contribuição para a diminuição do consumo de água potável - caso de estudo de aproveitamento...
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Dissertação para obtenção do Grau de Mestre emEngenharia do Ambiente, Perfil de Engenharia SanitáriaTRANSCRIPT
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Rita Isabel Bolo Medeiros
Licenciada em Cincias de Engenharia do Ambiente
Contribuio para a diminuio do
consumo de gua potvel - Caso de estudo
de aproveitamento de guas pluviais no
Municpio de Setbal
Dissertao para obteno do Grau de Mestre em
Engenharia do Ambiente, Perfil de Engenharia Sanitria
Orientador: Professora Doutora Maria Gabriela Loureno Silva
Fria de Almeida, Professora Auxiliar, Faculdade de Cincias e
Tecnologia - Universidade Nova de Lisboa
Jri:
Presidente: Professor Doutor Pedro Manuel da Hora Santos Coelho Vogais:
Novembro 2014
Professor Doutor Antnio Manuel Fernandes Rodrigues Professora Doutora Maria Gabriela Loureno Silva Fria de Almeida
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Contribuio para a diminuio do consumo de gua potvel - Caso de estudo
de aproveitamento de guas pluviais no Municpio de Setbal
Copyright: Rita Isabel Bolo Medeiros, FCT/UNL, UNL.
A Faculdade de Cincias e Tecnologia e a Universidade Nova de Lisboa tm o direito, perptuo e sem
limites geogrficos, de arquivar e publicar esta dissertao atravs de exemplares impressos
reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer outro meio conhecido ou que venha a
ser inventado, e de a divulgar atravs de repositrios cientficos e de admitir a sua cpia e
distribuio com objectivos educacionais ou de investigao, no comerciais, desde que seja dado
crdito ao autor e editor.
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeo minha orientadora de dissertao, Professora Doutora Maria Gabriela
Almeida, pela liberdade das minhas escolhas, pelas suas recomendaes e sugestes, que foram
essenciais para o sucesso deste trabalho.
Aos meus pais e minha irm, por me proporcionarem esta oportunidade e por me apoiarem
sempre.
A todos os meus colegas e amigos que me acompanharam ao longo destes 5 anos. Obrigada pela
amizade, pelas sugestes, pelas preocupaes, pelo incentivo, e pela diverso ao longo deste
percurso acadmico.
Ao Joo, por toda a ajuda, disponibilidade e pacincia. Agradeo a motivao e o apoio.
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RESUMO
A gua um recurso natural, indispensvel para a existncia de vida na Terra, que tem sido utilizado
de forma exaustiva e pouco controlada nas actividades antropognicas. Embora aparente ser um
recurso renovvel, a gua doce tem sido utilizada a uma taxa superior sua capacidade de reposio,
originado problemas de escassez de gua. Por este motivo, a gua cada vez mais valorizada em
termos econmicos, sociais e ambientais.
Verifica-se que o desenvolvimento econmico e o rpido crescimento demogrfico, contriburam
para o aumento das necessidades de consumo de gua. No entanto, o volume de gua consumido
no se restringe s s necessidades bsicas indispensveis, mas sim aos desperdcios e a consumos
descontrolados. Desta forma, considera-se que uma melhor gesto dos recursos hdricos dever
evitar ao mximo os desperdcios, reciclar a gua sempre que possvel e procurar fontes alternativas
de gua.
O aproveitamento de guas pluviais um dos sistemas de fontes alternativas de gua. Esta tcnica
consiste em recolher as guas pluviais, que caem naturalmente nas vrias superfcies, direccionando-
as para reservatrios de armazenamento, para posterior utilizao.
O principal objectivo desta dissertao foi avaliar a possibilidade de aproveitar guas pluviais,
destinadas a utilizaes que no necessitam de uma elevada qualidade da gua, por forma a
contribuir para a minimizao do consumo de gua potvel, poupando assim o recurso gua e o
custo de produo de gua potvel. Para isso, efectuou-se um estudo de caso no municpio de
Setbal, avaliando a viabilidade de implementao de um sistema de aproveitamento de guas
pluviais (SAAP) em quatro tipologias de edifcios diferentes.
Do estudo realizado no municpio de Setbal, concluiu-se que no seria vivel a implementao de
SAAP em edifcios de habitao, devido ao reduzido benefcio obtido em funo dos custos
associados ao sistema. Pelo contrrio, o projecto torna-se vivel para a tipologia de edifcio do
quartel dos bombeiros sapadores, uma vez que dispe de uma rea de captao elevada.
Palavras-Chave: escassez de gua, consumos de gua, aproveitamento de guas pluviais, volume do
reservatrio de armazenamento, viabilidade de um SAAP.
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ABSTRACT
Water is a natural resource, essential for the existence of life in the Earth, which has been used
exhaustively and little controlled in its anthropogenic activities. Although seeming to be a renewable
resource, fresh water has been used at a rate higher than the spare capacity, being originate water
scarcity problems. For this reason, water is increasingly valued in economic, social and environmental
terms.
It turns out that the economic development and the expeditious increase of the population,
contributed to the increase in water consumption needs. However, the volume of water consumed is
not restricted only to the essential basic needs, but also to waste and the uncontrolled consumption.
In this way, it is considered that a better management of water resources should keep things as
waste, recycle water whenever possible, and to seek alternative sources of water.
The use of rainwater is one of the systems of alternative sources of water. This technique consists in
collecting the stormwater that falls naturally in several surfaces, directing them to storage reservoirs
for later use.
The main objective of this dissertation was to evaluate the possibility to harness rainwater, intended
for uses that do not require a high water quality, to contribute to minimizing the consumption of
drinking water. For this, it was made a case of study in the municipality of Setbal, evaluating the
viability of implementing a rainwater harvesting system (RHS) in four types of different buildings
The study conducted at the Setbal municipality, concluded that it would not be feasible
implementing RHS in housing buildings, due to the reduced benefit costs associated with the system.
On the contrary, the project becomes viable for the building typology of fire stations since it has a
high catchment area.
Keywords: water scarcity, water consumption, use of rainwater, storage tank volume, feasibility of a
RHS
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xi
NDICE
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................................... V
RESUMO......................................................................................................................................................... VII
ABSTRACT ....................................................................................................................................................... IX
1. INTRODUO........................................................................................................................................... 1
1.1. Enquadramento ........................................................................................................................................... 1
1.1. Objectivo ...................................................................................................................................................... 2
1.2. Plano de Trabalho ........................................................................................................................................ 2
2. A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA ............................................................................................... 3
2.1. Disponibilidade hdrica ................................................................................................................................ 3
2.2. Usos antropognicos da gua ...................................................................................................................... 4
2.3. Escassez de gua .......................................................................................................................................... 7
2.3.1. Exemplos de escassez de gua .......................................................................................................... 10
2.4. Situao na Europa .................................................................................................................................... 12
2.5. Desperdcio no consumo de gua potvel ................................................................................................. 15
3. ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL ........................................................ 17
3.1. Aproveitamento de guas pluviais............................................................................................................. 17
3.1.1. Descrio geral do sistema ................................................................................................................ 20
3.1.2. Requisitos necessrios implantao de um SAAP ........................................................................... 22
3.1.3. Tratamento da gua pluvial armazenada ......................................................................................... 25
3.1.4. Vantagens e desvantagens do aproveitamento de guas pluviais ................................................... 27
3.1.5. Casos reais de utilizao de SAAP ..................................................................................................... 28
3.1.6. Legislao em Portugal ..................................................................................................................... 32
3.2. Equipamentos economizadores de gua e medidas de incentivo poupana ......................................... 34
4. ESTUDO DE CASO ................................................................................................................................... 37
4.1. Pressupostos admitidos e metodologia aplicada na elaborao dos cenrios .......................................... 37
4.1.1. Consumos de gua potvel ............................................................................................................... 37
4.1.2. Superfcies de captao de guas pluviais ........................................................................................ 39
4.1.3. Estudo da pluviosidade para o municpio de Setbal ........................................................................ 40
4.1.4. Determinao dos volumes de armazenamento dos reservatrios .................................................. 45
4.1.5. Custo - Benefcio da instalao de um SAAP ..................................................................................... 49
4.2. Resultados.................................................................................................................................................. 51
4.3. Discusso dos Resultados .......................................................................................................................... 58
5. ACEITAO PBLICA RELATIVA POSSIBILIDADE DE REUTILIZAR GUAS RESIDUAIS TRATADAS .......... 61
5.1. Discusso dos resultados ........................................................................................................................... 65
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xii
6. CONCLUSO ........................................................................................................................................... 67
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................................................. 71
ANEXO I.......................................................................................................................................................... 79
ANEXO II ........................................................................................................................................................ 81
ANEXO III ....................................................................................................................................................... 97
ANEXO IV ..................................................................................................................................................... 111
ANEXO V ...................................................................................................................................................... 115
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xiii
NDICE DE FIGURAS
Figura 2.1 - Distribuio de gua na Terra .............................................................................................................. 3
Figura 2.2 - Consumos de gua por sector escala mundial e por continente ...................................................... 5
