constituição academicamente explicada - 2007

496
– I – CONSTITUIÇÃO FEDERAL Academicamente Explicada

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  • I

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    CONSTITUIOFEDERAL

    Academicamente Explicada

  • VIII

    FRANCISCO BRUNO NETO

  • IX

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    APRESENTAO

    Quando me propus a este trabalho sobre o Direito Constitucional, disciplina que

    leciono h longos anos, o motivo que me impeliu foi exatamente a experincia desse magis-

    trio.

    A comunicao da cultura se realiza atravs de dois meios: o erudito e o popular. Isto

    constatvel em qualquer tempo e em qualquer lugar, sejam as circunstncias quais fo-

    rem. Por exemplo, o latim, que a espinha dorsal da lngua portuguesa, expressava-se

    atravs de escritores de nomeada, como Ccero, o smbolo mximo da retrica, ou Ovdio,

    o gnio do amor transmutado em versos, ou Eutrpio, o ldimo historiador dos fastos

    romanos. Mas todos eles transmitiam a sua respectiva arte intelectual numa linguagem

    elevada, escoimada de quaisquer defeitos. O seu nico defeito era a inacessibilidade ao

    povo, cuja receptividade estava muito abaixo do requinte sinttico e da exuberncia vocabular

    desses magistrais epnimos da literatura romana.

    Entretanto, com a expanso de seu poderio blico, as hostes romanas, comandadas

    por centuries forjados nos segredos da guerra, praticamente dominaram o que ento se

    concebia como a totalidade do mundo. O que nisso tudo mais de perto nos interessa que

    os povos derrotados tinham de ser submetidos por meio de uma ocupao eficiente. Disso

    resultava uma fatal miscigenao da lngua latina com a dos pases ocupados. O que releva

    ressaltar que a linguagem dos soldados nada tinha da erudio dos romanos cultos: era

    uma forma popular domstica, rstica. Por essa razo, o falar do povo era denominado

    sermo vulgaris, modo simples da gente humilde se intercomunicar. E foi exatamente desse

    linguajar pauprrimo que se originou a lngua portuguesa!

    Esse retrospecto histrico tem apenas por objetivo embasar a afirmao de que a

    idia se disseminou por duas vias: a culta, apangio das pessoas dotadas de esmerado

    conhecimento, e a oriunda do povo simples, que to-somente dialoga com pessoas sim-

    ples, de meios comunicativos exguos. So duas mentalidades cognitivas que no se

    intercambiam. A dificuldade na correspondncia de ambas consiste na quase-impossibili-

    dade de os homens cultos serem assimilados pelos incultos. Esse obstculo apenas ser

    contornado se o saber dos que detm a alta cultura descer at os que so incapazes de

    ascender aos pramos dos que vivem num universo cultural inacessvel.

    O segredo para se desfazer essa disparidade est em dizer de modo simplificado,

    usando palavras tacanhas, rotineiras, para que o povo possa entender o que, no seu

    alcandorado mundo, os grandes mestres disseram imersos em sua enigmtica sintaxe

    nefelibata.

  • X

    FRANCISCO BRUNO NETO

    Eis o que, aplicando esta experincia cultural ao ministrio do Direito Constitucio-

    nal, pretendo fazer, ou seja, trasladar os conceitos de seu contedo em termos comuns,

    abdicando, para isso, das abstratas concepes doutorais. E o meio que se me apresentou

    mais profcuo foi a sntese, que permite resumir, em um nmero mnimo de palavras, uma

    digresso terica excessivamente complexa. Um exemplo do extraordinrio efeito da snte-

    se encontrado numa frase de Cristo que at hoje perdura imorredoura. Quando os ju-

    deus iam apedrejar Madalena, acusada de adultrio, disse o Mestre: Qui sine culpa est,

    primum, lapidem mittat (Quem no tiver culpa, que atire a primeira pedra).

    No foi necessrio que o Divino Mestre redigisse um tratado sobre a falibilidade da

    culpa nem proferisse pomposa e acendrada defesa em prol da infeliz mulher, que, sujeita

    s draconianas cominaes da lei judaica, seria passvel da pena de morte por apedre-

    jamento. Mas bastou aquela sucinta frase de Cristo para que os acirrados prepostos da

    legalidade mosaica se afastassem, pejados do ato que estavam na iminncia de praticar, e,

    afastando-se, a r ficou ilesa de qualquer punio.

    Inmeras outras personalidades, como Erasmo e Publlio Siro, externaram sua crti-

    ca social em sugestivos provrbios, cujas verdades permanecem indelveis num diminuto

    nmero de vocbulos.

    O prprio Corpus Juris Civilis, repositrio da legislao do Direito Civil romano,

    tem como epgrafe a expresso suum cuique tribuere, ou seja, dar a cada um o que seu.

    o que intentei em meu propsito de vulgarizar o Direito Constitucional, compri-

    mindo-o em verbetes, de sorte a permitir sua fcil compreenso.

    O AUTOR

  • II

    FRANCISCO BRUNO NETO

    Bruno Neto, Francisco

    Constituio Federal : academicamente explicada / Francisco Bruno Neto.

    So Paulo : Editora Jurdica Brasileira, 2003.

    1. Brasil Constituio (1988) 2. Direito constitucional I. Ttulo.

    03-1154 CDU-342.4(81) 1988 (094.56)

    ndices para catlogo sistemtico

    1. Brasil : Constituio Federal : 1988 :

    Explicaes : Direito constitucional

    342.4(81) 1988 (094.56)

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

  • III

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    CONSTITUIOFEDERAL

    Academicamente Explicada

    FRANCISCO BRUNO NETO

  • IV

    FRANCISCO BRUNO NETO

    Copyright

    Editora Jurdica Brasileira Ltda.

    Copyright

    Francisco Bruno Neto

    Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo parcial ou total, por qualquer

    meio, principalmente por sistemas grficos, reprogrficos, fotogrficos etc., bem

    como a memorizao e/ou recuperao total ou parcial, ou incluso deste trabalho

    em qualquer sistema ou arquivo de processamento de dados, sem prvia autoriza-

    o escrita do autor e da editora. Tais vedaes aplicam-se tambm diagramao

    e caractersticas grficas da obra.

    A originalidade e atualidade da obra, bem como os conceitos ideolgicos e pessoais

    que envolvam terceiros, ou de outra ordem nela contidos, so de responsabilidade

    exclusiva do autor.

    Obra atualizada at a Emenda Constitucional n 53, de 19 de dezembro de 2006.

    Capa: Claiton Celso Guerrato Jr.

    Composio: Editora Jurdica Brasileira Ltda.

    Reviso: Francisco Bruno Neto e

    Maria de Lourdes Appas

    Quinta edio, agosto de 2007.

    RUA AFONSO CELSO, 789 - SALA 4 - VILA MARIANA - SO PAULO

    TELEFONES: (11) 5082-2807 OU (13) 3317-4858

    www.juridicabrasileira.com.br

    CULTURA JURDICA CURSOS E SEMINRIOS LTDA.

  • V

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    Dedico este trabalho

    aos filhos de minha filha Viviane,

    meus netos Gabriel Bruno Rodrigues,

    Rafael Bruno Rodrigues e

    Daniel Bruno Rodrigues;

    aos filhos de meu filho Alexandre,

    meus netos Pietro Colpy Bruno e

    Franccesco Colpy Bruno;

    ao filho de meu filho Fernando,

    meu neto Joo Victor Nakagawa Bruno e

    ao filho da minha filha Cludia,

    meu neto Breno Bruno Lisse,

    que Deus nos enviou como ddivas divinas a

    mim e a minha mulher Alice Molina Bruno

  • VI

    FRANCISCO BRUNO NETO

  • VII

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    AGRADECIMENTOS

    Aos juristas notveis, meus Mestres do dia-a-dia, cujo rol abaixo relaciono, no cons-

    titui uma bibliografia, mas sim, aqueles que me emprestaram, com suas obras, indispen-

    sveis conhecimentos para a realizao deste despretensioso trabalho acadmico, o meu

    mais profundo agradecimento e respeito: Afonso Arinos Melo Franco Alberto Deodato

    Alexandre de Moraes Alexandre Groppali Aliomar Baleeiro Antnio Enrique Prez

    Luo Antnio Filardi Luiz Batista de Mello Carlos Maximiniano Carme Lcia

    Antunes Rocha Celso Antnio Bandeira de Mello Celso Seixas Ribeiro Bastos D. S. B.

    Lima Dalmo de Abreu Dallari Darcy Azambuja Diogo de Figueiredo Fbio Konder

    Comparato Geraldo Ataliba Gilberto Caldas Hans Kelsen Heleno Cludio Fragozo

    Hlio de Guimares Tibery Hely Lopes Meirelles Hermann Hill e Peter Noll Iara de

    Toledo Fernandes Ives Gandra da Silva Martins J. Oliveira Filho J. A Mello Filho

    J. J. Gomes Canotilho J.M. Othon Sidou Jorge Miranda Jos Afonso da Silva Jos

    Alfredo de Oliveira Baracho Jos Cretella Jnior Jos Cretella Neto Jos Fernando da

    Silva Lopes Jos Frederico Marques Kildare Gonalves Carvalho Leon Diguit Luiz

    Bispo Luiz Celso de Barros Luiz Roberto Barroso Manoel Aureliano de Gusmo

    Manuel Gonalves Ferreira Filho Marcelo Caetano Maria A. P. Campos Maurice

    Hauriou Michel Temer Miguel Reale Orlando de Assis Corra Orlando Soares

    Paulino Jacques Paulo Bonavides Paulo Dourado de Gusmo Paulo Jos da Costa Jr.

    Pedro Roberto Recomain Pedro Salvetti Netto Petrnio Braz Pinto Ferreira Plcido

    e Silva Pontes de Miranda Raul M. Horta Rui Barbosa Ruy Cirne Lima Rudolph

    von Ihering Sahid Maluf Santi Romano Srgio Alberto Frazo do Couto Trcio

    Sampaio Ferraz Jnior Uadi Lammgo Bulos Walter Ceneviva Wilson Accioli Wolgran

    Junqueira Ferreira.

  • XI

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    PREMBULO .............................................................................................................

    TTULO I

    DOS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS (arts. 1 a 4) ..........................................................

    TTULO II

    DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (arts. 5 a 17) ...................................

    CAPTULO I DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS (art. 5) ...........

    CAPTULO II DOS DIREITOS SOCIAIS (arts. 6 a 11) .....................................................

    CAPTULO III DA NACIONALIDADE (arts. 12 e 13) ..........................................................

    CAPTULO IV DOS DIREITOS POLTICOS (arts. 14 a 16) ...............................................

    CAPTULO V DOS PARTIDOS POLTICOS (art. 17) .........................................................

    TTULO III

    DA ORGANIZAO DO ESTADO (arts. 18 a 43) ............................................................

    CAPTULO I DA ORGANIZAO POLTICO-ADMINISTRATIVA (arts. 18 e 19) ...............

    CAPTULO II DA UNIO (arts. 20 a 24) ............................................................................

    CAPTULO III DOS ESTADOS FEDERADOS (arts. 25 a 28) ............................................

    CAPTULO IV DOS MUNICPIOS (arts. 29 a 31) ...............................................................

