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Bem cumprimento a todos estamos novamente reunidos agora para
analisarmos os direitos e garantias fundamentais, esse tópico vamos dividir em duas
partes, primeiro vamos tratar da parte geral de direitos fundamentais e depois nós
vamos ver os direitos fundamentais em espécie.
Direitos e garantias fundamentais:
Inicialmente o que é interessante colocar é que os direitos fundamentais
eles tiveram uma evolução com o passar do tempo, obviamente são direitos que
vieram a ser reconhecidos de tempos em tempos, tanto que a evolução dos direitos
fundamentais ela pode ser comparada a evolução até do próprio Estado.
Em um primeiro momento nós tínhamos um Estado liberal e dentro do
Estado liberal foram reconhecidos apenas os direitos de 1ª dimensão, de 1ª geração
que são aqueles direitos que se consubstanciam em um elemento negativo do Estado,
em uma prestação negativa do Estado onde o Estado ele tem uma obrigação de não
fazer.
Posteriormente esse Estado que era um Estado liberal passou a ser o
Estado social e dentro desse Estado social houve a necessidade de se privilegiar o
principio da igualdade e consequentemente vai caber ao Estado fazer também
prestações, ou seja, prestações positivas, prestações sociais, e ai temos os direitos de
2ª dimensão ou de 2ª geração, que obviamente dentro desses direitos de 2ª
geração há um elemento que acaba sendo limitativo a essa prestação social, qual seja,
o orçamento.
E ai o próprio STF utiliza dois princípios para nortear os seus julgados quais
sejam os primeiro principio é o principio da reserva do possível, ou reserva do
economicamente possível, de tal forma que o Estado somente vai poder conceder
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aquilo que ele tem condições, ele não vai poder dar mais do que aquilo que ele tenha
efetivamente condições.
Entretanto há determinados direitos que se consubstanciam no mínimo
existencial, que afetam a dignidade da pessoa humana e nesses casos o STF tem
entendido ser necessária a concessão desses direitos, acabam sendo até direitos
subjetivos, tais como distribuição de medicamentos quando envolva doença grave,
quando envolva perigo de morte, eu posso citar aqui alguns julgados do STF, o
primeiro , o LEADING CASE, é de 13 anos atrás que foi o agravo regimental no recurso
extraordinário 271 286 da relatoria do ministro Celso de Melo que tratou
especificamente da questão da distribuição de AIDS, até um processo, uma ação que
tinha sido ajuizada contra o município de Porto Alegre.
EM E N T A: PACIENTE COM HIV/AIDS - PESSOA
DESTITUÍDA DE RECURSOS FINANCEIROS - DIREITO À
VIDA E À SAÚDE - FORNECIMENTO GRATUITO DE
MEDICAMENTOS - DEVER CONSTITUCIONAL DO PODER
PÚBLICO (CF, ARTS. 5º, CAPUT, E 196) - PRECEDENTES
(STF) - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. O DIREITO À
SAÚDE REPRESENTA CONSEQÜÊNCIA CONSTITUCIONAL
INDISSOCIÁVEL DO DIREITO À VIDA.- O direito público
subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica
indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela
própria Constituição da República (art. 196). Traduz bem
jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja
integridade deve velar, de maneira responsável, o Poder
Público, a quem incumbe formular - e implementar -
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políticas sociais e econômicas idôneas que visem a
garantir, aos cidadãos, inclusive àqueles portadores do
vírus HIV, o acesso universal e igualitário à assistência
farmacêutica e médico-hospitalar.- O direito à saúde -
além de qualificar-se como direito fundamental que
assiste a todas as pessoas - representa consequência
constitucional indissociável do direito à vida. O Poder
Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua
atuação no plano da organização federativa brasileira,
não pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde
da população, sob pena de incidir, ainda que por
censurável omissão, em grave comportamento
inconstitucional. A INTERPRETAÇÃO DA NORMA
PROGRAMÁTICA NÃO PODE TRANSFORMÁ-LA EM
PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQÜENTE.- O
caráter programático da regra inscrita no art. 196 da
Carta Política - que tem por destinatários todos os entes
políticos que compõem, no plano institucional, a
organização federativa do Estado brasileiro - não pode
converter-se em promessa constitucional
inconsequente, sob pena de o Poder Público, fraudando
justas expectativas nele depositadas pela coletividade,
substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu
impostergável dever, por um gesto irresponsável de
infidelidade governamental ao que determina a própria
Lei Fundamental do Estado. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE
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MEDICAMENTOS A PESSOAS CARENTES.- O
reconhecimento judicial da validade jurídica de
programas de distribuição gratuita de medicamentos a
pessoas carentes, inclusive àquelas portadoras do vírus
HIV/AIDS, dá efetividade a preceitos fundamentais da
Constituição da República (arts. 5º, caput, e 196) e
representa, na concreção do seu alcance, um gesto
reverente e solidário de apreço à vida e à saúde das
pessoas, especialmente daquelas que nada têm e nada
possuem, a não ser a consciência de sua própria
humanidade e de sua essencial dignidade. Precedentes
do STF.
O município acabou perdendo justamente porque afeta a dignidade da
pessoa humana, até no voto do ministro Celso de Melo houve algo bem interessante
que ele falou que as normas programáticas elas não podem ser confundidas com uma
irresponsabilidade do legislador de tal sorte que se não houvesse a distribuição do
coquetel de AIDS a consequência seria o evento morte, e consequentemente nesse
caso houve a obrigatoriedade da distribuição de medicamentos.
Mais recentemente o STF também julgou a suspensão de tutela antecipada
175 da relatoria do ministro Gilmar onde foram colocadas as balizas justamente para a
prestação da distribuição de medicamentos, essa prestação do direito a assistência a
saúde.
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EMENTA: Suspensão de Segurança. Agravo Regimental.
Saúde pública. Direitos fundamentais sociais. Art. 196 da
Constituição. Audiência Pública. Sistema Único de Saúde
- SUS. Políticas públicas. Judicialização do direito à
saúde. Separação de poderes. Parâmetros para solução
judicial dos casos concretos que envolvem direito à
saúde. Responsabilidade solidária dos entes da
Federação em matéria de saúde. Fornecimento de
medicamento: Zavesca (miglustat). Fármaco registrado
na ANVISA. Não comprovação de grave lesão à ordem, à
economia, à saúde e à segurança públicas. Possibilidade
de ocorrência de dano inverso. Agravo regimental a que
se nega provimento.
Mas de qualquer forma nessa parte inicial cabe ressaltar que esse direito
de 2ª geração ou de 2ª dimensão que estabelece uma prestação social a ser colocada
pelo Estado ela vai ter como norte dois princípios quais sejam a dignidade da pessoa
humana, o mínimo existencial para aquilo que lhe afetar isso o Estado é compelido, é
obrigado a fazer. É claro se houver um choque entre dois mínimos existenciais dentro
da dignidade da pessoa humana ai vai caber a quem foi eleito para tal coisa resolver a
questão, mas o poder judiciário pode obrigar que o Estado faça políticas públicas de
modo a garantir o mínimo existencial.Se não envolver o mínimo existencial entra a
reserva do possível ou seja, o Estado vai dar aquilo que ele tem condições de dar .
Além disso, nós temos que esse Estado social ele foi substituído por um
Estado democrático de direito e dentro desse Estado democrático de direito nós temos
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que há direitos que não são apenas de um individuo, mas sim da coletividade, direitos
como direito ao desenvolvimento, direitos como meio ambiente, você não tem a
titularidade de apenas um individuo, mas sim da coletividade como um todo e por essa
razão esses são direitos transindividuais, direitos que são coletivos no seu sentido mais
amplo. Então nesse caso nós vamos ter a ideia dos direitos de 3ª dimensão ou 3ª
geração.
Há inclusive doutrinadores que fazem uma divisão com os ideais da
revolução francesa, liberdade, estaria ligada a 1ª dimensão, igualdade, ligada a 2ª
dimensão, e fraternidade estaria ligada a 3ª dimensão ou 3ª geração, eu até ressalto
que há doutrinadores também que criticam o termo gerações de direitos porque
quando vem uma geração nova é inerente que a geração antiga não mais vai existir, e
Antônio Cançado Trindade mesmo faz uma critica, muito mais a nomenclatura de
geração, dizendo que deveria ser dimensão porque elas devem coexistir.
O fato de terem direitos de 3ª geração ou de 3ª dimensão isso não exclui a
necessidade do reconhecimento dos direitos de 1ª e de 2ª, o fato de existirem os de 2ª
não fazem com que os de 1ª não sejam garantidos eles devem coexistir e completar-se
entre si.
Temos ainda quem divida em 4ª e 5ª gerações, podemos fazer aqui duas
divisões, uma divisão mais pragmática que é feita por Bobbio, que é feita por Celso
Laffer, que estabelece que a 4ª geração está ligada a manipulação genética, direitos
relacionados a biogenética, e a 5ª geração está relacionada a realidade virtual, acesso
a internet, enquanto que uma outra doutrina digamos assim mais humanista , eu
posso citar aqui Paulo Bonavides, defende que a 4ª geração é um direito a uma
democracia participativa e a 5ª geração direito a paz.Mas nós temos aqui uma divisão
em 5 gerações. É claro que uma divisão clássica é em 3 gerações, a primeira
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relacionado a uma abstenção do Estado, a um dever ,um direito negativo digamos
assim, a 2ª geração relacionada a uma prestação do Estado, a 3ª geração relacionada a
direitos transindividuais.
Um ponto que é de extrema importância é hoje se falar dos status de
Jelineck. Jelineck ele fez uma ideia de que os direitos fundamentais nada mais são do
que uma relação entre o individuo e o Estado, e ele dividiu os direitos fundamentais
colocando 4 status de direitos fundamentais, e quais são esses status?
O status, então vamos colocar aqui, status de Jelineck, dividiu em 4 status,
o status negativo, status positivo, status ativo , status passivo. E o que vem a ser o
status negativo? Aqui está muito relacionado aos direitos de 1ª geração, de 1ª
dimensão, qual seja, um dever de abstenção do Estado. Aqui normalmente
relacionados a direito de defesa. Então esse status negativo é aquele que gera uma
não atuação do Estado, enquanto o status positivo gera uma ação do Estado, também
relacionados às prestações sociais. Até aqui não houve grande novidade perante
aquilo que nós já vimos da divisão de dimensões dos direitos fundamentais.
Entretanto quando fala do status ativo ele já fala da possibilidade de o
indivíduo gerir a sociedade, ou seja, ser importante nos rumos de uma sociedade. Esse
status ativo é esse papel do individuo de participar dos rumos da sociedade e estão
relacionados aos direitos políticos e diga de passagem, todos os direitos políticos, ou
seja, direito de votar, direito de ser votado, direito a propor ação popular, que só o
cidadão pode propor, todos esses direitos estão dentro desse status ativo.
E o status passivo é a submissão de todas as normas do Estado, então
todos sem exceção devem seguir as normas do Estado, ou seja, o individuo está
submisso ao Estado, isso é o status passivo, é justamente a ideia de que todos nós
temos que obedecer aquelas normas do Estado, isso até gera de certa forma ainda
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que de forma indireta, gera a eficácia horizontal dos direitos fundamentais, pela ideia
de Jelineck, por quê? Pela ideia de Jelineck os direitos fundamentais nada mais são do
que uma relação entre o Estado e o individuo de tal forma de que como vai se obrigar
o particular a seguir os direitos fundamentais, até porque não adiantaria se falar em
direito de propriedade, direito a propriedade, por exemplo, desse pincel, se as pessoas
não tivessem que obedecer a essa propriedade, não tivesse que submeter a essa
propriedade, é justamente a partir das normas do Estado e da submissão a essas
normas que há uma eficácia para que os particulares também tenham que observar os
direitos fundamentais.
Então nós vamos ter esses 4 status, é claro que com relação a aplicação dos
direitos fundamentais aos particulares nós vamos ver que há algumas teorias , o Brasil
por exemplo adota a teoria da eficácia imediata, mas isso vamos ver daqui a pouco.
Outro ponto que temos que analisar também diz respeito a eficácia
irradiante dos direitos fundamentais, ou seja, os direitos fundamentais eles são ,
devem ser aplicados em todas as searas, em todas as áreas, inclusive no MI 58 voto do
ministro Celso de Melo ele tratou especificamente dessa questão e ele fala da
necessidade de o legislativo observar esses direitos fundamentais, do executivo
observar os direitos fundamentais no seu tratamento e também do poder judiciário.E
mesmo nas relações entre particulares nós vamos ter aqui a ideia de que haverá a
necessidade de observância dos direitos fundamentais.
MANDADO DE INJUNÇÃO - PRETENDIDA MAJORAÇÃO
DE VENCIMENTOS DEVIDOS A SERVIDOR PÚBLICO
(INCRA/MIRAD) - ALTERAÇÃO DE LEI JA EXISTENTE -
PRINCÍPIO DA ISONOMIA - POSTULADO INSUSCETIVEL
DEREGULAMENTAÇÃO NORMATIVA INOCORRENCIA DE
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SITUAÇÃO DE LACUNA TECNICA -A QUESTÃO DA
EXCLUSAO DE BENEFICIO COM OFENSA AO PRINCÍPIO
DA ISONOMIA - MANDADO DE INJUNÇÃO NÃO
CONHECIDO. O princípio da isonomia, que se reveste de
auto-aplicabilidade, não e - enquanto postulado
fundamental de nossa ordem político-jurídica -
suscetível de regulamentação ou de complementação
normativa. Esse princípio - cuja observância vincula,
incondicionalmente, todas as manifestações do Poder
Público - deve ser considerado, em sua precípua função
de obstar discriminações e de extinguir privilégios (RDA
55/114), sob duplo aspecto: (a) o da igualdade na lei e
(b) o da igualdade perante a lei. A igualdade na lei - que
opera numa fase de generalidade puramente abstrata -
constitui exigência destinada ao legislador que, no
processo de sua formação , nela não poderá incluir
fatores de discriminação, responsáveis pela ruptura da
ordem isonômica. A igualdade perante a lei, contudo,
pressupondo lei ja elaborada, traduz imposição
destinada aos demais poderes estatais, que, na
aplicação da norma legal, não poderão subordina-la a
critérios que ensejem tratamento seletivo ou
discriminatório. A eventual inobservância desse
postulado pelo legislador imporá ao ato estatal por ele
elaborado e produzido a eiva de inconstitucionalidade.
Refoge ao âmbito de finalidade do mandado de injunção
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corrigir eventual inconstitucionalidade que infirme a
validade de ato em vigor. Impõe-se refletir, no entanto,
em tema de omissão parcial, sobre as possíveis soluções
jurídicas que a questão da exclusão de beneficio, com
ofensa ao princípio da isonomia, tem sugerido no plano
do direito comparado: (a) extensão dos benefícios ou
vantagens as categorias ou grupos
inconstitucionalmente deles excluidos; (b) supressão dos
benefícios ou vantagens que foram indevidamente
concedidos a terceiros; (c) reconhecimento da existência
de uma situação ainda constitucional (situação
constitucional imperfeita), ensejando-se ao Poder
Público a edição, em tempo razoável, de lei
restabelecedora do dever de integral obediência ao
princípio da igualdade, sob pena de progressiva
inconstitucionalização do ato estatal existente, porem
insuficiente e incompleto.
Quanto a isso há três teorias que tratam desse tema. A primeira teoria é a
teoria da eficácia imediata. O que é a teoria da eficácia imediata? É a ideia de que a lei
fundamental ela não é neutra, ela vai ter um efeito irradiante de forma que mesmo
dentro das relações entre particulares ela deve ser aplicada, vai ter uma eficácia
imediata.
De outro lado vamos ter a teoria da eficácia mediata desses direitos
fundamentais que foi a ideia defendida por (inaudível), e o que ele falava? Que a
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relação de direito público, de direito privado se verifica por meio de cláusulas gerais,
ou seja, aplicação dos direitos fundamentais ela não era direta entre os particulares,
mas sim a partir de princípios gerais, como bons costumes, moral, boa fé, inclusive
essa é a teoria adotada lá na Alemanha até por conta do (inaudível).
E temos ainda a teoria dos deveres de proteção, que ultrapassa o limite da
teoria da eficácia mediata porque a relação entre direito público e privado não se
verifica apenas por cláusulas gerais, mas também pelo dever dos poderes públicos de
proteger os direitos fundamentais. Então nós temos essas três teorias.
E temos ainda dentro do direito comparado a ideia que se tem dos EUA,
nos EUA os direitos fundamentais eles não são aplicáveis como regra entre os
particulares, a menos que esteja envolvido um state action, o que é um state action? É
uma relação entre particulares, mas que acaba tendo uma prestação de serviço ou
algo que envolva um direito público. Um exemplo que eu posso citar é o caso Marsh
versus Alabama, em que a suprema corte norte americana assentou que mesmo sendo
uma relação entre particulares, então a hipótese envolvia a questão de presídios,
aquela entidade de direito privado tinha que respeitar os direitos fundamentais
porque ali ela estava em uma condição social.
Agora o que o STF adota? O STF adota a teoria da eficácia imediata, ou
seja, os direitos fundamentais são oponíveis de plano também nas relações entre
particulares, eu posso citar aqui o recurso extraordinário 158215 da relatoria do
ministro Marco Aurélio, o recurso extraordinário 201 819 que a relatora inicial era
ministra Ellen Gracie, mas que foi relator para acórdão foi o ministro Gilmar, o caso até
bem interessante que era a exclusão de um individuo de uma associação sem lhe
garantir o contraditório, sem lhe garantir a ampla defesa.
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EMENTA: SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS.
UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES. EXCLUSÃO DE
SÓCIO SEM GARANTIA DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. EFICÁCIA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. RECURSO
DESPROVIDO. I. EFICÁCIA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. As violações
a direitos fundamentais não ocorrem somente no
âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas
igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e
jurídicas de direito privado. Assim, os direitos
fundamentais assegurados pela Constituição vinculam
diretamente não apenas os poderes públicos, estando
direcionados também à proteção dos particulares em
face dos poderes privados. II. OS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES À AUTONOMIA
PRIVADA DAS ASSOCIAÇÕES. A ordem jurídico-
constitucional brasileira não conferiu a qualquer
associação civil a possibilidade de agir à revelia dos
princípios inscritos nas leis e, em especial, dos
postulados que têm por fundamento direto o próprio
texto da Constituição da República, notadamente em
tema de proteção às liberdades e garantias
fundamentais. O espaço de autonomia privada
garantido pela Constituição às associações não está
imune à incidência dos princípios constitucionais que
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asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus
associados. A autonomia privada, que encontra claras
limitações de ordem jurídica, não pode ser exercida em
detrimento ou com desrespeito aos direitos e garantias
de terceiros, especialmente aqueles positivados em sede
constitucional, pois a autonomia da vontade não
confere aos particulares, no domínio de sua incidência e
atuação, o poder de transgredir ou de ignorar as
restrições postas e definidas pela própria Constituição,
cuja eficácia e força normativa também se impõem, aos
particulares, no âmbito de suas relações privadas, em
tema de liberdades fundamentais. III. SOCIEDADE CIVIL
SEM FINS LUCRATIVOS. ENTIDADE QUE INTEGRA
ESPAÇO PÚBLICO, AINDA QUE NÃO-ESTATAL. ATIVIDADE
DE CARÁTER PÚBLICO. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM
GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.APLICAÇÃO
DIRETA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS À AMPLA
DEFESA E AO CONTRADITÓRIO. As associações privadas
que exercem função predominante em determinado
âmbito econômico e/ou social, mantendo seus
associados em relações de dependência econômica e/ou
social, integram o que se pode denominar de espaço
público, ainda que não estatal. A União Brasileira de
Compositores - UBC, sociedade civil sem fins lucrativos,
integra a estrutura do ECAD e, portanto, assume posição
privilegiada para determinar a extensão do gozo e
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fruição dos direitos autorais de seus associados. A
exclusão de sócio do quadro social da UBC, sem
qualquer garantia de ampla defesa, do contraditório, ou
do devido processo constitucional, onera
consideravelmente o recorrido, o qual fica
impossibilitado de perceber os direitos autorais relativos
à execução de suas obras. A vedação das garantias
constitucionais do devido processo legal acaba por
restringir a própria liberdade de exercício profissional do
sócio. O caráter público da atividade exercida pela
sociedade e a dependência do vínculo associativo para o
exercício profissional de seus sócios legitimam, no caso
concreto, a aplicação direta dos direitos fundamentais
concernentes ao devido processo legal, ao contraditório
e à ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, CF/88). IV.RECURSO
EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO.
E qual foi o posicionamento adotado pelo STF nesse recurso extraordinário
201 819? Que era nula essa exclusão quando não foi garantido o contraditório e nem
ampla defesa isso porque os direitos fundamentais eles devem ser aplicados mesmo
nas relações entre particulares.
De outro lado vemos que os direitos fundamentais eles não são absolutos,
ou seja, você não vai poder ter aqui direitos que ultrapassem, até porque muitas vezes
os direitos fundamentais eles se chocam entre si, nós temos exemplos clássicos como
liberdade de imprensa versus direito a intimidade, e nesse particular obviamente o
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que deve se proteger é o núcleo essencial até porque nenhum direito acaba sendo
absoluto, talvez o maior de nossos direitos hoje que é o direito a vida, mesmo assim
ele não é absoluto, nós verificamos alguns julgamentos até do STF, podemos citar aqui
a ADPF 54 da relatoria do ministro Marco Aurélio, também a questão a própria ideia
do legislador de não tornar punível o aborto no caso de estupro, em que você tem vida
de um lado e segurança psicológica da mãe de outro.
