contestacao acao danos materiais morais acidente rodoviario

16
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ................ ESTADO DE ............ Processo nº ......................, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob nº ............., com sede na Av. ................., no Bairro ............., CEP ............, na Cidade de .........., Estado de São Paulo, por seus advogados que esta subscrevem (doc. 01), nos autos da Ação Ordinária Indenizatória, proposta por ......................., processo em referência, vem, respeitosamente, perante V. Exa., apresentar CONTESTAÇÃO consoante as seguintes razões de fato e de direito que passa a expor. I – DOS FATOS Alegam os Autores que no dia ..., seu filho – ....................., foi vítima fatal de acidente rodoviário, supostamente provocado por veículo (caminhão) de propriedade da Requerida. Alega, ainda, que o acidente foi provocado por imprudência do motorista do caminhão ao invadir a pista na contra mão, colidindo na lateral do veículo onde se encontrava a vítima, causando-lhe morte instantânea. Tal acidente e trágico falecimento da vítima ocorreu no Km 73 da Rodovia dos Tamoios, entre Caraguatatuba e Paraibuna, ambos os municípios do Estado de São Paulo. Com fundamento nos artigos 186 e 927 do Código Civil pleiteiam danos materiais no montante de R$ ........ ( ) e danos morais no valor de R$ ....... ( ). Deram à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), II – DAS PRELIMINARES II-A) DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE

Upload: rai-e-nessa-sattamini

Post on 27-Oct-2015

50 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ................ ESTADO DE ............ Processo nº ......................, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob nº ............., com sede na Av. ................., no Bairro ............., CEP ............, na Cidade de .........., Estado de São Paulo, por seus advogados que esta subscrevem (doc. 01), nos autos da Ação Ordinária Indenizatória, proposta por ......................., processo em referência, vem, respeitosamente, perante V. Exa., apresentar CONTESTAÇÃO consoante as seguintes razões de fato e de direito que passa a expor. I – DOS FATOS Alegam os Autores que no dia ..., seu filho – ....................., foi vítima fatal de acidente rodoviário, supostamente provocado por veículo (caminhão) de propriedade da Requerida. Alega, ainda, que o acidente foi provocado por imprudência do motorista do caminhão ao invadir a pista na contra mão, colidindo na lateral do veículo onde se encontrava a vítima, causando-lhe morte instantânea. Tal acidente e trágico falecimento da vítima ocorreu no Km 73 da Rodovia dos Tamoios, entre Caraguatatuba e Paraibuna, ambos os municípios do Estado de São Paulo. Com fundamento nos artigos 186 e 927 do Código Civil pleiteiam danos materiais no montante de R$ ........ ( ) e danos morais no valor de R$ ....... ( ). Deram à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), II – DAS PRELIMINARES II-A) DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE

Page 2: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

2

Segundo preconiza o inciso III, do art. 70 do CPC, a denunciação à lide é obrigatória quando “àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda”. A par disso, doutrina e jurisprudência dos Tribunais pátrios contemporizaram a disposição legal, pacificando entendimentos, em diversas hipóteses, a possibilidade de denunciação da lide voluntária, por parte daqueles que também poderão ser responsabilizados, mormente nos casos de ações indenizatórias. Dolo, é certo, não há que se falar nesse caso, de quem quer que seja. Mas culpa sim, ou seja, várias pessoas concorreram para o evento danoso que culminou com o fatídico e trágico falecimento da vítima. Nesse diapasão, imperativa a denunciação da lide das demais pessoas que, de alguma forma, concorreram para com o evento danoso, porquanto também deverão ser responsabilizadas e suportar a indenização pretendida pelos Autores. Se isso não ocorrer, a Ré não terá como usar o direito de regresso dessas pessoas, mesmo porque a culpabilidade de todas deve, também, ficar comprovada nesse processo. “A denunciação da lide torna-se obrigatória na hipótese de perda de do direito de regresso prevista nos incisos I e II do art. 70/CPC, não se fazendo presente essa obrigatoriedade no caso do inciso III do mesmo dispositivo, onde tal direito permanece íntegro” (STJ-2ª T. Resp. 151.671, rel. Min. Peçanha Martins, j. 16.3.00, não conheceram, v.u. DJU 2.5.00, p. 130)1. Cumpre destacar que a responsabilidade dos demais denunciados não depende de dilação probatória, porquanto já está comprovado nos autos suas respectivas participações no evento, mesmo porque um trata-se do motorista do caminhão, outro do motorista e proprietário do veículo abalroado e a terceira irmã da vítima. Aliás, o motorista do veículo abalroado (Vectra) e sua namorada, irmã da vítima, agiram negligentemente, ao permitir que a vítima viajasse deitada no banco traseiro do veículo, e não sentada, com o cinto de segurança. Assim é que, na esteira do entendimento do STJ, a ação de responsabilidade civil deve ser proposta ao responsável pelo dano vinculado à vítima, a que, se for o caso, compete denunciar à lide o terceiro, obrigado a indenizar o prejuízo causado: “Impõe-se demandar quem se apresenta como responsável direto para suportar possível condenação, cabendo a este, se for o caso, denunciar da lide aquele que, por

1 Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor; Theotonio Negrão e José Roberto F. Gouvêa. Ed. Saraiva, 39ª edição; 2007.

