetação, (ii) Halo da Silicificação, (iii) Halo da Cloritização e (iv)
Halo da Potassificação.
O Garimpo do Peteca e o Filão do Laje, com atitudes E-W, são definidos como estruturas
do tipo R. As estruturas R com direção predominante E-W/subvertical, cinemática sinistral. Estas
estruturas estão dispostas ao longo de descontinuidades, marcadas por falhas e/ou zonas de
cisalhamento confinadas, geralmente preenchidas por veios de quartzo em zonas transtensionais,
são faixas descontínuas, de largura centimétrica a métrica, confinadas em rochas graníticas não-
117
deformadas penetrativamente (Souza et al. 2005). Essas características apresentadas por Souza et
al, 2005 para as estruturas do Tipo R são características apresentadas pelo Garimpo do Peteca e o
Filão do Laje nesse trabalho. A cinemático do Garimpo do Peteca é a mesma citada por Souza et
al, 2005, no entanto, não foi possível observar a cinemática do Filão do Laje.
O Filão Vinte e o Filão Cocheira, com atitudes N-S, são classificados como estruturas X,
segundo a classificação de Souza et al. 2005. Estas estruturas são zonas confinadas de
cisalhamento transcorrente geradas a partir da nucleação de fraturas. Segundo Souza et al. 2005,
as estruturas classificadas como estruturas X tem caráter dextral, no entanto, não foram
observadas quaisquer marcadores cinemáticos que indicassem esse caráter nos garimpos
estudados.
Na Tabela 12, apresentamos de forma simplificada alguns elementos químicos que tem
correlações com o minério (ouro) em todos as ocorrências auríferas estudadas.
Tabela 12: Tabela simplificada de elementos químicos correlacionáveis com o ouro para cada depósito. Os
quadros brancos apresentam teores baixos, os amarelos teores médios e os vermelho apresentam altos teores.
Através da Tabela 12, podemos observar diferenças entre os elementos químicos
encontrados em cada um dos depósitos estudados. A mina do Edu apresenta um enriquecimento
em elementos como Bismuto, Enxofre, Cobre e Cobalto. O Cobalto só apresenta enriquecimento
para essa ocorrência, não sendo observado em nenhuma outra ocorrência. O Garimpo do Peteca,
assim como a Mina do Edu, apresenta altos teores para Bismuto, Enxofre e Cobre, no entanto, se
difere da Mina do Edu por apresentar teores baixos de Cobalto, e teores altos de Molibdenio,
Telúrio e teores medianos para a Prata. O Filão do Laje muito se assemelha ao Garimpo do
Ocorrência
Aurífera Bi S Mo Sb U Te Ag Cu Pb As Co
Mina do Edu X X X X
Garimpo do Peteca
X X X X X X
Filão do Laje X X X X X X
Filão do Cocheira
X X X X
Filão do Vinte X X X
118
Peteca, não só em atitude de suas estruturas mineralizadas como em teores dos elementos
químicos. O Filão do Laje apresenta valores elevados de Bismuto e Telúrio. Apresenta valores
altos de Arsênio e Chumbo e valores medianos de Prata e Cobre. O Filão do Laje é a única
ocorrência aurífera estudada que apresentou teores elevados de Chumbo.
O Filão do Cocheira e o Filão do Vinte, ambos classificados como estruturas X,
apresentam os mesmos elementos correlacionáveis com o ouro. Ambos os filões apresentam
forte correlação do ouro com elementos como o Molibdênio e o Antimônio, e teores medianos de
Arsênio. Se diferem em um único elemento, o Urânio, onde o Filão do Cocheira apresenta altos
teores para esse elemento. O Filão do Cocheira é o único depósito estudado neste trabalho que
apresenta altos teores para Urânio.
A Tabela 13 apresenta, de forma simplificada, os resultados obtidos através da
microtermometria realizada em inclusões fluídas dos Grupos I e II da Mina do Edu.
Tabela 13: Dados da microtermometria dos Grupos I e II da Mina do Edu. Os valores apresentados são os valores
de maior ocorrência.
Grupo Fusão CO2
Fusão Clatrato
Salinidade Homogeneização
CO2 Homogeneização
Total Composição Fluído
Grupo I -56,6ºC - - - 30,7ºC CO2 e CO2±N2±CH4
Grupo II -64,8ºC 1,8 13% 19ºC 285ºC H2O-CO2-NaCl-CaCl2(±N2±CH4)
Os dados apresentados na tabela 13 nos mostram que os fluídos tidos como primários
para essa mina são carbônicos e aquosa-carbônicos. O Grupo I apresenta valores que nos
possibilitam afirmar que muitas inclusões fluídas pertencentes a esse grupo possuem uma
composição pura de CO2, variando para algumas inclusões com poucos voláteis misturados ao
CO2, dando uma salinidade insignificante, modelando também um fluído de composição
CO2±N2±CH4. Já o Grupo II mostra uma interação entre o fluído essencialmente carbônico com
um fluído aquoso, formando assim as inclusões aquosas-carbônicas pertencentes a esse grupo.
A interação de um fluído carbônico com um fluído aquoso é visível nos dados
apresentados na Tabela 13 para o Grupo II. O Grupo II apresenta uma salinidade de 13% equiv.
peso NaCl, apresenta também uma queda na temperatura de fusão do CO2, além de um aumento
na temperatura de homogeneização total, características que apontam para uma mistura de um
119
fluído carbônico com um fluído aquoso, gerando inclusões aquo-carbônicas. A temperatura de
Homogeneização Total para o Grupo II representa a temperatura mínima de aprisionamento das
inclusões. Essa temperatura elevada (285ºC) nos sugere que o fluído aquoso que interagiu com o
fluído carbônico seja um fluído hidrotermal, e não um fluído meteórico, que apresentaria uma
temperatura de homogeneização total inferior a essa obtida nas inclusões fluídas do Grupo II da
Mina do Edu. A interação entre esses dois fluídos foi a provável causa para a deposição dos
elementos químicos como o ouro e o cobre.
A Tabela 14 apresenta de forma simplificada os dados obtidos através da
microtermometria realizada em inclusões fluídas do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do
Cocheira e Filão do Vinte.
Tabela 14: Dados da microtermometria dos Grupos I e II do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e
do Filão do Vinte. Os valores apresentados são os valores de maior ocorrência.
Garimpos Grupos Fusão do
Gelo Eutético Salinidade
Homogeneização Total
Composição Fluído
Garimpo do Peteca
I -18,5ºC -50,3ºC 21% 83ºC H20-NaCl-CaCl2
II -21ºC -52,6ºC 35% 177ºC H20-NaCl-CaCl2
Filão do Laje
I -19,3ºC -51,7ºC 22% 88ºC H20-NaCl-CaCl2
II -22,4ºC -52ºC 37% 185ºC H20-NaCl-CaCl2
Filão do Cocheira
I -18,0ºC -50,9ºC 20,8% 82ºC H20-NaCl-CaCl2
II -18,9ºC -51,4ºC 35,4% 180ºC H20-NaCl-CaCl2
Filão do Vinte
I -24ºC -52,8ºC 25% 97ºC H20-NaCl-CaCl2
II -24,9ºC -53,3ºC 39% 215ºC H20-NaCl-CaCl2
Ao observarmos a Tabela 14, concluímos que os dados microtermométricos para os
depósitos estudados apresentam uma similaridade entre eles. Em todos esses depósitos estudados
os fluídos primários são fluídos essencialmente aquosos, modelando um fluído H20-NaCl-CaCl2.