ADPF - ADEQUAÇÃO - INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ -
FETO ANENCÉFALO - POLÍTICA JUDICIÁRIA -
MACROPROCESSO. Tanto quanto possível, há de ser
dada sequencia a processo objetivo, chegando-se, de
imediato, a pronunciamento do Supremo Tribunal
Federal. Em jogo valores consagrados na Lei
Fundamental - como o são os da dignidade da pessoa
humana, da saúde, da liberdade e autonomia da
manifestação da vontade e da legalidade -, considerados
a interrupção da gravidez de feto anencéfalo e os
enfoques diversificados sobre a configuração do crime
de aborto, adequada surge a arguição de
descumprimento de preceito fundamental. ADPF -
LIMINAR - ANENCEFALIA - INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ -
GLOSA PENAL - PROCESSOS EM CURSO - SUSPENSÃO.
Pendente de julgamento a arguição de descumprimento
de preceito fundamental, processos criminais em curso,
em face da interrupção da gravidez no caso de
anencefalia, devem ficar suspensos até o crivo final do
Supremo Tribunal Federal. ADPF - LIMINAR -
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ANENCEFALIA - INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ - GLOSA
PENAL - AFASTAMENTO - MITIGAÇÃO. Na dicção da
ilustrada maioria, entendimento em relação ao qual
guardo reserva, não prevalece, em argüição de
descumprimento de preceito fundamental, liminar no
sentido de afastar a glosa penal relativamente àqueles
que venham a participar da interrupção da gravidez no
caso de anencefalia.
Então não há um direito absoluto, porém há necessidade de proteção do
núcleo essencial de cada um dos direitos, até uma teoria que foi utilizada na ADPF de
número 130 da relatoria do ministro Carlos Ayres Brito, que foi a doutrina do efeito
transacional sinalagmático.
EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE
PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). LEI DE IMPRENSA.
ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. REGIME CONSTITUCIONAL DA
"LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA",
EXPRESSÃO SINÔNIMA DE LIBERDADE DE IMPRENSA. A
"PLENA" LIBERDADE DE IMPRENSA COMO CATEGORIA
JURÍDICA PROIBITIVA DE QUALQUER TIPO DE CENSURA
PRÉVIA. A PLENITUDE DA LIBERDADE DE IMPRENSA
COMO REFORÇO OU SOBRETUTELA DAS LIBERDADES DE
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E
DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E
COMUNICACIONAL. LIBERDADES QUE DÃO CONTEÚDO
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ÀS RELAÇÕES DE IMPRENSA E QUE SE PÕEM COMO
SUPERIORES BENS DE PERSONALIDADE E MAIS DIRETA
EMANAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA
COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO
PROLONGADOR DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO
DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO
ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E
COMUNICACIONAL. TRANSPASSE DA
FUNDAMENTALIDADE DOS DIREITOS PROLONGADOS AO
CAPÍTULO PROLONGADOR. PONDERAÇÃO
DIRETAMENTE CONSTITUCIONAL ENTRE BLOCOS DE
BENS DE PERSONALIDADE: O BLOCO DOS DIREITOS QUE
DÃO CONTEÚDO À LIBERDADE DE IMPRENSA E O BLOCO
DOS DIREITOS À IMAGEM, HONRA, INTIMIDADE E VIDA
PRIVADA. PRECEDÊNCIA DO PRIMEIRO BLOCO.
INCIDÊNCIA A POSTERIORI DO SEGUNDO BLOCO DE
DIREITOS, PARA O EFEITO DE ASSEGURAR O DIREITO DE
RESPOSTA E ASSENTAR RESPONSABILIDADES PENAL,
CIVIL E ADMINISTRATIVA, ENTRE OUTRAS
CONSEQUÊNCIAS DO PLENO GOZO DA LIBERDADE DE
IMPRENSA. PECULIAR FÓRMULA CONSTITUCIONAL DE
PROTEÇÃO A INTERESSES PRIVADOS QUE, MESMO
INCIDINDO A POSTERIORI, ATUA SOBRE AS CAUSAS
PARA INIBIR ABUSOS POR PARTE DA IMPRENSA.
PROPORCIONALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA
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E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS A TERCEIROS. RELAÇÃO DE MÚTUA
CAUSALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E
DEMOCRACIA. RELAÇÃO DE INERÊNCIA ENTRE
PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA LIVRE. A IMPRENSA
COMO INSTÂNCIA NATURAL DE FORMAÇÃO DA
OPINIÃO PÚBLICA E COMO ALTERNATIVA À VERSÃO
OFICIAL DOS FATOS. PROIBIÇÃO DE MONOPOLIZAR OU
OLIGOPOLIZAR ÓRGÃOS DE IMPRENSA COMO NOVO E
AUTÔNOMO FATOR DE INIBIÇÃO DE ABUSOS. NÚCLEO
DA LIBERDADE DE IMPRENSA E MATÉRIAS APENAS
PERIFERICAMENTE DE IMPRENSA. AUTORREGULAÇÃO E
REGULAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE DE IMPRENSA. NÃO
RECEPÇÃO EM BLOCO DA LEI Nº 5.250/1967 PELA NOVA
ORDEM CONSTITUCIONAL. EFEITOS JURÍDICOS DA
DECISÃO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. ARGUIÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL
(ADPF). LEI DE IMPRENSA. ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. A
ADPF, fórmula processual subsidiária do controle
concentrado de constitucionalidade, é via adequada à
impugnação de norma pré-constitucional. Situação de
concreta ambiência jurisdicional timbrada por decisões
conflitantes. Atendimento das condições da ação. 2.
REGIME CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE DE IMPRENSA
COMO REFORÇO DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO
DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO
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EM SENTIDO GENÉRICO, DE MODO A ABARCAR OS
DIREITOS À PRODUÇÃO INTELECTUAL, ARTÍSTICA,
CIENTÍFICA E COMUNICACIONAL. A Constituição
reservou à imprensa todo um bloco normativo, com o
apropriado nome "Da Comunicação Social" (capítulo V
do título VIII). A imprensa como plexo ou conjunto de
"atividades" ganha a dimensão de instituição-ideia, de
modo a poder influenciar cada pessoa de per se e até
mesmo formar o que se convencionou chamar de
opinião pública. Pelo que ela, Constituição, destinou à
imprensa o direito de controlar e revelar as coisas
respeitantes à vida do Estado e da própria sociedade. A
imprensa como alternativa à explicação ou versão
estatal de tudo que possa repercutir no seio da
sociedade e como garantido espaço de irrupção do
pensamento crítico em qualquer situação ou
contingência. Entendendo-se por pensamento crítico o
que, plenamente comprometido com a verdade ou
essência das coisas, se dota de potencial emancipatório
de mentes e espíritos. O corpo normativo da
Constituição brasileira sinonimiza liberdade de
informação jornalística e liberdade de imprensa,
rechaçante de qualquer censura prévia a um direito que
é signo e penhor da mais encarecida dignidade da
pessoa humana, assim como do mais evoluído estado de
civilização. 3. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA
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COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO
PROLONGADOR DE SUPERIORES BENS DE
PERSONALIDADE QUE SÃO A MAIS DIRETA EMANAÇÃO
DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: A LIVRE
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E O DIREITO À
INFORMAÇÃO E À EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA,
INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. TRANSPASSE DA
NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS PROLONGADOS AO
CAPÍTULO CONSTITUCIONAL SOBRE A COMUNICAÇÃO
SOCIAL. O art. 220 da Constituição radicaliza e alarga o
regime de plena liberdade de atuação da imprensa,
porquanto fala: a) que os mencionados direitos de
personalidade (liberdade de pensamento, criação,
expressão e informação) estão a salvo de qualquer
restrição em seu exercício, seja qual for o suporte físico
ou tecnológico de sua veiculação; b) que tal exercício
não se sujeita a outras disposições que não sejam as
figurantes dela própria, Constituição. A liberdade de
informação jornalística é versada pela Constituição
Federal como expressão sinônima de liberdade de
imprensa. Os direitos que dão conteúdo à liberdade de
imprensa são bens de personalidade que se qualificam
como sobredireitos. Daí que, no limite, as relações de
imprensa e as relações de intimidade, vida privada,
imagem e honra são de mútua excludência, no sentido
de que as primeiras se antecipam, no tempo, às
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segundas; ou seja, antes de tudo prevalecem as relações
de imprensa como superiores bens jurídicos e natural
forma de controle social sobre o poder do Estado,
sobrevindo as demais relações como eventual
responsabilização ou consequência do pleno gozo das
primeiras. A expressão constitucional "observado o
disposto nesta Constituição" (parte final do art. 220)
traduz a incidência dos dispositivos tutelares de outros
bens de personalidade, é certo, mas como consequência
ou responsabilização pelo desfrute da "plena liberdade
de informação jornalística" (§ 1º do mesmo art. 220 da
Constituição Federal). Não há liberdade de imprensa
pela metade ou sob as tenazes da censura prévia,
inclusive a procedente do Poder Judiciário, pena de se
resvalar para o espaço inconstitucional da
prestidigitação jurídica. Silenciando a Constituição
quanto ao regime da internet (rede mundial de
computadores), não há como se lhe recusar a
qualificação de território virtual livremente veiculador
de ideias e opiniões, debates, notícias e tudo o mais que
signifique plenitude de comunicação. 4. MECANISMO
CONSTITUCIONAL DE CALIBRAÇÃO DE PRINCÍPIOS. O art.
220 é de instantânea observância quanto ao desfrute
das liberdades de pensamento, criação, expressão e
informação que, de alguma forma, se veiculem pelos
órgãos de comunicação social. Isto sem prejuízo da
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aplicabilidade dos seguintes incisos do art. 5º da mesma
Constituição Federal: vedação do anonimato (parte final
do inciso IV); do direito de resposta (inciso V); direito a
indenização por dano material ou moral à intimidade, à
vida privada, à honra e à imagem das pessoas (inciso X);
livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer (inciso XIII); direito ao resguardo do sigilo da
fonte de informação, quando necessário ao exercício
profissional (inciso XIV). Lógica diretamente
constitucional de calibração temporal ou cronológica na
empírica incidência desses dois blocos de dispositivos
constitucionais (o art. 220 e os mencionados incisos do
art. 5º). Noutros termos, primeiramente, assegura-se o
gozo dos sobredireitos de personalidade em que se
traduz a "livre" e "plena" manifestação do pensamento,
da criação e da informação. Somente depois é que se
passa a cobrar do titular de tais situações jurídicas ativas
um eventual desrespeito a direitos constitucionais
alheios, ainda que também densificadores da
personalidade humana. Determinação constitucional de
momentânea paralisia à inviolabilidade de certas
categorias de direitos subjetivos fundamentais,
porquanto a cabeça do art. 220 da Constituição veda
qualquer cerceio ou restrição à concreta manifestação
do pensamento (vedado o anonimato), bem assim todo
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cerceio ou restrição que tenha por objeto a criação, a
expressão e a informação, seja qual for a forma, o
processo, ou o veículo de comunicação social. Com o
que a Lei Fundamental do Brasil veicula o mais
democrático e civilizado regime da livre e plena
circulação das ideias e opiniões, assim como das notícias
e informações, mas sem deixar de prescrever o direito
de resposta e todo um regime de responsabilidades
civis, penais e administrativas. Direito de resposta e
responsabilidades que, mesmo atuando a posteriori,
infletem sobre as causas para inibir abusos no desfrute
da plenitude de liberdade de imprensa. 5.
PROPORCIONALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA
E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. Sem embargo, a excessividade indenizatória
é, em si mesma, poderoso fator de inibição da liberdade
de imprensa, em violação ao princípio constitucional da
proporcionalidade. A relação de proporcionalidade
entre o dano moral ou material sofrido por alguém e a
indenização que lhe caiba receber (quanto maior o dano
maior a indenização) opera é no âmbito interno da
potencialidade da ofensa e da concreta situação do
ofendido. Nada tendo a ver com essa equação a
circunstância em si da veiculação do agravo por órgão de
imprensa, porque, senão, a liberdade de informação
jornalística deixaria de ser um elemento de expansão e
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de robustez da liberdade de pensamento e de expressão
lato sensu para se tornar um fator de contração e de
esqualidez dessa liberdade. Em se tratando de agente
público, ainda que injustamente ofendido em sua honra
e imagem, subjaz à indenização uma imperiosa cláusula
de modicidade. Isto porque todo agente público está
sob permanente vigília da cidadania. E quando o agente
estatal não prima por todas as aparências de legalidade
e legitimidade no seu atuar oficial, atrai contra si mais
fortes suspeitas de um comportamento antijurídico
francamente sindicável pelos cidadãos. 6. RELAÇÃO DE
MÚTUA CAUSALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA
E DEMOCRACIA. A plena liberdade de imprensa é um
patrimônio imaterial que corresponde ao mais
eloquente atestado de evolução político-cultural de
todo um povo. Pelo seu reconhecido condão de vitalizar
por muitos modos a Constituição, tirando-a mais vezes
do papel, a Imprensa passa a manter com a democracia
a mais entranhada relação de mútua dependência ou
retroalimentação. Assim visualizada como verdadeira
irmã siamesa da democracia, a imprensa passa a
desfrutar de uma liberdade de atuação ainda maior que
a liberdade de pensamento, de informação e de
expressão dos indivíduos em si mesmos considerados. O
§ 5º do art. 220 apresenta-se como norma constitucional
de concretização de um pluralismo finalmente
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compreendido como fundamento das sociedades
autenticamente democráticas; isto é, o pluralismo como
a virtude democrática da respeitosa convivência dos
contrários. A imprensa livre é, ela mesma, plural, devido
a que são constitucionalmente proibidas a
oligopolização e a monopolização do setor (§ 5º do art.
220 da CF). A proibição do monopólio e do oligopólio
como novo e autônomo fator de contenção de abusos
do chamado "poder social da imprensa". 7. RELAÇÃO DE
INERÊNCIA ENTRE PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA
LIVRE. A IMPRENSA COMO INSTÂNCIA NATURAL DE
FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E COMO
ALTERNATIVA À VERSÃO OFICIAL DOS FATOS. O
pensamento crítico é parte integrante da informação
plena e fidedigna. O possível conteúdo socialmente útil
da obra compensa eventuais excessos de estilo e da
própria verve do autor. O exercício concreto da
liberdade de imprensa assegura ao jornalista o direito
de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em
tom áspero ou contundente, especialmente contra as
autoridades e os agentes do Estado. A crítica jornalística,
pela sua relação de inerência com o interesse público,
não é aprioristicamente suscetível de censura, mesmo
que legislativa ou judicialmente intentada. O próprio das
atividades de imprensa é operar como formadora de
opinião pública, espaço natural do pensamento crítico e
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"real alternativa à versão oficial dos fatos" ( Deputado
Federal Miro Teixeira). 8. NÚCLEO DURO DA LIBERDADE
DE IMPRENSA E A INTERDIÇÃO PARCIAL DE LEGISLAR. A
uma atividade que já era "livre" (incisos IV e IX do art.
5º), a Constituição Federal acrescentou o qualificativo de
"plena" (§ 1º do art. 220). Liberdade plena que,
repelente de qualquer censura prévia, diz respeito à
essência mesma do jornalismo (o chamado "núcleo
duro" da atividade). Assim entendidas as coordenadas
de tempo e de conteúdo da manifestação do
pensamento, da informação e da criação lato sensu, sem
o que não se tem o desembaraçado trânsito das ideias e
opiniões, tanto quanto da informação e da criação.
Interdição à lei quanto às matérias nuclearmente de
imprensa, retratadas no tempo de início e de duração do
concreto exercício da liberdade, assim como de sua
extensão ou tamanho do seu conteúdo. Tirante,
unicamente, as restrições que a Lei Fundamental de
1988 prevê para o "estado de sítio" (art. 139), o Poder
Público somente pode dispor sobre matérias lateral ou
reflexamente de imprensa, respeitada sempre a ideia-
força de que quem quer que seja tem o direito de dizer o
que quer que seja. Logo, não cabe ao Estado, por
qualquer dos seus órgãos, definir previamente o que
pode ou o que não pode ser dito por indivíduos e
jornalistas. As matérias reflexamente de imprensa,
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suscetíveis, portanto, de conformação legislativa, são as
indicadas pela própria Constituição, tais como: direitos
de resposta e de indenização, proporcionais ao agravo;
proteção do sigilo da fonte ("quando necessário ao
exercício profissional"); responsabilidade penal por
calúnia, injúria e difamação; diversões e espetáculos
públicos; estabelecimento dos "meios legais que
garantam à pessoa e à família a possibilidade de se
defenderem de programas ou programações de rádio e
televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem
como da propaganda de produtos, práticas e serviços
que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente"
(inciso II do § 3º do art. 220 da CF); independência e
proteção remuneratória dos profissionais de imprensa
como elementos de sua própria qualificação técnica
(inciso XIII do art. 5º); participação do capital
estrangeiro nas empresas de comunicação social (§ 4º
do art. 222 da CF); composição e funcionamento do
Conselho de Comunicação Social (art. 224 da
Constituição). Regulações estatais que, sobretudo
incidindo no plano das consequências ou
responsabilizações, repercutem sobre as causas de
ofensas pessoais para inibir o cometimento dos abusos
de imprensa. Peculiar fórmula constitucional de
proteção de interesses privados em face de eventuais
descomedimentos da imprensa (justa preocupação do
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Ministro Gilmar Mendes), mas sem prejuízo da ordem
de precedência a esta conferida, segundo a lógica
elementar de que não é pelo temor do abuso que se vai
coibir o uso. Ou, nas palavras do Ministro Celso de
Mello, "a censura governamental, emanada de qualquer
um dos três Poderes, é a expressão odiosa da face
autoritária do poder público". 9. AUTORREGULAÇÃO E
REGULAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE DE IMPRENSA. É da
lógica encampada pela nossa Constituição de 1988 a
autorregulação da imprensa como mecanismo de
permanente ajuste de limites da sua liberdade ao sentir-
pensar da sociedade civil. Os padrões de seletividade do
próprio corpo social operam como antídoto que o tempo
não cessa de aprimorar contra os abusos e desvios
jornalísticos. Do dever de irrestrito apego à completude
e fidedignidade das informações comunicadas ao
público decorre a permanente conciliação entre
liberdade e responsabilidade da imprensa. Repita-se:
não é jamais pelo temor do abuso que se vai proibir o
uso de uma liberdade de informação a que o próprio
Texto Magno do País apôs o rótulo de "plena" (§ 1 do
art. 220). 10. NÃO RECEPÇÃO EM BLOCO DA LEI 5.250
PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. 10.1. Óbice
lógico à confecção de uma lei de imprensa que se orne
de compleição estatutária ou orgânica. A própria
Constituição, quando o quis, convocou o legislador de
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segundo escalão para o aporte regratório da parte
restante de seus dispositivos (art. 29, art. 93 e § 5º do
art. 128). São irregulamentáveis os bens de
personalidade que se põem como o próprio conteúdo ou
substrato da liberdade de informação jornalística, por se
tratar de bens jurídicos que têm na própria interdição da
prévia interferência do Estado o seu modo natural, cabal
e ininterrupto de incidir. Vontade normativa que, em
tema elementarmente de imprensa, surge e se exaure
no próprio texto da Lei Suprema. 10.2.
Incompatibilidade material insuperável entre a Lei n°
5.250/67 e a Constituição de 1988. Impossibilidade de
conciliação que, sobre ser do tipo material ou de
substância (vertical), contamina toda a Lei de Imprensa:
a) quanto ao seu entrelace de comandos, a serviço da
prestidigitadora lógica de que para cada regra geral
afirmativa da liberdade é aberto um leque de exceções
que praticamente tudo desfaz; b) quanto ao seu
inescondível efeito prático de ir além de um simples
projeto de governo para alcançar a realização de um
projeto de poder, este a se eternizar no tempo e a
sufocar todo pensamento crítico no País. 10.3 São de
todo imprestáveis as tentativas de conciliação
hermenêutica da Lei 5.250/67 com a Constituição, seja
mediante expurgo puro e simples de destacados
dispositivos da lei, seja mediante o emprego dessa
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refinada técnica de controle de constitucionalidade que
atende pelo nome de "interpretação conforme a
Constituição". A técnica da interpretação conforme não
pode artificializar ou forçar a descontaminação da parte
restante do diploma legal interpretado, pena de
descabido incursionamento do intérprete em legiferação
por conta própria. Inapartabilidade de conteúdo, de fins
e de viés semântico (linhas e entrelinhas) do texto
interpretado. Caso-limite de interpretação
necessariamente conglobante ou por arrastamento
teleológico, a pré-excluir do intérprete/aplicador do
Direito qualquer possibilidade da declaração de
inconstitucionalidade apenas de determinados
dispositivos da lei sindicada, mas permanecendo
incólume uma parte sobejante que já não tem
significado autônomo. Não se muda, a golpes de
interpretação, nem a inextrincabilidade de comandos
nem as finalidades da norma interpretada.
