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Anais do 12º Encontro Científico Cultural Interinstitucional - 2014 1 ISSN 1980-7406 CONTRABANDO E DESCAMINHO: UMA NOVA PESPECTIVA D’ AGOSTINI, Jhonata Nathan¹ FEISTLER, Ricardo Pinto² GIRALDI, Franciele Natacha³ RESUMO Emolduram-se no artigo 334 do Código Penal Brasileiro os crimes de contrabando e descaminho, mas ainda que estejam em um único artigo existe uma sutil e significativa diferença entre ambos os delitos. Caracteriza-se crime de contrabando o transporte e comércio ilegal de produtos proibidos por lei no país como é o exemplo de transporte de cigarros, armas, drogas, animais silvestres (produtos considerados ilícitos) e delito se consiste no transporte de produtos permitidos por lei que não se submeteram aos trâmites burocráticos tributários exigidos pelo país nas fronteiras e aeroportos, nos quais se cita os casos de indivíduos que adquirem produtos eletrônicos no Paraguai, acima da cota permitida, e não recolhem impostos devidos. PALAVRAS-CHAVE: Contrabando, descaminho, tráfego de produtos ilícitos, sonegação fiscal. SMUGGLING ABD EMBEZZLEMENT: A NEW PERSPECTIVE RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA If frame on Article 334 of the Brazilian Penal Code crimes of smuggling and embezzlement, but still they are in a single article there is a subtle and significant difference between the two offenses. Characterized crime of smuggling and transporting illegal trade in banned by law in the country products as is the case of transport of cigarettes, weapons, drugs, wild animals (products considered illegal) and if offense is the transport of goods allowed by law not subjected to tax paperwork required by the country at the borders and airports, which cites the cases of individuals who purchase electronics in Paraguay over quota allowed, and do not collect taxes. PALAVRAS-CHAVE EM LÍNGUA ESTRANGEIRA: Smuggling, smuggling of illicit goods traffic, tax evasion. ----------------------------------- ¹Acadêmido do 4º Período de Direito da FAG - Faculdade Assis Gurgacz. E-mail: [email protected] ² Professor de Direito Penal na Academia de Direito da FAG - Faculdade Assis Gurgacz. E-mail: [email protected] ³Acadêmida do 4º Período de Direito da FAG - Faculdade Assis Gurgacz. E-mail: [email protected]

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Anais do 12º Encontro Científico Cultural Interinstitucional - 2014 1 ISSN 1980-7406

CONTRABANDO E DESCAMINHO: UMA NOVA PESPECTIVA

D’ AGOSTINI, Jhonata Nathan¹

FEISTLER, Ricardo Pinto² GIRALDI, Franciele Natacha³

RESUMO Emolduram-se no artigo 334 do Código Penal Brasileiro os crimes de contrabando e descaminho, mas ainda que estejam em um único artigo existe uma sutil e significativa diferença entre ambos os delitos. Caracteriza-se crime de contrabando o transporte e comércio ilegal de produtos proibidos por lei no país como é o exemplo de transporte de cigarros, armas, drogas, animais silvestres (produtos considerados ilícitos) e delito se consiste no transporte de produtos permitidos por lei que não se submeteram aos trâmites burocráticos tributários exigidos pelo país nas fronteiras e aeroportos, nos quais se cita os casos de indivíduos que adquirem produtos eletrônicos no Paraguai, acima da cota permitida, e não recolhem impostos devidos. PALAVRAS-CHAVE: Contrabando, descaminho, tráfego de produtos ilícitos, sonegação fiscal.

SMUGGLING ABD EMBEZZLEMENT: A NEW PERSPECTIVE RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA If frame on Article 334 of the Brazilian Penal Code crimes of smuggling and embezzlement, but still they are in a single article there is a subtle and significant difference between the two offenses. Characterized crime of smuggling and transporting illegal trade in banned by law in the country products as is the case of transport of cigarettes, weapons, drugs, wild animals (products considered illegal) and if offense is the transport of goods allowed by law not subjected to tax paperwork required by the country at the borders and airports, which cites the cases of individuals who purchase electronics in Paraguay over quota allowed, and do not collect taxes. PALAVRAS-CHAVE EM LÍNGUA ESTRANGEIRA: Smuggling, smuggling of illicit goods traffic, tax evasion.

