contos para jovens e não só

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Contos para jovens e não só…

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Contos para jovens e não só...

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Page 1: Contos para jovens e não só

Contos para jovens e não só…

Page 2: Contos para jovens e não só

Recolha de Contos

Recolha de contos de modo a promover a leitura e a literacia e a fomentar o desenvolvimento de

competências relacionadas com a interpretação e a escrita.

Quem conta um conto, aumenta um ponto…

Maria Paula Farinha Ferreira e Silva

Matosinhos, 2014

Page 3: Contos para jovens e não só

Índice

O passeio de Ian

Como uma criança

A rã solitária

Uma guloseima para a Noite das Bruxas

O rico e o remendão

O Presente do Povo Pequeno

Page 4: Contos para jovens e não só

O passeio de Ian

Está um dia perfeito para ir ao parque dar de comer aos patos com a minha irmã mais velha, a

Tara. Só que o meu irmão também quer ir connosco.

— Oh, Ian, porque é que não ficas aqui? — pergunto.

O Ian, porém, nem me responde, porque tem autismo. Mas bate com os dedos com força contra a

rede da porta e começa a choramingar.

— Tudo bem, Ian. Ele pode vir connosco? — pergunto à minha mãe.

— Vais ter de o vigiar bem. Tens a certeza de que queres fazê-lo? — pergunta ela.

— Claro que sim — respondo.

A Tara também acena.

— Mas és tu que lhe vais dar a mão, Julie — diz-me.

O cérebro do meu irmão não funciona como o das outras pessoas.

O Ian vê as coisas de forma diferente...

Quando passamos pelo restaurante, ele entra para ver a ventoinha do teto a mover--se em

círculos lentos, mas não olha para as empregadas, que passam, apressadas, transportando toda

a espécie de sanduíches e gelados.

— Vamos tomar uma gasosa! — sugiro.

Mas o Ian mantém os olhos fixos na ventoinha até irmos embora.

O Ian ouve as coisas de uma outra forma...

Quando um camião dos bombeiros passa por nós, com a sirene aos gritos e a buzina a tocar, o

meu irmão mal se dá conta. Mas abana a cabeça de um lado para o outro e parece estar a ouvir

alguma coisa que não eu consigo ouvir.

— Despacha-te! — peço, puxando-lhe o braço.

O Ian cheira as coisas de um modo diferente...

Na loja de flores da Srª. Potter, pego num ramo de lilases de cheiro adocicado e aproximo-o do

rosto dele. O Ian franze o nariz e afasta-se.

Mas quando nos aproximamos dos correios, põe o nariz contra os tijolos quentes e areados e

cheira a parede.

— Para com isso! — digo. — Pareces um pateta!

E tiro-o dali, antes que alguém se aperceba. O Ian sente as coisas de maneira diferente...

Page 5: Contos para jovens e não só

No lago, apanho uma pena macia e faço-lhe cócegas debaixo de queixo. Ele guincha e afasta a

pena. Mas, enquanto a Tara e eu atirámos cereais aos patos, o Ian deita-se no chão com as

bochechas espalmadas contra as pedras duras.

— Levanta-te, Ian — digo, pegando-lhe na mão. — Alguém pode tropeçar em ti!

O Ian saboreia as coisas de modo diferente...

Quando passamos pelas barracas de comida, nem sequer olha para as pizas, os cachorros

quentes ou os pretzels fofos. Mas procura no meu bolso o saco com os restos dos cereais.

— A Tara e eu não queremos comer cereais ao almoço — digo. — Vem connosco comprar uma

piza.

Mas o Ian nem se mexe e mastiga ruidosamente os cereais, um a um. Às vezes, o meu irmão faz-

me sentir zangada.

— Eu vou buscar a piza — diz a Tara. — Fica tu aqui com o Ian, Julie.

Sento-me no banco, à espera.

— Senta-te aqui ao meu lado, Ian — peço.

Mas ele bate palmas e não me presta qualquer atenção. Finalmente, a Tara regressa com duas

fatias de piza.

