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1 CONTRIBUIÇÃO DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESPÍRITO SANTO (FINDES) À AUDIÊNCIA PÚBLICA Nº 032/2011 I. INTRODUÇÃO A Federação das Indústrias do Espírito Santo (FINDES) apresenta abaixo suas contribuições de cunho técnico-regulatório à proposta da ANEEL submetida à Audiência Pública nº 32/2011, que tem por objetivo obter subsídios para a regulamentação do ressarcimento a ser feito pelo consumidor à concessionária de distribuição em virtude da migração do consumidor da rede de distribuição para a Rede Básica do Sistema Interligado Nacional (SIN), nos termos do artigo 6º do Decreto nº 5.597, de 28.11.2005 (Decreto nº 5.597/2005). Este documento foi elaborado pelo Comitê de Energia do Conselho Superior de Infraestrutura da FINDES, que tem por objetivo atender ao desenvolvimento e soluções de limites para as indústrias do Espírito Santo. II. Considerações sobre esta proposta de resolução Considerando que nas indústrias eletro-intensivas, os gastos com energia elétrica representam cerca de 40% dos custos finais de produção, uma redução nos custos com transporte de energia por meio da conexão direta à Rede Básica consiste numa importante estratégia para aumentar sua competitividade, uma vez que elimina o pagamento da parcela correspondente ao transporte nos sistemas das concessionárias de distribuição. É importante ressaltar que a conexão à Rede Básica e tensões de 230 kV ou superiores não proporciona apenas benefícios econômicos ao consumidor, mas também benefícios técnicos, uma vez que o suprimento elétrico via sistema de Rede Básica, que ocorre em tensões iguais ou superiores a 230 kV, apresenta confiabilidade superior em relação aos sistemas de distribuição. Por tais razões, é de se esperar que a metodologia a ser definida pela ANEEL considere os benefícios da migração para o cálculo do ressarcimento. Isto é, a mesma deve buscar resultados razoáveis e que não inviabilizem o processo de migração de plantas industriais com elevado consumo de energia, uma vez que isso privaria o setor e o país de usufruir dos importantes benefícios mencionados. ***

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CONTRIBUIÇÃO DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESPÍRITO SANTO (FINDES) À AUDIÊNCIA PÚBLICA Nº 032/2011

I. INTRODUÇÃO A Federação das Indústrias do Espírito Santo (FINDES) apresenta abaixo suas contribuições de cunho técnico-regulatório à proposta da ANEEL submetida à Audiência Pública nº 32/2011, que tem por objetivo obter subsídios para a regulamentação do ressarcimento a ser feito pelo consumidor à concessionária de distribuição em virtude da migração do consumidor da rede de distribuição para a Rede Básica do Sistema Interligado Nacional (SIN), nos termos do artigo 6º do Decreto nº 5.597, de 28.11.2005 (Decreto nº 5.597/2005). Este documento foi elaborado pelo Comitê de Energia do Conselho Superior de Infraestrutura da FINDES, que tem por objetivo atender ao desenvolvimento e soluções de limites para as indústrias do Espírito Santo. II. Considerações sobre esta proposta de resolução Considerando que nas indústrias eletro-intensivas, os gastos com energia elétrica representam cerca de 40% dos custos finais de produção, uma redução nos custos com transporte de energia por meio da conexão direta à Rede Básica consiste numa importante estratégia para aumentar sua competitividade, uma vez que elimina o pagamento da parcela correspondente ao transporte nos sistemas das concessionárias de distribuição. É importante ressaltar que a conexão à Rede Básica e tensões de 230 kV ou superiores não proporciona apenas benefícios econômicos ao consumidor, mas também benefícios técnicos, uma vez que o suprimento elétrico via sistema de Rede Básica, que ocorre em tensões iguais ou superiores a 230 kV, apresenta confiabilidade superior em relação aos sistemas de distribuição. Por tais razões, é de se esperar que a metodologia a ser definida pela ANEEL considere os benefícios da migração para o cálculo do ressarcimento. Isto é, a mesma deve buscar resultados razoáveis e que não inviabilizem o processo de migração de plantas industriais com elevado consumo de energia, uma vez que isso privaria o setor e o país de usufruir dos importantes benefícios mencionados.

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CONTRIBUIÇÕES REFERENTES À AUDIÊNCIA PÚBLICA Nº 32/2011 NOME DA INSTITUIÇÃO: Federação das Indústrias do Espírito Santo (FINDES)

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – ANEEL

ATO REGULATÓRIO: Minuta de Resolução Normativa

EMENTA: Estabelece critérios de ressarcimento à distribuição para migração, no todo ou em parte, de unidades consumidoras do sistema de distribuição para o de transmissão, a serem realizados de acordo com o disposto no Decreto nº 5.597, de 28 de novembro de 2005, e dá outras providências.

