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63 Contribuições das abordagens francesas para o estudo da inserção profissional 1 Endereço para correspondência: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, R. Washington Luiz, 855, sala 422, 90010-460, Porto Alegre-RS, Brasil. Fone: 51 33083479. E-mail: [email protected] Artigo Sidinei Rocha-de-Oliveira 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, Brasil Valmiria Carolina Piccinini Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil Revista Brasileira de Orientação Prossional jan.-jun. 2012, Vol. 13, No. 1, 63-73 Resumo Este artigo analisa as contribuições e limitações das diferentes abordagens do conceito de inserção prossional na literatura francesa, a m de ampliar a discussão teórica sobre o tema no Brasil. Parte-se do surgimento e construção do conceito de inserção prossional na França e das pesquisas na vertente econômica. A seguir é explorada a corrente sociológica que destaca a importância das características individuais e do contexto histórico-cultural nesse processo. Finalmente, a partir dessas abordagens, são apresentados caminhos para estudos futuros no Brasil, indicando a necessidade de uma agenda de pesquisa que integre pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento. Palavras-chave: inserção prossional, mercado de trabalho, jovens Abstract: Contributions of French approaches towards the study of professional insertion This paper analyzes the contributions and limitations of different approaches to the concept of professional insertion in the French literature, in order to broaden the theoretical discussion about the subject in Brazil. We start with the emergence and construction of the concept of professional insertion in France in the 1970s and the researches in Economics. We continue by exploring the sociological currents that highlight the importance of individual characteristics and the cultural-historical context for the insertion process. Finally, from those approaches, we propose guidelines for future studies in Brazil and indicate the necessity for a research agenda that would join researchers from different areas of knowledge. Keywords: professional insertion, labor market, young adults Resumen: Contribuciones de los abordajes franceses al estudio de la inserción profesional Este artículo analiza las contribuciones y limitaciones de los diferentes abordajes del concepto de inserción profesional en la literatura francesa para ampliar la discusión teórica sobre el tema en Brasil. Se parte del surgimiento y construcción del concepto de inserción profesional en Francia y de las investigaciones en la vertiente económica. A continuación se explora la corriente sociológica que destaca la importancia de las características individuales y del contexto histórico-cultural en ese proceso. Finalmente, a partir de estos abordajes, se presentan caminos para estudios futuros en Brasil indicando la necesidad de una agenda de investigaciones que integre investigadores de diferentes áreas del conocimiento. Palabras clave: inserción profesional, mercado de trabajo, jóvenes

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Sobre a inserção profissional dos diplomados

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    Contribuies das abordagens francesaspara o estudo da insero profissional

    1 Endereo para correspondncia: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, R. Washington Luiz, 855, sala 422, 90010-460, Porto Alegre-RS, Brasil. Fone: 51 33083479. E-mail: [email protected]

    Artigo

    Sidinei Rocha-de-Oliveira1Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil

    Universidade Federal Fluminense, Niteri-RJ, BrasilValmiria Carolina Piccinini

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil

    Revista Brasileira de Orientao Profi ssionaljan.-jun. 2012, Vol. 13, No. 1, 63-73

    ResumoEste artigo analisa as contribuies e limitaes das diferentes abordagens do conceito de insero profi ssional na literatura francesa, a fi m de ampliar a discusso terica sobre o tema no Brasil. Parte-se do surgimento e construo do conceito de insero profi ssional na Frana e das pesquisas na vertente econmica. A seguir explorada a corrente sociolgica que destaca a importncia das caractersticas individuais e do contexto histrico-cultural nesse processo. Finalmente, a partir dessas abordagens, so apresentados caminhos para estudos futuros no Brasil, indicando a necessidade de uma agenda de pesquisa que integre pesquisadores de diferentes reas de conhecimento. Palavras-chave: insero profi ssional, mercado de trabalho, jovens

    Abstract: Contributions of French approaches towards the study of professional insertionThis paper analyzes the contributions and limitations of different approaches to the concept of professional insertion in the French literature, in order to broaden the theoretical discussion about the subject in Brazil. We start with the emergence and construction of the concept of professional insertion in France in the 1970s and the researches in Economics. We continue by exploring the sociological currents that highlight the importance of individual characteristics and the cultural-historical context for the insertion process. Finally, from those approaches, we propose guidelines for future studies in Brazil and indicate the necessity for a research agenda that would join researchers from different areas of knowledge.Keywords: professional insertion, labor market, young adults

    Resumen: Contribuciones de los abordajes franceses al estudio de la insercin profesionalEste artculo analiza las contribuciones y limitaciones de los diferentes abordajes del concepto de insercin profesional en la literatura francesa para ampliar la discusin terica sobre el tema en Brasil. Se parte del surgimiento y construccin del concepto de insercin profesional en Francia y de las investigaciones en la vertiente econmica. A continuacin se explora la corriente sociolgica que destaca la importancia de las caractersticas individuales y del contexto histrico-cultural en ese proceso. Finalmente, a partir de estos abordajes, se presentan caminos para estudios futuros en Brasil indicando la necesidad de una agenda de investigaciones que integre investigadores de diferentes reas del conocimiento. Palabras clave: insercin profesional, mercado de trabajo, jvenes

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    Nas ltimas dcadas, o Brasil passou por transfor-maes que redefi niram a dinmica econmica, os modos de gesto empresarial e o mercado de trabalho. Verifi ca-se a ampliao do tempo mdio de estudo da populao e signifi cativo crescimento do nmero de jovens que che-gam ao ensino superior. O nmero de matrculas chega a 5.080.056 em 2009, com 13% da populao na faixa dos 18-24 anos (Dias Sobrinho, 2010). Ao mesmo tempo, continua em destaque a falta de mo de obra qualifi cada e o desemprego juvenil. Uma possvel explicao est no aumento da separao entre o sistema educacional e a estrutura ocupacional, destacado por Hasenbalg (2003). Tal confi gurao incita a aprofundar as pesquisas e re-fl exes sobre a transio entre a formao e o mercado de trabalho, com destaque para o processo de insero profi ssional dos jovens.

