controle de infecÇÃo cruzada na atenÇÃo bÁsica...

121
Universidade Estadual do Ceará Cecília Holanda de Figueiredo CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE BUCAL NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA: UMA ANÁLISE CRÍTICA Fortaleza – Ceará 2006

Upload: phamnhu

Post on 17-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Universidade Estadual do Ceará

Cecília Holanda de Figueiredo

CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA

NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE BUCAL

NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA:

UMA ANÁLISE CRÍTICA

Fortaleza – Ceará

2006

Page 2: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Universidade Estadual do Ceará

Cecília Holanda de Figueiredo

CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA

NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE BUCAL

NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA:

UMA ANÁLISE CRÍTICA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Saúde Pública do Centro de

Ciências da Saúde da Universidade Estadual do

Ceará como requisito parcial para obtenção do

grau de mestre em Saúde Pública. Área de

concentração: Políticas e serviços de saúde.

Orientador: Prof. Dr.Paulo César de Almeida

Fortaleza – Ceará

2006

Page 3: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

RESUMO

Nos serviços de saúde, profissionais estão continuamente expostos a riscos biológicos. Em

odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação de

secreções orgânicas, a dispersão de aerossóis para o meio, o risco de acidentes com

instrumental perfurocortante e a produção de lixo contaminado. Desde o início dos anos 90,

vêm sendo estabelecidas recomendações e normatizações por parte de órgãos

responsáveis pela saúde do trabalhador e pela saúde coletiva, incluindo um conjunto de

medidas, denominadas precauções-padrão, que devem ser observadas para garantir a

qualidade do serviço, no que se refere ao controle de infecção. Com o objetivo de realizar

um diagnóstico de base da atenção básica em saúde bucal no município de Fortaleza-CE,

foram avaliadas vinte e nove unidades de saúde. Satisfeitas as recomendações éticas,

dados relativos ao do controle de infecção foram coletados durante visita às unidades e

observação do atendimento, através de um formulário tipo check-list, elaborado com

variáveis relacionadas com a estrutura física e materiais, gestão e operacionalização das

precauções-padrão em biossegurança. Observou-se a implementação de melhorias em

termos de estrutura, mas permanecem deficiências na disponibilidade de abrigo externo

para lixo e de Central de Material e Esterilização. Verificou-se adesão insatisfatória ao uso

de barreiras individuais pelos profissionais e constante quebra da cadeia asséptica pelos

dentistas e auxiliares. A falta de treinamento e capacitação dos profissionais para o controle

de infecção, assim como a falta de material de consumo e a inadequação de equipamentos,

particularmente estufas e autoclaves, comprometem os protocolos de limpeza, desinfecção

e esterilização. As unidades carecem de registros sobre a qualidade da água, manutenção

de equipamentos, imunização dos profissionais e acidentes de trabalho. O programa de

descarte de lixo contaminado está atuante, mas não otimizado. Recomenda-se a criação de

comissões de controle de infecção e de programas de prevenção de acidente e de proteção

à saúde do trabalhador, o treinamento e capacitação dos profissionais de saúde e a

adequação da estrutura física e do fornecimento de material, dentre outras medidas, no

sentido de melhorar a qualidade do serviço nas unidades de atenção básica em saúde bucal

de Fortaleza, no que se refere ao controle de infecção.

Page 4: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

ABSTRACT

In health services, professional are continuously exposed to biological risks. In dentistry,

many factors contribute to cross-infection, such as body fluid manipulation, aerosols

dispersion to the environment, risk of accidents involving sharp items and the production of

potentially infective waste. Since early 90’s, guidelines and regulations have been

established by personnel and public health organizations, including a range of strategies

called standard precautions, which should be observed to ensure service quality, concerning

to infection control. In order to make an initial diagnosis for oral health basic service in the

city of Fortaleza-CE, twenty-nine health care-settings were evaluated. As ethical

recommendations were satisfied, data related to infection control was collected during visit to

the settings and treatment observation, by a check-list form, designed with topics concerning

physical structure and materials, management and standard precautions application.

Structure improvement has been observed, but disabilities about waste sheltering and

instrument processing area still remain. Low adhesion to personal protective equipment

wearing and frequent lack of attention to asepsis procedures by dentists and dental

assistants were observed. Lack of personnel training and information on infection control,

besides lack of materials and equipment condition, especially heat-based sterilizers,

compromise cleaning, disinfection and sterilization protocols. Health care units miss

documentation concerning water quality, device maintenance, professional immunization

records and occupational exposures. Regulated medical waste program is active but not

optimized. It is recommended the establishment of infection control comities and policies

regarding exposure prevention and personnel health protection, education and training

programs for health care professionals and device and material accomplishment, among

other interventions, in order to improve the quality of dental health care service in ambulatory

settings of Fortaleza, concerning infection control.

Page 5: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

SUMÁRIO

Lista de figuras, quadros e tabelas

Lista de abreviaturas e/ou símbolos

1. Introdução .................................................................................................. 12

2. Objetivos .................................................................................................... 17

3. Fundamentação teórica ............................................................................. 19

3.1 Riscos biológicos e infecção cruzada em odontologia: conceitos

e epidemiologia .................................................................................. 20

3.2 Controle de infecção em serviços de saúde: contextualização e

estratégias da biossegurança ............................................................. 31

3.3 Precauções-padrão e protocolos de controle de infecção

cruzada em odontologia ...................................................................... 39

3.3.1 Precauções referentes aos profissionais de saúde ......... 41

3.3.2 Precauções referentes ao paciente ................................. 45

3.3.3 Precauções referentes ao ambiente de trabalho ............ 46

3.3.4 Precauções referentes aos instrumentais ....................... 48

3.3.5 Precauções referentes aos resíduos produzidos nos serviços de saúde ..................................................................... 51

4. Materiais e métodos

4.1 Tipo de estudo ............................................................................... 54

4.1.1 Avaliação em serviços de saúde ..................................... 54

4.2 Local de estudo ............................................................................. 55

4.3 População .................................................................................... 55

4.4 Amostra ........................................................................................ 57

4.5 Variáveis de estudo........................................................................ 59

4.6 Coleta de dados............................................................................. 59

4.7 Método de análise de dados.......................................................... 60

4.8 Aspectos éticos.............................................................................. 60

5. Resultados e discussão ............................................................................. 61

6. Conclusões ................................................................................................ 92

Page 6: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Referências .................................................................................................... 96

Anexos

Anexo I: Instrumento de diagnóstico e acompanhamento do controle de

infecção em saúde bucal 102

Anexo II: Carta de esclarecimento 112

Anexo III: Termo de autorização do administrador 113

Anexo IV: Parecer do Comitê de ética em pesquisa 114

Page 7: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS

Page 8: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Figura 1 Paredes e piso: condições estruturais e de limpeza nas

unidades 72

Figura 2 Taxa de vacinação relatada pelos profissionais de saúde 86

Quadro 1 Classificação dos riscos no ambiente de trabalho 21

Quadro 2 Agentes patogênicos mais freqüentes em infecções

cruzadas em consultórios odontológicos 31

Quadro 3 Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) indicados para

a equipe odontológica, segundo a atividade 42

Quadro 4 Recomendações para esterilização de artigos por meio físico 50

Quadro 5 População e distribuição amostral 57

Quadro 6 Estrutura física do ambiente clínico (Ia) 64

Quadro 7 Disponibilidade de artigos e equipamentos (Ib) 66

Quadro 8 Disponibilidade de materiais de consumo (Ic) 68

Quadro 9 Disponibilidade de recursos humanos (IIa) 70

Quadro 10 Organização e funcionamento dos serviços (IIb) 71

Quadro 11 Condições de higiene e limpeza do ambiente clínico (IIIa) 73

Quadro 12 Limitação da propagação de matéria orgânica a partir do paciente (IIIb) 75

Quadro 13 Utilização de barreiras individuais (EPIS) (IIIc) 77

Quadro 14 Limpeza e desinfecção de artigos e superfícies (IIId) 82

Quadro 15 Descarte de resíduos (IIIe) 84

Quadro 16 Protocolo pós-acidentes com material potencialmente

contaminado (IIIf) 85

Quadro 17 Esterilização de artigos (IIIg) 87

Tabela 1 Contaminação do ar segundo área do consultório, ventilação

natural e tipo de limpeza 64

Tabela 2 EPIs utilizados por ACDs na lavagem de instrumental 78

Page 9: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação
Page 10: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ACD Auxiliar de consultório dentário ADA American Dental Association AIDS Síndrome da imunodeficiência adquirida ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária CAT Comunicação de Acidente de Trabalho CCIH Comissão de controle de infecção hospitalar CD Cirurgião-dentista CDC Centers for disease control and prevention CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CME Central de Material e Esterilização DOU Diário Oficial da União DST Doenças sexualmente transmissíveis EPI Equipamento de Proteção Individual et al. et alli HBsAg antígeno de superfície da hepatite B HBV Vírus da hepatite B HCV Vírus da hepatite C HIV Vírus da imunodeficiência humana HSV Herpes simples IH Infecção hospitalar LACEN Laboratório Central m2 Metro quadrado ml Mililitro MTE Ministério do Trabalho e Emprego no. Número NR Norma regulamentadora OMS Organização Mundial da Saúde PCIH Programa de Controle de Infecções Hospitalares pH Potencial de hidrogenação PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais PSF Programa de Saúde da Família SARS Síndrome da infecção respiratória aguda SER Secretaria Executiva Regional SST Secretaria de segurança e saúde no trabalho SUS Sistema Único de Saúde TB tuberculose THD Técnico em higiene dental ufc Unidade formadora de colônia UI Unidade internacional VZV Varicela-Zoster µm micrômetro % porcentagem

Page 11: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

1. INTRODUÇÃO

Page 12: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

1. INTRODUÇÃO

Nas duas últimas décadas, as doenças infecto-contagiosas retomaram

importância como problema de saúde pública. O surgimento da Síndrome da

Imunodeficiência Adquirida (AIDS) nos anos 80, o recrudescimento associado das

taxas de adoecimento e mortalidade por tuberculose e a disseminação da hepatite B

em nível mundial contrapuseram-se aos avanços nas áreas da microbiologia,

imunologia e epidemiologia (GARBIN et al, 2004), trazendo muitos desdobramentos

para as áreas da saúde e educação.

Profissionais da área da saúde foram reconhecidos como grupos de risco

para estas e outras doenças, como herpes, influenza, sífilis, coqueluche, varicela e

sarampo (ANDRADE e HORTA, 2000; PERNAMBUCO, 2001; THOMAZINI, 2004),

atraindo a preocupação de órgãos responsáveis pela Saúde do Trabalhador.

A prática odontológica favorece o contato do cirurgião-dentista e de sua

equipe com um grande número de indivíduos potencialmente capazes de transmitir

microorganismos patogênicos, representando riscos ocupacionais de natureza

biológica (PAULA, 2003). A manipulação de secreções como saliva e sangue, o

contato com instrumental e materiais que penetram tecidos subepiteliais dos

pacientes, assim como a dispersão de perdigotos no ambiente clínico, pela utilização

de canetas de alta rotação, são fatores que favorecem a contaminação dos

profissionais de saúde bucal, configurando o risco de infecção cruzada no

consultório odontológico. Enquanto alguns autores definem infecção cruzada como

aquela que se dá a partir de um paciente contaminado para a equipe ou,

indiretamente, para outro paciente (PAULA, 2003), alguns incluem também a

contaminação que pode ocorrer a partir da própria equipe para os pacientes

(ANDRADE e HORTA, 2000; PERNAMBUCO, 2001).

Apesar do alto risco existente na prática odontológica em adquirir e/ou

transmitir doenças infecciosas, existem meios capazes de controlar a transmissão de

microrganismos patogênicos, tais como o uso de equipamentos de proteção

individual e a adoção de procedimentos de desinfecção e esterilização dos

equipamentos e instrumentais utilizados (THOMAZINI, 2004).

Page 13: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Neste contexto, o controle de infecção torna-se questão de grande relevância

para a biossegurança, campo de atuação da saúde do trabalhador, definida pela

Fundação Oswaldo Cruz como “um conjunto de ações voltadas para a prevenção,

minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção,

ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, que podem

comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade

dos trabalhos desenvolvidos (PERNAMBUCO, 2001)”.

Com o objetivo específico de orientar o controle de infecção nosocomial,

diversas medidas legislativas vêm sendo implementadas. Em 1983, tornou-se

obrigatória no Brasil a constituição de uma comissão de controle de infecção em

cada unidade hospitalar e, desde então, a normatização nesta área tem passado por

uma grande evolução (ANVISA, 2004). Justificado pelo objetivo de reduzir a infecção

ambulatorial, instituiu-se também o controle sanitário de clínicas ambulatoriais, assim

denominados os estabelecimentos dedicados a prestar assistência médica a uma

clientela, sem regime de internação, tais como os consultórios médicos e

odontológicos, centros de saúde e postos de atendimento à saúde, de caráter

privado ou público (EDUARDO, 1998).

Atuando como cirurgiã-dentista no setor privado desde 1988, tenho percebido

a atuação cada vez mais presente da vigilância sanitária, nas suas dimensões

política, ideológica, tecnológica e jurídica. Os profissionais da saúde bucal, assim

como os outros profissionais atuantes na prestação de serviços relacionados direta

ou indiretamente com a saúde, vêm sendo compelidos a buscar mais informações

sobre o controle de infecção cruzada e a adaptar sua prática ao novo contexto de

preocupação com riscos biológicos. Este contexto caracteriza-se pela valorização da

promoção e proteção à saúde do trabalhador, mas também favoreceu o

fortalecimento dos mecanismos de defesa do consumidor, aqui considerado o

usuário dos serviços (EDUARDO, 1998).

A crescente responsabilização dos profissionais de saúde, no que se refere

ao controle de infecção, tornou evidente a necessidade de maior subsídio por parte

dos cursos de graduação e pós-graduação para que seus docentes e discentes

desenvolvam os conhecimentos necessários a uma prática segura da Odontologia,

dentro e fora dos limites das clínicas do meio acadêmico (ROSA et al., 2001;

ZARDETTO, 1999). Tenho vivenciado esta transformação, desde o início da prática

pedagógica, enquanto professora substituta na Universidade Federal do Ceará,

Page 14: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

ainda em meados dos anos 90, até os dias atuais, atuando como docente no curso

de Odontologia da Universidade de Fortaleza.

Neste curso, participamos de uma ampla reforma curricular que valorizou o

preparo do acadêmico para o enfrentamento dos riscos ocupacionais, dentre eles,

os de natureza biológica e nos engajamos num contínuo processo de discussão

sobre as condições de atendimento à comunidade por parte da universidade. Tal

processo, orientado por funcionários, docentes e discentes membros da Comissão

de Biossegurança do curso, da qual venho a fazer parte a partir de 2006, discute

amplamente as normas e rotinas propostas para o controle de infecção na prática

odontológica, buscando estratégias para maximizar seus resultados nas clínicas

acadêmicas, no sentido de preservar seus funcionários, alunos e pacientes dos

riscos biológicos associados à odontologia.

Contudo, para além da assistência à saúde realizada na prática privada ou no

meio acadêmico, deparamo-nos com as dificuldades enfrentadas pelos gestores e

profissionais de saúde para adequar a prestação de serviços, no âmbito do Sistema

Único de Saúde (SUS), a uma legislação cada vez mais rígida. A inserção da

vigilância sanitária no espaço social abrange uma atuação sobre o que é público e

privado, indistintamente, na defesa da população (EDUARDO, 1998). Além da

necessidade de capacitação dos recursos humanos envolvidos, a questão impõe a

adequação de estrutura física e de recursos materiais, além da reorganização dos

serviços, de forma a melhorar sua qualidade, no que se refere ao controle de

infecção cruzada. Tais dificuldades foram precocemente apontadas por

GONÇALVES et al. (1996), sendo revisitadas por GARBIN et al. (2005), quando

apresentaram deficiências no uso de barreiras de proteção individual, como luvas e

gorro, sendo estas mais marcantes entre cirurgiões-dentistas do setor público que do

setor privado em Araçatuba, São Paulo.

No momento em que se reestrutura a atenção básica, com a consolidação do

Programa de Saúde da Família e a inserção das equipes de saúde bucal nos

municípios (BARROS e CHAVES, 2003), a Secretaria Municipal de Saúde de

Fortaleza, através de sua Coordenação de Saúde Bucal, tem mostrado

disponibilidade para a formação de parcerias com as instituições de ensino superior,

dentre outras. Desta forma, gestores, docentes e profissionais de saúde, juntos, vêm

construindo estratégias no campo do planejamento e da capacitação de recursos

humanos para otimizar as ações e serviços do setor público em saúde bucal.

Page 15: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

A experiência como dentista no serviço público me permitiu conhecer um

pouco da realidade e das dificuldades do setor. Contudo, percebemos a carência de

dados atualizados sobre as reais condições de controle de infecção cruzada nas

unidades de saúde de Fortaleza, responsáveis pela atenção básica aos usuários do

SUS.

Considerando, no panorama atual, a grande pertinência de se realizar um

diagnóstico de base destas condições, no qual a gestão municipal possa

fundamentar uma auto-avaliação e o encaminhamento de ações pertinentes, tornou-

se imperativo, para mim, a elaboração de um estudo desta natureza. Através da

produção de subsídios à avaliação e reestruturação da atenção básica em Fortaleza,

esta pesquisa busca favorecer a proteção dos profissionais de saúde bucal contra as

doenças ocupacionais de natureza infecto-contagiosas, assim como, contribuir para

a melhoria da qualidade em atenção primária, em benefício da comunidade

assistida.

Page 16: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

2. OBJETIVOS

Page 17: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral:

Avaliar as condições de controle de infecção cruzada nas unidades de saúde

do município de Fortaleza, responsáveis pela atenção básica em saúde bucal, no

mês de janeiro de 2006.

2.2. Objetivos Específicos:

• Elaborar um instrumento de diagnóstico e acompanhamento das rotinas de

controle de infecção cruzada em saúde bucal, tendo como padrão de referência as

atuais diretrizes e normas preconizadas para o atendimento odontológico no setor

público e privado pelos principais órgãos responsáveis pela saúde do trabalhador e

pela saúde coletiva;

• realizar um diagnóstico de base das condições de controle de infecção cruzada

nas unidades responsáveis pela atenção básica em saúde bucal no município de

Fortaleza;

• identificar e analisar fatores que afetem a adesão das unidades de saúde às

atuais diretrizes e normas de controle de infecção,

Page 18: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Page 19: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Riscos biológicos e infecção cruzada em odontologia: conceitos e

epidemiologia

O conceito divulgado em 1998 pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

para risco foi reapresentado recentemente no manual da Anvisa, que trata de sua

prevenção e controle nos serviços odontológicos: trata-se da “probabilidade de

ocorrência de um resultado desfavorável, de um dano ou de um fenômeno

indesejado” (BRASIL, 2006).

Diversos agentes agressivos podem estar presentes nos locais de trabalho,

quer se originem nos elementos de seu próprio processo (materiais, equipamentos,

instalações, suprimentos e espaços físicos) ou na sua forma de organização (arranjo

físico, ritmo e método, postura, jornada e turnos, treinamento, etc...) Desta forma, a

prática profissional apresenta, como uma de suas principais características, o risco

ocupacional, ou seja, a susceptibilidade de se adquirirem hábitos, posturas e

moléstias advindas da profissão (PERNAMBUCO, 2001).

Os riscos no ambiente de trabalho podem ser classificados segundo sua

natureza e ser representados graficamente através de um mapa de risco, sob

diferentes cores. A classificação preconizada pelo Programa de Prevenção de

Riscos Ambientais – PPRA, constante na Norma Regulamentadora no. 9 (NR-9) do

Ministério do Trabalho (BRASIL, 1998), pode ser observada no quadro 3.1,

reproduzido de Pernambuco (2001).

Segundo o quadro, classificam-se como riscos biológicos ou riscos do grupo 3

aqueles que têm como agentes agressores fungos, vírus, parasitas, bactérias ou

protozoários, sendo identificados pela cor marrom. Considera-se risco biológico “a

probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos, onde se incluem os

microrganismos como bactérias, fungos, protozoários e vírus, geneticamente

modificados ou não; as culturas de células; os parasitas; as toxinas e os príons”

(BRASIL, 2005). Fernandes (2000) considera risco ocupacional biológico “todas as

atividades em que exista a possibilidade de exposição da pele, olhos, membranas

Page 20: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

mucosas ou contato parenteral (através de acidentes pérfuro-cortantes) com fluidos

corpóreos potencialmente contaminados”.

Quadro 1. Classificação dos riscos no ambiente de trabalho

Classificação Denominação Identificação Exemplos

GRUPO 1 Físicos Cor Verde Ruído, calor, frio, pressões anormais, umidade, radiações

ionizantes e não ionizantes, vibrações, etc...

GRUPO 2 Químicos Cor Vermelha Poeira, fungos, gases, vapores, névoa, etc...

GRUPO 3 Biológicos Cor Marrom Fungos, vírus, parasitas, bactérias, protozoários, etc...

GRUPO 4 Ergonômicos Cor Amarela Posturas inadequadas, monotonia, repetitividade, excessos no

esforço, no ritmo e de horas extras, etc...

GRUPO 5 Acidentes Cor Azul Arranjo físico, iluminação inadequada, instalações elétricas,

máquinas e equipamentos inadequados e/ou sem proteção.

Fonte: Pernambuco, 2001

Entende-se por serviços de saúde “qualquer edificação destinada à prestação

de assistência à saúde da população, e todas as ações de promoção, recuperação,

assistência, pesquisa e ensino em saúde em qualquer nível de complexidade”

(BRASIL, 2005). De uma forma ou outra, trabalhadores dos serviços de saúde estão

constantemente relacionados com o risco biológico (PAULA, 2003).

Os profissionais que trabalham em odontologia realizam atividades clínicas,

cirúrgicas e ambulatoriais, onde existe um contato direto com o paciente, sendo sua

proximidade inevitável para a realização do trabalho. No atendimento a pacientes, o

cirurgião-dentista expõe a si, sua equipe e o ambiente do consultório a uma grande

variedade de microorganismos e vive o paradoxo de, em suas atividades voltadas

para o controle e prevenção de doenças, expor-se a manifestações patológicas de

natureza infecto-contagiosa, tais como hepatite, herpes e AIDS, dentre muitas

outras, constituindo-se em grupo de risco para diversas doenças (JORGE, 2002;

MELERE, 2003; SANTORO, 2004).

Pernambuco (2001) define doença profissional como “qualquer manifestação

mórbida que surge em decorrência das atividades ocupacionais do indivíduo” e

Page 21: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

enfatiza que, como as demais profissões, a odontologia apresenta riscos

operacionais que podem levar a doenças, à invalidez e, mesmo, à morte. Para a

Medicina do Trabalho, doença ocupacional pode ser definida como toda moléstia

causada pelo trabalho ou pelas condições do ambiente em que é executado, sendo

de grande importância seu diagnóstico e prevenção.

Fernandes (2000) denomina infecção ocupacional aquela adquirida no

ambiente de trabalho, após uma exposição ocupacional. Jorge (2002) cita pesquisa

realizada nos Estados Unidos por Crawford, ainda em 1982, em que 45% do pessoal

odontológico havia se contaminado no trabalho, tendo a maior parte adquirido

infecções respiratórias (70% do total).

Denomina-se fonte de exposição qualquer pessoa, animal, objeto ou

substância dos quais um agente biológico passa a um hospedeiro ou a reservatórios

ambientais (BRASIL, 2005). Na prática odontológica, apresentam-se como fontes de

infecção os indivíduos que sofrem de doenças infecciosas, os que estão no estágio

prodrômico de certas infecções e os portadores saudáveis de patógenos, sendo que

infecções virais com caxumba, sarampo e catapora podem facilmente disseminar-se

nas duas últimas situações (PAULA, 2003). Jorge (2002) também salienta que

pacientes podem albergar agentes etiológicos de doenças infecciosas mesmo sem

apresentar os sintomas clínicos ou mesmo sem desenvolver a doença em questão,

podendo veicular tais agentes pelo sangue e pela saliva.

