contos de terror -...

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Autores Diversos

Contosde

Terror

1ª EdiçãoSão Paulo

Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores Ltda.2016

www.poetaindependente.com.brwww.editorabecodospoetas.com.br

Contos de Terror

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Orquídea Selvagem

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EditorMarcio Marcelo do Nascimento Sena

Autor:Diversos

Projeto:Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores Ltda.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Contos de Terror - -1. ed. -- São Paulo: Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores, 2017.

Autores Diversos ISBN 978-85-5610-009-2

1. Ficção e contos brasileiros

CDD-869.39.1

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção e contos brasileiros 869.3

Orquídea Selvagem

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Orquídea Selvagem

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INDÍCE

Sidney Leal...............................................................................07Marilu F Queiroz.......................................................................26Thaís de Paula...........................................................................30Fabio Oneas Marinho da Silva.................................................39Francisco Marins Silva..............................................................57Henrique Sena...........................................................................61Akateron Sioclótus....................................................................66Marcelo de Oliveira Souza........................................................72Isabel C S Vargas.......................................................................76Zaymond Zarondy.....................................................................82

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Sidney Leal

A Vingança da Lua.....................................................................08O Samba do Morto.....................................................................18Biografia.....................................................................................25

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A VINGANÇA DA LUA

Quem sou para questionar o poder avassalador do amor! Até mesmo eu, um cético dos sentimentos amorosos não questio-no tal poder. Pois ele corre numa linha tênue que divide a sanida-de da loucura. O que é bom e sadio, pode se tornar mal, e doentio. Com o jovem Pedro, no entanto era diferente, a bondade de seu sentimento foi percebida pelo seu par, a linda Ana. E ela por ele tudo faria mesmo em momentos de extremo horror... Ambos trabalhavam próximos do cais do porto, ela na pousada ‘Lisboa’ e ele carregando e descarregando os navios. Era o ano de 18..., a cidade do Rio de Janeiro recém–nomeada capi-tal do Brasil passava por um momento atribulado, pois na corte do governador da província corriam os rumores de que Napoleão planejava estender seus domínios até Portugal, a cidade se prepa-rava para uma improvável – até o momento – fuga da família Real de Portugal para o Brasil. Eemmeioaestesboatos,ocorreuumaumentonofluxode ouro e pedras preciosas que vinham de Minas Gerais até o Rio para serem despachadas para Portugal, provavelmente para cus-tear a viagem da família real. Ouro, prata, pau Brasil e especia-rias das mais diversas seguiam carregando navios e mais navios. Elevando deste modo o índice de furtos, assaltos e violência. A cidade nunca esteve tão movimentada, muitas pessoas estranhas percorriam as ruas. Mas para os jovens recém–casados, tudo isso não passava de rumores de uma realidade muito distante da que viviam. PedrotinhaonomedofilhodopríncipeDomJoão,seuspais quando vivos nutriam uma adoração pelo imperador e sua família, pois o rei salvara seu avô há anos atrás numa fuga. Mas

CONTOS DE TERROR

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isso é outra história... No ato de registro da criança por pouco não foram obri-gadosamudaronomedofilho,poisojuizachouaprincípioumdesrespeitocomacoroaumservoteromesmonomedofilhoDelRei! Mas depois de uma longa explicação por parte de seus pais e suademonstraçãodetotalfidelidadeacoroaeseulegado,enfimfoi autorizado o registro, mas impunha uma condição, para que não se confundissem os nomes dos dois “Pedros”. Aquela criança de pais humildes sem nenhuma conde-coração, ou título de nobreza deveria chamar–se: Pedro Servo! Depois da aceitação sem questionamento por parte dos pais da criança o magistrado sorriu com escárnio da ignorância do casal humilde e os liberou. A criança cresceu e no trabalho no porto logo o chama-vam de “Pedro Servo - o príncipe”. O jovem não se ofendia com as brincadeiras de seus companheiros e até ria junto com eles. De aspecto franzino, era muito querido por todos. Sua for-ça de vontade e sua resistência física a todos impressionavam, diziam que era descendente de desbravadores da mata vindos da Europa. Sua pele, apesar do sol forte, era bem mais clara que a dos demais, o que era mais um motivo para piadas de seus cole-gas. Pedro e Ana formavam um casal humilde, semianalfabe-to, trabalhavam e planejavam o futuro na jovem capital, que pros-perava a passos penosos. Alugaram com muito custo um casebre afastado do rebuliço do porto, próximo à praia. E lá moravam. ParaPedroestarcomAnafinalmente,eraumavitóriaincompa-rável, todas as provações que os dois tiveram de suportar para finalmentesecasaremforamenfimrecompensadas.Vieramentãolembranças da noite de núpcias, em sua primeira noite no case-bre... De sua pequena janela podia–se ver o mar e sua gran-diosidade. O quadro de amor não poderia ser mais bem descrito. Ele trazia consigo um segredo revelado por seu Pai e que veio de seu avô que foi salvo pelo rei de Portugal, pois a origem daquela

A VINGANÇA DA LUA

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família vinha do além mar. O avô de seu Pai era um marinheiro português que numa de suas viagens aos portos da Inglaterra foi atacado por matilha de lobos selvagens, sobreviveu, mas este en-contro lhe rendeu um ferimento que mesmo depois de cicatrizado sangrava de tempos em tempos, os sangramentos geravam febre e alucinações. O pobre miserável só não morreu em sua última viagem porsorte,poisficavalargadonosporõesúmidosdonavio,semalimento e medicação adequada. Os dias eram febris e as longas noitesinsonesficavaextasiadoadmirandoaLuaporumapeque-na claraboia. Os marinheiros que o viam a noite se assustavam, diziam que seus olhos adquiriam um leve tom avermelhado e que entrava em transe, como se a Lua lhe hipnotizasse. Sendo assim foi abandonado à própria sorte no jovem Brasil. Com isso em mente Pedro acordou! Ruborizado viu que o amuleto estava sobre a mesa. Acalmando-se ao observar que banhados ao Luar os olhos verdes da jovem Ana cintilavam de Paixão. O toque de sua pele morena, macia despertava nele os sentidos incontroláveis de de-sejo, o furor explodia em seu peito. Pedro sentia–se prestes a perder o controle. De repente uma taquicardia, o ritmo descompassado de seu coração o fazia suar frio, estava sem ar. Sua esposa a principio controlada e complacente come-çou a se assustar, pois no brilho da Lua cheia que imperava no céu, os olhos de Pedro ganhavam um tom avermelhado de fúria e dor. Ele sentia seus ossos estralarem, uma queimação em todo corpo, desesperado perdia o controle sobre a maldição que quase o afastou de seu amor, mas a vitória seria dele. Pois agora possuía o amuleto antigo poderoso que evitava sua maldição. Levantou–se espavorido a procura dele, meio tonto sentia que a qualquer momento poderia se... – Onde está! Onde está? Gritava o rapaz transtornado, com a expressão de dor estampada em sua face pálida. Emmeioaodesesperoavistaficouembaralhada,etonto

A VINGANÇA DA LUA

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caiu sobre a mesa em cima do amuleto que procurava. Ana recuperada do susto inicial, ciente da maldição de seu esposo, correu e pegou o amuleto colocando–o nas mãos trêmulas de Pedro, que agora rangia os dentes, sua boca espumava e dela saiam frases desconexas. O toque gelado do metal antigo em sua pele queimava, fazendo–o tremer, enregelara dos pés a cabeça muito rápido, agonizava no chão de madeira do casebre, enquanto Ana chorava copiosamente num canto escuro do lugar. Na madrugada, Pedro acordou na sua cama quente e con-fortável ao lado de sua esposa, que dormia docemente, sua pela quente e sedosa emanava um suave cheiro de jasmim inspirando nele desejo. Sentiu o descontrole novamente e estava prestes a correr, mas sentiu o toque gelado do amuleto amarrado em seu pulso se acalmou... Com beijos doces no pescoço acordou Ana, que totalmente envolvida no clima de amor se entregou, e se ama-ram. Amaram–se com Paixão e cumplicidade; Pois além de di-vidirem a vida conjugal, ela sempre o guiava de volta à humani-dade, quando a fera queria se mostrar e tomar o controle. Pedro na verdade nunca tinha se transformado totalmente, seu pai sempre lhe aconselhou em levar o amuleto protetor consigo aonde fosse, o amuleto assim como a maldição eram herança de seu avô. A doce Ana presenciara muitas de suas crises, e sempre o acolhia ajudando–o a evitar o demônio de vir à tona totalmente, se assus-tava a princípio, na época de namoro pensou até em abandoná–lo, opção dada por ele inclusive, mas a nobreza daquele amor sim-ples e verdadeiro a conquistou e na simplicidade de suas vidas os dois eram felizes. Dias depois numa noite quente a Lua cheia dominava os céus sem estrelas, seu brilho fez com que o casal decidisse passe-ar pelas areias quentes da praia. Caminhavam descontraidamente, conversando, rindo quando a Lua como se pressentisse algo se escondeu atrás de uma solitária nuvem, fazendo com que aquela noite maravilhosa desse lugar a um pesadelo. Em meio as recentes sombras da noite surgiram dois ban-

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didos que abordaram o casal, pediam dinheiro, joias ou algo de valor. Homens de aspecto rude que carregavam no olhar um bri-lho cortante de maldade. Pedro ainda tentou dialogar explicando que nada tinham que pudesse interessar aos dois. Ana no fundo de seu coração sabia que nada adiantaria, pois as duas criaturas a sua frente não possuíam o brilho de hu-manidade em seus olhares, carregavam sim o peso da morte e mesmo que dinheiro tivesse, ela ainda temia por suas vidas. Quando Pedro caiu com um golpe de uma barra de ferro em suas costas, sentia a dor lancinante das costelas quebradas e respiravacomdificuldades.Aindarecebiachutesnochão,tentavagritar, mas era inútil, pois o arfar incessante de seus pulmões a procura de ar era maior. A barra de ferro cortava o ar quente da noite, golpe a após golpe gerando um barulho abafado, manchando–se de sangue quando atingiu violentamente a boca de Pedro! Mas aí ele não tentava gritar mais, estava entre a consciência e o desmaio, sentia o gosto quente de seu sangue se esvaindo por entre os dentes que-brados. O golpe forte fez com que sua cabeça vira–se em direção a sua esposa Ana, que naquele momento de dor tinha seus tra-jes rasgados violentamente pelo outro assaltante, que a agarrava mordendo–a no pescoço. A cena fez com que Pedro engasgasse com o próprio san-gue, tossindo forte enquanto tentava gritar para soltarem sua mu-lher. O maldito agressor sanguinário o deixou caído e se dirigiu a seu comparsa para juntos judiarem da pobre mulher, mas vendo queoflagelohumanocaídonasareiasavermelhadasdaquelepe-daço de praia, ainda respirando e tentando relutar. Voltou–se para ele, e com a barra de ferro em suas mãos. – Tu és mais forte do que aparentas traste! Falava o bandi-do admirando o que restara do corpo quebrado de Pedro. Olhou para trás e viu que seu comparsa rasgava o vestido da mulher, e pode ver que a vitima tentava inutilmente esconder os seios com as mãos estava ansioso para atacar a mulher tam-bém.

A VINGANÇA DA LUA

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Pedro sentiu então os olhos marejarem de dor, uma dor que os flagelos a ele impostos através da violência não foramcapazes de formar. Sentia no peito a dor da impotência, da sua impotência em relação a aquela pessoa que amava e que jurou proteger. Foiquandoaraivacomeçou,sentiafinalmenteseucora-ção arder. O bandido notou que o homem caído se mexia muito, e um brilho no pescoço da vítima chamou sua atenção. Puxou com força o medalhão de metal antigo, inspecionando–o com curiosi-dade. Possuía inscrições em uma língua a muito esquecida, mas a fragilidade do material decepcionou o miserável que esperava lucrar com a venda do artefato. – Lixo sem valor! Gritou o brutamonte enquanto arremes-sava o amuleto protetor de Pedro em meio às águas agitadas do mar. Ainda irado, numa gargalhada demoníaca transferiu o golpe certeiro, de misericórdia, se é que pode ser usado este ter-mo. Mas o fato é que com a violência do golpe o crânio do pobre Pedro Servo o homem humilde de que todos gostavam, quebrou! Ana gritou se desvencilhando do bandido que a segurava. Correu caindo de joelhos ao lado de seu marido, via que nos olhos estatelados de Pedro lagrimas ainda teimavam em escorrer em meio à face afundada. Osbandidosolhavamaoredor,verificandopossíveisteste-munhas se os gritos da mulher tinham sido escutados por alguém. Agarram-na pelos braços arrastando–a para longe do moribundo, ela tentava de todas as formas se desvencilhar dos bandidos, mas não conseguia. VendoacenaaLuaparecendoficar tristesumiudevezpor entre nuvens, deixando a desolação completa daquela noite maldita,deixandosozinhaapobreAnaparaoseutristefim.

***

A VINGANÇA DA LUA

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– Onde está? Ajude–me! Clamava Pedro Servo por ajuda correndo nu em meio à noite fria de seu subconsciente. Parou quando viu uma sombra de enormes contornos pa-rada, como se uma enorme criatura o espreitasse, além disso, cha-mava sua atenção dois enormes olhos vermelhos que cintilavam raiva, Pedro os conhecia bem. – Ajude–me! Sem que esta com minha família a gerações, e sempre o negamos resistindo ao seu chamado. A criatura como se entendesse permanecia inerte escutan-do, um rosnado baixo e lufadas de ar quente saiam de seu focinho. – Mas agora eu preciso de você! Não é por mim, minha esposa corre risco e eu... A criatura levantou–se andando a princí-pio, mas começou a correr em direção a Pedro que recuava rece-oso. – Não, me ajude! Ajude-me! O monstro avançou de forma violenta derrubando Pedro enquanto estraçalhava seu corpo ferozmente. Rasgando o peito de Pedro, que agonizava gritando por ajuda.

