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CAMPANHA NACIONAL DOS BANCÁRIOS 2011 SUBSÍDIOS PARA DISCUSSÃO NAS CONFERÊNCIAS REGIONAIS Emprego decente e compromisso com o Brasil

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Caderno de subsídios 2011 para Conferências Sindicais, Regionais e Nacional dos Bancários organizado pelo Comando Nacional e Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro - CONTRAF CUT.

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Page 1: Contraf CUT Caderno de Subsidios 2011 Conf Nac

CAMPANHA NACIONALDOS BANCÁRIOS 2011

SUBSÍDIOS PARA DISCUSSÃONAS CONFERÊNCIAS REGIONAIS

SUBSÍDIOS PARA DISCUSSÃO

Empregodecente e

compromissocom o Brasil

Page 2: Contraf CUT Caderno de Subsidios 2011 Conf Nac

Publicação de responsabilidade da Contraf/CUTRua Líbero Badaró, 158, 1º andar, CentroSão Paulo, SP - CEP: 01008-000

Fone: (11) 3107-2767

Site: www.contrafcut.org.brE-mail: [email protected]

Presidente: Carlos Alberto Cordeiro da Silva (Itaú/SP)Secretaria de Imprensa: Ademir Wiederkehr (Santander/RS)

Vice-presidenteNeemias Souza Rodrigues (Bradesco/MG)

Secretaria GeralMarcel Juviniano Barros (Banco do Brasil/SP)

Secretaria de FinançasRoberto von der Osten (Itaú/PR)

Secretaria de Relações InternacionaisJosé Ricardo Jacques (Bradesco/SC)

Secretaria de SaúdePlínio José Pavão de Carvalho (Caixa Econômica Federal/SP)

Secretaria de FormaçãoWilliam Mendes de Oliveira (Banco do Brasil/SP)

Secretaria de Organização do Ramo FinanceiroMiguel Pereira (HSBC/RJ)

Secretaria de Políticas SociaisDeise Aparecida Recoaro (Santander-Real/SP)

Secretaria de Assuntos SocioeconômicosAntonio Carlos Pirotti (Banrisul/RS)

Secretaria de Políticas SindicaisCarlindo Dias de Oliveira (Bradesco/MG)

Secretaria de Assuntos JurídicosMirian Cleusa Fochi (Banco do Brasil/DF)

Coordenação e edição: José Luiz FrareEdição de arte: Tadeu Araujo

Construindo a Campanha Nacional dos

Bancários 2011 de forma

democrática

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A Contraf- CUT publica este caderno com textos de subsídios com o objetivo de contribuir para o apro-

fundamento e enriquecimento do debate com os bancários nas con-ferências regionais preparatórias à 13ª Conferência Nacional dos Bancários, que será realizada entre 29 e 31 de julho, em São Paulo.

Na primeira parte do caderno, há um texto sobre Emprego De-cente, adaptado do conceito de Trabalho Decente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que a CUT Nacional adotou como uma das estratégias de luta dos trabalha-dores brasileiros para 2011.

Os textos da segunda parte re-ferem-se aos quatro grandes temas para a Conferência definidos pelo Comando Nacional dos Bancários na reunião realizada em São Paulo no dia 31 de maio:

n Emprego e remuneração n Saúde do trabalhador e

condições de trabalhon Segurança bancárian Sistema Financeiro Nacional

Orientações para13ª Conferência Nacional

Participarão da 13ª Conferên-cia Nacional 695 bancários, entre delegados eleitos nas conferências regionais e observadores. A Contraf--CUT orienta as federações a busca-rem contemplar as cotas de gênero na eleição dos delegados.

Cada federação é responsável por organizar a sua conferência regional, que deve ocorrer, no máximo, até o dia 24 de julho. As conferências regionais deverão privilegiar os debates e remeter os assuntos polêmicos para delibera-ção na Conferência Nacional.

Para ser delegado da Conferên-cia Nacional é condição que tenha participado da conferência regional e que tenha sido eleito. Cada fede-ração tem o direito a inscrever até 10% de observadores do total de delegados eleitos.

Inscrição eletrônica

Em breve será disponibilizado link para inscrição eletrônica dos delegados e observadores. A or-ganização da Conferência alerta para o fato de que a federação deverá fazer uma distribuição pro-porcional dos delegados e obser-vadores entre os grupos temáticos (G1 - Emprego e Remuneração; G2 - Segurança Bancária; G3 - Saúde e Condições de Trabalho; G4 - Sistema Financeiro Nacional). A organização da 13º Conferência fará as adequações na distribuição dos delegados e observadores pe-los grupos, caso necessário.

Esses temas devem ser abor-dados de forma transversal, le-vando em consideração em todos eles as questões de gênero, raça, orientação sexual e pessoas com deficiência.

A Conferência Nacional, maior e mais importante fórum nacional de deliberações da categoria, que definirá a pauta de reivindicações da Campanha Nacional dos Ban-cários de 2011, está sendo prece-dido de consultas com a categoria, de conferências regionais e dos congressos nacionais dos bancos públicos federais.

“Como nos anos anteriores, que-remos construir um amplo processo democrático de participação dos bancários, de bancos públicos e privados, para que tenhamos uma grande mobilização que resulte numa campanha vitoriosa, com novas conquistas para os traba-lhadores”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e co-ordenador do Comando Nacional.

O calendáriodefinido pelo Comando

n 2 e 3 de julhoCongresso doBanco da Amazônia

n 9 e 10 de julhoCongressos do Banco do Brasil, da Caixa e do BNB

n Até 24 de julhoConferências regionais

n 29, 30 e 31 de julho13ª ConferênciaNacional dos Bancários

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O conceito de trabalho decente foi adotado em 1999 pela Organização Internacional do Trabalho

(OIT), para sintetizar um conjunto de direitos pelos quais os trabalha-dores devem lutar e conquistar em busca de uma vida mais digna, den-tro e fora do ambiente de trabalho.