Figura 2.3 - Consumos de gua por habitante e por dia em seis regies do mundo .............................................. 6
Figura 2.4 - Regies com escassez fsica e econmica de gua .............................................................................. 9
Figura 2.5 - Evoluo do mar Aral entre 1989 e 2009 ........................................................................................... 10
Figura 2.7 - Lago Chade em 1972 e em 2001 ........................................................................................................ 11
Figura 2.6 - Evoluo dos pntanos numa regio da provncia de Jilin, entre 1987 e 2000 ................................. 11
Figura 2.8 - Desaparecimento de cursos de gua em Tquio, entre 1890 e 1985 ................................................ 12
Figura 2.9 - Stress hdrico na Europa (%) .............................................................................................................. 13
Figura 2.10 - ndice de Stress hdrico nos pases europeus (%) ............................................................................. 13
Figura 2.11 - Consumo de gua doce na Europa de acordo com os vrios sectores (%) ...................................... 15
Figura 2.12 - Desperdcio de gua nos vrios sectores, para os anos de 2000 e 2009, e metas a alcanar pelo
PNUEA ate ao ano de 2020 ................................................................................................................................... 16
Figura 3.1 - Representaes de um SAAP aplicado a habitaes .......................................................................... 21
Figura 3.2 - Representao esquemtica de um SAAP aplicado a uma indstria ................................................. 22
Figura 3.3 - Exemplo de um sistema de drenagem ............................................................................................... 23
Figura 3.4 - Satisfao das necessidades vs dimenso dos reservatrios ............................................................ 25
Figura 3.5 - Sequncia de tratamentos das guas pluviais armazenadas num reservatrio ................................ 26
Figura 3.6 - Reutilizao da gua do lavatrio para o autoclismo ........................................................................ 35
Figura 3.7 - Estrutura do consumo domstico de gua ........................................................................................ 35
Figura 3.8 - Potencial de economia de gua com chuveiros de presso reduzida ................................................ 36
Figura 4.1 - Postos meteorolgicos seleccionados atravs do SNIRH ................................................................... 40
Figura 4.2 - Polgonos de Thiessen ........................................................................................................................ 41
Figura 4.3 - Municpio de Setbal e postos meteorolgicos selecionados ........................................................... 42
Figura 4.4 - Polgonos de Thiessen em funo dos postos meteorolgicos, aplicados ao municpio de Setbal . 42
Figura 4.5 - Resultado da aplicao dos polgonos de Thiessen cidade de Setbal ........................................... 43
Figura 4.6 - Ajustamento Lei de Gauss dos valores anuais da precipitao ponderada no municpio de Setbal
.............................................................................................................................................................................. 44
Figura 4.7 - Srie de precipitao ponderada total anual do Municpio de Setbal ............................................. 45
Figura 5.1 - Distribuio da amostra por gnero .................................................................................................. 61
Figura 5.2 - Faixa Etria ......................................................................................................................................... 62
Figura 5.3 - Habilitaes Literrias ........................................................................................................................ 62
Figura 5.5 - Resultados da questo 2: Sabe o que uma Estao de Tratamento de guas Residuais (ETAR)? . 62
Figura 5.4 - Resultados da questo 1: Sabe o que so guas Residuais? ............................................................. 62
Figura 5.6 - Resultados da questo 3: J ouviu falar na reutilizao de guas Residuais? ................................... 63
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xiv
Figura 5.7 - Resultados da questo 4: Na sua opinio, quais os usos que se podem dar s guas Residuais
Tratadas? ............................................................................................................................................................... 63
Figura 5.8 - Resultados da questo 5: Quais as suas preocupaes relativamente utilizao de guas Residuais
Tratadas para usos no potveis? ......................................................................................................................... 64
Figura 5.9 - Resultados da questo 6: Imagine um jardim pblico em que a rega feita por um sistema
automtico, utilizando guas residuais tratadas. Nesse mesmo jardim existem vrios bebedouros de gua
potvel. Hesitaria beber dessa gua por duvidar da sua origem, uma vez que para esse jardim so
encaminhadas guas residuais tratadas? ............................................................................................................. 64
Figura 5.10 - Resultados da questo 7: Sabe que existem casos de reutilizao de guas residuais indirecta, em
que os efluentes municipais, tratados e no, so descarregados em recursos hdricos ,de onde posteriormente
se faz extraco de gua para produo de gua potvel, a jusante da descarga?.............................................. 65
Figura 5.11 - Resultados da questo 8: Concorda com a utilizao de guas residuais tratadas para usos no
potveis? (rega de jardins, lavagem de carros, lavagem de ruas, combate a incndios, indstria no alimentar)
.............................................................................................................................................................................. 65
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NDICE DE TABELAS
Tabela 2.1 - Consumos de gua por sector e por continente ................................................................. 5
Tabela 2.2 - Classificao dos pases de acordo com a sua disponibilidade hdrica ............................... 8
Tabela 4.1 - Caractersticas dos edifcios a estudar .............................................................................. 39
Tabela 4.2 - rea de influncia de cada posto meteorolgico .............................................................. 43
Tabela 4.3 - Resultado do teste Kolmogorov-Smirnov .......................................................................... 44
Tabela 4.4 - Precipitao caracterstica do municpio de Setbal ......................................................... 45
Tabela 4.5 - Valores mximos dos consumos a satisfazer, limitados pelo valor mdio das afluncias 47
Tabela 4.6 - Consumos de gua da rede e quantidade de gua passvel de ser substituda por gua
pluvial .................................................................................................................................................... 47
Tabela 4.7 - Valores finais do consumo a satisfazer atravs de um SAAP ............................................ 48
Tabela 4.8 - Oramento de reservatrios em beto ............................................................................. 50
Tabela 4.9 - Volume dos reservatrios em funo da satisfao dos consumos atravs de um SAAP 51
Tabela 4.10 - Custos anuais do consumo total de gua e do consumo substituvel ............................. 54
Tabela 4.11 - Reduo do volume de gua e respectiva poupana do custo anual de gua da rede com
instalao de SAAP ................................................................................................................................ 54
Tabela 4.12 -Custos de instalao dos SAAP () .................................................................................... 55
Tabela 4.13 - Retorno do investimento dos reservatrios em beto ................................................... 57
Tabela 4.14 - Retorno do investimento dos reservatrios em PEAD .................................................... 57
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xvii
ABREVIATURAS
ANQIP - Associao Nacional para a Qualidade nas Instalaes Prediais
CAOP - Carta Administrativa Oficial de Portugal
ETA - Especificao Tcnica da ANQIP
ETAR - Estao de Tratamento de guas Residuais
INE - Instituto Nacional de Estatstica
ONU - Organizao das Naes Unidas
PEAD - Polietileno de Alta Densidade
PEAASAR - Plano Estratgico de Abastecimento de gua e de Saneamento de guas Residuais
PNUEA - Programa Nacional para o Uso Eficiente da gua
SAAP - Sistema de Aproveitamento de guas Pluviais
SIG - Sistema de Informao Geogrfica
SNIRH - Sistema Nacional de Informao de Recursos Hdricos
UNEP - Programa Ambiental das Naes Unidas
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INTRODUO
1
1. INTRODUO
1.1. ENQUADRAMENTO
A gua um recurso natural essencial vida, presente nas mais diversas actividades, e cada vez mais
valorizado em termos econmicos, sociais e ambientais. O uso intensivo deste recurso tem
provocado alteraes nas disponibilidades hdricas, tanto em termos quantitativos como qualitativos,
levando procura de novas e/ou diferentes solues para a gesto dos recursos hdricos.
Desde sempre que as civilizaes se fixam preferencialmente em locais prximos de gua, quer seja
junto ao mar, a rios ou a lagos. Estes locais potenciam o desenvolvimento destas comunidades,
devido s inmeras utilizaes dadas ao recurso hdrico disponvel. A gua pode ser utilizada para
fins domsticos, irrigao de culturas, usos industriais, ou at servir de meio de deslocao a pessoas
e mercadorias.
No entanto, o aumento demogrfico e o uso exaustivo e pouco controlado dos recursos hdricos, tm
originado srios problemas de poluio e escassez de gua. Estes problemas so especialmente
relevantes ao nvel da gua doce, uma vez que esta est disponvel em menor quantidade.
Deste modo torna-se necessrio reflectir e encontrar alternativas que permitam uma melhor gesto
dos usos da gua. Estas alternativas passam obrigatoriamente por: - estratgias que diminuam os
desperdcios nos vrios tipos de consumos; - utilizao de fontes alternativas de gua, como
aproveitamento das guas pluviais e reutilizao de guas residuais tratadas.
Embora sejam conhecidas solues que contribuem para a diminuio da escassez de gua, estas s
so utilizadas quando no existem mais alternativas, ou seja, quando o recurso j se encontra
limitado. Este acontecimento ocorre essencialmente por questes financeiras, uma vez que
necessrio um grande investimento que a curto prazo no ter retorno; e tambm por questes de
aceitao pblica. Sendo esta um factor particularmente limitante no que respeita reutilizao de
guas residuais tratadas.
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INTRODUO
2
1.1. OBJECTIVO
Esta dissertao teve por objectivo principal avaliar a possibilidade de aproveitar guas pluviais no
municpio de Setbal, destinadas a utilizaes que no necessitam de uma elevada qualidade da
gua, por forma a contribuir para a minimizao do consumo de gua potvel. Como objectivo
secundrio pretendeu-se avaliar, de forma expedita, a aceitao pblica relativa possibilidade de
reutilizar guas residuais tratadas, como fonte alternativa.
1.2. PLANO DE TRABALHO
Para a prossecuo do objectivo, o presente trabalho desenvolveu-se de acordo com a seguinte
estrutura:
Reviso bibliogrfica - onde se abordam temas relacionados com a escassez de gua e com
alternativas para diminuir o consumo de gua, mais especificamente os sistemas de
aproveitamento de guas pluviais;
Estudo de caso aplicado ao municpio de Setbal - estudo da pluviosidade e da quantidade
de gua pluvial que se consegue armazenar em cada tipologia de edifcio: um edifcio
multifamiliar, um edifcio unifamiliar com piscina e jardim, o mesmo edifcio unifamiliar caso
no tivesse piscina nem jardim, e o edifcio dos bombeiros sapadores de Setbal;
Avaliao expedita da aceitao pblica relativamente reutilizao de guas residuais
tratadas - atravs da realizao inquritos online, escala nacional, atravs do Google Drive;
Discusso e concluso.
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
3
2. A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
2.1. DISPONIBILIDADE HDRICA
A gua um dos principais constituintes do planeta Terra, sendo um recurso natural e fundamental
para todos os ecossistemas e actividades humanas (Shiklomanov, 1998). Cerca de 2/3 do planeta
Terra constitudo por gua, no entanto apenas 2,5% desse volume corresponde a gua doce. Os
restantes 97,5% representam gua salgada, disponvel nos oceanos (Tomaz, 2001).