Os fluídos dos Grupos I apresentam uma salinidade média e uma temperatura de
homogeneização total baixa. Já os Grupos II apresentam uma salinidade alta, supersaturando o
fluído e formando um cristal de halita, e uma temperatura de homogeneização total superior as
dos Grupos I.
120
Essas características nos possibilitam dizer que houve mistura entre dois fluídos
essencialmente aquosos. O primeiro fluído seria um fluído aquoso hidrotermal, de alta
temperatura e alta salinidade, sendo este aprisionado nos grãos de quartzo formando as inclusões
do Grupo II. O segundo fluído seria um fluído aquoso de baixa temperatura e salinidade, que ao
entrar em contato com o fluído de alta temperatura e salinidade, diminuiu a salinidade e a
temperatura de homogeneização do primeiro, formando as inclusões fluídas do Grupo I.
Abre-se assim uma discussão sobre a origem desse segundo fluído. Seria um fluído
aquoso de baixa temperatura e baixa salinidade de origem hidrotermal, ou seria de origem
meteórica?
A temperatura de homogeneização total para esses fluídos é a temperatura mínima de
aprisionamento do fluído. Os Grupos I apresentam temperaturas de homogeneização total muito
baixa. Ao analisarmos as temperaturas de homogeneização baixa e a salinidade baixa,
concluímos que o segundo líquido é na verdade um fluído de origem meteórica.
Portanto, o Garimpo do Peteca, o Filão do Laje, o Filão do Cocheira e o Filão do Vinte
são oriundos de uma mistura de fluídos aquosos. O primeiro um fluído aquoso hidrotermal
(Grupo II) e o segundo um fluído de origem meteórica (Grupo I).
Essa mistura de fluído hidrotermal com fluído meteórico vem sendo descrito em recentes
trabalhos que utilizaram a técnica de inclusões fluídas, como Silva et. al (2008), Galé et. al
(2011) e Dias (2012), e vem se mostrando como um forte padrão metalogenético.
O Granito Nhandu, rocha hospedeira da Mina do Edu, apresenta idade geocronológica
entre 1.889 ±17 Ma e 1.879 ±5,5 Ma (U-Pb em zircão) (Silva & Abram 2008), enquanto a Suíte
Intrusiva Matupá, rocha hospedeira do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e
Filão do Vinte, segundo Moura (1998) apresenta uma idade Pb-Pb em zircão de 1.872 ±12 Ma.
Considerando-se os poucos dados geocronológicos existentes para as rochas hospedeiras, o que
as deixam contemporâneas em termos de idade, e a falta de dados geocronológicos da
mineralização de cada um dos garimpos, a justificativa mais aceita para essa diferença entre os
fluídos da Mina do Edu e das demais ocorrências estudadas seria devido à distância de cada uma
delas para a fonte magmática, já que os dados existentes não permitem sugerir até o momento
fontes magmáticas distintas. Com essa consideração, podemos afirmar que a Mina do Edu estaria
mais próxima à fonte magmática do que as demais ocorrências auríferas, isso porque a Mina do
121
Edu apresenta fluídos com tendências magmáticas, enquanto as demais ocorrências, devido a
distância delas para com a fonte magmática, apresentam líquidos com misturas mais expressivas
com fluídos aquosos mais frios (Temperatura de homogeneização entorno de 180 °C),
diferentemente dos fluídos aquosos da Mina do Edu (Temperatura de Homogeneização média de
285 °C). Assim, possivelmente os fluídos aquosos magmáticos da Mina do Edu seriam os
mesmos fluídos aquosos magmáticos das demais ocorrências auríferas, no entanto, com a
distância, esse fluído aquoso foi perdendo temperatura, e se misturando com água meteórica. Já o
fluído carbônico presente na Mina do Edu não é encontrado nas demais ocorrências, isso porque
os fluidos carbônicos são mais instáveis que os fluídos aquosos, e devido à distância a fonte, não
tiveram participação na mineralização das demais ocorrências (Garimpo do Peteca, Filão do
Laje, Filão do Cocheira e Filão do Vinte).
122
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Assis R. R. 2006. Estudos de Inclusões Fluidas nos Depósitos Auríferos de Novo Mundo e Santa Helena na Região
de Teles Pires – Peixoto de Azevedo (Mato Grosso), Província Alta floresta. Iniciação Científica, Instituto
de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, 20p.
Assis R.R. 2011. Depósitos auríferos associados ao magmatismo granítico do setor leste da Província de Alta
Floresta (MT), Craton Amazônico: tipologia das mineralizações, modelos genéticos e implicações
prospectivas. Instituto de Geociências; Dissertação de Mestrado; 462p.
Cordani U.G., Teixeira W., D’Agrella-Filho M.S., Trindade R.I. 2009. The position of the Amazonian Cráton in
supercontinents. Gondwana Research, 15:396-407.
Dardenne M.A., Schobbenhaus C. 2000. The metallogenesis of the South American plataform. In: Cordani U.G.,
Milani E.J., Tomaz Filho A., Campos D.A. (eds.) Tectonic evolution of the South American. Rio de Janeiro:
31th International Geological Congress, 854p.
Dias M.A.D. 2012. Estudos de Inclusões Fluídas em Veios de Quartzo Associados ao Granito Nhandu no Depósito
de Ouro Trairão – Província Aurífera Alta Floresta-MT. MS Dissertation, Instituto de Geociência,
Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 101p.
Galé M. G., Costa P.C.C., Xavier R.P., Pinho F.E.C., Barboza E.S., Barros M.A.S.A., Assis R.R., 2011. Alteração
hidrotermal e regime de fluidos do Depósito do Papagaio, Província Aurífera de Alta Floresta (MT). CD-
ROM do 12º Simpósio de Geologia da Amazônia. Boa Vista – Roraima.
Klein E.L, Almeida M.E, Vasquez M.L, Bahia R. B. C., Santos M. L. E. & Ferreira A.L. 2001. Geologia e recursos
minerais da Província Mineral do Tapajós. Folhas Vila Mamãe Anã (SB.21-V-D), Jacareacanga (SB.21-Y-
B), Caracol (SB.21-X-X), Vila Riozinho (SB.21-Z-A)e Rio Novo (SB.21-Z-C). Estados do Pará e Amazonas.
Escala 1:500.000. Brasília, CPRM/DIEDIG/DEPAT, 81 pp.
Lacerda-Filho J.V., Abreu Filho W., Valente C.R., Oliveira C.C., Albuquerque M.C. 2004. Geologia e Recursos
Minerais do Estado do Mato Grosso. Texto explicativo dos mapas geológico e de recursos minerais do
Estado do Mato Grosso, Escala 1:1.000.000. Programa Geologia do Brasil Convênio CPRM e SICME-MT
235 p.
Leite J.A.D. & Saes G.S. 2003. Geocronologia Pb/Pb de zircões detríticos e análise estratigráfica das coberturas
sedimentares proterozóicas do Sudoeste do Cráton Amazônico. Geologia USP: Série Científica, v. 3, n. 1,
pp. 113-127.
