construído em 1888, cartão-postal de campinas é restaurado

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C6 Cidades/Metrópole DOMINGO, 3 DE JUNHO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO SOROCABA Símbolo do período imperial e um dos cartões-postais da cida- de, o prédio D. Pedro II do Insti- tuto Agronômico de Campinas (IAC) está ganhando vida nova. Um minucioso processo de res- tauro deve deixar o edifício cons- truído em 1888 com cara de novo para as comemorações dos 125 anos do instituto, no próximo dia 27. O governo estadual investe R$ 756 mil na obra que resgata o ci- clo do café e uma época de opu- lência da cidade. Projetado por Henrique Florence, em estilo art nouveau, o prédio que viu nascer o IAC passou por reformas e am- pliações, mas mantém a fachada original, com 3,3 mil m². O edifício, que se destaca na paisagem urbana da movimenta- da Avenida Barão de Itapura, foi tombado como patrimônio cul- tural de Campinas e, em seguida, pelo Conselho de Defesa do Pa- trimônio Histórico, Arqueológi- co, Artístico e Turístico do Esta- do (Condephaat). A obra começou em novem- bro. Estão sendo recuperados, além da fachada e do telhado, a pintura e o calçamento externo. Originalmente, o edifício era tér- reo. Em 1909, foi construído o segundo andar para abrigar no- vos setores de pesquisa do IAC. O prédio ainda está em uso e abriga laboratórios da área de so- los. A restauração recupera as formas que o edifício tinha antes de 1968, quando sofreu nova re- forma. O casarão foi construído sem uso de cimento. Para fazer intervenções nas paredes, foi preciso estudar a composição da argamassa da época. As cores ori- ginais de tom amarelo foram re- cuperadas com a retirada de qua- tro camadas de tinta. O restauro segue orientação técnica do Ins- tituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). / JOSÉ MARIA TOMAZELA Construído em 1888, cartão-postal de Campinas é restaurado Em Ilhabela, dois bairros na mira do MP Promotoria quer saber se condomínio de luxo está dentro de parque e pede que 200 moradores de baixa área sejam retirados de morro O secretário municipal de As- suntos Jurídicos de Ilhabela, Luis Henrique Homem Alves, dis- se que a prefeitura não tem recur- sos para atender aos pedidos do Ministério Público sobre o condo- mínio Siriúba 2. O gerente da Sabesp em Ilha- bela, José de Oliveira Paulo, diz que a empresa está fazendo estu- dos para dotar o local de rede de abastecimento de água. “Em 15 dias, esse levantamento estará concluído. Estamos realizando estudos para verificar a viabilida- de e depois vamos discutir quem arcará com os custos.” Sobre a desapropriação do Morro do Cantagalo, a prefeitura informou que ainda não foi notifi- cada sobre a sentença, mas que vai recorrer. “Levantamento feito pela Defesa Civil do Estado mos- trou que o único lugar que tem risco de desabamento em Ilhabe- la é o Morro de Santa Teresa, on- de há casas de alto padrão. Por que o Ministério Público não pro- cedeu da mesma forma lá?", questionou Alves. / R.P. REGINALDO PUPO/AE-25/5/2012 ARQUIVO IAC Reginaldo Pupo ESPECIAL PARA O ESTADO ILHABELA Dois bairros inteiros de Ilhabe- la – um de alto padrão e outro de moradias precárias –, no li- toral norte de São Paulo, estão na mira do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema). O órgão do Ministério Público apura um possível parcelamento de solo e danos ambientais no condomínio de luxo Siriúba 2 e pediu a retirada de 200 mora- dores de baixa renda do Mor- ro do Cantagalo, por conside- rar o local área de risco. O condomínio Siriúba 2, no norte da ilha, tem entre 70 e 80 casas de