A CUT elegeu o trabalho decente como uma das referências de sua estratégia para 2011, tendo como horizonte a ampliação de direitos de todos os trabalhadores e exclu-ídos, a valorização do trabalho e o aprofundamento da democracia em todas as esferas, inclusive nos locais de trabalho.

Isso significa, entre outras coisas, lutar por remuneração digna, por emprego seguro e de qualidade, pela formalização do trabalho e fim da precarização, por igualdade de direitos para todos, pela proteção da saúde e segurança dos trabalha-dores, pela ampliação da cobertura da previdência social e liberdade de organização sindical.

A meta de fundo, segundo a OIT, é melhorar as condições de vida de todas as pessoas na sociedade —

permitindo que os trabalhadores e suas famílias alcancem um nível de bem-estar aceitável —, com a promoção do desenvolvimento econômico do país e a geração de emprego e renda para todos.

Essas também têm sido na verda-de as grandes bandeiras da categoria bancária nos últimos anos. O conceito de emprego decente envolve, entre outras, as seguintes dimensões:

Emprego estável

Um problema fundamental de-safia o movimento sindical bancário rumo à conquista de empregos decentes: a alta rotatividade no sistema financeiro, que além da insegurança nos trabalhadores provoca achatamento salarial e se transformou numa estratégia dos bancos para reduzir a folha de pagamentos.

A garantia e a segurança no em-prego é um indicador importante do trabalho decente, e por isso tem se tornado um dos eixos principais das campanhas nacionais da categoria nos últimos anos.

A Pesquisa de Emprego Ban-

cário, realizada pela Contraf-CUT e pelo Dieese com base nos dados do Caged, revelou que em 2010 os bancos que atuam no país desliga-ram 33.418 bancários (7% da cate-goria), com remuneração média de R$ 3.504,78, e contrataram 57.450 trabalhadores, com ganho mensal médio de R$ 2.187,86 – uma re-dução remuneratória de 37,57%.

A rotatividade explica o fato de a categoria ter conquistado 17,26% de aumento real de salário entre 2004 e 2010, enquanto o salário médio dos bancários cresceu apenas 3,66% (passando de R$ 4.278,61 para R$ 4.435,41) nesse mesmo período.

Pesquisa preliminar realizada pela Contraf-CUT com bancários do Mercosul revela que a rotatividade no sistema financeiro brasileiro é infinitamente maior que nos países vizinhos. O HSBC, por exemplo, emprega oito mil bancários na Ar-gentina, promovendo lá apenas dez demissões em todo o ano de 2010. Já na sede brasileira de Curitiba, o banco inglês tem aproximadamen-te seis mil funcionários e desligou quase 600 deles no ano passado.

Outro dado que chama a atenção

Emprego decenteMelhorar as condições de vida de todos

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na evolução do emprego no sistema financeiro nacional, segundo a pes-quisa Contraf-CUT/Dieese, é que do total de desligamentos dos bancos no ano passado 49,08% (16.400 trabalhadores) foram a pedido dos bancários. As demissões voluntárias estão diretamente ligadas à qualida-de do emprego, uma vez que elas ocorrem ou em razão da fuga para uma melhor remuneração em outra empresa ou porque esses trabalha-dores não estão suportando mais as pressões por obtenção de metas e o assédio moral.

Emprego seguro

Aconteceram em 2010 pelo menos 1.130 ataques contra de-pendências bancárias, incluindo assaltos, tentativas e arrombamen-tos, segundo levantamento parcial realizado pelo Sindicato dos Vigi-lantes de Curitiba com dados de entidades sindicais de vigilantes e de bancários, da imprensa e de secretarias de segurança pública de alguns estados.

Estudo da Contraf-CUT mostra que em 2010 foram mortas 23

pessoas em assaltos envolvendo bancos no país todo (entre elas dez em “saidinha de banco”). E somente nos primeiros cinco meses de 2011 já perderam a vida pelo menos 15 pessoas, entre bancários, vigilantes e clientes.

Essa violência é facilitada pela falta de segurança nas agências, porque os bancos não querem fazer investimentos em equipamentos — aumentando o clima de medo e de insegurança deixando um rastro de mortos, feridos e pessoas traumatizadas.

Os bancários querem um em-prego seguro para trabalhar e ga-rantir a proteção à vida das pessoas.

Emprego saudável

Um dos eixos centrais do con-ceito de trabalho decente refere-se à necessidade de proteger a saúde dos trabalhadores, assegurando--lhes respeito e dignidade dentro das empresas. E, além disso, garantir-lhes o direito de participar das decisões relativas às condições de trabalho.

Relatório do INSS que a Contraf-

-CUT teve acesso, realizado entre janeiro e junho de 2009, revelou que 6.800 bancários foram afas-tados por licença-saúde naqueles seis meses, o que representa a média de 1.134 por mês e 38 por dia, incluídos fins de semana e feriados. Desse total, 2.030 foram afastados por LER/DORT e 1.626 por doenças mentais, o que inclui depressão e síndrome do pânico. Isso tem provocado o aumento do uso de remédios tarja preta por parte dos trabalhadores do sistema financeiro – e até de suicídios.

Já não há mais dúvidas no campo da medicina e da psicologia de que as doenças psíquicas são provocadas ou agravadas pelo assédio moral e pela pressão exercida sobre os ban-cários pelo cumprimento de metas cada vez mais abusivas – e também por ferir a ética dos trabalhadores ao obrigá-los a vender produtos que os clientes não necessitam.

Os bancários conquistaram em 2011 um avanço importante com a implementação do acordo sobre assédio moral. Mas para eliminar de fato os verdadeiros problemas que provocam doenças físicas e men-

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tais, o grande desafi o da categoria é estabelecer relações e condições de trabalho mais humanas. O que signi-fi ca a participação dos trabalhadores nas discussões sobre a organização do trabalho, tanto em relação aos ambientes físicos quanto às formas de gestão e de estabelecimentos de rotinas e tarefas.

remuneração digna

Nos últimos sete anos, os bancá-rios obtiveram importantes avanços salariais, com grandes mobilizações e greves. Conquistaram 17,26% de aumento real no salário, chegando a 26,3% de ganho acima da infl ação no piso salarial.