Page 3: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

3

contrato, se obrigou a indenizar os prejuízos advindos de eventual sucumbência (art. 70, III, CPC) (STJ-RT 693/264: 4ª T.)”2. Theotonio Negrão e José Roberto F. Gouvêa citando entre as diversas hipóteses admissíveis de denunciação da lide mencionam expressamente a do empregado, pelo empregador, acionado por ato daquele, citando, inclusive, acórdãos entendendo ser obrigatória tal denunciação3. E no caso da Companhia Seguradora, pacífico o entendimento jurisprudencial quanto à obrigatoriedade de denunciação da lide por parte do segurado. Com efeito, a Ré contratou com a ............, a apólice de nº ..........., com período de cobertura de ............. (doc. 02), pela qual referida companhia seguradora cobriria eventuais danos causados a terceiros em que estivessem envolvidos veículos da Ré. Isto posto, requer a Ré a denunciação da lide de: a) DA COMPANHIA SEGURADORA:

.........., inscrita no CNPJ/MF sob nº ........, com endereço na Rua ........, CEP ........., na Cidade de ............

b) DO MOTORISTA DO CAMINHÃO:

..........., brasileiro, divorciado, portador da Cédula de Identidade RG nº ............, inscrito no CPF sob nº ..........., com residência na Rua ............, na Cidade de ..., Estado de ...........

c) MOTORISTA DO VEÍCULO VECTRA:

................., brasileiro, solteiro, portador da Cédula de Identidade RG nº ............, inscrito no CPF sob nº .............., com residência na Rua .............., Jardim ......., na Cidade de .........., Estado de ..........

d) IRMÃ DA VÍTIMA:

................, brasileira, solteira, portadora da Cédula de Identidade RG nº ..............., com residência na Rua ............., Jardim .........., na Cidade de ............., Estado de ..........

As provas do envolvimento dessas pessoas consistem do Boletim de Ocorrência de fls. 08 a 13 dos autos.

2 Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor; Theotonio Negrão e José Roberto F. Gouvêa. Ed. Saraiva, 39ª edição; 2007, art. 70, nota 12b. 3 Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor; Theotonio Negrão e José Roberto F. Gouvêa. Ed. Saraiva, 39ª edição; 2007, art. 70, nota 5.

Page 4: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

4

Requer, portanto, as citações de todos os denunciados para, querendo contestar a presente denunciação no prazo legal. Nas citações, requer a Ré, os benefícios do art. 172 do Código de Processo Civil. Para tanto, junta cópias da inicial e dos documentos apresentados pelos Autores, cópias adicionais da presente contestação, bem como as guias relativas às custas de citações. II-B) DA INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO Entende a Ré que este Juízo é incompetente para processar e julgar o presente feito. Bem por isso, em exceção apartada está argüindo a incompetência deste Juízo. Até que referida exceção seja apreciada e julgada, a suspensão do feito é medida que se impõe. II-C) DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA Os Autores deram à causa o valor de apenas R$ ......... ( ), porém pleiteiam indenizações por danos materiais e morais da ordem de R$ ........... ( ). Em petição apartada a Ré apresenta Impugnação ao Valor da Causa, impugnação esta que certamente será julgada procedente. II-D) DO PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA Os Autores pleitearam os benefícios da assistência judiciária, porém, instados a comprovar a insuficiência de recursos (fls. 34 e 35) quedaram-se silentes, ou melhor, recolheram as custas relativas à causa (fls. 36 e 37). Portanto, houve renúncia expressa ao pedido anteriormente formulado. Todavia, de modo a evitar controvérsias ou tumultos processuais seria de bom alvitre que fosse certificado nos autos que os Autores não gozam da gratuidade judiciária, notadamente em futura condenação em despesas processuais e honorários advocatícios.

