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Construção em terra crua conteporânea: mapeamento dos escritórios e construtoras no Brasil e em Portugal PINHEIRO, Levi Teixeira 1, a ; RANGEL, Barbara 2,b ; VARUM, Humberto Salazar Amorim 2,c SILVA, Adeíldo Cabral 1,d 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Brasil 2 Universidade do Porto. Porto, Portugal a [email protected], b [email protected], c [email protected], d [email protected] Palavras-chave: construções em terra crua, arquitetura sustentável, construções sustentáveis, empresas de construção. Resumo. Em grande parte do território português, observam-se construções tradicionais, que utilizaram técnicas construtivas em pedra, como alvenaria de pedra seca, alvenaria de pedra irregular e alvenaria de pedra aparelhada. Porém, em áreas onde a pedra era escassa, percebe-se a utilização de técnicas de construção em terra crua, como o adobe, a taipa de mão, taipa de pilão e pau-a-pique. No Brasil, há poucos registros sobre a construção tradicional indígena em seu vasto território. Alguns autores apontam que essas edificações eram construidas essencialmente a palha e madeira. Com a vinda dos portugueses e africanos, a partir do século XVI, foram implantadas as tecnologias em terra crua e em alvenaria de pedra, mas devido à escassez da pedra, desenvolveu-se com maior relevo a primeira. Até meados do século XX ainda se usava a construção em terra crua no Brasil, tal como em Portugal, enquanto que nas grandes cidades, se passou a construir sobretudo estruturas de concreto armado e em alvenaria de tijolos cerâmicos. Porém, na década de 1960, percebe-se, dentro de órgãos públicos brasileiros, uma tímida retomada dessas construções para habitação de interesse popular. Como exemplo, refira-se o conjunto habitacional “Cajueiro Seco”, projetado pelo arquiteto Borsoi na década de 1960, visando à produção de construções mais econômicas. Já nos anos posteriores, em ambos os países, assiste-se à construção de algumas casas para as classes média em terra crua, sob a supervisão de arquitetos e engenheiros, na perspectiva de produção de construções mais sustentáveis. A produção em ambos os países ainda é tímida, mas existe uma tendência para o surgimento de empresas especializadas. Na sequência do exposto, é proposto o desenvolvimento de uma pesquisa, cujo objetivo principal é mapear os principais escritórios e construtoras brasileiras e portuguesas que trabalham com terra crua. Inicialmente se verificará o que já foi compilado em termos de literatura, para depois complementar com novos dados. O trabalho utilizará a base de dados do portal da CAPES para averiguar artigos, teses e dissertações que citem alguma informação sobre obras contemporâneas em terra crua e os respetivos escritórios ou construtoras. Além disto, far- se-ão entrevistas com pesquisadores na área que possam informar da existência de empresas e profissionais que atuam nesta área. Finalmente, pretende-se obter informação sistematizada que permita analisar o panorama geral das construções sustentáveis em Portugal e no Brasil recorrendo a soluções inovadoras em terra crua.

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Construção em terra crua conteporânea: mapeamento dos

escritórios e construtoras no Brasil e em Portugal

PINHEIRO, Levi Teixeira1, a; RANGEL, Barbara 2,b; VARUM, Humberto Salazar Amorim2,c SILVA, Adeíldo Cabral 1,d

1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Brasil 2 Universidade do Porto. Porto, Portugal

