contaminação por nh3

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  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    CAMPUS CATALO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU EM GEOGRAFIA

    GEOGRAFIA E ORDENAMENTO DO TERRITRIO

    MARLY O FARRILL MARTINEZ

    MEIO AMBIENTE E SADE DO TRABALHADOR:

    processos de contaminao por amnia na produo de nquel em

    Niquelndia (GO)

    CATALO (GO)

    2012

  • 2

    MARLY O FARRILL MARTINEZ

    MEIO AMBIENTE E SADE DO TRABALHADOR:

    processos de contaminao por amnia na produo de nquel em

    Niquelndia (GO)

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao

    Stricto Sensu em Geografia da Universidade Federal de Gois, Campus Catalo, como requisito para a obteno

    do ttulo de Mestre em Geografia.

    rea de concentrao: Geografia e Ordenamento do Territrio

    Linha de Pesquisa: Estudos Ambientais

    Orientador: Prof. Dr. Manoel Rodrigues Chaves

    CATALO (GO)

    2012

  • 3

  • 4

    Ao meu companheiro, pelo estmulo, carinho e

    compreenso. E aos meus filhos, como

    exemplo de luta e dedicao.

    AGRADECIMENTOS

  • 5

    Universidade Federal de Gois, Campus Catalo, pela oportunidade de realizar

    este curso.

    A Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Gois (FAPEG), que financiou a

    minha pesquisa, possibilitando uma maior dedicao.

    Aos meus pais, por tudo que me ensinaram e tambm pelo respeito ao prximo

    sempre exigido pelo meu pai, o qual me ensinou defender aqueles que buscam a justia e a

    simplicidade, porm no sabem como alcan-la.

    Quero deixar aqui registrado o meu agradecimento ao meu companheiro, esposo e

    amigo que soube respeitar a minha deciso e compreender as minhas ausncias em busca da

    realizao de meu sonho.

    Sou grata aos professores que me receberam com carinho e que me ajudaram no

    aprendizado, com toda dedicao e compreenso, incentivando a importncia da busca pelo

    conhecimento cientfico, motivando, em todo momento, novas pesquisas, aguando a minha

    curiosidade para buscar novos autores para me auxiliaram na fundamentao terica da

    pesquisa.

    Agradeo de todo o meu corao dedicao e compreenso do professor Manoel

    Rodrigues Chaves, que me amparou em minhas dificuldades desde o momento que entrei na

    Ps-graduao em Geografia, rea desconhecida para mim at aquele momento. Esse

    expoente me incentivou, ensinando-me a buscar respostas para as minhas dvidas, que eram

    muitas.

    A todos os professores do Mestrado, sendo que no poderia deixar de fazer

    agradecimentos especiais aos mestres: Idelvone Mendes Ferreira, Marcelo Rodrigues

    Mendona, Helena Anglica de Mesquita os quais muito contriburam e incentivaram no meu

    conhecimento da Geografia, incentivando leituras que colaboraram com meu aprendizado.

    Aos professores Jorge A. Pickenhayn e Maria Geralda de Almeida.

    secretria do mestrado, Priscila a quem devo mil agradecimentos, pela ateno,

    carinho e ajuda. Sempre pronta e solcita, procurando resolver todos os problemas

    encontrados no caminho.

    Aos meus colegas do Mestrado pelo companheirismo, pelas brincadeiras, pelas

    ajudas, pelas discusses e debates, que cooperaram com a minha pesquisa.Em especial a

    Juniele Martins Silva pela correo das normas da ABNT.

  • 6

    Aos membros da Banca de Qualificao que contriburam muito com sugestes, e

    fizeram com que aprofundasse os estudos para a qualidade das pesquisas tericas e empricas

    na Geografia.

    Quero deixar os meus agradecimentos ao professor Wanderlei Batista Nunes pelas

    explicaes dadas sobre a parte qumica que envolve a contaminao, e as explicaes que me

    deu, sobre como a segurana do trabalho a v esta contaminao. Ainda devo agradecer a sua

    me, por me ter acolhido em sua casa durante este dois anos, como uma verdadeira amiga.

    Em especial quero agradecer a minha companheira e amiga, a qual me incentivou

    entrar neste mestrado, Andria Mosca. Assim, como quero agradecer a Simone de

    Ftima dos Santos pela dedicao na correo deste trabalho.

    Devo aqui apresentar um agradecimento especial ao Dr Nlio Maral Vieira

    Junior, ao Dr. Alexandre Barroso Marra e ao seu colaborador David Dener por terem

    disponibilizado para esta pesquisa todo material coletado, abrindo para mim todos os seus

    processos, os quais trouxeram lies inestimveis, inclusive sobre a medicina do trabalho;

    colaborando deste modo,para que esta pesquisa pudesse ter sido realizada.

    Agradeo tambm ao Senhor Joaquim Avelino de Jesus, presidente da Associao

    dos Trabalhadores Contaminados nas Indstrias Mineradoras de Niquelndia Gois, pois

    graas a ele esta pesquisa foi realizada, j que ele foi o primeiro incentivador desta

    pesquisa.Foram relatadas por ele as primeiras informaes de contaminao na mineradora da

    cidade, as quais chamaram a ateno desta pesquisadora, pois era grande o nmero de pessoas

    contaminadas, que sofriam com suas doenas.

    Ao Presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indstria da Extrao do Ferro e

    Metais Bsicos de Niquelndia (SITIEN). Senhor Ccero, Joventino, tenho que agradecer pela

    ateno com que me atendeu e por todo material e informaes que me foram prestadas.

    No poderia deixar de agradecer aos empregados contaminados, com quem tive a

    oportunidade de conversar, os quais me deram todas as informaes e colaborao nas visitas

    feitas aos arredores da mineradora.

    Devo tambm agradecer a minha secretria Meirielle Damas Mendes, pela ajuda

    dada todo o tempo em que me dediquei a esta pesquisa. Inclusive, por aguentar o meu humor

    nos dias finais da pesquisa.

    s bibliotecrias da UFG, que muitas vezes dedicaram seu tempo, me ajudando a

    encontrar o livro buscado.Finalmente, tenho que agradecer a todos os envolvidos nesta

    pesquisa e que, de algum modo, contriburam para que ela fosse concretizada e cujos nomes

    no foram aqui citados.

  • 7

    Considera o universo em todo o seu esplendor.Contempla os

    bilhes de galxias.Imagina a criao de todo esse reino de

    realidade. Focaliza a inteligncia na seleta organizao e no

    projeto de cada entidade, das partculas subtnicas ao

    crebro humano.Reconhece que em ti est a essncia daquela

    inteligncia. V a ti mesma como um ser que acaba de abrir

    os olhos para asua participao pessoal da evoluo do

    universo um membro criativo de uma criao em

    desenvolvimento. (HUBBARD).

  • 8

    RESUMO

    Este trabalho pretende apresentar uma discusso terica sobre a importncia de se contemplar

    o ambiente do trabalho e os reflexos do mesmo na sade do trabalhador da rea de minerao.

    Apoiando-se numa viso bibliogrfica que faz uma leitura das origens da atividade minerria

    no Brasil, e em especial, no estado de Gois, seguido de estudo histrico e geogrfico da

    implementao das mineradoras nesse espao, essa pesquisa partiu de uma questo central:

    como a atividade mineradora tem contribudo para afetar a sade do trabalhador em exerccio

    e, de certo modo, desconsiderado as leis do meio ambiente do trabalho em relao a assegurar

    ao operrio melhores condies de tratamento de doenas adquiridas em consequncia do

    contato com materiais txicos? Persegue-se o objetivo geral de discorrer e desenvolver uma

    reflexo analtica sobre a importncia da valorizao e assistncia ao trabalhador da do setor

    mineral, sendo que esses dados so apresentados a partir de registros dos mesmos em

    processos jurdicos. Para atender aos objetivos propostos pelo estudo buscaram-se subsdios

    em pesquisa bibliogrfica, com anlise e discusso aprofundadas, seguidos de tabelas

    elaboradas em acordo com os estudos, entrevistas e dados obtidos por meio da montagem e

    observao dos processos jurdicos a que o trabalhador afastado recorreu, mediante amparo

    em lei. Assim, esta pesquisa apresenta-se estruturada em trs captulos, sendo que no primeiro

    discorre-se sobre o debate terico em torno da expanso econmica capitalista, a apropriao

    do espao e as questes ambientais. O segundo captulo trata da influncia da OIT

    (Organizao Internacional do Trabalho) para regularizar e disciplinar as atividades

    mineradoras no Brasil e faz uma abordagem sobre o meio ambiente do trabalho e a sade do

    trabalhador para, em seguida, ampliar essa discusso no terceiro captulo, voltando-se para o

    estudo da explorao do nquel em Niquelndia, suas origens, como ocorre a contaminao

    bem como trata da obrigatoriedade do Estado para com os contaminados e o meio ambiente

    do trabalho.

    Palavras-chave: Mineradora.Trabalhador.Contaminao.Leis.

  • 9

    ABSTRACT

    This work intends to present a theoretical discussion about the importance of contemplating

    the work environment and the reflexes of the same in the worker's health in a particular

    mining area. Based on a bibliographical vision that does a reading of the origins of miner aria

    activity in Brazil, especially in the State of Gois, followed by historic and geographic study

    of the implementation of mining companies in this space, this survey came from a central

    question: how the local mining activity has contributed to affect the health of the worker in

    exercise and somewhat dismissive the environmental laws of the work in relation to assure the

    workers better conditions of treatment of diseases acquired as a result of contact with toxic

    materials? The general objective pursued is discuss and develop an analytical reflection on the

    importance of valorization and assistance to the employee's mining area, being that these data

    are presented from records of them in lawsuits. For attending the proposed objective for the

    study, it was searched a bibliographical survey with analyze and deep discussion, followed by

    tables drawn up in accordance with studies, interviews and data obtained through the mount

    and observation of lawsuits to which the employee was away of service ran over by law

    protection. Thus, this research is structured in three chapters; the first runs the theorical debate

    around the economical capitalist expansion, the spacial appropriation and the environment

    troubles. The second chapter discusses the influence of ILO (International Labor

    Organization) for regularizating and disciplinating the mining activities in Brazil. Besides, it

    does the discussion about the labor environment and the workers health for, in following, increase this discussion in the third chapter, coming back to the study of exploration of the

    nickelin Niquelndia, its origins, how the contamination occurs as well as require the

    obligation of the State with the contaminated workers and the work environment.

    Keywords:Mining company. Worker.Contamination.Laws.