    CAPTULO V DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITRIOS (arts. 32 e 33) ................

    Seo I Do Distrito Federal (art. 32) ..................................................................

    Seo II Dos Territrios (art. 33) ........................................................................

    NDICE SISTEMTICO

    1

    2

    11

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    37

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    90

  • XII

    FRANCISCO BRUNO NETO

    CAPTULO VI DA INTERVENO (arts. 34 a 36) .............................................................

    CAPTULO VII DA ADMINISTRAO PBLICA (arts. 37 a 43) ........................................

    Seo I Disposies Gerais (arts. 37 e 38) ........................................................

    Seo II Dos Servidores Pblicos (arts. 39 a 41) ...............................................

    Seo III Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territrios (art. 42) ......

    Seo IV Das Regies (art. 43) ...........................................................................

    TTULO IV

    DA ORGANIZAO DOS PODERES (arts. 44 a 135) .....................................................

    CAPTULO I DO PODER LEGISLATIVO (arts. 44 a 75) ....................................................

    Seo I Do Congresso Nacional (arts. 44 a 47) .................................................

    Seo II Das Atribuies do Congresso Nacional (arts. 48 a 50) ......................

    Seo III Da Cmara dos Deputados (art. 51) ..................................................

    Seo IV Do Senado Federal (art. 52) ...............................................................

    Seo V Dos Deputados e dos Senadores (arts. 53 a 56) .................................

    Seo VI Das Reunies (art. 57) ........................................................................

    Seo VII Das Comisses (art. 58) .....................................................................

    Seo VIII Do Processo Legislativo (arts. 59 a 69) ............................................

    Subseo I Disposio geral (art. 59) ......................................................

    Subseo II Da emenda Constituio (art. 60) .....................................

    Subseo III Das leis (arts. 61 a 69) ........................................................

    Seo IX Da Fiscalizao Contbil, Financeira e Oramentria (arts. 70 a 75) .......

    CAPTULO II DO PODER EXECUTIVO (arts. 76 a 91) .....................................................

    Seo I Do Presidente e do Vice-Presidente da Repblica (arts. 76 a 83) .......

    Seo II Das Atribuies do Presidente da Repblica (art. 84) ........................

    Seo III Da Responsabilidade do Presidente da Repblica (arts. 85 e 86) ......

    Seo IV Dos Ministros de Estado (arts. 87 e 88) .............................................

    Seo V Do Conselho da Repblica e do Conselho de Defesa Nacional

    (arts. 89 a 91) ..........................................................................................................

    Subseo I Do Conselho da Repblica (arts. 89 e 90) .............................

    Subseo II Do Conselho de Defesa Nacional (art. 91) ............................

    CAPTULO III DO PODER JUDICIRIO (arts. 92 a 126) ..................................................

    Seo I Disposies Gerais (arts. 92 a 100) ......................................................

    Seo II Do Supremo Tribunal Federal (arts. 101 a 103) .................................

    Seo III Do Superior Tribunal de Justia (arts. 104 e 105) ............................

    Seo IV Dos Tribunais Regionais Federais e dos Juzes Federais (arts. 106 a 110) .....

    Seo V Dos Tribunais e Juzes do Trabalho (arts. 111 a 117) .......................

    Seo VI Dos Tribunais e Juzes Eleitorais (arts. 118 a 121) ..........................

    Seo VII Dos Tribunais e Juzes Militares (arts. 122 a 124) ...........................

    Seo VIII Dos Tribunais e Juzes dos Estados (arts. 125 e 126) ....................

    91

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  • XIII

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    CAPTULO IV DAS FUNES ESSENCIAIS JUSTIA (arts. 127 a 135) ......................

    Seo I Do Ministrio Pblico (arts. 127 a 130) ................................................

    Seo II Da Advocacia Pblica (arts. 131 e 132) ..............................................

    Seo III Da Advocacia e da Defensoria Pblica (arts. 133 a 135) ..................

    TTULO V

    DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIES DEMOCRTICAS (arts. 136 a 144)......

    CAPTULO I DO ESTADO DE DEFESA E DO ESTADO DE STIO (arts. 136 a 141) .......

    Seo I Do Estado de Defesa (art. 136) .............................................................

    Seo II Do Estado de Stio (arts. 137 a 139) ....................................................

    Seo III Disposies Gerais (arts. 140 e 141) ..................................................

    CAPTULO II DAS FORAS ARMADAS (arts. 142 e 143) .................................................

    CAPTULO III DA SEGURANA PBLICA (art. 144) ........................................................

    TTULO VI

    DA TRIBUTAO E DO ORAMENTO (arts. 145 a 169) ................................................

    CAPTULO I DO SISTEMA TRIBUTRIO NACIONAL (arts. 145 a 162) ...........................

    Seo I Dos Princpios Gerais (arts. 145 a 149-A) .............................................

    Seo II Das Limitaes do Poder de Tributar (arts. 150 a 152) ......................

    Seo III Dos Impostos da Unio (arts. 153 e 154) ...........................................

    Seo IV Dos Impostos dos Estados e do Distrito Federal (art. 155) ...............

    Seo V Dos Impostos dos Municpios (art. 156) ...............................................

    Seo VI Da Repartio das Receitas Tributrias (arts. 157 a 162) ..............

    CAPTULO II DAS FINANAS PBLICAS (arts. 163 a 169) .............................................

    Seo I Normas Gerais (arts. 163 e 164) ...........................................................

    Seo II Dos Oramentos (arts. 165 a 169) .......................................................

    TTULO VII

    DA ORDEM ECONMICA E FINANCEIRA (arts. 170 a 192) ..........................................

    CAPTULO I DOS PRINCPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONMICA (arts. 170 a 181) ...

    CAPTULO II DA POLTICA URBANA (arts. 182 e 183) ....................................................

    CAPTULO III DA POLTICA AGRCOLA E FUNDIRIA E DA REFORMA AGRRIA

    (arts. 184 a 191) .............................................................................................

    CAPTULO IV DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (art. 192) .....................................

    TTULO VIII

    DA ORDEM SOCIAL (arts. 193 a 232) ............................................................................

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  • XIV

    FRANCISCO BRUNO NETO

    CAPTULO I DISPOSIO GERAL (art. 193) ....................................................................

    CAPTULO II DA SEGURIDADE SOCIAL (arts. 194 a 204) ..............................................

    Seo I Disposies Gerais (arts. 194 e 195) ....................................................

    Seo II Da Sade (arts. 196 a 200) ..................................................................

    Seo III Da Previdncia Social (arts. 201 e 202) .............................................

    Seo IV Da Assistncia Social (arts. 203 e 204) ..............................................

    CAPTULO III DA EDUCAO, DA CULTURA E DO DESPORTO (arts. 205 a 217) .........

    Seo I Da Educao (arts. 205 a 214) .............................................................

    Seo II Da Cultura (arts. 215 e 216) ................................................................

    Seo III Do Desporto (art. 217) ........................................................................

    CAPTULO IV DA CINCIA E TECNOLOGIA (arts. 218 e 219).........................................

    CAPTULO V DA COMUNICAO SOCIAL (arts. 220 a 224) ...........................................

    CAPTULO VI DO MEIO AMBIENTE (art. 225) .................................................................

    CAPTULO VII DA FAMLIA, DA CRIANA, DO ADOLESCENTE E DO IDOSO (arts. 226 a 230) ...

    CAPTULO VIII DOS NDIOS (arts. 231 e 232) .................................................................

    TTULO IX

    DAS DISPOSIES CONSTITUCIONAIS GERAIS (arts. 233 a 250) ..............................

    ATO DAS DISPOSIES CONSTITUCIONAIS TRANSITRIAS (arts. 1 a 94) ..........

    EMENDAS CONSTITUCIONAIS DE REVISO ..............................................................

    EMENDAS CONSTITUCIONAIS .....................................................................................

    NDICE ALFABTICO-REMISSIVO DA CONSTITUIO .............................................

    SMULAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL .........................................................

    SMULAS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA ....................................................

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    471

  • 1

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

    (Promulgada em 5.10.1988 e publicada

    no Dirio Oficial da Unio n 191-a, de 5 de outubro de 1988)

    PREMBULO1

    Ns, representantes do povo brasileiro, reu-

    nidos em Assemblia Nacional Constituinte2

    para instituir um Estado Democrtico,3

    des-

    tinado a assegurar o exerccio dos direitos

    sociais e individuais, a liberdade, a seguran-

    a, o bem-estar, o desenvolvimento, a igual-

    dade e a justia como valores supremos de

    uma sociedade fraterna, pluralista e sem

    preconceitos, fundada na harmonia social e

    comprometida, na ordem interna e inter-

    nacional, com a soluo pacfica das con-

    trovrsias, promulgamos, sob a proteo de

    Deus, a seguinte Constituio4

    da Repblica

    Federativa do Brasil.

    1. Prembulo a parte introdutria da Cons-

    tituio. No pode ser dispensado na interpretao

    sistemtica do texto. o elemento que d a altura

    ideolgica, numa forma imperativa Constituio,

    estando longe de ser uma frase incua, sem senti-

    do, sem expresso, sem razo de ser, pois deve ele

    servir de guia aos intrpretes e executores quando

    embaraados nos lugares obscuros, ambguos,

    lacunosos, necessitem fixar ao texto defeituoso o

    sentido preciso, completo e adequado. Para o pro-

    fessor Manoel Gonalves Ferreira Filho, o Prem-

    bulo de uma Constituio pode servir para exprimir

    os princpios bsicos em que se inspirou o constituin-

    te, assim como a fonte do prprio Poder Constituinte.

    Por isso, freqentemente, fornece elementos de

    grande valia para a interpretao do texto. As Cons-

    tituies brasileiras sempre tiveram prembulos,

    exceo feita Carta Constitucional de 1937, a qual

    fez substituir o prembulo por uma srie de consi-

    derandos, com os quais o usurpador da soberania

    nacional procurou justificar seus atos. A invocao

    do nome de Deus uma praxe constitucional brasi-

    leira. Fizeram-na as Constituies de 1824, 1934,

    1946, 1967, 1969 e 1988. No fez a de 1891, mas

    apenas porque estavam os constituintes republica-

    nos preocupados em separar o Estado da Religio

    e assim acharam que a insero do nome de Deus

    na Constituio viria concorrer para nova confuso.

    Somente por isso o omitiram. No consta, tambm,

    da Carta Constitucional de 1937. Quanto ao valor

    jurdico do prembulo, duas so as correntes: a pri-

    meira, no lhe atribui qualquer valor jurdico; a se-

    gunda, lhe d absoluto valor jurdico constitucional,

    considerando-o como parte integrante da Constitui-

    o. Os constituintes manifestam aquilo que enten-

    dem como sendo a conscincia social da Nao,

    naquele determinado momento histrico. Exprimem

    a forma poltica imaginada e ambicionada pelo povo,

    bem como as normas substnciais que consideram

    essenciais organizao da sociedade. o esprito

    da obra constitucional. Define-se, tambm, como um

    enunciado solene do esprito de uma Constituio,

    do seu contedo ideolgico e do pensamento que

    orientou os trabalhos da Assemblia Constituinte.

    o prtico da Constituio e conhecido, tambm,

    como introduo ou prlogo. Academicamente: a

    janela da Constituio.

