contratos pedagÓgicos e estatuto de … · ou esparsa, causando danos a uma ou mais pessoas em...

49
1 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL CONTRATOS PEDAGÓGICOS E ESTATUTO DE CONVIVÊNCIA: ALTERNATIVAS PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA E DISCIPLINA NA ESCOLA AUTORA: PROFESSORA PDE CLAUDIA MARIA SCHEIDT PROFESSORA ORIENTADORA: MARIA DAS GRAÇAS DO ESPIRITO SANTO TIGRE PONTA GROSSA FEVEREIRO/2008

Upload: hadang

Post on 14-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

CONTRATOS PEDAGÓGICOS E ESTATUTO DE CONVIVÊNCIA: ALTERNATIVAS PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA E DISCIPLINA NA ESCOLA AUTORA: PROFESSORA PDE

CLAUDIA MARIA SCHEIDT

PROFESSORA ORIENTADORA: MARIA DAS GRAÇAS DO ESPIRITO SANTO TIGRE

PONTA GROSSA

FEVEREIRO/2008

2

DEDICATÓRIA: À minha mãe Therezinha, minha gratidão por me ensinar grandes lições com seus conselhos, mas sobretudo com seu exemplo de vida. Ao meu marido e companheiro Marcos pelo incentivo, compreensão, confiança e paciência com as “ausências” e as “neuroses” durante todo o desenvolvimento do curso. À minha filha Eduarda, meu “Raio de Sol”! À minha irmã Mirna por atenuar minhas ausências cuidando da minha filha para mim, com carinho, zelo e amor! À minhas colegas PDE: Adriane, Mara, Soeli e Sônia meu agradecimento por se tornarem grandes amigas e alegrarem meus dias! À minha professora, orientadora e amiga Graça, pelo conhecimento compartilhado e pelo carinho demonstrado!

3

Caros Professores e Professoras

Este caderno pedagógico foi especialmente elaborado pensando em você e

no seu cotidiano de sala de aula, considerando seus saberes e sua experiência

profissional para atuar em uma realidade complexa e diversificada, onde

poderão aplicá-lo ou adaptá-lo de acordo com a realidade da escola onde

lecionam.

Este material é uma produção resultante dos estudos realizados no

Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE e visa a melhoria da

qualidade de ensino embasada no enfrentamento de uma das problemáticas mais

recorrentes no cotidiano de nossas escolas: a violência e a indisciplina dos

alunos.

O caderno pedagógico que ora lhe apresentamos faz parte de uma

coletânea de 4 (quatro) Cadernos Pedagógicos, elaborados sobre a mesma

temática e assim apresentados:

Fascículo I - Violência na escola: construção coletiva de um plano de

intervenção

Fascículo II – Discutindo conceitos de violência, indisciplina, incivilidade

e bullying

Fascículo III – Contratos pedagógicos e estatutos de convivência:

alternativas para o enfrentamento da violência e da disciplina na escola

Fascículo IV – Por uma educação pela não-violência

Este material não pretende esgotar o assunto um assunto tão complexo.

Tem como intenção, servir de referência e estímulo ao professor na grande

tarefa de conduzir os alunos ao conhecimento e a uma formação cidadã.

Desejo que você professor tenha excelentes resultados com a utilização

deste material didático na escola.

4

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...............................................................................................................

5

1 – CONCEITUANDO OS TERMOS: VIOLÊNCIA, INDISCIPLINA, INCIVILIDADE E BULLYING ...................................................................................

9

2 - QUAL A IMPORTÂNCIA DE UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA DEMOCRÁTICA PARA AMINISTRAR CONFLITOS? ............................................................................................................................................

11

3 - CONTRATOS PEDAGÓGICOS ............................................................................. 13 4 - ASSEMBLÉIAS DE CLASSE .................................................................................. 16 5 - ELABORAÇÃO DO ESTATUTO DE CONVIVÊNCIA: ALTERNATIVAS PARA O ENFRENTAMENTO DA DISCIPLINA E VIOLÊNCIA NA ESCOLA ............................................................................................................................................

5.1 - ESFERAS DE ATUAÇÃO.....................................................................................

5.2 - PRINCÍPIOS DE CONVIVÊNCIA ......................................................................

5.3 - ELABORAÇÃO DAS NORMAS DA ESCOLA ..................................................

5.4 – ELABORAÇÃO DAS NORMAS DA CLASSE ..................................................

20 24 27 27 28

6- ATIVIDADES SUGERIDAS.....................................................................................

33

7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 48

5

Ao elaborar o meu plano de trabalho, para posterior implementação na escola, atendendo às exigências do PDE, procurei analisar que problemas mais incomodavam e interferiam no cotidiano escolar e no processo de ensino-aprendizagem e um dos problemas mais relevantes e de difícil intervenção, com o qual me deparava na minha prática pedagógica, foi o problema da “violência e indisciplina”, que em maior ou menor grau está presente em todas as escolas, em todas as modalidades de ensino e em todos os turnos. Afetando direta ou indiretamente um grande número de professores.

Em função da escolha da temática, foram levantados os seguintes questionamentos:

• Quais os problemas relacionados à indisciplina e violência que mais incomodam no ambiente escolar? Com que freqüência ocorrem? Como têm sido resolvidos?

• Como enfrentar e tentar resolver, ou ao menos, melhorar os conflitos, os problemas de comportamento e indisciplina que tanto incomodam e perturbam o cotidiano escolar?

• Como fazer para estabelecer regras de convivência que sejam claras para os alunos e aceita por eles?

• Como administrar a “quebra” destas regras? O que pode ser aplicado ao infrator, e de que forma decidir e executar as ações?

• Como padronizar alguns comportamentos dos alunos, para que determinadas condutas tornem-se um consenso?

Do resultado deste trabalho de pesquisa, da minha experiência como pedagoga e convivência quase que diária nas escolas com os problemas de disciplina, conflitos e violências e as dificuldades e limitações em seu enfrentamento e, sobretudo, da minha vontade sincera de modestamente contribuir oferecendo possibilidades de melhoria, de redução e prevenção destas situações, é que se originou a produção deste caderno pedagógico. Um trabalho simples, com sugestões possíveis de serem executadas, para facilitar o convívio entre os seus pares na escola, apresentando alternativas para administrar

6

democraticamente estes problemas que tanto interferem e perturbam o cotidiano escolar.

Este fascículo foi organizado em dois capítulos assim dispostos: 1º - Contratos Pedagógicos: significados, pressupostos e aplicabilidade. 2º - Estatuto de Convivência: como organizar acordos em consenso de princípios de convivência. É uma estratégia conjunta que se baseia no “desenvolvimento das normas de maneira participativa”.

Com este fascículo, não temos a pretensão de apresentar soluções irrefutáveis para resolução dos problemas de violência, indisciplina, incivilidade ou de bullying na escola, mas apontar estratégias de intervenções que podem ajudar, e muito, a minimizar essas ocorrência através da construção coletiva das regras de convivência, criação de um estatuto e de contratos pedagógicos como forma democrática de gerir conflitos.

Esperamos através deste trabalho, despertar a coletividade escolar para a implantação de uma política de prevenção e consequentemente redução da incidência de situações de violência e indisciplina, favorecendo a incursão de valores morais e de boas condutas, de respeito mútuo, do desenvolvimento do sentimento de pertinência, de responsabilidade e de identidade pessoal e social dos alunos, e desta forma, evidentemente, melhorar o processo de ensino-aprendizagem que deve ser a essência de qualquer instituição educacional.

Nós educadores temos convivido com muitos comportamentos inoportunos praticados por nossos alunos, como por exemplo: nas salas, durante as aulas, é comum o aluno chegar atrasado sem justificativa plausível; sair da sala sem pedir permissão nem avisar aonde vai; atrapalhar as explicações do professor com atitudes de desinteresse, pouco caso, conversas paralelas não pertinentes ao conteúdo; deboches; uso de celulares; uso de palavras de baixo calão; desrespeito com colegas ou com o professor; gazear e até agressões físicas, entre outros acontecimentos com os quais nos deparamos no dia-a-dia de nossas escolas sem saber muito bem como resolver, visto que para a maioria destes alunos as medidas aplicadas pelas escolas são consideradas muito brandas, e portanto, ineficientes.

Os alunos costumam expressar este sentimento, em relação às sanções aplicadas pela escola, através de uma frase que já se tornou bastante conhecida: “- Não dá nada!” (e que agora, já tem até um complemento: “- E, se der, dá muito pouco” ).

Essa realidade com a qual me defronto deixa-me profundamente preocupada no sentido de que comecemos a confundir a regularidade destes acontecimentos com a banalidade dos mesmos. Por mais difícil que nos possa parecer, a reversão deste quadro de violência em que nos encontramos, não pode nunca ser encarada como natural! Por mais enfraquecidos que possam estar os

7

valores morais, não podemos concordar que estejam “fora de moda” e enterrá-los de vez. Embora seja verdadeira a constatação de que a escola não se vê com autonomia suficiente, nem tampouco se vê como detentora de medidas punitivas capazes de dar conta dos conflitos por ela enfrentados, por este motivo, muitas vezes erroneamente encaminha casos de indisciplina para o Conselho Tutelar que também não se vê como articulador de soluções, ou ainda para a Polícia Militar que na maioria das vezes não têm o preparo para lidar com estas situações (Tigre, 2002), não podemos deixar de fazer a nossa parte.

Sabemos que o aumento da violência na escola e a mudança de perfil do nosso aluno é reflexo do aumento da violência e da mudança da própria sociedade. O padrão social de comportamento vai se adaptando e se reformulando conforme as exigências do modelo econômico. É o capitalismo selvagem dos dias atuais, da era da globalização que valoriza essencialmente o “ter” em detrimento do “ser”, que valoriza o subjetivismo, o egoísmo, o relativismo e o imediatismo, e que por consequência tem “produzido” jovens com este perfil: sem projetos de futuro, sem sentimento de pertinência, laços familiares enfraquecidos, excessivamente influenciados pelos apelos da mídia e avanços tecnológicos, desinteressados pelo estudo que já não é mais visto como meio de ascensão social. Virtudes como solidariedade, companheirismo, respeito, honestidade, tolerância e modéstia não são muito estimulados nas relações de convivência, tanto nas mais próximas como família e o círculo de “amigos” quanto na escola ou no trabalho.