***

As nuvens aos poucos se esvaiam, permitindo deste modo que o brilho daquela Lua cheia iluminasse toda a praia... Iluminasse os bandidos que agora estupravam a desprote-gida Ana que gritava. Iluminasse o morto de olhos estatelados. A forte luz da Lua fazia com que seus olhos mortos bri-lhassem num tom escarlate, que germinava nas córneas e tomava conta de todo o globo ocular. Ouviu–se então um barulho de os-sos estralando, um dos bandidos que segurava os braços da mu-lhernotouoestranhobarulhoefoiverificarsuaorigem. Ouvia alto o som de ossos se entrechocando que estra-nhamente viam do cadáver, se aproximando via iluminado pela Lua o corpo de sua vitima que se contorcia. O bandido observava que nas costas do homem as omoplatas se deslocavam e o ombro

A VINGANÇA DA LUA

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voltava ao lugar. O homem caído se virou de repente e o bandido assustado, via a cabeça retornando aos poucos ao lugar. De repen-tecomoseemergissedomarPedrogritoualtoosuficientequepode ser ouvido por sua esposa e seu algoz. Um grito de vida que explodiu na praia iniciando uma metamorfose. O homem já refeito dos ferimentos, ainda deitado rasgava a roupa suja de sangue com o delírio da dor transparecendo na face, a boca torta espumava e gemia rangendo os dentes que cres-ciam se tornando pontiagudas presas, agora nu seu corpo suava. Osossos cresciam, o crânio esticava aos poucos numa forma de cachorro, e de todo seu corpo brotava pelos negros que cresciam, ainda gritava assustadoramente. Neste ponto o bandido amedrontado como estava correu espavorido chamando pelo comparsa, que se erguendo do chão observou o outro sendo seguido pelo que parecia um lobo gigan-te. O assombro da cena o fez largar a mulher. Ana ajoelhada se refazia do mau que sofreu, e ainda sem entender viu um dos bandidos sendo seguido por um lobo. – Pedro! Gritou assustada. A criatura se pôs em quatro patas como uma fera, parecia com um lobo selvagem se não fosse pelo seu tamanho bestial e o brilho escarlate de seus olhos em chamas. Olhava o bandido a sua frente o estudando com ira, rangia alto com a boca espumando de fome. Num uivo estridente atacou o homem! Que iniciou sem sucesso uma fuga correndo e gritando desesperado. Rapidamente foi derrubado com um golpe da pata descomunal do bicho, que o fez rodopiar no ar tamanha força do golpe. O homem ainda tonto limpava o rosto cheio de areia. Quando conseguiu se levantar foi atacado novamente pe-las presas da fera que lhe cortou a barriga. O homem caiu agoni-zando, enquanto o lobo lhe comia as vísceras com ele ainda vivo, seus gritos eram ouvidos ao longo de toda extensão da praia. Logo após não satisfeito, o lobo levantou o focinho sen-tindo o cheiro de maldade e medo que ainda permeavam o ar, o

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cheiro vinha do segundo bandido. Que estava prostrado em pé cogelado. A criatura se aproximou calmamente, sua bocarra espu-mava pingando sangue rodeava o homem assustado rangendo as presas enormes. Os olhos vermelhos encaravam o infeliz a sua frente. Num salto violento arrancou um dos braços do homem que gritava se urinando de dor, enquanto a criatura mastigava fu-riosamente o petisco bizarro, houve então um ensaio de fuga, mas a fera saltou por sobre o homem, escutou–se então um uivo ater-rorizante que cortou a noite, e só então o devorou com a fome da ira, com a satisfação da vingança. Ana que até então estava de joelhos congelada, num de-lírio irracional que só o amor é capaz de prover, sim, pois como disse ele corre numa linha tênue que divide a sanidade da loucura. Ana se aproximou do lobo. Chorava e suas mãos tremiam. O lobisomem ainda se alimentava quando sentiu um chei-ro suave de amor e misericórdia. Saltou pronto para mais um ataque, mas se deteve por instantes, pois no fundo dos olhos da mulher ensanguentada seminua a sua frente havia amor. Ele sabia que esta era Ana sua esposa, seu amor. E os seus olhos vermelhos ganharam então uma leveza, um brilho que só os apaixonados possuem. Talvez num último lampejo de humanidade, a criatura de repente se chacoalhava irritadiça como se em sua alma se origi-nasseumconflito.Gemiadedor,numsofrimentoquedurouporalguns minutos. Parou num uivo estridente! Encarou novamente Ana. Seus olhos vermelhos agora só mostravam ódio, uivou mais vez. Avançou na única pessoa que o compreendia. Ana fechou os olhos sem saber o que estava por vir, e de seus lábios amorosos ainda se ouviu:

– Eu sempre te amarei meu...

A VINGANÇA DA LUA

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O lobisomem saltou sobre a mulher – sem remorsos, sem culpa -, lhe arrancando à cabeça com suas presas assassinas!

Pedro agora um monstro irracional, fugia correndo veloz-mente no limite que sua forma bestial de lobisomem lhe permitia. E com o brilho da Lua lhe orientando caminho, crescia o senti-mento da liberdade que lhe fazia uivar.

O amuleto estava perdido, Ana estava morta e o futuro de Pedro Servo era incerto. Naquela noite maldita nascia uma das mais populares lendas de nosso país.

A VINGANÇA DA LUA

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O SAMBA DO MORTO

Naquele bar a alegria era geral, todos cantavam e bebiam a escolha da marchinha de carnaval de 1938:

“To na boa, to na boa,vem pro cordão e não fique assim a toa!

Quando você aparece na avenida São Joãoo próprio som enlouquece e esquece a obrigação!

Tona, tona, to na boa...”

Marchinha que tocaria nas festas de carnaval na rádio São Paulo. Num canto deste bar, em uma das mesas um homem es-tava rodeado de mulheres, que sorridentes dividiam as cervejas em cima da mesa. Vez ou outra passava um amigo e lhe batia saudosamente as costas parabenizando-o pela vitória de sua com-posição. - Parabéns mais uma vez Adoniran! - Obrigado, mas estamos de muito falatório, nós viemos aqui para beber ou conversar? Sorria Adoniran erguendo o copo para mais um brinde. O homem retribuía, e saia dançando puxan-do umas das mulheres sentadas que consentia sorrindo. Tudo era festa e alegria, quando os olhos de Adoniran cruzaram com um par de belas pernas, uma linda negra sambava num belo vestido vermelho. Hipnotizado seguiu os traços daquele corpo maravi-lhoso, começando pelos pés calçados em sandálias de festa dou-radas que brilhavam. Passando pelas pernas torneadas de coxas fortes. Tomou o copo cheio num gole enquanto perdeu alguns minutos observando os movimentos ágeis do quadril da mulher.

CONTOS DE TERROR

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Seios pequenos, mas que se mostravam vivos pelos movimentos resultantes da dança, o belo rosto com seus cabelos suavemente crespos completavam o quadro de beleza daquela deusa negra. O jovem Adoniran não se conteve, levantou-se ajeitando a gravata borboleta, atravessou o salão do bar. Parou no balcão a poucos metros da mulher, que ainda sambava indiferente de sua presença. E num dos giros dela perto de onde estava pegou sua-vemente num dos braços cochichando em seu ouvido. Ela sorriu, mas disse não! Ele contrariado não se deu por vencido, e tentou mais uma vez. O novo não, sonoro que recebera desta vez o fez mudar a expressão. Um semblante sério e frio se formou quando perguntou: - Qual o seu nome, musa de meu desejo? Olhava no fundo dos olhos da mulher. - Iracema. Respondeu temerosa a moça pressionada. - Eu te mato Iracema! Respondeu bruscamente roubando um beijo, e saiu sorrindo rumo a mesa onde estava sentado há pouco. Seu chapéu pousava num dos descansos de parede, o pe-gou chamando seus amigos. E saiu do bar rindo e cantando. A madrugada estava agradável, as ruas do bairro do ‘Bexi-ga’ estavam vazias, pois ainda faltavam quinze dias para as festi-vidades de carnaval. Os três amigos andaram sem contar o tempo, passando por ruas e vielas escuras. Cantando felizes as canções que enalteciam a felicidade da vida boêmia. Quando chegaram a uma rua estreita de paralelepípedos, todas as casinhas eram cola-das uma na outra, e suas fachadas trabalhadas eram cobertas com cores alegres, vivas. Em uma delas as cores contrastavam com um largo pano preto, preso a fachada e as janelas. E justamente na frente dela é que pararam. - Deus me defenda! Isso é sinal de luto na família! Gritou Mato Grosso fazendo o sinal da cruz. - É melhor mudar de rumo, isso é sinal de azar na certa! Completou o Joca, buscando embaixo do colete e da camisa o crucifixopresentedesuaMãe. Adoniran era o mais velho dos dois rapazes, sentado na

O SAMBA DO MORTO

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guia procurava num dos bolsos do paletó o isqueiro de prata que ganhara do dono da radio. Acendeu um cigarro amassado. Deu um trago inalando com força a fumaça, e a soltou pelo nariz. Mais relaxado, e um pouco menos bêbado, sorria da cena a sua frente. - Hum 47 é elefante! Batata! Isso é sorte no bicho! Hehe – Respondeu com escárnio apontando o número da casa -, Os dois deixem de besteiras! Se vocês acordarem o povo desta vila daí sim verão o que é correr de medo. Falava em tom debochado. - Quer dizer que não acredita nisso? Perguntou Joca sen-tando do lado do amigo e dando um trago no mesmo cigarro que fumava o outro. -SoudefamíliaItaliana,tenhominhafé.Masnãoficoporaí tremendo a cada casa com pano escuro pendurada na frente. Respondeu sério pedindo novamente o cigarro. MatoGrossoapenassorria,quandodofinaldaruaescu-tou um assovio baixo, levantou sobressaltado. O som aumentava ereconheceramamelodiadeumvelhosambadeNoel.Umafi-gura bem trajada se apresentou. - Não pude deixar de ouvi-los senhores. Saudou o estra-nho tirando o chapéu, vestia um terno todo branco, e seu odor era um leve aroma de rosas. - Está tarde tenho de voltar! Mato Grosso que já estava em pé, e gaguejando se despediu dos amigos. Adoniran achou graça, mas não quis fazer média com o amigo, na frente do estranho. Mato Grosso cumprimentou a todos deu adeus e saiu aos tropeços indo embora. - Talvez devêssemos segui-lo... Joca fez menção em se-guir o amigo, mas Adoniran o desencorajou com um puxão em seu braço direito. - Não seja rude com o cavalheiro, como disse mesmo que era seu nome? Perguntou Adoniran num interesse repentino. - Ora para quê formalidades, me chame apenas de seu amigo. Respondeu o misterioso estranho. - Escute ‘meu amigo’, este é o Joca – E empurrou o amigo para que saudasse o homem.

O SAMBA DO MORTO

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- E eu me chamo Adoniran Barbosa, a seu serviço doutor. - Escute Adoniran, sigamos então, vamos sair de frente de este tumulo de dor. Deu uma última olhada a casa em luto e começou a caminhar. Assim seguiam os três, o estranho a frente e os dois ami-gos incrédulos atrás. O estranho falava da noite e de tudo que gos-tava nela. Como da noite saiam à inspiração para mais lindas po-esiasemusicas.QuandoestavampertodoviadutoSantaIfigêniao estranho parou, num canto entre um poste e um jogo de escadas quedesciarumoavieladafigueira,haviaaliumamacumba.Umaimensa tigela de barro com farofa, frango e especiarias diversas. Oestranhoficouparadocomoseestivessehipnotizado,abaixoue sem pestanejar pegou a garrafa de champagne abrindo-a com facilidade, sorveu num gole longo a bebida. Fazendo um som de satisfação. - Desculpe-me a falta de educação, mas estava com muita sede. De onde vim o calor torrava minha alma e uma boa bebida como esta não deve ser desperdiçada. Querem um gole? Falou o estranho limpando a boca com a manga do terno. - Obrigado doutor, mas estamos cheios de bebida. Des-conversou Adoniran, que agora estava estranhamente assustado comoestranho,olhandoafiguradebrancoquebebiacomumgosto de um perdido no deserto escaldante. No ar o cheiro forte de rosas que agora se acentuava, um temor forte crescia em seu coração. Imaginava que se estava morrendo de medo daquele jei-to,comoestariaoJoca?Eolhandooamigoencontrouumafigurapálida que suava frio de olhos estatelados de medo. Soube então que estava diante de um morto! Joca fez um movimento com se quisesse correr, mas Adoniran lhe acenou discretamente, com as mãos, enquanto o morto bebia o último gole da garrafa. - O amigo ainda não falou o motivo de tão inusitada vi-sita. Perguntou Adoniran de forma cautelosa. No rosto do morto se formou um sorriso empedernido. Seus dentes possuíam tom amarelo, seco. - Ainda tenho sede... Sim amigo, não contei o quero aqui.