Mas como já vimos no item sobre emprego estável, o salário médio da categoria não aumentou na mesma proporção, em razão da alta rotatividade da mão-de--obra nos bancos. E nem de longe acompanhou o crescimento da lucratividade dos bancos.

Entre 2004 e 2010, o lucro lí-quido dos seis maiores bancos que operam no país (BB, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa, Santander e HSBC) triplicou. Há sete anos, eles obtive-ram juntos R$ 15,80 bilhões de lucro líquido (já defl acionados). No ano

passado, o lucro líquido conjunto dessas mesmas instituições fi nan-ceiras chegou a R$ 47,35 bilhões.

A única coisa que aumenta nes-sa mesma proporção é a remune-ração dos membros das diretorias e conselhos de administração dos bancos. Em 2010, por exemplo, os diretores e conselheiros do Santander embolsaram cada um, na média, R$ 381 mil por mês; os do Bradesco, R$ 380 mil mensais; e os do Itaú Unibanco, R$ 486,6 mil (diretores) e R$ 85,4 mil (con-selheiros).

A lucratividade explosiva dos bancos e a generosa distribuição de bônus para os altos executivos, em contraste com os salários dos trabalhadores, ajudam a explicar a brutal concentração da renda no Brasil — que está entre os dez países mais desiguais no planeta.

A luta pela remuneração mais digna e pela distribuição da riqueza é um dos pilares da luta pelo em-prego decente. É preciso avançar ainda mais, fundamentalmente, no aumento do piso salarial da catego-ria, que hoje é de R$ 1.250, pouco mais da metade do salário mínimo de R$ 2.255 que o Dieese considera ideal para atender as necessidades básicas de um trabalhador.

Além disso, é preciso lutar para que os bancos implementem planos de cargos e salários que garantam regras claras e transparentes para a ascensão profi ssional.

Aposentadoria justa

Outra dimensão do conceito de trabalho decente formulado pela OIT diz respeito à garantia de uma vida digna após o período laboral, o que signifi ca o direito de todos os trabalhadores à proteção social e econômica na aposentadoria.

A Pesquisa de Emprego Bancá-rio Contraf-CUT/Dieese mostrou que durante todo o ano de 2010 apenas 596 bancários se desligaram por aposentadoria, o que representa 1,78% do total de desligamentos.

Os dados do Caged não per-mitem identificar a evolução do emprego por banco, mas não é difícil perceber que a grande maio-ria dessas aposentadorias está concentrada nos bancos públicos federais. Isso reforça a necessidade de a categoria estabelecer entre as prioridades da campanha nacional a criação ou ampliação de planos de previdência complementar para todos os trabalhadores das institui-ções fi nanceiras privadas.

Melhorar as condições de vida de todos

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Emprego eremuneração

remuneração fi xa diretaA remuneração fi xa direta é aquela recebida regularmente pelo

trabalhador sem qualquer vínculo a um gasto específi co ou ao desem-penho econômico da empresa. São considerados como remuneração fi xa direta: salário, 13º, férias, descanso semanal remunerado (DSR).

remuneração fi xa indiretaA remuneração fi xa indireta está relacionada ao pagamento me-

diante um determinado gasto específi co, como por exemplo: auxílio alimentação, vale transporte, auxílio creche, etc...

remuneração variávelA remuneração variável é aquela que está relacionada ao desempe-

nho da atividade econômica e é paga ou não de acordo com critérios normalmente pré-estabelecidos. São considerados como remuneração variável: PLR, comissões e abonos.

Formas de remuneração

Um estudo do Dieese sobre a composição da remuneração total dos bancários que estão

no piso da categoria aponta que, de acordo com o estabelecido na CCT 2010-2011, um trabalhador teria sua remuneração total divi-dida da seguinte forma: 55,3% de remuneração fi xa direta, 29,3% de remuneração fi xa indireta e 15,4% de remuneração variável.

A partir dos anos 1990, a cate-goria bancária passou por grandes desafi os em relação ao emprego. O advento da microeletrônica e da informática foi responsável pela automação de diversos processos de trabalho anteriormente realiza-do por trabalhadores bancários. Além disso, a terceirização, fusões e aquisições, horizontalização das estruturas e privatizações foram um golpe duro na categoria, que

foi reduzida de cerca de 850 mil trabalhadores em 1990 para 393 mil em 2001.

Nos últimos anos, a categoria bancária voltou a crescer, até alcançar 483 mil trabalhadores em 2010. Essa retomada está re-lacionada principalmente à nova função de vendedores de produtos que boa parte dos bancários se tornou. Porém, as terceirizações no setor e a ampliação dos cor-respondentes bancários, princi-palmente agora após as recentes normas do Banco Central que consolidam esse modelo de aten-dimento e venda de produtos via

correspondentes, estão entre os maiores desafi os que a categoria bancária tem a enfrentar nos pró-ximos anos, pois a estratégia de crescimento dos bancos tem como um dos pilares a transferência das atividades bancárias para esses correspondentes e terceiros, que pagam salários muito inferiores ao dos bancários, não possuem bene-fícios e ainda uma parte da força de trabalho não possui carteira de trabalho assinada.

Dessa forma, fica claro que esse movimento de terceirização da atividade-fi m faz parte de uma estratégia para redução dos custos

n Remuneração Fixa Direta = 55,3%n Remuneração Fixa Indireta = 29,3%n Remuneração Variável = 15,4%

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Emprego eremuneraçãosalariais dos bancos. Eles transfe-rem parte de suas atividades, que eram remuneradas de acordo com a CCT dos bancários, para outras em-presas, tendo como objetivo ampliar a rede de atendimento com custos reduzidos e condições de trabalho precárias. Esse é um elemento que colocará em risco a recuperação do emprego bancário registrada nos últimos nove anos.

