contributos para a histÓria da associaÇÃo desportiva
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CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DA ASSOCIAÇÃO
DESPORTIVA “OS LIMIANOS”
João Carlos Brandão Gonçalves
1. Introdução
No dia 5 de Janeiro de 2003, faz precisamente cinquenta anos que um grupo
de limianos se propôs, e conseguiu, constituir um clube desportivo em Ponte de Lima,
precisamente aquele que, cinquenta anos volvidos, é o maior clube desportivo do
concelho e um dos maiores do distrito de Viana do Castelo, com prestígio nacional,
confirmado pelo seu título nacional da 3ª divisão, conquistado na época 1995/96.
Ao longo desta obra, tentaremos retractar o futebol limiano, desde o início do
século, ou seja, aqueles que são os antecedentes de “Os limianos”, até à fundação da
A.D.L., a história do clube desde o seu primeiro segundo, os grandes protagonistas do
nosso clube, desde os dirigentes até aos jogadores, os momentos altos e menos bons
da vida do nosso clube, em suma, cinquenta anos de história até hoje nunca passada a
escrito.
Muitas foram as dificuldades sentidas na realização deste trabalho. Em
primeiro lugar, o arquivo de “Os Limianos” está praticamente todo destruído, devido
às más condições em que sempre esteve acondicionado e o que existe não está
devidamente organizado e acondicionado. Esta situação agravou-se sobretudo a partir
do momento em que foi “guardado” no Campo do Cruzeiro. À falta de apoio
documental, tivemos que nos socorrer da imprensa local, sobretudo do “Cardeal
Saraiva”, o periódico limiano que, mais de perto, acompanhou a existência do clube e
mais atenção deu ao futebol e aos “Limianos”. Depois, e felicidade a nossa em tê-lo
conseguido, ouvimos muitos dos homens que estiveram nos grandes momentos da
vida do clube, desde a sua fundação até aos nossos dias. São esses testemunhos dos
que fundaram o clube, dos que o serviram, dos que muito trabalharam para o
engrandecer, que tivemos a honra de ouvir e utilizar para escrever este trabalho. Por
isso, esta obra é sobretudo deles e a eles dedicada, a todos aqueles que fizeram de “Os
Limianos” aquilo que são hoje e aquilo que representam para Ponte de Lima, para o
concelho e para o desporto distrital e nacional.
Estamos em crer que, tendo em conta as circunstâncias em que este trabalho
foi realizado, estamos em presença de um documento histórico, que dará a conhecer à
maioria dos sócios, simpatizantes e limianos em geral uma faceta até hoje ignorada da
vida da Associação Desportiva “Os Limianos”, o maior clube de Ponte de Lima desde
que esta terra se conhece!
A todos aqueles que colaboraram na realização deste trabalho, tanto na recolha
de elementos dos jornais locais, depoimentos prestados, fornecimento de fotografias,
documentos emprestados, endereçamos daqui os nossos mais sinceros
agradecimentos.
2. Antecedentes de “Os Limianos”
É muito difícil fazer o levantamento dos primeiros passos do futebol em Ponte
de Lima. Além de, praticamente, não existirem documentos ou elementos escritos, os
jornais locais das primeiras décadas do século não elegiam o futebol como notícia.
Por isso, tivemos que nos socorrer de alguns depoimentos, da consulta dos poucos
elementos publicados na imprensa da época e ainda em dois trabalhos, pioneiros no
que diz respeito à história do futebol em Ponte de Lima. Estamo-nos a referir a um
artigo de Augusto Castro e Sousa, publicado no “Cardeal Saraiva” em 1969, e a um
trabalho de investigação de Adelino Tito de Morais, publicado no 1º número da II
Série, do “Anunciador das Feiras Novas”, publicado em 1984.
Pensa-se que o futebol foi introduzido em Ponte de Lima por Francisco de
Abreu de Lima que, por volta de 1910, apareceu com uma bola de couro no Campo
do Arnardo, freguesia de Arcozelo, provocando uma natural agitação junto dos
rapazes desse tempo. Era o “nascimento” do desporto rei em Ponte de Lima.
Novos registos são depois encontrados por volta de 1915. António de
Amorim, que veio passar férias junto de seus pais, na Quinta da Baldrufa, trouxe do
Porto uma bola que o ajudou a fazer furor em Ponte de Lima, tornando-se um
verdadeiro ídolo da juventude local, devido ao seu forte pontapé que, dizia-se,
“atravessava o campo de lado a lado”. Foi também com essa mesma bola que Manuel
Lúcio aprendeu a jogar e a defender, tendo ficado lembrado como um extraordinário
guarda-redes.
2.1. Limiano Sport Clube
O primeiro clube de futebol, que existiu em Ponte de Lima, parece ter sido o
“Limiano Sport Clube”, fundado por Totó Amorim e que tinha a sua sede na Rua
General Norton de Matos. Estavamos em 1919 e este clube era quase integralmente
composto por estudantes. Talvez por isso, este clube gozava de muita estima por parte
dos habitantes de Ponte de Lima e a sua fama chegou mesmo junto das nossas
comunidades no Brasil. O seu campo de jogos situava-se no Campo da Feira e entre
os seus elementos contavam-se, entre outros Carlos Lima, José e Jaime Campos,
António Medeiros, Luís Vilar, António de Amorim, Francisco Aguiar, José Soares
Correia, Dr. Florimundo Pacheco, Bruno Pereira Pinto, António Melo, Alberto e
Augusto Cruz e Amândio Lisboa. As camisolas do “Limiano Sport Clube” eram às
riscas verticais verdes e brancas, cores que na época eram também as da bandeira do
município.
Como a maioria dos elementos da equipa eram estudantes no Porto, era
precisamente nessa cidade que se reuniam para treinar. Aos domingos, já em Ponte de
Lima, eram realizados os jogos.
Fruto do cansaço, dos afazeres dos seus elementos, muitos deles a trabalharem
longe de Ponte de Lima, o “Limiano Sport Clube” terminou a sua actividade por volta
de 1921, ou seja, dois anos depois da sua fundação.
Apesar disso, o nome “Limiano Sport Clube” não se extinguiu. De facto,
como se pode verificar pelos jornais da época, esta agremiação teve actividade na área
da animação, com a promoção de “soirés dançantes”, de acordo com relatos a época,
muito animadas e que, amíude, terminavam já na manhã do dia seguinte, e outras
actividades recreativas. A própria tomada de posse dos seus corpos sociais era feita
em clima de festa, como a de 1924, abrilhantada pela tuna do clube. O facto de existir
tuna no clube, leva-nos a pensar que eram ainda os estudantes que “animavam” as
actividades do clube, tal como aconteceu em 1919, quando se fundou, com a equipa
de futebol.
Depois de, em 1924 se ter fundido com o “Letes Atlético Clube”, o Limiano
voltou a Ter uma equipa de futebol. Em Novembro desse ano, em Barcelos, realizou-
se aquele que julgamos Ter sido o primeiro jogo da nova era do Limiano, contra o
Triunfo local. O Limiano foi copiosamente batido por 5-1. Tendo-se queixado
insistentemente da arbitragem que validou dois golos em claro off-side.
