contribuição ao conhecimento da evolução geológica do sistema

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Geologia da Faixa Riacho do Pontal.

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  • 5757

    Revista do Instituto de Geocincias - USP

    Disponvel on-line no endereo www.igc.usp.br/geologiausp - 57 -

    Geol. USP, Sr. cient., So Paulo, v. 15, n. 1, p. 55-93, Maro 2015

    ResumoO Sistema Riacho do Pontal (SRP) a parte central de um desenvolvimento orognico neoproterozoico na periferia norte do Crton do So Francisco (CSF), de nordeste (Faixa Sergipana) para noroeste (Faixa Rio Preto). O embasamento do antepas (CSF) e do alm-pas (Morro do Estreito-Icaiara) so constitudos em parte por rochas arqueanas, e desse terreno para a zona interna h registros de supracrustais e ortognaisses do Toniano (Ciclo Cariris Velhos?). O SRP apresenta notrio zoneamento de norte para sul: alm-pas; zona interna (litotipos terrgenos); zona central (marcadas por rochas do assoalho ocenico); zona externa (litotipos terrgenos) e o domnio cratnico (CSF), com a presena de largo (> 200 km) foreland thrust and fold belt, mais para o sul, formado pela cobertura peltico-carbontica do CSF. A deformao intensa e apresenta vergncia voltada para sul e sudeste, com dobras recumbentes e deitadas, falhas inversas e de empurro, nappes e particularmente o registro de algumas klippen sobre o embasamento do CSF. O metamorfismo regional geralmente na fcies anfibolito, com retrogresses locais a fcies xisto verde. Este trabalho apresenta uma srie de determinaes geocronolgicas (mtodos Rb-Sr, Sm-Nd e U-Pb) de praticamente todos os litotipos de embasamento, das supracrustais e dos granitos sincolisionais associados. Foram discriminados um substrato arqueano (alm-pas, idades neoarqueanas entre 2740 2624 Ma) e duas faixas meta-vulcanosse-dimentares com granitoides inseridos do Neoproterozoico, uma do Eotoniano (980 940 Ma) e outra do limite Criogeniano-Ediacarano (ca. 635 Ma). Um ensaio preliminar da evoluo geotectnica do SRP esboado em termos wilsonianos para essa poro mais sul-ocidental da Provncia Borborema, atribuda a um sistema regional ramificado de orgenos.

    Palavras-chave: Sistema Riacho do Pontal; Provncia Borborema; Neoproterozoico; Toniano; Evoluo tectnica.

    AbstractThe Riacho do Pontal System (RPS) is just the central part of a long Neoproterozoic orogenic development placed at the north-ern periphery of the So Francisco Craton (SFC), from northeast (Sergipano belt) to southwest (Rio Preto belt). The basement of the foreland (SFC) and the backland (Morro do Estreito-Icaiara) is mostly formed by Archean rocks, with some inser-tions of supracrustal and orthogneisses of Tonian age (Cariris Velhos cycle?). RPS exhibits a remarkable tectonic-metamorphic zoning from north to the south: the backland; the internal zone (supracrustal terrigenous assemblages); the central zone (ocean floor rock assemblages); the external zone (supracrustal terrigenous assemblages); and the cratonic domain (SFC), remarked by the presence of a wide (> 200 km) foreland thrust and fold belt (to the south), formed by the Neoproterozoic pelitic-carbon-atic cratonic cover. The processes of deformation were intense, presenting vergence towards south and southwest, resulting in reclined and overturned folds, reverse and thrust faults, nappes, and specially the occurrences of some klippen over the base-ment of the northern part of the CSF. The regional metamorphism was undertaken under amphibolite conditions, with some local retrogression to the greenschists facies. This paper presents a series of new geochronological determinations (Rb-Sr, Sm-Nd and U-Pb methods) of practically all rock types of the basement, supracrustals, and of the associated syncollisional gran-ites. It was possible to discriminate some Archean nuclei (2740 2624 Ma), as basement (backland), and two different set of Neoproterozoic volcano-sedimentary rock units associated with granites, the first one of Eotonian age (980 940 Ma) and the second one positioned in the Cryogenian-Ediacaran boundary (ca. 635 Ma). A preliminary essay of wilsonian tectonic evo-lution is here introduced for this south-western portion of the Borborema Province (the regional branching system of orogens).

    Keywords: Riacho do Pontal System; Borborema Province; Neoproterozoic; Tonian; Tectonic evolution.

    Contribuio ao conhecimento da evoluo geolgica do Sistema Riacho do Pontal PE, BA, PI

    Contribution to the knowledge of the geological evolution of the Riacho do Pontal orogenic system PE, BA, PI

    Benjamim Bley de Brito Neves1, William Randall Van Schmus2, Luiz Alberto Aquino Angelim31Instituto de Geocincias, Universidade de So Paulo - USP, Rua do Lago 562 - Cidade Universitria, CEP 05508-080,

    SoPaulo, SP, BR ([email protected])2Department of Geology, University of Kansas, Lawrence, KS ([email protected])

    3Servio Geolgico do Brasil, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM, Superintendncia Regional de Recife, Recife, PE, BR ([email protected])

    Recebido em 28 de abril de 2014; aceito em 05 de fevereiro de 2015

    DOI: 10.11606/issn.2316-9095.v15i1p57-93

  • Brito Neves, B. B. et al.

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    INTRODUO

    rea de estudo, metodologias, suportes

    O Sistema Riacho do Pontal (SRP) se situa na poro NNW do domnio meridional da Provncia Borborema, entre o Lineamento Pernambuco (seu limite brusco ao norte) e o Crton de So Francisco (CSF) (o antepas, ao sul), ocupando reas fronteirias de Pernambuco (maior extenso), Piau e Bahia, no serto do mdio So Francisco. Na verdade, esse lineamento uma feio tardia, que hoje separa o sistema de dobramento dos alm-pases e/ou inliers em exposio ao norte (Morro do Estreito-Icaiara). Esse lineamento tambm marca o limite norte de outra poro litosfrica (Macio Pernambuco-Alagoas), que participou do contexto orognico regional (como ser visto). Outro elemento/frao litosfrica que participou do processo orognico, em termos regionais, deve estar encoberto pela Bacia do Parnaba (e.g., Bloco Parnaba, Cordani et al., 2009). A extenso territorial do SRP (hoje, preservada) de cerca de 73.000 km2, isso sem considerar a possibilidade de conexes a leste (com o Sistema Sergipano, na Bahia e Sergipe) e a oeste, no caso com o Sistema Rio Preto (situado ao norte da Bahia e o sul do Piau). Deste ltimo sua separao mais acadmica (presena de coberturas fanerozoicas) e operacional do que geolgica de fato.

    Trata-se do registro de um sistema de dobramentos neo-proterozoico cuja proposta inicial de Brito Neves (1975) tem persistido, e que tem sido frequentemente enriquecida por novos dados geolgicos e geofsicos, de diferentes fren-tes de pesquisa, de instituies governamentais (SUDENE, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais CPRM, Departamento Nacional de Produo Mineral DNPM, etc.) e de universidades do Brasil (Universidade Federal de Pernambuco UFPE, Universidade Federal da Bahia UFBA, Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN, Universidade de So Paulo USP, Universidade Federal de Minas Gerais UFMG) e do exterior.

    Parte considervel do sistema de dobramentos em ep-grafe acha-se encoberto (em sua poro norte-ocidental) pelos sedimentos da Provncia Parnaba. Para o interior da Provncia do So Francisco, ao sul, est consignado o registro de estruturas brasilianas afetando as coberturas (neoproterozoicas) da Provncia So Francisco crton a dentro , e apresentando grande diversidade de intensida-des e de formas, e isto se estende por mais de 200 km (pelo menos) (do paralelo 10S at o paralelo 12S). No cmputo dessa rea discriminada no esto includas esses domnios de tectnica thin skin do antepas, nem eles esto ainda devidamente delimitados. Essa delimitao foi objeto de discusso em alguns trabalhos recentes (vide Brito Neves et al., 2012), e esta um a questo/tema que demanda leque amplo de investigaes e tempo. Se for considerada essa

    rea deformada sobreposta ao antepas, a extenso territo-rial do SRP como um todo chega prximo ao dobro daquela j reportada. Se for considerada a composio original pre-sumida e aqui defendida (Rio Preto + SRP + Sergipano + frao norte do crton regenerada + foreland thrust and fold belt), sero alcanadas dimenses prximas a 200.000 km2.

    O autor snior esteve, de certa forma, envolvido com o estudo desse sistema orognico desde a sua graduao em geologia, nos anos 1960. Trabalhou em pesquisas estratigr-ficas e hidrogeolgicas na rea (dcada de 1960), e por vrias vezes esteve trabalhando na geologia da rea e adjacncias. Oliveira (1998) fez sua dissertao de mestrado nesse SRP (orientado pelo autor snior), trazendo luz importantes informaes gravimtricas e, posteriormente, integrou essa faixa no mbito de seu doutoramento (trazendo elementos da interpretao aeromagnetomtrica para toda a regio e para esse sistema), vide Oliveira (2008).

    A crnica dos trabalhos geolgicos e geofsicos nesse sistema ampla e delongada, pois desde a metade do sculo passado so registrados importantes projetos de levantamen-tos geolgicos, geofsicos e geocronolgicos, que foram decisivos para o atual (ainda incompleto) conhecimento da faixa mvel. Praticamente toda a rea do sistema se encon-tra mapeada em escalas de semidetalhe (1:100.000, PLGB, CPRM) e de reconhecimento (1:500.000 e 1:1.000.000; sistema CPRM-DNPM). A reconstituio completa dessa saga de trabalhos nesse sistema difcil. Por sorte, h algu-mas snteses de boa qualidade, separadas por intervalos de tempo bem razoveis, desde a sua proposio formal em 1975. E a essas snteses temos que recorrer com frequn-cia, para no tornar o histrico cansativo (e porque isso seria desnecessrio).

    A nossa proposta de anlise e sntese desses conhe-cimentos, numa viso mais ampla, em termos de rea (extenso), do domnio orognico (encurtamento crustal, em suas diferentes feies e registros), no tempo e no espao e, dentro do possvel, visa integrao dos mapeamentos geolgicos e de recentes dados geofsicos e geocronolgi-cos (nesses casos, com a introduo de inmeros resultados recentes). Objetivo complementar ser discriminar e ordenar as principais questes em aberto e problemas remanescentes para o progresso das investigaes. A parte das descries litoestratigrficas e petrogrficas ser minimizada dentro do possvel, porque as referncias bibliogrficas (princi-palmente os textos explicativos dos mapas preexistentes 1:100.000) a cobrem de forma praticamente completa, e pouco se teria a acrescentar.

    Vrias campanhas de campo, com sees geolgicas e geofsicas, e coletas de materiais para determinao geo-cronolgica foram feitas. Inclusive, houve a participao no mapeamento geolgico de algumas reas. Essas atividades foram realizadas esporadicamente nos ltimos 15 anos (com nfase nos ltimos 5 anos).

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    Do ponto de vista da geocronologia, foram usados mto-dos Rb-Sr, Sm-Nd, U-Pb TIMS e U-Pb Laser Ablation (LA), com diferentes propsitos em vrias etapas de coletas nas unidades litoestratigrficas do sistema de dobramentos. Adicionalmente, foi feita uma tentativa de rever e consi-derar todas as determinaes preexistentes, oriundas de pesquisadores da CPRM e das universidades (principal-mente UFRN e UFMG).

    O propsito atual contribuir para aprimorar a viso de conjunto, estando cientes do muito que h de ser feito ainda, e das muitas questes em aberto. H muitas unida-des que dependem ainda de estudos na escala de detalhe dos pontos de vista litoestratigrficos e geocronolgicos. A imposio (overprint) dos eventos do Ciclo Brasiliano em unidades pr-ediacaranas foi muito forte, e sempre ter que ser considerada.

    TRABALHOS E SNTESES PRECEDENTES BREVE HISTRICO

    A crnica dos trabalhos geolgicos e geofsicos nesse sistema de dobramentos, em vrias escalas, tempos e de diferentes fontes (DNPM, CPRM, SUDENE/DG, SUDENE/CONESP, SUDENE/Misso Geolgica Alem; SUDENE/PROSPEC, UFRN, UnB, USP, UFPE etc.) muito ampla que so aqui reiterados como subsdios fundamentais. Para fins pr-ticos e melhor compreenso, possvel discriminar esse grande e variado acervo em quatro itens distintos, como ser feito a seguir. Deve ficar explcito e ser compreendida a impossibilidade (e no necessidade) de detalhamentos nos trabalhos prvios e ainda o fato de que algumas vezes esses se sobrepem no tempo. Todos aqueles aqui destacados so valiosos e contriburam de alguma forma para o conheci-mento ao qual hoje chegamos.