Miguel Jr E. 2011. Controle Estrutural das mineralizações auríferas e idades U-Pb das rochas encaixantes ao
longo do Lineamento Peru-Trairão: Província Aurífera de Alta Floresta, Mato Grosso. Dissertation,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brazil.Moreton L.C. & Martins E.G. 2005. Geologia e
Recursos Minerais de Alta Floresta. Vila Guarita. Escala 1:250.000. CPRM, Brasília, 68 p.
Moreton L.C. & Martins E.G. 2005. Geologia e Recursos Minerais de Alta Floresta. Vila Guarita. Escala 1:250.000.
Brasília, Serviço Geológico do Brasil, CPRM, 68 p.
Moura M.A. 1998. O Maciço Granítico Matupá e o Depósito de Ouro Serrinha (MT): Petrologia, Alteração
Hidrotermal e Metalogenia. Tese de Doutorado,IG/UnB, 238p.
123
Moura M.A., Botelho N.F. 2002. Petrologia do magmatismo associado à mineralização do tipo ouro pórfiro a
província aurífera Juruena -Teles Pires (MT). Revista Brasileira de Geociências, 32(3): 377-386.
Moura M.A., Botelho N.F., Olívio G.R., Kyser T.K. 2006. Granite-related Paleoproterozoic, Serrinha gold deposit,
Southern Amazonia, Brazil: hydrothermal alteration, fluid inclusion and stable isotope constraints on
genesis and evolution. Economic Geology, 101:585-605.
Paes de Barros A.J. 1994. Contribuição a geologia e controle das mineralizações auríferas de Peixoto de Azevedo -
MT. Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 145p.
Paes de Barros A.J. 2007. Granitos da região de Peixoto de Azevedo – Novo Mundo e mineralizações auríferas
relacionadas – Província Aurífera Alta Floresta (MT). Tese de Doutorado, Instituto de
Geociências,Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 154p.
Pinho M.A.S.B., Lima E.F., Fetter A., Van Schmus W.R., Chemele-Fr F. 2001. Caracterização petrpgráfica e
dados geocronológicos preliminares das rochas vulcânicas da Formação Iriri – porção Centro-Sul do
Cráton Amazônico, Arupuanã, Mato Grosso. Revista Brasileira de Geociênicas, 31:1-5.
Pinho, M. A. S. B. 2002; Proposta De Nova Terminologia Estratigráfica Para Rochas Vulcano-Plutônicas
Paleoproterozóicas Do Norte do Estado De Mato Grosso, Porção Ocidental Sul Do Cráton Amazônico;
Revista Brasileira de Geociências 32(1):153-156.
Pinho M.A.S.B., Chemale-Jr F., Van Schumus W.R., Pinho F.E.C. 2003. U-Pb and Sm-Nd evidence for 1.76-1.77
Ga magmatism in the Moriru region, Mato Grosso, Brazil: implications for province boundaries in the SW
Amazon Craton. Precambrian Research, 126(1) 1-25.
Ramos G.S. 2011. Características geoquímicas de plútons graníticos auríferos e estéreis da Província Aurífera de
Alta Floresta (MT). Trabalho de Conclusão de Curso, IG/UNICAMP, 82p.
Roedder E. 1984. Fluid Inclusions. Revew in Mineralogy. V.12, RIBBE, P. H. (ed.). Mineralogy Society of
America, 646 p.
Ruiz A.S. 2005. Evolução Geológica do Sudoeste do Cráton Amazônico Região Limítrofe Brasil-Bolívia- Mato
Grosso. UNESP. Rio Claro, SP. Tese de Doutoramento, 260p.
Saes G.S. & Leite J.A.D. 2003. Geocronologia Pb/Pb de zircões detríticos e análise estratigráfica das coberturas
sedimentares proterozóicas do Sudoeste do Cráton Amazônico. Geologia USP Série Científica, Revista do
Instituto de Geociênicas, USP, São Paulo, 3:113-127.
Santos J.O.S. 2000. Os terrenos Paleoproterozóicos da Província do Tapajós e as mineralizações de ouro
associadas. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v.1, 208 p.
Santos J.O.S., Hartmann L.A., Gaudette H.E., Groves D.I., McNaughton N.J., Fletcher I.R., 2000, A new
understanding of the Provinces of the Amazon Craton based on integration of field mapping na U-Pb and
Sm-Nd geochronology. Gondwana Research, 3(4): 453-488.
Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Mapas em PDF. Disponível em http://geobank.sa.cprm.gov.br/. Acesso em 20
de ago. de 2013.
Shepherd T. J., Rankin A. H., Alderton D. H. M. 1985. A Pratical Guide to Fluid Inclusion Studies. New Yorh:
Blackie & Son Ltd., 239 p.
Silva G.H., Leal J.W.L., Montalvão R.M.G. 1980. Geologia. In: BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Projeto
Radam Brasil. Folha SC.21 – Juruena. Rio de Janeiro: RADAMBRASIL, 1980, p. 21-116. (Levantamento
de Recursos Naturais, v. 20).
124
Silva M.G. & Abram M.B. 2008. Projeto metalogenia da Província Aurífera Juruena-Teles Pires, Mato Grosso.
Goiânia, Serviço Geológico Brasileiro, CPRM, 212p.
Souza A.M.M; Faria C.A.S.; Landim J.P.P.; Leal J.W.L. 1979. Projeto Mauel: Relatório de progresso. Belém,
DNPM-CPRM, 46p.
Souza J.P., Frasca A.A.S., Oliveira C.C. 2005. Geologia e Recursos Minerais da Província Mineral de Alta
Floresta. Relatório Integrado. Brasília, Serviço Geológico Brasileiro, CPRM, 164p.
Stabile A. 2012. Tipo e distribuição da alteração hidrotermal no depósito aurífero Pé Quente, setor leste da
Província Aurífera de Alta Floresta (MT). Trabalho de Conclusão de Curso, IG/UNICAMP, 59p.
Tassinari C.C.G., Cordani U.G., Nutman A.P., Van Schmus W.R., Bettencourt J.S., Taylor P.N. 1996.
Geochonological systematics on basement rocks from the Rio Negro-Juruena Province (Amazon Craton),
and tectonic implications. Inst. Geol. Rev., 38(2):161-175.
Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 1999. Geochronological Provinces of the Amazonian Craton. Episodes,
22(3):174-182.
Tassinari, C.C.G., Bettencourt, J.S., Geraldes, M.C., Macambira, M.J.B. & Lafon, J.M. 2000. The Amazonian
Craton. In: Cordani, U.G., Milani, E.J., Thomaz-Filho A. & Campos, D.A. (eds.). Tectonic Evolution of
South America. Rio de Janeiro, p. 41 – 95.
Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 2004. A evolução tectônica do Cráton Amazônico. In: Matasso-Neto V.,
Bartorelli A., Carneiro C.D.R, Brito-Neves B.B. (eds.) Geologia do continente sul-americano: Evolução da
obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. Beca, São Paulo, 673p.
Vitório J.A. 2010. A suíte granítica Teles Pires da Província Aurífera de Alta Floresta: Características
petrográficas, geoquímicas e implicações metalogenéticas. Instituto de Geociências, Universidade Estadual
de Campinas; Relatório PIBIC/ CNPq; 20p.
125
ANEXOS
126
Controle estrutural e estudo das Inclusões Fluídas dos
garimpos da região de Terra Nova do Norte, Província
Aurífera Alta Floresta, Cráton Amazônico.