Em 8 de Dezembro de 1924, em Assembleia Geral, os associados do Limiano
elegeram os Corpos Gerentes para 1925. Foram eleitos, para a Assembleia Geral, o
Dr. Adelino Ribeiro Sampaio, para a Direcção, Julio Pereira P. Junior e para o
Conselho Fiscal, Eduardo Pimenta. Nessa mesma Assembleia, e tendo em conta a
precaridade do Campo da Feira, onde eram disputados os jogos de futebol, foi
nomeada uma comissão, com o objectivo de arranjar um Campo para o Limiano.
Em 24 de Janeiro de 1925 a equipa do Limiano deslocou-se a Braga, para
defrontar o Sporting local. Embora apresentando a Segunda equipa, os locais
venceram por 3-0. De acordo com a crónica publicada do “Cardeal Saraiva”, o árbitro
não foi correcto, beneficiando claramente os locais, Como consolação, ficaram as
referências elogiosas da “Revista de Sport”, de Braga, ao Limiano.
O ambiente e colaboração entre as duas equipas de Ponte de Lima - Lusitano e
Limiano - eram, aparentemente, boas. Várias vezes foram feitas selecções dos
melhores jogadores de Ponte de Lima (Lusitano e Limiano), para defrontare,m outras
equipas. Uma destas situações ocorreu em 23 de Junho quando uma selecção
defrontou o Viana Foot-ball Club, encontro incluído no programa de festas de S.
João, em disputa de “um bronze” oferecido pela Comissão de Festas. Viana venceu
por 2-1.
Para 1926, os Corpos Gerentes eleitos foram, para a Assembleia Geral,
António de Sousa Amorim, para a Direcção José Luiz Vieira e para o Conselho Fiscal
Anibal Marinho.
O ano de 1926 marca o desaparecimento do Limiano, no que diz respeito à
sua equipa de futebol, precisamente no mesmo ano em que surgiu o Triunfo. Este
clube continuou a sua actividade noutras áreas, designadamente a recreativa. Em 1927
foi liderado por Caetano d’Oliveira, Presidente da Direcção.
2.2. Triângulo Negro Atlético Clube
Mas Ponte de Lima não esteve muito tempo sem um clube de futebol. De
facto, em 1922, no local onde hoje se situa o Restaurante Encanada, nasceu o
“Triângulo Negro Atlético Clube”. Tal como o próprio nome indica, equipavam todos
de preto. Desta equipa fizeram parte, entre outros, Meigo Dantas, Xico da Bia, que
era o guarda-redes, os irmãos Passarinhas. Durou, segundo sabemos, um par de anos.
2.3. Letes Atlético Clube
O “Triângulo Negro” teve uma vida muito curta, dando lugar a um outro
clube, o “Letes Atlético Clube” que acabou pouco depois de ter nascido, apesar de se
conhecerem registos de actividade sua no areal junto à ponte, e na organização de
“soirés” dançantes com os sócios com o objectivo de angariar fundos. A sua sede
situava-se precisamente no edifício onde hoje está instalado o Restaurante
“Alameda”, no Largo de S. João, e foi inaugurada em 12 de Abril de 1924. No
entanto, conhecem-.se alguns relatos de jogos realizados por este clube em 1924,
numa altura em que existia também o Lusitano, designadamente dois disputados em
Viana do Castelo, com a Segunda equipa do Sport Clube Vianense, no mês de Janeiro
e Maio, em que os resultados foram, respectivamente 0-0 e 1-2. Em meados deste
mesmo ano começou-se a moldar fim do “Letes”, pois, em Junho, o “Limiano Sport
Clube”, através do seu Presidente Gonçalo d’Abreu Coutinho, publicava no jornal
“Cardeal Saraiva” uma convocatória para uma Assembleia Geral, a realizar em 29 de
Julho, no qual deveria ser tratada a fusão entre o “Limiano Sport Clube” e o “Letes
Atlético Clube”, facto que se viria a consumar, sendo o Letes absorvido pelo
Limiano.
2.4. O Lusitano e o Triunfo
Ainda em 1924, numa altura em que a animação futebolística em Ponte de
Lima era elevada, com a sucessiva criação de clubes, o Lusitano era uma das
formações que pontificavam. O “Lusitano Futebol Clube”, tinha sede na Rua General
Norton de Matos e era presidido por Ovídio de Sousa Vieira. Este clube teve um
grande apoio do comércio local. Realizava frequentemente jogos particulares, um dos
quais foi realizado em Viana do Castelo com o Seixas Foot-ball Clube, tendo o
Lusitano saido vencedor por 3-2.
Em Novembro de 1924, em jogo realizado no Campo da Feira, em Ponte de
Lima, o Lusitano venceu por 4-1, o Cruz de Cristo, da vizinha Ponte da Barca. Em
destaque, de acordo com o “Cardeal Saraiva”, esteve o médio centro Dantas.
Curiosamente, este jogo teve dois árbitros. Na primeira parte G. Duarte e, na
Segunda, Florimundo Pacheco.
Em Assembleia Geral, realizada nos finais de Dezembro de 1924, foram
eleitos os Corpos Gerentes do Lusitano, para 1925. O Presidente eleito foi Ovidio de
S. Vieira, O Vice foi Gonçalo Gonçalves Saraiva e o Primeiro Secretário Armando
Magalhães.
Em 29 de Agosto de 1925, realizou-se em Ponte de Lima, um encontro de
futebol entre o Lusitano e o S. C. Valenciano. Este encontrou despertou enorme
expectativa, mesmo junto das hostes valencianas, que trouxeram até Ponte de Lima
inúmeros acompanhantes. O jogo terminou empatado a zero, mas o Lusitano realizou
uma excelente partida. O único senão foi o campo de jogos, sem condições mínimas
para a prática do futebol, facto que deixou espantados os valencianos, que “ficaram
admirados por não existir um campo de futebol na vila”.
Para o ano de 1926, os Corpos Gerentes foram, António José Linhares Junior,
Presidente e Salvador Pinto de Abreu, Vice Presidente.
Pouco tempo depois, Ponte de Lima assistiu a uma das mais esplendorosas
épocas do seu futebol.
Em 1926 apareceu mais um clube em Ponte de Lima. O “Triunfo Sport
Clube”, com sede na Rua do Arrabalde. Este clube teve como grandes promotores
gente jovem e, na base da sua equipa, são lembrados os Morais (João e António). O
despique e a rivalidade entre estas duas formações fizeram história em Ponte de Lima,
sendo ainda hoje recordados os “animados” jogos entre estes dois clubes. O palco
natural desses autênticos duelos era o Campo da Feira, com prolongamento nos cafés
e tascas da vila, embora os jogos entre estas duas equipas fossem “amigáveis”
(embora pouco), devido à inexistência de qualquer campeonato na época.
O primeiro jogo de que temos registos, realizou-se num Domingo, no final do
mês de Fevereiro de 1926, e logo o Triunfo bateu o Lusitano por 2-1. Estavamos
numa época de grande movimento futebolístico em Ponte de Lima. Surgem relatos de
jogos da equipa B do Lusitano, além de uma equipa de infantis do Triunfo. Esta
equipa fez a sua estreia contra o Arcoense, tendo vencido por 7-1.
