contributos para a histÓria da associaÇÃo desportiva

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CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DA ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA “OS LIMIANOS” João Carlos Brandão Gonçalves 1. Introdução No dia 5 de Janeiro de 2003, faz precisamente cinquenta anos que um grupo de limianos se propôs, e conseguiu, constituir um clube desportivo em Ponte de Lima, precisamente aquele que, cinquenta anos volvidos, é o maior clube desportivo do concelho e um dos maiores do distrito de Viana do Castelo, com prestígio nacional, confirmado pelo seu título nacional da 3ª divisão, conquistado na época 1995/96. Ao longo desta obra, tentaremos retractar o futebol limiano, desde o início do século, ou seja, aqueles que são os antecedentes de “Os limianos”, até à fundação da A.D.L., a história do clube desde o seu primeiro segundo, os grandes protagonistas do nosso clube, desde os dirigentes até aos jogadores, os momentos altos e menos bons da vida do nosso clube, em suma, cinquenta anos de história até hoje nunca passada a escrito. Muitas foram as dificuldades sentidas na realização deste trabalho. Em primeiro lugar, o arquivo de “Os Limianos” está praticamente todo destruído, devido às más condições em que sempre esteve acondicionado e o que existe não está devidamente organizado e acondicionado.

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Page 1: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DA ASSOCIAÇÃO

DESPORTIVA “OS LIMIANOS”

João Carlos Brandão Gonçalves

1. Introdução

No dia 5 de Janeiro de 2003, faz precisamente cinquenta anos que um grupo

de limianos se propôs, e conseguiu, constituir um clube desportivo em Ponte de Lima,

precisamente aquele que, cinquenta anos volvidos, é o maior clube desportivo do

concelho e um dos maiores do distrito de Viana do Castelo, com prestígio nacional,

confirmado pelo seu título nacional da 3ª divisão, conquistado na época 1995/96.

Ao longo desta obra, tentaremos retractar o futebol limiano, desde o início do

século, ou seja, aqueles que são os antecedentes de “Os limianos”, até à fundação da

A.D.L., a história do clube desde o seu primeiro segundo, os grandes protagonistas do

nosso clube, desde os dirigentes até aos jogadores, os momentos altos e menos bons

da vida do nosso clube, em suma, cinquenta anos de história até hoje nunca passada a

escrito.

Muitas foram as dificuldades sentidas na realização deste trabalho. Em

primeiro lugar, o arquivo de “Os Limianos” está praticamente todo destruído, devido

às más condições em que sempre esteve acondicionado e o que existe não está

devidamente organizado e acondicionado. Esta situação agravou-se sobretudo a partir

do momento em que foi “guardado” no Campo do Cruzeiro. À falta de apoio

documental, tivemos que nos socorrer da imprensa local, sobretudo do “Cardeal

Saraiva”, o periódico limiano que, mais de perto, acompanhou a existência do clube e

mais atenção deu ao futebol e aos “Limianos”. Depois, e felicidade a nossa em tê-lo

conseguido, ouvimos muitos dos homens que estiveram nos grandes momentos da

vida do clube, desde a sua fundação até aos nossos dias. São esses testemunhos dos

que fundaram o clube, dos que o serviram, dos que muito trabalharam para o

engrandecer, que tivemos a honra de ouvir e utilizar para escrever este trabalho. Por

isso, esta obra é sobretudo deles e a eles dedicada, a todos aqueles que fizeram de “Os

Limianos” aquilo que são hoje e aquilo que representam para Ponte de Lima, para o

concelho e para o desporto distrital e nacional.

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Estamos em crer que, tendo em conta as circunstâncias em que este trabalho

foi realizado, estamos em presença de um documento histórico, que dará a conhecer à

maioria dos sócios, simpatizantes e limianos em geral uma faceta até hoje ignorada da

vida da Associação Desportiva “Os Limianos”, o maior clube de Ponte de Lima desde

que esta terra se conhece!

A todos aqueles que colaboraram na realização deste trabalho, tanto na recolha

de elementos dos jornais locais, depoimentos prestados, fornecimento de fotografias,

documentos emprestados, endereçamos daqui os nossos mais sinceros

agradecimentos.

2. Antecedentes de “Os Limianos”

É muito difícil fazer o levantamento dos primeiros passos do futebol em Ponte

de Lima. Além de, praticamente, não existirem documentos ou elementos escritos, os

jornais locais das primeiras décadas do século não elegiam o futebol como notícia.

Por isso, tivemos que nos socorrer de alguns depoimentos, da consulta dos poucos

elementos publicados na imprensa da época e ainda em dois trabalhos, pioneiros no

que diz respeito à história do futebol em Ponte de Lima. Estamo-nos a referir a um

artigo de Augusto Castro e Sousa, publicado no “Cardeal Saraiva” em 1969, e a um

trabalho de investigação de Adelino Tito de Morais, publicado no 1º número da II

Série, do “Anunciador das Feiras Novas”, publicado em 1984.

Pensa-se que o futebol foi introduzido em Ponte de Lima por Francisco de

Abreu de Lima que, por volta de 1910, apareceu com uma bola de couro no Campo

do Arnardo, freguesia de Arcozelo, provocando uma natural agitação junto dos

rapazes desse tempo. Era o “nascimento” do desporto rei em Ponte de Lima.

Novos registos são depois encontrados por volta de 1915. António de

Amorim, que veio passar férias junto de seus pais, na Quinta da Baldrufa, trouxe do

Porto uma bola que o ajudou a fazer furor em Ponte de Lima, tornando-se um

verdadeiro ídolo da juventude local, devido ao seu forte pontapé que, dizia-se,

“atravessava o campo de lado a lado”. Foi também com essa mesma bola que Manuel

Lúcio aprendeu a jogar e a defender, tendo ficado lembrado como um extraordinário

guarda-redes.

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2.1. Limiano Sport Clube

O primeiro clube de futebol, que existiu em Ponte de Lima, parece ter sido o

“Limiano Sport Clube”, fundado por Totó Amorim e que tinha a sua sede na Rua

General Norton de Matos. Estavamos em 1919 e este clube era quase integralmente

composto por estudantes. Talvez por isso, este clube gozava de muita estima por parte

dos habitantes de Ponte de Lima e a sua fama chegou mesmo junto das nossas

comunidades no Brasil. O seu campo de jogos situava-se no Campo da Feira e entre

os seus elementos contavam-se, entre outros Carlos Lima, José e Jaime Campos,

António Medeiros, Luís Vilar, António de Amorim, Francisco Aguiar, José Soares

Correia, Dr. Florimundo Pacheco, Bruno Pereira Pinto, António Melo, Alberto e

Augusto Cruz e Amândio Lisboa. As camisolas do “Limiano Sport Clube” eram às

riscas verticais verdes e brancas, cores que na época eram também as da bandeira do

município.

Como a maioria dos elementos da equipa eram estudantes no Porto, era

precisamente nessa cidade que se reuniam para treinar. Aos domingos, já em Ponte de

Lima, eram realizados os jogos.

Fruto do cansaço, dos afazeres dos seus elementos, muitos deles a trabalharem

longe de Ponte de Lima, o “Limiano Sport Clube” terminou a sua actividade por volta

de 1921, ou seja, dois anos depois da sua fundação.

