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INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS MÓDULOS 01-02-03-04-05 – 1º BIMESTRE Apresentação Primeiro bimestre: 1) Conscientização da importância da leitura como fonte de conhecimento e participação na sociedade; 2) As diferentes linguagens: verbal, não verbal; formal e informal; 3) Noções de texto: unidade de sentido; 4) Textos orais e escritos; 5) Estilos e gêneros discursivos: jornalístico, científico, técnico, literário, publicitário entre outros; interpretação de textos diversos e de assuntos da atualidade; Para enriquecer seus estudos, sugerimos a seguinte bibliografia básica: FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristovão. Prática de texto para estudantes universitários. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2006. KOCH, I. V. & ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2007. MODULO 01 - A Importância da Leitura Gostaríamos de dar início ao nosso trabalho, convidando-o(a) à leitura de um texto de Clarice Lispector. FELICIDADE CLANDESTINA Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de

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INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS MDULOS 01-02-03-04-05 1 BIMESTRE

Apresentao

Primeiro bimestre:1)Conscientizao da importncia da leitura como fonte de conhecimento e participao na sociedade;2)As diferentes linguagens: verbal, no verbal; formal e informal;3)Noes de texto: unidade de sentido;4)Textos orais e escritos;5)Estilos e gneros discursivos: jornalstico, cientfico, tcnico, literrio, publicitrio entre outros; interpretao de textos diversos e de assuntos da atualidade;Para enriquecer seus estudos, sugerimos a seguinte bibliografia bsica:FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristovo.Prtica de texto para estudantes universitrios. 13. ed. Petrpolis: Vozes, 2008.FIORIN, Jos Luiz e PLATO, Francisco.Lies de texto: leitura e redao. So Paulo: tica, 2006.KOCH, I. V. & ELIAS, V. M.Ler e compreender: os sentidos do texto. 2. ed. So Paulo: Contexto, 2007.

MODULO 01 - A Importncia da Leitura

Gostaramos de dar incio ao nosso trabalho, convidando-o(a) leitura de um texto de Clarice Lispector.

FELICIDADE CLANDESTINAEla era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto ns todas ainda ramos achatadas. Como se no bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possua o que qualquer criana devoradora de histrias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E ns menos ainda: at para aniversrio, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mos um carto-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morvamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrs escrevia com letra bordadssima palavras como "data natalcia" e "saudade".Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingana, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, ns que ramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha nsia de ler, eu nem notava as humilhaes a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela no lia.At que veio para ela o magno dia de comear a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possua As reinaes de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.At o dia seguinte eu me transformei na prpria esperana de alegria: eu no vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.No dia seguinte fui sua casa, literalmente correndo. Ela no morava num sobrado como eu, e sim numa casa. No me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para busc-lo. Boquiaberta, sa devagar, mas em breve a esperana de novo me tomava toda e eu recomeava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem ca: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e no ca nenhuma vez.Mas no ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqilo e diablico. No dia seguinte l estava eu porta de sua casa, com um sorriso e o corao batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda no estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu corao batendo.E assim continuou. Quanto tempo? No sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel no escorresse todo de seu corpo grosso. Eu j comeara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, s vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, s vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.Quanto tempo? Eu ia diariamente sua casa, sem faltar um dia sequer. s vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas voc s veio de manh, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que no era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.At que um dia, quando eu estava porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua me. Ela devia estar estranhando a apario muda e diria daquela menina porta de sua casa. Pediu explicaes a ns duas. Houve uma confuso silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de no estar entendendo. At que essa me boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e voc nem quis ler!E o pior para essa mulher no era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silncio: a potncia de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em p porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi ento que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: voc vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E voc fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mo. Acho que eu no disse nada. Peguei o livro. No, no sa pulando como sempre. Sa andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei at chegar em casa, tambm pouco importa. Meu peito estava quente, meu corao pensativo.Chegando em casa, no comecei a ler. Fingia que no o tinha, s para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer po com manteiga, fingi que no sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu j pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.s vezes sentava-me na rede, balanando-me com o livro aberto no colo, sem toc-lo, em xtase purssimo.No era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.Clarice Lispector. In: "Felicidade Clandestina"Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998

Ler significa aproximar-se de algo que acaba de ganhar existncia.talo Calvino

O ato de ler soberano. Implica desvendar e conhecer o mundo. pela leitura que desenvolvemos o processo de atribuir sentido a tudo o que nos rodeia: lemos um olhar, um gesto, um sorriso, um mapa, uma obra de arte, as pegadas na areia, as nuvens carregadas no cu, o sinal de fumaa avistado ao longe e tantos outros sinais. Lemos at mesmo o silncio!

