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Informativo 838-STF (19/09/2016) Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante DIREITO CONSTITUCIONAL CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Declaração de inconstitucionalidade de lei sem a produção de efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo Importante!!! Foi proposta ADI contra a Lei nº 3.041/2005, do Estado do Mato Grosso do Sul, que tratava sobre assunto de competência da União. Ocorre que esta Lei havia revogado outras leis estaduais de mesmo conteúdo. Desse modo, se a Lei nº 3.041/2005 fosse, isoladamente, declarada inconstitucional, as demais leis revogadas "voltariam" a vigorar mesmo padecendo de idêntico vício. A fim de evitar essa "eficácia repristinatória indesejada", o PGR, que ajuizou a ação, impugnou não apenas a Lei nº 3.041/2005, mas também aquelas outras normas por ela revogadas. O STF concordou com o PGR e, ao declarar inconstitucional a Lei nº 3.041/2005, afirmou que não deveria haver o efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo. O dispositivo do acórdão ficou, portanto, com a seguinte redação: "O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 3.041/2005, do Estado de Mato Grosso do Sul, inexistindo efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo, (...)" STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2016 (Info 838). COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS Viola a competência privativa da União lei estadual que exija nova certidão negativa não prevista na Lei 8.666/93 Importante!!! É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com órgãos e entidades estaduais. Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88). STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2016 (Info 838).

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Informativo 838-STF (19/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante

DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Declaração de inconstitucionalidade de lei sem a produção de efeito repristinatório

em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo

Importante!!!

Foi proposta ADI contra a Lei nº 3.041/2005, do Estado do Mato Grosso do Sul, que tratava sobre assunto de competência da União. Ocorre que esta Lei havia revogado outras leis estaduais de mesmo conteúdo. Desse modo, se a Lei nº 3.041/2005 fosse, isoladamente, declarada inconstitucional, as demais leis revogadas "voltariam" a vigorar mesmo padecendo de idêntico vício.

A fim de evitar essa "eficácia repristinatória indesejada", o PGR, que ajuizou a ação, impugnou não apenas a Lei nº 3.041/2005, mas também aquelas outras normas por ela revogadas.

O STF concordou com o PGR e, ao declarar inconstitucional a Lei nº 3.041/2005, afirmou que não deveria haver o efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo.

O dispositivo do acórdão ficou, portanto, com a seguinte redação:

"O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 3.041/2005, do Estado de Mato Grosso do Sul, inexistindo efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo, (...)"

STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2016 (Info 838).

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS Viola a competência privativa da União lei estadual que exija

nova certidão negativa não prevista na Lei 8.666/93

Importante!!!

É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com órgãos e entidades estaduais.

Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88).

STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2016 (Info 838).

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PODER LEGISLATIVO Processo de cassação de mandato parlamentar e autocontenção do Poder Judiciário

O ex-Deputado Federal Eduardo Cunha impetrou mandado de segurança no STF pedindo a suspensão do processo de cassação que tramitava contra ele na Câmara dos Deputados por quebra de decoro parlamentar.

O pedido do impetrante foi negado.

O STF só pode interferir em procedimentos legislativos (ex: processo de cassação) em uma das seguintes hipóteses:

a) para assegurar o cumprimento da Constituição Federal;

b) para proteger direitos fundamentais; ou

c) para resguardar os pressupostos de funcionamento da democracia e das instituições republicanas.

Exemplo típico na jurisprudência é a preservação dos direitos das minorias, onde o Supremo poderá intervir.

No caso concreto, o STF entendeu que nenhuma dessas situações estava presente.

Em se tratando de processos de cunho acentuadamente político, como é o caso da cassação de mandato parlamentar, o STF deve se pautar pela deferência (respeito) às decisões do Legislativo e pela autocontenção, somente intervindo em casos excepcionalíssimos.

Dessa forma, neste caso, o STF optou pela técnica da autocontenção (judicial self-restraint), que é o oposto do chamado ativismo judicial. Na autocontenção, o Poder Judiciário deixa de atuar (interferir) em questões consideradas estritamente políticas.