Relativamente gua doce, a sua distribuio a seguinte (Figura 2.1): cerca de 69% est sob a
forma de gelo, presente nas calotes polares do rtico, Antrtida e regies montanhosas; cerca de
30% encontra-se em guas subterrneas; e apenas 1% corresponde fraco de guas superficiais.
Nas guas superficiais esto includos os rios, lagos, atmosfera e solos (Tomaz, 2001).
Durante muitos anos o impacto causado pelo homem nos recursos hdricos foi insignificante,
permitindo manter as propriedades de gua doce, quer em termos qualitativos como quantitativos.
Este facto levou iluso de que a gua seria um recurso inesgotvel, provocando uma atitude
negligente na gesto dos recursos hdricos. Assim, com o avano da cincia e da tecnologia, que
originaram um desenvolvimento intenso nas reas de produo agrcola e industrial, a necessidade
de captao de gua aumentou significativamente a nvel mundial (Shiklomanov, 1998).
Ainda em funo dos avanos tecnolgicos, verificou-se um rpido crescimento demogrfico, o que
tambm contribuiu para o aumento nas necessidades de consumo de gua. Ou seja, a captao de
gua aumentou significativamente e, como consequncia, a disponibilidade de gua por habitante, a
nvel mundial, tem vindo a diminuir (Shiklomanov, 1998). Contudo este resultado no se baseia
Subterrneas
30%Superficiais
1%
Rios
Lagos
Atmosfera
Solos
gua Salgada 97,5%
gua Doce 2,5%
Gelo 69%
Figura 2.1 - Distribuio de gua na Terra
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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apenas no volume indispensvel s necessidades bsicas, mas sim no uso compulsivo e no
desperdcio, sem ter em conta as necessidades de consumo futuras (Tomaz, 2001).
Embora exista gua suficiente para satisfazer as necessidades bsicas da populao mundial, a sua
distribuio varia de local para local, existindo regies com grande dfice de gua. A desigual
distribuio dos recursos hdricos traz srios problemas de escassez de gua, pois existem locais que
naturalmente j tm uma reduzida disponibilidade de gua, e em simultneo contm uma elevada
densidade populacional (Qadir et al, 2003).
Apesar de o ciclo hidrolgico ter capacidade para renovar a gua, o reabastecimento dos recursos
hdricos est dependente, entre outros factores, das condies climatricas de cada regio e da
quantidade de gua captada nessa mesma regio (Qadir et al, 2003; Shiklomanov, 1998).
Para alm das actividades humanas, existe ainda a vertente natural das alteraes climticas, o que
tudo conjugado provoca ainda mais alteraes no ciclo hidrolgico. Os problemas relativos ao
recurso da gua podem manifestar-se de diferentes formas: gua a mais, gua a menos e m
qualidade da gua (Raven, P. et al, 2008).
O consumo de gua por pessoa varia de pas para pas, dependendo da disponibilidade do recurso e
do grau de desenvolvimento de cada pas. Esta variao vai desde as dezenas de litros de gua por
pessoa e por dia, at s centenas de litros de gua por pessoa e por dia, em regies de escassez
aguda e regies altamente desenvolvidas, respectivamente (Raven, P. et al, 2008).
2.2. USOS ANTROPOGNICOS DA GUA
O uso da gua atravs das actividades humanas engloba trs grandes sectores: o agrcola, o industrial
e o domstico. No sector domstico esto includos os consumos nas habitaes, nos espaos
comerciais, nos servios pblicos e na rega de jardins.
Em termos globais, a agricultura o sector que consome mais gua (Raven, P. et al, 2008; Tundisi,
2006; Qadir et al, 2007). Os valores diferem ligeiramente de autor para autor, mas de um modo
geral, o sector agrcola consome 70% do volume total de gua consumido no mundo, seguindo-se a
indstria com um consumo de 20%, e o sector domstico com um consumo de 10% do volume total
(Figura 2.2).
-
A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
5
No entanto os consumos de gua por sector variam de regio para regio, de acordo com as suas
necessidades, em funo das condies climticas, da dimenso da populao e do desenvolvimento
econmico da regio. A Tabela 2.1 e a Figura 2.2 indicam os consumos de gua em cada continente,
de acordo com os trs sectores acima referidos.
Tabela 2.1 - Consumos de gua por sector e por continente
Como se pode observar pela Tabela 2.1, excepo da Europa, o sector que consome mais gua em
cada continente a agricultura. De acordo com estes dados, o sector que consome mais gua na
Europa a indstria, tendo o sector agrcola e o sector domstico consumos muito idnticos.
Figura 2.2 - Consumos de gua por sector escala mundial e por continente
Regies Consumo de gua por sector (km
3/ano)
Domstico Industrial Agrcola
frica 27 11 174
Amrica 130 288 430
sia 228 244 2 035
Europa 72 188 73
Ocenia 5 3 11
Mundo 462 734 2 722
Fonte: FAO, 2014
Fonte: WWAP, 2012
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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A Figura 2.2 apresenta os continentes divididos por regies, em que os resultados reforam a ideia
de que os consumos so muito variveis de regio para regio, quer se refira a uma escala de um pas
ou de um continente. Veja-se o exemplo da Amrica, em que na Tabela 2.1, escala do continente, o
consumo de gua do sector industrial cerca do dobro do consumo de gua do sector domstico. No
entanto de acordo com a Figura 2.2, os dados dos consumos para a Amrica do Sul indicam
precisamente o contrrio, o sector domstico consome cerca do dobro de gua quando comparado
ao sector industrial.
Relativamente ao sector domstico, estima-se que nas grandes cidades dos pases desenvolvidos, o
consumo de gua seja de 350 l/(hab.dia) para os Estados Unidos da Amrica e para o Japo, e de 200
l/(hab.dia) para a Europa. J nos pases mais pobres, como a regio subsariana do continente
africano, o consumo de gua de 10 a 20 l/(hab.dia) (World Water Council, 2014).
A falta de acesso gua, quer por inexistncia fsica ou por questes econmicas, ocorre
essencialmente nos pases mais pobres, ou seja nos pases em desenvolvimento. Visto de uma outra
prespectiva, esses pases so menos desenvolvidos porque tm falta de gua, que um bem
essencial vida e a qualquer actividade. A Figura 2.3 mostra a discrepncia dos consumos de gua,
por habitante, em seis regies do mundo.
Fonte: Planeta Sustentvel, 2011
Como se pode observar pela Figura 2.3, de acordo com a Organizao Mundial de Sade, so
necessrios 50 litros de gua por dia para satisfazer as necessidades bsicas de higiene e consumo de
Figura 2.3 - Consumos de gua por habitante e por dia em seis regies do mundo
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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gua para beber. A este valor acresce, pelo menos, o consumo de gua para a preparao de
alimentos e para lavagens de roupa e de loia. Note-se que um indivduo africano da regio
subsariana apenas consome 20 litros de gua por dia, ou seja menos de metade do consumo mnimo
necessrio para a higiene e ingesto de gua.
Quanto mais desenvolvido um pas, maior a sua envolvncia nas reas de produo agrcola e
industrial, e portanto mais gua consome. Na indstria, a gua pode ser utilizada em torres de
arrefecimento, na lavagem de equipamentos, como solvente, fazer parte da composio final de um
produto, e ainda servir como meio de comunicao e transporte. J na agricultura, a gua destina-se
irrigao das culturas.
O volume de gua necessrio agricultura (70% do consumo de gua mundial), poder originar
conflitos entre os restantes sectores que consomem gua, uma vez que a populao tende a
aumentar, aumentando a procura de alimento, e diminuindo a disponibilidade hdrica (WWAP,
2012).
Embora o desenvolvimento seja sinnimo de riqueza, e portanto, maior consumo de gua, hoje em
dia existe uma consciencializao social da necessidade de diminuir os consumos de gua. Esta
consciencializao resultado das campanhas de sensibilizao realizadas junto populao, que
conduzem tambm necessidade de utilizao de solues tecnolgicas, capazes de consumir
menos quantidade de gua garantindo os mesmos objectivos. Assim, a evoluo social e econmica,
passa por atenuar o consumo de gua em todos os sectores de utilizao, diminuindo o desperdcio e
aumentando a eficincia.
No sector industrial, uma nova abordagem de produo passa por produzir mais com menos, ou seja
aumentar a produo sem aumentar o consumo de gua. Este sistema de produo est
direccionado para a produo em ciclo fechado, que idealmente deveria proporcionar descargas de
efluentes quase nulas. No caso do sector agrcola, o consumo de gua tende a diminuir em funo do
desenvolvimento de tecnologias aplicadas nos sistemas de rega. No entanto, em alguns pases a
disponibilidade de gua j limitada e a tendncia para piorar (WWAP, 2012).
2.3. ESCASSEZ DE GUA
A escassez de gua no , para j, um problema escala mundial. No entanto, existe uma percepo
generalizada de que a gua um recurso cada vez mais escasso, resultado de condies inevitveis
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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como o crescimento demogrfico e o respectivo aumento da procura de gua para produo de
alimentos, para usos industriais e para usos domsticos (FAO, 2012).
Relativamente sua disponibilidade hdrica, os pases so classificados de acordo com as seguintes
categorias:
Tabela 2.2 - Classificao dos pases de acordo com a sua disponibilidade hdrica
Classificao Disponibilidade Hdrica (m3/(hab.ano))
Absoluta escassez de gua 1700
de salientar que a disponibilidade hdrica por habitante abrange o consumo de gua para ingesto,
para higiene pessoal, para preparao de alimentos, para lavagens, e ainda a gua virtual. A gua
virtual aquela que no consumida directamente pelo consumidor, mas que necessria nos
processos de produo, como por exemplo na produo de cereais e gado. Por exemplo, para
produzir 1kg de arroz so necessrios 1400 litros de gua (World Water Council, 2014).