[email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

Palavras-chave: construções em terra crua, arquitetura sustentável, construções sustentáveis, empresas de construção. Resumo. Em grande parte do território português, observam-se construções tradicionais, que utilizaram técnicas construtivas em pedra, como alvenaria de pedra seca, alvenaria de pedra irregular e alvenaria de pedra aparelhada. Porém, em áreas onde a pedra era escassa, percebe-se a utilização de técnicas de construção em terra crua, como o adobe, a taipa de mão, taipa de pilão e pau-a-pique. No Brasil, há poucos registros sobre a construção tradicional indígena em seu vasto território. Alguns autores apontam que essas edificações eram construidas essencialmente a palha e madeira. Com a vinda dos portugueses e africanos, a partir do século XVI, foram implantadas as tecnologias em terra crua e em alvenaria de pedra, mas devido à escassez da pedra, desenvolveu-se com maior relevo a primeira. Até meados do século XX ainda se usava a construção em terra crua no Brasil, tal como em Portugal, enquanto que nas grandes cidades, se passou a construir sobretudo estruturas de concreto armado e em alvenaria de tijolos cerâmicos. Porém, na década de 1960, percebe-se, dentro de órgãos públicos brasileiros, uma tímida retomada dessas construções para habitação de interesse popular. Como exemplo, refira-se o conjunto habitacional “Cajueiro Seco”, projetado pelo arquiteto Borsoi na década de 1960, visando à produção de construções mais econômicas. Já nos anos posteriores, em ambos os países, assiste-se à construção de algumas casas para as classes média em terra crua, sob a supervisão de arquitetos e engenheiros, na perspectiva de produção de construções mais sustentáveis. A produção em ambos os países ainda é tímida, mas existe uma tendência para o surgimento de empresas especializadas. Na sequência do exposto, é proposto o desenvolvimento de uma pesquisa, cujo objetivo principal é mapear os principais escritórios e construtoras brasileiras e portuguesas que trabalham com terra crua. Inicialmente se verificará o que já foi compilado em termos de literatura, para depois complementar com novos dados. O trabalho utilizará a base de dados do portal da CAPES para averiguar artigos, teses e dissertações que citem alguma informação sobre obras contemporâneas em terra crua e os respetivos escritórios ou construtoras. Além disto, far-se-ão entrevistas com pesquisadores na área que possam informar da existência de empresas e profissionais que atuam nesta área. Finalmente, pretende-se obter informação sistematizada que permita analisar o panorama geral das construções sustentáveis em Portugal e no Brasil recorrendo a soluções inovadoras em terra crua.

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II Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis

1. Introdução

A terra crua é um conjunto de técnicas milenares existente no mundo inteiro, onde se utiliza argila não queimada como matéria prima para construção. Dentre as técnicas existentes, destacam-se as alvenarias de terra (o adobe e o bloco compactado), as paredes monolíticas (a taipa-de-pilão e taipa-de-pilão reforçado) e a família dos entramados (a taipa de pau-a-pique e pau a pique racionalizado) [1,2]. Em muitos países, o advento de novas tecnologias construtivas no século XIX, gerou o declínio do uso das tecnologias em terra crua [3]. Porém, tem-se durante as décadas de 1930 e 1940 o retorno destas tecnologias no mundo inteiro. Durante a segunda guerra mundial, alguns países europeus como França e Alemanha recorreram ao uso da terra como material de construção acessível de baixo custo [4]. No Brasil, arquitetos como Lúcio Costa, que projetou a Vila Operária de Monlevade em 1936 [5], que não foi executada, e Acácio Gil Borsoi, que executou um conjunto em taipa de mão, o Cajueiro Seco, em 1960 [6]. Le Corbursier, na década de 1940 propôs em Marseille, França, a construção de casas em blocos de terra comprimida e taipa, mas o projeto não foi executado. No Egito, ainda na década de 1940, têm-se as obras o arquieto egípcio Rasan Fathi, além de Frank Loyd Right, nos EUA, que propôs casas em taipa, e o Arquiteto italiano Fabrizio Carola, que, nas décadas de 1970 e 1980, projetou e executou inúmeras obras na África em terra crua. Nos tempos atuais, destacam-se os arquitetos Martin Rauch, tem produzido muitas obras na Austrália e na Itália, e Rick Joy, nos EUA [4,7]. Nos países menos industrizados como o Brasil, nota-se ainda a presença de um preconceito contra a tecnologia [8]. Porém, ao longo dos anos, observa-se o surgimento de novos arquitetos e construtoras especializadas, assim, como em Portugal. Diante deste fenômeno recente, em ambos os países propõe-se o desenvolvimento desta pesquisa, que tem como objetivo principal mapear os principais escritórios e construtoras brasileiras e portuguesas que trabalham com terra crua, com intuito de compreender o contexto profissional, e apontar tendencias futuras para este tipo de tecnologia. 2. Referencial Teórico A terra crua está presente em todos os países do mundo. No caso do Brasil, a técnica chegou durante colonização, trazida pelos colonizadores portugueses, destacando-se, como as técnicas construtivas mais utilizadas adobe, a taipa de pilão e taipa de mão ou pau-a-pique [9] As habitações dos povos ídigenas que habitava o território anterior à chegada dos portugueses eram compostas por madeira e palha com quase nenhuma divisão [10 et 11] 2.1. Terra no Brasil No Brasil, percebe-se que, no ínicio do século XIX, as tecnologias em terra entram em desuso devido ao aparecimento de novos materiais [12]. Porém, a partir da década de 1930, notam-se tentativas tímidas de retomada dessas tecnologias por arquitetos renomados como Lúcio Costa, quando propôs a Vila Operária de Monlevade em 1936, no Estado de Minas Gerais, em pau a pique e estrutura de concreto armado. A construção não foi executada com o material proposto, pois não agradou o proprietário [12]. Ainda nos anos de 1930, tem-se o início das pesquisas em solo cimento, promovido pela associação brasileira de cimento Portland. A primeira construção em solo cimento se efetiva em 1945, com a casa de bomba do Aeroporto de Santarém [13]. Na década de 1963 tem-se o Conjunto Habitacional Cajueiro Seco em Pernambuco, projetado pelo arquiteto Acácio Bórsoi. As casas do conjunto foram feitas em pau a pique racionalizado. Em 1975, há o projeto habitacional em Camurupim, em Sergipe, de Lina Bo Bardi, que não foi executado [14].