    A tentativa de esquematizar tipos e fases de contribuio nos pareceu a forma mais adequada para esta oportunidade. Na elaborao das Figuras 1 a 3 esto naturalmente incor-porados muitos dos conhecimentos hauridos por esta vasta gama de contribuies a serem comentadas.

    Discriminao sucinta das principais contribuies

    Trabalhos e incurses assistemticos (universidades e empresas)

    Trabalhos de importncia, considerados os respectivos tempos e tipos de abordagem, incluem: Bezerra et al. (1967), Kegel e Barroso (1965), Misso Geolgica Alem/SUDENE (anos 1960, vrios trabalhos entre publicados e inditos) como os de Lenz (1972), Kreysing e Lenz (1972), Sfner (1972), entre os mais destacados, e Projeto Cobre

    (PROSPEC-SUDENE, Barbosa et al., 1970), Brito Neves (1975; 1983), Gava et al. (1984), Jardim de S e Souza (1989), Jardim de S et al. (1988), Van Schmus et al. (1995) e Cid et al. (2000), entre os mais divulgados.

    Trabalhos acadmicos, relatrios de graduao, dissertaes de mestrado e teses de doutoramento

    Entre os trabalhos acadmicos se destacam os de Barreto (1962), Moura (1962), Marimom (1990), Moraes (1992), Oliveira (1998, 2008), Jardim de S (1994), Ferreira (1995) e Caxito (2012, 2013). Recentemente, Caxito (2013), no seu excelente trabalho de doutoramento fez um apanhado muito bom e praticamente completo de todos os trabalhos j efetuados nesse domnio, sendo assim uma referncia marcante e indispensvel.

    Trabalhos de mapeamentos geolgicos

    Os principais trabalhos de mapeamentos geolgicos bsicos incluem aqueles em escala 1:100.000 (PLGB/CPRM, dezenas de folhas, PLGB, anos 1970 1990, dissertadas nas referncias bibliogrficas); mapas de integrao 1:250.000, como as folhas Petrolina (Angelim, 1997) e Paulistana (Moraes e Figueiroa, 1998); Angelim (1988), Folha Santa Filomena; Folha Aracaju NW, 1:500.000 (Angelim e Kosin, 2001) e o Mapa Geolgico de Pernambuco (Gomes, 2001), alm dos mapas e textos do Projeto Colomi (Dalton de Souza et al., 1979). Esses trabalhos de mapeamento so de consulta e sustentculo sine qua non para qualquer trabalho na geologia regional, mas tambm nos de pesquisa mineral.

    Snteses geolgicas formuladas para congressos, simpsios e captulos de livros

    Merecem destaque, em ordem cronolgica, os trabalhos de Santos e Caldasso (1978), Santos e Brito Neves (1984), Santos et al. (1984), Mendona (1990), Fuck et al. (1993), Rocha e Fuck (1996), Oliveira (1998, como parte de seu mestrado, j referido); Brito Neves et al. (2000) e Uhlein et al. (2012). Alm desses, nos textos explicativos (e nos respectivos mapas) das folhas de Petrolina (Angelim, 1997) e Paulistana (Moraes e Figueiroa, 1998) de escala 1:250.000 da CPRM foram estruturadas snteses de alta valia (calcada em cerca de duas dezenas de folhas dantes mapeadas 1:100.000 do PLGB), ainda hoje con-sideradas como documento bibliogrfico, cujas leituras so de teor essencial e insubstituvel. Igualmente, de forma elogivel, esse conhecimento da geologia regional (acrescentados dos mapas do PLGB/CPRM) foi a base para o contedo, texto e mapa 1:500.000 executado por Angelim e Kosin (2001).

  • Brito Neves, B. B. et al.

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    Figura 2. Seo esquemtica NNW-SSE, do norte de Santa Filomena (do alm-pas) ao sul de Lagoa Grande (Crton do So Francisco, antepas), com simplificaes necessrias. Em destaque a vergncia para S-SW do Sistema Riacho do Pontal, a janela (fenster) de Cristlia e o klippe de Lagoa Grande (Bacia de Barra Bonita).

    Figura 1. Mapa geolgico esquemtico do Sistema Riacho do Pontal, mediante trabalho de compilao de vrias folhas 1:100.000 e 1:500.000 (especialmente baseado em Angelim e Kosin, 2001 e Caxito, 2013), combinado com levantamentos de campo prprios.

    Os depsitos cenozoicos foram suprimidos. Escala aproximada 1:1.250.000. CSF: Crton So Francisco; PEAL: Macio Pernambuco-Alagoas.

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    A reviso dos mritos e problemas inerentes a todos esses trabalhos de quatro grupos distintos expostos anteriormente seria extremamente delongada, e no necessria para os fins pretendidos nesta reviso que ora apresentamos. Com algum esforo, a maioria se enquadra em trabalhos acessveis atra-vs de consultas em bibliotecas e nos trmites da Internet. De certa forma, nos livros textos editados nos ltimos anos como os de Almeida e Hasui (1984), Cordani et al. (2000), Bizzi et al. (2003), Barbosa (2012) j esto disponveis snteses diversas e interessantes sobre o SRP.

    Com esses livros e principalmente com as snteses de Angelim (1997), Moraes e Figueiroa (1988) e Angelim e Kosin (2001), j referidas anteriormente, se tem uma exce-lente cobertura do nvel atual de conhecimento atual do SRP, e tambm dos problemas a serem atacados posteriormente.

    LITOESTRATIGRAFIA E ZONEAMENTO GEOLGICO-TECTNICO

    A classificao estratigrfica mais adequada para as assem-bleias litolgicas do SRP sugere mais de um caminho a ser seguido, mas cada um desses caminhos se ressente da falta do suporte completo. Em todas essas propostas fica subtendida a distribuio de unidades nos domnios mais interno (norte-noroeste do sistema, de formato subcircular e predomnio do Complexo Paulistana), central (predomnio dos complexos Monte Orebe e Brejo Seco, mais alongado,

    E-W) e meridional (predomnio do Complexo Casa Nova), na periferia do antepas sanfranciscano (Figura 1). Na verdade, um quarto domnio deve ser acrescentado nesta oportuni-dade, aquele do foreland thrust and fold belt, que se estende praticamente do paralelo 10S ao paralelo 12S, pertinente s coberturas cratnicas (grupos Chapada Diamantina e Bambu, vide Brito Neves et al., 1912), geralmente negli-genciados do contexto tectnico do SRP. As Figuras 4 e 5 so tentativas de sistematizar esse zoneamento da forma mais aproximada possvel.

    Todos os autores que discriminaram unidades litoestra-tigrficas nesse sistema, o fizeram em termos de unidades informais (denominaes amplamente divulgadas de Casa Nova, Barra Bonita, Mandacaru, Santa Filomena, Brejo Seco, Monte Orebe, etc.) relativamente bem car-tografadas (1:100.000 e escalas menores), sempre tendo em mente, como parmetro, a subdiviso em domnios ante-riormente dissertada. Todas essas definies e conceitos persistem como unidades informais. No entanto, a publica-o de unidades informais desaconselhada pelo Cdigo de Nomenclatura (Hedberg, 1976; Murphy e Salvador, 1999).

    No futuro, com o aprimoramento do conhecimento, esses complexos sero fatalmente elevados categoria de unidades formais (complexos, grupos, etc.). Mas os estudos geocronolgicos aqui desenvolvidos mostram a necessidade de refinamento da litoestratigrafia como um todo. preciso deixar claro que algumas dessas unida-des aparentemente equacionadas do ponto de vista da

    Figura 3. Seo geolgica esquemtica N-S, do norte de Paulistana (domnio mais interno do Sistema Riacho do Pontal) para o sul da barragem de Sobradinho (domnio externo e Macio de Sobradinho, na periferia norte do antepas, Crton do So Francisco). Em destaque a vergncia para S-SW do Sistema Riacho do Pontal, seus diferentes domnios, e alguns dos klippen presentes sobre o embasamento do Macio de Sobradinho.

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    cartografia geolgica (observao de campo, sem detalhes) podem estar envolvendo pacotes litolgicos de diferentes idades. preciso que fique bem clara a necessidade impe-riosa de um aprimoramento (uso de escalas maiores de mapeamento) nas cartografias dessas unidades e de suas facies metamrficas. No momento, no h alternativa a no ser aquela de no seguir rigidamente as premissas do cdigo previamente enunciadas.

    H uma alternativa plausvel qual se poderia recorrer, a aplicao para essas unidades/assembleias da designao terrenos tectonoestratigrficos de Howell (1995). Muitos dos contatos so de escamas de empurro e nappes e existem indicaes razoveis do empilhamento ruptural de fragmen-tos de margens continentais, sedimentos de mar profundo, bacias ocenicas e arcos vulcnicos. Porm, em todos esses casos o conhecimento demanda aprimoramento. Alm disso,

    todos sabemos que a aplicao do termo terreno tambm enfrenta controvrsias e mesmo objees.

    Embora no seja um dilema insupervel (mais acad-mico do que real, em essncia), essas consideraes sobre alternativas devem ser feitas e chamada a ateno. A deci-so de utilizar as designaes de unidades (informais) nos parece mais consentnea e prtica, e um risco (ousadia) menor. Assim sendo, no presente momento, lamentavel-mente ou no, optamos pela alternativa de no seguir o conselho do cdigo, na esperana de que futuros trabalhos em escalas superiores (> 1:50.000) venham a superar os bices do presente.

    Pode-se afirmar que as assembleias litoestratigrficas do SRP esto prximas de um equacionamento, embora a orga-nizao (lateral e vertical, e no tempo) e o estabelecimento de contatos entre elas ainda preservem algumas questes

    Figura 4. Idealizao esquemtica da paleogeografia do SRP (no Criogeniano, pr-650Ma) em perfil S-N.

    1. Domnio da pennsula (placa inferior ?) do So Francisco: a) macio de Sobradinho (poro frontal de embasamento exposto, parcialmente retrabalhado); b) Grupo Chapada Diamantina, bloco de Mimoso, cobertura cratnica; c) diamictitos e arenitos arcoseanos basais do Grupo Bambu/Una; d) cobertura peltico-carbonrica do crton - Grupo Bambu/Una. 2. Domnio de margens continentais e do oceano (perifranciscano): e) margem passiva; f) talude e fundo ocenico; g) margem do alm-pas (inicialmente passiva); h) metassedimentos e ortognaisses do Toniano. 3. Domnio do alm-pas (Morro do Estreito-Icaiara), com embasamento arqueano e metassedimentos e ortognaisses do Toniano (microplaca superior?).

    Figura 5. Esquema dos diferentes domnios do SRP, no presente, em conformidade com as figuras anteriores.

    1. Domnio cratnico, antepas; a) Coberturas paleo e mesoproterozoicas moderadamente dobradas; b) Foreland-thrust-and-fold-belt de Irec; c) Klippen de supracrustais do SRP sobre o Macio de Sobradinho. 2. Sistema de Dobramentos do Riacho do Pontal com vergncia para sul e sudeste; DI) Domnio Interno, de mxima deformao e posterior retrabalhamento pelos movimentos extrusionais do Lineamento Pernambuco; DC) Domnio Central em condies de tectnica thick skin, com remanescentes de assoalho ocenico; DE) Domnio externo, com passagem de condies de thick skin (ao norte) para thin-skin ao sul. 3. Alm-pas, com embasamento arqueano (ME-I) e com supracrustais e ortognaisses tonianos, retrabalhados tectonicamente em vrias etapas. O Lineamento Pernambuco a presente marca a etapa de extruso.

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    em aberto. Isso porque preciso primeiro melhor tentar ordenar a paleogeografia como um todo e a evoluo estru-tural, assim como se faz necessria a aquisio (a demanda grande) de dados geocronolgicos adicionais.