De acordo com a ONU, at 2030 quase metade da populao mundial viver em reas com escassez
de gua. Actualmente o cenrio no muito melhor, pois cerca de um quinto da populao mundial
(1,2 mil milhes de pessoas) vive em zonas com escassez fsica de gua, e um quarto da populao
mundial (1,6 mil milhes de pessoas) vive em locais com escassez econmica de gua, onde os pases
no tm as infraestruturas necessrias para conseguirem captar a gua (UN, 2014).
Nos pases mais pobres, a crescente limitao de acesso ao recurso gua, compromete o seu
desenvolvimento. O acesso a gua para produo de alimentos, criao de animais e usos
domsticos, est a tornar-se mais limitado do que o acesso a cuidados de sade e educao,
normalmente problemtico neste tipo de pases. Destacam-se a maioria dos pases do Mdio Oriente
e do Norte de frica, bem como pases como o Mxico, Paquisto, frica do Sul, e grande parte da
China e da ndia (FAO e UN-Water, 2007).
O facto de a densidade populacional e os recursos de gua doce no estarem distribudos
uniformemente no Mundo, agrava o problema da escassez de gua. Os locais com maior escassez
fsica de gua, so aqueles que contm uma maior densidade populacional, e aqueles onde o preo
Fonte: FAO, 2012
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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de gua potvel mais elevado. Nestes locais as pessoas pagam entrem 5 a 10 vezes mais por
unidade de gua, quando comparado a pessoas que tm fcil acesso a gua potvel proveniente da
rede de abastecimento (FAO e UN-Water, 2007).
Actualmente a populao mundial conta com 7 mil milhes de pessoas, mas estima-se que at 2050
a populao aumente at aos 9,3 mil milhes de pessoas, o que se traduz num aumento contnuo de
procura de gua (WWAP, 2014). Consequentemente, j para o ano de 2025, esperado que 1,8 mil
milhes de pessoas vivam em locais com absoluta escassez de gua, para alm dos dois teros de
populao que viver em locais de stress hdrico (UN, 2014).
A Figura 2.4 apresenta as regies do mundo com escassez fsica e econmica de gua. As regies
esto classificadas em quatro categorias: escassez fsica de gua, prximo de escassez fsica de gua,
escassez econmica de gua e pouca ou nenhuma escassez. Existem ainda zonas para as quais no
foram estimadas quaisquer categorias.
A escassez fsica ocorre quando a regio no tem disponibilidade hdrica para fazer face s
necessidades de consumo, por falta de existncia fsica do recurso. A escassez econmica ocorre
quando a regio no tem acesso s infraestruturas necessrias para conseguir captar e tratar a gua,
embora o recurso esteja disponvel.
Atravs da Figura 2.4 pode-se verificar que as regies que apresentam maior escassez de gua, quer
seja fsica ou econmica, correspondem s regies de pases em desenvolvimento.
Figura 2.4 - Regies com escassez fsica e econmica de gua
Fonte: WWAP, 2012
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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2.3.1. Exemplos de escassez de gua
Independentemente da sua causa, por factores naturais ou por factores antropognicos, a
disponibilidade de gua doce tem vindo a diminuir. Seguem-se alguns exemplos, onde visvel a
diminuio do volume de guas superficiais:
Na sia Central, os dois rios que alimentavam o mar de Aral deixaram de chegar at ao mar,
aps uma captao intensiva de gua para a irrigao das plantaes de algodo. Como
consequncia, o volume de gua do mar de Aral cada vez menor, provocando alteraes profundas
nos ecossistemas (Tomaz, 2001), como se pode observar na Figura 2.5.
Em 1997 na China, o rio Amarelo, sexto maior rio do mundo, no chegou ao mar durante sete
meses seguidos (Tomaz, 2001);
No Nordeste da China, na provncia de Jilin, existe uma regio caracterizada pela abundncia
de pntanos, os quais tm vindo a ser substitudos por terrenos agrcolas (UNEP, 2002). A Figura 2.6
mostra a diferena na abundncia destes pntanos no ano de 1987 e no ano de 2000, representados
a azul/preto. As reas a vermelho/laranja representam terrenos agrcolas.
Fonte: Universidade Aberta, 2013
Figura 2.5 - Evoluo do mar Aral entre 1989 e 2009
Setembro 1989 Agosto 2003 Agosto 2009
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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O rio Nilo, no continente africano, diminuiu o seu caudal mdio de 85 km3/ano para 53
km3/ano (Tomaz, 2001);
O Lago Chade, no Centro de frica, diminuiu a sua rea em 90% entre 1963 e 2001, tendo sido
um dos maiores lagos a nvel mundial (PBLICO, 2009). A Figura 2.7 mostra essa diminuio entre os
anos de 1972 e 2001.
Figura 2.7 - Lago Chade em 1972 e em 2001
No centro de Tquio, no Japo, e de acordo com a Figura 2.8, pode constatar-se o
desaparecimento de pequenos rios e cursos de gua entre 1890 e 1985.
Fonte: BBC News, 2007
Figura 2.6 - Evoluo dos pntanos numa regio da provncia de Jilin, entre 1987 e 2000
Fonte: UNEP (2002a)
1972 2001
1987 2000
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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Figura 2.8 - Desaparecimento de cursos de gua em Tquio, entre 1890 e 1985
2.4. SITUAO NA EUROPA
Na Europa a escassez de gua pouco acentuada, mas ainda assim existe algum stress hdrico nas
regies com grandes reas de irrigao e nos pases altamente industrializados (UNEP, 2002a). O
stress hdrico calculado com base no consumo de gua de cada regio, relativamente
disponibilidade total de gua doce renovvel (volume de guas superficiais e subterrneas renovado
atravs da precipitao), servindo de indicador da presso exercida sobre os recursos hdricos
(Wintgens et al, 2006). Ou seja a relao entre a procura e a capacidade de oferta.
Quando os valores do ndice de stress hdrico se encontram abaixo dos 10%, significa que a relao
entre a procura e a oferta est equilibrada, no existindo escassez de gua. Para valores entre 10% e
20% de stress hdrico, existem algumas limitaes no desenvolvimento futuro do pas, tornando-se
necessrio um investimento significativo para satisfazer as necessidades futuras de consumo. Valores
de stress hdrico acima dos 20%, significa que so necessrias alteraes profundas na gesto dos
recursos hdricos, por forma a equilibrar a oferta e a procura, e a resolver possveis conflitos com os
usurios concorrentes (Wintgens et al, 2006). A Figura 2.9 e Figura 2.10 quantificam o stress hdrico
de acordo com os vrios pases da Europa, atravs de dados do ano 2000.
Fonte: Furumai, 2008
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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Figura 2.9 - Stress hdrico na Europa (%)
Figura 2.10 - ndice de Stress hdrico nos pases europeus (%)
Como se pode verificar pelas Figura 2.9 e Figura 2.10, o stress hdrico sentido na Europa muito
varivel de pas para pas. Relativamente a Portugal, o seu ndice de stress hdrico est entre os 10%
e os 20%, o que significa que necessrio agir com medidas preventivas, de modo a no
comprometer a satisfao das necessidades futuras de consumo.
Fonte: UNEP, 2002a
Fonte: Wintgens et al, 2006
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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As variaes do ndice de stress hdrico entre os pases da Europa, tal como no resto do mundo, esto
relacionadas com as diferentes condies climticas e actividades econmicas de cada pas, e a
distribuio no uniforme dos recursos hdricos. Os ndices de stress hdrico mais elevados ocorrem
em reas com baixa pluviosidade, alta densidade populacional, e elevadas reas de irrigao (UNEP,
2002a).
Na parte central da Europa Ocidental, grande parte do consumo de gua utilizado na indstria,
principalmente para arrefecimento em processos industriais. Esta gua devolvida ao meio de onde
foi captada, praticamente sem alteraes, a no ser na temperatura que ser mais elevada aps a
passagem pelo processo industrial. J no sul da Europa Ocidental, onde os recursos hdricos so
menos abundantes, a agricultura consome cerca de 80% dos consumos totais de gua (UNEP, 2002a).
Tal como nos ndices de stress hdrico, tambm os diferentes consumos de gua, por pas e por
sector, so justificados por diferentes pluviosidades, diferentes densidades populacionais e
diferentes actividades industriais e agrcolas. A juntar a este facto, existem ainda as diferentes
polticas aplicadas na gesto dos recursos hdricos, em que alguns pases apostam em fontes de gua
alternativas, como guas pluviais e guas residuais tratadas, que nesse caso diminuem a necessidade
de captao de gua doce.
A Figura 2.11 mostra a percentagem de gua doce consumida nos vrios pases da Europa, para
suprir as necessidades dos vrios sectores. Estes sectores esto distribuidos em consumo de gua
domstico, consumo de gua industrial, consumo de gua agrcola, e utilizao de gua para
refrigerao ou produo de energia.
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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Figura 2.11 - Consumo de gua doce na Europa de acordo com os vrios sectores (%)
De acordo com a Figura 2.11, verifica-se que em Portugal a maioria da gua doce consumida tem
como destino a agricultura. Este sector poder recorrer a fontes alternativas de gua, uma vez que
no exige uma elevada qualidade de gua. Uma fonte alternativa possvel a utilizao de guas
residuais, tratadas a uma qualidade que garanta a inexistncia de impactos para a sade pblica.
2.5. DESPERDCIO NO CONSUMO DE GUA POTVEL
Embora o aumento demogrfico e o desenvolvimento econmico provoquem um aumento na
necessidade de captao de gua, nem toda a gua captada realmente utilizada. Existem
desperdcios associados ao armazenamento, transporte, distribuio e utilizao ineficiente nos usos
previstos (APA, 2012). Neste sentido, as principais medidas que tm sido tomadas para diminuir o
consumo de gua incidem em evitar o desperdcio.