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II Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis

Ainda na década 1970, até os anos 1990 observam-se diversas obras em taipa de pau a pique compilada por [12], em sua maioria de tipologia residencial, que envolve casas de classe média e conjuntos habitacionais. Porém, observa-se um exemplo de tipologia industrial e outro misto. Na década 1970, até os 1990, destacam-se os arquitetos que construíram diversas obras em todo o Brasil, como os arquitetos Cydno da Silveira, Amália Gama, Suely Ferreira e Zanine Caldas, do Rio de Janeiro; Marcos Borges dos Santos, em Minas Gerais; Karla Caser, no Espirito Santo; Paulo Frota, no Piauí; a ONG CEARAH Periferia, no estado do Ceará, e o NEPHU- UFF, Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos, da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro e grupo HABIS, de São Paulo [12,15]. No contexto da pesquisa, observa-se também a partir da década de 1970 trabalhos inovadores com terra crua. Na década de 1970 inicia-se o estudo de paredes monololíticas de solo-cimento (taipa de pilão) desenvolvidos pelo CEPED – Centro de Pesquisas e Desenvolvimento, e estudos de tijolos de solo cimento prensados desenvolvidos pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas - SP) [2]. Em 1985, há a publicização do manual “Taipa em painéis modulados”, elaborado pela Fundação DAM (Centro de Desenvolvimento das Aplicações das Madeiras do Brasil), e produzido pelo Mnistério da Educação em 1985 [16], tendo com um dos autores o arquiteto prático Zanine Caldas. Em 1989, ocorre o lançamento da norma de solo cimento [17]. Na década de 1990, temos o surgimento da Associação Brasileira dos Construtores com Terra (ABCTerra), a criação da Rede Temática HABITERRA, que em 2001 transformou-se no projeto de investigação PROTERRA. O projeto, atualmente, envolve técnicos e pesquisadores de 16 países ibero-americanos [18]. Nos anos 2000, observam-se diversos conjuntos habitacionais produzidos em regime de mutirão, com técnicas em terra crua com adobe, solo cimento e um protótipo de fardo de palha e argila. A produção ocorre por meio de universidades brasileiras ou ONGs. Neste contexto, destaca-se o grupo Habis (Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade) da USP (Universidade Estadual de São Paulo), que iniciou suas atividades em 1993, quando se chamava Ghab, tendo adotado em 2000 o nome atual. Dentre as produções do Habis, destacam-se a produção de casas em adobe para o Assentamento Rural Sepé Tiaraju, Serra Azul São Paulo [19] e o assentamento Rural Pirituba, Itapeva, São Paulo [20]. Em se tratando de ONGs, destacam-se os trabalhos da ONG Ação Moradia do Estado de Minas Gerais, o Sistema Cresol Central, atuante nos estados Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A ONG Ação Moradia, vem trabalhando desde 2000 com a produção de tijolos de solo cimento, e contribuindo para produção de habitações populares, como a produção de casas em 2004 para Projeto Lua Nova, em Sorocaba-SP, e para o Residencial Campo Alegre, Uberlândia - MG, em 2006 [19, 21]. O Sistema Cresol Central SC/RS, em parceira Instituto de Permacultura e Ecovilas da Pampa (IPEP), produziu algumas obras na zona rural do Estado de Santa Catarina, utilizando tecnologias como o pau a pique, superadobe e cordwood no final dos anos 2000 [21], além de iniciativas individuais como a Fazenda Capão Alto das Criúvas (2005), que desenvolveu um protótipo de construção em terra crua com a Universidade de Kassel (Alemanha) e, em Sentinela do Sul [22]. 2.2 Terra em Portugal Ao comparmos Portugal com outros países como os EUA e a Austrália, percebe-se que a construção em terra se apresenta associada a grandes desenvolvimentos tecnológicos, pois em Portugal os métodos refletem ainda uma transição entre o moderno e contemporâneo, devido à recente retomada da técnica por arquitetos conteporâneos na década de 1990 [4] e o surgimento de instituições especializadas [23]. As técnicas tracionais em Portugal são a taipa de pau a pique, o adobe, a taipa de pilão e, atualmente, bloco de terra comprimida (BTC) [24] . Em Portugal, até os anos 50, observa-se a utilização da terra crua como sistema construtivo. Porém, a partir desta década houve a generalização do concreto armado e do tijolo.