A 18 de Abril, deu-se um acontecimento impar, naquela época. Deslocou-se a
Ponte de Lima a equipa do Ibéria de Tuy, disputar o primeiro encontro internacional
do Lusitano. Os de Ponte de Lima venceram categoricamente por 7-0 mas, mesmo
assim, o cronista do “Cardeal Saraiva”, classificou os espanhóis como a melhor
equipa que até lá tinha passado por Ponte de Lima.
Sempre condicionados pelo estado do Campo da Feira, que não permitia a
explanação do futebol das equipas, servindo mesmo de argumento para os derrotados,
Lusitano e Triunfo resolveram organizar um tira-teimas, em Viana do Castelo, no
Campo de Monserrate, que se realizou em 26 de Junho de 1926. Muitos limarenses,
mas mesmo muitos, deslocaram-se até Viana do Castelo para assistir a esta partida. O
Triunfo saiu vencedor desta verdadeira “prova dos nove”. No regresso, os apoiantes
das duas equipas envolveram-se, por diversas vezes em acesas discussões e cenas de
pancadaria.
Para o ano de 1927, os Corpos Gerentes do Lusitano eram, na Assembleia
Geral, Manuel Carlos da Fonseca, na Direcção Alvaro Augusto de Sousa e, no
Conselho Fiscal, António Basílio Franco.
Ambos os clubes disputavam os seus jogos no Campo da Feira. Contudo,
devido à projecção dos seus jogos e jogadores, à própria rivalidade entre ambos e,
sobretudo, às difíceis condições do Campo da Feira para a prática do Futebol, facto
muitas vezes citado no jornal “Cardeal Saraiva” e qualificado mesmo como “uma das
maiores vergonhas do nossa terra”, mais tarde, em 1927 inauguraram os respectivos
campos de futebol. O Triunfo em S. João, na Quinta da Corunheira, por detrás da
capela, em terreno hoje pertencente à família Matos, inaugurado a 1 de Maio com um
jogo Triunfo-Vianense, e o Lusitano com o Campo do Cruzeiro, em 27 de Maio, com
a presença do Salgueiros e do Sporting de Braga. O Campo do Triunfo, em S. João,
possuia mesmo dois balneários, com água corrente, luxo só possível devido à
proximidade do Ribeiro de Crasto. Estas obras, que possibilitaram a construção de
dois campos de futebol em Ponte de Lima, só foram possíveis graças ao bairrismo das
nossas gentes que, fora das suas horas de trabalho, ajudaram a tornar possível os
sonhos das duas equipas.
Esta foi uma época de grandes paixões clubisticas que proporcionaram uma
invulgar animação a Ponte de Lima, ao mesmo tempo que permitiram alguma
evolução do desporto rei na nossa terra.
O Triunfo é um dos clubes que mais recordações deixou às gentes locais, por
ser constituído por jovens e por estarem na memória das nossas gentes alguns
desacatos que muitos dos seus jogos provocavam. Ainda hoje são recordadas algumas
cenas de pancadaria que se verificavam no Café Central, motivados por discussões
acerca do Lusitano e do Triunfo. O seu primeiro Presidente foi Amadeu Cândido
Lopes que, a meio do seu mandato, acabou por se demitir.
Da equipa do Triunfo, cuja camisola era metade verde, metade laranja, faziam
parte os seguintes elementos: Manuel Correia, Emílio e Plata; Armindo Ferreira,
Xiquinho e Aurélio Faria; João Matos, Amândio Faria, Laura, Luís Vilar e Domingos
Ribas. No início, jogavam ainda nesta equipa os irmãos António e João Morais,
elementos que muito deram ao futebol local e que depois passaram para a função
dirigente, Luís da Guia e João Vilar.
O Lusitano, que vestia camisolas de cor vermelha e branca, alinhava com os
seguintes elementos: Manuel Lúcio, Cabral e José Penha Vieira; António Melo, João
Portugal e João Dantas; Fonseca, Américo de Jesus, Freitas, Gaio e Meireles.
Durante os anos em que estes clubes estiveram em actividade, Ponte de Lima
pode assistir a muitos e bons jogos. Na memória dos jogos do Lusitano, conta-se um
jogo em Espanha, contra o Deportivo de Porrinho, que os visitados venceram com um
golo de penalti e onde Manuel Lúcio, o guardião da equipa, fez uma exibição
assombrosa, sendo comparado pelos espanhóis ao mítico Zamora. Quanto ao Triunfo
chegou a jogar com o Boavista, nos tempos em que alinhava pela equipa do Bessa
aquele que era considerado o melhor trio defensivo de Portugal, constituido por
Casoto, Óscar e Luzia. Além da equipa do Bessa, o Triunfo defrontou ainda, entre
outros, o Salgueiros e o Leça.
Apesar de os seus jogadores serem todos amigos fora das quatro linhas, na
época ninguém conseguia esquecer os jogos entre o Lusitano e o Triunfo, tal a
rivalidade existente entre os dois clubes, que deixaram muitas saudades em Ponte de
Lima. Um dos jogos mais recordados, teve em disputa um valioso troféu em bronse,
oferecido pelo “Grupo dos Três Fleumáticos”, de Peso da Régua, em que o Triunfo
venceu o Lusitano por três bolas a uma. O árbitro desse jogo foi António Amorim, da
Casa da Baldrufa.
Tanto o Lusitano como o Trunfo tinham um hino próprio, amiúde
cantarolados pelas raparigas, nas fontes e no rio.
Tanto o Lusitano como o Triunfo desapareceram em 1930, quando viviam
com sérias dificuldades, semelhantes porventura aquelas que hoje os clubes também
atravessam. A opção foi a fusão dos dois clubes, para darem lugar ao “Ponte de Lima
Sport Clube”.
Sobre o desaparecimento do Triunfo, publicou o “Cardeal Saraiva” de 13 de
Fevereiro de 1930:
“O seu espólio - algumas taças ganhas com honra, a sua heróica e rica
bandeira, etc. - vai ser recolhido piedosamente num pequenino, mas interessante
museu que está em projecto. No seu enterro não houve discurso, mas uma grande
vaga de saudade inundou por completo a alma da mocidade pontelimense que
dedicava acrisolado amor à florescente agremiação local.”
Sobre o Lusitano, o mesmo jornal referia:
“Servido calorosamente pela alma inquebrantável das damas do Pinheiro,
comove-nos imenso narrar o triste e nefando acontecimento da sua morte, ocorrida
após uma vida de sacrifício e honrosas batalhas. Era o rival do Triunfo S. C. e como
ele sabia caminhar de cabeça erguida para o campo da honra, sem o mais leve
desfalecimento.”
No entanto Lusitano não foi jamais esquecido, tendo existido algumas
equipas, constituídas informalmente, que adoptaram o seu nome. Exemplo disso é um
anúncio publicado no “Cardeal Saraiva” , em Junho de 1970, da realização de um
jogo entre o “Deu-la-Deu” de Monção e o Lusitano Foot-ball Club.