As regras que regem essa nova forma de convivência são: o individualismo, o subjetivismo, o egoísmo, enfim, o capitalismo. É à necessidade de levar vantagem em tudo, e daí a brutalidade e a intolerância e, portanto, a violência. É cada um por si. Essa maneira egoísta de viver, entre outras, é uma das causas da incivilidade, do desrespeito às regras de convivência social, das transgressões morais, da indisciplina, da violência. Para muitos, “ter” é o sentido do “ser”.

Sabemos também, que as condições de trabalho do professor são precárias. Enquanto a sociedade se transforma com a velocidade do vento, lançando mão dos avanços científicos e tecnológicos, a escola se mantém quase inalterável, tendo ainda, como instrumento mais utilizado para ministrar aulas, o quadro negro (que é verde) e o giz.

Os baixos salários acabam por sobrecarregar os professores que quando podem fazem tripla jornada de trabalho, em escolas diferentes, fazendo com que percam o sentimento de pertinência e com ele o senso de compromisso, causando desmotivação, apatia e resistência às mudanças propostas na tentativa de superação de conflitos.

Diante de tantas dificuldades, nos perguntamos:

8

Segundo Tigre (2002) :

É ingenuidade afirmar que apenas propostas pedagógicas resolveriam o problema da violência na escola, uma vez que a problemática é extremamente complexa e associada a uma multiplicidade de fatores. No entanto, a escola precisa perceber que o seu papel na formação dos alunos vai muito além do ensino de conteúdos e deve abranger a formação da pessoa e do cidadão. Para que isso ocorra, não pode se furtar de proporcionar aos jovens o envolvimento em projetos de cooperação e de participação em atividades sociais, criando um espaço público em seu interior, que seja capaz de sinalizar para as crianças e jovens que a escola tem um valor positivo.

Mas, a escola não pode se furtar de tentar fazer a sua parte, tendo por base os argumentos entre outros de Silva apud Candau (1995), é importante que “a escola seja um espaço onde se formam as crianças e os jovens para serem construtores ativos da sociedade na qual vivem e exercem sua cidadania” e estes autores referendando Sime (1991) chamam a atenção no sentido de que esta proposta educativa deve ter como eixo central a vida cotidiana, vivenciando “uma pedagogia da indignação e não da resignação. Não queremos formar seres insensíveis e sim seres capazes de se indignar, de se escandalizar diante de toda forma de violência, de humilhação. A atividade educativa deve ser espaço onde expressamos e partilhamos esta indignação através de sentimentos de rebeldia pelo que está acontecendo”.

9

1 – CONCEITUANDO OS TERMOS: VIOLÊNCIA, INDISCIPLINA, INCIVILIDADE E BULLYING

Para se obter resultados positivos na intervenção dos conflitos interpessoais, problemas de indisciplina e/ou violência, é imperativo compreendê-los. Uma boa maneira de começar é realizando a conceituação dos termos para melhor compreender o que significam, visto que, só assim será possível distinguir e identificar cada caso, o que também servirá de referencial ao educador para poder dosar, encaminhar para atendimento específico ou especializado, se for o caso, e ainda, adequar as penalidades cabíveis conforme a ação praticada pelo aluno.

VIOLÊNCIA:

Segundo, Michaud (1989), a violência ocorre quando, em uma situação de interação, um ou vários autores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou mais pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais.

É nesta abordagem do autor que embasamos os estudos desta pesquisa, entendendo por “violência”, não apenas aquelas atitudes mais evidentes de hostilidades e agressividades, mas também aquelas que ocorrem de formas mais sutis, e nem por isso menos dignas de atenção. Dentro deste conceito, alguns atos de “indisciplina” podem ser considerados como formas de violência.

INDISCIPLINA:

Especificaremos por “indisciplina”, toda ação moral executada pela

pessoa e que esteja em desacordo com as regras ou leis construídas coletivamente. Embora atualmente o conceito de indisciplina pareça ter sido incorporado ao da violência, é possível perceber distinções entre os mesmos dependendo das situações ou maneiras como ocorrem.

Segundo Fernández (2002), mais do que descumprir regras, a indisciplina pode significar um rico manancial de informações sobre como os

10

alunos vivem a escola e seus conteúdos. Escapar ao controle é uma forma de questioná-lo, minando as relações de poder univocamente estabelecidas.

INCIVILIDADE: “Por incivilidade se entende uma grande gama de fatos indo da

indelicadeza, má criação das crianças ao vandalismo, passando pela presença de vagabundos, grupos juvenis. As incivilidades mais inofensivas parecem ameaças contra a ordem estabelecida transgredindo códigos elementares da vida em sociedade, o código de boas maneiras. Elas podem ser da ordem do barulho, sujeira, impolidez, tudo que causa desordem”... (Debaribeux, apud Latterman 2000, p. 37).

BULLYING:

Bullying - palavra de origem inglesa, adotada para definir o desejo

consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão. Nos estudos sobre o problema de violência escolar é utilizado para conceituar os comportamentos agressivos e anti-sociais (Fante, 2005).

Bully (subst.) = valentão, tirano; como verbo = brutalizar, tiranizar, amedrontar.

Definição: Subconjunto de comportamentos agressivos, caracterizado por sua natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder, caracterizado pelo fato de que a vítima não consegue se defender com facilidade.

Definição universal: conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento, levando a vítima à exclusão, causando danos físicos, morais e materiais.

"Aproveitar um bom conselho requer mais sabedoria do que dá-lo" Collins, John

11

2- QUAL A IMPORTÂNCIA DE UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA DEMOCRÁTICA COMO ALTERNATIVA PARA AMINISTRAR CONFLITOS?

Investir na organização administrativa e pedagógica numa instituição escolar, refletirá positivamente nos problemas de convivência “a razão de ser da (in)disciplina escolar é a própria lógica do cotidiano escolar” (Lajonquière, 1996, p. 36; IN: Fortuna, 2002, p.87).

Alguns autores vão ao extremo de defender o auto-governo nas escolas. Por exemplo, Piaget afirmava em 1948 que "unicamente a vida social entre os próprios alunos, isto é, um auto-governo levado tão longe quanto possível e paralelo ao trabalho intelectual em comum, poderá levar a esse duplo desenvolvimento de personalidades donas de si mesmas e de seu respeito mútuo." (Olympio, 1996. p. 63). Apesar de radical, a idéia apresenta um ponto de vista que parece claro: só crianças que dialogam, discutem, tomam e aplicam decisões em equipe estarão se preparando bem para ser cidadãos de uma democracia, ou seja, para dialogar e tomar decisões em conjunto sem recorrer ao autoritarismo. Veja o que dizia Piaget (em 1932) sobre como conseguir isso:"O problema é saber o que vai preparar melhor a criança para seu futuro papel de cidadão. Será o hábito da disciplina exterior adquirido sob a influência do respeito unilateral e da coerção adulta, ou será o hábito da disciplina interior, do respeito mútuo e do auto-governo?" (Piaget, 1994). Não que a disciplina não seja importante para Piaget e para muitos outros autores. Muito pelo contrário. Eles acham que ela é tão importante que só pode ser implantada pelas próprias crianças.

Uma escola em que os alunos, além de aprenderem sobre os grandes problemas do país e do mundo, têm muitas chances de debater entre si, de criar regras, de trabalhar em equipe será um lugar onde haverá mais construção da cidadania do que em locais onde as crianças apenas recebem, passivas, lições sobre a democracia.

No entanto, para garantir o sucesso em qualquer intervenção disciplinar precisamos dar clareza aos alunos e demais envolvidos das regras que organizam o espaço e a convivência escolar. Regras que para nós podem ser

12

óbvias, para o aluno o descumprimento pode ocorrer por não disporem deste nível de consciência e de entendimento. No entanto, o esclarecimento das normas por si só não é suficiente para garantir o convívio social saudável, respeitoso, equilibrado e positivo.

Dar a conhecer as regras, identificar seus princípios, reconhecê-las como elementos que nos proporcionam segurança e saber que, de fato, elas são praticadas é um trabalho constante que precisa ser realimentado com freqüência no dia-a-dia da escola.

O momento ideal para realização deste trabalho é o início do ano. Sabemos que muitas escolas nesta época divulgam seus Regimentos escolares: aos pais na ocasião da matrícula, e aos alunos nos primeiros dias de aulas. Sem dúvida, é importante e ajuda, mas não é suficiente. Daí, a proposta de elaboração de CONTRATOS PEDAGÓGICOS e de ESTATUTOS DE CONVIVÊNCIA como alternativas para o enfrentamento da Indisciplina e da Violência na Escola.

13

3- CONTRATOS PEDAGÓGICOS

A proposta dos contratos pedagógicos está fundamentada nos estudo de Aquino (2003), que defende que uma das funções da escola é educar indivíduos e formar futuros adultos que devem comportar-se de maneira responsável, autônoma e democrática, é lógico que na escola articulem-se mecanismos e estruturas que tornem isso possível. É aí que desponta a proposta de contrato pedagógico.

Trata-se de acordos ou combinados nos quais se estabelecerão conjuntamente as regras de convivência entre o grupo em questão, bem como, as conseqüências, ou seja, as penalidades cabíveis no caso da “quebra” de alguma destas regras. São estratégias livremente consentidas de organização e ritualização democrática da sala de aula, por meio da consagração dos papéis, diferentes e complementares, de professor e aluno.

Há um antigo ditado que reza: “O combinado não sai caro”. A sabedoria popular parece prenunciar que celebramos contratos (ora explícita, ora implicitamente) todo o tempo, em todos os momentos da vida.

Nesta proposta é imprescindível estabelecer com clareza os parâmetros de conduta entre ambas as partes, é preciso esclarecer que tipo de comportamento se espera do aluno, o que é o desejado e o aceitável e o que não é tolerável, portanto, não poderá ser admitido que o aluno faça, e vice-versa em relação à postura e procedimentos do professor.

“Primeiro, diga-me o que espera que eu faça e seja, para que eu possa esperar algo de você” – desse modo, passamos a cultivar expectativas acerca do outro e de nós mesmos, bem como a contar com parâmetros de julgamento de nossas ações e das alheias.