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Somente na década de 1990, observa-se o seu renascer, tendo maior expressão o uso da taipa de pilão. A primeira obra que marca o renascimento da técnica em Portugal foi o ateliê de Alexandre Bastos, em Odemira, construído no período de 1993 a 1995. A produção se concentra no sul do país, nas regiões de Alentejo e Algarve, principalmente como forma de desenvolver a sua imagem arquitetônica turística, em destaque para o concelho de Odemira. Em termos de legislação, não há nenhuma norma que reja as construções em terra em Portugal. Logo, a taipa tende a ser usada sem função estrutural, usando-se a estrutura corrente de betão armado para garantir a sua resistência sismica [23]. Em Portugal, a taipa de pilão é utilizada como forte apelo estético no interior e do exterior dos edifícios, mesclando com elementos da arquitetura conteporânea [25]. Segundo a arquiteta Teresa Beirão, a taipa tende a ser usada em ambientes rurais, pois a sua espessura requer muito espaço [4]. A taipa de pilão em Portugal já apresenta o uso mais industrial, e é utilizadas por arquitetos como Alexandre Bastos. Porém, arquitetos mais tradicionalistas com Henrique Schreck utiliza somente a técnica industrial. Aos poucos se percebe o interesse de construtores do Alentejo como JP Bernadino na produção de Adobe e blocos de solo cimento para serem utilizados nas paredes internas ou externas, quando for inviável a produção de paredes taipa de pilão [25]. Os blocos de terra comprimida (solo cimento) se apresentam como a tecnologia mais econômica, no caso de Portugal. Por outro lado, como todas as tecnologias terra, se tornam muito mais dispendiosas que o tijolo cerâmico devido ao alto custo de mão de obra. A construção em terra só se torna viável economicamente quando se adota a autoconstrução, o que dificulta a produção de habitações sociais pelo Estado [23]. Ainda na década de 1990, observa-se a promoção de congressos em terra por instituições como CRATerra e Alliance Française de Coimbra. Já nos anos 2000, são promovidos seminários em terra, organizados por diversas instituições como: PROTERRA, Associação Centro da Terra, Fundação Convento da Orada, ESG e Faculdade de Arquitetura do Porto [23]. A associação Proterra, surgida em 2001, como citada anteriormente, conta também com membros Portugueses [2]. A asssociação Centro da Terra fundada em 2003, em Portugal é uma associação científica, cultural e profissional, que tem como objetivos promover formação de profissional em vários nos vários níveis, melhorar da regulamentação das construções em terra e sensibilizar as empresas construtoras e instituições bancárias [26]. 2. Metodologia O desenvolvimento da pesquisa se deu em 05 etapas, seguindo a mesma metodologia de [27]: revisão bibliográfica, levantamento de dados, construção de um modelo estruturado para análise, análise de conteúdo baseado no modelo estruturado e apresentação de resultados. Para o levantamento da bibliografia, utilizou-se o Portal da CAPES, com uma busca através das palavras-chave: taipa, adobe, terra crua, solo cimento e earth construction. Os dados foram coletados de documentos acadêmicos como artigos, teses, dissertações, livros, de sítios virtuais de escritórios e de construtores e por meio de entrevistas com profissionais e pesquisadores. Dentre os dados coletados tem-se: o nome dos escritórios, o tempo de atuação, quantidade de profissinais envolvidos, área de atuação e a localização. Os dados coletados foram enquadrados e analisados nas seguintes categorias