A diminuio do consumo de gua benfico em muitas reas, uma vez que se poupa o recurso
natural, poupa-se a energia necessria captao e tratamento de gua, e poupam os consumidores
nas tarifas que tm de pagar pelo volume de gua consumido.
Desta forma tm sido desenvolvidas tcnicas que permitem efectuar os mesmos servios mas com
uma menor quantidade de gua. Nos usos domsticos, por exemplo, tm-se desenvolvido mquinas
Fonte: Wintgens et al, 2006
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A PROBLEMTICA DA ESCASSEZ DE GUA
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de lavagem cada vez mais economizadoras, torneiras com redutor de caudal, e autoclismos com
menores descargas de gua. O mesmo sucede na indstria e na agricultura, em que os equipamentos
e sistemas de rega necessitam de consumir cada vez menos gua para exercer uma mesma funo.
Relativamente agricultura, estima-se que at ao ano de 2030 seja necessrio captar mais 14% de
gua doce para usos agrcolas, face ao aumento demogrfico e consequente necessidade de
produo de alimentos. No entanto, este aumento de gua captada dar para obter 55% de aumento
de produo de alimentos. Ou seja, h um aumento significativo na eficincia do uso da gua (FAO e
UN-Water, 2007).
Em Portugal, a procura total de gua reduziu cerca de 43% entre 2000 e 2009. Uma das causas para
esta reduo foi a diminuio das perdas de gua nos sistemas de transporte e de distribuio
(PNUEA, 2012). Esta diminuio foi, em parte, incentivada pelo Programa Nacional para o Uso
Eficiente da gua (PNUEA) que estipulou objectivos neste sentido.
A Figura 2.12 mostra a evoluo no desperdcio de gua, por sector, para os anos de 2000 e 2009,
bem como as metas definidas pelo PNUEA a alcanar em 2020. As perdas apresentadas dizem
respeito s perdas no sistema de armazenamento, transporte e distribuio.
Figura 2.12 - Desperdcio de gua nos vrios sectores, para os anos de 2000 e 2009, e metas a alcanar pelo PNUEA ate ao ano de 2020
Como se pode verificar pela Figura 2.12, houve uma reduo significativa do desperdcio de gua
entre 2000 e 2009, especialmente no sector urbano e industrial. A agricultura, sendo o sector que
consome mais gua, tambm aquele onde se verifica um maior desperdcio. Apesar dos valores
acima referidos reflectirem uma tendncia de diminuio do desperdcio de gua, continua a existir
uma boa parcela de gua que desperdiada. Isto quer dizer que ainda h muito a fazer at se
atingirem eficincias perto dos 100%.
40% 40%30%
25%
37,5%
22,5%20%
35%
15%
Urbano Agrcola Industrial
Desperdcio no uso da gua por sector
2000
2009
Meta para 2020
Fonte: PNUEA 2012
Fonte: APA, 2012
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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3. ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
O problemas relativos aos recursos hdricos, tais como a escassez e a poluio da gua, devem-se
essencialmente ao consumo exaustivo e desperdiado de gua. Desta forma, torna-se necessrio
procurar alternativas que contribuam para diminuir o consumo de gua, que passam
obrigatoriamente por alterar a gesto dos recursos hdricos.
Uma vez que impossvel viver sem gua e que este recurso essencial a todas as actividades
exercidas pelo Homem, considera-se que uma melhor gesto dever incorporar os seguintes itens:
- Evitar ao mximo os desperdcios;
- Reciclar a gua sempre que possvel;
- Procurar fontes alternativas de gua, como guas pluviais, para utilizar directamente em
situaes que no necessitam de gua potvel.
Em 1985, o Concelho Econmico e Social das Naes Unidas estabeleceu uma poltica para as regies
com carncia de gua, referindo que nenhuma gua de boa qualidade deve ser utilizada para usos
que toleram qualidade inferior, a no ser que exista uma elevada disponibilidade deste recurso
(Tomaz, 2001). Embora seja um avano no sentido de impor regras utilizao dos recursos hdricos,
esta poltica poder ser pouco concisa e causar conflitos, uma vez que se uma regio tem uma
elevada disponibilidade de gua, com a utilizao desordenada deste recurso, a procura ir aumentar
significativamente mas a disponibilidade manter-se- igual. Por outro lado, pode no ser fcil definir
o limite de disponibilidade "elevada" ou "reduzida".
de realar que uma gesto de recursos hdricos adequada benfica tanto em termos ambientais,
como sociais e econmicos. Assim, quanto mais se conseguir preservar o ciclo da gua, mais se
mantm a qualidade e a disponibilidade hdrica, permitindo assegurar o equilbrio dos ecossistemas,
a sade pblica e o funcionamento das actividades econmicas.
3.1. APROVEITAMENTO DE GUAS PLUVIAIS
O aproveitamento de guas pluviais uma das prticas que tem sido utilizada para combater a
escassez e diminuir o consumo de gua potvel. Esta tcnica consiste em recolher as guas pluviais,
que caem naturalmente nas vrias superfcies, direccionando-as para reservatrios de
armazenamento, para posterior utilizao.
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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Embora seja um tema muito discutido e praticado na actualidade, esta prtica j realizada h muito
tempo, desde os povos nmadas pr-histricos. Existem dados de 870 a.C. que enunciam uma lei,
feita pelo rei de um povo nmada instalado no Mar Morto, que obrigava as casas a aproveitarem as
guas pluviais das coberturas (Tomaz, 2001). Ou seja, desde sempre que o aproveitamento de guas
pluviais considerado como uma das possveis fontes de gua para satisfazer as necessidades
bsicas do Homem.
As guas pluviais recolhidas e armazenadas so usadas principalmente para usos no potveis, tais
como descargas de autoclismos, mquinas de lavar roupa e loia, lavagem de automveis e rega de
jardins. No entanto tambm podem ser usadas para usos potveis, desde que sujeitas a tratamentos
especficos (Li et al, 2010). Em Portugal, a gua destinada ao consumo humano deve respeitar os
parmetros microbiolgicos, qumicos e indicadores, constantes do anexo I do Decreto-Lei n.
306/2007.
Para alm dos usos domsticos, as guas pluviais tambm so adequadas para usos agrcolas e
industriais . No caso dos usos agrcolas, as guas pluviais so uma fonte de gua natural, adequada
para a rega. Estas guas podem ser drenadas pelo solo e armazenadas no subsolo, com recurso a
sistemas naturais, que permitem armazenar a gua e proteg-la da evaporao (Helmreich et al,
2008).
Na indstria, o aproveitamento de guas pluviais tambm pode ser muito vantajoso, devido s
grandes reas disponveis para captao e aos elevados consumos de gua necessrios. O grande
desafio para viabilizar um projecto desta envergadura, passa por determinar o volume do
reservatrio de armazenamento (Mierzwa et al, 2007), que est directamente associado aos custos
destes projectos e exequibilidade dos mesmos.
O volume de gua pluvial que se consegue armazenar est dependente das condies
meteorolgicas, como precipitao, temperatura e evaporao, e das caractersticas da superfcie de
captao, que influenciam o escoamento. Um factor a ter em considerao, quando se pretende
determinar o volume de gua pluvial passvel de ser reservado, o coeficiente de escoamento da
superfcie de captao (ou coeficiente runoff). Este est dependente da inclinao e da porosidade
do material por onde a gua escoada.
No caso especfico das coberturas dos edifcios, o coeficiente de escoamento varia entre 0,7 e 0,95,
de acordo com os diferentes tipos de materiais. O que quer dizer que, para calcular o volume (V) de
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
19
guas pluviais a armazenar, deve-se considerar: V(m3) = P(mm)*A(m2)*C. Em que P a precipitao
da regio em causa, A a rea da superfcie de captao e C o coeficiente de escoamento
superficial (Farreny et al, 2011). Quanto mais pequena for a escala temporal dos dados de
precipitao, mais fiveis so os resultados. No entanto, usual trabalhar os dados de precipitao
escala mensal, ou seja, precipitao total mensal, obtendo-se um volume de guas pluviais a
armazenar por ms.
Segundo a especificao tcnica da Associao Nacional para a Qualidade nas Instalaes Prediais
(ANQIP), relativa aos Sistemas de Aproveitamento de guas Pluviais (SAAP), o valor do coeficiente de
runoff deve ser de 0,8 para coberturas impermeveis, 0,6 para coberturas planas com gravilha, 0,5
para coberturas verdes extensivas (vegetao leve em coberturas inclinadas) e 0,3 para coberturas
verdes intensivas (vegetao pesada em coberturas planas).
De um modo geral, as guas pluviais apresentam uma boa qualidade. No entanto necessrio avaliar
cada caso, pois a qualidade das guas pluviais est dependente das condies locais, como
proximidade a estradas com elevado trfego, proximidade a actividades industriais, presena de
vegetao e proximidade a terrenos agrcolas onde se utilizam fertilizantes e pesticidas (Mierzwa et
al, 2007; Sazakli et al, 2007).
Assim, a qualidade das guas pluviais est directamente dependente da qualidade atmosfrica, o que
quer dizer que em reas rurais, distantes da poluio atmosfrica industrial e rodoviria, a qualidade
das guas pluviais , tendencialmente, mais elevada. Em contrapartida, nas reas urbanas com
elevado trfego e actividades industriais, a qualidade das guas pluviais inferior pois a atmosfera
contem partculas, metais pesados e poluentes orgnicos (Helmreich et al, 2008).
De acordo com Kahinda et al (2007), dos vrios estudos que tm sido realizados relativamente
qualidade das guas pluviais, captadas atravs da cobertura de edifcios, verifica-se que apresentam
diferentes concluses. Por um lado, alguns autores concluem que as guas pluviais esto dentro dos
parmetros internacionais para a gua potvel; por outro lado, outros autores concluem que a
presena de contaminantes qumicos e microbiolgicos superam, frequentemente, as quantidades
mximas admissveis para uma gua potvel. Estes resultados reforam a ideia de que necessrio
estudar cada situao de forma independente, pois a qualidade das guas pluviais est dependente
do meio envolvente.