Impossibilidade de se preservar, após artificiosa
hermenêutica de depuração, a coerência ou o equilíbrio
interno de uma lei (a Lei federal nº 5.250/67) que foi
ideologicamente concebida e normativamente
apetrechada para operar em bloco ou como um todo
pro indiviso. 11. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO.
Aplicam-se as normas da legislação comum,
notadamente o Código Civil, o Código Penal, o Código de
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Processo Civil e o Código de Processo Penal às causas
decorrentes das relações de imprensa. O direito de
resposta, que se manifesta como ação de replicar ou de
retificar matéria publicada é exercitável por parte
daquele que se vê ofendido em sua honra objetiva, ou
então subjetiva, conforme estampado no inciso V do art.
5º da Constituição Federal. Norma, essa, "de eficácia
plena e de aplicabilidade imediata", conforme
classificação de José Afonso da Silva. "Norma de pronta
aplicação", na linguagem de Celso Ribeiro Bastos e
Carlos Ayres Britto, em obra doutrinária conjunta. 12.
PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. Total procedência da ADPF,
para o efeito de declarar como não recepcionado pela
Constituição de 1988 todo o conjunto de dispositivos da
Lei federal nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967.
O que é esse efeito transacional sinalagmático? Dá a noção de que as
normas elas devem transacionar, devem ter uma transação entre si, ou seja, elas estão
sempre um de encontro ao outro de tal forma que ora uma vai ceder, ora outra vai
ceder, e sempre chegando a um equilíbrio. Seria muito parecida com a ideia de
ponderação de valores, a ideia de ponderação de interesses, a utilização da
proporcionalidade no seu triplo aspecto, qual seja a necessidade, adequação e
proporcionalidade em sentido estrito, nós até verificamos que o STF ele já utilizou
reiteradamente essa proporcionalidade.
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O primeiro aspecto da proporcionalidade é a necessidade, verificar o que é
efetivamente necessário, então quando há um choque entre dois direitos verificar qual
dos dois deve prevalecer naquele caso concreto, naquela hipótese. Ultrapassada o
limite da necessidade tem que verificar se aquela solução dada é uma solução
adequada, o próprio STF teve oportunidade de julgar um caso que foi ação direta de
inconstitucionalidade 855 da relatoria do ministro Otávio Galloti, em que o STF teve
que verificar a proporcionalidade de uma lei do Estado do PR que previa a necessidade
de cada caminhão de gás levar uma balança de precisão.
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei
10.248/93, do Estado do Paraná, que obriga os
estabelecimentos que comercializem Gás Liquefeito de
Petróleo - GLP a pesarem, à vista do consumidor, os
botijões ou cilindros entregues ou recebidos para
substituição, com abatimento proporcional do preço do
produto ante a eventual verificação de diferença a
menor entre o conteúdo e a quantidade líquida
especificada no recipiente. 3. Inconstitucionalidade
formal, por ofensa à competência privativa da União
para legislar sobre o tema (CF/88, arts. 22, IV, 238). 4.
Violação ao princípio da proporcionalidade e
razoabilidade das leis restritivas de direitos. 5. Ação
julgada procedente.
Obviamente ali envolvia direito do consumidor de um lado até porque
botijão vamos imaginar tem 13 quilos se for vender com 12, 11 quilos dificilmente o
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usuário o consumidor saberia que haveria uma fraude que estava pagando mais por
ter menos gás, porém qual foi análise feita pelo STF nesse caso foi feita até uma pericia
pelo IMETRO e se verificou que como as estradas tinham alguns buracos e a
pavimentação não era tão boa, pelo menos isso na medida cautelar da ADI 855 ,
simplesmente aquilo dali feria essa adequação da proporcionalidade, isso porque
quando chegava a casa da pessoa ainda com balança de precisão, ainda com caminhão
com balança de precisão, não havia como o consumidor saber se ali efetivamente
tinha ou não os 13 quilos justamente porque a balança ficava descalibrada a partir da
pavimentação, ou da ausência de pavimentação das estradas.
Nesse caso o STF reconheceu a inconstitucionalidade de uma norma ou
pelo menos a aparente inconstitucionalidade de uma norma porque foi em uma
medida cautelar, tendo como fundamento a adequação na proporcionalidade.
E por fim nós temos ainda a proporcionalidade em sentido estrito. E o que
vem a ser a proporcionalidade em sentido estrito? Ela significa justamente que tem
que verificar o custo beneficio daquela medida muitas vezes o sacrifício que é colocado
supera o beneficio que é trazido. Vou dar um exemplo que não foi do STF, mas foi do
TRF da 3ª região, que foi um caso que em 2007 três tipos de aeronaves foram
proibidas de aterrissar no aeroporto de Congonhas, quais sejam, 737 700 737800,
fokker 100, e de Congonhas para Guarulhos se tem alguém de SP conhece SP, sabe que
há uma distancia enorme e a alegação da ANAC foi no sentido de que a chance de a
pista ocasionar um acidente, ter uma derrapagem na pista é muito pequena, uma em
cada 10 mil, e mesmo que tivesse uma derrapagem na pista, que tinha tido uma, isso ai
apenas acarretaria escoriações leves.
E com base nisso a desembargadora analisou o custo beneficio e com base
na proporcionalidade ela entendeu, ela assentou que as aeronaves poderiam
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perfeitamente aterrissar porque tinha e a ANAC trouxe algumas medidas de segurança
que estavam sendo adotadas na época da obra do aeroporto de Congonhas.
Diante disso houve uma análise da proporcionalidade em sentido estrito,
ou seja, sempre que houver um choque entre direitos fundamentais a ideia é preservar
o núcleo essencial, mas se utilizar da proporcionalidade, da ponderação de valores
para resolver aquele problema.
De outro lado temos que ver como se dá esses direitos fundamentais
dentro da nossa constituição. A nossa constituição da república tem um titulo
especifico sobre direitos fundamentais, se formos ver o titulo II da constituição que
engloba o art. 5º até o art. 17 há uma previsão dos direitos fundamentais dividido em
cinco capítulos, quais sejam, direitos e garantias individuais e coletivos, direitos sociais,
direito a nacionalidade, direitos políticos e partidos políticos, e obviamente esses
artigos não esgotam todos os direitos fundamentais. Temos até reconhecido pelo STF a
possibilidade de direitos fundamentais fora de catalogo, que foi o caso da ação direta
de inconstitucionalidade 939, o caso concreto até foi uma emenda constitucional que
estabeleceu o imposto provisório de movimentação financeira, IPMF que deu azo a
CPMF e nesse imposto não se previu a anterioridade tributária, que está esculpida no
art. 150 CF/88, ou seja, não está nesse rol, nesse catalogo dos direitos fundamentais.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
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I - homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além da indenização por dano material, moral
ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
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todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal;
(Vide Lei nº 9.296, de 1996)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
lei estabelecer;
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XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional;
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei,
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de
cooperativas independem de autorização, sendo vedada
a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
permanecer associado;
38 TURMA MPF
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XXI - as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização
em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade
competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
houver dano;
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em
lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto
de penhora para pagamento de débitos decorrentes de
sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios
de financiar o seu desenvolvimento;
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de
utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
39 TURMA MPF
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XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento
econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
industriais privilégio temporário para sua utilização,
bem como proteção às criações industriais, à
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a
outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do
País;
XXX - é garantido o direito de herança;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no
País será regulada pela lei brasileira em benefício do
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes
seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus";
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor;
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XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado; (Regulamento)
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente
do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para
defesa de direitos e esclarecimento de situações de
interesse pessoal;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
41 TURMA MPF
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b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem;
42 TURMA MPF
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XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação
de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação
do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até
o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e
adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
43 TURMA MPF
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c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos
distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e
o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade
física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que
possam permanecer com seus filhos durante o período
de amamentação;
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o
naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes
da naturalização, ou de comprovado envolvimento em
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por
crime político ou de opinião;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente;
44 TURMA MPF
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LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
por meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória;
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em
lei; (Regulamento).
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação
pública, se esta não for intentada no prazo legal;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
45 TURMA MPF
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LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos
responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel;
LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;
46 TURMA MPF
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LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para
proteger direito líquido e certo, não amparado por
"habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser
impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso
Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo
menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;
LXXII - conceder-se-á "habeas-data":
a) para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de
47 TURMA MPF
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registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência;
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro
judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo
fixado na sentença;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres,
na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
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LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e
"habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania. (Regulamento)
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios
que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta
Constituição não excluem outros decorrentes do regime
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma
deste parágrafo)
49 TURMA MPF
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§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS SOCIAIS
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 64, de 2010)
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,
além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
I - relação de emprego protegida contra despedida
arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego
involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
50 TURMA MPF
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IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente
unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à
complexidade do trabalho;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em
convenção ou acordo coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para
os que percebem remuneração variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração
integral ou no valor da aposentadoria;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do
diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo
crime sua retenção dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada
da remuneração, e, excepcionalmente, participação na
gestão da empresa, conforme definido em lei;
51 TURMA MPF
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XII - salário-família pago em razão do dependente do
trabalhador de baixa renda nos termos da lei;(Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito
horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a
compensação de horários e a redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
(vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943)
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em
turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação
coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente
aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior,
no mínimo, em cinquenta por cento à do normal; (Vide
Del 5.452, art. 59 § 1º)
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo
menos, um terço a mais do que o salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do
salário, com a duração de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
52 TURMA MPF
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XX - proteção do mercado de trabalho da mulher,
mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço,
sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio
de normas de saúde, higiene e segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades
penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
XXIV - aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes
desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em
creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006)
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos
coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do
empregador, sem excluir a indenização a que este está
obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações
de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para
53 TURMA MPF
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os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois
anos após a extinção do contrato de trabalho;(Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
a) (Revogada). (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
b) (Revogada). (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de
funções e de critério de admissão por motivo de sexo,
idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a
salário e critérios de admissão do trabalhador portador
de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual,
técnico e intelectual ou entre os profissionais
respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou
insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a
menores de dezesseis anos, salvo na condição de
aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
54 TURMA MPF
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XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com
vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos
trabalhadores domésticos os direitos previstos nos
incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX,
XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as
condições estabelecidas em lei e observada a
simplificação do cumprimento das obrigações
tributárias, principais e acessórias, decorrentes da
relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos
nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua
integração à previdência social. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 72, de 2013)
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical,
observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a
fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
competente, vedadas ao Poder Público a interferência e
a intervenção na organização sindical;
II - é vedada a criação de mais de uma organização
sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
profissional ou econômica, na mesma base territorial,
que será definida pelos trabalhadores ou empregadores
55 TURMA MPF
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interessados, não podendo ser inferior à área de um
Município;
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses
coletivos ou individuais da categoria, inclusive em
questões judiciais ou administrativas;
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se
tratando de categoria profissional, será descontada em
folha, para custeio do sistema confederativo da
representação sindical respectiva, independentemente
da contribuição prevista em lei;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se
filiado a sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas
negociações coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser
votado nas organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a
partir do registro da candidatura a cargo de direção ou
representação sindical e, se eleito, ainda que suplente,
até um ano após o final do mandato, salvo se cometer
falta grave nos termos da lei.
56 TURMA MPF
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Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se
à organização de sindicatos rurais e de colônias de
pescadores, atendidas as condições que a lei
estabelecer.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo
e sobre os interesses que devam por meio dele
defender.
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e
disporá sobre o atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade.
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às
penas da lei.
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e
empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em
que seus interesses profissionais ou previdenciários
sejam objeto de discussão e deliberação.
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados,
é assegurada a eleição de um representante destes com
a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento
direto com os empregadores.
CAPÍTULO III
DA NACIONALIDADE
57 TURMA MPF
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Art. 12. São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda
que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a
serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da
República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que sejam registrados em repartição
brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo,
depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
54, de 2007)
II - naturalizados:>
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade
brasileira, exigidas aos originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e
idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes
na República Federativa do Brasil há mais de quinze
58 TURMA MPF
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anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeiram a nacionalidade brasileira.(Redação dada
pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no
País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros,
serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo
os casos previstos nesta Constituição.(Redação dada
pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)
§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre
brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos
previstos nesta Constituição.
§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa(Incluído pela
Emenda Constitucional nº 23, de 1999)
59 TURMA MPF
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§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do
brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença
judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse
nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
(Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão
nº 3, de 1994)
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela
lei estrangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de
Revisão nº 3, de 1994)
b) de imposição de naturalização, pela norma
estrangeira, ao brasileiro residente em estado
estrangeiro, como condição para permanência em seu
território ou para o exercício de direitos civis; (Incluído
pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da
República Federativa do Brasil.
§ 1º - São símbolos da República Federativa do Brasil a
bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.
§ 2º - Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão ter símbolos próprios.
60 TURMA MPF
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CAPÍTULO IV
DOS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.
§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os
estrangeiros e, durante o período do serviço militar
obrigatório, os conscritos.
§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:
61 TURMA MPF
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I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária; Regulamento
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente
da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de
Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado
Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de
paz;
d) dezoito anos para Vereador.
§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de
Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos
poderão ser reeleitos para um único período
62 TURMA MPF
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subsequente.(Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 16, de 1997)
§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da
República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos
mandatos até seis meses antes do pleito.
§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do
titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins,
até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
República, de Governador de Estado ou Território, do
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja
substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito,
salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição.
§ 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as
seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá
afastar-se da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado
pela autoridade superior e, se eleito, passará
automaticamente, no ato da diplomação, para a
inatividade.
63 TURMA MPF
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§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de
proteger a probidade administrativa, a moralidade para
exercício de mandato considerada vida pregressa do
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições
contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração
direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda
Constitucional de Revisão nº 4, de 1994)
§ 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a
Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da
diplomação, instruída a ação com provas de abuso do
poder econômico, corrupção ou fraude.
§ 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em
segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da
lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja
perda ou suspensão só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença
transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado,
enquanto durarem seus efeitos;
64 TURMA MPF
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IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, §
4º.
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em
vigor na data de sua publicação, não se aplicando à
eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 4, de
1993)
CAPÍTULO V
DOS PARTIDOS POLÍTICOS
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção
de partidos políticos, resguardados a soberania nacional,
o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos
fundamentais da pessoa humana e observados os
seguintes preceitos: Regulamento
I - caráter nacional;
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de
entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a
estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
65 TURMA MPF
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IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para
definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o
regime de suas coligações eleitorais, sem
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em
âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal,
devendo seus estatutos estabelecer normas de
disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 52, de 2006)
§ 2º - Os partidos políticos, após adquirirem
personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão
seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
§ 3º - Os partidos políticos têm direito a recursos do
fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão,
na forma da lei.
§ 4º - É vedada a utilização pelos partidos políticos de
organização paramilitar.
EMENTA: - Direito Constitucional e Tributário. Ação
Direta de Inconstitucionalidade de Emenda
Constitucional e de Lei Complementar. I.P.M.F. Imposto
Provisório sobre a Movimentação ou a Transmissão de
Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira -
66 TURMA MPF
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I.P.M.F. Artigos 5., par. 2., 60, par. 4., incisos I e IV, 150,
incisos III, "b", e VI, "a", "b", "c" e "d", da Constituição
Federal. 1. Uma Emenda Constitucional, emanada,
portanto, de Constituinte derivada, incidindo em
violação a Constituição originaria, pode ser declarada
inconstitucional, pelo Supremo Tribunal Federal, cuja
função precípua e de guarda da Constituição (art. 102, I,
"a", da C.F.). 2. A Emenda Constitucional n. 3, de
17.03.1993, que, no art. 2., autorizou a União a instituir
o I.P.M.F., incidiu em vício de inconstitucionalidade, ao
dispor, no parágrafo 2. desse dispositivo, que, quanto a
tal tributo, não se aplica "o art. 150, III, "b" e VI", da
Constituição, porque, desse modo, violou os seguintes
princípios e normas imutáveis (somente eles, não
outros): 1. - o princípio da anterioridade, que e garantia
individual do contribuinte (art. 5., par. 2., art. 60, par. 4.,
inciso IV e art. 150, III, "b" da Constituição); 2. - o
princípio da imunidade tributaria recíproca (que veda a
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
a instituição de impostos sobre o patrimônio, rendas ou
serviços uns dos outros) e que e garantia da Federação
(art. 60, par. 4., inciso I,e art. 150, VI, "a", da C.F.); 3. - a
norma que, estabelecendo outras imunidades impede a
criação de impostos (art. 150, III) sobre: "b"): templos de
qualquer culto; "c"): patrimônio, renda ou serviços dos
partidos políticos, inclusive suas fundações, das
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entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições
de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,
atendidos os requisitos da lei; e "d"): livros, jornais,
periódicos e o papel destinado a sua impressão; 3. Em
consequência, e inconstitucional, também, a Lei
Complementar n. 77, de 13.07.1993, sem redução de
textos, nos pontos em que determinou a incidência do
tributo no mesmo ano (art. 28) e deixou de reconhecer
as imunidades previstas no art. 150, VI, "a", "b", "c" e
"d" da C.F. (arts. 3., 4. e 8. do mesmo diploma, L.C. n.
77/93). 4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada
procedente, em parte, para tais fins, por maioria, nos
termos do voto do Relator, mantida, com relação a
todos os contribuintes, em caráter definitivo, a medida
cautelar, que suspendera a cobrança do tributo no ano
de1993.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas
ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que
se encontrem em situação equivalente, proibida
qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou
68 TURMA MPF
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função por eles exercida, independentemente da
denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou
direitos;
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início
da vigência da lei que os houver instituído ou
aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Vide
Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja
sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,
observado o disposto na alínea b; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;
V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou
bens, por meio de tributos interestaduais ou
intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela
utilização de vias conservadas pelo Poder Público;
VI - instituir impostos sobre: (Vide Emenda
Constitucional nº 3, de 1993)
69 TURMA MPF
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a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
b) templos de qualquer culto;
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos,
inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos
trabalhadores, das instituições de educação e de
assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os
requisitos da lei;
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua
impressão.
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos
previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a
vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos
previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à
fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos
arts. 155, III, e 156, I. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
§ 2º - A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às
autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo
Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e
aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou
às delas decorrentes.
§ 3º - As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo
anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e aos
70 TURMA MPF
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serviços, relacionados com exploração de atividades
econômicas regidas pelas normas aplicáveis a
empreendimentos privados, ou em que haja
contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo
usuário, nem exonera o promitente comprador da
obrigação de pagar imposto relativamente ao bem
imóvel.
§ 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas "b" e
"c", compreendem somente o patrimônio, a renda e os
serviços, relacionados com as finalidades essenciais das
entidades nelas mencionadas.
§ 5º - A lei determinará medidas para que os
consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos
que incidam sobre mercadorias e serviços.
§ 6.º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de
cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou
remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições,
só poderá ser concedido mediante lei específica, federal,
estadual ou municipal, que regule exclusivamente as
matérias acima enumeradas ou o correspondente
tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art.
155, § 2.º, XII, g. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 3, de 1993)
71 TURMA MPF
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§ 7.º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação
tributária a condição de responsável pelo pagamento de
imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial
restituição da quantia paga, caso não se realize o fato
gerador presumido.(Incluído pela Emenda
Constitucional nº 3, de 1993)
Contudo o STF assentou que aquilo ali era uma garantia individual do
contribuinte razão pela qual considerou inconstitucional a cobrança daquele imposto
no ano de 93, tanto que por conta dessa decisão nós só pagamos o IPMF só em 94, ou
seja, dentro da nossa sistemática da constituição nós temos que os direitos
fundamentais eles não estão apenas naquele titulo em que se está colocado, ou
apenas aquele titulo cujo nome é direitos fundamentais, mas também em qualquer
parte da constituição pode se ter direitos fundamentais, são os denominados direitos
fundamentais fora de catalogo. Mas claro obviamente nós temos que dentro desse
catalogo está a maior parte dos direitos fundamentais.
Além disso, é importante se ressaltar que os direitos e garantias individuais
não são exclusivos dos brasileiros e dos residentes, estrangeiros residentes no Brasil,
ao contrário do que está estabelecido de forma literal no art. 5º se vocês forem
verificar ,todos são iguais perante a lei, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros
residentes no Brasil direito a vida, liberdade, tem vários direitos, e obviamente não
temos que somente vai ser para brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil, até
porque o próprio art. 4º estabelece que além dos direitos, o art. 4º fala sobre a
prevalência dos direitos humanos como uma das especificidades do Brasil no âmbito
72 TURMA MPF
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internacional, ou seja, que prepondera aqui no Brasil a prevalência dos direitos
humanos.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas
relações internacionais pelos seguintes princípios:
II - prevalência dos direitos humanos;
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil
buscará a integração econômica, política, social e
cultural dos povos da América Latina, visando à
formação de uma comunidade latino-americana de
nações.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
E direitos humanos e direitos fundamentais nós vamos ver até mais adiante
em um tópico que é direitos fundamentais e tratados internacionais, nós temos que
direitos humanos e direitos fundamentais são basicamente a mesma coisa, o que se
muda são as fontes, enquanto direitos fundamentais estão expressos na constituição
os direitos humanos decorrem dos tratados internacionais, tanto é verdade que
quando estudamos direitos humanos nós estudamos Pacto de São José da Costa Rica ,
traz o sistema interamericano de direitos humanos, nós estudamos a convenção para
73 TURMA MPF
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eliminação de todas as formas de discriminação racial, contra a mulher e ai
sucessivamente, nós estudamos documentos que são internacionais, declaração não é
um tratado, são declarações , declaração universal dos direitos do homem então
estudamos documentos que são documentos internacionais.Enquanto que quando
estudamos direitos fundamentais estudamos nosso texto constitucional mas a
essência dos dois ela é muito semelhante.