Perfil dos Profissionais Àrea de Atuação dos Profissionais Período de Atuação dos Projetistas

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Período de Atuação dos construtores Distribuição espacial

3. Resultados Durante o levantamento, se conseguiu coletar uma amostra de 102 profissionais que trabalham com terra crua no Brasil, e 80 profissionais em Portugal. Dentre estes profissionais, destacam-se em maior número os arquitetos, seguido de engenheiros civis e em menor número engenheiros agrônomos, mestres de obras e designers. Todos os profissionais tendem a atuar em grandes áreas profissionais da construção civl como: projeto, construção e pesquisa. Há profissionais que transitam em mais de uma área.

3.1. Perfil dos profissionais Ao observamos a distribuição da graduação do profissional que atua no setor, percebe-se que em ambos os países o arquiteto é quem possui a maior atuação, chegando a 70% do número profissionais. Os engenheiros se aproximam a 10%, enquanto os outros, engenheiros agrônomos, mestres de obras e desenhistas da construção, se aproximam dos 20% (ver gráfico 01).

Gráfico 1: Perfil profissionais em terra crua. Fonte: Autores (2016)

3.2. Àrea de atuação dos profissionais Em Portugal há uma distribuição bem mais equilibrada entre as atuações profissionais, nas quais a quantidade de profissionais em cada área varia entre 30% e 50%. Já no Brasil há uma predominância do profissional projetista, que chega mais que 70% dos profissionais, enquanto os pesquisadores representam 50%, e construtrores se aproximam de 20% (ver gráfico 02). De uma forma mais detalhada observa-se que os arquitetos em ambos os países tem forte atuação na área de projeto. No Brasil representam 75,67%, em Portugal, 62,69%. Os engenheiros Portugueses são mais atuantes no campo de pesquisa (67%). Já no Brasil a uma distribuição igual entre as áreas de projeto (46,15%) e de pesquisa (46,15%). No caso dos pesquisadores e projetistas portugueses nota-se a atuação do restauro e edificações contemporâneas em terra. No Brasil, observa-se pouca atuação na área de restauro, sendo no campo “novas construções” mais atuantes.

