consumidor - agravo de instrumento 2013.019260-2

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Foi mantida a decisão liminar que proíbe as empresas de construção civil associadas aos sindicatos das empresas de construção, venda e compra de imóveis da região de Blumenau (Secovi e Sinduscon) de realizarem vendas ou publicidade de empreendimentos sem o número do registro imobiliário da respectiva incorporação do empreendimento no cartório de Registro de Imóveis. Os sindicalizados devem, ainda, avisar nos anúncios de "pré-lançamento" que se trata exclusivamente de divulgação de empreendimento futuro.

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Page 1: Consumidor - Agravo de instrumento 2013.019260-2

Agravo de Instrumento nº 2013.019260-2, de BlumenauRelator: Des. Gilberto Gomes de Oliveira

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERLOCUTÓRIO QUE FIXOUMULTA AOS ASSOCIADOS DOS SINDICATOS DEMANDADOSQUE DIVULGAREM EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS SEMMENCIONAR O RESPECTIVO REGISTRO.

PRELIMINAR ARGUIDA EM CONTRARRAZÕES A FIM DEVER O RECURSO NÃO CONHECIDO. AUSÊNCIA DEDIALETICIDADE COM A DECISÃO COMBATIDA NÃOCONSTATADA.

Ainda que expostos de maneira sucinta os argumentos doinsurgente na peça recursal, de se ter por confrontado ointerlocutório combatido, de modo que não há falar em ausênciade dialeticidade recursal.

PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE AFASTADAS.Nos termos dos arts. 81 e 82 do Código de Defesa do

Consumidor, o Ministério Público possui legitimidade paradefender os interesses e direitos dos consumidores e, portanto,para ajuizar ação civil pública.

Nos termos do art. 107 do Código de Defesa do Consumidor,aos entes representativos de determinada categoria, tais como ossindicatos, é reconhecida a sua capacidade para atuar na defesados interesses econômicos-consumeristas da classe querepresentam, de modo que fica reconhecida, amparado nas suasfunções previstas no próprio estatuto social, a sua letigimidadepassiva.

ARGUIÇÃO DE QUE A DECISÃO AFETA TERCEIROS QUENÃO COMPÕEM A LIDE NÃO RECONHECIDA.

O cumprimento da obrigação foi imposto, apenas, aosassociados dos sindicatos demandados e a multa foi fixadaapenas ao empresário ou sociedade empresária sindicalizada,não atingindo terceiros.

ALEGAÇÃO DE QUE A DETERMINAÇÃO IMPOSTA AOSSINDICALIZADOS INTERFERE NA AUTONOMIA SINDICALGARANTIDA PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL TESEAFASTADA.

A imposição do cumprimento da legislação vigente não podeser utilizada como motivo para pleitear a reforma da decisão.Além disso, empresas ou empresários que não são associadostambém estão sujeitos às penalizações legais e ao controle doMinistério Público ou do Procon que, ao que tudo indica, estão

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fiscalizando arduamente na comarca de origem a publicidadeirregular dos empreendimentos imobiliários.

MINORAÇÃO DA MULTA FIXADA. PLEITO GENÉRICO.AUSÊNCIA DE DEMAIS ELEMENTOS PARA AMPARAR OPLEITO. VALOR MANTIDO.

Cabe ao recorrente trazer os motivos pelos quais entende sercabível a redução pleiteada. A mera menção de que a multadeveria ser reduzida não é suficiente para determinar a suaminoração.

FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA PRESENTES.DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº.2013.019260-2, da comarca de Blumenau (1ª Vara da Fazenda Acidentes do Trab eReg Público), em que é agravante Sindicato das Empresas de Compra VendaLocação e Administração de Imóveis e dos Edifícios em Condomínios Residenciais eComerciais - Região Blumenau - SC - SECOVI, e agravado Ministério Público doEstado de Santa Catarina:

A Segunda Câmara de Direito Civil decidiu, por votação unânime, negarprovimento ao recurso, nos termos do voto do relator. Custas legais.

O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo Exmo. Sr. Des.Trindade dos Santos, com voto, e dele participou o Exmo. Sr. Des. João Batista GóesUlysséa.

Florianópolis, 27 de fevereiro de 2014.

