controle estatistico do processo - novo

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CONTROLE ESTATÍSTICO DO PROCESSO 64 • www.banasmetrologia.com.br • Julho • 2010 Aplicando os índices de capabilidade de processo Cp e Cpk em ANÁLISES TOXICOLÓGICAS Ao utilizar os índices de capabilidade Cp e Cpk na avaliação dos controles laboratoriais, devem ser observadas as especificações superiores e inferiores das densidades ópticas dos controles internos e, posteriormente, analisar a centralização dos processos e verificar se os dados dos controles internos atuais atendem às especificações encontradas P ara alcançar a eficiência, as organizações precisam ser capazes de otimizar seus recursos, bem como criar e estruturar novos modelos de gestão competitivos com base no conhecimento e na realidade institucional. Adequando-se à velocidade das transformações e inovações, cada vez mais as empresas precisam reestruturar seus processos de gestão, tornando-os mais flexíveis e dinâmicos (Rocha et al., 2006). A sobrevivência de qualquer empresa torna-se mais árdua pela necessidade de atender às demandas de uma sociedade cada vez mais consciente de seus direitos. A incerteza e os novos desafios deixam o futuro das empresas altamente dependente das formas pelas quais operam e se transformam. Assim, a busca da eficiência competitiva e a satisfação de novos interesses e propriedades exigem novas técnicas, conhecimento e habilidades de mudança (Caravantes et al., 1997). Nesse sentido, o Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT/RS) tem historicamente pautado seu trabalho na busca da eficiência e eficácia através da normatização e controle de seus processos laborais. Esta preocupação levou à credibilidade atual como centro de referência em toxicologia no Estado, recebendo destaque na década de 90, no Sistema de Avaliação do Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (CIT/RS, 2007). Estes anos também têm a marca da qualidade e da qualificação profissional. Sistemas de Qualidade estão sendo implantados na busca da padronização das atividades e, como consequência, a certificação dos procedimentos. A primeira área em que esta filosofia de trabalho teve maior ressonância foi no Núcleo de Análise Laboratorial - NAL, que foi certificado na Reblas/Anvisa na ISO/IEC NBR 17025, no ano de 2005 (CIT/RS, 2005). Como consequência dessa acreditação, o Núcleo de Análise Laboratorial do CIT/RS pôde participar do Prêmio Banas Excelência em Metrologia 2007/2008, sendo um dos vencedores [Bárbara S. de Jesus, Alexandre A. Becker e Viviane C. Sebben] na categoria Análise Clínica. Esta premiação, de nível nacional, foi avaliada por profissionais de destaque na área da metrologia, que analisaram o sistema interno de gestão do laboratório. Para um laboratório público, a conquista deste prêmio demonstra a qualidade e evolução constante na busca de resultados, mostrando a eficiência de uma instituição pública do governo gaúcho (Secretaria da Saúde do Estado – Laboratório do Estado recebe prêmio nacional de excelência, 2008). A ISO/IEC 17025 estabelece os critérios para os laboratórios que desejam demonstrar sua competência técnica, que possuem um sistema da qualidade efetivo e que são capazes de produzir resultados tecnicamente válidos (Anvisa, ISO/IEC 17025: A nova norma para Laboratórios de Ensaio e Calibração, 2001). De acordo com os requisitos da ISO/IEC 17025, para habilitação de laboratórios analíticos em saúde “onde a avaliação indicar que o trabalho não conforme pode se repetir ou que existe dúvida sobre a conformidade das operações do laboratório com suas próprias políticas e procedimentos, o(s) procedimento(s) da ação corretiva deve(m) assegurar que estas áreas de atividades e responsabilidades envolvidas sejam prontamente auditadas”. Atualmente, o laboratório de análise de emergência do CIT/RS utiliza cartas controle e gráficos de Levey-Jennings como controle de qualidade interno, sendo interpretados segundo as regras de Westgard. O Regramento de Westgard utiliza a média dos dados do processo e o número ± 3 desvios- padrão. A premissa básica é que o sistema esteja sob controle estatístico, ou seja, que apenas causas comuns estejam atuando, e principalmente utiliza os limites de controle e não os limites de especificação (PANEL – Programa de Controle Interno em Sorologia, 2009). Para um eficiente controle do processo, é necessário que medidas mais eficientes sejam adotadas, reduzindo sistematicamente a variabilidade do processo, e consequentemente, aumentando a confiabilidade do produto final (Alonso, 2005). O Controle Estatístico do Processo (CEP) é uma das ferramentas mais clássicas na área de qualidade e tem como

