conto te um conto
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contos breves. histórias de todos os dias.TRANSCRIPT
12 de Junho de 2014
1.
“Coze-se a paciência, sem casca, em banhos,
sopas e mochilas para amanhã. Deixa-se escorrer o
sonho nunca realizado num passador, de um século
para o outro.
Espreme-se o coração, num pano, até tirar o
máximo de desejo e humidade. Pesa-se bem a força do
cansaço.
Põem-se os nervos a ferver com as frustrações,
mexe-se e deixa-se cozer no lume lento das lágrimas
que nos secam a alma.
Arrefecer... depois. Junta-se um sorriso rendido e
amassam-se abraços de ternura.
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conto.te um conto!Sonhos…
12 de Junho de 2014
Repete-se a mesma operação com os restantes
descendentes.
Junta-se a dedicação invencível, o amor-fermento
e mistura-se tudo com uma conversa fácil até a vida
voltar a ficar bem homogénea.
Com uma colher vá retirando a massa de que são
feitos e, com a ajuda de outra, frite, um a um, em
comodismo, medo e preconceito pondo-os, de seguida,
num recipente hermético fechados para sempre.
Polvilhe com açúcar e canela.”
Um sobressalto. A escuridão nos olhos, um
quarto alagado em suor. A receita que tanto procurara
na véspera e a vida a misturarem-se num sonho
descompassado, descompensado...
!2.
Naquela manhã de paixão tardia do Verão por
Setembro decidiu-se: partiu, cumprindo o sonho antigo
de provar a geografia morna e a doçura do crioulo
caboverdianos.
Deixou uma nota escrita – explicação poupada e
um prometido “volto em breve” -, no verso da receita de
Sonhos de Abóbora da Avó Alice. Ao lado, um prato
deles e um recado:
“Polvilhem com açúcar e canela, Mãe”!
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12 de Junho de 2014
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