conto "o atraso"

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Roberta Oliveira 4º período de Comunicação Social noturno O atraso E finalmente chegou o grande dia, aquele ao qual tanto esperou, aquele que tanto planejou. Em poucos minutos seria a mulher mais feliz e bem sucedida do mundo. - Como é bom lutar por algo e, ao fim de tudo, alcançar o seu objetivo! Como é bom se sentir capaz! Como é bom se sentir inteligente! - congratulava-se em seu íntimo. - Sou demais! Executiva de sucesso era igual a roupas de grife, jantares em restaurantes badalados, viagens pelo mundo, portas abertas e sorrisos por todos os cantos, carros maravilhosos dirigidos por morenos lindos e sensuais. - Ah, o céu é o meu limite! Enquanto se parabenizava e auto bajulava ouviu passos na direção da porta e conversas no corredor - Se aproxima o momento da minha vitória - pensa ela, com as mãos geladas de ansiedade. O coração bate mais forte e sente a respiração tornar-se mais ofegante. Os pés balançam e a cadeira da sala de reuniões nunca lhe pareceu tão sem jeito. Vozes mais próximas. Passos mais próximos. Mais próximos. Mais próximos. A porta se abre e... PEM PEM PEM PEM PEM. - Mas que diabos é isto?!?!?!?!? - salta atordoada, sem saber onde está, enrolada por metros de tecido e sufocada por um travesseiro.

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Atividade da disciplina Comunicação e Expressão Oral

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Roberta Oliveira

4 perodo de Comunicao Social noturno

O atrasoE finalmente chegou o grande dia, aquele ao qual tanto esperou, aquele que tanto planejou. Em poucos minutos seria a mulher mais feliz e bem sucedida do mundo.

- Como bom lutar por algo e, ao fim de tudo, alcanar o seu objetivo! Como bom se sentir capaz! Como bom se sentir inteligente! - congratulava-se em seu ntimo. - Sou demais!

Executiva de sucesso era igual a roupas de grife, jantares em restaurantes badalados, viagens pelo mundo, portas abertas e sorrisos por todos os cantos, carros maravilhosos dirigidos por morenos lindos e sensuais. - Ah, o cu o meu limite!

Enquanto se parabenizava e auto bajulava ouviu passos na direo da porta e conversas no corredor - Se aproxima o momento da minha vitria - pensa ela, com as mos geladas de ansiedade. O corao bate mais forte e sente a respirao tornar-se mais ofegante. Os ps balanam e a cadeira da sala de reunies nunca lhe pareceu to sem jeito. Vozes mais prximas. Passos mais prximos. Mais prximos. Mais prximos. A porta se abre e... PEM PEM PEM PEM PEM.

- Mas que diabos isto?!?!?!?!? - salta atordoada, sem saber onde est, enrolada por metros de tecido e sufocada por um travesseiro. - Aiiiii, porque tinha que tocar logo agora? Estava quase l, faltava to pouco se lamentou enquanto rolava na cama na direo do despertador com a mo j no alto para lhe desferir um bom tapa Ainda so 9 e meia! Por um momento para e pensa: que dia hoje? - Tera-feira no , pois ontem fui missa. Quarta tambm no, por que est chovendo e meio de semana sempre faz sol. Quinta e sexta-feira muito menos, j que eu nunca me esqueceria de um fim de semana chegando! Ento, que dia hoje? - A resposta veio rpida Ai, meu Deus, segunda-feira!!!! Preciso estar no trabalho s dez!

- Como pude me atrasar, logo hoje?

Correu para o banheiro, tirando o pijama do jeito que dava. Entrou embaixo do chuveiro e abriu a torneira. Vcuo. Fechou de novo. Abriu. Nada. - No possvel!

Ramal 5171. - Al, Seu Jlio. a Cludia do 315. Tudo bem? No est saindo gua no meu chuveiro. Est acontecendo algum problema?

- Ah, Dona Crudia. Tudo bo! Hoje tem recesso de gua. T limpando a caxa.

- Mas vai demorar muito, Seu Jlio?

- Ah, umas duas hora.