    Nos textos explicativos (e nos respectivos mapas) das folhas de Petrolina (Angelim, 1997) e Paulistana (Moraes e Figueiroa, 1998) em escala 1:250.000, da CPRM, foram estruturadas snteses de alta valia, j comentadas. Esse conhe-cimento foi a base para o retrabalhamento do contedo, texto e mapa 1:500.000 executado por Angelim e Kosin (2001), tambm comentado. Esses trabalhos foram funda-mentais para o desenvolvimento da litoestratigrafia aqui apresentada e seguida. Por seu turno, os trabalhos acad-micos de Oliveira (1998; 2008) fizeram uma espcie de diagnstico geotectnico preliminar do SRP, constituindo um excelente respaldo para os modelos, depois de terem sido compilados e interpretados todos os dados gravi-mtricos e aeromagnticos (do prprio autor e de vrias outras fontes).

    Como j descrito, aqui reiterado que o SRP apresenta notrio zoneamento de norte para sul, a saber (Figuras 1 a 3): alm-pas (cisalhado pelo Lineamento Pernambuco)

    constitudo por terrenos de alto grau arqueanos, com pores vulcano-sedimentares e ortognaisses tonianos;

    zona interna (litotipos terrgenos, Complexo Santa Filomena);

    zona central (marcadas por rochas vulcnicas e sedimen-tares do assoalho ocenico (Complexos Monte Orebe e Brejo Seco);

    zona externa (litotipos terrgenos, Complexo Casa Nova); e o domnio cratnico (CSF), com embasamento represen-

    tado por rochas de alto grau (ortognaisses tonalticos) e baixo grau (restos de alguns greenstone belts) e, adi-cionalmente, com a presena de largo foreland thrust and fold belt (> 200 km) sobreposto ao embasamento cratnico e representado pela cobertura peltico-carbo-ntica (Grupo Bambu ou Una).

    A deformao intensa, com vergncia do sistema oro-gnico voltada para sul e sudeste.

    EMBASAMENTO

    Alm-pas Terreno Morro do Estreito/Icaiara e as lascas de embasamento intrometidas nas supracrustais

    As unidades do embasamento so principalmente formadas por ortognaisses de composio granodiortica a tonaltica e cons-tituem lascas destacadas e intrometidas entre a supracrustais, mediante falhas inversas e empurro. S localmente, algumas feies de migmatizao so reconhecidas. De forma mais rara,

    ocorrem rochas de derivao sedimentar (xistos, quartzitos e calciosilicticas). No geral, predominam feies tectnicas sobrepostas pelo shearing do Lineamento Pernambuco, como augen gnaisses milonticos e protomilonticos com grande diversidade de indicadores cinemticos do movimento destral desta shear zone, do final do Neoproterozoico. Essas rochas originalmente fizeram parte de um bloco maior (microplaca), que ao norte do lineamento est representada pelos altos de Icaiara e Araripina-Ouricuri (Itaizinho, consoante Bizzi et al., 2003). preciso deixar claro que esses terrenos mais ao norte (Araripina-Ouricuri e Icaiara) imprescindem de determinaes geocronolgicas para ser confirmado o carter pr-Brasiliano.

    Como ser discutido e figurado (Figuras 4 a 6), essa rea de alm-pas ocupa uma posio frontal em relao ao SRP. Os demais alm-pases figurados esto mais intima-mente relacionados com as faixas Rio Preto (Parnaba) e Sergipana (PE-AL).

    As determinaes geocronolgicas Rb-Sr e U-Pb, como ser visto, deixaram clara a idade neoarqueana (com pos-sibilidade de protlitos mesoarqueanos) da poro mais ao sul desses terrenos, embora seja intenso o retrabalhamento tectnico-metamrfico do neoproterozoico.

    Antepas Crton do So Francisco

    O embasamento ao sul do SRP corresponde poro norte do CSF, onde so reconhecidos um grande domnio central e ocidental (bloco de Gavio ou Lenis) e uma poro mais a leste (leste do meridiano 40W) dominada pela colagem orognica Itabuna-Salvador-Cura, e que so entidades de bibliografia riqussima e variada (vide snteses recentes em Bizzi et al., 2003; Barbosa, 2012, entre outros).

    A cobertura paleo-mesoproterozoica do Grupo Chapada Diamantina na sua poro mais setentrional (mais pr-xima do SRP, e informalmente conhecido como bloco de Mimoso) foi parcialmente afetada pelo desenvolvi-mento da faixa mvel brasiliana e de sua vergncia para sul. Rochas metassedimentares de baixo grau, ao sul do bloco de Mimoso, apresentaram idades K-Ar em mica fina (Sssenberger et al., 2014) da ordem de 630 Ma, embora a deformao (dctil e/ou rptil) no seja claramente per-cebida. A cobertura peltico-carbontica mais jovem (do Neoproterozoico, criogeniana talvez) desse domnio cra-tnico (Grupo Uma ou Bambui) foi intensamente afetada em ampla rea, configurando um exemplo marcante de foreland thrust and fold belt, j mencionado (mapeado e devidamente visitados nas folhas de Cafarnaum, Jussara, Irec e Canarana, na Bahia).

    A poro de embasamento frontal ao SRP (embasamento de e parte ao norte do bloco de Mimoso) apresenta uma variada gama de gnaisses tonalticos e granodiorticos, e alguns raros remanescentes de greenstone belts. Determinaes

  • Brito Neves, B. B. et al.

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    recentes para essas rochas de alto grau (Dantas et al., 2010) mostram a presena de rochas do Meso e Neoarqueano, como parte de um trabalho de pesquisa (UnB e USP) em anda-mento. Essa poro mais setentrional do CSF est postada ao norte dos altos suportados pelos metassedimentos bloco de Mimoso e apresenta exposies de HGT (rochas de alto grau) e LGT (rochas de baixo grau), o que configura um domnio similar quele que os gelogos da linguagem fixista costumavam configurar como macio marginal. A propsito, o termo Macio de Sobradinho tem sido informalmente utilizado muitas vezes (em aluso grande represa ali alocada sobre os HGT e LGT).

    A cobertura paleo-mesoproterozoica do CSF (Supergrupo Espinhao) foi seletivamente afetada pelas deformaes brasilianas. No bloco de Mimoso, na parte sul, rochas metassedimentares de baixssimo grau de metamorfismo (Sssenberger et al., 2014) indicam a presena de idades neopoterozoicas (do Criogeniano superior, do Brasiliano), enquanto que na poro mais central do CSF (bloco de Morro do Chapu) essa cober-tura no foi afetada, embora esteja ladeando a leste o foreland thrust and fold belt de Irec (reconhecidamente uma estruturao do Brasiliano).

    A cobertura peltico-carbontica do crton (Grupo Una ou Bambu) apresenta na sua base alguns nveis e intercalaes de diamictitos e quartzitos e, localmente, so sobrepostos por calcrios do tipo cap carbonates, de riqussimo acervo bibliogrfico (vide Brito Neves e Pedreira da Silva, 2008; Brito Neves et al., 2012, entre outros). As rochas peltico-car-bonticas (calciarenitos, calcilutitos, dolomitos, metamargas, calcrios oolticos, etc.) se depositaram numa ampla pla-taforma tipo rampa, com declives suaves e ausncia de taludes pronunciados. Todas as unidades litoestratigrficas mostram riqueza de vida durante a fase marinha, eivada de estabilidade tectnica.

    Essa ampla e rasa bacia marinha que acobertou prati-camente todo o crton, consoante nossas observaes, foi do tipo sag. Assim, essa bacia (nessa margem norte) no se encaixa no conceito usual (por vezes evocado) de bacia de antepas (aquelas formadas devido carga da faixa mvel prxima). Essa bacia (tipo sag) foi formada, na verdade, por uma elevao regional do nvel do mar (pelo menos assim nessa poro norte do crton estudada), no que concordam conosco Alkmim e Martins Neto (2012).

    Embora faltem os dados geocronolgicos necessrios para datao do Grupo Bambu (devido falta de materiais e mtodos adequados), nesse domnio norte do crton os auto-res acreditam, com base nos dados de campo, que essa seja uma unidade, a grosso modo, coeva dos depsitos terrgenos e vulcano-sedimentares do SRP ao norte, ou seja, de idade do Criogeniano superior ( 630 Ma). Essa uma assuno que merece aperfeioamento com aquisio de novos dados, com tcnicas de geologia isotpica mais especficas.

    Zona Interna N-NW

    O Complexo Paulistana

    O Complexo Paulistana compreende uma unidade plut-nica-vulcnica-sedimentar, complexa em composio e estrutura. A poro/sequncia principal de xistos a duas micas, granada micaxistos, andaluzita-granada-biotita xis-tos, com intercalaes locais de quartzo xistos e quartzitos, nveis locais de metachert (no que lembra a Unidade Santa Filomena). Localmente, tem sido encontrada sillimanita como aluminossilicato predominante.

    So caractersticas adicionais da unidade vulcanismo e plutonismo sinsedimentares, de composio mfica (ortoanfi-bolitos, metagabros) e ultramfica (talco xistos, clorita xistos, talco-actinolita xistos, tremolititos, etc.) e, adicionalmente, processos de migmatizao. A designao de complexo ser o desfecho natural do estudo em detalhe desta unidade. Vrias lascas de rochas do embasamento so encontradas alternando com essa unidade, algumas com grande conti-nuidade, desenhando dobras regionais. Particularmente, a lasca de Baixa Verde Barana (3 a 4 km de largura) apre-senta forma subcircular e envolve ao sul a maior parte do complexo mencionado. Vide Figuras 1 e 3 (lasca assina-lada como 2 na Figura 3).

    Alm dessas intercalaes, a unidade se apresenta cortada por granitoides diversos, de geraes distintas, de relaes complexas, como a dos granitos tonianos (e.g. Afeio, do noroeste de Paulistana, Lagoa dos Cavalos; vide Caxito, 2013; Caxito et al., 2013). Alm desses h outros (meta) granitoides da etapa de deformao tangencial (Rajada e assemelhados a granitos do tipo S), e mesmo alguns corpos gneos nitida-mente posteriores (sienogranitos tipo I, tardi a ps-tectnicos). Inclusive, a oeste da folha de Paulistana (no sentido da folha Riacho Queimadas) comea uma vintena de intrusivas ditas ps-tectnicas, da Sute Serra da Aldeia, a ser comentada. Devem ser destacados os corpos de metagabros grosseiros (anfibolitos) intrusivos no complexo em discusso (Gomes, 1990; Caxito, 2013, entre outros), e que so muito especiais, posto que apresentam idades do Toniano (ca. 888 Ma).

    Fica clara a presena de duas fases principais de meta-morfismo, sendo a primeira de fcies anfibolito (biotita, granada, andaluzita e sillimanita), secundada por processos da fcies xisto verde (cloritizao, sericitizao).

    De uma maneira geral, os dados geocronolgicos obti-dos nessa unidade (Caxito, 2013, entre outros) e que sero discutidas aqui neste trabalho so de interpretao difcil, com muitas indicaes de uma idade toniana para o conjunto (com retrabalhamento ostensivo no Ediacarano). A assun-o de idade toniana ser feita, e ser mantida como hiptese de trabalho. Que fique claro e reiterado que estamos ainda muito longe da soluo desse problema (que ser dirimido s em escalas de detalhe da geologia e da geocronologia).

  • Evoluo geolgica do Sistema Riacho do Pontal

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    Ortognaisses Tonianos (Afeio, Barra do Marinho, etc.)

    O principal corpo dessas entidades (Fazenda Afeio) ocupa uma posio chave, longitudinal entre os terrenos da grande nappe do Complexo Santa Filomena (a leste) e aquelas do Complexo Paulistana (a oeste), ambas vergen-tes para o sul. O clssico corpo batoltico de Afeio (vide Figura 1) apresentou idades tonianas de h muito, pelos mtodos Rb-Sr (Jardim de S et al., 1988) e U-Pb (Van Schmus et al., 1995; Caxito et al., 2014). Essa determi-nao foi repetida e ratificada agora com o mtodo U-Pb LA, como ser discutido.

    Tratam-se de augen gnaisses de composio global variando de adamelitos, sienomonzogranitos e granodioritos. Os facoides so formados principalmente por microclina e quartzo, e lineaes de estiramento com direo prxima a norte-sul so documentadas. Do ponto de vista litogeo-qumico so principalmente granitos (clcio-alcalinos), peraluminosos de alto potssio, com algumas amostras no campo de sienitos subalcalinos (Caxito, 2013; Caxito et al., 2014). Em geral, nessas rochas peraluminosas, a presena de granada comum. Zirco um acessrio muito frequente, e responsvel por uma anomalia de zircnio detectada pelos gelogos da CPRM (Angelim, 1988). Alguns xenlitos de supracrustais so encontrados nesses ortognaisses e, em geral, tm sido atribudos ao Complexo Paulistana, o que mais provvel (mas no ainda definitivo).