O SAMBA DO MORTO

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Gemia o morto, passando as mãos na boca de lábios azuis que agora se apresentava. O terno perdera o branco, não passava de um farrapo gasto pelo uso e com manchas de terra do cemitério. O chapéu rasgado e a bengala velha acompanhavam o defunto que estava em pé à frente dos dois amigos. Joca tremia, e suas calças se molharam ao presenciar a cena. Adoniran não sabia se acudia o amigo, se corria ou se mijava todo de medo também! - Quero um samba Adoniran, um samba para o amor de minha antiga vida. Falou o estranho enquanto batia o pó do cha-péu esfarrapado colocando-o na cabeça. Naquelepontodaconversaostrêsficaramcongeladosseolhando, com aquela tensão de que ao menor barulho, correria um para cada lado desembestados de medo. Mas não correram. Ado-niram queria ajudar aquela alma a descansar, já que correr não conseguia. O morto seguia a frente e os amigos atrás, Joca vez ou outra,faziaosinaldacruzeprocuravadesesperadoseucrucifixosem encontrá-lo. Seguiam pelo Bexiga, ninguém nas ruas escuras para ajudar, nenhum boteco aberto para pedir ajuda. Quando o de-sespero tomou até o coração forte de Adoniram, pois a casa onde pretendiam cantar parecia não chegar. O morto parou de repente e disse: - É aqui! Parando em frente a um antigo casarão queimado e des-truído pelo tempo. - Meus amigos, onde nos encontramos parados foi onde morei com meus familiares, mas foi aqui que morri e deixei meu coração. Enquanto falava seus olhos brancos eram iluminados pela fraca luz do poste, e onde se via como se de lágrimas fosse, um brilho molhado de tristeza. Joca tremia-se todo. Do jeito que estava não podia ajudar na seresta do morto que precisavam cantar. - Mas doutor esta casa esta fazia! Adoniram tentava ga-nhar tempo para escapar daquela situação, pois se existia um mor-to que pede música para os vivos, ele esperava que existisse então

O SAMBA DO MORTO

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um milagre que o livra-se do morto. Deu uma tapa na nuca do Joca para que ele parasse de chorar e o ajudasse com as palmas. Estavam sem cavaquinho ou pandeiro,Adoniranenfiouamãonobolsoetirouumacaixinhadefósforos. E com o suave tic, tic, tic, tic enquadrou uma melodia, eesquadrinhou uma letra, sussurrando a principio na incerteza da rima nova. Baixou a cabeça nervosamente, olhando o quanto im-paciente o morto se mostrava. E depois de longo suspiro de cora-gem, começou a cantar uma música docemente romântica:

“Doce rosa, rosa de minha vidaIluminares meu jardim mesmo na despedida,

(2x bis)se canto triste hoje,

é por que não te tenho,te vejo de tão longe,

mas não finjo que a tenho(2x bis)

Do meu buraco frioVenho sempre te visitar

Feche seus olhos a noiteEscute ao longe o meu caminhar

São meus ossos ruidosos num triste sacolejar...”.

Enquanto cantava Adoniram observava o morto que abria o portão enferrujado, que gemeu num clanck alto que lhe arrepiou os pelos da nuca. Estavam a poucos metros da entrada, pois do portão a porta de entrada da casa, poucos metros de distância o separavam. Os dois amigos ouviram passos que se deslocavam dentro da casa. Na rua uma misteriosa nevoa se espalhava por toda parte, e de repente não se via mais o chão. - Agora amigos vou lhes apresentar o amor de minha vida, que me acompanha durante minha morte. Disse o morto girando a maçaneta. Joca foi o primeiro a correr, mas Adoniran o deixou para trás tamanho foi o medo do quê se apresentaria atrás daquela por-ta.Correrammuito,semparar,semolharparatrás.Quandoenfim

O SAMBA DO MORTO

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se sentiram seguros, estavam no Brás sentados num boteco aber-to com os últimos e teimosos bêbados, que ainda persistiam em beber. Joca estava vermelho sem ar, com a cabeça jogada para trás buscando ar desesperadamente. Adoniram arfava, mas ainda conseguiu pedir uma cerveja gelada. No outro dia enquanto contavam a assustadora história para Mato Grosso, o homem riu ruidosamente: - Eu sabia, eu sabia! Você tem uma bela voz Adoniran, para acompanhar defunto!

O SAMBA DO MORTO

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BIOGRAFIA

Sidney Leal - Poeta amador, escritor e leitor ávido, amante dos bons contos de mistério e terror. Ganhador do 8º Concurso Literário de Suzano 2012 - edição Cora Coralina - 1º Lugar Categoria Conto Regional. Escreveu os livros “Minhas Histórias de Mistério Terror & Morte” e “Sussurros da Noite - Loucuras & Sonhos”. Na atualidade trabalha nos romances: “Canção do Desespero” e o “A Garganta tem Sede”. E no livro de contos: “Terror Brasilis”.

Contato:

Blog: www.sidneyleal.blogspot.com Twitter: @SidneyLeal_x

Instagram: sidneyleal_escritorfacebook: https://www.facebook.com/anexox.sidney

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Marilu F QueirozNoite de Horror no Play Center..................................................27Biografia.....................................................................................29

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NOITE DE HORROR NO PLAY CENTER

Agosto, sexta-feira, noite alta. A cabeça dói, os olhos ar-dem provocando um desconforto geral. O telefone toca. Amigos me convidam para a noite de horror do Play Center. Indecisa, abro a janela, noite calma, brisa leve, céu infestado de estrelas. Sim, eu vou. Chegamos. Play Center todo apagado, iluminado ape-nas pela luz da lua, clima propício para uma verdadeira noite de horror. Gritos e risadas ecoam no ar. Começamos nossa aventura pelo lado direito do parque onde monstros pulam à nossa frente com risadas metálicas e faces horripilantes. Ríamos e gritávamos ao mesmo tempo. Divertido? Não sei descrever. Uma sensação estranha percorre meu corpo, junto com dor de cabeça e ardência nos olhos. Medo? Talvez. Aquilo tudo era preparado como num teatro, desde o cenário até o clima que a natureza teimava em nos oferecer. Com todo esse aparato interagíamos diretamente, com as mais diversas reações. Era um misto de susto, medo, surpresa, perturbação e entusiasmo. Imersaemmeuspensamentosnãopercebiqueficarasozi-nha. Ouvia sons ao longe. As risadas e gritos pareciam distantes. A noite estava mais escura, a lua se escondera atrás da nuvem, fa-zendo sombras pelos cantos, formando imagens. Ouço passos, es-tremeço. Ando mais rápido, as pernas bambeiam, tremem, quase não conseguem sustentar o meu corpo. Com audição redobrada, posso ouvir todos os ruídos. Tenho a sensação de que alguém me segue. Meu coração bate num ritmo descompassado. A respiração ficaentrecortada,parecequemefaltaoar.

CONTOS DE TERROR

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Meu corpo todo se esquenta. O suor brota, molhando-me os cabelos e escorre pelo rosto e nuca, descendo pelas costas num arrepio estranho, gelado. Sinto o sangue pulsar nas veias, bombe-ando violentamente o coração, indo até as têmporas, martelando--me o cérebro. O ar impregnado de gás carbônico entra nos pul-mõesláficandoestagnado. Ando mais rápido. Ruídos de folhas secas e passos por todos os lados. Passos cada vez mais próximos, nítidos. Fico ofegantetãograndeéafaltadear.Medo?Nãoconsigodefinir.Ouço uma respiração forte. Tento correr, minhas pernas pesam feito chumbo, deixando marcas fundas no chão. Apavorada tento gritar, mas consigo emitir apenas um estranho grunhido. Ahrrr! Minha língua amortece, a saliva se torna espessa. Deses-perada, levo as mãos ao rosto e sinto pelos por toda a face e na boca enormes presas. Meu corpo dói e se contorce. Tudo muito estranho, muito esquisito. O meu medo era tanto que não conse-guia sequer raciocinar. O que é isso? A lua reaparece, depressa olho as minhas mãos - peludas com grandes unhas curvadas para baixo - garras. Oh! Não! Grito! Um grito longo, agudo, sofrido. Uivo!!!

NOITE DE HORROR NO PLAY CENTER

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BIOGRAFIA

Marilu F Queiroz - Publicitária, aquarelista e escritora. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura, pela Universi-dade Mackenzie, Brasil. Ainda menina iniciou seus primeiros escritos. Incentivada pelo pai, um artista por natureza, prosseguiu na trilha de seus dois amores: a escrita e a aquarela, sem jamais conseguir optar por qualquer uma delas.

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Thaís de PaulaA base.........................................................................................31Biografia....................................................................................38

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A BASE

Eles estão espalhados por todos os lugares e já cercaram o prédio onde nos refugiamos. Estávamos em festa ao som de uma vitrola portátil com alguns discos de vinil que havia encontrado em minha última busca por suprimentos. Lembro que minha mãe tinha um quando eu e meus irmãos mais velhos éramos pequenos. Fazíamos a maior festa quando ela resolvia ouvir aquelas maravi-lhosas músicas dos anos 1980. Aquela senhora exigente e doce ao mesmo tempo faz muita falta. Ela foi uma mulher incrível e nos criou sozinha. Sinto um pouco de alívio por ela ter partido muito antes disso tudo começar. Pelo menos não teve que lutar contra um ente querido para sobreviver.

Infelizmente precisei dar cabo de minha irmã mais velha, a Vivi. Ela era uma mulher linda e muito inteligente, porém não teve muita sorte no começo da epidemia. Quando terminava seu plantão no principal hospital da cidade, foi atacada por um pa-ciente que acabara de declarar óbito. Ela sofreu apenas um ar-ranhão em seu antebraço, por isso fez um curativo e logo voltou para nossa casa. Ele foi contido, mas conseguiu morder alguns enfermeiros que o imobilizaram. Todos trataram a situação como algo normal e culparam minha irmã de negligência. Achavam que seu diagnóstico estava errado, mesmo com a falta de pulso do paciente.

Durante a noite, Vivi teve febre alta e começou a vomitar muito. Por isso, a levamos ao hospital e ela permaneceu internada por um dia, com suspeita de uma virose forte. Outros membros da equipe médica começaram a apresentar os mesmos sintomas e

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também foram internados. Logo todo o hospital se tornou o epi-centro de uma epidemia de uma doença que ninguém sabia como tratar.

Os pacientes começaram a morrer, mas logo começavam aselevantareaatacarquemestivesseporperto.Aofinaldeumasemana, a cidade toda havia se tornado um verdadeiro inferno. Eu, Rosemary e nosso irmão, Jonas, desrespeitando o toque de recolher que fora estabelecido pelo Exército nacional, resolvemos ir ao hospital para tentar ver nossa irmã mais velha, a médica que era o nosso ídolo e havia incorporado o papel de nossa mãe, além de procurar alimentos, pois a despensa já estava vazia.

Ao sair de casa, um sobrado antigo, constatamos o aban-dono por todos os lados. Nosso bairro parecia deserto e o cheiro de lixo podre e coisas queimadas era forte. Ao longe víamos fumaça e sentíamos um clima pesado. Ficamos entocados por uma sema-na, por puro medo e por exigência de Vivi, mas não aguentamos de saudade e preocupação. As comunicações acabaram: telefones e internet estavam bloqueados. A cidade estava em quarentena e fomos impedidos de falar com qualquer pessoa de fora.

Seguimos, então, pela avenida principal do bairro, que dava num pequeno centro de lojas onde gostávamos de comprar roupas e tranqueiras para nossa casa. Andávamos de bicicleta para não chamar atenção. Passamos por carros abandonados, com corpos em decomposição presos e desviamos de muito entulho. Tivemos muita sorte por chegar inteiros ao hospital, porém não foi nada fácil entrar. Primeiro precisamos abrir caminho entre barricadas improvisadas com ambulâncias nas entradas. Por mui-ta sorte não havia nenhuma daquelas criaturas por perto.

Chegamos ao segundo andar, pela escada de incêndio e caminhamos pelo corredor. Nos dias normais, eu já acharia isso assustador. Hospitais, para mim, sempre tiveram uma atmosfera

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assustadora e eu evitava esses ambientes a todo custo.

Havia muita bagunça dentro do prédio, marcas de sangue seco pelas paredes. Corremos para o segundo andar com muita dificuldadeparadesviardecorpossemvidalargadosnochãoqueestavam as cabeças esmagadas. Ao chegar no andar onde nossa irmã deveria estar, encontramos todos os quartos trancados. Con-seguíamosouvirruídosegemidosvindosdecadaum.Nofinaldolongo corredor, notamos uma porta meio encostada por onde saia um pouco de luz. Apesar do meu esforço para não fazer barulho, tropecei em uma comadre que estava largada no chão. O barulho ressoou pelo ambiente e a alguém saiu daquele último quarto.

Apoucailuminaçãonãonosdeixoureconheceraquelafi-gura no começo, mas logo reconhecemos Vivi. Porém, ela não era mais a mesma. Andava aos tropeços, havia um buraco em sua bochecha e seu maxilar estava pendurado. As mãos estavam esticadas em nossa direção e seus olhos sem vida nos encarava. Seu fedor e gemidos preencheram o corredor e nossos corações ficaramapertados.Logocomeçamosatravarumalutaestranhaetriste com nossa adorada irmã. Para salvar nossas vidas, termina-mos com aquela criatura que tentava nos morder.

Os anos se passaram rapidamente após isso e vimos a epi-demia piorar. O vírus se espalhou e não sabemos se existem ou-tros sobreviventes ou se todo o mundo foi atingido. Nunca mais tivemos nenhuma notícia do Exército e a barreira que eles manti-nham foi derrubada por saqueadores.

Agora eu me dedicava a manter a despensa de nosso atual abrigo, a “Base”, e costumava sair atrás de suprimentos. Nessa úl-timamissão,Jonasficouparacuidardesuaesposaqueestápres-tes a dar a luz. Ele conheceu Julia quando nos estabelecemos no refúgio.Aocontráriodalógicaestabelecidaemfilmesdezumbis,que eu adorava assistir, um hospital não é um local ideal para se

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esconder, já que os futuros zumbis são encaminhados para lá as-sim que começam a apresentar os primeiros sintomas.

Depois de quatro anos, as criaturas se dispersaram e foi possível fazer uma limpeza geral e reforçar as portas. O mesmo hospital onde nossa irmã trabalhava nos acolheu após espalhar-mos macas e correntes para bloquear as entradas. Instalamos alar-mesfeitoscomfioselatasparanosavisarsobrepossíveisinva-sões de pessoas vivas ou mortas. Com isso, criamos o ambiente perfeito para o nascimento da próxima geração de sobreviventes: contávamos com três grávidas em estágios diferentes da gestação.