Apesar disso, o nome “Limiano Sport Clube” não se extinguiu. De facto,

como se pode verificar pelos jornais da época, esta agremiação teve actividade na área

da animação, com a promoção de “soirés dançantes”, de acordo com relatos a época,

muito animadas e que, amíude, terminavam já na manhã do dia seguinte, e outras

actividades recreativas. A própria tomada de posse dos seus corpos sociais era feita

em clima de festa, como a de 1924, abrilhantada pela tuna do clube. O facto de existir

tuna no clube, leva-nos a pensar que eram ainda os estudantes que “animavam” as

actividades do clube, tal como aconteceu em 1919, quando se fundou, com a equipa

de futebol.

Depois de, em 1924 se ter fundido com o “Letes Atlético Clube”, o Limiano

voltou a Ter uma equipa de futebol. Em Novembro desse ano, em Barcelos, realizou-

se aquele que julgamos Ter sido o primeiro jogo da nova era do Limiano, contra o

Triunfo local. O Limiano foi copiosamente batido por 5-1. Tendo-se queixado

insistentemente da arbitragem que validou dois golos em claro off-side.

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Em 8 de Dezembro de 1924, em Assembleia Geral, os associados do Limiano

elegeram os Corpos Gerentes para 1925. Foram eleitos, para a Assembleia Geral, o

Dr. Adelino Ribeiro Sampaio, para a Direcção, Julio Pereira P. Junior e para o

Conselho Fiscal, Eduardo Pimenta. Nessa mesma Assembleia, e tendo em conta a

precaridade do Campo da Feira, onde eram disputados os jogos de futebol, foi

nomeada uma comissão, com o objectivo de arranjar um Campo para o Limiano.

Em 24 de Janeiro de 1925 a equipa do Limiano deslocou-se a Braga, para

defrontar o Sporting local. Embora apresentando a Segunda equipa, os locais

venceram por 3-0. De acordo com a crónica publicada do “Cardeal Saraiva”, o árbitro

não foi correcto, beneficiando claramente os locais, Como consolação, ficaram as

referências elogiosas da “Revista de Sport”, de Braga, ao Limiano.

O ambiente e colaboração entre as duas equipas de Ponte de Lima - Lusitano e

Limiano - eram, aparentemente, boas. Várias vezes foram feitas selecções dos

melhores jogadores de Ponte de Lima (Lusitano e Limiano), para defrontare,m outras

equipas. Uma destas situações ocorreu em 23 de Junho quando uma selecção

defrontou o Viana Foot-ball Club, encontro incluído no programa de festas de S.

João, em disputa de “um bronze” oferecido pela Comissão de Festas. Viana venceu

por 2-1.

Para 1926, os Corpos Gerentes eleitos foram, para a Assembleia Geral,

António de Sousa Amorim, para a Direcção José Luiz Vieira e para o Conselho Fiscal

Anibal Marinho.

O ano de 1926 marca o desaparecimento do Limiano, no que diz respeito à

sua equipa de futebol, precisamente no mesmo ano em que surgiu o Triunfo. Este

clube continuou a sua actividade noutras áreas, designadamente a recreativa. Em 1927

foi liderado por Caetano d’Oliveira, Presidente da Direcção.

2.2. Triângulo Negro Atlético Clube

Mas Ponte de Lima não esteve muito tempo sem um clube de futebol. De

facto, em 1922, no local onde hoje se situa o Restaurante Encanada, nasceu o

“Triângulo Negro Atlético Clube”. Tal como o próprio nome indica, equipavam todos

de preto. Desta equipa fizeram parte, entre outros, Meigo Dantas, Xico da Bia, que

era o guarda-redes, os irmãos Passarinhas. Durou, segundo sabemos, um par de anos.

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2.3. Letes Atlético Clube

O “Triângulo Negro” teve uma vida muito curta, dando lugar a um outro

clube, o “Letes Atlético Clube” que acabou pouco depois de ter nascido, apesar de se

conhecerem registos de actividade sua no areal junto à ponte, e na organização de

“soirés” dançantes com os sócios com o objectivo de angariar fundos. A sua sede

situava-se precisamente no edifício onde hoje está instalado o Restaurante

“Alameda”, no Largo de S. João, e foi inaugurada em 12 de Abril de 1924. No

entanto, conhecem-.se alguns relatos de jogos realizados por este clube em 1924,

numa altura em que existia também o Lusitano, designadamente dois disputados em

Viana do Castelo, com a Segunda equipa do Sport Clube Vianense, no mês de Janeiro

e Maio, em que os resultados foram, respectivamente 0-0 e 1-2. Em meados deste

mesmo ano começou-se a moldar fim do “Letes”, pois, em Junho, o “Limiano Sport

Clube”, através do seu Presidente Gonçalo d’Abreu Coutinho, publicava no jornal

“Cardeal Saraiva” uma convocatória para uma Assembleia Geral, a realizar em 29 de

Julho, no qual deveria ser tratada a fusão entre o “Limiano Sport Clube” e o “Letes

Atlético Clube”, facto que se viria a consumar, sendo o Letes absorvido pelo

Limiano.

2.4. O Lusitano e o Triunfo

Ainda em 1924, numa altura em que a animação futebolística em Ponte de

Lima era elevada, com a sucessiva criação de clubes, o Lusitano era uma das

formações que pontificavam. O “Lusitano Futebol Clube”, tinha sede na Rua General

Norton de Matos e era presidido por Ovídio de Sousa Vieira. Este clube teve um

grande apoio do comércio local. Realizava frequentemente jogos particulares, um dos

quais foi realizado em Viana do Castelo com o Seixas Foot-ball Clube, tendo o

Lusitano saido vencedor por 3-2.

Em Novembro de 1924, em jogo realizado no Campo da Feira, em Ponte de

Lima, o Lusitano venceu por 4-1, o Cruz de Cristo, da vizinha Ponte da Barca. Em

destaque, de acordo com o “Cardeal Saraiva”, esteve o médio centro Dantas.

Curiosamente, este jogo teve dois árbitros. Na primeira parte G. Duarte e, na

Segunda, Florimundo Pacheco.

Em Assembleia Geral, realizada nos finais de Dezembro de 1924, foram

eleitos os Corpos Gerentes do Lusitano, para 1925. O Presidente eleito foi Ovidio de

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S. Vieira, O Vice foi Gonçalo Gonçalves Saraiva e o Primeiro Secretário Armando

Magalhães.

Em 29 de Agosto de 1925, realizou-se em Ponte de Lima, um encontro de

futebol entre o Lusitano e o S. C. Valenciano. Este encontrou despertou enorme

expectativa, mesmo junto das hostes valencianas, que trouxeram até Ponte de Lima

inúmeros acompanhantes. O jogo terminou empatado a zero, mas o Lusitano realizou

uma excelente partida. O único senão foi o campo de jogos, sem condições mínimas

para a prática do futebol, facto que deixou espantados os valencianos, que “ficaram

admirados por não existir um campo de futebol na vila”.

Para o ano de 1926, os Corpos Gerentes foram, António José Linhares Junior,

Presidente e Salvador Pinto de Abreu, Vice Presidente.

Pouco tempo depois, Ponte de Lima assistiu a uma das mais esplendorosas

épocas do seu futebol.