    Dois corpos merecem destaque pelas suas dimenses batolticas e por terem fornecido as idades geocronolgicas: o da Fazenda Afeio (a leste da lasca de embasamento de Barra Verde-Barana, de direo geral norte-sul, na zona entre os complexos Paulistana e Santa Filomena (vide Figura 1) e aquele corpo de Lagoa do Cavalo (de forma subelptica) a noroeste de Paulistana, intrusivo no complexo Paulistana e com xenlitos do mesmo.

    Um outro corpo toniano a ser mencionado o de Barra do Marinho, situado ao norte-nordeste de Afrnio, com dimenses diminutas (no mapevel na escala 1:100.000). Esse pequeno corpo de ortognaisse meso a melanocrtico apresenta composio trondhjemtica (aproxima-se muito em composio de plagiogranitos), e aponta idade toniana bem destacada, a ser discutida (com sobreposio de metamor-fismo neoproterozoico tardio). A relao desse corpo com aqueles de Afeio e Lagoa do Cavalo (de que coevo), problema em aberto ainda.

    Complexo Santa Filomena

    A unidade Santa Filomena ocupa toda a poro mais norte-oriental do SRP, adjacente ao alm-pas de Morro do Estreito-Icaiara, e com limite norte marcado destacadamente pelo Lineamento Pernambuco. Apresenta uma assembleia

    de litologias do tipo QPC (Qartzito-Pelito-Carbonato) de certa forma semelhante quela de Barra Bonita (do lado do crton, a ser tratada no Complexo Casanova). Corrobora isso sua posio espacial (apesar da aloctonia) prxima aos basement inliers longitudinais ao Lineamento Pernambuco (provvel alm-pas). Seu limite sul marcado pela linha de aloctonia que o joga sobre o Complexo Monte Orebe, com rejeitos inversos.

    Predominam xistos a duas micas, com granada e, local-mente, com cianita. Na base da unidade h uma persistente lente quartztica (arcoseana e muscovtica), assim como ao longo de sua montona assembleia h outras intercalaes, de quartzo xistos, calcrios cristalinos (considerada caracte-rstica marcante), mais raramente anfibolitos e metachertes. Prximo cidade topnima, ocorrem xistos de baixo grau (metalaminitos) com feies rtmicas, riqussimos em tur-malina. A presena de vrios sheets granticos a duas micas, associados com a tectnica tangencial (tipo Rajada) ocorre de forma conspcua, os quais desenham dobramentos tar-dios (antiforme de Morro do Chapu e Dormentes, sinforme de Monte Orebe), de direo aproximada leste-oeste. Uma caracterstica adicional a ser destacada nessa unidade a presena de zirces detrticos pr-neoprotero-zoicos em geral. A fcies de metamorfismo predominante anfibolito (cianita, estaurolita, sillimanita so descritos), mas o metamorfismo ainda pouco estudado, com relao aos eventos deformacionais.

    Equiparaes com a unidade Barra Bonita (do Complexo Casa Nova) j foram mencionadas. Algumas comparaes com o Complexo Paulistana, situado pouco mais a oeste, tm sido ocasionais (e das quais discordamos). Mas h pon-tos importantes a partir de observaes de cunhos geolgico e isotpico a serem feitas, e alguns cuidados para evitar o simplismo. Alm da posio geolgica e tectnica, h dife-renas de vulto, principalmente na riqueza e variedade de intercalaes (frequentes no Complexo Paulistana), o que destoa da monotonia dos xistos a duas micas do Complexo Santa Filomena. Alm disso, h os provveis altos do emba-samento toniano (ocupados pelos ortognaisses Afeio), separando-as lateralmente, a serem comentados.

    Zona Central

    Complexo Monte Orebe

    A primeira unidade metavulcanossedimentar de destaque (Monte Orebe) ocorre na parte central do sistema (entre os paralelos 40 30 e 41 15). Sua continuidade aparente possvel mais para o oeste e noroeste do sistema com a uni-dade Brejo Seco (j dentro do Estado do Piau), embora haja algumas diferenas composicionais entre elas. Essa unidade rica em associaes vulcnicas (mficas, ultramficas) e sedimentares (peltico-psamticas).

  • Brito Neves, B. B. et al.

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    Assim, so comuns hornblenda-anfibolitos, metabasaltos (preservando caractersticas texturais, e at mesmo feies primrias de derrames, actinolita-tremolita xistos, talco xis-tos, horizontes de metachert (de centimtricas a mtricas), quartzitos muscovticos, filitos e, localmente, tufos vul-cano-sedimentares e brechas de exploso (vide Figura 7A, metabasaltos, e Figura 7B, metacherte).

    Tambm, mais restritamente, ocorrem grafita xistos, metagonditos e rochas calciossilicatadas. Ainda assim, h intercalaes, bandas e fraes de xistos a duas micas, muito semelhantes queles da Unidade Mandacaru (do complexo Casa Nova) e tambm de granitoides tipo S (ditos tangen-ciais, tipo Rajada) a serem tratados a posteriori, que ocorrem tanto no Complexo Santa Filomena (restritamente) como no Monte Orebe e no Casa Nova. Uma peculiaridade dessa unidade a presena constante de turmalina e rutilo entre os minerais acessrios, sugerindo fontes vulcnicas.

    O grau de metamorfismo varia de xisto verde a epido-to-anfibolito e da a anfibolito (Moraes, 1992). Como um todo, essa unidade est estruturada em uma grande sinforme invertida (Sinforme Monte Orebe-Morro Grande).

    A litogeoqumica das ultramficas foi atribuda por Angelim (1988) transformao de metabasaltos toleticos de baixo K, e os diagramas discriminantes so indicati-vos de ambientes de assoalho ocenico (a maioria) e/ou de arcos de ilhas. As metamficas, apesar do pequeno nmero de amostras estudadas, apontam para uma natureza komati-tica que no pode ser decisivamente discriminada, e tm sido provisoriamente interpretadas como os primeiros diferencia-dos do magmatismo basltico j discutidos (Angelim, 1988).

    Moraes (1992) apresentou algumas anlises geoqumicas das rochas dessa unidade, com resultados muito prximos aos obtidos por Angelim (1988). Segundo esse autor, os diagra-mas discriminantes indicam basaltos toleticos de assoalho ocenico (mais do que com arco de ilhas). As ultramficas poderiam representar rochas cumulticas, mas descartou o diagnstico de composio komatitica (devido ao estudo dos elementos incompatveis). Moraes (1992) levantou a possibilidade de uma associao marinha profunda que teria sido subductada numa zona de interao de placas.

    Com relao Unidade Brejo Seco (situada mais a oeste, em grande parte j sob a Bacia do Paranaba), h uma pos-sibilidade de equiparao, que tem sido muito comumente evocada. Porm, algumas diferenas concretas, petrogenticas e geoqumicas (Marimon, 1990; Moraes, 1992), precisam ser melhor conhecidas e analisadas. De qualquer forma, essas duas unidades so aqui consideradas em conjunto como as que configuram a zona central do SRP.

    Unidade Brejo Seco

    A sequncia de Brejo Seco, situada no noroeste do SRP e ao sudeste borda da Bacia do Parnaba (que a recobre, em

    territrio piauiense), inclui uma srie de supracrustais (meta-grauvacas, xistos e quartzitos) com muitas intercalaes vulcnicas mficas e, mais raramente, flsicas. Granitoides sintectnicos e vrios stocks granticos tardios (Sute Serra da Aldeia) perlongam de forma intrusiva essa unidade, que ao sul apresenta brusco contato tectnico (empurro) com a Unidade Barra Bonita do Complexo Casa Nova.

    Os estudos petrogenticos e geoqumicos desenvolvidos por Marimon (1990) so de excelente qualidade e indicam um magma parental de basaltos toleticos (vulcanismo mfico) que por diferenciao e acumulao de cristais formou rochas plutnicas cumuladas (metaperidotitos, metatroctolitos e metagabros). Os gabros no cumulados e os basaltos foram produtos da cristalizao do lquido original, evoluindo at tipos bem mais diferenciados (metabasaltos ferro-toleticos). As metavulcnicas flsicas foram relacionadas por essa autora a diferenciados extremos do magma original tole-tico, do tipo plagiogranito.

    Os metabasaltos possuem afinidade geoqumica com toletos de baixo potssio, caractersticos de arcos de ilhas. Essa feio permite a comparao com aqueles de Monte Orebe (Moraes, 1992), que apresentam caractersticas seme-lhantes. Essas relaes de semelhana entre Monte Orebe e Brejo Seco tm sido propaladas por diversos autores, e factvel. Por enquanto essa equiparao permanece como hiptese de trabalho e a idade criogeniana admitida (por falta de informaes isotpicas). Nenhuma determinao geocro-nolgica foi realizada ainda na Unidade Brejo Seco. Tanto do ponto de vista composicional, litoestratigrfico, quanto isot-pico, essa unidade reclama maior investimento em pesquisa.

    Zona Meridional

    Complexo Casa Nova - Unidade Barra Bonita

    Essa unidade metassedimentar ocorre bordejando a periferia muito irregular (salincias e reentrncias) do Bloco/Macio de Sobradinho, designao informal da parte norte (retra-balhada) do paleocontinente (pennsula) do So Francisco. Sua maior expresso cartogrfica se faz, pois, imediatamente ao sul e, em parte, a sudoeste do sistema (vide Figura 1). Alguns autores (e.g. Angelim, 1997) apontaram a presena dessa unidade mais para o norte (onde foram definidas e esto mapeadas as unidades Santa Filomena e Paulistana, a serem comentadas), tendo em vista feies litolgicas asse-melhadas e a posio tectnica, na proximidade dos blocos pr-neoproterozoicos (no caso, do alm-pas). Entretanto, j mencionamos diferenas por ns observadas que desa-conselham esse tipo de equiparao.

    Essa unidade, geralmente tratada como marinha platafor-mal, preenche bem as caractersticas daquelas assembleias tipo QPC, pois rene uma associao franca de xistos a duas micas, e com quartzitos muscovticos (mais raramente

  • Evoluo geolgica do Sistema Riacho do Pontal

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    conglomerados basais) e alguns horizontes metacarbon-ticos bandados, na sua poro mais inferior. Esses xistos granadferos, relativamente montonos, apresentam meta-morfismo na fcies anfibolito (cianita, estaurolita e, mais raramente, sillimanita tm sido descritas), com ocorrncias locais frequentes de retrometamorfismo (como nas shear zones). Alguns poucos sheets de leucogranitoides sincoli-sionais tm sido registrados.

    Complexo Casa Nova Unidade Mandacaru

    A Unidade Mandacaru, reportada quase sempre (por vrios autores) como de ambiente marinho profundo em vrios trabalhos, absolutamente predominante em extenso ter-ritorial do SRP (Figura 1), e se encontra disposta sempre lateral e verticalmente ao desenvolvimento da Unidade Barra Bonita, sugerindo uma mudana para ambientes marinhos, de mais rasos para mais profundos.

    Predominam micaxistos a duas micas granadferos (com cordierita e estaurolita) de forma relativamente montona, com intercalaes de metagrauvacas e, em muitos locais, com estratificao rtmica, sugerindo deposio em con-dies turbidticas (preservadas, transposta pela foliao). Os xistos apresentam intercalaes rtmicas de metagrau-vacas muito quartzosas (subunidade Alfavaca), Santos e Silva Filho, 1990), na folha Riacho do Caboclo, principal-mente, e de metagrauvacas feldspticas (com plagioclsio, subunidade Arizona Santos e Silva Filho, 1990). Mais raramente so apontadas ocorrncias de metavulcnicas bsicas (anfibolitos, clorita xistos) e metaflsicas.

    As passagens laterais dessa unidade com a Unidade Monte Orebe foram geralmente traadas nas primeiras ocorrncias de metachertes e metaquartzitos, e tambm pelo padro fisiogrfico/fotogeolgico bem mais irregular no caso do domnio do Monte Orebe.