Outro problema que tem afetado a categoria bancária é a rotatividade promovida pelos bancos. Apesar de a taxa de rotatividade anual do setor bancário brasileiro ser inferior a de outros setores, a diferença de salário entre admitidos e desligados é uma das mais elevadas — cerca de -37% em 2010.

Um dos impactos desse movi-mento é sobre o salário real médio da categoria bancária, que de 2007 a 2010 passou de R$ 4.283,95 para R$ 4.435,41, uma variação de 3,53% apenas, enquanto nesse mesmo período o aumento real conquistado na CCT foi de 7,40%.

Como antídoto a esse movimento patronal tem sido determinante o

eixo de aumento do piso salarial de-fendido e conquistado nos últimos anos pelos trabalhadores bancários. O reajuste da parcela fi xa da remu-neração, o salário, diminui a depen-dência da remuneração variável e promove a distribuição de renda.

O aumento do piso salarial da categoria infl uencia toda a cadeia salarial das empresas, uma vez que obriga a revisão das demais verbas para manter a distância da remuneração dos cargos — o que, aliado ao aumento real conquista-dos nos últimos anos, faz crescer a média salarial.

É sempre importante lembrar que, somente em 2010, ante uma inflação medida pelo INPC de 4,29%, o piso foi reajustado em 16,33%, um aumento real de 11,54%, um dos maiores conquis-tados nas campanhas salariais do ano passado.

Outro fator que demonstra a alta rotatividade é a comparação das demissões no Brasil com outros países. Dados preliminares de um levantamento junto aos bancários do Mercosul mostram que bancos

que atuam nesses países vizinhos tratam os bancários de forma dis-tinta. Por exemplo, na Argentina o HSBC tem 8 mil trabalhadores e em 2010 demitiu 10. Já na sua sede no Brasil em Curitiba, o mesmo banco tem 6 mil trabalhadores e demitiu quase 600. O que justifica essa ação no Brasil?

Esse novo modelo de negócios dos bancos, agora mais voltado para a venda de produtos, mudou a composição da remuneração dos bancários, com a ampliação da remuneração variável. Em 2010 um(a) bancário(a) que recebe o piso da categoria tem 15% da sua remuneração total sob a forma va-riável. Em 1995, quando a PLR foi estabelecida na CCT, esse percen-tual era de 5%.

Para o cumprimento de metas cada vez mais difíceis, os trabalha-dores têm sofrido cada vez mais com o assédio moral e doenças relacionadas ao trabalho. Além disso, muitos bancários estão sendo vítimas da falta de segurança nos bancos e sofrendo a com a violência cada vez maior.

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Evolução do emprego formal dos bancários (2000-2010)

500.000

450.000

400.000

350.000

300.000

250.000

200.000

150.000

100.000

50.000

0

Fonte: MTE-RAIS - Elaboração: DIEESE Subseção Contraf/CUT

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

402.425393.140 398.098 399.183 405.073

420.036 422.219445.828 459.494 462.164

483.097

Evolução da remuneração real média dos bancários (2000-2010, defl acionada pelo INPC-IBGE)

4.800,00

4.700,00

4.600,00

4.500,00

4.400,00

4.300,00

4.200,00

4.100,00

4.000,00

3.900,00

Fonte: MTE-RAIS - Elaboração: DIEESE Subseção Contraf/CUT

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

4.677,39

4.235,94 4.224,524.278,61 4.288,30

4.241,534.283,95 4.264,63

4.399,574.435,41

4.729,28

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O tema Saúde do Tra-balhador vem a cada ano ganhando mais relevância e ocupando

o centro do debate na Campanha Nacional dos Bancários, tanto por parte dos dirigentes sindicais quanto dos bancários da base, que percebem com mais clareza a relação entre saúde, ambiente e condições de trabalho.

Num passado recente, no Brasil, o grande mal que acometia os tra-balhadores do ramo financeiro eram as doenças do sistema músculo es-quelético, as chamadas LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos/Doenças Osteomusculares Relati-vas ao Trabalho). Problema que vem sendo combatido pelos bancários desde a década de 1980, as LE/DORT ainda são a maior causa de adoecimento da categoria. Porém, com a introdução de novas formas de gestão e a concorrência entre as empresas cada vez mais acirrada, dos anos 1990 para cá o sofrimento mental tem rivalizado em termos de incidência com aquelas patologias.

Números do INSS entre revelam que entre janeiro e junho de 2009, 6.800 bancários foram afastados por razões de saúde. Do total, 2.030 tiveram licença-saúde por LER/DORT e 1.626 apresentaram doenças mentais, como depressão, síndrome do pânico e outras.

Entre as causas mais importan-tes já identificadas de forma empíri-

ca para explicar tal fenômeno está a questão do assédio moral, em razão da cobrança por produtividade, as “metas abusivas”.

Pela forma inadequada como são estabelecidas, as metas já trazem em si um fator de angústia entre os bancários. Ao implementá--las, as empresas não levam em consideração eventuais limitações e diferenças entre os locais de traba-lho e as próprias diferenças entre as pessoas. E ferem ainda a ética dos trabalhadores, obrigados a vender produtos aos clientes, mesmo que estes não precisem.

A situação se agrava ainda mais pela forma como os ban-cários são cobrados para o atin-

Saúde do trabalhador

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gimento – e até superação – das metas. Qualquer método é válido para as empresas, desde que o objetivo seja atingido.

Assim, a violência moral apa-rece de forma “natural”, e os administradores das empresas, se não incentivam de forma explícita essas práticas, fazem vista grossa e se beneficiam de seus resulta-dos. Por isso adotamos o termo “assédio moral/violência organiza-cional”, pois, embora a prática seja individual de um gestor, normal-mente a forma como se organiza o trabalho acaba por representar um incentivo a esses métodos. E as empresas se prevalecem deles, pois se mostram eficazes como

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método para obtenção imediata de resultados financeiros.