    2. Assemblia Nacional Constituinte For-

    ma-se quando h transformaes na sociedade, al-

    terando-se o pacto social. A nova classe dominante,

    ou os novos grupos vitoriosos se renem na cha-

    mada conveno constitucional, para a ordenao

    ou reordenao da vida do Estado (estabelecendo

    ou modificando uma ordem constitucional, a forma

    do Estado, a organizao e a estrutura da socieda-

    de poltica). O Poder Constituinte exprime a vonta-

  • 2

    FRANCISCO BRUNO NETO

    de poltica da sociedade. o poder de elaborar a

    Constituio. Seus elementos so: Teoria (francesa),

    Agente (homem ou grupo de homens), Titularidade

    (o povo), Exerccio (assemblia nacional constituin-

    te) e Natureza (a Constituio). Suas espcies: Po-

    der Constituinte Originrio (aquele que no se subor-

    dina a limitaes de legislao alguma, estando su-

    jeito apenas s presses populares das classes so-

    ciais e aos valores morais e espirituais da opinio

    pblica. Assim, ele inicial e ilimitado) e Poder Cons-

    tituinte Derivado (ou chamado tambm de refor-

    mador) que significa dizer: aquele que retira a sua

    competncia da prpria Constituio.

    3. Estado Democrtico Refere-se ao regime

    poltico que permite ao povo uma efetiva participa-

    o no processo de formao da vontade pblica.

    Democracia, conforme ensina o professor Ataliba

    Nogueira, o regime em que o povo, pelo seu en-

    tender livre, toma resolues concretas em matria

    poltica. O Estado Democrtico visa assegurar o

    exerccio dos direitos sociais e individuais, assim

    como a liberdade, a segurana, o bem-estar, o de-

    senvolvimento, a igualdade e a justia. Inmeros so

    os objetivos, os fins ltimos, que pretende a Consti-

    tuio alcanar no Estado Democrtico. O primeiro

    deles o exerccio dos direitos sociais e individuais.

    Para Cesarino Jnior, os direitos sociais assim se

    definem: o complexo de princpios e normas impe-

    rativas que tm por objeto a adaptao de forma

    jurdica realidade social, considerando os homens

    na sua personalidade concreta e como membro dos

    grupos sociais diferentes do Estado e tendo em vis-

    ta, principalmente, as diferenas de situao eco-

    nmica entre eles existentes. De outro lado, obser-

    va Sampaio Dria: Os direitos individuais com que

    as Constituies fronteirizam os abusos de poder,

    no so todos os direitos que cada indivduo possa

    ter. Mas s fundamentais, e nem todos estes. Direito

    Fundamental o direito inerente personalidade

    humana, a ausncia do constrangimento para toda

    a atividade sem a qual no se conserve, nem se

    aperfeioe o homem. manifestao do livre-arb-

    trio do homem o direito de liberdade, ou faculdade

    que o homem tem de realizar seu fim individual e

    social, elegendo os meios vlidos dentro da esfera

    da ordem jurdica e social. Outro propsito que bus-

    ca a Constituio a segurana que deve ser en-

    tendida em seu sentido amplo: a segurana jurdica

    e a segurana pessoal. A jurdica condio essen-

    cial para a vida e desenvolvimento das pessoas.

    Garantia da aplicao objetiva da lei, de tal modo

    que os indivduos sabem em cada momento quais

    so os seus direitos e suas obrigaes. Segurana

    jurdica somente se consegue nos Estados de Direi-

    to. A segurana social a convico do respeito de

    uma pessoa pela outra, enquanto exera o direito e

    cumpra o dever. Quanto ao bem-estar, outra garan-

    tia como propsito da Lei Maior, trata-se do bem-

    estar que no individualista e nem socialista, mas

    mutualista, onde o processo de produo deve ser

    eficaz e fonte de enriquecimento e gozo da pessoa.

    Outro propsito da Constituio assegurar o de-

    senvolvimento. O desenvolvimento o econmico.

    A igualdade outro objetivo da Constituio. H que

    se entender a igualdade formal e no a material. Os

    desnveis materiais entre as pessoas sempre existi-

    ram e sempre existiro. Entretanto a igualdade pe-

    rante a lei que deve tratar os iguais de forma igual, e

    esta igualdade se desiguala na proporo que as

    pessoas de desigualam entre si. Por fim, o Estado

    Democrtico dever construir uma sociedade frater-

    na, pluralista e sem preconceitos que abrace todos

    aqueles que aqui nasceram ou que vierem viver, sem

    qualquer preconceito de raa, de cor, de trabalho,

    de sexo, de origem familiar ou de condio socioeco-

    nmica. Esta pluralidade na sociedade que real-

    mente constitui um dos fatores da existncia da Na-

    o (assim se l em Wolgran Junqueira Ferreira, Co-

    mentrios Constituio de 1988).

    4. Constituio Corpo de lei que rege o Es-

    tado, limitando o poder de governo e determinando

    a sua realizao. Singelamente, podemos dizer: o

    primeiro documento jurdico da Nao. Nele docu-

    mento (ou nela Constituio) encontramos um con-

    junto de normas (que podem ser de eficcia plena,

    de eficcia contida e aplicao imediata e/ou de efi-

    ccia limitada) que definem a estrutura do Estado

    (princpios fundamentais), estabelecem a trplice di-

    viso do poder, garantindo o exerccio dos direitos e

    garantias fundamentais (tais como a vida, a liberda-

    de, a propriedade e a segurana) a todo e qualquer

    cidado nato ou naturalizado no Territrio Nacional.

    Desse documento (ou nela, a Constituio) fluem

    as leis supremas e bsicas para uma associao

    humana politicamente organizada. Quanto a sua ori-

    gem, a Constituio pode ser: outorgada ou dogm-

    tica. A Constituio Outorgada aquela que re-sulta de uma concesso do Chefe de Estado, de uma

    junta governativa, agindo o rgo outorgante como

    titular do poder ( a Constituio imposta ao povo,

    que no foi ouvido ou consultado). A Constituio

    Dogmtica aquela que o povo atravs de re-presentantes eleitos para esse fim elabora e promul-

    ga, por meio de uma Assemblia Nacional Constituin-

    te instituda para exercer a atividade constituinte.

    essa a legtima, a verdadeira, pois emana da legti-

    ma fonte do poder, expressando a vontade popular.

    tambm conhecida por Constituio promulgada

    popular ou verdadeira.

    TTULO I

    Dos Princpios Fundamentais

    Art. 1 A Repblica Federativa1

    do Brasil,2

    Art. 1

  • 3

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    formada pela unio indissolvel dos Esta-

    dos3

    e Municpios4

    e do Distrito Federal,5

    constitui-se em Estado Democrtico de Di-

    reito6

    e tem como fundamentos:

    1. Repblica Federativa Governo da maio-

    ria. Renova-se mediante eleies peridicas. Dura-

    o limitada do mandato. Repblica coisa do povo

    a forma de governo onde o povo exerce, ao

    menos nominalmente, o poder, atravs de um parla-

    mento que o representa no Poder Legislativo e onde

    o Chefe do Estado e do Governo (Presidente da Re-

    pblica), tambm, mandatrio do povo (res publi-

    ca = coisa do povo). O sistema republicano tem

    como princpio virtual a durao limitada do manda-

    to. Desde a primeira Constituio do Brasil, de 24

    de fevereiro de 1891, o Brasil uma Repblica Fe-

    derativa (exceo feita Carta Constitucional de

    1937, em que o federalismo cedeu lugar ao unita-

    rismo para que houvesse condies para o exerc-

    cio do perodo ditatorial que prevaleceu at 1945).

    Aponta Carl Schmitt (in Teora de la Constitucin) a

    Federao como uma unio permanente, baseada

    em livre convnio ao servio do bem comum de auto-

    conservao de todos os seus membros, mediante

    a qual, modifica-se totalmente o status poltico de

    cada um de seus componentes, em ateno ao fim

    comum.

    2. Repblica Federativa do Brasil Formada

    pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e

    do Distrito Federal, constitui-se em Estado Demo-

    crtico de Direito e tem como fundamentos: a sobe-

    rania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana,

    os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o

    pluralismo partidrio. Tem como Poderes da Unio,

    independentes e harmnicos entre si, o Legislativo,

    o Executivo e o Judicirio. Sua Capital tem sede em

    Braslia. Sua extenso geogrfica de 8.511.996 km2

    ,

    dividido em cinco regies: Norte, Nordeste, Centro-

    Oeste, Sudeste e Sul. Sua populao ultrapassa a

    soma de 170 milhes de habitantes. Sua diviso ad-

    ministrativa realizada por 26 Estados, 1 Distrito

    Federal (poltico/capital) e aproximadamente 5.500

    Municpios. Como Regime Partidrio o pluripartida-

    rismo. O Sistema de Governo o presidencialismo,

    ou seja, o Presidente da Repblica executa as fun-

    es de Chefe de Estado e Chefe de Governo. A

    lngua portuguesa o idioma oficial da Repblica

    Federativa do Brasil. Tem como smbolos: a bandei-

    ra, o hino, as armas e o selo. Permite que seus Esta-

    dos, o Distrito Federal e os Municpios tenham sm-

    bolos prprios. considerado um pas de imigra-

    o, vejamos: (1) Em 1819, no Rio de Janeiro, che-

    garam os suos-alemes, provenientes do Canto

    de Freiburg (fundaram a cidade de Nova Friburgo).

    (2) Em 1820, no Rio Grande do Sul, chegaram os

    alemes (fundaram a cidade de So Leopoldo). (3)

    Em 1820 (com auge em 1901), em So Paulo, Rio

    de Janeiro, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul,

    chegaram os espanhis. (4) Em 1861, no Rio Gran-

    de do Sul (fundaram as cidades de Caxias do Sul e

    Bento Gonalves) e em 1887 em grande quantida-

    de para So Paulo, chegaram os italianos. (5) Em

    1860 e em 1890, primeiro na Amaznia e depois no

    Centro-Sul, chegaram os srios e libaneses, prove-

    nientes do Oriente Mdio. (6) Em 1908, em So Pau-

    lo, chegaram os japoneses, provenientes de reas ru-

    rais. (7) Em 1884, em So Paulo, chegaram os aus-

    tracos e hngaros, provenientes do Imprio Austro-

    hngaro. (8) Em 1875, no Paran, chegaram os es-

    lavos, provenientes da Polnia, Rssia, etc. Pero-

    dos: (1) Pr-colonial (de 22 de abril de 1500 at a

    expedio colonizadora de Martim Afonso de Sou-

    za, em 1530). (2) Brasil-colnia (de 1530, ou seja,

    da expedio de Martim Afonso de Souza at a pro-

    clamao da Independncia, por D. Pedro I, em 7

    de setembro de 1822). (3) Brasil-imperial (de 7 de

    setembro de 1822, ou seja, da proclamao da sua

    independncia at a proclamao da Repblica, em

    15 de novembro de 1889). (4) Brasil-republicano (da

    proclamao da Repblica, ou seja, de 15 de no-

    vembro de 1889 at os dias de hoje). Com subpe-

    rodo, tais como: (a) Primeira Repblica (at 1930).