Page 5: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

5

III – QUANTO AO MÉRITO Inicialmente, quer a Ré deixar registrado seu profundo pesar com o trágico evento que resultou no falecimento do filho dos Autores. As argumentações postas em sua defesa, por isso, não possuem o cunho ou o condão e tampouco almejam banalizar o sofrimento suportado pelos Autores e muito menos dar insignificância à fatalidade ocorrida. Contudo, repetindo, embora trágico, merecem ser feitas algumas considerações sobre as circunstâncias em que ocorreu o falecimento da vítima e que deram causa à presente demanda. A vítima estava deitada no banco traseiro do veículo (Vectra), com a beça senão apoiada, no mínimo, encostada à porta traseira esquerda do veículo, onde ocorreu o choque com o caminhão da Ré. Ora, com o devido respeito aos sentimentos dos Autores, no entanto, viajar deitado, ainda mais sem o cinto de segurança, certamente, não é a forma correta e adequada para tanto. Sem dúvida, houve choque do caminhão com a lateral esquerda do veículo (Vectra). - Mas teria sido tal choque a causa única, real e necessária a provocar a morte da vítima? Pelas fotos e estado do veículo (Vectra), sem dúvida, não. - Estivesse a vítima, sentada, pelo menos, com o cinto de segurança, do lado direito do banco traseiro do veículo (Vectra) o impacto sofrido teria lhe causado a morte? Certamente, não. - Estivesse a vítima, sentada, mesmo sem cinto de segurança, do lado esquerdo do banco traseiro do veículo (Vectra) o impacto sofrido lhe teria sido fatal? Certamente, não. Vale destacar que os demais passageiros do veículo (Vectra), condutor e passageira (irmã), segundo os laudos acostados, sofreram ferimentos leves. Seguramente, estivesse a vítima se posicionado de forma correta e como recomenda e determina as normas de trânsito, na pior das hipóteses, o impacto sofrido lhe teria causado luxações de natureza leves, se tanto. Importante destacar, ainda, que conforme consignado nos laudos acostados, o caminhão da Ré trafegava na velocidade de 50 Km, no exato momento do acidente, quando a velocidade permitida para o local é de 60 Km. Ou seja, o caminhão da Ré estava em velocidade inferior à permitida.

Page 6: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

6

Portanto, não há que se falar em imprudência do motorista do caminhão. Outro aspecto importante consignado nos laudos diz respeito às condições da pista, isto é, estava molhado, devido à chuva, portanto, escorregadio. Não se pode atribuir ao motorista do caminhão, negligência ou imprudência. Por fim, neste contexto, deve ser relevada a negligência do condutor do veículo (Vectra) ao permitir que a vítima viajasse na forma em que se encontrava, ou seja, deitada no banco traseiro e sem cinto de segurança. Com sua experiência de 31 anos deveria alertar a vítima de que banco traseiro de veículo não se presta para deitar, ainda mais em viagens. Não só a vítima, mas sobretudo o condutor do veículo (Vectra) desrespeitaram as leis de trânsito4. Afinal, é de conhecimento comezino que é obrigatório o uso de cinto de segurança por todos os passageiros, inclusive por aqueles que estão no banco traseiro do veículo, acarretando infração grave e multa para o motorista, como é previsto no artigo 167 do Código de Trânsito Brasileiro.

Art. 167. Deixar o condutor ou passageiro de usar o cinto de segurança, conforme previsto no art. 65: Infração: grave; Penalidade : multa; (120 UFIR) Medida administrativa : retenção do veículo até colocação do cinto pelo infrator.

De mais a mais, o condutor do veículo ou o seu proprietário são responsáveis pelos danos suportados pelos passageiros, ainda que se trate de transporte gratuito, de favor, aplicando-se a teoria da “guarda da coisa” na análise da responsabilidade civil decorrente de acidentes de trânsito.5. III-A) DA INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL

4 Código de Trânsito Brasileiro Art. 65. É obrigatório o uso do cinto de segurança para condutor e passageiros em todas as vias do território nacional, salvo em situações regulamentadas pelo CONTRAN. 5 Provada a responsabilidade do condutor, o proprietário do veículo fica solidariamente responsável pela reparação do dano, como criador do risco para os seus semelhantes. (REsp 577902 / DF RECURSO ESPECIAL 2003/0157179-2)