Diz o velho ditado popular que “prevenir é melhor do que remediar”, pensando assim, sugerimos ao professor que apresente a proposta do contrato no primeiro dia de aula, para depois ir fazendo os feedbacks necessários. Também é interessante no primeiro dia de aula, o professor promover uma socialização entre ele e o grupo, para se conhecerem melhor buscando a empatia, e deste modo aumentar o respeito e o sentimento de solidariedade entre ambos, bem como, evitar a idealização excessiva da figura do professor.

Vale lembrar que o modo de vida democrático não é uma disposição espontânea nem inerente às pessoas. Ela precisa ser cultivada incessantemente, isto é, posto que se aprende tem de ser ensinado sem cessar. “Só se ensina democracia fazendo democracia”.

Segundo Aquino (2003), um grupo passa por diferentes etapas progressivas no que se refere à validação e à tomada de consciência das regras:

14

• Imposição: quando ainda não se tem consciência do valor da regra; os alunos submetem-se a ela, mas desconhecem a razão de sua legitimidade.

• Consentimento: estabelece uma relação de causa e efeito; o aluno só faz sua parte, se o professor fizer a dele – exige controle externo. É hora de o professor antecipar-se aos alunos, não devendo esperar anuência imediata da parte deles. Trata-se de um momento ainda muito marcado pela reação às atitudes do professor. Os alunos até sabem o que deve ou não ser feito, mas quem inicia a ação e supervisiona o cumprimento das regras ainda é o professor.

• Autodisciplina: nesta fase, já há tomada de consciência, há maturidade suficiente que faz com que o aluno respeite as regras por vontade própria, sem que haja necessidade de controle do professor. Trata-se do auge da intervenção escolar, ou seja, o momento em que eles sabem o que deve ser feito e fazem-no por vontade própria, encarando tais regras como parte de seu repertório pessoal e, por conseguinte, dispensando o professor da função de supervisão coletiva.

Quando nos referimos à contratos, estamos falando de acordos, de algo que foi construído, combinado e aceito pelo coletivo. Como tal, para ser respeitado exige que ambos os envolvidos cumpram o que foi “acordado”.

Entretanto, estabelecer coletivamente um plano contratual que englobe as regras de trabalho e de convivência não significa, contudo, que percalços não surgirão no meio do caminho. Burlas das cláusulas contratuais inevitavelmente despontarão no processo, sejam elas individuais ou coletivas, seja de modo aberto ou velado.

O rompimento das regras contratuais pode ocorrer diante de quatro situações específicas: ambigüidade das regras; rigidez excessiva das mesmas; indisposição de algum(ns) aluno(s); falta de lastro ético do professor (Aquino, 2003).

No primeiro caso, a transgressão acontecerá quando as cláusulas não estiverem bem claras ou razoáveis. Os alunos passam, então, a não ver mais sentido nas regras.

Na segunda situação, as cláusulas estão superestimadas e não se ajustam, portanto, às possibilidades factuais dos implicados. Elas necessitam, desse modo, de uma adequação à realidade do grupo. É hora de repactuá-las.

A terceira possibilidade de burla se dá quando, por alguma razão incontrolável, os alunos têm uma predisposição muito negativa em relação ao professor e resolvem sabotar as regras acordadas, como maneira de afrontá-lo pessoalmente.

15

A quarta possibilidade de transgressão pode se dar devido ao baixo comprometimento ético-profissional do professor, indicando sua falta de autoridade moral para fazer valer os acordos. Rompe-se, assim, a igualdade entre os deveres, e os alunos pressentem que apenas eles têm obrigações a cumprir.

Para garantir o êxito na aplicação dos contratos é imprescindível a contrapartida de todos os envolvidos.

Cabe lembrar também que o “Contrato Pedagógico” não pretende, nem pode substituir o Regimento Escolar, que é um documento de caráter obrigatório, elaborado pelas próprias instituições educacionais, desde que esteja em consonância com a LDB e o ECA e, que por sua vez, tem como um de seus objetivos normatizar condutas, prevendo direitos e deveres, advertências e outras penalidades, mas com um enfoque bastante diferenciado do Contrato Pedagógico, que se caracteriza por ser um acordo entre as partes, além de ter um campo de atuação mais delimitado, que é a sala de aula. No Contrato Pedagógico quando uma regra é quebrada, uma penalidade deve ser aplicada, porém, esta penalidade nunca é excludente, e tem que estar de acordo com o grau da falta cometida. Em nenhuma hipótese poderão ser aplicados castigos físicos ou maus-tratos psicológicos. As sanções são de responsabilidade coletiva e têm que ter um caráter inclusivo e sempre de reparação a regra acordada que foi desrespeitada.

O Contrato Pedagógico para surtir os resultados esperados necessita de manutenção constante, ou seja, de tempos em tempos as regras precisam ser “reavivadas”. Também não basta afixar um cartaz contendo a lista de itens com os quais todos concordaram. Esse é um trabalho diário que exige persistência do professor, sobretudo nos primeiros meses de aula. Além de exigir diretrizes para aplicação das sanções que de preferência, não devem demorar em serem aplicadas.

A aplicação dos contratos, não implica, nem significa transformar a sala de aula num espaço que sufoque a interação, as trocas e a criatividade. A sala de aula viva e produtiva não pode ser silenciosa, mas sempre será disciplinada. Ela se expressa tanto pelo silêncio da concentração como pelo ruído das vozes no diálogo.

Como é um modo democrático de administrar conflitos, as ações não devem ficar centradas exclusivamente nas mãos do professor. Então, como administrar estas questões? – Pois, é esta, a finalidade das Assembléias de Classe.

PARA REFLETIR

16

Registre, abaixo, suas primeiras impressões sobre a implementação do contrato pedagógico, como forma de gerir conflitos e problemas disciplinares. Quais contratos você já celebrou? Qual é a regra básica de funcionamento dos contratos?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4- ASSEMBLÉIAS DE CLASSE

As assembléias são mecanismos criados com a finalidade de sustentar o êxito na aplicação dos contratos pedagógicos. São momentos destinados para que o grupo-classe possa fazer uma auto-reflexão, tomada de consciência sobre si mesmo e discutir as questões consideradas importantes ou necessárias com o objetivo de alcançar e garantir a boa convivência, o respeito mútuo, e, portanto, a regulamentação deste convívio democrático. Para que as assembléias consigam alcançar os objetivos a que se propõem, torna-se imperativo destinar um espaço de tempo, uma vez por semana, para as reuniões, até que as mesmas se efetivem como hábito.

Nas assembléias deverão ser discutidos tudo que ocorre à turma, os problemas e dificuldades encontrados, os avanços, pois é através do diálogo que se poderão tentar solucionar os conflitos. Naturalmente, que a organização das assembléias variará conforme a clientela a que se aplica, tendo que se levar em conta sempre, a idade dos alunos.

Segundo Aquino (2003), no desenvolvimento das assembléias faz-se necessário seguir três momentos diferenciados: a preparação, o debate dos temas e a aplicação de acordos .

� Preparação Nesta etapa é necessário fazer uma listagem de todos os assuntos que

serão abordados na reunião, apontando os temas que deverão ser debatidos,

17

montando desta forma, a pauta do dia. As mesmas pessoas que organizaram a sessão também devem iniciar e presidir a discussão, tomando nota dos nomes dos querem intervir, dar a palavra e redigir os acordos em papel que depois serem apresentados em sala de aula. “O professor têm um papel duplo: intervêm pedindo a palavra como mais um do grupo, dando a conhecer suas opiniões, adotando uma atitude de ajuda no que diz respeito à maneira de conduzir os trabalhos e à observância do conteúdo e da orientação do debate” (Aquino, 2003, p. 86).

• Debate

Este segundo momento do “debate dos temas” privilegia o diálogo, que é a essência desta prática educativa democrática. Para que tudo transcorra bem, evitando desperdício de tempo com discussões intermináveis, deve-se definir a ordem dos temas e o objetivo se quer alcançar em cada caso. Nesta etapa o papel do professor é fundamental e exige dele, algumas atitudes humanistas básicas como: respeito para com todos, capacidade para acolher a diversidade de opiniões e firmeza com os alunos sempre que necessário. É o professor quem irá estabelecer e “cobrar” critérios no diálogo durante as assembléias, intervindo ordenadamente e pedindo a palavra, procurando se expressar com a máxima clareza, ouvir os companheiros com atenção e respeito, recordar o que foi dito, buscar acordos construtivos e estar disposto a cumpri-los. Esses critérios de qualidade não são pré-requisitos para realizar as sessões positivas. Ao contrário, são objetivos que vão sendo alcançados lentamente durante o processo, o que torna as assembléias altamente educativas.

� Aplicação dos acordos

Este terceiro momento da assembléia de classe tem por finalidade garantir que os acordos propostos nas discussões dos temas se efetivem e se cumpram no cotidiano da sala de aula. Para melhor chance de êxito, de tempos em tempos, é conveniente recordar aos alunos o que foi acordado, e também nas assembléias posteriores valorar o grau de cumprimento e as principais dificuldades que surgiram. Sabe-se que nem sempre é fácil cumprir o combinado, assim como nem sempre se consegue na primeira tentativa.

No que concerne aos resultados formativos das assembléias de classe, Puig apud Aquino (2003) aponta as seguintes capacidades:

• Colocar-se no lugar dos outros companheiros e imaginar como se

sentem; • Expressar a opinião própria de forma respeitosa e compará-la com

as demais; • Entender quais situações são problemáticas e comprometer-se

com sua melhoria;

18

• Defender uma postura pessoal, mas oferecendo razões para tal; • Participação e interesse por tudo o que afeta o grupo; • Colaboração entre os membros da classe (ajuda mútua); • Reconhecimento e apreço entre os participantes; • Respeito aos acordos coletivos; • Atitude de sinceridade; • Questões afeitas à solidariedade, igualdade, respeito às diferenças,

amizade, confiança e responsabilidade. Portanto, as assembléias além de ser um momento fundamental para

otimizar a vida dos alunos em sala de aula, desenvolvendo hábitos orientados para o fortalecimento do modo de vida democrático, também propiciam a formação de capacidades morais e a aquisição de atitudes e valores positivos. Estimular a participação política e o exercício da cidadania é o objetivo das Assembléias de Classe, cuja essência é a representação dos alunos. Todo direito implica em um dever. A escola é o primeiro espaço público por excelência em que o indivíduo inicia a experiência de cidadania. Por essa importante razão, os princípios e objetivos da Escola Móbile1 convergem para a formação de alunos que aprendam a participar de forma criativa na proposição e na resolução de problemas.