E obviamente mesmo aquele estrangeiro não residente ele tem direitos
fundamentais, os direitos individuais tanto é verdade que podem impetrar HC, isso já
reconhecido pelo STF há dezenas de precedentes, e também eles tem claro direito a
vida, liberdade, senão ficaria até preocupado com a copa do ano que vem como seria a
copa de 2014, em uma hipótese como essa? Vamos imaginar que o Brasil vá para final
com Holanda que acaba sendo o trauma da última copa do Brasil, a última copa que o
Brasil participou copa da Alemanha, então o Brasil foi para fina com Holanda e o juiz é
argentino. Se esse juiz no último minuto de jogo errar e o Brasil perder o titulo por
conta disso esse juiz vai ter direito a vida, direito a liberdade? É claro que vai, porque
nós temos que os direitos individuais não são garantidos apenas para os brasileiros e
estrangeiros residentes no Brasil, mas todo e qualquer ser humano, a condição de ser
humano traz a possibilidade de direitos individuais.
Na nossa constituição vamos ter direitos que são implícitos e direitos que
são explícitos. Quais são os direitos implícitos que temos na constituição? São aqueles
que decorrem dos princípios adotados pela constituição, os explícitos são aqueles que
obviamente estão expressos, que estão estabelecidos de forma clara.
Mas há direitos que decorrem desses princípios ou desses direitos
fundamentais razão pela qual nós vamos ter também isso como direitos fundamentais.
Eu posso citar alguns exemplos, se formos tratar do sigilo bancário, se formos tratar do
74 TURMA MPF
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sigilo fiscal, mais adiante nós vamos tratar disso, nós vamos ver que em momento
nenhum a constituição estabelece de forma expressa a existência de um sigilo
bancário, a existência de um sigilo fiscal, contudo decorre do direito a intimidade.
Então há sigilo bancário, há o sigilo fiscal como um direito constitucional, tanto é
verdade que até mesmo o MP ele não pode quebrar sigilo bancário, ele não pode
quebrar sigilo fiscal, teve até uma exceção no STF foi em um MS da relatoria do
ministro Nely da Silveira, admitindo que o MP até buscasse as informações quando
fosse questão relativa a desvio de verbas públicas, mas apenas nesse caso de desvio de
verbas públicas, porque a inoponibilidade de sigilo aos membros do MP está na lei
complementar 75 mais especificamente no art.8º, ao passo que o sigilo fiscal, o sigilo
bancário, são garantias constitucionais, então não poderia uma lei complementar ir
contra o que a constituição estabeleceu.
Art. 8º Para o exercício de suas atribuições, o Ministério
Público da União poderá, nos procedimentos de sua
competência:
I - notificar testemunhas e requisitar sua condução
coercitiva, no caso de ausência injustificada;
II - requisitar informações, exames, perícias e
documentos de autoridades da Administração Pública
direta ou indireta;
III - requisitar da Administração Pública serviços
temporários de seus servidores e meios materiais
necessários para a realização de atividades específicas;
75 TURMA MPF
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IV - requisitar informações e documentos a entidades
privadas;
V - realizar inspeções e diligências investigatórias;
VI - ter livre acesso a qualquer local público ou privado,
respeitadas as normas constitucionais pertinentes à
inviolabilidade do domicílio;
VII - expedir notificações e intimações necessárias aos
procedimentos e inquéritos que instaurar;
VIII - ter acesso incondicional a qualquer banco de dados
de caráter público ou relativo a serviço de relevância
pública;
IX - requisitar o auxílio de força policial.
§ 1º O membro do Ministério Público será civil e
criminalmente responsável pelo uso indevido das
informações e documentos que requisitar; a ação penal,
na hipótese, poderá ser proposta também pelo
ofendido, subsidiariamente, na forma da lei processual
penal.
§ 2º Nenhuma autoridade poderá opor ao Ministério
Público, sob qualquer pretexto, a exceção de sigilo, sem
prejuízo da subsistência do caráter sigiloso da
76 TURMA MPF
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informação, do registro, do dado ou do documento que
lhe seja fornecido.
§ 3º A falta injustificada e o retardamento indevido do
cumprimento das requisições do Ministério Público
implicarão a responsabilidade de quem lhe der causa.
§ 4º As correspondências, notificações, requisições e
intimações do Ministério Público quando tiverem como
destinatário o Presidente da República, o Vice-
Presidente da República, membro do Congresso
Nacional, Ministro do Supremo Tribunal Federal,
Ministro de Estado, Ministro de Tribunal Superior,
Ministro do Tribunal de Contas da União ou chefe de
missão diplomática de caráter permanente serão
encaminhadas e levadas a efeito pelo Procurador-Geral
da República ou outro órgão do Ministério Público a
quem essa atribuição seja delegada, cabendo às
autoridades mencionadas fixar data, hora e local em que
puderem ser ouvidas, se for o caso.
§ 5º As requisições do Ministério Público serão feitas
fixando-se prazo razoável de até dez dias úteis para
atendimento, prorrogável mediante solicitação
justificada.
77 TURMA MPF
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De tal forma que podemos ter tanto direitos expressos, explícitos como
direitos implícitos. Isso está expresso, essa possibilidade de se ter direitos implícitos lá
no §2º do art. 5º, ou seja, que além dos direitos fundamentais expressos na
constituição isso não exclui outros decorrentes de princípios por ela adotados e dos
tratados internacionais.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além da indenização por dano material, moral
ou à imagem;
78 TURMA MPF
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VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
79 TURMA MPF
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prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal;
(Vide Lei nº 9.296, de 1996)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
lei estabelecer;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional;
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei,
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
80 TURMA MPF
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XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de
cooperativas independem de autorização, sendo vedada
a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização
em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;
81 TURMA MPF
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XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade
competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
houver dano;
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em
lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto
de penhora para pagamento de débitos decorrentes de
sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios
de financiar o seu desenvolvimento;
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de
utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento
econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
industriais privilégio temporário para sua utilização,
bem como proteção às criações industriais, à
82 TURMA MPF
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propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a
outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do
País;
XXX - é garantido o direito de herança;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no
País será regulada pela lei brasileira em benefício do
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes
seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus";
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor;
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado; (Regulamento)
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente
do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
83 TURMA MPF
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b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para
defesa de direitos e esclarecimento de situações de
interesse pessoal;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu;
84 TURMA MPF
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XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação
de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação
do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até
o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e
adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
85 TURMA MPF
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b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos
distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e
o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade
física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que
possam permanecer com seus filhos durante o período
de amamentação;
86 TURMA MPF
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LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o
naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes
da naturalização, ou de comprovado envolvimento em
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por
crime político ou de opinião;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
por meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória;
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em
lei; (Regulamento).
87 TURMA MPF
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LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação
pública, se esta não for intentada no prazo legal;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos
responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária;
88 TURMA MPF
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LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel;
LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para
proteger direito líquido e certo, não amparado por
"habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser
impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso
Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo
89 TURMA MPF
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menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;
LXXII - conceder-se-á "habeas-data":
a) para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência;
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;
90 TURMA MPF
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LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro
judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo
fixado na sentença;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres,
na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e
"habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania. (Regulamento)
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios
que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta
Constituição não excluem outros decorrentes do regime
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.
91 TURMA MPF
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Há ainda a questão dos tratados internacionais, ou seja, o reconhecimento
de direitos implícitos, perfeito, agora os tratados internacionais. Quanto aos tratados
internacionais há aqui uma natureza constitucional ou não? Qual o posicionamento do
STF quanto a esse tema?
Antes de falarmos do posicionamento do STF vamos falar um pouco do
posicionamento da doutrina. Muita gente na doutrina posso citar aqui Flávia Piovesan,
defende que os direitos fundamentais decorrentes de tratados internacionais, ou seja,
tratados sobre direitos humanos, já tem força constitucional justamente pela noção de
bloco de constitucionalidade, justamente pelo §2º do art. 5º que fala além dos
tratados , além dos direitos fundamentais expressos na constituição , isso não exclui
outros,dos princípios adotados, e dos tratados internacionais,é como se todos os
tratados internacionais estivessem nesse dispositivo, o que dá a noção de bloco de
constitucionalidade.
Contudo nós temos que há um problema nessa teoria pelo menos que o
STF vislumbra qual seja a questão de que essa teoria tornaria de certa forma a
constituição uma constituição flexível. Mas de qualquer forma por essa teoria do bloco
de constitucionalidade, como direitos fundamentais são essência da constituição, se
vocês forem ver para que serve uma constituição? Se a pergunta fosse essa: Para que
serve uma constituição? Nós vamos ver que a constituição serve para duas coisas,
organizar o Estado no seu duplo aspecto, seja no aspecto horizontal, separação de
poderes, seja no aspecto vertical que é o pacto federativo, e também garantir direitos
fundamentais. Então direitos fundamentais é algo que está na base da constituição, é
materialmente constitucional. Mesmo que não esteja expresso no texto constitucional
há que se reconhecer que essa é uma matéria que é uma matéria constitucional, então
se criou essa ideia do bloco de constitucionalidade.
92 TURMA MPF
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Agora o STF nunca tinha aceitado essa ideia de bloco de
constitucionalidade, justamente por conta da ideia central do constitucionalismo
moderno, do controle de constitucionalidade, nós até vimos na parte de controle de
constitucionalidade, que somente há possibilidade de controle de constitucionalidade
quando houver uma constituição rígida, até porque é uma constituição rígida, ou seja,
uma forma diferenciada de ser fazer uma alteração na constituição é que pode gerar
uma supremacia desse texto, senão caso contrário qual seria a consequência? Você
chamar de lei, você chamar de constituição se o procedimento é o mesmo, a
legitimidade é a mesma, então não há como se falar em controle de
constitucionalidade.
Então se não há possibilidade de controle também não há que se falar em
supremacia da constituição, e consequentemente isso afeta até a própria força
normativa da constituição, ou seja, nós voltaríamos aquela discussão entre Lassale e
Hesse. O Lassale defendendo que se há um choque entre a constituição papel e a
constituição viva, que é expressão fatorial de poder, deve prevalecer a constituição
viva sobre a constituição papel, ou seja, e ele não reconhece a ideia da força
normativa da constituição.
E ai o que o STF entendeu? Essa ai é até a posição mais antiga do STF
no sentido de que não há possibilidade de se estabelecer como força constitucional
esse tratado porque tratado internacional mesmo sendo de direitos humanos ele é
aprovado por maioria simples, de tal forma que pelo menos em tese com pouco mais
de ¼ dos deputados e senadores você conseguiria aprovar um tratado internacional
mesmo sendo sobre direitos humanos. Vamos colocar como exemplo aqui o senado
federal, o senado federal ele é composto por 81 senadores, se dos 81 senadores, 41
estiverem presentes na sessão pode começar. Se dos 41 presentes, 21 votarem a favor
93 TURMA MPF
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a matéria está aprovada de tal forma que será que com pouco mais de ¼ do congresso
nacional há possibilidade você alterar o texto constitucional ou ainda estabelecer algo
para a constituição, ou algo com força constitucional?
Então por conta disso o STF nunca veio a aceitar essa teoria do bloco de
constitucionalidade, e por causa disso o nosso constituinte derivado isso já tem
praticamente 9 anos, foi em 2004 o constituinte derivado ele fez , ele promulgou a
emenda constitucional 45 chamada de reforma do poder judiciário que estabeleceu
um §3º para o art. 5º.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
vedado o anonimato;
94 TURMA MPF
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V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além da indenização por dano material, moral
ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
95 TURMA MPF
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XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal;
(Vide Lei nº 9.296, de 1996)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
lei estabelecer;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional;
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei,
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião
96 TURMA MPF
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anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de
cooperativas independem de autorização, sendo vedada
a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização
97 TURMA MPF
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em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade
competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
houver dano;
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em
lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto
de penhora para pagamento de débitos decorrentes de
sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios
de financiar o seu desenvolvimento;
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de
utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento
econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas;
98 TURMA MPF
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XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
industriais privilégio temporário para sua utilização,
bem como proteção às criações industriais, à
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a
outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do
País;
XXX - é garantido o direito de herança;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no
País será regulada pela lei brasileira em benefício do
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes
seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus";
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor;
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado; (Regulamento)
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente
do pagamento de taxas:
99 TURMA MPF
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a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para
defesa de direitos e esclarecimento de situações de
interesse pessoal;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal;
100 TURMA MPF
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XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação
de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação
do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até
o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e
adotará, entre outras, as seguintes:
101 TURMA MPF
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MATERIAL EXCLUSIVO PARA USO DO GRUPO DE ESTUDO
A VENDA E A DIVULGAÇÃO SÃO PROIBIDAS
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos
distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e
o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade
física e moral;
102 TURMA MPF
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A VENDA E A DIVULGAÇÃO SÃO PROIBIDAS
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que
possam permanecer com seus filhos durante o período
de amamentação;
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o
naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes
da naturalização, ou de comprovado envolvimento em
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por
crime político ou de opinião;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
por meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória;
103 TURMA MPF
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A VENDA E A DIVULGAÇÃO SÃO PROIBIDAS
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em
lei; (Regulamento).
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação
pública, se esta não for intentada no prazo legal;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos
responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
policial;
104 TURMA MPF
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LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel;
LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para
proteger direito líquido e certo, não amparado por
"habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser
impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso
Nacional;
105 TURMA MPF
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A VENDA E A DIVULGAÇÃO SÃO PROIBIDAS
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo
menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;
LXXII - conceder-se-á "habeas-data":
a) para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência;
106 TURMA MPF
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A VENDA E A DIVULGAÇÃO SÃO PROIBIDAS
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro
judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo
fixado na sentença;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres,
na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e
"habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania. (Regulamento)
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios
que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda
107 TURMA MPF
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A VENDA E A DIVULGAÇÃO SÃO PROIBIDAS
Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma
deste parágrafo)
E o que foi o §3º do art. 5º? Fala que os tratados internacionais sobre
direitos humanos aprovados em dois turnos por 3/5 em cada uma das casas terão
força de emenda a constituição, ou seja, se o tratado internacional foi aprovado em
dois turnos, por 3/5 ele vai ter força de emenda, até porque o processo, se é que
vamos falar de processo legislativo aqui, mas o procedimento de aprovação do tratado
vai ser igual ao que é exigido para uma emenda a constituição. Então ele vai ter força
de emenda.
E ai o STF teve oportunidade de revisitar esse tema e qual foi o
posicionamento do STF? Há dois julgados que foram bem interessantes sobre o tema,
que foram o recurso extraordinário 466343 da relatoria do ministro Cezar Peluso, e o
HC 87585 este da relatoria do ministro Marco Aurélio.
EMENTA: PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel.
Alienação fiduciária. Decretação da medida coercitiva.
Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência da previsão
constitucional e das normas subalternas. Interpretação
do art. 5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art.
7º, § 7, da Convenção Americana de Direitos Humanos
(Pacto de San José da Costa Rica). Recurso improvido.
Julgamento conjunto do RE nº 349.703 e dos HCs nº
87.585 e nº 92.566. É ilícita a prisão civil de depositário
infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
108 TURMA MPF
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EMENTA:DEPOSITÁRIO INFIEL - PRISÃO. A subscrição
pelo Brasil do Pacto de São José da Costa Rica, limitando
a prisão civil por dívida ao descumprimento inescusável
de prestação alimentícia, implicou a derrogação das
normas estritamente legais referentes à prisão do
depositário infiel.
Há até um voto bem interessante em especial no RE 466343 que foi o voto
do ministro Gilmar Mendes que acabou sendo acolhido pelos demais ou pelo menos
por maioria, foi acolhido pelos demais ministros, e o que o STF assentou?
O STF ele assentou que os tratados internacionais sobre direitos humanos
que não forem aprovados em dois turnos, por 3/5 em cada uma das casas terão força
supralegal. Então o que STF adotou? Vamos imaginar que essa aqui seja a pirâmide de
Kelsen, aqui estaria a constituição, alguns utilizam na base, outros no topo, vamos
raciocinar aqui como sendo o topo, aqui estariam as leis, aqui atos secundários,
decretos, aqui atos terciários, vamos imaginar instruções normativas, resoluções.
O que STF, qual foi a ideia do ministro Gilmar? Ele falou o seguinte: Os
direitos fundamentais, os direitos humanos eles são tão importantes que eles não
podem ter a mesma força da lei, de outro lado eles também não podem ter força
constitucional porque retira justamente aquela ideia de supremacia da constituição,
retira aquela ideia de rigidez constitucional. Então o que ele fez? Ele criou um novo
estamento que são os tratados internacionais sobre direitos humanos aprovados de
forma diversa do §3º do art. 5º.
109 TURMA MPF
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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além da indenização por dano material, moral
ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias;
110 TURMA MPF
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VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
111 TURMA MPF
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nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal;
(Vide Lei nº 9.296, de 1996)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
lei estabelecer;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional;
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei,
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de
cooperativas independem de autorização, sendo vedada
a interferência estatal em seu funcionamento;
112 TURMA MPF
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XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização
em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade
competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
houver dano;
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em
lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto
113 TURMA MPF
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de penhora para pagamento de débitos decorrentes de
sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios
de financiar o seu desenvolvimento;
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de
utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento
econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
industriais privilégio temporário para sua utilização,
bem como proteção às criações industriais, à
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a
outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do
País;
XXX - é garantido o direito de herança;
114 TURMA MPF
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XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no
País será regulada pela lei brasileira em benefício do
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes
seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus";
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor;
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado; (Regulamento)
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente
do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para
defesa de direitos e esclarecimento de situações de
interesse pessoal;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito;
115 TURMA MPF
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XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei;
116 TURMA MPF
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XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação
de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação
do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até
o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e
adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
117 TURMA MPF
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XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos
distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e
o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade
física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que
possam permanecer com seus filhos durante o período
de amamentação;
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o
naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes
da naturalização, ou de comprovado envolvimento em
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei;
118 TURMA MPF
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LII - não será concedida extradição de estrangeiro por
crime político ou de opinião;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
por meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória;
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em
lei; (Regulamento).
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação
pública, se esta não for intentada no prazo legal;
119 TURMA MPF
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LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos
responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança;
120 TURMA MPF
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LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel;
LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para
proteger direito líquido e certo, não amparado por
"habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser
impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso
Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo
menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;
121 TURMA MPF
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LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;
LXXII - conceder-se-á "habeas-data":
a) para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência;
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;
122 TURMA MPF
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LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro
judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo
fixado na sentença;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres,
na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e
"habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania. (Regulamento)
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios
que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma
deste parágrafo)
123 TURMA MPF
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Tanto que se forem aprovados da mesma forma do art. 5º vão ter força de
emenda, isso ai já está expresso no §3º do art. 5º da CF/88, se não forem vão ter força
supralegal foi até a questão do Pacto de São José da Costa Rica, a questão da proibição
da prisão do depositário infiel. Isso se verificou tanto no HC 87585, como também
nesse recurso extraordinário 466343. Então vamos ter que os tratados internacionais
se eles forem aprovados por 3/5 e dois turnos vão ter força constitucional, senão vão
ter força supralegal. Então criou-se aqui uma noção de bloco de convencionalidade, ou
ainda para alguns um bloco de constitucionalidade mitigado, porque só vai ter estar
dentro do bloco de constitucionalidade aqueles tratados internacionais que forem
aprovados em dois turnos, em 3/5 em cada uma das casas, os demais vão estar dentro
do denominado bloco de convencionalidade e ai gera até a possibilidade segundo o
ministro Gilmar de um controle de convencionalidade, verificar se a lei não está
ferindo um eventual tratado internacional.
É até uma discussão interessante que se tem hoje é saber qual a medida
cabível, vamos imaginar que um tribunal regional federal ou um tribunal de justiça
venha a ferir um tratado internacional, fundamentando em uma lei, seria cabível claro
um tratado internacional sobre direitos humanos, seria cabível recurso especial ou o
recurso extraordinário? A maior parte da doutrina defende que hoje vai ser o recurso
extraordinário se esse tratado internacional sobre direitos humanos for aprovado em
dois turnos, 3/5 em cada uma das casas, e ai vai ter força constitucional.
Senão vai ser o STJ vai ser por meio de recurso especial, até porque o art.
105 III a CF/88 fala expressamente compete ao STJ julgar em recurso especial as causas
decididas em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida.
124 TURMA MPF
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Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em
única ou última instância, pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes
vigência;
Então ele fala do tratado internacional de tal sorte que essa questão é uma
questão infraconstitucional por mais que esteja acima da lei.