STF. Plenário. MS 34.327/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/9/2016 (Info 838).

DIREITO ADMINISTRATIVO

LICITAÇÕES E CONTRATOS É inconstitucional lei estadual que exige nova certidão negativa não prevista na Lei 8.666/93

Importante!!!

É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com órgãos e entidades estaduais.

Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88).

STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2016 (Info 838).

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DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

CONCURSO PÚBLICO Impossibilidade de aplicação retroativa da Resolução 187/2014

e da criação de nova limitação de títulos não prevista no edital do concurso

Foi aberto determinado concurso para serventias notariais e registrais na época da redação originária da Resolução 81/2009 do CNJ, que regulamenta os concursos de cartório. Na redação originária desta Resolução não havia limitações quanto ao número máximo de especializações que cada candidato poderia ter.

Chegando na fase de títulos do concurso, diversos candidatos apresentaram diplomas de especialização, que foram inicialmente admitidos pela comissão. Ocorre que, posteriormente, surgiram suspeitas de que muitos desses diplomas apresentariam irregularidades. Alguns candidatos teriam frequentado elevadíssimo número de cursos de pós-graduação, com duração mínima de 360 horas, em curto espaço de tempo, de forma presencial e em diferentes unidades da Federação.

Diante disso, a comissão do concurso, que já havia aceitado tais títulos, voltou atrás e criou, mesmo sem previsão no edital originário, um novo critério para aferir os pontos de títulos de pós-graduação. De acordo com este novo critério, não seriam mais aceitos diplomas de pós-graduação que tivessem sido cursados concomitantemente, ou seja, ao mesmo tempo (chamado de "critério de concomitância substancial").

Além disso, enquanto persistia este imbróglio, entrou em vigor a Resolução nº 187/2014 do CNJ, que limitou a quantidade máxima de pontos de especialização. Com base nela, só são permitidos dois diplomas de especialização. Foi pedida, então, a aplicação desta Resolução ao concurso em vigor.

O STF decidiu que não é possível a aplicação retroativa da regra de limitação de títulos de pós-graduação trazida pela Resolução nº 187/2014 porque o concurso foi aberto antes dela, sob pena de afronta à segurança jurídica.

Além disso, o STF também entendeu que não foi legítima essa nova interpretação dada pela comissão do concurso de não mais aceitar diplomas de especialização cursados simultaneamente. Isso porque a redação originária da Resolução 81/2009/CNJ não previa qualquer limitação para a contagem de títulos de especialização, muito menos dispunham sobre formas de evitar a sobreposição e acumulação de certificados. Logo, esse novo critério imposto pela banca, depois de o concurso ter se iniciado, ofendeu o princípio da impessoalidade, pois permitiu o favorecimento de alguns candidatos em detrimento de outros.

STF. 1ª Turma. MS 33.406/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 6/9/2016 (Info 838).

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Informativo 838-STF (19/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4

DIREITO PENAL

INJÚRIA Não deve ser punido Deputado Federal que profere palavras injuriosas contra adversário

político que também o ofendeu imediatamente antes

Determinado Governador afirmou, em rede social, que certo Deputado Federal estava financiando, com a utilização de “dinheiro sujo”, a produção de injúrias contra ele e que o parlamentar estava sendo processado pelos crimes de tortura, corrupção e estupro.

No dia seguinte, o Deputado, em resposta, afirmou, também em uma rede social, que o Governador era acusado de corrupção eleitoral, que tinha como costume fazer acusações falsas para tentar incriminar seus desafetos políticos, que costumava espancar seu pai e que era desequilibrado mental.

O STF entendeu que o Deputado Federal praticou fato típico, antijurídico e culpável, mas que não deveria ser punido, com base no art. 140, § 1º, II, do CP.