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CONTROLE ESTATÍSTICO DO PROCESSO

64 • www.banasmetrologia.com.br • Julho • 2010

Aplicando os índices de capabilidade de processo Cp e Cpk em Análises toxiCológiCAsAo utilizar os índices de capabilidade Cp e Cpk na avaliação dos controles laboratoriais, devem ser observadas as especificações superiores e inferiores das densidades ópticas dos controles internos e, posteriormente, analisar a centralização dos processos e verificar se os dados dos controles internos atuais atendem às especificações encontradas

Para alcançar a eficiência, as organizações precisam ser capazes de otimizar seus recursos, bem como criar e estruturar novos modelos de gestão competitivos com base no conhecimento e na

realidade institucional. Adequando-se à velocidade das transformações e inovações, cada vez mais as empresas precisam reestruturar seus processos de gestão, tornando-os mais flexíveis e dinâmicos (Rocha et al., 2006).

A sobrevivência de qualquer empresa torna-se mais árdua pela necessidade de atender às demandas de uma sociedade cada vez mais consciente de seus direitos. A incerteza e os novos desafios deixam o futuro das empresas altamente dependente das formas pelas quais operam e se transformam. Assim, a busca da eficiência competitiva e a satisfação de novos interesses e propriedades exigem novas técnicas, conhecimento e habilidades de mudança (Caravantes et al., 1997).

Nesse sentido, o Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT/RS) tem historicamente pautado seu trabalho na busca da eficiência e eficácia através da normatização e controle de seus processos laborais. Esta preocupação levou à credibilidade atual como centro de referência em toxicologia no Estado, recebendo destaque na década de 90, no Sistema de Avaliação do Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (CIT/RS, 2007).

Estes anos também têm a marca da qualidade e da qualificação profissional. Sistemas de Qualidade estão sendo implantados na busca da padronização das atividades e, como consequência, a certificação dos procedimentos. A primeira área em que esta filosofia de trabalho teve maior ressonância foi no Núcleo de Análise Laboratorial - NAL, que foi certificado na Reblas/Anvisa na ISO/IEC NBR 17025, no ano de 2005 (CIT/RS, 2005).

Como consequência dessa acreditação, o Núcleo de Análise Laboratorial do CIT/RS pôde participar do Prêmio Banas Excelência em Metrologia 2007/2008, sendo um dos vencedores

[Bárbara S. de Jesus, Alexandre A. Becker e Viviane C. Sebben]na categoria Análise Clínica. Esta premiação, de nível nacional, foi avaliada por profissionais de destaque na área da metrologia, que analisaram o sistema interno de gestão do laboratório. Para um laboratório público, a conquista deste prêmio demonstra a qualidade e evolução constante na busca de resultados, mostrando a eficiência de uma instituição pública do governo gaúcho (Secretaria da Saúde do Estado – Laboratório do Estado recebe prêmio nacional de excelência, 2008).

A ISO/IEC 17025 estabelece os critérios para os laboratórios que desejam demonstrar sua competência técnica, que possuem um sistema da qualidade efetivo e que são capazes de produzir resultados tecnicamente válidos (Anvisa, ISO/IEC 17025: A nova norma para Laboratórios de Ensaio e Calibração, 2001). De acordo com os requisitos da ISO/IEC 17025, para habilitação de laboratórios analíticos em saúde “onde a avaliação indicar que o trabalho não conforme pode se repetir ou que existe dúvida sobre a conformidade das operações do laboratório com suas próprias políticas e procedimentos, o(s) procedimento(s) da ação corretiva deve(m) assegurar que estas áreas de atividades e responsabilidades envolvidas sejam prontamente auditadas”.

Atualmente, o laboratório de análise de emergência do CIT/RS utiliza cartas controle e gráficos de Levey-Jennings como controle de qualidade interno, sendo interpretados segundo as regras de Westgard. O Regramento de Westgard utiliza a média dos dados do processo e o número ± 3 desvios-padrão. A premissa básica é que o sistema esteja sob controle estatístico, ou seja, que apenas causas comuns estejam atuando, e principalmente utiliza os limites de controle e não os limites de especificação (PANEL – Programa de Controle Interno em Sorologia, 2009).

