contra-razoes-trafico e associacao-absolvicao e pena

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Promotoria de Justiça de ... Processo nº ... Natureza: Ação penal Réus/Apelantes: Autor/Apelado: Ministério Público do Estado de Goiás CONTRA-RAZÕES DE APELAÇÃO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS, COLENDA CÂMARA CRIMINAL, EMÉRITO RELATOR, DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIÇA. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, nos autos do processo-crime em epígrafe, vem apresentar, na forma da lei, suas CONTRA-RAZÕES RECURSAIS, fazendo-o sob os fundamentos fáticos e jurídicos que passa a expor. 1. DO RELATÓRIO. 1 a Promotoria de Justiça da Comarca de Iporá Rua São José, nº 21, Bairro Umuarama (Fórum local), Iporá-GO CEP: 76200-000 (Tel: 64-3674-1886) 1

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Processo n 200001545196

Promotoria de Justia de ...

Processo n ...

Natureza: Ao penal

Rus/Apelantes:

Autor/Apelado: Ministrio Pblico do Estado de Gois

CONTRA-RAZES DE APELAO

EGRGIO TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE GOIS,

COLENDA CMARA CRIMINAL,

EMRITO RELATOR,

DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIA.

O MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE GOIS, nos autos do processo-crime em epgrafe, vem apresentar, na forma da lei, suas CONTRA-RAZES RECURSAIS, fazendo-o sob os fundamentos fticos e jurdicos que passa a expor.

1. DO RELATRIO.

O MINISTRIO PBLICO ofereceu denncia em face de ..., qualificados s folhas 02/03, atribuindo aos dois primeiros a prtica dos crimes previstos no artigo 33, caput, e seu 1, inciso I, e no artigo 35, caput, ambos da Lei n 11.343/06, e ao ltimo a autoria do delito tipificado no artigo 33, caput, do mesmo Diploma Legal, relatando, in verbis:

...

Notificados, os denunciados apresentaram, por intermdio de um mesmo defensor constitudo, as defesas preliminares de folhas 485/486, 488/489 e 491/492, aps o que a denncia foi recebida, como se v da deciso de folha 494.

Seguiu-se o feito com a realizao da audincia de instruo e julgamento, ocasio em que, depois de efetuado o interrogatrio dos denunciados (fls. 542/545. 546/548 e 549/551), foram inquiridas quatro testemunhas arroladas pelo Ministrio Pblico (fls. 552/557) e nove indicadas pela defesa (fls. 558/566).

Apresentadas as derradeiras alegaes, na forma de memorias (fls. 582/597 e 603/611), sobreveio a sentena de folhas 641/675, por meio da qual o ilustre julgador monocrtico absolveu o denunciado ... das imputaes criminosas contidas na denncia, mas, por outro lado, condenou os acusados ... como incursos nas sanes dos artigos 33 e 35 da Lei n 11.343/06.

Quanto s reprimendas, o digno julgador a quo fixou ao sentenciado ..., no tocante ao crime previsto no artigo 33, caput, da Lei n 11.343/06, a pena de 08 (oito) anos e 04 (quatro) meses de recluso, em regime inicialmente fechado, e multa correspondente a 500 (quinhentos) dias-multa, cada qual equivalente a 1/30 (um trigsimo) do salrio mnimo. Em relao ao crime do artigo 35, caput, da Lei n 11.343/06, a pena foi fixada em 05 (cinco) anos de recluso, em regime inicial semi-aberto, e 700 (setecentos) dias-multa, cada qual equivalente a 1/30 (um trigsimo) do salrio mnimo. Ao final as penas privativas de liberdade foram somadas, por aplicao do concurso material, perfazendo o total de 13 (treze) anos e 04 (quatro) meses de recluso, sendo aplicado o regime inicialmente fechado para o cumprimento.

No concernente a sentenciada ..., a pena foi fixada em 05 (cinco) anos de recluso, inicialmente no regime semi-aberto, e 800 (oitocentos) dias-multa, cada qual equivalente a 1/30 (um trigsimo) do salrio mnimo, em relao ao crime do artigo 33, caput, da Lei n 11.343/06. E em 03 (trs) anos e 06 (seis) meses de recluso, no regime aberto, e 700 (setecentos) dias-multa, cada qual equivalente a 1/30 (um trigsimo) do salrio mnimo, no tocante ao crime do artigo 35, caput, da Lei n 11.343/06. Somada, por aplicao do concurso material, a pena privativa de liberdade restou fixada em 08 (oito) anos e 06 (seis) meses de recluso, sendo aplicado o regime inicialmente fechado para o cumprimento.

Irresignados, o MINISTRIO PBLICO e os sentenciados ... interpuseram recurso de apelao (fls. 681/683).