    No cenrio brasileiro, nota-se o aumento dos estu-dos sobre insero profi ssional de jovens (Arajo, Sousa, Muniz, Gomes, & Antonialli, 2008; Arend & Reis, 2009; Maia & Mancebo, 2010; Nardi & Balem, 2005; Peregrino, 2011; Pochmann, 2006; Silva, 2010; Valore & Selig, 2010). No entanto, ao se analisar estes textos, constata-se que nenhum desenvolve o conceito de inser-o profi ssional. Alm disso, alguns trabalhos (Arend & Reis, 2009; Nardi & Balem, 2005; Peregrino, 2011; Pochmann, 2006) focam sua anlise na dicotomia inser-o-excluso, que destaca o carter de insero social de grupos em difi culdade, enquanto outros (Arajo et al., 2008; Maia & Mancebo, 2010; Silva, 2010; Valore & Selig, 2010) centram suas pesquisas nos egressos do en-sino superior e consideram a insero profi ssional como um processo vivenciado por todos os indivduos.

    Essa diferena de compreenso decorre da am-pliao dos estudos empricos sobre esta temtica, sem o sufi ciente acompanhamento de discusses tericas. Acredita-se que para amadurecimento da temtica e me-lhor delimitao dos campos de pesquisa fundamental que se faam refl exes conceituais sobre o tema. Assim, este artigo tem por objetivo analisar as contribuies e li-mitaes das diferentes abordagens do conceito de inser-o profi ssional na literatura francesa a fi m de apresentar caminhos para estudos futuros no Brasil.

    Optou-se por focar o referencial na literatura france-sa por trs razes. A primeira refere-se ao surgimento da temtica na Frana como uma preocupao poltica pelo crescimento do nmero de jovens com elevada formao que tm encontrado difi culdades de ingresso no merca-do de trabalho a partir dos anos 1970 (Nicole-Drancourt & Roulleau-Berger, 2001), o que se assemelha s ca-ractersticas do Brasil atual, descritas acima. A segun-da foi a constatao da necessidade de aprofundamento

    conceitual em virtude da proliferao de estudos com compreenses distintas que tambm ocorreu naquele pas. A terceira a longa tradio em estudos sobre in-sero profi ssional de jovens de diferentes grupos sociais e nveis de formao realizados naquele pas (Trotier, 2001). Ao longo das ltimas quatro dcadas foram re-alizados estudos sobre o tema orientados por diferentes correntes de pensamento (Bourdieu & Passeron, 1970; Dubar, 2001, 2006; Freysinett, 1996; Galland, 1990; 2001a; Lurol, 1996; Rose, 1984), o que permite explorar modos diversos de compreender a insero profi ssional e como essas abordagens contriburam para aprofundar a refl exo sobre o assunto.

    Para realizao do estudo foram pesquisados livros (consulta nas bases de dados da Universit Pierre Mends-France com as palavras jeune(s), jeunesse, travail, march, insertion professionnelle e entre dans la vie active) e peridicos que tivessem a insero profi ssional como um dos enfoques principais, com destaque para as revistas Formation Emploi e Education et Socits. Na fase seguinte buscou-se, ento, identifi car os trabalhos que aprofundavam a discusso terica sobre o conceito de insero profi ssional, o que permitiu identifi car duas correntes principais: na corrente econmica se destacam principalmente Rose (1984, 1998), Vernires (1997) e Vincens (1986, 1997) e na corrente sociolgica Dubar (2001, 2006) e Galland (1990, 2001a, 2001b).

    Essas duas correntes sero detalhadas nas prximas sees. Ressalta-se que, embora as pesquisas dessas cor-rentes possam ser mais marcantes em alguns perodos, este trabalho no tem como foco central uma abordagem histrica, visto que as duas correntes se mantm na atua-lidade. Na terceira parte, analisa-se como as duas aborda-gens podem contribuir para delinear o campo da insero profi ssional no Brasil. A seguir, inicia-se contextualizando o surgimento do tema na Frana.

    Situando a insero profi ssional no contexto francs

    O termo insero profi ssional substitui a expresso entrada na vida ativa (entre dans la vie active), utilizada por pesquisadores na dcada anterior. A entrada na vida ativa, entendida como o incio de uma vida profi ssional, corresponde perspectiva privilegiada pelos estudos na Frana na dcada de 1960, sendo uma das linhas de investigao que orienta os estudos acerca das condi-es nas quais ocorre a entrada na vida ativa das classes desfavorecidas, no caso, os jovens operrios (Nicole-Drancourt, 1996).

    O surgimento desse campo de estudo est liga-do a uma demanda do Estado francs para aprofundar o

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    conhecimento sobre a relao entre formao e emprego, principalmente no que se refere ao desemprego juvenil (Charlot & Glasman, 1998; Tanguy, 1986). O termo inser-o profi ssional surge, primeiramente, em textos legislati-vos da dcada de 1960 e depois passa a ser utilizado em estudos sobre as difi culdades encontradas por um nmero cada vez maior de jovens na busca por um emprego aps a concluso do perodo de formao (Lurol, 1996; Nicole-Drancourt & Roulleau-Berger, 2001).

    Para ampliar os estudos sobre o processo de ingres-so dos jovens no mercado de trabalho foi criado em 1970 o Centre dtudes et Recherches sur les Qualifi cations (Creq), o qual visa monitorar a entrada dos egressos do sistema de ensino no mercado de trabalho francs. O foco das pesquisas realizadas pelo Creq segue uma orientao predominantemente quantitativa, considerando nmeros absolutos e indicadores (ndices de desemprego, tempo para estabilizao no mercado, salrio, etc.) para avaliar a insero profi ssional (Charlot & Glasman, 1998).