O Deputado postou as mensagens ofensivas menos de 24 horas depois de o Governador publicar a manifestação também injuriosa. Dessa forma, as mensagens do parlamentar foram imediatamente posteriores às veiculadas pelo ofendido e elaboradas em resposta a elas. Ao publicá-las, o acusado citou parte do conteúdo da mensagem postada pelo ofendido, comprovando o nexo de pertinência entre as condutas. Dessa maneira, o ofendido não só, de forma reprovável, provocou a injúria, como também, em tese, praticou o mesmo delito, o que gerou a retorsão imediata do acusado. Logo, o STF entendeu que não havia razão moral para o Estado punir o Deputado.

STF. 1ª Turma. AP 926/AC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/9/2016 (Info 838).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL Se o acusado se recusa a participar do incidente, não pode ser obrigado a fazer o exame

Importante!!!

O incidente de insanidade mental é prova pericial constituída em favor da defesa. Logo, não é possível determiná-lo compulsoriamente na hipótese em que a defesa se oponha à sua realização.

STF. 2ª Turma. HC 133.078/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6/9/2016 (Info 838).

PROGRESSÃO DE REGIME Condenado que cumpre pena em presídio federal não pode ser beneficiado com progressão de

regime enquanto persistirem os motivos que o levaram a ser transferido para esta unidade

Importante!!!

O cumprimento de pena em penitenciária federal de segurança máxima por motivo de segurança pública não é compatível com a progressão de regime prisional.

STF. 2ª Turma. HC 131.649/RJ, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, rel. p/ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/9/2016 (Info 838).

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Informativo 838-STF (19/09/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5

O Juízo competente para processar e julgar os incidentes da execução é o que detém a custódia do apenado, no caso, o Juízo responsável pelo presídio federal. Não lhe é permitido, contudo, conceder a progressão de regime prisional ao condenado que esteja recolhido em presídio federal de segurança máxima, uma vez que os motivos que justificaram sua transferência ou manutenção no sistema federal mostram-se totalmente incompatíveis com a concessão do benefício, ficando condicionado o deferimento da progressão à ausência dos motivos que justificaram a sua remoção para o estabelecimento federal.

STJ. 3ª Seção. CC 137.110/RJ, Rel. MIn. Ericson Maranho (Desembargador Convocado do TJ/SP), julgado em 22/4/2015.

DIREITO INTERNACIONAL

EXTRADIÇÃO A data do protocolo do pedido de extradição e a data do cumprimento da prisão preventiva para

fins de extradição não são considerados marcos interruptivos da prescrição

O Governo da Espanha pediu a extradição de nacional espanhol que está no Brasil em virtude de ele ter sido condenado por crime naquele país.

O STF negou o pedido, já que houve a prescrição da pretensão executória da pena do referido delito segundo a lei brasileira. Estando o crime prescrito, não é possível conceder a extradição por faltar o requisito da dupla punibilidade (art. 77, VI, do Estatuto do Estrangeiro).

O que é interessante deste julgado, contudo, é que o Estado requerente sustentava duas teses:

1ª) que a data do protocolo do pedido da extradição fosse considerada como marco interruptivo da prescrição. Assim, não teria se passado o prazo prescricional se fosse computado o período entre a data do trânsito em julgado do crime e o dia do protocolo, no STF, do pedido de extradição.

O STF, porém, não concordou com o pedido e decidiu que isso não tem amparo legal. O Código Penal e a Lei 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro) não preveem a apresentação do pedido de extradição como causa interruptiva da prescrição. Da mesma forma, isso não está previsto no tratado de extradição. Logo, criar um marco interruptivo em desfavor do extraditando viola o princípio da legalidade estrita.

2) que a data do cumprimento da prisão preventiva, para fins de extradição, fosse considerada como início do cumprimento da pena, causa interruptiva da prescrição, nos termos do art. 117, V, do CP.

O STF também não concordou com esse argumento. Mesmo em caso de extradição executória (ou seja, extradição para que o condenado cumpra pena no exterior), a prisão preventiva dele aqui no Brasil possui natureza cautelar. É uma prisão realizada como condição de procedibilidade para o processo de extradição, destinada, em sua precípua função instrumental, a assegurar a execução de eventual ordem de extradição. Não se trata do início do cumprimento da pena.

STF. 2ª Turma. Ext 1.346 ED/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/9/2016 (Info 838).