Em 1926 apareceu mais um clube em Ponte de Lima. O “Triunfo Sport

Clube”, com sede na Rua do Arrabalde. Este clube teve como grandes promotores

gente jovem e, na base da sua equipa, são lembrados os Morais (João e António). O

despique e a rivalidade entre estas duas formações fizeram história em Ponte de Lima,

sendo ainda hoje recordados os “animados” jogos entre estes dois clubes. O palco

natural desses autênticos duelos era o Campo da Feira, com prolongamento nos cafés

e tascas da vila, embora os jogos entre estas duas equipas fossem “amigáveis”

(embora pouco), devido à inexistência de qualquer campeonato na época.

O primeiro jogo de que temos registos, realizou-se num Domingo, no final do

mês de Fevereiro de 1926, e logo o Triunfo bateu o Lusitano por 2-1. Estavamos

numa época de grande movimento futebolístico em Ponte de Lima. Surgem relatos de

jogos da equipa B do Lusitano, além de uma equipa de infantis do Triunfo. Esta

equipa fez a sua estreia contra o Arcoense, tendo vencido por 7-1.

A 18 de Abril, deu-se um acontecimento impar, naquela época. Deslocou-se a

Ponte de Lima a equipa do Ibéria de Tuy, disputar o primeiro encontro internacional

do Lusitano. Os de Ponte de Lima venceram categoricamente por 7-0 mas, mesmo

assim, o cronista do “Cardeal Saraiva”, classificou os espanhóis como a melhor

equipa que até lá tinha passado por Ponte de Lima.

Sempre condicionados pelo estado do Campo da Feira, que não permitia a

explanação do futebol das equipas, servindo mesmo de argumento para os derrotados,

Page 7: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

Lusitano e Triunfo resolveram organizar um tira-teimas, em Viana do Castelo, no

Campo de Monserrate, que se realizou em 26 de Junho de 1926. Muitos limarenses,

mas mesmo muitos, deslocaram-se até Viana do Castelo para assistir a esta partida. O

Triunfo saiu vencedor desta verdadeira “prova dos nove”. No regresso, os apoiantes

das duas equipas envolveram-se, por diversas vezes em acesas discussões e cenas de

pancadaria.

Para o ano de 1927, os Corpos Gerentes do Lusitano eram, na Assembleia

Geral, Manuel Carlos da Fonseca, na Direcção Alvaro Augusto de Sousa e, no

Conselho Fiscal, António Basílio Franco.

Ambos os clubes disputavam os seus jogos no Campo da Feira. Contudo,

devido à projecção dos seus jogos e jogadores, à própria rivalidade entre ambos e,

sobretudo, às difíceis condições do Campo da Feira para a prática do Futebol, facto

muitas vezes citado no jornal “Cardeal Saraiva” e qualificado mesmo como “uma das

maiores vergonhas do nossa terra”, mais tarde, em 1927 inauguraram os respectivos

campos de futebol. O Triunfo em S. João, na Quinta da Corunheira, por detrás da

capela, em terreno hoje pertencente à família Matos, inaugurado a 1 de Maio com um

jogo Triunfo-Vianense, e o Lusitano com o Campo do Cruzeiro, em 27 de Maio, com

a presença do Salgueiros e do Sporting de Braga. O Campo do Triunfo, em S. João,

possuia mesmo dois balneários, com água corrente, luxo só possível devido à

proximidade do Ribeiro de Crasto. Estas obras, que possibilitaram a construção de

dois campos de futebol em Ponte de Lima, só foram possíveis graças ao bairrismo das

nossas gentes que, fora das suas horas de trabalho, ajudaram a tornar possível os

sonhos das duas equipas.

Esta foi uma época de grandes paixões clubisticas que proporcionaram uma

invulgar animação a Ponte de Lima, ao mesmo tempo que permitiram alguma

evolução do desporto rei na nossa terra.

O Triunfo é um dos clubes que mais recordações deixou às gentes locais, por

ser constituído por jovens e por estarem na memória das nossas gentes alguns

desacatos que muitos dos seus jogos provocavam. Ainda hoje são recordadas algumas

cenas de pancadaria que se verificavam no Café Central, motivados por discussões

acerca do Lusitano e do Triunfo. O seu primeiro Presidente foi Amadeu Cândido

Lopes que, a meio do seu mandato, acabou por se demitir.

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Da equipa do Triunfo, cuja camisola era metade verde, metade laranja, faziam

parte os seguintes elementos: Manuel Correia, Emílio e Plata; Armindo Ferreira,

Xiquinho e Aurélio Faria; João Matos, Amândio Faria, Laura, Luís Vilar e Domingos

Ribas. No início, jogavam ainda nesta equipa os irmãos António e João Morais,

elementos que muito deram ao futebol local e que depois passaram para a função

dirigente, Luís da Guia e João Vilar.

O Lusitano, que vestia camisolas de cor vermelha e branca, alinhava com os

seguintes elementos: Manuel Lúcio, Cabral e José Penha Vieira; António Melo, João

Portugal e João Dantas; Fonseca, Américo de Jesus, Freitas, Gaio e Meireles.

Durante os anos em que estes clubes estiveram em actividade, Ponte de Lima

pode assistir a muitos e bons jogos. Na memória dos jogos do Lusitano, conta-se um

jogo em Espanha, contra o Deportivo de Porrinho, que os visitados venceram com um

golo de penalti e onde Manuel Lúcio, o guardião da equipa, fez uma exibição

assombrosa, sendo comparado pelos espanhóis ao mítico Zamora. Quanto ao Triunfo

chegou a jogar com o Boavista, nos tempos em que alinhava pela equipa do Bessa

aquele que era considerado o melhor trio defensivo de Portugal, constituido por

Casoto, Óscar e Luzia. Além da equipa do Bessa, o Triunfo defrontou ainda, entre

outros, o Salgueiros e o Leça.

Apesar de os seus jogadores serem todos amigos fora das quatro linhas, na

época ninguém conseguia esquecer os jogos entre o Lusitano e o Triunfo, tal a

rivalidade existente entre os dois clubes, que deixaram muitas saudades em Ponte de

Lima. Um dos jogos mais recordados, teve em disputa um valioso troféu em bronse,

oferecido pelo “Grupo dos Três Fleumáticos”, de Peso da Régua, em que o Triunfo

venceu o Lusitano por três bolas a uma. O árbitro desse jogo foi António Amorim, da

Casa da Baldrufa.

Tanto o Lusitano como o Trunfo tinham um hino próprio, amiúde

cantarolados pelas raparigas, nas fontes e no rio.

Tanto o Lusitano como o Triunfo desapareceram em 1930, quando viviam

com sérias dificuldades, semelhantes porventura aquelas que hoje os clubes também

atravessam. A opção foi a fusão dos dois clubes, para darem lugar ao “Ponte de Lima

Sport Clube”.

Sobre o desaparecimento do Triunfo, publicou o “Cardeal Saraiva” de 13 de

Fevereiro de 1930:

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“O seu espólio - algumas taças ganhas com honra, a sua heróica e rica

bandeira, etc. - vai ser recolhido piedosamente num pequenino, mas interessante

museu que está em projecto. No seu enterro não houve discurso, mas uma grande

vaga de saudade inundou por completo a alma da mocidade pontelimense que

dedicava acrisolado amor à florescente agremiação local.”