    No incio dos anos 1980, a insero profi ssional dos jovens se torna uma das principais preocupaes dos po-deres pblicos, estando na origem do crescimento de um conjunto diversifi cado de medidas no mbito das polticas de emprego e de educao/formao. Assim, os estudos sobre insero surgem como uma demanda social, visando a encontrar solues contra o desemprego, excluso dos jovens, adaptao do sistema educativo s necessidades do mercado, entre outros (Nicole-Drancourt & Roulleau-Berger, 2001; Trotier, 2001; Vincens, 1997).

    Dado o destaque recebido pela temtica, crescem signifi cativamente as publicaes sobre a insero pro-fi ssional dos jovens e os estudos so desenvolvidos sob diferentes enfoques, mtodos, formas de coleta de dados e orientaes de anlises. No entanto, esses trabalhos es-tavam mais voltados para o levantamento de dados do que para a elaborao de um conceito que orientasse as pesquisas (Coupi & Mansuy, 2000). Assim, os primeiros textos que buscam refl etir teoricamente sobre o concei-to de insero so realizados por Vincens (1986; 1997) e Vernires (1997) visando a compreender e explicar os mtodos utilizados nas pesquisas realizadas pelo Creq, de abordagem mais econmica.

    A abordagem econmica da insero profi ssional

    Em seu primeiro trabalho, Vincens (1986) explica a insero como o perodo em que o indivduo procura um emprego ou comea a trabalhar. A insero no designa um momento preciso e ocorre de modo diferente para cada indivduo. Esse processo comea quando o jovem deixa de se ocupar apenas com os estudos, o lazer e o

    trabalho no remunerado e passa a destinar parte de seu tempo para uma atividade remunerada ou a procura de emprego. Esse processo complexo, marcado por situa-es de emprego, retorno formao, procura de empre-go, desemprego e apenas chega ao fi nal quando os estu-dos so concludos e o indivduo encontra um emprego em que pretende permanecer.

    Essa compreenso da insero profi ssional se aproxi-ma da apresentada por Vernires (1997), que a considera como o processo pelo qual os indivduos que jamais parti-ciparam da populao ativa encontram emprego. A inser-o ocorreria mesmo para os egressos que no encontram estabilidade num trabalho condizente com seu curso de formao. Tais casos podem ser analisados como disfun-es ou fracasso no ingresso dentro do campo de atuao pretendido.

    Essa noo de insero profi ssional requer que sejam retirados da anlise os desempregados que, em um pero-do anterior, j tenham passado pelo processo de insero, bem como as mulheres que buscam ingresso no mercado mais tardiamente e jovens que realizam trabalhos sazonais no ligados sua formao profi ssional durante o perodo de frias (Vernires, 1997).

    Ao focar nos aspectos econmicos que interferem no ingresso dos jovens no mercado de trabalho, Vernires (1997) avana na proposta em trs pontos: a distino en-tre insero profi ssional e insero social, a relao en-tre situao econmica e estratgias organizacionais e o papel dos sistemas de gesto do emprego adotado pelas empresas em diferentes setores. No primeiro, o autor afi r-ma que a insero profi ssional no deve ser considerada sinnimo de insero social, ainda que a primeira seja um importante componente da segunda. Pode-se avaliar esta relao considerando os ciclos de emprego: quando h um mercado de trabalho aquecido, mesmo os indivduos com maior difi culdade (menor formao ou pouca experincia) tm menos obstculos para a insero profi ssional; uma vez inserido e reconhecido como trabalhador, pode am-pliar sua insero social e de familiares. Por outro lado, em perodos de oportunidades escassas, h maiores difi -culdades para a insero profi ssional, mesmo para aqueles em situao social mais favorvel.

    No segundo ponto, Vernires (1997) salienta a relao entre situao macroeconmica e as escolhas das empre-sas, que podem determinar o contexto global do processo de insero o que se pode notar claramente em perodos de pleno emprego e subemprego. Em pocas de grande oferta de emprego, os jovens que saem do sistema de ensi-no so imediatamente absorvidos com contratos estveis. A fase de insero incorporada por empresas que assu-mem os custos decorrentes da falta de experincia e maior

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    investimento em treinamento. Em perodos de escassa oferta de emprego, a reduo dos postos fora a reduo do custo dos trabalhadores experientes, consequentemen-te, h maior crescimento do desemprego entre os jovens. As empresas, ao contratarem menos, tendem a recusar assumir os custos deste perodo de insero, transferindo esse nus para o poder pblico, que passa a intervir por meio de programas de estmulo insero.

    O terceiro ponto refere-se s caractersticas locais do mercado de trabalho e pesam sobre a insero, como as estratgias de gesto de mo de obra das empresas de cada setor ou regio. Nas regies ou nos ramos em que predominam as empresas que recorrem a estratgias de fl exibilidade, baseadas em forte rotao de mo de obra, o processo de insero se caracteriza pela alternncia entre empregos precrios e desemprego. Quando predominam empresas que necessitam reduzir a rotatividade de pessoal pelo nvel de especializao do setor a insero se carac-teriza por menor tempo de passagem por outras formas de insero, como os estgios de Vernires (1997).

    Esses trs enfoques de anlise podem ser tambm verifi cados nos estudos de Fondeur & Lefresne (2000), Marchand (2004), Tanguy (1986), bem como nas publi-caes peridicas dos Boletins de Informao do Cereq (BREF), que fazem anlises conjunturais analisando a si-tuao do mercado de trabalho e a insero profi ssional.

    Essas anlises permitem uma viso dinmica da inser-o tratando-a como processo e consideram a ao de diferentes atores (trabalhadores, organizaes e o Estado), bem como de normas institucionais caractersticas de cada sociedade. No entanto, est bastante centrada na maximiza-o da capacidade produtiva do indivduo: a insero pro-fi ssional um processo que alm de sua eventual durao e da complexidade concreta, corresponde a uma fi nalidade econmica: aquisio de uma qualifi cao demandada pelo sistema produtivo (Vernires, 1997, p. 11).