veraneio estimadas em até R$ 1,5 milhão cada, em uma área de 25,9 mil metros quadra- dos. Erguido em 1980, o bairro não tem rede de abastecimento de água. Por isso, os proprietá- rios tiram água de duas cachoei- ras, sem tratamento. Em quase todas as ruas, é possível ver man- gueiras usadas para a captação espalhadas nas guias e no mato. Também não há rede coletora de esgoto, o que obriga os proprietá- rios a construir fossas. O promotor Matheus Jacob Fialdini, do Gaema, determinou que a prefeitura faça um levanta- mento sobre a situação do con- domínio. O principal objetivo da investigação é apurar se parte do bairro está dentro do Parque Es- tadual da Serra do Mar. Entre ou- tros questionamentos, Fialdini quer saber se há imóveis em áreas de risco. E se é mais viável que as residências sejam regula- rizadas ou demolidas. A prefeitura de Ilhabela consi- dera o condomínio irregular, em- bora os proprietários recebam o carnê do Imposto Predial e Terri- torial Urbano (IPTU) e diversas casas tenham Habite-se. Empre- sários, políticos e artistas têm ca- sa no local, que foi construído pela Imobiliária Siriúba Constru- tora Ltda. A reportagem não con- seguiu localizar nenhum respon- sável para comentar o assunto. Moradora. A diretora comer- cial Patrícia Melo, de 42 anos, de São Paulo, é uma das proprietá- rias que captam água das ca- choeiras. “Não há alternativa, mas utilizo apenas para banho ou para molhar o jardim. Para co- zinhar, uso água mineral, já que a água da cachoeira não é tratada e tem qualidade duvidosa. Quan- do chove, ela chega amarelada às torneiras.” Segundo Patrícia, sua casa foi comprada há sete anos por inter- médio da imobiliária Ilhabela Imóveis, do então prefeito Ma- noel Marcos de Jesus Ferreira (PTB). Na época, ele foi acusado de comercializar unidades no Parque Estadual da Serra do Mar e liberar o Habite-se. Ferreira não foi localizado pela reporta- gem. Na época, ele negou as acu- sações e disse que havia abando- nado suas funções na Ilhabela Imóveis quando assumiu a pre- feitura, em 2001. O corretor de imóveis Marco Henrique da Silva, que represen- tava a imobiliária na época, afir- mou que a empresa foi destituí- da. No entanto, a reportagem fo- tografou terrenos com placas de “vende-se” com o nome da Ilha- bela Imóveis. Silva também nega que a imo- biliária seja responsável pelo condomínio. “Apenas revende- mos algumas unidades por solici- tação de alguns proprietários. Hoje mesmo (sexta-feira),umde- les nos procurou para colocar seu imóvel à venda.” O corretor também negou que alguns lotes do bairro estejam dentro do par- que estadual. Área de risco. Dois quilôme- tros e meio separam o condomí- nio Siriúba 2 dos moradores do Morro do Cantagalo, no centro de Ilhabela. Assim como o condo- mínio de luxo, a comunidade tem visão privilegiada do Canal de São Sebastião. No entanto, tem rede de abastecimento de água, coleta e tratamento de es- goto. Outra diferença é a classe social: ali moram as famílias que trabalham na rede hoteleira, em restaurantes e na prestação de serviços da cidade. Há um mês, por solicitação do Ministério Público, o Tribunal de Justiça do Estado de São Pau- lo determinou a retirada de cer- ca de 200 pessoas do local, por considerá-lo área de risco. A ação tramitava desde 1993. Prefeitura diz que não tem como responder ao MP Em estilo art nouveau, edifício histórico do Instituto Agronômico terá fachada, telhado e calçamento reformados Siriúba 2. Casas de até R$ 1,5 milhão não têm água nem esgoto; abastecimento vem de duas cachoeiras, sem tratamento Fachada original. Prédio resgata opulência do ciclo do café

