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1 CONTRIBUIÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA INTERVENCIONISTA NA ALTERAÇÃO DIFUSA DO FÍGADO DE UM CÃO – RELATO DE CASO Carina Aveniente AMARAL 1 ; Bruna Lívia Lopes GUIMARÃES 2 ; Deborah de Oliveira FREITAS 3 ; Antônio Carlos Cunha LACRETA JUNIOR 4 1 Estudante de pós graduação lato sensu – Residência em Diagnóstico por Imagem em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras, [email protected] 2 Estudante de pós graduação lato sensu - Residência em Diagnóstico por Imagem em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras, [email protected]. 3 Estudante de pós graduação lato sensu - Residência de Clínica Médica de Animais de Companhia, Universidade Federal de Lavras. 4 Professor adjunto do Setor de Diagnóstico por Imagem , Universidade Federal de Lavras. Resumo A utilização da ultrassonografia abdominal como ferramenta diagnóstica nas doenças hepáticas já está difundida há vários anos, entretanto, grande parte das alterações ultrassonográficas é pouco específica, sobretudo as alterações difusas. Nesse contexto, os exames citológico e/ou histopatológico têm papel fundamental na elucidação diagnóstica e prognóstica do paciente. A biópsia percutânea guiada por ultrassom representa um procedimento seguro, rápido, pouco invasivo e relativamente de baixo custo, permitindo o posicionamento preciso da agulha no local desejado, além do desvio de outras estruturas abdominais adjacentes como vesícula biliar e vasos e ainda o monitoramento do paciente durante e após a coleta do material. O presente trabalho teve por objetivo relatar o papel fundamental da ultrassonografia intervencionista no desfecho diagnóstico e no direcionamento do tratamento em um cão com alterações hepáticas difusas. Palavras-chave: biopsia, hepática, ultrassom, guiada, hepatite supurativa Keywords: biopsy, hepatic, ultrasound, guided, suppurative hepatites Revisão de literatura A utilização da ultrassonografia abdominal como ferramenta diagnóstica nas doenças hepáticas já está difundida há vários anos, pois permite a avaliação do tamanho, contorno, alterações no parênquima como ecogenicidade e ecotextura, além da distribuição das anormalidades (PENNINCK, 2015). Entretanto, grande parte das alterações ultrassonográficas é pouco específica (BARR, 1995), sobretudo as alterações difusas (FEENEY et al, 2008). Nesse contexto, os exames citológico e ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1139

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CONTRIBUIÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA INTERVENCIONISTA NA

ALTERAÇÃO DIFUSA DO FÍGADO DE UM CÃO – RELATO DE CASO

Carina Aveniente AMARAL1; Bruna Lívia Lopes GUIMARÃES2; Deborah de Oliveira

FREITAS3; Antônio Carlos Cunha LACRETA JUNIOR4

1 Estudante de pós graduação lato sensu – Residência em Diagnóstico por Imagem em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras, [email protected] 2 Estudante de pós graduação lato sensu - Residência em Diagnóstico por Imagem em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras, [email protected]. 3 Estudante de pós graduação lato sensu - Residência de Clínica Médica de Animais de Companhia, Universidade Federal de Lavras. 4 Professor adjunto do Setor de Diagnóstico por Imagem , Universidade Federal de Lavras.

Resumo

A utilização da ultrassonografia abdominal como ferramenta diagnóstica nas

doenças hepáticas já está difundida há vários anos, entretanto, grande parte das

alterações ultrassonográficas é pouco específica, sobretudo as alterações difusas.

Nesse contexto, os exames citológico e/ou histopatológico têm papel fundamental na

elucidação diagnóstica e prognóstica do paciente. A biópsia percutânea guiada por

ultrassom representa um procedimento seguro, rápido, pouco invasivo e

relativamente de baixo custo, permitindo o posicionamento preciso da agulha no

local desejado, além do desvio de outras estruturas abdominais adjacentes como

vesícula biliar e vasos e ainda o monitoramento do paciente durante e após a coleta

do material. O presente trabalho teve por objetivo relatar o papel fundamental da

ultrassonografia intervencionista no desfecho diagnóstico e no direcionamento do

tratamento em um cão com alterações hepáticas difusas.