Em suas razes recursais (fls. 700/707 e 708/716), os sentenciados aduzem que: (1) as interceptaes telefnicas efetuadas, bem como as provas dela derivadas, no prestam para a condenao, eis que no foi realizada percia que atestasse serem suas as vozes constantes das ligaes gravadas; (2) a droga apreendida na casa em que residem se destinava, unicamente, para o consumo de ...; (3) no h prova alguma de que estivessem associados, de forma permanente e estvel, para o fim de traficar drogas; (4) fazem jus reduo das penas privativas de liberdade por aplicao do disposto no artigo 33, 4, da Lei n 11.343/06; (5) a correta dosagem da pena deve conduzir fixao das penas-base no mnimo legal, bem como ao reconhecimento da incidncia da atenuante da confisso espontnea em relao a ..., quanto ao crime de trfico.

o relato do necessrio.

2. DA PRESENA DOS PRESSUPOSTOS RECURSAIS.

Os recursos interpostos por ..., alm de tempestivos e adequados, obedecem aos demais pressupostos legais de admissibilidade, razo pela qual merecem ser conhecidos.

3. DO MRITO.

Em que pese as ponderaes dos apelantes ..., a anlise das provas amealhadas aos autos no deixa dvida de que o digno magistrado a quo agiu com acerto ao condena-los pelos crimes previstos nos artigos 33 e 35 da Lei n 11.343/06.

V-se que na residncia dos apelantes foram encontrados, quando do cumprimento de mandado de busca e apreenso, cinco pores de crack, e uma de cocana, acondicionadas em saquinhos plsticos, com peso total de cerca de 100g (cem gramas); uma mini-balana, com capacidade mxima para 125g (cento e vinte e cinco gramas); uma colher de medida; bicarbonato de sdio; vrios aparelhos de telefone celular; alm de dinheiro em espcie e comprovantes de depsito. Tudo isto est materializado no Auto de Exibio e Apreenso de folha 43, nos Laudos de Exame de Constatao de folhas 09/10 e no Laudo de Exame de Identificao de Txico-Entorpecente de folhas 447/449.

Ao ser interrogada na polcia (fls. 398/400), a apelante ... relatou ter presenciado, por diversas vezes, o apelante ..., seu marido, vendendo drogas. Confessou, ainda, j ter vendido substncias entorpecentes junto com ele e a pedido dele. Por fim, afirmou que ... vendia drogas (pasta base e cocana) ao valor de R$20,00 (vinte reais) e R$50,00 (cinqenta reais).

Tambm diante da autoridade policial (fls. 396/397), o apelante ..., na presena de seu advogado, afirmou ser usurio de drogas. Admitiu, no entanto, que sempre adquiriu drogas em quantidade maior do que consumia, sendo que o que sobrava vendia para outras pessoas. Disse, tambm, que vendia os entorpecentes j dolados ao preo de R$50,00 (cinqenta reais). Acrescentou, por fim, que comprava a pasta base e, posteriormente, a refinava em sua residncia.

Os policiais civis que participaram das investigaes, ao serem inquiridos como testemunhas em juzo (fls. 552/557), relataram que a priso dos apelantes e a apreenso dos entorpecentes foi resultado de um longo trabalho investigativo, que se arrastou por vrios meses, atravs do qual se reuniu diversas provas que atestam que eles traficavam drogas.

Os policiais contaram que interceptaram, com base em autorizao judicial, vrias conversas telefnicas em que os apelantes ... e .. negociavam a venda de drogas com usurios. Tambm noticiaram conversas entre ... interceptadas, que tinham por assunto o comrcio de drogas.

Ainda disseram os policiais que foi o monitoramente das conversas que possibilitou efetuar a priso em flagrante dos apelantes e a apreenso da droga.

A corroborar as declaraes dos policiais, que se enfatiza foram absolutamente coerentes e unssonas, tm-se algumas das conversas interceptadas dos apelantes, degravadas no Laudo de folhas 362/371, da seguinte forma:

...

Como se v, as interceptaes telefnicas no deixam dvida de que as substncias entorpecentes apreendidas em poder dos apelantes se destinavam ao comrcio, comrcio este ao qual eles se dedicavam de forma associada, organizada e permanente.

Conforme consignado na sentena, ...

Tambm da sentena combatida se extrai todos os argumentos necessrios para afastar a tese defensiva da imprestabilidade das interceptaes telefnicas para a condenao, por ausncia de percia voz, seno vejamos:

...

Acrescenta-se que na Lei n 9.296/96, que trata das interceptaes telefnicas, no h qualquer exigncia de que a degravao da escuta deva ser submetida a percia de voz, como querem os apelantes, bastando, pois, a sua simples transcrio, como feito no caso dos autos.