Thomazini (2004) e Stefani et al. (2004) definem infecção cruzada como a

infecção ocasionada pela transmissão de microrganismos de um paciente a outro

indivíduo, geralmente pelo pessoal, ambiente ou fômite. Porém, outros autores

enfatizam que a possibilidade de transmissão de infecções nos serviços de saúde

ocorre tanto do paciente para o profissional quanto vice-versa e de paciente para

paciente, através de materiais e equipamentos (CDC, 2003; JORGE, 2002; KOHN,

2004), e ainda, de profissional para profissional, através das relações de trabalho

(PAULA, 2003 e PERNAMBUCO, 2001).

A cadeia de infecção é constituída por três elos fundamentais: o agente

etiológico, o hospedeiro susceptível e a transmissibilidade (STEFANI et al., 2004).

Denomina-se via de transmissão o percurso feito pelo agente biológico a partir da

fonte de exposição até o hospedeiro, podendo ocorrer de forma direta, sem a

Page 22: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

intermediação de veículos ou vetores, ou indireta, através de intermediação

(BRASIL, 2005). Pode-se ainda diferenciar vetor, que é um organismo que transmite

um agente biológico de uma fonte de exposição ou reservatório a um hospedeiro

(BRASIL, 2005), de veículo, representado por superfícies inanimadas.

A cavidade bucal é um ambiente ideal para a transmissão de

microorganismos, pela presença de calor, umidade e substrato alimentar. Além do

estreito contato profissional-paciente e da realização do trabalho diretamente na

cavidade bucal, com potencial de estímulo a sangramento, o risco de infecção

cruzada na prática odontológica é aumentado pelo uso de instrumentos rotatórios,

aparelhos de ultra-som e seringas tríplices, que podem produzir aerossóis

(PERNAMBUCO, 2001).

Aerossóis são uma suspensão de micropartículas sólidas ou líquidas,

menores que 50 micrômetros, que podem penetrar no organismo pelas vias aéreas e

ocular. Podem permanecer flutuando por longo período de tempo e dispersar um

vasto número de microrganismos no ambiente, atingindo longas distâncias,

colocando toda a área de operação e a equipe como potencialmente contaminadas

(HARREL; MOLINARI, 2004). Estas superfícies, assim como as mãos e o

instrumental contaminados representam nichos ou reservatórios que favorecem a

infecção cruzada (THOMAZINI, 2004).

Harrel e Molinari (2004) ressaltam que as menores partículas existentes no

aerossol, com 0,5 a 10 µm de diâmetro são as que apresentam maior potencial para

transmitir infecções, por conseguirem penetrar e se instalar nas pequenas

passagens dos pulmões. Contudo, estes autores afirmam que as gotículas com mais

de 50 µm de diâmetro podem carregar Mycobacterium tuberculosis eliminados pela

tosse ou por disseminação a partir do campo operatório. Por não serem capazes de

flutuar por longo tempo, estas assentam no ambiente, mas, à medida que evaporam,

reduzem seu tamanho, podendo voltar a circular no ar como partículas de poeira, o

que representa um crescente risco de infecção, particularmente devido ao

ressurgimento da tuberculose (TB) no panorama epidemiológico mundial.

Jorge (1998) ressalta que o próprio dentista pode lançar partículas de saliva

contaminada sobre o paciente, ao falar próximo a este, durante o atendimento e

Page 23: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

ainda, que os cabelos da equipe odontológica podem conter inúmeros

microorganismos, representando importante fonte de infecção.

Em odontologia, utilizam-se instrumentos de naturezas diversas, como

curetas, fórceps e peças de mão, que podem ser veículos de contaminação, por

haver o contato constante entre instrumentais e pacientes (STEFANI et al., 2004).

A prática odontológica também envolve a ocorrência de acidentes, assim

considerados os eventos súbitos e inesperados que interferem nas condições

normais de operação e que podem resultar em danos ao trabalhador, à propriedade

ou ao meio ambiente (BRASIL, 2005). Acidentes com instrumental ou material

perfurocortante, contaminado com sangue ou outros fluidos orgânicos, acarretam

riscos para os profissionais de saúde, segundo alguns critérios de gravidade, tais

como a profundidade da lesão, a exposição de grandes áreas cutâneo-mucosas

e/ou contato prolongado com o material biológico (PERNAMBUCO, 2001;

RIBEIRO,2005).

Apresentam-se ainda como vetores de contaminação as linhas de água que

abastecem as peças de mão, como aparelhos de alta rotação e seringas

(THOMAZINI, 2004). Segundo Russo et al. (2000), estes equipamentos podem

aspirar saliva e sangue por mecanismo de refluxo, no momento final de sua

utilização na boca de um paciente e transmitir microorganismos para o próximo.

A avaliação da qualidade da água coletada de seringas tríplices em 40

consultórios de Taubaté-SP mostrou que 72,5% dos consultórios apresentavam

água contaminada, segundo os parâmetros preconizados pela American Dental

Association (ADA), que preconizam menos de 200UFC/ml (unidades formadoras de

colônias/mililitro) de bactérias aeróbias na seringa tríplice. Observa-se que, antes da

coleta das amostras, fez-se desinfecção da superfície da seringa tríplice com

algodão estéril embebido em álcool 70º e que o jato de água foi desprezado durante

os primeiros 30 segundos de acionamento da seringa (CHIBEBE; UENO; PALLOS,

2002). Estes autores apontaram que o uso de reservatórios fixos ao equipamento

contribui para a estagnação da água e formação de biofilme altamente contaminado,

ao contrário do uso de reservatórios de garrafas plásticas, que são removíveis e,

inclusive, descartáveis.

Page 24: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

As vias de transmissão de microrganismos ou formas de contágio na clínica

odontológica podem ser assim agrupadas (PERNAMBUCO, 2001):

o Contato direto com lesões infectadas ou com respingos de sangue ou saliva

diretamente sobre a pele ou mucosa;

o Transmissão indireta através de instrumentos e equipamentos contaminados;

o Inalação e absorção dos microrganismos veiculados através do ar, em

decorrência da produção de aerossóis contaminados de sangue e saliva

infectados, pela tosse, espirro e fala ou por perdigotos de secreções

nasofaringeanas.

Contudo, o risco de infecção cruzada não se encerra com a finalização do

atendimento aos pacientes. Permanece a questão dos resíduos produzidos nos

serviços de saúde, tais como gaze, agulhas, fios de sutura, dentre outros materiais

contaminados, sendo alguns pérfuro-cortantes. O gerenciamento inadequado destes

resíduos pode originar vários danos, destacando-se a ocorrência de acidentes de

trabalho envolvendo profissionais da saúde, da limpeza pública e catadores, além da

propagação de doenças para a população em geral, por contato direto ou indireto,

através de vetores (GARCIA e ZANETTI-RAMOS, 2004).

A presença de fontes de microrganismos e das formas de contaminação, ao

lado da patogenicidade dos microrganismos veiculados, são as variáveis que levam

à contaminação e à infecção, das quais todos devem estar conscientes

(THOMAZINI, 2004). Segundo Paula (2003), o risco associado a um evento

perigoso, como a exposição a agentes agressivos, pode ser avaliado a partir da

freqüência de exposição e da conseqüência do evento. Para esta autora, quatro

critérios fundamentais devem ser considerados na avaliação do risco biológico: a

capacidade patogênica do agente, o modo de transmissão e condições relativas ao

hospedeiro e agente, a disponibilidade de medidas de prevenção eficazes e a

disponibilidade de tratamento eficaz.

A patogenicidade expressa a possibilidade de uma contaminação gerar uma

infecção, sendo diretamente proporcional ao número de microrganismos

contaminantes vezes a sua virulência e inversamente proporcional à resistência do

hospedeiro. Por sua vez, a virulência é definida como o conjunto de recursos que os

Page 25: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

microrganismos possuem para causar dano ao hospedeiro, instalando-se,

sobrevivendo e, finalmente, multiplicando-se (THOMAZINI, 2004). O tempo de

sobrevivência dos microorganismos no ar depende de suas características e das

condições ambientais. Os esporos são relativamente resistentes, enquanto as

células vegetativas são eliminadas mais rapidamente (GUIMARÃES Jr., 2001).

A microbiologia é uma ciência cujo objetivo prático é o controle de

microorganismos, valendo-se das limitações da capacidade de sobrevivência dos

mesmos para prevenir a infecção e transmissão de doenças. O conhecimento e a

aplicação dos métodos usados para destruir, remover ou excluir microorganismos

com potencial patogênico são fundamentais para realizar adequadamente a prática

da odontologia (JORGE, 1998).

Ao lado do desenvolvimento de estratégias voltadas para o controle dos

microorganismos patogênicos, a imunologia fornece subsídios para o

desenvolvimento de resistência por parte de seus possíveis hospedeiros, podendo

afetar o risco de que desenvolvam infecções e suas conseqüências. A imunização

passiva ou humoral refere-se a um estado de resistência que pode ser atingido

naturalmente, em conseqüência de uma infecção prévia, com ou sem manifestação

clínica. Por outro lado, a imunização ativa pode ser induzida artificialmente, mediante

a inoculação, através da vacinação, de frações ou produtos do agente infeccioso, ou

do próprio agente, morto ou atenuado, o que provoca estimulação antigênica do

sistema imunológico, com o desenvolvimento de uma resposta humoral (produção

de anticorpos) e celular (BRASIL, 2005). A imunização ativa, mais duradoura que a

passiva, complementa a adoção de barreiras de proteção pessoal (STEFANI et al.,

2004) ou individual na redução do risco biológico associado ao exercício da

odontologia.

Assim como estas ciências, a epidemiologia torna-se também uma importante

ferramenta, estudando os fatores que determinam a freqüência e distribuição das

doenças nas coletividades humanas (ROUQUAYROL e ALMEIDA, 2003),

contribuindo com dados importantes para a avaliação e controle de riscos biológicos

em consultórios odontológicos. A epidemiologia de algumas das doenças infecto-

contagiosas relacionadas aos serviços de saúde bucal têm merecido destaque na

literatura referente à infecção cruzada. Dentre as doenças transmissíveis por

Page 26: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

sangue, destacam-se as hepatites B e C e a Aids. Tuberculose, influenza,

pneumonia, resfriado comum, e doenças típicas da infância, como o sarampo e

rubéola, destacam-se entre as doenças transmissíveis por aerossóis ou perdigotos.

Estes podem ainda conter os vírus do herpes e da síndrome da infecção respiratória

aguda (SARS) (BRASIL, 2000). Algumas informações a respeito destas doenças

permitem mensurar o risco associado à prática odontológica, com base nos critérios

propostos por PAULA (2003).

• Hepatite B e C:

Estima-se em 350 milhões os portadores do vírus da hepatite B (HBV) no

mundo (MOUSSATCHÉ, 2002), sendo que 1,5 milhões morrem de seqüelas como

cirrose e neoplasia hepática primária (MELERE et al., 2003). Para o vírus da hepatite

C (HCV) estimam-se em cerca de 200 milhões os infectados, sendo três milhões no

Brasil ou até 1,7% de nossa população (SANTORO, 2004). Muitos portadores

permanecem assintomáticos, descobrindo a doença por exames de rotina ou triagem

para doação de sangue (SANTORO, 2004). Contra estas doenças, que têm

disseminação crescente a cada dia e podem tornar-se crônicas e levar à morte,

ainda não existem terapias plenamente eficazes, apenas tratamentos paliativos

(MOUSSATCHÉ, 2002).

Estes vírus transmitem-se particularmente pelo sangue, embora o HBV possa

ainda ser veiculado pela saliva e sêmen e ser inalado de suspensões em aerossóis

(GARCIA, 2002). Segundo Paula (2003), o antígeno de superfície da hepatite B

(HBsAg) pode ser encontrado na saliva de 76% de pacientes com hepatite aguda e

em 81% dos portadores crônicos. A sobrevivência destes vírus fora do corpo atinge

horas ou mesmo dias em pequenos fragmentos de sangue coagulado (GUIMARÃES

Jr., 2001; SANTORO, 2004). O risco de transmissão do vírus da hepatite B aos

profissionais da área de saúde é bem maior que o do HIV (GARCIA, 2002;

PERNAMBUCO, 2001) e cerca de três a cinco vezes maior que na população em

geral.

Em estudo realizado por ROSA et al (2001), de 118 questionários

respondidos por dentistas atuantes em clínicas privadas, selecionados através de

sorteio em 10 bairros do município de João Pessoa – Paraíba, 15,4% dos

profissionais relataram ter sido acometidos por hepatite. O trabalho de Rodrigues

Page 27: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

(2002) apresentou resultados diversos, onde a prevalência de HBV entre dentistas

do setor público e privado de Ribeirão Preto-SP mostrou-se baixa e semelhante à da

população constituída pelos usuários das unidades de saúde daquele município.

Observou, contudo, tendência de crescimento da prevalência segundo o tempo de

serviço do profissional. A autora ressalta o alto índice de vacinação entre os

dentistas participantes do estudo (acima de 80%), mas ainda considera o valor

inadequado para um grupo considerado de risco para o HBV.

Disponível comercialmente desde 1981, a vacina contra hepatite B é

altamente segura e recomendada para todos os profissionais de saúde. Seus efeitos

colaterais são mínimos e mais de 95% das pessoas vacinadas desenvolvem altos

títulos de anticorpos protetores (anti-HbsAg > 10mUI/ml), após esquema de três

doses a 0, 30 e 180 dias (MELERE et al., 2003).

Para Pernambuco (2001), perante acidente pérfuro-cortante com presença de

material biológico, os riscos de contaminação do profissional pelos vírus da hepatite

B (HBV) e hepatite C (HCV) podem atingir 30% e 10%, respectivamente. Para

hepatite C não existe quimioprofilaxia disponível, porém, a hepatite B pode ser

prevenida pela administração de gamaglobulina imune anti-HBV. Esta pode ser

recomendada conforme avaliação dos critérios de gravidade do acidente pérfuro-

cortante e do estado imune do profissional e do paciente envolvidos no acidente,

podendo sua administração ser simultânea à da vacina (PERNAMBUCO, 2002).

• Aids

Estima-se em 38 milhões os portadores do vírus HIV, causador da

imunodeficiência humana adquirida (Aids), uma prevalência bem inferior à do HCV

(SANTORO, 2004). No estudo realizado por ROSA et al (2001), dentre 118 dentistas

atuantes em clínicas privadas de João Pessoa - PB, 22,4% relataram ter atendido

pacientes com Aids.

Apesar do desenvolvimento de potentes antivirais, ainda não há vacina

disponível (MOUSSATCHÉ, 2002). Além de ser doença sexualmente transmissível,

pode ser veiculada pelo sangue, mas a sobrevivência do HIV fora do corpo é bem

menor que a do HCV (SANTORO, 2004). Para Pernambuco (2001), o risco de

contaminação do profissional de saúde pelo HIV, perante acidente pérfuro-cortante

Page 28: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

com presença de material biológico é de 0,3%. Em aerossóis, a detecção do HIV é

muito pouco provável, já que sua presença no sangue é geralmente bem menor que

a do HBV (THOMAZINI, 2003).

No início dos anos 90, divulgou-se um caso de contaminação de seis

pacientes por um dentista portador do HIV, nos Estados Unidos. Depois deste, não

houve novos relatos, assim como, desde esta época, quando o CDC iniciou o

acompanhamento da transmissão ocupacional do HIV, nunca houve qualquer caso

de aquisição ocupacional deste vírus, por profissionais atuantes nos serviços de

saúde odontológicos (KOHN et al., 2004).

Apesar de representar menor risco ocupacional, trata-se da infecção mais

temida entre profissionais de saúde (GARBIN et al., 2004). Estudando as

representações sociais da Aids entre 100 dentistas de Natal-RN, Rodrigues et al.

(2005) encontraram medo, confusões e ambivalências quanto ao acolhimento do

portador de HIV e à seleção de condutas para o controle de infecção, calcadas no

desconhecimento ou não-aceitação de informações científicas atualizadas sobre o

tema.

• Tuberculose:

O M. tuberculosis, bacilo causador da tuberculose, é eliminado em grande

quantidade através do trato respiratório (ANDRADE e HORTA, 2000), podendo ser

detectado nos aerossóis odontológicos (HARREL; MOLINARI, 2004;THOMAZINI,

2004). A realização de exame e tratamento odontológico em pacientes com

tuberculose ativa representa risco significativo de infecção para a equipe e outros

pacientes. Há também relatos de contaminação de pacientes contaminados por

tosse ou perdigotos provenientes do próprio dentista (ANDRADE e HORTA, 2000).

Rabahi e Almeida Netto (2001) relatam estudo onde o risco de contaminação,

levantado entre odontólogos e seus assistentes no Texas mostrou-se dez vezes

maior que na população em geral dos Estados Unidos. Este risco tem aumentado

com o recrudescimento da tuberculose, inclusive de formas resistentes ao

tratamento convencional, associadas à AIDS ou a tratamentos inadequados ou

incompletos. Para esta década, são previstos 90 milhões de casos de tuberculose e

30 milhões de mortes, no mundo, enquanto cerca de 80 mil novos casos são

notificados, por ano, no Brasil (ANDRADE e HORTA, 2000). A imunidade pode ser

atingida por vacinação.

Page 29: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

• Herpes

O vírus HSV tipo 1, e mesmo o tipo 2, podem provocar o herpes simples

bucal, que pode ser considerado a virose humana mais comum, com exceção das

infecções respiratórias virais. Em sua forma recorrente, a infecção manifesta-se

clinicamente sob a forma de vesículas no vermelhão dos lábios, podendo também

acometer a mucosa bucal, geralmente palato e gengiva. Não há vacina eficaz, mas

antivirais como o aciclovir são indicados para o controle das manifestações clínicas

(SILVA et al, 2004).

O panarício herpético, acometendo as pontas dos dedos, já foi considerado

um risco ocupacional entre os profissionais de saúde (SILVA et al, 2004). Existem

relatos de infecções oculares graves por vírus do herpes simples entre dentistas,

produzindo úlcera dendrítica do olho, que pode levar à perda da visão (JORGE,

2002).

Embora a forma de transmissão mais conhecida e divulgada seja a que

ocorre por contato direto com as lesões, deve ser salientada a possibilidade de

transmissão assintomática, pois, em média, 75% dos adultos jovens são

soropositivos para o HSV, podendo passar por reativações subclínicas que permitem

sua disseminação através da saliva (SILVA et al, 2004). A sobrevivência do HSV

sobre peças de mão e equipos odontológicos pode atingir cerca de 4 horas

(GUIMARÃES Jr., 2001).

Os microorganismos mais freqüentes em infecções cruzadas no âmbito

de consultórios odontológicos e as patologias por eles provocadas podem ser

sistematizados conforme o quadro 3.2, adaptado de Guimarães Jr. (2001).

Quadro 2. Agentes patogênicos mais freqüentes em infecções cruzadas em

consultórios odontológicos

AGENTE PATOGÊNICO PATOLOGIA PROVOCADA

Bactérias

Estafilococos

Legionella pneumophila ou Mycoplasma pneumoniae

Bordetella pertussis

Treponema palidum

Mycobacterium tuberculosis

Dermatites, conjuntivites e endocardites

Pneumonia

Coqueluche

Sífilis

Tuberculose

Page 30: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Vírus

HBV

HCV

HIV

HSV (Herpes simples) 1 e 2

VZV (Varicela-Zoster) ou HHV-3

Influenzae

Vírus do sarampo Morbilliivírus

Vírus RNA do gênero Rubivírus

Vírus do gênero Paramyxoviridae

Rinovírus

Adenovírus e enterovírus

Hepatite B

Hepatite C

AIDS

Gengivoestomatite herpética

Varicela e herpes zoster

Influenza

Sarampo

Rubéola

Parotidite

Gripe comum

Infecções respiratórias; conjuntivites; meningite

Adaptado de Guimarães Jr., J (2001).

3.2 Controle de infecção em serviços de saúde: contextualização e estratégias

da biossegurança

Pelas características e pela magnitude dos efeitos adversos que os riscos

biológicos ocasionam no organismo das pessoas que estão direta ou indiretamente

relacionados com ele, é de grande importância manter um controle estrito para evitar

a contaminação entre as distintas partes que participam nas atividades (PAULA,

2003).

A prevenção dos riscos ocupacionais é essencial ao bom desempenho

profissional e está ainda diretamente relacionada à qualidade do trabalho

desenvolvido. Tais riscos podem e devem ser evitados através da observância das

normas técnicas de biossegurança, significando coerência e responsabilidade com

os preceitos de saúde (PERNAMBUCO, 2001).

PAULA (2003) cita a definição de Conceptión para biossegurança, como “a

aplicação do conhecimento de técnicas e equipamentos para prevenir a exposição

do pessoal, das áreas e do meio ambiente a agentes potencialmente infecciosos ou

bioperigosos”. Pernambuco (2001) reapresenta a definição divulgada pela Comissão

de Biossegurança da Fundação Oswaldo Cruz: “A biossegurança é o conjunto de

ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às

atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação

Page 31: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

de serviços, que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio

ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos”.

Apresentando ainda a definição de Segurança e Higiene Ocupacional, como

uma ciência aplicada que trata dos métodos e meios para eliminar os riscos, PAULA

(2003) ressalta que, tanto esta, quanto a biossegurança atuam fundamentalmente

na detecção dos possíveis riscos a que os trabalhadores estão expostos em seus

postos de trabalho, com objetivo de procurar soluções para minimizar ou reduzir os

efeitos adversos que podem trazer para a saúde.

Cabe salientar que a área de atuação da biossegurança extrapola os limites

do controle de infecção cruzada, pois, além dos riscos biológicos, ela ocupa-se

também dos riscos ocupacionais de natureza química, física e mecânica

(PERNAMBUCO, 2001).

No Brasil, a necessidade de controle de riscos biológicos nos serviços de

saúde apresentou-se inicialmente através de um grave e recorrente problema de

saúde pública, a infecção hospitalar (IH). Tal problema, que acomete tanto os países

desenvolvidos quanto os em desenvolvimento, traz em seu bojo um drástico legado

de mortalidade e outras conseqüências, como o aumento do tempo de internação e

dos custos decorrentes, tanto para as instituições quanto para os próprios pacientes

e familiares, além da ameaça constante da disseminação de bactérias resistentes

(ANVISA, 2004).

Neste contexto, tornou-se imperativa a criação de órgãos específicos dentro

dos hospitais para prevenir e controlar a IH. Um grupo de trabalho criado pelo

Ministério da Saúde e também integrado por representantes dos Ministérios da

Educação e da Previdência Social elaborou um documento normativo que gerou a

Portaria MS 196, de junho de 1983, tornando obrigatória a constituição de

Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) em todos os hospitais

brasileiros. São prerrogativas destas comissões as orientações práticas sob a forma

de anexos, vigilância epidemiológica com coleta de dados, treinamento em serviço,

elaboração de normas técnicas, isolamento de pacientes, controle do uso de

antimicrobianos e normas de seleção de germicidas (ANVISA, 2004).

A partir de 1985, com a repercussão da morte do ex-presidente Tancredo

Neves, associada à infecção hospitalar, essa questão assumiu uma dimensão maior,

Page 32: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

sensibilizando a população e, principalmente, os profissionais da área de saúde.

Neste ano foi lançado o "Manual de Controle de Infecção Hospitalar", preconizando

medidas de prevenção e controle adaptadas à realidade nacional e realizou-se o

primeiro curso para treinamento de profissionais de nível superior no controle de

infecção hospitalar. (ANVISA, 2004).