Sobre o Lusitano, o mesmo jornal referia:

“Servido calorosamente pela alma inquebrantável das damas do Pinheiro,

comove-nos imenso narrar o triste e nefando acontecimento da sua morte, ocorrida

após uma vida de sacrifício e honrosas batalhas. Era o rival do Triunfo S. C. e como

ele sabia caminhar de cabeça erguida para o campo da honra, sem o mais leve

desfalecimento.”

No entanto Lusitano não foi jamais esquecido, tendo existido algumas

equipas, constituídas informalmente, que adoptaram o seu nome. Exemplo disso é um

anúncio publicado no “Cardeal Saraiva” , em Junho de 1970, da realização de um

jogo entre o “Deu-la-Deu” de Monção e o Lusitano Foot-ball Club.

2.5. Ponte de Lima Sport Clube

Há quem diga que o Lusitano e o Triunfo, sem o ânimo de outros tempos,

optaram pela fusão. Foi por isso que, à tristeza do desaparecimento de dois grandes

símbolos do futebol em Ponte de Lima, sucedeu a satisfação de uma época gloriosa

do futebol limiano, precisamente com o “Ponte de Lima Sport Clube”. Esta época

gloriosa só foi possível com a selecção dos melhores elementos de cada uma das

equipas, formando um conjunto forte. Famoso, na época, ficou o trio defensivo do

Ponte de Lima, constituído por Lúcio, Cabral e Plata. Na linha média, Emílio Laura e

Gregório e, na avançada, Fonseca, Gaio, Salgueiros, Américo e Ribas.

Nesta época, durante a década de 30, grandes equipas da época e dos nossos

dias, jogaram no Campo do Cruzeiro, em Ponte de Lima e perderam. Entre outras,

citamos o Guimarães, Braga, Fafe, Salgueiros, o eterno rival das equipas de Ponte de

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Lima - Vianense, Gil Vicente, etc. Visitou ainda o “Ponte de Lima Sport Clube” o

Futebol Clube do Porto, com os famosos Pinga, Acácio Mesquita, Alvarito, Lopes

Carneiro, Temudo, Cardoso, Avelino Martins e Alvaro Sequeiros, que, embora

vencendo, teve uma excelente réplica dos nosso briosos jogadores que, contudo,

tiveram a infelicidade de meterem duas bolas na própria baliza, que fizeram o

resultado final.

2.6. Sporting Clube Limarense

Embora não existam registos concretos sobre o facto, cremos que o Sporting

Clube Limarense foi fundado por volta do ano de 1937. Os elementos que possuímos,

no entanto referem-se aos anos seguintes a 1939, quando a Direcção do clube era

encabeçada pelo Senhor António de Medeiros de Azevedo Lima, que tinha como seu

Vice-Presidente João Coutinho Vilar.

O Clube encontrava-se filiado na Associação de Futebol, depreendemos que

de Viana do Castelo. Em 1938 António de Medrios Lima demitiu-se do seu cargo,

tendo assegurado as funções João Coutinho Vilar, evitando uma crise neste Clube,

ainda a viver a sua infância.

Sobre o futebol, modalidade que concentrava as atenções no clube, alguns

factos curiosos merecem ser referidos. Nesta altura, já muitos jogadores forasteiros

representavam o clube. Vila Praia de Âncora foi sempre um excelente viveiro de

jogadores e muitos passaram por Ponte de Lima, ao longo de décadas. No Sporting

Limarense jogada Benjamim Pereira, daquela localidade.

Outro facto curioso, passou-se com uma pretensa falsificação de uma “carta de

desobriga”, carta que os atletas que mudavam de clube tinham que ser portadores para

se inscreverem no clube de destino. O jogador envolvido neste caso foi Mário Pinto, e

a pretensa falsificação levantou grande polémica no burgo e teve honras de aturadas

investigações. Os resultados é que são desconhecidos.

Interessante era o organigrama dos serviços internos da Direcção. Sem

funcionários, cabia aos directores assegurar todo o serviço administrativo, e não só!

Era assim: o Primeiro Secretário tratava das botas, bolas e distribuir e recolher

jogadores em treinos e jogos; o Segundo Secretário tinha a seu cargo o campo e

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balneários; José Pimenta, jogador mas também Vogal da Direcção, tinha a seu cargo

os assuntos relacionados com o desenvolvimento do futebol, embora estivesse

dispensado de qualquer tarefa nos dias de jogos; o outro Vogal da Direcção devia

fiscalizar as entradas nos jogos e o apoio ao Secretário e Tesoureiro. Por fim, o Vice-

presidente tinha o encargo de representar o Clube, com autorização para pequenas

despesas, sem autorização prévia.

Neste mesmo ano de 1938, e beneficiando da oferta de um intitulado “Grupo

de Amigos do Foot-ball”, o clube comprou 8 pares de botas na firma “Joaquim

Trindade” do Porto, ao preço de 60$00 o par.

O Sporting Limarense realizava os seus jogos no “Campo do Cruzeiro”, um

recinto que é testemunha da história do futebol em Ponte de Lima, uma autêntica

catedral do futebol limiano pois, desde 1927, viu passar pelo seu terreno muitos

clubes de Ponte de Lima e milhares de jogadores limianos.

Em 1939 entrou em funções uma Comissão, constituída à base de jogadores

que não quiseram deixar morrer o clube. Encontraram-no sem contas organizadas e

com muitos problemas. Muitas foram, por isso, as despesas iniciais, nomeadamente

com o arranjo e preparação do Campo, inscrições e despesas com jogadores, bolas,

botas, meias, pés elásticos, num total de 350$00 de encargos. Neste mesmo ano o

Clube “vendeu” duas cartas de “desobriga” por 1 100$00 e deu uma terceira. Estes

negócios fazem lembrar o actual mundo louco do futebol e todos os milhões

envolvidos.

O comportamento da equipa, no entanto, era do agrado geral, tendo sido

mesmo exarado em acta um louvor aos atletas “pela forma como se têm comportado

nos jogos”. Como curiosidade, fica o facto do voto de louvor ter sido votado pelos

próprios “louvados”, pois a Comissão era constituída à base de jogadores. Esta

mesma Comissão convocou, no dia 27 de Fevereiro de 1939, uma Assembleia Geral

para esse mesmo dia para informar os associados do abandono do clube por parte dos

atletas José da Rocha Lima, José Lima Vieira e João da Rocha Barros. Esta

Assembleia, convocada em tempo record, serviu ainda para eleger os Corpos

Gerentes para a época seguinte. Para a Assembleia Geral foi eleito o Dr. Henrique

Ramalho, para o Conselho Fiscal, o Sr. Henrique do Lago Sousa Machado e, para a

Direcção, Joaquim Coelho e Silva.

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Em 1939 o clube chegou a ocupar o primeiro lugar do Campeonato mas, no

final, o objectivo da subida não foi atingido.

O clube, que disputava o Campeonato Distrital, tinha a sua sede no Largo de

Camões. Já em 1940, através da leitura das actas, constata-se que o clube vivia com

sérias dificuldades, “sem vida e com reduzido número de sócios”.

Curiosa referência, estava inscrita na acta de 31/01/40: “Durante o mandato

foi travada uma verdadeira luta com o Lusitano Football Clube, desta vila que por

todos os meios, até pelos mais vergonhosos, nos tentou abrir falência, mas sem

conseguir os seus fins, logrando apenas uma atmosfera péssima para o seu futuro.