    O metamorfismo regional presente , em geral, na facies anfibolito, como na unidade anterior (Barra Bonita), mas h tambm algumas evidncias de tratos plurifaciais de acordo com o redobramento, e tambm com pores locais de franco retrometamorfismo (shear zones).

    As coberturas cratnicas

    As unidades de cobertura do crton/antepas, dos grupos Espinhao (do Estateriano ao Esteniano) e Bambu/Una contam com um acervo extraordinrio de contribuies. So unidades litoestratigrficas que se encontram presen-tes em todo centro leste brasileiro. Para grandes snteses dessas coberturas no crton como um todo, os trabalhos de Zaln e Silva (2007) e de Alkmim e Martins Neto (2012) so recomendveis. Para os problemas pertinentes a essa poro norte do crton, lindeira com o SRP, os trabalhos recentes de Brito Neves e Pedreira da Silva (2008) e Brito

    Neves et al. (2012) so considerados oportunos, e liberam os presentes autores de repeties no necessrias. Apenas alguns dados novos sero mencionados e includos na parte do estudo geocronolgico.

    OS GRANITOS NEOPROTEROZOICOS

    Gnaisses Rajada

    Uma srie de gnaisses a duas micas esto intercalados como folhas (sheets) nos complexos vulcano-sedimenta-res anteriormente dissertados (Monte Orebe e Mandacaru, principalmente), e eles so conhecidos desde a dcada de 1960, com os trabalhos de Barreto (1962) e Moura (1962), que ento os aludiram aos paragnaisses Rajada. Tratam-se de tpicos leucognaisses sincolisionais (tipo S) que so uma caracterstica notria desse SRP. Da parte centro-norte do sistema (a leste de Santa Filomena) at o sul do sistema (imediaes de Rajada), essas folhas gnissicas ocorrem com foliaes de baixo ngulo (vergentes para S-SW), intercalando-se de diversas formas com as supracrustais, constituindo uma caracterstica marcante para o SRP.

    As dimenses das ocorrncias variam de mtricas a quilomtricas, sempre com leucognaisses a duas micas de variada composio, de sienogranitos a tonalitos. Granada, titanita e zirco (grande variedade de tipos, dificultando uso nas metodologias de determinao geocronolgica U-Pb) so acessrios de destaque.

    Os contatos com as encaixantes variam bastante de forma e feies gerais, de bruscos a transicionais, e em muitos locais possvel flagrar fraes de grandes dimenses das encaixantes (escala de at dezenas de metros) como pores do interior dos gnaisses.

    A bibliografia sobre estes granitoides vasta, alm de dados petrogrficos, litogeoqumicos e geocronolgicos (de vrios autores, vide item da geocronologia). A idade obtida (diferentes mtodos), a ser discutida, na ordem de aproximadamente 635 Ma, assumida igualmente para o evento maior de coliso e metamorfismo regionais do SRP (a ser discutido a posteriori).

    Granitoides ps-colisionais

    Vrias ocorrncias de stocks e outros corpos de rochas de afinidade alcalina (em geral de pequenas dimenses) tm sido registrados em diferentes domnios do SRP, e com certeza novas unidades ainda viro a ser contabilizadas em futuro, nos mapeamentos de detalhe. Todas essas ocorrn-cias tm em comum uma posio tectnica ps-colisional, em ambientes claramente distensionais, e idade do final do Ediacarano (ou seja, 70 80 Ma ps-metamorfismo regional de ca. 635 Ma, como ser discutido).

  • Brito Neves, B. B. et al.

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    Sute Serra da Aldeia

    Essa sute de rochas de natureza alcalina (Gava et al., 1984) ocorre ao longo das folhas de Paulistana a Barreiras, sendo identificveis mais de 30 stocks nitidamente intrusivos nas supracrustais do SRP (unidades Brejo Seco e Casa Nova). H uma grande variedade de tipos petrogrficos com biotita hornblenda granitos (os mais frequentes), hornblenda sienitos, granitos subalcalinos, granitos rapakivi e aegirina-augita gra-nitoides, consoante os primeiros estudos de reconhecimento.

    Os dados geoqumicos mostram rochas muito enriqueci-das em Sr e Ba, e empobrecidas em Rb, o que no permitiu uma determinao Rb-Sr adequada para essa ampla sute, que tpica de crosta espessada e ambientes distensionais.

    Por alguns dados preliminares e pela analogia com simi-lares das faixas de dobramento ao norte, Gava et al. (1984) preconizaram uma idade neoediacarana ou mesmo cam-briana (ca. 530 Ma) para essas rochas, mas o problema est em aberto. Presentemente, esto sendo conduzidos traba-lhos petrogrficos e geocronolgicos de detalhe nesse trecho norte-ocidental do SRP (pesquisadores da IG-UNICAMP, IGc-USP e UnB).

    Sutes alcalinas de Casa Nova e Engraadinha (norte da represa de Sobradinho)

    Ocorrncias bastante variadas de stocks e diques intrusivos se concentram nessa poro mais ao sul do SRP, e foram estudadas por Cid et al. (2000). Tratam-se de registros de rochas slica-saturadas ultrapotssicas, com grande varie-dades de tipos:

    Monzo e sienogranitos a epidoto, sienitos leucocrti-cos, sienitos mficos a augita-aegirina, diques de sienitos e granitos alcalinos. Essas rochas foram datadas (Tabela 1, penltimo agrupamento) por Jardim de S (1994), apontando uma idade em iscrona de ca. 550 Ma ( 18 Ma), consi-derada de boa qualidade (confivel), na presente instncia do conhecimento (e nas limitaes do mtodo), para esses eventos ps-colisionais (extensionais, tardios) de magma-tismo associado com fontes mantlicas. Esses processos esto sendo alvo de investigao geolgica e geocronol-gica em novo projeto de pesquisa na regio (UNICAMP, IGc-USP, UnB, j mencionados).

    Caboclo e Nova Olinda

    Ao sul da folha Santa Filomena (entre esta e aquelas de Paulistana e Afrnio) ocorrem corpos (dimenses batolticas) de quartzo sienito a lcali-feldspato granitos, considerados de fonte mantlica, com fcies a hornblenda e sem horn-blenda. Caracterstico desses corpos so autnticas brechas de exploso com diversificada riqueza de xenlitos (da Unidade Monte Orebe sobretudo). H um trabalho de

    mestrado (Ferreira, 1995) que se refere fonte mantlica enriquecida em elementos incompatveis, com profundidade de fuso da ordem de 30 km. Ferreira (1995) se refere a um produto de ambiente de subduco, o que possvel (mas faltam as evidncias desejveis).

    FEIES DA GEOLOGIA ESTRUTURAL E DA REGIONALIZAO GEOTECTNICA

    Pela extenso em rea, e pela diversidade de circunstncias geolgicas e geotectnicas (proximais e distais do crton e do alm-pas), generalizaes sobre a geologia estrutural (e o metamorfismo) do sistema em epgrafe so delicadas e de difcil administrao.

    Desde o primeiro momento deve-se levar em conta o cenrio paleogeogrfico bem mais amplo, e complexo, que no pode admitir simplismo, pois so muitas feies tectnicas dedutveis do registro litoestrutural e geocrono-lgico. Alm disso, h possibilidades de francas conexes amplas, envolvendo grande rea de atuao dos processos. As conexes com o Rio Preto e o Sergipano so de reconhe-cimento hoje unnime, alm da ligao (litoestratigrfica e estrutural) com a cobertura do crton. De fato, esto tam-bm envolvidos parcialmente na panormica desse SRP tanto o embasamento como as coberturas cratnicas (grupos Chapada Diamantina e Bambu). Toda interpretao focada apenas no domnio geogrfico do SRP tende a ser incom-pleta e perniciosa. Para um acompanhamento mais didtico e observao mais ampla vide sequncia de Figuras 2 a 6.

    Adicionalmente, a participao/atuao do macio Pernambuco-Alagoas, que bordeja toda a poro nordeste do SRP (e para o qual so voltadas frentes de empurro), tem que ser estudada e considerada. sabida a posio desse macio como placa inferior na interao que gerou o sistema sergipano (Brito Neves et al., 1977; Oliveira et al., 2010), mas a atuao desse alto estrutural no cenrio tectnico do SRP ainda desconhecido e demanda investigaes geofsicas adi-cionais. Idem, pode ser dito com relao dos altos/blocos Cristalndia do Piau (Caxito, 2012) e Parnaba (Cordani et al., 2009), com relao ao papel na evoluo da Faixa do Rio Preto. Um quadro paleogeogrfico complexo (Figuras 4 a 6) e um desenvolvimento geotectnico de grande expresso regional (envolvendo todo o domnio meridional da Provncia Borborema) s nos permite, neste trabalho, falar em feies mais genricas da Geologia Estrutural.

    Em geral, no campo se trabalha sempre com foliao de segunda (ou terceira gerao), muitas vezes paralelizadas com provveis So originais, havendo claramente eventos tardios (tardi ou ps-colisionais), em parte ligadas ao Lineamento Pernambuco, em parte independe deste, estando formando as rampas laterais desenvolvidas com os empurres vergen-tes para sul e sudeste (vide Figuras 1 a 3).

  • Evoluo geolgica do Sistema Riacho do Pontal

    - 69 -Geol. USP, Sr. cient., So Paulo, v. 15, n. 1, p. 55-93, Maro 2015

    SPR N de campo Rocha Coordenadas Localidade Rb (ppm) Sr (ppm) 87Rb/86Sr Erro 87Sr/86Sr Erro Fonte