    Para Rose (1998), a anlise de Vernires (1997) apre-senta uma concepo limitada do sujeito, pois mesmo que cada indivduo apresente interesses prprios, considera que todos decidem da mesma forma. Esses indivduos puramen-te racionais so desvinculados socialmente e sem histria prpria ou coletiva. Alm disso, essa defi nio de insero limita a abordagem desse processo aos momentos imediata-mente posteriores passagem dos sujeitos pelo sistema de ensino/formao, fi cando restrita a uma insero inicial e le-vando em conta um nico modelo de contrato de trabalho.

    Consciente das limitaes das propostas apresenta-das e da diferena de pensamento entre os pesquisadores que estudam o tema, Vincens (1997), se prope a encon-trar indicadores precisos para designar o incio e o fi m do processo de insero. Para tanto, o autor realizou um

    levantamento junto a pesquisadores que trabalhassem com o tema pedindo que defi nissem e delimitassem seu objeto de estudo, estabelecendo o que seria o comeo e o trmi-no do processo. Foram apresentadas duas compreenses, as quais o autor denominou de objetiva e subjetiva. Na objetiva, a defi nio estabelecida pelos pesquisadores, tendo como base principal os objetivos de seus estudos e partir de acontecimentos perceptveis (trmino dos estu-dos, estabilizao no emprego, etc.) que so os mesmos para todos e que determinam o incio e o fi m do processo. Na vertente subjetiva, so os indivduos que estabelecem quando comeam e concluem seu processo de insero.

    Analisando as respostas, Vincens (1997) prope que se considere como comeo o momento em que o jovem inicia a busca pelo emprego e como ponto fi nal a auto-nomia fi nanceira e a probabilidade de mant-la, ou seja, mesmo que o jovem perca seu emprego, conseguiria re-colocao sem voltar a depender dos pais. Segundo essa concepo, a posio estvel no est ligada ocupao de um posto de durao indeterminada, mas capacidade de um indivduo de escapar do desemprego, mantendo-se no mercado de trabalho.

    Embora Vincens (1997) tenha levantado a importn-cia do ponto de vista do indivduo na anlise do processo de insero profi ssional, estudos realizados pelos pesquisado-res do Creq seguem majoritariamente a defi nio objetiva, que considera o processo externo ao sujeito, como se pode ler nos ltimos boletins sobe o tema (Epihane & Jugnot, 2011; Mazari, Meyer, Rouaud, Ryk, & Winnicki, 2011; Recotillet, Rouaud, & Ryk, 2011) e nos textos da revista Formation Emploi (http://formationemploi.revues.org/). Tais estudos consideram o processo de insero como um caminho marcado por perodos de inatividade, desempre-go e emprego, focando suas anlises nos montantes sala-riais e em movimentaes nas quais os indivduos apare-cem como nmeros.

    Desta forma, seguem pertinentes as crticas de Rose (1998) a essa vertente de estudos, com destaque para a busca da neutralidade da informao pela anlise estats-tica, que deixa de considerar questes relacionadas com as condies de origem (principalmente classe e etnia), a interferncia de outros atores (famlia, amigos, colegas de cursos de formao) no processo de insero e a avaliao dos indivduos sobre sua prpria trajetria. Alm disso, limita-se compreenso do momento de entrada dos indi-vduos no mercado de trabalho aps a sua passagem pelo sistema de educao/formao, sem considerar possibili-dades de redirecionamento de carreira e reinsero.

    Apesar das crticas a esta abordagem, nota-se impor-tantes avanos. O primeiro a distino entre insero profi ssional e insero social. O segundo compreender

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    como as transformaes no sistema de emprego afetam os jovens, que normalmente servem como vetores de re-gulao do mercado de trabalho (Fondeur & Lefresne, 2000). Desta forma, a orientao econmica permite que se acompanhem as mudanas de mercado em um momen-to em que a contnua crise do emprego e as transforma-es no trabalho tornam a anlise do problema ainda mais complexa. Tais alteraes levam institucionalizao de novos modelos de insero, seja pela emergncia de no-vas regras formais relacionadas com os estgios ou pelo crescimento da importncia de instituies de orientao e intermediao entre estudantes e organizaes.

    Insero Profi ssional: abordagens sociolgicas

    Entre os primeiros estudos com uma abordagem sociolgica est a obra de Bourdieu e Passeron (1970) sobre a manifestao da violncia simblica nas aes pedaggicas, que impem uma cultura dominante e ser-vem para reproduo da estrutura de classes. Desta for-ma, para o ingresso dos jovens oriundos de classes me-nos favorecidas em carreiras com maior reconhecimento, seria necessrio que estes rompessem com os valores e saberes de seu grupo e aprendessem os padres ou mo-delos culturais estabelecidos. Dentro dessa lgica, seria mais fcil para os oriundos das classes dominantes alcan-ar o sucesso escolar (e, consequentemente, inserir-se no mercado de trabalho), pois j teriam aprendido os modos de ser e de agir previamente.

    Embora relevantes para a compreenso da insero profi ssional, tais ideias no fazem parte dos estudos ini-ciais sobre o tema, como foi apresentado na seo ante-rior. As abordagens sociolgicas sobre a insero pro-fi ssional ganham destaque apenas nos anos 1990, com os trabalhos de Dubar (1994), Galland (1990; 20001a) e Nicole-Drancourt (1996), que trazem novos elementos para a discusso.

    1. Maior nfase no sujeito, destacando sua histria particular e como esta se relaciona com os eventos sociais do perodo de experincia vivida pelo jovem estudante-trabalhador, algum que participa da sociedade onde sofre a ao dos eventos maiores que a caracterizam, mas tam-bm a modifi cam (Nicole-Drancourt, 1996).