No dia da reunio que poderia mudar a sua vida, seria obrigada a ir trabalhar sem tomar banho e com os cabelos dignos de uma chuva de vento em pleno deserto do Saara?!?! No, no, NUNCA! Atacou uma garrafa de gua mineral na geladeira, shampoo, sabonete e uma tolha e....

- Vai ter que funcionar! - disse, j entrando no box e tomando a ducha a conta-gotas. Um pinguinho de shampoo s para fazer espuma. Enxagua. Mais uma passadinha de sabonete e a salvadora toalha molhada em locais estratgicos e voil, estava como nova.

- Nossa, at parece que tomei uma ducha relaxante de horas! - diz, admirando-se no espelho e aprovando o resultado.

Nove e quarenta e cinco! - Vai dar tempo, vai dar tempo! - Vestiu a primeira saia preta que encontrou e uma camisa branca. - O scarpin preto, o nude ou o preto com nude? Ai, vai qualquer um! - Escova o cabelo em um coque baixo, apanha a bolsa e as chaves do carro, enquanto coloca o brinco na orelha, tudo ao mesmo tempo Vai dar tempo, vai dar tempo!

- Agora s descer de elevador at a garagem e dirigir loucamente.

ELEVADOR EM MANUTENO! USE AS ESCADAS!

Bu! - O universo conspira contra mim! Bem que meu horscopo me avisou: a Lua crescente em Gmeos chega unida a Jpiter e traz maus agouros no campo profissional. Fique alerta!

No pensou duas vezes: tirou os sapatos e se atirou s escadas de incndio. Cinco lances de escadas depois, chegou garagem puxando o ar por todos os poros do corpo. Nove e cinquenta! - Vai dar tempo, vai dar tempo! - Incorporou um esprito de corredor de Frmula Um e saiu levantando a poeira do asfalto.

Primeiro semforo vista No fecha, no fecha, no FECHA suplica em pensamento. Fechou! Ponto morto. Os dedinhos tamborilam inquietos ao volante. Olhadinha no relgio: nove e cinquenta e trs! Sinal abriu! Primeira marcha, segunda, terceira - Outro semforo? Quando foi que instalaram esta porcaria aqui, que eu nunca reparei nele?!?! - Fechou! Ponto morto. Os dedinhos tamborilando. Relgio: nove e cinquenta e seis! Sinal verde?!? Primeira marcha, segunda, terceira. - Ah, no! Outro? No quero nem saber! - Acelerou. Quarta, quinta marcha. E, finalmente avistou a fachada do prdio onde trabalha h trs anos como analista de fundos financeiros.

Desde que o presidente da empresa a convocou para a reunio onde, talvez no possivelmente no - certamente, a nomearia como analista chefe, no tinha uma noite de sono tranquila, at esta ltima em que tomou dois comprimidos para dormir a mais do que o recomendado pelo mdico e, provavelmente, colocou o relgio para despertar no horrio errado.

- Agora est tudo tranquilo. s esperar e depois dar pulos de alegria. - pensou com um misto de alvio e euforia. Finalmente havia chegado seu grande dia, aquele ao qual tanto esperou, aquele que tanto planejou. Em poucos minutos seria a mulher mais feliz e bem sucedida do mundo.

- Como bom lutar por algo e, ao fim de tudo, alcanar o seu objetivo! - congratulava-se em seu ntimo - Sou demais!

Enquanto se parabenizava mentalmente, ouviu passos na direo da porta e conversas no corredor - Se aproxima o momento da minha vitria - pensa ela, com as mos geladas de ansiedade. O corao bate mais forte e sente a respirao tornar-se mais ofegante. Os ps balanam e a cadeira da sala de reunies nunca lhe pareceu to sem jeito. Vozes mais prximas. Passos mais prximos. Mais prximos. Mais prximos. A porta se abre e...

- Desculpe, Cludia! - diz a secretria - Sua reunio foi cancelada. O Dr. lvares ligou avisando que acordou um pouco atrasado e que todos os compromissos da parte da manh estavam cancelados. Tentei te avisar, mas.....

Cludia s ouvia o som de uma voz bem distante e os mveis da sala pareciam danar sua frente cantando uma musiquinha que parecia zombar de sua situao. E ento ela se lembrou do horscopo do dia Bem que ele me avisou!