  • 10

    LISTA DE ILUSTRAES

    Tabela 1 Estudo Comparativo entre quadros e grficos da produo ............ 84

    Quadro 1 Produo beneficiada de minrio metlicos: Gois (2009) ............... 85

    Grfico 1 Produo Bruta de minrio - Contido: Gois (2009) ........................... 86

    Grfico 2 Produo bruta de minrio quantidade em ROM [tonelada]: Gois

    (2009) ....................................................................................................

    86

    Grfico 3 Produo bruta de minrio - teor mdio: Gois (2009) ........................ 87

    Grfico 4 Produo bruta de minrio: Gois (2009) ............................................. 87

    Quadro 2 Quantidade e valor da produo mineral comercializada: Gois

    (2009) ..........................................................................................

    88

    Grfico 5 Quatro minerais metlicos mais comercializados: Gois (2009) .......... 88

    Grfico 6 Mo de obra utilizada na minerao por substncias: Gois (2009) .. 89

    Grfico 7 Mo de obra na minerao: Gois (2009) ..................................... 90

    Quadro 3 Investimentos na minerao no estado de Gois (2009) ....................... 91

    Figura 1 Localizao geogrfica do Grupo Votorantin no municpio de

    Niquelndia, Gois ......................................................................

    94

    Quadro 4 Dados ICMS, Gois (2009) ............................................................. 97

    Quadro 4 Doenas do sistema respiratrio relacionadas com o trabalho (Grupo

    X da CID-10) ou a Classificao Internacional de Doenas ................

    107

    Quadro 6 Listagem dos 150 processos examinados ............................................. 112

    Quadro 7 Mdias de infectados por funo ...................................................... 116

    Grfico 8 Mdia de infectados por funo ........................................................... 119

    Grfico 9 Mdia de infectados por funo ........................................................... 120

    Grfico 10 Mdia de infectados por funo ........................................................... 121

  • 11

    LISTA DE SIGLAS

    CAT Cadastro da Comunicao de Acidente do trabalho

    CF Constituio Federal

    Cia. Companhia

    CID Classificao Internacional de Doenas

    CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

    DNA

    DNPM Departamento Nacional de Produo Mineral

    EC Emenda Constitucional

    ECOSOC Conselho Econmico Social

    EIA Estudo de Impactos Ambientais

    EPIs Equipamento de Proteo Individual

    IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatstica

    ICMS

    INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

    ISO International Organization Stardartization

    LTCAT Laudo Tcnico de Condies Ambientais do Trabalho

    MMA Ministrio do Meio Ambiente e da Amaznia Legal

    NEPA o EIA Americano

    NR Norma Reguladora

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

    OMC Organizao Mundial do Comrcio

    ONGs Organizao No Governamental

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PCMSO Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional

    PGR Programa de Gerenciamento de Riscos

    PIER Manual do Engenheiro Qumico

    PNMA Poltica Nacional do Meio Ambiente

    PNUMA Programa das Naes Unidas sobre Meio Ambiente

    PPRA Programa de Preveno de risco ambiental

    RIMA Relatrio de Impacto ao Meio Ambiente

    SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente

    SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

    SUS Sistema nico de Sade

    TRT Tribunal Regional do Trabalho

    UNCED Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

  • 12

    SUMRIO

    1 INTRODUO........................................................................................ 14

    2 O CAPITAL E A APROPRIAO DO MEIO.................................... 18

    2.1 Capital e meio

    ambiente.......................................................................... 22

    2.2 A Conscientizao ambiental.................................................................. 26

    2.3 O Capitalismo e o meio ambiente........................................................... 31

    2.4 A ecologia, os ecossistemas e o meio ambiente...................................... 35

    2.5 Desenvolvimento, economia e minerao.............................................. 41

    2.6 Meio ambiente e minerao.................................................................... 48

    2.6.1 Aspectos jurdicos do meio ambiente e da minerao.......................... 50

    2.7 O princpio do risco ambiental ....................................................... 51

    3 TUTELA AMBIENTAL E MINERAO .......................................... 53

    3.1 A evoluo das normas que disciplinam a minerao .......................... 55

    3.2 A regulamentao das atividades mineradoras .................................... 60

    3.3 O princpio do desenvolvimento sustentvel e a minerao ................ 63

    3.4 A Poltica Mineral Brasileira .................................................................. 66

    3.5 Os aspectos jurdicos da propriedade minerria e evoluo do meio

    ambiente .................................................................................................... 69

    3.6 Influncia da Organizao Internacional do Trabalho (OIT) nas

    empresas nacionais inclusive nas empresas de minerao ................... 72

    3.7 O meio ambiente do trabalho e a sade do trabalhador ...................... 75

    4 SADE DO TRABALHADOR E A EXPLORAO DE NQUEL

    EM NIQUELNDIA (GO).................................................................... 82

    4.1 A Produo Mineral em Gois............................................................... 82

    4.2 A Produo Mineral em Niquelndia.................................................... 92

    4.2.1 A explorao de Nquel........................................................................... 95

    4.2.2 Da produo do minrio.......................................................................... 98

    4.3 A Legislao e contaminao do trabalhador da minerao............... 100

    4.3.1 O processo de contaminao pela Amnia............................................ 102

    4.3.2 Contaminao dos Trabalhadores na Produo Mineral em 104

  • 13

    Niquelndia..............................................................................................

    4.3.3 A Contaminao como acidente de trabalho......................................... 111

    4.3.4 Os encargos do Estado com os contaminados e o ambiente do

    trabalho..................................................................................................... 125

    5 CONSIDERAES FINAIS ................................................................. 127

    REFERNCIAS ....................................................................................... 131

    ANEXOS ........................................................................................... 137

    ANEXO 1 Fotos de contaminao de amnia

    ANEXO 2 Laudo tcnico pericial

    ANEXO 3 Laudo de exame toxicolgico

    ANEXO 4 Sentena do Divino

    ANEXO 5 - Sentena completa do Jovelino

    ANEXO 6 Parecer do Ministrio Pblico do Trabalho

  • 14

    1 INTRODUO

    As maiores calamidades que afligiam os homens at meados do sculo XIX eram

    de origem natural, conforme comenta Deleag (1993, p. 23)1. As ameaas, a partir da

    Revoluo Industrial, ocorreram dentro da prpria sociedade. E o homem passou a ser capaz

    de desencadear a destruio que ameaa sua prpria sobrevivncia.

    No resta dvida de que o ser humano experimenta um desenvolvimento jamais

    ocorrido em sua histria, passando a dominar a natureza de modo ilimitado, alterando os

    fatores naturais do solo, frente crescente necessidade de utilizar seus recursos em favor de

    seus objetivos de crescimento.

    Consequentemente, hoje se configuram srios problemas de degradao

    ambiental, atravs de um processo devastador denominado industrializao. Esta fez com que

    o homem pusesse em risco o ecossistema e a biosfera. Sendo assim, a civilizao passa a

    enfrentar problemas com a poluio e a degradao, atingindo propores planetrias,

    principalmente aps a Segunda Guerra Mundial, fator que deu embalo ao desenvolvimento do

    capitalismo desenfreado. (CAPRA, 1981).

    Vivemos a crise ambiental cujas razes esto no efeito do conhecimento da

    humanidade que busca a seu modo, um caminho para o desenvolvimento. O processo de

    transformao, porm, emerge rapidamente devido s influncias do mercado, da poltica, da

    tecnologia e da comunicao. A transformao se faz necessria, mas para que ela ocorra de

    maneira harmoniosa essencial que os princpios ticos e os interesses pessoais sejam

    focados no bem comum, na manuteno da vida e no respeito mtuo. (CAPRA, 1981).

    A humanidade violenta a evoluo da natureza global, como chamam a ateno

    Capra (1981) e Deleag (1993), os quais dizem que as espcies esto sendo dizimadas por

    causa de substncias txicas e radioativas depositadas na natureza. Estas substncias esto

    interferindo na composio fsica da atmosfera.

    Com a multiplicao de usinas nucleares, h uma possibilidade muito grande de

    que a radioatividade venha a escapar para o meio ambiente e coloque todos os seres humanos

    em risco, isto sem falar no perigo por ela produzido.

    1 DELEAG, Jean Paul Frana Ministrio da Cultura LEtat de Environnementdans Le Monde, 1993

  • 15

    A ameaa de guerra nuclear o maior perigo com que a humanidade hoje se

    defronta, mas no absolutamente o nico. Enquanto as potncias militares

    ampliam seu artesanal de armas nucleares, o mundo industrial atarefa-se na construo igualmente perigosa de usinas nucleares que ameaam extinguir a

    vida em nosso planeta. H 25 anos, lderes mundiais decidiram usar os

    chamados tomos da paz e apresentaram a energia nuclear como a fonte energtica do futuro: confivel, limpa e barata. (CAPRA, 1981, p. 21)

    Agora, temos a conscincia das inverdades apregoadas pelos lderes, pois

    acabamos de presenciar a dificuldade enfrentada pelo Japo para minimizar e controlar os

    vazamentos ocorridos em seus reatores nucleares, espalhando a contaminao radioativa, no

    s ao seu pas, mas tambm aos outros pases.

    Como mostraram os jornais, a TV, a Internet, a catstrofe que se abateu sobre o

    Japo, no dia 14 de maro de 2011, afetou o funcionamento da usina nuclear de Fukshima

    Daiichi, na regio de Yuriage. Isto provocou uma catstrofe ainda sem precedentes na

    histria, pois o alto nvel de contaminao est se espalhando no ar, no mar, no solo e at este

    momento no puderam ser controlados, embora muito esforo esteja se fazendo para isso. H

    quase um ms os tcnicos esto trabalhando e no se tem notcia do fim do problema.(Folha

    de So Paulo, 2011).

    Sabe-se que o meio ambiente de interesse de toda a humanidade, pois se trata do

    espao em que vivemos. Dele depende a preservao de todo o planeta, para que este volte a

    ter o equilbrio necessrio. Se continuarmos no ritmo em que estamos caminhando,

    dificilmente poder-se- precisar o que ocorrer daqui para frente, pois os sintomas

    apresentados tm-se mostrado catastrficos. O acmulo de gs carbnico na atmosfera

    representa, tambm, um alto risco, pois ocasiona o crescimento do efeito estufa, elevando as

    temperaturas mdias da maior parte dos climas do planeta. (CAPRA,1981).

    O estudo do meio ambiente encontra lugar em vrias cincias que se entrelaam

    na busca de solues para os problemas ambientais que afetam a humanidade. Na realidade, o

    meio ambiente que buscamos proteger, antes de tudo, o meio ambiente humano, onde o

    direito vida, liberdade, e a sadia qualidade de vida devem ser preservadas.