Muitos aparelhos ainda poderiam ser utilizados, já que o prédio contava com um grande gerador movido a energia solar e ainda tínhamos a sorte dele estar localizado no porão, o que aba-fava o som. Porém, evitávamos usar para não chamar atenção de gente mal-intencionada.

Outra vantagem de viver ali era a grande reserva de comi-da enlatada. Muita coisa estava perto do vencimento, mas ainda tínhamos algumas latas com prazo de validade maior. No terraço conseguimos criar uma hortinha, com itens básicos como tomate, batata, abobrinha, beterraba, alface e temperos. Criávamos gali-nhas e comíamos os ovos apenas. Não consumíamos mais carne, pois era difícil pensar em consumir outros animais depois de ver tanta gente sendo devorada viva.

Do lado de fora contávamos com um muro baixo que pro-porcionava um reforço na proteção. Havia um portão principal, onde podíamos passar com caminhonetes ou bicicletas, nosso meio de transporte preferido. Mesmo com toda essa infraestru-tura e mecanismos de segurança, vivíamos apreensivos e sempre precisávamos procurar por coisas, já que a população da Base crescia com frequência. Já contávamos com cem pessoas, que se distribuíam ao longo dos quatro andares.

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Quando começamos a transformar o local em um abrigo, estávamos em um grupo de dez pessoas. Logo o prédio ganhou setenta moradores. Depois, um ônibus chegou com vinte pessoas que, infelizmente, acabou sofrendo com alguns infectados na pri-meira noite. Num primeiro contato, deixávamos os estranhos em quarentena nas salas 1 e 2, perto da recepção. Desta turma, apenas seis sobreviveram, com ajuda de nossas sentinelas, que acabaram com as criaturas.

Entre os sobreviventes, havia um médico, Doutor Teixei-ra, que foi uma grande aquisição para nós. Prontamente ele se de-dicou a cuidar das gestantes e decidiu fazer seus partos. O acom-panhamento foi perfeito e as mães e bebês estavam saudáveis. Logo meu sobrinho ou sobrinha nasceria e estávamos exultantes.

O dia tão sonhado chegou e tudo estava preparado. Hen-rique, um sobrevivente da primeira turma, dedicou-se a se tornar um quebra-galho de enfermeiro. Ele era cozinheiro antes da epi-demia, mas gostava de aprender. Sua personalidade era bondosa, mas um pouco melancólica. Acredito que perder seu namorado no primeiro dia do surto tenha acabado com ele. Atualmente co-meçava a trocar olhares com Kenny, outro morador da base, o que causava estranheza nos mais velhos. Naturalmente, o namoro começou e as coisas se tornaram mais leves na vida do nosso en-fermeiro.

Voltando ao parto, minha cunhada, teve facilidade para trazer Davi ao mundo. O parto foi natural e o bebê estava saudá-vel.DoutorTeixeiraeoenfermeiroHenriquefizeramumaóti-ma dupla! Toda a base estava em festa pela chegada de seu novo membro e as outras duas grávidas, Rebeca que estava com 15 semanas e Marta com 30, sentiam-se mais seguras.

Durante as comemorações, devido ao consumo de álcool,

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Jaqueline, uma sentinela, resolveu dar uma volta de bicicleta. Ela nunca esteve satisfeita com a vida atual, suas funções e estava ainda mais infeliz por estar de fora da festa. Foi designada para vigiarnestanoiteespecificadevidoàsuafrustraçãocomonas-cimento de meu sobrinho. Antes de Julia aparecer no abrigo, era com Jaqueline que Jonas se relacionava e foi uma tremenda de-cepção ser trocada.

Apesar de todo apoio que tentei oferecer, ela sempre se considerava menosprezada e guardava muito rancor. Sempre con-frontava nossas decisões sobre a vida dentro da base e costumava questionar nossa liderança com frequência.

Tentávamos viver de acordo com a situação, consumindo pouco e racionando a comida. Sempre ouvíamos críticas, pois al-gumaspessoasnosacusavamdebeneficiaralguns“eleitos”.

Jaqueline saiu bêbada de seu posto e esqueceu o portão principal aberto. Com a festa que rolava no terceiro andar, nin-guém percebeu quando o primeiro morto-vivo entrou. Ela dera bebida batizada para a outra sentinela, Gustavo, um jovem que ti-nha uma queda pela colega de posto. Infelizmente, ele não aguen-tou a dose e apagou na hora.Nesse momento, ela aproveitou e partiu de bicicleta, levando al-guns poucos suprimentos.

Com a raiva dominando sua mente, a sentinela deixou to-dos os sentimentos ruins que guardou durante o último ano explo-direm e abriu uma oportunidade para os zumbis atacarem. Saiu pedalando sem olhar para trás com um sorriso de satisfação na face.

O primeiro a ser atacado foi justamente o pobre Gusta-vo, que demorou para entender que estava sendo mordido por um zumbi, não recebendo carinhos de Jaqueline, como em seus

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sonhos. Ele nem conseguiu nos avisar do perigo e sucumbiu rapi-damente.

Pouco a pouco os andares foram dominados pelas cria-turas e algumas pessoas que já haviam se recolhido foram cruel-mente atacadas. Os anos de comodidade dentro da Base amole-ceram alguns dos guerreiros mais astutos e a luta foi muito fácil para os zumbis mais apodrecidos.

No terceiro andar, onde festejávamos, a coisa não foi di-ferente. Minha família não foi poupada. Eles invadiram o quarto onde Julia e o bebê repousavam e não sobrou nada. Não puderam reagiremeuirmãodeufimaprópriavidapornãoterchegadoatempo.

Os bons anos acabaram e os poucos sobreviventes preci-sarampartiratrásdeumnovoabrigo.Eufiqueiparatrás,emmeioa horda que cambaleia pelos corredores da Base.

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BIOGRAFIA

Thaís de Paula é jornalista, balzaquiana, natural de Santo André (SP). Começou a ler grandes clássicos da literatura fantásticavitorianaaosoitoanosenãoparoumais.Apreciafilmesde diretores como George Romero e Lucio Fulci. Escreve poesias desde criança e começou a escrever contos baseados em seus pesadelos quando se tornou adulta.

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Fabio Oneas Marinho da Silva

O estranho ser que habita O espelho..........................................40A terceira lei de Newton.............................................................45Eles não querem permanecer mortos..........................................49Biografia.....................................................................................56

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O ESTRANHO SER QUE HABITA

O ESPELHO.

Aos dezesseis anos de idade acordei de madrugada com a sensação de que algo me observava. Ao olhar para o espelho do meuquartoemvezdevermeupróprioreflexoviumhumanoidevestido com um manto negro cobrindo toda a extensão do seu corpo. O humanoide saiu do espelho, era muito alto, com mais de dois metros de altura, passou por mim e caminhou em dire-ção ao quarto dos meus pais, o segui com passos vagarosos com medo de chamar sua atenção, minha vontade era gritar avisando meus pais, mas o medo não me permitia.

Eu estava dividido entre o terror absoluto e a curiosidade, uma parte minha queria me esconder e outra parte queria desco-brir o que era aquela criatura. A criatura parou na porta do quarto dos meus pais e fez um chiado, um som gutural, me lembrava do som de uma furadei-ra misturada com ganido de alguma espécie de animal selvagem.A criatura abriu a porta do quarto e antes de entrar olhou em mi-nha direção, aquele ser tinha apenas um olho, localizado onde deveria estar o nariz, era bem grande e sua cor alternava ora verde florescente,orabrancogelo. Euestavapetrificado,nãoconseguianempiscar,ficamosnos encarando por alguns segundos e logo depois a criatura en-trou no quarto e fechou a porta, assim que a porta se fechou sen-ti como se um peso fosse retirado da minha cabeça, de alguma forma aquela criatura mexeu com minha mente, não era apenas a maldade que ela trouxe para a minha casa, além do clima qua-

CONTOS DE TERROR

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se palpável de maldade que embrenhava minha residência havia algo psico, era como se ela se alimentasse da energia de humanos.Respirei fundo, era hora de vencer meus medos, meus pais esta-vam em perigo e eu deveria fazer algo, corri para o quarto sem ter ideia do que eu deveria fazer.

Encontrei a criatura parada ao pé da cama dos meus pais em um primeiro momento não percebi o que estava acontecendo, mas assim que minha visão se acostumou com a escuridão do quarto para meu horror vi que a boca da criatura se deformou em uma forma grotesca, a parte de baixo do seu maxilar estava aberta até o seu peito e a parte posterior um pouco acima do seu único olho, da sua boca meia dúzia de tentáculos surgiam e estavam fincadosnorostoenopeitodomeupai. Alguma coisa estava sendo sugado do corpo do meu pai, os movimentos daqueles tentáculos eram grotescos. Tentei gritar para meus pais acordarem, mas aquele peso que senti na cabeça mais uma vez voltou gritar também não era possível, minha boca estava selada.

Meu pai arregalou os olhos, virou a cabeça para mim e falou comigo, não com sua voz, ou melhor, era uma legião de vo-zes a cada palavra eu não sabia distinguir se era homem, mulher, velho ou criança, era uma sinfonia do caos, as palavras proferidas boca do meu pai foram: -Não se meta nos meus assuntos!Logo depois disso meu pai estava morto. Acriaturaficoumeobservandoeeusentiumamãoinvi-sível me sufocando, cai de joelhos no chão, as lagrimas rolando pelo meu rosto, eu não queria morrer.

Quando estava próximo de perder os sentidos a mão in-visível me soltou e pude respirar, mas não tinha forças para me levantar. Em todo esse tempo a minha mãe não acordou. A criatura se aproximou dela e retirou o cobertor, subiu em cima dela e a

O ESTRANHO SER QUE HABITA O ESPELHO

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violou, eu queria fechar meus olhos, mas não conseguia. Fiquei ali durante todo o tempo que minha mãe foi abusa-da. Ao nascer do dia a criatura se aproximou de mim e me segurou pelas pernas, me arrastou até o meu quarto, me largou no chão e voltou a entrar no espelho. Minha mãe após o ocorrido não voltou a ser a mesma: a morte do meu pai teve pouco ou nenhum impacto nela, passava a maior parte do seu tempo no quarto. Eu não tinha a quem recorrer não tinha tios, nem avós, era apenas eu e minha mãe agora.

Tirei o espelho do meu quarto, mas ele sempre voltava, nãoimportavaoqueeufizessecomele,melivrardelenãoerapossível. Poucas noites depois da morte do meu pai, eu acordei com a criatura novamente no meu espelho, ela seguiu a risca o mesmo ritual da ultima noite, foi até o quarto da minha mãe e a deixou nua na cama. Gritei para ela ir embora, a criatura colocou apenas um dos seus tentáculos para fora da boca e o inseriu no pescoço da minha mãe que falou com aquela sinfonia de vozes: Se conti-nuar vindo aqui farei isso com você também! Corri dali e todas as noites em que eu acordava com ba-rulhos vindo do seu quarto eu apenas virava para outro lado e tentava dormir. Dois anos após o ocorrido minha mãe descobriu que esta-va gravida. Fiquei horrorizado, minha mãe não teve ninguém após o falecimento do meu pai, ela não saia de casa, aquela criança não era desse mundo.

Durante aqueles nove meses tive inúmeros pesadelos com criaturas saindo de dentro da barriga da minha mãe, a dilacerando viva. Acordei por varias noites chorando baixinho, planejei va-

O ESTRANHO SER QUE HABITA O ESPELHO

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rias formas de matar aquela criança, não queria que aquele ser nascesse, mas toda vez que eu tomava coragem para fazer algo e ia até o quarto da minha mãe, eu via a criatura no espelho, aquilo sugava toda a coragem que eu tinha. A criatura nos manteve prisioneira, não tínhamos contato com o mundo exterior, eu gritei varias vezes em frente ao espelho invocando a criatura, dizendo que minha mãe precisava de um hospital mas a criatura não se manifestava, dentro de mim eu sa-bia que ela estava nos ouvindo,eu sentia sua presença abusiva o tempo todo, se existe um inferno eu estava vivendo nele.

Nove meses depois minha mãe gritava sentindo as dores do parto, eu tentava ajudar ela, mas não sabia direito o que fazer até que a porta do quarto se abriu e aquele monstro entrou toman-domeulugarefazendoopartodeseuprópriofilho. Quandofinalmenteopartoterminouacriaturaveioatéamim e me entregou o bebê, para o meu alivio era uma menina. Linda e saudável, olhando para a beleza daquela criança recém--nascida não tive duvidas lhe dei o nome de Vitoria. Os anos passaram a pequena Vitoria cresceu normalmen-te, eu não a deixava sozinha com minha mãe, eu saia de casa ape-nas para fazer compras, e quando saia tinha que deixar minha mãe trancada no quarto, ela estava a cada dia mais estranha, diria até que perigosa à criatura havia a transformado em um ser humano totalmente diferente. Me doía ter que deixar as duas separadas a maior parte do tempo, mas era para o bem das duas. Na noite em que Vitoria completou treze anos comprei uma pequena torta para nós três comemorarmos a data, naquela madrugada fui surpreendido com a criatura no espelho, ela seguiu a risca o ritual estabelecido e realizado por todos aqueles anos. Saiu do espelho, foi até o quarto da minha mãe, só que dessa vez ela não tirou a roupa dela, deixou amostra aquela meia dúzia de tentáculos e a atacou, tentei impedir, mas como aconte-ceu alguns anos atrás mais uma vez eu estava paralisado.