    5561 SRP Gn ME Augen gnaisse 9104054/300508 Morro Estreito 62,5 424,1 0,425 0,005 0,521841 0,000062 1

    5599 SRP Gn JPR Gnaisse 9105350/2955161 Fazenda JPR 226,5 145,3 4,525 0,046 0,854530 0,000062 1

    5564 SRP Gn Mand Gnaisse 9088658/252213 Mandacaru 329,6 32,5 30,526 0,456 1,105536 0,000066 1

    5562 SRP Gn Faz Ortognaisse 9103852/256613 Fazendinha 143,6 21,2 20,098 0,515 0,946904 0,000055 1

    5565 SPAB Gn Our Gnaisse 9131352/355859 Pedreira Ouricuri 214,8 548,1 1,135 0,023 0,515503 0,000059 1

    5566 SPAB Gn StR Gnaisse 9138562/366593 Santa Rita 255,2 928,1 0,596 0,006 0,514525 0,000055 1

    4024 JM-2 Gnaisse 8959000/696000 Sobradinho 84,2 32,9 5,45 0,15 0,553300 0,0021 3

    8865 RP 2M Augen gnaisse 9095000/282000 Afeio 246,6 110,6 6,505 0,182 0,589610 0,00003 2

    9152 LA244C Augen gnaisse 9095000/282000 Afeio 144,6 135,4 3,1030 0,0850 0,545280 0,00019 2

    9153 LA244E Augen gnaisse 9095000/282000 Afeio 125,6 131,9 2,809 0,059 0,541840 0,00006 2

    8863 RP 2D Augen gnaisse 9095000/282000 Afeio 159,4 103,3 5,059 0,142 0,554080 0,00002 2

    8862 RP 2A Augen gnaisse 9095000/282000 Afeio 182,8 98,9 5,386 0,151 0,555930 0,00002 2

    8864 RP 2E Augen gnaisse 9095000/282000 Afeio 181,5 108,5 4,854 0,135 0,555540 0,00004 2

    9154 LA-409C Augen gnaisse 9095000/282000 Afeio 186,8 100,0 5,444 0,153 0,555650 0,00008 2

    6550 SRP Gn TGw Leucogranito 9065392/300954 Tanque Grande 191,5 545,0 0,543 0,006 0,515445 0,000055 1

    6551 SRP Gn TGb Leucogranito 9065392/300954 Tanque Grande 192,0 859,1 0,632 0,005 0,514228 0,000069 1

    16238 SRP Gn TGg Leucogranito 9065392/300954 Tanque Grande 191,5 643,6 0,863 0,009 0,516361 0,000061 1

    9214 CA 35A2 Leucogranito 9025824/299012 Rajada 161,8 633,4 0,540 0,021 0,514990 0,00005 4

    9215 CA 35C2 Leucogranito 9025824/299012 Rajada 180,5 535,3 0,959 0,012 0,516840 0,00005 4

    9216 CA 35D2 Leucogranito 9025824/299012 Rajada 183,4 605,0 0,855 0,025 0,515800 0,00005 4

    9215 CA 35E2 Leucogranito 9025824/299012 Rajada 209,8 513,9 1,183 0,006 0,518350 0,00005 4

    9218 CA 35H2 Leucogranito 9025824/299012 Rajada 195,61 1109,5 0,511 0,004 0,511460 0,00119 4

    9184 LA 03A Leucogranito? 9025824/299012 Rajada 202,2 1182,5 0,495 0,009 0,512240 0,00005 2

    8845 RP 1A Leucogranito 9025824/299012 Rajada 223,2 923,3 0,500 0,020 0,514530 0,00011 2

    8848 RP-1B Leucogranito 9025824/299012 Rajada 214,4 1041,14 0,596 0,015 0,513540 0,00018 2

    8849 RP 1F Leucogranito 9025824/299012 Rajada 205,8 559,8 0,584 0,019 0,515010 0,00028 2

    8850 RP1H Leucogranito 9025824/299012 Rajada 211,2 1010,4 0,605 0,005 0,513550 0,00028 2

    8851 RP1L Leucogranito 9025824/299012 Rajada 216,6 955,0 0,655 0,008 0,514400 0,00025 2

    9185 LA 03B Leucogranito 9025824/299012 Rajada 201,0 1150,0 0,506 0,008 0,512500 0,00008 2

    9150 LA 386C Leucogranito 9025824/299012 Rajada 183,1 622,2 0,852 0,024 0,516320 0,00008 2

    9151 LA386E Leucogranito 9025824/299012 Rajada 213,5 641,3 0,965 0,025 0,515510 0,00006 2

    4021 JM -1A Ortognaisse 9025824/299012 Rajada 235,4 495,1 1,38 0,03 0,522100 0,0020 3

    4022 JM-1C Ortognaisse 9025824/299012 Rajada 224,5 483,1 1,35 0,03 0,522600 0,0012 3

    4023 JM1-E Ortognaisse 9025824/299012 Rajada 229,4 549,8 1,21 0,02 0,523300 0,0019 3

    5563 SRP Fi NAF Filito 9058290/258892 Afrnio norte 55,8 56,5 3,885 0,035 0,548262 0,000065 1

    13684 SRP T NAF Tufo 9058290/258892 Afrnio 164,2 139,0 3,435 0,001 0,561550 0,000053 1

    5558 SRP Fi SFi Filito 9605000/322000 Sta. Filomena 215,9 36,6 15,345 0,580 0,883392 0,000084 1

    5560 SRP Xis JuG Micaxisto 9098000/304000 Juazeiro Grande 112,5 155,3 1,861 0,012 0,525584 0,000048 1

    4092 FF158 Xisto 111,2 115,3 2,55 0,05 0,534400 0,0011 3

    4095 1558-218 Xisto 115,5 116,8 2,85 0,06 0,534800 0,0023 3

    5565 SRP Gn Liv Gnaisse 9086352/310509 Livramento 162,5 591,1 0,595 0,040 0,511882 0,000062 1

    10404 LE135-1 Sienito 8980000/284500 Esperana 105,8 940,0 0,326 0,090 0,509400 0,00001 2

    9911 LE135-3 Sienito 8980000/284500 Esperana 265,6 224,4 3,435 0,095 0,534680 0,00009 2

    9910 LE135A Sienito 263,2 421,1 1,8110 0,0510 0,520690 0,00010 2

    9912 LE135-2 Sienito 8980000/284500 Esperana 252,6 309,3 2,5560 0,0520 0,525310 0,00008 2

    9913 LE-159 Sienito 8980000/284500 Esperana 205,3 462,8 1,298 0,035 0,51685 0,00005 2

    16420 CHD - R- C4 Metargilito 8825158/231109 Rodoleiro 216,4 30,1 21,258 0,309 0,920252 0,000095 1

    16241 CHD - R - D1 Quartzo xisto 8825024/231463 Rodoleiro 198,4 5,2 83,854 1,514 1,285521 0,000096 1

    16239 CHD - R - E Quartzo xisto 8825056/231564 Rodoleiro 159,5 8,61 56,865 0,520 1,294341 0,000095 1

    1: presente trabalho; 2: Jardim de S et al. (1988) e Jardim de S (1994); 3: Dalton de Souza (1959); 4: Santos e Silva Filho (1990); Santos e Silva Filho (1990); 1A:embasamento; 1B: Augen gnaisses tonianos (Cariris Velhos); 1C: supracrustais; 1D: gnaisses sintangenciais (tipo S); 1E: sienitos; 1F: metassedimentos Chapada Diamantina (sul do bloco de Mimoso).

    Tabela 1. Dados analticos das determinaes Rb-Sr.

  • Brito Neves, B. B. et al.

    - 70 - Geol. USP, Sr. cient., So Paulo, v. 15, n. 1, p. 55-93, Maro 2015

    Numa primeira aproximao, tendo em vista os mapas geolgicos preexistentes e os levantamentos realizados, possvel distinguir quatro domnios distintos:1. o domnio interno, que representa poro do embasamento

    a noroeste do Complexo Paulistana (norte do Complexo Santa Filomenta), antiga regio de alm-pas totalmente rees-truturada pelas aes destrais do Lineamento Pernambuco. Essa zona de alm-pas ser tratada informalmente como Macio Morro do Estreito-Icaiara (provvel microplaca superior da interao com a placa sanfranciscana). A frao Icaiara ocorre na Zona Transversal da provncia como um alto separando pores supracrustais neoproterozoicas (vide Gomes, 2001). No momento, estamos admitindo que a borda sul desse macio (de rochas neoarqueanas originalmente) contivesse discordantemente as rochas supracrustais do Complexo Paulistana (aqui admitidas como de idade toniana). Esse domnio bastante bem marcado ao sul pela grande lasca de Baixa Verde-Barana, onde o embasamento emerge tectonicamente do substrato e volta a aflorar extensamente acavalando supracrustais;

    2. o domnio nordeste e central, onde esto as supracus-tais do Santa Filomenta e Monte Orebe (+ Brejo Seco). Essa parte mais central do domnio est sendo reconhe-cida como produto da sedimentao e do vulcanismo em um trato ocenico, o qual separava originalmente dois grandes blocos litosfricos distintos (o alm-pas, ao norte, e o antepas, ao sul);

    3. o domnio externo, na parte centro sul do SRP, e da para a periferia do domnio do antepas, marcado pela expresso mais vigorosa geolgica e geotectnica do nappismo (supracrustais, (principalmente do Complexo Casa Nova e dos ortognaisses sincolisionais) vergentes para o sul, contribuindo para perfazer a silhueta irregular da atual borda norte do antepas. Pelos dados gravim-tricos (Oliveira, 1998) se deduz que grande parte desse nappismo se faz em condies de tectnica thin skin. A forma norte externa do antepas de um arco relati-vamente regular, e a forma festonada de exposio do embasamento hoje observada se deve s causas paleo-geogrficas e erosionais, cada uma ao seu tempo;

    Figura 6. Esquema composto da tectnica regional, consoante integrao de diversas propostas anteriores (Schobbenhaus e Brito Neves, 2003; Gomes, 2001; Oliveira, 1998; Cordani et al., 2009) e nossas observaes mais recentes. Esto configurados os blocos (fraes da litosfera) que interagiram no Neoproterozoico (Parnaba, Trindade-Ouricuri, Morro do Estreito-Icaiara, Pernambuco-Alagoas, So Francisco) e as faixas mveis ento desenvolvidas (Sergipana, Riacho do Pontal, Rio Preto e Pianc-Alto Brgida). No esquema est esboada a zona de altos gravimtricos (8 a 17 mGal) determinada por Oliveira (1998), considerada como ponto de inflexo que marcaria a separao entre os componentes litosfricos envolvidos na interao (vide Hatcher Jr e Williams, 1986; Tesha et al., 1997; Der Pluijm e Marshak, 2004). De forma simplista, essa figura tenta esquematizar (com considervel dose de especulao) a situao geotectnica do Sistema Riacho do Pontal nos contextos da Zona Transversal (norte do Lineamento Pernambuco) e do Domnio Meridional da Provncia Borborema.

  • Evoluo geolgica do Sistema Riacho do Pontal

    - 71 -Geol. USP, Sr. cient., So Paulo, v. 15, n. 1, p. 55-93, Maro 2015

    4. o domnio de antepas, compreendendo trs partes distin-tas (Figuras 4 e 5): o macio de Sobradinho HGT + LGT arqueanos, retrabalhadas pela deformao neoprotero-zoica) que contm alguns klippen e restos de klippen do Complexo Casa Nova; o bloco de Mimoso do Grupo Chapada Diamantina, sobreposto a esse embasamento do macio, e atingido pelas deformaes neoproterozoicas de forma mais amena e irregular, domnio de deformao des-contnua, pouco penetrativa e thick skin; o foreland thrust and fold belt de Irec que foi desenvolvido integralmente em condies thin skin e mediante far field stresses que adentraram a entidade cratnica e amarrotaram de forma epidrmica a cobertura ali presente, do paralelo 10 S at o paralelo da cidade de Canarana (12 S).

    Estes esquemas (Figuras 2 a 6) apresentam plena rati-ficao no levantamento geofsico (Oliveira, 1998), e essa interpretao pode ser levada para as faixas de Rio Preto e do Sistema Sergipano (ambos apresentam esquematizao de domnios assemelhadas ao SRP).

    O padro predominante, digno de primeiro realce, o de um contexto contracional importante gerando pelo menos duas fases de deformao Dn//D n+1 onde, com frequncia So//Sn//Sn+1, com dobras isoclinais (dobras intrafoliais de Dn so comuns) recumbentes e deitadas, vergentes para o sul (variaes SSE e SSW so comuns), culminando com a projeo dessas estruturas de franco nappismo vergentes para o crton ao sul, com o carreamento vultoso de contextos da faixa mvel para sobre o embasamento do crton. Isso est bem registrado sobre terrenos de alto grau e de baixo grau do embasamento cratnico, e mesmo sobre coberturas dobradas da Chapada Diamantina (anteriormente descrito). Klippen de supracrustais na periferia norte do crton (sobre

    o Macio de Sobradinho) so comuns e conspcuos, com a sua maior expresso naquele da Bacia de Barra Bonita, a nordeste de Petrolina (onde fica a cidade de Lagoa Grande), e aquelas ao sul da Barragem de Sobradinho (vide Figuras 2 e 3). Essas estruturas se encontram suavemente deformadas por uma gerao posterior de estruturas (Dn+2).

    Na sequncia para o sul, para a poro central e centro-norte do crton, os vetores deformacionais contracionais se propaga-ram. Esse deslocamento (far-field stresses) para o sul ento de estilo epidrmico atinge grande parte da cobertura neopro-terozoica (Grupo Bambu/Una) do crton, como j mencionado at o paralelo 1200S (o chamado foreland thrust and fold belt de Irec). Esta faixa thin skin est ladeada por rampas direcionais aproximadamente norte-sul, condicionadas dos dobramentos pre-decessores do Grupo Chapada Diamantina (de direes gerais N-S e NNE-SSW), que foram estruturadas em etapas pr-bra-silianas no conhecidas ainda, provavelmente no Esteniano. H alguns raros tratos da cobertura cratnica neoproterozoica que foram poupados dessa deformao (Brito Neves et al., 2012), protegidos pelos altos mesoproterozoicos da Chapada Diamantina, consoante circunstncias locais, muito especiais. Ou seja, a deformao para o sul se faz de forma variada e descon-tnua (idiomrfica), consoante diferentes fatores, sendo o mais flagrante a resistncia deformao dctil.

    A contundncia do processo deformacional vergente para o sul, desde o alm-pas (onde veio a se instalar depois, no ps-Ediacarano, o Lineamento de Pernambuco), pode ser francamente observada em todas as folhas 1:100.000 j mapeadas (vide referncias, PLGB/CPRM), com carter thick skin no domnio interno da faixa mvel, com desta-que para as folhas de Paulistana e Santa Filomena, onde lascas do embasamento se intercalam entre as supracrus-tais (vide corte geolgico, Figuras 2 e 3).

    Figura 7. (A) Complexo Monte Orebe: metabasalto toletico absolutamente transposto (Sp = So, subhorizontais), na estrada entre Dormentes e Monte Orebe; (B) Complexo Monte Orebe: expressivo contexto de metacherts ao norte de Afrnio, Pernambuco (rodovia para Paulistana), no interior de tufos e xistos. Observar a presena de dobras parasitas na unidade de metachert.