    (b) Perodo Getlio Dornelles Vargas (at a deposi-

    o em 1945). (c) Estado-Novo (1937 a 1945). (d)

    Segunda Repblica (de 1945 a 1964). (e) Golpe de

    1964. (f) Regime Militar (de maro de 1964 at 1985)

    e (g) Perodo de Redemocratizao, que iniciou em

    1985, com o fim do Regime Militar. No texto consti-

    tucional vigente, a soberania popular exercida pelo

    sufrgio universal e pelo voto direto e secreto, com

    valor igual para todos, e, de conformidade com a

    lei, mediante: o plebiscito, o referendo e a iniciativa

    popular. Permite a livre criao, fuso, incorporao

    e extino de partidos polticos, resguardados a so-

    berania nacional, o regime democrtico, o pluri-

    partidarismo, os direitos fundamentais da pessoa

    humana, alm de observar os preceitos contidos na

    legislao.

    3. Estado Sociedade necessria (aquela que

    preexiste ao nascer do homem: famlia, religio e

    poltica) em que se observa o exerccio de um Go-

    verno (conjunto das funes pelas quais, no Esta-

    do, assegurada a ordem jurdica) dotado de sobe-

    rania (autoridade superior que no pode ser limita-

    da por nenhum outro poder) a exercer seu poder

    sobre uma populao (sem essa substncia huma-

    na no h que cogitar da formao ou existncia do

    Estado), num determinado territrio (base fsica onde

    ocorre a validade da sua ordem jurdica), onde cria

    as leis (atravs do Poder Legislativo), depois execu-

    ta-as (atravs do Poder Executivo) e, por fim, aplica

    seu ordenamento jurdico (atravs do Poder Judici-

    rio), visando o bem-estar comum (como sua princi-

    Art. 1

  • 4

    FRANCISCO BRUNO NETO

    pal finalidade) da sua sociedade. Singelamente, as-

    sim define o professor Pedro Calmom: Estado

    uma nao politicamente organizada.

    4. Municpio Entidade jurdica de Direito P-

    blico Interno, integrante da Federao, resultante da

    diviso territorial administrativa (anteriormente era

    criado e organizado pelo Estado) do pas, com au-

    tonomia poltica, administrativa e financeira (capaci-

    dade e poder para gerir os prprios negcios de

    interesse local). Rege-se por Lei Orgnica Munici-

    pal (aps a Constituio Federal de 1988, cada Mu-

    nicpio tem a sua Lei Orgnica), uma espcie de

    constituio municipal, que est sob o ordenamento

    da Constituio do Estado respectivo. Tem Poder

    Legislativo Municipal, que exercido pela Cmara

    Municipal, e Poder Executivo Municipal, que exer-

    cido pelo Prefeito e auxiliado por secretrios muni-

    cipais. Compete ao Municpio legislar sobre assun-

    tos de interesse local, suplementar legislao fe-

    deral e estadual no que couber, alm de uma srie

    de outras atribuies.

    5. Distrito Federal Antigo Municpio neutro,

    hoje sede do Governo Federal. No Estado e no

    Municpio ( vedada sua diviso em Municpios).

    Localizado no planalto central do pas, a Capital

    da Repblica Federativa do Brasil (instalada em 21

    de abril de 1960), Braslia. Sua autonomia est reco-

    nhecida no vigente texto constitucional. regido por

    Lei Orgnica prpria, sendo que sua capacidade de

    auto-organizao efetiva-se mediante a elaborao

    de sua Lei Orgnica, que definir: os princpios b-

    sicos da organizao dessa unidade federada, sua

    competncia e seus poderes governamentais. O Dis-

    trito Federal tem autonomia poltico-administrativa li-

    mitada. Elege governador, vice e deputados distritais.

    Na dimenso geogrfica e na dimenso populacional

    no h diferena entre o Distrito Federal e as outras

    unidades da Federao.

    6. Estado Democrtico de Direito Para um

    melhor entendimento, dividimos esse princpio es-

    tabelecido no texto constitucional em Estado Demo-

    crtico e Estado de Direito. O Estado Democrtico

    refere-se ao regime poltico que permite ao povo

    brasileiro uma efetiva participao no processo de

    formao da vontade pblica. O Estado de Direito

    refere-se ao regime jurdico que autolimita o poder

    de governo ao cumprimento das leis que a todos

    subordina. Enfim, refere-se ao regime poltico que

    permite ao povo uma efetiva participao no pro-

    cesso de formao da vontade pblica (governo e

    governados).

    I a soberania;7/8

    7. a autoridade superior que no pode ser

    limitada por nenhum outro poder. Ela uma s (una),

    integral e universal. No conceito do Professor Miguel

    Reale, a soberania uma espcie de fenmeno

    genrico do poder. Uma forma histrica de poder

    que representa configuraes especialssimas que

    se no encontram seno em esboos nos corpos

    polticos antigos e medievos. A soberania, no con-

    ceito da escola clssica, una (porque no pode

    existir mais de uma autoridade soberana em um

    mesmo territrio), indivisvel (o poder soberano

    delega atribuies, reparte competncias, mas no

    divide a soberania), inalienvel ( a soberania, por

    sua prpria natureza. A vontade personalssima.

    No se aliena, no se transfere a outrem) e impres-

    critvel ( ainda soberania, no sentido de que no

    pode sofrer limitaes no tempo). Segundo os prin-

    cpios de Direito Constitucional, vem firmar o con-

    ceito democrtico, em virtude do qual a soberania,

    atribuda ao Estado, pertence ao prprio povo, cons-

    titudo em Nao. Para o mestre Jos Afonso da Sil-

    va (in Curso de Direito Constitucional Positivo), o

    Estado Federal, o todo, como pessoa reconhecida

    pelo direito internacional, o nico titular da sobe-

    rania, considerada poder supremo consistente na

    capacidade de autodeterminao. O territrio no

    pode comportar seno uma s soberania. A sobera-

    nia essencial ao Estado. suprema em sua esfera.

    8. Arts. 18, caput, 34, I, 60, 4 e I, da CF. De-

    creto n 678, de 1992 (Direitos Humanos Pacto de

    So Jos da Costa Rica). Declarao Universal dos

    Direitos Humanos, 1948. Pacto Internacional dos

    Direitos Civis e Polticos, 1966.

    II a cidadania; 9/10

    9. Vnculo poltico que liga o indivduo ao Esta-

    do e que lhe atribui direitos e deveres de natureza

    poltica. Qualidade de cidado. um dos compo-

    nentes do Estado Democrtico. a participao, o

    direito de qualquer pessoa, do povo brasileiro, de

    participar da vida poltica do pas votando e sendo

    votado. natural quando se refere aos indivduos

    nascidos no pas. legal se adquirida por naturali-

    zao. No se confunde com nacionalidade, ainda

    que esta seja pressuposto da cidadania. Ela um

    dos fundamentos da Repblica Federativa do Bra-

    sil. So gratuitos os atos necessrios ao exerccio

    da cidadania. Cabe Unio legislar sobre: naciona-

    lidade, cidadania e naturalizao.

    10. Arts. 5 , LXXI, 14, 20, VI, 21, I e III, 84, VII,

    VIII, XIX e XX, 137, II, 170, I, da CF. Arts. 201, 202,

    210 e 211 do CPC. Arts. 780 e 790 do CPP.

    III a dignidade da pessoa humana;11/12

    11. Respeito devido a todo e qualquer cidado

    (direitos individuais). A dignidade das pessoas um

    dos atributos que deve estar sempre e muito pre-

    sente na Repblica Federativa. H que se entender

    como tal a erradicao da pobreza e a reduo das

    desigualdades sociais. o maior valor de todos os

    valores constitucionais para um ser humano.

    Art. 1

  • 5

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    12. Arts. 5, XIII, XLII, XLIII, XLVIII e L, 6, 7, 8,

    34, VII, b, 194 a 204 (dignidade ao trabalhador), 226,

    7, 227 e 230 da CF. Decreto n 678, de 1992 (Di-

    reitos Humanos Pacto de So Jos da Costa Rica).

    Lei n 8.842/94 (Conselho Nacional do Idoso). De-

    creto n 1.948/96. Emenda Constitucional n 31/00.

    IV os valores sociais do trabalho e da livre

    iniciativa;13/14

    13. O grande objeto a satisfao da sociedade,

    e o desenvolvimento da nao atravs da iniciativa

    privada. Entende-se como trabalho humano aquele

    possvel de ser realizado por um ser humano, pois

    no pode ser considerado, tido ou visto, tal e qual o

    mecnico e o animal. Quanto a livre iniciativa, para

    Yves Simon, esta decorre da prpria liberdade do ser

    humano, partindo-se do princpio onde uma tarefa

    pode ser satisfatoriamente preenchida pela iniciativa

    do indivduo ou de pequenas unidades sociais, a rea-

    lizao desta tarefa deve ser deixada iniciativa do

    indivduo ou das pequenas unidades sociais.

    14. Arts. 6 a 11, 21, XXIV, 170, 193, 194, 203,

    III, 204, 214, IV, e 227, 3, I, da CF.

    V o pluralismo poltico.15/16

    15. Um dos elementos bsicos do Estado de

    Direito, representado na liberdade de organizao

    e funcionamento de partidos para a misso fiscali-

    zadora do governo (pluripartidarismo). Garantia das

    organizaes e defesa dos princpios e programas

    partidrios. Andr Hauriou (in Droit Constitutionnel

    et Institutions Politiques) assim define: O pluralismo

    das opinies entre os cidados, a liberdade de reu-

    nio onde as opinies no ortodoxas podem ser pu-

    blicamente sustentadas, a liberdade de associao

    e o pluralismo dos partidos polticos, o pluralismo

    das candidaturas e o pluralismo dos grupos parla-

    mentares com assento nos bancos das Assembli-

    as, propicia a liberdade de pensamento.

    16. Art. 17 da CF. Art. 6 do ADCT. Lei n 9.096/

    95 (Lei dos Partidos Polticos).

    Pargrafo nico. Todo o poder emana do

    povo, que o exerce por meio de represen-

    tantes eleitos ou diretamente, nos termos

    desta Constituio.17/18

    17. No existe poder na Repblica que no

    derive da vontade popular. Aponta uma repblica

    indireta ou representativa, nascida em 1789 com a

    Revoluo Francesa, na qual se confere ao povo,

    por via do processo eleitoral, o poder do governo

    aos representantes ou delegados da comunidade.

    A expresso diretamente significa que todo e qual-

    quer cidado brasileiro pode propor projeto de lei

    desde que atenda aos pressupostos contidos no

    2 do art. 61 do vigente texto constitucional.

    18. Arts. 5, LXXIII, 14, I a III, 27, 29, I a IV, 45,

    46, 60, 4, II, 61, 2, da CF. Arts. 2 e 3 do ADCT.

    LC n 78/93 (sobre a fixao do nmero de deputa-

    dos federais por unidade da Federao). Lei n 9.709/

    98 (regulamenta a utilizao de plebiscitos, referen-

    dos e iniciativa popular por lei).