Temos que ver agora a questão dos direitos fundamentais em espécie. Essa
segunda parte, na segunda parte vamos começar justamente pelos direitos e garantias
individuais. Então basicamente a análise do art. 5º CF/88.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei;
125 TURMA MPF
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III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além da indenização por dano material, moral
ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença;
126 TURMA MPF
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X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal;
(Vide Lei nº 9.296, de 1996)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
lei estabelecer;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional;
127 TURMA MPF
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XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei,
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de
cooperativas independem de autorização, sendo vedada
a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;
128 TURMA MPF
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XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização
em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade
competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
houver dano;
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em
lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto
de penhora para pagamento de débitos decorrentes de
sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios
de financiar o seu desenvolvimento;
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de
utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
129 TURMA MPF
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A VENDA E A DIVULGAÇÃO SÃO PROIBIDAS
a) a proteção às participações individuais em obras
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento
econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
industriais privilégio temporário para sua utilização,
bem como proteção às criações industriais, à
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a
outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do
País;
XXX - é garantido o direito de herança;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no
País será regulada pela lei brasileira em benefício do
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes
seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus";
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor;
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse
130 TURMA MPF
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A VENDA E A DIVULGAÇÃO SÃO PROIBIDAS
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado; (Regulamento)
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente
do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para
defesa de direitos e esclarecimento de situações de
interesse pessoal;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
131 TURMA MPF
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c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação
de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;
132 TURMA MPF
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XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação
do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até
o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e
adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
133 TURMA MPF
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XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos
distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e
o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade
física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que
possam permanecer com seus filhos durante o período
de amamentação;
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o
naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes
da naturalização, ou de comprovado envolvimento em
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por
crime político ou de opinião;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
134 TURMA MPF
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o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
por meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória;
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em
lei; (Regulamento).
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação
pública, se esta não for intentada no prazo legal;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada;
135 TURMA MPF
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LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos
responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel;
LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para
proteger direito líquido e certo, não amparado por
"habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
136 TURMA MPF
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autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser
impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso
Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo
menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;
LXXII - conceder-se-á "habeas-data":
a) para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
137 TURMA MPF
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LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência;
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro
judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo
fixado na sentença;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres,
na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e
"habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania. (Regulamento)
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios
138 TURMA MPF
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que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta
Constituição não excluem outros decorrentes do regime
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma
deste parágrafo)
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
O primeiro direito que vamos tratar é o direito a vida, que é um direito de
1ª dimensão, de 1ª geração e ai temos que ver em primeiro lugar quando começa esse
139 TURMA MPF
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direito a vida, isso o STF veio a julgar na ação direta de inconstitucionalidade 3510 foi o
caso da pesquisa com células tronco embrionária.
CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DE BIOSSEGURANÇA.
IMPUGNAÇÃO EM BLOCO DO ART. 5º DA LEI Nº 11.105,
DE 24 DE MARÇO DE 2005 (LEI DE BIOSSEGURANÇA).
PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO DIREITO À VIDA.
CONSITUCIONALIDADE DO USO DE CÉLULAS-TRONCO
EMBRIONÁRIAS EM PESQUISAS CIENTÍFICAS PARA FINS
TERAPÊUTICOS. DESCARACTERIZAÇÃO DO ABORTO.
NORMAS CONSTITUCIONAIS CONFORMADORAS DO
DIREITO FUNDAMENTAL A UMA VIDA DIGNA, QUE
PASSA PELO DIREITO À SAÚDE E AO PLANEJAMENTO
FAMILIAR. DESCABIMENTO DE UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA
DE INTERPRETAÇÃO CONFORME PARA ADITAR À LEI DE
BIOSSEGURANÇA CONTROLES DESNECESSÁRIOS QUE
IMPLICAM RESTRIÇÕES ÀS PESQUISAS E TERAPIAS POR
ELA VISADAS. IMPROCEDÊNCIA TOTAL DA AÇÃO. I - O
CONHECIMENTO CIENTÍFICO, A CONCEITUAÇÃO
JURÍDICA DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS E SEUS
REFLEXOS NO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DA
LEI DE BIOSSEGURANÇA. As "células-tronco
embrionárias" são células contidas num agrupamento
de outras, encontradiças em cada embrião humano de
até 14 dias (outros cientistas reduzem esse tempo para a
140 TURMA MPF
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fase de blastocisto, ocorrente em torno de 5 dias depois
da fecundação de um óvulo feminino por um
espermatozóide masculino). Embriões a que se chega
por efeito de manipulação humana em ambiente
extracorpóreo, porquanto produzidos laboratorialmente
ou "in vitro", e não espontaneamente ou "in vida". Não
cabe ao Supremo Tribunal Federal decidir sobre qual das
duas formas de pesquisa básica é a mais promissora: a
pesquisa com células-tronco adultas e aquela incidente
sobre células-tronco embrionárias. A certeza científico-
tecnológica está em que um tipo de pesquisa não
invalida o outro, pois ambos são mutuamente
complementares. II - LEGITIMIDADE DAS PESQUISAS
COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS PARA FINS
TERAPÊUTICOS E O CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL.
A pesquisa científica com células-tronco embrionárias,
autorizada pela Lei n° 11.105/2005, objetiva o
enfrentamento e cura de patologias e traumatismos que
severamente limitam, atormentam, infelicitam,
desesperam e não raras vezes degradam a vida de
expressivo contingente populacional (ilustrativamente,
atrofias espinhais progressivas, distrofias musculares, a
esclerose múltipla e a lateral amiotrófica, as neuropatias
e as doenças do neurônio motor). A escolha feita pela
Lei de Biossegurança não significou um desprezo ou
desapreço pelo embrião "in vitro", porém u'a mais firme
141 TURMA MPF
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disposição para encurtar caminhos que possam levar à
superação do infortúnio alheio. Isto no âmbito de um
ordenamento constitucional que desde o seu preâmbulo
qualifica "a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça" como valores
supremos de uma sociedade mais que tudo "fraterna".
O que já significa incorporar o advento do
constitucionalismo fraternal às relações humanas, a
traduzir verdadeira comunhão de vida ou vida social em
clima de transbordante solidariedade em benefício da
saúde e contra eventuais tramas do acaso e até dos
golpes da própria natureza. Contexto de solidária,
compassiva ou fraternal legalidade que, longe de
traduzir desprezo ou desrespeito aos congelados
embriões "in vitro", significa apreço e reverência a
criaturas humanas que sofrem e se desesperam.
Inexistência de ofensas ao direito à vida e da dignidade
da pessoa humana, pois a pesquisa com células-tronco
embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins a
que se destinam) significa a celebração solidária da vida
e alento aos que se acham à margem do exercício
concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver
com dignidade (Ministro Celso de Mello). III - A
PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO DIREITO À VIDA E OS
DIREITOS INFRACONSTITUCIONAIS DO EMBRIÃO PRÉ-
IMPLANTO. O Magno Texto Federal não dispõe sobre o
142 TURMA MPF
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início da vida humana ou o preciso instante em que ela
começa. Não faz de todo e qualquer estádio da vida
humana um autonomizado bem jurídico, mas da vida
que já é própria de uma concreta pessoa, porque
nativiva (teoria "natalista", em contraposição às teorias
"concepcionista" ou da "personalidade condicional"). E
quando se reporta a "direitos da pessoa humana" e até
dos "direitos e garantias individuais" como cláusula
pétrea está falando de direitos e garantias do indivíduo-
pessoa, que se faz destinatário dos direitos
fundamentais "à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade", entre outros direitos e
garantias igualmente distinguidos com o timbre da
fundamentalidade (como direito à saúde e ao
planejamento familiar). Mutismo constitucional
hermeneuticamente significante de transpasse de poder
normativo para a legislação ordinária. A potencialidade
de algo para se tornar pessoa humana já é meritória o
bastante para acobertá-la, infraconstitucionalmente,
contra tentativas levianas ou frívolas de obstar sua
natural continuidade fisiológica. Mas as três realidades
não se confundem: o embrião é o embrião, o feto é o
feto e a pessoa humana é a pessoa humana. Donde não
existir pessoa humana embrionária, mas embrião de
pessoa humana. O embrião referido na Lei de
Biossegurança ("in vitro" apenas) não é uma vida a
143 TURMA MPF
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caminho de outra vida virginalmente nova, porquanto
lhe faltam possibilidades de ganhar as primeiras
terminações nervosas, sem as quais o ser humano não
tem factibilidade como projeto de vida autônoma e
irrepetível. O Direito infraconstitucional protege por
modo variado cada etapa do desenvolvimento biológico
do ser humano. Os momentos da vida humana
anteriores ao nascimento devem ser objeto de proteção
pelo direito comum. O embrião pré-implanto é um bem
a ser protegido, mas não uma pessoa no sentido
biográfico a que se refere a Constituição. IV - AS
PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO NÃO
CARACTERIZAM ABORTO. MATÉRIA ESTRANHA À
PRESENTE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. É
constitucional a proposição de que toda gestação
humana principia com um embrião igualmente humano,
claro, mas nem todo embrião humano desencadeia uma
gestação igualmente humana, em se tratando de
experimento "in vitro". Situação em que deixam de
coincidir concepção e nascituro, pelo menos enquanto o
ovócito (óvulo já fecundado) não for introduzido no colo
do útero feminino. O modo de irromper em laboratório
e permanecer confinado "in vitro" é, para o embrião,
insuscetível de progressão reprodutiva. Isto sem
prejuízo do reconhecimento de que o zigoto assim extra-
corporalmente produzido e também extra-
144 TURMA MPF
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corporalmente cultivado e armazenado é entidade
embrionária do ser humano. Não, porém, ser humano
em estado de embrião. A Lei de Biossegurança não
veicula autorização para extirpar do corpo feminino esse
ou aquele embrião. Eliminar ou desentranhar esse ou
aquele zigoto a caminho do endométrio, ou nele já
fixado. Não se cuida de interromper gravidez humana,
pois dela aqui não se pode cogitar. A "controvérsia
constitucional em exame não guarda qualquer
vinculação com o problema do aborto." (Ministro Celso
de Mello). V - OS DIREITOS FUNDAMENTAIS À
AUTONOMIA DA VONTADE, AO PLANEJAMENTO
FAMILIAR E À MATERNIDADE. A decisão por uma
descendência ou filiação exprime um tipo de autonomia
de vontade individual que a própria Constituição rotula
como "direito ao planejamento familiar", fundamentado
este nos princípios igualmente constitucionais da
"dignidade da pessoa humana" e da "paternidade
responsável". A conjugação constitucional da laicidade
do Estado e do primado da autonomia da vontade
privada, nas palavras do Ministro Joaquim Barbosa. A
opção do casal por um processo "in vitro" de fecundação
artificial de óvulos é implícito direito de idêntica matriz
constitucional, sem acarretar para esse casal o dever
jurídico do aproveitamento reprodutivo de todos os
embriões eventualmente formados e que se revelem
145 TURMA MPF
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geneticamente viáveis. O princípio fundamental da
dignidade da pessoa humana opera por modo binário, o
que propicia a base constitucional para um casal de
adultos recorrer a técnicas de reprodução assistida que
incluam a fertilização artificial ou "in vitro". De uma
parte, para aquinhoar o casal com o direito público
subjetivo à "liberdade" (preâmbulo da Constituição e
seu art. 5º), aqui entendida como autonomia de
vontade. De outra banda, para contemplar os
porvindouros componentes da unidade familiar, se por
eles optar o casal, com planejadas condições de bem-
estar e assistência físico-afetiva (art. 226 da CF). Mais
exatamente, planejamento familiar que, "fruto da livre
decisão do casal", é "fundado nos princípios da
dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável" (§ 7º desse emblemático artigo
constitucional de nº 226). O recurso a processos de
fertilização artificial não implica o dever da tentativa de
nidação no corpo da mulher de todos os óvulos afinal
fecundados. Não existe tal dever (inciso II do art. 5º da
CF), porque incompatível com o próprio instituto do
"planejamento familiar" na citada perspectiva da
"paternidade responsável". Imposição, além do mais,
que implicaria tratar o gênero feminino por modo
desumano ou degradante, em contrapasso ao direito
fundamental que se lê no inciso II do art. 5º da
146 TURMA MPF
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Constituição. Para que ao embrião "in vitro" fosse
reconhecido o pleno direito à vida, necessário seria
reconhecer a ele o direito a um útero. Proposição não
autorizada pela Constituição. VI - DIREITO À SAÚDE
COMO COROLÁRIO DO DIREITO FUNDAMENTAL À VIDA
DIGNA. O § 4º do art. 199 da Constituição, versante
sobre pesquisas com substâncias humanas para fins
terapêuticos, faz parte da seção normativa dedicada à
"SAÚDE" (Seção II do Capítulo II do Título VIII). Direito à
saúde, positivado como um dos primeiros dos direitos
sociais de natureza fundamental (art. 6º da CF) e
também como o primeiro dos direitos constitutivos da
seguridade social (cabeça do artigo constitucional de nº
194). Saúde que é "direito de todos e dever do Estado"
(caput do art. 196 da Constituição), garantida mediante
ações e serviços de pronto qualificados como "de
relevância pública" (parte inicial do art. 197). A Lei de
Biossegurança como instrumento de encontro do direito
à saúde com a própria Ciência. No caso, ciências
médicas, biológicas e correlatas, diretamente postas
pela Constituição a serviço desse bem inestimável do
indivíduo que é a sua própria higidez físico-mental. VII -
O DIREITO CONSTITUCIONAL À LIBERDADE DE
EXPRESSÃO CIENTÍFICA E A LEI DE BIOSSEGURANÇA
COMO DENSIFICAÇÃO DESSA LIBERDADE. O termo
"ciência", enquanto atividade individual, faz parte do
147 TURMA MPF
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catálogo dos direitos fundamentais da pessoa humana
(inciso IX do art. 5º da CF). Liberdade de expressão que
se afigura como clássico direito constitucional-civil ou
genuíno direito de personalidade. Por isso que exigente
do máximo de proteção jurídica, até como signo de vida
coletiva civilizada. Tão qualificadora do indivíduo e da
sociedade é essa vocação para os misteres da Ciência
que o Magno Texto Federal abre todo um autonomizado
capítulo para prestigiá-la por modo superlativo (capítulo
de nº IV do título VIII). A regra de que "O Estado
promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a
pesquisa e a capacitação tecnológicas" (art. 218, caput)
é de logo complementada com o preceito (§ 1º do
mesmo art. 218) que autoriza a edição de normas como
a constante do art. 5º da Lei de Biossegurança. A
compatibilização da liberdade de expressão científica
com os deveres estatais de propulsão das ciências que
sirvam à melhoria das condições de vida para todos os
indivíduos. Assegurada, sempre, a dignidade da pessoa
humana, a Constituição Federal dota o bloco normativo
posto no art. 5º da Lei 11.105/2005 do necessário
fundamento para dele afastar qualquer invalidade
jurídica (Ministra Cármen Lúcia). VIII - SUFICIÊNCIA DAS
CAUTELAS E RESTRIÇÕES IMPOSTAS PELA LEI DE
BIOSSEGURANÇA NA CONDUÇÃO DAS PESQUISAS COM
CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS. A Lei de
148 TURMA MPF
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Biossegurança caracteriza-se como regração legal a salvo
da mácula do açodamento, da insuficiência protetiva ou
do vício da arbitrariedade em matéria tão religiosa,
filosófica e eticamente sensível como a da biotecnologia
na área da medicina e da genética humana. Trata-se de
um conjunto normativo que parte do pressuposto da
intrínseca dignidade de toda forma de vida humana, ou
que tenha potencialidade para tanto. A Lei de
Biossegurança não conceitua as categorias mentais ou
entidades biomédicas a que se refere, mas nem por isso
impede a facilitada exegese dos seus textos, pois é de se
presumir que recepcionou tais categorias e as que lhe
são correlatas com o significado que elas portam no
âmbito das ciências médicas e biológicas. IX -
IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. Afasta-se o uso da técnica
de "interpretação conforme" para a feitura de sentença
de caráter aditivo que tencione conferir à Lei de
Biossegurança exuberância regratória, ou restrições
tendentes a inviabilizar as pesquisas com células-tronco
embrionárias. Inexistência dos pressupostos para a
aplicação da técnica da "interpretação conforme a
Constituição", porquanto a norma impugnada não
padece de polissemia ou de plurissignificatidade. Ação
direta de inconstitucionalidade julgada totalmente
improcedente.
149 TURMA MPF
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Na época por 6 a 5 o STF acabou por entender que o direito a vida ele vai
começar da nidação e não da concepção. É claro que houve quem defendesse a
pesquisa com célula tronco embrionária, mas dizendo que haveria por uma espécie de
ponderação de valores, ou seja, que poderia o STF limitar algumas hipóteses a essa
pesquisa com células tronco embrionárias, foi o voto do ministro Peluso, e voto do
ministro Gilmar Mendes nesse sentido.
Houve até quem defendesse que não poderia ter pesquisa a não ser que se
mantivesse aquele embrião, foi até o caso do voto do ministro Menezes Direito, e a
maior parte do STF capitaneado pelo ministro Carlos Ayres Brito assentou que o direito
a vida vai começar da nidação, ou seja, do momento em que o embrião é colocado no
útero da mulher de tal forma que antes disso existe vida? Sim, existe vida, mas essa
vida não interessa ao direito, ou seja, por mais que haja a vida, não há o direito a essa
vida, então nós vamos ter isso daí como sendo o momento em que nasce o direito a
vida.
E posteriormente o STF já no ano passado julgou um outro caso que
envolveu direito a vida que foi a questão relativa a aborto de feto anencéfalo e o que
STF assentou? Que não basta para se ter efetivamente o direito a vida, não basta o
direito a vida em si, mas sim ao direito a uma vida viável, aqui foi muito mais com uma
ideia de ponderação, ou seja, ele colocou ali você vai ter uma insegurança psicológica
da mãe, a mãe sabendo que aquele filho vai nascer e morrer em pouco tempo, que
aquela vida não é uma vida viável e de outro lado você vai ter o direito a vida daquele
feto, e prevaleceu o direito da mãe em fazer o aborto quando o feto for anencéfalo, foi
até essa ADPF 54 da relatoria do ministro Marco Aurélio.
ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica,
surgindo absolutamente neutro quanto às religiões.
150 TURMA MPF
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Considerações. FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA
GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL E
REPRODUTIVA – SAÚDE – DIGNIDADE –
AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS –
CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-se inconstitucional
interpretação de a interrupção da gravidez de feto
anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e
128, incisos I e II, do Código Penal.
Além disso, temos que ver também um possível choque entre o direito a
vida e a liberdade religiosa, nós temos algumas religiões, pelo menos uma, testemunha
de Jeová que não aceita receber transfusão de sangue. E ai como fica essa questão da
liberdade religiosa versus o direito a vida.
O que STF entende ai ele já colocou para duas hipóteses claras, quais
sejam, quando envolver menor ou quando o paciente não tiver condições de exprimir
sua vontade, estiver em coma, estiver inconsciente, aqui vai prevalecer
necessariamente o direito a vida. Não há ainda uma solução clara quando o paciente
está consciente e não quer receber aquela transfusão de sangue, não quer garantir o
seu direito a vida, porque o direito a vida ele é indisponível, entretanto tem que ver
essa limitação, a questão da garantia do núcleo.
Também há uma outra questão uma relação entre a eutanásia e
ortotanásia. Obviamente a eutanásia ele é proibida no Brasil, e o que vem a ser a
eutanásia? É alguém abreviar a vida de outrem até por um sentimento de piedade, um
sentimento em que vai aliviar a dor da pessoa, mas está ocasionando um homicídio, ou
seja, tem uma função ativa, isso é eutanásia.
151 TURMA MPF
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É diferente da eventual ortotanásia, que o conselho federal de medicina
admite, e o que seria a ortotanásia? Você não prolongar a vida artificialmente de
alguém, e ai muita gente até defende fundamenta essa ortotanásia ou a possibilidade
da ortotanásia com base na dignidade, a possibilidade de a pessoa morrer com
dignidade, isso porque a pessoa e só se dá a possibilidade da ortotanásia segundo o
conselho federal de medicina quando a medicina não tiver solução para aquele caso,
então a medicina não tem solução para aquele caso, uma doença terminal e essa
pessoa resolve sair e morrer junto com sua família, ao invés de morrer em um quarto
frio de uma UTI. A ideia então é que haja essa possibilidade alguns até citam o caso do
Mário Covas em que aconteceu isso, outros citam papa João Paulo II em que a
medicina não tinha mais solução e possibilitou que ele viesse a falecer juntamente com
seus familiares.
Um outro direito que vamos ter é o direito a igualdade. E o que vem a ser a
igualdade? Nós podemos ter duas visões acerca de igualdade, uma é igualdade formal,
a outra é igualdade material. E qual a distinção entre igualdade formal e igualdade
material?