    Desse modo, relevante que o objetivo deste trabalho seja o meio ambiente do

    trabalho e a sade do trabalhador nas atividades mineradoras. Muito embora se tenha

    conhecimento da amplitude do tema abordado, ele ser delimitado, pois trataremos dos casos

    relativos a uma Mineradora local. Embora, por muitas vezes, discutamos o assunto em outros

    nveis.

    O meio ambiente do trabalho est previsto no artigo 200, VIII da CF., que

    tambm tutela a sade do trabalhador em seu artigo 196, e no art.7, XXII, XXVII. Mas como

  • 16

    no poderia deixar de ser, o meio ambiente do trabalho tambm encontra proteo no artigo

    225 da Constituio Federal, onde podemos identific-lo, como ressalta Fiorillo e Rodrigues

    (1997)

    [...] apenas o trabalho humano que deve ser valorizado, como direito social

    fundador da ordem econmica e financeira (base do capitalismo) e fundamento da Repblica Federativa do Brasil, conforme consta no art.1 da

    CF. [...]. (FIORILLO; RODRIGUES, 1997).

    J no direito do trabalho, o objeto tutelado no o trabalho per si, visto que o

    que se tutela mais a sade e a segurana do trabalhador. Neste aspecto, visa-se a tutela

    vida de todo o povo brasileiro que, titular do direito ao meio ambiente, possui direito a sadia

    qualidade de vida, conforme apregoa a maior Lei do pas.(CF).

    Sendo assim, o objetivo desse trabalho tratado de forma interdisciplinar e

    transdisciplinar, embora o enfoque seja econmico-social. Inicia-se com o objeto de estudo da

    geografia,em que discute capital, espao social e meio ambiente e avana com a discusso

    sobre a viso do mundo a respeito do tema desenvolvimento sustentvel e meio ambiente.

    Posteriormente, abordaremos e direcionaremos o estudo para as Cincias Jurdicas

    posto que o estudo da norma jurdica de fundamental importncia diante do tema a ser

    tratado. Para tanto, encontramos apoio, nos textos Constitucionais, Infraconstitucionais e na

    soberania do Estado para estabelecer critrios e disciplinares s atividades humanas.

    Levando-se em conta essas consideraes, o texto estrutura-se em trs captulos,

    sendo que no primeiro sero apresentados dados introdutrios e conceitos que ajudaro a

    construir os prximos captulos: o capital, a apropriao do espao e o meio ambiente.

    O segundo captulo tratar-se- da tutela ambiental na minerao e de como esta

    atividade regulamentada. Vale ressaltar que o foco da questo principalmente o meio

    ambiente do trabalhador da minerao e assemelhados, com ressalvas sade deste

    trabalhador sendo que, para embasamento dessa discusso a Constituio Federal, as normas

    federais, o Cdigo de Minerao, sua Regulamentao e a Poltica Nacional do Meio

    Ambiente sero as normas utilizadas para que se possa verificar de que modo a Lei deveria

    estar sendo aplicada e quais so as falhas na sua aplicao.

    Evidencia-se que, nesse mbito, busca-se compreender os impactos do processo

    de ocupao do espao, assim como verificar o uso dos recursos naturais no renovveis, seu

    destino e o comprometimento de sua extrao sem o devido critrio de preservao do meio

    ambiente.

  • 17

    No terceiro e ltimo captulo, foca-se um estudo sobre a extrao do minrio de

    nquel, pela mineradora local, no municpio de Niquelndia (GO) de forma a correlacionar os

    conceitos anteriormente tratados com a problemtica real dos impactos ambientais causados

    na ocupao de espaos.

    vlido afirmar ento que a explorao mineral, nesse sentido, um processo

    que, por conter todas as etapas produtivas desde a extrao da matria prima at o seu

    beneficiamento, causa uma srie de impactos ambientais e sociais.

    Pelo lado econmico, extremamente atraente, pois atinge toda a cadeia produtiva

    regional, dinamiza o comrcio, o setor de servios e aumenta o ganho direto dos municpios,

    com relao aos impostos gerados. Por outro lado, a indstria de minerao, sobretudo as de

    grande porte, temida pela magnitude dos impactos ao meio ambiente gerados em todos os

    processos.

    Embora haja muitos esforos no sentido de minimizao dos impactos ao meio

    ambiente, gerados pelo setor produtivo mineral, principalmente no desenvolvimento de novas

    tecnologias e desenvolvimentos de processos menos degradantes, com relao exposio a

    agentes txicos que prejudicam a sade do trabalhador, poucos estudos e avanos foram

    alcanados at o presente. E nesse sentido que esta pesquisa procura avanar.

    O procedimento metodolgico escolhido ser o estudo de caso da contaminao

    dos empregados da Usina de extrao de nquel, por amnia e materiais pesados. Nesta

    anlise, mostramos, dentro da metodologia de pesquisa geogrfica, as etapas percorridas

    atravs do mtodo indutivo o qual parte da observao de alguns fenmenos particulares e

    possibilita chegar-se ao geral com uma concluso mais ampla.

    Afirma-se que somente atravs do referencial terico tornou-se foi possvel

    identificar e conceituar o objeto da pesquisa. Nas provas documentais foi levantada a

    descrio quantitativa dos casos de contaminao por Amnia e Materiais Pesados de mais

    de 400 empregados da empresa de minerao, sendo que apresenta-se uma amostragem de

    150 trabalhadores. Neste estudo, tomou-se por base os aspectos tericos e as reflexes das

    normas que visam proteo do meio ambiente e disciplinam as atividades mineradoras.

  • 18

    2 O CAPITAL E A APROPRIAO DO MEIO

    As sociedades cresceram e deixaram marcas profundas no ambiente, to logo

    tiveram a capacidade e a oportunidade de aproveitar os recursos naturais e intervir nos

    processos naturais.Assim os humanos transformaram a natureza atravs do trabalho e

    comearam a perder a sua identidade como seres terrenos, como comente (Morin,e

    Kern,1995) perderam a conexo com o Planeta Terra.

    [...] As relaes econmicas entre produtores e consumidores foram substitudas aos poucos por mltiplos escales de intermedirios os quais

    iniciaram o processo de acumulao de capital, originando um novo sistema

    de desenvolvimento: capitalismo. (OLIVEIRA, 2006, p. 156).

    Com este novo meio de produo, alguns desses produtores passaram a ser donos

    de seu prprio negcio, houve um aumento populacional e com isto o interesse de produzir

    excedentes em escala, cada vez maior, devido exigncia dos consumidores.Ocorreram

    mudanas quantitativas na relao do ser humano com a natureza, assim como, uma

    transformao nas relaes dos seres humanos entre si.

    imprescindvel apontar que a indstria, desde o incio, utiliza os recursos

    naturais, assume parte do processo de degradao, imprimindo um ritmo conveniente para si e

    confia ao Planeta Terra a reconstruo desta matria-prima transformada e a ltima etapa do

    processo de decomposio, que a transformao dos resduos industriais. Deste modo, a

    finalidade de evitar a escassez e a saturao dos recursos naturais fica prejudicada, porque a

    velocidade de regenerao da natureza menor que a de consumo e produo de resduos

    (OLIVEIRA, 2006).

    importante destacar que a natureza ficou prejudicada com o processo de

    industrializao, pois a renovao de sua matria- prima no se processa com a rapidez em

    que consumido, e a recuperao dos ecossistemas torna-se obsoleta devido ao acmulo de

    resduos que lhes causam a poluio, ocasionando o desequilbrio ao meio ambiente e uma

    enorme degradao, impactos estes sem precedentes na Terra (OLIVEIRA, 2006).

    Nesta era industrial, caracterizada por uma economia capitalista, na qual se produz

    excedente e acumulao de capital, atravs de mais valia gerada pelo trabalho operrio e pela

    apropriao privada dos recursos naturais, uma nica norma prevalece: a de obter maior lucro

  • 19

    em menor tempo possvel. Neste sistema, repartem-se socialmente os custos dos danos

    ambientais e so apropriados, privadamente, benefcios da explorao da natureza e do

    trabalho humano. Este processo foi e continua sendo acompanhado pela urbanizao

    acelerada e desordenada, principalmente nos pases pobres (OLIVEIRA, 2006).

    Paralelamente, a proposta capitalista tem contribudo para tornar os homens

    desiguais, pois usa como regra a produo em larga escala, sem se incomodar em consumir

    mais recursos. O que importa desenvolver tcnicas mais poderosas, ainda que estas tcnicas

    lancem mais gases e resduos de matrias no reciclveis nos processos naturais, no se

    importando se estas substncias so txicas, radioativas ou no.

    Sendo assim, o modo de produo capitalista origina-se de leis e condies que

    derivam de uma formao social que se complementa pelas condies de desenvolvimento,

    pelos ajustes ao meio geogrfico e pela histria cultural de cada grupo social. A discusso

    dessas concepes traz em seu bojo uma compreenso de como o Capital foi se apropriando e

    modificando a natureza, a ecologia e as regies por onde passava. (MARX, 2000)

    Para entendermos como o capitalismo vem desde o incio do mercantilismo 2 se

    apropriando do meio de produo, necessrio retroceder na histria e analisar como os

    produtores se transformaram em assalariados, quais foram os meios empregados para que os

    capitalistas se tornassem os grandes incentivadores das novas conquistas e descobertas e

    como eles se aproveitaram das colnias para aumentarem rapidamente o acmulo de capital.

    (MARX, 2000).

    No incio, a economia feudal tinha uma maior harmonia com o ambiente, a

    produo era pequena, pois produziam praticamente para a subsistncia dos feudos e poucos

    eram os artesos que vendiam sua produo nas vilas prximas. Mas quando a mercadoria

    deixou de ser o material de troca, uma vez que a Europa comeou a ter acesso a novos

    produtos trazidos de mercados distantes, o metal passou a representar o material de troca.

    (MARX, 2000).

    Este novo mercado passou a exigir maior renda dos proprietrios dos Feudos para

    que estes tivessem acesso a novas luxurias. Foi nesse momento, como comenta Marx,(2000)

    que os pequenos produtores comearam a ser pressionados pelos senhores feudais. O aumento

    do preo da l no mercado tambm influenciou, principalmente na Inglaterra, a expulso dos

    produtores da terra.

    2 O mercantilismo no um sistema econmico, mas uma doutrina,cujo conjuntos de prticas econmicas o

    acumulo de riqueza.Para o mercantilismo o objetivo principal o fortalecimento do Estado. A Nao mais rica

    aquela que tem maior quantidade de ouro e prata acumulada Havia um incentivo muito grande aos

    manufaturados para a exportao, o que enriquecia a burguesia.

