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CONSTITUIÇÃO
DE 1934
Porto Alegre, dezembro de 2014.
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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS
ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1934
INFLUÊNCIA E CONTEXTO HISTÓRICO
O Brasil passou, durante quatro anos, por um governo provisório
quando terminou a Revolução de 30. A constituição de 1891 e a
República Velha foram extintas, e os tenentes buscavam construir uma
nova república. Júlio Prestes, presidente eleito em 1930, foi impedido de
tomar posse, tornando Getúlio Vargas o Presidente do Brasil.
A Constituição de 1934 foi uma consequência direta da Revolução
Constitucionalista de 1932. Com o fim da Revolução, a questão do
regime político veio à tona, forçando desta forma as eleições para a
Assembleia Constituinte em maio de 1933, que aprovou a nova
Constituição substituindo a Constituição de 1891.
O objetivo da Constituição de 1934 era o de melhorar as condições
de vida da grande maioria dos brasileiros, criando leis sobre educação,
trabalho, saúde e cultura. Ampliando o direito de cidadania dos
brasileiros, possibilitando a grande fatia da população, que até então era
marginalizada do processo político do Brasil, participar então desse
processo. A Constituição de 34 na realidade trouxe, portanto, uma
perspectiva de mudanças na vida de grande parte dos brasileiros.
DOS DIREITOS E DEVERES DO ESTADO
A constituição manteve os princípios básicos da carta anterior, ou
seja, o Brasil continuava sendo uma república dentro dos princípios
federativos, ainda que o grau de autonomia dos estados fosse reduzido.
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A dissociação dos poderes, com independência do executivo,
legislativo e judiciário; além da eleição direta de todos os membros dos
dois primeiros. O Código eleitoral formulado para a eleição da
Constituinte foi incorporado à Constituição.
A criação do Tribunal do Trabalho e respectiva legislação
trabalhista, incluindo o direito à liberdade de organização sindical. A
possibilidade de nacionalizar empresas estrangeiras e de determinar o
monopólio estatal sobre determinadas indústrias.
A Constituição de 1934 cuidou dos direitos culturais, com destaque
para os seguintes princípios:
- O direito de todos à educação, com a determinação de que esta
desenvolvesse a consciência da solidariedade humana;
- A obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário, inclusive para
os adultos, e intenção à gratuidade do ensino imediato ao primário;
- O ensino religioso facultativo, respeitando a crença do aluno;
- A liberdade de ensinar e garantia da cátedra.
FORMA DE GOVERNO E DE REPRESENTAÇÃO POLÍTICA
O Brasil continuava a ser uma República Federativa, com relativa
autonomia para os estados; os poderes continuavam separados em
Executivos, Legislativo e Judiciário; e as eleições diretas eram mantidas
como forma de escolha dos governadores, deputados e do presidente.
Além de oficializar as diretrizes do Código Eleitoral, podemos ver
que a nova constituição foi composta por outros capítulos que nos
revelam a sua singularidade. Assuntos como a educação, a saúde
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pública, a família e o trabalho aparecem como grandes marcos da
transformação que impulsionara a Revolução de 1930. Agora, aos olhos
da lei, era possível ver que a hegemonia das oligarquias estava sendo
quebrada sob alguns aspectos.
Nos primeiros artigos é colocado o que compete à União. Alguns
exemplos são apresentados;
- Manter relações com os Estados estrangeiros, nomear os
membros do corpo diplomático e consular, e celebrar tratados e
convenções internacionais;
- Conceder ou negar passagem a forças estrangeiras pelo território
nacional;
- Declarar a guerra e fazer a paz;
- Resolver definitivamente sobre os limites do território nacional;
- Organizar a defesa externa, a polícia e segurança das fronteiras
e as forças armadas;
- Autorizar a produção e fiscalizar o comércio de material de guerra
de qualquer natureza;
- Prover aos serviços da polícia marítima e portuária, sem prejuízo
dos serviços policiais dos Estados;
- Fixar o sistema monetário, cunhar e emitir moeda, instituir banco
de emissão;
- Fiscalizar as operações de bancos, seguros e caixas econômicas
particulares;
- Traçar as diretrizes da educação nacional;
- Fazer o recenseamento geral da população;
- Conceder anistia;
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DIVISÃO DOS PODERES
Conforme o Artigo 3o: “São órgãos da soberania nacional, dentro
dos limites constitucionais, os Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário, independentes e coordenados entre si”. Entretanto, para
evitar que o sistema fosse burlado, como já havia acontecido
anteriormente, foram adicionados novos dispositivos, como os
parágrafos 1o e 2o do mesmo artigo 3o, que respectivamente vedavam
aos poderes a possibilidade de delegarem atribuições a si mesmos e
proibiam que uma mesma pessoa ocupasse funções em mais de um
poder.