Constata-se, no processo de formação de alunos, que só se alcança o respeito e a legitimidade das leis na comunidade se, no dia-a-dia, abrem-se espaços para elaboração e discussão das regras de convivência, substituindo a obediência temerosa por relações de reciprocidade entre indivíduos. É diante de situações concretas e vividas no cotidiano da escola que os alunos experimentam o exercício do diálogo, ferramenta primeira das relações democráticas.

PARA REFLETIR

Após esta leitura, tente se imaginar aplicando estas estratégias com seus alunos. Num primeiro momento, quais seriam suas maiores dificuldades? Acredita na possibilidade de implantação? Sim ou não? Por quê?

1 Maiores informações sobre essa experiência desenvolvida pela Escola Móbile podem ser obtidas no seguinte

endereço <http://www.escolamobile.com.br>.

19

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

APÓS ESTA REFLEXÃO: troque idéia com seus colegas, e juntos procurem encontrar alternativas no enfrentamento das dificuldades encontradas. Lembrem que “duas cabeças ou mais pensam melhor que uma” e que a essência desta proposta é justamente ser interativa, democrática e coletiva.

20

5- ELABORAÇÃO DO ESTATUTO DE CONVIVÊNCIA: ALTERNATIVAS PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA E DISCIPLINA NA ESCOLA

Para organizar um Estatuto de Convivência, antes de tudo, é preciso ter

clareza do que se espera alcançar através dele. Qual o grau de importância de sua criação? Que benefícios ele irá trazer?

Sabemos que um ambiente indisciplinado, com pouca organização e comportamentos desrespeitosos ou até mesmo violentos, comprometem, e muito a qualidade do processo de ensino e aprendizagem. Também sabemos que as sanções e punições previstas nos Regimentos Escolares são limitadas, excludentes e muitas vezes ineficientes, o que gera nos alunos e profissionais da educação uma sensação de impunidade. Esta “impunidade” reforça os comportamentos negativos dos alunos, que não atribuem valor as atitudes tomadas pela escola, ou seja, para a maioria deles as punições são muito brandas e não acarretem maiores conseqüências. Os próprios alunos, como já mencionamos anteriormente, quando se pronunciam a respeito dos “castigos”, usam uma frase que já se tornou bastante conhecida: - não dá nada! -E, se der, dá muito pouco!

Partindo deste pressuposto, ainda que alguns professores acreditem serem responsáveis apenas pela produção de conhecimento e pelos conteúdos previstos para o ano letivo que segue, sendo a formação pessoal “exclusividade” da família, devem considerar a proposta do estatuto, bem como o tempo disponibilizado em sua implementação, como” investimento de rendas futuras à médio e longo prazo”, já que re-estabelecida a ordem e estabelecidas as normas de convivência, o ambiente será favorável a aprendizagem, melhorando as condições de trabalho do professor, ajudando-o, portanto a vencer os conteúdos.

A educação exige cooperação de todos os envolvidos. Os conflitos existem, onde existe convivência. Numa proposta de modelo de intervenção os professores e alunos devem comunicar-se de maneira amigável, procurando cooperar uns com os outros tentando resgatar os valores necessários para uma boa formação de cada indivíduo e que este possa aprender a relacionar-se em sociedade.

A forma como se fará a intervenção depende da clientela, do contexto em que está inserida, considerando principalmente a faixa etária.

O Estatuto tem que ser criado coletivamente, para que tenha força de execução e não fique descontextualizado, sendo aceito com muito mais facilidade pelo aluno, uma vez que este participou e “consentiu” os acordos nele propostos. É o “pensar juntos e criar normas”.

21

Segundo Fernández (2005), pensar juntos significa determinar as bases, definir os objetivos e os planos de atuação sobre os problemas de convivência e conflitos existentes dentro das escolas. O pensar juntos é o trabalho coletivo realizado para abordar em conjunto o mundo relacional. O trabalho em equipe, a negociação dos procedimentos, atenção à diversidade e a realização de tarefas variadas dentro de um grupo.

Dentro deste contexto, o professor deve criar um bom clima de trabalho promovendo a motivação e a organização dando ênfase ao respeito e a aprendizagem. Isso significa chegar a acordos, é “pensar juntos”. Para tanto, é imprescindível criar um ambiente propício, um clima relacional que seja justo, controlando os comportamentos agressivos e anti-éticos e estabelecendo os limites necessários à boa convivência. Sugerimos a você colega educador, se sentir muita resistência por parte dos alunos, antes de dar início à elaboração do Estatuto de Convivência, trabalhar previamente com eles atividades que despertem a sensibilidade, vontade de cooperar, o sentimento de pertinência ao grupo, respeito e solidariedade. Ao final do caderno você encontrará diversas opções de atividades sensibilizadoras e preparatórias que poderão servir de suporte para o início deste trabalho.

Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda no cumprimento de minha tarefa de

22

professor, aumenta em mim os cuidados com o meu desempenho. Se a minha opção é democrática, progressista, não posso ter uma prática reacionária, autoritária, elitista. Freire (1996).

Professor estressado

Não é fácil CONVIVER com tantas diferenças! Mas, ficaria bem mais fácil se todos tivessem princípios de convivência!

23

...Depois de ministrar suas aulas num ambiente agradável, o professor poderia sair alegre e descontraído, com a certeza do dever cumprido!

Entendemos que a escola é um sistema, bastante complexo, e que uma intervenção há de ser de múltiplas facetas. Devemos fugir dos conceitos fechados que unilateralmente consideram as causas dos problemas, permitindo que os professores manifestem aquelas queixas habituais de que os alunos estejam pouco motivados e demonstrem pouca base acadêmica além de má formação, e que os alunos declarem que as aulas sejam monótonas e aborrecidas dificultando a concentração e o entendimento correto, que os professores não lhes proporcionam a atenção desejada.

Também entendemos que a escola, apesar da presença de estudantes com dificuldades de comportamento devido a seu contexto sociocultural ou familiar, tem um papel importante na convivência. A criação de uma proposta social que favoreça as boas condutas, o respeito mútuo, a disciplina, o autocontrole, a responsabilidade e a correspondência é valor em si mesmo para a qual toda escola deveria ser orientada.

Os estudos sobre escolas eficazes correlacionam as variações de escola para escola dentro de um mesmo contexto social, como o “clima da instituição”, a consciência coletiva e a cultura dessa escola (Rutter, 1979). Isso implica um consenso, um sentimento assumido pela coletividade, que conduz a processos democráticos que levam a acordos ou entendimentos.

Nossas propostas tentam abordar estratégias preventivas de conflitos, ou seja, “não fazer é não prevenir”. Conhecer e apresentar a possibilidade de implementar ações preventivas para a melhoria das relações interpessoais na classe e na escola em geral significa começar a tomar consciência de que existe um problema que deve ser abordado junto à coletividade com caráter educativo e não somente punitivo.

Fernández (2005) afirma que: uma análise sincera da realidade educativa escolar conduz a uma proposta de questionamento em torno da ação educativa: “Queremos ser realmente educadores?”, “Será que somos realmente educadores?”, “O aluno com quem lidamos precisa ser acompanhado em seu

24

processo de crescimento pessoal?”, “Os projetos educativos e curriculares contemplam em sua formulação teórica a flexibilização dos conteúdos para potencializar uma educação mais ajustada às características de nossos alunos?”

Uma educação assim entendida exige a cooperação de todos os agentes. A convivência se produz e os conflitos se resolvem quando há a intervenção de diversas partes. Sempre é uma tarefa de múltiplas pessoas.

Portanto, a elaboração de normas implica chegar a um consenso, em muitos casos uma tarefa bastante difícil.

5.1 - ESFERAS DE ATUAÇÃO Conscientização O primeiro nível e elemento essencial para abordar os problemas de convivência é a “conscientização”. Chegar a expressar “aqui temos problemas” é um passo essencial para começar a abordá-los”, e um terceiro é “a convivência é um dever comum”. Esse processo de compreensão exige assimilar que os problemas de classe trazem uma responsabilidade compartilhada, que começa pelo professor que os tem e continua com o apoio dos outros professores. Denominamos este nível de “pensar junto”. Acreditamos existirem duas claras propostas de ação: • A coleta objetiva de dados, registro de incidentes, verificação de onde é

preciso intervir. • Proposta de criação de normas de maneira compartilhada, criação de um

sentimento de responsabilidade em comum para favorecer o clima escolar positivo.

Aproximação Curricular O segundo âmbito de atuação se denomina: “aproximação curricular”. Isso significa incluir de forma intencionada dentro do projeto curricular e programação de áreas, os temas relacionados com o desenvolvimento sociopessoal, ou seja, explicitar o “currículo escolar oculto” como objetivo

25

educativo. A orientação pedagógica e os procedimentos em classe têm um papel importante. Entretanto, os conteúdos específicos dessa temática também envolvem um desafio para os educadores. Cognição e emoção podem dar-se a mão em nossos processos de classe como elementos essenciais para o aprendizado.

A escola certamente pode ajudar os jovens a fundamentarem suas vidas em valores sólidos, éticos onde o “outro” tenha tanto valor e direitos quanto o “eu”. La Taille (1996) ao pensar no papel da escola neste contexto faz a seguinte colocação: a família tem muito peso e os valores nela presentes podem atrapalhar, ou ajudar e muito, o trabalho dos professores. Mas atrapalhar não significa impedir, e ajudar não significa substituir. É claro que a escola não é a única instituição responsável pela educação moral, no entanto, enquanto as escolas não se dotarem de uma pedagogia explícita de formação moral, não poderão legitimamente se queixar de problemas de incivilidade, desrespeito e violência.