  • 20

    Para que vingasse o sistema capitalista, o meio de produo foi arrancado dos

    produtores sem que estes tivessem a possibilidade de reclamar. Como salienta Marx (2000),

    os prprios lavradores eram empregados para exercer as funes de quando eram

    proprietrios, sendo assim, a ordem econmica capitalista saiu das entranhas da ordem

    econmica feudal.

    Dessa maneira, o movimento histrico transforma produtores em assalariados e a

    partir deste momento histrico apareceram os servos. Muito embora se considere que a

    produo capitalista j existia em algumas cidades do Mediterrneo, Marx (2000) considera

    que o sistema capitalista teve inicio no sculo XVI.

    Dentro de uma perspectiva marxista (especialmente dos antroplogos

    neomarxistas), as culturas tradicionais esto associadas a modos de produo pr-capitalistas,

    prprios de sociedades em que o trabalho ainda no se tornou mercadoria, quando h grande

    dependncia dos recursos naturais e dos ciclos da natureza em que a dependncia do mercado

    j existe, mas no total.

    Para tanto, essas sociedades desenvolvem formas particulares de manejo dos

    recursos naturais que no visam diretamente o lucro, mas reproduo social e cultural.

    Desenvolvem tambm percepes e representaes em relao ao mundo natural marcadas

    pela ideia de associao com a natureza e dependncia de seus ciclos, culturas tradicionais,

    que nesta perspectiva, so as que se desenvolvem dentro do modo de produo da pequena

    produo mercantil (DIEGUES, 2004).

    Segundo o prprio Diegues (2004) diferente o modo de produo capitalista em

    que as associaes usam a prpria natureza como mercadoria, pois no s a fora de trabalho

    no modo de produo capitalista objeto de compra e venda, mas tambm a prpria natureza.

    O capitalismo transformou o sistema social e com ele apareceu, na Europa, um grande

    nmero de mendigos, ladres e vagabundos. (antigos produtores do sistema feudal). Foi a

    expropriao dos camponeses e sua transformao em assalariados, segundo Marx (2000),

    que aniquilou a indstria domstica.

    s a grande indstria que, por meio das mquinas, funda a explorao agrcola capitalista sobre a base permanente, que faz expropriar radicalmente

    a imensa maioria da populao rural e consuma a separao entre a

    agricultura e a indstria domstica dos campos, extirpando as razes desta. (MARX, 2000, p. 75).

  • 21

    Como ressalta Marx (2000), foi aps o aparecimento das mquinas que a

    agricultura capitalista, alm de destruir a natureza com maior rapidez, expulsa rapidamente o

    homem do campo, separando definitivamente a agricultura domstica da industrial.

    A Companhia das ndias Orientais, segundo Marx (2000), alm de conseguir o

    poder poltico, tinha exclusividade no comrcio de ch e o transporte das mercadorias da

    Europa para a sia e da sia para a Europa, sendo que cabotagem e a navegao entre as

    ilhas eram feitas pelos empregados superiores da Companhia, e o Governo Geral tomava parte

    neste comrcio privado.

    Os favoritos do Governo obtinham privilgios tais que, mais fortes que os

    alquimistas, faziam ouro do nada. Grandes fortunas brotaram em vinte e quatro horas como

    cogumelos; a acumulao primitiva operava-se sem antecipar um centavo. A navegao e o

    comrcio tiveram um grande desenvolvimento no regime colonial, o que fez com que

    nascessem as sociedades mercantis, dotadas pelos governos de monoplios e de privilgios

    que serviram de poderosas alavancas concentrao de capitais.

    Com as descobertas das minas de ouro e prata nas Amricas no sculo XVI, as

    Metrpoles passaram por um perodo novo de adaptao, visto que, com essas descobertas,

    havia uma exigncia premente do aumento da produo para abastecer as colnias. Palacin

    (1972) ressalta que a produo vinha das propriedades dos arrendatrios e dos capitalistas, as

    quais subiram rapidamente de preo. O valor das mesmas passou a ser cobrado, no mais em

    moeda da poca, mas em metais preciosos. Semelhantemente, o produto agrcola, pela larga

    procura, aumentou de preo, como a lgica do capital, e assim os arrendatrios e os

    capitalistas aumentaram rapidamente os seus capitais.

    Mas nem por isso os assalariados foram beneficiados, pois com o aumento da

    procura, surgiram as indstrias com produo em larga escala, fazendo com que o campo se

    tornasse acessrio.

    A explorao dos povos colonizados, a escravido de ndios e negros contribuiu

    para que a Europa acumulasse rapidamente o capital. Como descreve Palacin (1981), o regime

    de monoplio permitia que a Metrpole fixasse o preo baixo para o produtor que s podia

    exportar seus produtos por seu intermdio.(PALACIN, 1981, p. 37).

    No incio do sistema colonial, o Brasil enviava para Portugal pau-brasil, acar,

    fumo, algodo e outros produtos tropicais; em troca recebia produtos produzidos ou

    manufaturados e ainda, os produtos importados por Portugal. S que, para a Colnia atingir a

    produo e atender a Metrpole, necessitava mo de obra, o que favoreceu a escravizao, em

    princpio, dos ndios. (PALACIN, 1981).

  • 22

    Se considerarmos as despesas da Coroa com o Brasil Colnia entender-se- que os

    valores percebidos pelo contrato de dzimos para o pagamento das folhas eclesisticas, civil e

    militar no era suficiente. Mas, se levarmos em conta outros impostos que o governo recebia,

    aqui, com o comrcio do acar e do monoplio do pau-brasil, a situao se inverte, afinal,

    no era atravs da tributao direta ou indireta que se processava a grande transferncia de

    lucros do Brasil para a Metrpole (PALACIN, 1981).

    Os fretes e os juros dos emprstimos, a mediao no comrcio do acar e a

    continua repartio de capitais significava um fluxo subterrneo, mas contnuo, que vivificava

    a economia portuguesa. Como se pode notar pela citao de Palacin (1981), a Coroa

    Portuguesa teve grandes lucros, enquanto manteve o monoplio sobre o Brasil.

    2.1 Capital e meio ambiente

    O objeto de estudo geogrfico o espao terrestre. A geografia a cincia do

    espao, pois fornece ao homem uma imagem instantnea do mundo. Segundo Santos

    (1986, p. 120), impossvel examinar os atuais fenmenos espaciais fora do contexto de

    tempo e de periodizao histrica. O estudo da organizao espao e em escala ampla

    mundial. A dimenso histrica ou temporal assim necessria para se ir alm do nvel de

    anlise ecolgica e corogrfica. Assim, o sistema novo se condiciona ao anterior. Quando

    tratamos de espao como categoria universal e permanente, quem permite defini-los so os

    progressos filosficos, a cada momento e diferentemente. No sendo exatas as cincias

    naturais, os fenmenos chamados naturais em cada momento histrico so diferentes.

    Antigamente, segundo a Histria da Filosofia e a viso aristotlica, o espao e o

    tempo eram harmnicos. J a viso cartesiana compreendeu o espao como absoluto. Kant

    passa a v-lo como transcendental, portanto inapreensvel em si. Deste modo, a filosofia

    marca a sua passagem para a cincia do espao.

    [...] E quanto ao espao como categoria histrica a prpria significao dos objetos, do seu contedo e das relaes entre eles que muda com a histria. Feuerbach dizia que o mundo social ao derredor de ns no uma coisa dada para toda a eternidade Na realidade todos os caminhos se cruzam e o conhecimento do espao como categoria universal se inclui no

    conhecimento do espao como categoria histrica e vice-versa. A interao

    entre leis universais e comportamento histrico, portanto, individualizados, contribui para a elaborao, seno de uma definio, ao menos de um

  • 23

    conceito de espao que, sendo operacional, no o menos filosfico.

    (SANTOS, 1986, p. 121).

    Como afirma o autor, o espao uma categoria permanente, mas no decorrer do

    tempo assumiu

    uma espcie de realidade prpria da mesma maneira e no mesmo processo global que a mercadoria, o dinheiro, o capital, mas de modo distinto.A partir

    da o espao social deixa de se confundir com o espao mental, (definido

    pelos filsofos e pelos matemticos) e com o espao fsico (definido pelo prtico-sensvel e pela percepo da natureza), ele revela sua especificidade. (LEFEBVRE, 2006, p. 27).

    Segundo Sposito (2004), o espao coisificado como objeto social e

    complementa Lefebvre dizendo que essa ao do pensamento condiz afirmao anterior e

    pe em questo a prpria base ontolgica do espao, porque ora ele coisificado como objeto

    social. Na sua constituio como conceito.

    Para Santos (1986) e Sposito (2004), o espao fato social uma realidade objetiva

    e se impe ao indivduo, como resultado histrico, mas uma coisa sua objetividade e outra

    sua percepo social. Os autores percebem o espao como um objetivo social, fato social e

    uma instncia social. Nos anos 1970, Milton Santos e Lefbvre ( 2006) fundamentam a

    transformao da concepo de espao segundo a teoria marxista. Sposito ressalta que

    Importante lembrar que a implantao do calendrio gregoriano (sculo

    XVI, mais precisamente 1582) possibilitou o domnio do tempo dos outros

    porque o uso do relgio tornou-se disseminado. Deslocado o tempo da produo do tempo csmico, quando as pessoas passaram a produzir dentro das edificaes e no dependiam mais nem da luz natural nem das estaes

    do ano, ele foi capturado pelas relaes capitalistas de produo e teve,

    posteriormente, papel decisivo na compreenso do espao. (SPOSITO, 2004, p. 95).

    O calendrio e o relgio fizeram com que o homem tivesse seu espao limitado e

    periodizado, sendo assim tambm deve ser visto como mercadoria, conforme Santos (1986),

    pois o espao o resultado da acumulao do trabalho da sociedade global.

    Na anlise de Santos (1986), os estudos geogrficos consideram todo o espao,

    independente de sua dimenso como sistema. Haveria, assim, uma hierarquia entre os

    diferentes espaos, o que ajudaria a explicao de localizaes e as polaridades apud Fre

    Luckermann, o gegrafo deve conceber os pontos da terra como partes de um sistema

    relacionando uns com os outros, segundo diferentes nveis de interao. (ABLER, ADAMS

    GOULD, 1971, p. 54). Mas, segundo o autor, o fato gerador na anlise de sistema faz parte da

    definio de elemento utilizada por David Harvey (1969), isto , uma unidade de base do

  • 24

    sistema que de um ponto de vista matemtico no tem definio. Assim, diz o mesmo autor, a

    anlise matemtica dos sistemas pode ser feita sem que se precise levar em considerao a

    natureza dos elementos.