Nos dias de hoje, a comunicao, mesmo presencial, est mediada por uma infinidade de signos. Na era da comunicao interplanetria, estabelecemos infinitas conexes com pessoas de todos os cantos do mundo, o que nos obriga a decodificar um universo poderoso de mensagens e a nos adaptar a elas: comunidades virtuais do Orkut, conversas pelo MSN, compras e negcios fechados pela rede e, se essa informao foi dominantemente verbal at ento, agora se torna tambm visual com a chegada do YouTube.

Sabemos o quanto a fora da imagem exerce fascnio e entendemos, definitivamente, que no h mais como sobreviver neste mundo sem que haja, de nossa parte, uma adaptao constante no que se refere ao acesso s diferentes linguagens disponveis.

fundamental reconhecer que o sentido de todas as coisas nos vem, principalmente, por meio do olhar, da compreenso e interpretao desses mltiplossignos1que enxergamos, desde os mais corriqueiros nomes de ruas, por exemplo at os mais complexos uma poesia repleta de metforas. O sentido das coisas nos vem, ento, por meio da leitura, um ato individual de construo de significado num contexto que se configura mediante a interao autor/texto/leitor.

A leitura uma atividade que solicita intensa participao do leitor e exige muito mais que o simples conhecimento lingstico compartilhado pelos interlocutores: o leitor , necessariamente, levado a mobilizar uma srie de estratgias, com a finalidade de preencher as lacunas e participar, de forma ativa, da construo do sentido. Dessa forma, autor e leitor devem ser vistos como estrategistas na interao pela linguagem para que se construa o sentido do texto.

Segundo Koch & Elias (2006),[...] numa concepo interacional (dialgica) da lngua, os sujeitos so vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que dialogicamente se constroem e so construdos no texto. [...} Nessa perspectiva, o sentido de um texto construdo na interao texto-sujeitos e no algo que preexista aessa interao. A leitura , pois, uma atividade interativa altamente complexa de produo de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos lingsticos presentes na superfcie textual e na sua forma de organizao, mas requer a mobilizao de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo.

Para esclarecer as idias at aqui apresentadas, leia a tira a seguir:

http://tiras-hagar.blogspot.com/(acesso em 16/02/2007)

Na tira, Hagar, oviking, revela o papel do leitor queinteragecom o texto, no caso, da placa, e atribui-lhe osentido, considerando tanto as informaes explcitas, como tambm o que sugerido de maneira implcita, subentendida.

Podemos, ento, concluir quea)a leitura de qualquer texto exige do leitor muito mais do que o conhecimento do cdigo lingstico;

b)o leitor realiza um trabalho ativo de compreenso e interpretao do texto, a partir, entre outros aspectos, de seu conhecimento lingstico, textual e, ainda, de seu conhecimento de mundo.Leitura , assim, uma atividade deproduo de sentido. nesse intercmbio de leituras que se refinam, se reajustam e redimensionam hipteses de significado, ampliando constantemente a nossa compreenso dos outros, do mundo e de ns mesmos.

O exerccio pleno da cidadania passa necessariamente pela garantia de acesso aos conhecimentos construdos e acumulados e s informaes disponveis socialmente. E a leitura a chave dessa conquista.

Sugesto de leitura

Ler e compreender os sentidos do textoIngedore V. Koch e Vanda Maria EliasEditora ContextoTexto e Leitor: aspectos cognitivos da leiturangela KleimanPontes

1Signos:entidades lingsticas dotadas de duas faces: o significante (imagem acstica) e o significado (conceito).

MODULO 02 - As Diferentes Linguagens

A linguagem o instrumento com que o homem pensa e sente, forma estados de alma, aspiraes, volies e aes, o instrumento com que influencia e influenciado, o fundamento ltimo e mais profundo da sociedade humana.L. Hjelmslev

Para dar incio s suas reflexes a respeito do tema a ser estudado, leia o texto que segue.Comunicao

importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que voc quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um... um... como mesmo o seu nome?Posso ajud-lo, cavalheiro?Pode. Eu quero um daqueles, daqueles...Um... como mesmo o nome?Sim?Pomba! Um... um... Que cabea a minha. A palavra me escapou por completo. uma coisa simples, conhecidssima.Sim senhor.O senhor vai dar risada quando souber.Sim senhor.Olha, pontuda, certo?O qu, cavalheiro?Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, a vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espcie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, s que esta mais fechada. E tem um, um... Uma espcie de, como que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negcio, entende, fica fechado. isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?Infelizmente, cavalheiro...Ora, voc sabe do que estou falando.Estou me esforando, mas...Escuta. Acho que no podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?Se o senhor diz, cavalheiro...Como, se eu digo? Isso j m vontade. Eu sei que pontudo numa ponta. Posso no saber o nome da coisa, isso um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.Sim senhor. Pontudo numa ponta.Isso. Eu sabia que voc compreenderia. Tem?bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrev-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha para ns?No. Eu no sei desenhar nem casinha com fumaa saindo da chamin. Sou uma negao em desenho.Sinto muito.No precisa sentir. Sou tcnico em contabilidade, estou muito bem de vida. No sou um dbil mental. No sei desenhar, s isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. O desenho no me faz falta. Lido com nmeros. Tenho algum problema com os nmeros mais complicados, claro. O oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas no sou um dbil mental, como voc est pensando.Eu no estou pensando nada, cavalheiro.Chame o gerente.No ser preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o senhor quer, feito do qu? de, sei l. De metal.Muito bem. De metal. Ela se move?Bem... mais ou menos assim. Presta ateno nas minhas mos. assim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim.Tem mais de uma pea? J vem montado? inteirio. Tenho quase certeza de que inteirio.Francamente.Mas simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta e clique, encaixa.Ah, tem clique. eltrico.No! Clique, que eu digo, o barulho de encaixar.J sei!timo! O senhor quer uma antena externa de televiso.No! Escuta aqui. Vamos tentar de novo...Tentemos por outro lado. Para o que serve?Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Voc enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa..Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de segurana e...Mas isso! isso! Um alfinete de segurana!Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro! que eu sou meio expansivo. Me v a um... um... Como mesmo o nome?

(Lus Fernando Verssimo.Para gostar de ler. v.7. So Paulo, tica, 1982.)

A linguagem nasce da necessidade humana de comunicao; nela e com ela, o homem interage com o mundo. Para tratarmos das diferentes linguagens de que dispomos, verbais e no verbais, precisamos, inicialmente, pensar que elas existem para que possamos estabelecercomunicao. Mas o que , em si, comunicar?

Se desdobrarmos a palavra comunicao, teremos:Comunicao: comum + ao, ou melhor, ao em comum.

De modo geral, todos os significados encontrados para a palavracomunicaorevelam a idia de relao. Observe:

Comunicao: deriva do latimcommunicare, cujo significado seria tornar comum, partilhar, repartir, trocar opinies, estar em relao com.

Podemos assim afirmar que, historicamente,comunicaoimplica emparticipao, interao entre dois ou mais elementos, um emitindo informaes, outro recebendo e reagindo. Para que a comunicao exista, ento, preciso que haja mais de um plo: sem o outro no h partilha de sentimentos e idias ou de comandos e respostas.Leia o cartum a seguir e procure reconhecer como o humor se produz na situao apresentada.

Para que a comunicao seja eficiente, necessrio que haja um cdigo comum aos interlocutores.

O que a linguagem?

Linguagem a capacidade humana de articular conhecimentos e compartilh-los socialmente. Assim, todo e qualquer processo humano capaz de expressar e compartilhar significao constitui linguagens: tirar fotos, pintar quadros, produzir textos e msicas, escrever jornal, danar, etc. As linguagens fazem parte das diversas formas de expresso representadas pelas artes visuais, pela msica, pela expresso corporal e pela escrita.

A linguagem, portanto, nomeia, fixa e concebe objetos, utiliza conceitos e tem por funo permitir a comunicao.

Ns encontramos a lngua pronta quando nascemos e aprendemos a utiliz-la com as pessoas mais velhas. a partir dessa aprendizagem que passamos a reproduzi-la.

Muitas das expresses artsticas atuais tm origem conhecida: a fotografia surgiu no sculo XIX; o teatro ocidental surgiu na Grcia e na Idade Mdia. J a escrita surgiu h milhares de anos.Tomemos, agora, o conceito apresentado por Bechara (1999:28) para fundamentar o conceito de linguagem:

Entende-se porlinguagemqualquer sistema de signos simblicos empregados na intercomunicao social para expressar e comunicar idias e sentimentos, isto , contedos da conscincia.A linguagem , ento, vista como um espao em que tanto o sujeito quanto o outro que com ele interage so inteiramente ativos. Por meio dela, o homem pode trocar informaes e idias, compartilhar conhecimentos, expressar idias e emoes. Desse modo, reconhecemos a linguagem como um instrumento mltiplo e dinmico, isso porque, considerados os sentidos que devem ser expressos e as condies de que dispomos em dada situao, valemo-nos de cdigos diferentes, criados a partir de elementos como o som, a imagem, a cor, a forma, o movimento e tantos outros.Vale salientar a idia de que o processo de significao s acontece verdadeiramente quando, ao apropriarmo-nos de um cdigo, por meio dele nos fazemos entender.

Dica de vdeo

A Guerra do Fogo(La Guerre du feu, 81, FRA/CAN)Dir.: Jean-Jacques Annaud. Com: Everett McGill, Rae Dawn Chong, Ron Perlman, Nameer El Kadi.