    2. Destaque para as transformaes na esfera do traba-lho e como estas se refl etem sobre os jovens. Crescimento das atividades precrias entre os jovens em fase de inser-o e ampliao de pequenos trabalhos antes de esta-bilizar sua situao, sendo esse perodo vivenciado com maior risco de excluso (Galland, 1990, 2001a).

    3. Abordagem como processo, evidenciando a im-possibilidade de julgar uma situao a partir de um

    determinado estado e apresentando uma diversidade de caminhos que uma situao inicial comum pode desen-volver. Ao contrrio da vertente econmica, o processo de insero no tem apenas uma trajetria na qual se pode ter ou no sucesso (Nicole-Drancourt, 1996).

    4. Desenvolvimento relacional, buscando evitar um enfoque estruturalista, determinista ou individualista, bus-cando uma anlise relacional entre as estruturas sociais e as estratgias dos atores (Estado, empresas, instituies de ensino, famlias e jovens) envolvidos no processo de insero (Freyssinet, 1996). As estratgias so um con-junto articulado de objetivos que orientam as aes dos diferentes atores que participam do processo de insero. Por exemplo: as aes do Estado buscam manter os jovens ocupados, para reduzir o desemprego e afast-los de riscos sociais como a violncia, as drogas etc.

    Para Charlot e Glasman (1998), o percurso de ingres-so dos jovens no mercado de trabalho torna-se cada vez mais longo. Alm disso, fundamental considerar que as mudanas observadas no processo de ingresso do jovem na esfera laboral foram bem mais profundas e esto arti-culadas com outros fatores de transformao social: a in-sero no se apoia apenas numa lgica de articulao de espaos, na qual as fronteiras inicial e fi nal so defi nidas com maior ou menor clareza, mas numa lgica temporal de percurso. Segundo os autores, o ingresso dos jovens no mercado apresenta trs caractersticas:

    1. O posicionamento na diviso social do trabalho cada vez menos protegido pela garantia dada anterior-mente pela posse do diploma. As certifi caes dos estudos continuam sendo requeridas e, de alguma forma, apresen-tam importncia cada vez mais marcante, embora deixem de representar direitos de diferenciao para ocupao de um posto;

    2. O custo de adaptao ao mundo do trabalho, em ge-ral aquele do emprego, no mais assumido pela empresa e este passa a ser responsabilidade de dispositivos pbli-cos (contratos de aprendizagem, primeiro emprego) e do prprio jovem e sua famlia (sustento completo ou parcial do jovem durante o perodo que antecede o emprego);

    3. O jovem no encontra trabalho que apresente es-tabilidade se no possuir alguma experincia profi ssional e precisa desenvolver alguma atividade produtiva que seja reconhecida como experincia.

    O desenvolvimento do conceito de insero profi s-sional, portanto, no pode ser analisado sem levar em considerao os aspectos histricos, econmicos e cultu-rais que marcam cada sociedade. No caso da Frana, me-rece destaque o valor atribudo ao trabalho assalariado, que se tornou predominante nos pases desenvolvidos no ps-guerra, em que o emprego assegura estabilidade

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    fi nanceira e econmica, bem como de relaes sociais, de organizao do tempo e do espao e de identidade. Alm disso, possibilita a participao na esfera do con-sumo, a integrao cvica pelas relaes sociais que se intensifi cam, pelo estatuto que confere e pelo acesso que assegura aos direitos e s garantias sociais (Philippon, 2007). Numa sociedade onde o emprego estvel e em tempo integral tornou-se o meio de alcanar direitos eco-nmicos, sociais e polticos, a sua reduo (ou desapare-cimento) e a proliferao de formas precrias provocam um choque social (Castel, 1999).

    Por isso, pode-se compreender como o papel do em-prego e as transformaes pelas quais tem passado conduz a discusso sobre insero profi ssional para novos caminhos, conferindo a esta status de problema social da contemporaneidade (Castel, 1999). As difi culdades encon-tradas pelos jovens para o ingresso no mercado de traba-lho no produzem apenas repercusses sobre o adiamento da entrada na idade adulta e o consequente prolongamento da juventude (Dubar, 2001; Galland, 1990), mas tambm acabam por atrasar o acesso ao estatuto de cidado de ple-no direito, conferido pela inscrio na sociedade salarial.

    Nesta viso, a insero dos jovens est relacionada com as mudanas que ocorrem em um contexto social maior, com destaque para as que afetam a esfera do traba-lho e do ensino. Na Frana, para evitar o crescimento do desemprego, foi criado um espao ps-escolar considera-do intermedirio entre a escola/universidade e o mundo do trabalho. Os sistemas de ensino e de emprego deixam de ser orientados pela busca da adequao formao-em-prego, caracterstica dos estudos e polticas pblicas nas dcadas de 1980 e 1990. A proposta de manter o jovem o maior tempo possvel no sistema de ensino, retardan-do sua entrada no mercado de trabalho, levou ao aumento das expectativas sobre o momento desse ingresso (Nicole-Drancourt, 1996). No entanto, essas expectativas no fo-ram atendidas, ao contrrio, resultaram numa desvalori-zao dos diplomas e no rebaixamento de alguns grupos profi ssionais (Cohen, 2007).

    Essa proposta vai alm daquela apresentada pelos autores da vertente econmica, destacando que a compre-enso do termo insero profi ssional remete a um campo semntico onde se inter-relacionam as vrias dimenses da noo de integrao, relacionando-se com a sua inte-grao econmica, social, cvica e simblica. Amplia-se o escopo da anlise sobre insero, considerando tambm as transformaes qualitativas na fora de trabalho e a maior interferncia das organizaes e suas polticas de recursos humanos, que se tornam elementos centrais do processo. O crescimento da fl exibilizao dos contratos de traba-lho devem ser considerados tanto como uma estratgia

    autnoma adotada em cada empresa, quanto como uma mudana mais ampla, relacionada com a estrutura ocu-pacional do mercado de trabalho. Para os mais jovens, o perodo de insero ampliado com uma passagem mais longa pelas atividades temporrias, desemprego e retorno formao (Cohen, 2007; Galland, 2001a).