    Santos (1986) considera o sistema complexo sendo que o mesmo se define por um

    mdulo, uma periferia e a energia mediante a qual as caractersticas localizadas no centro

    conseguem projetar-se em uma periferia que ser ento modificada por elas.

    Sob essa tica, pode-se entender as articulaes do espao e reconhecer a sua

    natureza. Santos (1986) explica que isto possibilita a cada poro de terra ter uma definio.

    As localizaes correspondentes a cada sistema espacial aparecem como resultado de um jogo

    de relaes; a anlise ser tanto mais rigorosas quantos forem capazes de escapar s

    confrontaes entre variveis simples que, na maioria das vezes, levam s anlises causais ou

    a relaes de causa e efeito que isolam artificialmente certas variveis, e impedem de

    abranger a totalidade das interaes.

    Fica claro que o sistema espacial sempre substitudo por outro, j que a

    projeo de vrios sistemas. Assim possibilita uma interpretao mais cuidada e mais

    sistemtica das sobrevivncias e das filiaes. Conforme ensina Santos (1986), h como

    encontrar deste modo uma fcil soluo para as relaes entre a atualidade e o passado, se

    estudssemos o limitado quadro de cada varivel fora do seu padro de limitao. Assim,

    possvel analisar as diferentes idades, suas variveis suas vivncias e filiaes.

    Com nova dimenso, sabemos agora que o espao pode ser limitado, mas devemos levar em conta que a anlise no est circunscrita a escala geogrfica esta ultrapassa a escala natural considerando suas variveis em relao a sistemas de um nvel superior. Desigual em sua acelerao o espao um verdadeiro campo de fora. Diante desta perspectiva que se entende o porqu no idntica em todos os lugares evoluo espacial

    (SANTOS, 1996, p. 58).

    Como a nova tendncia da geografia considerar o espao em termos de

    ecossistemas, a geografia regional se interessa pelas interrelaes entre os dados da natureza e

    as sociedades humanas. Santos (1986) [...] entende que a ecologia humana ocupa-se de formas

    de adaptao do homem aos diferentes meios e s realizaes materiais que da decorrem.

    A geografia regional leva em conta a regio em que os grupos sociais se

    relacionam com a natureza, pois o homem modifica a regio onde vive. Sendo assim, Claval

    entende que

    A noo de ecossistema devia permitir a incorporao concomitante

    anlise espacial dos subsistemas histricos e dos subsistemas naturais,

  • 25

    isto na medida em que, de um lado, as condies naturais so

    sutilizadas de formas diferentes pelas sociedades humanas em cada

    perodo histrico e, do outro, pela prpria natureza que transformada

    pelo homem; isto medida que a histria se desenrola, os grupos

    humanos sucessivos se relacionam a um quadro natural j modificado.

    (CLAVAL, 1970, p.111 apud SANTOS, 1986, p. 58-59).

    Claval, no texto supra citado, vai alm das perspectivas possibilistas onde as

    relaes sociais e as relaes com o meio constituem um sistema. Completando a ideia de

    Claval,(1970), Leff (2007, p. 84) diz que a estrutura funcional de um ecossistema, a

    distribuio territorial de solos, climas e espcies, bem como a dinmica de seus ciclos

    naturais condicionam as prticas sociais e os processos produtivos das comunidades.Como

    devemos reconhecer e avaliar as prticas tradicionais das culturas sobre os manejos de seus

    recursos, faz-se necessrio entender diversas disciplinas, tais como botnica, ecologia,

    lingustica e tcnica, para compreender seu processo de constituio e desaparecimento.

    Para apreender e resolver os problemas ambientais concretos foi necessrio

    avaliar o que se conhecia e o que se desconhecia sobre as diferentes disciplinas. Os avanos

    metodolgicos e tcnicos que incorporaram muitas disciplinas, como economia, ecologia e

    geografia entre outras, que contriburam para a instrumentao de polticas alternativas de

    organizao social produtiva (LEFF, 2007, p. 84).

    Problemas ambientais gerados pela economia mostraram claramente a

    insustentabilidade da ecologia, j que, como ensina Santos (1986, p.59) h dificuldades em

    delimitar a rea a totalidade dos fenmenos econmicos, sociais ou polticos que a

    concernem ,mas cuja escala de ao ultrapassa a do lugar de sua manifestao aparente ou

    fsica. Isto fez com que a tcnica, atravs de outras disciplinas buscasse entender as relaes

    entre a natureza e a dinmica de seus ciclos, bem como a sociedade humana e suas tradies.

    Somente assim possvel direcionar as prticas sociais de acordo com os avanos das novas

    tecnologias institucionalizadas pelas polticas sociais, buscando amenizar os problemas

    ambientais, para enfrentar os desafios da sustentabilidade.

  • 26

    2.2 A Conscientizao ambiental

    O processo histrico no qual surge a cincia moderna e a Revoluo Industrial

    reconhecido como o causador dos principais problemas ambientais. Este processo deu lugar

    compartimentalizao da realidade em campos disciplinares confinados, com o propsito de

    incrementar a eficcia do saber cientfico e a cadeia tecnolgica de produo (BERNAL

    apud LEFF 2007,). Buscou-se reintegrar esse mtodo de conhecimento disperso, a partir

    desta premissa, num campo unificado do saber. Desta forma, a anlise da questo ambiental

    exigiu uma viso sistmica e um pensamento holstico para a reconstituio de uma realidade

    total Leff (2007, p. 62). Compreende-se, ento, que as prticas interdisciplinares foram

    propostas a partir de um projeto para pensar e estabelecer estes mtodos.

    Aps o fracionamento do conhecimento para a especializao, coube penetrar

    mais eficazmente no conhecimento da coisa, num processo de simplificao do que, na

    realidade, gerou sua complexidade. Como salienta Leff (2007, p. 170), com o propsito de

    reorientar o conhecimento surgiu a interdisciplinaridade com o propsito da unificao da

    unidade para solucionar os problemas complexos gerados pela homogeneizao forada que

    induz racionalidade econmico-tcnica dominante.

    Novos mtodos interdisciplinares se fazem necessrios para a compreenso da

    Complexidade dos sistemas socioeconmicos e para que a conhecimento seja democratizado

    tendo como base uma gesto sustentvel do potencial ambiental, que gerou uma viso

    mecanicista da realidade,deslocando o conhecimento quantitativo, unitrio e matematizado

    das cincias para paradigmas heursticos mais abrangentesmuito mais arraigados no interesse

    social e prximos do mundo que vivemos (LEFF, 2006, p. 2004).

    Com isso, obteve-se um mtodo capaz de trazer olhares desatentos aos gostos das

    disciplinas da realidade homognea, eliminando-se, assim, as divises estabelecidas dos

    territrios cientficos e cancelando o espao prprio de seus objetos de conhecimento, para

    reconstruir um mundo unitrio.

    As perspectivas do desenvolvimento sustentado e a economia, no levam em

    conta os limites fsicos, as condies ecolgicas, os constrangimentos sociais e os sentidos

    culturais que constituem as condies ambientais da sustentabilidade. A nica coisa que resta

    neste processo econmico neoliberalista retardar o colapso do sistema atravs de seus

  • 27

    programas de conservao da biodiversidade , da matria e da energia [...]. (LEFF, 2006, p.

    2005).

    O homem atravs da industrializao em massa franqueou um novo limiar nas relaes com o ecossistema global, com a biosfera. A poluio e a

    degradao do ambiente tornaram-se um fato (sic) de civilizao, adquirindo

    uma dimenso planetria aps a Segunda Guerra Mundial. Assim a constituio, dum espao produtivo mundial tem como corolrio a

    unificao ecolgica mundial. (DELAGE, 1993, p. 23).

    Sob essa tica, tem-se que a evoluo global da natureza violentada pela nossa

    espcie, desestabiliza a cadeia alimentar e dizima as espcies animais e vegetais, com a

    introduo de venenos e resduos radioativos que permanecem na natureza por milnios.

    O grande aviso de alerta ou algo errado que estava acontecendo com o

    desenvolvimento da sociedade humana ocorreu em meados do sculo XIX. Foi a obra de

    Thomas Robert Malthus que chamou a ateno do mundo e trouxe uma viso apocalptica do

    futuro pela primeira vez, apoiada na lgica, com uma percepo muito pouco clara de

    contradies entre o desequilibro de crescimento populacional e dos meios de subsistncia

    alimentar (LAGO, 1991).

    No sculo XX ressurge o Fantasma de Malthus. Se, por um lado, o

    neomalthusianismo representa uma pea da montagem da conscincia ecolgica, por outro,

    sua repulso, na mesma poca, indicou que o grande debate teria de ser adiado, conforme

    interpreta (LAGO, 1991).

    Um dos mais importantes acontecimentos para a ecologia foi a publicao da obra

    de Carson (1962) intitulada Silent Spring, em portugus, Primavera Silenciosa. Nesta

    obra, como comenta Grinevald (1993), a autora menciona os ataques mais violentos da

    indstria qumica e o movimento ambientalista que nascia, em parte, graas a este livro-

    bomba que qualificava os pesticidas como biovida.

    A obra de Carson desperta a opinio pblica para a realidade, porquanto situa as

    pessoas num quadro ecolgico, aproximando-as da natureza, e mostra claramente que grande

    parte das pessoas ingere alimentos com uma dose de veneno, todos os dias. Portanto, essa

    transferncia intrincada do mecanismo alimentar continua desafiando os pesquisadores at

    hoje.

    Aps o processo da Revoluo Industrial e da colonizao mental e material do

    mundo, exercida pelos europeus, aconteceu uma ruptura entre homem e natureza e suas

    representaes, at ento concebidas. O homem se sentiu como a autoridade mxima sob a

    biosfera. (Grinevald, 1993, p. 35). A conscincia ecolgica veio se impor atravs de uma

  • 28

    crtica cientfica naturalista e de uma crtica social que se pe contrria ao sofrimento

    postergado s vtimas desses dois processos, atravs de duas correntes: a naturalista (cujo

    centro era a natureza) e a humanista (centrada na proteo dos seres humanos).

    Nas sociedades europias do sculo XIX, reconhece-se a necessidade duma

    compreenso global da evoluo da natureza com o intuito de alargar e aumentar a eficcia da explorao, ao mesmo tempo, que se garante a

    perenidade dos recursos. A primeira conscincia ecolgica naturalista nasce

    dessa preocupao e traduz por uma conscincia protecionista (sic) que se exprime por registros bastante diferentes na Velha Europa e nos continentes

    recentemente colonizados. (DELAGE, 1993, p. 36).

    vlido ressaltar que nos Estados Unidos tem mais fora a proteo da natureza

    selvagem, fonte inesgotvel de energia vital para o povo americano [...]. Grinevald (1993,

    p. 36), o que a garantiu continuamente nao e aos seus interesses econmicos. Isso se deve

    a que os americanos sempre se preocuparam com a criao de parques: em 1872 foram

    criados os parques de Yellowstone e o das Cataratas do Nigara; em 1885 foi criado o parque

    de Yosemite. Desse modo esse povo conseguiu o contato com a natureza selvagem que tanto

    apreciavam.