O ESTRANHO SER QUE HABITA O ESPELHO

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Vi minha mãe morrer, a criatura passou por mim e se en-caminhou para o quarto da minha irmã corri atrás dela que me segurou pelo pescoço e me jogou no chão, senti meu corpo pa-ralisado novamente, e não pude fazer nada enquanto a criatura expunha o corpo nu de minha irmãzinha. Eu estava horrorizado, isso não podia estar acontecendo novamente, ouvi vozes mandando a criatura parar, mas eu não via ninguém, a criatura continuava abusando de Vitoria parecia não se importar. Senti uma mão invisível me acertar o rosto com bastante força a ponto de me deixar tonto. A criatura se levantou da cama e passou por mim, estava indo de volta para o espelho. O barulho das vozes foram aumentando, como em um passe de magica vi um monte de policias dentro da casa, dois deles me seguravam, enquanto uma policial cobria o corpo da minha irmã nua. O que estava acontecendo? Eu não entendia. Vitoria começou a gritar apontando para mim: - esse monstro me manteve presa aqui durante todos esses anos. Tentei explicar que era a criatura brincando com a cabeça dela, que eu não tinha feito nada disso, mas ninguém acreditou em mim. Fui levado para uma prisão, os jornais adoraram a historia dofilhoquematouopaieteveumafilhacomaprópriamãe. Eles não sabem a verdade, ainda vejo a criatura toda vez que me olho no espelho.

O ESTRANHO SER QUE HABITA O ESPELHO

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A TERCEIRA LEI DE NEWTON.

Toda ação provoca uma reação. A terceira lei de Newton nunca fez tanto sentido para mim como faz agora. Um dos meus melhores amigos, que por respeito aos fa-miliares não irei citar o nome, queria muito um novo celular. Sua vontade de ter era tamanha que um conhecido nosso viciado em drogas ofereceu a ele um iphone recém-lançado na época pela bagatela de quinhentos reais, obvio que nós sabíamos que aquele era um celular roubado, mas meu amigo na ânsia de realizar seu desejo comprou o aparelho mesmo assim, disse que se não fosse ele outra pessoa compraria.

Não demorou muito para as coisas começarem a dar erra-do. Naquela mesma noite ele estava logado no facebook con-versando com amigos quando sem um motivo aparente sua conta desconectou,aotentarfazerumnovologinoperfilqueconectouera de outra pessoa, um jovem chamado Gustavo Henrique. Gustavo aparecia sorridente na praia segurando uma gar-rafa de cerveja na mão, em sua timeline muitas pessoas postavam seus pêsames e postavam fotos com Gustavo, vasculhando todas as mensagens meu amigo descobriu que Gustavo havia sido as-sassinado ao reagir a um assalto.

Algumas horas depois ele recebeu uma foto durante a ma-drugada de um numero desconhecido, era uma foto escura, não dava para distinguir nada, um minuto depois ele recebeu uma ou-tra foto, nessa ele via o céu escuro, olhando com mais atenção era perceptível que a foto foi enviada de dentro de um buraco, outro

CONTOS DE TERROR

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minuto se passou e mais uma foto foi recebida, a foto mostrava um tumulo aberto e o nome escrito na lapide era Gustavo Henri-que. Meu amigo tremia acendeu a luz do quarto e em seguida arremessou o celular pela janela, não conseguiu dormir aquela noite.

Assim que o dia amanheceu tomou coragem de levantar da cama para ir ao banheiro ao voltar para o quarto o celular es-tava em cima da cama e havia um novo arquivo recebido, abriu a foto e se deparou com a foto do ladrão, morto, com os olhos esbugalhados, era nítido o horror nos olhos do bandido, a ultima coisa que ele viu em vida é algo que nenhum ser humano deveria ver. Anoiteelevoltouareceberfotos,eraumaselfiedoqueantes costumava ser Gustavo, o corpo podre, com uma nítida mar-ca de tiro na testa estava em frente a sua casa, e Gustavo sorria, e no seu olhar só havia ódio.

As luzes do quarto se apagaram, meu amigo pulou da cama e tentou acende-las, mas a luz tinha acabado alguma força sobrenatural o arremessou de volta para a cama, seu corpo estava paralisado, preso em sua cama, seu rosto começou a ser estapeado varias vezes, horrorizado ele não via ninguém, só fazia orações pedindo para que aquilo parasse e por um momento ele achou que tinha parado. Tentou levantar da cama, mas não conseguiu sua perna tremianãoseatreviaalevantardacamaoquartovoltouaficarsilencioso, uma vez o outra barulhos chamavam sua atenção. Arranhões, gemidos, estalos, sempre o acordava quando estava prestes a pegar no sono. Foiàsegundanoitequeeleficousemdormir.

Encontrei-o naquela tarde sentado no portão estava com os olhos vermelhos, com muitas olheiras, o rosto inchado como

A TERCEIRA LEI DE NEWTON.

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se tivesse apanhado, perguntei o que ele tinha, mas ele limitou-se a dizer que não estava conseguindo dormir, mudei de assunto e o convidei para encontrar um grupo de amigos nossos, ele aceitou e aos poucos foi se soltando parecia esta voltando o normal, até o momento que uma amiga nossa pediu para ele tirar uma foto do grupo ao tirar a foto ele se assustou com alguma coisa que viu e começouagritarparaninguémemespecificopedindoparaserdeixado em paz. Bateu mais fotos e a cada foto que tirava o fantasma se aproximava mais dele com aquele sorriso macabro estampado no rosto. Aproximei-me perguntando o que estava acontecendo, ele tirou uma foto minha que o deixou mais assustado, Gustavo esta-va do meu lado, meu amigo atravessou a rua desesperado, em seu horror ele não viu o ônibus que vinha a sua direita e o acertou em cheio o arremessando a quase vinte metros de distancia.

Ele estava com múltiplas fraturas expostas, mas respirava comcertadificuldade,seusolhosestavamabertoseeleparecianão saber o que tinha acontecido, segurei a mão dele e disse que eleficariabem. De repente ele tomou consciência do que tinha acontecido e me pediu que tirasse uma foto dele,protestei,quis saber o mo-tivo, mas ele gritava cada vez mais alto para que eu tirasse uma foto dele, peguei meu celular e o fotografei, ele pediu para ver a foto e eu o mostrei, ele fez uma careta e pediu que eu tirasse uma foto com o celular dele. Disse que não sabia onde havia ido parar, mas uma mulher que estava li próximo achou e me devolveu.

Milagrosamente o celular estava inteiro, atendo o pedido dele que cada vez mais se agitava tirei a foto, para meu horror sentadosobreoseupeitocomumsorrisomaléficonorostoestavao cadáver de Gustavo Henrique. Depois disse eu soube tudo que tinha acontecido com ele,

A TERCEIRA LEI DE NEWTON.

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perguntei por que ele não me contou antes, ele respondeu que eu não iria acreditar, de fato seria uma historia difícil de engolir, mas agora não há porque duvidar,eu tirei a foto, vi o fantasma em cima dele, tenho a prova aqui comigo e além disso todas as noites recebo mensagens do meu amigo no maldito celular roubado.

A TERCEIRA LEI DE NEWTON.

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ELES NÃO QUEREM PERMANECER MORTOS

Em um estado corrupto, muitos inocentes morrem direta ou indiretamente por causa da ação de políticos envolvidos nessa engrenagem maldita. Polícia matando bandido, bandido matando polícia, civis vítimas de bandidos, de policiais vendidos, despreparados ou pelo simples fato de estar no local errado na hora errada.

A sociedade vive nesse caos, nesse círculo interminável de violência onde somos apenas atores facilmente substituídos, somos cordeiros esperando o lobo. Mas de vez em quando as coisas são diferente: um ser, talvez um fantasma ou apenas a vontade da sociedade emanada, transportada para o mundo físico, toma forma para vingar aqueles que perderam a vida por causa da corrupção.

O deputado Fernando Fontes tomava café da manhã cal-mamentecomsuaesposaefilhoadolescente.Natevêligadaassuas costas ele ouviu a repórter dá a notícia que um menino de oito anos havia sido morto após ter sido vítima de um tiro de fuzil durante um protesto contra a desocupação de um prédio, no cen-tro da cidade. -Não é o prédio que você pressionou na câmara dos depu-tados para que o governo tomasse posse? Perguntou a esposa sem desviar os olhos da televisão.

-Sim, foi uma construtora financiadora da minha cam-panha e a do governador. Precisávamos pagar o favor, eles vão construirumaestradaquecortaexatamenteondeficaesseprédio.

CONTOS DE TERROR

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Respondeu O deputado enquanto desviava seus olhos para o seu celular para ver as horas. Seu filho adolescente levantou-se damesa, despediu-sedos pais e pegou sua mochila. -Boa aula, Alberto! -Obrigado pai! Respondeu o garoto.

Cinco minutos depois o telefone do deputado tocou era seufilhoparaoalertarqueaimprensaestavaemseuportão. Respirou calmamente se despediu do menino desligando o telefone e chamou seus dois seguranças, caminhou para a ga-ragem com a soberba que só quem está seguro de estar acima de todas as leis possui. -Acelera! Ordenou em um tom frio para o seu motorista. O carro saiu da garagem catando pneu, obrigando alguns repórteres pularem para os lados para não serem atropelados.

-Dentro do carro Fernando se mantinha quieto, conver-sando por whatzapp com seus assessores: -Temos que soltar uma nota sobre a morte do menino! -Sim deputado, já estamos cuidando da nota juntamente com a equipe do governador, vamos dizer que o que aconteceu foi uma fatalidade, que o policial responsável assim que for iden-tificadoserápunidoeprestaremostodaaassistênciaàfamíliadomenino, e também vamos dizer que a construção da estrada é de suma importância para o desenvolvimento da nossa cidade. - A imprensa tem alguma prova do superfaturamento da obra? -Nada. Fique tranquilo Fernando.

Fernando guardou o telefone no bolso e observou a cidade pela janela, estava triste pelo menino, mas não se sentia culpado pela sua morte, culpado era a família que manteve a criança no local fazendo a manifestação. Manifestação não. Bagunça! bando de baderneiros pensou ele, eles invadiram aquele prédio, sabiam

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que não pertencia a eles, agora não tinham direito a reclamar que o Estado quisesse de volta o prédio.

Ao chegar a câmara dirigiu-se rapidamente ao seu escri-tório, não tinha ninguém, todos deviam estar tratando de soltar a nota à imprensa. Na sua cadeira repousava um ursinho de pelúcia sujo de sangue. Fernando o pegou com as pontas dos dedos enojado e o jogou no lixo. Teve um dia de trabalho atribulado, teve que atender vá-rios ´patrocinadores da sua campanha, atender assessores do go-vernador e ainda lhe dar com a imprensa.

A tardinha recebeu uma ligação de sua esposa o avisando que passaria uma semana na casa de campo da família com seu filho e pediu para que ele os encontrasse lá, Fernando concor-dou dizendo que os encontraria amanhã pela manhã. A ideia era boa, se afastar até que as coisas esfriassem, ainda estava longe das eleições se alguma merda deveria acontecer, aconteceu em um momento excelente, o povo tem memória curta, nas próximas eleições ele estaria com a imagem incólume novamente.

Chegou em casa as nove da noite cansado, tomou um ba-nho e se deitou, adormeceu assistindo os Simpsons. Acordou assustado com o coração disparado sem saber o porquê, sentia a presença de algo dentro do quarto com ele mais não via nada, assustado acendeu a luz do abajur. Ficou sentado na cama e observou o quarto. Aos pés da cama o ursinho de pelúcia sujo de sangue sorria para ele, e não era apenas isso, os olhos pareciam maiores e aquele sorriso não existia antes, isso o assustava mais do que pensar em como diabos aquele ursinho tinha ido parar no seu quarto. Uma música, que lembrava ao deputado o som de um vio-lino triste ecoava na sua cabeça, o estranho era que ele sabia que

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aquela música estava apenas em sua cabeça.

A porta do seu quarto abriu lentamente e Fernando viu um vulto pequenino passando correndo em direção a sala, levantou--se correndo e fechou a porta, ao vira-se novamente para a cama, viu um homem que parecia ter mais de dois metros de altura com uma pintura no rosto parecida com o pierrot, as vestes eram Ne-gras, e de um de seus olhos escorriam lentamente lagrimas de sangue. -Quem é você? Gritou assustado Fernando. O homem apenas o observou e de trás dele surgiu um ga-rotinho de cabeça baixa, vestindo uniforme de uma escola públi-ca. Aquilo não era possível, esse garoto não pode ser o que foi assassinado mais cedo. Pensou o deputado. O garotinho andou lentamente em direção ao ursinho na cama e o segurou.

No instante que o menino se aproximou Fernando per-cebeu duas coisas: 1° Havia um buraco pequeno em sua testa, provavelmente o ferimento causado pelo tiro de fuzil. 2° quando o garoto se agachou para segurar o seu urso o deputado viu o estrago causado pela saída do projetil, um buraco do tamanho de uma maçã destruiu completamente a parte de trás da cabeça do menino. Em seu desespero o deputado tento sair correndo do quar-to mas ao abrir a porta, uma mulher gravida e nua, em avança-do estado de decomposição o abraçou se lamuriando:-salve meu bebê. Enojado Fernando a empurrou derrubando-a de costas no chão, de suas pernas carcomidas, Fernando observou um pequeno braço cadavérico que balançava sem vida.

-Essa é uma vítima das verbas desviadas dos hospitais pú-blicos que você e sua corja desviaram para atender unicamente

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a seus interesses. A gravidez dela era de alto risco, mas ela não conseguiu o atendimento a tempo. O deputado olhou para o pierrot e se lamentou: -Eu não tenho culpa disso! -Também não tem culpa da morte desse menino? Pergun-tou enquanto abraçava a criança fantasma que se distraia com seu urso. -Essa noite deputado, você vai responder pelos seus pe-cados! Da boca do pierrot saiu uma língua bifurcada de mais ou menos dois metros de comprimento que foi em direção ao pesco-ço de Fernando que desviou horrorizado e correu para o corredor.