JONAS MANGONI RAMBO1, FRANCISCO EGÍDIO CAVALCANTE PINHO
2, ELZIO DA SILVA
BARBOSA2, ANA CAROLINA GAUER MARQUES
3, MAX SALUSTIANO LIMA JÚNIOR
3.
1 – Mestrando em Geociências pela Universidade Federal de Mato Grosso.
2- Professores do Departamento de Recursos Minerais da Universidade Federal do Mato Grosso.
3 – Geólogos graduados pela Universidade Federal de Mato Grosso.
RESUMO
A Província Aurífera Alta Floresta (PAAF) se localiza no norte do estado de Mato
Grosso, delimitada ao norte pelo Gráben do Cachimbo e ao sul pelo Gráben dos Caiabís. Se
enquadra na porção sul do Cráton Amazônico, entre as províncias geocronológicas Ventuari –
Tapajós e Rio Negro – Juruena. Na porção leste da PAAF foram selecionados 5 alvos para
elaboração deste trabalho: (i) Mina do Edu; (ii) Garimpo do Peteca; (iii) Filão do Laje; (iv) Filão
do Cocheira e (v) Filão do Vinte. O corpo mineralizado do Edu tem atitudes de
N55ºE/subvertical, e é classificado como estruturas do tipo T. Essas estruturas são fraturas
extensionais que ocorreram com a mesma atitude do esforço principal e, portanto, indicam a
direção do esforço compressivo principal e são preenchidas por veios de quartzo. A Mina do Edu
apresenta fluídos carbônicos e aquosa-carbônico. O Garimpo do Peteca e o Filão do Laje, com
atitudes de E-W/subvertical, são classificados como estruturas do tipo R. Os Filões do Cocheira e
do Vinte, com atitudes N-S/subvertical, são classificados como estruturas do tipo X, que são
zonas confinadas de cisalhamento transcorrente geradas a partir da nucleação de fraturas de
cisalhamento dextral. O Garimpo do Peteca, o Filão do Laje, Filão do Cocheira e Filão do Vinte
apresentam fluídos estritamente aquosos, variando de alta a média salinidade. Esses fluídos
distintos sugerem mineralizações provenientes de uma mesma fonte magmática, no entanto,
devido à distância de algumas ocorrências da fonte, o fluído foi interagindo com outros fluídos,
se distinguindo assim do fluído primário.
Palavras-chave: Inclusões Fluídas, veios mineralizados a ouro, estruturas tectônicas, Província
Aurífera de Alta Floresta.
127
ABSTRACT
The Alta Floresta Gold Province (PAAF) is located in the northern state of Mato Grosso,
bounded on the north by the Gráben do Cachimbo and on the south by Gráben dos Caiabis. The
PAAF fits in the southern portion of the Amazon Craton, between the Ventuari - Tapajós and
Rio Negro - Juruena geochronological provinces. In the eastern portion of PAAF 5 targets were
selected for the present work: (i) Mina do Edu (ii) Garimpo do Peteca (iii) Filão do Laje , (iv)
Filão do Cocheira (v) Filão do Vinte. The mineralized body of the Mina do Edu has attitude of
N55ºE/subvertical, and is classified as structures of the T type. These structures are extensional
fractures that occurred with the same attitude as the main effort, and therefore indicate the
direction of the main compressive stress and are filled by quartz veins. The Mina do Edu
presents carbonic and aqueous-carbonic fluid inclusions. The Garimpo do Peteca and Filão do
Laje, with attitudes of EW/subvertical, are classified as structures of the R type. The Filão do
Cocheira and Filão do Vinte, with attitudes NS/subvertical, are classified as structures of the X
type, which are enclosures transcurrent shear generated from the nucleation of dextral shear
fractures. The Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira and Filão do Vinte presents
strictly aqueous fluid inclusions, ranging from high to medium salinity. These different fluids
suggest mineralization from the same magmatic source, however, due to the distance of the
source from some instances, the fluid was interacting with other fluids, thus distinguishing from
the primary fluid.
Keywords: Fluid Inclusions, gold mineralized veins, tectonic structures, Alta Floresta Gold
Province.
INTRODUÇÃO: O Cráton Amazônico corresponde a uma das maiores áreas cratônicas
do planeta, abrangendo aproximadamente 4,3 milhões de km2 (Tassinari & Macambira, 2004).
Sua gênese teria ocorrido mediante a acresção de sucessivos arcos magmáticos que envolveram a
formação de material juvenil, além de subordinados processos de retrabalhamento crustal durante
o Paleoproterozóico em torno de um núcleo arqueano (Província Amazônia Central) estabilizado
128
por volta de 2,5 Ga (Dardene & Schobbenahus, 2000; Tassinari & Macambira, 2004; Cordani et
al., 2009). A Província Aurífera Alta Floresta (PAAF) está localizada na porção centro-sul do
Cráton Amazônico (centro-norte do estado do Mato Grosso). Esta província configura uma área
alongada de direção noroeste-sudeste limitada a norte pelo Gráben do Cachimbo, que a separa da
Província Aurífera do Tapajós (PAT), e a sul pelo Gráben dos Caiabis. A PAAF engloba partes
das Províncias Geocronológicas Ventuari-Tapajós (1,95 – 1,8 Ga) e Rio Negro-Juruena (1,8 –
1,55 Ga) na concepção de Tassinari & Macambira (1999).
As primeiras ocorrências auríferas na região remetem aos municípios de Peixoto de
Azevedo – Matupá, no ano de 1978, com a construção da rodovia BR-163, que liga a capital
mato-grossense Cuiabá a Santarém, no estado do Pará (Paes de Barros 1994, Moura 1998). Essas
ocorrências atraíram um grande contingente de garimpeiros à região, o que resultou na
descoberta de inúmeros depósitos auríferos aluvionares ao longo do Rio Peixoto de Azevedo e
seus afluentes. Com a diminuição e exaustão destas reservas de enriquecimento secundário,
abriu-se caminho ao descobrimento de várias ocorrências de ouro primário em filões (Moreton &
Martins 2005, Paes de Barros 2007), etapa que se estende até o presente.
O potencial metalogenético da província para mineralizações auríferas pode ser
demonstrado pela sua produção acumulada de ouro da ordem de 160 ton, gerada no período entre
1980 a 1999, quando foi uma das principais regiões auríferas do país (Metamat 2003, dados não
publicados). O seu histórico de produção e o grande número de ocorrências primárias indicam
que a PAAF ainda sustenta um potencial exploratório significativo. Além disso, sempre que
ocorre a ascensão do preço do ouro, várias empresas de exploração mineral, na sua maioria
Juniors, investem na descoberta de novos depósitos ou na reavaliação do potencial daqueles já
conhecidos na PAAF.
Atualmente, uma grande parcela desses depósitos concentra-se no setor leste da PAAF,
particularmente na região que abrange os municípios de Peixoto de Azevedo – Novo Mundo –
Guarantã do Norte – Matupá e Terra Nova do Norte. Neste cenário, a área em epígrafe se
localiza entre os municípios de Nova Santa Helena e Terra Nova do Norte, abrangendo, entre
outros, a Mina do Edu, o Garimpo do Peteca e os Filões do Vinte, do Laje e do Cocheira, estes
últimos localizados na Fazenda Figueira Branca.