Obviamente de um modo geral já temos aquela resposta já pronta,
igualdade formal é igualdade perante a lei, a igualdade material é igualdade na lei. Sim
e quando que acontece uma e quando que acontece outra? Nós podemos ver o
seguinte: Na igualdade formal há uma análise apenas daquele caso, daquela questão,
nós podemos ter só a titulo exemplificativo vamos imaginar um consumidor, um
consumidor que seja bem abastado, então vamos imaginar o dono da AMBEV, vamos
imaginar que ele vá comprar pão na padaria e ao comprar pão na padaria ele vai se
utilizar do direito do consumidor.
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Quem vai ser o hipossuficiente na relação? Talvez a pessoa mais rica do
Brasil ou uma das mais ou aquele dono da padaria, aquele fornecedor da padaria? O
hipossuficiente aqui vai ser o consumidor, até porque é nessa relação e o que vai
interessar é a relação quem vai ter mais condições, por exemplo, no exemplo que eu
dei aqui, de dizer que o pão é bom, é a padaria ou é o consumidor? É claro que vai ser
a padaria e pouco importa quem seja o consumidor, ou seja, em uma igualdade formal
e muitas vezes a relação é necessário que haja uma igualdade formal, em uma
igualdade formal só vai se olhar a relação jurídica que está sendo colocada , não vai
levar em conta tudo que circunda essa relação jurídica, ou seja, aqui é consumidor
versus fornecedor pouco importa quem seja o consumidor, pouco importa quem seja o
fornecedor.
Aqui o caso é que é levado em conta, e pode ter tratamento diferenciado
dentro dessa igualdade formal? Pode, se a pessoa estiver em situações distintas,
obviamente nós temos ai, quando eu falei em direito do consumidor, há uma inversão
do ônus da prova quando tiver no direito do consumidor, dentre outros que fazem
com que haja um tratamento desigual porque as pessoas estão em situações desiguais.
Além disso, nós podemos ter uma igualdade que é denominada igualdade
material, ou seja, uma igualdade em que não há possibilidade de se levar em conta
somente aquele caso, mas sim ter que se levar em conta tudo que circunda aquele
caso, ou seja, tudo aquilo que vai além daquela hipótese e ai posso citar o caso até que
está na constituição de aposentadoria para mulheres.
Se vocês forem ver quem vive mais, o homem ou a mulher? A mulher pelos
estudos vive cerca de 7 anos a mais que o homem, aproximadamente, a média. Só que
aqui no Brasil a mulher se aposenta cinco anos mais cedo que o homem. Se fossemos
analisar friamente apenas pela lógica da previdência social, qual a lógica da
153 TURMA MPF
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previdência? Quem contribui mais deve receber mais, ou seja, a nossa previdência é
contributiva de tal forma que quem vive mais em tese vai receber mais tempo então
teria que se aposentar um pouco mais tarde ou pelo menos igual, colocando ai a média
das pessoas.
Mas a mulher se aposenta mais cedo. Tem uma lógica para isso? Tem mas
essa lógica não é previdenciária, se vocês forem pegar a exposição de motivos da
emenda constitucional 41 ele fala que até hoje e isso é fato dentro da nossa
distribuição doméstica de afazeres, a mulher ainda hoje tem um papel preponderante,
a mulher ainda faz mais que o homem, pelo menos em média, ou seja, os homens hoje
em tese tem uma motivação constitucional para não fazer muita coisa me casa que a
esposa não ouça isso, manifestação do poder constituinte originário, mas de qualquer
jeito o que vamos ter?
Nós temos a noção de que a mulher ela se aposenta mais cedo por algo
que não é exatamente relação previdenciária, é uma outra coisa, é uma outra
circunstância, porque ela tem mais afazeres em casa. Daí nós temos que acaba sendo
uma igualdade material, essa ideia é de fazer uma igualdade na lei, ou seja, como o
homem tem o seu trabalho, mas ele ajuda menos em casa do que a mulher que hoje
também tem o seu trabalho, isso justifica a mulher se aposentar um pouco mais cedo,
receber isso como uma espécie até de compensação.
Então isso é uma igualdade material é claro que muitas vezes nós temos
uma relação de igualdade material com ações afirmativas, não deixa de ser, as ações
afirmativas também tem como fundamento a igualdade material. O que são as ações
afirmativas? Tratar de forma desigual duas pessoas que estejam na mesma situação a
fim de privilegiar uma igualdade material que muitas vezes até seja futura.
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Nós temos aqui só a titulo exemplificativo o julgamento da ADPF 186 da
relatoria do ministro Ricardo Lewandowisk, e também foi no ano passado, foi a
questão do sistema de cotas da UNB e foi unanimidade, na época dos 11 ministros , o
ministro Dias Toffoli estava impedido porque ele havia se manifestado na condição de
advogado geral da União, mas os 10 ministros reconheceram a validade do sistema de
cotas, e justamente porque, qual foi o fundamento principal ?A desigualdade que há
hoje entre negros e brancos, de tal sorte que você possibilitar que 20% das vagas, na
época o sistema de cotas na UNB 20 %, 20% das vagas fosse destinada aos negros isso
não feriria a constituição, ao contrário é uma medida ativa, ou seja, acaba sendo uma
espécie de medida para privilegiar uma igualdade porque como hoje eles não têm
acesso a universidade então a partir desse sistema de cotas eles tem acesso a
universidade e com isso tem a possibilidade de ascenderem socialmente e ter uma
vida igual, ou seja, chegar a uma ideia igualitária.
DECISÃO: Trata-se de arguição de descumprimento de
preceito fundamental, proposta pelo partido político
DEMOCRATAS (DEM), contra atos administrativos da
Universidade de Brasília que instituíram o programa de
cotas raciais para ingresso naquela universidade.
Alega-se ofensa aos artigos 1º, caput e inciso III; 3º,
inciso IV; 4º, inciso VIII; 5º, incisos I, II, XXXIII, XLII, LIV;
37, caput; 205; 207, caput; e 208, inciso V, da
Constituição de 1988.
A peça inicial defende, em síntese, que “(...) na presente
hipótese, sucessivos atos estatais oriundos da
Universidade de Brasília atingiram preceitos
fundamentais diversos, na medida em que estipularam a
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criação da reserva de vagas de 20% para negros no
acesso às vagas universais e instituíram verdadeiro
‘Tribunal Racial’, composto por pessoas não-
identificadas e por meio do qual os direitos dos
indivíduos ficariam, sorrateiramente, à mercê da
discricionariedade dos componentes, (...)”(fl. 9).
O autor esclarece, inicialmente, que a presente arguição
não visa a questionar a constitucionalidade de ações
afirmativas como políticas necessárias para a inclusão de
minorias, ou mesmo a adoção do modelo de Estado
Social pelo Brasil e a existência de racismo, preconceito
e discriminação na sociedade brasileira. Acentua, dessa
forma, que a ação impugna, especificamente, a adoção
de políticas afirmativas “racialistas”, nos moldes da
adotada pela UnB, que entende inadequada para as
especificidades brasileiras.
Assim, a petição traz trechos em que se questiona se “a
raça, isoladamente, pode ser considerada no Brasil um
critério válido, legítimo, razoável, constitucional, de
diferenciação entre o exercício de direitos dos cidadãos”
(fl. 28). Defende o partido político, com isso, que o
acesso aos direitos fundamentais no Brasil não é negado
aos negros, mas aos pobres e que o problema
econômico está atrelado à questão racial.
Alega que o sistema de cotas da UnB pode agravar o
preconceito racial, uma vez que institui a consciência
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estatal da raça, promove ofensa arbitrária ao princípio
da igualdade, gera discriminação reversa em relação aos
brancos pobres, além de favorecer a classe média negra
(fl. 29).
Afirma que o item 7 e os subitens do Edital nº 02/2009
do CESPE/UNB violam o princípio da igualdade e da
dignidade humana, na medida em que ressuscitam a
crença de que é possível identificar a que raça pertence
uma pessoa (fl. 29). Assim, indaga a respeito da
constitucionalidade dos critérios utilizados pela
comissão designada pelo CESPE para definir a “raça” do
candidato, afirmando que saber quem é ou não negro
vai muito além do fenótipo.
A petição ressalta, ainda, que a aparência de uma
pessoa diz muito pouco sobre a sua ancestralidade (fl.
30). Refere, com isso, que a “teoria compensatória”, que
visa à reparação do dano causado pela escravidão, não
pode ser aplicada num país miscigenado como o Brasil.
Na inicial, é frisado que, nos últimos 30 anos,
estabeleceu-se um consenso entre os geneticistas
segundo o qual os seres humanos são todos iguais (fl.
37) e que as características fenotípicas representam
apenas 0,035% do genoma humano. Aponta-se, dessa
forma, o perigo da importação de modelos como o de
Ruanda e o dos Estados Unidos da América (fls. 41-43).
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Sustenta-se, ademais, que os dados estatísticos
referentes aos indicadores sociais são manipulados e
que a pobreza no Brasil tem “todas as cores” (fls. 54-58).
Especificamente quanto ao sistema de classificação
racial da UnB, o arguente enfatiza que todos os censos
brasileiros sempre utilizaram o critério da
autoclassificação (fl. 61).
Expõe que, no Brasil, “a existência de valores nacionais,
comuns a todas as raças, parece quebrar o estigma da
classificação racial maniqueísta” (fl. 67).
Conclui, assim, que as cotas raciais instituídas pela UnB
violam o princípio constitucional da proporcionalidade,
por ofensa ao subprincípio da adequação, no que
concerne à utilização da raça como critério diferenciador
de direitos entre indivíduos, uma vez que é a pobreza
que impede o acesso ao ensino superior (fl. 74). Sugere
que um modelo que levasse em conta a renda em vez da
cor da pele seria menos lesivo aos direitos fundamentais
e também atingiria a finalidade pretendida de integrar
os negros(fl. 75).
Quanto ao periculum in mora, afirma o partido político
que o resultado do 2º Vestibular 2009 da Universidade
de Brasília, o qual foi realizado de acordo com o sistema
de acesso por meio de cotas raciais, foi publicado no dia
17 de julho de 2009, e o registro dos estudantes
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aprovados, cotistas e não cotistas, está previsto para os
dias 23 e 24 de julho de 2009 (fl. 76).
O pedido final da arguição de descumprimento de
preceito fundamental está assim formulado:
“(...)seja a ação julgada procedente para o fim de que
esta Egrégia Corte Constitucional declare a
inconstitucionalidade, com eficácia erga omnes, efeitos
ex tunc e vinculantes dos seguintes atos administrativos
e normativos: (i) Ata da Reunião Extraordinária do
Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da
Universidade de Brasília (CEPE), realizada no dia 6 de
junho de 2003; (ii) Resolução nº 38, de 18 de junho de
2003, do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da
Universidade de Brasília (CEPE); (iii) Plano de Metas para
a Integração Social, Étnica e Racial da Universidade de
Brasília – UnB, especificamente os pontos I (“Objetivo”),
II (“Ações para alcançar o objetivo”), l (“Acesso”), alínea
‘a’; II (“Ações para alcançar o objetivo”),II
(“Permanência”), ‘l’, ‘2’ e ‘3, a, b, c’; e III (“Caminhos
para a implementação”), itens 1, 2 e 3. As impugnações
aqui referidas tomam por base o texto literal do Plano
de Metas, apesar da evidente confusão na distribuição
entre itens, alíneas e subitens; e (iv) Item 2, subitens
2.2., 2.2.1, 2.3, item 3, subitem 3.9.8 e item 7 e subitens,
do Edital nº 2, de 20 de abril de 2009, do 2º Vestibular
de 2009 – CESPE/UnB, por ofensa descarada e manifesta
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ao artigo 1º, caput (princípio republicano) e inciso III
(dignidade da pessoa humana); ao artigo 3º, inciso IV
(veda o preconceito de cor e a discriminação); o artigo
4º, inciso III (repúdio ao racismo); o artigo 5º, incisos I
(igualdade), II (legalidade), XXXIII (direito à informação
dos órgãos públicos), XLII (vedação ao racismo) e LIV
(devido processo legal e princípio da proporcionalidade),
o artigo 37, caput (princípios da legalidade, da
impessoalidade, da razoabilidade, da publicidade, da
moralidade, corolários do princípio republicano), além
dos artigos 205 (direito universal de educação), 206,
caput e inciso I (igualdade nas condições de acesso ao
ensino), 207 (autonomia universitária) e 208, inciso V
(princípio do acesso aos níveis mais elevados do ensino,
da pesquisa e da criação artística segundo a capacidade
de cada um), todos da Constituição Federal.” (fl. 79)
Em despacho de 21 de julho de 2009 (fl. 613), requisitei
as informações dos arguidos e as manifestações do
Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da
República (art. 5º, § 2º, da Lei n° 9.882/99).
O Reitor da Universidade de Brasília, o Diretor do Centro
de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília e o
Presidente do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão
da Universidade de Brasília prestaram informações (fls.
628-668), alegando a impossibilidade da propositura de
arguição de descumprimento de preceito fundamental,
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por ser cabível o ajuizamento de ação direta de
inconstitucionalidade (fl. 636). Asseveraram, com base
no princípio da dignidade da pessoa humana, a
constitucionalidade dos atos impugnados (fls. 636-640).
Sustentaram que “não é possível ignorar, face à análise
de abundantes dados estatísticos, que cidadãos
brasileiros de cor negra partem, em sua imensa maioria,
de condições socioeconômicas muito desfavoráveis
comparativamente aos de cor branca” (fl. 643).
Alegaram, ainda, que a Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação Racial, ratificada
pelo Brasil, prevê ações afirmativas como forma de
rechaçar a discriminação racial (fl. 645). Esclarecem,
assim, que o critério utilizado pela Universidade não é o
genético, mas o da análise do fenótipo do candidato (fl.
664). Ressaltam, por fim, que já foram realizados 10
vestibulares utilizando-se o sistema de cotas, não
havendo periculum in mora a justificar a concessão da
medida liminar requerida (fl. 667).
A Procuradoria-Geral da República manifestou-se pela
admissibilidade da ADPF e pelo indeferimento da
medida cautelar postulada, “seja pela ausência de
plausibilidade do direito invocado, em vista da
constitucionalidade das políticas de ação afirmativa
impugnadas, seja pela presença do periculum in mora
inverso” (fl. 709-733).
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Na petição de fls. 735-765, o Advogado-Geral da União
manifestou-se pela denegação da medida cautelar
pleiteada, por ausência dos requisitos necessários à sua
concessão.
Passo a decidir tão-somente o pedido de medida
cautelar. O art. 5º, § 1º, da Lei n° 9.882/99 permite que,
no período de recesso, o pedido de medida cautelar seja
apreciado em decisão monocrática do Presidente do STF
– a quem compete decidir sobre questões urgentes no
período de recesso ou de férias, conforme o art. 13, VIII,
do Regimento Interno do Tribunal –, a qual
posteriormente deverá ser levada ao referendo do
Plenário da Corte.
A presente arguição de descumprimento de preceito
fundamental traz a esta Corte uma das questões
constitucionais mais fascinantes de nosso tempo –
acertadamente cunhado por Bobbio como o “tempo dos
direitos” (BOBBIO, Norberto, L' età dei diritti. Einaudi
editore, Torino, 1990) – e que, desde meados do século
passado, tem sido o centro de infindáveis debates em
muitos países e, no Brasil, atinge atualmente seu auge.
Trata-se do difícil problema quanto à legitimidade
constitucional dos programas de ação afirmativa que
implementam mecanismos de discriminação positiva
para inclusão de minorias e determinados segmentos
sociais.
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O tema causa polêmica, tornando-se objeto de
discussão, e a razão para tanto está no fato de que ele
toca nas mais profundas concepções individuais e
coletivas a respeito dos valores fundamentais da
liberdade e da igualdade.
Liberdade e igualdade constituem os valores sobre os
quais está fundado o Estado constitucional. A história do
constitucionalismo se confunde com a história da
afirmação desses dois fundamentos da ordem jurídica.
Não há como negar, portanto, a simbiose existente
entre liberdade e igualdade e o Estado Democrático de
Direito. Isso é algo que a ninguém soa estranho – pelo
menos em sociedades construídas sobre valores
democráticos – e, neste momento, deixo claro que não
pretendo rememorar ou reexaminar o tema sob esse
prisma.
Não posso deixar de levar em conta, no contexto dessa
temática, as assertivas do Mestre e amigo Professor
Peter Häberle, o qual muito bem constatou que, na
dogmática constitucional, muito já se tratou e muito já
se falou sobre liberdade e igualdade, mas pouca coisa se
encontra sobre o terceiro valor fundamental da
Revolução Francesa de 1789: a fraternidade (HÄBERLE,
Peter. Libertad, igualdad, fraternidad. 1789 como
historia, actualidad y futuro del Estado constitucional.
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Madrid: Trotta; 1998). E é dessa perspectiva que parto
para as análises que faço a seguir.
No limiar deste século XXI, liberdade e igualdade devem
ser (re)pensadas segundo o valor fundamental da
fraternidade. Com isso quero dizer que a fraternidade
pode constituir a chave por meio da qual podemos abrir
várias portas para a solução dos principais problemas
hoje vividos pela humanidade em tema de liberdade e
igualdade.
Vivemos, atualmente, as consequências dos
acontecimentos do dia 11 de setembro de 2001 e
sabemos muito bem o que significam os
fundamentalismos de todo tipo para os pilares da
liberdade e igualdade. Fazemos parte de sociedades
multiculturais e complexas e tentamos ainda
compreender a real dimensão das manifestações
racistas, segregacionistas e nacionalistas, que
representam graves ameaças à liberdade e à igualdade.
Nesse contexto, a tolerância nas sociedades
multiculturais é o cerne das questões a que este século
nos convidou a enfrentar em tema de liberdade e
igualdade.
Pensar a igualdade segundo o valor da fraternidade
significa ter em mente as diferenças e as
particularidades humanas em todos os seus aspectos. A
tolerância em tema de igualdade, nesse sentido, impõe
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a igual consideração do outro em suas peculiaridadese
idiossincrasias. Numa sociedade marcada pelo
pluralismo, a igualdade só pode ser igualdade com igual
respeito às diferenças. Enfim, no Estado democrático, a
conjugação dos valores da igualdade e da fraternidade
expressa uma normatividade constitucional no sentido
de reconhecimento e proteção das minorias.
A questão da constitucionalidade de ações afirmativas
voltadas ao objetivo de remediar desigualdades
históricas entre grupos étnicos e sociais, com o intuito
de promover a justiça social, representa um ponto de
inflexão do próprio valor da igualdade.
Diante desse tema, somos chamados a refletir sobre até
que ponto, em sociedades pluralistas, a manutenção do
status quo não significa a perpetuação de tais
desigualdades.
Se, por um lado, a clássica concepção liberal de
igualdade como um valor meramente formal há muito
foi superada, em vista do seu potencial de ser um meio
de legitimação da manutenção de iniquidades, por outro
o objetivo de se garantir uma efetiva igualdade material
deve sempre levar em consideração a necessidade de se
respeitar os demais valores constitucionais.
Não se deve esquecer, nesse ponto, o que Alexy trata
como o paradoxo da igualdade, no sentido de que toda
igualdade de direito tem por consequência uma
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desigualdade de fato, e toda desigualdade de fato tem
como pressuposto uma desigualdade de direiton(ALEXY,
Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Madrid:
Centro de Estudios Políticos y Constitucionales; 2001).
Assim, o mandamento constitucional de
reconhecimento e proteção igual das diferenças impõe
um tratamento desigual por parte da lei. O paradoxo da
igualdade, portanto, suscita problemas dos mais
complexos para o exame da constitucionalidade das
ações afirmativas em sociedades plurais.
Cortes constitucionais de diversos Estados têm sido
chamadas a se pronunciar sobre a constitucionalidade
de programas de ações afirmativas nas últimas décadas.
No entanto, é importante salientar que essa temática –
que até certo ponto pode ser tida como universal – tem
contornos específicos conforme as particularidades
históricas e culturais de cada sociedade.
O tema não pode deixar de ser abordado desde uma
reflexão mais aprofundada sobre o conceito do que
chamamos de “raça”. Nunca é demais esclarecer que a
ciência contemporânea, por meio de pesquisas
genéticas, comprovou a inexistência de “raças”
humanas.
Os estudos do genoma humano comprovam a existência
de uma única espécie dividida em bilhões de indivíduos
únicos: “somos todos muito parecidos e, ao mesmo
166 TURMA MPF
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tempo, muito diferentes” (Cfr.: PENA, Sérgio D. J.
Humanidade Sem Raças? Série 21, Publifolha, p. 11.).
Este Supremo Tribunal Federal, inclusive, no histórico
julgamento do Habeas Corpus nº 82.424-2/RS, frisou a
inexistência de subdivisões raciais entre indivíduos.
A noção de “raça”, que insiste em dividir e classificar os
seres humanos em “categorias”, resulta de um processo
político-social que, ao longo da história, originou o
racismo, a discriminação e o preconceito
segregacionista. Como explica Joaze Bernardino, “a
categoria raça é uma construção sociológica, que por
esse motivo sofrerá variações de acordo com a realidade
histórica em que ela for utilizada”. Em razão disso, uma
pessoa pode ser considerada branca num contexto
social e negra em outro, como ocorre com “alguns
brasileiros brancos que são tratados como negros nos
Estados Unidos” (BERNARDINO, Joaze. Levando a raça a
sério: ação afirmativa e correto reconhecimento, In:
Levando a raça a sério: ação afirmativa e universidade.
Rio de Janeiro: DP&A, 2004, p. 19-20).