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
20
A avaliao da viabilidade de um SAAP, tem de ter em conta as componentes qualitativa e
quantitativa das guas captadas. Estes estudos devem ser feitos a vrios tipos de coberturas,
determinando critrios que permitam s cidades estabelecer um sistema de gesto de guas pluviais
sustentvel (Farreny et al, 2011).
Com o aumento dos custos associados aos servios de saneamento, a implementao de SAAP tem-
se tornado economicamente mais vivel. Sendo de referir, no entanto, a importncia dos benefcios
ambientais, e no s a vertente econmica (Nolde, 2007). De acordo com estudos internacionais,
sobre casas que dispem de SAAP, consegue-se uma reduo entre 30% a 92% do volume de gua
distribudo pela rede de abastecimento pblica (Li et al, 2010).
3.1.1. Descrio geral do sistema
Um SAAP constitudo por uma superfcie de captao, um sistema de drenagem e um reservatrio
de armazenamento de gua pluvial (Li et al, 2010). O sistema mais comum, aplicado a coberturas de
edifcios, funciona da seguinte forma: as guas pluviais precipitam sobre a cobertura, que por
inclinao da superfcie escoam at ao sistema de drenagem (constitudo por caleiras e tubos de
queda), e este encaminha as guas pluviais at ao reservatrio de armazenamento. A partir do
reservatrio, a gua pode ser retirada para consumo atravs de um sistema de bombas ou por
gravidade, caso o reservatrio seja elevado.
As guas pluviais podem ser captadas a partir de vrias superfcies onde ocorra escoamento, tais
como coberturas de edifcios, ptios, ruas pavimentadas e estradas. As coberturas dos edifcios
representam uma elevada percentagem de rea impermevel nas cidades, tornando-se assim nas
superfcies ideais para instalar um SAAP (Villarreal et al, 2004).
O escoamento proveniente de estradas contem, normalmente, concentraes de poluentes mais
elevadas, quando comparado ao das coberturas dos edifcios. Este facto esta relacionado com a
emisso de gases dos automveis, perdas de leo e desgaste de pneus na estrada, que aumentam
com o aumento do trfego. No entanto continua a ser exequvel recolher as guas pluviais nestas
superfcies, uma vez que podem ser tratadas e ficar com qualidade aceitvel para os respectivos usos
(Nolde, 2007).
Para garantir uma melhor qualidade das guas pluviais captadas, fundamental manter as
superfcies de captao e os tanques de armazenamento limpos, e desviar os primeiros milmetros de
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
21
Caleira
Filtro
Reservatrio
chuva aps um perodo seco (Li et al, 2010; Kahinda et al, 2007). O perodo mais indicado para fazer
estas lavagens no final do semestre seco, antes dos primeiros eventos de chuva (Sazakli et al,
2007).
A primeira chuvada arrasta consigo os contaminantes presentes na superfcie de captao,
resultantes da deposio de vrios poluentes durante o perodo seco (Mierzwa et al, 2007; Li et al,
2010). Estes poluentes podem ser poeiras, folhas das rvores, insectos, depsitos de produtos
qumicos, e depsitos de fezes de aves e mamferos, sendo conveniente desviar do reservatrio de
armazenamento (Li et al, 2010). As primeiras guas pluviais, aps um perodo seco, so tambm
denominadas por "gua de lavagem dos telhados", precisamente por eliminar a maior parte dos
contaminantes presentes nesta superfcie de captao (Mierzwa et al, 2007).
As figuras que se seguem representam exemplos de aplicaes esquemticas e reais de SAAP. A
Figura 3.1 mostra exemplos de SAAP aplicados a habitaes, enquanto a Figura 3.2 mostra um
exemplo de SAAP aplicado a uma indstria.
Figura 3.1 - Representaes de um SAAP aplicado a habitaes
Fonte: Li et al, 2010 Fonte: Rainwater Solutions, 2014
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
22
Figura 3.2 - Representao esquemtica de um SAAP aplicado a uma indstria
3.1.2. Requisitos necessrios implantao de um SAAP
Estudos de pluviosidade
O principal requisito para a implantao de SAAP a existncia de precipitao. Como tal, muito
importante que exista informao disponvel acerca da ocorrncia deste fenmeno. Os dados de
precipitao devem ser estudados estatisticamente, por forma a determinar a precipitao
caracterstica do local em estudo, que ser determinante para os clculos de volume de guas
pluviais a armazenar.
Assim, a precipitao a principal condicionante quando se verifica a viabilidade de um projecto de
SAAP. este fenmeno natural, juntamente com os consumos de gua da populao, que
determinam o volume de gua passvel de ser armazenado e, consequentemente, o volume do
reservatrio.
Superfcie de captao
As coberturas dos edifcios so as superfcies de captao mais comuns, estas podem ser de vrios
materiais, desde que impermeveis. O tipo de material e a inclinao das coberturas influenciam o
escoamento das guas pluviais, devido rugosidade dos materiais (Li et al, 2010; Farreny et al, 2011).
Fonte: Mierzwa et al, 2007
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
23
As coberturas podem ser constitudas por telhas (cermicas, de fibrocimento, de zinco ou alumnio)
ou apenas impermeabilizadas com manta asfltica (Campos et al, 2013).
Sistema de drenagem
O sistema de drenagem constitudo por caleiras e tubos de queda (Figura 3.3), que tm como
funo drenar a gua da cobertura at ao reservatrio. As caleiras so normalmente suspensas nos
beirais das coberturas e inclinadas em direco ao tudo de queda (Li et al, 2010). Os materiais que
normalmente suportam este sistema de drenagem so o PVC e o metal, sendo as caleiras e os tubos
de queda dimensionados de acordo com a precipitao de cada regio (Campos et al, 2013).
Figura 3.3 - Exemplo de um sistema de drenagem
Dispositivo de by-pass
Antes da entrada no reservatrio, essencial a existncia de um sistema de by-pass a este rgo. O
by-pass ao reservatrio serve para desviar as primeiras chuvadas e o volume de guas pluviais em
excesso, caso a gua atinja a cota mxima do reservatrio (Campos et al, 2013; Herrmann et al,
1999). O sistema de by-pass pode ser feito de vrias maneiras, desde uma simples vlvula manual, a
um sistema de boias flutuantes ou um pequeno reservatrio de descarga a montante do
reservatrio.
Filtro
O filtro tem como funo evitar a passagem de partculas de maiores dimenses para dentro do
reservatrio, localizando-se no sistema de drenagem, a montante do reservatrio. Existem vrios
Fonte: Bertolo, 2006
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
24
tipos de filtro, de acordo com a capacidade hidrulica de filtragem e da qualidade da gua a filtrar. A
manuteno destes filtros consiste em lavar os mesmos uma ou duas vezes por ano, para aqueles
que no dispem de um dispositivo de autolimpeza (Ecogua, 2014).
Reservatrio
O reservatrio o elemento principal deste sistema, e o que mais dispendioso, representando
cerca de 50% a 70% do custo total de um sistema de aproveitamento de guas pluviais (Li et al,
2010). Por este motivo essencial que o reservatrio seja dimensionado correctamente, tendo como
base os dados de precipitao, a disponibilidade financeira, e o espao fsico disponvel, de modo a
criar um sistema sustentvel. Tambm necessrio ter em considerao as necessidades de
consumo, por forma a evitar elevados tempos de reteno, que provocam a degradao da
qualidade da gua no reservatrio (Li et al, 2010).
Os reservatrios podem ser de diversos materiais, tais como beto, PEAD e fibra de vidro. De acordo
com a Especificao Tcnica da ANQIP (ETA) 0701, os materiais devem assegurar a sua estrutura, no
serem porosos e que no propiciarem reaces qumicas com a gua. Devem ainda ser de cantos
arredondados, para facilitar a manuteno e evitar a deposio de biofilme. Quanto localizao, os
reservatrios podem ser superficiais ou subterrneos. Em ambos os casos devem estar cobertos e
impedir a entrada de luminosidade, evitando a invaso de insectos e o desenvolvimento de
microalgas.
Os reservatrios de superfcie so menos dispendiosos, permitem detectar facilmente fissuras e
perdas, e, caso sejam elevados, a gua pode ser extrada por meio da gravidade. Relativamente aos
reservatrios subterrneos, para alm dos custos de movimentos de terra, ter de prever um
sistema de bombagem para elevao da gua, o que vai encarecer o sistema quer em termos de
investimento inicial, quer de explorao do sistema (Li et al, 2010).
A Figura 3.4 mostra um grfico da satisfao das necessidades de consumo de gua em funo da
dimenso dos reservatrios. Pode-se verificar que a satisfao proporcionada por um reservatrio
no proporcional sua dimenso. Uma das justificaes para este acontecimento facto de os
reservatrios de menores dimenses poderem ser cheios e esvaziados com mais frequncia,
comparativamente aos reservatrios de maiores dimenses (Kahinda et al, 2007).
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
25
Figura 3.4 - Satisfao das necessidades vs dimenso dos reservatrios
3.1.3. Tratamento da gua pluvial armazenada
A gua pluvial armazenada pode posteriormente ser tratada, para melhorar a sua qualidade. Este
tratamento s se justificar caso a gua seja utilizada para outros fins que no exclusivamente a rega.
Um tratamento simples da gua pluvial melhora significativamente a sua qualidade, mas no a torna
apta para gua potvel. Para isso seriam necessrios tratamentos mais sofisticados, e por isso, mais
caros (Li et al, 2010).
As guas pluviais sem tratamento, utilizadas nas descargas de autoclismos, devem respeitar, no
mnimo, as normas de qualidade equivalentes s guas balneares, nos termos da legislao nacional
e das Directivas europeias aplicveis (ANQIP, 2009). No anexo XV do Decreto-Lei n 236/98, so
apresentados os parmetros microbiolgicos e fsico-qumicos correspondentes s guas balneares,
com os respectivos valores mximo recomendado e mximo admissvel.