    Art. 2 So Poderes1

    da Unio, independentes

    e harmnicos 2

    entre si, o Legislativo,3

    o Exe-

    cutivo4

    e o Judicirio.5/6

    1. Poderes Inicialmente preciso explicar que

    no existe uma terminologia uniforme para com-

    preender a separao de poderes. So mais usuais

    as expresses: diviso de poderes, separao de

    poderes, independncia de poderes, distino de

    poderes e tripartio de poderes. A palavra poder

    significa rgo ou conjunto de rgos do Estado,

    aos quais se atribui certa funo especfica, como

    tarefa principal, ao lado de uma participao aces-

    sria em outra funo. Historicamente, atribui-se a

    Aristteles a distino dos poderes dos Estado. Para

    ele, o poder poltico se cinge em trs grandes cate-

    gorias. A primeira tentativa de aplicao prtica da

    discriminao de poderes, com alcance nacional,

    atribuda a Cromwell, no Instrument of Governement,

    em 1653. Nesse documento poltico, o estadista in-

    gls procurou racionalizar a prtica dos atos gover-

    namentais, discriminando-os ou separando-os, con-

    forme sua natureza e alcance. Posteriormente, dois

    filsofos ingleses, Locke e Bolingbroke, aperfeioa-

    ram o sistema de Cromwell, engendrando um com-

    plexo sistema de controle recproco dos poderes do

    Estado. Alguns autores reputam Bolingbroke o pai

    da doutrina do equilbrio dos poderes. A doutrina

    da diviso dos poderes do Estado, da para diante,

    tendeu a aperfeioar-se, at que, em Montesquieu,

    no clebre livro De lEsprit des Lois, encontrou ela a

    sua mais autorizada fundamentao. O renomado

    autor primeiro descreve a natureza das funes do

    Estado, dando, a seguir, sua justificao psicolgi-

    ca. Eis suas prprias palavras: Em todo o Estado

    h trs espcies de poderes, o Poder Legislativo, o

    Poder Executivo das coisas que dependem do di-

    reito das gentes e o Poder Executivo das que de-

    pendem do direito civil. Pelo primeiro, o prncipe ou

    magistrado faz as leis para algum tempo ou para

    sempre, e corrige ou ab-roga as que esto feitas.

    Pelo segundo, ele faz a paz ou a guerra, envia e

    recebe embaixadas, estabelece a ordem, prev as

    invases. Pelo terceiro, pune os crimes e julga os

    dissdios dos particulares. Chama-se ao ltimo po-

    der de julgar e ao outro simplesmente o Poder Exe-

    cutivo do Estado. A doutrina do poder de impor-

    tncia fundamental, no s para a Cincia Poltica,

    como para o Direito Constitucional. Dos autores cls-

    sicos, Rousseau foi incansvel no proclamar a

    indivisibilidade da soberania para significar, tam-

    Art. 2

  • 6

    FRANCISCO BRUNO NETO

    bm, a indivisibilidade substancial do poder estatal.

    Segundo essa doutrina o poder estatal uno e

    indivisvel na sua essncia, no seu substratum, divi-

    dindo-se, apenas, em seu exerccio, em suas mani-

    festaes exteriores, por meio dos rgos do Esta-

    do. Assim, cada rgo do Estado exerce, na esfera

    de sua competncia, o poder poltico unitrio do

    Estado. Isto porque o poder poltico uno, na sua

    origem, na sua essncia e na sua atuao origin-

    ria, que o poder constituinte e s se divide, em seu

    exerccio, em poderes constitudos que so: Poder

    Legislativo, Poder Executivo e Poder Judicirio, en-

    carregado cada qual, no mbito de suas atribuies,

    de realizar as tarefas estatais. Fica esclarecido, por

    conseguinte, que o que se divide o exerccio do

    poder estatal e no o poder estatal propriamente dito.

    Da ser imprprio, e at incorreto, falar-se em divi-

    so do poder poltico. Dividem-se as funes e os

    atos em que se concretiza o exerccio do poder. A

    diviso do exerccio do poder pode ocorrer por fun-

    es e rgos e chamada diviso funcional do

    exerccio do poder. O mestre Jellinek assim

    conceitua os poderes do Estado: (a) a Legislao

    (Poder Legislativo) Estabelece uma norma jurdi-ca abstrata, que regula uma pluralidade de casos

    ou um fato individual; (b) a Administrao (Poder

    Executivo) Resolve problemas concretos de acor-do com as normas jurdicas, ou dentro dos limites

    destas; (c) a Jurisdio (Poder Judicirio) Fixa,nos casos individuais, o direito incerto ou questio-

    nvel, assim como as situaes e interesses jurdi-

    cos. Harold Laski assim conceitua: (a) Poder

    Legislativo Este poder estabelece as normas ge-rais da sociedade. Afirma os princpios com respei-

    to aos quais os indivduos ajustam sua conduta; (b)

    Poder Executivo o poder que se dedica a adap-tar as normas gerais s situaes particulares. Se

    foi aprovada uma lei sobre aposentadoria, em caso

    de velhice, concede a soma especificada a quem

    tem direito de perceb-la; (c) Poder Judicirio o poder que determina a maneira pela qual o Poder

    Executivo realiza suas funes. Vela para que o exer-

    ccio do Poder Executivo se acomode s disposi-

    es gerais, ditadas pelo Poder Legislativo. Formu-

    la, tambm, as relaes entre os cidados, de uma

    parte, e entre estes e o governo de outra, quando se

    promovem questes que no so suscetveis de

    acordo. Poderes da Unio nas Constituies brasi-

    leiras: Na Constituio (Carta) de 1824 Acres-centou aos trs poderes clssicos o poder Modera-

    dor (como quarto poder), considerado como a cha-

    ve de toda a organizao poltica. Na Constituio

    de 1891 Adotou somente os poderes clssicos,ou seja: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o

    Poder Judicirio, harmnicos e independentes (Mon-

    tesquieu). Na Constituio de 1934 Manteve osclssicos trs poderes de Montesquieu, ou seja: o

    Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder

    Judicirio, possibilitando certa ascendncia do Po-

    der Legislativo, atravs do Senado Federal, ao qual

    foi atribuda a incumbncia de coordenar os pode-

    res federados entre si. Na Constituio (Carta) de

    1937 O Poder Legislativo passa a ser exercidopelo Parlamento Nacional com a colaborao do

    Conselho de Economia Nacional e do Presidente da

    Repblica. Por ser de inspirao totalitria, assegu-

    rava ao Presidente da Repblica poderes mais am-

    plos que a prpria Constituio de 1891 (um

    superpoder) Anteriormente to combatida pormotivo semelhante. Na Constituio de 1946 Retorna ao anterior sistema, vale dizer, relativo ao

    Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judici-

    rio, com o seguinte texto: So poderes da Unio o

    Legislativo, o Executivo e o Judicirio, independen-

    tes e harmnicos entre si. Na Constituio (Carta)

    de 1967 So poderes da Unio, independentese harmnicos, o Legislativo, o Executivo e o Judici-

    rio. No pargrafo nico do art. 6 continha: Salvo

    as excees previstas nesta Constituio, vedado

    a qualquer dos Poderes delegar atribuies; quem

    for investido na funo de um deles no poder exer-

    cer a de outro. Na Emenda Constitucional n 1,

    de 1969 Manteve o texto completo da Constitui-o (Carta) de 1967. Na Constituio de 1988 Volta a manter a clssica tripartio dos poderes:

    So poderes da Unio, independentes e harmni-

    cos, o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Po-

    der Judicirio, consoante se v do art. 2. Finalmen-

    te, a liberdade poltica somente existe nos governos

    moderados. Mas nem sempre ela existe nos gover-

    nos moderados. S existe quando no se abusa do

    poder, pois uma experincia eterna que todo ho-

    mem que detm o poder levado a dele abusar; e

    vai at onde encontra os limites. Para que no abu-

    se do poder, necessrio que, pela disposio das

    coisas, o poder limite o poder. Quando, na mesma

    pessoa ou no mesmo corpo de magistrados, o Po-

    der Legislativo est unido ao Poder Executivo, no

    h liberdade, pois de esperar que o mesmo mo-

    narca ou assemblia faa leis tirnicas e as execute

    tiranicamente. No h tambm liberdade, se o po-

    der de julgar no est separado do Poder Legislati-

    vo e do Executivo. Se aquele estiver unido ao Poder

    Legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos

    cidados ser arbitrrio, pois o juiz ser tambm le-

    gislador. Se o poder de julgar estiver unido ao Po-

    der Executivo, o juiz ter a fora de um opressor.

    Tudo estar perdido se o mesmo homem ou a mes-

    ma assemblia de notveis, ou de nobres ou do povo

    exerce os trs poderes, o de fazer as leis, o de exe-

    cutar as resolues e o de julgar os crimes ou

    dissdios dos particulares. A popularizao da dou-

    trina da separao de poderes deve-se obra de

    Montesquieu, a qual, graas ao momento histrico

    Art. 2

  • 7

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    em que apareceu e forma em que foi exposta, teve

    aceitao universal. Posteriormente, na Constituio

    do Estado da Virgnia, de 1776, e nas dos demais

    Estados norte-americanos, bem como na Constitui-

    o americana de 1787, a doutrina da separao de

    poderes foi aplicada, de maneira clara e insofismvel,

    at receber consagrao definitiva, na Constituio

    francesa de 1793. A doutrina da separao de po-

    deres, com as caractersticas que lhe imprimiu Mon-

    tesquieu, foi, universalmente, aceita e praticada, tor-

    nando-se um dos postulados do moderno Estado

    de Direito. Um ou outro autor procuraram introduzir-

    lhe modificaes, celebrizando, entre eles, Benja-

    min Constant, que idealizou um quarto poder, o

    moderador, por ele chamado pouvoir neutre, aplica-

    do entre ns durante a Constituio de 1824.

    2. Independentes e harmnicos Em verda-

    de o poder de soberania, intrinsecamente, substan-

    cialmente, uno e individual. Ele se manifesta atra-

    vs de trs rgos estatais formalmente separados.

    Dos trs rgos defluem trs categorias diversas de

    manifestaes tpicas do poder soberano. Como

    observa Kelsen, h unidade de poder estatal e

    pluralidade de suas formas de manifestaes. A so-

    berania realmente, necessariamente, una e indi-

    visvel. Ora, o Estado a organizao da soberania,

    e o governo a prpria soberania em ao. O po-

    der, portanto, um s. No pode haver duas sobe-

    ranias dentro de um mesmo Estado, mas pode per-

    feitamente haver rgos diversos da manifestao

    do poder de soberania. Cada rgo, dentro de sua

    esfera de ao, exerce a totalidade do poder sobe-

    rano. Em outras palavras: cada ato de governo, ma-

    nifestado por trs rgos, representa uma manifes-

    tao completa do poder. Explicando este fato, Kant

    parodiou o dogma da Santssima Trindade, dizendo

    que o Estado uno e trino ao mesmo tempo... A

    aparente confuso, porm, pode ser facilmente des-

    feita, colocadas as coisas nos seus devidos termos:

    o Legislativo, o Executivo e o Judicirio no podem

    ser independentes no sentido literal da palavra, j

    que devem ser harmnicos e coordenados entre si.

    So rgos de manifestao do poder de soberania

    nacional que na sua essncia uno e indivisvel.