— Onde está o Ian? — pergunta.

Olho para o lugar onde o Ian estava, mas ele desapareceu! O meu estômago dá uma reviravolta

e, por um momento, não consigo sequer mexer-me.

A Tara corre até junto de uma senhora.

— Não viu um rapazinho de camisola azul? — pergunta.

A senhora abana a cabeça.

— Talvez ele esteja a ver o jogo de beisebol do outro lado do parque — sugere.

Mas o Ian não gosta de beisebol.

Passa um homem com uma menina às cavalitas.

— Não viram um rapaz com ar de perdido? — pergunto, com um nó na garganta.

— Não — diz o homem. — Vamos ouvir o contador de histórias e talvez ele lá esteja também.

Mas o Ian parece não apreciar muito as histórias... A Tara corre de um lado para o outro à procura

do nosso irmão. Eu fecho os olhos e tento pensar como ele. O Ian gosta da barraca dos balões,

onde uma máquina enorme assobia e faz esticar os balões até ficarem com formas coloridas e

esvoaçantes. Gosta da fonte onde pode pôr a cara bem próximo da bica, e ver o fio de água a

esguichar diante dos olhos. De repente, o velho sino no centro do parque começa a soar, e

lembro-me de que o Ian gosta mais do sino do que qualquer outra coisa.

Corro a toda a velocidade em direção ao sino. E lá está o Ian! Deitado debaixo do sino, a mover o

enorme badalo para trás e para a frente. Abraço-o com força, embora ele não queria saber de

abraços. Vejo a Tara junto aos baloiços e chamo-a. Vem a correr e abraça-se a nós.

— Vamos para casa pelo caminho que escolheres! — digo ao Ian.

Page 6: Contos para jovens e não só

Parámos junto ao lago e deixámo-lo brincar com as pedras. Ele alinha-as numa fila certinha ao

longo das margens do caminho. Eu fico de pé, diante dele, para evitar que lhe pisem os dedos.

Passámos pela loja de flores da Srª Potter e parámos nos correios. O Ian cheira todos os tijolos

que quer e não me importo que alguém o veja.

Quando o Ian para na esquina, e parece estar a ouvir algo que não consigo ouvir, parámos

pacientemente e tentámos também ouvir.

No restaurante, observamos juntos a ventoinha até eu ficar tonta.

Quando finalmente chegámos a casa, digo:

— Demos um bom passeio, Ian.

E, por um breve instante, ele olha para mim e sorri.

Laurie Lears

Como uma criança

Em minha casa, o começo de um novo ano escolar significa sempre voltar à rotina. É a mesma

rotina que acontece em todo o país: levantar as crianças da cama, certificar-se de que todos

tomaram o pequeno-almoço, verificar se a filha mais nova, de cinco anos, tem os sapatos

calçados, ver se o cabelo está escovado e os dentes lavados, distribuir o almoço ou o dinheiro

para o pagar, pegar nas mochilas e sair apressadamente…

Raramente refletimos nas atividades do dia-a-dia. Como mãe, basta-me estar por perto, e tudo se

vai fazendo. As tarefas sucedem-se na minha mente, a cada momento. À exceção de uma manhã

recente.

— As árvores estão a dançar, exclamou a minha filha mais nova quando saíamos de casa.

A conversa sobre as árvores dançantes e a sua coreografia continuou durante cerca de dois

minutos até que, por fim, ignorei as tarefas, desviei a minha atenção da rotina diária e reparei

como o vento soprava forte naquele dia. Oh! As árvores estavam a dançar! E eu estava tão

ocupada que não conseguia ver o mundo à minha volta! Comecei a prestar atenção ao movimento

das folhas e à beleza das árvores a dançar, e toda a minha concentração se alterou…

Sentir a vida através dos olhos de uma criança de cinco anos trouxe de volta beleza e admiração

às minhas manhãs diárias. Dou-me conta muitas vezes de que é fácil perder o sentido do milagre,

do maravilhoso da Criação, que eu tinha em criança. O mesmo é verdade sobre a minha relação

com o divino. Quanto mais tempo estiver absorta na rotina, tanto maior é a probabilidade de

perder parte desse milagre, de esquecer a veneração, a frescura e a paixão.