Uma interessante oportunidade para refletir sobre a questo das primeiras manifestaes de linguagem no homem.

LINGUAGEM VERBAL E NO VERBAL

Chamamos delinguagema todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicao. Certamente, voc j observou que o ser humano utiliza as mais diferentes linguagens: a da msica, a da dana, a da pintura, a dos surdos-mudos, a dos sinais de trnsito, a da lngua que voc fala, entre outras.

Como vemos, a linguagem produto de prticas sociais de uma determinada cultura que a representa e a modifica, numa atividade predominantemente social.

Considerando o sistema de sinais utilizados na comunicao humana, costumamos dividir a linguagem em verbal e no verbal. Assim, temos:a.Linguagem verbal:aquela que utiliza aspalavraspara estabelecer comunicao. A lngua que voc utiliza, por exemplo, linguagem verbal, assim como a literatura.

b.Linguagem no verbal:aquela que utilizaoutros sinais que no as palavraspara estabelecer comunicao. Os sinais utilizados pelos surdos-mudos, por exemplo, constituem um tipo de linguagem no verbal.

Para viver em sociedade, o ser humano possuidor de capacidade criativa e cumulativa cria um arsenal de cdigos, que se entrecruzam e atendem s suas necessidades de sobrevivncia, de intercmbio com o outro, de satisfao afetiva, de aprimoramento intelectual.

A comunicao d-se, assim, por intermdio de algum tipo de linguagem que, como vimos, altera-se de acordo com o uso que as pessoas fazem dela. Verbais ou no verbais, criamos sinais que tm significado especial para o grupo humano do qual fazemos parte.

Veja, por exemplo, a tela de Portinari:

Ao pintar os trabalhadores rurais em atividade, Portinari revela, com preciso, uma importante questo social: a vida sofrida dos lavradores nas lavouras do caf que, ao cumprir longas jornadas de trabalho, misturam-se terra, numa interminvel fila de homens e mulheres annimos, com mos e ps enormes, sugerindo, talvez, o excesso e a fora de tanto trabalho. No h cu, no h horizonte; o predomnio da cor marrom refora o drama vivido por esses trabalhadores.

Diante do no verbal, como espectadores, experimentamos a emoo que o quadro desperta, no porque seu significado esteja expresso em palavras, mas porque ele exibe a sntese do sentimento do artista.

Podemos concluir, assim, que alinguagemmltiplae, a partir da combinao de seus variados cdigos, promove a interao entre os seres humanos, permitindo a expresso do que pensa e do que sente.

Dica de leitura:

O verbal e o no verbalVera Teixeira de AguiarEditora Unesp

LIGUAGEM FORMAL E INFORMAL

Nossa lngua apresenta uma imensa possibilidade de variantes lingsticas, tanto na linguagemformal(padro) quanto na linguageminformal(coloquial). Elas no so, assim, homogneas. Especialmente no que se refere ao coloquial, as variaes no se esgotam. Alguns fatores determinam essa variedade. So eles:diferenas regionais:h caractersticas fonticas prprias de cada regio, um sotaque prprio que d traos distintivos ao falante nativo. Por exemplo, a fala espontnea de um caipira difere da fala de um gacho em pronncia e vocabulrio;

nvel social do falante e sua relao com a escrita:um operrio, de modo geral, no fala da mesma maneira que um mdico, por exemplo;

diferenas individuais.

importante salientar que cada variedade tem um conjunto de situaes especficas para seu uso e, de modo geral, no pode ser substituda por outra sem provocar, ao menos, estranheza durante a comunicao. O texto de Luis Fernando Verssimo ilustra uma dessas situaes inusitadas:

A, GaleraJogadores de futebol podem ser vtimas de estereotipao. Por exemplo, voc pode imaginar um jogador de futebol dizendo estereotipao? E, no entanto, por que no?- A, campeo. Uma palavrinha pra galera.- Minha saudao aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.- Como ?- A, galera.- Quais so as instrues do tcnico?- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de conteno coordenada, com energia otimizada, na zona de preparao, aumentam as probabilidades de, recuperado o esfrico, concatenarmos um contra-golpe agudo com parcimnia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturao momentnea do sistema oposto, surpreendido pela reverso inesperada do fluxo da ao.- Ahn?- pra dividir no meio e ir pra cima pra peg eles sem cala.- Certo. Voc quer dizer mais alguma coisa?- Posso dirigir uma mensagem de carter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsvel e piegas, a uma pessoa qual sou ligado por razes, inclusive, genticas?- Pode.- Uma saudao para a minha progenitora.- Como ?- Al, mame!- Estou vendo que voc um, um...- Um jogador que confunde o entrevistador, pois no corresponde expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expresso e assim sabota a estereotipao?- Estereoqu?- Um chato?- Isso.Correio Braziliense, 13/05/1998.