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C6 Cidades/Metrópole DOMINGO, 3 DE JUNHO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

SOROCABA

Símbolo do período imperial eum dos cartões-postais da cida-de, o prédio D. Pedro II do Insti-tuto Agronômico de Campinas(IAC) está ganhando vida nova.Um minucioso processo de res-tauro deve deixar o edifício cons-truído em 1888 com cara de novopara as comemorações dos 125anos do instituto, no próximodia 27.

O governo estadual investe R$756 mil na obra que resgata o ci-clo do café e uma época de opu-lência da cidade. Projetado porHenrique Florence, em estilo artnouveau, o prédio que viu nascero IAC passou por reformas e am-pliações, mas mantém a fachadaoriginal, com 3,3 mil m².

O edifício, que se destaca napaisagem urbana da movimenta-

da Avenida Barão de Itapura, foitombado como patrimônio cul-tural de Campinas e, em seguida,pelo Conselho de Defesa do Pa-trimônio Histórico, Arqueológi-co, Artístico e Turístico do Esta-do (Condephaat).

A obra começou em novem-bro. Estão sendo recuperados,além da fachada e do telhado, apintura e o calçamento externo.Originalmente, o edifício era tér-reo. Em 1909, foi construído osegundo andar para abrigar no-vos setores de pesquisa do IAC.

O prédio ainda está em uso eabriga laboratórios da área de so-los. A restauração recupera asformas que o edifício tinha antesde 1968, quando sofreu nova re-forma. O casarão foi construídosem uso de cimento. Para fazerintervenções nas paredes, foipreciso estudar a composição daargamassa da época. As cores ori-ginais de tom amarelo foram re-cuperadas com a retirada de qua-tro camadas de tinta. O restaurosegue orientação técnica do Ins-tituto do Patrimônio Histórico eArtístico Nacional (Iphan). /

JOSÉ MARIA TOMAZELA

Construído em 1888,cartão-postal deCampinas é restaurado

Em Ilhabela, dois bairros na mira do MPPromotoria quer saber se condomínio de luxo está dentro de parque e pede que 200 moradores de baixa área sejam retirados de morro

● O secretário municipal de As-suntos Jurídicos de Ilhabela,Luis Henrique Homem Alves, dis-se que a prefeitura não tem recur-sos para atender aos pedidos doMinistério Público sobre o condo-mínio Siriúba 2.

O gerente da Sabesp em Ilha-bela, José de Oliveira Paulo, dizque a empresa está fazendo estu-dos para dotar o local de rede deabastecimento de água. “Em 15dias, esse levantamento estaráconcluído. Estamos realizandoestudos para verificar a viabilida-de e depois vamos discutir quemarcará com os custos.”

Sobre a desapropriação doMorro do Cantagalo, a prefeiturainformou que ainda não foi notifi-cada sobre a sentença, mas quevai recorrer. “Levantamento feitopela Defesa Civil do Estado mos-trou que o único lugar que temrisco de desabamento em Ilhabe-la é o Morro de Santa Teresa, on-de há casas de alto padrão. Porque o Ministério Público não pro-cedeu da mesma forma lá?",questionou Alves. / R.P.

REGINALDO PUPO/AE-25/5/2012

ARQUIVO IAC

Reginaldo PupoESPECIAL PARA O ESTADOILHABELA

Dois bairros inteiros de Ilhabe-la – um de alto padrão e outrode moradias precárias –, no li-toral norte de São Paulo, estãona mira do Grupo de AtuaçãoEspecial de Defesa do MeioAmbiente (Gaema). O órgãodo Ministério Público apuraum possível parcelamento desolo e danos ambientais nocondomínio de luxo Siriúba 2e pediu a retirada de 200 mora-dores de baixa renda do Mor-ro do Cantagalo, por conside-rar o local área de risco.