Atenção Individualizada O terceiro âmbito de atuação é a “atenção individualizada”. Isso quer dizer que, apesar da boa atuação dos professores, das boas relações que se acredita existirem na classe, sempre haverá um número de alunos que precisará de atenção individualizada. No sistema educativo em vigor, essa atenção se concentra no aspecto acadêmico de recuperação de conteúdos atrasados, aulas de apoio para o fracasso escolar, diversificação para os alunos menos capacitados. Somente existem tratamentos específicos de habilidades sociais para alunos menos favorecidos e não é freqüente o tratamento com psicoterapeutas de alunos com problemas graves de conduta. A socialização em grupo e a aplicação de medidas sancionadoras em casos de indisciplina, além de cuidadosa atenção por parte dos educadores a alunos com necessidades e condutas desajustadas. Também se deve entender que os problemas dos alunos muito desordeiros, agressivos ou anti-sociais têm marcante caráter familiar, em grande número de casos. É por isso que as medidas de atenção individualizada devem passar pelos assistentes sociais. A escola não deve e nem pode suprir certas necessidades. Participação O quarto âmbito de atuação se denomina “participação”. A comunidade educativa deveria encontrar momentos, desculpas e caminhos que possibilitem a “convivência”. Esses momentos são favorecidos com a criação de atividades de cooperação, de participação, promovendo protagonistas e responsáveis,

26

principalmente entre os alunos. Dessa forma cria-se um sentimento de pertinência, de responsabilidade e de identidade pessoal e social. Esses sistemas de participação podem envolver a institucionalização de “atividades pró-sociais”, de ajuda e de bem-estar entre uns e outros, sem cair no “favoritismo” ou na petulância. A promoção das atividades voluntariosas, sua valorização e o status dentro da escola podem melhorar consideravelmente a qualidade da vida diária de uma escola, assim como os festejos ou as atividades extra-escolares. Organização Por último, o quinto âmbito de atuação se refere à “organização”. Nenhum dos aspectos anteriores pode realizar-se plenamente se não existir uma organização escolar que sustente e admita as mudanças, que favoreça momentos de encontros, que impulsione uma revisão das formas de proceder das equipes diretivas, o programa de horários e os lugares para levar a cabo as experiências são meios essenciais para poder começar a abordar de maneira conjunta os problemas de convivência. Também existem aspectos gerais de organização, como número de alunos, dimensões da escola, projeto arquitetônico etc., que são de grande importância. Podemos resumir o progresso dos diferentes âmbitos como “querer fazer”, “saber fazer” e “ter condições para fazer”. É muito difícil abordar todos os âmbitos em sua totalidade e integridade. Entretanto, é possível gerar uma atitude para o tratamento do conflito a partir da prevenção e de forma conjunta. Os resultados estarão em constante revisão e mudanças, pois, fazem parte de um processo; nada é imutável, como também não o são as normas. Por isso, é preciso cuidar do processo de trabalho e principalmente da colocação em comum, valorizando as contribuições e a importância de todos os membros da comunidade.

27

5.2 - PRINCÍPIOS DE CONVIVÊNCIA

Os princípios de convivência deverão levar em conta os seguintes aspectos:

4- Refletir sobre as necessidades, recursos e contexto, em que serão desenvolvidos.

5- Fixar-se em princípios morais baseados nos Direitos Humanos de igualdade e de respeito a todos os seres humanos.

6- Observar o caráter educativo em razão do tipo de instituição e seus peculiares projetos educativos.

7- Adequar-se à norma vigente sem exceder ou limitar o seu desenvolvimento.

8- Expressar-se em termos fáceis e compreensíveis para a maioria dos estudantes, pais e professores.

O processo de elaboração dos princípios de convivência pode ser

realizado por uma comissão que extrapole os aspectos mais significativos dos projetos educativos, apresentando-os ao Conselho Escolar para a sua revisão, e/ou por meio de uma sondagem de idéias junto aos educadores e estudantes, idéias que podem ser incluídas ou mudadas. 5.3 - ELABORAÇÃO DAS NORMAS DA ESCOLA

A elaboração das normas da escola é uma excelente estratégia para realizar uma sondagem de atitudes e de condutas dentro da instituição escolar. O processo de elaboração representa em si mesmo uma fonte de envolvimento, sensibilização e revisão das formas de execução. Como indica Bolívar (1995), o centro escolar se converte em “um espaço de edificação de valores comuns”, e o debate sobre as normas facilita essa edificação.

Uma das funções das normas é proporcionar estrutura à integração social para reduzir a incerteza, a confusão e a ambigüidade. As normas pressupõem um código justo e são alteráveis conforme variam as circunstâncias, as negociações e as necessidades. Elas são sujeitas a interpretações e, portanto, à necessidade de elabora-las e revisa-las por meio de um processo.

Há três tipos de normas distintas: • Normas gerais. • Normas de uso e de funcionamento.

28

• Normas de segurança.

Normas gerais Entendemos por normas gerais as que se baseiam tanto nos princípios de

convivência como nos direitos e deveres dos alunos. Devem considerar aspectos bem amplos e nunca se restringir a uma lista inesgotável de normas e sanções.

Uma forma simplificada pode ser levada a cabo propondo unicamente a norma e o problema que causa a sua transgressão, e elaborando uma gama de medidas sancionadoras, classificadas desde: leves, graves e muito graves. Sem de forma alguma burlar a legislação vigente, as escolas podem propor medidas recuperativas, assim como são propostas as normas de classe. Estas medidas devem ser negociadas entre os diferentes membros e apoiadas pelo Conselho Escolar.

É provável que essas normas gerais sejam as mais difíceis de obter um consenso, já que devem ajustar-se tanto à legislação como aos aspectos mais amplos da organização escolar. Por essa razão, sugere-se que um grupo pequeno de trabalho aborde a tarefa e consiga o consenso dos resultados finais com os demais professores, alunos e pais. Normas de uso e de segurança

Essas discussões ajudam a criar uma reflexão coletiva sobre os modos de vida dentro da escola e pode servir para:

• Sondar o uso que se dá e que se gostaria de dar às instalações. • Averiguar as necessidades de organização e as deficiências das

instalações da perspectiva dos alunos e dos professores. • Sensibilizar os diferentes membros quanto à responsabilidade de

todos. • Debater o porquê da organização escolar e a necessidade de

respeitá-la. • Assumir coletivamente a manutenção da estrutura e do ambiente. • Debater os níveis de sensibilidade diante da destruição,

deterioração, limpeza e o comportamento dos diferentes alunos e professores.

5.4 - NORMAS DE CLASSE

A organização das normas para as classes, assim como as da escola em geral, devem ocorrer de modo democrático e compartilhado. Essas normas deverão reger e condicionar as formas de atuar dentro das salas de aula, tanto para os alunos como para os professores. Será essencial que sejam elaboradas por uma negociação entre as duas partes.

29

Cruz Pérez (1996) propõe um modelo de intervenção adequado para o nosso enfoque:

1. Potencializar a intervenção dos alunos na organização da classe. 2. Unificar os critérios de intervenção de todos os professores do grupo

quanto à aplicação das normas. 3. Levar a cabo uma ação diretiva que organize e dirija as atividades dos

estudantes e dos professores quanto ao desenvolvimento das normas. Para alcançar estes propósitos um tem pó sempre é necessário:

assembléia, comissão de classe, debate... que leve ao consenso e/ ou análise do clima da classe.

Os passos para elaborar normas de classe com os alunos podem ser um tanto complexos: com a votação daquelas propostas e com o debate interno de “por que sim”? e “por que não”?

Assim sendo, apresentamos um esquema que cada professor deve readaptar à sua classe, a sua realidade e ao seu feeling (sentimento) coletivo de escola.

Fernández (2005), propõem três momentos que precisam ser observados ao se elaborar coletivamente as normas da classe:

Primeira fase: preparação

Os alunos devem compreender qual é a finalidade de criar suas próprias normas de classe. Pede-se aos alunos que investiguem as dificuldades que costumam ter na classe, o que mais atrapalha seu aprendizado, registrando todas as respostas que surgirem ou dando-lhes o prazo de uma semana para responder. Segunda fase: produção de normas de classe

Nessa fase deve-se cuidar para que nenhuma das normas propostas chegue a transgredir a legislação vigente e tampouco o próprio objetivo da escola. Todas as normas devem representar um bem coletivo e tolerante para a diversidade existente. O conflito não deverá surgir se na primeira fase houve um debate amplo, não somente sobre a necessidade de se viver em sociedade com pactos e valores compartilhados, mas também sobre a necessidade de se ajustar as formas de vida aos contextos específicos em que se situam, ou seja, nos princípios da escola. Para tanto:

• Pede-se para que cada um dos alunos escreva uma série de normas que

considere importantes para a classe. Pode-se também sugerir que as normas sejam propostas em duplas ou pares.

• Grupos de quatro decidem sobre cinco normas finais e essenciais. Deverão ser negociadas aquelas elaboradas pelos diferentes componentes do grupo. É importante o diálogo, as explicações entre eles mesmos e a colocação em comum.

30

• Os grupos escrevem as normas no quadro-negro. Serão excluídas as normas repetidas ou que estejam ligadas.

• O professor acrescenta as normas que a equipe docente do grupo considere imprescindíveis e que os alunos deixaram de mencionar em suas propostas. Essa apresentação do docente deverá ser a última, a fim de não gerar rejeição ou oposição por parte dos estudantes.

• Em caso de produção de um número excessivo de normas (mais de doze) uma redução ou reestruturação torna-se necessária.

• A decisão final sobre as normas do grupo pode ser realizada por consenso, por votação de mãos levantadas, por votação secreta etc. cada educador deverá avaliar o grau de união do grupo.

Terceira fase: manutenção e conseqüências por transgressão de normas

Criar normas, escrevê-las, esquecê-las, não utilizá-las dentro do currículo e da dinâmica de classe é “comprar a moldura sem ter pintado o quadro’. Devem ser criadas duas novas atividades que respondam a essas perguntas: • O que ocorrerá se as normas não forem cumpridas? • Como se verificará o cumprimento e/ou como se resolverão os conflitos

parciais de sua aplicação? É importante verificar se é a primeira vez do descumprimento, se é

reincidência do descumprimento... Além disso, o caráter do descumprimento deve ser observado: caráter individual ou coletivo.

Vejamos dois exemplos:

NORMA 1: Os alunos deverão respeitar-se, sem brigas nem insultos, resolvendo seus conflitos de forma pacífica. Conseqüências:

• Os alunos envolvidos conversarão em particular e chegarão a um

acordo. • Outro aluno ou professor ouvirá as partes e os ajudará a chegar a

um acordo. • Em caso de reincidência ou falta de acordo, o orientador

pedagógico ouvirá os dois e apresentará um parecer justo para as duas partes. Possível debate em assembléia de grupo. Possível comunicação aos pais. Possível ajuda por parte de outros colegas de classe.