Para 1940/41 foi eleito para Presidente da Direcção António Gumarais,

secundado por Aleixo da Silva Barros. Em 1941, no meio de uma crise directiva, foi

eleita uma Comissão Administrativa, constituída pelos Srs. Aníbal Martins, António

José Correia e João Martins.

Como curiosidade, refira-se que o Limarense treinava duas vezes por semana,

às quartas-feiras e domingos, às seis horas da manhã, entre os meses de Maio e

Setembro, o que faz pressupor que os campeonatos decorriam nos meses de Verão,

parando nos meses de Inverno.

Para a posteridade, ficou uma interessante história, passada com um dos mais

valorosos elementos do plantel do clube, José Adelino Rosado Caçador. Este

elemento faltou, em 1939, a uma convocatória para um jogo que se realizou em Arcos

de Valdevez. A Direcção, desagradada com a situação, reuniu e decidiu aplicar-lhe

uma pena de 30 dias de suspensão, isto apesar das atenuantes dos bons serviços

prestados pelo atleta ao clube. Este foi um bom exemplo para todo o plantel, da forma

como se devia servir o clube.

2.7. Clube Desportivo de Ponte de Lima

Fundado no final da década de 40, mais propriamente em 1948, sucedeu ao

Limarense que não podia adoptar aquele nome devido a uma dívida à Associação de

Futebol de Viana do Castelo, no valor de 7 500$00. Os seus promotores optaram

então por Clube Desportivo de Ponte de Lima. Este facto pode ser perfeitamente

comprovado, pela notícia inserta no “Cardeal Saraiva” de 13 de Maio de 1948, onde

se refere que “Pela Direcção Geral dos Desportos, foram aprovados os Estatutos do

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Clube Desportivo de Ponte de Lima, que até à sua recente organização se denominava

“Limarense Sport Clube”. Esta notícia prova mesmo que, nos primeiros estatutos do

clube, a denominação seria Limarense Sport Clube. Este clube nunca esteve filiado,

tendo apenas efectuado jogos particulares, com clubes da região. No “Cardeal

Saraiva” Nº. 1450, de 15 de Julho de 1948, foi possível ficar a conhecer os Corpos

Sociais deste clube para o ano seguinte. Assim, como Presidente da Assembleia

Geral, foi eleito Rogério de Sousa Guerra, para a Direcção, Dr. Luiz Gonzaga Martins

Fernandes e para o Conselho Fiscal, Bruno Fritche Pereira de Castro.

2.8. Vasco da Gama

Bastante conhecido e acarinhado em Ponte de Lima, era o Vasco da Gama, do

Arrabalde, que proporcionou alguns interessantes despiques, sobretudo com o Vitória

e mesmo com o Limarense. Era conhecido em Ponte de Lima como sendo o clube da

Associação Comercial, tendo por isso o apoio do comércio local. Era mesmo um

clube muito acarinhado em toda a vila de Ponte de Lima. O Vasco da Gama teve

actividade no final da década de 40 e uma das suas características era a de alinhar

com muitos jogadores que não “serviam” para o Limarense. Era como que um clube

de dissidentes, tendo inclusivamente chegado a disputar o mesmo campeonato que o

Limarense, mais propriamente o Campeonato Distrital, da Associação de Futebol de

Viana do Castelo, que dava acesso à 2ª Divisão Nacional.

O Limarense foi vencedor do Campeonato Distrital, que o levou a disputar a

2ª. Divisão Nacional, com uma preciosa ajuda do Vasco da Gama. A história conta-se

em poucas linhas. Na última jornada do referido Campeonato, o Vasco da Gama, que

à semelhança do Limarense, alinhava no Campo do Cruzeiro, defrontou o Vianense

que disputou taco a taco, o Campeonato com o Limarense. A equipa de Viana do

Castelo chegou a Ponte de Lima com uma ligeira vantagem, bastando-lhe um empate

para se sagrar campeão. Mas o Vasco da Gama, com todos os seus jovens numa tarde

inspirada, venceu 4-1 e deu o título ao Limarense que, desta forma, se qualificou para

disputar o Campeonato Nacional da 2ª Divisão.

Page 14: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

A sede do Vasco da Gama, era no edifício situado na Praça da República,

onde hoje funciona a delegação de Turismo e, dentre os seus dirigentes, lembramos

Tarquínio Vieira, João da Paula e Júlio Guerra.

A extinção do Vasco da Gama teve a ver, embora indirectamente, com a passagem do

Limarense pela 2ª Divisão. De facto, num jogo disputado pelo Limarense no Campo

do Cruzeiro, houve distúrbios que levaram à interdição daquele recinto de jogos. Por

lapso, a Associação de Futebol de Viana do Castelo, considerou que o Campo do

Cruzeiro também ficaria interdito para os jogos do Vasco da Gama, a contar para o

Distrital. A revolta e o desconsolo dos dirigentes do Vasco da Gama foi tal, que

decidiram imediatamente vender o equipamento, para saldar algumas dívidas

existentes, facto que impedia o clube de continuar a disputar o campeonato. Quando,

mais tarde, a Associação desfez o engano, já o Vasco da Gama estava extinto e sem

equipamento para jogar.

No início da década de sessenta encontramos registos da actividade de um

clube denominado “Lusitano Futebol Clube”, que realizou diversos jogos nas

redondezas e composto maioritariamente por jovens de Ponte de Lima. A equipa de

1961 era composta, entre outros, por Orlando, Vieira, Alberto, Ferraz, Gaspar,

Lourenço, Nelson, Caçador IV, Domingos, Barros e Fernandes.

2.9. Os clubes de Bairro

Após o Ponte de Lima Sport Clube, vários clubes “de bairro” surgiram em

Ponte de Lima, fruto precisamente do bairrismo das gentes da nossa vila, e onde

evoluíram excelentes jogadores que, mais tarde reforçaram alguns dos principais

clubes da região. Contudo, a sua história é curta e sem projecção, pois nunca foram

filiados nem disputaram qualquer campeonato.

Um deles era o Vitória de Além da Ponte que, segundo conseguimos apurar,

era um excelente viveiro de jogadores. Entre os mais destacados, podemos citar

Amândio Lisboa, Manuel Lúcio, António Melo, Gregório e José Pimenta, Abílio, Rui

e Alípio, elementos que jogaram depois no Limiano, Ponte de Lima, Lusitano, G.D.

dos Empregados do Comércio e A.D. “Os Limianos”. Muito naturalmente, o Vitória

utilizava como parque de jogos o inevitável Arnado.

Page 15: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

Outra referência dos clubes de bairro, era o Passeiense, obviamente do Passeio

fronteiro ao areal do Rio Lima, que chegou a vencer o “Torneio do Moinho”,

disputado no areal.

No “Cardeal Saraiva” de 26 de Janeiro de 1950, aparece uma referência ao

“Clube Académico de Ponte de Lima”, num jogo que efectuou com a Associação

Académica de Viana do castelo. Parece-nos que tratou apenas de um grupo estudantil.