As primeiras discussões e estudos sobre a biossegurança em odontologia

foram impulsionados pela emergência da síndrome da Aids, na década de 1980, que

fez despertar entre as comunidades de saúde uma maior consciência sobre o risco

da transmissão ocupacional de agentes infecciosos, de modo que o tema tornou-se

alvo das preocupações da prática médico-odontológica (RODRIGUES et al., 2005).

Face à realidade desta epidemia, o Ministério da Saúde passou a orientar que

a estruturação dos serviços de assistência odontológica fosse tratada no âmbito da

reforma sanitária, em conformidade com a Constituição Brasileira de 1988 e as leis

federais 8.080 de 19/09/90 e 8.142 de 28/12/90, de forma a alcançar amplo impacto

social, caracterizado pelo controle de infecção na sua prática (RODRIGUES et al.,

2005).

De fato, a partir da Constituição de 1988, onde se reconheceu a saúde como

direito do cidadão e consagrou-se para o Estado o novo papel de provedor da

saúde, a vigilância sanitária sofreu modificações no seu enfoque conceitual e teve

seu campo de atuação ampliado. Torna-se relevante analisar seu papel na questão

do controle de infecção nos serviços de saúde.

A definição de vigilância sanitária está contida no artigo 6º. da Lei 8.080/90,

que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde,

a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, dentre outras

providências (PERNAMBUCO, 2001). Esta definição é reapresentada por Eduardo

(1998):

Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde [...] (EDUARDO, 1998, p.3)

Desta definição apreende-se que a vigilância tornou-se uma prática capaz de

interferir em todos os fatores determinantes do processo saúde-doença. Sua

Page 33: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

atribuição para intervir no meio de trabalho foi reforçada mais adiante, no parágrafo

3º. desse mesmo artigo, onde se esclarece que, “através das vigilâncias

epidemiológicas e sanitária, busca-se a promoção e proteção à saúde dos

trabalhadores”, bem como “sua recuperação e reabilitação em decorrência dos

riscos e agravos advindos das condições de trabalho” (EDUARDO, 1998, p.4). Neste

contexto, o trabalhador deve ser esclarecido do risco pessoal que sofre ou que

poderia sofrer e que condutas devem ser adotadas como medidas preventivas

(PAULA, 2003).

Apesar da ampliação de seu campo de abrangência, a vigilância sanitária

ainda pautava sua prática na fiscalização, no licenciamento de estabelecimentos, na

observação do fato, no julgamento de irregularidades, e na aplicação de

penalidades, funções estas decorrentes de seu “poder de polícia”.

Sua face educativa veio a fortalecer-se pela regulamentação do Código de

Defesa do Consumidor, em 1990, o qual estabeleceu como direitos básicos do

consumidor a proteção, saúde e segurança contra riscos decorrentes de produtos e

serviços perigosos e nocivos (EDUARDO, 1998).

Diante da nova relação criada entre Estado, sociedade e vigilância sanitária,

enfatizou-se a questão da qualidade do produto ou serviço. Consolidam-se, assim,

os conceitos de controle interno e externo.

Segundo o primeiro, o prestador de serviços é responsável pelo que produz e

deve manter controle sobre sua produção, respondendo por seus desvios,

imperfeições ou nocividades. Daí se remete para as práticas de auto-avaliação,

baseadas nos conceitos de gestão da qualidade, resultando nos manuais ou guias

de boas práticas voltados para o controle interno da qualidade de produção.

Paula (2003) reforça a idéia de que a avaliação de riscos é a base para uma

gestão ativa da segurança e saúde no trabalho e da biossegurança, portanto, todo

dirigente tem a obrigação de planificar a ação preventiva a partir de uma avaliação

inicial de riscos. O processo conjunto de avaliação e de controle de riscos denomina-

se “gestão do risco”. Se, da avaliação e valoração de riscos, deduz-se que o risco é

não-tolerável, tem-se que controlá-lo, implicando na necessidade de adotar medidas

preventivas. As intervenções adotadas visam eliminar ou reduzir o risco, através de

medidas de prevenção na origem, organizacionais, de proteção coletiva, de proteção

Page 34: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

individual ou de formação e informação aos trabalhadores. E visam, ainda, controlar

periodicamente as condições, a organização e os métodos de trabalho e o estado de

saúde dos trabalhadores (PAULA, 2003).

Já o controle externo, exercido pelo Estado ou pelas sociedades organizadas,

refere-se com maior precisão à prática da vigilância sanitária, em sua face

normativa, caracterizando-se pela elaboração de normas oficiais, orientação

educativa, licenciamento de estabelecimentos, fiscalização e aplicação de medidas

para proteger a saúde da população (EDUARDO, 1998).

Neste panorama, a preocupação com o controle de infecção já se tornara

igualmente presente no âmbito das clínicas ambulatoriais, assim definidos os

estabelecimentos dedicados a prestar assistência a uma determinada clientela, sem

regime de internação. Segundo a natureza dos procedimentos que realizam, estas

clínicas estão sujeitas à infecção ambulatorial, inclusive na prestação de serviços

odontológicos (EDUARDO, 1998). Para Jorge (2002), as infecções que podem

ocorrer no consultório odontológico são em tudo semelhantes às infecções

hospitalares.

Os procedimentos realizados nestas organizações de atenção à saúde, que

são as combinações de técnicas médicas e cirúrgicas com drogas ou dispositivos ou

ambos, constituem um fator de risco para seus usuários e para os profissionais que

nelas atuam, o que constitui um problema de saúde pública e justifica seu controle

sanitário. Desta forma, a vigilância sanitária assume papel fundamental na melhoria

da qualidade dos serviços de clínicas ambulatoriais, sejam consultórios

odontológicos, centros de saúde ou postos de atendimento à saúde, sejam de

natureza pública ou privada. (EDUARDO, 1998).

Este papel vem sendo exercido através da normatização, que requer uma

fundamentação epidemiológica e a implementação da avaliação de processos,

aliada à adoção de medidas para que tais organizações cumpram as condições

técnicas minimamente necessárias ao seu adequado funcionamento (EDUARDO,

1998).

Diante de todo este contexto de preocupação com a qualidade da prestação

de serviços de saúde e com a saúde do trabalhador, organizações de saúde do

mundo inteiro, como o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e a

Page 35: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

American Dental Association (ADA) (KOHN et al., 2004; RUSSO et al., 2000), além

da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) têm desenvolvido um conjunto

de especificações voltadas para a redução do risco ocupacional e da transmissão de

agentes infecciosos nos serviços.

Este conjunto de normas ou rotinas, denominado medidas universais de

controle de infecção ou medidas de precaução-padrão (CDC, 2003; JORGE, 2002;

GARBIN et al, 2004), vem sendo referenciado por diversas portarias dos Ministérios

da Saúde e do Trabalho, e divulgado entre os profissionais de saúde e a sociedade

em geral.

Toda a legislação sobre os serviços de saúde assim produzida deve respaldar

a estratégia operacional da biossegurança no que se refere ao controle de infecção.

Segundo Paula (2003), tal estratégia fundamenta-se em três elementos: as técnicas

de trabalho, os equipamentos de segurança e o design das instalações.

Desde 1993, a ll Conferência Nacional de Saúde Bucal referia-se à

necessidade de controle do ambiente de trabalho, recomendando aos gestores de

serviços a importância de melhorar a estruturação do atendimento odontológico, de

forma a possibilitar o cumprimento das normas de biossegurança e o controle das

infecções das unidades públicas e privadas, o cumprimento da obrigatoriedade da

coleta do lixo odontológico e a integração da atenção odontológica aos programas

de saúde do trabalhador e de segurança do trabalho, viabilizando a detecção dos

riscos específicos e assegurando aos trabalhadores a pesquisa do nexo causal entre

o processo de trabalho e o aparecimento de doenças (PERNAMBUCO, 2001).

Em 1994, o Ministério da Saúde elaborou o Manual “Hepatite, AIDS e herpes

na prática odontológica”, como parte das estratégias do Programa Nacional de

DST/AIDS, sob a responsabilidade da Secretaria de Assistência à Saúde

(RODRIGUES et al., 2005). Em 1993, testes para detecção de HCV passaram a ser

feitos entre candidatos à doação em todos os bancos de sangue do Brasil. Mais

tarde, seria também regulamentada por lei a exigência de vacinação de todos os

recém-nascidos contra o vírus da hepatite B (MERELE et al., 2003).

A Portaria nº 1.884 do Ministério da Saúde de 1994 discorre sobre a estrutura

física das clínicas ambulatoriais, em complementação ao Decreto nº 12.479/GESP,

de 18 de outubro de 1978, que aprovara norma técnica especial relativa às

Page 36: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

condições de funcionamento dos estabelecimentos sob responsabilidade de

dentistas, estando prevista sua regulamentação por licença de funcionamento

(EDUARDO, 1998).

As Normas Técnicas ABNT nº 12.807, 12.808, 12.809 e 12.810, de 1993,

dispuseram sobre coleta, acondicionamento, armazenamento, transporte interno e

externo do lixo, disposição e destinos finais dos resíduos produzidos pelos serviços

de saúde, resultando na Resolução CONAMA nº 5 de agosto de 1993, publicada no

DOU nº 166 de 31 de agosto de 1993, que dispõe sobre os resíduos biológicos

(PERNAMBUCO, 2001).

Em 15 de maio de 1999, o Ministério da Saúde decretou o Dia Nacional do

Controle de Infecção Hospitalar, visando a uma maior conscientização de toda a

classe de profissionais de saúde, bem como todos os demais envolvidos, para

diminuir a incidência de óbitos provocados pelo problema. Nessa mesma data, no

ano de 1847, na Hungria, o médico-obstetra Ignaz P. Semmelweiss incorporara a

prática da lavagem de mãos como atitude obrigatória dos enfermeiros e médicos que

entravam nas enfermarias, conseguindo reduzir a taxa de mortalidade de pacientes

de 18% para 1,5% com esta simples, mas eficiente iniciativa (ANVISA, 2004).

Em janeiro de 1999, a Lei 9.782 definiu o Sistema Nacional de Vigilância

Sanitária, compreendendo o conjunto de ações citadas acima. Esta lei criou a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão que, atualmente, delineia

as diretrizes gerais para o Controle das Infecções em Serviços de Saúde. A Anvisa

assumiu o Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH), já constituído

em nível nacional por representantes das comissões estaduais, em 1997. A

vigilância sanitária passou então a contar com uma estrutura legal que lhe respalda

as ações oriundas do poder público, sempre pautadas pela promoção da saúde da

coletividade. Fortaleceu-se tanto o Programa quanto o próprio Sistema Nacional de

Vigilância Sanitária, nas três esferas de gestão (ANVISA, 2004).

A abrangência das ações de prevenção e controle das infecções está

definitivamente ampliada dos estabelecimentos hospitalares para os demais serviços

de saúde. Percebe-se o aumento da descentralização das ações de vigilância

sanitária, por meio da capacitação dos estados e municípios, e a ampliação dos

estudos e pesquisas direcionados ao controle de infecção, possibilitando decisões e

Page 37: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

intervenções mais ágeis e efetivas, voltadas para a prevenção ou para o

enfrentamento do problema (ANVISA, 2004).

Enquanto, no panorama internacional, a preocupação com a infecção cruzada

gerou uma recente atualização das medidas recomendadas para seu controle nos

serviços odontológicos (CDC, 2003), no Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego

(MTE) divulgou, em novembro de 2005, a Norma Regulamentadora no.32, que

estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à

segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles

que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral.

A NR 32 estabelece prazos que variam de cinco a dezessete meses para que

se proceda à adequação dos serviços e a adesão às medidas de prevenção dos

riscos biológicos. Esta norma reforça ainda a necessidade de implementação e

acompanhamento do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, já

regulamentado pela NR 9 (BRASIL, 1998) e do Programa de Controle Médico de

Saúde Ocupacional – PCMSO, regulamentado pela NR 7 (BRASIL, 2005).

3.3 Precauções-padrão e protocolos de controle de infecção cruzada em

odontologia

As precauções-padrão são um conjunto de normas ou rotinas de

biossegurança indicadas como medidas universais para reduzir o risco ocupacional

e a transmissão de agentes infecciosos nos serviços de saúde (BRASIL, 2000).

Fundamentam-se em investigações epidemiológicas e são suportadas por legislação

específica, devendo ser adotadas indistintamente, no atendimento a todo e qualquer

paciente (GARBIN et al, 2004; JORGE, 2002; KOHN et al, 2004), independente de

diagnóstico confirmado ou presumido de doença infecciosa transmissível no

indivíduo-fonte (BRASIL, 2006), em todos os tipos de tratamento odontológico e para

todos os instrumentos e equipamentos (RUSSO et al., 2000). Recomenda-se a

substituição da denominação inicial “medidas de precaução universal” pelo termo

“precauções-padrão” (CDC, 2003; KOHN et al, 2004).

Page 38: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Em seu estudo a respeito das representações sociais dos dentistas quanto ao

atendimento de pacientes com Aids, Rodrigues et al. (2005) enfatiza que constitui

erro a adoção, pelo dentista, de procedimentos diferenciados ou especiais.

Pernambuco (2001) afirma que o dentista deve considerar cada paciente como

potencialmente de risco, podendo ser portador de doença infecto-contagiosa não

identificável, mesmo através do levantamento de seu histórico médico e de testes

laboratoriais. Garbin et al.(2004) ressaltam não ser permitido aos profissionais de

saúde negar atendimento a pacientes portadores de doenças, sendo sua

responsabilidade atuar de forma a impedir sua transmissão. Acima de tudo, as

precauções-padrão e os protocolos de controle de infecção protegem, além do

profissional, todos os usuários de seus serviços.

Segundo enfatizam diversas normatizações, estratégias efetivas de controle

de infecção destinam-se a romper um ou mais dos elos da cadeia de infecção

anteriormente descritos (o agente patogênico, o hospedeiro susceptível e a via de

transmissão) (BRASIL, 2005; CDC, 1993; 2003; PERNAMBUCO, 2001). Denomina-

se assepsia ao método empregado para impedir que um determinado meio se torne

contaminado, sendo que o conjunto de manobras constitui a cadeia asséptica

(THOMAZINI, 2004).

Na prática odontológica, o controle de infecção deve obedecer a quatro

princípios básicos (BRASIL, 2000):

o Princípio 1: os profissionais devem tomar medidas para proteger a sua saúde

e a de sua equipe;

o Princípio 2: os profissionais devem evitar contato direto com matéria orgânica;

o Princípio 3: os profissionais devem limitar a propagação de microorganismos;

o Princípio 4: os profissionais devem tornar seguro o uso de artigos, peças

anatômicas e superfícies.

Ao apresentar as diretrizes para o controle de infecção em clínicas

odontológicas, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) utilizou um

sistema em que cada medida sugerida é classificada com base nos dados científicos

e na base teórica existentes, além da aplicabilidade (CDC, 2003; KOHN et al., 2004):

a) categoria IA: Implantação fortemente recomendada e fortemente suportada

por estudos experimentais, clínicos ou epidemiológicos bem delineados.

Page 39: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

b) categoria IB: Implantação fortemente recomendada e suportada por estudos

experimentais, clínicos ou epidemiológicos e forte base teórica.

c) categoria IC: Implantação requerida segundo regulamentação federal ou

estadual, com níveis de fundamentação variáveis.

d) categoria II: Implantação sugerida e suportada por estudos clínicos ou

epidemiológicos sugestivos ou por base teórica.

e) Assunto não resolvido: Sem recomendação. Evidências insuficientes ou falta

de consenso quanto à sua eficácia.

As medidas utilizadas no controle de infecção cruzada nos serviços de saúde

podem ser agrupadas segundo sua aplicação se volte para os profissionais de

saúde, o paciente, o ambiente de trabalho, os instrumentais e os resíduos

produzidos. Ainda que apresentadas desta forma, as precauções-padrão deverão

contemplar as técnicas de trabalho, os equipamentos de segurança e o design das

instalações, anteriormente citados como os elementos que fazem parte da estratégia

operacional da biossegurança no campo do controle de infecção (PAULA, 2003).

3.3.1 Precauções referentes aos profissionais de saúde

• Uso de Barreiras ou Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)

Denomina-se barreira qualquer recurso de natureza mecânica/física,

interposto entre a fonte de infecção e o susceptível, interrompendo as rotas de

contaminação. Os equipamentos de proteção individual (EPIs) são barreiras

utilizadas por profissionais ou pacientes e incluem avental, gorro, protetores

oculares, máscaras e luvas (BRASIL, 2005).

Todos os trabalhadores com possibilidade de exposição a agentes biológicos

devem utilizar vestimenta de trabalho adequada e em condições de conforto,

devendo esta ser fornecida sem ônus para o empregado. Os trabalhadores não

devem deixar o local de trabalho com os equipamentos de proteção individual e as

vestimentas utilizadas em suas atividades laborais. Os EPIs, descartáveis ou não,

deverão estar à disposição em número suficiente nos postos de trabalho, de forma a

garantir o mediato fornecimento ou reposição (BRASIL, 2005).

Page 40: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

O uso de EPIs deve ser observado por toda a equipe (cirurgião-dentista,

auxiliar e outros), tanto durante o atendimento ao paciente, quanto durante a limpeza

do ambiente e o reprocessamento do instrumental (STEFANI et al., 2004). Os tipos

de EPIs indicado para cada atividade estão sistematizados no quadro 3.3.

Quadro 3. Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) indicados para a equipe odontológica, segundo a atividade realizada pelo trabalhador de saúde.

Atendimento ao paciente Reprocessamento de instrumental Limpeza do ambiente

Luvas de procedimentos (látex fino) ou cirúrgicas

Jaleco

Máscara descartável

Protetor ocular

Gorro descartável

Luvas grossas de borracha (tipo faxina)

Avental impermeável

Máscara descartável

Protetor ocular

Gorro descartável

Luvas grossas de borracha (tipo faxina)

Avental impermeável

Máscara descartável

Protetor ocular

Gorro descartável

Fonte: própria

Recomenda-se a substituição freqüente do avental (no mínimo diariamente) e

a utilização de aventais descartáveis para procedimentos mais invasivos. Quando

ocorrer contaminação com sangue ou saliva, deve-se fazer desinfecção por imersão

em solução aquosa de hipoclorito de sódio (água sanitária diluída em quatro partes

de água) por trinta minutos, antes da lavagem habitual, feita separadamente de

outras roupas (STEFANI et al., 2004).

Gorros e máscaras são obrigatoriamente descartáveis. Máscaras devem

apresentar boa qualidade de filtração e são seguras durante 1 hora de uso. Perante

o aerossol do alta rotação, a segurança das máscaras é reduzida para 20 minutos

(JORGE, 2002). Ao se tornarem úmidas, devem ser trocadas, ainda que durante o

atendimento de um mesmo paciente (CDC, 2003).

Os óculos devem contar com proteções laterais. Após o atendimento, os

óculos contaminados devem ser lavados com sabonetes líquidos germicidas ou

soluções anti-sépticas, enxaguados e enxugados com toalhas de papel (STEFANI et

al., 2004).

Page 41: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

As luvas devem ser usadas quando forem tocar em sangue, saliva, mucosas

e tecidos, mesmo num simples exame na cavidade bucal e devem ser trocadas a

cada atendimento odontológico (BRASIL, 2000; CDC,2003).

Em 2000, o manual de condutas Controle de infecção e a prática odontológica

em tempo de aids, publicado pelo Ministério da Saúde, apresentou as seguintes

recomendações sobre o uso de luvas na prática odontológica: a) enquanto estiver de

luvas, não manipular objetos fora do campo de trabalho (canetas, fichas de

pacientes, maçanetas, etc...); b) retirar as luvas imediatamente após o término do

tratamento do paciente; c) não tocar na parte externa das luvas ao removê-las; d)

lavar as mãos assim que retirar as luvas; e) as luvas não protegem de perfurações

de agulhas, mas está comprovado que elas podem diminuir a penetração de sangue

em até 50% de seu volume; f) uso de dois pares de luvas é formalmente indicado em

procedimentos cirúrgicos de longa duração ou com sangramento profuso, conferindo

proteção adicional contra a contaminação (BRASIL, 2000).

Para o CDC (2003), não há qualquer comprovação quanto à efetividade da

utilização de uma luva sobre outra, sendo esta medida categorizada como assunto

não resolvido, sem recomendação. Este órgão recomenda ainda que as mãos

enluvadas não sejam lavadas antes do atendimento ao paciente, devendo-se, ainda,

evitar que a prévia assepsia das mãos seja feita com o uso de detergente ou outras

substâncias que se mostrem incompatíveis com a integridade das luvas.

• Limpeza e anti-sepsia das mãos

A lavagem das mãos é a ação isolada de maior impacto na prevenção e

controle das infecções em serviços de saúde (BRASIL, 2006) e deve ser feita, no

mínimo, antes e depois do uso de luvas. Todo local onde exista possibilidade de

exposição ao agente biológico deve ter lavatório exclusivo para higiene das mãos

provido de água corrente, sabonete líquido, toalha descartável e lixeira provida de

sistema de abertura sem contato manual (BRASIL, 2005).

Anti-sepsia é recomendada no preparo cirúrgico das mãos, podendo ser

utilizado composto degermante à base de iodo povidona ou clorexidina por 5

minutos e secagem com toalha de papel estéril ou compressas esterilizadas, no

sentido das mãos para os cotovelos (STEFANI et al., 2004).

• Imunização

Page 42: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Segundo a NR 32, a todo trabalhador dos serviços de saúde deve ser

fornecido, gratuitamente, programa de imunização ativa contra tétano, difteria,

hepatite B e os estabelecidos no PCMSO, além de outras vacinas eficazes contra

outros agentes biológicos, porventura disponíveis. O empregador deve fazer o

controle da eficácia da vacinação sempre que recomendado pelo Ministério da

Saúde e seus órgãos, e providenciar, se necessário, seu reforço (BRASIL, 2005).

A vacinação contra HBV é obrigatória (STEFANI et al, 2004) e disponibilizada

pelo SUS para todos os profissionais de saúde. São altamente recomendadas as

vacinas contra infecções virais como influenza, sarampo, parotidite e rubéola, além

das vacinas contra difteria e tétano (RUSSO, 2001).

• Acidentes com instrumentos pérfuro-cortantes: prevenção e manejo

Em todo local onde exista a possibilidade de exposição a agentes biológicos,

devem ser fornecidas aos trabalhadores instruções escritas, em linguagem

acessível, das rotinas realizadas no local de trabalho e medidas de prevenção de

acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho. Estas devem ser entregues ao

trabalhador, mediante recibo, que deve ficar à disposição da inspeção do trabalho.

Os trabalhadores devem comunicar imediatamente todo acidente ou

incidente, com possível exposição a agentes biológicos, ao responsável pelo local

de trabalho e, quando houver, ao serviço de segurança e saúde do trabalho e à

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Em toda ocorrência de

acidente envolvendo riscos biológicos, com ou sem afastamento do trabalhador,

deve ser emitida a Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT (BRASIL, 2005).

Os trabalhadores que utilizarem objetos perfurocortantes devem ser os

responsáveis pelo seu descarte, sendo vedados o reencape e a desconexão manual

de agulhas (BRASIL, 2005). Os resíduos perfurocortantes devem ser colocados em

recipientes rígidos localizados próximos a sua fonte, para evitar acidentes no trajeto.