Gilberto Gomes de OliveiraRELATOR

Gabinete Des. Gilberto Gomes de Oliveira 05

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RELATÓRIO

Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administraçãode Imóveis e dos Edifícios em Condomínios Residenciais e Comerciais de Blumenau -Secovi interpôs agravo de instrumento da decisão proferida em ação civil públicamovida pelo Ministério Público do Estado de Santa Catarina contra a aqui agravantee, também, contra o Sindicato da Indústria da Construção de Blumenau - Sinduscon,a qual:

A) proibiu os associados dos sindicatos demandados de veicular toda equalquer oferta de imóveis desprovida da expressa referência aos números doempreendimento no Registro de Imóveis respectivo, sob pena de multa no valorequivalente ao percentual de 20% do valor total do empreendimento objeto dapublicidade irregular;

B) proibiu os associados dos sindicatos demandados de realizar ofertapublicitária antecipada, chamada de pré-venda, sob qualquer forma, em relação aosimóveis não registrados, sob pena de multa no valor equivalente ao percentual de20% do valor total do empreendimento objeto da publicidade irregular;

C) determinou que os sindicalizados façam constar nos anúncios depré-lançamento que se trata exclusivamente de divulgação de empreendimentofuturo, reservando a fração mínima de 10% do espaço onde restar veiculada adivulgação, sob pena de multa de R$ 100.000,00 por empreendimento;

D) fixou multa de R$ 100.000,00 para cada empresário ou sociedadeempresária que auferir proveito econômico em decorrência da divulgação irregular deempreendimentos imobiliários e, por fim;

E) inverteu o ônus da prova.O sindicato agravante arguiu, inicialmente, ilegitimidade de parte.

Asseverou que o Ministério Público não possui legitimidade ativa para atuar no caso etambém levantou a sua ilegitimidade passiva. Disse, que, seja pela lei, seja pelo seuestatuto, não pode impor aos seus associados o cumprimento da decisão, tampoucofiscalizá-la. Acrescentou que essas prerrogativas pertencem ao Conselho Regionaldos Corretores de Imóveis - Creci.

Afirmou que a reforma da decisão é necessária, pois a medida atingeterceiros que sequer estão representados nos autos; alegou que poderá perder todosos seus associados caso seja compelida a cumprir a decisão, a qual interfere naautonomia sindical prevista no art. 8º, inciso I, da Constituição Federal; e, pugnou,ainda, pela minoração da multa arbitrada.

Ao final, requereu fosse concedido o efeito suspensivo ativo.Contrarrazões às fls. 85/87.A Desa. Cláudia Lambert de Faria indeferiu o efeito suspensivo (fls.

130/135).Foram ofertadas contrarrazões (fls. 85/87 e 142).A douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se pelo não

conhecimento do agravo (fls. 146/149).

Gabinete Des. Gilberto Gomes de Oliveira 05

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Este é o relatório.Decido.

Gabinete Des. Gilberto Gomes de Oliveira 05

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VOTO

Cuida-se de agravo de instrumento interposto contra a decisão proferidaem ação civil pública que, em síntese, fixou multa aos sindicalizados que divulgaremempreendimentos imobiliários sem fazer menção ao respectivo registro imobiliário daedificação.

Inicialmente, registro que, no parecer ministerial apresentado, oProcurador de Justiça pugnou pelo não conhecimento do recurso com base no incisoII do art. 524 do CPC, pois, no entendimento do Parquet, não há dialeticidade entre osargumentos apresentados no recurso interposto com os fundamentos expostos nadecisão exarada.

Sem razão o representante do Ministério Público.O sindicato agravante arguiu preliminar de ilegitimidade de parte, a qual

pode ser analisada em qualquer momento e grau de jurisdição, pois constitui matériade ordem pública, bem como trouxe outros argumentos, os quais, ainda que expostosde forma sucinta, são suficientes para confrontar o interlocutório combatido.

Dito isso, passo à análise do recurso.1. Legitimidade ativa do Ministério PúblicoNas razões recursais, o sindicato agravante asseverou que o Ministério

Público não detém legitimidade para mover a ação civil pública pois, ao contrário doque expressado na decisão combatida, o litígio não trata de tutela coletiva de direitosdo consumidor, mais de direitos individuais homogêneos disponíveis e divisíveis.

Pois bem! Destaco, antes de tudo, que o caso em concreto está sendoanalisado com base no diploma consumerista, sem qualquer insurgência das partesacerca disso.

Dessa forma e com base no Código de Defesa do Consumidor, o qualprevê a legitimidade do Ministério Público para defender os interesses e direitos dosconsumidores, adianto que, ao que me parece, nesta fase de cognição sumária, oParquet possui, sim, legitimidade para ajuizar a ação civil pública.