É importante frisar que muitas vezes a doença mental também é reflexo direto de problemas físicos como LER/DORT. O sofrimento e a dor levam à depressão. E o tra-balhador afastado por LER/DORT, quando retorna ao trabalho, é dis-criminado e vítima em potencial de assédio moral.

Acordo sobreassédio, um avanço

Quando o movimento sindical começou a levar o tema assédio moral à mesa de negociação, os bancos recusavam-se a discutir o

Os Bancos se obrigam a garantir a participação de to-dos os seus trabalhadores na estipulação de metas e respec-tivos mecanismos de aferição, estabelecendo-se que as mes-mas serão obrigatoriamente de caráter coletivo e definidas por departamentos/agências.

§1º - Dentre os critérios referidos no caput, a estipulação de metas deverá levar em consideração o porte da unidade (departamen-to/agência), a região de locali-zação, o nº de empregados, a carteira de clientes, o perfil eco-nômico local, a abordagem e o tempo de execução das tarefas.

§2º - Fica acordado que as me-tas serão adequadas e reduzidas proporcionalmente nas hipó-

Artigo 63 -Fim das Metas Abusivas

teses de afastamentos, licenças, férias, ausência, etc.

§3º - Fica estabelecido que o cumprimento das metas pelos empregados refletirá diretamente na agência/departamento, redu-zindo-a proporcionalmente ao seu cumprimento.

§4º - Fica vedada qualquer tipo de comparação entre os resultados

obtidos, seja por agência, região ou ranking.

§5º - Fica vedada a individua-lização das metas durante sua gestão;

§6º - Os empregados no exercício das funções de Caixa não serão submetidos ao cumprimento de metas definidas pela área/depar-tamento/agência.

assunto alegando que não havia esse problema nos locais de tra-balho. Com a pressão da categoria, conseguimos provar a relação entre assédio moral e adoecimentos e os banqueiros foram obrigados a ceder. Avanços importantes foram conquistados desde então, sendo o principal deles o acordo assinado com os principais bancos no dia 26 de janeiro último, com o nome de Protocolo para Prevenção de Conflitos no Ambiente de Trabalho.

Conquista inédita na história das relações trabalhistas no Brasil, pelo acordo os bancários podem fazer denúncias aos sindicatos e os ban-cos comprometem-se a preceder a apuração do caso no prazo de 60

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Saúde do trabalhadordias, dando retorno ao sindicato que encaminhou a denúncia. Além a cláusula prevê ainda que os bancos aderentes declaram explicitamente condenação a qualquer ato de as-sédio e reconhecem que o objetivo é alcançar a valorização de todos os empregados, promovendo o res-peito à diversidade, à cooperação e ao trabalho em equipe, em um ambiente saudável.

A grande maioria dos sindicatos ligados à Contraf/CUT também ade-riu à cláusula, conforme previsto

na CCT, porém o que se observa é que na prática uma grande parcela de sindicatos não tem se utilizado do instrumento, o quê é preocupante, pois é a partir do re-gistro das denúncias, bem como do acompanhamento do desfecho da apuração que poderemos construir indicadores e estatísticas provando o que há muito já constatamos no dia-a-dia: o assédio moral é prática largamente utilizada como ferramenta de gestão nos bancos e a direção desses bancos até hoje

fazia vista grossa para essa situa-ção, se benefi ciando dos resultados pretensamente melhores, obtidos com esse tipo de atitude. Portanto, é necessário que os sindicatos se estruturem com urgência e divul-guem às suas respectivas bases o teor da cláusula, estimulando-a a denunciar os casos ocorridos.

desafi o é discutir a organização do trabalho

Mas precisamos ter claro que, embora seja uma ferramenta im-portante na luta pela preservação da saúde do trabalhador, o acordo sobre assédio moral não resolverá o nosso principal problema.

O grande desafi o é estabelecer-mos condições de trabalho mais humanas. E para isso é necessário enfrentar uma questão que repre-senta um verdadeiro tabu: a forma como se organiza o trabalho, tanto do ponto de vista dos ambientes físicos, como nas rotinas e tarefas, em relação às formas de gestão. Com base num conceito de ergo-nomia abrangente que não esteja

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1313

Assim a Contraf/Cut propõe que sejam incluídos napauta das conferências regionais os seguintes debates:

1) como viabilizar urgentemente a cláusula de combate ao assédio moral/violência organizacional;

2) a necessidade das federações acompanharem todos os debates de Saúde do Trabalhador promovidos pela Contraf/CUT e a mesa temática de ST, enviando seus representantes (secretários de ST) sempre que ocorrer um desses eventos, com o compromisso de repasse a todos os sindicatos.

3) como conscientizar o bancário sobre o potencial de adoecimento nos locais de trabalho está diretamente ligado à organização do trabalho e o quê fazer para alterar essa situação.

1313

somente preocupado com móveis e equipamentos, aparentemente confortáveis e adaptados às ne-cessidades das pessoas, mas que leve em conta a relação homem X trabalho como um todo, encarando o trabalho não apenas como meio de subsistência, mas também como fator de realização pessoal.

Aí reside o grande impasse. Do nosso ponto de vista, queremos discutir a organização do traba-lho, o que inclui a forma como as metas são estipuladas e cobradas. A individualidade e a integridade física e mental dos trabalhadores precisam ser respeitadas. Os banqueiros, por seu lado, apesar do discurso de responsabilidade socioambiental, só pensam em aumento de produtividade e no lucro. Para atingir esse objetivo, qualquer método é válido.

E a Fenaban se recusa a fazer esse debate, alegando que as me-tas e a organização do trabalho são um problema de gestão e que os bancos não concordam em discutir com os sindicatos. Alegam ainda

que as metas não são abusivas e sim “desafi adoras”.