2.10. Clubes de Freixo

Além de Ponte de Lima, temos também referências ao futebol na freguesia de

Freixo, a Segunda freguesia do concelho de Ponte de Lima onde existiram clubes

dedicados ao futebol. Ainda hoje são recordados jogadores como os Gandarelas,

Manuel Araújo e Arrais Torres de Castro. O primeiro clube daquela localidade, data

já de 1924 e chamava-se “Estrela Foot-ball Clube”. Mais tarde surgiu um outro clube,

o “Sport Club Freixoense”. Pouco tempo depois, fundiram-se num só, que se

denominou “União Foot-ball Freixoense”. O relato desta fusão surge no jornal

“Cardeal Saraiva” de 23 de Maio de 1924. A sua vida, contudo foi efémera.

3. A Fundação da Associação Desportiva “Os Limianos”

Entre os finais da década de quarenta, mais propriamente os anos de 1948 ou

1949, e a data da fundação da Associação Desportiva “Os Limianos”, logo no início

de 1953, houve como que um hiato no futebol em Ponte de Lima. De facto, salvo

algumas partidas ocasionais de grupos informais, não mais existiu uma organização

dedicada ao futebol, o que fez com que muitos dos bons valores da terra, tenham

procurado outros clubes da região para colocarem em prática os seus dotes

futebolísticos.

O primeiro documento relativo à Associação Desportiva “Os Limianos” data

de 10 de Janeiro de 1953. Era o livro que havia de servir para as contas gerais, ou

diário da associação, cujo termo de abertura foi assinado pelo vice-presidente, João

Matos Maia. Contudo, numa nota logo a seguir inserida, ficou esclarecida a

verdadeira data da fundação do clube mais representativo de Ponte de Lima e do seu

concelho, e que passo a transcrever, actualizando o português:

Page 16: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

“A 1ª reunião para organização da Comissão Fundadora, foi em 05/03/53, entre

João Matos Maia, Epifânio Morais, Ramiro L. Amorim e António Dias Rebelo,

ficando assente, encontrarem com o Presidente da Câmara, Dr. Filinto de Morais em

08/01/53.”

Ficou então bem claro que a data de arranque, aquela que marcou o primeiro

dia da vida de “Os Limianos” foi o dia 3 de Janeiro de 1953, altura em que quatro

grandes limianos se reuniram para arrancar com a Comissão Fundadora. O clube foi

pensado, organizado e construído no Café Rebelo e na Farmácia Cerqueira. A

primeira decisão, foi a de reunir com o Presidente da Câmara Municipal para, como

veremos adiante, tratar de assuntos relacionados com o Campo do Cruzeiro, único

recinto de jogos existente na vila, e que necessitava de obras de melhoramento, para

poder fazer face às exigências da época, sobretudo relativamente à entrada em

competições oficiais, pois, como já foi dito num capítulo anterior, antes da fundação

da Associação Desportiva “Os Limianos” e durante muitos anos, não houve futebol

federado em Ponte de Lima, o que fez com que o seu único parque de jogos de

deteriorasse progressivamente.

Ainda na nota do primeiro livro da associação, e referindo-se à reunião com o

Presidente da Câmara Municipal, podia ler-se o seguinte:

“Este prometeu executar a planta de arranjo do campo, nesse mesmo ano, e foram

chamados para a Comissão mais o Sr. Tarquínio Vieira e o Sr. José da Silva”.

Os membros da Comissão pretendiam já na época desportiva 1953/54

participar no Campeonato Distrital da Associação de Futebol de Braga, e o arranjo do

campo era prioritário. Por isso, na reunião de 8 de Janeiro de 1953, obtiveram

garantias do Presidente da Câmara, Dr. Filinto de Morais, que a Câmara executaria a

planta da obra. Depois, grande importância teve o Sr. Ramiro Amorim que, com o

material que possuía - era um empresário da área, foi o responsável pela maior parte

das obras efectuadas no Campo do Cruzeiro, que o colocaram praticável,

possibilitando a realização dos jogos do Campeonato Distrital, logo na época

1953/54.

Page 17: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

Outro aspecto interessante deste documento é a inserção na Comissão

Fundadora de dois novos elementos, os Srs. Tarquínio Vieira e José da Silva, que

assim completaram o grupo de fundadores.

De acordo com elementos ligados à fundação, o nome do clube pretendia dar-

lhe uma abrangência maior do que aquela que seria a mais natural, ou seja, o

concelho de Ponte de Lima. Por isso, optou-se por Associação Desportiva “Os

Limianos”, entendendo-se por “Os Limianos”, todos aqueles que vivessem na Ribeira

Lima, desde o Lindoso até à Foz, em Viana do Castelo. Estamos por isso em crer que

foi a Associação Desportiva “Os Limianos”, com a sua denominação e por estar

sediada em Ponte de Lima, que permitiu que os habitantes de Ponte de Lima

começassem a ser conhecidos por “limianos”. Aqui se vê e se sente a força do futebol

e a importância social deste desporto.

Na Segunda reunião da Comissão Fundadora, foram discutidos e elaborados

os Estatutos do Clube, estatutos que, curiosamente, vigoraram até 1999, altura em que

foram revistos. Estes foram dactilografados pelo Sr. José Silva, em papel selado de

2$50 e ditados pelos Srs. Epifânio Morais, João Matos Maia e Tarquínio Vieira. A

base dos primeiros Estatutos da A.D.L. foram os do Gil Vicente Futebol Clube, de

Barcelos, na altura conseguidos pelo Sr. João Matos Maia.

Em Fevereiro, os Estatutos foram remetidos à Associação de Futebol de Braga

para filiação, tendo em conta que a Associação de Futebol de Viana, a esta data, já

não existia, aparecendo somente no início da década de setenta.

Os estatutos foram posteriormente aprovados, por despacho Ministerial de 23

de Abril de 1953. Era ao Ministério da Educação Nacional, através da Direcção Geral

da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar, a quem cabia aprovar os Estatutos

dos Clubes Desportivos. O extracto da aprovação foi publicado no Diário do Governo

nº 100, III série, de 28 de Abril de 1953. A primeira Assembleia Geral do Clube,

realizou-se no dia 24 de Maio de 1953, na Sede da Associação Desportiva “Os

Limianos”, no Largo da Lapa, com a participação de trinta e um associados.

Um dado curioso, e por muitos desconhecido, está nas modalidades que era

objectivo dos fundadores promover no clube. De facto, A D. “Os Limianos” não

nasceu apenas para fomentar o futebol em Ponte de Lima. Os seus Estatutos referiam-

se expressamente ao “desenvolvimento e prática de todos os desportos em geral e do

Futebol em particular”.

Page 18: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

Embora a ênfase seja inteiramente colocada no futebol, tornou-se clara a

disposição de implementar e desenvolver outras modalidades desportivas.

Infelizmente, até aos nossos dias, poucas foram as experiências, com realce apenas

para o Hóquei em Patins, secção que ainda hoje está em actividade e que realiza um

bom trabalho nos escalões de formação. Contudo, sabemos que, em 1953, era

intenção dos fundadores o fomento do atletismo e do ciclismo, modalidades de cariz

marcadamente popular e muito do agrado geral que, curiosamente, hoje em dia

marcam uma reduzida presença no concelho.