TEXTO/ANEEL TEXTO/INSTITUIÇÃO JUSTIFICATIVA/INSTITUIÇÃO

DO CRITÉRIO DE RESSARCIMENTO Art. 3º O ressarcimento dos investimentos específicos realizados na rede de distribuição para atendimento da unidade consumidora migrante para a Rede Básica será calculado pela distribuidora de acordo com a seguinte equação:

Onde: RI = Ressarcimento de investimentos específicos a

DO CRITÉRIO DE RESSARCIMENTO Art. 3º O ressarcimento dos investimentos específicos realizados na rede de distribuição será calculado pela distribuidora de forma individual para cada solicitação de acesso de acordo com os seguintes critérios: A – apuração dos ativos que servem àquela unidade consumidora; B – classificação dos ativos apurados em: i) servíveis: aqueles que continuarão servindo à concessão após a migração da unidade consumidora para a Rede Básica; e ii) inservíveis: aquelas que perderão sua utilidade

O critério de cálculo do ressarcimento proposto no artigo 3º da minuta de Resolução Normativa submetida à Audiência Pública merece ser revisto pelas seguintes razões: (i) a proposta extrapola os limites de ressarcimento fixados no artigo 6º, § 1º, inciso I, do Decreto nº 5.597/2005, violando o princípio da legalidade; (ii) a proposta, na medida em que se afasta do objetivo de estimular os investimentos a serem feitos pelos consumidores, que motivou a edição do Decreto nº 5.597/2005, viola o princípio da finalidade;

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TEXTO/ANEEL TEXTO/INSTITUIÇÃO JUSTIFICATIVA/INSTITUIÇÃO ser realizado pela unidade consumidora, nos termos descritos no art. 6º do Decreto nº 5.597/05;

= percentual que representa a remuneração bruta de capital na composição do valor total da Parcela B da distribuidora, de acordo com o valor apurado na sua última revisão tarifária periódica; Receita Fio B = receita de Parcela B recuperada no faturamento da unidade consumidora, utilizando-se o maior Montante de Uso do Sistema de Distribuição - MUSD contratado por posto tarifário, nos últimos 12 meses, aplicado às componentes de TUSD Fio B vigentes, sendo: TUSD Fio B = a parcela da tarifa de demanda, demanda de ponta e demanda fora de ponta, correspondente ao nível de tensão e modalidade tarifária da unidade consumidora migrante, que remunera o custo de operação e manutenção, a remuneração do investimento e a depreciação dos ativos; WACC = Custo Médio Ponderado do Capital (WACC) definido na última revisão tarifária da distribuidora, acrescido da carga tributária; § 1º O valor apurado pela referida equação deve ser atualizado por IGP-M da data da revisão/reajuste vigente da distribuidora até a data da migração do consumidor. § 2º Os MUSDs a serem utilizados no cálculo são aqueles contratados junto à distribuidora.

funcional para a concessão após a migração da unidade consumidora para a Rede Básica; C – cálculo do ressarcimento relativo aos ativos classificados como inservíveis nos termos do inciso B, alínea ‘b’ acima. § 1º O valor apurado deve ser atualizado por IGP-M na data da migração da unidade consumidora, considerando a depreciação dos ativos. § 2º O valor a ser ressarcido deve estar suportado por Laudo de Avaliação demonstrativo dos investimentos realizados para atendimento da

(iii) Esta proposta de Resolução afeta os investimentos em andamento quanto toma inviável o acesso à rede básica da indústria. Assim, as razões do Decreto 5597/2005 não estão sendo observadas.

Comentamos também que:

(a) a proposta não é consistente do ponto de vista técnico-regulatório, pois desconsidera os benefícios técnicos e econômicos decorrentes da migração do consumidor da rede de distribuição para a Rede Básica do SIN, tais como: (a.1) o fato de o suprimento elétrico via sistema de Rede Básica, que ocorre em tensões iguais ou superiores a 230 kV, apresentar confiabilidade superior em relação aos sistemas de distribuição; e (a.2) o aumento da competitividade da indústria nacional, com a viabilização de novos investimentos em infraestrutura, aumento do número de empregos, entre outros. (b) desconsidera as especificidades de cada consumidor, como, por exemplo, tempo de conexão e características da carga dentro da região em que está instalada; (c) parte da premissa equivocada de que o mercado das concessionárias de distribuição comporta-se de modo estático, não evoluindo ao longo do tempo e ocupando a capacidade liberada pelo consumidor migrante; e

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TEXTO/ANEEL TEXTO/INSTITUIÇÃO JUSTIFICATIVA/INSTITUIÇÃO § 3º O ressarcimento de que trata o caput deverá ser contabilizado como Obrigações Vinculadas à Concessão do Serviço Público de Energia Elétrica (Obrigações Especiais), conforme o Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia Elétrica, considerada para tal, a data de migração para a rede básica. § 5º O CCD existente deverá ser encerrado.

unidade consumidora migrante, devendo ser considerado, quando for o caso, a participação financeira do consumidor para seu atendimento.