Desceu a escada em alta velocidade e apenas de soslaio reparou a mulher em pé na murada da escada que pulou atingido o solo no mesmo momento que ele chegou no primeiro andar, o grito que ela dava ao cair era horrível, a queda parecia quebrar todososossosdoseucorpo,mesmoaalturanãosendosuficientepara isso, ela se contorcia gemendo e girava o torso em trezentos esessentagrauseficavaandandoemcírculosatédesaparecereaparecer novamente na murada para pular novamente, o tempo parecia congelado para ela. Vivia nessa repetição constante.

Essa mulher é uma outra vítima sua! Escutou a voz do pierrot em sua cabeça, teve o marido morto atropelado por um jovembêbadoqueescapouporserfilhodeumvereador,ogarotojamais foi punido, como resultado ela não aguentou e pulou de um prédio. Correu para a porta quando se deparou com uma silhueta do lado de fora socando a porta e ordenando: -Policia Militar, abra essa porta! Afoito e aliviado o deputado abriu a porta e se arrepen-deu no mesmo momento, um policial possuindo apenas a metade esquerda do rosto o acertou no rosto com a coronha do fuzil que portava jogando Fernando no chão e causando um sangramento em seu nariz.

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Fernando tentou rastejar mais foi pisoteado e chutado pelo policial, outras aparições foram aparecendo e o agredindo tam-bém, lamúrias, gritos, risadas se misturavam na sala enquanto o deputado sentia sua carne sendo rasgada. Depois de algum tempo as aparições foram se afastando, ensanguentado o deputado levantou a cabeça e se assustou com a quantidade de fantasmas que estavam em sua sala, passavam de cem facilmente. O pierrot se aproximou e o levantou do chão pelo pescoço com uma mão, agora seus olhos estavam com uma cor vermelho fogo. Em suas mãos apareceram garras que machucavam o pes-coço de Fernando. Só a um jeito de você se ver livre disso, e a solução está em cima da sua cama, se não aceitar você irá sofrer com a gente por toda a eternidade. Olhe para fora! Ordenou a criatura jogando o deputado no chão.

Fernando olhou para sua rua que estava apinhada de fan-tasmas, todos com um olhar furioso no rosto, todos queriam sua carne, chorando o político se dirigiu para o pierrot e implorou: - Eu faço qualquer coisa, diga o que quer! -Dor só se paga com dor, eles querem sangue. Sangue dos causadores de seus sofrimentos, lhes de isso e você estará livre! Respondeu a criatura. -Sim, qualquer coisa, por favor mas me deixa em paz! Disse choroso o político, fechando os olhos. Ao proferir essas palavras o deputado estava sozinho em sua sala, subiu as escadas lentamente até o seu quarto e achou uma pistola em sua cama a segurou por um momento e a colocou no criado mudo, o dia estava amanhecendo ele sabia o que tinha que fazer para escapar desse sofrimento. Precisamente as oito da manhã do dia seguinte o Deputa-do Fernando pediu para seus assessores entrarem em contato com vinte deputados da base aliada do governo e marcar uma reunião de emergência em sua residência.

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Desses vinte, doze compareceram à casa do deputado e foram levados por um funcionário a sala de reunião. Os deputados estavam inquietos com a demora do Fer-nandoemaparecer.Quandofinalmente ele apareceu ele estavaestranho, tinha hematomas no rosto e parecia assustado. -O que aconteceu com você Fernando? Perguntou o depu-tados Isaias. Semresponderocolegadeprofissão,Fernandosacouapistola e o atingiu com um tiro na testa. O pânico tomou conta da sala e Fernando começou a dar disparos a esmo, o pente da pistola era especial em vez de dez tiros,eletinhaquatorzeparadozepessoassealguémficassevivoele ainda tinha uma faca na cintura. Quando finalmente descarregou a pistola, contou cincodeputados ainda vivos lutando pela vida no chão, se aproximou calmamentedecadaumcomafacanãomãoeasenfiavacontinu-amente no peito, barriga e pescoço. O último deputado vivo, que havia sido atingido por um tiro na barriga se arrastou de costas na parede tentando fugir de Fernando que se aproximava lentamente com um sorriso no rosto e com o corpo coberto de sangue de seus companheiros, tentando lutar pela vida sussurrou com toda a força que ainda lhe restava: -Não por favor! Mas de nada adiantou Fernando desceu a faca sobre o corpo do último deputado, e enquanto a vida esvaia de si a últi-ma coisa que o deputado observou foi um garotinho montado nas costas de Fernando que sorria.

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BIOGRAFIA

Fabio Oneas,é solteiro,tem 34 anos,reside na cidade de Mesquita,Rio de janeiro,é fã de series,quadrinhos ,livros e games.

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Francisco Marins Silva

A menina Dara e seus brinquedos..............................................58Biografia.....................................................................................60

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A MENINA DARA E SEUS BRINQUEDOS

Dara, uma menina inteligente e muito curiosa tinha seus muitos brinquedos como qualquer menina da sua idade, porém, há dias vinha percebendo algo estranho com sua caixa de brin-quedos, pois, sempre que terminava de brincar em seu quarto e arrumasse os brinquedos de volta à caixa mesmo que fosse em qualquer hora do dia, quando voltava seus brinquedos já estavam espalhados pelo chão, isso lhe assustava muito. Em uma ocasião em que Dara após o jantar voltou ao seu quarto para se divertir com seus brinquedos, novamente percebeu todos desarrumados e espalhados pelo chão, mas mesmo nervosa e curiosa com tal situação, resolveu ali sentar-se e brincar por alguns minutos. En-tão Dara a sós com seus brinquedos distraidamente se divertin-do, der repente algo lhe chama a atenção. Um barulho vem de detrás do armário. Batidas, toques, inquietações, e logo tudo se acalma, e por um momento o barulho volta novamente, e Dara logoficabemnervosa,poisnãovênadaenemninguém,masdesúbito pensa em algo perigoso, pois lhe vem em mente que não é nada normal que seus brinquedos sejam encontrados desarru-mados sempre que chega em seu quarto, e um barulho atrás do armário só lhecausamaisdesconfiançaepavor.Algoestranhoem seu quarto vem acontecendo. Logo as luzes se apagam e Dara ficapavorosaedesconfiaquealguémapagouasluzes.Logoasluzes se ascendem. O barulho atrás do armário volta a se repetir. Apesar do susto Dara percebe que houve queda de energia, pois lá fora esta chovendo e com alguns trovões só lhe causa mais susto ainda. É então que de detrás daquele armário como uma surpresa surge lentamente ela, com suas patas a tocarem o chão, é a gata Mherlim, uma gatinha de sua casa que também com medo

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de ser repreendida e bem assustada aparece. Então Dara entende que Mhelim era quem mexia em sua caixa de brinquedos e que a mesma gostava de brincar com seus pertences. Dara logo se sensibilizou e pôs-se a brincar com Mherlim e seus muitos brin-quedos. O susto passou e a partir deste dia a gata Mhelim nunca mais brincou sozinha, e sempre na companhia de Dara.

A MENINA DARA E SEUS BRINQUEDOS

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BIOGRAFIA

Francisco Martins Silva (10 dezembro de 1974) São Félix de Balsas – MA. Reside em Uruçuí – PI. Professor, escritor e poeta. Graduado em Licenciatura Plena em Geografia e pós-graduado em Pedagogia Escolar pela Faculdade de Teologia Hokemah, compõe poemas, contos, crônicas e ensaios e possui obras publicadas em dezenas de coletâneas e antologias por várias editoras: Scortecci, Beco dos Poetas & Escritores LTDA, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, dentre outras. É autor do livro “Um tributo à natureza”. Membro correspondente da Academia de Letras deTeófiloOtoni -MG,membroTitular da LitteraiaAcademiae Lima Barreto - Rio de Janeiro, membro correspondente imortal da ALUBRA – Academia Luminescência Brasileira de Araraquara - SP, membro correspondente de Academia de Letras e Artes de Fortaleza – ALAF e Academia Mundial de Cultura e Literatura - AMCL.

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Henrique Sena

O pesadelo..................................................................................62Biografia.....................................................................................65

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O PESADELO

Está em seu quarto, mas parece haver algo de muito dife-rente. Há algo errado. Pode sentir em cada pequena parte do seu corpo. Ouve o som de passos no corredor. Mas, não como ouvia antes. Algo parece estar correndo em sua direção. Algo pesado, algo feroz, algo que não deveria existir? Esse pensamento o inco-moda. Suas mãos vão ao rosto. Mãos? São mãos que vão ao seu rosto. A pele branca, a mão pequena, se sente diferente. Algo está muito errado. Está assustado. Os passos, a corrida, o que quer que seja, já está próximo, muito próximo. A porta é arrancada com um golpe feroz. E quase lhe acer-ta. Fora mais rápido e desviara. Não estava mais na cama agora estava no chão. Rapidamente está de pé novamente. Olha para a frente e vê a coisa. Uma criatura de uns 3 metros de altura. Peluda, com dentes grandes, garras e um foci-nho imenso. Postura humanoide, pelagem e aparência canina, da família dos lobos. Um Lobisomem... A coisa lhe encara, um olhar negro como a noite. Exibe os dentes. Se põe em posição canina e de quatro uiva. Uma, duas e três vezes. Lhe encara novamente. O jovem ao perceber que a criatu-ra está prestes a lhe atacar se antecipa e corre em direção a gaveta que está ao seu lado direito. Sabe o que quer. Sabe o que tem que fazer. A criatura parece também saber o que pode acontecer, pois se joga em sua direção. A criatura está no ar se jogando em sua direção. Tudo parece mais lento para o jovem. A criatura no

CONTOS DE TERROR

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ar com a boca aberta e os dentes prontos para lhe abocanharem, as garras em posição de lhe ferirem a pele. Fora mais rápido que a criatura, em sua mão a arma espe-cial: com bala de prata. Sabe disso e seus dedos tem que fazer o único movimento necessário para atingirem seu objetivo. E ele o faz. A cena parece correr muito mais rapidamente após a cria-tura ser atingida. Ela cai ao chão. Não parece mais ter a mesma força de outrora, agora seu corpo está caído ao chão e seus uivos agora são de lamento, de dor. Lentamente caminha em sua direção. Agora não tem mais a arma com bala de prata em punho, mas sim uma espada, igual-mente de prata. O animal se cala, fecha os olhos. O jovem levanta a espada e em um único movimento lhe decepa a cabeça. De repente tudo muda. Está em uma espécie de arena. Outras tantas centenas de criatura idênticas a que acaba de dece-par a cabeça estão sentadas na plateia. Em pé, de quatro e os uivos deles são praticamente em coro. Em sua mão esquerda percebe ainda a cabeça da criatura. Ele a ergue e todos se calam. O mundo todo parece estar em silên-cio. -Parabénsmeufilho–eleouveesevira. As suas costas há um homem de pele branca e cabelos grisalhos.Aindaassimforteedefiguraimponente.Elecaminhaemsuadireçãoequandoestãoemfimpróximosseabraçam. Tudoissodesaparece.Eeleemfimacorda. Grita o mais alto que pode. Tudo está escuro. Dali a pouco ouve passos como no so-nho. Sons de alguma criatura que se aproxima. Agora não sente medo.Seacalma.Percebeemfimondeestá.Emumacaverna.Vêagora a sua frente a mesma criatura do sonho. Viva, com a boca aberta e os dentes a mostra. Ela uiva alto e forte. Sente os pelos do seu corpo se arrepiarem. Passa suas mãos pelo rosto. Mãos? Patas idênticas as que vê na criatura, só que menores.

O PESADELO

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Tenta falar, mas o que saí de sua boca são uivos. E entende agora seus uivos e os da criatura. Percebe agora que tudo não passara de um terrível pesadelo. Nada era real. Uiva em resposta para seu pai e ouve um outro uivo res-posta. Antes de partir a criatura lhe joga um pedaço de urso, a jovem criatura o agarra no ar com a boca e se delicia com aquela pequena refeição que o refaz do terrível pesadelo de se imaginar como um ser humano. Uma criatura horrenda e monstruosa que existe ainda hoje apenas nos sonhos dos jovens lobos, nas memórias dos mais ve-lhos e nas histórias de terror. Uma criatura tão feroz e insana que no ápice de sua crueldade acabara por eliminar a si própria.

O PESADELO

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Henrique Sena é natural de São Paulo SP. É um dos membros do coletivo Beco dos Poetas e também integra a equipe do Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores Ltda, sendo um dos organizadores de antologias, criando capas e cuidando da diagramação dos textos. Desde sua infância sempre teve uma grande paixão pela literatura, fez algumas participações em diversas antologias dentre elas: “Quadrilogia Elemento Terra”, “Diamante Bruto”, “I Antologia Beco dos Poetas”, “Enamorados”, “Namastê II” e “OColecionadordepoesias”.Suasmaioresinfluênciasliteráriassãoostextosdeficçãoerealidadesdestópicas(1984,AdmirávelMundo Novo, Revolução dos Bichos). Frase do Autor: “Em um deserto, com o Sol escaldante, não há nada mais belo de ser avistado do que um Oásis. Essa é a esperança que guia meus passos.”