----------------------------------- ¹Acadêmido do 4º Período de Direito da FAG - Faculdade Assis Gurgacz. E-mail: [email protected] ² Professor de Direito Penal na Academia de Direito da FAG - Faculdade Assis Gurgacz. E-mail: [email protected] ³Acadêmida do 4º Período de Direito da FAG - Faculdade Assis Gurgacz. E-mail: [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Muito se vislumbra sobre o tema de contrabando e descaminho, sua forma de evasão e o dano causado aos cofres públicos e a sociedade, em face da desleal concorrência impactada diretamente no comércio. A pirataria está fortemente ligada ao crime organizado bem como a falsificação e comercialização desses produtos estão associados aos crimes de contrabando e descaminho. A reflexão sobre o estudo de descaminho adquiriu importância na atualidade em virtude dos elevados impostos que são atribuídos à entrada e saída de produtos no país, vez que o atual cenário econômico brasileiro está em crise, e as famílias, em virtude do alto índice de desemprego, passaram a comercializar produtos de origem estrangeira sem os devidos tramites alfandegários, incorrendo assim no crime de descaminho. A estrutura do descaminho encontra-se prevista no ordenamento jurídico do Brasil desde o período colonial. As mudanças no conceito e tratamento dados ao crime pelo governo repercutiram e causaram confusão entre as figuras do contrabando e descaminho. No entanto quais são as diferenças entre esses dois delitos?

Neste artigo, será feito uma breve distinção entre tais delitos, bem como sua evolução histórica, com

aprofundamento na extinção da punibilidade no crime de descaminho com o simples pagamento da dívida tributária. 2. REFERENCIAL TEÓRICO É mister enfatizar de que o Contrabando advém do latim Conta Bandum caracterizando uma ação que se firma em contrariedade ao designado em lei (PRADO, 2007).

Seu surgimento está arraigado na história desde o Império no que abordava sobre os crimes contra o tesouro público e a propriedade pública. (PRADO, 2007).

O conceito de descaminho possui peculiaridades distinguindo os dois crimes ora em questão, nesse âmbito Mirabete, Damásio E. de Jesus conceitua descaminho como “fraude no pagamento de impostos e taxas devidos para o mesmo fim (entrada ou saída de mercadorias ou gêneros)”. (JESUS, 2002, p. 237).

Com o fim de complementar tal conceito Capez trás em sua ilustre obra que o descaminho é uma fraude cujo agente possui intenções em evitar o devido pagamento do imposto a ser retido sobre a mercadoria circulante em sua integralidade ou de forma parcial. (CAPEZ, 2009).

Na mesma proporção, cabe contextualizar referência doutrinaria para crimes de contrabando, assim, aduz Fernando Capez em sua obra sua referenciada, que se define como contrabando a entrada ou saída de mercadorias proibidas parcialmente ou totalmente de serem circuladas, paralelo a essa definição Damásio E. de Jesus aduz que “A expressão contrabando quer dizer importação ou exportação de mercadorias ou gêneros cuja entrada ou saída do País é proibida (JESUS, 2002, p. 237).

Faz-se notórias grandes observações sobre o conceito de contrabando sendo analisado em sentido estrito referindo-se concisamente em uma ação pela qual se exporta ou importa-se produto de forma fraudulenta enquanto que o crime de descaminho vem iludir o pagamento do imposto sobre a mercadoria em circularização. Nota-se que o crime de contrabando se restringe no ato de exportar ou importar sem implicar o devido pagamento. 3. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O CRIME DE CONTRABANDO E DESCAMINHO

3.2 Evolução Histórica No Brasil, ainda no período colonial, as Ordenações Manuelinas e Filipinas estavam aperfeiçoando uma estrutura acerca do crime de contrabando, o qual se origina em Portugal em meados dos anos 1700 d. c., sem, no entanto, adequá-las à realidade do então Brasil Colônia. O princípio da Reserva Legal não era respeitado e mercadorias eram proibidas de entrar e sair do Reino, ao menos às que tivessem consentimento do Rei.

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Após a Proclamação da República, no ano de 1830, fora editado o primeiro código que vislumbrava tal situação, denominado Código Criminal do Império do Brasil, que continha em seu texto legal a tipificação para os crimes de contrabando e descaminho.

Contrabando Art. 177. Importar, ou exportar gêneros, ou mercadorias proibidas; ou não pagar os direitos dos que são permitidos, na sua importação, ou exportação. Penas – perda das mercadorias ou gêneros, e de multa igual á metade do valor delles. (igual ao original) (BRASIL, 1830, s. p.)