    Cada um, na esfera de sua funo especfica, exer-

    ce a totalidade desse poder. Como o corpo humano

    se compe de vrios rgos e sentidos sujeitos ao

    fulcro de uma s vontade, o Estado manifesta a sua

    vontade, o seu poder, atravs desses trs rgos

    que compem a sua unidade. Cada um dos trs po-

    deres, isoladamente, sem a correo e a integrao

    dos dois outros, no chegaria a expressar o poder

    do citado. Por isso mesmo, a diviso formal e funcio-

    nal (no substancial) do poder de estado repele o

    significado literal do termo independente. Os trs po-

    deres s so independentes no sentido de que se

    organizam e funcionam separadamente, mas se

    entrosam e se subordinam mutuamente na finalida-

    de essencial de compor os atos de manifestao da

    soberania nacional, mediante um sistema de freios

    e controversos, na expresso dos constitucionalistas

    norte-americanos, realizando o ideal de conteno

    do poder pelo poder.

    3. Legislativo o rgo pblico, na esfera

    federal, estadual ou municipal, encarregado da ela-

    borao de normas genricas, dotadas de fora

    proeminente dentro do ordenamento jurdico, a que

    se denomina lei. um dos formadores do trip so-

    bre o qual repousa o sistema poltico nacional. En-

    fim, cabe-lhe expedir (criar e elaborar) as leis, como

    tambm fiscalizar o Poder Executivo (funo tpica

    do Poder Legislativo).

    4. Executivo um dos trs rgos (ele rece-

    be o poder, ao contnua, permanente e ininter-

    rupta) da soberania nacional. , de todos os pode-

    res da Unio, o mais antigo, pois o seu aparecimen-

    to data anteriormente tripartio dos poderes, sen-

    do que, na realidade, dele que surgiram os outros

    poderes. Sua estrutura pode ser presidencialista ou

    parlamentarista. Outro formador desse trip que re-

    pousa sobre o sistema poltico nacional. Enfim, cabe-

    lhe administrar e fazer executar as leis (funo tpica

    do Poder Executivo).

    5. Judicirio Um dos trs rgos que forma

    os poderes da Unio. Como funo tpica o rgo

    encarregado de fiscalizar a aplicao das leis, man-

    dar cumprir as leis e punir a todos aqueles que trans-

    gridam a ordem social obrigatria. todo ato ju-

    risdicional. Exercer a jurisdio aplicar a lei a ca-

    sos concretos, visando dirimir litgios, produzindo,

    assim, decises definitivas que sero cumpridas

    coercitivamente. Tem capacidade de produzir coisa

    julgada. Outro formador do trip sobre o qual re-

    pousa o sistema poltico nacional. Enfim, cabe-lhe

    fazer cumprir a lei e punir aquele que no a cumpre

    (funo tpica do Poder Judicirio).

    6. Verificar para o Legislativo, arts. 44 a 75 da

    CF e o Regimento Interno. Verificar para o Executi-

    vo, arts. 76 a 91 da CF e o Regimento Interno. Verifi-

    car para o Judicirio, arts. 92 a 126 da CF e o Esta-

    tuto da Magistratura. Art. 60, 4, III, da CF.

    Art. 3 Constituem objetivos fundamentais

    da Repblica Federativa do Brasil:1

    1. So objetivos fundamentais do Brasil. Den-

    tro de seus muros. Vale dizer, aplicveis na sua base

    fsica de (mais ou menos) oito milhes e meio de

    quilmetros quadrados. Devem ser seguidos pelas

    autoridades constitudas no sentido de permitir o de-

    senvolvimento e o progresso do nosso pas. Resu-

    midamente, na edio de leis ou atos normativos,

    devero servir de vetores de interpretao.

    Art. 3

  • 8

    FRANCISCO BRUNO NETO

    I construir uma sociedade livre, justa e soli-

    dria;2/3

    2. O texto do prembulo o grande conceito

    deste objetivo. Construo de uma sociedade que

    contenha, como requisitos essenciais, a liberdade,

    a justia e a solidariedade. A sociedade deve ofere-

    cer a todo ser humano que dela faz parte a liberda-

    de. Quanto justia, deve ser compreendida no sen-

    tido de que a sociedade e o direito necessariamen-

    te se pressupem, no podendo existir aquela sem

    que exista este, nem este sem aquela ubi societas

    ubi jus. Assim, se a coexistncia social resulta da

    natureza humana, tambm da natureza do homem,

    que feito imagem e semelhana de Deus, o direi-

    to decorre. Por fim, um dos objetivos fundamentais

    da Repblica Federativa a construo de uma co-

    munidade solidria que consiste na co-participao

    das comunidades. Devero os membros desta so-

    ciedade ter maior participao nas responsabilida-

    des e decises.

    3. Arts. 170 e 206 da CF. Decreto n 99.710/90

    (Conveno dos Direitos da Criana). Decreto n

    591/92 (Pacto internacional sobre direitos econmi-

    cos, sociais e culturais).

    II garantir o desenvolvimento nacional;4/5

    4. Objetivo fundamental do Estado = obri-

    gao. O texto do inciso II prev como um dos obje-

    tivos fundamentais do Estado o desenvolvimento

    nacional. Houve no perodo 1964 a 1979 um grande

    desenvolvimento no Brasil, porm no em todos os

    setores. O desenvolvimento de um pas, quase que

    sempre, nacionalmente falando, avaliado pelo alto

    grau de alfabetizao, pelo sistema hospitalar eficien-

    te, pelo alto consumo de bens de consumo, pelo

    eficaz uso da energia eltrica, pelo pequeno ndice

    de mortalidade infantil, e outros.

    5. Arts. 21, IX e XX, 23, pargrafo nico, 43, 48,

    IV, 151, I, 159, I, c, 174, 1, e 192 da CF. Arts. 12,

    34, 10, e 42 do ADCT.

    III erradicar a pobreza e a marginalizao

    e reduzir as desigualdades sociais e regio-

    nais;6/7

    6. Inserido no inciso I, pois, no se constri uma

    sociedade livre, justa e solidria, se no se der inte-

    gral cumprimento a esse objetivo fundamental para

    o grande passo a frente do nosso pas. Haveria an-

    tes que se falar em erradicar a pobreza, dizer-se em

    erradicar a misria. Este o grande problema que

    aflige o Brasil e do qual decorrem outros problemas,

    tais como a mortalidade infantil. No podemos dei-

    xar de diferenciar misria de pobreza, pois esta

    fruto do capitalismo selvagem, onde poucos detm

    muito enquanto alguns detm pouco e muitos nada.

    Por fim, este texto do inciso III tem como objetivo

    fundamental, desde que bem realizado, a reduo

    das desigualdades regionais. A Emenda Constitucio-

    nal n 31/00, altera o Ato das Disposies Constitu-

    cionais Transitrias introduzindo os artigos 79 a 83

    que criam o FCEP Fundo de Combate e Erradica-

    o da Pobreza, com previso para vigorar at o ano

    2010 no mbito do governo federal.

    7. Lei n 8.436/92 (programa do crdito edu-

    cativo para estudantes carentes). LC ns. 110/01 (re-

    gulamenta o Fundo de Combate e Erradicao da

    Pobreza) e 111/01 (sobre o Fundo de Combate e

    Erradicao da Pobreza). Arts. 23, X, 170, VII, e 214

    da CF. Arts. 60, 79 a 81 do ADCT. Emenda Constitucio-

    nal n 31/00.

    IV promover o bem de todos, sem preconcei-

    tos8

    de origem, raa, sexo, cor, idade e quais-

    quer outras formas de discriminao.9/10/11

    8. Preconceito Averso por pessoas de raa

    diversa, sem justificao consistente. A Constituio

    Federal pune o preconceito racial. O direito brasilei-

    ro considera o racismo crime inafianvel insusce-

    tvel de fiana.

    9. Discriminao (1) Preconceito manifesta-

    do por ato, em razo de raa, sexo, cor, idade, tra-

    balho, credo religioso e convices polticas em

    quebra do princpio da igualdade. (2) Racial Dis-

    tino, excluso, restrio ou preferncia baseadas

    em raa, cor, descendncia ou origem nacional tni-

    ca, com o objetivo ou para o efeito de anular ou res-

    tringir o reconhecimento, gozo ou exerccio, em igual-

    dade de condies, de direitos humanos e liberda-

    des fundamentais (in D.J. da Academia Brasileira de

    Letras Jurdicas).

    10. Exceo feita ao princpio da igualdade ou

    isonomia, da segunda parte de texto, de resto,

    obrigao bsica, primeira e fundamental do Esta-

    do, ou seja, compete a ele o bem de todos. Todo

    preconceito odioso, embora existam preconcei-

    tos na sociedade brasileira, porm, no existe ne-

    nhum que seja marcante, que possa constituir um

    dos objetivos fundamentais do Estado. Preconceito

    da cor, do sexo?

    11. Arts. 5, caput, I, XLI e XLII, e 7, XXX da CF.

    Lei n 7.716/89 (estabelece os crimes e as penas

    aplicveis aos atos discriminatrios ou de precon-

    ceitos de raa, cor, religio, etnia, ou procedncia

    nacional, praticados pelos meios de comunicao

    ou por publicao de outra de natureza). Lei n 9.459/

    97 (define crimes resultantes de preconceito de raa

    ou de cor). Conveno sobre a eliminao de todas

    as formas de discriminao racial adotada pela Re-

    soluo n 2.106-A da Assemblia Geral das Naes

    Unidas, em 1965. Conveno sobre a eliminao de

    todas as formas de discriminao contra a mulher,

    Art. 3

  • 9

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    adotada pela Resoluo n 34/180 da Assemblia

    Geral das Naes Unidas em 1979. Conveno inte-

    ramericana para prevenir, punir e erradicar a violn-

    cia contra mulher, adotada pela Assemblia Geral

    da Organizao dos Estados Americanos de 1994.

    Decreto n 3.956, de 2001 (Conveno Interameri-

    cana de Combate Discriminao). Decreto n

    3.952, de 2001 (Discriminao Mulher). Decreto

    n 4.886, de 2003 (Poltica Nacional de Promoo

    da Igualdade Racial). Decreto n 5.397, de 2005

    (Composio, competncia e funcionamento do

    Conselho Nacional de Combate discriminao

    CNCD).

    Art. 4 A Repblica Federativa do Brasil rege-

    se nas suas relaes internacionais1

    pelos

    seguintes princpios:2

    1. O caput e os incisos deste artigo determi-

    nam os princpios fundamentais para o relaciona-

    mento internacional do nosso pas, no permitindo,

    assim, submisso a qualquer autoridade. De manei-

    ra conjunta (no dizer de Wolgran Junqueira Ferreira),

    tentaremos comentar cada um deles: (I) No que

    concerne s relaes internacionais, o Brasil funda-

    menta suas relaes no princpio da independncia

    nacional. (II) Se o Brasil fundamenta suas relaes

    internacionais na prevalncia dos direitos humanos,

    como ficam as relaes diplomticas e comerciais

    com pases onde h total desconhecimento aos di-

    reitos humanos? Acreditamos que devam prevale-

    cer os direitos humanos. (III) O povo somente se

    autodetermina quando no regime democrtico opta

    por um determinado tipo de governo e por esta ou

    aquela doutrina poltica. (IV) Rejeita a Constituio a

    interveno de um Estado em outro. Com isto, for-

    ma posio em favor da mais ampla liberdade dos

    Estados. (V) Um dos fundamentos do relacionamen-

    to internacional do Brasil a igualdade entre os Es-

    tados. Aplica-se aqui princpio da isonomia de que

    todos os Estados so iguais entre si. (VI) um dos

    principais fundamentos para que o Brasil possa

    manter suas relaes internacionais. No se trata

    apenas da paz quando o pas estiver ameaado, mas

    sim, de participar como intermedirio entre outros

    Estados quando em conflito internacional. (VII) O

    Brasil, dada a sua formao crist, sempre caminhou

    no sentido de buscar as suas solues pacficas para

    quaisquer divergncias internacionais. A Carta das

    Naes Unidas foi promulgada pelo Brasil atravs

    do Decreto n 19.841, de 22.10.1945.