Em caso de acidente com material/instrumental contaminado, envolvendo

exposição a sangue e fluidos orgânicos recomenda-se: lavagem imediata e

abundante com água e sabão, sem manipulação excessiva do ferimento; aplicação

de anti-séptico (iodo povidona 1% ou clorexidina); sutura e curativo, se necessário;

preenchimento de guia de acidente de trabalho, conforme o estabelecimento;

encaminhamento para unidade de atendimento a doenças infecto-contagiosa para

Page 43: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

avaliação da necessidade de vacinação ou quimioprofilaxia (BRASIL, 2000;

PERNAMBUCO, 2001; STEFANI et al., 2004). Quaisquer procedimentos que

aumentem a área exposta ou o uso de soluções irritantes como éter, hipoclorito ou

glutaraldeído, são contra-indicados (BRASIL, 2000).

• Capacitação dos profissionais para controle dos riscos

O empregador deve assegurar capacitação aos trabalhadores, antes do início

das atividades e de forma continuada. Esta deve ser ministrada durante a jornada de

trabalho, por profissionais de saúde familiarizados com os riscos inerentes aos

agentes biológicos, e deve ser adaptada à evolução do conhecimento e à

identificação de novos riscos biológicos, sendo renovada sempre que ocorra uma

mudança das condições de exposição dos trabalhadores aos agentes biológicos.

Segundo a NR 32, a capacitação deve incluir: a) os dados disponíveis sobre riscos

potenciais para a saúde; b) medidas de controle que minimizem a exposição aos

agentes; c) normas e procedimentos de higiene; d) utilização de equipamentos de

proteção coletiva, individual e vestimentas de trabalho; e) medidas para a prevenção

de acidentes e incidentes; f) medidas a serem adotadas pelos trabalhadores no caso

de ocorrência de incidentes e acidentes. A realização da capacitação deve ser

comprovável para a inspeção do trabalho através de documentos (BRASIL, 2005),

sendo recomendada periodicidade anual (CDC, 2003).

Em todo local onde exista a possibilidade de exposição a agentes biológicos,

devem ser fornecidas aos trabalhadores instruções escritas, em linguagem

acessível, das rotinas realizadas no local de trabalho e medidas de prevenção de

acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho (BRASIL, 2005).

3.3.2 Precauções referentes ao paciente

• Anamnese do paciente

Pacientes com história médica de febre reumática, endocardite, próteses ou

disfunções de válvulas cardíacas, etc., são mais susceptíveis à aquisição de

infecções no consultório, devendo ser atendidos sob cobertura antibiótica. Pacientes

com diabetes e imunodeficiências também são mais susceptíveis às infecções,

devendo receber cuidados adicionais (JORGE, 2002).

Page 44: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

O atendimento odontológico de pacientes com tuberculose ativa deve ser

postergado ou realizado com uso de protetores respiratórios especiais pelos

profissionais de saúde (ANDRADE e HORTA, 2000; CDC, 2003; KOHN, 2004).

• Uso de EPIs

Óculos protetores devem ser utilizados rotineiramente durante procedimentos

odontológicos, principalmente quando do uso de aparelhos de alta rotação, para

prevenir acidentes e/ou contaminação ocular do paciente (STEFANI et al., 2004).

• Anti-sepsia intra-oral e extra-oral

Denomina-se anti-sepsia o procedimento que visa ao controle de infecção a

partir do uso de substâncias microbiostáticas na pele ou mucosa, portanto, in vivo

(STEFANI et al., 2004).

A realização de bochechos com soluções anti-sépticas como gluconato de

clorexidina (0,12 a 0,2%) antes do atendimento do paciente representa medida

eficaz para diminuir a quantidade de microrganismos da cavidade bucal e sua

dispersão em aerossóis (BRASIL, 2000; HARREL; MOLINARI, 2004; STEFANI et al.,

2004). Anti-sepsia extra-oral com solução de iodo ou clorexidina é recomendada

antes de procedimentos cirúrgicos (STEFANI et al., 2004).

3.3.3 Precauções referentes ao ambiente de trabalho

• Uso de barreiras

Materiais de proteção descartáveis, como filme plástico, podem ser utilizados

com a função de barreiras de proteção, revestindo as superfícies de alças de

refletores, equipo e mesa auxiliar, pontas de baixa e alta rotação e de mangueiras,

seringas tríplices e pontas de aparelho de ultra-som e fotopolimerizador.

Recomenda-se o descarte das barreiras entre cada paciente. Seu uso pode facilitar

a limpeza e desinfecção dessas superfícies, ou mesmo tornar dispensáveis estes

procedimentos, se não ocorrer contaminação perceptível sob a barreira. Trata-se de

medida categoria II (CDC, 2003). Ressalta-se que são indicadas para superfícies

que não podem ser descontaminadas facilmente, podendo aumentar a eficiência do

controle de infecções, com menor gasto e redução do tempo para desinfecção

(BRASIL, 2000).

Page 45: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

• Redução na produção de gotículas e aerossóis e controle da qualidade do ar

Recomenda-se, sempre que possível, o uso de dique de borracha, uso de

sugador potente, de pias com cuba funda e evitar o uso de jato de água muito forte

na lavagem do instrumental. Deve-se permitir a ventilação natural intercalada em

ambientes providos de aparelhos condicionadores de ar e estes devem ter seus

filtros lavados semanalmente (BRASIL, 2000, 2006).

• Cuidados com as linhas de água ligadas ao equipo

Deve-se desprezar o primeiro jato das mangueiras antes da utilização de

seringa tríplice, canetas de alta rotação ou outras pontas com refrigeração por água

na boca do paciente. Após o uso, acionar qualquer destes artigos por 20 a 30

segundos fora da boca (BRASIL, 2000; CDC, 2003). Deve-se consultar os

fabricantes dos equipamentos odontológicos para adoção das medidas adequadas

para manter a qualidade da água. Esta deve apresentar menos de 500UFC/ml de

bactérias heterotrópicas neste meio (CDC, 2003) ou ainda, menos de 200UFC/ml de

bactérias estritamente aeróbias (CHIBEBE; UENO; PALLOS, 2002). Indica-se a

desinfecção interna de pontas de alta rotação e mangueiras pela circulação de

solução de clorexidina ou hipoclorito de sódio a 1% (STEFANI et al., 2004).

• Limpeza e desinfecção de superfícies

A limpeza e/ou descontaminação do artigo corresponde à remoção mecânica

e/ou química de sujidade, visando à remoção de resíduos orgânicos (STEFANI et al.,

2004). Denomina-se desinfecção o processo, empregado em objetos inanimados, de

destruição de microrganismos na forma vegetativa, mediante a aplicação de agentes

químicos e/ou físicos (JORGE, 2002). O autor explicita que, na prática, o que se

obtém é a redução do número de microorganismos a uma quantidade segura. Os

agentes desinfetantes são substâncias ativas na eliminação da maioria dos

microorganismos, mas ineficazes sobre os esporos. Classificam-se em:

- alta atividade biocida: eficazes contra todas as formas vegetativas e parte dos

esporos quando utilizados entre 10 a 30 minutos.

- média atividade biocida: eficazes contra todas as formas vegetativas, mas

não, sobre os esporos;

- baixa atividade biocida: não têm ação sobre todas as formas vegetativas.

Page 46: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Superfícies contaminadas por sangue ou secreção devem ser submetidas a

processo de descontaminação e desinfecção imediatamente. Ao término de cada

atendimento, todas as superfícies do equipamento odontológico nas quais o pessoal

odontológico tocou no atendimento anterior, ou que foram contaminados com os

aerossóis, devem limpas com água e sabão e secas, se necessário para remover

sujidade, e devem ser desinfetadas, podendo-se utilizar álcool 70%, compostos

sintéticos do iodo, solução alcoólica de clorexidina (2 a 5% em álcool a 70%),

compostos fenólicos ou hipoclorito de sódio (0,5%), de acordo com o material da

superfície (JORGE, 2002; PERNAMBUCO, 2001; STEFANI et al., 2004).

Esterilizantes ou desinfetantes de alto poder biocida são contra-indicados

para uso no ambiente (CDC, 2003) Estes são considerados desinfetantes para

imersão de artigos, apresentam elevada toxicidade e alto custo. Recomenda-se a

limpeza do piso por varredura úmida, com uso de dois baldes, um com solução

detergente e outro com água para enxaguar, e semanalmente, realizar lavagem

geral do piso (PERNAMBUCO, 2001).

3.3.4 Precauções referentes aos instrumentais

• Limpeza e desinfecção de artigos

Nos procedimentos odontológicos são utilizados objetos inanimados de

diversas naturezas, denominados artigos, que podem ser classificados de acordo

com o risco potencial de transmissão de infecção e a necessidade de desinfecção

ou esterilização:

o artigos críticos: todos aqueles que penetram nos tecidos sub-epiteliais, no

sistema vascular e em outros órgãos isentos de microbiota própria; incluem

fórceps, curetas e brocas, e devem ser submetidos à esterilização;

o artigos semicríticos: todos aqueles que entram em contato apenas com

mucosa íntegra, capaz de impedir a invasão nos tecidos sub-epiteliais;

incluem espelhos e porta-amálgamas; recomenda-se esterilização ou, na

impossibilidade desta por danos ao artigo, proceder, no mínimo, à

desinfecção de alto nível;

Page 47: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

o artigos não-críticos: todos aqueles que entram em contato apenas com pele

íntegra, como o cabeçote do aparelho de tomada radiográfica, ou não entram

em contato com o paciente; dependendo da natureza da superfície e do grau

e natureza da contaminação, podem ser lavados com água e sabão ou

processados por desinfecção de nível intermediário ou baixo (CDC, 2003;

JORGE, 2002 e PERNAMBUCO, 2001; STEFANI et al., 2004).

A descontaminação ou desinfecção terminal dos instrumentos odontológicos

pode ser realizada como passo inicial para o reprocessamento, por imersão

completa do artigo em solução desinfetante por 30 minutos, reduzindo o risco de

contaminação acidental durante a lavagem (STEFANI et al., 2004).

A pré-lavagem, por imersão em solução de detergente enzimático por 15

minutos, pode ser utilizada para facilitar a remoção de matéria orgânica na limpeza.

Tais substâncias podem conter enzimas amilase, lipase e protease, as quais

dissolvem especificamente carboidratos, gorduras e proteínas (BRASL, 2000).

A limpeza deve ser realizada através de fricção mecânica dos artigos,

utilizando água e sabão, com auxílio de escovas e esponja. O aparelho de ultra-som

com detergentes e desencrostantes é uma alternativa eficiente, especialmente para

artigos pequenos, como limas endodônticas. Enxaguar abundantemente com água

potável e corrente e secar o material. (JORGE, 2002; PERNAMBUCO, 2001;

STEFANI et al., 2004).

• Esterilização de material/instrumental

Esterilização é o processo de destruição de todas as formas de vida

microbiana, vegetativas ou esporuladas. O termo refere-se à destruição absoluta de

todas as formas de vida de um dado material (BRASIL, 2000). Em consultórios e

clínicas, indica-se a esterilização por método físico (calor saturado sob pressão, em

autoclave, ou calor seco, em estufa), pois o método físico-químico (óxido de etileno)

só é possível em hospitais de grande porte ou indústrias. As recomendações de

diversos autores para esterilização por meio físico, com uso de estufa ou autoclave

(BRASIL, 2000; JORGE, 2002; PERNAMBUCO, 2001; STEFANI et al., 2004) estão

sistematizadas no Quadro 3.4.

Page 48: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Quadro 4. Recomendações para esterilização de artigos por meio físico

ESTUFA AUTOCLAVE

• Esterilização a 170oC por uma

hora ou 160oC por duas horas,

contadas após a estufa ter

atingido esta temperatura. Não

abrir a porta da estufa durante o

processo de esterilização;

• Termômetro acessório de bulbo,

graduado até 250oC, colocado no

orifício superior da estufa, para

aferição e monitoramento;

• Instrumental acondicionado em

caixas metálicas bem fechadas,

ou embrulhado em papel alumínio

sobre bandeja metálica.

• Monitoração através de teste

biológico uma vez a cada sete

dias.

• Esterilização a 121oC por 30

minutos em autoclave de gravidade

(1 atmosfera de pressão); para

autoclaves de alto vácuo, com ou

sem ciclo pulsátil, seguir os

parâmetros de tempo, temperatura

e pressão do fabricante

• Instrumental acondicionado em

embalagens permeáveis (campo

cirúrgico de algodão cru duplo,

papel kraft, papel grau cirúrgico

com pH de 5 a 8, ou filme poliamida

com espessura de 50 a 100 micra)

• Não ultrapassar 80% da capacidade

da autoclave, em volume, e deixar

espaço entre pacotes para

circulação do ar

• Monitoração através de teste

biológico por 3 dias seguidos com

resultados negativos antes da

primeira utilização; a partir daí, uma

vez a cada 7 dias.

Fonte: própria

Não se admite o uso de equipamento à base de radiação ultravioleta ou

ebulidores. O método químico (solução de formaldeído ou de glutaraldeído) funciona

como uma desinfecção de alto nível e deve restringir-se àqueles materiais não-

descartáveis cujas características físicas se tornam incompatíveis com os rigores da

esterilização por calor. Quando necessário proceder à esterilização química,

recomenda-se imersão do artigo por 30 minutos em glutaraldeído a 2% (BRASIL,

2000).

Embora se ressalte que não se deve desinfetar quando se pode esterilizar, há

recomendações de que, quando seringas tríplices e pontas de alta e baixa rotação

Page 49: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

não possam ser submetidas à esterilização, estas devem ser lavadas externamente,

desinfetadas e cobertas com nova barreira descartável, entre cada atendimento

(BRASIL, 2000). Recomendações de outra autoria enfatizam a necessidade de

substituir as pontas removíveis que não sejam resistentes ao calor por outras

autoclaváveis, e contra-indicam sua desinfecção por soluções químicas,

classificando esta medida na categoria IC (CDC, 2003). Em estudo sobre a

intensidade de contaminação de pontas de seringa tríplice, Russo et al. (2000)

recomendam, inclusive, a utilização de pontas descartáveis nestes artigos.

3.3.5 Precauções referentes aos resíduos produzidos nos serviços de saúde

Este tema é o mais amplamente regulamentado pela NR 32. Segundo esta,

cabe ao empregador capacitar, inicialmente e de forma continuada, os trabalhadores

nos seguintes assuntos: a) segregação, acondicionamento e transporte dos

resíduos; b) definições, classificação e potencial de risco dos resíduos; c) sistema de

gerenciamento adotado internamente no estabelecimento; d) formas de reduzir a

geração de resíduos; e) conhecimento das responsabilidades e de tarefas; f)

reconhecimento dos símbolos de identificação das classes de resíduos; g)

conhecimento sobre a utilização dos veículos de coleta; h) orientações quanto ao

uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPIs (BRASIL, 2005).

Os sacos plásticos utilizados no acondicionamento dos resíduos de saúde

devem ser: a) preenchidos até 2/3 de sua capacidade; b) fechados de tal forma que

não se permita o seu derramamento, mesmo que virados com a abertura para baixo;

c) retirados imediatamente do local de geração após o preenchimento e fechamento;

d) mantidos íntegros até o tratamento ou a disposição final do resíduo (BRASIL,

2005). Os resíduos contaminados por material biológico devem ser separados e

colocados em saco plástico branco leitoso, com cruz vermelha e a inscrição: "LIXO

HOSPITALAR", segundo a norma ABNT 588/79, ou, no mínimo, em saco plástico

branco comum duplo (PERNAMBUCO, 2001).

A segregação dos resíduos deve ser realizada no local onde são gerados,

utilizando-se recipientes localizados próximos da fonte geradora, em número

suficiente para o armazenamento. Estes devem ser identificados e sinalizados

segundo as normas da ABNT e constituídos de material lavável, resistente à

punctura, ruptura e vazamento, com tampa provida de sistema de abertura sem

Page 50: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

contato manual (tampa acionada a pedal), com cantos arredondados e que sejam

resistentes ao tombamento.

Perfurocortantes, tais como agulhas de anestesia e de sutura e lâminas de

bisturi, devem ser descartados em recipientes de paredes resistentes e

inquebráveis, hermeticamente fechados, identificados com a inscrição: "MATERIAL

CONTAMINADO" e localizados próximos a sua fonte, para evitar acidentes em seu

transporte (PERNAMBUCO, 2001). Para estes recipientes, o limite máximo de

enchimento deve estar localizado 5 cm abaixo do bocal. Estes devem ser mantidos

em suporte exclusivo e em altura que permita a visualização da abertura para

descarte (BRASIL, 2005).

Em todos os serviços de saúde deve existir local apropriado para o

armazenamento externo dos resíduos, até que sejam recolhidos pelo sistema de

coleta externa. O local deve ser dimensionado de forma a permitir a separação dos

recipientes conforme o tipo de resíduo (BRASIL, 2005). Os resíduos sólidos

contaminados e não contaminados devem ser coletados pelo órgão municipal

responsável, para seu adequado destino e reaproveitamento. Sangue, secreções e

outros líquidos succionados durante os procedimentos dentários devem ser

drenados diretamente para a rede de esgoto sanitária (PERNAMBUCO, 2001).

Page 51: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Page 52: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Tipo de estudo

A pesquisa foi delineada sob a forma de um inquérito epidemiológico, ou

survey,com as seguintes características (ROUQUAYROL & ALMEIDA FILHO, 2003):

- individuado, quanto ao tipo de unidade de observação e de análise;

- observacional, considerando-se a posição passiva do pesquisador face ao objeto

de investigação;

- transversal, no que se refere à temporalidade (momento único de coleta de

dados).

A abordagem do estudo é descritiva e caracterizada pela objetividade e pela

marcante utilização de dados estatísticos.

4.1.1 Avaliação em serviços de saúde

Segundo contextualização apresentada no tópico 3.2 do capítulo da

fundamentação teórica, à respeito da prática do controle de infecção e das

estratégias da biossegurança, vêm se consolidando as práticas de controle interno e

externo dos serviços de saúde. Estas, invariavelmente, remetem para as práticas de

avaliação (EDUARDO, 1998).

Dentro deste contexto, ressalta-se a importância do enfoque da avaliação de

qualidade. A adoção de um modelo de avaliação fundamentado na Tríade de

Donabedian (DONABEDIAN, 1990), permite elaborar instrumentos operacionais

adequados ao objeto da vigilância, no que se refere aos serviços de saúde

(EDUARDO, 1998). Este marco teórico orientou a realização deste estudo.

Na avaliação de qualidade, contempla-se a estrutura, o processo e os

resultados, observando-se que:

o Estrutura: refere-se às características relativamente estáveis, como condições

físicas, organizacionais, equipamentos e recursos humanos;

Page 53: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

o Processo: refere-se ao conjunto de atividades desenvolvidas nas relações de

produção em geral e, no caso dos serviços de saúde, entre profissionais e

pacientes;

o Resultado: refere-se à obtenção das características desejáveis dos produtos ou

serviços, sem erros, imperfeições ou nocividades, à melhoria do meio ambiente e

trabalho, ou a mudanças obtidas no estado dos pacientes ou quadro sanitário,

que podem ser atribuídas ao cuidado consumido ou tecnologias introduzidas

(DONABEDIAN, 1990; EDUARDO, 1998).

Ainda segundo Donabedian (1990), neste tipo de avaliação deve-se observar,

para cada um destes componentes, um conjunto de indicadores que permitam

captar os atributos de qualidade do objeto avaliado: a eficácia, efetividade,

eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade e equidade.

4.2 Local de estudo

A pesquisa foi realizada nas unidades de saúde responsáveis pela atenção

básica ao usuário do SUS, sob a administração municipal de Fortaleza.

A capital do Ceará organiza a prestação de serviços através da subdivisão de

seu território em 06 micro-regiões de maior homogeneidade interna, a cargo das

denominadas Secretarias Executivas Regionais (SER) I a VI e de seus respectivos

secretários.

Cada unidade de saúde do sistema municipal está sob a gestão direta de seu

coordenador e sua distribuição segundo as regionais é mostrada no Quadro 5.

Nestas unidades, o usuário do SUS tem acesso a ações e serviços de atenção

básica, tais como restaurações, profilaxia e exodontias. Problemas mais complexos

em saúde bucal, como serviços de prótese e ortodontia, são referenciados destas

unidades para os Centros Especializados em Odontologia (CEOs), os quais atuam

sob a responsabilidade do governo do Estado do Ceará.

4.3 População e amostra

Page 54: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Em janeiro de 2006, existiam 87 unidades de saúde prestadoras de

assistência odontológica, vinculadas à Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza.

Estas estão divididas entre centros de saúde, unidades padrões e de saúde básica

da família e distribuídas pelas seis regionais. Com a preocupação de permitir o

aparecimento da heterogeneidade perceptível entre as unidades de saúde do

município, a seleção amostral para o estudo foi feita através de sorteio, sendo o

número amostral estratificado segundo o número de unidades de saúde em cada

regional, de maneira diretamente proporcional, como mostra o quadro 5.

Para definição do número amostral, foram eliminadas todas as unidades onde

a prestação de serviços odontológicos esteve suspensa durante o período de coleta

de dados. Assim por motivo de reformas estruturais, 17 unidades foram excluídas,

restando 70 aptas a participar do estudo. Tomou-se inicialmente como número

amostral 29 unidades (superior a quarenta por cento do total de unidades em

funcionamento). Considerando-se a similaridade encontrada entre as unidades de

saúde, em termos de disponibilidade de materiais, equipamentos e recursos

humanos, após a análise inicial dos dados, este número mostrou-se suficiente para

os objetivos deste estudo, permitindo a realização do diagnóstico de base do

serviço, no que se refere às condições de controle de infecção cruzada.

O paulatino cadastramento de equipes de saúde bucal no Programa de

Saúde da Família (PSF) poderia favorecer a possibilidade de diferenciação de

algumas unidades, em termos de recursos humanos e forma de organização dos

serviços. Contudo, levando-se em conta que, na prestação de serviços individuais,

dentro das unidades, estas equipes ainda utilizam-se da estrutura física e de

equipamentos existentes antes de seu cadastramento, ainda se poderia esperar

certa similaridade entre estas unidades e as demais, em termos de controle de

infecção cruzada. Deve-se considerar ainda que, em algumas unidades, uma

equipe de saúde bucal cadastrada no PSF convive ou divide jornadas de trabalho

com profissionais não cadastrados neste programa, não se podendo prever que,

durante a coleta de dados em tais unidades, tal equipe pudesse ser observada

durante o atendimento clínico ao usuário. Desta forma, espera-se que o reduzido

número amostral não comprometa a qualidade das informações produzidas.

Ademais, as unidades com equipes cadastradas no PSF (igualmente em número de

29) estão proporcionalmente bem distribuídas entre as regionais, de forma que a

Page 55: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

estratificação prevista para a amostra confirma-se adequada e capaz de contemplar

as diversidades.

Quadro 5. População e distribuição amostral

Regional No. de unidades de saúde

Amostra

TOTAL 87 29

Buscando possibilitar a maior diversidade da amostra, eliminaram-se as

unidades situadas no mesmo bairro de outra previamente sorteada. Não houve

necessidade de excluir unidades por falta de autorização de seus gestores. Todos

os coordenadores visitados concordaram com a realização no estudo, autorizando a

observação direta das condições em que se oferecem os serviços de atenção

básica, por parte da pesquisadora.