Page 7: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

7

Os Autores fundamentam sua pretensão nos artigos 1866 e 9277 do Código Civil. Todavia, doutrina e jurisprudência assentaram, definitivamente, que “Um dos pressupostos da responsabilidade civil é a existência de um nexo causal entre o fato ilícito e o dano por ele produzido. Sem essa relação de causalidade não se admite a obrigação de indenizar”. “O art. 186 do Código Civil a exige expressamente, ao atribuir a obrigação de reparar o dano àquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, causar prejuízo a outrem”8. Entretanto, pela própria narração da inicial conclui-se que a Ré não teve nenhuma participação direta no evento que deu origem aos danos experimentados pelos Autores. Com efeito, segundo doutrina, para haver ato ilícito “stricto sensu” é preciso que o agente tenha agido culposamente, praticando um dano injusto para a vítima. Esses elementos – conduta culposa e dano injusto – não podem se apresentar isoladamente, devem estar interligados por um vínculo de causa e efeito, pois só assim o dano será imputável ao autor do ato culposo. Se o prejuízo da vítima não foi efeito (conseqüência) da conduta do agente, ainda que esta tenha sido injurídica, não lhe terá acarretado a obrigação de indenizar. Segundo Humberto Theodoro Júnior9, comentando o art. 186 em apreço, a respeito do nexo de causalidade leciona que “Dentre as várias teorias já aventadas na doutrina, principalmente com raízes no direito penal, duas são as que maior repercussão tiveram: a da equivalência dos antecedentes e a da causalidade adequada”. Para a teoria da equivalência dos antecedentes (também denominada teoria da conditio sine qua non) tudo o que concorre para que um resultado se dê, deve ser tratado como causa.

6 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 7 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 8 Carlos Roberto Gonçalves, Saraiva, 7ª edição, 2002, pág. 520. 9 Comentários ao Novo Código Civil, 2ª edição, Volume III, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, pág. 95.

Page 8: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

8

Pela teoria da causalidade adequada, segundo o ilustre jurista, é a que tem sido mais aceita pelo direito civil contemporâneo. Causa em sua ótica é o antecedente não apenas necessário, mas também adequado à produção do resultado. “Não se pode, segundo essa teoria, atribuir a responsabilidade a quem se inseriu, simplesmente, no processo de desencadeamento do fato danoso, mas apenas àqueles que atuaram com ações adequadas ao resultado; de maneira que cada um dos diversos partícipes reparará apenas nas conseqüências naturais e prováveis de sua ação. Nem todos, portanto, responderão pela reparação do resultado danoso final, mas apenas os que praticaram fato naturalmente adequado ao produzi-lo. (...) A análise da causalidade adequada não deve ser feita no momento do ato ilícito, mas deve retroagir ao instante em que o fato indigitado ocorreu. Ali é que se apreciará, isoladamente, sua idoneidade para produzir o ato danoso que mais tarde veio a acontecer”. (g.n.) Dessas lições, levando em conta as circunstâncias em que ocorreu o falecimento da vítima, bem como a negligência do condutor do veículo no qual se encontrava, bem assim a suposta contribuição (nenhuma) da Ré, conclui-se que este último nenhuma responsabilidade ou culpa teve para com os danos suportados por aquela, pois, não existe nexo de causalidade ligando a Ré ao ocorrido com a vítima. Inaplicável, também, o art. 927 do Código Civil. Primeiramente, há de se convir, é um tremendo exagero falar em ato ilícito praticado pela Ré, considerando sua suposta participação (nenhuma) na agressão e, mormente, na realização do evento. De acordo com Enunciado 38, da Segunda Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos do Conselho de Justiça Federal (Brasília, set/02), interpretando o art. 927 do Código Civil, aduz que “a responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade”. (g.n.) Bem explica Humberto Theodoro Júnior10, ao comentar referido dispositivo que “A posição do novo Código corresponde a um compromisso com a responsabilidade delitual subjetiva, ou seja, com o dever de indenizar fundado na culpa, como base do sistema normativo. Ao adotar, todavia, uma abertura maior para a introdução da teoria da responsabilidade objetiva o fez em termos vagos e genéricos, deixando para a jurisprudência a tarefa de conceituar o que seja atividade de risco, caso a caso, o que pode representar o perigo de um alargamento desmesurado da responsabilidade sem culpa, contrariando a própria orientação de prestigiar como principal a responsabilidade derivada da culpa. (...). Por isso, cabe ao juiz avaliar, no caso concreto, “a atividade costumeira do

10 Comentários ao Novo Código Civil, 2ª edição, Volume III, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, pág. 29

Page 9: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

9

ofensor e não uma atividade esporádica eventual, qual seja, aquela que, por um momento ou por uma circunstância possa ser um ato de risco”. (g.n.) Igualmente, bem a propósito, preleciona o insigne Ministro do Colendo Superior Tribunal de Justiça, Carlos Alberto Menezes Direito11, comentando, juntamente com Sérgio Cavalieri Filho, a responsabilidade civil no novo Código Civil, que “Deverá o julgador, retrocedendo ao momento da conduta, colocar-se no lugar do agente e, com base no conhecimento das leis da natureza, bem como na situação particular em que se encontrava o agente, emitir o seu juízo sobre a idoneidade da causa para a ocorrência do dano”. (g.n.) E na trilha dos ensinamentos de Carlos Alberto Menezes Direito12, “Logo, o bom senso está a indicar que a obrigação de indenizar não decorrerá da simples natureza da atividade, ainda que tenha uma periculosidade inerente. Para não chegarmos a uma inteligência absurda, devemos entender que a expressão “por sua natureza” não diz respeito à natureza do serviço, tampouco ao risco que ele produz, mas à natureza da obrigação assumida por aquele que presta o serviços”. Depois de traçar a distinção entre obrigações de resultado e de meio, conclui que “Em nosso entender, a responsabilidade objetiva prevista no dispositivo em exame só se configura quando a natureza do serviços (atividade desenvolvida) gerar para o fornecedor uma obrigação de resultado, e não apenas de meio”. Desta feita, inaplicáveis à Ré os artigos em questão, sob os quais fundamentou os Autores sua ação. III-B) DA CULPA CONCORRENTE DA VÍTIMA E DE