Para um eficiente controle do processo, é necessário que medidas mais eficientes sejam adotadas, reduzindo sistematicamente a variabilidade do processo, e consequentemente, aumentando a confiabilidade do produto final (Alonso, 2005).

O Controle Estatístico do Processo (CEP) é uma das ferramentas mais clássicas na área de qualidade e tem como

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objetivo aprimorar e controlar o processo produtivo por meio da identificação das diferentes fontes de variabilidade do processo. Utilizando conceitos de estatística procura-se separar os efeitos da variabilidade causada pelas chamadas causas comuns, ou seja, àquelas inerentes à natureza do processo produtivo, das causas especiais, àquelas derivadas da atuação de variáveis específicas e controláveis sobre o processo. A técnica é composta de uma ferramenta principal denominada de cartas de controle, que permite identificar se o processo está sob controle estatístico, situação em que atuariam somente causas comuns (NUMA – Núcleo de Manufatura Avançada: Índices de Capabilidade do Processo, 1999).

O CEP é um método quantitativo para monitorar um processo repetitivo. Desta forma, pode estabelecer a linha central (LC), ou seja, a média histórica dos dados e, logo após, pode definir o limite superior de controle (LSC) e o limite inferior de controle (LIC). O LSC e o LIC são a soma e a diferença, respectivamente, da média histórica e os desvios-padrão (DAVIS et al., 2001).

Em um processo sob controle, o característico de qualidade do conjunto dos itens produzidos possui distribuição normal. Quando a variabilidade se torna anormal, as amostras indicarão que o processo se modificou e ficou fora dos controles. O processo sob controle não possui nenhum ponto fora dos limites, conforme a Figura 1. O objetivo do controle estatístico

é alcançar um processo tanto sob controle como dentro das tolerâncias. Uma forma de verificar se o objetivo está sendo alcançado é através do uso do Coeficiente de Capabilidade de Processo (Cp) (RUTHES et al., 2006).

O coeficiente de capabilidade (Cp) é a razão do intervalo de tolerância (LTS – LTI) pela faixa característica do processo (6 s, onde “sigma- s” é o desvio-padrão), e pode ser calculada utilizando a Equação 1 (RUTHES et al., 2006).

(1)

O Cp é dado pela razão entre a faixa de especificação e a variação “natural” do processo, isto é s 3 desvios-padrão, considerando a ausência de causas especiais. Leva em

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consideração a dispersão do processo em relação aos limites de especificação (Helman & Andery, 1995). Davis, Aquilano e Chase (2001) ressalvam que o coeficiente de capabilidade de processo (Cp) não indica especificamente quão bem está o desempenho do processo. É então necessário calcular o índice de Capabilidade (Cpk) para determinar se a média do processo está centrada em relação ao limite da especificação superior (LES) ou inferior (LEI). Quando o Cpk é igual ao Cp, então a média do processo está centrada entre os dois limites de especificação. Caso contrário, a média do processo se aproximará ao limite de especificação correspondente ao menor valor resultante do cálculo dos dois coeficientes Cpk. O índice de capabilidade permite a comparação da faixa característica do processo com as especificações, conforme Equação 2:

(2)

Existe uma distinção entre os limites de especificação ou tolerância e os limites de controle. Os limites de especificação representam aquilo que se exige no processo para que o produto possa atender a finalidade para qual é desejado. Já os limites de controle resultam do processo de fabricação empregado e refletem aquilo que o processo é capaz de realizar (Lourenço Filho, 1976).

Uma distribuição normal com Cp > 1 é considerada indicativa de que o processo é “capaz”, e quando Cp < 1, indica que o processo é incapaz, conforme demonstra os gráficos (A) e (C) expostos na Figura 2. A simples medida de Cp pressupõe que a média da variação do processo está no ponto médio da faixa de especificação. Porém, com frequência, a média do processo tende ao limite de tolerância superior (LTS) ou para o limite de tolerância inferior (LTI), conforme gráfico (D) da Figura 2. Nesses casos, é necessário calcular os índices de capabilidade (Cpk) para compreender a capabilidade do processo (Cp) (RUTHES et al., 2006).

Considerando um processo cujo produto deva atender a um cliente que exige que um determinado item de controle fique dentro do intervalo (LSE, LIE), as condições operacionais do

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processo podem ser estabelecidas seguindo diferentes critérios. Um critério: o valor médio µ do item de controle deve coincidir com ponto médio da faixa de tolerância M = (LSE + LIE)/2 (Helman & Andery, 1995).