§ 3º O ressarcimento de que trata o caput deverá ser contabilizado como Obrigações Vinculadas à Concessão do Serviço Público de Energia Elétrica (Obrigações Especiais), conforme o Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia Elétrica, considerada para tal, a data de migração para a rede básica. § 5º O CCD existente deverá ser encerrado.

(d) a proposta não é razoável do ponto de vista da consistência de seus resultados, levando a valores de ressarcimento irreais; e Para fins de atendimento ao disposto no artigo 6º, § 1º, inciso I, do Decreto nº 5.597/2005, a Findes propõe que sejam apurados os investimentos específicos, i.e. os ativos que servem ao consumidor migrante da rede de distribuição para a Rede Básica do SIN. Então, os ativos apurados devem ser separados em dois grupos: (i) inservíveis à concessão; e (ii) úteis à prestação do serviço de distribuição. Contudo, caso a ANEEL entenda pela reversão dos ativos servíveis, a origem dos recursos para implementação dessa reversão deve ser a RGR. Isso porque, conforme a legislação vigente, a finalidade da criação do fundo setorial da RGR, dentre outras, é justamente prover recursos nos casos em que houver a reversão. Não parece razoável que esse fundo, criado para esse fim, não seja utilizado no momento da reversão de ativos que ainda serão úteis à concessão. Por fim, vale acrescentar que a justificativa apresentada pela ANEEL para não utilização dos investimentos específicos no cálculo do ressarcimento foi a dificuldade de identificá-los. Contudo, cabe lembrar que a distribuidora tem

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TEXTO/ANEEL TEXTO/INSTITUIÇÃO JUSTIFICATIVA/INSTITUIÇÃO controle e registro de todos seus ativos, contendo todas as informações relevantes, tais como localização, especificação, data e valor de aquisição, taxa de depreciação, valor atualizado, entre outros. Esses registros seguem regras e procedimentos estabelecidos pela própria Agência no Manual de Contabilidade do Setor Elétrico – MCSE e no Manual de Controle Patrimonial do Setor Elétrico - MCPSE. Além disso, a concessionária tem informações relativas aos aspectos elétricos de sua rede como nível de carregamento, fluxo de carga e sistema georreferenciado, que também obedecem a um conjunto de regras e procedimentos estabelecidos pela ANEEL.

Art. 6º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 6º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. § 1º Os procedimentos para o cálculo do ressarcimento previstos no art. 3º desta Resolução somente serão aplicados nos casos de consumidores interessados em migrar da rede de distribuição para a Rede Básica do SIN que obtiverem Portaria de autorização do MME. que se refere o art. 1º, inciso II, do Decreto nº 5.597/2005 em data posterior à publicação desta Resolução. § 2º Para os consumidores não abrangidos pelo caput, prevalecerão os valores de ressarcimento informados pelas concessionárias de distribuição à ANEEL.

Considerando que: (a) o artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal e o artigo 6º, caput, da Lei de Introdução ao Código Civil – LICC vedam a retroatividade das normas que prejudicam atos jurídicos perfeitos e tais instrumentos contratuais, tenham sido ou não homologados pela ANEEL, são atos jurídicos perfeitos; (b) o momento em que o contrato se aperfeiçoa é o do acordo de vontades entre as partes e não o da execução da prestação nele prevista. Portanto, mesmo nos casos em que a prestação estipulada no instrumento contratual ainda não tenha sido executada, i.e., mesmo que ainda não tenha sido feito o ressarcimento devido pelo consumidor à concessionária de distribuição há ato jurídico perfeito que impede a retroação de eventual Resolução Normativa resultante da Audiência Pública nº

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TEXTO/ANEEL TEXTO/INSTITUIÇÃO JUSTIFICATIVA/INSTITUIÇÃO 32/2011; (c) o inciso XIII, do parágrafo único do artigo 2º da Lei nº 9.784/1999 veda a aplicação retroativa de nova interpretação pela Administração Pública e tal Resolução conferirá nova interpretação ao termo “investimentos específicos” a que alude artigo 6º, § 1º, inciso I, do Decreto nº 5.597/2005;

Inclusão de regras de transição A FINDES sugere que caso não seja acatada pela ANEEL, hipótese que se admite apenas a título de argumentação, em observância ao princípio da segurança jurídica, independentemente da metodologia aprovada pela Agência, deve haver uma regra de transição que preveja que a mudança de critério será aplicada gradualmente.

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