4.4 Variáveis de estudo:

O estudo trabalhou com um instrumento de coleta de dados desenvolvido

pela autora (Anexo I) onde foram incluídas variáveis voltadas para medir os sete

atributos de qualidade propostos por Donabedian (1990). Estas estão distribuídas

em três importantes áreas na operacionalização do controle de infecção, a seguir

apresentadas:

o Área I - Recursos físicos e materiais, subdividida em três blocos:

Ia) estrutura física do ambiente clínico;

Ib) artigos e equipamentos;

Page 56: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Ic) materiais de consumo.

o Área II - Gestão dos serviços, subdividida em dois blocos:

IIa) recursos humanos;

IIb) organização e funcionamento do serviço

o Área III - Operacionalização das precauções-padrão em biossegurança,

subdividida em oito blocos:

IIIa) higiene e limpeza do ambiente clínico;

IIIb) limitação da propagação de matéria orgânica a partir do paciente

IIIc) utilização de barreiras individuais (EPIS)

IIId) limpeza e desinfecção de artigos e superfícies

IIIe) descarte de resíduos

IIIf) manejo de acidentes com material/instrumental potencialmente contaminado

IIIg) esterilização de artigos

IIIh) imunização dos profissionais de saúde

As variáveis ou meios de verificação pertencentes às áreas I e II do

instrumento de coleta de dados contribuem para avaliação da qualidade do serviço

odontológico no enfoque da estrutura, enquanto algumas variáveis da área II,

somadas às da área III informam sobre seu processo e resultados.

Os meios de verificação propostos neste instrumento apresentam como

padrão de referência as atuais diretrizes e normas de controle de infecção

preconizadas pelos principais órgãos internacionais e nacionais responsáveis pela

saúde coletiva e pela saúde do trabalhador, dentro das sub-áreas de segurança e

higiene ocupacional e de biossegurança. Estas diretrizes e normas estão

apresentadas no tópico 3.3 do capítulo da fundamentação teórica.

A forma de apresentação das variáveis no questionário seguiu a metodologia

da melhoria da qualidade da atenção primária à saúde, proposta pela Secretaria da

Saúde do Estado do Ceará (CEARÁ, 2005), tendo como foco a etapa do diagnóstico

de base. Cada variável foi categorizada da seguinte forma:

“S” – sim;

“I” – Insatisfatório ou insuficiente;

“N” – não ou

“NA” – não se aplica.

Page 57: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

O critério avaliado por cada variável foi considerado alcançado e, portanto,

condizente com o padrão desejável, quando a resposta conferida resultou em “sim”

ou “não se aplica”. Uma coluna reservada para comentários viabilizou ao aplicador

justificar as respostas negativas ou insatisfatórias.

Page 58: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

4.5 Validação do instrumento de coleta de dados

Este instrumento foi submetido à validação aparente e de conteúdo, realizada

por três peritos no assunto, sendo uma enfermeira atuante na comissão de controle

de infecção de serviço de saúde, e dois cirurgiões-dentistas, professores em curso

de pós-graduação, com atuação nas áreas de metodologia da pesquisa e saúde

bucal coletiva.

A validação aparente refere-se ao que o instrumento parece medir. Verifica-se

a adequação de sua forma de apresentação e a clareza dos itens incluídos. A

validação de conteúdo verifica se o instrumento representa o universo de situações

que se pretende medir, se o conjunto é abrangente e o conteúdo é representativo e

relaciona-se com os objetivos do estudo (RIBEIRO, 2005).

Com base na sugestão dos peritos e no pré-teste, fizeram-se ajustes na

apresentação e conteúdo do instrumento, o qual foi então considerado adequado

para a coleta dos dados.

4.6 Coleta de dados

Os dados foram coletados durante o mês de janeiro de 2005, através do

preenchimento, pela própria pesquisadora, do questionário tipo check-list (Anexo I),

durante a observação do atendimento ao usuário, em visitas às unidades de saúde,

respeitando-se o horário de funcionamento do serviço odontológico.

Além da observação direta do atendimento, para alguns dados estava

prevista a análise de documentos tais como cartões de vacinação, carteiras

profissionais, notas de serviços contratados a terceiros e outros documentos de

responsabilidades dos gestores. Diante da indisponibilidade destes documentos,

alguns questionamentos foram baseados apenas nas informações fornecidas pelos

profissionais envolvidos na atenção básica em saúde bucal, inclusive os

Page 59: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

coordenadores. As formas de registro e de análise dos dados assim obtidos

passaram por adequação para evitar a produção de informações distorcidas.

Page 60: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

4.7 Método de análise de dados

Inicialmente, foi feita uma análise descritiva univariada dos dados, utilizando-se tabelas, gráficos, medidas

estatísticas (média, desvio padrão e coeficiente de variação). Fez-se análise bivariada para verificar a existência de

associação entre algumas variáveis, adotando-se o nível de significância de 5% para todos os testes estatísticos. Os

dados foram processados no software SPSS, versão 11.0.

4.8 Aspectos éticos

Em concordância com a Resolução 196/96 para estudos envolvendo seres

humanos, a coleta de dados foi iniciada após aprovação do projeto de pesquisa pelo

Comitê de Ética da Universidade Estadual do Ceará (UECE) (Anexo IV). O parecer

deste comitê foi apresentado ao chefe de cada Secretaria Executiva Regional de

Fortaleza ou seu substituto, obtendo-se autorização através da assinatura do Termo

de autorização do administrador (Anexo III), após leitura e entrega de cópia da Carta

de Esclarecimento (Anexo II). O projeto deste estudo contava com a prévia

autorização do Coordenador de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde de

Fortaleza, obtida da mesma forma. Em cada unidade de saúde visitada, foi ainda

solicitada a autorização do coordenador ou seu substituto.

Page 61: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Page 62: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram levantadas as condições relativas ao controle de infecção cruzada em

29 das 70 unidades de saúde que, em janeiro de 2006, estavam atuantes na

prestação de serviços de saúde bucal no nível de atenção básica no município de

Fortaleza.

Nessas unidades trabalham 69 cirurgiões-dentistas (CDs), 47 auxiliares de

consultório dentário (ACDs) e 05 técnicos em higiene dental (THDs). Cada unidade

conta, ainda, com pelo menos um profissional de limpeza, sendo que este número

varia segundo a capacidade total de prestação de serviços pela unidade de saúde.

Os dados relativos à área I (a, b e c) do instrumento de coleta, relacionados

com recursos físicos e materiais estão sistematizados nos Quadros 6, 7 e 8. Os

dados relativos à área II (a e b), relacionados com a gestão dos serviços, estão

sistematizados nos Quadros 9 e 10 e os dados relativos à área III (a até h),

referentes à operacionalização das precauções-padrão em biossegurança, estão

sistematizados nos Quadros 11 a 17 e na Figura 2.

Em termos de estrutura física do ambiente clínico, resumida no Quadro 6, pia

para lavagem de instrumental e Central de Material e Esterilização (CME) são os

itens de maior deficiência, considerando seu impacto sobre o controle de infecção.

Menos da metade dos consultórios apresenta pia para lavagem de instrumental

(44,8%), aumentando o risco de contaminação cruzada através do contato das mãos

do CD com as torneiras ou superfícies próximas. O instrumental é geralmente lavado

na pia utilizada pelo CD, visto que apenas 6,9% das unidades dispõem de CME

estruturada com expurgo, enquanto a maioria conta apenas com uma sala para

esterilização, onde se localizam estufa e/ou autoclave, ou com CME de capacidade

reduzida, que não comporta a lavagem de instrumental de toda a unidade em seu

expurgo (75,9%). Em 17,2% das unidades a estufa e/ou autoclave localizam-se

dentro do próprio consultório.

Ainda de acordo com o Quadro 6, pouco mais da metade das unidades

dispõe de armários e/ou prateleiras para guarda de materiais estéreis (51,7%),

sendo comum sua permanência sobre a bancada da pia, onde estes se expõem a

respingos oriundos da lavagem do instrumental contaminado e a aerossóis,

Page 63: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

particularmente em consultórios de área reduzida e sem renovação de ar. Em uma

unidade, procurou-se contornar esta situação mantendo-se todo o instrumental já

estéril em caixas permanentemente dentro da própria estufa, a qual se apresenta

sempre carregada, como se fora um armário. Tal fato deve comprometer a

circulação do calor e a eficácia de todos os ciclos aí realizados, além de reduzir a

vida útil do instrumental.

Das unidades pesquisadas, 34,5% ainda não contam com abrigo para

armazenagem externa do lixo. Este permanece dentro de alguma sala até o dia da

coleta, ou fica exposto em área externa, facilitando a propagação de patógenos.

Embora 82,8% das unidades disponham de aparelho condicionador de ar

capaz de manter temperaturas adequadas e confortáveis no consultório, em 10,3%

seu funcionamento é insatisfatório. A situação é mais grave em 6,9% das unidades,

que não contam com o aparelho e apresentam ventilação insuficiente (Quadro 6).

Esta deficiência deve ser revertida, pois o calor foi apontado pelos profissionais

como fator dificultador para a utilização de todos os EPIs.

Observaram-se paredes e pisos adequados ao controle de infecção cruzada

em 89,6 e 79,3% das unidades, respectivamente. A estrutura física do local de

prestação de serviços odontológicos não satisfaz o padrão mínimo de 9m2 de área

de consultório em 17,2% das unidades, apresentando-se ainda insatisfatória em

10,3% dos casos, em unidades onde funcionam 02 ou 03 equipamentos numa

mesma sala. A redução de espaço pode comprometer a circulação dos profissionais,

dificultando a utilização do sistema de sucção pela ACD para minimizar a dispersão

de aerossóis e o acesso do CD à pia para higiene das mãos entre atendimentos.

Por não possuírem janelas ou apresentá-las permanentemente lacradas,

34,5% dos consultórios não têm qualquer possibilidade de ventilação natural e

renovação do ar, o que favorece a permanência de microorganismos patogênicos no

ambiente, inclusive do Mycobacterium tuberculosis.

Estas deficiências na área do consultório e na renovação do ar representam

risco elevado de contaminação para os profissionais de saúde, particularmente, para

os responsáveis pela limpeza, considerando que, em nenhuma das unidades, evita-

se a varredura a seco (Quadro 11) e apenas 11 unidades tem condições de área e

ventilação adequadas. A associação entre estes fatores é mostrada na Tabela 1.

Page 64: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Tabela 1. Contaminação do ar segundo área do consultório, ventilação natural e tipo de limpeza

(N = não; S = sim; I = insatisfatório ou insuficiente)

Quadro 6. Estrutura física do ambiente clínico (Ia)

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Consultório de saúde bucal com área mínima de 10m2

21 72,4 3 10,3 5 17,2 - -

Sala para orientação de higiene bucal, com escovódromo

1 3,4 - - 28 96,6 - -

Paredes lisas (com tinta lavável ou azulejo)

26 89,7 - - 3 10,3 - -

Piso liso 23 79,3 - - 6 20,7 - -

Ventilação natural ou ventiladores

17 58,6 2 6,9 10 34,5 - -

Aparelho condicionador de ar 24 82,8 3 10,3 2 6,9 - -

Pia com torneira e água corrente 29 100,0 - - - - - -

Pia para lavagem de instrumental 13 44,8 - - 16 55,2 - -

Armários e/ou prateleiras para guarda de materiais em geral

28 96,6 - - 1 3,4 - -

Armários e/ou prateleiras para guarda de materiais estéreis

15 51,7 3 10,3 11 37,9 - -

Central de Material e Esterilização (CME)

2 6,9 22 75,9 5 17,2 - -

Abrigo externo para resíduos (lixeira final)

19 65,5 - - 10 34,5 - -

Evita limpeza a seco Área do consultório

N S Total

I + N Ventilação N 2 - 2

S 6 - 6

Total 8 - 8

S Ventilação N 10 - 10

S 11 - 11

Total 21 - 21

Page 65: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Ressalte-se que a adequação da estrutura física vem ocorrendo com rapidez.

A atual gestão municipal já vem implementando grandes reformas em diversas

unidades de saúde, particularmente concentradas no início do ano de 2006, fato que

deve repercutir positivamente sobre as condições de controle de infecção.

O Quadro 7 resume a disponibilidade e adequação de artigos e equipamentos

relacionados com o controle de infecção (Área Ib).

Vê-se que algumas unidades não dispõem de autoclave (13,8%,

classificadas como NA) ou estão com a mesma fora de uso aguardando manutenção

ou substituição (10,3%, classificadas como N). Apenas 07 das 29 unidades dispõem

de autoclave funcionando satisfatoriamente. Em 15 unidades (51,7%) a autoclave foi

classificada como I, pois ocorre vazamento de água, falta de pressão, ou trata-se de

equipamentos muito antigos, como as autoclaves verticais, que sequer dispõem de

termostato ou manômetro.

Embora não existam mais estufas em 37,9% das unidades, muitas ainda

utilizam simultaneamente este equipamento e uma autoclave. Em 10 das 29

unidades utilizam-se estufas em condições adequadas, mas em 8 casos (20,7%), ela

é utilizada apesar de apresentar-se com ferrugem, sem termostato ou com

problemas de vedamento da porta. Das 18 unidades que utilizam estufa, 61%

dispõem de termômetro de bulbo para acompanhamento do ciclo (11 unidades).

No geral, as condições dos equipamentos para esterilização por calor são

inadequadas. Analisando-se em conjunto as estufas e as autoclaves, verifica-se que

apenas 15 das 29 unidades (51,7%) possuem pelo menos um destes equipamentos

em condições satisfatórias de funcionamento adequado. Em uma das unidades,

onde não há estufa nem autoclave em funcionamento, o instrumental vem sendo

conduzido para esterilização na unidade mais próxima, para manter o fluxo e evitar

suspensão do atendimento aos usuários. Infelizmente, as condições dos

equipamentos na unidade receptora assim como de transporte do material são

também inadequadas e capazes de comprometer a qualidade da esterilização.

Excetuando-se as peças de mão que estão fora de uso aguardando

manutenção ou substituição (classificadas como NA no Quadro 7), a grande maioria

das canetas de alta rotação, micromotores e contra-ângulos são autoclaváveis

(respectivamente 75,9%, 69% e 69%). No entanto, em absolutamente nenhuma das

Page 66: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

unidades estas peças são esterilizadas por calor, como mostra o Quadro 17. Estes

resultados serão discutidos mais adiante.

Quadro 7. Disponibilidade de artigos e equipamentos (Ib)

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Cadeira odontológica 26 89,7 3 10,3 - - - -

Mocho para CD e ACD 17 58,6 11 37,9 1 3,4 - -

Refletor 25 86,2 4 13,8 - - - -

Unidade auxiliar (sugador/cuspideira)

25 86,2 4 13,8 - - - -

Filtro próximo ao equipo 15 51,7 - - 14 48,3 - -

Equipo c/ sistema de desinfecção interna

2 6,9 - - 27 93,1 - -

Caneta de alta rotação autoclavável

22 75,9 - - 5 17,2 2 6,9

Micromotor autoclavável 20 69,0 - - 5 17,2 4 13,8

Contra-ângulo autoclavável 20 69,0 - - 5 17,2 4 13,8

Estufa em funcionamento, com termostato, limpa, sem ferrugem

10 34,5 6 20,7 2 6,9 11 37,9

Termômetro de bulbo para aferição externa da estufa, numerado até 250oC

11 37,9 - - 6 20,7 12 41,4

Autoclave com termostato e manômetro em funcionamento, limpa e sem ferrugem

07 24,1 15 51,7 3 10,3 4 13,8

Existe instrumental em quantidade suficiente para o atendimento até o próximo protocolo de esterilização

15 51,7 - - 14 48,3 - -

Recipiente para lixo comum com saco plástico

13 44,8 2 6,9 14 48,3 - -

Lixeira com tampa acionável por pedal para lixo contaminado, com saco plástico identificado

1 3,4 15 51,7 13 44,8 - -

Coletores de paredes rígidas para material perfurocortante (identificado), em no. suficiente, próximo ao local do uso

21 72,4 7 24,1 1 3,4 - -

Coletor grande com saco plástico para lixo contaminado

6 20,7 - - 23 79,3 - -

Page 67: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Da mesma forma, embora um sistema de desinfecção interna das mangueiras

por circulação de desinfetante esteja disponível em duas unidades (Quadro 7), este

não é utilizado (Quadro 14), apesar de a solução química indicada estar disponível.

Em 48,3% das unidades, por falta de uma lixeira comum no consultório, o lixo

contaminado não é segregado do lixo comum (Quadro 7). A conseqüência é o ônus

financeiro para o serviço, decorrente da obrigatoriedade de coleta especial, a qual

vem realmente sendo observada (Quadro 15).

Em 44,8%, lixeiras impróprias, sem tampa ou mesmo sem qualquer

embalagem plástica (Quadro 7) são utilizadas para o acondicionamento dos

materiais sólidos contaminados, favorecendo sua exposição a vetores, como insetos

capazes de propagar microorganismos e ainda aumentando o risco de

contaminação dos profissionais de limpeza durante o transporte para a área de

armazenamento.

O armazenamento dos resíduos até o momento da coleta é comprometido

tanto pela falta de abrigo externo, em 35% das unidades (Quadro 6), como pela falta

de coletor grande, em 79,3% delas (Quadro 7). Isto facilita a dispersão do material

que tenha sido inicialmente segregado e acondicionado em sacos plásticos,

principalmente considerando-se que apenas 3,4% utilizam sacos com identificação

de material contaminado, o que favorece a mistura deste tipo de resíduo com o

comum, durante o prolongado armazenamento interno.

Ainda segundo os dados do Quadro 7, algumas unidades de sucção e/ou

cuspideira (13,8%), refletores (13,8%) e cadeiras (10,3%) apresentam-se

insatisfatórios. Estes fatores relacionam-se com maior produção de aerossóis e risco

de contaminação. O conjunto de equipamentos básicos para o atendimento ao

paciente (cadeira, dois mochos, refletor e unidade auxiliar com cuspideira e sugador)

apresenta-se em condições plenamente satisfatórias em 15 das 29 unidades. Em

41,4% das unidades, o item “mocho” foi categorizado como insuficiente, por não

estar disponível para as ACDs, sendo que, em um caso, não havia mocho para o

próprio CD.

A maioria das unidades visitadas apresenta os demais equipamentos básicos

de consultório adequados ao controle de infecção, inclusive com filtro de ar próximo

ao equipo em 51,7% dos consultórios (Quadro 7). Contudo, as ACDs não têm o

hábito de drená-lo ao final dos turnos de trabalho, comprometendo a qualidade do ar

utilizado nas pontas pelo acúmulo de umidade nas mangueiras.

Page 68: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

O Quadro 8 informa sobre o fornecimento de material de consumo.

Lembrando que foram considerados deficientes os itens categorizados como não (N)

ou insatisfatório (I), a principal deficiência foi observada na disponibilização de

barreiras descartáveis, como canudos, sacos e filmes plásticos (inadequada em

96,6% das unidades). Observe-se que estes são materiais de custo extremamente

baixo e de alta eficiência no controle de infecção (BRASIL, 2000, 2006; CDC,2003).

A seguir, registra-se a falta de solução para esterilização de materiais

termosensíveis (observada em 79,3%), a falta freqüente de guardanapo para os

usuários do serviço (75,9%) e de EPIs como avental e luvas de borracha para

lavagem de instrumental (em 96,6% e 69% das unidades) e óculos (58,6%).

Quadro 8. Disponibilidade de materiais de consumo (Ic)

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Guardanapo para o paciente 7 24,1 8 27,6 14 48,3 - -

Outras barreiras para o paciente - - 1 3,4 28 96,6 - -

Luvas de tamanho adequado para CD e ACD

26 89,7 3 10,3 - - - -

Máscaras descartáveis CD/ACD 28 96,6 1 3,4 - - - -

Gorro/touca para CD e ACD 26 89,7 2 6,9 1 3,4 - -

Avental de mangas compridas e gola fechada para CD e ACD

- - 1 3,4 28 96,6 - -

Óculos de proteção (CD e ACD) 12 41,4 13 44,8 4 13,8 - -

Avental impermeável p/ lavagem 1 3,4 - - 28 96,6 - -

Luvas de borracha para lavagem

9 31,0 - - 20 69,0 - -

Escova p/ lavagem de instrumental

20 69,0 - - 9 31,0 - -

Qualidade dos EPIs é adequada 15 51,7 - - 14 48,3

Barreiras descartáveis para os equipamentos (filme plástico)

1 3,4 9 31,0 19 65,5 - -

Caixas ou embalagens para acondicionar instrumental durante e após esterilização

16 55,2 4 13,8 9 31,0 - -

Soluções químicas

Sabão líquido 28 96,6 - - 1 3,4 - - Anti-séptico para bochecho 1 3,4 - - 28 96,6 - - Detergente enzimático para pré-lavagem

20 69,0 2 6,9 7 24,1 - -

Desinfetante para 26 89,7 - - 3 10,3 - -

Page 69: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

superfícies Solução para desinfecção interna de mangueiras

2 6,9 - - - - 27 93,1

Esterilizante para materiais termosensíveis

6 20,7 9 31,0 13 44,8 1 3,4

Page 70: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

O impacto destes dados na prática do controle de infecção será analisado

simultaneamente com os resultados de outros quadros que se referem à utilização

destes materiais.

A disponibilidade e capacitação dos recursos humanos envolvidos na prática

odontológica estão dispostos no Quadro 9. Na maioria das unidades (79,3%) pelo

menos uma das ACDs reconheceu não ser registrada no Conselho Regional de

Odontologia. Este dado não deve ser tomado como parâmetro para sua qualificação,

pois muitas afirmaram não estar registradas, apesar de terem feito o curso técnico

de qualificação, por razões financeiras, ou seja, para evitar o pagamento da taxa de

anuidade.

Por outro lado, nenhum coordenador comprovou a capacitação de seus

profissionais para o controle de infecção, seja através de curso introdutório ou de

reciclagem, nos últimos 2 anos. Como vimos até este ponto, por falta de capacitação

deixam de ser utilizados filtros de ar e sistemas e soluções disponibilizados para

desinfecção interna de mangueiras, comprometendo a otimização do serviço.

Levando-se em conta ainda a baixa adesão ao uso de EPIs (Quadro 13) e a

observação de várias atitudes contrárias à preservação da cadeia asséptica (Quadro

12), evidencia-se a necessidade de treinamento e capacitação dos profissionais,

particularmente das ACDs, para garantir maior eficiência no controle de infecção.

Na maior parte das unidades, os profissionais não têm à disposição um

manual ou cartilha com a descrição dos protocolos de controle de infecção a seguir.

Apenas em 13,8% delas há alguma informação escrita, sempre limitada às etapas

de esterilização por calor. Em um destes casos, inclusive, consta informação

incorreta, afirmando ser normal a saída de um pacote ainda úmido da autoclave.

Em mais de 60% das unidades, além de não haver informações disponíveis

para os profissionais, o processo de esterilização é feito sem supervisão. Pode-se

ainda questionar a existência de supervisão alegada por 37,9% das unidades, diante

da qualidade dos protocolos de esterilização observados. Geralmente, trata-se de

unidade onde o coordenador é graduado em enfermagem e considera-se supervisor

da esterilização, sem que esteja realmente disponível e atuante, ou mesmo,

tecnicamente capacitado para realizar esta função.

Apesar de 96,6% das unidades informarem dispor de funcionários da limpeza

nos dois turnos, isto não condiz com o observado, pois, na prática, na maioria das

unidades, a maioria dos profissionais ausenta-se bem antes do final do turno.

Page 71: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

De qualquer forma, a atuação dos funcionários da limpeza é geralmente

restrita à desinfecção terminal dos consultórios, ao final de cada turno. Estes não

costumam intervir entre os atendimentos, deixando de realizar a limpeza imediata de

superfícies contaminadas com sangue e secreções, como recomenda a literatura.

Quadro 9. Disponibilidade de recursos humanos (IIa)

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Os profissionais estão registrados nos respectivos conselhos

6 20,7 - - 23 79,3 - -

A Unidade dispõe de um profissional de limpeza para intervenções durante atendimento

28 96,6 - - 1 3,4 - -

Enfermeira supervisiona esterilização

11 37,9 - - 18 62,1 - -

As pessoas da área de saúde passaram por capacitação no controle de infecção através de curso introdutório ou de reciclagem nos últimos 2 anos

- - 2 6,9 27 93,1 - -

Os profissionais têm à disposição um manual ou cartilha com protocolos de controle de infecção a seguir

- - 4 13,8 25 86,2 - -

Os itens relacionados com a organização e funcionamento dos serviços estão

registrados no Quadro 10. Observa-se que o serviço de manutenção das autoclaves

ainda não está disponível de forma sistemática, embora alguns coordenadores

apontem para a perspectiva de um contrato de manutenção preventiva e corretiva

ser firmado em breve. Contudo, o registro dos serviços, em si, é inadequado.