2.5. Ponte de Lima Sport Clube
Há quem diga que o Lusitano e o Triunfo, sem o ânimo de outros tempos,
optaram pela fusão. Foi por isso que, à tristeza do desaparecimento de dois grandes
símbolos do futebol em Ponte de Lima, sucedeu a satisfação de uma época gloriosa
do futebol limiano, precisamente com o “Ponte de Lima Sport Clube”. Esta época
gloriosa só foi possível com a selecção dos melhores elementos de cada uma das
equipas, formando um conjunto forte. Famoso, na época, ficou o trio defensivo do
Ponte de Lima, constituído por Lúcio, Cabral e Plata. Na linha média, Emílio Laura e
Gregório e, na avançada, Fonseca, Gaio, Salgueiros, Américo e Ribas.
Nesta época, durante a década de 30, grandes equipas da época e dos nossos
dias, jogaram no Campo do Cruzeiro, em Ponte de Lima e perderam. Entre outras,
citamos o Guimarães, Braga, Fafe, Salgueiros, o eterno rival das equipas de Ponte de
Lima - Vianense, Gil Vicente, etc. Visitou ainda o “Ponte de Lima Sport Clube” o
Futebol Clube do Porto, com os famosos Pinga, Acácio Mesquita, Alvarito, Lopes
Carneiro, Temudo, Cardoso, Avelino Martins e Alvaro Sequeiros, que, embora
vencendo, teve uma excelente réplica dos nosso briosos jogadores que, contudo,
tiveram a infelicidade de meterem duas bolas na própria baliza, que fizeram o
resultado final.
2.6. Sporting Clube Limarense
Embora não existam registos concretos sobre o facto, cremos que o Sporting
Clube Limarense foi fundado por volta do ano de 1937. Os elementos que possuímos,
no entanto referem-se aos anos seguintes a 1939, quando a Direcção do clube era
encabeçada pelo Senhor António de Medeiros de Azevedo Lima, que tinha como seu
Vice-Presidente João Coutinho Vilar.
O Clube encontrava-se filiado na Associação de Futebol, depreendemos que
de Viana do Castelo. Em 1938 António de Medrios Lima demitiu-se do seu cargo,
tendo assegurado as funções João Coutinho Vilar, evitando uma crise neste Clube,
ainda a viver a sua infância.
Sobre o futebol, modalidade que concentrava as atenções no clube, alguns
factos curiosos merecem ser referidos. Nesta altura, já muitos jogadores forasteiros
representavam o clube. Vila Praia de Âncora foi sempre um excelente viveiro de
jogadores e muitos passaram por Ponte de Lima, ao longo de décadas. No Sporting
Limarense jogada Benjamim Pereira, daquela localidade.
Outro facto curioso, passou-se com uma pretensa falsificação de uma “carta de
desobriga”, carta que os atletas que mudavam de clube tinham que ser portadores para
se inscreverem no clube de destino. O jogador envolvido neste caso foi Mário Pinto, e
a pretensa falsificação levantou grande polémica no burgo e teve honras de aturadas
investigações. Os resultados é que são desconhecidos.
Interessante era o organigrama dos serviços internos da Direcção. Sem
funcionários, cabia aos directores assegurar todo o serviço administrativo, e não só!
Era assim: o Primeiro Secretário tratava das botas, bolas e distribuir e recolher
jogadores em treinos e jogos; o Segundo Secretário tinha a seu cargo o campo e
balneários; José Pimenta, jogador mas também Vogal da Direcção, tinha a seu cargo
os assuntos relacionados com o desenvolvimento do futebol, embora estivesse
dispensado de qualquer tarefa nos dias de jogos; o outro Vogal da Direcção devia
fiscalizar as entradas nos jogos e o apoio ao Secretário e Tesoureiro. Por fim, o Vice-
presidente tinha o encargo de representar o Clube, com autorização para pequenas
despesas, sem autorização prévia.
Neste mesmo ano de 1938, e beneficiando da oferta de um intitulado “Grupo
de Amigos do Foot-ball”, o clube comprou 8 pares de botas na firma “Joaquim
Trindade” do Porto, ao preço de 60$00 o par.
O Sporting Limarense realizava os seus jogos no “Campo do Cruzeiro”, um
recinto que é testemunha da história do futebol em Ponte de Lima, uma autêntica
catedral do futebol limiano pois, desde 1927, viu passar pelo seu terreno muitos
clubes de Ponte de Lima e milhares de jogadores limianos.
Em 1939 entrou em funções uma Comissão, constituída à base de jogadores
que não quiseram deixar morrer o clube. Encontraram-no sem contas organizadas e
com muitos problemas. Muitas foram, por isso, as despesas iniciais, nomeadamente
com o arranjo e preparação do Campo, inscrições e despesas com jogadores, bolas,
botas, meias, pés elásticos, num total de 350$00 de encargos. Neste mesmo ano o
Clube “vendeu” duas cartas de “desobriga” por 1 100$00 e deu uma terceira. Estes
negócios fazem lembrar o actual mundo louco do futebol e todos os milhões
envolvidos.
O comportamento da equipa, no entanto, era do agrado geral, tendo sido
mesmo exarado em acta um louvor aos atletas “pela forma como se têm comportado
nos jogos”. Como curiosidade, fica o facto do voto de louvor ter sido votado pelos
próprios “louvados”, pois a Comissão era constituída à base de jogadores. Esta
mesma Comissão convocou, no dia 27 de Fevereiro de 1939, uma Assembleia Geral
para esse mesmo dia para informar os associados do abandono do clube por parte dos
atletas José da Rocha Lima, José Lima Vieira e João da Rocha Barros. Esta
Assembleia, convocada em tempo record, serviu ainda para eleger os Corpos
Gerentes para a época seguinte. Para a Assembleia Geral foi eleito o Dr. Henrique
Ramalho, para o Conselho Fiscal, o Sr. Henrique do Lago Sousa Machado e, para a
Direcção, Joaquim Coelho e Silva.
Em 1939 o clube chegou a ocupar o primeiro lugar do Campeonato mas, no
final, o objectivo da subida não foi atingido.
O clube, que disputava o Campeonato Distrital, tinha a sua sede no Largo de
Camões. Já em 1940, através da leitura das actas, constata-se que o clube vivia com
sérias dificuldades, “sem vida e com reduzido número de sócios”.
Curiosa referência, estava inscrita na acta de 31/01/40: “Durante o mandato
foi travada uma verdadeira luta com o Lusitano Football Clube, desta vila que por
todos os meios, até pelos mais vergonhosos, nos tentou abrir falência, mas sem
conseguir os seus fins, logrando apenas uma atmosfera péssima para o seu futuro.
Para 1940/41 foi eleito para Presidente da Direcção António Gumarais,
secundado por Aleixo da Silva Barros. Em 1941, no meio de uma crise directiva, foi
eleita uma Comissão Administrativa, constituída pelos Srs. Aníbal Martins, António
José Correia e João Martins.