BIOGRAFIA

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Akateron Sioclótus

Chamado....................................................................................67Biografia.....................................................................................71

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CHAMADO

Boêmio, desbocado e pai de família, Celso morava na ci-dadedeTatuí,interiordeSãoPaulo,etodososfinaisdesemanaia à casa de algum amigo ou parente participar de alguma festa com direito a muita cerveja, independente de estar ou não com a suaesposaefilhos.Suamulher,Clara,eseusdoisfilhos,Robertoe Jaime, que entravam na adolescência, sofriam muito com as atitudesdeCelsoquequandoficavamuitobêbadofalavahorrorescriticandoa igreja,osamigosefamiliareseporfimdesafiandodesde os fantasmas até o próprio diabo, já que nunca acreditou na existência deles e muito menos nas historias de assombrações que os mais velhos contavam. - Esse negócio de fantasma, de demônios e qualquer ou-tra dessas criaturas, não existem! É tudo invenção desse povo e além do mais, meus avós sempre falavam nisso e sinceramente eu nunca vi! Aí eu pergunto: Cadê? Por que não aparecem agora na minha frente? Apesar dos conselhos, Celso continuava com suas bebidas e a falar besteiras a ponto de humilhar diversas pessoas, inclusive asuamulhereosfilhos. Entretanto, numa manhã ensolarada de sábado, Celso par-tiusozinhoacavaloparaacasadoseuprimoJoãoqueficavanumsítio da cidade da Quadra, localizada a 15 km de Tatuí, participar de um grande churrasco. Durante a tarde ajudou todo o pessoal com o preparo das carnes e com as compras das cervejas e cacha-ças e depois comeram e beberam a vontade até o anoitecer. No meio da conversa um dos convidados comentava sobre as assom-brações que seu avô tinha visto há muitos anos, e sem perder a oportunidade Celso debochou do homem.

CONTOS DE TERROR

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- Assombrações? Há! Há! Há! Há! Isso é uma idiotice! E outra é bem provável que seu avô estivesse bêbado! Quem é que vai acreditar nessa imbecilidade? E tem outra: quero que o capeta apareça na minha frente e venha me buscar! TodomundoficouemsilêncioatéqueseuprimoJoãofa-lou. - Credo, Celso! Não fala isso, cara! Não se brinca com esse tipo de coisa! - Que se dane! Pois eu falo sim! Não acredito nessas mer-das! As horas correram e já era quase meia-noite quando Celso resolveu ir embora. Apesar de tudo, seu primo João, preocupado, insistiu para que ele dormisse por lá e voltasse no dia seguinte pra casa e além do mais as estradas até Tatuí eram bem desertas e pouco iluminadas e podia ser muito perigoso. - Perigoso por quê? Só se for por causa desses fantasmas, e além do mais eles nem me assustam. Após muitas tentativas de convencê-lo a mudar de ideia, João desistiu e deixou seu primo partir, enquanto rezava pela sua segurança. Celso, que levava duas sacolas de carne assada pra família, cavalgava por aquela estrada de terra rodeada por uma infinidadedematoseárvoresqueestavambanhadaspelaescuri-dão. A iluminação dos postes era fraca e praticamente não se via nenhuma casa por perto e naquele início de madrugada tudo que se ouvia, além do barulho da cavalgada, era um canto de algum grilo ou um piado de uma coruja. Quando se aproximava da ponte, Celso avistou há alguns metrosparadonaentradaumaenormefiguraqueaparentavateruns dois metros de altura com uma manta preta e o rosto coberto por um capuz. Ele não se movia e nem sequer pronunciava algu-mapalavra.Ocavalocomeçavaaficarinquietodiantedele. - Ô meu? Dá licença que quero passar com o meu cavalo, cê tá atrapalhando, pô! Porém, ele continuou imóvel e em silêncio. O cavalo a cada instante ficavamais agitado, como se quisesse fugir logo

CHAMADO

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daquelelugar,Celsooesporavaparaficarquieto,masnãoadian-tava muito. - O que você quer, porra? Cai fora! O homem ergueu um pouco o capuz revelando seus olhos, tão vermelhos quanto o sangue, que encaravam Celso que come-çava a suar frio. O medo invadia a sua alma. Então, com uma voz grossa e bem calma ele apenas respondeu: - Celso, você me chamou e eu vim apenas buscá-lo! Logo que terminou a sua frase, o cavalo se descontrolou atirandoCelsocomviolênciaaochãoficandocomalgunsarra-nhões nos braços, um mau jeito na perna direita e uma ou duas costelas partidas, enquanto o seu cavalo saía em disparada pela estrada largando-o para trás. Celso não conseguia se levantar e se lembrou dos conselhos a respeito do seu falatório sobre as assom-braçõesedeJoão,quepraticamentelheimplorouparaqueficasseem sua casa naquela noite. Mas agora era tarde demais. - Meu Deus! Quem é você?!? A criatura se aproximou e agarrou a sua perna direita ar-rastando Celso com velocidade pelo matagal, enquanto sentia a sua carne sendo rasgada aos poucos por pedras e espinhos. A dor era insuportável. Porfimparounomeiodaquelematomergulhadonaes-curidão. Celso sentia dores em várias partes do corpo e respirava commuita dificuldade.Onde estava? Por quanto tempo e qui-lômetros havia sido arrastado? Ele não sabia. Só conseguia ver, commuitadificuldade,árvoreseocéuescuro. Finalmente quando ergueu um pouco a cabeça viu a cria-tura se aproximando e sussurrando. - Você me chamou e eu vim apenas buscá-lo! Um grito de agonia ecoou no meio daquele mato, sendo ouvido apenas por corujas que estavam próximas. Durante dias e noites, familiares e amigos com toda ajuda da polícia e seus cães farejadores, procuraram Celso por todos os cantos da Quadra, após o seu cavalo aparecer sozinho no dia seguinte, carregando as duas sacolas de carne, no sítio de João.

CHAMADO

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No quinto dia, dois policiais acharam o corpo do Celso a 2 km do local do seu desaparecimento. Seu corpo já estava em estado de decomposição, cheio de todo tipo de inseto, largado no meio do mato, havia muitos feri-mentoseseusolhoshaviamsidoarrancados.Suamulherficariaem estado de choque nos próximos meses. Contudo, o que mais intrigava a polícia era uma frase escrita nitidamente na sua testa:

ELE ME CHAMOU E EU VIM APENAS BUSCÁ-LO!

CHAMADO

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AkateronSioclótuséofilhodassombrascomgrandeado-ração pelo medo, suspense e o terror que durante a noite caminha pelas ruas mais escuras possíveis. Ninguém sabe ao certo onde vive ou de onde veio. Participou de algumas antologias com poe-mas e contos.

Contato:Facebook: Akateron Sioclótus

BIOGRAFIA

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Marcelo de Oliveira Souza

Sangue de Menina......................................................................73Biografia.....................................................................................75

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SANGUE DE MENINA

Saímos em um caminho que tinha uma casa grande, com uma escadaria na sua frente, resolvemos adentrar no local onde haviam várias pessoas vestidas de branco, estava acompanhado deminhafilha. Durante essa breve visita, um homem resolveu apagar as luzes,ficandotudoescuro,nãoenxergávamosnada,quandoaluzvoltou, percebemos que a criança sumiu, levada pela escuridão; diante desse problema puxei o celular e disse que ia ligar para a polícia, o homem de barba branca, resolveu tomar meu aparelho e jogar ao chão. Sai correndo para pedir ajuda, foi quando na encruzilhada apareceu um camburão da polícia, imediatamente, fomos a eles e comunicamos o fato. Acompanhado pelo pessoal da lei, voltei ao local do cri-me, mas entrei sozinho ao local, no meio da escadaria tinha duas mulheres trajadas de branco e de turbante, elas tentaram me im-pedir de adentrar ao local, foi quando pedi ajuda ao meu grande amigo São Lázaro, ele me orientou e através dele tive forças para emanar energias, através de orações, foi quando elas esmaece-ram. Prossegui o caminho, entrando no recinto, lá estavam vá-rias pessoas batendo em instrumentos de percussão, mais adiante, no salão tinha um grupo de pessoas também trajadas de branco e me intimando a entrar no círculo. Toda fé em meu anjo da guarda, de repente transformou--se em um escudo, eu proferia orações de exaltação ao meu santo--amigo, muitas eu nem conhecia, mas foi uma gritaria geral, gente caindo, eles foram se fortalecendo, eu com o corpo endurecendo,

CONTOS DE TERROR

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ia entortando, enfraquecendo, implorei mais ajuda ao meu guia, foi aí que um cavalo-marinho dentro do aquário, lá no fundo da sala, se mexeu e apontou a cauda, estourando a caixa de vidro, todos se molharam e desmaiaram. Livrando-me daquela armadilha, segui adiante, mais forte e certo da minha vitória, foi quando entrei em um quarto e vi a minha garotinha presa na mesa e um homem também de branco, de bengala, apesar de não ser velho, apontou para ela e disse que todos estavam fortes porque sugavam o sangue da menininha. Desesperadaelagritava,pedindoajudaparamim,eufi-quei chocado com aquela imagem, mais uma vez usei toda a mi-nha fé, clamando ajuda a Jesus Cristo e São Lázaro, foi quando saiu uma grande energia de mim, clareando todo o ambiente, fa-zendo o homem sumir e no lugar dele, ela apareceu. Emocionado agradeci os meus anjos da guarda pela ajuda e prometi escrever algo que mostrasse que o poder maligno e o poder divino estão aí, temos que perceber o caminho correto e seguir em frente.

SANGUE DE MENINA

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BIOGRAFIA

Marcelo de Oliveira Souza: Natural do Rio de Janeiro, formado na Universidade Católica do Salvador. Pós-graduado pela Faculdade Visconde de Cairu com convênio com a APLB/UNEB; Embaixador da Poesia, nomeado pela Academia Virtual de Letras Artes e Cultura, MG; Ganhador do Prêmio Personalidade Notável 2014 em Itabira MG; Membro da IWA International Weitters Artistis – EUA ; da União Baiana de Escritores; da AcademiadeLetrasdeTeófiloOtoniMG;daAcademiaCabistade Letras, Artes e Ciências RJ; da confraria de Artistas e Poetas pela Paz – CAPPAZ; da Associação Poetas Del Mundo; do Clube dos Escritores Piracicaba SP; participa de vários concursos de poesias, contos, publicações em jornais e revistas estaduais, nacionais e internacionais sempre conseguindo ser evidenciado pelos seus trabalhos louváveis; colunista do Jornal da Cidade, Debates Culturais, Usina de Letras, entre outros. Organizador do Concurso Literário Anual POESIAS SEM FRONTEIRAS e Prêmio Literário Escritor Marcelo de Oliveira Souza,IWA.

Site: www.poesiassemfronteiras.no.comunidades.netBlog: http://marceloescritor2.blogspot.com

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Isabel C S Vargas

As Primas....................................................................................77Conexões....................................................................................79Biografia.....................................................................................81

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AS PRIMAS

Solange e Betina eram primas. Pelo lado paterno. Isso sig-nifica,pelomenosnestecaso,queambasseencontravamsónacasa dos avós, esporadicamente, em dias de aniversário. Solan-ge vivia com a mãe que trabalhava em um hospital e com a avó materna. Não tinha irmãos. Os pais eram separados. Betina vivia com os pais e irmãos. A mãe não trabalhava fora e estava sempre cuidando dos três. Por ser a mais velha tinha a tarefa de cuidar dos irmãos menores. O pai era muito rígido. Essa era a imagem que a mãe pas-sava. Nada podia desagradá-lo. Solange era uma morena linda com pele em tom de mel recém colhido, translúcido, brilhoso. Os olhos de um verde mar capaz de afogar quem neles se jogasse. Talvez por não ter cons-ciência da própria beleza ela se tornasse ainda mais encantado-ra. Não era daquelas meninas bobas, metidas que se achavam a maioral. Era simples, alegre, comunicativa. Às vezes se encon-travam na rua, em outras Solange passava na frente da casa de Betina. Sempre trocavam algumas palavras, por mais rápidas que fossem. A simpatia era mútua .Mas não andavam juntas. Nem se visitavam. A diferença de idade devia ser de uns três anos. Solange era mais velha. Talvezpor influênciamaterna foi trabalharmais cedoeestudar de noite. Mal sabia ela que ali começaria sua desgraça. Faceira, agora poderia além de custear o estudo, comprar algumas coisas que toda moça cobiçava para se enfeitar, passear, ir ao cinema, pois as opções não eram muitas não. Não demorou para Solange chamar a atenção dos rapazes. Se fosse só de rapazes solteiros, descompromissados não teria

CONTOS DE TERROR

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problema algum. Estariam em pé de igualdade, jovens, inexpe-rientes, sem manhas e sem ardis. O pior é que Solange chamou a atenção do patrão. Mais velho,casado,comfilhos,bemestabelecido,conhecidonacida-de.Mas,sesóeletivesseficadoenfeitiçadoseriamenosperigoso.Elatambémprovoudapoçãomágicaeficouenfeitiçada. Tanto que ele montou um apartamento para ela morar. A mãe que vivia em situação idêntica na pode cobrar outra atitude. A família do pai, logo passou a falar que a menina tinha se perdido. Coisa inconcebível. Não falavam às claras. Era tudo em meio tom, meias palavras, à boca pequena para não espalhar o quejáeranotório,poisissoerapelainfluênciamaterna.Sópodiaser. Coisa ruim sempre é de parte do outro. Mas Solange apesar de apaixonada era lúcida e sabia que daquela situação não poderia esperar um desfecho satisfatório. Ou, percebeu que o amor não passara de um arrebatamento de jo-vemequenãoeracoisaparavidatoda,afinalestavasócomeçan-doadescobriromundo,assensações.Refletiu.Erasóexplicarque tudo estava acabado, ele continuaria sua vida com sua família e ela seguiria a dela. Iria estudar e trabalhar em outro local. Não se veriam mais epronto.Tudoficariasolucionado. Iria dizer isso para ele na manhã seguinte. Iria embora e seriaofimdetudo. E foiofim,quandoavizinhançaescutouos sucessivosestampidos dos tiros. Solangeficouali. Betina jamais esqueceu a prima.