129
As inclusões fluídas são paleolíquidos trapeados em minerais, que na verdade são as
verdadeiras amostras dos fluidos responsáveis pelas mineralizações e que colaboram
significativamente na construção de modelos metalogenéticos favorecendo a descoberta de novas
reservas com melhor potencial exploratório. Os dados gerados a partir destas inclusões
oportunizam conhecer as condições físico-químicas reinantes durante e/ou após a cristalização e
a recristalização do mineral hospedeiro, fornecendo informações sobre os processos que estão
relacionados à formação ou aos eventos superimpostos a este mineral. Alguns trabalhos de
inclusões fluídas têm sido realizados na PAAF com a intenção de caracterizar as condições
físico-químicas dos fluídos mineralizantes (Silva et. al 2008, Gale et al. 2011, Domingues Dias
2012).
Este trabalho objetiva caracterizar as mineralizações na área de pesquisa enfatizando
aspectos geológicos estruturais e determinar a natureza dos fluídos mineralizantes. Para alcançar
tais objetivos foi utilizada a geologia estrutural concomitante com o estudo das inclusões fluídas.
CONTEXTO GEOLÓGICO: A Província Aurífera de Alta Floresta (PAAF) insere-se em uma
faixa W-NW com mais de 500 km no norte de Mato Grosso, delimitada entre as nascentes do rio
Peixoto de Azevedo, a leste e o rio Aripuanã, a oeste, ao norte pelo Gráben do Cachimbo e ao sul
pelo Gráben dos Caiabís (Fig. 1). Enquadrada na porção sul do Cráton Amazônico, a PAAF se
estende na região de limite entre as províncias geocronológicas Ventuari – Tapajós (1,95 a 1,8
Ga.), e Rio Negro – Juruena (1,8 – 1,55 Ga.) de Tassinari & Macambira (1999). A PAAF é
constituída basicamente por sequências plutono-vulcânicas geradas em ambiente de arcos
magmáticos que se desenvolveram e se agregaram no decorrer do Paleoproterozóico (Tassinari
& Macambira 1999).
No setor leste da PAAF, área de estudo, o embasamento é representado pelos granitos Pé
Quente (Assis 2011), Novo Mundo (Paes de Barros 2007), Aragão (Vitório 2010) e Flor da Mata
(Ramos 2011), sendo que os mesmos exibem idades no intervalo de 1,98 a 1,93 Ga, sendo os
plútons graníticos mais antigos da região. Com exceção do granito Flor da Mata, todos esses
plútons hospedam mineralizações auríferas em filões e/ou disseminadas. Estas suítes ainda são
truncadas pelas suítes intrusivas Matupá (Moura 1998, Souza et al. 2005) e Teles Pires (Souza et.
al. 2005), que foram alojadas entre 1,87 e 1,77 Ga.
130
Figura 1: Mapa de localização e domínios geológicos da PAAF, destacando a área em epígrafe (Modificado de
Lacerda Filho et al. 2004 e Paes de Barros 2007).
131
A Mina do Edu está hospedada no Granito Nhandu (Fig. 2), que segundo Souza et al.
(2005) é classificado como granodiorito com sienogranitos subordinados. As formas de
ocorrência parecem estar associadas a stocks aglutinados circulares a elípticos, ainda observa-se
na forma de enclaves e soleiras de gabro, gradiorito porfirítico, diorito, quartzo diorito e
monzogranito.
Na área de estudo foi mapeado como Granito Nhandu um sienogranito com granulação
média, de cor rosa. Esta unidade aflora como pequenos corpos arredondados e por vezes como
pequenos morrotes. Ao percorrer o corpo aflorante percebe-se que próximo à zona de
cisalhamento da Mina do Edu, o sienogranito apresenta um aumento na quantidade de biotita,
uma oscilação de granulação de fina a média e uma coloração cinza, porém, essas mudanças nas
características do granito estão restritas as bordas da zona de cisalhamento.
As demais ocorrências auríferas estudadas (Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do
Cocheira e Filão do Vinte, essas três últimas localizadas na Fazenda Figueira Branca) estão
hospedadas na Suíte Intrusiva Matupá (Fig. 2), que ocorrem na área como um relevo arrasado
entre morrotes e morros. Geralmente aflora como um conjunto de blocos e matacões
arredondados, com cor vermelha e com diferentes estágios de intemperização.
Esses granitos são constituídos essencialmente por feldspato potássico, quartzo,
plagioclásio e biotita. Os feldspatos potássicos variam entre 1 e 3 cm, são euedrais e apresentam
coloração vermelha, por vezes ressaltam texturas porfiríticas. Cristais de quartzo variam de 0,5 a
1 cm, com hábitos intersticiais com cor branca. O plagioclásio ocorre próximo ao quartzo, e
geralmente com hábitos anédricos e dimensões menores que 0,5 cm. A biotita ocorre de forma
intersticial ao quartzo e feldspatos, e constitui um importante indicador do estado de alteração do
granito, possuem cor escura, porém quando alteradas ficam foscas e mostram diversas
tonalidades, indo de marrom até cinza.
132
Figura 2: Mapa geológico da região onde se localizam os garimpos e a mina estudada, os quais são marcados no
mapa por linhas que representam a direção dos filões mineralizados (modificado de CPRM 2013).
RESULTADOS E DISCUSSÕES: Lacerda Filho et al. (2001) constataram, a partir da
cartografia geológica sistemática realizada pelo Projeto Alta Floresta, a predominância de dois
domínios tectono-estruturais: (i) um domínio rúptil/rúptil-dúctil e outro domínio (ii) dúctil; em
estilos deformacionais progressivos.
O domínio rúptil a rúptil-dúctil é distribuído nos terrenos com deformação não-penetrativa,
descontínua, próprio do nível estrutural encontrado no cinturão plutovulcânico (suítes intrusivas
Matupá, Flor de Serra, Juruena e Paranaíta, granitos Nhandu e Teles Pires e Suíte Colíder) e
coberturas sedimentares proterozóicas. Esse domínio é caracterizado por zonas de cisalhamento
transcorrentes com larguras centimétricas a métricas e na maioria das vezes descontínuas,
formadas a partir de nucleação de fraturas e/ou falhas preexistentes, com direções predominantes
133
NW-SE e EW, de cinemática sinistral e N-S de cinemática dextral, num regime compressivo
com direção N50ºE.
O domínio dúctil, vinculado às rochas de médio a alto grau metamórfico está associado
aos complexos Bacaeri-Mogno e Nova Monte Verde, Suíte Vitória, granitos São Pedro, São
Romão e ao Grupo São Marcelo-Cabeça, mostra um estilo deformacional progressivo,
desenvolvido sob um regime compressivo, onde se formaram megas zonas transcorrentes
oblíquas, com direção predominante NW-SE a E-W, de cinemática dextral conjugada às vezes
com movimentos sinistrais, caracterizadas por uma superfície milonítica Sn+1, que transpôs total
ou parcialmente o bandamento gnáissico Sn, geralmente disposto em dobras abertas assimétricas,
confinadas por shear bands (Lacerda Filho et al. 2001).