    Desta forma, os percursos de insero no podem mais ser compreendidos por meio de uma lgica nica, seguindo uma racionalidade meramente econmica. No entanto, isso no signifi ca que a insero conduza cada indivduo a um percurso aleatrio baseado em experin-cias individuais. possvel identifi car lgicas socialmente construdas por meio da vivncia familiar, escolar, relacio-nal ou especfi cas de alguns setores de formao. Essas l-gicas tpicas no s dependem dos contextos econmicos da insero, mas tambm de crenas compartilhadas por categorias de atores do sistema educacional e profi ssional (Dubar, 2001).

    Deve-se levar em conta que o espao de transio en-tre escola/universidade e trabalho/emprego estruturado por complexos jogos de atores sociais que se estendem em contextos histricos e institucionais determinados, mas que apresentam funcionamento prprio (Trotier, 2001). As estratgias desenvolvidas por empresas, instituies de en-sino superior, governos, criam mundos da insero que infl uenciam as aes de gestores e de trabalhadores, dos intermedirios do emprego, das instituies de ensino e nos diferentes grupos juvenis. Essas redes transversais re-nem pessoas que compartilham, em menor ou maior grau, as mesmas referncias, concepes do trabalho, nveis de formao, experincias e estratgias mais ou menos bem coordenadas. O mundo da aprendizagem apresenta-se di-ferente nos mais diversos tamanhos e formas de empresa. Nas pequenas e mdias empresas h forte infl uncia das relaes locais de vizinhana; na administrao pblica, o concurso pblico cria um ingresso que favorece a igual-dade como meio de acesso; nas formaes universitrias tcnico-profi ssionais os cursos de formao constituem o primeiro momento de aprendizagem das regras do merca-do de trabalho no qual o jovem ingressa (Dubar, 2001).

    A partir desta anlise, Dubar (2001) prope a inser-o como um processo socialmente construdo por atores sociais e instituies (historicamente estruturados), lgicas (empresariais) de ao e estratgias de atores, experincias (biogrfi cas) no mercado de trabalho e heranas scio-es-colares. Ao assumir que a insero profi ssional constru-da socialmente deve-se levar em conta que: (a) ela est ins-crita historicamente numa conjuntura poltico-econmica; (b) dependente de uma estrutura institucional que traduz relaes especfi cas entre educao e trabalho; (c) depen-dente das estratgias de atores estando includos tambm

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    aqueles que esto em processo de insero; e, (d) os atores so ligados a trajetrias biogrfi cas que esto pautadas por desigualdades sociais de acesso ao capital cultural.

    A proposta de Dubar (2001) amplia a discusso so-bre insero profi ssional, principalmente ao considerar que o conceito tambm est inserido em um contexto scio-histrico, assumindo contornos diferenciados em cada pas. Alm disso, o autor contribui para a discusso metodolgica do tema, a qual foca numa abordagem rela-cional, baseando-se tanto na biografi a dos atores quanto nos aspectos institucionais que infl uenciam e organizam o perodo de insero de modo mais amplo.

    Os trabalhos dessa vertente encontram-se mais dis-persos que os da econmica, mas pode-se citar Bourdieu (1989), Domingo (2002), Dubar (2006), Galland (1990, 2001a, 2007), bem como alguns nmeros especiais da re-vista Education et Socits. Bourdieu (1989) mostra como o sistema das Grandes coles contribui para a formao e reproduo das elites francesas, indicando que h ca-minhos de insero profi ssional distintos, dependendo da instituio de formao. Galland (1990, 2001b, 2007) analisa o processo de mudana da juventude francesa do sculo XX a partir de trs eixos principais: a sada da casa dos pais, o incio da vida conjugal e o emprego estvel. A difi culdade para encontrar um trabalho mudou o perfi l do jovem, que permanece mais tempo na casa dos pais e aceita trabalhos temporrios como forma de renda. Dubar (2006), considerando o processo de socializao, mostra que a insero profi ssional o perodo de aprendizado dos modos de pensar e de agir que orientam a prtica de uma profi sso. Domingo (2002), entrevistando profi ssionais de recursos humanos, identifi ca diferentes lgicas de utiliza-o dos estgios pelas empresas, que pode ser tanto uma forma de aprendizagem prtica, meio de insero profi s-sional, forma de fl exibilizao quantitativa (mo de obra de baixo custo) ou qualitativa (busca de especialistas para trabalhos temporrios sem remunerao).

    Os trabalhos que se inserem na vertente sociolgica permitem aprofundar o conhecimento sobre a ao dos di-ferentes atores no processo de insero profi ssional e as diferenas de percurso em cada profi sso. Dessa forma, permitem compreender que existem elementos que esto ligados a aspectos culturais e simblicos que normalmen-te no so considerados nos levantamentos estatsticos. O principal ponto de partida a compreenso da juventude como um grupo diverso, ou mltiplas juventudes que so-frem infl uncia do contexto histrico em cresceram, uma vez que as aspiraes de sucessivas geraes so constru-das em relao a estados diferentes da estrutura da distri-buio de bens e das respectivas oportunidades de acesso (Bourdieu, 1983).

    Na seo fi nal, buscamos relacionar a base concei-tual desenvolvida na Frana com o atual contexto bra-sileiro. Desta forma, pretende-se apresentar algumas possibilidades de apropriao das teorias econmica e sociolgica para discutir a questo da insero profi s-sional dos jovens do Brasil. Considerando a ideia de mltiplas juventudes, optou-se por focar os jovens com formao universitria, que tm sido um dos principais focos nos estudos atuais. Assim, so apresentados alguns estudos j publicados e discutidas possibilidades paraestudos futuros.