• Os alunos se enquadrarão em uma parte das faltas e a Direção Escolar será notificada, ouvirá as duas partes e proporá um ato de conciliação e não obtendo êxito poderá encaminhar o caso ao Conselho Escolar.

31

• Os pais serão notificados da situação.

NORMA 2: Deve-se participar das atividades de classe realizando as tarefas e estar de posse do material didático necessário. Conseqüências:

• Entrevista particular com o professor. • Reunião com o grupo de colegas do comitê de convivência, para chegar a

acordos. Possíveis propostas de ajuda. • Apresentação do caso à assembléia. Propostas de mudanças, grupos de

trabalho, tarefas de apoio. • Notificação aos pais. Plano de trabalho conjunto. • Notificação a Equipe Pedagógica. Possível reunião da equipe docente.

Revisão da situação nas diferentes áreas. A segunda pergunta, “Como revisaremos seu descumprimento?”, está ligada ao Plano de Ação positiva. PLANO DE AÇÃO POSITIVA

Sabemos que uma escola muitas vezes não tem condições de realizar uma série infinita de programas, mas é possível desenvolver aqueles que sejam ótimos e realistas, e que tenham por objetivo prevenir possíveis desajustes.

Este Plano de Ação Positiva poderia incluir aspectos como:

ASPECTOS PREVENTIVOS

• Métodos de introdução das normas na escola para os estudantes no início do curso, na transição do Ensino Fundamental para o Médio, Primeiro ano do Ensino Médio (Semana de acolhida, visitas prévias aos colégios envolvidos – ligação-, alunos-guia de alunos etc.

• Apresentação de normas aos pais, reuniões em busca de seu apoio e cooperação, apresentação do colégio, etc.

• Apresentação das normas como currículo escolar. Busca de conteúdos específicos no currículo para que se possa aprofundar e enfatizar o Regulamento do Regimento Interno. Objetivo do currículo escolar. Exemplo: os estereótipos, os apelidos, a igualdade e as diferenças entre as pessoas. Desenvolvimento do currículo sócio-pessoal.

32

• Cuidados com os aspectos lingüísticos com relação a racismo, integração, sexo, violência interpessoal (insultos, ameaças etc).

• Fomento de cooperação, comunicação, expressão positiva das emoções, apreço pela diversidade e solução de conflitos.

• Promoção de tarefas com procedimentos cooperativos. • Programação de assembléias, gestão participativa junto com o corpo

docente com certa periodicidade.

ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO

• Criação de um sistema de méritos, prêmios pelas boas ações. • Criação de um sistema de avaliação positiva. Exemplo: desmembramento

de responsabilidades dentro da classe (encarregados de esportes, atividades extra-escolares, viagens/excursões, decoração etc).

• Criação de um sistema de comunicação interna. Mediadores, alunos conselheiros, correio interno de sugestões, caixa secreta ( urna) de denúncias de transgressões, muito indicada para casos de bullying).

• Criação de um sistema de participação e de tomada de decisões sobre atividades fora do horário letivo. Exemplo: ajudante e promotor de atividades de recreio, jornal da escola, comitê de festejos etc.

• Realização de estudos (questionários, pesquisas sociais...) com certa periodicidade para promover as relações interpessoais.

• Fomento da formação em técnicas de manejo e controle durante a aula e nos recreios para professores e pessoal da escola.

• Promoção do contato com as famílias. • Inclusão de um programa de “habilidades sociais” para alunos e/ ou

professores. • Revisão da colocação em prática do Regulamento de Regimento Interno e

alteração do que seja considerado oportuno. Definir periodicidade para o encarregado da revisão.

CONCLUSÃO

A criação coletiva de normas é um processo lento que exige envolvimento, consenso e reflexão do maior número possível de membros da comunidade educativa. A convivência é um assunto que diz respeito a todos. Portanto, não se pode esperar que um grupo de especialistas, ou um pequeno

33

comitê, possa dar conta de apurar as necessidades de uma coletividade tão complexa como é a comunidade escolar. A participação ativa dos outros membros também é necessária. Por isso, o processo é tão importante quanto o resultado final

6 - ATIVIDADES SUGERIDAS (PREPARATÓRIAS) Depois deste trabalho de sensibilização, acreditamos poder construir com mais facilidade o CONTRATO PEDAGÒGICO e o ESTATUTO DE CONVIVÊNCIA com nossos alunos.

Esta proposta pretende colaborar de forma original com sua prática

pedagógica, dando subsídios para o desenvolvimento e abordagem da temática da coexistência com seus alunos.

As sugestões de atividades foram criadas a fim de estimular a reflexão e o exercício do olhar. O processo educativo propicia a ampliação dos conhecimentos, a revisão de conceitos e preconceitos, o que extrapola o espaço escolar, tornando-se aprendizado para uma convivência social agregadora e solidária.

COEXISTENCE2 visa informar, motivar e estabelecer o diálogo entre as pessoas.

A partir do entendimento, a percepção sobre estratégias efetivas ou não efetivas de resolução de conflitos irá aumentar, estimulando os estudantes a serem cidadãos informados, capazes de argumentar, e socialmente responsáveis. 2 Disponível em <http://www.culturajudaica.org.br> ou <http://www.coexistence.art.museum>

34

Esperamos que este seja um ponto de partida para ações maiores em sua escola. A verdadeira coexistência só pode ser atingida, pela educação, aprendendo a respeitar “o outro”.

• ATIVIDADE 1 Crie questões utilizando citações. Explore com seus alunos a História do autor dessa citação. Essa atividade irá revelar aos alunos pessoas que tiveram sua vida ligada à luta pelo fim das desigualdades. Examine como a citação foi utilizada no passado e como o seu significado pode ter mudado no século XXI. As palavras que já tiveram um significado positivo no passado podem perder essa conotação nos tempos atuais? Exemplos: “Eu tenho um sonho de um dia esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios: Nós consideramos estas verdades claras como o sol: que todos os homens são feitos iguais. Eu tenho o sonho que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos senhores sejam capazes de se sentar juntos à mesa da fraternidade. Eu tenho o sonho de que um dia até mesmo o Estado do Mississipi, derretendo com o calor da injustiça e da opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça...” Martin Luther King - Frase dita nos degraus do Lincoln Memorial em Washington DC, em 28 de agosto de 1963. Outras citações: “Imagine que não existem países Não é difícil faze-lo Nada pelo que temer ou morrer Tampouco religiões Imagine todos os povos, Vivendo em paz Você até pode dizer que sou um sonhador. Mas não sou o único. Espero que algum dia você se junte a nós E o mundo, então será um só. Imagine que não existem posses

35

Eu me pergunto se você consegue Não precisar da ganância ou fome Uma fraternidade humana Imagine todos os povos Partilhando o mundo.” John Lennon “Nós aprendemos a não ser neutros em períodos de crise, porque a neutralidade sempre ajuda o agressor, nunca a vítima. Nós aprendemos que o silêncio nunca é uma resposta. Nós aprendemos que o oposto do amor não é o ódio, e sim a indiferença. O que é a memória senão uma resposta à indiferença?” Eli Wiesel, ganhador do Prêmio Nobel Citação feita em 24 de abril de 1979, em cerimônia na Casa Branca sobre o Holocausto. O título de seu discurso foi: “O Holocausto, começo ou fim?”. (Fonte: Against Silence: The Voice and Vision of Elie Wiesel”, por Irving Abrahamson). Para estimular o debate acerca do significado de coexistência hoje, sugira que os alunos pesquisem em livros, revistas, jornais e programas de televisão idéias e propostas compartilhando os resultados com a classe para confronto, reflexão, argumentação, ponderação e diálogo. Outras citações: “Se você odeia alguém, odeia neste alguém algo que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos incomoda... As coisas que vemos... são as mesmas que estão dentro de nós. Não há realidade exceto aquela que faz parte da nossa. É por isso que tantas pessoas vivem de modo tão irreal. Elas consideram realidade as imagens do mundo exterior e nunca permitem o seu próprio mundo se manifeste. É possível ser feliz assim. Porém, uma vez conhecendo a outra visão, não existe mais a escolha de seguir a multidão... A via da maioria é fácil, difícil é a nossa”.

36

Hermann Hesse “Primeiro os nazistas vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, eu me calei. Depois, vieram buscar os judeus, mas como eu não era judeu, eu não protestei. Então, eles vieram buscar os sindicalistas, mas como eu não era sindicalista, eu me calei. Então, eles vieram buscar os católicos e, como eu era protestante, eu me calei. Então, quando vieram me buscar... Já não restava ninguém para protestar”. Martin Niemoller “Se você pudesse ter braços hercúleos, pernas ligeiras como o vento, se pudesse saltar mais alto que a cesta, ter o impulso de um golfinho, os reflexos de um gato... Se pudesse ter tudo isso, você teria o corpo, teria as ferramentas, mas não teria a glória... Até entender que o músculo mais forte é o coração...” Andrea Bocelli

• ATIVIDADE 2 Apresente e analise com os alunos o significado das palavras e frases relacionadas à exposição:

• Tolerância • Intolerância • Indiferença • Igualdade • Direitos Iguais • Igualdade Religiosa • Igualdade Econômica • Amor • Harmonia

37

• Conflito • Tolerância Zero • Diferença entre “Tolerância Zero e “Intolerância” • Intolerância Justificada • “Amar ao próximo como a si mesmo”

As idéias e opiniões emitidas podem ser sintetizadas em frases que reflitam o pensamento desses alunos sobre essas questões. ORIENTAÇÃO

• ATIVIDADE 1 Pergunte aos alunos como seria um mundo baseado em uma coexistência pacífica. Em uma tabela de duas colunas, peça para listarem formas pacíficas e não-pacíficas de coexistência e criarem uma colagem de figuras, citações, recortes de jornal ou fotos. Faça uma discussão em grupo sobre as imagens, realçando semelhanças e diferenças.

• ATIVIDADE 2

Histórias de Intolerância Explore com o projeto de pesquisa um ato histórico de violência, genocídio ou holocausto. Como é possível a coexistência depois de eventos tão traumáticos? Podem as mesmas pessoas viver juntas ou precisam se separar? Se o ocorrer um grave conflito ou agressões entre alunos da mesma classe, ou do aluno com o professor e vice-versa, é possível a convivência? O que pode ser feito para evitar estes tipos de problemas? Os amênios foram, em sua maioria, expulsos de Turquia entre 1915 e 1922, depois do genocídio. A maioria dos judeus sobreviventes do Holocausto deixaram a Europa. Entretanto, na Bósnia, Kosovo, Rwanda e outros lugares, as pessoas são obrigadas a viver lado a lado com intensas tensões sociais, enquanto há busca restrita por justiça, resolução de questões de valores e perdão.