A desinfeco um dos tratamentos simples que se pode aplicar gua pluvial armazenada, por
forma a melhorar a sua qualidade microbiolgica. A adio de cloro a prtica mais comum, uma vez
que de fcil aplicao e pouco dispendioso (Li et al, 2010). Esta adio deve ser feita sada do
reservatrio (ou nos camies-cisternas caso a gua seja transportada), uma vez que o cloro pode
reagir com a matria orgnica e formar subprodutos indesejveis nos reservatrios (Sazakli, 2007).
No entanto, de acordo com alguns autores, a desinfeco qumica no necessria, uma vez que h
ocorrncia de sedimentao, em que a maior parte das bactrias sedimenta com as partculas
sedimentveis (Sazakli, 2007). Recomenda-se ento a utilizao de um crivo a montante do
Fonte: Kahinda et al, 2007
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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reservatrio, impedindo a entrada de resduos de maiores dimenses, e a sedimentao natural
como mtodo de remoo microbiana (Herrmann et al, 1999).
Pode-se ainda considerar a filtrao lenta como processo de tratamento biolgico, em que as vrias
camadas de areia eliminam os microrganismos presentes, dando origem a uma gua pobre em
nutrientes. Para que este processo seja eficaz necessrio a passagem de um fluxo contnuo atravs
do filtro, o que quer dizer que este ter de ser instalado a jusante do reservatrio (Li et al, 2010).
Desta forma, a utilizao da filtrao lenta dever ser apenas considerada para consumos elevados e
contnuos, preferencialmente quando os reservatrios so subterrneos e a extraco da gua
pluvial realizada por meio de uma bomba, garantindo um fluxo contnuo.
A Figura 3.5 mostra um esquema de um reservatrio, evidenciando de forma sequencial o fluxo da
gua e os tratamentos a que esta submetida.
Figura 3.5 - Sequncia de tratamentos das guas pluviais armazenadas num reservatrio
De acordo com a Figura 3.5, as guas pluviais armazenadas passam pelos seguintes processos de
tratamento (Ecogua, 2014):
1 - A gua entra no reservatrio de armazenamento aps a passagem por um filtro. Este o primeiro
processo de tratamento da gua pluvial. A gua limpa encaminhada para o reservatrio e o
pequeno volume de gua que contem as impurezas encaminhado para a rede de drenagem de
guas pluviais;
2 - A alimentao de gua no reservatrio feita no fundo do mesmo e de baixo para cima. Para
alm dos benefcios em termos de circulao da gua dentro do reservatrio e introduo de
oxignio no fundo, este tipo de alimentao faz com que a gua que est a entrar no agite os
sedimentos que esto depositados no fundo. A sedimentao o segundo processo de tratamento
1 2 3 4
Fonte: Ecogua, 2014
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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da gua, em que as partculas mais pesada descem ao longo da coluna de gua, depositando-se no
fundo do reservatrio;
3 - As partculas mais leves flutuam at atingir a superfcie de gua, o que torna necessrio a
existncia de um flotador para recolher e purgar essas partculas. Este o terceiro processo de
tratamento da gua;
4 - Por ltimo, a gua extrada do reservatrio para ser utilizada. A captao feita abaixo do nvel
da cota de superfcie, uma vez que esta a zona mais limpa da coluna de gua, no interferindo com
o processo de sedimentao nem com as partculas flutuantes. Esta recolha conseguida com auxilio
de uma boia e uma mangueira flexvel, que conseguem garantir a captao de gua sempre abaixo
do nvel da cota de superfcie, quer o reservatrio esteja cheio ou quase vazio.
3.1.4. Vantagens e desvantagens do aproveitamento de guas pluviais
O aproveitamento de guas pluviais considerado um instrumento importante na gesto dos
recursos hdricos (Campos et al, 2013). As principais vantagens so contribuir para a reduo da
escassez de gua, garantir a disponibilidade de gua em situaes de emergncia, proteger as fontes
de gua doce subterrneas e superficiais, diminuir a ocorrncia de cheias e diminuir o consumo de
gua da rede de abastecimento pblica (Helmreich et al, 2009; Campos et al, 2013).
Para alm das vantagens j referidas, destacam-se outras:
- So sistemas que podem ser instalados tanto em edifcios que j existem, como em novas
construes (Li et al, 2010);
- As guas pluviais so consumidas no local onde so captadas, o que reduz os riscos de
contaminao ao longo da rede de distribuio e os custos associados distribuio (Li et al,
2010);
- Nos pases em desenvolvimento, que no tm rede de abastecimento pblica de gua, evita a
deslocao da populao a uma grande distncia para ir buscar gua. Sendo que nestes casos, a
gua fornecida , por vezes, de pior qualidade quando comparada das guas pluviais (Kahinda et
al, 2007);
- As guas pluviais armazenadas podem servir para a recarga de aquferos (Furumai, 2008);
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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- O custo de operao e manuteno geralmente baixo, uma vez que pode ser aplicado um
tratamento de gua simples, que suficiente quando a gua utilizada para fins no potveis (Li
et al, 2010);
- Em pases como a Alemanha, Austrlia, Estados Unidos e Japo, os sistemas de aproveitamento
de gua pluvial geram uma economia, no consumo de gua potvel da rede de abastecimento
pblica, superior a 30% (Campos et al, 2013);
- Quando o abastecimento de gua pblica interrompido, as habitaes dotadas de um SAAP
podem ser auto-suficientes, relativamente aos consumos de gua no potveis (Li et al, 2010).
A principal desvantagem de um SAAP a incerteza associada precipitao. Este sistema est
inteiramente dependente da quantidade de gua precipitada, e por mais dados histricos que
estejam disponveis, sempre um fenmeno que no se pode prever. Como consequncia, os SAAP
podem ser dimensionados para uma determinada condio de precipitao, e depois vir a verificar-
se uma situao totalmente diferente. Por forma a minimizar este tipo de situaes, os reservatrios
devem ser dimensionados para valores de consumo inferiores mdia da afluncia.
Existem ainda outras desvantagens, tais como:
- Falta de conhecimento, motivao e aceitao por parte da populao (Helmreich et al, 2009);
- Falhas de dados meteorolgicos, que impedem estudos de confiana para planear a introduo
de SAAP (Helmreich et al, 2009);
- Reduzida qualidade da gua e possveis impactos na sade humana devido aos contaminantes
(Kahinda et al, 2007);
- Os reduzidos custos praticados pelas companhias de distribuio de gua potvel tornam estes
sistemas pouco apelativos ao consumidor, uma vez que os custos associados instalao de um
SAAP so significativos. Existe ento um entrave na criao de um sistema de fornecimento de
gua sustentvel (Andrade, 2013).
3.1.5. Casos reais de utilizao de SAAP
Exemplos Internacionais
Alemanha
- Em 1999, na cidade de Berlim, foi implementado um SAAP num bairro com 213 moradores, sendo a
gua captada nas coberturas e nos pavimentos, e utilizada para rega e nas descargas de autoclismos.
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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A gua armazenada num reservatrio de 160m3 e sujeita ao processo de filtrao e desinfeco
com raios UV, garantindo em mdia uma capitao de 35 l/(hab.dia) (Tomaz, 2001);
- Nas novas construes na Alemanha, obrigatrio por lei a armazenar as guas pluviais in situ
(Nolde, 2007);
- Na dcada de 90, instalaram-se mais de 100.000 reservatrios de armazenamento de guas pluviais
em escolas, estaes de lavagem de carros e indstrias (Herrmann, 1999);
- Muitas cmaras municipais deram incentivos e subsdios para promover a instalao de SAAP
(Herrmann, 1999).
Japo
- Em Tquio existem 850 SAAP em edifcios pblicos e privados, incluindo dois estdios desportivos e
um edifcio de escritrios, pioneiros nos SAAP a grande escala. Os estdios e o edifcio de escritrios
localizam-se na regio de Sumida, em que a recolha de guas pluviais consegue satisfazer entre 20%
a 60% das necessidades de gua em desta regio (Furumai, 2008).
Singapura
- No Aeroporto de Changi, existe um SAAP em que a gua pluvial captada nas pistas de aterragem e
nas reas verdes envolventes, e utilizada em servios de combate a incndios e descargas de
autoclismos. O volume de gua captado e armazenado traduz-se entre 28% a 33% do volume total de
gua consumida (UNEP, 2002b).
Tailndia
- A gua pluvial armazenada em vasos de grandes dimenses, sendo um meio de obteno de gua
a baixos custos. Os vasos tm capacidades entre os 0,1m3 e os 3 m3, e esto equipados com tampa,
torneira e ralo. O tamanho mais comum de 2 m3, que d para suportar as necessidades de ingesto
de gua de uma famlia de seis pessoas, durante todo o semestre seco (cerca de 2 litros/(hab.dia))
(UNEP, 2002b).
Brasil
- Em 2004 a empresa Coca-Cola desenvolveu e adoptou um plano para aproveitar as guas pluviais,
servindo de fonte alternativa nos processos industriais. Esta medida teve como objetivo minimizar o
uso de gua proveniente das bacias hidrogrficas, protegendo assim a biodiversidade e reduzindo os
custos associados reabilitao da natureza . O volume de guas pluviais captado e armazenado
corresponde a 1% do consumo total de gua (Coca-Cola, 2011).
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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Havai
- No National Volcano Park foram instalados SAAP para fornecer gua a 1.000 trabalhadores do
parque e 10 mil visitantes por dia. A captao das guas pluviais feita na cobertura de um edifcio
com 4.000 m2 de rea, e no solo atravs de uma rea de 20.000 m2 . O armazenamento garantido
por dois reservatrios com 3.800m3 cada, e 18 reservatrios com 95m3 (UNEP, 2002b).