    A partir do sculo XX teve incio a fsica moderna, introdutria de tendncias

    revolucionrias no pensamento cientfico. Uma delas foi a teoria especial da relatividade

    criada por Albert Einstein, um novo modo de interpretar a radiao eletromagntica,

    caracterstica da teoria quntica, posteriormente criada por uma equipe de fsicos, de acordo

    com Capra (1981, p. 70). Estranha e inesperada realidade que mudou a viso do mundo dos

    cientistas ao se depararem com o mundo atmico e subatmico. Em contraste coma

    concepo mecanicista cartesiana, que surge a partir da fsica moderna, a fsica moderna pode

    ser caracterizada como orgnica, holstica e ecolgica, podendo tambm ser conhecida como

    viso sistemtica, no sentido da teoria dos sistemas.

    O universo deixa de ser visto como uma mquina, composta de uma

    infinidade de objetos, para ser descrito como um todo dinmico, indivisvel, cujas partes esto essencialmente inter-relacionadas e s podem ser

    entendidas como modelos de um processo csmico. (CAPRA, 1981, p.72).

    Na verdade, com esta viso integrada descrita por Capra (1981), o homem se

    sente mais prximo do cosmo e, sendo parte desse sistema, torna-se mais senhor de si mesmo.

    Os ensinamentos dos msticos orientais passaram a interessar a um grupo maior de pessoas e a

    meditao passou a ser encarada seriamente pela comunidade cientfica.

  • 29

    A concepo do universo como uma rede interligada de relaes um dos

    dois temas tratados com maior freqncia na fsica moderna. O outro tema

    a compreenso de que a rede csmica intrinsecamente dinmica. O aspecto dinmico da matria manifesta-se na teoria quntica, como consequncia da

    natureza ondulatria das partculas subtnicas e ainda mais central na teoria

    da relatividade, a qual mostrou que o ser da matria no pode ser separado

    de sua atividade. [...] (CAPRA, 1981, p. 82).

    Neste mundo, as partculas esto presas s estruturas molecular, atmica e

    nuclear Capra,( 1981 p.82) . Esto sempre em movimento, nunca em repouso. Assim, so

    representados, na fsica quntica, os objetos no meio ambiente, interligando seus tomos em

    enormes estruturas moleculares as quais vibram em conformidade com a temperatura em

    harmonia com as vibraes trmicas do meio ambiente.

    Devido ao crescimento tecnolgico excessivo, temos enfrentado vrios problemas

    ambientais nos quais a vida fsica e mental tornou-se doentia, devido ao excesso de poluio

    de todos os modos: do ar, os rudos, os poluentes qumicos, risco de radiao etc. Na dcada

    de 70, o mundo tomou conscincia da escassez global de combustveis fsseis alm do

    declnio inevitvel de fontes convencionais. Isto fez com que os pases industrializados

    buscassem outras fontes de energia, fazendo campanhas a favor da energia nuclear, j que,

    segundo eles, a energia solar era invivel naquele momento. (CAPRA, 1981, p. 230)

    A tecnologia nuclear no pode ser analisada somente no aspecto de produo de

    energia, pois agregadas a ela esto s armas nucleares e a reatores nucleares. Tanto Capra

    (1981), quanto Grinevald (1993) concordam em seus pontos de vista sobre o uso da

    tecnologia em seus diferentes aspectos: [...] o prprio termo nuclear power tem dois

    significados vinculados. Power,alm do significado tcnico de fonte de energia, possui o

    sentido mais geral de posse de controle ou influncia sobre outros.CAPRA, 1981, p. 231).)

    Todavia, o homem da sociedade industrializada somente analisou e conheceu o

    seu poder de destruio quando as primeiras armas nucleares foram utilizadas sobre as

    populaes civis. Nesse momento, houve a conscientizao sobre o efeito causado pela

    Bomba da Hiroshima, de 1945, e sobre a capacidade de destruio que a prpria humanidade

    tem nas mos. A Bomba de Hiroshima e a interveno Americana no Vietn so consideradas

    momentos de conscientizao ecolgica. A guerra do Vietn (1970) mostra a revolta dos

    povos colonizados que se ope aos abusos de poder como pelos furtos praticados pelas

    potncias dominantes, que retiram sem autorizao os recursos naturais dos pases dominados.

    (DELEAG, 1993, p. 40).

    A ameaa de guerra nuclear o maior perigo do mundo com que a

    humanidade hoje se defronta, mas no absolutamente o nico. Enquanto as

  • 30

    potncias militares ampliam seu arsenal letal de armas nucleares, o mundo

    industrial atarefa-se na construo igualmente perigosa de usinas nucleares

    que ameaam extinguir a vida em nosso planeta. H 25 anos, lderes mundiais decidiram usar os chamados tomos para a paz e apresentaram a energia nuclear como fonte energtica do futuro confivel, limpa e

    barata.Hoje estamos nos tornando, de forma irremedivel, conscientes de

    que a energia nuclear no segura, nem limpa e nem barata. [...] Os elementos radiativos liberados por reatores nucleares so exatamente os

    mesmos que caem sobre a Terra aps a exploso de bombas atmicas. [...]

    (CAPRA, 1981, p. 20).

    Dentro dessa linha de raciocnio, cabe aqui um exemplo real, pois o mundo acaba

    de assistir extasiado o que o autor acima preconiza. A exploso do complexo nuclear de

    Fukushima, no Japo, o pior desastre ocorrido depois do derretimento de um dos reatores da

    usina de Chernobyl, na Ucrnia, em 1986. Gurovitz (2011)3. Aps um terremoto de 9 na

    escala Richter e um Tsunami que se abateram sobre a costa nordeste do Japo. Os seis

    reatores da usina j deixaram escapar radiaes que comprometeram grande parte do territrio

    japons, inclusive o mar que o cerca, e colocou em alerta vrios pases. O desastre que

    provocou a morte de 15.000, pessoas, milhares de desaparecido e 34.000 refugiados, ainda

    no foi totalmente controlado, aps um ano do fato. Relatos mostram que os tcnicos no

    conseguiram medir com exatido os riscos do reator. A limpeza da planta nuclear pode

    demorar cerca de 40 anos, conforme as previses4 (Revista Veja, 2012).

    Os cientistas j chamavam a ateno para os problemas nucleares, aps a

    catstrofe de 1986 em Chernobyl. A energia nuclear representa perigo para a populao e para

    o ambiente desde a mina at ao armazenamento do resduo.

    Qualquer reator em funcionamento normal lana substncias radiativas:

    gasosas, atravs da chamin; liquidas nos cursos de gua ou no mar; slidas,

    que so acondicionadas no prprio local e enviadas para um local de

    armazenamento ou tratamento. (SEN, 1993, p. 98).

    A autora Sen (1993) j chamava a ateno para o perigo existente no resduo

    radioativo produzido nas diversas usinas em funcionamento normal, alm do que, chamava a

    ateno para o risco de acidente, que poderiam ocorrer a qualquer momento. Deixava ainda

    seu alerta para os problemas que o sculo XXI teria que enfrentar com estes resduos. Fazia

    um prognstico quando afirmava que o ser humano corria srios riscos de uma catstrofe

    ecolgicas com efeitos imprevisveis.

    3 GUROVITZ, H. Revista poca, maro 2011

    4

  • 31

    2.3 O Capitalismo e o meio ambiente

    Por sugesto do industrial italiano Aurlio Pecci, foi criado, em abril de 1968, o

    Clube de Roma, uma associao informal constituda em Roma, por pesquisadores originrios

    de vrios pases e de diversas reas de conhecimento. Esta associao tinha como objetivo

    despertar nos povos e em seus governantes a ateno para problemas mundiais de ordem

    econmica, poltica natural e social, uma vez que estes fatores so interdependentes.

    (GRINEVALD, 1993)

    Essa sociedade defendia as idias preservacionistas. Assim, o Cube de Roma

    elaborou em1972 um estudo com resultados que escandalizaram o mundo, pois o que ali fora

    descrito era demasiadamente evidente. O Relatrio Meadows, como fora chamado em

    homenagem aos seus redatores, o casal Donella e Denis Mendows, mostrava que um mundo

    finito, como a nossa biosfera, impe limitaes fsicas e ecolgicas ao crescimento

    bioeconmico da humanidade Grinevald (1993, p. 38). Este estudo desenvolvido pelo Clube

    de Roma teve grande repercusso tanto no meio cientfico como no meio econmico.

    [...] Pecci e seus colegas do Clube de Roma tiveram como objetivo definir

    uma problemtica mundial e dela retirar lies prticas a fim de reconciliar o

    desenvolvimento com o ambiente. Graas metodologia sistmica forjada

    pelo professor Jay Forrester e com a ajuda do computador, o Relatrio Meadows propunha um primeiro modelo de Mundo, tanto mais convincente,

    quanto extrema era a sua simplificao. (GRINEVALD, 1993, p. 38).

    O Relatrio mostrou, claramente, como o crescimento demogrfico e

    industrializao poderiam ocasionar um esgotamento dos recursos naturais e um aumento

    desordenado da poluio, corroborando uma derrocada do ecossistema mundial. preciso,

    ento, obedecer aos ciclos naturais para manter a estabilidade, entretanto, as atividades

    econmicas, na nsia de obter cada vez maior lucro esto comprometendo e desestabilizando

    o planeta.

    Este documento escandalizou o mundo e foi muito criticado pela Indstria e pelos

    economistas, mas trouxe um dos primeiros alertas sobre o que estava acontecendo. Isto fez

    com que os cidados se mobilizassem, sendo assim, fundaram um movimento ecolgico.

    Primeiro campo de batalha travado entre cidados e a conscincia ambiental dos

    intelectuais foi a Conferncia de Estocolmo. Em 1968, as Naes Unidas decidiram pela

  • 32

    realizao da Conferncia que deveria ser realizada quatro anos depois em Estocolmo, na

    Sucia. Esta foi realizada em 1972 e submeteu um plano de luta contra vrios tipos de

    poluio e proteo natureza; tambm props desenvolver um plano de ao contra o

    subdesenvolvimento e transferir recursos tcnicos e financeiros para o Terceiro Mundo.