38

• ATIVIDADE 3 Discutindo o conceito de conflito. Em grupos, os alunos criam uma teia de palavras que envolvam a idéia de CONFLITO procurando definí-las. QUESTIONE: 4. O que é isso? 5. O que isso parece? 6. O que faz as pessoas entrarem em conflito? 7. O que acontece quando um conflito ocorre? CONFLITO pode ser definido de várias maneiras, como: desacordo, luta e batalha, definições que enfatizam o confronto, a competição e o desacordo, associando a idéia de CONFLITO com violência, provocação e agressão. CONFLITO só pode ser negativo? Peça aos grupos que compartilhem suas teias de palavras, propondo as questões: 1. O conflito pode ser visto de maneira positiva? 2. É possível vê-lo como oportunidade positiva de crescimento e desenvolvimento?

3. Diferentes gostos, preferências e prioridades, provocam conflitos culturais e desentendimentos. No passado, como esses conflitos eram resolvidos?

4. Existem alternativas mais engajadas, respeitadas e satisfatórias de solução?

Peça aos alunos que coloquem em um mural uma síntese das idéias levantadas pelas teias de palavras.

EXEMPLOS DE PROJETOS BEM SUCEDIDOS REALIZADOS COM A PARTIPAÇÃO EFETIVA DE ALUNOS VISANDO O BEM-ESTAR COLETIVO

39

Sistema de Representação:

O ano de 2004 foi iniciado com o projeto Conviver Melhor, que faz parte do tema Participação Política, desenvolvido nas aulas de Orientação Educacional do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Esse tema tem por objetivo o desenvolvimento de ações que levem à conquista de direitos individuais e coletivos, a compreensão da importância da participação individual na construção do bem-estar do grupo e o desenvolvimento da responsabilidade diante de questões do cotidiano escolar.

A implantação do sistema de Representação de Alunos contemplou, no princípio, a elaboração de um Estatuto que estabelece regras, função e campo de atuação dos representantes, a prática de eleições e a comunicação e transparência nas relações.

Ao longo dos anos, o grupo de representantes vem discutindo regras que organizam importantes espaços freqüentados por todos da Móbile: elevadores, salas de aula, pátio, quadras, cantina e biblioteca. Dependendo da extensão dos problemas constatados, uma ou várias classes são responsabilizadas por analisar os fatos, levantar hipóteses, discutir encaminhamentos e encontrar soluções. Nos encontros de Representação, os porta-vozes das classes apresentaram os resultados das discussões e debateram as inúmeras propostas, incorporando as colocações dos funcionários e professores e considerando, na análise, se as proposições privilegiavam o bem-estar coletivo. Trata-se de mais um exemplo de propostas envolvendo a participação direta dos alunos, em intervenções, tomadas de decisões e sugestões para melhorar a qualidade do convívio e do ambiente escolar. Se quiser saber mais sobre os problemas levantados pela Escola Móbile e as soluções propostas resolvê-los, consulte o site abaixo indicado:

(Fonte: http://www.escolamobile.com.br)

TAMBÉM SUGERIMOS COMO ATIVIDADES SENSIBILIZADORAS O TRABALHO COM FÁBULAS

40

FÁBULAS CLÁSSICAS Do livro: Fábulas de Esopo Foram selecionadas algumas fábulas que têm mais pertinência com o tema proposto neste caderno pedagógico, embora existam outras. O professor pode solicitar aos alunos que formem grupos de trabalho com quatro ou mais alunos e reflitam sobre a mensagem expressa pela fábula e se têm alguma semelhança ou correspondência com atitudes ou comportamentos deles em sala de aula ou escola. E, ainda, se há possibilidade de mudanças para melhoria dos relacionamentos. As lebres, as raposas e as águias Uma vez as lebres se meteram numa guerra longa e feroz com as águias e viram que não iam conseguir vencer suas inimigas se não conseguissem ajuda. Diante disso, foram conversar com as raposas para ver se queriam fazer uma aliança com elas contra as águias. As lebres ficaram felizes quando as raposas responderam educadamente que gostariam muito de ajudá-las em tudo que fosse possível. Só que a alegria das lebres durou pouco, pois as raposas continuaram dizendo, com igual sinceridade, que também eram muito amigas das águias. Moral: Só é possível uma sociedade quando os dois parceiros estão unidos em torno de uma mesma causa. ____________________________________________________________ Os viajantes e o urso Um dia dois viajantes deram de cara com um urso. O primeiro se salvou escalando uma árvore, mas o outro, sabendo que não ia conseguir vencer sozinho o urso, se jogou no chão e fingiu-se de morto. O urso se aproximou dele e começou a cheirar as orelhas do homem, mas, convencido de que estava morto, foi embora. O amigo começou a descer da árvore e perguntou: -O que o urso estava cochichando em seu ouvido? -Ora, ele só me disse para pensar duas vezes antes de sair por aí viajando com gente que abandona os amigos na hora do perigo. Moral: a desgraça põe à prova a sinceridade da amizade.

41

As Árvores e o Machado Um homem foi à floresta e pediu as arvores que estas lhe doassem um cabo para o seu machado. O conselho das árvores concordou com o seu pedido e deu a ele uma jovem árvore para este fim. Logo que o homem colocou o novo cabo no machado, começou a usá-lo e em pouco tempo havia derrubado com seus potentes golpes as mais nobres e maiores árvores da floresta. Um velho Carvalho, lamentando quando a destruição dos seus companheiros já estava bem adiantada, disse a um Cedro seu vizinho: - O primeiro passo foi a perdição de todas nós. Se tivéssemos respeitado os direitos daquela jovem árvore, poderíamos ainda ter preservado nossos próprios privilégios e ficarmos de pé por muitos anos. Moral da História: Quem menospreza ou discrimina seu semelhante, não deve estranhar se um dia lhe fizerem o mesmo. ____________________________________________________________ O Filhote de Cervo e sua Mãe Certa vez um jovem Cervo conversava com sua mãe: - Mãe você é maior que um Lobo, é também mais veloz e possui chifres poderosos para se defender, por que então você os teme tanto? A Mãe amargamente sorriu e disse: - Tudo que você falou é verdade meu filho, mesmo assim quando eu escuto um simples latido de Lobo, me sinto fraca e só penso em correr o mais que puder. Autor: Esopo Moral da História: Para a maioria das pessoas, é mais cômodo conviver com seus medos e fraquezas, mesmo sabendo que podem superá-los. ____________________________________________________________O Galo de Briga e a Águia Dois galos estavam disputando em feroz luta, o direito de comandar o galinheiro de uma chácara. Por fim um pôs o outro para correr. O Galo derrotado afastou-se e foi se recolher num lugar sossegado.

O vencedor, voando até o alto de um muro, bateu as asas e exultante cantou com toda sua força. Uma Águia que pairava ali perto lançou-se sobre ele e com um bote certeiro levou-o preso em suas poderosas garras.

42

O Galo derrotado saiu do seu canto, e, daí em diante reinou absoluto livre de disputa. Autor: Esopo Moral da História: O orgulho e a arrogância são os caminhos mais curtos para a ruína. ____________________________________________________________ O Gato e o Galo Um gato capturou um galo, e, ficou imaginando como achar uma desculpa qualquer para que o fato de que este ia comê-lo fosse justificado. Moral da História: Quem é mau caráter sempre vai achar uma desculpa para legitimar suas ações.

O Leão e o Rato Um Leão foi acordado por um Rato que passou correndo sobre seu rosto. Com um salto ágil ele o capturou e estava pronto para matá-lo, quando o Rato suplicou: - Se o senhor poupasse minha vida, tenho certeza que poderia um dia retribuir sua bondade. O Leão deu uma gargalhada de desprezo e o soltou. Aconteceu que pouco depois disso o Leão foi capturado por caçadores que o amarraram com fortes cordas no chão. O Rato, reconhecendo seu rugido, se aproximou, roeu as cordas e libertou-o dizendo: - O senhor achou ridículo a idéia de que eu jamais seria capaz de ajudá-lo. Nunca esperava receber de mim qualquer compensação pelo seu favor; Mas agora sabe que é possível mesmo a um Rato conceber um favor a um poderoso Leão. Autor: Esopo Moral da História: Os pequenos amigos podem se revelar grandes aliados. TÉCNICAS EM DINÂMICAS DE GRUPO ESTAS TÉCNICAS PODEM AUXILIAR NA ORGANIZAÇÃO DAS ASSEMBLÉIAS COM OS ALUNOS. BEM COMO AS FÁBULAS, PODEM SER UTILIZADAS PELO PROFESSOR NÃO EXCLUSIVAMENTE PARA

43

ESTE FIM, MAS TAMBÉM EM DIVERSAS SITUAÇÕES NA SALA DE AULA, CONFORME OBJETIVOS QUE SE QUEIRA ATINGIR.

• DRAMATIZAÇÃO, ou, ROLE PLAYING

1. Caracterização da técnica Consiste na encenação de um problema ou situação no campo das relações humanas, por duas ou mais pessoas, numa situação hipotética em que os papéis são vividos tal como na realidade. A síntese desses papéis é um dos aspectos mais importantes do método. Os que vão encenar devem compreender o tipo de pessoa que dever interpretar durante a dramatização. O resumo do papel deve conter apenas a condição emocional e as atitudes a serem adotadas, sem detalhes sobre aquilo que deverá ocorrer durante a apresentação. Essa técnica permite a informalidade e assegura a participação psicológica do indivíduo e do grupo; elimina as inibições e facilita a comunicação. 2. A técnica é útil para: Desenvolver a capacidade de relacionamento com outras pessoas através da compreensão da natureza do comportamento humano. Fornecer dados de relações humanas que podem ser utilizados para análise e discussão. Facilitar a comunicação, "mostrando" e não "falando". Oportunidade para que os indivíduos "representem" seus problemas pessoais. Os que na vida real não puderam reconhecê-los, compreende-los, quando viverem em cena, irão reconhecer sua falta de habilidade para lidar com os outros, podendo aprender a enfrentar o seu problema ao vê-lo retratado no grupo. Criar no grupo uma atmosfera de experimentação e de possível criatividade. Despersonalizar o problema dentro do grupo. Quando apresentado em cena, abstraídas as personalidades dos executantes reais, há maior liberdade de discussão. 3. Use a técnica quando: Os padrões e o controle social do grupo são de molde a garantir um nível de comentário e discussão que não afetam psicologicamente os membros. O indivíduo reconhece a necessidade de aprofundar-se nos seus verdadeiros motivos, impulsos básicos, bloqueios e ajustamentos, a fim de aumentar sua eficiência como membro do grupo. Os "atores" sentem-se relativamente seguros a ponto de quererem "expor-se" ao grupo, ou seja, expor seus sentimentos, suas atitudes, suas frustrações, sua capacidade e suas aptidões.