No ano de 1890 foi promulgado o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, sendo que este novo texto legal

não contemplava mudanças significativas. A diferenciação entre as duas sanções estava relacionada com a privação de liberdade, enquanto no código de 1830 a pena era de perdimento dos bens, no de 1890 existia a possibilidade da privação da liberdade.

DECRETO N. 847 – DE 11 DE OUTUBRO DE 1890 Promulga o Código Penal. DO CONTRABANDO Art. 265. Importar ou exportar, gêneros ou mercadorias proibidas; evitar no todo ou em parte o pagamento dos direitos e impostos estabelecidos sobre a entrada, saída e consumo de mercadorias e por qualquer modo iludir ou defraudar esse pagamento: Pena – de prisão celular por um a quatro anos, além das fiscais. (igual ao original) (BRASIL, 1890, s.p.).

Surge então na década de 40, o Código Penal Brasileiro, em vigor até os dias atuais, que distingue claramente o contrabando do descaminho, bem como suas sanções. 3.2 Distinções entre o contrabando e descaminho

Inicialmente far-se-á necessária distinção entre os delitos de contrabando e descaminho. Destarte, cabe definir contrabando como o ato de importar e/ou exportar produtos e mercadorias que estão total ou parcialmente proibidas de entrar ou sair do país; o descaminho como o ato de importar ou exportar mercadorias lícitas sem o devido pagamento do tributo previsto e obrigatório; e perfaz a diferença entre ambos destacando que no contrabando o produto e/ou mercadoria importada e/ou exportada estão proibidas seja total ou parcialmente de entrar ou sair do país e no descaminho o produto e/ou mercadoria importada e/ou exportada tem livre acesso de entrada e saída no país, mas possui fraude no que tange ao devido pagamento/recolhimento dos tributos previstos sobre o mesmo.

Devidamente previsto no ordenamento jurídico Brasileiro, em seu Código Penal no Art. 334, contendo a

seguinte redação:

Art. 334 - Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. § 1º - Incorre na mesma pena quem: a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou descaminho; c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de contrabando ou descaminho é praticado em transporte aéreo”.

São inúmeros os exemplos que se possam ilustrar tais condutas. No contrabando, um exemplo claro e repetidamente freqüente na região oeste do Paraná são os transportes e comercializações de armas, munições, drogas, que atravessam a fronteira do Paraguai, Uruguai, Argentina e Bolívia inúmeras vezes atravessadas com produtos piratas

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e animais silvestres que são retirados do seu habitat natural -, este último ocorre com maior freqüência nas fronteiras do Brasil localizadas próximas a Amazônia. Já no descaminho ilustra-se facilmente, ainda no mesmo cenário entre fronteiras, a saída e entrada de mercadorias ou ainda a própria importação e exportação de produtos legalmente permitidos pelo país, mas que deixaram de submeter-se aos trâmites burocráticos necessários, correspondendo em maior parte das vezes ao crime de sonegação fiscal. Outro ponto que ambas as condutas levam é a falsificação de documentos públicos com intuito de maquiar essas condutas. Claro que a sonegação e a falsificação de tais documentos são mais abrangentes e estão sujeitos as penas descritas no Código Penal, sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis possibilitando ao infrator ao pagamento dos tributos acrescidos de multas e demais encargos por lei e norma desentranhados. Outra ramificação que poder-se-á estender é a existência da apropriação indébita, prevista pelo artigo 168 do Código Penal na qual consiste na apropriação de um bem móvel de forma ilícita em que o individuo tem posse (mas não a propriedade) e se apropria indevidamente cuja intenção é dispor da coisa como se sua fosse. Como é o caso do valor devidamente descontado do sujeito passivo que está incumbido ao pagamento do IR, IPI, entre outros e não recolhe devidamente até seu o prazo legal previsto em lei.

As irregularidades estendidas nos parágrafos supramencionados, ocorrem facilmente em empresas que possui seu cadastro regular no país não sendo possível estimar a extensão que pode abranger nas atividades clandestinas, sacoleiros, comerciantes ambulantes, autônomos não regulamentados, camelos entre outros que se espalham e se multiplicam pelo Brasil afora e que além de contribuir com o enfraquecimento da economia do Brasil deixam de pagar pelo aluguel, impostos, luz, água, encargos trabalhistas e demais irregularidades que fortalecem a concorrência desleal em face da sonegação e ilícitos tributários. Caracterizam-se como objetos dos delitos o erário público lesado o Estado e a indústria Brasileira. 3.2.1 Estrutura do Crime de Descaminho Para a caracterização do crime de descaminho, o agente deve tentar “iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria”. Nota-se que o verbo iludir traz a menção de meio fraudulento, ardil, utilizado a fim de diminuir ou evitar o recolhimento do tributo devido, seja pela entrada ou saída de mercadorias.