    Paralelamente conferncia oficial, muitos jovens reunidos lanaram a palavra

    de ordem do ecologismo: A nossa Terra nica. (DELAGE, 1993, p. 40). Esta conferncia

    foi um marco nas deliberaes sobre o meio ambiente e no engajamento das ONGs

    ambientalistas na ONU, despertando a conscincia internacional e levando a criao do

    Programa das Naes Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA), sediado em Nairobi.

    (VIEIRA, 2001, p. 132).

    No ano de 1973 ocorreram alteraes na estrutura da economia internacional com

    rebelio dos pases produtores de petrleo, sendo que estes no concordaram com os preos

    impostos pelos importadores aos seus produtos.

    [...] Se nos anos 1970 a crise ambiental tornou necessrio que se colocasse

    um freio antes do colapso ecolgico fosse alcanado, a partir dos anos 1980

    o discurso neoliberal anunciou a desapario da contradio entre ambiente e crescimento. Os mecanismos de mercado so postulados como o meio mais

    correto de assimilao das condies ecolgicas e dos valores culturais ao

    processo de crescimento econmico. (LEFF, 2006, p. 139).

    Desse modo, o Brasil que, a partir de 1972, comea a pensar na proteo de seu

    meio ambiente, v-se vinculado, nos anos 1980, aos problemas de organizao do poder e da

    propriedade na sociedade. A crise ambiental no mais um efeito da acumulao de capital,

    mas resultado do fato de no haver outorgado direitos de propriedade (privada) e atribudo

    valores (de mercado) aos bens comuns. Leff (2006, p. 139).

    Infelizmente, o Brasil nega as condies ecolgicas e termodinmicas, promove o

    crescimento econmico pautado num discurso sustentvel o qual promete ajustar o

    desequilbrio e as diferenas sociais, a equidade e a sustentabilidade, e assim por diante. Em

    1981 sanciona a Lei 6.938 que reza a Poltica Nacional do Meio Ambiente (PNMA) que prev

    a proteo ambiental (BRASIL, 1981).

    Com o fim da Ditadura Militar, e incio de um novo governo republicano, a Lei

    votada pelos Constituintes eleitos, a Nova Constituio da Repblica Federativa do Brasil, em

    1988, a qual contou para sua elaborao com movimentos populares, ONGs, sociedades civis,

    etc. Esta Constituio foi considerada, pelo mundo, uma das mais inovadoras em matria de

    meio ambiente, pois destacou em seu texto um captulo exclusivo proteo ambiental.

  • 33

    O Brasil saiu, ento, de um perodo difcil e ainda caminhava com dificuldades

    financeiras. Logo, teve que enfrentar um novo problema oriundo da crise mundial: o ritmo de

    desenvolvimento sofreu com maior ou menor intensidade neste ou naquele pas; a inflao, o

    endividamento externo, a recesso econmica e o desemprego foram fatos que amainaram o

    protesto ecolgico.

    [...] O desenvolvimento do capitalismo mundial, a partir da guerra, encontra

    a sua razo de ser numa explorao da natureza sem precedentes. certo que

    a instaurao do capitalismo teria sido impossvel sema destruio macia dos recursos naturais, dos solos, das espcies animais e vegetais, sem a

    introduo de venenos de longa durao nas cadeias alimentares, sem o

    consumo frentico de combustveis fsseis, responsvel pela alterao global

    da atmosfera e, talvez, pelas mudanas climatricas (sic) globais. Sem uma acumulao em massa em cidades, desmesuradas, com um desprezo total

    pela sade mental e fsica das pessoas, no teria havido capitalismo. [...]

    (DELAGE, 1993, p. 42).

    Sendo assim, o capitalismo criou fora e se fixou entre ns, ainda que ficassem

    relegados, a segundo plano, a natureza e os problemas de ordem social do planeta.

    Com os estudos aprofundados dos cientistas constatou-se que apesar do

    desenvolvimento material da humanidade, tambm era extrema de misria a vida de pelo menos trs quartos da populao. Mas esta no era a situao do

    planeta como um todo, mas de alguns pases menos industrializados, pois

    nos pases dominantes a situao era de esbanjamento dos recursos comuns.

    (DELAGE, 1993, p. 43).

    Nesse momento, fica evidente o quanto o planeta Terra j apresentava os

    primeiros sinais da degradao dos biomas, em conseqncia das mudanas climticas.

    Em 1983 a Assemblia Geral da ONU decidiu formar uma Comisso, ento

    presidida pela norueguesa Gro Brundtland, a fim de examinar os grandes problemas planetrios do meio ambiente e do desenvolvimento e de formular

    proposies realistas para solucion-las. O relatrio final desta Comisso

    publicado em 1987, chamado de Relatrio Brundtland, ficou conhecido mundialmente pelo nome de nosso futuro comum [...]. (MINARDI, 2010, p. 20).

    Sendo assim, o Relatrio Brundtland foi o primeiro documento a introduzir o

    termo desenvolvimento sustentvel, hoje to conhecido entre ns, com a preservao do meio

    em que vivemos. O referido documento foi utilizado pela ONU nas diretrizes da preservao

    ambiental.

    Diante desse quadro alarmante, a ecologia, em sua discusso poltica, fez um

    esforo para pensar em novos termos no somente em relao natureza, como tambm para

    repensar as relaes sociais injustas e as novas regras polticas mais humanas. Vinte anos aps

  • 34

    a Conferncia de Estocolmo, foi realizada a segunda Conferncia Mundial, no Rio de Janeiro,

    em 1992, que abordou novos desafios para o prximo sculo. Na Rio-92, como ficou

    conhecida, os pases industrializados mostraram sua possibilidade de aproximarem-se dos

    povos do Sul. As Organizaes no Governamentais (ONGs) debateram um desenvolvimento

    sustentvel, visando preservao da biosfera.

    Na realidade, as chamadas Organizaes no Governamentais (ONGs) tm

    causado um impacto na Organizao das Naes Unidas (ONU) onde ao longo dos anos

    ganharam papel consultivo agncia e fundos das Naes Unidas [...].(VIEIRA, 2001). O

    Conselho Econmico e Social (ECOSOC) um rgo internacional da ONU, composto por

    54 membros, que coordena o trabalho internacional na esfera social e econmica

    [...].(VIEIRA, 2001, p.115-128).

    Essas ONGs foram reconhecidas, faz muito tempo, pela sua luta pela paz e pela

    justia internacional, uma vez que so peas essenciais para reivindicarem junto aos governos

    e exigir deles aes mais conscientes a nvel nacional e internacional.

    As diversas formas de participao na ONU ocorrem hoje em vrias

    instncias: agncias, relaes com o PNUMA, conferncias globais, reunies internacionais e negociaes intergovernamentais que se do sob os

    auspcios da ONU. Talvez o rgo mais importante, pelo seu carter regular,

    seja a Comisso para o Desenvolvimento Sustentvel, rgo dentro do ECOSOC encarregado de monitorar a implementao da Agenda 21

    aprovada na Conferncia Rio-92 (UNCED).

    Da Rio-92 saiu Agenda 21 que estabeleceu os objetivos de uma nova e justa

    parceria global com a cooperao dos Estados, os setores-chaves da sociedade e os

    indivduos. Reconheceram a natureza e a interdependncia da Terra e proclamaram 27

    princpios, visando concluir o acordo internacional que buscou proteger a integridade do

    sistema global do meio ambiente e o desenvolvimento.

    Houve nesta Conferncia uma constatao da crise, um alerta de conscientizao

    ecolgica e de um clamor pela mudana civilizacional em busca do respeito ao ser humano e

    as diversas culturas, tendo em vista que o futuro est intimamente ligado a biosfera.

    Os movimentos ecolgicos alertaram para os rendimentos decrescente da

    agricultura intensiva, o perigo da destruio total da espcie e de um crescimento exponencial

    de consumo, num mundo de recursos finitos. Estas informaes trouxeram a tona as

    dificuldades da biosfera em reciclar indefinidamente os detritos produzidos pelo ser humano

    (DELAGE, 1993, p. 45).

  • 35

    2.4 A ecologia, os ecossistemas e o meio ambiente

    A conscincia ecolgica veio trazer duas vises de natureza distintas: a primeira

    neutra, onde a natureza ilimitada podendo ser dominada vontade, a segunda restrita, onde

    interagem dois fenmenos: o mundo vivo e seu ambiente e o mundo das relaes entre a

    natureza e a sociedade (DELAGE, 1993, p. 45).

    Silva (2007) tece comentrios relativos ao tema em foco. Em 1869, o alemo

    Enerst Haeckel criou o termo Ecologia. Segundo ele, ecologia o estudo das coisas vivas. A

    palavra ecologia deriva do grego oikos, com o sentido de casa ou lugar onde vivemos e

    logos, que significa estudo, cincia. O estudo do ambiente da casa ou habitat inclui,

    desta forma, todos os organismos nela contidos, todos os processos funcionais que a tornam

    habitvel, ou a cincia que estuda as relaes ambientais.

    Essa a realidade que constitui o objeto desta cincia, que a seguinte

    definio de Roger Dajoz denota com exatido: A Ecologia a cincia que estuda as condies de existncia dos seres vivos e as interaes, de qualquer

    natureza, existentes entre esses entre esses seres vivos e seu meio (SILVA,

    2007, p. 837).

    Analisando a etimologia da palavra temos: e.co.lo.gi.a sf. Parte da biologia que

    estuda as relaes dos organismos com o meio ambiente5. A definio de Ecologia

    apresentada por Odum (1963) biologia de grupos de organismos, estudo da estrutura e da

    funo da Natureza. Ecologia a cincia que pode responder s questes sobre como a

    natureza se estrutura, funciona e muda ao longo do tempo (POLETTI, 2001, p. 9-10).

    Tornou-se popular a palavra ecologia e adquiriu importncia crescente, sendo um

    dos acontecimentos mais expressivos das ltimas dcadas, reflexo do sintoma da crise

    homem/natureza. Esta palavra, como ensina Silva (2007, p. 837),deriva do grego oicos (casa)

    e logos (estudo, cincia), que reunidos, significam algo como estudo ou cincia do habitat

    estuda as relaes em dado ambiente entre seres vivos e o meio.

    Contudo, como ressalta Silva, os ambientalistas no esto usando a palavra como

    conhecimento sistematizado que descreve as relaes e interaes entre seres vivos e o meio.

    5 Dados obtidos no Mini Dicionrio da Lngua Portuguesa Melhoramentos, 1992.

  • 36

    Quando se apela pela defesa da ecologia, no a cincia que se quer proteger, o que se espera

    a proteo, a defesa, da qualidade das relaes e interaes ambiental.