    2. Arts. 5, 2, 49, I, 84, VII e VIII, da CF. Carta

    das Naes Unidas proclamada em Assemblia Ge-

    ral das Naes Unidas em 26.6.1945. LC n 75/93

    (Estatuto do Ministrio Pblico da Unio). Lei n

    9.082/95 (sobre a Lei Oramentria de 1996).

    I independncia nacional;3/4

    3. H que prevalecer a independncia nacio-

    nal em relao a quaisquer outros Estados. No refe-

    rente s relaes internacionais, o Brasil fundamen-

    ta suas relaes no princpio da independncia na-

    cional, o mesmo que cidadania. A independncia

    nacional significa dizer que o Brasil pas indepen-

    dente e que sua vontade no est condicionada a

    nenhuma outra vontade de nenhum outro pas. As

    constituies brasileiras, desde 1824, tratam deste

    princpio.

    4. Arts. 1, caput, 34, I, 78, caput; 91, 1, e

    137, II, da CF. Lei n 8.183/91 (sobre a organizao

    e funcionamento do Conselho de Defesa Nacional).

    Decreto n 893/93 (Regulamento do Conselho de

    Defesa Nacional).

    II prevalncia dos direitos humanos;5/6

    5. Wolgran Junqueira Ferreira (in Comentrios

    Constituio de 1988) aborda a Constituio como

    um ponto nevrlgico do relacionamento internacio-

    nal do Brasil, com certos Estados. Se o Brasil funda-

    menta suas relaes internacionais na prevalncia

    dos direitos humanos, como ficam as relaes di-

    plomticas e comerciais com a frica do Sul, ou com

    o Chile, onde h total desconhecimento aos direitos

    humanos, dos negros no primeiro e verdadeiro

    morticnio dos adversrios do governo, no segun-

    do?

    6. Art. 5, 2, da CF. Art. 7 do ADCT. Declara-

    o Universal dos Direitos Humanos, adotada e pro-

    clamada em 10.12.1948, portanto 57 anos passa-

    dos, pela Resoluo n 217-A , III, da Assemblia

    Geral das Naes Unidas. Pacto Internacional dos

    Direitos Civis e Polticos, adotado e proclamado em

    1966, pela Resoluo n 2.200-A, XXI, da Assem-

    blia Geral das Naes Unidas. Conveno Ameri-

    cana de Direitos Humanos Pacto de San Jos da

    Costa Rica, adotado e proclamado em 22.11.1969.

    O Decreto n 678/92 promulgou esta conveno.

    Decreto n 4.671, de 2003 (Direitos Humanos). De-

    creto n 5.174, de 2004 (Secretaria Especial dos Di-

    reitos Humanos).

    III autodeterminao dos povos;7

    7. O povo somente se autodetermina quando,

    no regime democrtico, pode optar por uma deter-

    minada forma de governo.

    IV no-interveno;8/9

    8. O vigente texto constitucional no art. 34,

    caput, rejeita (no permite) a interveno de um Es-

    tado em outro. H excees (h materialidade cons-

    titucional verificar nos incisos I a VII do art. 34),

    visto que a regra da interveno a no interven-

    o. Assim, a interveno (quando decretada e exe-

    cutada) um ato de excepcionalidade.

    Art. 4

  • 10

    FRANCISCO BRUNO NETO

    9. Arts. 21, II, 49, II, 84, XIX, 91, 1, I, 137, II,

    138, 1, 148, I, e 154, II, da CF. Art. 34, 1, do

    ADCT. Decreto Legislativo n 44/95 (sobre a Organi-

    zao do Estados Americanos Protocolo de Refor-

    ma).

    V igualdade entre os Estados;10/11

    10. O relacionamento internacional do Brasil

    est, como um dos seus fundamentos, relacionado

    diretamente com a igualdade formal entre os Esta-

    dos, to defendida por Rui Barbosa. Cabe aplicar,

    no caso, o princpio da isonomia (todos os Estados

    so e devem ser iguais entre si).

    11. Art. 4, pargrafo nico, da CF.

    VI defesa da paz;12/13

    12. Wolgran Junqueira Ferreira assim comen-

    ta: Propugna a Constituio, como fundamento de

    suas relaes internacionais, a defesa da paz. No

    se trata apenas da paz quando porventura o Brasil

    se encontra ameaado. Pretende participar como

    intermedirio entre outros Estados em conflito. No

    dever, portanto, tomar posio favorvel ou con-

    trria a qualquer beligerante. Ao contrrio dever se

    propor como rbitro e pacificador quando ocorra

    qualquer conflito internacional, principalmente na

    Amrica Latina, onde se coloca em posio de maior

    Estado latino-americano.

    13. Arts. 21, XXIII, 84, XX, 136, 137 e 142, caput,

    da CF. Art. 208 do CP.

    VII soluo pacfica dos conflitos;14

    14. A Carta das Naes Unidas foi pelo Brasil

    promulgada em 22.10.1945, atravs do Decreto n

    19.841. Embora participe da Carta (1945), sempre

    caminhou no sentido de buscar as solues pacfi-

    cas para qualquer divergncia internacional, tendo

    por razo a sua formao crist. Para mestre Pinto

    Ferreira (in Comentrios Constituio Brasileira),

    duas so as categorias: primeira, solues de ca-

    rter diplomtico ou no jurisdicionais, como nego-

    ciaes diretas, congressos, conferncias, bons of-

    cios, mediao, consulta, e conciliao; a segunda,

    solues jurisdicionais, como arbitragem, recurso

    Justia Internacional, comisses de inqurito e de

    conciliao, comisses mistas. Resumindo, o Brasil

    adota a soluo pacfica de conflitos.

    VIII repdio ao terrorismo15

    e ao racismo;16/17

    15. Aqui tratamos, por certo, do terrorismo in-

    ternacional, de vez que falamos das relaes inter-

    nacionais. Porm, ao tratar do assunto, toda cautela

    pouco (veja o que aconteceu nos EUA no dia

    11.9.2001). O Brasil, no relacionamento internacio-

    nal, buscar a cooperao de todos os povos, al-

    mejando a emancipao e o progresso da humani-

    dade. No Direito Internacional Pblico indica a di-

    vergncia surgida entre duas potncias a respeito

    de seus direitos, de ordem territorial ou de qualquer

    outra, em virtude da qual se entrechocam os inte-

    resses dos contendores. Vrios meios: arbitragem,

    conciliao, negociao diplomtica so utilizadas

    para a soluo dos conflitos internacionais. Soluo

    pacfica. Ao violenta de grupos (armados ou no),

    destinada a combater formas ou organismos do po-

    der. Tal procedimento no permite aos executores

    receber os benefcios: anistia, graa ou indulto,

    como, tambm, fiana e a liberdade provisria, sen-

    do que devero cumprir a pena imposta pelo Esta-

    do, em regime prisional fechado. Quanto ao terro-

    rismo internacional, a aplicao do art. 4 da Consti-

    tuio indiscutvel. Porm, quando se tratar do ter-

    rorismo interno, praticado por aqueles que no se

    conformam com um governo ditatorial e usurpador,

    o tratamento a ser dado deve ser diferenciado. Para

    Georges Levasser, terrorismo o emprego interna-

    cional e sistemtico dos meios e das formas de se

    provocar o terror junto aos detentores do poder, ao

    prprio governo ou, simplesmente, a uma adminis-

    trao pblica.

    16. Lei n 9.084/95 (sobre a utilizao de meios

    operacionais para preveno e represso de aes

    praticadas por organizaes criminais). Tratamento

    no idntico atribudo a uma ou vrias pessoas, ten-

    do to-somente como razo a cor da pele, da raa,

    ou ainda, qualquer outro tratamento, do qual tenha

    resultado a no igualdade ou a mesma considera-

    o. No vigente texto constitucional: repdio ao ter-

    rorismo e ao racismo e a prtica do racismo, cons-

    titui crime inafianvel e imprescritvel, sujeito

    pena de recluso, nos termos da lei. Um dos princ-

    pios fundamentais do Brasil, nas suas relaes

    internacionais, o repdio ao terrorismo e ao racis-

    mo (Lei n 7.437/85).

    17. Art. 5, XLIII e XLIV da CF. Lei n 7.716/89

    (estabelece os crimes e as penas aplicveis aos

    atos discriminatrios ou de preconceitos de raa,

    cor, religio, etnia, ou procedncia nacional, prati-

    cados pelos meios de comunicao ou por publi-

    cao de outra natureza). Lei n 9.459/97 (define

    crimes resultantes de preconceito de raa ou de

    cor). Lei n 8.072/90, alterada pela Lei n 8.930/94

    (sobre crime hediondos). Lei n 9.084/95 (sobre a

    utilizao de meios operacionais para preveno e

    represso de aes praticadas por organizaes

    criminais). Art. 208 do CP.

    IX cooperao entre os povos para o pro-

    gresso da humanidade;18/19

    18. Princpio indito na histria do consti-

    tucionalismo brasileiro. Inspirado na Carta das Na-

    Art. 4

  • 11

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    es Unidas de 1945, que convoca a cooperao

    internacional entre os povos, a fim de resolver pro-

    blemas internacionais de ordem geral.

    19. Art. 21, IV, da CF Art. 7 do ADCT.

    X concesso de asilo poltico.20/21

    20. a guarida que um pas oferece pessoa

    moradora com habitualidade em outro pas (estran-

    geiro) e que esteja sofrendo, quando do pedido,

    perseguio por motivos polticos. Asilo Diplomti-

    co aquele concedido estrangeiros na lega-es, na sedes de misses diplomticas ordinrias,

    na residncia de chefes de misses, em navios de

    guerra e aeronaves militares que se encontrem no

    espao territorial do Estado. Asilo Neutro aque-la concedido por um Estado, que no esteja partici-

    pando da guerra, a membros das Foras Armadas

    dos Estados beligerantes. Asilo Territorial aque-le quando h recebimento de estrangeiros perse-

    guidos por motivos polticos em outros pases.