Podemos concluir da que cada variedade tem seus domnios prprios e que no existe a variedade certa ou errada. Para cada situao comunicativa existe a variante mais ou menos adequada. certo, no entanto, que atribuda variante padro um valor social e histrico maior do que coloquial. Cabe, assim, ao indivduo competente lingisticamente - optar por uma ou outra variante em funo da situao comunicativa da qual participa no momento.Por fim, citando Bechara (1999),a linguagem sempre um estar no mundo com os outros, no comoum indivduo em particular, mas como parte do todo social, de uma comunidade.

MODULO 03 - Noes de Texto: Unidade de Sentido

A palavratexto bastante familiar no mbito escolar e fora dele, embora, de modo geral, no o reconheamos em diversas de suas ocorrncias. Certamente j ouvimos: Que texto interessante! Seu texto est confuso! Faa um texto sobre suas frias...No entanto, no que diz respeito especialmente leitura, muitas vezes os alunos lem fragmentos do texto e buscam entender partes isoladas que, sem relao com as demais com otodo, levam o leitor, provavelmente, a chegar a concluses precipitadas e at mesmo erradas sobre o sentido do texto.Os estudos mais avanados na rea da Lingstica Textual, a partir da dcada de 60, detiveram-se em explicar as caractersticas prprias da linguagem escrita concretizada em forma detextoe no em forma de um mero amontoado de palavras e frases.Para a Lingstica Textual, a linguagem o principal meio de comunicao social do ser humano e, portanto, seu produto concreto o texto tambm se reveste dessa importante caracterstica, j que por intermdio dele que um emissor transmite algo a um receptor, obedecendo a um sistema de signos/regras codificado. O texto constitui-se, assim, naunidade lingstica comunicativa bsica.Inicialmente, faz-se necessrio expor o conceito de texto, por ser ele o elemento fundamental de comunicao. Vejamos o conceito proposto por Bernrdez (1982):Texto a unidade lingstica comunicativa fundamental, produto da atividade verbal humana, que possui sempre carter social: est caracterizado por seu estrato semntico e comunicativo, assim como por sua coerncia profunda e superficial, devida inteno (comunicativa) do falante de criar um texto ntegro, e sua estruturao mediante dois conjuntos de regras: as prprias do nvel textual e as do sistema da lngua.Alguns elementos nos parecem centrais nessa definio. So eles:a.Um texto no um aglomerado de frases; o significado de suas partes resulta das correlaes que elas mantm entre si. Uma leitura no pode basear-se em fragmentos isolados do texto. Observe a seqncia:Marilene ainda no chegou. Comprei trs melancias. O escritrio de Srgio encerrou o expediente por hoje. A densa floresta era assustadora. Ela colocou mais sal no feijo. O vaso partiu-se em pedacinhos.

Essa seqncia apresenta um amontoado aleatrio de frases, j que suas partes no se articulam entre si, no formam um todo coerente. Portanto, tal seqncia no constitui um texto.Agora, observe a tira:

Inicialmente notamos que os personagens curtem o sol num momento de lazer. No segundo quadro da tira, ao lermos mas, infelizmente..., acreditamos que o personagem vai interromper o agradvel momento por conta de alguma obrigao que deva cumprir. No terceiro quadro, porm, somos obrigados a reinterpretar o significado anteriormente atribudo e verificar que ambos esto, mesmo, dispostos a aproveitar o sol sem qualquer pressa. Como vemos,o sentido global de um texto depende das correlaes entre suas partes.Veja como isso se d no texto que segue.Circuito Fechado

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. gua. Escova, creme dental, gua, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, gua, cortina, sabonete, gua fria, gua quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, cala, meias, sapatos, gravata, palet. Carteira, nqueis, documentos, caneta, chaves, leno, relgio, maos de cigarros, caixa de fsforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xcara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fsforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papis, telefone, agenda, copo com lpis, canetas, blocos de notas, esptula, pastas, caixas de entrada, de sada, vaso com plantas, quadros, papis, cigarro, fsforo. Bandeja, xcara pequena. Cigarro e fsforo. Papis, telefone, relatrios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papis. Relgio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboos de anncios, fotos, cigarro, fsforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xcara, cartaz, lpis, cigarro, fsforo, quadro-negro, giz, papel. Mictrio, pia, gua. Txi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xcara. Mao de cigarros, caixa de fsforos. Escova de dentes, pasta, gua. Mesa e poltrona, papis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fsforo, telefone interno, externo, papis, prova de anncio, caneta e papel, relgio, papel, pasta, cigarro, fsforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papis, folheto, xcara, jornal, cigarro, fsforo, papel e caneta. Carro. Mao de cigarros, caixa de fsforos. Palet, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xcaras, cigarro e fsforo. Poltrona, livro. Cigarro e fsforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fsforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, cala, cueca, pijama, espuma, gua. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.(Ricardo Ramos)