Por outro lado, poderia acontecer que não fossem alcançados os objetivos propostos e que o valor médio do

item de controle não se posicionasse no ponto esperado, mas, por exemplo, deslocado à esquerda do mesmo (Helman & Andery, 1995).

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Sendo que as condições do processo não mudaram, o valor do índice Cp continua o mesmo (Cp>1) e, no entanto, o processo encontra-se operando fora das especificações. O processo é potencialmente capaz de atender ao cliente, porém, em razão do deslocamento do valor médio isto não acontece. Por causa disso, o índice Cp é considerado um índice de capacidade potencial. Cpk é o índice que leva em conta a dispersão e a centralização do processo em relação aos limites de especificação. É denominado índice de capacidade real, a fim de levar em conta esse possível deslocamento do valor médio (Helman & Andery, 1995). Assim, com a aplicação do Cpk podemos classificar o processo quanto a sua capabilidade: (Tabela 1)

Tabela 1: Classificação do processo com respeito a sua capabilidade

CLASIFICAÇÃO VALOR DE Cpk

Capaz / Satisfatório > ou = 1,33

RazoavelmenteCapaz / Satisfatório

1 < ou = Cpk < ou = 1,33

Incapaz/ Insatisfatório <1

De maneira geral, diz-se que Cp mede a capacidade potencial do processo, enquanto Cpk mede a capacidade atual do processo. Assim, Cp informa que quando o processo for colocado no centro terá a capacidade indicada por Cp. Pode-se

considerar como regra:• Cp e Cpk maiores que 1,33: processo é capaz para +

/ - 4 desvios-padrão, mínimo de 99,994% dos itens dentro da tolerância.

• Cp e Cpk maiores que 1,00: processo é capaz para + / - 3 desvios-padrão, mínimo de 99,73% dos itens dentro da tolerância.

• Cp e Cpk menores que 1,00: processo não é capaz para + / - 3 desvios-padrão, menos de 99,73% dos itens dentro da tolerância (Corrêa & Neto, 2009).

Pela importância da aplicação da norma ISO/IEC 17025, que valoriza não só o controle do processo produtivo, com suas especificidades técnicas, mas também coloca a necessidade de reflexão sobre a contínua melhoria dos processos, que este trabalho foi desenvolvido no NAL/CIT. O objetivo geral deste trabalho é fazer um estudo retrospectivo observacional aplicando índices de capabilidade, Cp e Cpk, nos dados históricos de anfetamina, cocaína e maconha do controle de qualidade interno do Núcleo de Análise Laboratorial do Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul – CIT RS. Deste modo, utilizar os índices propostos na avaliação dos controles laboratoriais, observando as especificações superiores e inferiores das densidades ópticas dos controles internos, e posteriormente, analisar a centralização dos processos e verificar se os dados

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dos controles internos atuais atendem às especificações encontradas. Cabe salientar que este trabalho não tem como objetivo julgar ou tecer ilações a respeito dos resultados de pacientes liberados no período de estudo no CIT/RS.

Materiais e métodosPrimeiramente, foram coletados os dados existentes do

controle interno de qualidade do laboratório, no período compreendido entre 2005 a 2008, de anfetamina, cocaína e maconha, expressos através do equipamento ETS PLUS – Dade Behring®. Posteriormente, dividindo-os por categoria de controle e por número de lotes e especificações, como segue o exemplo da Tabela 2, do controle de anfetamina original. Controle original refere-se ao uso de tampão fornecido junto ao kit. Na medida que o controle original torna-se insuficiente para todas as análises, é reparado um tampão, denominado de controle caseiro, que possui fórmula semelhante.

Tabela 2: Levantamento de dados do Laboratório – Anfetamina Original

Anfetamina ORIGINAL

NEGATIVO POSITIVO

Lote nº 4Data: 04.04.2005

Lote nº 1Data: 04.04.2005

Especif. 411 – 459 Especif. 510 - 550

453 534

467 555

456 542

463 550

494 579

491 561

518 597

538 619

538 647

Após esse levantamento, utilizamos estes dados para aplicar os índices de capabilidade Cp e Cpk, com auxílio do software VRAnalyst Lite – versão 1.0.11, como demonstrado na Figura 5. O referido software é uma ferramenta para a simulação, otimização e controle estatístico de processos. Baseado em avançadas técnicas de estatística multivariável, o aplicativo é capaz de correlacionar simultaneamente as diversas variáveis que caracterizam o processo de produção de diferentes tipos de indústrias (VRAnalyst – Manual do Usuário, 2006).