    A B

  • Brito Neves, B. B. et al.

    - 72 - Geol. USP, Sr. cient., So Paulo, v. 15, n. 1, p. 55-93, Maro 2015

    Nesse cenrio de transporte tectnico para o sul, se associam vrias falhas de transcorrncia (direes N-S, NE-SW), com rejeito direcional consorciado, funcionando como rampas laterais do nappismo. Nessa caracterstica e condio merecem destaque aquelas da antiformal de Ponta da Serra e aquela de Sobradinho para o nordeste (Figura 1).

    Sobrepostas a esse estilo deformacional contracional de dobras, falhas inversas e nappismo, com ngulos de mergu-lho baixos (em geral < 40) sobrepem-se outras estruturas, que para melhor serem dissertadas precisariam de anlise folha por folha. H dobras abertas, crenulao, arrastos em dobras transcorrentes (e rampas laterais), acomodaes das irregularidades do embasamento e penetraes de granitoi-des etc., que corresponderam s diversas circunstncias locais (tardi ou ps Dp). Na folha de Santa Filomena, merece des-taque uma srie de dobras conspcuas (D

    p+1), relativamente

    fechadas, da foliao principal (Sp), com eixos tambm E-W. Da localidade de Campo Santo (sinforme de Monte Orebe, D

    p+1) para o norte, h uma srie de dobras, antiformais e sin-

    formais (presumivelmente de uma fase tardia, Dp+1), o que d ao contexto geral uma impresso de vergncia centrfuga (vide seo geolgica, Figura 2), o que no fato. Esse dobra-mento est relativamente restrito s bordas da bacia original, para leste, para prximo ao macio Pernambuco Alagoas.

    Em termos de regionalizao geotectnica, alm das con-sideraes j colocadas e apresentadas nas figuras prvias (Figuras 1 a 5), necessrio acrescentar algumas conside-raes outras e informaes de cunho regional.

    As sees geolgicas norte-sul apresentadas (Figuras 2 e 3) e o perfil gravimtrico proposto e apresentado por Oliveira (1998), que bastante didtico, considerados em conjunto tra-zem mente as figuras clssicas de um orgeno colisional ideal, como aqueles das propostas de Hatcher Jr. e Williams (1986), de Der Pluijm e Marshak (2004) e de Tesha et al. (1997). A zona de altos gravimtricos traada por Oliveira (1998) perlonga a inflexo sempre presente ao longo das zonas de interaes de placas e sinaliza o traado de uma zona de soerguimento do manto sotoposto (vide Figura 6).

    No mbito regional, preciso ousar um cenrio paleogeo-grfico mais condizente com a evoluo dos conhecimentos no SRP e nas suas adjacncias. No processo de instalao e desen-volvimento do SRP, vrios atores tectnicos/paleogeogrficos devem ser evocados. Se o CSF o antepas reconhecido de forma generalizada, necessrio se hipotetizar sobre um paleo-oceano que o circundava (o Perifranciscano, Schobbenhaus e Brito Neves, 2003) cujos registros litolgicos esto consignados do Oubanguides (noroeste do Crton do Congo) at o sudoeste do Piau (Caxito, 2012). A coliso no foi simples nem retil-nea, com diferentes alm-pases atuando em diferentes tempos, como o macio Pernambuco-Alagoas (microplaca PEAL, Brito Neves et al., 1997; Oliveira et al., 2010) , o macio Morro do Estreito-Icaiara (aqui j discutido, situado ao norte) e o Bloco do Parnaba (Cordani et al., 2009), a noroeste.

    DETERMINAES GEOCRONOLGICAS PELO MTODO RB-SR

    Embasamento: alm-pas e lascas inseridas entre supracrustais da zona mais interna

    Algumas determinaes Rb-Sr do SRP como um todo pree-xistem h vrios anos, com baixo grau de preciso, em geral (Dalton de Souza et al., 1979; Jardim de S, 1994; Santos e Silva Filho, 1990; Van Schmus et al., 1995; Cid et al., 2000) com resultados, em geral, compatveis para as escalas de reconhecimento. Algumas determinaes adicionais foram acrescentadas no presente trabalho, na tentativa de aprimorar esse conhecimento (vide Tabela 1, 1 agrupamento) e identi-ficar alvos para futuras pesquisas. A ideia era um prembulo melhor para o programa de determinaes U-Pb, que ser posteriormente apresentado e discutido.

    Para as rochas do embasamento cratnico ao sul (Macio de Sobradinho) preexistem vrias determinaes Rb-Sr (mais antigas) e U-Pb (mais recentes, projeto em andamento da UnB e da USP). Esses tratos arqueanos (paleo, meso e neoarqueanos, vide Dantas et al., 2010), e paleoproterozoi-cos desse substrato de antepas ao sul, no sero discutidos porque ficamos no aguardo do projeto de pesquisa (UnB - USP) ali em franco desenvolvimento.

    Para as janelas (escamas estruturais e erosionais) do embasamento pr-neoproterozoico que ocorrem no interior e periferia do SPR, algumas determinaes Rb-Sr foram introduzidas. O propsito era ter um elemento de pesquisa batedor de rochas mais antigas, a serem confirmadas pelo mtodo U-Pb, em etapa seguinte. E de certa forma, essa estratgia funcionou.

    Parte dessas amostras (Tabela 1, primeiro agrupamento) apresenta um bom alinhamento em uma reta de regresso do Arqueano da ordem de 2650 2600 Ma (amostras SRP-Gn-ME, SRP-Gn-JPR). No exame das determinaes U-Pb, esses valores de idade vo ser reiterados (como os dados U-Pb so de qualidade superior, a iscrona obtida com dados Rb-Sr no precisa ser apresentada graficamente neste trabalho), como ser visto a seguir. As demais amostras do embasamento (lascas inter a supracrustais) apontam idades pr-neoproterozoicas, num amplo quadro de disperso, com posio entre a reta de regresso do Arqueano e aquela de 635 Ma emprestada dos granitos (ortognaisses) colisionais e supracrustais, o que era plenamente esperado pela posio tec-tnica das mesmas (amostras SRP-Gn-Faz, SRP-Gn-Mand).

    Pores do embasamento toniano

    No embasamento toniano do SRP, o primeiro destaque de determinaes a ser feito aquele referente aos ortognaisses porfirticos do noroeste a leste de Paulistana (Fazenda Afeio), que pela primeira vez apontou a presena de rochas de idade

  • Evoluo geolgica do Sistema Riacho do Pontal

    - 73 -Geol. USP, Sr. cient., So Paulo, v. 15, n. 1, p. 55-93, Maro 2015

    toniana no embasamento do SRP (Jardim de S et al., 1988; Jardim de S, 1994; Van Schmus et al., 1955). A iscrona Rb-Sr ento obtida (dados na Tabela 1, 2 agrupamento) est publicada e de boa qualidade analtica, indicando idade de 968 35 Ma (erro ca. 4%), consoante 7 pontos que indicam razo inicial Ro = 0,7049. Esse valor de idade j fora confir-mado por uma determinao (TIMS) U-Pb (Van Schmus et al., 1995). Um novo valor de idade U-Pb foi apresentado recen-temente por Caxito (2013) para o corpo grantico de mesmas caractersticas do augen gnaisse de Afeio, localidade de Lagoa do Cavalo, situado a noroeste de Paulistana, com idade de 966 5 Ma. De forma que essas rochas ortognissicas do contexto de embasamento toniano esto relativamente bem esclarecidas (j pelo mtodo Rb-Sr), escala do presente tra-balho (Tabela 1, 2 agrupamento). As concluses obtidas pelo mtodo Rb-SR sero amplamente reiteradas com os dados obtidos pelo mtodo U-Pb, a serem discutidas no captulo seguinte. Os autores consideram importante essa apreciao prvia na metodologia Rb-Sr.

    Leucognaisses sincolisionais (tipo Rajada)

    Os leuco-ortognaisses micceos (tipo Rajada), sheets muito caracterstico do SRP, j foram resumidamente descritos. Preexistem determinaes de Dalton de Souza et al. (1979); Jardim de S et al. (1988); Santos e Silva Filho (1990); Jardim de S (1994), de forma que chegamos a um total de 17 dados (vide Tabela 1, 3 agrupamento). Em conjunto, esses dados se ajustam numa iscrona de referncia de ca. 635 Ma (erro elevado, ca. 10%), para uma razo inicial da ordem de R0 0,707. Essa idade de referncia foi escolhida baseando-se em trs itens: a regresso obtida no computador, os dados U-Pb, a serem discutidos a seguir, e por marcar o limite Criogeniano-Ediacariano na escala do tempo geolgico. Reiteramos que uma reta de referncia, apenas para que se possa observar a disposio dos dados Rb-Sr ao serem plotados (no estamos indicando uma idade de fato).

    Mais ao norte de Rajada, existe outro corpo alongado de natureza semelhante (adjacncias da cidade de Dormentes, entre essa cidade e Afrnio), onde coletamos trs litotipos leucocrtico (SRP-Gn-TGw) a mesocrticos (TGb e TGg). Essas amostras apresentaram dados analticos que se ajus-tam sem (maiores) problemas na linha de regresso de 635 Ma, reforando a sua qualificao. Como ser visto, esses valores de idade foram confirmados pelas determinaes U-Pb (vide discusso de SRP- Gn-Raj, mais a frente), deste trabalho e do trabalho de Caxito (2013). Esses dados esto expostos na Tabela 1 (terceiro agrupamento), e em conjunto participam do diagrama isocrnico da Figura 8A.

    Na mesma localidade de Rajada, Pernambuco (aude pblico), gelogos da CPRM (Dalton de Souza et al., 1979) haviam coletado trs amostras (JM-1, 2, 3) cujos dados ana-lticos se situam pouco acima da reta referida. Elas aparecem

    no diagrama (Figura 8A), e so interpretadas como da mesma idade, a partir de protlitos com razo inicial mais elevada (ou seja, estariam numa iscrona paralela quela principal).

    Supracrustais

    Por seu turno, algumas determinaes Rb-Sr foram con-duzidas nas supracrustais, em xistos s. l. (complexos Casa Nova, Santa Filomena, etc.). Verificamos que os dados analticos desses litotipos metamrficos se ajustam sem problemas na mesma linha de regresso isocrnica (traa-das nas Figuras 8A e 9) traada para aqueles leucognaisses (Rajada) j discutidos. A maioria dos dados analticos se ajusta (dados na Tabela 1, quarto agrupamento), com duas excees: SRP-Fi-SFi, filitos (do Santa Filomena) e SRP- T- NAF, metatufos (do Monte Orebe). Em ambos os casos os exames petrogrficos e de catodoluminescncia apontaram uma contribuio significativa de detritos de embasamento prximo. Elas devem ser entendidas como da mesma idade (o que veio a ser confirmado por U-Pb), mas partindo de razes iniciais bem mais elevadas do que 0,707 e posicio-nadas em provveis iscronas paralelas quela de referncia

    Rochas do Grupo Chapada Diamantina, ao sul do bloco de Mimoso

    Rochas metassedimentares clsticas do Grupo Chapada Diamantina foram coletadas a cerca de 140 km ao sul do Rio So Francisco (Tabela 1, ltimo agrupamento), na parte mais ao sul do chamado bloco de Mimoso (Brito Neves et al., 2012), vila de Rodoleiros, Bahia. Esses metasse-dimentos de baixo grau apresentaram um quadro distinto (rochas riqussimas em Rb), mas ratificante da extensi-vidade dos processos ditos brasilianos, adentrando o crton. Todas essas rochas de natureza peltica e quatzo-pelticas (clssicas litologias QPC) esto metamorfizadas e apresentam idades convencionais ediacaranas, de certa confiabilidade por causa das elevadas razes Rb-Sr (todas com 87Rb/86Sr > 20). Entretanto, apenas um dado (CHD-R-E) se alinharia na iscrona de 635 Ma (exposta nas Figuras 8A e 9) e os demais dados (CHD-R-C4 e CHD-R-D1) se situariam de forma dispersa abaixo da iscrona 630 Ma, com idades convencionais prximas a 500 Ma, que atribumos disperso posterior ao metamorfismo brasiliano ali registrado.