    Caminhos para a compreenso da inseroprofi ssional no Brasil

    A refl exo sobre insero profi ssional se situa na fronteira de temas complexos: juventude e mercado de trabalho. As prprias defi nies desses termos levam a variadas correntes tericas e formas de compreenso. Neste texto, o objetivo foi trazer para a pauta de discusso a questo da insero profi ssional de jovens, apresentan-do duas abordagens que podem contribuir para pesquisas futuras sobre o tema no Brasil. No entanto, apesar desse referencial destacar conceitos e modos de compreenso do processo de insero num pas europeu com longa expe-rincia e iniciativas ativas de insero profi ssional de jo-vens, preciso considerar as particularidades do contexto brasileiro para sua aplicao. Assim, abaixo apresentamos como os conceitos considerados podem ser apropriados nas pesquisas nacionais.

    Primeiramente, os conceitos discutidos anteriormen-te situam a insero profi ssional como a passagem da es-cola/universidade ao mercado de trabalho e que parte integrante de um processo maior, a passagem vida adul-ta. Tal esclarecimento conceitual que permite que se sepa-rem os trabalhos que tenham como discusso principal a insero social dos jovens por meio do trabalho, ou seja, as pesquisas que focam na dicotomia insero-excluso citados na introduo.

    As elaboraes tericas das vertentes econmica e sociolgica so distintas, mas complementares. Enquanto a primeira se orienta pelo levantamento numrico do pro-cesso de insero dos jovens, dando uma dimenso tanto da totalidade do mercado de trabalho quanto de particu-laridades de algumas carreiras, a segunda possibilita a compreenso dos aspectos sociais, culturais e simblicos que marcam a socializao e o ingresso em determinadas profi sses.

    No Brasil encontram-se estudos que podem ser ins-critos nas duas vertentes. No entanto, esto dispersos em publicaes de rgos de pesquisa e peridicos de

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    diferentes reas de conhecimentos (administrao, econo-mia, psicologia e sociologia). Dessa forma, alm de ser trabalhosa sua localizao, a maior parte dos trabalhos so isolados, sem periodicidade defi nida ou continuidade, o que difi culta estabelecer comparaes entre pesquisas de diferentes perodos e criar linhas de tempo. Um exemplo so os estudos empreendidos por rgos de pesquisa como Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas (IPEA) e Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos (DIEESE) que no tm periodicidade, formato e perfi l dos jovens defi nidos ao longo dos estu-dos, deixando de considerar elementos importantes, como gnero e nvel de formao, como se observa em DIEESE (2006, 2008) e IPEA (Andrade, 2008). Nesses trabalhos, que seguem a vertente econmica, os jovens so analisa-dos como um grupo integrado e homogneo, fornecendo dados que permitem apenas compreender a dimenso do emprego numa determinada faixa etria, informao que certamente limita e no permite compreender como ocorre o processo de insero profi ssional.

    Tomando por base as orientaes da vertente eco-nmica dos estudos franceses, importante considerar a totalidade dos jovens nas diferentes reas de formao. Nessa perspectiva, os rgos de pesquisa acima citados ou ncleos de pesquisas nas universidades poderiam realizar levantamentos peridicos no momento da concluso de cursos universitrios e nos anos seguintes, o que permiti-ria a gerao de dados para avaliar ndices de desemprego, mdia salarial, tempo de estabilizao na carreira, nvel de atividades atpicas (contratos temporrios, tempo par-cial, freelancer etc.) nos primeiros anos aps a concluso do ensino superior. Assim, os jovens reconheceriam an-tecipadamente caractersticas do percurso e desafi os para o ingresso no mercado de trabalho, podendo preparar-se melhor. Tambm o caminho para comparar a demanda de profi ssionais de cada rea de atuao e o nmero de forma-dos, permitindo o monitoramento da capacidade do merca-do de receber os egressos. Tal anlise seria importante para avaliar, principalmente, cursos que cresceram sem controle de qualidade, pelo baixo custo inicial para ser implanta-do e atratividade da profi sso, como o caso do curso de Administrao, (Bertero, 2007) que hoje corresponde a 20 % do total de matrculas do pas (INEP, 2010).

    Esse mapeamento permitiria o acompanhamento das formaes que so mais sensveis a alteraes econmicas conjunturais, tais como crises fi nanceiras, mudanas se-toriais etc., possibilitando ao governo direcionar polticas pblicas de emprego com maior consistncia. Tambm tornaria possvel avaliar a efetividade de polticas direcio-nadas para determinados mercados, como tem acontecido atualmente na rea de turismo.

    Esse projeto tem por objetivo conhecer o estoque de mo-de-obra ocupada em atividades caractersticas do turismo, sua evoluo mensal e anual; a formalidade das relaes de trabalho; o perfi l dessa mo-de-obra (escolari-dade, tipo de ocupao, idade, gnero) e sua contribuio para a formao da renda nacional. Visa tambm a identi-fi car o perfi l dos estabelecimentos empregadores do setor turismo (tamanho, atividade, localizao geogrfi ca). O conhecimento desse mercado de trabalho especfi co de interesse do governo, das empresas e dos profi ssionais do setor, de instituies de fomento ao desenvolvimento, de instituies de ensino e pesquisa e de organismos inter-nacionais e constituem um indicador complementar para avaliar o desempenho do setor turismo (IPEA, 2010).

    Na vertente sociolgica, a insero profi ssional ao mesmo tempo profi ssional e socioculural, devendo ser rela-cionada aos demais elementos da sociedade. Essa perspec-tiva congrega a ideia de que existem mltiplas juventudes vinculadas s dimenses temporais e culturais. Juventudes que so distintas em modos de pensar, de agir e de viver o processo de passagem vida adulta e que, por consequn-cia, vivem modos distintos de insero profi ssional.

    Nessa perspectiva, o mercado de trabalho com-preendido como um espao de mltiplos submercados de carter dinmico, formados por regras especfi cas que organizam e orientam a ao dos atores (trabalhadores, empresas, instituies, etc.), os quais so guiados por es-sas regras, mas tambm contribuem para transform-las. Assim, ao mesmo tempo em que trabalhadores e empre-sas participam e seguem as orientaes que organizam a relao capital-trabalho, sua ao ao longo do tempo contribui para o desenvolvimento e rompimento dessas regras de orientao (Paradeise, 1988; Rocha-de-Oliveira & Piccinini, 2011).