Para Bittencourt, a simples entrada de mercadorias sem a passagem pelos procedimentos alfandegários já tipifica o crime de descaminho, não havendo a necessidade de intenção da fraude por parte do agente. (BITTENCOURT, 2007, p. 258)

Já Capez entende que é necessário o emprego de algum método fraudulento para frustrar o recolhimento de impostos para que, assim esteja caracterizado o crime de descaminho. (CAPEZ, 2009, p. 189) 3.2.2 Estrutura do Crime de Contrabando O contrabando possui em suas características o transporte ilícito de drogas, fumo, arma e ser humano, venda exposição, depósito de qualquer forma para tirar proveito próprio ou para terceiros dentro do exercício comercial e/ou industrial, mercadorias estrangeiras que adentraram no País importadas de forma fraudulenta, adquirir receber, ocultar seja em proveito próprio ou alheio essas mercadorias sem a devida documentação caracteriza o crime de contrabando e ainda podendo caracterizar crime contra a própria Pátria.

Antes da entrada em vigor da Lei 13.008/2014 o crime de contrabando e descaminho pertencia ao mesmo tipo penal passando, com a vigência da Lei, a ser um tipo penal autônomo. Sendo assim, se houver um acúmulo de condutas o agente poderá responder, em concurso de crimes e não mais por um único crime, como era feito antes.

Outro fato a considerar é o aumento da pena para os crimes de contrabando, passando para dois a cinco anos de reclusão, sendo que antes era estabelecido de um a quatro anos de reclusão. Existe aumento da pena para os casos do

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transporte ser realizado pelo mar ou de forma fluvial sendo que antes era estabelecido aumento da pena apenas se fosse via transporte aéreo.

O crime de contrabando sempre foi considerado um crime com fundo político criminal na qual se volta a preservação e a arrecadação para o erário público, tendo como bem jurídico a ser tutelado a Administração Pública e o erário público, pois o seu objeto está fortemente ligado com a economia pública. Deste modo, o aumento de pena para tráfego em vias aéreas, fluviais ou ainda pelo mar acarreta-se por essas regiões sofrerem maior rigidez, porém existe maior dificuldade de controlar as mercadorias transportadas em meio a zonas alfandegárias. Por fim, a nova redação determina que a pena seja aplicada em dobro se o crime de contrabando for realizado por essas vias. 3.2 SUJEITOS DO DELITO, ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO, PRINCÍPIO, CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. Ambos os delitos são considerados crimes comuns, formais, de forma livre e instantânea, e podem ser cometidos por qualquer pessoa. Possui como sujeito ativo o funcionário público, que participando do ato como um facilitador, se enquadra no crime previsto no artigo 318 do Código Penal e, se não infringir dever funcional específico, enquadrar-se-á como co-autor ou partícipe do contrabando e descaminho. Nesta classificação, O Estado, titular de interesses penalmente protegidos, classificar-se-á como sujeito passivo. As condutas típicas são de:

a) Importar ou exportar mercadoria proibida – contrabando; b) Iludir, no todo, ou em parte ao pagamento dos tributos devidos pela circulação da mercadoria – descaminho;

Espécies de proibição:

a) Absoluta: Fica vedado a entrada ou saída de determinado produto no território Brasileiro b) Relativa: Se faz possível à circulação de determinado produto desde que e somente se satisfeitos determinados

requisitos.

Nos crimes de contrabando e descaminho se faz possível a aplicabilidade do princípio da Especialidade que ocorre na existência de um fato descrito em mais de uma norma penal incriminadora e consiste em afastar a incidência genérica que nesse caso é o artigo 334 do Código Penal e aplicar a norma específica como é o caso da mercadoria privilegiada disposto no artigo 169 inciso III do Dec-Lei n° 7.903/45; I) importação de material bélico privativo das Forças Armadas (Lei n. 7.170/83 - Lei de Segurança Nacional, arts. 12 e 14); filmes pornográficos.

Considera-se DOLO a vontade livre e consciente de importar e/ou exportar produtos/mercadorias absolutamente ou

relativamente proibidos ou cometer fraude no pagamento dos tributos sobre a circulação de mercadorias e serviços – ICMS e considera-se ERRO de tipo e proibição quando se emoldura respectivamente nos artigos 20 e 21, Caput, do Código Penal.