EmCircuito fechadono h apenas uma srie de palavras soltas; temos aqui um texto. E por qu? Apesar de haver palavras, aparentemente, sem relao umas com as outras, possvel reconhecer, depois de uma leitura atenta, que h uma articulao entre elas. A escolha dos substantivos e a seqncia em que so empregados revelam um significado implcito, algo que une e relaciona essas palavras, formando um texto. Podemos, assim, dizer que esse texto se refere a um dia na vida de um homem comum.

Note que no incio do texto h substantivos relacionados a hbitos rotineiros, como levantar, ir ao banheiro, lavar o rosto, escovar dentes, fazer barba tomar banho, vestir-se e tomar caf da manh.Chinelos, vaso, descarga. Pia. Sabonete. gua. Escova, creme dental, gua, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, gua, cortina, sabonete, gua fria, gua quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, cala, meias, sapatos, gravata, palet. Carteira, nqueis, documentos, caneta, chaves, leno, relgio, mao de cigarros, caixa de fsforos.

J no final do texto h o ritual que denota a volta para casa. Observe:Carro. Mao de cigarros, caixa de fsforos. Palet, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xcaras, cigarro e fsforos. Poltrona, livro. Cigarro e fsforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fsforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, cala, cueca, pijama, espuma, gua. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

Descobrimos que a personagem um homem tambm pela escolha dos substantivos. Parece que sua profisso pode estar relacionada publicidade e o personagem , tambm, um fumante, pois, por quatorze vezes, o narrador retoma a seqncia cigarro, fsforo.Creme de barbear, pincel, espuma, gilete [...] cueca, camisa, abotoadura, cala, meia, sapatos, gravata, palet [...] Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papis, telefone, agenda, copo com lpis, canetas, blocos de notas, esptula, pastas, caixas de entrada, de sada [...] Papis, telefone, relatrios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes [...] Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboos de anncios, fotos, cigarro, fsforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xcara, cartaz, lpis, cigarro, fsforo, quadro-negro, giz, papel.

Enfim, o textoCircuito fechado uma crnica um texto narrativo curto , cujo tema o cotidiano e leva o leitor a refletir sobre a vida. Usando somente substantivos, o autor produziu um texto que termina onde comeou. Essa estrutura circular tem relao com o ttulo e com a rotina que aprisiona o homem nos dias atuais.

b.O texto tem coerncia de sentido e o sentido de qualquer passagem de um texto dado pelocontexto1. Se no levarmos em conta as relaes entre as partes do texto, corremos o risco de atribuir a ele um sentido oposto quele que efetivamente tem.c.Todo texto tem um carter histrico, no no sentido de narrar fatos histricos, mas no de revelar as concepes e a cultura de um grupo social numa determinada poca.

http://www.propagandasantigas.blogger.com.br/(acesso em 05/01/2007)Os anncios retratam duas concepes distintas a respeito da moda infanto-juvenil em pocas diferentes: o recato do sculo XIXe o olhar prtico e dinmico dos dias atuais.

1Contexto:unidade maior em que uma unidade menor est inserida. Exemplo: a frase serve de contexto para a palavra, o texto para a frase etc.

MODULO 04 - Textos Orais e Textos Escritos

A interao pela linguagem materializa-se por meio de textos, sejam eles orais ou escritos. relevante, no entanto, reconhecer que fala e escrita so duas modalidades de uso da lngua que, embora se utilizem do mesmo sistema lingstico, possuem caractersticas prprias. As duas no tm as mesmas formas, a mesma gramtica, nem os mesmos recursos expressivos. Para a compreenso dos problemas da expresso e da comunicao verbais, necessrio evidenciar essa distino.Para dar incio s suas reflexes, leia o texto de Millr Fernandes, a seguir.A vaguido especfica"As mulheres tm uma maneira de falar que eu chamo de vago-especfica."Richard Gehman

Maria, ponha isso l fora em qualquer parte.Junto com as outras? No ponha junto com as outras, no. Seno pode vir algum e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia. Sim senhora. Olha, o homem est a.Aquele de quando choveu? No, o que a senhora foi l e falou com ele no domingo. Que que voc disse a ele? Eu disse pra ele continuar. Ele j comeou? Acho que j. Eu disse que podia principiar por onde quisesse. bom? Mais ou menos. O outro parece mais capaz. Voc trouxe tudo pra cima? No senhora, s trouxe as coisas. O resto no trouxe porque a senhora recomendou para deixar at a vspera. Mas traga, traga. Na ocasio ns descemos tudo de novo. melhor, seno atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite. Est bem, vou ver como.