    Os resultados com fraes finas de mica (K-Ar, Sssenberger et al., 2014) foram muito interessantes, com idades indicando valores de 630 650 Ma para o resfria-mento regional, de certa forma compatveis com esses dados Rb-Sr e aqueles (Rb-Sr e U-Pb) dissertados para as gran-ticas sincolisionais, do interior do SRP. Certamente, esse um tema especfico para pesquisas no futuro (at onde vai e como se propagou o metamorfismo Ediacarano?).

  • Brito Neves, B. B. et al.

    - 74 - Geol. USP, Sr. cient., So Paulo, v. 15, n. 1, p. 55-93, Maro 2015

    Granitos e sienitos do norte da Barragem de Sobradinho

    Na poro sul do SRP (imediaes do lago de Sobradinho), Jardim de S (1994) e Cid et al. (2000) identificaram alguns pequenssimos corpos de sienitos e granitos alcalinos (slica-saturados), que ostensivamente cor-tam as supracrustais pelticas metamorfizadas do SRP

    (inclusive ostentando vrios xenlitos dessas supracrus-tais). Cinco amostras dessas rochas (sienito alcalino da Serra da Esperana, Tabela 1, penltimo agrupamento), analisados pelo mtodo Rb-Sr consignaram uma regres-so isocrnica de 555 20 Ma, para uma razo inicial de 0,7068, que apesar do pequeno nmero de dados de boa qualificao (MSWD = 0,93). Essa iscrona est publi-cada nas referncias mencionadas.

    Figura 8. (A) Diagrama isocrnico para as vrias determinaes Rb-Sr de diferentes fontes (Dalton de Souza et al., 1979, retngulos; Jardim de S et al., 1988, crculos abertos; Santos e Silva Filho et al., 1990, losangos; vide referncias) e deste trabalho (crculos pretos) nos gnaisses tipo Rajada. As diferentes amostras partiram de razes iniciais (87Sr/86Sr) distintas, de forma que a disperso dos pontos plenamente compreensvel. A idade de referncia escolhida para o conjunto (vide discusso no texto), e admitida como poca principal de remobilizao isotpica regional) de ca. 635 Ma, para uma razo inicial da ordem de 0,707 (com erro bastante elevado ca. 10%). Vide discusso no texto e os resultados U-Pb (discutidos mais frente); (B) os gnaisses Rajada na localidade tpica, barragem da cidade topnima, com foliao de baixo ngulo (ca. 20 N-NW), expondo vrios indicadores cinemticos de transporte para sudeste; (C) os gnaisses tipo Rajada na localidade de Tanques Grandes (SRP-Gn-TG), onde se observa conspicuamente as relaes entre estes ortognaisses sincolisionais e intercalaes diversificadas de supracrustais xistosas (bolses de xistos entre gnaisses placosos).

    A

    B C

  • Evoluo geolgica do Sistema Riacho do Pontal

    - 75 -Geol. USP, Sr. cient., So Paulo, v. 15, n. 1, p. 55-93, Maro 2015

    Figura 9. Diagrama isocrnico traado para os resultados obtidos nas determinaes Rb-Sr em metamorfitos. A iscrona traada para referncia foi emprestada da Figura 8A (dos gnaisses Rajada, pelos mesmos motivos ali discutidos). De seis determinaes, quatro se acomodam de forma aceitvel na linha de regresso; uma se situa bem acima (SRP-T-NAF, metatufos), e outra destacadamente abaixo (SRP-Fi-SSFi, retrometamorfismo?). Discusso no texto.

    DETERMINAES GEOCRONOLGICAS PELO MTODO SM-ND

    Algumas determinaes Sm-Nd foram realizadas para com-plementar as observaes j hauridas nas determinaes Rb-Sr j discutidas. Os dados obtidos por esse mtodo esto na Tabela 2, e expostos na Figura 10, tendo sido coletadas essencialmente amostras de rochas do embasamento, gra-nticas brasilianas e supracrustais.

    As rochas do embasamento apresentaram valores de ida-des TDM arqueanos e valores de Nd(0) negativos, elevados (abaixo de -35), no deixando dvidas da origem crustal antiga (do alm-pas) e a similaridade com aquelas rochas do embasamento do CSF (Dantas et al., 2010).

    As rochas granticas (gnaisses tipo Rajada) apresenta-ram valores e TDM do Estateriano (1) e do Ectasiano (2) e valores de Nd(0) francamente negativos (entre -7 e -17), deixando clara uma histria de residncia crustal prvia diversa e significativa. Embora sejam rochas de origem gnea, a contribuio de protlitos mais antigos fica clara, como j se deduzira das observaes de campo e tambm das observaes de lmina delgada.

    O leque de dados das supracrustais mais amplo, mas no muito diferente daquele apresentado pelos granitoi-des tipo S acima descritos. Os valores de idades TDM so parcialmente do paleoproterozoico e do mesoproterozoico (as melhores, sem fracionamento). Os valores de Nd0 so

    SPSNome de campo

    Rocha Local CoordenadasSm

    (ppm)Nd

    (ppm)147Sm/144Nd Erro 143Nd/144Nd Erro

    F (Sm/Nd)

    TDMGa

    Nd (zero)

    5181 SRP T- NAF Tufo Afrnio 9058926/258955 6,956 34,460 0,1221 0,0005 0,511806 0,000005 -0,38 2,1 -16,2

    5558 SRP- Fi- SFi Filito Santa Filomena 9065000/322000 12,102 59,382 0,1232 0,0005 0,511823 0,000005 -0,35 2,1 -15,9

    5560 SRP- Xis --JuG Xisto biottico Juazeiro Grande 9098000/304000 6,851 34,932 0,1189 0,0005 0,512206 0,000008 -0,40 1,3 -8,4

    5183 SRP- Gn -32 Gnaisse Fazenda Satisfeito 9052222/299285 5,642 28,949 0,1159 0,0005 0,512041 0,000013 -0,40 1,6 -11,5

    5565 SRP- Gn- LIV Gnaisse Livramento 9086552/310509 5,418 41,035 0,1093 0,0006 0,512214 0,000013 -0,44 1,2 -8,25

    5184 SRP Ch 33 Metachert Fazenda Satisfeito 9036588/296065 0,354 1,291 0,1655 0,0001 0,512330 0,000013 -0,16 2,3 -6,0

    5562 SRP Gn Faz Ortognaisse Fazendinha 9103852/256613 8,811 32,838 0,1623 0,0001 0,512582 0,000008 -0,18 1,4 -1,1

    5182 SRP Gn BB Gnaisse Barra Bonita 9053806/310501 3,405 15,453 0,1180 0,0005 0,511541 0,000009 -0,40 2,1 -15,5

    5561 SRP Gn MEOrtognaisse

    MilonticoMorro do Estreito 9104054/300508 2,850 20,642 0,0841 0,0005 0,510651 0,000010 -0,55 2,8 -38,4

    5559 SRP Gn JPR Ortognaisse Fazenda JRP 9105350/2955161 13,624 89,353 0,0922 0,0005 0,510661 0,000008 -0,53 3,0 -38,6

    5562 SRP Gn Faz Ortognaisse Fazendinha 9103852/256613 8,811 32,838 0,1623 0,0001 0,512582 0,000008 -0,18 1,4 -1,1

    5564 SRP Gn Mand Ortognaisse Mandacaru 9088658/252213 2,454 5,368 0,2586 0,0016 0,512585 0,000001 -0,42 2,5 -25,3

    5566 SPAB Gn St Rita Ortognaisse Santa Rita 9138562/366593 3,843 20,556 0,1119 0,0005 0,511235 0,000001 -0,43 2,5 -25,3-

    5385 SRP Gn Ext Gnaisse Fronteira PE-PI 9081866/302110 2,556 11,215 0,1389 0,0008 0,511831 0,000014 -0,29 2,5 -15,5

    5655 SRP Gn N Liv Gnaisse Norte Livramento 9102636/295991 2,345 16,424 0,0863 0,0005 0,510535 0,000005 -0,56 2,8 -35,1

    5386 SRP Gn N Livb Gnaisse Norte Livramento 9102636/295991 2,31 65,95 0,0206 0,0001 0,512135 0,000006 -0,90 0,5 -9,8

    5385 SRP Gn 34 Gnaisse Sul Dormentes 9039946/295243 5,463 24,065 0,1353 0,0008 0,512366 0000014 -0,30 1,3 -5,3

    6550 SRP Gn TGw Gnaisse Tanque Grande 9065392/300954 4,55 30,68 0,0935 0,0006 0,512028 0,000011 -0,52 1,3 -11,9

    6551 SRP Gn TGb Gnaisse Tanque Grande 9,56 56,05 0,1031 0,0014 0,511592 0,000031 -0,48 1,5 -16,5

    5388 SRP Gt BMMeta

    trondhjemitoBarra do Marinho 9085200/298632 10,424 52,802 0,1194 0,0009 0,512233 0,000014 -0,39 1,3 -5,91

    Tabela 2. Dados analticos das determinaes Sm-Nd.

    Importante destacar as relaes de campo claramente intrusivas dessas rochas e de sua alocao em um perodo de relaxamento tectnico e distenso. Esses eventos, por-tanto, se situaram cerca de 80 Ma (635M 550 Ma = 80) depois do metamorfismo principal j discutido com os dados Rb-Sr de granitoides e supracrustais (no considerando os erros analticos apresentados).

  • Brito Neves, B. B. et al.

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    francamente negativos, situados entre -5 e -16, atestando a procedncia de fontes contribuintes com histria crustal prvia. Essa importante contribuio das fontes de emba-samento foi tambm observada quando dos processos de separao e anlise dos zirces detrticos. Se houve contri-buio juvenil (em que acreditamos ter havido), ela no foi detectada ainda, e/ou se encontra mascarada pela predomi-nncia da participao de detritos continentais.

    DETERMINAES GEOCRONOLGICAS PELO MTODO U-PB

    As tabelas de dados U-Pb obtidos neste estudo podem ser consultadas em tabelas complementares (http://www.igc.usp.br/fileadmin/files/revista/arquivos_na_pagina/SC_v15_n1_a5_tabs.pdf)

    Rochas do Embasamento (backland de Morro do Estreito) ao norte do SRP

    Duas amostras foram selecionadas para determinao U-Pb:1. SRP-Gn-ME: ortognaisses granodiorticos (coordena-

    das: 300.708; 9.104.074);2. SRP-Gn-JPR: ortognaisses rseos parcialmente migma-

    tizados e cisalhados (coordenadas: 297.161; 9.107.356).

    Devemos colocar aqui, antes da discusso de dados, a inviabilidade (tempo, nmero de pginas, entre outros) de discutir os mtodos e processos dessas anlises U-Pb, que se encontram em muitas publicaes prvias. Como a maioria absoluta dos dados foi gerado no CPGeo-USP, recomendamos para detalhes a leitura da sntese recente de Sato et al. (2009).

    A primeira amostra (Morro do Estreito) foi inicialmente datada pelo mtodo TIMS, fornecendo uma discrdia de qua-lidade sofrvel de 2.758 25 Ma, com intercepto inferior de ca. 760 Ma (no apresentada em figura). Uma seguinte determinao U-Pb por laser ablation (LA) foi realizada, que produziu uma discrdia de muito boa qualidade (Figura 11) com intercepto superior de ca. 2.624 22 Ma e intercepto inferior ca. 650 79 Ma.

    Esses valores de idade considerados de boa qualidade so compatveis com aqueles dados j apontados pelo mtodo Rb-Sr (e os ratificam), j comentados: rochas do Arqueano retrabalhadas/cisalhadas pelos processos sobrepostos do Criogeniano/Ediacarano. Os valores de MSWD (< 5) rati-ficam a boa qualificao das idades.

    Para a segunda amostra, coletada na Fazenda JPR, pouco mais ao norte da anterior, foi obtida tambm por TIMS uma discrdia (sofrvel), com intercepto superior de 2745 59 Ma e intercepto inferior de 662 40 Ma, que no foi traada de propsito, pois o espalhamento muito grande. Esses valores de idades obtidos so coerentes e complementares aos dados da amostra anterior e daqueles dados j indica-dos pelo mtodo Rb-Sr. Interessante notar na concrdia (Figura 12A) que h alguns zirces de idades concordantes bem mais velhas ( 3000 Ma), que so sugestivos de pr-via participao de protlitos mesoarqueanos nesse bloco do Morro do Estreito, o que imprescinde investigaes adi-cionais (mtodos m