    A ecologia como teoria geral dos sistemas no se torna revolucionria por seu enfoque integrador e por sua vontade de totalidade, alm disso, a

    ecologia se generalizou e estendeu-se at os domnios da histria da ordem simblica social -, desconhecendo o carter especfico da natureza humana as relaes de poder, os interesses sociais, o desejo humano, a organizao

    cultural, a racionalidade econmica que no podem subsumir-se em uma ordem ecolgica genrica e generalizada. (LEFF, 2006, p. 92).

    Sob essa tica, pode-se conceituar o ambiente como uma complexa estrutura

    sociolgica que integra bases ecolgicas de sustentabilidade. No entanto, na tentativa de se

    conseguir um desenvolvimento econmico-social harmnico, no esto sendo medidos

    esforos no sentido de conciliar o homem com a natureza, alis, ignora-se a preservao das

    condies bsicas e sustentao dos recursos renovveis bem como a conservao de suas

    funes ecolgicas.

    Nossa maior necessidade criar um interesse geral do ser humano que possa unificar a humanidade como um todo [...] no existe a mais remota

    possibilidade de [uma sociedade ecolgica livre] possa ser alcanada hoje, a

    menos que a humanidade seja livre para todos (Bookchin,1989:171-170).

    Hoje em dia, o avano da pobreza extrema no mundo, assim como a desigualdade econmica esto longe de confirmar a transio para uma

    sociedade onde a abundncia esteja disponvel para todos[...]. (LEFF, 2006,

    p. 117).

    Conforme o entendimento das palavras de Leff, torna-se imprescindvel descobrir

    a Terra-Ptria a Terra-sistema, a Terra Gaia, a biosfera, o lugar da Terra no Cosmo

    conhecimentos estes que s tero sentido se estiverem unidos, pois caso estejam separados

    no faro qualquer sentido, j que a Terra um planeta fsico, composto da biosfera e da

    humanidade (MORIN, 1995).

    [...] A Terra uma totalidade complexa fsica/biolgica/antropolgica, na

    qual a vida uma emergncia da histria da Terra e o homem uma emergncia da histria da vida terrestre. A relao do homem com a natureza

    no pode ser concebida de forma redutora nem de forma separada.[...].

    (MORIN, 1995, p.167).

    Surgem, assim, diversos conceitos tcnicos ou cientficos de meio ambiente. De

    acordo com Poletti e Cavedon (2001), os ecossistemas consistem de vrios componentes

    vivos (biticos) e no-vivos (abiticos). Os componentes no-vivos ou abiticos incluem

    vrios fatores fsicos e qumicos, dos quais so exemplos a luz solar, a precipitao (chuva), o

  • 37

    vento, a temperatura, o tipo de terreno e a gua corrente. Os maiores fatores qumicos

    compreendem os elementos nutrientes e compostos da atmosfera, que so requisitos para a

    sobrevivncia, crescimento e reproduo dos organismos no meio em que vive. A biosfera

    constituda de um mosaico de ecossistemas.

    A expresso, meio ambiente, por sua vez, hoje largamente utilizada, tanto no

    seio da sociedade brasileira, como da legislao e dos tcnicos, superando at a expresso

    ecologia. J o termo ambiente tem origem latina (ambientens, entis): que nos rodeia. Entre

    outros significados, ambiente significa meio em que vivemos. 6. Autores portugueses

    acentuam que a expresso meio ambiente, embora seja bem sonante, no , contudo, a mais

    correta, isto porque envolve em si mesma um pleonasmo. O que acontece que ambiente e

    meio so sinnimos, porque meio precisamente aquilo que envolve, ou seja, o

    ambiente. (MACHADO, 1998).

    De acordo com o entendimento de Fiorillo e Rodrigues (1997), muito embora a

    expresso meio ambiente tenha sido entendida como a interao de elementos naturais,

    artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida do homem,a

    expresso como observa alguns autores, constitui um pleonasmo, porque meio e ambiente

    so sinnimos.

    Todavia em que pese redundncia, a prpria Constituio Federal de 1988

    utilizou a expresso Meio Ambiente em seu artigo 225.

    Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

    Pblico e a coletividade o dever de defend-lo e preserva-lo para s

    presentes e futuras geraes.(BRASIL, 1988).

    Para Minardi (2010, p. 20), no Brasil, o conceito de meio ambiente abrolhou com a Lei 6.938 de 31 08.1981, que dispe sobre a Poltica

    Nacional do Meio Ambiente, em seuartigo 3. Para os fins previstos na Lei Constitucional, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que

    permite, obriga e rege a vida em todas as suas formas; [...] (BRASIL, 1981).

    Outras acepes vm procurando conceitu-lo de forma mais abrangente. Para

    Silva (1995, p. 2-3), meio ambiente a interao do conjunto de elementos naturais,

    artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas

    formas. Desse modo, entende-se que a integrao busca assim uma concepo unitria, do

    ambiente, compreensiva de recursos naturais e culturais.

    6 Segundo informaes obtidas no Dicionrio da Grolier, 1980.

  • 38

    O objetivo de tutela jurdica no tanto o meio ambiente considerado nos

    seus elementos constitutivos. O que o Direito visa a proteger a qualidade do meio ambiente, em funo da qualidade de vida. Pode-se dizer que h

    dois objetos de tutela, no caso: um mediato- que a qualidade do meio

    ambiente e outro mediato que a sade, o bem estar e a segurana da populao. (SILVA, 2006, p. 836, grifos do autor).

    Trata-se de conceitos jurdicos indeterminados que foram colocados

    propositalmente pelo legislador, visando criao de um espao positivo de incidncia na

    norma, com o propsito de permitir inserir, nestes espaos, outros conceitos, que poderiam ser

    rejeitados caso houvesse espaos negativos.

    Ainda que, segundo ressalta Silva, o meio ambiente proteja a sade do

    trabalhador, com o que tambm concorda Fiorillo e Rodrigues (1997), quando se posicionam

    a respeito de meio ambiente e suas classificaes, eles no procuram divises, mas o que

    realmente se busca uma maior verificao da atividade degradante e do bem agredido.

    Segundo os autores supramencionados, o meio ambiente apresenta pelo menos

    quatro divises que so: natural; cultural; artificial; do trabalho. O meio ambiente natural ou

    fsico formado pelo solo, a gua, o ar atmosfrico, a fauna e a flora, ou seja, pelos

    fenmenos homeostase caracterizados por todos os elementos responsveis pelo equilbrio

    dinmico entre os seres vivos e o seu habitat natural.

    Esse bem tutelado pela Constituio Federal/88 em seu artigo 225, caput, 1, I

    e VII. Art.225 (...)

    1 Para assegurar a efetividade deste direito incumbe ao Poder Pblico: I-preservar e restaurar os processos ecolgicos essenciais e promover o

    manejo ecolgico das espcies e ecossistemas;

    VII proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as prticas que coloquem em risco sua funo ecolgica, provoquem a extino de espcies

    ou submetam animais crueldade. (BRASIL, 1988).

    Permeando o texto constitucional, o meio ambiente encontra-se mediante vrias

    referncias explcitas ou implcitas, sendo que as mesmas se mostram claramente ao

    pesquisador, no texto. O meio ambiente cultural, como relata Silva (1995) aquele integrado

    pelo patrimnio histrico, artstico, arqueolgico, paisagstico, turstico, que embora artificial

    em regra, como obra do homem, difere do anterior (que tambm cultural) pelo sentido de

    valor especial.

    O artigo 216 do texto Constituio Federal define este conceito:

  • 39

    Constituem patrimnio cultural brasileiro os bens de natureza material e

    imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia

    identidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem:

    I-as formas de expresso; II- os modos de criar, fazer e viver; III- as criaes

    cientficas, artsticas e tecnolgicas; IV- as obras, objetos,documentos,

    edificaes e demais espaos destinados s manifestaes artstico-culturais;V- os conjuntos urbanos, e stios de valor histrico, paisagstico,

    artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico. (BRASIL,

    1988).

    Assim, para Silva (1997) e Mancuso (1996), meio ambiente compreendido

    como o bem que compe e traduz a cultura do povo. Meio ambiente artificial aquele

    composto pelo espao urbano construdo, logo as edificaes como espao urbano fechado e

    dos equipamentos pblicos, espaos urbanos abertos, meio ambiente do trabalho, nada mais

    do que o habitat laboral, isto , tudo que envolve e condiciona, direta e indiretamente, o

    local onde o homem obtm os meios para prover, o quanto necessrio, a sua sobrevivncia e

    desenvolvimento, em equilbrio com o ecossistema.

    A Constituio Federal em seu artigo 23, VI e II, aponta para a proteo do meio

    ambiente e da sade. Logo, como salienta Rocha (2002, p. 195), partindo dessa premissa de

    que meio ambiente compreende o meio ambiente do trabalho, e de que a sade inclui a sade

    do trabalhador, o poder pblico, sem exceo, deve proteger o meio ambiente do trabalho e

    cuidar da sade dos trabalhadores.

    A Lei Federal estende o termo ambiente tambm proteo da sade do

    trabalhador, em seu art. 200, VIII, quando determina que cabe ao Sistema nico de Sade a

    proteo ao meio ambiente e o trabalho.Como ressalta Fiorillo e Rodrigues (1997, p. 66),o

    que se procura salvaguardar , pois, o homem trabalhador, enquanto ser vivo, das formas de

    degradao e poluio do meio ambiente onde exerce o seu labuto, que essencial sua

    qualidade de vida. Trata-se, pois, de direito difuso.Fica claro, ento, que o trabalhador no

    fica restrito nem ao limite da fbrica, nem a relao obrigacional, tendo-se em vista a

    essencial qualidade de vida da massa trabalhadora.

    Sendo assim, no se pode negar que a legislao nacional buscou proteger a

    segurana e a medicina do trabalho como aspectos importantes do Direito do Trabalho, assim

    como a Organizao Internacional do Trabalho (OIT) fixou diretrizes internacionais para que

    tais regras fossem cumpridas pelos pases que ratificaram este tratado. Foi pensando na sade

    da massa trabalhadora que, como salienta Miriardi (2010)

    [...] o Brasil ratificou o Protocolo Adicional Conveno Internacional sobre Direitos Humanos em Matria de Direitos Econmicos, Sociais e

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    Culturais (Protocolo de San Salvador), de 17.11.1988, onde garante

    condies justas e satisfatrias de trabalho, devendo ser observada pelos

    pases signatrios a proteo segurana e higiene no trabalho (art. 7)

    da Constituio de 1988. (MIRIARDI, 2010, p., 24-25, grifos do autor).

    A agenda 21, fruto da Conferncia Internacional de 1992, j observava claramente

    a preocupao do pas com a proteo da sade do trabalhador e a preocupao com o meio

    ambien