    21. Art. 5, LII, da CF. Conveno relativa ao

    Estatuto dos Refugiados, adotada em 28.7.1951 pela

    Conferncia das Naes Unidas, convocada pela

    Assemblia Geral de 14.12.1950, pela Resoluo n

    429 (V). Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados

    adotado pela Resoluo n 2.198 (XXI) da Assemblia

    Geral das Naes Unidas, de 16.12.1966. Decreto n

    55.929/65 (disciplina o asilo diplomtico). Lei n 6.815/

    80 (define a situao jurdica do estrangeiro no Bra-

    sil). Decreto n 678/92 (Direitos humanos Pacto de

    San Jos da Costa Rica). Lei n 9.474/97 (Estatuto

    dos Refugiados). Decreto n 99.244/90 (reorganiza-

    o e funcionamento dos rgos da Presidncia da

    Repblica e dos Ministrios). Lei n 9.474/97 (Estatuto

    dos refugiados). Art. 208 do CP.

    Pargrafo nico. A Repblica Federativa do

    Brasil buscar a integrao econmica, po-

    ltica, social e cultural dos povos da Amri-

    ca Latina, visando formao de uma co-

    munidade latino-americana de naes.22

    22. Decreto n 1.960/96 (Mercosul). O intuito

    desta integrao a formao de uma comunidade

    latino-americana de naes. Pela primeira vez no sis-

    tema constitucional brasileiro, Declarao de Iguau

    Brasil e Argentina, assinada em 1985. Ata para

    integrao Brasil e Argentina, assinada em 1986. Tra-

    tado de Integrao, Cooperao e Desenvolvimento

    de 1988 entre o Brasil e Argentina. Ata de Buenos

    Aires, em 1990 (Brasil e Argentina) e Tratado de As-

    suno (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) de

    1991, instrumento criador do Mercosul. Decreto n

    350/91 (sobre a promulgao do tratado para consti-

    tuio do Mercado Comum Mercosul). Decreto n

    922/93 (sobre o protocolo para a soluo das contro-

    vrsias Mercosul). Art. 5, 2, do CP.

    TTULO II

    Dos Direitos e Garantias Fundamentais

    CAPTULO I

    Dos Direitos e Deveres

    Individuais e Coletivos

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem

    distino de qualquer natureza, garantindo-

    se aos brasileiros e aos estrangeiros residen-

    tes no Pas a inviolabilidade do direito

    vida,1

    liberdade,2

    igualdade,3

    seguran-

    a4

    e propriedade,5

    nos termos seguintes:6

    1. Integridade fsica e moral. A pessoa humana

    no pode ser torturada ou colocada em ridculo, nem

    ter sua vida tirada por qualquer outra pessoa. Tal

    direito deve ser entendido como qualidade de vida.

    pleno e irrestrito.

    2. a permisso para que qualquer cidado

    possa se locomover, praticar sem censura sua reli-

    gio, se expressar contra este ou aquele (desde que

    justifique), enfim, qualquer maneira ou forma de cer-

    ceamento na liberdade da pessoa humana. No

    confundir com liberalidade. Entende-se, na locomo-

    o, o direito de ir, vir e ficar.

    3. Todos so iguais perante a lei, sem distin-

    o de qualquer natureza. Deve ser considerada

    como a lei (ser) igual para todos (homens e mulhe-

    res). No h discriminao (sexo, origem social, cor/

    raa, escolha religiosa, filosfica ou poltica).

    4. Todas as pessoas tm direito segurana

    pblica. Por essa razo, devem existir leis que defi-

    nam os crimes e as sanes para aqueles que co-

    meterem delitos. A segurana, como direito, no

    somente a policial, mas tambm a jurdica. Nenhu-

    ma pessoa pode ser presa se no em flagrante deli-

    to ou por ordem judicial de priso. Assim no ocor-

    rendo a priso, ser ela imediatamente considerada

    ilegal. Apontamos, ainda, o ato perfeito jurdico, o

    direito adquirido e a coisa julgada.

    5. o direito propriedade particular/privada

    (no somente ao Estado). A propriedade da pessoa

    atendimento a funo social. Havendo necessida-

    de da tomada da propriedade (para benefcio so-

    cial) particular/ privada, o Estado deve indenizar com

    valor justo e em dinheiro. Inviolabilidade do direito

    de propriedade.

    6. Lei n 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro) e

    Decreto n 86.715/81 (define a situao jurdica do

    estrangeiro no Brasil e cria o Conselho Nacional de

    Imigrao). Lei n 5.709/71 (regula a aquisio de

    imvel rural por estrangeiro residente no pas ou

    pessoa jurdica estrangeira autorizada a funcionar

    no Brasil) e Decreto n 74.965/74. Lei n 1.542/52.

    Decreto n 5.860/43. Declarao Universal dos Di-

    Art. 5

  • 12

    FRANCISCO BRUNO NETO

    reitos Humanos, adotada e proclamada em

    19.12.1948 pela Resoluo n 217-A (III), da Assem-

    blia Geral das Naes Unidas. Conveno sobre a

    eliminao de todas as formas de discriminao ra-

    cial, adotada pela Resoluo n 2.106-A (XX) da As-

    semblia Geral das Naes Unidas, em 21.12.1965.

    Pacto Internacional dos Direitos Civis e Polticos,

    adotado e proclamado em 16.12.1966, pela Resolu-

    o n 2.200-A (XXI) da Assemblia Geral das Na-

    es Unidas. Conveno Americana de Direitos Hu-

    manos Pacto de San Jos da Costa Rica, adotada

    e proclamada em 22.11.1969. Conveno sobre a

    eliminao de todas as formas de discriminao

    contra a mulher, adotada pela Resoluo n 34/180

    da Assemblia Geral das Naes Unidas, em

    18.12.1979. Conveno contra a tortura e outros tra-

    tamentos ou penas cruis, desumanos ou degradan-

    tes, adotada pela Resoluo n 39/46, da Assem-

    blia Geral das Naes Unidas em 10.12.1984. Con-

    veno Interamericana para prevenir e punir a tortu-

    ra, adotada no XV perodo ordinrio de sesses da

    Assemblia Geral da Organizao dos Estados Ame-

    ricanos, em Cartagena das ndias (Colmbia), em

    9.12.1985. Conveno Interamericana para preve-

    nir, punir e erradicar a violncia contra a mulher, ado-

    tada pela Assemblia Geral da Organizao dos

    Estados Americanos em 6.6.1994. Arts. 3, IV, 5,

    1 e 2, 7, XXX a XXXIV, 14, caput, 60, 4, IV, 170,

    pargrafo nico, da CF. Art. 53 do ADCT. Lei n 8.159,

    de 1991 (Poltica Nacional de Arquivos). Lei n

    86.715, de 1981 (Compra de Imvel Rural por Es-

    trangeiro). Decreto n 678, de 1992 (Direitos huma-

    nos Pacto de So Jos da Costa Rica). Lei n 9.454,

    de 1997 (Nmero nico de Registro de Identidade

    Civil). Decreto n 4.073, de 2002 (Poltica Nacional

    de Arquivos Pblicos e Privados)

    I homens e mulheres so iguais em direi-

    tos e obrigaes, nos termos desta Consti-

    tuio:7/8

    7. Princpio constitucional da isonomia (igual-

    dade para todos) A exemplo do art. 153 (da ante-rior), a Constituio mantm ttulo (direitos e garan-

    tias fundamentais) consagrando preceito universal

    de proibio de toda e qualquer discriminao. Prin-

    cpio essencial entre os direitos fundamentais cata-

    logados no art. 5 o da igualdade jurdica. Esse

    princpio existe h mais de vinte sculos, com os

    primeiros ensaios de governao democrtica en-

    tre os filsofos gregos. o denominado princpio da

    isonomia, proclamado por Herdoto, Pricles e,

    notadamente, por Aristteles, que o desenvolveu

    como fundamento do seu conceito de democracia.

    A Declarao Universal dos Direitos do Homem, ado-

    tada pela Organizao das Naes Unidas (ONU),

    em 1948, afirma no seu artigo 1: Todos os seres

    humanos nascem livres e iguais em dignidade e di-

    reitos. Sahid Maluf ensina (in Direito Constitucio-

    nal) O princpio defendido pelo liberalismo poltico

    tem, pois, primeiramente o sentido de uma nega-

    o formal do velho regime de desigualdade social:

    os homens nascem e se conservam iguais em dig-

    nidade e direitos. A desigualdade no tem funda-

    mento no direito natural; os privilgios de castas ou

    classes, como criaes arbitrrias do poder pbli-

    co, so incompatveis com a dignidade da pessoa

    humana ....

    8. Decreto Legislativo n 26/94 (conveno

    sobre a eliminao de todas as formas de discrimi-

    nao contra a mulher). Art. 372 do Decreto-Lei n

    5.452/43. Lei n 9.029/95 (probe a exigncia de ates-

    tados de gravidez e esterilizao, e outras prticas

    discriminatrias, para efeitos admissionais ou de

    permanncia de relao jurdica de trabalho) Arts.

    3, IV, 7, XVIII e XIX, 40, 1, III, 143, 1 e 2, 201,

    7, 202, I e II e 226, 5, da CF. Decreto n 4.377,

    de 2002 (Discriminao Mulher).

    II ningum ser obrigado a fazer ou deixar

    de fazer alguma coisa seno em virtude de

    lei;9/10

    9. Princpio constitucional da legalidade Es-tabelece o primado da lei, mediante o qual limita a

    arbitrariedade, sujeitando a todos os brasileiros e

    estrangeiros residentes no pas obedincia expres-

    sa do comando estatal, de ndole impessoal, geral e

    abstrata (anterior 2 do art. 153). Para o professor

    Celso Seixas Ribeiro Bastos (in Comentrios Cons-

    tituio do Brasil) o princpio da legalidade mais se

    aproxima de uma garantia constitucional do que de

    um direito individual, j que ele no tutela, especifi-

    camente, um bem da vida, mas assegura, ao parti-

    cular, a prerrogativa de repelir as injunes que lhes

    sejam impostas por uma outra via que no seja a da

    lei. O princpio da legalidade no se separa do prin-

    cpio da reserva da lei. Este deriva da ordem previs-

    ta no texto da Constituio, os quais determinam a

    relao de matrias suscetveis de normatizao

    mediante lei formal.

    10. Arts. 1, pargrafo nico, 14, 59 a 69, 84, IV

    e 143 da CF. Arts. 2 e 3 do ADCT. LC n 95/98

    (sobre a elaborao, a redao, a alterao e a con-

    solidao das leis). Art. 146 do CP. Smulas 636 e

    686 do STF.

    III ningum ser submetido a tortura11

    nem

    a tratamento desumano ou degradante;12

    11. Castigo corporal violento, mecnico (os

    mais variados instrumentos) ou psicolgico (supl-

    cio infernal), efetuado na pessoa para obrig-la a

    admitir determinada conduta, crime ou ato delituoso,

    sendo ou no responsvel pela prtica. A tortura

    no s um crime contra o direito a vida, uma

    crueldade que atinge a pessoa em todas as suas

    Art. 5

  • 13

    CONSTITUIO FEDERAL ACADEMICAMENTE EXPLICADA

    dimenses. Procedimento degradante da condio

    humana (dores ou sofrimentos agudos). Crime ina-

    fianvel e insuscetvel de graa ou anistia.

    12. Arts. 5, LXIII, LXVII, XLIX e LVI, 136, 3, e

    139 da CF. Art. 4, b da Lei n 4.898/65 (abuso de

    autoridade). Lei n 9.455/97 (crimes de tortura). Cri-

    mes inafianveis.