Convm lembrar que a interceptao telefnica muitas vezes um dos meios a auxiliar sobremaneira a investigao criminal, mormente em delitos que se revestem de clandestinidade, como o caso do trfico e associao para o trfico, alm de ser o telefone celular meio de comunicao de contato para a compra e venda de drogas, da porque os Tribunais vem admitindo a escuta telefnica como prova apta a desvendara autoria delitiva.

Com efeito, da jurisprudncia:

Apelao-crime. Trfico de drogas e associao para o trfico de drogas. Lei 11.343/06. Alegao de nulidade processual. Juntada das transcries das escutas telefnicas aps defesa preliminar. Alegao de nulidade da prova obtida por meio de interceptaes telefnicas. Prova. Condenao mantida. (...) Traficncia exercida pelos acusados, bem como a associao para o trfico de drogas, exaustivamente comprovada atravs da apreenso de significativa quantidade de entorpecentes, pelo depoimento dos policiais, tudo amparado pelas escutas telefnicas. Vinculo associativo dos acusados, com carter permanente e estvel, para a prtica do crime previsto no artigo 35, caput, da Lei 11.343/06, devidamente demonstrado. (TJRS 2 Cmara Criminal Ap. n. 70022391114).

de se verificar, outrossim, que a atual legislao sobre drogas (art. 53 da Lei n 11.343/06) reafirmou a modalidade probatria consagrada na Lei n 10.409/02, viabilizando meios de investigao previstos em lei, uma vez que autorizados judicialmente.

Ademais, se verifica dos autos que o telefone interceptado foi apreendido em poder dos apelantes, no havendo como se negar que, de fato, so suas as vozes escutadas a partir das chamadas nele efetuadas e recebidas.

Diante de todo esse contexto, verifica-se que os elementos probatrios carreados aos autos, considerados em seu conjunto, so plenamente aptos a integrar um contexto firme e seguro a embasar um juzo de certeza em relao efetiva caracterizao dos crimes de trfico e associao para o trfico e da responsabilidade criminal dos apelantes, da porque no merecem guarida seus pleitos absolutrios.

Quanto s penas aplicadas, o outro ponto de irresignao dos recorrentes, de rigor concluir que no h reparos a serem feitos nos clculos efetuados pelo ilustre juiz de primeiro grau, que bem justificou os fatores que o levaram a fix-las nos patamares estabelecidos na sentena, necessrios e suficientes, ao nosso ver, para a reprovao e preveno dos graves crimes praticados.

Merece registro que o pedido do apelante ... de aplicao da atenuante da confisso espontnea no merece acolhimento, pois ele, em momento algum, confessou a prtica dos crimes, ao contrrio afirmou que a substncia entorpecente apreendida era para seu uso prprio e no para o trfico, pelo qual veio a ser condenado, ao passo que a confisso, para a caracterizao da atenuante genrica prevista no artigo 65, III, d, do Cdigo Penal, deve ser completa e espontnea, a fim se prestigiar a sinceridade do acusado, circunstncia que, como se pode observar, no ocorreu no caso.

Por fim, tambm no merece acolhimento o pleito dos apelantes de reduo das penas por incidncia da causa especial de diminuio prevista no artigo 33, 4, da Lei n 11.343/06. Inobstante sejam os recorrentes primrios e portadores de bons antecedentes, v-se que foram eles condenados pelo crime de associao para o trfico. Destarte, bvia a concluso de que se dedicam atividade criminosa, o que se constitui em bice intransponvel para aplicao da benesse legal.

A propsito, j decidiu esse Egrgio Tribunal:

Trfico ilcito de entorpecentes e associao para o trfico. (...). Causa especial de diminuio de pena (art. 33, pargrafo 4 da Lei 11.343/06). Incompatibilidade com o delito de associao. A causa especial de diminuio de pena prevista no artigo 33 pargrafo 4 Lei n. 11.343/06 , por expressa disposio, jncompatvel com o crime de associao para o trfico. Apelaes conhecidas e improvidas. (TJGO Primeira Cmara Criminal, Ap. Crim. N 31748-3/213, DJ 28 de 13/02/2008, Rel. Des. Leandro Crispim).

Em suma, nenhuma censura se pode atribuir sentena condenatria, haja vista que o digno julgador monocrtico, fundamentando em elementos concretos, existente nos autos, reconheceu as autorias, a materialidade, e explicou, pormenorizadamente, como chegou s penas definitivas, cominadas na forma e nos limites legais.

4. DO PEDIDO.

Incensurvel, pelos fundamentos ora colacionados, a r. sentena objurgada, razo porque esse rgo Ministerial pugna pelo conhecimento e improvimento das apelaes interpostas por ....

..., ... de ... de ....

Promotor de Justia

1a Promotoria de Justia da Comarca de Ipor

Rua So Jos, n 21, Bairro Umuarama (Frum local), Ipor-GO

CEP: 76200-000 (Tel: 64-3674-1886)

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