Nenhum coordenador apresentou documentos específicos para os equipamentos de

esterilização, existindo apenas registros da verificação e/ou manutenção realizada

em outros equipamentos médicos da unidade, tais como nebulizador e balança

pediátrica. A falta de documentos pode restringir a responsabilização das empresas

e/ou técnicos contratados sobre a qualidade dos serviços efetuados nos

equipamentos de esterilização e, indiretamente, sobre a qualidade dos ciclos neles

realizados. O manual divulgado pela Anvisa (BRASIL, 2006) apresenta sugestões

para a implantação de um programa de manutenção preventiva, com formulários

para registro e acompanhamento das atividades e seus custos.

Page 72: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Em relação ao fluxo de instrumental entre a CME e o consultório

odontológico, desde que a unidade possua estufa e/ou autoclave em funcionamento,

as condições são consideradas satisfatórias. Nos casos em que este equipamento

localiza-se na própria sala, este item não se aplica (17,2%). Observou-se

irregularidade no fluxo de fornecimento de soluções químicas ou EPIs, em 86,2%

das unidades. As soluções são recebidas sem instruções oriundas das SER (100%).

O fluxo de atendimento é rotineiramente maior que oito pacientes por turno

em mais da metade das unidades, o que pode comprometer a limpeza e desinfecção

de superfícies entre pacientes. Este aspecto será retomado para discussão.

Quadro 10. Organização e funcionamento do serviço (IIb)

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Existe fluxo regular de material/ instrumental proveniente da Central de Esterilização

22 75,9 - - 2 6,9 5 17,2

Existe registro de manutenção das autoclaves

- - 22 75,9 3 10,4 4 13,8

Fluxo regular e mensal de EPIs e soluções químicas

4 13,8 - - 25 86,2 - -

Soluções químicas recebidas com instruções do gestor (indicações,diluição, validade)

- - - - - - 29 100

O fluxo do paciente no atendimento inclui a realização de escovação supervisionada antes da consulta com o CD

- - 2 6,9 27 93,1 - -

O CD atende, como rotina, o máximo de 8 pacientes por turno

15 51,7 - - 14 48,3 - -

O prontuário do paciente é unificado

27 93,1 - - 2 6,9 - -

Embora este quadro registre a disponibilização do prontuário unificado do

paciente nas 27 unidades onde o consultório é informatizado, o CD não costuma

acessar a ficha médica para informar-se sobre a possibilidade do paciente portar

Page 73: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

doenças infecto-contagiosas ou alguma predisposição para contraí-las (Quadro 12).

No Quadro 11 estão resumidas condições relativas à higiene e limpeza do

ambiente clínico. Segundo os coordenadores, geralmente os funcionários da limpeza

da própria unidade ficam responsáveis pela limpeza do filtro do aparelho de ar

condicionado. Na avaliação deste item, foram considerados insatisfatórios todos os

casos em que não há acompanhamento e registro deste procedimento, que possa

confirmar sua adequada realização, ou quando o próprio funcionário reconheceu

fazer a limpeza com intervalos maiores que o preconizado pela literatura, de uma

semana.

O mesmo critério foi adotado na avaliação da qualidade da água (Quadro 10).

A maioria dos coordenadores não se recorda do último boletim e nenhum dispõe do

documento para comprovação. Porém, foi relatada uma mobilização por parte das

SER para coleta de amostras, tendo algumas ACDs recebido embalagem para este

fim. Embora muitos coordenadores afirmem realizar periodicamente limpeza das

caixas de água, também não há documentos comprobatórios em relação a este

procedimento.

Ainda segundo o Quadro 11, as condições de limpeza de pisos, paredes e

equipamentos apresentaram-se adequadas em 75,8% dos consultórios Na maioria

dos casos com paredes e/ou piso com irregularidades, verificou-se limpeza

deficiente durante a coleta dos dados (5 entre 7 unidades), representando um fator

dificultador para a limpeza, como sugere a literatura. A figura 1 mostra a relação

entre estes itens.

Page 74: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Figura 1. Paredes e piso: condições estruturais e de limpeza nas unidades

20

2

4

1 2 totalmente satisfatórias

apenas limpeza deficiente

limpeza e estruturaparcialmente insatisfatórias

totalmente insatisfatórias

apenas parede ou pisoinsatisfatório

Quadro 11. Condições de higiene e limpeza do ambiente clínico (IIIa)

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Paredes, piso e equipamentos e materiais livres de pó, lixo, sujeira ou teias de aranha

22 93,1 - - 7 6,9 - -

Limpeza de pisos e paredes realizada com pano úmido e desinfetante, evitando varredura a seco

- - - - 29 100,0 - -

Último boletim (anual) do LACEN considera a água em condições de uso

- - 29 100,0 - - - -

Existe rotina e registro de limpeza e tratamento da caixa d’água a cada 6 meses

- - 29 100,0 - - - -

Existe rotina e registro de limpeza do filtro do aparelho condicionador de ar

- - 25 86,2 1 3,4 3 10,3

Uma questão importante sobre a limpeza do ambiente é a grande

possibilidade de que microorganismos acumulados sobre a poeira, provenientes de

gotículas que desidrataram, se dispersem para o ambiente quando se realiza a

varredura a seco do consultório. Apesar de ser um procedimento contra-indicado na

literatura, é realizado como rotina nas unidades, sendo apenas complementado com

a lavagem semanal do piso. A associação deste risco com outros fatores já foi

apresentada na Tabela 1.

Page 75: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

No que se refere à limitação da propagação de matéria orgânica a partir do

paciente, o Quadro 12 mostra que, normalmente, os CDs não realizam a anamnese

(20,7%) ou apenas questionam o paciente a respeito de alergias, hipertensão ou

diabetes, movidos pela preocupação com possíveis efeitos colaterais do uso de

soluções anestésicas (79,3%). Sua qualidade também pode estar sendo

comprometida pelo alto fluxo de atendimento.

No Quadro 12 registrou-se que, normalmente, o fluxo do paciente no

atendimento não inclui a escovação antes do atendimento, visto que apenas uma

das 19 unidades conta com sala para orientação de higiene bucal com escovódromo

(Quadro 6). De qualquer forma, a eficácia desta medida na redução da dispersão de

microorganismos para o meio não é estabelecida na literatura. Por outro lado, a

realização de bochecho com anti-séptico é uma medida com respaldo de diversos

órgãos (CDC, 2003), mas não é adotada, devido à falta da solução (em 28 das

unidades) ou pela falta de conhecimento de sua indicação, em um caso (Quadro 8).

Registrou-se uma limitada utilização rotineira do sugador (37,8%),

particularmente com auxílio da ACD, o que favorece a dispersão de aerossóis. Como

já foi visto nos Quadros 6 e 7, algumas causas podem ser a área do consultório e a

inadequação de alguns equipamentos, como mocho e sistema de sucção. Também

devido a problemas de funcionamento na cadeira ou no mocho do CD, a

possibilidade de regular a posição do paciente para maior controle de respingos fica

restrita, rotineiramente, a cerca de 75% das unidades). Simultaneamente,

dificuldades de visualização do campo operatório levam o profissional a aproximar-

se mais do campo operatório e dessas gotículas e aerossóis.

O trabalho em pé favorece ainda a circulação da ACD pela sala, com

conseqüente quebra da cadeia asséptica, registrada em 100% das unidades,

conforme o Quadro 12. Recordamos ainda que a falta de trabalho a quatro mãos

representa também provável comprometimento ergonômico, com menor rendimento

do trabalho. Porém, como se observa em relação a 86,2% dos CDs que, embora

trabalhem sentados na maior parte do tempo, também comprometem a cadeia

asséptica, a postura de trabalho não é o fator decisivo na dispersão de matéria

orgânica pelos próprios profissionais.

Este grave problema parece estar muito relacionado à falta de

conscientização dos profissionais, CDs e ACDs, quanto à existência de risco

biológico em suas atividades. Não foi raro observar a realização de atividades como

Page 76: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

abrir portas, acessar o computador, tocar objetos e até pessoas alheias à área do

atendimento clínico utilizando-se luvas contaminadas. Também, com tranqüilidade, a

maioria dos profissionais toca sem luvas superfícies previamente contaminadas,

como alças de refletor que não foram limpas e desinfetadas após o atendimento.

Garbin et al. (2004) relataram comprometimento da cadeia asséptica admitido

por 65% dos CDs atuantes no serviço público e por 55% dos CDs atuantes em

clínica privada, em Araçatuba-SP. Observe-se a diferença de metodologia pois, em

seu estudo, o próprio CD respondeu a um questionário escrito, enquanto estes

dados foram obtidos por observação direta do atendimento. Além disso, em seu

estudo, 35% dos profissionais de serviço público afirmaram usar sobre-luvas para

realizar atividades fora da boca, artigo não disponível nas unidades de saúde locais.

Quadro 12. Limitação da propagação de matéria orgânica a partir do paciente (IIIb)

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Na primeira consulta, o CD realiza anamnese, observa e registra os dados de saúde geral do paciente no prontuário

- - 23 79,3 6 20,7 - -

Paciente faz bochecho anti-séptico (clorexidina a 0,12%) antes do procedimento

- - - - 29 100,0 - -

Cadeira do paciente e mocho são regulados para minimizar a dispersão de spray com gotículas

22 75,9 - - 7 24,1 - -

O sistema de sucção é utilizado 11 37,9 14 48,3 4 13,8 - -

CD mantém a cadeia asséptica durante o atendimento (não toca com luvas refletor, prontuário, canetas, regulagens de cadeira/mocho; exceto se revestidos com barreiras descartáveis ou se usando sobre-luvas)

4 13,8 - - 25 86,2 - -

ACD mantém a cadeia asséptica durante o atendimento

- - - - 29 100,0 - -

O Quadro 13 resume a utilização de EPIs. Embora todos os profissionais

utilizem luvas de procedimento nas atividades clínicas, seu uso incorreto

Page 77: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

compromete gravemente a cadeia asséptica e a proteção do próprio profissional.

Observou-se que 31% dos profissionais, principalmente ACDs, fazem trocas

insuficientes, atendendo a mais de um paciente com o mesmo par, e mesmo um CD

deixou de trocar as luvas entre os atendimentos.

Grande parte dos profissionais não lava as mãos antes de calçar luvas novas

(48,3%) ou não seca as mãos corretamente (62,1%). O principal fator relacionado

com este comportamento é a falta de papel-toalha, levando o profissional a preferir

não lavar as mãos durante a troca de luva, para não ter que utilizar toalhas de pano,

as quais normalmente são utilizadas na secagem de instrumental. Outros fatores são

o acesso inadequado à pia e o alto fluxo de atendimento, além da falta de

consciência. Outros estudos apontam lavagem de mãos variando de 16 a 81%,

sendo que, quanto mais freqüente a necessidade deste procedimento durante um

processo assistencial, menor a probabilidade de sua execução (BRASIL, 2006).

A maioria dos profissionais utiliza incorretamente os EPIs, sem remover

acessórios antes de colocá-los (89,7%), fazendo uso prolongado da mesma máscara

ou circulando com jaleco e até com luvas fora do consultório, atitudes estas que

comprometem a efetividade dos EPIs.

Os outros EPIs são bastante desprezados, particularmente pelas ACDs. No

caso dos óculos e jalecos de manga longa, o principal motivo é a falta de

fornecimento (Quadro 7) mas, geralmente, as ACDs consideram desnecessário

utilizar gorro (55,2%) ou mesmo máscara (34,5%), ainda que próximo ao paciente.

Os próprios CDs, que estão diretamente expostos aos aerossóis e partículas

sólidas oriundas do campo operatório deixam de utilizar óculos (44,8%), gorro

(34,5%) e/ou jaleco de mangas longas e gola fechada (27,6%), aumentando o risco

de acidentes, além do risco de infecção cruzada. No estudo de Garbin et al. (2004),

realizado entre CDs atuantes no serviço público de Araçatuba, 45% reconheceram

não usar gorro e apenas 5% reconheceram não usar jaleco. Porém, não foi relatada

sua qualidade.

Além da falta de utilização dos EPIs (Quadro 13), observa-se ainda a

qualidade insatisfatória destes em 48,3% das unidades (Quadro 8). Este valor inclui:

máscaras com pouca capacidade de absorção ou utilizadas com umidade aparente,

sem que seja substituída; óculos sem boa visibilidade, que possa comprometer a

qualidade da proteção ou do serviço realizado; jalecos de mangas curtas, gola

aberta e tecido muito permeável.

Page 78: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

É na etapa de lavagem de instrumental que se verifica a menor utilização de

EPIs adequados. No Quadro 8 já foi mostrada a baixa disponibilização de avental e

luvas de borracha (13,4 e 31%, respectivamente). Nas 29 unidades, 18 ACDs não

utilizam máscara, 26 não utilizam luvas de borracha, apenas uma utiliza óculos e

nenhuma utiliza avental impermeável neste procedimento.

Os funcionários da limpeza utilizam luvas de borracha em 51,7% das

unidades. Dentre este, porém, não se observa a manutenção da cadeia asséptica,

sendo comum tocarem quaisquer superfícies com as mãos enluvadas.

Por falta de guardanapos (quadro 7), pacientes utilizam esta barreira em

apenas 62,1% dos atendimentos, o que aumenta o risco de contaminação das

superfícies com secreções, inclusive sangue, durante exodontias.

Page 79: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Quadro 13. Utilização de barreiras individuais (EPIs) (IIIc)

Sim Insatisfatório Não NA N % N % n % n %

Durante o atendimento, paciente utiliza:

Guardanapo

Babador descartável

Gorro/touca

18

-

-

62,1

-

-

-

-

-

-

-

-

11

29

29

37,9

100,0

100,0

-

-

-

-

-

-

No atendimento ao paciente, CDs utilizam EPIs:

Luvas

Máscaras

Óculos

Gorro/touca

Jaleco mangas longas

29

28

16

18

17

100,0

96,6

55,2

62,1

58,6

-

1

-

1

3

-

3,4

-

3,4

10,3

-

-

13

10

8

-

-

44,8

34,5

27,6

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

No atendimento ao paciente, ACDs utilizam EPIs:

Luvas

Máscaras

Óculos

Gorro/touca

Jaleco mangas longas

29

19

2

12

9

100,0

65,5

6,9

41,4

31,0

-

-

-

1

1

-

-

-

3,4

3,4

-

10

27

16

19

-

34,5

93,1

55,2

65,5

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

Antes da paramentação com EPIs, profissionais removem acessórios (anéis, relógio, brincos, etc...) 3 10,3 - - 26 89,7 - -

Antes de calçar as luvas,

lavam as mãos (água e sabão)

secam as mãos (papel toalha)

15

11

51,7

37,9

-

-

-

-

14

18

48,3

62,1

-

-

-

-

Luvas são trocadas a cada paciente 19 65,5 9 31,0 1 3,4 - -

No manuseio e lavagem de material contaminado, o funcionário responsável utiliza

Luvas de borracha

Máscara

Óculos

3

9

1

-

10,3

31,0

3,4

-

-

-

-

-

-

-

-

-

26

20

28

29

89,7

69,0

96,6

100,0

-

-

-

-

-

-

-

-

Page 80: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Avental de borracha

Funcionários utilizam luvas de borracha

na limpeza e desinfecção da sala na manipulação do lixo

15

15

51,7

51,7

-

-

-

-

14

14

48,3

48,3

-

-

-

-

Page 81: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Tabela 2. EPIs utilizados por ACDs na lavagem de instrumental

máscara Óculos

N S

Total

N Luvas N 18 8 26 S 2 - 2 Total 20 8 28 S Luvas S - 1 1 Total - 1 1

(N = não; S = sim)

Em relação à limpeza e desinfecção de artigos e superfícies entre

atendimentos, resumida no Quadro 14, o tratamento dado às canetas de alta

rotação, micromotores e contra-ângulos merece maior discussão. Já se registrou

que, embora a grande maioria destas pontas sejam autoclaváveis (Quadro 7), estes

artigos nunca foram esterilizadas por calor, nas unidades visitadas (Quadro 17).

Além do fato de 24,1% das unidades não contarem com autoclave em

funcionamento durante a pesquisa (Quadro 7), existe, a priori, a impossibilidade

decorrente do tempo demandado neste processo, visto que, normalmente, só um

conjunto de motores é disponibilizado para atender a um mínimo de 8 pacientes por

turno (quadro 10).

Infelizmente, não foram encontrados dados sobre a utilização de esterilização

de pontas em autoclave por dentistas brasileiros. Por observação ao longo da

experiência clínica, parece factível afirmar que este protocolo ainda não é

rotineiramente adotado nos serviços odontológicos, mesmo na clínica privada.

A experiência na prática clínica permite à autora observar grande adesão a

este protocolo entre CDs que atuam localmente na área de cirurgia, especialmente

em implantodontia, onde estas pontas atuam como artigos críticos, sendo utilizados

durante procedimentos invasivos, com exposição de tecidos subepiteliais e osso.

Porém, esta preocupação não parece estar estabelecida na clínica geral, que é

também a área de atuação da atenção básica em saúde bucal, onde estes artigos

são classificados como semicríticos, tendo contato apenas com mucosa íntegra.

Nestes casos, apesar da maioria dos CDs possuir autoclave em sua clínica privada,

não é comum a aquisição de pontas em número suficiente para o atendimento de

vários pacientes, até a realização do próximo ciclo de esterilização.

Page 82: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Em levantamento realizado através do site de uma revista americana de

produtos odontológicos (GOFF, 2003), mais da metade dos CDs afirmaram possuir

pelo menos dez canetas em funcionamento, enquanto 41% possuem de seis a dez

canetas. 81% dos respondentes usam autoclave comum, contra outros

equipamentos especiais para atingir sua esterilização. Segundo o levantamento,

apenas 57% dos respondentes afirmaram conhecer a legislação de seu estado,

tornando obrigatório este protocolo. 5% dos CDs o adotam apesar de achar ou saber

que não é obrigatório e o restante adota o procedimento mesmo sem saber se é

obrigatório.

Em serviços onde os recursos e o fluxo de pacientes permitem, como nos

cursos de graduação e pós-graduação da Universidade de Fortaleza, a esterilização

foi normatizada pela CCI e adotada como precaução-padrão há vários anos. Porém,

cabe um questionamento: como se exige esterilização destas pontas, enquanto se

aceita que a seringa tríplice, localizada ao seu lado e utilizada nas mesmas

condições seja apenas desinfetada?

Em estudo sobre a intensidade de contaminação de pontas de seringa tríplice,

Russo et al. (2000) submeteu à análise microbiológica cinqüenta pontas de seringa

tríplice descartáveis, sendo 30, imediatamente após a utilização em pacientes; 10,

após o uso em pacientes e a desinfecção com álcool etílico 70%, friccionado por um

minuto; e 10, sem uso, imediatamente após a abertura da embalagem. Confirmando

a informação do fabricante, as pontas estavam estéreis quando retiradas da

embalagem. Em todas as pontas usadas em pacientes, observou-se um número de

ufc/ml maior que 300, classificado pelos autores como intensa contaminação. Nas

pontas usadas e desinfetadas com álcool etílico 70% P/V, verificou-se apreciável

redução na contagem de colônias (1 a 100 ufc/ml), mas considerada pelos autores

incompatível com a segurança biológica. Com base nestes resultados, os autores

sugerem, como condição ideal, o uso de pontas descartáveis nas seringas tríplices.

Novamente, cabem questionamentos. Em primeiro lugar, a ADA exige dos

fabricantes de equipamentos odontológicos que estes sejam capazes de liberar

através das pontas, inclusive nas seringas tríplices, água contendo até 200 ufc/ml

(BRASIL, 2006; CDC, 2003). Porém, recente manual internacional considera

suficiente que seja atingido o padrão requerido para a água potável, indicada para

consumo humano, que foi estabelecido em 500 ufc/ml (CDC, 2003).

Independentemente do padrão considerado, conclui-se que a aquisição de pontas

Page 83: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

descartáveis provavelmente oneraria o serviço sem qualquer benefício para sua

qualidade, diante dos valores atingidos após sua desinfecção, no trabalho de Russo

et al. (2002).

Outro aspecto, já aventado aqui, é a falta de acompanhamento da qualidade

da água utilizada nos serviços locais (Quadro 10). A esterilização de pontas ou

mesmo sua desinfecção pode ser comprometida diante do uso de água em

condições inadequadas. Na realidade, não é suficiente analisar a água de

abastecimento da unidade ou clínica. No caso dos serviços odontológicos, amostras

devem ser obtidas diretamente das pontas, após passar pelo reservatório e

mangueiras do equipo.

Em análise microbiológica de amostras de água obtidas em seis equipos de

Taubaté-SP, três foram consideradas impróprias, atingindo mais de 5700 ufc/ml

(ARAÚJO; LOPES-SILVA, 2002), apesar de serem utilizados reservatórios

acoplados ao equipo. Segundo outro estudo, onde 72,5% de 40 amostras de água

apresentaram-se contaminadas, verificou-se diferença estatisticamente significante

entre a contaminação em reservatórios acoplados ao equipo e em reservatórios

situados dentro da caixa de comando, fixos ao chão. Por serem removíveis e até

descartáveis, os primeiros representam menor risco. A maior utilização de

reservatórios acoplados em clínicas privadas esteve associada ao fato de que

amostras obtidas no serviço público apresentaram maior contaminação (CHIBEBE;

UENO; PALLOS, 2002). O item tipo de reservatório não foi levantado neste estudo

mas, de modo geral, ainda predominam os reservatórios fixos no serviço público.

Contudo, o CDC (2003) reconhece que não há evidências epidemiológicas de

que a presença de um número substancial de bactérias nas linhas de água de

consultórios odontológicos represente um problema de saúde pública, visto que as

pesquisas não documentaram um risco mensurável de efeitos adversos à saúde dos

profissionais e pacientes. Mesmo entre pacientes imunocomprometidos, não foi

comprovado nexo causal entre infecções e a água de equipos.

A esterilização das pontas por calor (desde que sejam removíveis) vem sendo

recomendada por órgãos internacionais desde a década de 90 (CDC, 1993).

Ressalte-se esta medida é classificada na categoria IC, sendo requerida conforme

decisões federais ou estaduais. Em tópico onde trata especificamente deste

assunto, recente manual do CDC reconhece que não há evidências epidemiológicas

implicando estas pontas com a transmissão de doenças (CDC, 2003).

Page 84: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Apesar deste fato, este mesmo manual preconiza que, “para o processamento

de qualquer artigo que possa ser removido do equipo ou das linhas de água, não é

aceitável nem a desinfecção de superfícies nem a imersão em germicidas químicos,

nem o uso de gás etileno” (CDC, 2003). Contudo, mais à frente, o manual

recomenda:

Alguns componentes [...] são permanentemente ligados às linhas d’água do equipo e, embora não entrem na cavidade oral (sic), podem se tornar contaminados com fluidos orais durante o atendimento. Tais componentes, como [...] e as seringas tríplices [...] devem ser cobertos com barreiras impermeáveis que são trocadas após cada uso e, se o item tornar-se visivelmente contaminado durante o uso (sic), deve-se proceder à limpeza e desinfecção com desinfetante [...] de nível intermediário (CDC, 2003, p.30).