De toda forma, é preciso enfatizar que, enquanto em
muitos países o preconceito sempre foi uma questão
étnica, no Brasil o problema vem associado a outros
vários fatores, dentre os quais sobressai a posição ou o
status cultural, social e econômico do indivíduo. Como já
escrevia nos idos da década de 40 do século passado
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Caio Prado Júnior, célebre historiador brasileiro, “a
classificação étnica do indivíduo se faz no Brasil muito
mais pela sua posição social; e a raça, pelo menos nas
classes superiores, é mais função daquela posição que
dos caracteres somáticos” (PRADO JÚNIOR, Caio.
Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo:
Brasiliense; 2006, p. 109).
Isso não quer dizer que não haja problemas “raciais” no
Brasil. O preconceito está em toda parte. Como dizia
Bobbio, “não existe preconceito pior do que o acreditar
não ter preconceitos” (BOBBIO, Norberto. Elogio da
serenidade e outros escritos morais.
São Paulo: Unesp; 2002, p. 122).
No debate sobre o tema, somos também levados a
analisar a diferença existente entre a discriminação
promovida pelo Estado e a discriminação praticada pelos
particulares.
Desde a abolição da escravatura – um dos fatos mais
importantes da história de afirmação e efetivação dos
direitos fundamentais no Brasil –, não há notícia de que
o Estado brasileiro tenha se utilizado do critério racial
para realizar diferenciação legal entre seus cidadãos.
Esse é um fator de relevo que distingue o debate sobre o
tema no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, existiu
um sistema institucionalizado de discriminação racial
estimulado pela sociedade e pelo próprio Estado, por
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Aula 005– Direito constitucional – Professor Paulo Gustavo – 12.04.13
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seus Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em seus
diferentes níveis. A segregação entre negros e brancos
foi amplamente implementada pelo denominado
sistema Jim Crow e legitimada durante várias décadas
pela doutrina do “separados mas iguais” (separate but
equal), criada pela famosa decisão da Suprema Corte
nos caso Plessy vs. Ferguson (163 U.S 537 1896). Com
base nesse sistema legal segregacionista, os negros
foram proibidos de frequentar as mesmas escolas que os
brancos, comer nos mesmos restaurantes e lanchonetes,
morar em determinados bairros, serem proprietários ou
locatários de imóveis pertencentes a brancos, utilizar os
mesmos transportes públicos, teatros, banheiros etc.,
casar com brancos, votar e serem votados e, enfim, de
serem cidadãos dos Estados Unidos da América. Foi
nesse específico contexto de cruel discriminação contra
os negros que surgiram as ações afirmativas como uma
espécie de mecanismo emergencial de inclusão e
integração social dos grupos minoritários e de solução
para os conflitos sociais que se alastravam por todo o
país na década de 60.
Assim, não se pode deixar de considerar que o
preconceito racial existente no Brasil nunca chegou a se
transformar numa espécie de ódio racial coletivo,
tampouco ensejou o surgimento de organizações
contrárias aos negros, como a Ku Klux Klan e os
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Conselhos de Cidadãos Brancos, tal como ocorrido nos
Estados Unidos. Na República Brasileira, nunca houve
formas de segregação racial legitimadas pelo próprio
Estado.
No Brasil, a análise do tema das ações afirmativas deve
basear-se, sobretudo, em estudos históricos,
sociológicos e antropológicos sobre as relações raciais
em nosso país.
Durante muito tempo, os sociólogos, antropólogos e
historiadores identificaram no processo de miscigenação
que formou a sociedade brasileira uma forma de
democracia racial. O apogeu da tese da “democracia
racial brasileira” se deu na década de 30, com o trabalho
de Gilberto Freyre (Casa grande & Senzala).
Na década de 50, a crença na democracia racial levou os
representantes brasileiros na UNESCO (Artur Ramos e
Luiz Aguiar Costa Pinto), após a 2ª Guerra Mundial, a
propor o Brasil como exemplo de uma experiência bem-
sucedida de relações raciais.
A partir da década de 60, pesquisas financiadas pela
UNESCO, e desenvolvidas por sociólogos brasileiros
(Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e
Oracy Nogueira, por exemplo), começaram a questionar
a existência dessa dita democracia.
Concluíram que, no fundo, o Brasil desenvolvera uma
forma de discriminação “racial” escondida atrás do mito
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da “democracia racial”. Apontaram que, enquanto nos
Estados Unidos desenvolveu-se o preconceito com base
na origem do indivíduo (ancestralidade), no Brasil existia
o preconceito com base na cor da pele da pessoa
(fenótipo).
Na década de 70, pesquisadores como Carlos Hasenbalg
e Nelson do Valle e Silva afirmaram que o preconceito e
a discriminação não estavam apenas fundados nas
sequelas da escravatura, mas assumiram novas formas e
significados a partir da abolição, estando relacionadas
aos “benefícios simbólicos adquiridos pelos brancos no
processo de competição e desqualificação dos negros”.
Simultaneamente, os movimentos negros passaram a
questionar a visão integracionista das lideranças negras
brasileiras das décadas de 30, 40, 50 e 60.
Foi na década de 90, durante o governo de Fernando
Henrique Cardoso, que o tema das ações afirmativas
entrou na agenda do governo brasileiro, com a criação
do Grupo de Trabalho Interministerial para a
Valorização da População Negra em 1995, as propostas
do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) em
1996, e a participação do Brasil na Conferência Mundial
contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e
Formas Correlatas de Intolerância, em 2001, na África do
Sul.
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O governo de Luiz Inácio Lula da Silva aprofundou esse
processo. Criou a Secretaria Especial para a Promoção da
Igualdade Racial, modificou o Sistema de Financiamento
ao Estudante e criou o Programa Universidade para
Todos, prevendo bolsas e vagas específicas para
“negros”. Em 2003, o Conselho Nacional de Educação
exarou as Diretrizes Nacionais Curriculares para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da
História e Cultura Afro-Brasileira.
Em 2005, o Senado aprovou o “Estatuto da Igualdade
Racial”, projeto do Senador Paulo Paim, ainda não
aprovado pela Câmara dos Deputados. O projeto visa a
estabelecer direitos para a população brasileira que
chama de “afro-brasileiros”, definida no artigo 1º,
parágrafo 3º, como aqueles que “se classificam como
tais e/ou como negros, pretos, pardos ou definição
análoga”.
A análise dessas considerações históricas e do que se
produziu no âmbito da sociologia e da antropologia no
Brasil nos leva até mesmo a questionar se o Estado
Brasileiro não estaria passando por um processo de
abandono da idéia, muito difundida, de um país
miscigenado e, aos poucos, adotando uma nova
concepção de nação bicolor.
Em 2005, o jogador de futebol Ronaldo – “O Fenômeno”
–, presenciando as agressões racistas que jogadores
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negros estavam sofrendo nos gramados espanhóis, deu
a seguinte declaração: “Eu, que sou branco, sofro com
tamanha ignorância. A solução é educar as pessoas”. Tal
declaração gerou grande repercussão no Brasil e obrigou
Ronaldo a explicar o que ele quis dizer: “Eu quis dizer
que tenho pele mais clara, só isso, e mesmo assim sou
vítima de racismo. Meu pai é negro. Não sou branco,
não sou negro, sou humano. Sou contra qualquer tipo de
discriminação”. Ali Kamel utiliza esse acontecimento
como exemplo das mudanças que estariam ocorrendo
na mentalidade brasileira. Alerta, dessa forma, que a
crise gerada pela declaração do jogador é a prova de que
estamos aceitando a tese da “nação bicolor”; que antes
o discurso predominante era favorável à autodeclaração
e que agora achamos que temos o direito de classificar
as pessoas (KAMEL, Ali. Não Somos Racistas: uma reação
aos que querem nos transformar numa nação bicolor.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, p. 139-140).
Por mais que se questione a existência de uma
“Democracia Racial” no Brasil, é fato que a sociedade
brasileira vivenciou um processo de miscigenação
singular. Nesse sentido, elucida Carlos Lessa que “O
Brasil não tem cor. Tem todo um mosaico de
combinações possíveis” (LESSA, Carlos. "O Brasil não é
bicolor", In: FRY, Peter e outros (org.) Divisões
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Perigosas: Políticas raciais no Brasil Contemporâneo. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 123).
Na Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio
(PNAD), em 1976, os brasileiros se autoatribuíram 135
cores distintas. Tal fato demonstra cabalmente a
dificuldade dos brasileiros de identificarem a sua cor de
pele.
Para Fátima Oliveira, “ser negro é, essencialmente, um
posicionamento político, onde se assume a identidade
racial negra. Identidade racial-étnica é o sentimento de
pertencimento a um grupo racial ou étnico, decorrente
de construção social, cultural e política” (OLIVEIRA,
Fátima. Ser negro no Brasil: alcances e limites, In:
Revista de Estudos Avançados, vol. 18, nº 50. Instituto
de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.
São Paulo: IEA. Janeiro/abril de 2004, p. 57-58.)
As preocupações com as consequências da adoção de
cotas raciais para o acesso à Universidade levaram cento
e treze intelectuais brasileiros (antropólogos, sociólogos,
historiadores, juristas, jornalistas, escritores,
dramaturgos, artistas, ativistas e políticos) a redigir uma
carta contra as leis raciais no Brasil. No documento, os
subscritores alertam que “o racismo contamina
profundamente as sociedades quando a lei sinaliza às
pessoas que elas pertencem a determinado grupo racial
– e que seus direitos são afetados por esse critério de
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pertinência de raça”. Sustentam que “as cotas raciais
proporcionam privilégios a uma ínfima minoria de
estudantes de classe média e conservam intacta, atrás
de seu manto falsamente inclusivo, uma estrutura de
ensino público arruinada”. Defendem que existem
outras formas de superar as desigualdades brasileiras,
proporcionando um verdadeiro acesso universal ao
ensino superior, menos gravosas para a identidade
nacional, como a oferta de cursos preparatórios
gratuitos e a eliminação das taxas de inscrição nos
exames vestibulares (“Cento e Treze cidadãos anti-
racistas contra as leis raciais”, assinado por cento e treze
intelectuais brasileiros, entre eles, Ana Maria Machado,
Caetano Veloso, Demétrio Magnoli, Ferreira Gullar, José
Ubaldo Ribeiro, Lya Luft e Ruth Cardoso).
A Universidade de Brasília foi a primeira instituição de
ensino superior federal a adotar um sistema de cotas
raciais para ingresso por meio do vestibular. A iniciativa,
baseada na autonomia universitária, adotou, segundo as
informações prestadas pela UnB, o critério da análise do
fenótipo do candidato: “os critérios utilizados são os do
fenótipo, ou seja, se a pessoa é negra (preto ou pardo),
uma vez que, como já suscitado na presente peça, é essa
característica que leva à discriminação ou ao
preconceito” (fl. 664).
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O critério utilizado para deferir ou não ao candidato o
direito a concorrer dentro da reserva de cotas raciais
gera alguns questionamentos importantes. Afinal, qual é
o fenótipo dos “negros” (“pretos” e “pardos”)
brasileiros? Quem está técnica e legitimamente
capacitado a definir o fenótipo de um cidadão
brasileiro? Essas indagações não são despropositadas se
considerarmos alguns incidentes ocorridos na história da
política de cotas raciais da UnB.
Marcos Chor Maio e Ricardo Ventura Santos relatam
que o procedimento adotado pela UnB gerou
constrangimentos e dilemas de identidade entre os
candidatos:
“Os responsáveis pelo vestibular da UnB por diversas
ocasiões reiteram que a meta da comissão era o de
analisar as características físicas, visando identificar
traços da raça negra. Esse objetivo gerou
constrangimentos diversos e dilemas identitários de não
pouca monta entre os candidatos ao vestibular, devido
às dúvidas de se os critérios seriam mesmo o de
aparência física (negra) ou de (afro-)descendência. A
candidata Ana Paula Leão Paim, a princípio na dúvida
sobre se se declararia “negra”, foi convencida pelo
argumento da mãe, que lhe disse que sua ‘tataravó era
escrava’. Contudo, ainda assim, Ana Paula estava
preocupada pois, segundo ela, ‘pela fotografia não dá
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para analisar a descendência’. Outra candidata,
Elizabete Braga, que ‘não se intimidou com a fotografia’,
comentou: ‘Minha irmã não seria considerada negra, por
exemplo. Ela é filha de outro pai, tem a pele mais clara e
o cabelo mais liso’ (Borges, 2004). Ricardo Zanchet, um
candidato que se declarou ‘negro’, ainda que ‘com a
pele clara, cabelo liso e castanho... nem de longe
lembra[ndo] um negro’, e cuja classificação não foi
aceita pela comissão, afirmou: ‘Vou levar a certidão de
nascimento de meu avô e mostrar a eles... Se meu avô e
minha bisavó eram negros, eu sou fruto de miscigenação
e tenho direito’ (Paraguassú, 2004).
(...)
Se a primeira etapa do trabalho de identificação racial
da UnB foi conduzido pela equipe da ‘anatomia racial’, a
segunda foi conduzida por um comitê de ‘psicologia
racial’. Trinta e quatro dos 212 candidatos com
inscrições negadas na primeira etapa entraram com
recurso junto à UnB. Uma nova comissão foi formada
‘por professores da UnB e membros de ONGs’, que
exigiu dos candidatos um documento oficial para
comprovar a cor. Foram ainda submetidos à entrevista
(gravada, transcrita e registrada em ata) na qual, entre
outros tópicos, foram questionados acerca de seus
valores e percepções: ‘Você tem ou já teve alguma
ligação com o movimento negro? Já se sentiu
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discriminado por causa da sua cor? Antes de se inscrever
no vestibular, já tinha pensado em você como um
negro?’ (Cruz, 2004). O candidato Alex Fabiany José
Muniz, de 23 anos, um dos beneficiários da nova rodada
da seleção das cotas, conseguiu um certificado
comprovando que era pardo ao levar a certidão de
nascimento e uma foto dos pais.
Conforme seu depoimento, ‘a entrevista tem um cunho
altamente político... perguntaram se eu havia
participado de algum movimento negro ou se tinha
namorado alguma vez com alguma mulata’ (Darse
Júnior, 2004).” (MAIO, Marcos Chor; e SANTOS, Ricardo
Ventura. Política de Cotas Raciais, os ‘Olhos da
Sociedade’ e os usos da antropologia: o caso do
vestibular da Universidade de Brasília [UNB].
Documento juntado à fls. 219-221 dos autos)
Em 2004, o irmão da candidata Fernanda Souza de
Oliveira, filho do mesmo pai e da mesma mãe, foi
considerado “negro”, mas ela não. Em 2007, os gêmeos
idênticos Alex e Alan Teixeira da Cunha foram
considerados de “cores diferentes” pela comissão da
UnB.
Em 2008, Joel Carvalho de Aguiar foi considerado
“branco” pela Comissão, enquanto sua filha Luá Resende
Aguiar foi considerada “negra”, mesmo, segundo Joel, a
mãe de Luá sendo “branca”.
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A adoção do critério de análise do fenótipo para a
confirmação da veracidade da informação prestada pelo
vestibulando pode suscitar alguns problemas. De fato, a
maioria das universidades brasileiras que adotaram o
sistema de cotas ‘raciais’ seguiram o critério da
autodeclaração associado ao critério de renda.
A Comissão de Relações Étnicas e Raciais da Associação
Brasileira de Antropologia (Crer-ABA), em junho de
2004, manifestou-se contrária ao critério adotado pela
UnB, nos seguintes termos:
“A pretensa objetividade dos mecanismos adotados pela
UnB constitui, de fato, um constrangimento ao direito
individual, notadamente ao da livre autoidentificação.
Além disso, desconsidera o arcabouço conceitual das
ciências sociais, e, em particular, da antropologia social
e antropologia biológica. A Crer-ABA entende que a
adoção do sistema de cotas raciais nas Universidades
públicas é uma medida de caráter político que não deve
se submeter, tampouco submeter aqueles aos quais visa
beneficiar, a critérios autoritários, sob pena de se abrir
caminho para novas modalidades de exceção
atentatória à livre manifestação das pessoas.” (MAIO,
Marcos Chor; e SANTOS, Ricardo Ventura. Política de
Cotas Raciais, os ‘Olhos da Sociedade’ e os usos da
antropologia: o caso do vestibular da Universidade de
Brasília [UNB]. Documento juntado à fls. 228 dos autos)
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Defendendo a adoção do critério da autodeclaração no
lugar da análise do fenótipo, Marcos Chor Maio e
Ricardo Ventura Santos concluem que:
“A comissão de identificação racial da UnB operou uma
ruptura com uma espécie de ‘acordo tácito’ que vinha
vigorando no processo de implantação do sistema de
cotas no país, qual seja, o respeito à auto-atribuição de
raça no plano da s relações sociais. A valorização desse
critério, próprio das sociedades modernas e
imprescindível em face da fluidez racial existente no
Brasil, cai por terra a partir das normas estabelecidas
pela UnB.” (MAIO, Marcos Chor; e SANTOS, Ricardo
Ventura.
Política de Cotas Raciais, os ‘Olhos da Sociedade’ e os
usos da antropologia: o caso do vestibular da
Universidade de Brasília [UNB]. Documento juntado à
fls. 231 dos autos.)
Ademais, parece haver certo consenso quanto à
necessidade de que os programas de ações afirmativas
sejam limitados no tempo, devendo passar por
avaliações empíricas rigorosas e constantes. Nesse
sentido, inclusive, o “Plano de Metas para a integração
social, étnica e racial da Universidade de Brasília” é
exemplar, ao prever a disponibilidade da reserva de
vagas pelo período de 10 anos apenas (fl. 98).
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Na qualidade de medidas de emergência ante a
premência e urgência de solução dos problemas de
discriminação racial, as ações afirmativas não
constituem subterfúgio e, portanto, não excluem a
adoção de medidas de longo prazo, como a necessária
melhora das condições do ensino fundamental no Brasil.
Outro importante aspecto a ser considerado diz respeito
às dificuldades de acesso ao ensino superior no Brasil.
Sabemos que a universidade pública é altamente
excludente. De um lado, é preciso alargar a reflexão,
para que não esqueçamos que a análise do acesso à
universidade é fundamental, mas é apenas uma parcela
do debate de uma democracia inclusiva. O que se quer
destacar é que devemos pensar a questão em face do
modelo de educação brasileiro como um todo, para não
buscar soluções apenas na etapa universitária. A
valorização e fomento de políticas públicas prioritárias e
inclusivas voltadas às etapas anteriores (educação
básica) e alternativas (cursos técnicos) são
fundamentais, para que não assumamos a universidade
como único caminho possível para o sucesso profissional
e intelectual.
Ademais, ressalte-se que nosso ensino superior também
é excludente, em razão do modelo restrito de vagas
ofertadas por quase todos os cursos. Nós, que militamos
na universidade pública, podemos verificar a presença
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de pouquíssimos alunos nas salas de aula, existindo um
gasto excessivo com professores em relação ao número
de alunos. É o caso da Faculdade de Direito da
Universidade de Brasília. Recebia 50 alunos por
semestre, apenas 100 por ano. Aumentou-se para 60
alunos a cada semestre, não mais do que 120 alunos por
ano, com a ampliação do número de professores pelo
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (REUNI),
mantendo-se, assim, a proporção entre o número de
vagas e o número de professores. Se considerarmos as
vagas do Programa de Avaliação Seriada (PAS) e do
Sistema de Cotas para Negros, restam apenas 72 vagas
no concurso universal por ano. Por que não
aumentarmos o número de vagas por professor? Um
número tão reduzido de vagas em universidades
públicas é, por si só, um fator de exclusão.
A título de registro, no Brasil se gasta 58,6% da renda
per capita/ano por aluno. Na Alemanha, 41,2%; na
Austrália, 25,4%; na Coréia, 7,3%; na Irlanda, 27,2%; na
Espanha, 22,4%; na Argentina, 17,8%; no Chile, 17,7%;
no México, 35% (Cfr.: KAMEL, Ali.
Não Somos Racistas: uma reação aos que querem nos
transformar numa nação bicolor. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2006, p. 136.).
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De outro lado, o modelo do concurso universal demanda
uma rediscussão. Há uma grande ironia no nosso
modelo: somente aqueles que eventualmente passaram
por todas as escolas privadas é que lograrão, depois,
acesso via vestibular e poderão, então, chegar à escola
pública superior, dotadas de conceito de excelência.
Assim, somos levados a acreditar que a exclusão no
acesso às universidades públicas é determinada pela
condição financeira. Nesse ponto, parece não haver
distinção entre “brancos” e “negros”, mas entre ricos e
pobres. Como apontam alguns estudos, os pobres no
Brasil têm todas as “cores” de pele. Dessa forma, não
podemos deixar de nos perguntar quais serão as
consequências das políticas de cotas raciais para a
diminuição do preconceito. Será justo, aqui, tratar de
forma desigual pessoas que se encontram em situações
iguais, apenas em razão de suas características
fenotípicas? E que medidas ajudarão na inclusão
daqueles que não se autoclassificam como “negros”?