Palavras-chave: biopsia, hepática, ultrassom, guiada, hepatite supurativa

Keywords: biopsy, hepatic, ultrasound, guided, suppurative hepatites

Revisão de literatura

A utilização da ultrassonografia abdominal como ferramenta diagnóstica nas

doenças hepáticas já está difundida há vários anos, pois permite a avaliação do

tamanho, contorno, alterações no parênquima como ecogenicidade e ecotextura,

além da distribuição das anormalidades (PENNINCK, 2015). Entretanto, grande

parte das alterações ultrassonográficas é pouco específica (BARR, 1995), sobretudo

as alterações difusas (FEENEY et al, 2008). Nesse contexto, os exames citológico e

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histopatológico, quando correlacionados com os exames laboratoriais, achados

ultrassonográficos e apresentação clínica, têm papel fundamental na elucidação

diagnóstica e prognóstica do paciente (PENNINCK, 2015).

Dentre os métodos de biópsia disponíveis, a biópsia percutânea guiada por

ultrassom representa um procedimento seguro, rápido, pouco invasivo e

relativamente de baixo custo (GAZELLE e HAAGA, 1989), permitindo o

posicionamento preciso da agulha no local desejado, além do desvio de outras

estruturas abdominais adjacentes como vesícula biliar e vasos e ainda o

monitoramento do paciente durante e após a coleta do material (BARR, 1995;

KUMAR et al, 2012; MATTOON e NYLAND, 2014;).

O presente trabalho teve por objetivo relatar o papel fundamental da

ultrassonografia intervencionista no desfecho diagnóstico e no direcionamento do

tratamento em um cão com alterações hepáticas difusas.

Descrição do Caso

Foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Lavras uma

canina da raça Daschund de 12 anos de idade apresentando apatia e hiporexia. No

exame físico foi observada hepatomegalia à palpação abdominal. As alterações

laboratoriais incluíam aumento da fosfatase alcalina e da transaminase pirúvica e

discreta leucocitose. Ao exame ultrassonográfico abdominal, foi observado fígado

com as dimensões aumentadas assimetricamente, sendo o aumento mais

pronunciado em lobo esquerdo, o qual apresentou contornos irregulares e

parênquima heterogêneo de ecogenicidade mista, com presença de formação

cavitária amorfa de contornos bem definidos e com conteúdo anecogênico em seu

interior separado por algumas septações, além da presença de diversas estruturas

hiperecogênicas de aspecto nodular de diferentes tamanhos dispersas pelo

parênquima. Os demais lobos hepáticos apresentaram diminuição difusa da

ecogenicidade, bordos arredondados e parênquima homogêneo.

A partir dos achados ultrassonográficos descritos, foi solicitada coleta de

material para exame histopatológico guiada por ultrassom. Devido à impossibilidade

de acesso ao perfil de coagulação da paciente na cidade de Lavras, foi considerada

apenas a quantidade normal de plaquetas da mesma. Para a coleta foi utilizada

agulha de 18 gauge. Foram obtidas 3 amostras de tecido hepático coletadas em

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diferentes locais do lobo esquerdo. A paciente foi então monitorada até completar

seis horas de realização do procedimento, não sendo observada nenhuma

complicação.

O exame histopatológico foi compatível com hepatite supurativa.