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Arquiteto EngenheiroCivil Outros

Brasil (%)Portugal (%)

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Gráfico 2: Área de atuação dos profissionais. Fonte: Autores (2016)

3.3. Período de atuação dos projetistas Em ambos os países, nota-se o crescimento de profissionais na área ao longo das décadas. (ver gráfico 03). No caso de Portugal nota-se um fator curioso: há um grande número de profissionais que atuam desde a década de 1970 (próximo de 10%), ou antes. Porém, a atuação desses profissionais com técnicas em terra crua se deu somente na década de 1990, como afirma [23]. Já no caso do Brasil, os profissionais que atuam desde 1970 possuem obras em terra crua nesse período, como aponta o levantamento realizado por [12]. Assim, pode se especular que o cresimento dos projetistas do Brasil pode ter sido influenciado pelo surgimento associações construções em terra, a difusão de materiais sobre o tema e surgimento de normas apartir da década de 1980.

Gráfico 3: Período de atuação Projetistas. Fonte: Autores (2016)

3.4. Período de atuação dos construtores

0,00%10,00%20,00%30,00%40,00%50,00%60,00%70,00%80,00%

Projetistas Pesquisadores Construtores

Brasil (%)Portugal (%)

0,00%5,00%

10,00%15,00%20,00%25,00%30,00%35,00%

Brasil (%)Portugal (%)

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Em ambos os países, percebe-se que há uma tendência de crescimento das construtoras em terra crua. Os dois países apresentam a presença dos primeiros construtores na década de 1980, e uma grande explosão nos anos 2000 (ver figura 04). No Brasil tem-se o destaque para as empresas Taipal e Terra Compacta, ambas gerenciadas por arquitetos, que são especializadas em taipa de pilão mecanizada e surgidas entre os anos de 1990 e 2000. Já em Portugal destaca-se a JP Bernadino, que atua desde a década de 1980.

Gráfico 4: Período de atuação Construtores. Fonte: Autores (2016) 3.5. Distribuição espacial Os escritórios Portugueses, em sua maioria se localizam na região de Lisboa (32,14%) e na região de Algarve (17,85%). Quanto aos construtores, em Portugal, a maioria se concentra na região de Algarve (36%) e na grande Lisboa (16%), isto considerando que não foi encontrada a localização das empresas de 36% dos construtores compilados. Como aponta [22], as regiões de Algarve e Alentejo acabam por adotar estas tecnologias como forma de fortalecer uma imagem arquitetônica de apelo turística. Em Portugal não foram encontrados projetos de habitação popular em terra, salvo um estudo de mestrado de [22]. Os escritórios Brasileiros se concentram na região sudeste (72,15%) do Brasil, principalmente no estado de São Paulo. Se concentram no Sudeste também os construtores (69,56%) destacando-se os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Isto se dá em virtude de serem estas regiões no Brasil onde se concentram os maiores centros econômicos do país e os maiores centro de pesquisa. Dentre as obras produzidas por estes escritórios e construtores destacam-se as residências de classe média, em sua maioria realizadas em Taipa de Pilão ou em solo cimento, pois possuem um forte apelo estético e sustentável. As obras normalmente são de pequeno ou médio porte, e se localizam em cidades no interior do estado. Em contraste, temos conjuntos habitacionais produzidos por ONGs e Universidades em todo o Brasil, tendo como destaque as regiões Sul e Sudeste, onde são utilizadas técnicas como o solo cimento, o adobe e a taipa de pau a pique em regime de mutirão. Nessas tipologias arquitetônica não se observa à taipa de pilão.