AS PRIMAS

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CONEXÕES

Betina sentia-se culpada desde o trágico falecimento da prima. Culpada por não ter comparecido aos funerais, por não ter ido dar um último adeus àquela com quem tinha, além do paren-tesco, amizade e carinho. Nãolheforapermitidoir.Afinal,cidadepequena,mortetrágica-assassinatopelo amante—pessoa conhecida e influen-te. Ela, uma simples estudante, rendera todo tipo de comentário e maledicência. Era conveniente manter-se afastada, segundo as ordens dos pais. O preconceito por aquilo que classificavam como má--conduta se sobrepunha à dor. Era como se fosse castigo pelo erro. Não teve intenção sequer de esboçar vontade ir. Nem sabia se seus pais foram às despedidas. Era tudo muito velado. Comen-tários à boca pequena. Passado um tempo, foi ao campo santo por ocasião do falecimento de uma pessoa amiga. Resolveu, junto com o namorado, procurar o túmulo de Solange. Queriamostrar a ele o túmulo da finada.Andaram umbom tempo, sem sucesso, por entre os corredores do cemitério. Já estava pensando em desistir da empreitada de apresentação POST--MORTEM quando ouviu um chamado. Só ela ouviu. De forma clara, inconfundivel : “Betina!”. Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Virou-se para trás. À sua esquerda, bateu o olho na lápide que não havia percebido na passagem. Era ela: Solange! Não acreditava no que ouvira e no que via. Mas as evidên-cias estavam ali, bem na sua frente. Deixou as apresentações para depois. Saiu intempestiva-

CONTOS DE TERROR

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mente. Nunca mais voltou naquele lugar. Também não esqueceu o fato.

AS PRIMAS

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BIOGRAFIA

Isabel C S Vargas - Professora, advogada, jornalista, apo-sentada do serviço público, Especialista em Linguagens, escritora (contos, crônicas, poesia). Participante de mais de três centenas de livros, editados no Brasil, Argentina e Portugal, além de revistas literárias impressas e mais de trezentas publicações no Diário da Manhã – Pelotas - RS. Várias premiações entre elas a publicação de livro solo Pedaços de Mim. E-book Orvalho da Alma e o mais recente Sentimentos. Publicação de livro solo nº 23 da Coleção Acadêmicos Honorários da ALLB-RJ. Membro dos Poetas Del Mundo, dos Confrades da Poesia, do Portal CEN, do Portal FE-NIX, da BVEC, do Portal UHE, do Portal SVAI, da Associação Internacional de Poetas, Embaixadora do Círculo Universal dos Embaixadores da Paz, Acadêmica Correspondente da Academia deLetrasdeTeófiloOtoni–ALTO,AcadêmicaCorrespondenteda ALAF, Acadêmica Honorária do 1º Colegiado de Escritores Brasileiros, da Literária Academia Lima Barreto-RJ tendo sido conferido o Diploma de Distinção Literária, Acadêmica Titular cadeira 20 ALLB, Acadêmica correspondente da Academia de Letras do Brasil, Seção/Bahia, Acadêmica Correspondente da ALPAS/Século XXI. Organizadora da Antologia Despertar para a Celeiro de Escritores onde realizou revisões, prefácios e parti-cipou de vários livros. Tem textos publicados nos seguintes sites: Recanto das Letras, Webartigos, Netsaber, O artigonal , Brasil Escola , Gosto de Ler , Paralerepensar entre outros.

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Zaymond Zarondy

O comedor de corações...............................................................83Biografia.....................................................................................88

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O COMEDOR DE

CORAÇÕES

Amâncio adentra a casa e sente um cheiro forte de sangue vindo da parte de cima. O odor pertubador vinha da escada de uma maneira que assustava e ao mesmo tempo parecia convidá--lo a descobrir sua origem. Ele sobe as escadas correndo e abre de supetãoaportadoquartodosfilhoseverAdameunochãobanhado em sangue e com um buraco no peito no lugar do co-ração. Ele olha pra cama e ver Aristeu também ensanguentado e com o mesmo rombo no peito. Ele grita como se fosse um animal ferido. Ele pede explicações aos céus. Pergunta, esbraveja, clama por respostas, entretanto não as tem. Apenas o silêncio ecoante e espectral ali morava de forma incólume. Num ímpeto ele carrega Adameu para a cama e o coloca próximo do corpo do irmão. Ele os queria juntos, assim como sempre estiveram nos seus 19 anos de vida. Durante toda a existência dos dois irmãos, jamais Amân-cio conseguiu desarticular, desassociar, desvincular um do outro. Era assim também que Mabel via os dois, unidos, ligados, em sobreposição sempre, assim foram concebidos, gerados, nascidos e criados e por ironia do destino até mesmo na morte lá estavam eles inseparáveis de uma maneira quase sobrenatural. O que teria acontecido? Quem teria feito àquela barbaridade? Com certeza um monstro da pior espécie. As lágrimas vertiam dos olhos de Amâncio como fagulhas que lhe queimavam o rosto e faziam arder a boca onde as lágrimas se refugiavam. Um minuto para respirar com calma e então como num lampejo vem na cabeça de Amâncio a imagem de Salma. Onde estaria ela? Ele como louco sai correndo do quarto e vasculha todos os cômodos da casa e não encontranada.Nenhumvestígiodamulherqueofizeraesque-cer por algum tempo o grande amor de sua vida: Mabel, a mãe

CONTOS DE TERROR

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dos gêmeos Adameu e Aristeu. Sem encontrar a esposa, Amâncio num momento de lucidez resolve ligar para a polícia e informar o homicídiodosseusúnicoseamadosfilhos.Comoseriasuavidaagora sem os dois? Mabel quando morrera levara a metade do sentido da vida e agora com a morte dos gêmeos a outra metade tinha ido embora também. Sua vida estava condenada ao vazio de dias afio de solidão e clausura interior.Logo a polícia che-ga e encontra Amâncio catatônico sentado na cama ao lado dos cadáveresdosfilhos.Chama-seaambulânciaparaAmâncioeoIML para recolher os corpos dos garotos. E assim durante uma semana Amâncio permanece mudo, paralisado e sem esboçar o menor gesto ou mudar o semblante da face. O delegado encar-regado do caso estava ansioso para que o homem saísse daquele estado para que ele pudesse contar o que houve. Já que além da morte dos gêmeos, havia também o desaparecimento da modelo Salma Palas. Ela já investigara a vida de Amâncio e não encon-trara nada de anormal. Um cinquentão, bem sucedido no ramo da informática, um casado de mais de duas décadas com uma mulher bonita e de comportamento correto, uma renomada professora, ao qual o caminho fora interrompido bruscamente por um acidente de carro.Do casamento doisfilhos, gêmeos, saudáveis e total-mente avessos às coisas ruins que cercam a vida dos jovens como drogas, álcool, cigarro e más companhias. Os gêmeos Adameu e Aristeu eram unidos ao extremo e alunos exemplares. A única coisa que parecia de diferente na rotina do viúvo de cinco anos era o casamento relâmpago numa viagem de férias com a jovem e bela modelo Salma Palas, que estava misteriosamente desapa-recida. Após falar com o médico o delegado Delson Delgado vai embora, já que o médico lhe diz que o estado de Amâncio Al-varenga da Veiga não sofreu nenhuma alteração. Ele continuava na mesma situação. Informa ainda que já tinha feito alguns exa-mesequefisicamenteeleestavabem.Sendoassimoproblemaenvolvia exclusivamente o psicológico, que faz coisas incríveis quando sujeito a choques, traumas e qualquer perturbação inca-paz de ser absorvida de maneira coerente ou que transgredisse

O COMEDOR DE CORAÇÕES

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aquilo que fosse mais valioso para o ego e o superego. Nessa noite, porém, Amâncio recebe uma visita inesperada e que surge noarcomonumpassedemágico.Eraumafigura,umser,umacoisasemformadefinidaequandoacriaturaencaraosolhosdeAmâncio, ele sente um calafrio na espinha, um arrepio no corpo, um zumbido no ouvido, um palpitar forte do coração, um rasgo na alma e então ele grita. Um grito abafado que parecia não ser ouvido por ninguém, ele tenta se levantar e não consegue. Estava irremediavelmente preso naquela cama e então num segundo ele senteosolhosflamejantesdacriaturafixarnosseusdeumaformahorripilante. E lá dentro da sua cabeça ele ouve um voz grave e tenebrosa que diz: - Amâncio... vim te agradecer e te levar para rever alguém que você ama muito e que aparentemente está morta. - De quem fala? De Salma? Quem é você... e o que quer de mim? - Eu sou o comedor de corações e que você conheceu como Salma Palas. Mas não de corações quaisquer. Corações irmãos, corações predestinados a se completarem, corações de almasgêmeas.ComoosdeseusfilhosAristeueAdameu.Aspes-soas tem uma ideia errônea sobre alma gêmea, pensam que são apenas aquelas ligadas por o amor carnal puro e simples. Não obstante, almas gêmeas, é bem mais que isso, é o amor genuíno e na sua forma mais perfeita. E elas podem vir tanto nessa forma de amor carnal, que é a forma mais apreciada e desejada pelos huma-nos, como pode vir em formas diferentes como dois irmãos, pai efilhos,amigos,mãeefilhosenoseucasoespecificamenteexis-tia você e Mabel e Aristeu e Adameu. Quatro almas gêmeas tão próximas e na mesma família. Dei um jeito de sumir com Mabel forjando sua morte e em seguida na forma de Salma Palas, eu me aproximei de você e cheguei aos meninos. E agora vou te levar até Mabel e concluir outra etapa para viver eternamente. Numa fração de milésimos de segundo Amâncio está num lugar estra-nho. Pelo aspecto parecia uma caverna, totalmente inóspita e mal iluminada por algumas velas. Amâncio sentia o corpo dormente.

O COMEDOR DE CORAÇÕES

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Por instantes ele vislumbra num canto amarrada por correntes e com cortes nas duas pernas sua amada esposa Mabel. Ela pare-cia debilitada pelo semblante pálido e inerte que exibia, além de olheiras, dos cabelos desgrenhados, do aspecto sujo e das roupas meio rasgadas e gastas. Lágrimas descem dos olhos de Amâncio eelenãosabecomocontaráaesposasobreosfilhosesobreoseucasamento. Como ela reagiria? Ele se perguntava com insistência no seu íntimo. Nisso a criatura o leva até próximo da esposa e fala com uma voz desconexa e horripilante. - Agora vou deixá-los a sós por alguns poucos minutos. É um presente pelo que já me deram e pelo que ainda vão me dar. -Quemévocê?Porqueestáfazendoissoconosco,final-mente Amâncio consegue falar. - Podem me chamar de Yorgos – a criatura que enganou afinitudemortal–eissograçasaoLIGSU(LivrodosGrandesSegredos Universais). Esse instante concedido a vocês é um pre-sente, aproveitem bem e antes aviso que é impossível fugir daqui e que odiaria ter que usar meus poderes sobrenaturais de forma, digamos, não usual. Mal pisca os olhos e a criatura desparece. Amâncio des-cobre que está acorrentado também e então ele aproxima-se da esposa que de imediato não o reconhece e o agride com empur-rões, arranhões e pontapés. Ele a agarra com força e a beija então Mabel reconhece o beijo do homem que amou durante toda a sua vida. Ela fala o seu nome e começa a rir descontroladamente. Pa-recia fora de si, parecia ter perdido a sanidade e não ser a mesma pessoa de antes. Ofegante ela se aconchega ao corpo do marido e o abraça e o olhar perdido que exibe faz Amâncio ter a certeza quealgotinhaacontecidoaesposa.Ohomemficadescontroladorememora as palavras da criatura, que só poderia ser um demônio elembraqueomesmorevelaraomotivodasmortesdosfilhos,oquefizeracomMabelequemdefatoera.AlinaquelemomentoAmâncio percebe que não se trata de um pesadelo. Tudo é real, por mais absurdo que pareça. Fazia quase um ano que Mabel fora dada como morta, após desaparecer sem deixar pista. E esse tem-

O COMEDOR DE CORAÇÕES

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po todo ela devia ter sofrido coisas horríveis nas mãos do demô-nio. Ciente do que ia acontecer e ouvindo na mente o que o estaria reservado aos dois e o que isso representava. Amâncio coloca as mãos no pescoço de Mabel e mesmo tendo suas carnes e emoções dilaceradas ele a sufoca até a morte. Em seguida ele tira a camisa, enrola a mesma várias vezes e a envolve em volta do pescoço e aperta com todas as forças que seu corpo é capaz. No último frag-mento de lucidez ele sente a vida se esvair e num apelo desespe-radoaoscéuselevênumfiapodeluzaolonge:Adameu,Aristeue Mabel acenando para ele. Amâncio morre, tendo a certeza que o encanto que o ser maligno tanto queria não daria certo já que ele precisava matar ele e a esposa juntos para que a magia das almas gêmeasfizesseefeito.Dealguma formaeleconseguiusalvaraesposa,osfilhosea simesmo.Eagora reunidosnopós-morteviveriam juntos e felizes para todo o sempre.

O COMEDOR DE CORAÇÕES

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BIOGRAFIA

Francisco Chagas, cujo pseudônimo é Zaymond Zarondy, escreve desde a adolescência e pretende escrever sempre, já que acredita que o dom da criação através da escrita faz parte de sua essência.ÉmestrandodoMestradoProfissionalemCiênciasdaEducaçãoeprofissionalmenteatuacomoprofessor,trazendoalémda escrita a leitura para o seu dia a dia. Participa com frequência de Antologias e Coletâneas de poemas, crônicas e contos, entre os quais: Celeiro de Escritores, Casa da Poesia, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, dentre outras. Divulga seus textos em sites como: e Casa da poesia (www.acasadapoesia.com.br) e Recanto das Letras (http://www.recantodasletras.com.br). E-mail: [email protected]

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