Como curiosidade, refira-se que o Limarense treinava duas vezes por semana,
às quartas-feiras e domingos, às seis horas da manhã, entre os meses de Maio e
Setembro, o que faz pressupor que os campeonatos decorriam nos meses de Verão,
parando nos meses de Inverno.
Para a posteridade, ficou uma interessante história, passada com um dos mais
valorosos elementos do plantel do clube, José Adelino Rosado Caçador. Este
elemento faltou, em 1939, a uma convocatória para um jogo que se realizou em Arcos
de Valdevez. A Direcção, desagradada com a situação, reuniu e decidiu aplicar-lhe
uma pena de 30 dias de suspensão, isto apesar das atenuantes dos bons serviços
prestados pelo atleta ao clube. Este foi um bom exemplo para todo o plantel, da forma
como se devia servir o clube.
2.7. Clube Desportivo de Ponte de Lima
Fundado no final da década de 40, mais propriamente em 1948, sucedeu ao
Limarense que não podia adoptar aquele nome devido a uma dívida à Associação de
Futebol de Viana do Castelo, no valor de 7 500$00. Os seus promotores optaram
então por Clube Desportivo de Ponte de Lima. Este facto pode ser perfeitamente
comprovado, pela notícia inserta no “Cardeal Saraiva” de 13 de Maio de 1948, onde
se refere que “Pela Direcção Geral dos Desportos, foram aprovados os Estatutos do
Clube Desportivo de Ponte de Lima, que até à sua recente organização se denominava
“Limarense Sport Clube”. Esta notícia prova mesmo que, nos primeiros estatutos do
clube, a denominação seria Limarense Sport Clube. Este clube nunca esteve filiado,
tendo apenas efectuado jogos particulares, com clubes da região. No “Cardeal
Saraiva” Nº. 1450, de 15 de Julho de 1948, foi possível ficar a conhecer os Corpos
Sociais deste clube para o ano seguinte. Assim, como Presidente da Assembleia
Geral, foi eleito Rogério de Sousa Guerra, para a Direcção, Dr. Luiz Gonzaga Martins
Fernandes e para o Conselho Fiscal, Bruno Fritche Pereira de Castro.
2.8. Vasco da Gama
Bastante conhecido e acarinhado em Ponte de Lima, era o Vasco da Gama, do
Arrabalde, que proporcionou alguns interessantes despiques, sobretudo com o Vitória
e mesmo com o Limarense. Era conhecido em Ponte de Lima como sendo o clube da
Associação Comercial, tendo por isso o apoio do comércio local. Era mesmo um
clube muito acarinhado em toda a vila de Ponte de Lima. O Vasco da Gama teve
actividade no final da década de 40 e uma das suas características era a de alinhar
com muitos jogadores que não “serviam” para o Limarense. Era como que um clube
de dissidentes, tendo inclusivamente chegado a disputar o mesmo campeonato que o
Limarense, mais propriamente o Campeonato Distrital, da Associação de Futebol de
Viana do Castelo, que dava acesso à 2ª Divisão Nacional.
O Limarense foi vencedor do Campeonato Distrital, que o levou a disputar a
2ª. Divisão Nacional, com uma preciosa ajuda do Vasco da Gama. A história conta-se
em poucas linhas. Na última jornada do referido Campeonato, o Vasco da Gama, que
à semelhança do Limarense, alinhava no Campo do Cruzeiro, defrontou o Vianense
que disputou taco a taco, o Campeonato com o Limarense. A equipa de Viana do
Castelo chegou a Ponte de Lima com uma ligeira vantagem, bastando-lhe um empate
para se sagrar campeão. Mas o Vasco da Gama, com todos os seus jovens numa tarde
inspirada, venceu 4-1 e deu o título ao Limarense que, desta forma, se qualificou para
disputar o Campeonato Nacional da 2ª Divisão.
A sede do Vasco da Gama, era no edifício situado na Praça da República,
onde hoje funciona a delegação de Turismo e, dentre os seus dirigentes, lembramos
Tarquínio Vieira, João da Paula e Júlio Guerra.
A extinção do Vasco da Gama teve a ver, embora indirectamente, com a passagem do
Limarense pela 2ª Divisão. De facto, num jogo disputado pelo Limarense no Campo
do Cruzeiro, houve distúrbios que levaram à interdição daquele recinto de jogos. Por
lapso, a Associação de Futebol de Viana do Castelo, considerou que o Campo do
Cruzeiro também ficaria interdito para os jogos do Vasco da Gama, a contar para o
Distrital. A revolta e o desconsolo dos dirigentes do Vasco da Gama foi tal, que
decidiram imediatamente vender o equipamento, para saldar algumas dívidas
existentes, facto que impedia o clube de continuar a disputar o campeonato. Quando,
mais tarde, a Associação desfez o engano, já o Vasco da Gama estava extinto e sem
equipamento para jogar.
No início da década de sessenta encontramos registos da actividade de um
clube denominado “Lusitano Futebol Clube”, que realizou diversos jogos nas
redondezas e composto maioritariamente por jovens de Ponte de Lima. A equipa de
1961 era composta, entre outros, por Orlando, Vieira, Alberto, Ferraz, Gaspar,
Lourenço, Nelson, Caçador IV, Domingos, Barros e Fernandes.
2.9. Os clubes de Bairro
Após o Ponte de Lima Sport Clube, vários clubes “de bairro” surgiram em
Ponte de Lima, fruto precisamente do bairrismo das gentes da nossa vila, e onde
evoluíram excelentes jogadores que, mais tarde reforçaram alguns dos principais
clubes da região. Contudo, a sua história é curta e sem projecção, pois nunca foram
filiados nem disputaram qualquer campeonato.
Um deles era o Vitória de Além da Ponte que, segundo conseguimos apurar,
era um excelente viveiro de jogadores. Entre os mais destacados, podemos citar
Amândio Lisboa, Manuel Lúcio, António Melo, Gregório e José Pimenta, Abílio, Rui
e Alípio, elementos que jogaram depois no Limiano, Ponte de Lima, Lusitano, G.D.
dos Empregados do Comércio e A.D. “Os Limianos”. Muito naturalmente, o Vitória
utilizava como parque de jogos o inevitável Arnado.
Outra referência dos clubes de bairro, era o Passeiense, obviamente do Passeio
fronteiro ao areal do Rio Lima, que chegou a vencer o “Torneio do Moinho”,
disputado no areal.
No “Cardeal Saraiva” de 26 de Janeiro de 1950, aparece uma referência ao
“Clube Académico de Ponte de Lima”, num jogo que efectuou com a Associação
Académica de Viana do castelo. Parece-nos que tratou apenas de um grupo estudantil.
2.10. Clubes de Freixo
Além de Ponte de Lima, temos também referências ao futebol na freguesia de
Freixo, a Segunda freguesia do concelho de Ponte de Lima onde existiram clubes
dedicados ao futebol. Ainda hoje são recordados jogadores como os Gandarelas,
Manuel Araújo e Arrais Torres de Castro. O primeiro clube daquela localidade, data
já de 1924 e chamava-se “Estrela Foot-ball Clube”. Mais tarde surgiu um outro clube,
o “Sport Club Freixoense”. Pouco tempo depois, fundiram-se num só, que se
denominou “União Foot-ball Freixoense”. O relato desta fusão surge no jornal
“Cardeal Saraiva” de 23 de Maio de 1924. A sua vida, contudo foi efémera.