Com o aumento de trabalhos realizados na Província Aurífera de Alta Floresta a idéia
desses domínios propostos por Lacerda Filho et al. (2001) evoluíram. Souza et al. 2005,
utilizando o diagrama de RIEDEL, tratou as orientações predominantes dos veios de quartzo
auríferos da Província Aurífera de Alta Floresta, e os divide em 6 conjuntos de falhas/fraturas
conforme o ângulo delas em relação ao vetor principal de maior esforço, com atitude de N55ºE
(Fig. 3). Estas estruturas do regime rúptil-dúctil a rúptil foram geradas em função de esforços
compressivos com o vetor principal orientado N55ºE que ensejou o desenvolvimento de fraturas
extensionais (T) e fraturas de cisalhamento (R, R’, P, Y e X), as quais possuem atitudes distintas
uma das outras.
134
Figura 3: Modelo de diagrama Riedel com as orientações predominantes do domínio dúctil-rúptil (modificado de
Souza et al. 2005).
A Mina do Edu (Longitude: 698124; Latitude: 8802548) (Fig. 2 e 3) apresenta atitudes de
N50ºE/subvertical, atitudes que enquadram a Mina do Edu nas estruturas do tipo T de Souza et
al. 2005. As estruturas T são fraturas extensionais que ocorreram com a mesma atitude dos
esforços. Sendo assim, as fraturas extensionais (T) indicam a direção do esforço compressivo
principal e são preenchidas por veios de quartzo. Por ser fratura extensional, a mesma apresenta
uma espessura superior a dos outros garimpos estudados.
O Garimpo do Peteca (Longitude: 726516; Latitude: 8813013) e o Filão do Laje
(Longitude: 736889; Latitude: 8814471) (Fig. 2 e 3), com atitudes E-W, são definidos como
estruturas do tipo R. As estruturas R com direção predominante E-W/subvertical apresentam
cinemática sinistral. Estas estruturas estão dispostas ao longo de descontinuidades, marcadas por
falhas e/ou zonas de cisalhamento confinadas, geralmente preenchidas por veios de quartzo em
zonas transtensionais, são faixas descontínuas, de larguras centimétricas a métricas, confinadas
em rochas graníticas não-deformadas penetrativamente (Souza et al. 2005). Essas características
apresentadas por Souza et al. 2005 para as estruturas do Tipo R são características apresentadas
pelo Garimpo do Peteca e o Filão do Laje nesse trabalho. A cinemático do Garimpo do Peteca é
a mesma citada por Souza et al. 2005, no entanto, não foi possível observar a cinemática do Filão
do Laje.
135
O Filão do Vinte (Longitude: 737980; Latitude: 8817710) e o Filão do Cocheira
(Longitude: 737215; Latitude: 8816925) (Fig. 2 e 3), com atitudes N-S, são classificados como
estruturas do tipo X, segundo a classificação de Souza et al. 2005. Estas estruturas são zonas
confinadas de cisalhamento transcorrente geradas a partir da nucleação de fraturas. Segundo
Souza et al. 2005, as estruturas classificadas como estruturas X tem caráter dextral, no entanto,
não foram observadas quaisquer marcadores cinemáticos que indicassem esse caráter nos
garimpos estudados.
Para o estudo das Inclusões Fluídas foram confeccionadas 10 lâminas bi-polidas, 2
lâminas para cada ocorrência aurífera estudada. Os fluídos tidos como primários para a Mina do
Edu são carbônicos (Grupo I) e aquo-carbônicas trifásicas (Grupo II). Como inclusões
secundárias aquo-carbônicas bifásica (Grupo III). O Grupo I é composto por inclusões
carbônicas monofásicas de dimensões variando entre 10 e 6 μm, apresentam relevo baixo a
moderado e possuem a fase líquida preenchendo 100% do volume da inclusão (Fig. 4). Possuem
formas que variam de alongadas, arredondadas a subarredondadas. O Grupo II é composto por
inclusões aquosas-carbônicos trifásicos com dimensões que variam de 12 a 6 μm e relevo
moderado a alto (Fig. 5). A fase líquida (H2O) apresenta um volume que varia de 50 a 60% do
volume total da inclusão. A fase líquida (CO2) apresenta volume que varia de 30 a 35% do
volume total, possuindo a fase gasosa (CO2) com um volume que não ultrapassa 15% do volume
total das inclusões. Possuem formas que variam de angulares, arredondadas a alongadas.
136
Figura 4: A) Foto de inclusão fluída monofásica da Mina do Edu (Grupo I); B) Desenho da inclusão fluída
monofásica.
Figura 5: A) Inclusão fluída trifásica da Mina do Edu (Grupo II); B) Desenho da inclusão fluída trifásica.
Os dados apresentados na Figura 6 mostram que o Grupo I apresenta valores que nos
possibilitam afirmar que muitas inclusões fluídas pertencentes a esse grupo possuem uma
composição pura de CO2, variando para algumas inclusões com poucos voláteis misturados ao
CO2, dando uma salinidade insignificante, modelando assim um fluído de composição
CO2±N2±CH4 (Tab. 1). Já o Grupo II mostra uma interação entre o fluído essencialmente
137
carbônico com um fluído aquoso, formando assim as inclusões aquo-carbônicas pertencentes a
esse grupo.
Figura 6: Histograma das Inclusões Fluídas do Grupo I da Mina do Edu, indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão de CO2; B) Homogeneização total.
O Grupo II (Fig. 7) apresenta uma salinidade de 13% equiv. peso NaCl, apresenta
também uma queda na temperatura de fusão do CO2, além de um aumento na temperatura de
homogeneização total, características que apontam para uma mistura de um fluído carbônico
com um fluído aquoso, gerando inclusões aquo-carbônicas. A temperatura de fusão do CO2
modela um fluído de composição H2O-CO2-NaCl-CaCl2(±N2±CH4), o que comprova a mistura
de fluído carbônico com um fluído aquoso. A temperatura de Homogeneização Total para o
Grupo II representa a temperatura mínima de aprisionamento das inclusões. Essa temperatura
elevada (285ºC) nos sugere que o fluído aquoso que interagiu com o fluído carbônico seja um
fluído hidrotermal, e não um fluído meteórico, que apresentaria uma temperatura de
homogeneização total inferior a temperatura obtida nas inclusões fluídas do Grupo II da Mina do
Edu. A interação entre esses dois fluídos foi a provável causa para a deposição dos elementos
químicos como o ouro e o cobre.
A Tabela 1 apresenta os dados microtermométricos das inclusões fluídas pertencentes ao
Grupo I e Grupo II da Mina do Edu de forma sintetizada.
138
Figura 7: Histograma das Inclusões Fluídas do Grupo II da Mina do Edu indicando a relação Frequência versus: A)
Fusão de CO2; B) Fusão do Clatrato; C) Salinidade; D) Homogeneização do CO2; E) Temperatura de
homogeneização total.
Tabela 1: Dados da microtermometria dos Grupos I e II da Mina do Edu. Os valores apresentados são os valores
de maior ocorrência.