44

Sentir-se como coordenador ou instrutor, bastante seguro dos objetivos que pretende atingir ao usar a técnica. O alvo for mudar as atitudes de um grupo. Deseja-se preparar um ambiente ideal para resolver problemas. 4. Como usar a técnica Apresentar ou definir o problema que será dramatizado. Fixar a simulação ou os aspectos específicos de relacionamento humano a serem enfatizados na dramatização. Definir ou apresentar quais os papéis necessários à encenação. Escolher os atores, os quais planejarão as linhas gerais de seu desempenho, ou seja, a condição emocional e as atitudes a serem adotadas, sem especificar o que deverá ser feito na encenação. Os próprios "atores" poderão armar o "palco" que dispensará excessivo mobiliário e roupagem, dando ênfase à descrição verbal da situação. Os "ensaios" terão caráter de reuniões preparatórias onde as características dos papéis serão examinadas, sem preocupação quanto à "perfeição da representação" dos atores. Determinar ou definir o papel de grupo a ser desempenhado durante e após a dramatização, o que conclui a escolha do tipo de debates que se seguirá, bem como a determinação dos aspectos que deverão ser avaliados. Realizar a dramatização em tempo suficiente para permitir a apresentação dos dados, evitando-se a demora excessiva. Se o instrutor achar conveniente, poderá consultar o grupo quanto ao seu interesse em repetir a dramatização com a inclusão de idéias e sugestões que forneçam novos materiais para aprofundamento de debate. Poderão, também, ser usados outros artifícios, como por exemplo, a substituição dos papéis (troca) para verificação de sentimentos e atitudes, possibilitando a um personagem "colocar-se na pele do outro". É um jogo de reversibilidade, a favor e contra, ou tarefa invertida.

• PAINEL DUPLO

1. Caracterização da técnica Possibilita despertar aspectos sobre o tema que não foram trabalhados. Pode ser usado mesmo após uma palestra, leitura, filme, etc. 2. A técnica é útil para: Desenvolver a capacidade de pensar e raciocinar logicamente. Procurar entender o ponto de vista de outra pessoa. Obrigar pessoas muito seguras de seu ponto de vista a analisarem logicamente sua posição e a posição contrária. Desenvolver a capacidade de argumentação lógica.

45

Convencer determinado tipo de pessoa de que sua posição é mais sólida emocionalmente do que racionalmente. 3. Use a técnica quando: Os temas não forem aceitos uniformemente pelo grupo. 4. Como usar a técnica Pede-se a cooperação de sete pessoas que formam dois mini-grupos, um defendendo uma tese e o outro a contestando ou defendendo o contrário. Invertem-se os papéis. O ataque passa à defesa e a defesa passa ao ataque. O grande grupo pode manifestar-se, apoiando as teses que achar mais corretas. O tempo todo alguém funciona como moderador.

• FÓRUM

1. Caracterização da técnica. A técnica é boa para garantir a participação de grande número de pessoas, sobre temas contraditórios, embora alguns participem como observadores do debate. 2. A técnica é útil para: Dinamizar o grupo. Desenvolver a capacidade de raciocínio. Desenvolver a logicidade. Ensinar, a saber, vencer e, a saber, perder. Desenvolver a capacidade de aceitar pontos de vista contrários. Desenvolver a imparcialidade de julgamento. 3. Use a técnica quando: Quiser treinar o grupo a não se envolver emocionalmente na questão, desenvolvendo a racionalidade. Quiser despertar a participação da assembléia através de depoimentos. Desejar discutir temas controvertidos. 4. Como usar a técnica Escolha três participantes: um defende, o outro contesta o tema, e o terceiro coordena. A assembléia deve participar, colocando-se de um lado ou de outro. No final, o moderador oferece uma conclusão. Obs.- Para aumentar a participação pode-se constituir um corpo de auxiliares da defesa e da acusação, e um júri.

• MESA REDONDA

1. Caracterização da técnica

46

Poucas pessoas dispondo de tempo para discutir um assunto, em igualdade de condições. 2. A técnica é útil para: Discutir ou refletir sobre um tema ou situação-problema. Obter a participação de todos (num grupo pequeno). Chegar a uma decisão participativa e, quando possível, unânime. Levar os participantes a assumir responsabilidades. Participação na decisão é garantia de colaboração. 3. Use a técnica quando: Procura sincera do diálogo. Igualdade entre os participantes. Universo comum de comunicação. Definição clara do tema ou problema e do objetivo a que se quer chegar. 4. Como usar a técnica Pequeno número de participantes, sentados em um círculo, em igualdade de condições. Discussão livre entre si sobre o tema proposto. Coordenação bem livre. • MÉTODO CIENTÍFICO BÁSICO 1. Caracterização da técnica Exercitar o raciocínio e a imaginação criadora. Possibilitar o estudo de um tema em seus pontos chaves. Corrigir e esclarecer, de forma imediata, dúvidas sobre o tema proposto. 2. Como usar a técnica Apresentação do tema em uma palavra ou expressão-síntese. Divisão do quadro em partes iguais, tituladas: O que queremos saber? O que pensamos? O que concluímos? Apresentação e fixação, no quadro de giz, das questões chaves já preparadas anteriormente (o que queremos saber?). Anotações de mais algumas questões, propostas na hora, pelos participantes. Oralmente, os participantes vão respondendo às questões, que o coordenador anotar, sinteticamente, no quadro (O que pensamos?).

47

Fornecimento de fontes de pesquisa previamente selecionadas ou vivência de experiências concretas que forneçam elementos para avaliação de suas respostas (etapa de pesquisa em pequenos grupos). Volta-se ao plenário para a apresentação de resultados finais, com comentários enriquecedores. O coordenador anota os resultados finais no quadro de giz, sinteticamente (O que concluímos?). Ao final, se alguma questão foi de maior interesse, pode-se dar a ela um enfoque mais amplo. Cada participante deverá registrar as conclusões finais e guardá-las consigo, para posteriores consultas. LEMBRETE AO PROFESSOR São várias as sugestões oferecidas de atividades para ampliar suas possibilidades de escolha. Escolha as quais, e quantas julgar conveniente para o trabalho que irá realizar.

PARA REFLETIR

48

Nós pedimos com insistência:Nós pedimos com insistência:Nós pedimos com insistência:Nós pedimos com insistência: Não digam nunca: isso é natural!Não digam nunca: isso é natural!Não digam nunca: isso é natural!Não digam nunca: isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia.Diante dos acontecimentos de cada dia.Diante dos acontecimentos de cada dia.Diante dos acontecimentos de cada dia. Numa época em que reinNuma época em que reinNuma época em que reinNuma época em que reina a confusão.a a confusão.a a confusão.a a confusão. Em que corre o sangue,Em que corre o sangue,Em que corre o sangue,Em que corre o sangue, Em que se ordena a desordem,Em que se ordena a desordem,Em que se ordena a desordem,Em que se ordena a desordem, Em que o arbitrário tem força de lei,Em que o arbitrário tem força de lei,Em que o arbitrário tem força de lei,Em que o arbitrário tem força de lei, Em que a humanidade se desumaniza,Em que a humanidade se desumaniza,Em que a humanidade se desumaniza,Em que a humanidade se desumaniza, Não digam nunca: isso é natural!Não digam nunca: isso é natural!Não digam nunca: isso é natural!Não digam nunca: isso é natural! (B. Brecht)(B. Brecht)(B. Brecht)(B. Brecht) 7 - Referências Bibliográficas: AQUINO, Júlio Groppa. Indisciplina: o contraponto das escolas democráticas. São Paulo: Moderna, 2003. Cap.3: Por um modo de vida democrático, p. 53-90.

CANDAU, Vera e outras. Oficinas Pedagógicas de Direitos Humanos. Rio de Janeiro; 1995.

COEXISTENCE.Museum on the Sean. Pesquisa e desenvolvimento do Material de Apoio. São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.coexistence.art.museum> .

DEBARBIEUX, Eric e BLAYA, Catherine. Violência nas escolas e políticas públicas. Brasília, 2002.

ESCOLA MÓBILE. Disponível em: <http://www.escolamobile.com.br > Acesso em: 03. dez. 2007.

FANTE, Cleo. Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campina-SP: Verus, 2005. Cap.I: Fenômeno Bullying, p. 27-91. FERNÁNDEZ, Isabel. Pensar juntos, criar normas. IN: Prevenção da violência e solução de conflitos: o clima escolar como fator de qualidade. São Paulo, Madras, 2005.

FORTUNA, Tânia Ramos. Indisciplina escolar: da compreensão à intervenção. IN: Xavier, Maria Luisa Merino (org.). Disciplina na escola: enfrentamentos e reflexões. Porto Alegre: Mediação, 2002.p. 87-108.

49

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, 1996.

LA TAILLE, Yves de, SILVA, Nelson Pedro e JUSTO, José Sterza. Indisciplina/Disciplina: ética, moral e ação do professor. Porto Alegre, 2006.

LATERMAN, Ilana. Violência e incivilidade na escola: nem vítimas, nem culpados. Florianópolis, 2000.

MICHAUD, Ives. A violência. São Paulo: Ática, 1989.

PIAGET, Jean. O juízo moral da criança. São Paulo, 1994. p.270.

PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1996.p.63.

SILVA. Aída Maria Monteiro. Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos. Disponível em: <http: www.dhnet.org.br/educar/redeedh/bib/aida1.htm>. Acesso em: 28. jun.2007. TIGRE, Maria das Graças do Espirito Santo. Violência na escola: representações dos sujeitos envolvidos. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa – PR, 2002.