    No processo de insero, o jovem aprende as regras que organizam o mercado de trabalho do qual comea a fazer parte. Em cada profi sso o reconhecimento das qua-lifi caes pelos pares seja por meio dos diplomas, pela experincia ou pela aprovao em concursos parte do processo de insero e favorece a mobilidade do ator entre organizaes. O processo de transmisso das normas de orientao ocorre, muitas vezes, ainda durante o perodo de formao, sendo as instituies de ensino atores im-portantes. Dessa forma, em algumas profi sses verifi ca-se um processo de integrao regulamentada para os mais jovens, uma forma de garantir um ingresso e desenvol-vimento semelhante para todos, protegendo aqueles que dele j fazem parte (Fondeur & Lefresne, 2000).

    Alm das instituies de ensino, as organizaes pro-fi ssionais e as agncias intermediadoras podem contribuir para a formao do mercado de trabalho. No primeiro caso

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    temos o exemplo da Ordem dos Advogados do Brasil, que estabelece uma prova de certifi cao prpria para regu-lar o ingresso dos profi ssionais no mercado de trabalho. Segundo Bonelli (1999), esse rgo foi criado ainda no Imprio por um segmento de elite, composto de bacha-ris em direito visando ao monoplio do credenciamento profi ssional e da fi scalizao do mercado de trabalho, sem perder de vista a importncia do mrito profi ssional e sua autonomia profi ssional. Essa caracterstica de proteo e regulao da profi sso foi a base para a construo da mo-derna profi sso de advogado no Brasil e ainda determi-nante nesse mercado.

    No caso das organizaes de intermediao, Guimares (2008) evidencia que estas ganham destaque e tornam-se atores importantes na esfera do trabalho nas ltimas dcadas. Desta forma, alguns meios utilizados nos processos de recrutamento como consultorias, agn-cias de intermediao ou mesmo veculos de comunica-o, assumem papel importante na atual confi gurao do mercado de trabalho de diferentes profi sses, interferindo no processo de insero profi ssional. Rocha-de-Oliveira, Piccinini e Retour (2010) mostram como os agentes inter-medirios interagem na organizao dos estgios da rea de Administrao. Ao comparar o papel desses agentes na legislao sobre estgio, identifi cam que essas organiza-es surgiram para facilitar a relao instituio de ensi-no-aluno-organizao, oferecendo oportunidades e enca-minhando jovens. No entanto, fi zeram dessa atividade um negcio e hoje atuam como empresas de agenciamento de vagas, contribuindo para a defi nio das relaes que se estabelecem no mercado de estgios que tem se forma-do em alguns campos profi ssionais.

    Dessa forma, os estudos de orientao sociolgica permitem aprofundar o conhecimento sobre os mercados de trabalho de cada profi sso, analisando normas, regras, crenas e valores que orientam cada carreira. Alm disso, permitem esclarecer como os atores (instituies de ensino superior, organizaes de classe, intermedirios, empresas pblicas e privadas) interferem no processo de ingresso na esfera do trabalho.

    Consideraes fi nais

    No Brasil, com a ampliao do tempo de estudo e o ingresso de um nmero cada vez maior de estudantes no ensino superior, imprescindvel ampliarmos os estu-dos sobre o momento de ingresso no mercado de trabalho. Este trabalho representa um esforo inicial de integrar a discusso sobre o tema e indicar a necessidade de uma apropriao conceitual adequada nos trabalhos que te-nham como foco a insero profi ssional dos jovens, visto que se observa nas pesquisas sobre o tema a carncia de uma defi nio precisa.

    Sabe-se que, por ser um trabalho inicial, alguns recortes foram feitos para poder apresentar, ainda que brevemente, o potencial desses estudos para melhor compreender a relao entre formao e trabalho. Entre estas limitaes, destaca-se o foco nos egressos do ensi-no superior, que representam apenas uma das mltiplas juventudes brasileiras.

    Outra limitao foi a pesquisa nas bases de dados, que teve por base os indexadores insero profi ssional, ju-ventude/jovens+trabalho, juventude/jovens+emprego. Tais indexadores se mostraram ora muito especfi cos como o caso de insero profi ssional, que traz um n-mero reduzido de estudos ora muito abrangentes ju-ventude/jovens+trabalho acaba trazendo muitos trabalhos que no tm relao com o tema. Acredita-se que outros termos podem estar sendo utilizados como indexadores, no entanto, para isto, necessrio ampliar a pesquisa, o que ser um objetivo futuro.

    A disperso dos trabalhos em diferentes reas difi -culta a construo de um debate para consolidar e apro-fundar o tema no pas, como ocorreu na Frana, quando passou a ser objeto de estudos de um grupo interdisci-plinar de pesquisadores. Desta forma, preciso que se estabelea, em revistas e congressos, um espao inter-disciplinar para debate, que permita a aproximao de pesquisadores de diferentes reas do conhecimento e a construo de uma agenda de pesquisa multidisciplinar sobre o tema.

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    Recebido : 05/07/20111 Reviso : 01/02/20122 Reviso :17/02/2012

    Aceite fi nal : 29/02/2012

    Sobre os autoresSidinei Rocha-de-Oliveira Doutor em Administrao pela Universit Pierre Mends, Grenoble II, Frana, em

    cotutela com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor Adjunto da Escola de Administrao da UFRGS e Professor Colaborador do Mestrado em Administrao da Universidade Federal Fluminense (UFF).

    Valmiria Carolina Piccinini Doutora em Economia do Trabalho e da Produo pela Universit Pierre Mendes, Grenoble II, Frana. Professora Associada da Escola de Administrao da UFRGS. Fundadora e coordenadora do GINEIT.