TERCEIROS Conforme já demonstrado ao se discutir o mérito dessa ação, inequívoco a culpa concorrente não só da vítima, mas também do condutor do veículo (Vectra). A viagem nas condições em que estava a vítima não guarda dúvida de que concorreram sobremaneira para a fatalidade ocorrida. Repisa-se, aqui, as alegações e argumentos postos lá. Todavia, sobre o tema - culpa concorrente - , sempre oportunas as lições de Humberto Theodoro Júnior13 ao asseverar que “Verifica-se a culpa concorrente quando, ao lado da culpa do agente, se faz presente também a culpa da vítima 11 Comentários ao Novo Código Civil, 2ª edição, Volume XIII, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, pág. 81 12 Comentários ao Novo Código Civil, 2ª edição, Volume XIII, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, pág. 152. 13 Comentários ao Novo Código Civil, 2ª edição, Volume III, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, pág. 108

Page 10: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

10

pelo resultado danoso. O prejuízo do ofendido, liga-se, por nexo causal, tanto à omissão de cautela do agente como da própria vítima. Não se pode, portanto, atribuir o resultado danoso, com exclusividade a nenhum dos sujeitos envolvidos no evento. (...) Tudo se resolve a partir do pressuposto de que “se a vítima concorreu por fato seu, para o evento danoso, terá também de suportar os efeitos. Se não chegar a elidir totalmente a responsabilidade do agente, a indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”. Se a culpa do ofendido for de tal proporção que se apresente como a única e determinante causa do evento danoso, o nexo causal com a conduta do agente estará totalmente rompido. Nada terá este que indenizar, porquanto a culpa exclusiva da vítima se equipara em efeitos ao caso fortuito ou de força maior”. (g.n.) Semelhantemente, Carlos Alberto Menezes Direito, trata do fato da vítima, aduzindo o insigne Ministro do STJ que “Embora o Código de 1916 não tivesse regra específica sobre o fato da vítima, a doutrina e a jurisprudência a erigiram em causa excludente da responsabilidade, nos casos em que a conduta desta exsurge como fato gerador do dano, absorvendo a integralidade da causalidade. O Código atual também não tratou expressamente do tema, mas é possível extrair alguma conclusão a este respeito do artigo 945. Se o juiz pode reduzir a indenização no caso de culpa concorrente da vítima, pela mesma razão será possível excluir a responsabilidade do aparente responsável no caso de culpa exclusiva da vítima, isto é, quando o resultado decorrer exclusivamente da conduta desta”. Neste mesmo diapasão, Silvio Rodrigues (Responsabilidade Civil, Saraiva, 12ª ed., p. 179) e Washington de Barros Monteiro (Curso de Direito Civil, 25ª ed. Vol. 1º/279, Saraiva). Vale ressaltar, a respeito, que o Código de Defesa do Consumidor, também, em seus artigos 12, § 3º, III e 14, § 3º, II inclui expressamente a culpa exclusiva do consumidor entre as causas exoneráveis da responsabilidade do fornecedor. Contudo, aliando-se esses fatores relevantes, (i) conduta da vítima (culpa concorrente), (ii) negligência do condutor do veículo (Vectra), (iii) condições da pista (escorregadia), (iv) velocidade do caminhão inferior à permitida, na verdade, ocorreu um caso fortuito, uma das causas excludentes do nexo causal e de responsabilidade. E nesta senda, caem como uma luva as lições proferidas por Carlos Aberto Menezes Direito14, ao asseverar que “Se ninguém pode responder por um 14 Comentários ao Novo Código Civil, 2ª edição, Volume XIII, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, pág. 85.