No entanto, a principal novidade em relação à manutenção do
equilíbrio e eficiência dos poderes foi à criação da Justiça Eleitoral.
Instituição de grande importância, fundamental para a existência dos
regimes democráticos, que visa à polidez do processo eleitoral. Os
mecanismos elaborados por esta constituição garantiram eleições
limpas e um equilíbrio entre os poderes significativamente maior do que
nos períodos anteriores.
Até então, é possível chegar à seguinte conclusão: A constituição
de 1934 fechou o ciclo da de 1891, institucionalizando a justiça eleitoral
e inserindo dispositivos constitucionais pertinentes, fazendo com que a
separação dos poderes pudesse funcionar, senão plenamente, de forma
satisfatória.
Executivo:
No plano do Executivo, nas disposições transitórias, fixou-se em
caráter excepcional a eleição do primeiro presidente pelo voto indireto
da própria Assembleia. Getúlio Vargas foi confirmado na presidência,
vencendo seu opositor, Borges de Medeiros. A inovação mais notável no
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Executivo foi a obrigatoriedade da adoção de uma assessoria técnica
para cada ministério. Extinguiu-se a vice-presidência.
Legislativo:
Ao nível do Legislativo, foi mantida a divisão entre Câmara e
Senado, sendo seus representantes eleitos por voto direto, secreto e
universal, bem como pelo voto profissional, como preconizava o Código
Eleitoral de 1932. O número de representantes na Câmara dos
Deputados era proporcional ao número de habitantes dos estados: até
vinte deputados, um deputado para cada 150.000 habitantes; acima de
vinte, um deputado para cada 250.000 habitantes. Além disso, a
Câmara contava com deputados eleitos indiretamente pelos sindicatos-
patronais e de empregados, cujo número não excedia um quinto do total
de representantes. O mandato dos deputados era de quatro anos.
Quanto ao Senado, era integrado por dois representantes por estado,
incluindo o Distrito Federal (Rio de Janeiro). O mandato dos senadores
era de oito anos, sendo a metade renovada a cada quatro anos.
Judiciário:
O Supremo Tribunal Federal foi transformado em Corte Suprema.
Segundo Hélio de Alcântara Avellar, "a definição e atribuição pertinentes
a esse poder, incluíram-se seções referentes a Justiça Eleitoral e Militar.
Surge a Justiça do Trabalho". Outra inovação foi o mandado de
segurança, que permitia ao cidadão proteger-se contra os atos
arbitrários de qualquer autoridade.
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PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA CONSTITUIÇÃO DE 1934
- O principio da igualdade perante a lei, instituindo que não haveria
privilégios, nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça,
profissão própria ou dos pais, riqueza, classe social, crença religiosa ou
ideias políticas;
- A obrigatoriedade de comunicação imediata de qualquer prisão
ou detenção ao juiz competente para que a relaxasse e, se ilegal,
requerer a responsabilidade da autoridade co-autora;
- O habeas-corpus, para proteção da liberdade pessoal, e
estabeleceu o mandado de segurança, para defesa do direito, certo e
incontestável, ameaçado ou violado por ato inconstitucional ou ilegal de
qualquer autoridade;
- A proibição da pena de caráter perpétuo;
- O impedimento da prisão por dívidas, multas ou custas;
- A assistência judiciária para os desprovidos financeiramente;
- A isenção de impostos ao escritor, jornalista e ao professor;
- A proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho, por
motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil;
- Receber um salário mínimo capaz de satisfazer à necessidades
normais do trabalhador;
- A limitação do trabalho a oito horas diárias, só prorrogáveis nos
casos previstos pela lei;
- A proibição de trabalho a menores de 14 anos, de trabalho
noturno a menores de 16 anos e em indústrias insalubres a menores de
18 anos e a mulheres;
- A regulamentação do exercício de todas as profissões.