3. A Fundação da Associação Desportiva “Os Limianos”
Entre os finais da década de quarenta, mais propriamente os anos de 1948 ou
1949, e a data da fundação da Associação Desportiva “Os Limianos”, logo no início
de 1953, houve como que um hiato no futebol em Ponte de Lima. De facto, salvo
algumas partidas ocasionais de grupos informais, não mais existiu uma organização
dedicada ao futebol, o que fez com que muitos dos bons valores da terra, tenham
procurado outros clubes da região para colocarem em prática os seus dotes
futebolísticos.
O primeiro documento relativo à Associação Desportiva “Os Limianos” data
de 10 de Janeiro de 1953. Era o livro que havia de servir para as contas gerais, ou
diário da associação, cujo termo de abertura foi assinado pelo vice-presidente, João
Matos Maia. Contudo, numa nota logo a seguir inserida, ficou esclarecida a
verdadeira data da fundação do clube mais representativo de Ponte de Lima e do seu
concelho, e que passo a transcrever, actualizando o português:
“A 1ª reunião para organização da Comissão Fundadora, foi em 05/03/53, entre
João Matos Maia, Epifânio Morais, Ramiro L. Amorim e António Dias Rebelo,
ficando assente, encontrarem com o Presidente da Câmara, Dr. Filinto de Morais em
08/01/53.”
Ficou então bem claro que a data de arranque, aquela que marcou o primeiro
dia da vida de “Os Limianos” foi o dia 3 de Janeiro de 1953, altura em que quatro
grandes limianos se reuniram para arrancar com a Comissão Fundadora. O clube foi
pensado, organizado e construído no Café Rebelo e na Farmácia Cerqueira. A
primeira decisão, foi a de reunir com o Presidente da Câmara Municipal para, como
veremos adiante, tratar de assuntos relacionados com o Campo do Cruzeiro, único
recinto de jogos existente na vila, e que necessitava de obras de melhoramento, para
poder fazer face às exigências da época, sobretudo relativamente à entrada em
competições oficiais, pois, como já foi dito num capítulo anterior, antes da fundação
da Associação Desportiva “Os Limianos” e durante muitos anos, não houve futebol
federado em Ponte de Lima, o que fez com que o seu único parque de jogos de
deteriorasse progressivamente.
Ainda na nota do primeiro livro da associação, e referindo-se à reunião com o
Presidente da Câmara Municipal, podia ler-se o seguinte:
“Este prometeu executar a planta de arranjo do campo, nesse mesmo ano, e foram
chamados para a Comissão mais o Sr. Tarquínio Vieira e o Sr. José da Silva”.
Os membros da Comissão pretendiam já na época desportiva 1953/54
participar no Campeonato Distrital da Associação de Futebol de Braga, e o arranjo do
campo era prioritário. Por isso, na reunião de 8 de Janeiro de 1953, obtiveram
garantias do Presidente da Câmara, Dr. Filinto de Morais, que a Câmara executaria a
planta da obra. Depois, grande importância teve o Sr. Ramiro Amorim que, com o
material que possuía - era um empresário da área, foi o responsável pela maior parte
das obras efectuadas no Campo do Cruzeiro, que o colocaram praticável,
possibilitando a realização dos jogos do Campeonato Distrital, logo na época
1953/54.
Outro aspecto interessante deste documento é a inserção na Comissão
Fundadora de dois novos elementos, os Srs. Tarquínio Vieira e José da Silva, que
assim completaram o grupo de fundadores.
De acordo com elementos ligados à fundação, o nome do clube pretendia dar-
lhe uma abrangência maior do que aquela que seria a mais natural, ou seja, o
concelho de Ponte de Lima. Por isso, optou-se por Associação Desportiva “Os
Limianos”, entendendo-se por “Os Limianos”, todos aqueles que vivessem na Ribeira
Lima, desde o Lindoso até à Foz, em Viana do Castelo. Estamos por isso em crer que
foi a Associação Desportiva “Os Limianos”, com a sua denominação e por estar
sediada em Ponte de Lima, que permitiu que os habitantes de Ponte de Lima
começassem a ser conhecidos por “limianos”. Aqui se vê e se sente a força do futebol
e a importância social deste desporto.
Na Segunda reunião da Comissão Fundadora, foram discutidos e elaborados
os Estatutos do Clube, estatutos que, curiosamente, vigoraram até 1999, altura em que
foram revistos. Estes foram dactilografados pelo Sr. José Silva, em papel selado de
2$50 e ditados pelos Srs. Epifânio Morais, João Matos Maia e Tarquínio Vieira. A
base dos primeiros Estatutos da A.D.L. foram os do Gil Vicente Futebol Clube, de
Barcelos, na altura conseguidos pelo Sr. João Matos Maia.
Em Fevereiro, os Estatutos foram remetidos à Associação de Futebol de Braga
para filiação, tendo em conta que a Associação de Futebol de Viana, a esta data, já
não existia, aparecendo somente no início da década de setenta.
Os estatutos foram posteriormente aprovados, por despacho Ministerial de 23
de Abril de 1953. Era ao Ministério da Educação Nacional, através da Direcção Geral
da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar, a quem cabia aprovar os Estatutos
dos Clubes Desportivos. O extracto da aprovação foi publicado no Diário do Governo
nº 100, III série, de 28 de Abril de 1953. A primeira Assembleia Geral do Clube,
realizou-se no dia 24 de Maio de 1953, na Sede da Associação Desportiva “Os
Limianos”, no Largo da Lapa, com a participação de trinta e um associados.
Um dado curioso, e por muitos desconhecido, está nas modalidades que era
objectivo dos fundadores promover no clube. De facto, A D. “Os Limianos” não
nasceu apenas para fomentar o futebol em Ponte de Lima. Os seus Estatutos referiam-
se expressamente ao “desenvolvimento e prática de todos os desportos em geral e do
Futebol em particular”.
Embora a ênfase seja inteiramente colocada no futebol, tornou-se clara a
disposição de implementar e desenvolver outras modalidades desportivas.
Infelizmente, até aos nossos dias, poucas foram as experiências, com realce apenas
para o Hóquei em Patins, secção que ainda hoje está em actividade e que realiza um
bom trabalho nos escalões de formação. Contudo, sabemos que, em 1953, era
intenção dos fundadores o fomento do atletismo e do ciclismo, modalidades de cariz
marcadamente popular e muito do agrado geral que, curiosamente, hoje em dia
marcam uma reduzida presença no concelho.