FERNANDES, Millr.Trinta anos de mim mesmo.So Paulo, Crculo do Livro, 1976, p.77.

No texto, o autor revela ironia ao atribuir s mulheres o falar de modo vago e por meio de elipses. No entanto, tais caractersticas so prprias do texto oral, em que a interao face-a-face permite que os interlocutores, situados no mesmo tempo e espao, preencham as lacunas ali existentes, j que ambos, ancorados em dados do contexto e no conhecimento partilhado que possuem, so capazes de compreender e produzir sentido ao que se diz.Em nossa sociedade, fundamentalmente oral, convivemos muito mais com textos orais do que com textos escritos. Todos ospovos1, indistintamente, tm ou tiveram uma tradio oral e relativamente poucos tiveram ou tm uma tradio escrita. No entanto, isso no torna a oralidade mais importante que a escrita. Mesmo que a oralidade tenha uma primazia cronolgica sobre a escrita, esta, por sua vez, adquire um valor social superior oralidade.A escrita no pode ser tida como representao da fala. Em parte, porque a escrita no consegue reproduzir muitos dos fenmenos da oralidade, tais como a prosdia, a gestualidade, os movimentos do corpo e dos olhos, entre outros. Ela apresenta, ainda, elementos significativos prprios, ausentes na fala, tais como o tamanho e o tipo de letras, cores e formatos, sinais de pontuao e elementos pictricos, que operam como gestos, mmica e prosdia graficamente representados.Observe a transcrio de um texto falado, retirado de uma aula de Histria Contempornea, ministrada no Rio de Janeiro, no final de dcada de 70. Procure ler o texto como se voc estivesse ouvindo a aula.... ns vimos que ela assinala... como disse o colega a,,, a elevao da sociedade burguesa... e capitalista... ora... pode-se j ver nisso... o que uma revoluo... uma revoluo significa o qu? Uma mudana... de classe... em assumindo o poder... voc v por exemplo... a Revoluo Francesa... o que ela significa? Ns vimos... voc tem uma classe que sobe... e outra classe que desce... no isso? A burguesia cresceu... ela ti/a burguesia possua... o poder... econmico... mas ela no tem prestgio social... nem poder poltico... ento... atravs desse poder econmico da burguesia... que controlava o comrcio... que tinha nas mos a economia da Frana... tava nas mos da classe burguesa... que crescera... desde o sculo quinze... com a Revoluo Comercial... ns temos o crescimento da classe burguesa... essa burguesia quer... quer... o poder...ela quer o poder poltico... ela quer o prestgio social... ela quer entrar em Versalhes... ento ns vamos ver que atravs... de uma Revoluo...ela vai... de forma violenta... ela vai conseguir o poder... isso uma revoluo porque significa a ascenso de uma classe e a queda de outra... mas qual a classe que cai? a aristocracia... tanto que... o Rei teve a cabea cortada... no isso?

Dinah Callou (org.).A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro materiaispara seu estudo.Elocues formais. Rio de Janeiro, Fujb, 1991, p. 104-105.

possvel notar que o texto bastante entrecortado e repetitivo, apresenta expressivas marcas de oralidade e progride apoiando-se em questes lanadas aos interlocutores, no caso, aos alunos. Isso no significa que o texto falado , por sua natureza, absolutamente catico e desestruturado. Ao contrrio, ele tem uma estruturao que lhe prpria, ditada pelas circunstncias sociocognitivas de sua produo.

No entanto, tais caractersticas, prprias do texto oral, so consideradas inapropriadas para o texto escrito. E por qu?

Para entender essa questo, inicialmente, faz-se necessrio observar a distino entre essas duas modalidades de uso da lngua, proposta por Marcuschi (2001:25): A fala seria uma forma de produo textual-discursiva para fins comunicativos na modalidade oral. Caracteriza-se pelo uso da lngua na sua forma de sons sistematicamente articulados e significativos, bem como os aspectos prosdicos e recursos expressivos como a gestualidade, os movimentos do corpo e a mmica. A escrita, por sua vez, seria um modo de produo textual-discursiva para fins comunicativos com certas especificidades materiais e se caracterizaria por sua constituio grfica, embora envolva tambm recursos de ordem pictrica e outros. Pode manifestar-se, do ponto de vista de sua tecnologia, por unidades alfabticas (escrita alfabtica), ideogramas (escrita ideogrfica) ou unidades iconogrficas. Trata-se de uma modalidade de uso da lngua complementar fala.De modo geral, discute-se que ambas apresentam distines porque diferem nos seus modos de aquisio, nas suas condies de produo, na transmisso e recepo, nos meios atravs dos quais os elementos de estrutura so organizados.Para Koch (1992), dentre as caractersticas distintivas mais freqentemente apontadas entre as modalidades falada e escrita esto as seguintes:

FalaEscrita

1.Contextualizada.2.No-planejada.3.Redundante.4.Fragmentada.5.Incompleta.6.Pouco elaborada.7.Predominncia de frases curtas, simples ou coordenadas.8.Pouco uso de passivas.9.Pouca densidade informacional.10.Poucas nominalizaes.11.Menor densidade lexical.1.Descontextualizada.2.Planejada.3.Condensada.4.No-fragmentada.5.Completa.6.Elaborada.7.Predominncia de frases complexas, com subordinao abundante.8.Emprego freqente de passivas.9.Densidade informacional.10.Abundncia de nominalizaes.11.Maior densidade lexical.

Ocorre, porm, que essas diferenas nem sempre distinguem as duas modalidades. Isso porque se verifica, por exemplo, que h textos escritos muito prximos ao da fala conversacional (bilhetes, recados, cartas familiares, por exemplo), e textos falados que mais se aproximam da escrita formal (conferncias, entrevistas profissionais, entre outros). Alm disso, atualmente, pode-se conceber o texto oral e o escrito como atividades interativas e complementares no contexto das prticas culturais e sociais.Oralidade e escrita, assim, so prticas e usos da lngua com caractersticas prprias, mas no suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas lingsticos distintos. Ambas permitem a construo de textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaborao de raciocnios abstratos e exposies formais e informais, variaes estilsticas, sociais e dialetais.

Cabe lembrar, finalmente, que em situaes de interao face a face, o locutor que detm a palavra no o nico responsvel pelo seu discurso. Trata-se, como bem mostra Marcuschi (1986), de uma atividade de co-produo discursiva, visto que os interlocutores esto juntamente empenhados na produo do texto.

1Povos:Em todas as comunidades, a fala antecede a escrita. Segundo pesquisas, h 3 mil lnguas faladas no mundo, das quais 180 possuem escrita e, aproximadamente, apenas 78 delas, literatura.

MODULO 05 - Estilos e Gneros Discursivos

Voc conhece essa piada?Desconfiado de que sua festa estava cheia de penetras, o anfitrio grita:

- Convidados da noiva, para o lado direito!

Metade se aloja do lado direito dele.

- Agora, convidados do noivo, do meu lado esquerdo!

Um monte de gente se junta do lado esquerdo.

- E, agora, caiam fora vocs! Isto aqui uma festa de aniversrio!

Todos os dias, deparamo-nos com diferentes textos durante as mais diversas situaes comunicativas das quais participamos socialmente: anncios, relatrios, notcias, palestras, piadas, receitas etc. Veja, por exemplo, o que podemos fazer quando queremos: escolher um filme para assistir no cinema.Podemos consultar a seo cultural de um dos jornais da cidade ou uma revista especializada, ler numoutdoorsobre o lanamento de um filme que lhe agrada ou, ainda, pedir a opinio de um amigo. saber como chegar a um local desconhecido por ns.Podemos consultar um guia de ruas da cidade ou, ainda, perguntar a algum que conhea o trajeto. Quem sabe at pedir que essa pessoa lhe desenhe o caminho? convidar um amigo para sua festa de aniversrio.Podemos mandar um e-mail, um convite pelo correio, telefonar ao colega, enviar um torpedo pelo celular. entreter uma criana.Aqui as possibilidades so vrias! Podemos ler histrias de fadas, lanar adivinhas, lembrar antigas canes, recitar quadrinhas e parlendas, propor jogos diversos, assistir a um desenho etc.Em todas as situaes descritas acima, utilizamos textos em diferentesgneros, isto , para situaes e/ou finalidades diversas, lanamos mo de um repertrio diverso de gneros textuais que circulam socialmente e se adaptam s diferentes situaes de comunicao. Cada um desses gneros exige, para sua compreenso ou produo, diferentes conhecimentos e capacidades.De modo geral, todos os gneros textuais tm em comum, basicamente, trs caractersticas: o assunto: o que pode ser dito atravs daquele gnero; o estilo: as palavras, expresses, frases selecionadas e o modo de organiz-las; o formato: a estrutura em que cada agrupamento textual apresentado.Os gneros surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. O conjunto dos gneros potencialmente infinito e mutvel, materializado tanto na oralidade quanto na escrita. Eles so vinculados vida cultural e social e contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do seu dia-a-dia. Assim, so exemplos de gneros textuais: telefonema, carta, romance, bilhete, reportagem, lista de compras, piadas, receita culinria, contos de fadas etc.Para Bronckart (1999),a apropriao dos gneros um mecanismo fundamental de socializao, de insero prtica nas atividades comunicativas humanas.