Isso, porque o art. 81 combinado com o art. 82 do referido diplomaconsumerista permite que o Ministério Publico defenda os direitos difusos e coletivosde natureza indivisível, bem como os interesses ou direitos individuais homogêneos.

Considerando o caráter protetivo e preventivo da demanda que buscagarantir a estabilidade das relações comerciais consubstanciadas na compra segurade imóveis pelos consumidores, penso que o interesse tutelado corresponde a umdireito individual homogêneo, já que o direito discutido decorre de uma origem comume a lesão a ser sofrida é individual.

Dessa forma, a legitimidade ativa do Ministério Público para ajuizar aação civil pública em discussão está caracterizada na natureza coletiva da demanda,a qual visa proteger os consumidores de possíveis fraudes na venda de imóveis porparte dos empresários e sociedades empresariais associadas aos sindicatosdemandados.

Analisando casos semelhantes, a jurisprudência do Superior Tribunal de

Gabinete Des. Gilberto Gomes de Oliveira 05

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Justiça não diverge:ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO

ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.LEGITIMIDADE. DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO. CONSUMIDOR. SERVIÇOSDE INTERNET.

1. O objeto da Ação Civil Pública é a defesa dos direitos dos consumidores deterem o serviço de acesso à internet por banda larga (VELOX), a preços uniformesem todo o Estado do Rio de Janeiro.

2. O direito discutido está dentro da órbita jurídica de cada indivíduo, sendodivisível, com titulares determinados e decorrente de uma origem comum, o queconsubstancia direitos individuais homogêneos.

3. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é no sentido da legitimidadedo Ministério Público para 'promover ação civil pública ou coletiva para tutelar, nãoapenas direitos difusos ou coletivos de consumidores, mas também de seus direitosindividuais homogêneos, inclusive quando decorrentes da prestação de serviçospúblicos.

Trata-se de legitimação que decorre, genericamente, dos artigos 127 e 129, IIIda Constituição da República e, especificamente, do artigo 82, I do Código de Defesado Consumidor (Lei 8.078/90)' (Resp 984.005/PE, Rel. Ministro Teori AlbinoZavascki, Primeira Turma, julgado em 13.9.2011, DJe 26.10.2011). Precedentes.

4. Incidência da Súmula 83/STJ.5. Agravo regimental a que se nega provimento.(AgRg no AREsp nº. 209779/RJ, rel. Min. OG Fernandes, j. em 05.11.2003).E:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSUMIDOR.'REESTILIZAÇÃO" DE PRODUTO. VEÍCULO 2006 COMERCIALIZADO COMOMODELO 2007. LANÇAMENTO NO MESMO ANO DE 2006 DE NOVO MODELO2007. CASO "PÁLIO FIRE MODELO 2007'. PRÁTICA COMERCIAL ABUSIVA.PROPAGANDA ENGANOSA. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. ALEGAÇÃO DEREESTILIZAÇÃO LÍCITA AFASTADA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO.DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO NOACÓRDÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROCEDENTE.

[...]2.- O Ministério Público tem legitimidade processual para a propositura de Ação

Civil Pública objetivando a defesa de direitos individuais homogêneos, de origemcomum (CDC, art. 81, III), o que se configura, no caso, de modo que legitimado, apropor, contra a fabricante, Ação Civil Pública em prol de consumidores lesados porprática comercial abusiva e propaganda enganosa.

(Resp nº. 1342899/RS, rel. Min. Sidnei Beneti, j. em 20.08.2013).Por tais razões, afasto a preliminar aventada.2. Legitimidade passiva do sindicato agravanteNas razões do presente recurso, o Secovi alegou que, entre as suas

funções previstas no estatuto, não está prevista a de impor aos seus associados, ocumprimento de qualquer obrigação, muito menos o da decisão exarada, tampoucopossui os instrumentos necessários para fiscalizar a execução da medida liminar.

Na decisão agravada, a legitimidade passiva do sindicato agravante foireconhecida porque, no entendimento do magistrado a quo, o sindicato possui "a

Gabinete Des. Gilberto Gomes de Oliveira 05

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prerrogativa de representar os interesses gerais das categorias econômicas que lheintegram, inclusive perante o Poder Judiciário" (fl. 15).

Pois bem! Na exordial da ação civil pública, o Ministério Públicoesclareceu que os sindicatos demandados deverão responder a demanda naqualidade de substitutos processuais porque a pretensão veiculada com a demandahá de ser obtida com a responsabilização dos entes membros desses sindicatos.