Foi preciso uma criança para me lembrar de que é necessário parar e dar valor ao milagre da

minha relação com a Vida!

Deborah L. Kaufman

Page 7: Contos para jovens e não só

A rã solitária

Era uma vez uma rã que vivia num charco. Vivia sozinha. O charco também era pequeno.

Sentia a falta de outras rãs, para lhe fazerem companhia e coaxarem ao despique nas noites

de Lua cheia. Sentia que, se outras rãs vivessem com ela, podia nadar de bruços com mais

folgança, velocidade, estilo… Sentia que os saltos que dava para dentro de água, à falta de

espectadores, nem jeito nem graça tinham.

Enfim, a rã deste pequeno charco sentia-se muito só.

Desamparada. Infeliz.

Perguntem, se fazem favor, porque é que a rã se não mudava para charco mais amplo e

povoado?

Porque temia que tão perto não houvesse outro. Ora, como devem saber, as rãs detestam

perder tempo a saltar em seco. A água faz-lhes falta. Sem ela, perdem o luzidio da pele e a força

de vida. Não sabiam?

Um dia, começou a chover que nunca mais parava. Dia e noite. Noite e dia.

Os campos ficaram alagados. Os rios sobraram do leito.

Pequenos charcos, afastados uns dos outros, juntaram-se num enorme lago.

Foi uma inundação terrível. Veio nos jornais e a televisão deu notícia. Casas de que só o

telhado se via.

Animais afogados. Gente a ser salva em barcaças por bombeiros. Uma desgraça.

Mas como esta história pertence à rã, esta história tem um fim feliz. A rã, passada a

tempestade, encontrou companhia. Dezenas de rãs coaxam agora, em coro, glorificando a chuva,

a abundância das águas, o abraço do lago imenso que as juntou.

Aqui entre nós e em segredo vos peço que nunca contem esta história a pessoas que tenham

sofrido os efeitos trágicos de uma inundação. Não iam gostar.

António Torrado

Page 8: Contos para jovens e não só

Uma guloseima para a Noite das Bruxas

O saco com as guloseimas estava pronto e sentia-me ansiosa por ver chegar as crianças marotas.

Mas, na manhã da Noite das Bruxas tive um ataque de artrite muito forte e, à tardinha, mal me

conseguia mexer. Como sabia que ia ser difícil atender todas as vezes que batessem à porta,

decidi deixar o saco pendurado da parte de fora da porta e ver, na sala às escuras, o desfile das

crianças mascaradas.

A primeira a chegar foi uma bailarina com três fantasminhas. Cada um pegou numa guloseima,

excepto o último, que tirou do saco uma mão cheia. Foi então que ouvi a bailarina ralhar: “Não

podes tirar mais do que uma!” Fiquei contente por a criança mais velha agir como se fosse a

consciência do pequeno.

Seguiram-se princesas, astronautas, esqueletos e extraterrestres. Apareceram mais crianças do

que as de que eu estava à espera. Como as guloseimas estavam a acabar, preparei-me para

desligar a luz da entrada. Detive-me ao reparar que tinha mais quatro visitas. Os três mais velhos

meteram a mão no saco e retiraram um chocolate cada. Sustive a respiração, esperançada de

que ainda restasse um para uma bruxinha. Mas, quando ela retirou a mão, tudo o que segurava

era apenas uma simples goma de laranja.

Os outros chamaram:

— Emily, despacha-te! Não há ninguém em casa para te dar mais guloseimas.

Mas Emily deixou-se ficar mais um pouco. Meteu a goma no seu saco e, imóvel, ficou a olhar para

a porta. Depois, disse:

— Obrigada, casa. Gosto muito da goma de laranja.

E correu a juntar-se aos companheiros.