Page 11: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

11

resultado a que não tenha dado causa, ganham especial relevo as causas de exclusão do nexo causal, também chamadas de excludentes de responsabilidade. É que, não raro, pessoas que estavam jungidas a determinados deveres jurídicos são chamadas a responder por eventos a que apenas aparentemente deram causa, pois, quando examinada tecnicamente a relação de causalidade, constata-se que o dano decorreu efetivamente de outra causa, ou de circunstância que as impedia de cumprir a obrigação a que estavam vinculadas. E, como diziam os antigos, ad impossibilia nemo tenetur. Se o comportamento devido, no caso concreto, não foi possível, não se pode dizer que o dever foi violado. Causas de exclusão do nexo causal são, pois, casos de impossibilidade superveniente do cumprimento da obrigação não imputáveis ao devedor ou agente. Essa impossibilidade, de acordo com a doutrina tradicional, ocorre nas hipóteses de caso fortuito, força maior, fato exclusivo da vítima ou de terceiro”. E prossegue o ilustre Ministro do STJ, tratando das diferenças entre caso fortuito e força maior: “Entendemos, todavia, que diferença existe e é a seguinte: estaremos em face do caso fortuito, quando se tratar de evento imprevisível e, por isso, inevitável. Se o evento for inevitável, ainda que previsível, por se tratar de fato superior às forças do agente, como normalmente são os fatos da natureza, como as tempestades, enchentes etc., estaremos em face da força maior, como o próprio nome diz. É o act of God, no dizer dos ingleses, em relação ao qual o agente nada pode fazer para evitá-lo, ainda que previsível. A imprevisibilidade, portanto, é elemento indispensável para a caracterização do caso fortuito, enquanto a inevitabilidade o é da força maior. (...) O caso fortuito e a força maior excluem o nexo causal por constituírem também causa estranha à conduta do aparente agente, ensejadora direta do evento”. A excludente do caso fortuito ou força maior, não foi inserida no rol das excludentes da responsabilidade do fornecedor, segundo o ilustre jurista Carlos Roberto Gonçalves15. Porém, no entender desse insigne Professor, constam do rol de excludentes de responsabilidade, que rompem o liame de causalidade são: o estado de necessidade; a legítima defesa, a culpa da vítima, o fato de terceiro, a cláusula de não indenizar e o caso fortuito ou força maior. E sobre o caso fortuito e força maior acrescenta que “Mesmo assim, a argüição da aludida excludente é admitida pela jurisprudência, pois o fato inevitável rompe o nexo de causalidade, especialmente quando não guarda nenhuma relação com a atividade de fornecedor, não se podendo, destarte, falar em defeito do produto ou do serviço. O Superior Tribunal de Justiça assim vem decidindo: “O fato de o art. 14, § 3º, do Código de Defesa do Consumidor não se referir ao caso fortuito e à força maior, ao arrolar as causas de isenção de responsabilidade do fornecedor de serviços, não significa que, no sistema por ele instituído, não possam ser invocadas. A inevitabilidade, e não a imprevisibilidade, é que efetivamente mais importa para caracterizar o fortuito. E aquela há de entender-se dentro de certa relatividade, tendo-se o acontecimento como inevitável em função do que seria razoável exigir-se (Resp 120.647-SP, 3ª T., Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU, 15 maio 2000, p. 156)””16. 15 Responsabilidade Civil, Saraiva, 7ª edição, 2002, pág. 398. 16 Carlos Roberto Gonçalves, Saraiva, 7ª edição, 2002, pág. 526.

Page 12: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

12

E no dizer de Sérgio Cavalieri Filho17, “a omissão pura e simples não pode ser havida como ato jurídico ilícito. Só adquire relevância jurídica e enseja a configuração do ato ilícito quando quem se omite tem o dever jurídico de agir, isto é, de praticar um ato que impediria o resultado danoso. O dever pode advir da lei, de negócio jurídico ou de uma conduta anterior do próprio omitente, criando o risco da ocorrência do resultado, devendo, por isso, agir para impedi-lo. Nessas circunstâncias, “não impedir o resultado significa permitir que a causa opere. O omitente coopera na realização do evento com uma condição negativa, ou deixando de movimentar-se, ou não impedindo que o resultado se concretize”. (g.n.) IV-B) DA INEXISTÊNCIA DOS PRESSUPOS-TOS DA

RESPONSABILIDADE CIVIL DA RÉ Reza o art. 33318 do Código de Processo Civil que o ônus da prova incumbe ao autor. Coadunando-se com as disposições legais e doutrinárias, arremata José Rafaelli Santini19:

"O direito ao ressarcimento do dano gerado por ato ilícito, funda-se no tríplice requisito do prejuízo, do ato culposo do agente e do nexo causal entre o referido ato e o resultado lesivo (CC, art. 159). Portanto, em princípio, o autor para obter ganho de causa no pleito indenizatório tem o ônus de provar a ocorrência dos três requisitos supra (CPC, art 333, I)."