Isso, porque, nos termos do artigo 107 do Código de Defesa doConsumidor, aos entes representativos de determinada categoria, tais como ossindicatos, é reconhecida a sua capacidade para atuar na defesa dos interesseseconômicos-consumeristas da classe que representam.

Nas contrarrazões ao recurso interposto, o Ministério Público asseverouque a fiscalização ao cumprimento da liminar será realizada pelo Procon e assinalouque o pagamento da multa será devido por cada associado dos sindicatosdemandados que descumprir a ordem.

Além disso, conforme assinalado na decisão agravada, o estatuto socialdo Secovi prevê no seu art 1º, parágrafo único, alínea "a", a prerrogativa do sindicatode promover, representar, defender e proteger os direitos e interesses coletivos ouindividuais da categoria, bem como o art. 4º do mesmo estatuto estabelece que édever do associado acatar as deliberações do sindicato (fl. 14).

Feitas essas observações, há que ser reconhecida, pelo menos nestemomento, a legitimidade passiva do sindicato agravante para defender os interessesda categoria que representa.

Afinal, como bem observado pela Desa. Cláudia Lambert de Faria, oentendimento desta Corte "é no sentido de que os sindicatos possuem legitimidadepara defender os interesses de seus associados e, portanto, podem configurar comoparte em ações judiciais" (fl. 133).

Corroborando este entendimento, colhe-se alguns julgados:AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE COBRANÇA DE HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS. ALEGAÇÃO DE ILEGITIMIDADE PASSIVA DO AGRAVADO NÃOACOLHIDA. SINDICATO ATUANTE COMO SUBSTITUTO PROCESSUAL.CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO VISLUMBRADO. DECISÃO MONOCRÁTICAMANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.

Os Sindicatos têm legitimidade para representarem seus filiados em juízo, sejaem ações coletivas ou mandamentais, pela substituição processual, semnecessidade de autorização expressa ou da relação nominal dos substituídos (STJ -AgRg no Ag 934400/RS, rel. Min. Jorge Mussi, j. 18.3.2008) (AC nº. 2009.022362-9,relª. Desa. Sônia Maria Schmitz, j. 9.8.2010).

(AI n. 2010.063135-6, Sexta Câmara de Direito Civil, rel. Des. Stanley da SilvaBraga, j. em 08.09.2011).

E:APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. DEMANDA AJUIZADA PELO

SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE ABDON BATISTAOBJETIVANDO A ANÁLISE DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS PREVISTAS NOSAJUSTES CELEBRADOS ENTRE O BANCO E SEUS SINDICALIZADOS.SENTENÇA QUE EXTINGUIU A DEMANDA SEM ANÁLISE DO MÉRITO PORILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. APELO DO SINDICATO. SUBSTITUTO

Gabinete Des. Gilberto Gomes de Oliveira 05

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PROCESSUAL. DEFESA DOS INTERESSES DA CATEGORIA. AUTORIZAÇÃOLEGAL. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 8º, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 6º DOCÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, 3º DA LEI N. 8.073/90, E DO ART. 81, III, DOCÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. NÃO DEMONSTRADA A ORIGEMCOMUM DA CONTRATAÇÃO REALIZADA PELOS FILIADOS E A SUA LIGAÇÃOCOM O INTERESSE DA CATEGORIA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOSAUTORIZADORES DA SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. ILEGITIMIDADE ATIVACONFIGURADA. RECURSO DESPROVIDO.

'As entidades sindicais detêm legitimidade ativa para demandar em juízo atutela de direitos subjetivos individuais dos integrantes da categoria, desde que setratem de direitos homogêneos e que guardem relação de pertencialidade com osfins institucionais do Sindicato demandante', que, nesses casos, se opera mediantesubstituição processual, diante da interpretação conjunta dos arts. 8º, III, daConstituição Federal, 6º do Código de Processo Civil, 3º da Lei n.º 8.073/90, e do art.81, III, do Código de Defesa do Consumidor.

Todavia, não obstante essa autorização legal, mister que o Sindicatodemonstre que o direito pleiteado decorre de uma origem comum e está diretamenteligado aos fins institucionais consagrados no seu estatuto social, porquanto alegitimação conferida é pertinente à proteção da categoria que ele representa e, não,a direitos heterogêneos de seus filiados.

(Apelação Cível nº. 2003.014446-3, Terceira Câmara de Direito Comercial, rel.Des. Paulo Roberto Camargo Costa, j. em 12.03.2009).