Os primeiros sócios da Associação Desportiva “Os Limianos”, ou sócios
fundadores, foram então os seguintes:
1. Filinto Elísio de Morais
2. Epifânio Rodrigues Morais
3. João Matos Maia
4. Ramiro Amorim
5. António Dias Rebelo
6. Tarquínio Vieira
7. José Joaquim Fernandes da Silva
O eco na imprensa local deste acontecimento histórico, não se fez esperar. O
semanário “Cardeal Saraiva”, único periódico que à data via a luz do dia, noticiou
logo no dia 15 de Janeiro a constituição da comissão “de simpáticos rapazes da nossa
terra” para a fundação do clube. Duas semanas mais tarde, a 29 de Janeiro, embora
deturpando o nome, chamando-lhe Grupo Desportivo “Os Limianos”, foi noticiado o
lançamento de “títulos especiais” para que a nova associação fizesse face “às suas
despesas obrigatórias. Os locais onde esses títulos podiam ser adquiridos, eram a casa
do Sr. João Matos Maia e o Café Dias Rebelo. Vamo-nos deter um pouco nesta
questão dos títulos, porque nos parece deveras curiosa pois, com esta fórmula da
venda de títulos, parece-nos que a Associação Desportiva “Os Limianos” foi uma das
percursoras das actuais SAD’s, ou Sociedades Anónimas Desportivas, tão em voga no
desporto português dos nossos dias. O que é certo é que já no dia 24 de Janeiro de
1953 existem registos de venda de títulos, exarados num livro de “accionistas” que
tivemos a possibilidade de consultar. Através desses registos, tivemos a possibilidade
de verificar que a venda de títulos decorreu até Abril de 1953, sendo a mesma
efectuada em títulos numerados individuais, com o valor unitário de 10$00, títulos de
5 acções, com o valor unitário de 50$00 e títulos de 10 acções, com o valor unitário
de 100$00.
Dos registos que consultamos, concluímos que o total arrecadado, com a
venda de títulos, foi de 4 730$00, uma verba preciosa para o arranque da Associação.
Em jeito de curiosidade, o primeiro subscritor de títulos foi o Dr. Francisco Malheiro
Correia, que adquiriu 5 acções individuais. Contudo, de acordo com os promotores da
iniciativa, o resultado financeiro não foi o melhor ou, pelo menos, o esperado pois,
conforme o tempo ia passando, foi-se verificando que havia “investidores” que
estavam a contar com dividendos rápidos ou mesmo com a devolução do montante
investido, ou emprestado. Este factor descredibilizou a venda dos títulos e esta teve
que ser interrompida.
A primeira sede da Associação Desportiva “Os Limianos” situava-se no Largo
da Lapa, naquela que foi a “Casa da Roda”, e que ainda hoje existe no mesmo local.
Segundo os seus fundadores, tinha óptimas instalações, com ginásio e balneários. Os
balneários eram muito importantes pois, como não existiam no Campo do Cruzeiro,
era aqui que os atletas de equipavam e preparavam para os jogos e treinos, indo
depois a pé ou de automóvel para o campo de jogos. Na sede foram instaladas mesas
de Ténis de Mesa e um bilhar, espólio herdado do desaparecido Vasco da Gama.
Os primeiros Corpos Gerentes da Associação Desportiva “Os Limianos”,
ficaram assim constituídos:
Assembleia Geral - Presidente, Dr. Filinto Elysio de Morais; Vice Presidente, D.
António Abreu L. M. Pereira Coutinho; 1º Secretário, Júlio Fernandes de Carvalho e
2º Secretário, Rogério de Sousa Guerra.
Direcção - Presidente, Epifânio Rodrigues de Morais; Vice-Presidente, João Matos
Maia; Tesoureiro, António Dias Rebelo; 1º Secretário, Ramiro Luís de Amorim; 2º
Secretário, Tarquinio de Sousa Vieira; Vogais, Silvio da Conceição Pereira Ferraz e
Óscar de Passos Pereira Ferraz; Substitutos, António Gomes da Silva, Manuel Alves
Martins e Jorge Braga Gonçalves.
Conselho Fiscal - José Pereira de Magalhães Junior, José Vieira, José Maria
Gonçalves Marinho e Claudino Pereira Martins.
Os cérebros, grandes dinamizadores e principais entusiastas da A.D.L. foram,
sem dúvida Epifânio Morais, João Matos Maia e António Rebelo.
4. O Primeiro ano
Logo que se começou a delinear o próprio clube, o futebol começou a
funcionar. A actividade, no início era intensa e os treinos cedo começaram. Em
Janeiro já a “rapaziada” tinha começado a sua preparação, com treinos às terças e
quintas feiras. Na sua edição de 5 de Janeiro, o “Cardeal Saraiva” noticiava já que “a
rapaziada mostrava qualidades apreciáveis de bom desporto” e que a “Comissão de
“Os Limianos” já estava adquirindo todos os equipamentos necessários à prática do
futebol”. Por isso, além da matéria humana, que pelos vistos era de boa qualidade, era
notória a intenção de, desde logo, iniciar actividade, com a realização de jogos
particulares. A entrada no Campeonato Distrital da Associação de Futebol de Braga,
só se poderia efectuar na época seguinte, tendo em conta que a 1953/54, já se
encontrava em andamento.
O primeiro jogo de futebol particular, disputado pela Associação Desportiva
“Os Limianos”, realizou-se no Campo do Cruzeiro, no dia 14 de Março de1953. O
adversário foi o Sporting Clube de Barcelos, uma filial do Sporting Clube de
Portugal. Até Julho, “Os Limianos” disputaram diversos jogos particulares com
equipas da região, como o Deu-la-Deu de Monção, Futebol Clube de Viana, Grupo
Desportivo da Casa do Povo de Lanheses, Vilaverdense Futebol Clube, Barca
Atlético Clube, etc.
Como era de prever, a equipa da Associação Desportiva “Os Limianos” foi
inscrita na Associação de Futebol de Braga, tendo disputado o seu primeiro
Campeonato Regional da 1ª. Divisão, na época 1953/54. Os clubes participantes,
cerca de treze, foram divididos em duas zonas, tendo a equipa de Ponte de Lima
como adversários o Esposende Sport Clube, Desportivo de Monção, Leões Futebol
Clube, Futebol Clube de Amares e Clube Atlético Valdevez. De acordo com o
regulamento, caberia aos primeiros de cada zona a disputa da 3ª. Divisão Nacional,
enquanto que os segundos classificados disputariam uma poule, a duas mãos, para
apurar mais um clube para a 3ª. Divisão.
O primeiro jogo oficial da Associação Desportiva “Os Limianos” foi
disputado contra o “Leões Futebol Clube” de Braga, no Campo do Cruzeiro.
5. A Década de 50
A primeira equipa de juniores
Rezam as crónicas que 1964 marcou uma grande crise directiva. O vazio
directivo prolongou-se por alguns meses. Contudo, logo que foi encontrada uma
Direcção para o clube, o Sr. José Silva, actual sócio número 2 de “Os Limianos” e um
dos sócios fundadores do clube em 1953, propôs-se constituir uma equipa júnior,
dando corpo a uma ideia antiga e a uma antiga aspiração do próprio clube, numa terra
cheia de jovens com excelentes qualidades para o futebol, que tinham de esperar pela
idade sénior para poderem praticar o desporto preferido. E se bem o pensou, melhor o
executou. Trabalhando autonomamente relativamente à Direcção, embora em total
sintonia com esta, para o Sr. José Silva o treinador foi fácil de encontrar, pois a
escolha recaiu sobre o mesmo que orientava a equipa sénior, depois de ter sido
também jogador de “Os Limianos”, o Palmeira, conhecido e conceituado na época,
tendo jogado várias épocas na 1ª Divisão, ao serviço do Sporting de Braga, clube que
capitaneou. De acordo José Barros Gonçalves - Catrina “era um grande professor de
futebol” e que “com ele só não jogava quem não queria ou não podia”.