Discussão

O animal relatado no presente trabalho apresentava alterações hepáticas

difusas e inespecíficas, as quais sugeriam vários diagnósticos diferenciais. Biller e

colaboradores (1992) citam que a hepatite supurativa geralmente causa uma

diminuição difusa da ecogenicidade hepática, devendo-se considerar também

congestão e infiltrado neoplásico como diagnósticos diferenciais nessa apresentação

ultrassonográfica. Na canina em estudo, além da diminuição difusa da

ecogenicidade, o lobo esquerdo apresentava várias alterações, como ecogenicidade

mista e áreas nodulares e cavitárias, o que acrescenta um leque possibilidades

diagnósticas, reforçando a necessidade de exame histopatológico para se chegar a

um diagnóstico definitivo.

Ao possibilitar o posicionamento preciso da agulha no local alterado

desviando de estruturas abdominais indesejadas, a ultrassonografia intervencionista

proveu material de altíssimo valor diagnóstico, indo ao encontro do que Barr (1995)

e Ghent (2006) reportaram.

Apesar de raras, complicações associadas à biópsia hepática guiada por

ultrassom já foram citadas na literatura, dentre elas hemorragias, perfuração da

vesícula biliar com consequente peritonite por extravasamento de bile, pneumotórax,

perfuração do estômago (BARR, 1995) e ainda enfisema hepático associado à

bacteremia transitória (WESTGREN et al, 2014). No paciente desse estudo não

houve complicação alguma durante nem após o procedimento, reforçando a

segurança proporcionada por essa técnica (HAGER et al 1985; Barr, 1995; DE

RYCKE et al 1999; GHENT, 2006).

Conclusão

Concluiu-se que a biópsia guiada por ultrassonografia é uma técnica

extremamente valiosa e relativamente simples, proporcionando um diagnóstico

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definitivo de doenças no parênquima hepático com um baixo índice de

complicações.

Referências

BARR, F. Percutaneous biopsy of abdominal organs under ultrasound

guidance. Journal of Small Animal Practice, Bristol, v. 36, n. 3, p. 105-113, 1995.

BILLER, David S.; KANTROWITZ, Brett; MIYABAYASHI, Takayoshi.

Ultrasonography of Diffuse Liver Disease A Review. Journal of Veterinary Internal

Medicine, Columbus, v. 6, n. 2, p. 71-76, 1992.

FEENEY, Daniel A. et al. Statistical relevance of ultrasonographic criteria in the

assessment of diffuse liver disease in dogs and cats. American journal of veterinary

research, Cooper City, v. 69, n. 2, p. 212-221, 2008.

DE RYCKE, Lieve MJH; VAN BREE, Henri JJ; SIMOENS, Paul JM. Ultrasound-

guided Tissue-core Biopsy of Liver, Spleen and Kidney in Normal Dogs. Veterinary

Radiology & Ultrasound, v. 40, n. 3, p. 294-299, 1999.

GAZELLE, G. S.; HAAGA, J. R. Guided percutaneous biopsy of intraabdominal

lesions. American Journal of Roentgenology, Cleveland, v. 153, n. 5, p. 929-935,

1989.

GHENT, Cameron N. Percutaneous liver biopsy: Reflections and

refinements. Canadian Journal of Gastroenterology, London, v. 20, n. 2, p. 75, 2006.

HAGER, David A.; NYLAND, Thomas G.; FISHER, Paul. Ultrasound‐guided biopsy of

the canine liver, kidney, and prostate. Veterinary Radiology, Florida, v. 26, n. 3, p.

82-88, 1985.

KUMAR, Vijay et al. Diagnostic imaging of canine hepatobiliary affections: a

review. Veterinary medicine international, Palampur Pradesh, v. 2012, 2012.

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MATTOON, John S.; NYLAND, Thomas G. Small Animal Diagnostic Ultrasound.

Elsevier Health Sciences, St. Louis, 2014.

PENNINCK, Dominique. Atlas of small animal ultrasonography. John Wiley & Sons,

Iowa, West Sussex , Oxford, 2015.

WESTGREN, Frida et al. Hepatic emphysema associated with ultrasound-guided

liver biopsy in a dog. Acta Veterinaria Scandinavica, Sweden, v. 56, n. 1, p. 1, 2014.

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