Uma bruxinha querida tinha-me lançado um feitiço.

Evelyn M. Gibb

Page 9: Contos para jovens e não só

O rico e o remendão

Era uma vez dois vizinhos que viviam numa terra vulgar. Mas não viviam os dois da mesma

maneira! Um era o mais rico senhor daquela terra e muitas noites levava sem poder dormir,

preocupado com as suas riquezas, com a sua casa cheia de preciosidades…

O mais pobre era mesmo muito mais pobre: não tinha quase nada e vivia numa casa velhinha, à

porta da qual tinha montado uma espécie de oficina de remendão. Ele remendava tudo: carteiras

velhas, sapatos, albardas, maletas, enfim, trabalho assim era coisa que nunca faltava! E todo o

dia cantava! Tivesse muito ou pouco trabalho, nunca deixava de cantar!

Na casa ao lado, o rico senhor não compreendia como é que com a sua vida de sacrifício e

canseira, e tanta miséria que bem se via, o seu vizinho passava o dia em cantorias!!! Aquilo fazia-

lhe imensa espécie...

Um dia mandou chamá-lo à sua presença e disse-lhe:

− Ó mestre, vossemecê quanto é que ganha num ano inteiro?

O remendão coçou a cabeça, o que era sinal de que não fazia a mínima ideia, e disse:

− É impossível calcular isso... pois há tantos domingos e tantos feriados que as contas ficam

muito complicadas...

Mas o homem rico insistiu:

− Ó mestre, mas diga assim mais ou menos...

Respondeu o remendão:

− Mais ou menos, mais ou menos, ganho o que me dá para o comer do dia! Só sei que não morro

de fome, lá isso não!

Então o homem rico disse-lhe:

− Pois tome nota: eu quero que vossemecê viva sem cuidados e com fartura, pois bem o merece,

já por tanto ter trabalhado!

E dizendo isto, entregou-lhe uma bolsa bem recheada de moedas de ouro.

O remendão foi às nuvens!!! Nem sabia como havia de agradecer! Julgou-se o homem mais rico

da terra e correu para o seu telheiro a enterrar a bolsa de moedas. A partir daí, nunca mais

cantou, pois o menor ruído o punha em sobressalto, com medo dos ladrões... Deixou de ter o

sono ferrado e descansado que sempre tivera, e então cantar?! Isso foi coisa que nunca mais fez,

com medo de dar nas vistas a sua alegria!!!

Um dia reparou que até o andar do seu gato o fazia tremer... Então foi ter com o vizinho rico e

levou-lhe a bolsa de moedas de ouro, dizendo-lhe:

Page 10: Contos para jovens e não só

− Muito lhe agradeço, meu senhor, a sua bondade, mas aqui tem o seu dinheiro. Guarde-o, que

eu por mim guardarei as minhas cantorias e o meu rico soninho descansado!!!

E assim, o remendão

Preferiu o que mais queria.

Mais que a riqueza enterrada,

Vale a sua cantoria!

Maria Alberta Menéres

O Presente do Povo Pequeno

Um alfaiate e um ourives viajavam juntos.

Certo dia, ao crepúsculo, ouviram à distância o som de música. Caminharam mais rapidamente e

a melodia foi-se fazendo ouvir, cada vez mais alegre. Esqueceram todo o cansaço da jornada e

apressaram-se, para ver de onde vinha.

A lua já se erguera, quando os dois caminhantes alcançaram uma colina, de onde divisaram uma

porção de pequenos homens e mulheres. Davam-se as mãos e rodopiavam com grande alegria,

numa farândola animada. Cantavam ao mesmo tempo uma linda melodia.

No meio da reunião, estava sentado um velho, um pouco mais alto que os demais, e cuja longa

barba branca se espalhava pela frente do seu casaco colorido. Os dois companheiros estacaram

e contemplaram a festa, cheios de admiração. O velho fez-lhes sinal para entrarem também na

roda, enquanto o povo pequeno abria, prazenteiramente, a roda, para dar lugar a ambos.