O manual de condutas “Controle de infecção e a prática odontológica em

tempo de aids” (BRASIL, 2000) ainda considera aceitável a substituição deste

processo pela desinfecção, se necessário, enquanto o manual divulgado pela Anvisa

(BRASIL, 2006) não faz menção específica sobre o reprocessamento dos motores,

embora recomende esterilização por autoclave para os artigos utilizados na cavidade

bucal, ressaltando que o uso de desinfetantes não assegura a eliminação de todos

os patógenos, especialmente os esporos bacterianos. Contudo, é preciso

reconhecer que o contexto atual do serviço público ainda é absolutamente

desfavorável à adesão a este protocolo. Ressalte-se que, neste estudo, 4 das 29

unidades, ou 13,8% delas, sequer apresentavam um único conjunto de motores em

funcionamento.

Diante deste contexto, deve-se priorizar a recomendação para a utilização de

barreiras descartáveis e a realização criteriosa de limpeza e desinfecção destas

pontas, buscando reduzir a presença de microorganismos e o risco de contaminação

cruzada (BRASIL, 2000). E ainda, devido à possibilidade de penetração de material

viral nas canetas, recomenda-se realizar o acionamento, por 20 a 30 segundos, das

canetas e seringas, após cada atendimento, para expulsão mecânica de possíveis

contaminantes (CDC, 2003). Neste estudo, ainda que se considerem apenas as

recomendações sobre uso de barreiras, limpeza e desinfecção, dispensando-se a

esterilização das pontas, a adesão apresentou-se deficiente. Barreiras descartáveis

são utilizadas apenas em 11 dos 29 consultórios, geralmente limitadas à alça do

refletor ou bandeja do equipo. Em apenas quatro unidades barreiras são utilizadas

nos motores e, ainda, de forma esporádica.

Page 85: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Quadro 14. Limpeza e desinfecção de artigos e superfícies (IIId)

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Os instrumentos rotatórios e seringa tríplice são envolvidos com barreiras descartáveis 1 3,4 3 10,3 25 86,2

Após cada atendimento, as barreiras tocadas pelas luvas do CD ou ACD são trocadas - - 3 10,3 8 27,6 18 62,1

Após cada atendimento, as barreiras não descartadas são desinfetadas 4 13,8 2 6,9 5 17,2 18 62,1

Instrumentos rotatórios, seringa tríplice, alças do refletor e do equipo, base do sugador e demais superfícies contaminadas são desinfetadas com álcool 70o

entre cada paciente 3 10,3 9 31,0 17 58,6 - -

Limpeza e desinfecção interna da mangueira e caneta de alta rotação com circulação de hipoclorito de sódio a 1% - - - - 2 6,9 27 93,1

Material/instrumental lavado com:

Água corrente 29 100,0 - - - - - - Sabão líquido 29 100,0 - - - - - - Escova 25 86,2 - - 4 13,8 - -

De qualquer forma, mesmo quando se utilizam barreiras, estas não são

trocadas (em 8 dos 11 casos), nem mesmo desinfetadas adequadamente (5 dos 11

casos), como mostra a Tabela 3.

De fato, a desinfecção sistemática das superfícies potencialmente

contaminadas entre pacientes só foi observada em cerca de 10% dos casos. Na

grande maioria das unidades, as áreas próximas ao campo operatório permanecem

continuamente contaminadas por gotículas, aerossóis ou pelo toque do CD com mão

enluvada. Esta condição leva à contínua quebra da cadeia asséptica, mesmo após a

troca de luvas pelos profissionais.

Observou-se ainda deficiência na lavagem de instrumental, realizada sem

utilização de escova (13,8%), apenas com água, sabão e esponja (Quadro 14), o

que também aumenta o risco de acidentes com perfurocortantes.

Page 86: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Tabela 3. Troca e desinfecção das barreiras utilizadas sobre artigos e superfícies

Desinfecção Uso de barreiras S I N Total S Troca I 1 - - 1 N - - - - Total 1 - - 1 I Troca I 3 - - 2 N - 2 5 8 Total 3 2 5 10

(N = não; S = sim; I = insatisfatório ou insuficiente)

As razões para a baixa adesão e má qualidade da realização destes

protocolos são, em alguns casos, a falta de material de consumo, como escova para

lavagem, soluções desinfetantes (10,3%) ou gaze para realizar a desinfecção por

fricção (Quadro 8). O fluxo exacerbado de pacientes também pode restringir a

desinfecção entre os atendimentos, visto que quase metade das unidades costuma

receber mais de oito pacientes por turno (Quadro 10).

Neste ponto, contudo, cabe uma ponderação sobre a atuação dos

profissionais e a organização dos serviços de atenção básica em saúde bucal,

avaliados neste estudo. É facilmente perceptível a falta de cumprimento dos horários

regulares de atendimento, dentro das unidades. Muitas vezes, mesmo quando se

atende entre 10 e 15 pacientes, o serviço é encerrado ainda na metade do turno. Em

se chegando à unidade no meio de um turno, muitas vezes não se encontra mais o

CD nem a ACD (e não por estarem em campo, realizando atividades previstas no

PSF), e mesmo o funcionário encarregado da limpeza poderá não ser encontrado.

O cumprimento dos horários fora previsto como variável para as condições de

controle de infecção apenas para os profissionais de limpeza, mas há fortes

evidências de que esta situação leva os profissionais a minimizarem os cuidados

com os protocolos de biossegurança que, afinal, demandam tempo para sua

realização. As causas do descumprimento de horário podem passar pela

insatisfação dos profissionais com a remuneração ou com as próprias condições

adversas de trabalho e não são objeto deste estudo. Contudo, a observação e

análise realizadas permitem concluir que este fator afeta negativamente a qualidade

do serviço prestado, especificamente no que se refere ao controle de infecção

cruzada.

Page 87: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

O Quadro 15 resume as condições relacionadas com o descarte de resíduos.

A coleta seletiva de resíduos sólidos contaminados está disponível, mas, como já foi

avaliado, sua segregação e armazenamento podem ser comprometidos por falta de

lixeira com pedal, saco plástico com identificação (96,6%), coletor grande (79,3%) e

abrigo externo (37,9%). A falta de conhecimento sobre os resíduos, como EPIs, que

não deveriam ser considerados “lixo hospitalar” gera maior custo ao serviço.

A maior parte das unidades dispõe de coletores próprios para o descarte de

material perfurocortante (82,85). Nos casos restantes, sua ausência (3,4%) ou sua

improvisação (13,9%), inclusive em garrafas plásticas de bocal estreito, além do

manuseio incorreto de agulhas (62,1%), predispõem à ocorrência de acidentes.

Quadro 15. Descarte de resíduos (IIIe)

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Agulhas são desprezadas sem reencapar, removidas da seringa com pinça ou alicate 11 37,9 - - 18 62,1 - -

Material perfurocortante descartado em coletores de paredes rígidas 24 82,8 4 13,8 1 3,4 - -

Coletor de perfurocortantes lacrado e desprezado ao atingir 2/3 volume 24 82,8 4 13,8 - - 1 3,4

Lixo contaminado descartado em sacos com identificação 1 3,4 - - 28 96,6 - -

Lixo contaminado reunido em coletor grande com saco plástico 6 20,7 - - 23 79,3 - -

Lixo contaminado mantido em abrigo externo até encaminhamento para coleta especial (disponível e atuante?) 18 62,1 - - 11 37,9 - -

O risco de infecção ocupacional por acidente envolvendo

material/instrumental potencialmente contaminado assume maiores proporções

diante da constatação de que, dentre as ACDs, poucas reconhecem o protocolo pós-

exposição acidental, no que se refere à limpeza (17,2%) e desinfecção (6,9%) do

Page 88: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

ferimento, assim como à necessidade de informar os acidentes de trabalho e de

procurar atendimento especializado para avaliação da necessidade de profilaxia .

Em estudo realizado com 172 acadêmicos cursando 3º.,4º. ou 5º. ano de

odontologia no interior do Paraná, 70,9% afirmaram ter sofrido acidente com material

potencialmente contaminado, numa média de 2,6 acidentes por aluno, afetando

principalmente olhos e mãos. A maioria dos acidentes envolveu brocas ou agulhas,

durante o procedimento ou no momento da limpeza ou descarte (RIBEIRO, 2005).

Este parâmetro sugere que, também neste serviço, a ocorrência de acidentes atinja

proporções indesejáveis, particularmente diante de alguns fatores já observados,

como a realização da limpeza de instrumental com esponja e/ou sem utilização de

EPIs como óculos e luvas de borracha. Esta análise aponta para a necessidade de

capacitação dos profissionais de saúde em relação aos acidentes.

Quadro 16. Protocolo pós-acidentes com material potencialmente contaminado

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Em caso de acidente com material contaminado, lava a área afetada com água e sabão, sem manipulação excessiva

5 17,2 - - 24 82,8 - -

Aplica solução anti-séptica (iodo povidona ou clorexidina a 2%) 2 6,9 - - 27 93,1 - -

Preenche formulário de acidente de trabalho e encaminha-se a atendimento especializado

2 6,9 - - 27 93,1 - -

Embora os dados sobre imunização dos CDs, ACDs e profissionais da limpeza

baseiem-se apenas no relato dos profissionais, sem comprovação documental,

sugerem que esta forma de proteção individual ainda pode ser otimizada. As

menores taxas de vacinação encontram-se entre os profissionais de limpeza,

particularmente em relação à hepatite B, pois apenas 39% recordam-se de ter se

submetido ao esquema, contra 58,6% das ACDs e 89% dos CDs (Figura 2). Com

base em diversos estudos que mostram baixa adesão ao esquema completo de três

doses, com intervalos de 30 e 180 dias após a primeira dose, recomenda-se realizar

a vacinação no próprio local de trabalho (MELERE, 2003), sendo ainda

Page 89: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Figura 2. Taxa de vacinação relatada pelos profissionais de saúde

89

58,6

39

100

86,2 82,6

94,589,7

74

0102030405060708090

100

anti-HBV BCG anti-tétano

CD ACD LIMPEZA

obrigatório seu acompanhamento e registro pelo empregador (BRASIL, 2005).

O Quadro 17 apresenta as condições relacionadas à esterilização de artigos.

Um dos pontos que mais chama atenção é a má qualidade do reprocessamento de

materiais termosensíveis, como saca-brocas e escovas utilizadas em profilaxias.

Mesmo quando se utiliza imersão em solução, sua esterilização pode ser

considerada insatisfatória (96,4%), devido à seleção inadequada da solução química

ou, principalmente, à falta de observação do tempo mínimo de imersão. A razão para

a reutilização precoce, segundo as ACDs, é a falta de material suficiente para a

jornada de trabalho subseqüente (48,3%) e de solução esterilizante (75,8%), mas

também se verificou falta de informação a respeito do assunto.

Foram feitos alguns cruzamentos para analisar as condições em que ocorre a

esterilização por calor, em estufa e autoclave. Associando-se a disponibilidade de

termômetro de bulbo (quadro 7) à sua utilização no monitoramento externo dos

ciclos de esterilização (quadro 17) realizados em estufa, observou-se que, em cinco

unidades, não é possível monitorar o ciclo pela falta deste instrumento. Por outro

lado, uma das unidades dispõe de um termômetro, embora não necessite dele, já

que sua estufa está fora de uso. Ainda, três unidades dispõem dele, mas os

funcionários encarregados não o utilizam, baseando-se apenas no tempo, no

termostato ou na iluminação do painel da estufa para acompanhar o ciclo (Tabela 4).

Os dados acima revelam a falta de capacitação dos funcionários a respeito

Page 90: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

dos processos de esterilização química e física e/ou falta de consciência de sua

importância no controle de infecção cruzada, comprometendo a eficiência e a

otimização do serviço, neste aspecto.

Quadro 17. Esterilização de artigos (IIIg)

Sim Insatisfatório Não NA n % n % n % n %

Esteriliza pontas de alta e baixa rotação entre os atendimentos

29 100

Na estufa, o material ou instrumental é mantido a 160oC por 2 horas ou 170oC por 1h

4 13,8 2 6,9 10 34,5 13 44,8

A temperatura da estufa é monitorada por termômetro externo, de bulbo

8 27,6 - - 8 27,6 13 44,8

Durante todo o ciclo, a estufa é mantida fechada

14 48,3 - - 2 6,9 13 44,8

Na autoclave, o material ou instrumental é mantido a 121oC por 30 minutos, sob pressão de 1,5 atm

4 13,8 13 44,8 5 17,2 7 24,1

Os pacotes de material ou instrumental saem livres de umidade da autoclave

17 58,6 - - 5 17,2 7 24,1

Existe registro semanal do teste biológico para autoclave

- - - - 22 75,9 7 24,1

Faz-se monitoramento químico do processo de esterilização em autoclave (fita-teste ou semelhante)

21 72,4 1 3,4 1 3,4 6 20,7

Os pacotes estéreis são identificados com indicação do material, data da esterilização, prazo de validade e rubrica do funcionário responsável

- - 16 55,2 8 27,6 5 17,2

Brocas, saca-brocas e outros materiais termosensíveis passam por ciclo completo de esterilização química (imersão em glutaraldeído a 2% por 10 horas, em recipiente à parte) antes da reutilização

- - - - 28 96,6 1 3,4

Page 91: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Tabela 4. Monitoramento externo do ciclo de esterilização com uso de termômetro

Monitoramento externo do ciclo de esterilização

NA S N Total

NA 11 - - 11

N 1 - 5 6 Termômetro para estufa

S 1 8 3 12

Total 13 8 8 29

(N = não; S = sim; I = insatisfatório ou insuficiente; NA = não se aplica)

A partir da Tabela 5, conclui-se que, das oito unidades que dispõem de

termômetro e o utilizam, em apenas metade chega-se a confirmar a realização

correta do ciclo de esterilização, o que representa apenas 4 das 16 unidades que

atualmente fazem uso de estufa.

Além do desconhecimento sobre o ciclo a ser seguido, este se torna

comprometido pelo funcionamento deficiente do próprio equipamento em 6 das

unidades.

Tabela 5. Qualidade do ciclo de esterilização segundo estufa e monitoramento externo

Monitoramento externo Realização do ciclo de esterilização NA N S Total NA

Estufa

NA 11 - - 11

N 2 - - 2 Total 13 - - 13 I Estufa I - - 1 1 S - 1 - 1 Total - 1 1 2 N Estufa I - 4 1 5 S - 3 2 5 Total - 7 3 10 S Estufa S - - 4 4 Total - - 4 4

(N = não; S = sim; I = insatisfatório ou insuficiente; NA = não se aplica)

A Tabela 6 apresenta as condições relacionadas com a utilização de

autoclaves, associando dados já mostrados no quadro 7, referentes à qualidade do

equipamento em si, com a realização de ciclos dentro dos parâmetros preconizados

Page 92: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

na literatura. Conclui-se que em apenas 5 das 7 unidades que dispõem de

equipamentos satisfatórios a realização correta do ciclo foi comprovada, o que

representa uma condição possivelmente inadequada em todas as outras 17

unidades que esterilizam seu instrumental por calor sob pressão.

Tabela 6. Ciclo de esterilização segundo as condições da autoclave

Ciclo autoclave

NA S I N Total

NA 4 - - - 4

N 3 - - - 3

Autoclave

I - 2 6 7 15

S - 5 2 - 7

Total 7 7 8 7 29

(N = não; S = sim; I = insatisfatório ou insuficiente; NA = não se aplica)

É importante lembrar que, nas Tabelas 5 e 6, analisou-se a realização do

ciclo, no que se refere aos parâmetros de tempo e temperatura. Porém, dentre as

unidades onde este foi considerado satisfatório, ainda podem se encontrar ciclos

não eficazes, ou seja, onde não foram eliminados todos os microorganismos,

inclusive os esporos. Um fator que sugere a contaminação do conteúdo de um

pacote é a presença de umidade sobre ele, ao final do ciclo de esterilização em

autoclave. Esta situação foi observada em 5 autoclaves, inclusive em uma onde o

ciclo foi anteriormente classificado como satisfatório (Tabela7).

Tabela 7. Aspecto do pacote após ciclo de esterilização

Ciclo de esterilização

I N NA S Total

NA 2 2 0 1 5

N 0 0 7 0 7 Pacote seco ao final do ciclo

S 4 7 0 6 17

Total 13 5 7 4 29

(N = não; S = sim; I = insatisfatório ou insuficiente; NA = não se aplica)

Page 93: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Enquanto a fita-teste é um teste químico capaz de comprovar que o

instrumental foi submetido aos parâmetros mínimos de tempo e temperatura, o

método adequado para verificar a efetividade do processo de esterilização, seja em

estufa ou autoclave, é o teste biológico, recomendado para uso com periodicidade

semanal.

Porém, não há qualquer registro deste tipo de monitoramento, nem como

rotina por parte da unidade, nem para verificar o funcionamento da autoclave após

eventuais serviços de manutenção (quadro 17). Em algumas unidades, os

profissionais sequer conhecem o teste ou sua forma de utilização.

Esta análise feita em torno do reprocessamento de instrumental por

esterilização traz uma boa representatividade de como diversos fatores modulam a

qualidade do serviço, comprometendo-o em um ou mais de seus atributos,

particularmente em sua efetividade, eficiência e otimização.

De fato, inúmeros fatores devem ser avaliados e, se necessário, modificados,

somente para que o serviço disponha de um fluxo contínuo de instrumentais,

comprovadamente livres de patógenos nocivos à saúde do paciente, obtidos dentro

de condições ideais de racionalização de tempo e custo financeiro, através da

intervenção de profissionais sem que estes tenham sido expostos a riscos evitáveis

ou de graves conseqüências.

Dentre os fatores que modulam a qualidade do serviço no que se refere a

esta intervenção (a esterilização de artigos para controle de infecção cruzada), foram

avaliados ao longo deste estudo diversos fatores estruturais, como a disponibilização

de CME, armários, caixas, materiais de consumo como escova para lavagem, EPIs,

etc..., além de equipamentos e recursos humanos capacitados.

Foram também avaliados elementos representativos do processo, que

envolvem a observação de técnicas de lavagem e dos protocolos de esterilização,

de seu monitoramento com teste biológico e das formas de apresentação e

estocagem dos pacotes com instrumental estéril.

A estes, somam-se elementos representativos dos resultados, aqueles que

mostrem a adesão do serviço às recomendações e exigências técnicas feitas

anteriormente, inclusive com a incorporação de programas de controle e garantia de

qualidade, a disponibilização de dados através de registros de manutenção de

equipamentos, boletins de qualidade da água, cartões de vacinação dos

profissionais (EDUARDO, 1998).

Page 94: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Percebe-se, portanto, a amplitude deste tipo de avaliação e, paralelamente,

as grandes possibilidades relativas à gestão do risco biológico. De fato, para cada

recomendação ou normatização voltada para o controle de infecção, muitas das

variáveis aqui analisadas poderão ser modificadas, no sentido de melhorar a

qualidade do serviço oferecido nas unidades de saúde do município.

Page 95: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

6. CONCLUSÕES

Page 96: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

6. CONCLUSÕES

A partir deste estudo, chegou-se ao seguinte diagnóstico a respeito das

condições de controle de infecção nas unidades de saúde de atenção básica do

município de Fortaleza:

o Em termos de estrutura física das unidades de saúde, as principais

deficiências foram relacionadas a: Central de Material e Esterilização (CME)

(93,1%) e pia para lavagem de instrumental (56,2%);

o A proteção individual dos profissionais de saúde e a manutenção da cadeia

asséptica são comprometidas pela baixa adesão dos profissionais ao uso de

EPIs, pelo uso inadequado ou pela baixa qualidade destes e, ainda, pela não

observação da etapa de higiene das mãos (48,3%);

o A manutenção da cadeia asséptica é particularmente comprometida pela não

observação dos protocolos de limpeza e desinfecção química de artigos e

superfícies entre os atendimentos e está relacionada com a falta de material

de consumo, como barreiras descartáveis para superfícies, papel-toalha e

EPIs;

o o reprocessamento de artigos através de esterilização por calor é deficiente,

sendo sua qualidade prejudicada pelas condições dos equipamentos (48,3%

sem estufa nem autoclave satisfatória), indisponibilidade de teste biológico

(100%) e de termômetro para estufas (39%) e falta de observação dos

parâmetros técnicos de realização do ciclo;

o a observação dos parâmetros técnicos de limpeza, desinfecção de artigos e

superfícies e esterilização pelos profissionais é comprometida pela falta de

instruções escritas no local dos procedimentos, de programas de capacitação

dos profissionais para o controle de infecção (100%) e de supervisão do

processo de esterilização por enfermeira (62,1%), além da falta de materiais

de consumo;

Page 97: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

o a coleta especial de resíduos potencialmente contaminados é observada em

100% das unidades, mas sua otimização é comprometida pela falta de lixeiras

para segregação (48,3%), de embalagens plásticas identificadas (96,6%) e de

coletores grandes (79,3%), além de abrigo externo (34,5%);

o a efetividade do controle de infecção ocupacional é comprometida por baixas

taxas de vacinação dos profissionais, deficiências na prevenção de acidentes

com perfurocortantes e desconhecimento do protocolo pós-acidente

A realização deste estudo evidenciou a necessidade de que se planejem

ações para intervir nesta realidade, permitindo a sugestão dos seguintes

encaminhamentos:

o No que se refere à adequação de estrutura física, equipamentos e materiais,

priorizar a instalação de CME e de abrigo externo para resíduos, a adequação

de estufas e autoclaves e a oferta de soluções desinfetantes, testes biológicos

e EPIs de boa qualidade

o Implantação de Comissões de Controle de Infecção (CCI) e de um Programa

de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) nas unidades de saúde

o Oferta imediata aos profissionais de saúde de um programa de treinamento,

capacitação e sensibilização para o controle de infecção, seguido de

atualizações anuais

o Disponibilização de um manual e/ou de instruções escritas a respeito das

precauções-padrão

o Estabelecer registros básicos que favorecem o acompanhamento da prática

do controle de infecção, incluindo boletins de avaliação da água do equipo,

registros de limpeza de caixas d’água e aparelhos condicionadores de ar,

manutenção de equipamentos, monitoramento da esterilização por calor,

situação imunológica dos profissionais, fluxo de materiais entre a CME e o

consultório odontológico

o Adoção de um programa de avaliação permanente do serviço de saúde, no

que se refere ao controle de infecção.

Page 98: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Considera-se como limitação deste estudo o reduzido número amostral,

sendo interessante sua ampliação para todas as unidades de saúde de atenção

básica em saúde bucal do município. E ainda, o viés da mudança de comportamento

por parte dos profissionais de saúde face à presença da pesquisadora ou da coleta

de alguns dados sem a oportunidade de observação direta ou de análise

documental, podendo gerar informações imprecisas.

Apresentaram-se como dificuldades para sua realização o amplo processo de

adequação de estrutura física implementado pela gestão municipal nos meses

próximos ao período de coleta de dados (janeiro de 2006), que levou à suspensão

temporária do atendimento em diversas unidades de saúde, além da

indisponibilidade de documentação relacionada com alguns itens investigados nas

unidades de saúde.

O estudo conduziu a um diagnóstico inicial da questão do controle de infecção

no serviço analisado, ensejando a perspectiva de novas e mais completas

abordagens sobre o tema.

Page 99: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

REFERÊNCIAS1

1 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6023:2002 – Informação e documentação –

referências – elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

Page 100: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA. Informes técnicos

institucionais. Revista de Saúde Pública, v.38, n.3, p.475-8, 2004. Disponível em

<www.fsp.usp.br/rsp >. Acesso em 01 de outubro de 2005.

ANDRADE, L.M.; HORTA, H.G.P. A progressão da tuberculose: um alerta para

profissionais de saúde oral. Revista do CROMG, v.6, n.2, p.113-7, 2000.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 10520:2002 –

informação e documentação – citações em documentos – apresentação. Rio de

Janeiro, 2002. Disponível em <www.abnt.org.br>. Acesso em 10 de dezembro de

2005.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6023:2002 –

informação e documentação – referências – elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

Disponível em <www.abnt.org.br>. Acesso em 10 de dezembro de 2005.