O momento de consumação e tentativa do crime de contrabando dar-se-á verificada no exato momento da entrada

ou saída do produto: Pela alfândega – no momento em que a mercadoria é liberada e se interrompida a conduta antes da liberação caracteriza-se tentativa; Por outro local que não pela aduana se consumindo no exato momento que a mercadoria entra ou sai do território e caracteriza-se tentativa se por circunstâncias advindas externamente a vontade do agente o produto não chega a entrar ou a sair do território.

4. DESCAMINHO COMO CRIME TRIBUTÁRIO Em virtude da reiterada utilização por parte do Estado do art. 334 do Código Penal, foi negada a identidade do Crime de Descaminho como se tributário fosse, e, por conseguinte, foi-lhe negado o tratamento dado àqueles crimes, inclusive nos métodos de instauração de ação penal, bem como o esgotamento através de via administrativa, ou seja, a extinção da punibilidade através do pagamento do tributo.

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Conforme demonstrado anteriormente, o descaminho nada mais é que um crime contra a ordem tributária, já que o bem tutelado é o mesmo protegido pela Lei de Crimes de Ordem Tributária (8.137/90), qual seja o erário público.

Assim, já é de entendimento doutrinário que a objetividade do Crime de Descaminho é a proteção do interesse arrecadador do Estado, ou seja, o recolhimento dos impostos decorrente da movimentação de mercadorias.

Destarte, a extinção de punibilidade do Crime de Descaminho, far-se-á pelo pagamento integral dos débitos constantes da entrada e/ou saída de mercadorias no país. 4.3. CONTRABRANDO OU DESCAMINHO POR ASSIMILAÇÃO – ART. 334, § 1° CP 4.3.1. Por Navegação de Cabotagem – Alínea A

Equiparada ao contrabando e descaminho é privativa de navios nacionais (admitindo-se exceções como é o caso da Lei 123 de 11/11//92 e Decreto n° 10.524 de 23/10/13). A norma penal em branco ocorre se o crime foi realizado adverso aos casos previstos em Lei no que tange a ausência do elemento normativo tipo de forma a realizar a cabotagem conforme normas legais. Se faz mister destacar a presença de hipótese de necessidade pública devidamente prevista na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 178, § 3°. 4.3.2. Por Fato assimilado – Alínea B

O fato assimilado vislumbra-se em normas específicas por ser caracterizada como norma penal em branco como é o caso da Zona Franca disposto no texto do art.. 39 do Decreto-Lei n° 288 de 28/02/67 – é o ato de retirar o produto dos limites permitidos sem a devida autorização legal enquadrando-se no crime de contrabando; Containers disposto no art. 8° da Lei 4.906 de 17/12/1965 – é o ato de violar cofres de cargas ou contêineres por fim o tabaco estrangeiro previsto no artigo 3° do Decreto-Lei 399 de 30/12/68. 4.3.3. Mercadoria Estrangeira – Alínea C

Se dividir o texto em duas partes, na primeira tratar-se-á dos comportamentos dos próprios indivíduos agente que no desempenha papel fundamental no âmbito comercial pondo o produto a venda, mantendo em depósito, ou tira proveito dessa conduta ilícita de outra forma. Nesse caso, através do princípio da especialidade afasta a incidência do Caput, destarte o agente surpreendido vendendo o produto na pratica do contrabando não responderá por dois delitos. Já, na segunda parte do texto tratar-se-á de fatos que em tese deveria enquadrar-se em crimes de receptação, pois um terceiro vende produto oriundo do contrabando ou descaminho, sendo necessária certeza de que o terceiro tenha conhecimento da conduta delituosa, mas pelo princípio da especialidade o agente não responderá por receptação (previsto no artigo 180, caput, do Código Penal), mas responderá pelo delito descrito na alínea C do artigo 334, CP. 4.3.4. Ausência ou falsidade de documentos – Alínea D

Esse texto abrange condutas que em geral que são enquadradas como crimes de receptação (art. 190, Caput,

CP), cuja ação pressupõe a entrega do produto estrangeiro chegando às mãos do sujeito sem a documentação exigida em Lei ou com a documentação falsificada (com o profundo conhecimento do agente). Neste último, se o agente agiu com dolo afastará a incidência da alínea D, ora em estudo, e aplicar-se-á o artigo 180 do CP; se o agente agiu com culpa aplicar-se-á o artigo 180, §3° do CP havendo a necessidade de somar a conduta delituosa a pratica da atividade comercial e/ou industrial. 4.3.5. Notas consideráveis A reintrodução de mercadoria se enquadra em contrabando por assimilação podendo ser enquadrado nas alíneas C ou D – apresentando conflito de normas cujo agente responderá por contrabando por introduzir no território Nacional Brasileiro produto destinado a venda exclusiva no exterior.