O ourives, mais expansivo, aceitou de imediato. O alfaiate, tímido, hesitou um pouco, mas vendo

como era divertido, acabou por aderir também. A roda fechou-se, novamente, e todos dançaram e

pularam, com gritos de alegria. O velho, tomando uma faca que trazia à cintura, amolou-a,

olhando para os dois viajantes. Estes assustaram-se, porém não tiveram tempo de tomar qualquer

atitude. O velho, agarrando o ourives, escanhoou-lhe, com grande rapidez, o cabelo e a barba. A

mesma coisa sucedeu ao alfaiate.

O medo dos dois desapareceu, quando o velho, ao terminar, lhes deu uma amistosa palmadinha

nas costas, como se quisesse dizer-lhes que haviam agido acertadamente, ao deixarem que lhes

fosse cortado o cabelo e barba. Mostrou-lhes, depois, por gestos, um monte de carvão,

mandando-os encherem os bolsos. Obedeceram, embora sem compreenderem, e foram à procura

de um lugar para passar aquela noite. Ao chegarem à planície, ouviram o relógio de um convento

próximo bater a meia-noite. No mesmo instante, o canto parou e tudo desapareceu, ficando

apenas uma colina deserta ao luar.

Os dois caminhantes acharam um lugar coberto de palha, onde se deitaram, esquecendo-se de

tirar dos bolsos os pedaços de carvão, tão cansados estavam. Um peso desacostumado fê-los

acordar mais cedo, enfiaram as mãos nos bolsos para deles tirar o carvão, mas, com grande

espanto, encontraram, em lugar dele, pedaços de ouro.

Page 11: Contos para jovens e não só

Agora podiam considerar-se ricos. Felizmente, o cabelo e a barba já haviam crescido. Todavia,

existe gente por demais ambiciosa e, entre essa, estava o ourives. Lamentou não ter enchido

mais os bolsos, assim teria o dobro do que coubera ao alfaiate. O ourives, ávido de mais ouro,

propôs ao alfaiate pernoitarem mais uma vez naquela região, para voltarem a ver o povo pequeno

e o velho no outeiro. O alfaiate declarou:

Já tenho o bastante e estou satisfeito! Agora vou poder casar-me e ser um homem feliz.

Mas estava pronto a esperar mais um dia pelo companheiro.

À noite, o ourives pendurou mais algumas bolsas à cintura e pôs-se a caminho do outeiro.

Encontrou, como na noite anterior, todo o pequeno povo a cantar e a dançar, e o velho cortou-lhe

barba e cabelo e fez-lhe sinal para que fosse buscar os pedaços de carvão. O ourives não teve

dúvidas de embolsar tudo quanto cabia nos seus muitos bolsos e voltou, todo feliz; cobriu-se com

o casaco e ferrou no sono. “Tanto se me dá que o ouro pese”, pensou. “Suportarei tudo de bom

grado.” Adormeceu com a deliciosa antecipação de acordar milionário.

Ao abrir os olhos, levantou-se apressado, para examinar os bolsos. Mas ficou abismado quando

apenas retirou deles pedaços de carvão. Decepcionado, consolou-se, pensando que lhe sobraria

pelo menos o ouro ganho na noite anterior. Mas ficou apavorado quando viu também aquele

transformado em carvão. Inadvertidamente, bateu com a mão na cabeça e sentiu-a lisa e calva, e

assim estava o seu rosto. Reconheceu, então, tratar-se de um castigo pela sua ambição.

Enquanto isso, o alfaiate acordara e agora consolava do melhor modo possível o companheiro,

banhado em lágrimas de desespero.

És meu companheiro de viagem e amigo; vais ficar comigo e gozaremos juntos da minha fortuna.

Manteve a palavra, mas o pobre do ourives teve de esconder, dentro de gorros, a sua cabeça

calva, durante toda a vida.

Marie Tenaille

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parar e dar valor ao milagre da minha relação com a Vida!”