José Silva inscreveu na Associação de Futebol de Braga - onde estavam
filiados “Os Limianos”, vinte e seis jogadores, a maioria dos quais respondeu a um
apelo, publicado no “Cardeal Saraiva” de 7 de Agosto de 1964, dirigido “aos rapazes
do concelho, com idade entre os 15 e os 18 anos, para fazerem a sua inscrição na sede
do clube”.
Depois de resolvidos os problemas burocráticos da inscrição de jogadores,
começaram os treinos. Como era necessário preparar bem a equipa, os juniores
treinavam duas vezes por semana e, como o Campo do Cruzeiro não estavam
electrificado, não sendo possível treinar de noite, os aprontos eram realizados na
Avenida dos Plátanos ou no Jardim junto à actual Câmara Municipal onde a luz
pública possibilitava um trabalho em condições, no mínimo, difíceis. Mas, como
quem corre por gosto não cansa, às terças e quintas os “rapazes” de “Os Limianos” lá
treinavam com afinco para a estreia no Campeonato Distrital da A.F. de Braga.
Em 2 de Outubro de 1964, um Domingo de manhã, estreou-se a equipa de
juniores da A.D.L. num jogo realizado em Vila Verde, com o Vilaverdense. Depois
do habitual pequeno almoço oferecido à malta, ora pelo Café Rebelo, ora pelo Café
Central, lá rumaram os nossos juniores a Vila Verde na carrinha do clube, uma
preciosidade onde, segundo José Catrina, “além de entrarem os jogadores, também
entreva a chuva e o frio”. A acompanhá-la seguiram muitos limianos que “iam ver os
pequeninos”, expressão muito ouvida na época. Aliás, os jogos de juniores eram
presenciados por largas centenas de pessoas, entre as quais inúmeras raparigas da
terra, que vibravam e apoiavam a sua equipa.
O jogo de estreia não começou nada mal. Ao intervalo “Os Limianos”
venciam por 2-1. O Primeiro golo da história da equipa de juniores e do futebol
juvenil de “Os Limianos”, em jogos oficiais, foi marcado pelo José Barros, mais
conhecido por Pepe, hoje um conceituado empresário da nossa praça. Contudo, na
segunda parte os “meninos” da casa recuperaram e deram a volta ao resultado,
vencendo por 4-3. Os “meninos” de Ponte de Lima criticaram duramente a
arbitragem. Mas um episódio que o Sr. José Barros nos relatou, pode estar na origem
do súbito e surpreendente abaixamento de produção dos “meninos” de Ponte de Lima.
É que naquele dia os jogadores calçaram pela primeira vez as chuteiras compradas
pelo clube. Pelos vistos, ao intervalo, já poucos aguentavam as dores provocadas
pelas bolhas e os pés inchados…
Para a história, fica a primeira equipa de juniores de “Os Limianos”,
precisamente a que alinhou no jogo em Vila Verde:
José; Sousa, Fernando e Ferraz; Faria e Amorim; Felizardo, Gandarela, Pepe,
Acácio e Reboredo. Outros elementos que faziam parte do plantel, e de acordo com
elementos recolhidos do jornal “Cardeal Saraiva” eram Vieira, Catrina, Cunha,
Gonçalves, Ligeiro e Zé Lima.
Neste primeiro ano a equipa classificou-se num honroso segundo lugar.
Na época seguinte, o treinador foi o Sr. José Pinto, homem intimamente
ligado à história do clube, onde foi jogador, como grande formador de jogadores e,
como ele gosta de frisar, de Homens. O seu trabalho e dedicação - chegou a treinar
em simultâneo três escalões - deram à Associação Desportiva “Os Limianos”
excelentes jogadores, que passaram depois por grandes equipas do nosso futebol.
José Pinto, hoje a caminho dos 70 anos, recorda com saudade aqueles tempos
em que, recém chegado do Brasil, abraçou o comando técnico da equipa de juniores.
Nessa época pontificavam nessa equipa alguns jovens que vieram a dar cartas no
futebol limiano e nacional: Franklim, Acácio Pimenta, Malheiro, Bitotas, um extremo
que José Pinto adaptou a central, etc., etc.
Tal como na época anterior, a equipa também treinava de noite, na Avenida
dos Plátanos, no Jardim fronteiro à Câmara Municipal e até no Teatro Diogo
Bernardes! Onde as escadas propiciavam um excelente treino físico. As noites de luar,
possibilitavam o treino no Campo do Cruzeiro. José Pinto contou-nos, com alguma
ironia, um episódio passado nesses tempos. “Certo dia, devido a um treino que incluía
saltos, realizado no Jardim Municipal, o piso deste sofreu alguma erosão. Tal facto,
detectado pelos jardineiros municipais, provocou uma chamada do treinador à
Câmara Municipal, liderada pelo saudoso Dr. Vieira de Araújo, onde foi repreendido
devido aos danos causados ao município. Outra história curiosa, contada por José
Pinto, tem a ver com um jogador chamado Aprígio, que era filho de barbeiro e cujo
pai não o autorizava a jogar futebol, enquanto não desfizesse, sozinho, uma barba a
um cliente no estabelecimento do seu progenitor. José Pinto teve que ir à barbearia,
chamar o Aprígio e “obrigá-lo” a desfazer-lhe a barba. É evidente que o Aprígio foi
depois jogar à bola.
José Pinto recorda, sempre com grande saudade, aqueles tempos em que muita
gente seguia a equipa junior. Referiu inclusivamente um jogo realizado em Barcelos,
com o Gil Vicente, em que um “mar” de gente de Ponte de Lima foi assistir ao jogo.
A equipa de Juniores de 1965/66 foi campeã distrital da A. F. de Braga, tendo
disputado nessa mesma época os nacionais da categoria. O prémio foi uma gravata,
oferecida pelo saudoso Vasquinho da “Casa das Meias”, com a qual posaram no
momento da consagração, no Campo do Cruzeiro. Foi uma grande parte dos
jogadores dessa equipa que integraram a equipa sénior, também ela Campeã Distrital
de Braga na época 1968/69..
José Pinto é uma referência do futebol juvenil limiano. O seu trabalho e os
frutos do seu trabalho são bem visíveis. Que o digam os Branco, Redondo, Franklim,
Acácio, Caçador, Ló, Simba, Zé da Veiga - um dos grandes jogadores de Ponte de
Lima, segundo José Pinto, que só não chegou mais longe devido a uma série de
infelicidades que sobre ele se abateram. A história, o seu passado, os excelentes
jogadores e Homens que ajudou a formar e a sua dedicação a “Os Limianos” são a
melhor homenagem que lhe podemos prestar.