Com a utilização do VRAnalyst Lite, pode-se comparar primeiramente, os resultados obtidos da metodologia utilizada pelo laboratório com os resultados esperados da metodologia proposta. Posteriormente, foram ajustadas as especificações para analisar se existia uma melhora dos valores de Cp e Cpk, tirando ainda, se necessário, os pontos que estavam variando muito, já

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que os índices se aplicam apenas em processos sobre controle, sem causas especiais atuando.

O próximo passo, foi realizar a média dos limites de especificação inferiores e superiores de cada grupo, para determinar as densidades ópticas dos controles internos de anfetamina, cocaína e maconha. E, finalmente, verificou-se se os dados dos controles internos atuais atendem às especificações encontradas.

Em concllusão, pode-se dizer que as especificações utilizadas pelo laboratório, nos controles internos de anfetamina, cocaína e maconha, tiveram um Cp e Cpk, na sua maioria, fora dos valores ideais, ou seja, abaixo de 1,00, não se enquadrando em processos “capazes” ou “razoavelmente capazes”, como expressos na Tabela 1. A Figura 6 demonstra a média dos índices de Capabilidade encontrados através dos dados do Laboratório.

Através dos Índices encontrados, pode-se perceber que algo estava incoerente no processo, propondo que muitos deles eram incapazes dentro das especificações delimitadas pelo laboratório. Outro argumento que indicou a grande variabilidade, é que algumas leituras não expressaram valores de Cp e Cpk, comprovando que processos com grandes variações não podem ser utilizados para os índices de Capabilidade.

A discussão inicial é que as especificações utilizadas pelo laboratório possuem uma margem reduzida, impossibilitando que pequenas variações sejam normais no processo. Isso se deve pela origem das mesmas, visto que o laboratório utiliza as especificações dos kits, com alguns ajustes para o sistema analítico em atividade. Os kits possuem especificações com coeficiente de variação – CV, de 1% em variações de absorbância, impossível de serem adotados por ser permitido na validação de metodologias utilizando-se material biológico, o uso de CV de 15%, segundo a RDC 899 (2003). Por este motivo, o laboratório adota o uso de cartas de controle e gráficos de Levey-Jennings interpretados segundo as regras de Westgard.

Chegou-se a conclusão de que a padronização das especificações com a utilização dos Índices de Capabilidade seria o principal objetivo deste trabalho, pois

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poderíamos ampliar a margem das mesmas, permitindo assim que as mínimas variabilidades estivessem dentro do processo capaz. Nesse sentido, foram ajustadas as especificações do laboratório até que se obtivesse uma melhora dos valores de Cp e Cpk, tirando, se necessário, alguns pontos dos controles que variavam muito das especificações ou que eram marcados pelo software, para que o processo estivesse dentro dos valores adequados de Cp e Cpk. A Figura 7 demonstra essa sequência de ajustes no controle da maconha negativo original.

Com a adequação dos valores de Cp e Cpk, como demonstra a Figura 8, foi possível realizar a média dos controles inferior e superior, visando à padronização das especificações, conforme Tabela 3.

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Tabela 3 – Média da especificação de cada analitoANFETAMINA

ORIGINAL NEGATIVO ORIGINAL POSITIVO CASEIRO NEGATIVO CASEIRO POSITIVO

Média Especificação Média Especificação Média Especificação Média Especificação

371-542 450-642 392-565 492-675

COCAÍNA

ORIGINAL NEGATIVO ORIGINAL POSITIVO CASEIRO NEGATIVO CASEIRO POSITIVO

Média Especificação Média Especificação Média Especificação Média Especificação

287-435 477-645 275-440 495-712

MACONHA

ORIGINAL NEGATIVO ORIGINAL POSITIVO CASEIRO NEGATIVO CASEIRO POSITIVO

Média Especificação Média Especificação Média Especificação Média Especificação

518-711 649-865 555-842 590-975

O próximo passo para a análise das médias das especificações foi utilizá-las como teste nos controles atuais de 2009, verificando se terão um Cp e Cpk com valores adequados (Figura 9).