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10,00%15,00%20,00%25,00%30,00%35,00%40,00%45,00%50,00%

2010-atual 2000-atual 1990-atual 1980-atual Antesde1970 -atual

Semdata

Brasil (%)Portugal (%)

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4. Conclusões Em ambos os países, com suas devidas proporções, notam-se comportamentos similares em relação ao perfil dos profissionais que atuam com construções em terra, havendo algumas exceções quando se analisa o tempo de atuação dos profissionais e as áreas de atuações mercadológicas. Ao final da pesquisa, observou-se que o ramo das construções em terra crua se apresenta como um forte nicho de trabalho para arquitetos, cuja sua atuação é forte nas áreas de projeto e de pesquisa. Assim, se percebe uma tendência nos últimos 15 anos de crescimento de profissionais interessados na área. As diferenças entre os países quanto ao período de atuação dos profissionais é que os brasileiros atuam na área desde 1970, e os portugueses atuam desde 1990. Há também diferenças quanto às regiões de atuação dos escritórios e construtoras. No caso do Brasil, concentram-se em regiões de maior poder aquisitivo, atendendo a demandas de sustentabilidade com forte apelo estético, havendo também uma parcela de ONGs e universidades que produzem habitações populares em todo o Brasil. Já no caso de Portugal, há uma maior concentração de profissionais em regiões turísticas do País, seja atuando no campo do restauro ou novas construções. 5. Referências [1] PACHECO-TORGAL, F and Said Jalali. 2013. Earth construction: Lessons from the past for future eco-efficient construction. Construction and Building Materials, vol. 29 (2012) pp. 512–519. [2] NEVES, C. M. M. . O uso de solo-cimento em edificações. A experiência do CEPED. In: V Semnario Iberoamericano de Construcción con Tierra, 2006, Mendoza. Construir con tierra ayer y hoy. Mendoza: INCHIUSA CONICET CRICYT, 2006. [3] LOPES, Wilza et REIS, Gomes 2013. A Taipa de Mão em Teresina, Piauí, Brasil: a Improvisação e o Uso de Procedimentos Construtivos. digitAR. Nº 1. [4] DA PONTE, Maria Manuel Correia Costa. 2012. Arquitetura de terra: o desenho para a durabilidade das construções. Dissertação - Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. [5] CORREIA, Telma de Barros. O modernismo e o núcleo fabril: o anteprojeto de Lúcio Costa para Monlevade. Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP , São Paulo, v. 1 N 14, n.14, (2003) p. 80-93. [6] BIERRENBACH, Ana Carolina de Souz. 2008. Conexão Borsói-Bardi: sobre os limites das casas populares. Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo (Online). São Paulo. [7] GARGIULO, Maria Rosaria and BERGAMASCO, Immacolata. The Use of Earth in the Architecture of Hassan Fathy and Fabrizio Carola: Typological and Building Innovations, Building Technology and Static Behaviour. In: Second International Congress on Construction History. Proceedings of the Second International Congress on Construction History. Cambridge, v. 2 (2006) p. 1209-1220 [8] LOPES, Wilza Gomes Reis et INO, Akemi. O emprego da terra crua e de madeira de reflorestamento como materiais de construção. I Conferência Latino-Americana De

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II Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis

Construção Sustentável X Encontro Nacional De Tecnologia Do Ambiente Construído. São Paulo (2004). [9] LOPES, Wilza Gomes Reis; CARVALHO, Thaís Márjore Pereira de; MATOS, Karenina Cardoso; ALEXANDRIA, Sandra Selma Saraiva de. A Taipa de Mão em Teresina, Piauí, Brasil: a Improvisação e o Uso de Procedimentos Construtivos. digitAR - Revista Digital de Arqueologia, Arquitectura e Artes, v. 1, (2013) p. 70-78 [10] ELIAS, J.L. apud CORTESÃO J. P. 167. Moradia Indígena: Resistência dos índios americanos. Em índios do nordeste: temas e problemas 2. Almeida L.S., Galindo, M. e ELIAS, J.L. Macéio: EDUFAL, 231 p. (2000). [11] PARISI. Rosano Soares Bertocco. Xucuru-Kariri: a resconstituição da trajetória de um grupo indígena remanejado e suas habitações em nova terra. Tese de doutorado São Carlos (2008). [12] LOPES, W. G. R.. 1998. Taipa de mão no Brasil: levantamento e análise de construções. Dissertação. Dissertação - Mestrado em Arquitetura, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos (1998). [12] CORREIA, Telma de Barros. O modernismo e o núcleo fabril: o anteprojeto de Lúcio Costa para Monlevade. Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, São Paulo, v. 1, n.14, (2003) p. 80-93. [13] NITO, Mariana Kimie da Silva. Sistemas construtivos em terra crua: panorama da América Latina nos últimos 30 anos e suas referências técnicas históricas. Revista Cadernos de pesquisa da escola da cidade. São Paulo (2015). [14] BIERRENBACH, Ana Carolina de Souz. Conexão Borsói-Bardi: sobre os limites das casas populares. Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo (Online). São Paulo (2008). [12] LOPES, W. G. R. Taipa de mão no Brasil: levantamento e análise de construções. Dissertação. Dissertação - Mestrado em Arquitetura, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos, São Paulo (1998). [15] LOPES, Wilma et INO, Akemi. A Taipa de Mão e o seu Potencial Construtivo. I Encontro Nacional Sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis. Canela (1997). [16] CEDATE. Taipa em Painéis Modulados. Brasília (1985). [17] ABNT: Bloco vazado de solo-cimento sem função strutural. NBR 10834 EB1969. Río de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas (1994). [18] NEVES, C. M. M. Resgate e atualização do construir com terra: o projeto ROTERRA. In: I Conferência Latino-Americana De Construção Sustentável; 10º Encontro Nacional De Tecnologia Do Ambiente Construído, 2004, São Paulo. São Paulo (2004). [19] MAIA, Rafael Torres et INO, Akemi. variáveis técnicas que interferiram no uso da terra para habitação social rural. caso: assentamento rural Sepé Tiaraju, Serra Azul-SP. In: III Congresso de arquitetura e construção em terra no Brasil. Campo Grande (2010). [20] FARIA, Obede Borges; DA SILVA, Fernando Machado Gonçalves et INO, Akemi. Sistema construtivo com paredes estruturais de adobe, em habitação de interesse social

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II Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis

rural: um estudo de caso no assentamento rural “fazenda pirituba” (Itapeva-SP). Seminário mato-grossense de habitação de interesse social. Cuiabá (2005). [21] Informação obtida em: http://acaomoradia.org.br/wp/wp-content/uploads/2011/02/Tijolos-Ecol%C3%B3gicos-A%C3%A7%C3%A3o-Moradia-.pdf, em 15/05/2016 [22] BOHADANA, Ingrid Pontes Barata et SATTLER, Miguel Aloysio. Descrição do processo de construção de um protótipo habitacional de fardos de palha e adobe em Sentinela do Sul, RS. I Seminário Arquitetura e Construção com Terra no Brasil/ IV Seminário Arquitectura de Terra em Portugal (2006). [23] DUARTE, Suzana Reis. Construir com a terra uma proposta de intervenção no bairro do Barruncho, Odivelas. Dissertação de Mestrado. Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa (2013) [24] CORREIA, Mariana. A Habitação Vernácula Rural no Alentejo, Portugal. Conference: IV Seminário Iberoamericano sobre Vivienda Rural y Calidad de Vida en los Asentamientos Rurales, At Santiago del Chile, Volume: Cap.4 - Vivenda Rural, Etnia, Cultura y Género. (2001). [25] MARQUES, Joana; LIMA, Pilar Abreu. DO VALE, Clara Pimenta. O Uso Contemporâneo Da Taipa Em Portugal. O Caso Da Costa Alentejana. 40th IAHS World Congress (2014). [26] (ROCHA, Miguel et PEREIRA, Catarina. Valorizar e desenvolver as arquitecturas de terra. Revista Pedra e Cal nº 24 Outubro/Novembro/Dezembro 2004. Disponível em: http://www.centrodaterra.org/uploads/media/Centro_da_Terra.pdf, 2010). [27] CÂNDIDO, Luis Felipe; BARRETO, José Maurício Lima; BARROS NETO, José de Paula. Análise da produção científica relacionada ao custeio-meta (target costing) na construção civil nos últimos 5 anos (2009-2013). Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (2014).