Grupo Fusão CO2
Fusão Clatrato
Salinidade Homogeneização
CO2 Homogeneização
Total Composição Fluído
Grupo I -56,6ºC - - - 30,7ºC CO2 e CO2±N2±CH4
Grupo II -64,8ºC 1,8 13% 19ºC 285ºC H2O-CO2-NaCl-CaCl2(±N2±CH4)
139
As Inclusões Fluídas do Garimpo do Peteca, do Filão do Laje, do Filão do Cocheira e do
Filão do Vinte apresentaram um fluído primário essencialmente aquoso, composto por inclusões
bifásicas (Grupo I) e por inclusões trifásicas (Grupo II). As inclusões do Grupo I (Fig. 8)
possuem a fase gasosa que ocupa até 30% do volume total das inclusões, mas são mais comuns
as inclusões com volume entre 20 e 15% do volume total. O relevo das inclusões deste grupo é
de moderado a alto. Estas inclusões apresentam dimensões que variam de 15 a 5 μm, com formas
variadas, sendo observadas inclusões arredondadas, subarredondadas, alongadas e angulosas.
As Inclusões do Grupo II (Fig. 9) apresentam a fase vapor com volume variando de 15%
a 20% do volume total em média. Já o volume da fase sólida varia entre 5 e 15%, e o restante do
volume é ocupado pela fase líquida. O sólido apresenta hábito cúbico, o que nos leva a sugerir
que seja halita. Considerando a dimensão das inclusões entre 10 e 5 μm, por diversas vezes a fase
sólida é quase imperceptível. A ocorrência dessas inclusões são em formas arredondadas a
subarredondadas. Seu relevo é moderado a forte.
Figura 8: A) Inclusão Fluída Bifásica, representante do Grupo I do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do
Cocheira e Filão do Vinte; B) Desenho da inclusão.
140
Figura 9: A) Foto de uma inclusão trifásica, representante do Grupo II do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão
do Cocheira e Filão do Vinte; B) Desenho da inclusão fluída trifásica.
Da observação das Figuras 10 e 11 e da Tabela 2, conclui-se que os dados
microtermométricos para os depósitos estudados apresentam similares. Nestes depósitos os
fluídos primários são essencialmente aquosos, modelando um fluído H20-NaCl-CaCl2. Os fluídos
dos Grupos I apresentam uma salinidade média e uma temperatura de homogeneização total
baixa. Já os do Grupos II apresentam uma salinidade alta, supersaturando o fluído e formando
cristais de halita, e uma temperatura de homogeneização total superior as dos Grupos I.
Estas características implica que houve mistura entre dois fluídos essencialmente
aquosos. O primeiro fluído seria um fluído aquoso hidrotermal, de alta temperatura e alta
salinidade, sendo este aprisionado nos grãos de quartzo formando as inclusões do Grupo II. O
segundo fluído seria um fluído aquoso de baixa temperatura e salinidade, que ao entrar em
contato com o fluído de alta temperatura e salinidade, diminuiu a salinidade e a temperatura de
homogeneização do primeiro, formando as inclusões fluídas do Grupo I.
Abre-se assim uma discussão sobre a origem desse segundo fluído. Seria um fluído
aquoso de baixa temperatura e baixa salinidade de origem hidrotermal, ou seria de origem
meteórica?
Os fluídos do Grupo I apresentam temperaturas de homogeneização total muito baixa,
que somadas as baixas salinidades sugerem, que o segundo líquido seja um fluído de origem
meteórica.
141
Portanto, o Garimpo do Peteca, o Filão do Laje, o Filão do Cocheira e o Filão do Vinte
são oriundos de uma mistura de fluídos aquosos. O primeiro um fluído aquoso hidrotermal
(Grupo II) e o segundo um fluído de origem meteórica (Grupo I).
Figura 10: Histograma das Inclusões Fluídas do Grupo I do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e
Filão do Vinte, indicando a relação Frequência versus: Fusão do gelo; Temperatura do eutético; Salinidade;
Homogeneização total.
142
Figura 11: Histograma das Inclusões Fluídas do Grupo II do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e
Filão do Vinte, indicando a relação Frequência versus: Fusão do gelo; Temperatura do eutético; Salinidade;
Homogeneização total.
Tabela 2: Dados da microtermometria dos Grupos I e II do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e
do Filão do Vinte. Os valores apresentados são os valores de maior ocorrência.
Garimpos Grupos Fusão do
Gelo Eutético Salinidade
Homogeneização Total
Composição Fluído
Garimpo do Peteca
I -18,5ºC -50,3ºC 21% 83ºC H20-NaCl-CaCl2
II -21ºC -52,6ºC 35% 177ºC H20-NaCl-CaCl2
Filão do Laje
I -19,3ºC -51,7ºC 22% 88ºC H20-NaCl-CaCl2
II -22,4ºC -52ºC 37% 185ºC H20-NaCl-CaCl2
Filão do Cocheira
I -18,0ºC -50,9ºC 20,8% 82ºC H20-NaCl-CaCl2
II -18,9ºC -51,4ºC 35,4% 180ºC H20-NaCl-CaCl2
Filão do Vinte
I -24ºC -52,8ºC 25% 97ºC H20-NaCl-CaCl2
II -24,9ºC -53,3ºC 39% 215ºC H20-NaCl-CaCl2
143
Esta mistura de fluído hidrotermal (aquoso) com fluído meteórico vem sendo descrita em
recentes trabalhos que utilizaram a técnica de inclusões fluídas (Silva et. al 2008 e Domingues
Dias 2012), e vem se apresentado como um padrão metalogenético para a PAAF.
As inclusões fluídas do Garimpo do Peteca, do Filão do Laje, do Filão do Cocheira e do
Filão do Vinte apresentam uma grande semelhança com as inclusões fluídas do Garimpo do
Trairão. Domingues Dias (2012) identificou dois grupos de inclusões primárias para o Garimpo
do Trairão: Grupo I: Aquosas Bifásicas, fusão do gelo variaram entre -18°C a -0,75°C com moda
-19,5°C a -18,1°C. As temperaturas do eutético foram registradas nas faixas -50,6°C a -30°C e -
28,5°/C a -20,0°C, com moda de maior frequência nos intervalos de -43,5°C a -42,5°C e -21,5/C
a -20,0°C. Os valores de salinidades deste grupo situam-se na faixa de 2,5% a 26% NaCl equiv.,
com picos máximos entre 20,8% a 22,3% equiv. peso de NaCl. As temperaturas de
homogeneização variaram entre 50°C a 140°C, com moda entre 80°C e 90°C. Grupo II: Aquosas
Trifásicas, fusão de gelo que variam entre -26°C a -6°C, com moda de maior frequência entre -
20°C a -18°C. As medidas das temperaturas do eutético correspondem ao intervalo de -49,7°C a
-39,0°C e -36,4°C a -31,5°C com respectivas modas nos intervalos de -45,0°C a -43,5°C e -
33,0°C a -31,5°C. Os resultados das medidas de salinidade variam numa faixa de 28,5% a 35,0%
com moda equivalente variando de 29% a 29,5% em peso de NaCl. A homogeneização total
ocorreu para líquido a temperaturas entre 120°C a 240°C com valores modais entre 170°C a
180°C.
Já os dados microtermométricos da Mina do Edu são semelhantes a dados obtidos por
Silva et. al. 2008 para esta mesma mina. Silva et al. (2008) identificaram dois grupos de
inclusões para a Mina do Edu: Grupo 1: inclusões primárias, carbônicas raras, monofásicas que
mostram temperaturas de fusão do CO2 de -65,3°C a -62,0°C e homogeneização total (Tht-L) de
26,6°C a 29,3°C, fluido modelado pelo sistema CO2±N2±CH4. B) Grupo II 2: inclusões
primárias, aquosas carbônicas, bifásicas (LH2O+LCO2) e trifásicas (LH2O+LCO2+VCO2) com
TfCO2 -63,4°C a -62,0°C, Tfclat variando de -1,4°C a 2,1°C, Th do CO2 (L) ocorrendo entre
10,6/°C a -0,6°C, salinidade de 13% a 17% de NaCl, com Tht(L) 229°C a 326°C, sistema (H2O-
CO2-NaCl-CaCl2(±N2±CH4).