Nossas reivindicações sobre o tema são as seguintes, como consta da minuta apresentada à Fenaban em 2010:

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Segurança bancária

O cenário de violência, criminalidade e insegu-rança segue causando ataques a bancos, como

assaltos e sequestros, colocando em risco a vida de trabalhadores e clientes e deixando um rastro de mortes, feridos e pessoas traumati-zadas. Esse quadro se deve a uma série de fatores, como a carência de políticas públicas, a exclusão social, a defasagem da lei federal nº 7.102/83, a precariedade da segurança pública, a crise do sis-tema prisional e, de modo especial, o descaso dos bancos em ampliar os investimentos para melhorar as condições de segurança dos estabelecimentos.

O crescimento do crime da “saidinha de banco”, que começa dentro dos bancos, agravou essa realidade, principalmente nas grandes cidades. Além disso, os arrombamentos com utilização de explosivos em vários estados do país ameaçam não somente os bancos, mas toda a sociedade.

A Contraf-CUT tem enfrentado essa realidade preocupante e desa-fiadora, atuando em várias frentes, com as federações e os sindicatos, em parceria com a Confederação

Nacional dos Trabalhadores Vigilan-tes (CNTV). Apesar dos avanços, o trabalho precisa ser ampliado.

Assim como a saúde do traba-lhador, a segurança bancária preci-sa ser encarada como prioridade na ação sindical, exigindo mais organi-zação, envolvimento e participação de todas as entidades. Para nós, a proteção da vida das pessoas está em primeiro lugar.

1. CONquIStA dE NOvA CláuSulA EM 2010

No ano passado, a Contraf--CUT, federações e sindicatos retomaram a Comissão de Segu-rança Bancária com a Fenaban, prevista na convenção coletiva desde 1991, hoje denominada Mesa Temática de Segurança Bancária. Após quatro reuniões de debates e com a força da gre-ve nacional, foi conquistada uma nova cláusula de segurança na convenção coletiva, que assegura:

a) no caso de assalto a qualquer agência ou posto de atendimen-to bancário, todos os emprega-dos presentes terão direito a atendimento médico ou psico-

lógico logo após o ocorrido, e será feita comunicação à CIPA, onde houver.

b) em caso de assalto ou ataque contra qualquer agência ou posto de atendimento bancário, consumado ou não o roubo, ou, ainda, em caso de sequestro consumado, o banco registrará o Boletim de Ocorrência Policial.

c) o banco avaliará o pedido de re-alocação para outra agência ou posto de atendimento bancário, apresentado pelo empregado que for vítima de sequestro consumado.

d) os dados estatísticos nacionais sobre ocorrências de assaltos e ataques, cujos roubos tenham sido consumados ou não, serão discutidos, semestralmente, na Comissão Bipartite de Segurança Bancária, referida na Cláusula 43ª desta Convenção.

2. ACESSO àSEStAtíStICAS dOSbANCOS SObrE ASSAltOS

Os bancários retomaram a Mesa Temática de Segurança Bancária em 2011. Nas três reuniões ocorri-

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das em março, abril e junho, os ban-cários obtiveram pela primeira vez o acesso às estatísticas nacionais de assaltos, conforme estabelece a convenção coletiva, e cobraram me-didas de prevenção para combater a “saidinha de banco”.

A Fenaban apresentou os nú-meros de assaltos, consumados ou não,incluindo os casos de seques-tros, desde 2000, revelando uma redução gradativa das ocorrências. Para os bancários, essa queda é fru-to da ampliação dos equipamentos de segurança, muitos por força de leis municipais, como a instalação de portas giratórias e câmeras de vídeo, mas os números certamente foram maiores, uma vez que há de-núncias de agências que não fi zeram o boletim de ocorrência, o que agora é obrigatória, conforme a convenção coletiva. Além disso, houve outros ataques a bancos, como arromba-mentos, que não foram computados.

caixas eletrônicos, na medida em que esse tipo de delito cresceu nos últimos anos, muitos deles com uso de explosivos.

A Contraf-CUT defendeu a defi -nição de um calendário de apresen-tação das estatísticas semestrais. A Fenaban propôs a exposição dos números de cada semestre até 31 de janeiro e 31 de julho a partir de 2012, comprometendo-se a mostrar os dados do primeiro semestre des-te ano no mês de agosto.

Os bancários também levaram os números de uma estatística nacional feita pelo Sindicato dos Vigilantes de Curitiba, com dados de sindicatos de vigilantes, bancários, imprensa e secretarias de segurança pública de alguns estados. O levantamento apurou o total de 1.130 ataques em 2010, incluindo assaltos, tentativas e arrombamentos. São números parciais e dependem de dados que devem ser apurados pelos sindicatos e federações e depois enviados para a Contraf-CUT.

3. COMbAtEr A“SAIdINHA dE bANCO”

O crime da “saidinha de banco” preocupa trabalhadores e clientes. Segundos dados da polícia, São Paulo registra uma média de oito ocorrências por dia; Curitiba, sete; e Rio de Janeiro, seis. No ano passado, conforme levantamento da Contraf-CUT, 23 pessoas foram mortas em assaltos envolvendo bancos em todo país, dos quais dez foram vítimas desse golpe. Nos primeiros cinco meses de 2011, já ocorreram 15 mortes, sendo 7 em “saidinha de banco”.

Esse crime inicia dentro dos bancos e, por isso, não é somente um problema de segurança públi-ca como alegam certos bancos. Ele precisa ser enfrentado por

Assaltos a bancos, consumados ou não

2000 1.9032001 1.3022002 1.0092003 8852004 7432005 5852006 6742007 5292008 5092009 4302010 369

Fonte: Febraban

Os bancários propuseram sepa-rar os dados de assaltos, informando os que envolveram sequestros de bancários. Também defenderam a realização de um levantamento dos arrombamentos de agências e

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Segurança bancáriatodos eles, por meio de medidas de prevenção, e os lucros estron-dosos permitem investir mais em segurança.