Os primeiros sócios da Associação Desportiva “Os Limianos”, ou sócios

fundadores, foram então os seguintes:

1. Filinto Elísio de Morais

2. Epifânio Rodrigues Morais

3. João Matos Maia

4. Ramiro Amorim

5. António Dias Rebelo

6. Tarquínio Vieira

7. José Joaquim Fernandes da Silva

O eco na imprensa local deste acontecimento histórico, não se fez esperar. O

semanário “Cardeal Saraiva”, único periódico que à data via a luz do dia, noticiou

logo no dia 15 de Janeiro a constituição da comissão “de simpáticos rapazes da nossa

terra” para a fundação do clube. Duas semanas mais tarde, a 29 de Janeiro, embora

deturpando o nome, chamando-lhe Grupo Desportivo “Os Limianos”, foi noticiado o

lançamento de “títulos especiais” para que a nova associação fizesse face “às suas

despesas obrigatórias. Os locais onde esses títulos podiam ser adquiridos, eram a casa

do Sr. João Matos Maia e o Café Dias Rebelo. Vamo-nos deter um pouco nesta

questão dos títulos, porque nos parece deveras curiosa pois, com esta fórmula da

venda de títulos, parece-nos que a Associação Desportiva “Os Limianos” foi uma das

percursoras das actuais SAD’s, ou Sociedades Anónimas Desportivas, tão em voga no

desporto português dos nossos dias. O que é certo é que já no dia 24 de Janeiro de

1953 existem registos de venda de títulos, exarados num livro de “accionistas” que

tivemos a possibilidade de consultar. Através desses registos, tivemos a possibilidade

de verificar que a venda de títulos decorreu até Abril de 1953, sendo a mesma

efectuada em títulos numerados individuais, com o valor unitário de 10$00, títulos de

Page 19: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

5 acções, com o valor unitário de 50$00 e títulos de 10 acções, com o valor unitário

de 100$00.

Dos registos que consultamos, concluímos que o total arrecadado, com a

venda de títulos, foi de 4 730$00, uma verba preciosa para o arranque da Associação.

Em jeito de curiosidade, o primeiro subscritor de títulos foi o Dr. Francisco Malheiro

Correia, que adquiriu 5 acções individuais. Contudo, de acordo com os promotores da

iniciativa, o resultado financeiro não foi o melhor ou, pelo menos, o esperado pois,

conforme o tempo ia passando, foi-se verificando que havia “investidores” que

estavam a contar com dividendos rápidos ou mesmo com a devolução do montante

investido, ou emprestado. Este factor descredibilizou a venda dos títulos e esta teve

que ser interrompida.

A primeira sede da Associação Desportiva “Os Limianos” situava-se no Largo

da Lapa, naquela que foi a “Casa da Roda”, e que ainda hoje existe no mesmo local.

Segundo os seus fundadores, tinha óptimas instalações, com ginásio e balneários. Os

balneários eram muito importantes pois, como não existiam no Campo do Cruzeiro,

era aqui que os atletas de equipavam e preparavam para os jogos e treinos, indo

depois a pé ou de automóvel para o campo de jogos. Na sede foram instaladas mesas

de Ténis de Mesa e um bilhar, espólio herdado do desaparecido Vasco da Gama.

Os primeiros Corpos Gerentes da Associação Desportiva “Os Limianos”,

ficaram assim constituídos:

Assembleia Geral - Presidente, Dr. Filinto Elysio de Morais; Vice Presidente, D.

António Abreu L. M. Pereira Coutinho; 1º Secretário, Júlio Fernandes de Carvalho e

2º Secretário, Rogério de Sousa Guerra.

Direcção - Presidente, Epifânio Rodrigues de Morais; Vice-Presidente, João Matos

Maia; Tesoureiro, António Dias Rebelo; 1º Secretário, Ramiro Luís de Amorim; 2º

Secretário, Tarquinio de Sousa Vieira; Vogais, Silvio da Conceição Pereira Ferraz e

Óscar de Passos Pereira Ferraz; Substitutos, António Gomes da Silva, Manuel Alves

Martins e Jorge Braga Gonçalves.

Conselho Fiscal - José Pereira de Magalhães Junior, José Vieira, José Maria

Gonçalves Marinho e Claudino Pereira Martins.

Os cérebros, grandes dinamizadores e principais entusiastas da A.D.L. foram,

sem dúvida Epifânio Morais, João Matos Maia e António Rebelo.

Page 20: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

4. O Primeiro ano

Logo que se começou a delinear o próprio clube, o futebol começou a

funcionar. A actividade, no início era intensa e os treinos cedo começaram. Em

Janeiro já a “rapaziada” tinha começado a sua preparação, com treinos às terças e

quintas feiras. Na sua edição de 5 de Janeiro, o “Cardeal Saraiva” noticiava já que “a

rapaziada mostrava qualidades apreciáveis de bom desporto” e que a “Comissão de

“Os Limianos” já estava adquirindo todos os equipamentos necessários à prática do

futebol”. Por isso, além da matéria humana, que pelos vistos era de boa qualidade, era

notória a intenção de, desde logo, iniciar actividade, com a realização de jogos

particulares. A entrada no Campeonato Distrital da Associação de Futebol de Braga,

só se poderia efectuar na época seguinte, tendo em conta que a 1953/54, já se

encontrava em andamento.

O primeiro jogo de futebol particular, disputado pela Associação Desportiva

“Os Limianos”, realizou-se no Campo do Cruzeiro, no dia 14 de Março de1953. O

adversário foi o Sporting Clube de Barcelos, uma filial do Sporting Clube de

Portugal. Até Julho, “Os Limianos” disputaram diversos jogos particulares com

equipas da região, como o Deu-la-Deu de Monção, Futebol Clube de Viana, Grupo

Desportivo da Casa do Povo de Lanheses, Vilaverdense Futebol Clube, Barca

Atlético Clube, etc.

Como era de prever, a equipa da Associação Desportiva “Os Limianos” foi

inscrita na Associação de Futebol de Braga, tendo disputado o seu primeiro

Campeonato Regional da 1ª. Divisão, na época 1953/54. Os clubes participantes,

cerca de treze, foram divididos em duas zonas, tendo a equipa de Ponte de Lima

como adversários o Esposende Sport Clube, Desportivo de Monção, Leões Futebol

Clube, Futebol Clube de Amares e Clube Atlético Valdevez. De acordo com o

regulamento, caberia aos primeiros de cada zona a disputa da 3ª. Divisão Nacional,

enquanto que os segundos classificados disputariam uma poule, a duas mãos, para

apurar mais um clube para a 3ª. Divisão.

O primeiro jogo oficial da Associação Desportiva “Os Limianos” foi

disputado contra o “Leões Futebol Clube” de Braga, no Campo do Cruzeiro.

5. A Década de 50

Page 21: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

A primeira equipa de juniores

Rezam as crónicas que 1964 marcou uma grande crise directiva. O vazio

directivo prolongou-se por alguns meses. Contudo, logo que foi encontrada uma

Direcção para o clube, o Sr. José Silva, actual sócio número 2 de “Os Limianos” e um

dos sócios fundadores do clube em 1953, propôs-se constituir uma equipa júnior,

dando corpo a uma ideia antiga e a uma antiga aspiração do próprio clube, numa terra

cheia de jovens com excelentes qualidades para o futebol, que tinham de esperar pela

idade sénior para poderem praticar o desporto preferido. E se bem o pensou, melhor o

executou. Trabalhando autonomamente relativamente à Direcção, embora em total

sintonia com esta, para o Sr. José Silva o treinador foi fácil de encontrar, pois a

escolha recaiu sobre o mesmo que orientava a equipa sénior, depois de ter sido

também jogador de “Os Limianos”, o Palmeira, conhecido e conceituado na época,

tendo jogado várias épocas na 1ª Divisão, ao serviço do Sporting de Braga, clube que

capitaneou. De acordo José Barros Gonçalves - Catrina “era um grande professor de

futebol” e que “com ele só não jogava quem não queria ou não podia”.