O condomínio Siriúba 2, nonorte da ilha, tem entre 70 e 80casas de veraneio estimadas ematé R$ 1,5 milhão cada, em umaárea de 25,9 mil metros quadra-dos. Erguido em 1980, o bairronão tem rede de abastecimentode água. Por isso, os proprietá-rios tiram água de duas cachoei-ras, sem tratamento. Em quasetodas as ruas, é possível ver man-gueiras usadas para a captaçãoespalhadas nas guias e no mato.Também não há rede coletora deesgoto, o que obriga os proprietá-rios a construir fossas.

O promotor Matheus JacobFialdini, do Gaema, determinouque a prefeitura faça um levanta-mento sobre a situação do con-domínio. O principal objetivo dainvestigação é apurar se parte dobairro está dentro do Parque Es-tadual da Serra do Mar. Entre ou-tros questionamentos, Fialdiniquer saber se há imóveis emáreas de risco. E se é mais viávelque as residências sejam regula-rizadas ou demolidas.

A prefeitura de Ilhabela consi-dera o condomínio irregular, em-bora os proprietários recebam ocarnê do Imposto Predial e Terri-torial Urbano (IPTU) e diversascasas tenham Habite-se. Empre-sários, políticos e artistas têm ca-

sa no local, que foi construídopela Imobiliária Siriúba Constru-tora Ltda. A reportagem não con-seguiu localizar nenhum respon-sável para comentar o assunto.

Moradora. A diretora comer-cial Patrícia Melo, de 42 anos, deSão Paulo, é uma das proprietá-rias que captam água das ca-choeiras. “Não há alternativa,mas utilizo apenas para banhoou para molhar o jardim. Para co-zinhar, uso água mineral, já que aágua da cachoeira não é tratada e

tem qualidade duvidosa. Quan-do chove, ela chega amarelada àstorneiras.”

Segundo Patrícia, sua casa foicomprada há sete anos por inter-médio da imobiliária IlhabelaImóveis, do então prefeito Ma-noel Marcos de Jesus Ferreira(PTB). Na época, ele foi acusadode comercializar unidades noParque Estadual da Serra do Mare liberar o Habite-se. Ferreiranão foi localizado pela reporta-gem. Na época, ele negou as acu-sações e disse que havia abando-

nado suas funções na IlhabelaImóveis quando assumiu a pre-feitura, em 2001.

O corretor de imóveis MarcoHenrique da Silva, que represen-tava a imobiliária na época, afir-mou que a empresa foi destituí-da. No entanto, a reportagem fo-tografou terrenos com placas de“vende-se” com o nome da Ilha-bela Imóveis.

Silva também nega que a imo-biliária seja responsável pelocondomínio. “Apenas revende-mos algumas unidades por solici-

tação de alguns proprietários.Hoje mesmo (sexta-feira), um de-les nos procurou para colocarseu imóvel à venda.” O corretortambém negou que alguns lotesdo bairro estejam dentro do par-que estadual.

Área de risco. Dois quilôme-tros e meio separam o condomí-nio Siriúba 2 dos moradores doMorro do Cantagalo, no centrode Ilhabela. Assim como o condo-mínio de luxo, a comunidadetem visão privilegiada do Canal

de São Sebastião. No entanto,tem rede de abastecimento deágua, coleta e tratamento de es-goto. Outra diferença é a classesocial: ali moram as famílias quetrabalham na rede hoteleira, emrestaurantes e na prestação deserviços da cidade.

Há um mês, por solicitação doMinistério Público, o Tribunalde Justiça do Estado de São Pau-lo determinou a retirada de cer-ca de 200 pessoas do local, porconsiderá-lo área de risco. Aação tramitava desde 1993.

Prefeitura diz quenão tem comoresponder ao MP

Em estilo art nouveau,edifício histórico doInstituto Agronômicoterá fachada, telhado ecalçamento reformados

Siriúba 2. Casas de até R$ 1,5 milhão não têm água nem esgoto; abastecimento vem de duas cachoeiras, sem tratamento

Fachada original. Prédio resgata opulência do ciclo do café