Como mostra a Figura 9, assim como os achados relatados na Figura 8, os índices de Capabilidade encontram-se com valores mais adequados do que quando utilizados com as especificações antigas do laboratório. Os valores de Cpk dos controles originais encontram-se, na sua maioria, relativamente baixos, nos dando

a ideia de que os processos não se encontram centralizados. Uma justificativa para esse aspecto é que o “n” para a aplicação do CEP no software muitas vezes foi reduzido por ser preciso realizar os ajustes para a padronização através dos índices. Isto ocorreu paralelamente em todos os controles e categorias, onde em algumas vezes, o “n” que tem como ideal ser de 20 a 30, foi 15, 10, ou até menor. Diferentemente do Cp, que considera apenas a dispersão dos dados, Cpk considera também a posição do processo em relação ao alvo. Quanto maior a distância da média em relação

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ao alvo, menor será seu valor (STATISTICAL – Tamanho da amostra para estudos da capacidade).

Os valores de Cp indicaram que os processos obtiveram baixa variabilidade, visto que seu valor ficou adequado ou um pouco mais elevado. Os processos com Cpk baixos estão por consequência descentralizados em relação aos limites e a faixa da especificação. Precisa-se então, a partir da padronização das especificações e do uso do Cp para o controle da variabilidade do processo, que se faça em um segundo momento, um estudo mais abrangente para averiguar o motivo das descentralizações encontradas.

Este trabalho partiu de uma lógica inversa por não haver certeza no uso das especificações anteriores, e tão pouco análise crítica de alguns resultados, iniciando assim, uma condição contrária ao uso dos Índices de Capabilidade. Para tanto, após a fixação de uma condição satisfatória de desempenho de processo, arbitrando valores de Cp e Cpk e análise dos mesmos, pode-se perceber que apenas o uso do Cp na análise da variabilidade do processo foi útil para acertarmos inicialmente os limites das especificações, partindo de dados históricos e o ajustando. Portanto, primeiramente nossa ação foi controlar a variação, pois é o que se faz primeiro em qualquer processo.

O Cpk nos indicou que a média dos dados históricos não está no centro dos limites inferior e superior, assim, foi útil também, porque mostrou que mesmo controlando a variação com novos limites de especificação superior e inferior, nossos resultados não são tão bons. Então, propomos novas análises, sendo feitas intervenções no processo, para que o Cpk atinja um valor satisfatório.

A aplicação dos Índices de Capabilidade dos processos – Cp e Cpk detectaram, através das análises históricas, algumas medidas fora do controle estatístico, havendo variabilidades no processo. Ficou provado pelos cálculos estatísticos e pelo teste com os controles atuais que o maior problema do laboratório era quanto às especificações, pois tinham uma margem bastante reduzida fazendo com que alguns pontos que eram pouco variáveis estivessem fora do limite do processo, e principalmente, porque não havia nenhum estudo estatístico relativo às condições de operação do processo, sendo estabelecidos com base nos dados do fabricante.

Consequentemente, essa falta de padronização das especificações desconsiderava outras causas naturais de variação no processo. Isso fazia com que o laboratório muitas vezes rejeitasse corridas analíticas conformes, tratando-as como não-conformes, causando assim um número elevado de repetições de ensaios, tanto de amostras como de controle, elevando os custos operacionais, aumentando o retrabalho, correndo riscos de atraso de resultados e colocando força de trabalho sob condições não ideais de tranquilidade para a realização das tarefas.

Assim, fica a necessidade de uma avaliação futura em continuidade a este estudo, pois o processo atual carece de melhor centralização, mostrado pelo índice Cpk, que indica que uma abordagem pormenorizada, nos principais passos do

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processo ou nas variáveis menos estáveis, deve ser realizada a fim de alcançarmos a capabilidade satisfatória.

AGRADECIMENTOSAo Núcleo de Análise Laboratorial do Centro de Informação Toxicológica do Rio

Grande do Sul, pela oportunidade de desenvolver meu trabalho.

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Bárbara S. de Jesus é acadêmica de biomedicina da Universidade Luterana do Brasil: Alexandre A. Becker é farmacêutico-bioquímico e docente de biomedicina da Universidade Luterana do

Brasil; e Viviane C. Sebben é farmacêutica e docente de Biomedicina da Universidade Luterana do Brasil - [email protected]