José Silva inscreveu na Associação de Futebol de Braga - onde estavam

filiados “Os Limianos”, vinte e seis jogadores, a maioria dos quais respondeu a um

apelo, publicado no “Cardeal Saraiva” de 7 de Agosto de 1964, dirigido “aos rapazes

do concelho, com idade entre os 15 e os 18 anos, para fazerem a sua inscrição na sede

do clube”.

Depois de resolvidos os problemas burocráticos da inscrição de jogadores,

começaram os treinos. Como era necessário preparar bem a equipa, os juniores

treinavam duas vezes por semana e, como o Campo do Cruzeiro não estavam

electrificado, não sendo possível treinar de noite, os aprontos eram realizados na

Avenida dos Plátanos ou no Jardim junto à actual Câmara Municipal onde a luz

pública possibilitava um trabalho em condições, no mínimo, difíceis. Mas, como

quem corre por gosto não cansa, às terças e quintas os “rapazes” de “Os Limianos” lá

treinavam com afinco para a estreia no Campeonato Distrital da A.F. de Braga.

Em 2 de Outubro de 1964, um Domingo de manhã, estreou-se a equipa de

juniores da A.D.L. num jogo realizado em Vila Verde, com o Vilaverdense. Depois

do habitual pequeno almoço oferecido à malta, ora pelo Café Rebelo, ora pelo Café

Central, lá rumaram os nossos juniores a Vila Verde na carrinha do clube, uma

Page 22: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

preciosidade onde, segundo José Catrina, “além de entrarem os jogadores, também

entreva a chuva e o frio”. A acompanhá-la seguiram muitos limianos que “iam ver os

pequeninos”, expressão muito ouvida na época. Aliás, os jogos de juniores eram

presenciados por largas centenas de pessoas, entre as quais inúmeras raparigas da

terra, que vibravam e apoiavam a sua equipa.

O jogo de estreia não começou nada mal. Ao intervalo “Os Limianos”

venciam por 2-1. O Primeiro golo da história da equipa de juniores e do futebol

juvenil de “Os Limianos”, em jogos oficiais, foi marcado pelo José Barros, mais

conhecido por Pepe, hoje um conceituado empresário da nossa praça. Contudo, na

segunda parte os “meninos” da casa recuperaram e deram a volta ao resultado,

vencendo por 4-3. Os “meninos” de Ponte de Lima criticaram duramente a

arbitragem. Mas um episódio que o Sr. José Barros nos relatou, pode estar na origem

do súbito e surpreendente abaixamento de produção dos “meninos” de Ponte de Lima.

É que naquele dia os jogadores calçaram pela primeira vez as chuteiras compradas

pelo clube. Pelos vistos, ao intervalo, já poucos aguentavam as dores provocadas

pelas bolhas e os pés inchados…

Para a história, fica a primeira equipa de juniores de “Os Limianos”,

precisamente a que alinhou no jogo em Vila Verde:

José; Sousa, Fernando e Ferraz; Faria e Amorim; Felizardo, Gandarela, Pepe,

Acácio e Reboredo. Outros elementos que faziam parte do plantel, e de acordo com

elementos recolhidos do jornal “Cardeal Saraiva” eram Vieira, Catrina, Cunha,

Gonçalves, Ligeiro e Zé Lima.

Neste primeiro ano a equipa classificou-se num honroso segundo lugar.

Na época seguinte, o treinador foi o Sr. José Pinto, homem intimamente

ligado à história do clube, onde foi jogador, como grande formador de jogadores e,

como ele gosta de frisar, de Homens. O seu trabalho e dedicação - chegou a treinar

em simultâneo três escalões - deram à Associação Desportiva “Os Limianos”

excelentes jogadores, que passaram depois por grandes equipas do nosso futebol.

José Pinto, hoje a caminho dos 70 anos, recorda com saudade aqueles tempos

em que, recém chegado do Brasil, abraçou o comando técnico da equipa de juniores.

Nessa época pontificavam nessa equipa alguns jovens que vieram a dar cartas no

futebol limiano e nacional: Franklim, Acácio Pimenta, Malheiro, Bitotas, um extremo

que José Pinto adaptou a central, etc., etc.

Page 23: Contributos Para a HistÓria Da AssociaÇÃo Desportiva

Tal como na época anterior, a equipa também treinava de noite, na Avenida

dos Plátanos, no Jardim fronteiro à Câmara Municipal e até no Teatro Diogo

Bernardes! Onde as escadas propiciavam um excelente treino físico. As noites de luar,

possibilitavam o treino no Campo do Cruzeiro. José Pinto contou-nos, com alguma

ironia, um episódio passado nesses tempos. “Certo dia, devido a um treino que incluía

saltos, realizado no Jardim Municipal, o piso deste sofreu alguma erosão. Tal facto,

detectado pelos jardineiros municipais, provocou uma chamada do treinador à

Câmara Municipal, liderada pelo saudoso Dr. Vieira de Araújo, onde foi repreendido

devido aos danos causados ao município. Outra história curiosa, contada por José

Pinto, tem a ver com um jogador chamado Aprígio, que era filho de barbeiro e cujo

pai não o autorizava a jogar futebol, enquanto não desfizesse, sozinho, uma barba a

um cliente no estabelecimento do seu progenitor. José Pinto teve que ir à barbearia,

chamar o Aprígio e “obrigá-lo” a desfazer-lhe a barba. É evidente que o Aprígio foi

depois jogar à bola.

José Pinto recorda, sempre com grande saudade, aqueles tempos em que muita

gente seguia a equipa junior. Referiu inclusivamente um jogo realizado em Barcelos,

com o Gil Vicente, em que um “mar” de gente de Ponte de Lima foi assistir ao jogo.

A equipa de Juniores de 1965/66 foi campeã distrital da A. F. de Braga, tendo

disputado nessa mesma época os nacionais da categoria. O prémio foi uma gravata,

oferecida pelo saudoso Vasquinho da “Casa das Meias”, com a qual posaram no

momento da consagração, no Campo do Cruzeiro. Foi uma grande parte dos

jogadores dessa equipa que integraram a equipa sénior, também ela Campeã Distrital

de Braga na época 1968/69..

José Pinto é uma referência do futebol juvenil limiano. O seu trabalho e os

frutos do seu trabalho são bem visíveis. Que o digam os Branco, Redondo, Franklim,

Acácio, Caçador, Ló, Simba, Zé da Veiga - um dos grandes jogadores de Ponte de

Lima, segundo José Pinto, que só não chegou mais longe devido a uma série de

infelicidades que sobre ele se abateram. A história, o seu passado, os excelentes

jogadores e Homens que ajudou a formar e a sua dedicação a “Os Limianos” são a

melhor homenagem que lhe podemos prestar.