Portanto, os Autores, ao contrário do que estabelece o Código de Processo Civil e a melhor doutrina, não provaram que os danos sofridos decorreram por culpa tão só e apenas da Ré, razão pela qual improcede o pleito. Sempre recorrendo as lições de Humberto Theodoro Júnior20, tratando do elemento culpa, preleciona o insigne jurista que “O importante, nesse tema, é definir qual o padrão para aferir a culpa no comportamento lesivo. A recomendação doutrinária tradicional é que não se deve exigir de ninguém um cuidado extremo, mas apenas aquele que usualmente observa o homem comum (homo medius ou o bonus pater famílias). É culpado aquele que causa dano por não ter observado a cautela que uma pessoa mediana teria adotado nas circunstâncias do evento. Não se tem como culpado, por isso, aquele que provocou dano que só uma diligência extrema e incomum no meio social conseguiria evitar. Ainda dentro da mesma preocupação, deve-se ter em conta a falta possivelmente cometida não de forma abstrata, mas em razão das peculiaridades do caso 17 Programa de Responsabilidade Civil, 3ª edição, Malheiros, 2002, pág. 38. 18 "Art. 333 - O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; 19 Dano Moral", Ed. de Direito, 1997, p. 27. 20 Comentários ao Novo Código Civil, 2ª edição, Volume III, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, pág. 103

Page 13: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

13

concreto. Assim, não se exige do agente que evite o fato perigoso apenas remotamente previsível, mas o que, in concreto, pudesse ser desde logo previsto e, conseqüentemente, evitado; e que, entretanto, veio a acontecer justamente por não ter cuidado o agente de evitá-lo, como era de seu dever”. (g.n.)

"RESPONSABILIDADE CIVIL - A decisão que, considerando a ausência de dolo ou culpa da ré e mesmo a não ocorrência de comprovação de dano, mantém a sentença que desacolhera pedido de indenização, não maltrata o art. 159 do Código Civil Recurso Especial não conhecido. Unânime." (Resp nº 27.601 - STJ - Rel. Min. Fontes de Alencar - 4' Turma - DJ 27.06.94)

E tal ausência de responsabilidade por parte da Ré está patente nos autos, quer pela narração dos fatos pelos Autores, quanto pelos laudos e boletins juntados. Repisando as lições dos doutos, a caracterização do dano moral e conseqüentemente do direito à reparação, segundo o ensinamento do saudoso Professor Carlos Alberto Bittar21 "depende, no plano fático, de ocorrência dos seguintes elementos: o impulso do agente, do resultado lesivo e o nexo causal entre ambos, que são, aliás, os pressupostos da responsabilidade civil." No caso "sub judice", esses elementos não se fazem presentes. Não restou evidenciado que os danos materiais e morais suportados e alegados pelos Autores decorreram de impulso ou de qualquer ato lesivo voluntária e deliberadamente fossem praticados pela Ré, ou tão somente pela Ré. III-C) DA FALTA DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS

MATERIAIS Os Autores não comprovaram os danos materiais pretendidos. Não juntaram um só documento a demonstrar os danos suportados. E com relação ao pleito de danos materiais, doutrina e jurisprudência são unânimes quanto à necessidade e obrigatoriedade de sua comprovação.

REsp 609107 / SE RECURSO ESPECIAL 2003/0194798-5 Relator(a): Ministro CASTRO FILHO (1119) Órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento: 07/05/2007 Data da Publicação/Fonte: DJ 01.08.2007 p. 455

21 Reparação Civil por Danos Morais, Ed. RT, pág. 127

Page 14: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

14

Ementa: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DANOS MATERIAIS. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PROVA DE PREJUÍZO PATRIMONIAL. SÚMULA 7/STJ. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356/STF. I - Sem a devida comprovação do prejuízo material, que não foi identificado pelo tribunal estadual, não há como impor condenação. Ficando assentado no acórdão recorrido, por força da análise das circunstâncias fáticas da causa, que não houve prova de danos materiais, não poderá a matéria ser revista no âmbito do especial, ante o óbice do enunciado nº 7 da Súmula deste Tribunal. II – O prequestionamento está adstrito à própria existência do recurso especial, que exige, como pressuposto constitucional, tenha a matéria sido decidida em única ou última instância. Recurso especial não conhecido.

Portanto, indevidos os danos materiais pleiteados. III-D) DO EXCESSIVO VALOR DOS DANOS MORAIS Os Autores pleiteiam o pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ ......... ( . No entanto, não está demonstrado e muito explicado as razões do pleito de tal quantia. Segundo Maria Helena Diniz22, "o dano moral vem a ser a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo". Doutrina e jurisprudência, por maioria, entendem que o dano moral independe de prova, bastando, para tanto a comprovação do nexo de causalidade entre o evento danoso e os aborrecimentos, angústias e dissabores enfrentados pela vítima. Reconhece-se a dor e sofrimento suportados pelos Autores com a perda do filho. Somente quem enfrentou tal trágica situação pode entender. E reconhece-se ainda que nada fará com o que o filho retorne á vida. Contudo, ainda que se considere a ocorrência de dano, e conseqüente obrigação à reparação, o que se admite apenas por amor ao argumento, a quantia pleiteada é absolutamente improcedente. 22 Curso de Direito Civil Brasileiro, 7º Vol., Saraiva, 14ª ed., São Paulo, 2000, p. 73.