Ilhas Virgens
- Em So Toms, uma ilha com 4,8 km de largura e 19 km de comprimento, e uma precipitao mdia
anual entre os 1000 e 1500 mm, a implementao de um SAAP um requisito obrigatrio para uma
licena de construo residencial nesta ilha. Assim, uma casa unifamiliar deve prever uma rea de
captao de 112m2 e um reservatrio de armazenamento com capacidade de 45m3 (UNEP, 2002b).
Exemplos Nacionais
Matosinhos
- O empreendimento cooperativo da Ponte da Pedra, em Lea do Balio, co-financiado pelo Instituto
Nacional da Habitao (INH), engloba 101 casas ecologicamente optimizadas. Todas as casas so
dotadas de um SAAP, em que a gua armazenada utilizada em descargas de autoclismos (RTP,
2006).
Castelo Branco
- A torre de controlo do aerdromo de Castelo Branco dispe de um SAAP em que a gua captada
na cobertura, com uma rea de 120m2, e o reservatrio localizado no 4 piso desta torre (num total
de 6 pisos), com capacidade para 7m3. A gua armazenada utilizada nas descargas de autoclismos
no 1 piso. Quando a gua pluvial no suficiente para que a gua do reservatrio atinja um nvel
mnimo, o reservatrio abastecido pela rede pblica, por intermdio de uma vlvula e duas boias,
que accionam o sistema mecanizado (Bertolo, 2006).
Aveiro
- O Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro instalou um SAAP para apoio ao
laboratrio de hidrulica. O sistema foi instalado no mbito da cooperao entre o departamento de
Engenharia Civil da Universidade de Aveiro e a ANQIP, tendo o equipamento necessrio para a
instalao sido cedido Universidade por um dos associados da ANQIP, a empresa Ecogua
(Eficincia Hdrica, 2012).
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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bidos
- Moradia unifamiliar com SAAP para rega de jardim e lavagens, instalado em 2008. O reservatrio
em beto e tem uma capacidade de 15m3 (Ecoagua, 2014).
Lisboa
- As Natura Towers, complexo de escritrios de dois edifcios em Telheiras, dispem de um SAAP em
que a gua recolhida nas coberturas e armazenada nas caves (Natura Towers, 2014);
- O edifcio de sede da Seth, construdo em 2009, dispe de um SAAP em que a gua armazenada,
aps sujeita a processos de tratamento, utilizada em descargas de autoclismos, torneiras de servio
de garagens e rega de espaos verdes na envolvente do edifcio (Seth, 2014);
- Moradia unifamiliar com SAAP para rega de jardim, abastecimento de casas de banho e mquinas
de lavar roupa, instalado em 2006. O reservatrio de polietileno e tem uma capacidade de 20m3,
sendo a rea de captao de 90 m2 (Ecoagua, 2014);
- Moradia unifamiliar com SAAP para rega de jardim, abastecimento de casas de banho e mquinas
de lavar roupa, instalado em 2007. O reservatrio de polietileno e tem uma capacidade de 15m3,
sendo a rea de captao de 100 m2 (Ecoagua, 2014).
Corroios
- Moradia unifamiliar com SAAP para rega de jardim, abastecimento de casas de banho e mquinas
de lavar roupa, instalado em 2008. O reservatrio de polietileno e tem uma capacidade de 20m3,
sendo a rea de captao de 170 m2(Ecoagua, 2014).
Setbal
- A Escola Secundria Dom Manuel Martins instalou em 2013 um SAAP. O equipamento foi instalado
junto a um dos edifcios do recinto escolar, fazendo ligao ao sistema de rega existente, para
utilizao nas vrias reas ajardinadas e canteiros de flores. A cisterna de armazenamento de gua
tem uma capacidade de 30m3 (Cmara Municipal de Setbal, 2013).
Vila Real de Santo Antnio
- Parte do consumo necessrio rega de zonas verdes e jardins no Hotel Resort Quinta da Ria
provm do SAAP instalado (APA, 2003).
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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3.1.6. Legislao em Portugal
Em Portugal no existe legislao especfica para o aproveitamento de guas pluviais como fonte
alternativa de gua. Pelo contrrio, as guas pluviais so consideradas como uma das componentes
das guas residuais (Andrade, 2013).
De acordo com a Agncia Portuguesa do Ambiente (APA), existem duas directivas principais inseridas
no contexto da poltica da gua. So elas a Directiva Quadro da gua (transposta para o direito
nacional atravs da Lei n. 58/2005, de 29 de Dezembro) e a Directiva relativa ao Tratamento das
guas Residuais e Urbanas (transpostas para a legislao portuguesa, respectivamente, pelo Decreto-
Lei n. 152/97, de 19 de Junho e pelo Decreto-Lei n. 348/98, de 9 de Novembro, pelo Decreto-Lei n.
149/2004, de 22 de Junho e pelo Decreto-Lei n. 198/2008, de 8 de Outubro).
As guas pluviais vm mencionadas no Decreto-Lei n. 152/97, de 19 de Junho, na descrio das
guas residuais. Este facto refora a ideia de que ainda h um longo caminho a percorrer a nvel
nacional, por forma a estipular o aproveitamento das guas pluviais como fonte alternativa de gua
doce.
Os decretos-lei que regem a qualidade da gua para consumo e a proteco das guas so: o
Decreto-lei 306/2007, de 27 de Agosto, que "estabelece o regime da qualidade da gua destinada ao
consumo humano, tendo por objectivo proteger a sade humana dos efeitos nocivos resultantes da
eventual contaminao dessa gua e assegurar a disponibilizao tendencialmente universal de gua
salubre, limpa e desejavelmente equilibrada na sua composio"; e o Decreto-lei 236/98 de 1 de
Agosto, que "estabelece normas, critrios e objectivos de qualidade com a finalidade de proteger o
meio aqutico e melhorar a qualidade das guas em funo dos seus principais usos".
Como complemento legislao, tm surgido planos e programas que visam optimizar a gesto dos
recursos hdricos, apresentando medidas e metas a alcanar, que permitem proteger e conservar a
gua nos diversos sectores. Destacam-se o Programa Nacional para o Uso Eficiente da gua (PNUEA)
e o Plano Estratgico de Abastecimento de gua e de Saneamento de guas Residuais (PEAASAR).
O PNUEA tem por objectivo melhorar a eficincia da utilizao da gua nos diversos sectores
(urbano, agrcola e industrial), propondo medidas que permitem minimizar os riscos de escassez
hdrica e melhorar a qualidade dos meios hdricos, sem pr em causa as necessidades vitais e a
qualidade de vida das populaes, bem como o desenvolvimento socioeconmico do pas (PNUEA
-
ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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2012-2020). As medidas deste programa que contemplam o aproveitamento de gua pluvial em usos
no potveis so:
Medida 8 - reutilizao ou uso de gua de qualidade inferior;
Medida 38 - utilizao da gua da chuva em jardins e similares;
Medida 45 - utilizao da gua da chuva em lagos e espelhos de gua;
Medida 48 - Utilizao de gua da chuva em campos desportivos, campos de golfe e outros
espaos verdes de recreio.
O PEAASAR o plano responsvel pela estruturao de todo o sector de abastecimento de gua e
saneamento de guas residuais urbanas. Foi elaborado pela primeira vez em 2000 (PEAASAR I 2000-
2006), como documento orientador dos objectivos e polticas desta rea, procurando solues
sustentveis a nvel social, ambiental e econmico. Seguiu-se o PEAASAR II 2007-2013, que definiu
trs grandes objectivos estratgicos: universalidade, continuidade e qualidade do servio;
sustentabilidade do setor; e proteco dos valores de sade publica e ambientais. Quanto s guas
pluviais, so encaradas como um problema ou uma soluo no dimensionamento das redes de
drenagem e das Estaes de Tratamento das guas Residuais (ETAR). As medidas recomendadas para
a gesto das guas pluviais so:
- Separar progressivamente guas pluviais dos efluentes domsticos e industriais;
- Aplicar solues locais de renaturalizao do ciclo das guas pluviais, com vista a reduzir as
afluncias aos sistemas colectores;
- Melhorar a qualidade das infraestruturas para minimizar a infiltrao de guas pluviais em redes
de guas residuais e as fugas de guas residuais das respectivas redes.
Um novo plano estratgico dever estar concludo at ao final do presente ano, o PEAASAR III 2014-
2020. Os objectivos deste plano devero incidir na (gua Global, 2014):
- Proteco do ambiente e melhoria da qualidade das massas de gua;
- Melhoria da qualidade dos servios prestados;
- Optimizao e gesto eficiente dos recursos;
- Sustentabilidade econmica e financeira.
Para alm destes planos e programas, existem as Especificaes Tcnicas da ANQIP para a instalao
de SAAP em edifcios, a ETA 0701 e a ETA 0702. A ETA 0701 estabelece critrios tcnicos para a
construo de SAAP nas coberturas de edifcios, para fins no potveis; a ETA 0702 estabelece as
condies para a certificao de SAAP, executados de acordo com a ETA 0701.
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ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE GUA POTVEL
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O quinto captulo da ETA 0701 aquele que apresenta critrios, regras e recomendaes prticas
para a instalao de SAAP, denominando-se por "Prescries Tcnicas". Este captulo est dividido
em oito subcaptulos: Pluviosidade de clculo, Desvio das primeiras guas, Volume de gua a
aproveitar, Cisternas e filtros, Instalaes Prediais, Usos e qualidade da gua, Instalaes de
bombagem e Suprimento. Enumeram-se alguns dos critrios apresentados:
- Os estudos de pluviosidade devero recorrer a dados de fontes oficiais, sendo desejvel que
recorram a sries histricas de precipitao correspondentes a perodos no inferiores a 10 anos;
- Recomenda-se a instalao de um dispositivo de funcionamento automtico para desvio do
escoamento inicial (first flush);
- As cisternas devero ser dotadas de overflow, descarga de fundo e filtro a montante. Os cantos
devem ser arredondados para facilitar a manuteno e para evitar o desenvolvimento de
biofilmes. A cisterna dever ser coberta, ventilada e permitir a inspeco, respeitando todas as
normas de segurana;
- Os reservatr