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4.4. Consumação e Tentativa Em regra, os manuais de Direito Penal se limitam a dizer que a consumação se dá com a simples entrada no território nacional. Retratam também que é crime forma instantâneo. Basta então a passagem de mercadoria proibida pela fronteira para a ocorrência do crime. Algumas considerações devem ser feitas. Se todo o território nacional é território aduaneiro, submetido à fiscalização, enquanto a mercadoria estiver irregularmente no país, o crime estará sob flagrante. Assim, o flagrante poderá ocorrer em qualquer parte do território nacional, sendo entendida jurisprudencial mente que é competência do local da apreensão de mercadorias ilícitas para o prosseguimento do processo do crime. Outro ponto controvertido é a respeito da tentativa. É possível realizá-la? Sim, pois se tem sabido que importar compreende uma série de ações que visem introduzir um bem em território nacional. Portanto é possível a tentativa. 5. ANÁLISES E DISCUSSÕES

O tipo qualificado do artigo 334, §3° dar-se-á em voos clandestinos tornando mais difícil a fiscalização por parte da autoridade, assim a qualificadora está reservada aos voos clandestinos quando destes exigir-se fiscalização aduaneira inexistindo motivo para agravar a pena.

LEI Nº 13.008, DE 26 DE JUNHO DE 2014 Dá nova redação ao art. 334 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal e acrescenta-lhe o art. 334-A. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º O Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, passa a vigorar com as seguintes alterações: (..) Descaminho. Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. § 1º Incorre na mesma pena quem: I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. § 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial." (NR) "Contrabando Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. § 1º Incorre na mesma pena quem: I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público competente; III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. § 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial." Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

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O que anteriormente dificultava a distinção dos crimes de contrabando e descaminho por terem sido introduzidos com o mesmo tipo penal passou a ter definições específicas com a nova Lei, deixo-os como crimes autônomos, aumentando suas penas e a redação que define cada crime.

O aumento da pena dar-se-á em meio às vias marítima, fluviais, e aéreas em visto a dificuldade em fiscalizar a entrada de produtos ilícitos ou cuja documentação esteja adulterada, extraviada, entre outras que caracterizariam entrada de produtos fraudulentamente. Portanto a nova redação do Código Penal permite a duplicidade da pena caso seja utilizado desses meios.

A pena mínima também teve seu aumento em relação à redação anterior; o que antes se iniciava em um ano agora se inicia acrescendo mais um ano, passando de até 4 anos para até 5 anos.

Toda essa particularização está voltada a proteção da administração pública juntamente com o erário público.

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Anais do 12º Encontro Científico Cultural Interinstitucional - 2014 9 ISSN 1980-7406

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que entre os maiores prejudicados pela conduta delituosa oriunda do contrabando e descaminho está a população e os empresários que atuam com seriedade sofrendo com a violência, escassez na área da saúde, segurança, saneamento, educação, e o Estado Brasileiro que anualmente perde aproximadamente 40% do seu Produto Interno Bruto – PIB para pirataria, falsificadores e contrabandistas. A economia Brasileira conta com a contribuição arrecada sobre os produtos comercializados e o comércio ilegal e clandestino se torna uma máfia dificilmente controlada pelo Estado, desfalcando a economia pública, e privada. Existem inúmeras pessoas que se detém de enriquecimento ilícito por meio dos crimes de contrabando e descaminho, toda a parte econômica desses agentes são fraudulentos e rondam o mercado maquiado pela hipocrisia e falta de amor a pátria. De fato, a entrada em vigor a nova redação, de forma a individualizar os crimes, suas penas, trazer sanções mais severas é um meio de desarraigar tais atos e trazer para o coração do Estado maior controle, estabilidade social e igualização comercial de modo a evitar que os trabalhadores dignos e honestos, que contribuem de forma fidedigna para o crescimento do Estado e da Pátria não pague caro por atos cometidos por agentes que se utilizam da fraqueza e de meios vazios cujo controle é escasso para enriquecer-se.

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