Page 15: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

15

Para que se conserve a credibilidade que deve ter um possível ressarcimento econômico do dano moral, necessário agir com a indispensável prudência, não se podendo desprezar, ao estabelecer a indenização, o comedimento que se recomenda.

Na reparação do dano moral o magistrado deverá apelar para o que lhe parecer eqüitativo ou justo, agindo sempre com um prudente arbítrio, ouvindo as razões das partes, verificando os elementos probatórios, fixando moderadamente uma indenização. O valor do dano moral deve ser estabelecido com base em parâmetros razoáveis, não podendo ensejar uma fonte de enriquecimento - "Indenização por Dano Moral", de Maria Helena Diniz, in Revista Jurídica Consulex nº 03 1997.

O pedido é excessivo e não conta com respaldo jurídico para tanto. Nossos Tribunais, ainda que se trate de morte, não fixam a indenização em valores como o perseguido pelos Autores.

Dano Moral - Responsabilidade Civil do Estado - Morte de menor com nove meses de idade - Disparo de arma de fogo por Policial Militar Em Serviço - Reparação do dano fixada em vinte salários mínimos - Súmula 49]ISTF. (Tribunal de Justiça de São Paulo - Ap. Cív. 4.435-1 - Capital - Rel. Des. Novaes de Andrade - in Jurisprudência Brasileira - vol. 157 - pág. 222).

Desse modo, ainda que fosse devido algum valor a título de indenização - o que, novamente, se admite tão somente para argumentar - não poderia ser o pleiteado, porque excessivo e desprovido de qualquer fundamento que o justifique. Aliás, eventual indenização por dano moral deve levar em conta que o ofendido não pode ficar em situação melhor do que aquela que se encontrava antes de ter sofrido o pretenso dano.

É sabido, à saciedade, que a indenização, deve situar se, o mais que possível, dentro da razoabilidade e da realidade, evitando-se, ainda, que a vítima de dano moral venha a enriquecer-se por conta do mesmo; não é esta, à toda evidência, a intenção da lei; o dano moral não pode e não deve ser causa de enriquecimento do ofendido; a indenização, em que pese ao arbítrio do Magistrado, deve ser fixada em montante compatível - in Lex JTJ 177/89 - Apelação Cível nº 218.449-1 - São José do Rio Preto - Rel. Des. Antonio Manssur.

Também, deve ser considerada a culpa concorrente da vítima e de terceiros, nos termos do art. 94523 do Código Civil. Sempre reiterando, ser lamentável e injustificável a tragédia enfrentada, entretanto, não deve ser desprezada a participação da vítima e de terceiros na geração de todo o ocorrido. 23 Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Page 16: Contestacao Acao Danos Materiais Morais Acidente Rodoviario

16

Sem dúvida, tivessem eles atitudes ou comportamentos mais adequados à situação, não teriam se envolvido em tamanha tragédia. IV - CONCLUSÃO De tudo quanto foi posto na inicial e argumentado, conclui-se que: - Não há nexo causal entre a conduta da Ré e o evento danoso (morte) da vítima; - a vítima concorreu diretamente para com o evento danoso; - terceiros também concorreram para com o evento danoso; - os danos materiais não restaram devidamente comprovados; - a indenização por danos morais é excessiva; Enfim, ad argumentandum, se se levar em conta, o grau de participação da Ré, aliada à culpa concorrente da vítima e de terceiros, pelo disposto no art. 94424 do Código Civil, rigorosamente, a Ré nada deve indenizar. V - DO PEDIDO Ante todo o exposto, requer, primeiramente, sejam denunciados à lide a ... Seguros S/A, o Sr. .........., o Sr. ..........., a Srta. ............., na forma requerida. De outra banda, no mérito, não merece guarida a pretensão deduzida no libelo, devendo, pois, ser decretada a improcedência total da ação, condenando-se os Autores nos ônus da sucumbência. Pretende a Ré provar o alegado por todos os meios em direito admitidos, inclusive depoimento pessoal dos Autores, oitiva de testemunhas, juntada de outros documentos e perícia, se necessários.

N. Termos. P. e E. Deferimento.

São Paulo, 23 de novembro de 2007. JOÃO CHIACHIO

OAB/SP 35.082

24 Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.