A Contraf-CUT e a CNTV lança-ram um modelo de projeto de lei municipal para combater a “saidi-nha de banco”, que prevê o reforço da estrutura de segurança dos esta-belecimentos, como a instalação da porta giratória com detector de me-tais antes do autoatendimento e a blindagem dos vidros das fachadas. Também estabelece a colocação de equipamentos que difi cultem a visualização dos saques dos clientes por olheiros, através da colocação de divisórias individualizadas entre os caixas, inclusive eletrônicos, e de biombos entre a fi la de espera e os caixas, além de câmeras de fi lma-gem com monitoramento em tempo real nos espaços de circulação de clientes, nas calçados e nas áreas de estacionamento.

O problema também foi discutido na Mesa Temática de Segurança Bancária com a Fenaban. Além da ampliação de equipamentos, a Contraf-CUT propôs a isenção de tarifas de transferência de recursos (TED, DOC, ordens de pagamento), como forma de reduzir a circulação

de dinheiro na praça e evitar que clientes efetuem saques elevados para não pagar tarifas e sejam alvo de assaltantes.

A Fenaban limitou-se a anunciar a ampliação das câmeras de moni-toramento e a dizer que as demais medidas propostas pelos bancários ainda não são consensuais entre os bancos. Porém, o Banpará e o Banestes já instalaram biombos em suas redes de agências.

4. ArrANCAr NOvAS CONquIStAS

A Campanha Nacional dos Bancários 2011 abre nova possibi-lidade para atualizar e reafi rmar as reivindicações da categoria sobre segurança e, ao mesmo tempo, pressionar os bancos, visando arrancar novas conquistas na con-venção coletiva, a partir dos debates na mesa temática e das mobiliza-ções. Também permite denunciar o descaso dos banqueiros com a segurança e reafi rmar as propostas dos bancários que colocam a vida das pessoas em primeiro lugar.

Os bancários vêm defendendo um conjunto de medidas repara-tórias, preventivas e indenizatórias

junto aos bancos, como forma de combater a insegurança e proteger a vida de trabalhadores, clientes e usuários. Veja as principais propostas:

a) Medidas reparatóriasn atendimento médico e psicológico

aos empregados, bem como às suas famílias em caso de ameaça ou consumação de sequestros ou outros delitos;

n os bancos deverão emitir a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) a todos os emprega-dos que estiveram no local do assalto, consumado ou não, bem como aos vitimados por seques-tro ou extorsão, ainda que não consumado;

n após a ocorrência, o estabele-cimento deverá permanecer fechado, até que seja procedida avaliação técnica pelas áreas de segurança e saúde do banco, com a participação do sindicato local;

n aos empregados vítimas de as-saltos, sequestros ou extorsões, sofridos em virtude do exercício da atividade bancária, será ga-rantida estabilidade provisória no emprego de 36 meses contados da ocorrência;

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b) Medidas preventivas:n proibição da guarda das chaves

e acionadores de alarmes pelos bancários, ficando esses serviços sob a responsabilidade de empre-sas especializadas em segurança;

n proibição ao transporte de valores pelos bancários, devendo o mes-mo ser feito exclusivamente por vigilantes em carros-fortes;

n ampliação de equipamentos e medidas de prevenção contra assaltos e sequestros;

c) Medidas indenizatóriasn o banco pagará aos empregados,

que trabalhem em agências, postos de atendimento e áreas de tesouraria, um adicional de periculosidade e risco de vida de 30%, calculado sobre todas as parcelas que integram a re-muneração mensal;

5. OrgANIzAçãO E MObIlIzAçãO pErMANENtE

O combate à violência nos ban-cos e na sociedade precisa ser assumido pelas entidades sindicais com organização e mobilização per-manenteo ano inteiro. Para tanto, aContraf-CUT defende o fortale-cimento das várias iniciativas em andamento, tais como:a) Coletivo Nacional de Seguran-

ça Bancária: coordenado pela Contraf-CUT, com a participação de representantes de sindicatos e federações, com encontros antesdas rodadas da Mesa Te-mática e das reuniões da CCASP;

b) Coletivos Estaduais e Locais de Segurança Bancária: organiza-ção de coletivos no âmbito das federações e dos sindicatos, visando organizar estatísticas, ampliar leis municipais e cons-truir propostas para combater a

violência e a insegurança;c) Atuação na CCASP: participa-

ção da Contraf-CUT como re-presentante dos bancários nas reuniões da Comissão Consultiva para Assuntos da Segurança Privada (CCASP) do Ministério da Justiça, sob coordenação da Polícia Federal, onde sãojulga-dos os processos movidos pela PF contra bancos, empresas de segurança e vigilância e centros de formação;

d) Atualização da lei federal nº 7.102/83:a Contraf-CUT e CNTV já entregaram proposta de projeto de lei de segurança privada ao Ministério da Justiça e à Câmara dos Deputados, como alternativa dos trabalhadores ao Projeto de Estatuto da Segurança Privada, elaborado pela coordenaçãode Segurança Privada da Polícia Fe-deral e apresentado na Comissão Especial de Segurança Privada da Câmara dos Deputados;

e) Ampliação das leis municipais de segurança: os sindicatos devem continuar levando propostas de projetos de leis para prefeitos e vereadores, buscando a elabo-raçãode leis municipais que me-lhorem a segurança nos bancos;

f) Estatísticas de ataques a bancos: ampliar o levantamento de assaltos e sequestros, incluindo tentativas, furtos e arrombamentos, envolven-do agências, postos e caixas eletrô-nicos, através do engajamento de todos os sindicatos e federações, visando organizar estatísticas em cada estado e em nível nacional;

g) Mobilizações contra a insegurança: organização de manifestações, atos públicos, protestos, dias de luta e caminhadas, dentre outras atividades, em parceria com outras entidades, cobrando segurança dos bancose dos governos;

i) Grupos de trabalho de segurança

bancária: organização e fortaleci-mento de grupos de trabalho de segurança bancária, no âmbito das secretarias de segurança pública dos estados, buscando a construção de alternativas;

m) NR de Segurança no Ramo Financeiro: manter a luta pela formação de um grupo de estu-dos no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), visando discutir a proposta de criar uma Norma Regulamentadora (NR) de Segu-rança no Ramo Financeiro, diante dos riscos à saúde do trabalha-dor. A proposta é uma iniciativa da Contraf-CUT, encaminhada pela CUT para a Bancada dos Trabalhadores, que a apresentou na Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP) do MTE, mas a Bancada dos Empregadores se recusou a discuti-la.