BARROS, S.G.; CHAVES, S.C.L. A utilização do Sistema de Informações

Ambulatoriais (SAI-SUS) como instrumento para caracterização das ações de saúde

bucal. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v.12, n.1, p.41-51, 2003.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Serviços

Odontológicos: prevenção e controle de riscos. Brasília: Ministério da Saúde,

2006. 156 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação

Nacional de DST / AIDS. Controle de infecção e a prática odontológica em

tempo de aids: manual de condutas. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. 118p.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora (NR) 32 -

Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde. Portaria MTE n.º 485, de 11

de Novembro de 2005. DOU, Brasília, DF, 16/11/05 – Seção 1. Disponível em

<www.mte.gov.br/empregador/segsau/legislacao/Normas/download/NR32.pdf>

Page 101: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Acesso em 15 de janeiro de 2006.

BRASIL. Secretaria de segurança e saúde no trabalho. Norma regulamentadora

(NR) 9 - Programa de prevenção de riscos ambientais – PPRA. Portaria SST n.º 56,

de 27 de outubro de 1998. Disponível em

<www.mte.gov.br/empregador/segsau/ComissoesTri/ctpp/oquee/conteudo/NR9.pdf>

Acesso em 15 de outubro de 2005.

CEARÁ. Secretaria da Saúde do Estado. Metodologia de melhoria da qualidade

da atenção à saúde: instrumento de melhoria do desempenho. 2. ed. Fortaleza:

SESA, 2005. 81p. (Série Organização do processo de trabalho de equipe de atenção

primária à saúde. Instrumento de avaliação e supervisão, n.2)

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION – CDC. Recommended

infection-control practices for dentistry - 1993. MMWR Morb Mortal Wkly Rep,

Atlanta, v.42, (RR08), mai.1993.

_____. Guidelines for infection control in dental health-care settings - 2003. MMWR

Morb Mortal Wkly Rep, Atlanta, v.19, n.52, (RR17), p.12-16, dez. 2003.

CHIBEBE, P.C.de A.; UENO, M.; PALLOS, D. Biossegurança: avaliação da

contaminação da água de equipamentos odontológicos. Disponível em

<www.unitau.br/prppg/publica/biocienc/downloads/biosseguranca-N1-2002.pdf>

Acesso em 20 de outubro de 2005.

DONABEDIAN, A. The seven pillars of quallity. Arch Pathol Lab Med V.114, p.1115-

18, 1990.

EDUARDO, Maria Bernadete de P. Vigilância Sanitária, volume 8. São Paulo:

Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998. 503p. (Série

Saúde & Cidadania).

FERNANDES, A.T. Infecção hospitalar e suas interfaces na área da saúde. São

Paulo: Atheneu, 2000. 173p.

GARBIN, A.J.I. et al. Biosecurity in public and private offices. J Appl Oral Sci, v.13,

Page 102: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

n.2, p.163-6, 2005.

GARBIN, C.A.S. et al. A importância da biossegurança para o cirurgião-dentista. J

Bras Clin Odontol Int, v.8, n.45, p.216-21, 2004.

GARCIA, L. P. ; ZANETTI-RAMOS, B.G. Gerenciamento dos resíduos de

serviços de saúde: uma questão de biossegurança. Cad Saúde Pública, Rio de

Janeiro, v.20, n.3., maio/jun. 2004.

GARCIA, R.S. Verificação do conhecimento sobre hepatite B dos cirurgiões e

acadêmicos de odontologia. RGO, v.50, n.1, p.17-20, 2002.

GOFF, S. Handpiece high and lows. Disponível em

<www.dentalproducts.net/xml/display/asp?file=1459> Acesso: 10 de janeiro de 2006.

GONÇALVES, A.C. dos S. et al. Biossegurança do exercício da odontologia. Ver

pos grad, v.3, n.3, p.242-51, 1996.

GUIMARÃES Jr., J. Biossegurança e Controle de Infecção Cruzada

em Consultórios Odontológicos. São Paulo: Livraria e Editora Santos, 2001. 535p.

HARREL, S.K.; MOLINARI, J. Aerosols and splatter in dentistry. JADA, v.135, abr.

2004.

JORGE, A.O.C. Princípios de biossegurança em odontologia. Rev biociênc

Taubaté, v.8, n.1, p.7-17, 2002.

KOHN, W.G. et al. Guidelines for infection control in dental health care settings-2003.

JADA, v.135, jan. 2004.

MELERE, R. at al. Aderência vacinal do esquema multidoses contra o vírus da

hepatite B em profissionais da área da saúde. Arquivos médicos; v.6, n.1, p.17-23,

2003.

MOUSSATHÉ, N. A cura da hepatite? Ciência Hoje, v.32, n.188, p.14-9, 2002.

PAULA, N.V.K. Diagnóstico de biossegurança em clínica odontológica da

Universidade Paranaense – UNIPAR. Florianópolis, 2003. 103 fls. Dissertação de

Page 103: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, 2003.

PERNAMBUCO. SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE. Manual de biossegurança

no atendimento odontológico. Recife: Divisão Estadual de Saúde Bucal de

Pernambuco, 2001. 126p.

RABAHI, M.F; ALMEIDA NETTO, J.C. Tuberculose: risco ocupacional em

profissionais de saúde. Revista de Patologia Tropical, v.30, n.1, p.01-08, 2001.

RIBEIRO, P.V. Acidentes com material potencialmente contaminado em alunos

de um curso de odontologia do interior do estado do Paraná. Dissertação

(Mestrado em Enfermagem) – Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, 2005.

RODRIGUES, M.P. et al. Os cirurgiões-dentistas e as representações sociais da

Aids. Ciência & Saúde Coletiva; v.10, n.2, p.463-72, 2005.

RODRIGUES, V.C. Hepatite B no município de Ribeirão Preto (SP): um estudo

envolvendo cirurgiões-dentistas e auxiliares odontológicos. Ribeirão Preto,

2002. 85 p. Dissertação de mestrado em Medicina Social. Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo.

ROUQUAYROL, Maria Zélia; ALMEIDA FILHO, N. Elementos de metodologia

epidemiológica. In:_____. Epidemiologia e Saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: MEDSI;

2003. 149p.

RUSSO, E.M.A. et al. Avaliação da intensidade de contaminação de pontas de

seringa tríplice. Pesqui Odontol Bras, São Paulo, v.14, n.3, p. 243-7, 2000.

SANTORO, A. Bomba relógio. Revista Superinteressante, v.61, n.5, 2004.

STEFANI, Christine M.; ARAÚJO, Dilene M.; ALBUQUERQUE, Sandra Helena C.

Normas e rotinas para o atendimento clínico no curso de odontologia da

UNIFOR. Fortaleza: Universidade de Fortaleza. 2004. 82p.

THOMAZINI, Elza M. Biossegurança – controle de infecção cruzada na prática

odontológica: manual de condutas. Piracicaba, SP: FOP/UNICAMP, 2004. 47p.

ZARDETTO, C.G.D.C.; GUARÉ, R.O.; CIAMPONI, A.L. Biossegurança:

Page 104: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

conhecimento do cirurgião-dentista sobre esterilização do instrumental clínico. Rev

Pos grad, v.6, n.3, p.238-44, 1999.

Page 105: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

ANEXOS

Page 106: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

ANEXO I

INSTRUMENTO DE DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO

DO CONTROLE DE INFECÇÃO EM SERVIÇO DE SAÚDE BUCAL

Unidade de saúde: ................................................................ Regional: ......... Data da visita: / / Aplicador (a): .................................................................................................... • Para cada item, selecionar como resposta uma das opções: N = não I = insatisfatório ou inadequado S = sim NA = não se aplica ÁREA I: RECURSOS FÍSICOS E MATERIAIS Área Ia - Critério observado: estrutura física A unidade de saúde dispõe de consultório odontológico estruturado adequadamente para oferecer serviços de atenção primária, preservando o controle de infecção.

Áre

a Ib -

Critério observ

ado:

artigos

e equipamento

s A

unidade de

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS • Consultório de saúde bucal com área

mínima de 9 m2 • Sala para orientação de higiene bucal,

com escovódromo • Paredes lisas pintadas com tinta lavável

ou azulejo • Piso liso • Ventilação natural ou ventiladores • Aparelho condicionador de ar • Pia com torneira e água corrente • Pia para lavagem de instrumental • Armários e/ou prateleiras para guarda

de materiais em geral • Armários e/ou prateleiras para guarda

de materiais estéreis • Dispõe de Central de Material e

Esterilização (CME) • Abrigo externo para resíduos

Page 107: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

saúde dispõe de consultório odontológico com artigos e equipamentos em condições adequadas de uso para oferecer serviços de atenção primária, preservando o controle de infecção.

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS • Cadeira odontológica com regulagens

de altura • Mocho odontológico para CD e ACD,

com regulagens de altura • Refletor com intensidade de luz

considerada satisfatória pelo CD • Unidade auxiliar com sistema de sucção • Filtro de ar próximo ao equipo • Equipo com sistema de limpeza e

desinfecção interna • Caneta de alta rotação autoclavável • Micromotor autoclavável • Contra-ângulo autoclavável • Estufa com termostato, limpa e sem

ferrugem • Termômetro de bulbo para aferição

externa da estufa, numerado até 250oC • Autoclave com termostato e manômetro

em funcionamento, limpa e sem ferrugem

• Existe instrumental em quantidade suficiente para manutenção do atendimento até o próximo protocolo de esterilização

• Recipiente para lixo comum com saco plástico

• Lixeira com tampa acionável por pedal, com saco plástico identificado para lixo contaminado

• Coletores de paredes rígidas para material pérfuro-cortante (identificado)

o em número suficiente o próximo ao local do uso

• Coletor grande com saco plástico para lixo contaminado

Page 108: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Área Ic - Critério observado: materiais de consumo A Unidade de Saúde dispõe de materiais de consumo próprios para o controle de infecção em quantidade e qualidade suficiente e os utiliza adequadamente

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS • Guardanapo para o paciente • Outras barreiras para o paciente (citar) • Luvas de tamanho adequado para CD e

ACD • Máscaras descartáveis para CD e ACD • Gorro/touca para CD e ACD • Avental de mangas compridas e gola

fechada para CD e ACD • Óculos de proteção para CD e ACD • Avental impermeável para limpeza • Luvas de borracha para limpeza • Escova para lavagem de instrumental • A qualidade dos EPIs atende às

necessidades • Barreiras descartáveis para os

equipamentos (saco ou filme plástico) • Caixas ou embalagens para

acondicionar instrumental durante e após esterilização

• Soluções químicas - Sabão líquido - Anti-séptico para bochecho - Detergente enzimático para pré-lavagem - Desinfetante para superfícies - Solução para desinfecção interna de mangueiras e canetas de alta rotação - Esterilizante para materiais termosensíveis

Page 109: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

ÁREA II: GESTÃO Área IIa - Critério observado: recursos humanos A Unidade de Saúde dispõe de recursos humanos suficientes e capacitados, para oferecer serviços de atenção primária preservando o controle de infecção.

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS

• A unidade atua no modelo do PSF, com Equipe de Saúde Bucal cadastrada

• Compõem a Equipe de Saúde Bucal o Um dentista o Um ACD o Um THD

• Os profissionais estão registrados nos respectivos conselhos

• A Unidade dispõe de um profissional de limpeza para intervenções durante o turno de atendimento

• Enfermeira supervisiona esterilização (caso disponha de CME)

• As pessoas da área de saúde passaram por capacitação no controle de infecção através de curso introdutório ou de reciclagem nos últimos 2 anos

• Os profissionais têm à disposição um manual ou cartilha com protocolos de controle de infecção a seguir

Page 110: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Área IIb - Critério observado: organização e funcionamento dos serviços A organização e funcionamento dos serviços de atenção primária ao usuário na Unidade de Saúde favorecem o controle de infecção

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS

• Existe registro de manutenção das autoclaves

• Existe fluxo regular de material/ instrumental proveniente da Central de Esterilização

• A Unidade recebe materiais como EPIs e soluções químicas utilizadas no controle de infecção com fluxo regular e mensal

• A Unidade recebe as soluções químicas utilizadas no controle de infecção com instruções padronizadas pelo gestor (indicações, diluição, validade)

• O CD atende, como rotina, o máximo de 8 pacientes por turno

• O fluxo do paciente no atendimento inclui a realização de escovação supervisionada antes de cada consulta com o CD

• O paciente é orientado a trazer sua escova de dente a cada consulta

• O prontuário do paciente é unificado

Page 111: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

ÁREA III: PROTOCOLOS DE BIOSSEGURANÇA Área IIIa - Critério observado: limpeza e higiene do consultório A Unidade de Saúde controla a qualidade da água utilizada no consultório odontológico e apresenta-o em bom estado de higiene e limpeza

Áre

a IIIb

- Critério observ

ado:

limitaç

ão da propagação de matéria orgânica a partir do paciente

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS • Paredes, piso e equipamentos e

materiais livres de pó, lixo, sujeira ou teias de aranha

• Limpeza de pisos e paredes realizada com pano úmido e desinfetante, evitando varredura a seco

• Último boletim (anual) do LACEN considera a água em condições de uso

• Existe rotina e registro de limpeza e tratamento da caixa d’água a cada 6 meses

• Existe rotina e registro de limpeza do filtro do aparelho condicionador de ar

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS • Na primeira consulta, o CD realiza

anamnese, observa e registra os dados de saúde geral do paciente no prontuário

• Paciente faz bochecho anti-séptico (clorexidina a 0,12%) antes do procedimento

• Cadeira do paciente e mocho são regulados para minimizar a dispersão de spray com gotículas

• O sistema de sucção é utilizado • CD mantém a cadeia asséptica durante

o atendimento (não toca com luvas refletor, prontuário, canetas, regulagens de cadeira/mocho; exceto se revestidos com barreiras descartáveis ou se usando sobre-luvas)

• ACD mantém a cadeia asséptica durante o atendimento

Page 112: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Área IIIc - Critério observado: uso de EPIs Os protocolos de controle de infecção são observados como rotina nos serviços de atenção primária em saúde bucal, no que se refere ao uso de barreiras descartáveis pelos profissionais, paciente e superfícies

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS • Durante o atendimento, paciente utiliza:

- Guardanapo - Babador descartável - Gorro/touca

• No atendimento ao paciente, CDs e ACDs utilizam EPIs:

- Luvas - Máscaras - Óculos - Gorro/touca - Jaleco de mangas longas

• Antes da paramentação com EPIs, profissionais removem acessórios (anéis, relógio, brincos, etc..)

• Antes de calçar as luvas, os profissionais:

- lavam as mãos com água e sabão - secam as mãos com papel toalha • As luvas são trocadas a cada paciente • No manuseio e lavagem de material

contaminado, o funcionário responsável utiliza

- luvas de borracha - máscara - óculos - avental impermeável

• Funcionários utilizam luvas de borracha - na limpeza e desinfecção da sala - na manipulação do lixo

Page 113: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Área IIId - Critério observado: limpeza e desinfecção de artigos e superfícies (IIId) Os protocolos de controle de infecção são observados como rotina nos serviços de atenção primária em saúde bucal, no que se refere à limpeza, lavagem e desinfecção de materiais, instrumentais e superfícies após cada atendimento

Áre

a IIIe

- Critério observ

ado:

descart

e de

resíduos Are

s IIIf - Critério observ

ado:

manej

o de aci

dentes env

olvendo material/instrumental potencialmente contaminado Os protocolos de controle de infecção são conhecidos e observados em caso de acidentes com material/instrumental perfurocortante contaminado

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS • Os instrumentos rotatórios e seringa

tríplice são envolvidos com barreiras descartáveis

• Após cada atendimento, as barreiras tocadas pelas luvas do CD ou ACD são trocadas.

• Após cada atendimento, as barreiras não descartadas são desinfetadas

• Instrumentos rotatórios, seringa tríplice, alças do refletor e do equipo, base do sugador e demais superfícies contaminadas são desinfetadas com álcool 70o entre cada paciente

• Limpeza e desinfecção interna da mangueira e caneta de alta rotação com fluxo de hipoclorito de sódio 1%

• O material/instrumental é lavado com: - Água corrente - Sabão líquido

Escova

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, N, NA COMENTÁRIOS • Agulhas são desprezadas sem

reencapar, removidas da seringa com pinça ou alicate

• Material pérfuro-cortante descartado em coletores de paredes rígidas

• Coletor de material pérfuro-cortante lacrado e desprezado ao atingir 2/3 volume

• Lixo contaminado descartado em sacos com identificação

• Lixo contaminado reunido em coletor grande com saco plástico

• Lixo contaminado mantido em abrigo externo até encaminhamento para coleta especial (disponível e atuante?)

Page 114: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

Áre

a IIIg

- Critério observ

ado:

esterilização de artigos

Áre

a IIIh

- Critério observ

ado:

imunização dos profissiona

is de

saúde

Os protocol

os de

controle de infecção são observados como rotina nos serviços de atenção primária em saúde bucal, no que se refere à imunização dos profissionais

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS

• Em caso de ferimento nos olhos, lava com soro fisiológico

• Nos demais ferimentos, lava com água e sabão, sem manipulação excessiva

• Nos demais ferimentos, aplica solução anti-séptica (iodo povidona ou clorexidina a 2%)

• Preenche formulário de acidente de trabalho e encaminha-se a atendimento especializado

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS • Na estufa, o material/instrumental é

mantido a 170oC por 2 horas • A temperatura da estufa é monitorada

por termômetro externo, de bulbo • Durante todo o ciclo, a estufa é mantida

fechada • Na autoclave, o material/instrumental é

mantido a 121oC por 30 minutos, sob pressão de 1,5 atm

• Os pacotes de material/instrumental saem livres de umidade da autoclave

• Existe registro de monitoramento químico do processo de esterilização em autoclave (fita-teste ou semelhante)

• Existe registro semanal do teste biológico para autoclave

• Os pacotes estéreis são identificados com indicação do material, data da esterilização, prazo de validade e rubrica do funcionário responsável

• Brocas e outros materiais não esterilizados por calor só são reutilizados após ciclo completo de esterilização química (imersão em glutaraldeído a 2%, por 10 horas, em recipiente à parte)

Page 115: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

MEIOS DE VERIFICAÇÀO S, I, N, NA COMENTÁRIOS • Realizaram esquema vacinal completo

contra hepatite B - O(a) CD - O(a) ACD - O(a) THD - O(a) profissional da limpeza

• Realizaram esquema vacinal completo contra tuberculose

- O(a) CD - O(a) ACD - O(a) THD - O(a) profissional da limpeza

• Realizaram esquema vacinal completo contra tétano

- O(a) CD - O(a) ACD - O(a) THD - O(a) profissional da limpeza

Page 116: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

ANEXO II

CARTA DE INFORMAÇÃO AOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Sr(a). Participante:

Estamos realizando a pesquisa “Controle de infecção cruzada na atenção

básica em saúde bucal no município de Fortaleza”, com o objetivo de avaliar a

qualidade do controle de infecção nas unidades de saúde que prestam serviços

odontológicos no nível da atenção básica. Sua autorização permitirá a produção de

informações atualizadas que podem contribuir para a avaliação, planejamento e

melhoria da qualidade dos serviços de assistência odontológica prestados à

população de nossa cidade.

A pesquisa será feita através da observação sistemática das condições em

que se realizam o serviço odontológico na unidade de saúde, dentro de seu horário

normal de trabalho, sem qualquer prejuízo para suas atividades ou para o

funcionamento do estabelecimento.

Qualquer informação prestada será utilizada apenas com finalidade científica,

sendo garantido que a unidade de saúde sob sua gestão ou os profissionais nela

atuantes não precisarão ser identificados. O sr(a). terá direito a todos os

esclarecimentos, antes e durante a pesquisa, sobre os procedimentos, riscos,

benefícios e outros assuntos relacionados e terá a liberdade de se recusar a

participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem nenhum

tipo de penalização. Sua participação em qualquer tipo de pesquisa é voluntária. Em

caso de dúvida quanto aos seus direitos, procure a responsável pela pesquisa

(Cecília Holanda de Figueiredo, fone 34773200) ou o Comitê de Ética em Pesquisa

da Universidade Estadual do Ceará – COÉTICA / UECE (Av. Dedé Brasil -

Paranjana, 1700 – Fortaleza-CE, fone: 32992500).

Page 117: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

ANEXO III

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DO ADMINISTRADOR

Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o

Sr.(a)

__________________________________________________________

_______, responsável pela administração da Secretaria Executiva

Regional (SER) ______ do município de Fortaleza, após leitura

minuciosa da CARTA DE INFORMAÇÃO, devidamente explicada

pelo pesquisador em seus mínimos detalhes, ciente dos

procedimentos envolvidos na pesquisa, não restando quaisquer

dúvidas a respeito do lido e explicado, firma seu CONSENTIMENTO

LIVRE E ESCLARECIDO, concordando em autorizar a entrada dos

pesquisadores nas dependências das unidades de saúde

abrangidas por esta regional, com a finalidade de realização da

pesquisa “Controle de infecção cruzada na atenção básica em

saúde bucal no município de Fortaleza”. Fica claro que o

participante pode, a qualquer momento, retirar sua autorização e

deixar de participar desta pesquisa.

E, por estarem de acordo, assinam o presente termo.

Fortaleza-Ce., _______ de ________________ de _____.

___________________________

_____

___________________________

_____

Assinatura do administrador Assinatura do pesquisador

Page 118: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

FICHA CATALOGRÁFICA

F475c Figueiredo, Cecília Holanda de

Controle de infecção cruzada na atenção básica em saúde bucal no município de fortaleza: uma análise crítica / Cecília Holanda de Figueiredo. ____ Fortaleza, 2006. 114 p. Orientador: Paulo César de Almeida Dissertação (Mestrado Acadêmico de Saúde Pública) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde. 1. Controle de infecção. 2. Biossegurança. 3. Odontologia. 4. Saúde do trabalhador. I. Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde.

CDD: 617.60918131

Page 119: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação
Page 120: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

A meus pais, que sempre me estimularam

pelos caminhos do conhecimento;

às minhas irmãs, em quem sempre encontrei

grande exemplo de vida e apoio para novas conquistas.

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo César de Almeida, que, com sua

sabedoria e serenidade, conduziu-me para a concretização deste

trabalho.

Ao Coordenador de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde de

Fortaleza, Dr. Reginaldo Silva, aos administradores das secretarias

executivas regionais e aos coordenadores das unidades de saúde, que,

através do acolhimento a este projeto e da disponibilidade com que

consentiram e facilitaram as visitas às unidades de saúde, manifestaram

seu interesse e dedicação para com a saúde da população.

Ao grande amigo Paulo Roberto Lacerda Pinho, cuja experiência e

companhia tornaram possível e produtiva esta jornada, particularmente

o trabalho em campo.

Page 121: CONTROLE DE INFECÇÃO CRUZADA NA ATENÇÃO BÁSICA …uece.br/cmasp/dmdocuments/ceciliaholanda-2006.pdf · odontologia, vários fatores favorecem a infecção cruzada, como a manipulação

À Ana Acácia Marinho Almeida, pela grande amizade e companheirismo

com que contribuiu, nas diversas fases deste trabalho, tornando as

tarefas mais leves e as conquistas mais valiosas.

Aos amigos Luciana e Alessandro Mesquita, ao lado de quem foram

dados os primeiros passos para a concretização deste projeto.

A todos os professores e profissionais da área de saúde e,

particularmente, aos colegas de turma do mestrado, que contribuíram

com sua experiência, sua compreensão e apoio ao longo da realização

deste trabalho.