Por tais razões, afasto a preliminar arguida.3. Efeitos da decisão em relação a terceirosO sindicato agravante asseverou que a decisão afeta terceiros que não

fazem parte da lide e, em razão disso, deveria ser reformada.Sem razão.Isso, porque o magistrado a quo foi bem claro no interlocutório ao

determinar o cumprimento da obrigação apenas aos associados dos sindicatosdemandados, bem como fixar multa apenas ao empresário ou sociedade empresáriasindicalizada.

4. Intervenção na organização sindicalNo que tange à alegação de que o interlocutório interfere na autonomia

sindical em desobediência ao artigo 8º, inciso I, da Constituição Federal, pois osassociados não teriam mais interesse em continuar sindicalizados, adianto que a tesenão prospera.

Ainda que do ponto de vista objetivo ela seja coerente, pois a multa foiaplicada apenas aos sindicalizados, penso que a referida arguição, do ponto de vistajurídico, é insensata, pois o sindicato agravante utiliza a observância e o cumprimentodo ordenamento jurídico vigente como motivo para pleitear a reforma da decisão.

Ora, é cediço que nem sempre o legislador acerta em suas prescriçõeslegais, mas, in casu, está-se protegendo o consumidor de possíveis fraudes, como acompra de imóveis que sequer foram ou serão edificados.

Além disso, é válido registrar que as empresas ou empresários que nãosão associados também estão sujeitos as penalizações legais e ao controle doMinistério Público ou do Procon que, ao que tudo indica, estão fiscalizando

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arduamente na comarca de origem a publicidade irregular dos empreendimentosimobiliários.

5. Redução da multa arbitradaQuanto à minoração da multa imposta, o agravante apenas mencionou o

seu desejo de ver reduzido o valor arbitrado sem trazer maiores elementos para queseu pedido fosse atendido, tais como valor do empreendimento, prejuízo dascorretoras e administradoras, etc.

Assim, diante da ausência de elementos fáticos e argumentativos, osquais cabiam a parte recorrente trazer, mantenho os valores arbitrados com base,também, no princípio da confiança no juiz da causa.

6. Requisitos para a concessão da liminar preenchidosE, por fim, é cediço que a concessão de medida liminar requer estejam

presentes o periculum in mora e o fumus boni juris.O magistrado a quo constatou a presença do perigo da demora na

comercialização de unidades que sequer existem, o que aflora a especulaçãoimobiliária.

Em relação a verossimilhança das alegações, disse que ela estácaracterizada na legislação vigente, principalmente nas Leis ns. 4.591/64, 6.530/78 e6.766/79, as quais proíbem a publicidade de empreendimentos imobiliários que nãoestejam registrados no respectivo registro imobiliário, com destaque para para oprevisto no art. 32 da Lei n. 4.591/64, art. 20 da Lei n. 6.530/78 e art. 37 da Lei n.6.766/79, in verbis:

Art. 32. O incorporador somente poderá negociar sobre unidadesautônomas após ter arquivado, no cartório competente de Registro deImóveis, os seguintes documentos:

[...]§ 3º O número do registro referido no § 1º, bem como a indicação

do cartório competente, constará, obrigatoriamente, dos anúncios,impressos, publicações, propostas, contratos, preliminares oudefinitivos, referentes à incorporação, salvo dos anúncios"classificados".

Art 20. Ao Corretor de Imóveis e à pessoa jurídica inscritos nos órgãosde que trata a presente lei é vedado:

[...]V - anunciar imóvel loteado ou em condomínio sem mencionar o

número de registro do loteamento ou da incorporação no Registro deImóveis;

Art. 37. É vedado vender ou prometer vender parcela de loteamento oudesmembramento não registrado.

No recurso interposto, o agravante não combateu os fundamentoslançados pelo magistrado de origem naquilo que se refere aos requisitosautorizadores para a concessão da liminar.

Por isso e considerando o objetivo da ação civil pública movida peloMinistério Público, a qual busca "a proibição das condutas conhecidas como

Gabinete Des. Gilberto Gomes de Oliveira 05

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'pré-vendas', ou seja, a alienação/promessa de unidades imobiliárias antes deefetuados os atos mínimos de constituição da propriedade (registro)" (fl. 35), aliada adivulgação irregulares das empreendimentos imobiliários (fls. 102/127), mantenhoincólume a decisão proferida.

Ante ao exposto, nego provimento ao recurso.Este é o voto.

Gabinete Des. Gilberto Gomes de Oliveira 05