As entidades sindicais dos bancários e vigilantes lutam também:

n pela revogação imediata da Men-sagem nº 12/2009, da Polícia Fe-deral, que desobriga a presença do mínimo de dois vigilantes no horário de almoço nas agências, descumprindo a lei federal nº 7.102/83;

n pelo enquadramento das coope-rativas de crédito como institui-ções financeiras, a fim de que sejam obrigadas a fazer planos de segurança e cumprir os dispo-sitivos da lei federal nº 7.102/83;

n contra a precarização do atendi-mento e o processo de bancari-zação sem bancários, através da proliferação de correspondentes, que visam unicamente reduzir os custos dos bancos, porém ampliam a insegurança na socie-dade e colocam em risco o futuro da categoria bancária.

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SistemaFinanceiro Nacional

O texto da Constituição Fe-deral, aprovado em 1988, definia em seu artigo 192 que o Sistema Financeiro

Nacional deveria ser estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e servir aos inte-resses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito. E deveria ser regulado por leis complementa-res que disporiam, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram. Continha ainda oito incisos e três parágrafos que definiam itens a serem tratados na regulamentação.

Ao longo desse tempo, muito foi debatido sobre essa regulamentação,

sendo que a Confederação Nacional dos Bancários (CNB/CUT), após longo debate, produziu em 1992 as bases para o projeto de lei que foi apresentado pelos então deputados federais José Fortunati (PT-RS), Paulo Bernardo (PT-PR), Luiz Gushiken (PT-SP) e Agostinho Valente (PT-MG).

Outros projetos foram apresen-tados tratando do mesmo tema, sendo que até 2010 nenhum deles foi a votação, sequer passaram pelas Comissões do Congresso e, finalmente, foram todos arquivados em abril de 2010.

Por outro lado, em 2001, os então senadores José Serra (PSDB--SP) e Jeferson Perez (PDT-AM) apresentaram o Projeto de Emenda

Constitucional 053, que foi apro-vado e sancionado como Emenda Constitucional 040/2003 pelo então Presidente Lula. A emenda alterou o texto do Artigo 192, mantendo ape-nas o seu caput e eliminando todos os incisos e parágrafos que versavam sobre os itens a serem regulamenta-dos. Em suma, a emenda tratou de desfigurar o Artigo 192, deixando aberto o campo para que o Banco Central fizesse toda regulamentação.

De 1995 até agosto de 2010, 46 leis, emendas, circulares, re-soluções, decretos ou instruções foram emitidos com o objetivo de reformular o SFN, sempre no sentido do mercado e em resposta às crises externas e internas.

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Em 2009 o Ipea produziu um trabalho chamado “Transformações na indústria bancária brasileira e o cenário da crise”, que aponta um mercado insuficiente, pois apresenta elevado grau de exclusão bancária, alto custo do crédito, distribuição ge-ográfica desproporcional (concentra-ção nas capitais, enquanto 9% dos municípios não têm atendimento), concentração bancária (diminuição do número de bancos), dentre outros diagnósticos. A conclusão é que “a indisponibilidade de crédito barato e as insuficiências de inclusão e atendimento à população represen-tam um obstáculo para atingir um padrão de crescimento econômico mais elevado”, uma vez que “o cré-dito continuará sendo a força motora para dar sustentação ao crescimento e gerar sua transformação num cír-culo virtuoso de desenvolvimento”.

A publicação “Pesquisa Focus”, elaborada pelo Banco Central sobre expectativas do mercado, reflete o

pensamento da indústria financeira, deixando de ouvir o setor produtivo e os trabalhadores. Tal pesquisa baliza a tomada de decisão sobre a taxa Selic que, a cada vez que é majora-da, transfere bilhões para rentistas e especuladores.

Mais que nunca os trabalhadores precisam debater a regulamentação do Artigo 192, de forma que ele aten-da aos interesses do povo brasileiro.

É preciso democratizar e ampliar o Conselho Monetário Nacional, garantindo representação aos tra-balhadores e setores produtivos da sociedade, definir o papel e o caráter do Banco Central. A este cabe tomar decisões que considerem, além da defesa da moeda e controle da inflação, a proteção dos empregos e a geração e distribuição de renda, devendo prestar contas à sociedade.

Os bancos, enquanto concessões públicas, devem atender à popula-ção de forma organizada, qualificada e segura, além de garantir uma

assessoria financeira que permita aplicar ou tomar recursos com se-gurança, ética e taxas justas.

Os bancos federais e estaduais precisam ter sua função e papel claramente definidos. É sempre importante lembrar que a atuação determinante dessas instituições em 2009, provendo o mercado com crédito enquanto os bancos privados cortaram todas as fontes diante da crise financeira mundial que se avo-lumava, demonstra que eles podem e devem servir à sociedade. Para isso eles não devem ser mais um a con-correr no mercado, mas definidores dos rumos desse segmento, dando o norte a ser seguido.

Cabe aos trabalhadores do siste-ma financeiro participar ativamente desse debate, apresentando suas propostas e lutando para uma regulamentação que atenda às ne-cessidades da sociedade e não de um pequeno grupo de investidores e capitalistas.

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