144
O Granito Nhandu, rocha hospedeira da Mina do Edu, apresenta idade geocronológica
entre 1.889 ±17 Ma e 1.879 ±5,5 Ma (U-Pb em zircão) (Silva & Abram 2008), enquanto a Suíte
Intrusiva Matupá, rocha hospedeira do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e
Filão do Vinte, segundo Moura (1998) apresenta uma idade Pb-Pb em zircão de 1.872 ±12 Ma.
Considerando-se os poucos dados geocronológicos existentes para as rochas hospedeiras, o que
as deixam contemporâneas em termos de idade, e a falta de dados geocronológicos da
mineralização de cada um dos garimpos, a justificativa mais aceita para essa diferença entre os
fluídos da Mina do Edu e das demais ocorrências estudadas seria devido à distância de cada uma
delas para a fonte magmática, já que os dados existentes não permitem sugerir até o momento
fontes magmáticas distintas. Com essa consideração, podemos afirmar que a Mina do Edu estaria
mais próxima à fonte magmática do que as demais ocorrências auríferas, isso porque a Mina do
Edu apresenta fluídos com tendências magmáticas, enquanto as demais ocorrências, devido a
distância delas para com a fonte magmática, apresentam líquidos com misturas mais expressivas
com fluídos aquosos mais frios (Temperatura de homogeneização entorno de 180 °C),
diferentemente dos fluídos aquosos da Mina do Edu (Temperatura de Homogeneização média de
285 °C). Assim, possivelmente os fluídos aquosos magmáticos da Mina do Edu seriam os
mesmos fluídos aquosos magmáticos das demais ocorrências auríferas, no entanto, com a
distância, esse fluído aquoso foi perdendo temperatura, e se misturando com água meteórica. Já o
fluído carbônico presente na Mina do Edu não é encontrado nas demais ocorrências, isso porque
os fluidos carbônicos são mais instáveis que os fluídos aquosos, e devido à distância a fonte, não
tiveram participação na mineralização das demais ocorrências (Garimpo do Peteca, Filão do
Laje, Filão do Cocheira e Filão do Vinte).
AGRADECIMENTOS: O primeiro autor agradece a Deus pela oportunidade de executar esse
trabalho e por todas as oportunidades que Ele tem me dado. Agradeço os meus pais, minha irmã
e minha esposa por sempre me apoiarem e me ajudarem sempre que precisei. Agradeço também
ao meu orientador Prof. Dr. Francisco Pinho por todo o conhecimento transmitido e pela sua
dedicação e empenho nesse projeto. Os autores agradecem o projeto PROCAD 68/2010 número
23038.000675/2010-15 pelo apoio financeiro fornecido.
145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Assis R.R. 2011. Depósitos auríferos associados ao magmatismo granítico do setor leste da Província de Alta
Floresta (MT), Craton Amazônico: tipologia das mineralizações, modelos genéticos e implicações
prospectivas. Instituto de Geociências; Dissertação de Mestrado; 462p.
Cordani U.G., Teixeira W., D’Agrella-Filho M.S., Trindade R.I. 2009. The position of the Amazonian Cráton in
supercontinents. Gondwana Research, 15:396-407.
Dardenne M.A., Schobbenhaus C. 2000. The metallogenesis of the South American plataform. In: Cordani U.G.,
Milani E.J., Tomaz Filho A., Campos D.A. (eds.) Tectonic evolution of the South American. Rio de Janeiro:
31th International Geological Congress, 854p.
Domingues Dias M.A. 2012. Estudos de Inclusões Fluídas em Veios de Quartzo Associados ao Granito Nhandu no
Depósito de Ouro Trairão – Província Aurífera Alta Floresta-MT. MS Dissertation, Instituto de
Geociência, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 101p.
Galé M. G., Costa P.C.C., Xavier R.P., Pinho F.E.C., Barboza E.S., Barros M.A.S.A., Assis R.R., 2011. Alteração
hidrotermal e regime de fluidos do Depósito do Papagaio, Província Aurífera de Alta Floresta (MT). CD-
ROM do 12º Simpósio de Geologia da Amazônia. Boa Vista – Roraima.
Lacerda-Filho J.V., Abreu Filho W., Valente C.R., Oliveira C.C., Albuquerque M.C. 2004. Geologia e Recursos
Minerais do Estado do Mato Grosso. Texto explicativo dos mapas geológico e de recursos minerais do
Estado do Mato Grosso, Escala 1:1.000.000. Programa Geologia do Brasil Convênio CPRM e SICME-MT
235 p.
Moreton L.C. & Martins E.G. 2005. Geologia e Recursos Minerais de Alta Floresta. Vila Guarita. Escala 1:250.000.
Brasília, Serviço Geológico do Brasil, CPRM, 68 p.
Moura M.A. 1998. O Maciço Granítico Matupá e o Depósito de Ouro Serrinha (MT): Petrologia, Alteração
Hidrotermal e Metalogenia. Tese de Doutorado,IG/UnB, 238p.
Paes de Barros A.J. 1994. Contribuição a geologia e controle das mineralizações auríferas de Peixoto de Azevedo -
MT. Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 145p.
Paes de Barros A.J. 2007. Granitos da região de Peixoto de Azevedo – Novo Mundo e mineralizações auríferas
relacionadas – Província Aurífera Alta Floresta (MT). Tese de Doutorado, Instituto de
Geociências,Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 154p.
Ramos G.S. 2011. Características geoquímicas de plútons graníticos auríferos e estéreis da Província Aurífera de
Alta Floresta (MT). Trabalho de Conclusão de Curso, IG/UNICAMP, 82p.
Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Mapas em PDF. Disponível em http://geobank.sa.cprm.gov.br/. Acesso em 20
de ago. de 2013.
Silva M.G. & Abram M.B. 2008. Projeto metalogenia da Província Aurífera Juruena-Teles Pires, Mato Grosso.
Goiânia, Serviço Geológico Brasileiro, CPRM, 212p.
Souza J.P., Frasca A.A.S., Oliveira C.C. 2005. Geologia e Recursos Minerais da Província Mineral de Alta
Floresta. Relatório Integrado. Brasília, Serviço Geológico Brasileiro, CPRM, 164p.
Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 1999. Geochronological Provinces of the Amazonian Craton. Episodes,
22(3):174-182.
146
Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 2004. A evolução tectônica do Cráton Amazônico. In: Matasso-Neto V.,
Bartorelli A., Carneiro C.D.R, Brito-Neves B.B. (eds.) Geologia do continente sul-americano: Evolução da
obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. Beca, São Paulo, 673p.
Vitório J.A. 2010. A suíte granítica Teles Pires da Província Aurífera de Alta Floresta: Características
petrográficas, geoquímicas e implicações metalogenéticas. Instituto de Geociências, Universidade Estadual
de Campinas; Relatório PIBIC/ CNPq; 20p.