Com a ampla adoção de programas de cotas raciais,
como ficará, do ponto de vista do direito à igualdade, a
situação do “branco” pobre? A adoção do critério da
renda não seria mais adequada para a democratização
do acesso ao ensino superior no Brasil? Por outro lado,
até que ponto podemos realmente afirmar que a
discriminação pode ser reduzida a um fenômeno
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meramente econômico? Podemos questionar, ainda, até
que ponto a existência de uma dívida histórica em
relação a determinado segmento social justificaria o
tratamento desigual.
A despeito de não convivermos com legislações racistas
como a dos Estados Unidos, estudos estatísticos
apontam para um padrão de vida dos negros muito
inferior aos dos brancos. Até que ponto essas
informações corroboram a ação afirmativa com base na
cor da pele? Quais os critérios utilizados no
levantamento de tais dados? Esses estudos poderiam
ser questionados?
A petição da Universidade de Brasília (fl. 650) noticia
que, segundo a “Síntese de Indicadores Sociais – 2006”,
realizada pelo IBGE, as informações coletadas
convergem para indicar que o critério de pertencimento
étnico-racial é altamente determinante no processo de
diferenciação e exclusão social. Indicam que “a taxa de
analfabetismo de pretos (14,6%) e de pardos (15,6%)
continua sendo em 2005 mais de o dobro que a de
brancos (7,0%)” .
A manifestação do Advogado-Geral da União faz
referência à “Síntese de Indicadores Sociais – 2008”,
também realizada pelo IBGE, segundo a qual “em
números absolutos, em 2007, dos pouco mais de 14
milhões de analfabetos brasileiros, quase 9 milhões são
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pretos e pardos, demonstrando que para este setor da
população a situação continua muito grave. Em termos
relativos, a taxa de analfabetismo da população branca
é de 6,1% para as pessoas de 15 anos ou mais de idade,
sendo que estas mesmas taxas par pretos e pardos
superam 14%, ou seja, mais que o dobro que a de
brancos” (fl. 748).
Enquanto muitos se apegam aos dados estatísticos para
comprovar a existência de racismo no Brasil, outros,
como Ali Kamel, Simon Schwartzman e José Murilo de
Carvalho, questionam essas conclusões. Ali Kamel, em
obra realizada em 2006, afirma que alguns estudos,
muitas vezes, manipulam os dados referentes aos
“pardos”, ora incluídos entre os “negros”, ora
considerados à parte. Refere que, segundo o IBGE, os
“negros” são 5,9%; os “brancos”, 51,4% e os “pardos”
42% dos brasileiros. Afirma que, segundo os dados do
PNUD, entre 1982 a 2001, o percentual de “negros” e
“pardos” pobres caiu de 58% para 47%, enquanto o de
“brancos” pobres se manteve praticamente estável, de
21% para 22%. Comparados esses percentuais com o
aumento da população brasileira no período, conclui
que “a pobreza caiu muito mais acentuadamente entre
os negros e pardos do que entre os brancos”. (KAMEL,
Ali. Não Somos Racistas: uma reação aos que querem
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nos transformar numa nação bicolor. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2006, p. 49 e 67).
É certo que o Brasil caminha para a adoção de um
modelo próprio de ações afirmativas de inclusão social,
em virtude das peculiaridades culturais e sociais da
sociedade brasileira, que impedem o acesso do
indivíduo a bens fundamentais, como a educação e o
emprego.
No entanto, é importante ter em mente que a solução
para tais problemas não está na importação acrítica de
modelos construídos em momentos históricos
específicos tendo em vista realidades culturais, sociais e
políticas totalmente diversas das quais vivenciamos
atualmente no Brasil, mas na interpretação do texto
constitucional considerando-se as especificidades
históricas e culturais da sociedade brasileira.
Thomas Sowell, PhD em economia pela Chigago
University e Professor das universidades de Cornell,
Amherst e University of California Los Angeles - UCLA,
examinou a aplicação de ações afirmativas em diversos
países do mundo e concluiu o seguinte:
Inúmeros princípios, teorias, hipóteses e assertivas
têm-se utilizados para justificar os programas de ação
afirmativa - alguns comuns a vários países do mundo,
outros peculiares a determinados países ou
comunidades. Notável é o fato de que raramente essas
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noções são empiricamente testadas, ou mesmo
claramente definidas ou logicamente examinadas, muito
menos pesadas em relação aos dolorosos custos que
muitas vezes impõem. Apesar das afirmativas
abrangentes feitas em prol dos programas de ação
afirmativa, um exame de suas consequências reais torna
difícil o apoio a tais programas ou mesmo dizer-se que
esses programas foram benéficos ao cômputo geral - a
menos que se esteja disposto a dizer que qualquer
quantidade de reparação social, por menor que seja,
vale o vulto dos custos e dos perigos, por maiores que
sejam." (SOWELL, Thomas. Ação Afirmativa ao redor do
mundo: estudo empírico. Trad. Joubert de Oliveira
Brízida. 2ª ed. Rio de Janeiro: UniverCidade Editora, p.
198, 2004)
Infelizmente, no Brasil, o debate sobre ações afirmativas
iniciou-se de forma equivocada e deturpada.
Confundem-se ações afirmativas com política de cotas,
sem se atentar para o fato de que as cotas representam
apenas uma das formas de políticas positivas de inclusão
social. Na verdade, as ações afirmativas são o gênero do
qual as cotas são a espécie. E, ao contrário do que
muitos pensam, mesmo nos Estados Unidos o sistema
de cotas sofre sérias restrições doutrinárias e
jurisprudenciais, como se pode depreender da análise da
série de casos julgados pela Suprema Corte, dentre os
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quais sobressaem o famoso Caso Bakke (Regents of the
University of California vs. Bakke; 438 U.S 265, 1978).
Em recentes julgados, a Suprema Corte norte-americana
voltou a restringir a adoção de políticas raciais. No caso
Parents Involved in Community Schools vs. Seattle
School District No. 1. (28 de junho de 2007), no qual se
discutiu a possibilidade de o distrito escolar adotar
critérios raciais (classificando os estudantes em brancos
e não brancos ou negros e não negros) como forma de
alocá-los nas escolas públicas, os juízes, por maioria,
entenderam desarrazoado o critério e salientaram que
“a maneira de acabar com a discriminação com base na
raça é parar de discriminar com base na raça”. O Justice
Kennedy afirmou que, “quando o governo classifica um
indivíduo por raça, ele precisa primeiro definir o que ele
entende por raça. Quem, exatamente, é branco ou não
branco? Ser forçado a viver com um rótulo racial
definido pelo governo é inconsistente com a dignidade
dos indivíduos em nossa sociedade. É um rótulo que os
indivíduos não têm o poder de mudar. Classificações
governamentais que obrigam pessoas a marchar em
diferentes direções de acordo com tipologias raciais
podem causar novas divisões”. No caso Ricci et al. vs.
DeStefano et. al. (29 de junho de 2009), a Corte, por
maioria, entendeu que decisões que tomam como base
a questão da raça violam o comando do Título VII do
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Civil Rights Act de 1964, o qual prevê que o empregador
não pode agir de forma diversa por causa da raça do
indivíduo.
A matéria atrai, ainda, a análise sobre a noção de
reserva da administração e a de reserva de lei. Sabe-se
que a reserva de lei, em sua acepção de “reserva de
Parlamento”, exige que certos temas, dada a sua
relevância, sejam objeto de deliberação democrática,
num ambiente de publicidade e discussão próprio das
casas legislativas. Busca-se assegurar, com isso, a
legitimidade democrática para a regulação normativa de
assuntos que sensibilizem a comunidade.
A reserva de lei tem especial significado na conformação
e na restrição dos direitos fundamentais. A Constituição
autoriza a intervenção legislativa no âmbito de proteção
dos direitos e garantias fundamentais. O conteúdo da
autorização para intervenção legislativa e a sua
formulação podem assumir significado transcendental
para a maior ou menor efetividade das garantias
fundamentais.
Se não bastasse a complexidade que o tema “ação
afirmativa como mecanismo de inclusão social” atrai, a
definição dos critérios a serem implementados em
universidades públicas para definir quem faz jus ao
benefício constitui matéria que amplia direitosde uns
com imediata repercussão na vida de outros. Ao
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reservar 20% (vinte por cento) das vagas para
determinado segmento da sociedade, outra parcela
estará privada desse percentual de vagas.
Todas as ações que visem a estabelecer e a aprimorar a
igualdade entre nós são dignas de apreço. É importante,
no entanto, refletir sobre as possíveis consequências da
adoção de políticas públicas que levem em consideração
apenas o critério racial. Nãopodemos deixar que o
combate ao preconceito e à discriminação em razão da
cor da pele, fundamental para a construção de uma
verdadeira democracia, reforce as crenças perversas do
racismo e divida nossa sociedade em dois pólos
antagônicos: “brancos” e não brancos” ou “negros” e
“não negros”.
Todas essas questões deverão ser objeto de apreciação
pelo Plenário desta Corte, que se pronunciará, em
momento oportuno, sobre o inteiro teor do pedido de
medida cautelar. Deverá o Tribunal, ainda, analisar o
cabimento desta ação e a eventual possibilidade de seu
conhecimento como ADI, em razão da peculiar natureza
jurídica de seu objeto.
O questionamento feito pelo Partido Democratas (DEM)
é de suma importância para o fortalecimento da
democracia no Brasil. As questões e dúvidas levantadas
são muito sérias, estão ligadas à identidade nacional,
envolvem o próprio conceito que o brasileiro tem de si
190 TURMA MPF
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mesmo e demonstram a necessidade de promovermos a
justiça social. Somos ou não um país racista? Qual a
forma mais adequada de combatermos o preconceito e
a discriminação no Brasil? Desistimos da “Democracia
Racial” ou podemos lutar para, por meio da eliminação
do preconceito, torná-la uma realidade? Precisamos nos
tornar uma “nação bicolor” para vencermos as “chagas”
da escravidão? Até que ponto a exclusão social gera
preconceito? O preconceito em razão da cor da pele está
ligado ou não ao preconceito em razão da renda? Como
tornar a Universidade Pública um espaço aberto a todos
os brasileiros? Será a educação básica o verdadeiro
instrumento apto a realizar a inclusão social que
queremos: um país livre e igual, no qual as pessoas não
sejam discriminadas pela cor de sua pele, pelo dinheiro
em sua conta bancária, pelo seu gênero, pela sua opção
sexual, pela sua idade, pela sua opção política, pela sua
orientação religiosa, pela região do país onde moram
etc.?
Mas, enquanto essa mudança não vem, como alcançar
essa amplitude democrática? Devemos nos perguntar,
desde agora, como fazer para aproximar a atuação
social, judicial, administrativa e legislativa às
determinações constitucionais que concretizam os
direitos fundamentais da liberdade, da igualdade e da
fraternidade, nas suas mais diversas concretizações.
191 TURMA MPF
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Em relação ao ensino superior, o sistema de cotas raciais
se apresenta como o mais adequado ao fim pretendido?
As ações afirmativas raciais, que conjuguem o critério
econômico, serão mais eficazes? Cotas baseadas
unicamente na renda familiar ou apenas para os
egressos do ensino público atingiriam o mesmo fim de
forma mais igualitária? Quais os critérios mais
adequados para as peculiaridades da realidade
brasileira?
Embora a importância dos temas em debate mereça a
apreciação célere desta Suprema Corte, neste momento
não há urgência a justificar a concessão da medida
liminar.
O sistema de cotas raciais da UnB tem sido adotado
desde o vestibular de 2004, renovando-se a cada
semestre. A interposição da presente arguição ocorreu
após a divulgação do resultado final do vestibular
2/2009, quando já encerrados os trabalhos da comissão
avaliadora do sistema de cotas.
Assim, por ora, não vislumbro qualquer razão para a
medida cautelar de suspensão do registro (matrícula)
dos alunos que foram aprovados no último vestibular da
UnB ou para qualquer interferência no andamento dos
trabalhos na universidade.
192 TURMA MPF
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Com essas breves considerações sobre o tema, indefiro
o pedido de medida cautelar, ad referendum do
Plenário.
Publique-se.
Comunique-se.
Ante o término do período de férias do Tribunal,
proceda-se à livre distribuição do processo.
Brasília, 31 de julho de 2009.
Ministro GILMAR MENDES
Presidente
(art. 13, VIII, RI-STF)
Até Martin Luther King até fazia um paralelo, ele fala: Como você vai tratar
de forma igual se alguém sai duzentos metros a frente de outra pessoa em uma
corrida? A ideia de ações afirmativas é justamente dar um plus para que essa pessoa
ande esses duzentos metros mais rápido para que a saída dos dois seja igual, ou pelo
menos a chegada dos dois quanto as condições sejam equivalentes.
Tanto que quando falamos de ações afirmativas necessariamente essas
ações afirmativas elas têm que ser provisórias, não há possibilidade de se falar em
ações afirmativas permanentes, ou pelo menos a regra é que não seja permanente, até
nós podemos se falar em espécie de ação afirmativa permanente está até na
constituição, que é a questão do deficiente físico, mas ai é mais para dar a igualdade,
mas quando é uma questão apenas de tratamento diferenciado em razão de algo que
não é permanente como, por exemplo, a discriminação racial, ou a discriminação entre
escola pública e particular, obviamente isso daí vai se ter durante algum tempo, tanto
que as ações afirmativas elas tem que ser revisadas de tempos em tempos.
193 TURMA MPF
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Até a suprema corte norte americana que adotou a possibilidade do
sistema de cotas aqui podemos até verificar o caso BECK ,e o que foi colocado? Se
colocou o sistema de cotas e depois quando se entendeu que aquele sistema de cotas
não era mais necessário, se entendeu que o sistema de cotas era inconstitucional, ou
seja, na verdade as ações afirmativas elas tem que ser revisadas de tempos em tempos
de tal sorte que hoje como haja uma discriminação racial ainda aqui no Brasil , ainda
que seja, uma discriminação implícita , é perfeitamente constitucional se colocar um
sistema de cotas.
Daqui a 20 anos, 15 anos, 10 anos, ou seja, pode ser colocado um tempo,
uma baliza, o legislador pode fazer isso para que seja revisitada essa ação afirmativa de
tal forma que aqui não pode ser tratada da mesma forma duas pessoas que estão em
situações distintas, tem que se colocar aqui, não apenas colocar, digamos assim, uma
lupa naquele caso, mas sim naquilo que circunda, ou seja, todo o universo ai você fala
em igualdade material, e não apenas em igualdade formal.
Ainda com relação a igualdade temos que ver quais são aqui as
possibilidades de tratamento diferenciado hoje reconhecido pelo STF, se vocês forem
ver limitações em concurso público é possível? É possível, sim limitação de idade,
limitação de altura, mas há necessidade dos elementos, quais sejam primeiro essa
limitação tem que estar prevista na lei, inclusive o STF declarou inconstitucionalidade,
claro foi uma declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, pelo
menos imediata, de decretos ou de um decreto na verdade, que estabelecia limitação
de idade para forças armadas, para ingresso nas forças armadas, e isso por quê? O STF
falou que somente a lei pode estabelecer, porém fez uma declaração de
inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, justamente por entender que era
194 TURMA MPF
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necessário para a função. Assim precisa estar previsto em lei e tem que ser necessário
para a função.
Vamos imaginar isso acontecia antigamente, a LOMAN mesmo estabelecia
um mínimo de 25 e máximo de 50 anos para que a pessoa possa, ou pudesse ser juiz. E
houve alguns casos em que o STF teve a oportunidade de analisar. Um dos casos foi
uma pessoa que era constituinte tinha mais de 50 anos e quis ser juiz do DF e a
LOMAN proibia, a pessoa propôs a ação e no judiciário ganhou assentando que essa
limitação de idade não poderia justamente porque não se justifica você limitar a idade
em 50 anos para o juiz, tanto idade mínima como idade máxima.
Da mesma forma se fosse para procurador da república que é o caso até do
concurso que vocês estão estudando, não há justificativa para limitar a idade a não ser
que claro ser menor de 18 maior de 75 pode-se exigir até atividade jurídica, a própria
constituição estabelece 3 anos de atividade jurídica , mas não há possibilidade de se
exigir limitação de idade.
Então são duas balizas ou dois elementos que devem ser vistos, primeiro a
previsão tem que ser na lei e segundo tem que ter necessidade para o exercício
daquela função, de tal forma que, por exemplo, delegado, policial é constitucional se
exigir uma limitação de idade, há perfeita possibilidade de se exigir uma limitação de
idade na hipótese de policial o que não é para MP, para diplomata, que também foi
um outro caso analisado pelo STF , para juiz, nesses casos não há possibilidade.
Outro principio que nós temos que ver é o principio da legalidade, aqui há
alguns pontos que são interessantes, basicamente dois que são interessantes. Primeiro
é se saber o que vem a ser essa legalidade, e fazer uma diferenciação entre legalidade
e reserva legal.
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O que vem a ser legalidade? Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei, tem que ter lei, agora a lei obviamente é lei em
sentido amplo, não é uma lei em sentido estrito, ai já entraria a reserva legal. Muitas
vezes até alguns temas na constituição tem que ter uma lei em sentido estrito, que é o
caso da reserva legal, é o caso, por exemplo, de lei penal incriminadora, lei que
estabelece tributo, todos esses tem que ser lei em sentido estrito.
Agora quando se fala em legalidade não, quando se fala em legalidade é
ato normativo, pode ser primário, secundário, terciário, mas há necessidade de uma
norma para se obrigar alguém a fazer algo e também uma outra questão é se saber: O
principio da legalidade que está no art. 5º é o mesmo principio da legalidade que está
no art. 37 ou seja, a legalidade para administração?
Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
E a resposta aqui é positiva, em um primeiro momento até pode se dizer
como que é positiva, se o particular pode fazer ou deixar de fazer alguma coisa a não
ser em virtude de lei, enquanto que a administração só pode exigir o que está
expresso na lei. É justamente isso, o principio é o mesmo, quem vai limitar a atuação
do particular?É a administração, então para que o particular possa fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei a consequência qual vai ser? É que aquele
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que vai exigir do particular, portanto a administração só vai poder cobrar do particular
aquilo que estiver expresso, se não tiver expresso não pode ser cobrado.
Então na verdade Celso Antônio Bandeira de Melo até bem coloca isso se
trata do mesmo principio apenas o enfoque ou a ótica que se tem desse principio é
que é distinta porque para o particular ele vai fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei, e justamente para que isso ocorra é necessário que a
administração só possa exigir aquilo que está expresso na lei.
Outro ponto que temos que ver diz respeito a liberdade de manifestação
de pensamento e também a questão relativa ao direito de resposta, a questão de
responsabilização por conta disso.
O que vem a ser uma manifestação de pensamento? Aqui a constituição
deixa claro é garantia da manifestação de pensamento sendo vedado o anonimato.
Vamos supor que alguém diga: O professor entrou na sala de aula vestindo camisa
listrada, um terno azul, uma gravata vermelha, nesse caso há alguma manifestação de
pensamento? Não.
A manifestação de pensamento ela pressupõe um elemento subjetivo, se
alguém falasse: O professor de direito constitucional é um chato. Aqui já há uma
manifestação de pensamento porque tem um elemento subjetivo. E justamente se
tem esse elemento subjetivo cada um que expressa aquilo ali deve ser
responsabilizado, deve ser responsável obviamente no sentido amplo, responsável por
aquilo que falou por isso é vedado o anonimato, não há possibilidade de a pessoa se
esconder atrás do anonimato para chegar a uma manifestação de pensamento, é
garantida essa manifestação de pensamento sendo vedado o anonimato.
197 TURMA MPF
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E claro se a manifestação de pensamento acarretar um transtorno para
alguém obviamente essa pessoa citada, que teve contra ela uma manifestação de
pensamento, ela vai ter direito de resposta, que diga-se de passagem é um direito auto
aplicável, o STF teve oportunidade de julgar a arguição de descumprimento
fundamental 130 que tratou justamente da questão da lei de imprensa, se a lei de
imprensa tinha ou não sido recepcionada pela constituição da república.
EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE
PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). LEI DE IMPRENSA.
ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. REGIME CONSTITUCIONAL DA
"LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA",
EXPRESSÃO SINÔNIMA DE LIBERDADE DE IMPRENSA. A
"PLENA" LIBERDADE DE IMPRENSA COMO CATEGORIA
JURÍDICA PROIBITIVA DE QUALQUER TIPO DE CENSURA
PRÉVIA. A PLENITUDE DA LIBERDADE DE IMPRENSA
COMO REFORÇO OU SOBRETUTELA DAS LIBERDADES DE
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E
DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E
COMUNICACIONAL. LIBERDADES QUE DÃO CONTEÚDO
ÀS RELAÇÕES DE IMPRENSA E QUE SE PÕEM COMO
SUPERIORES BENS DE PERSONALIDADE E MAIS DIRETA
EMANAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA
COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO
PROLONGADOR DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO
DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO
198 TURMA MPF
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ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E
COMUNICACIONAL. TRANSPASSE DA
FUNDAMENTALIDADE DOS DIREITOS PROLONGADOS AO
CAPÍTULO PROLONGADOR. PONDERAÇÃO
DIRETAMENTE CONSTITUCIONAL ENTRE BLOCOS DE
BENS DE PERSONALIDADE: O BLOCO DOS DIREITOS QUE
DÃO CONTEÚDO À LIBERDADE DE IMPRENSA E O BLOCO
DOS DIREITOS À IMAGEM, HONRA, INTIMIDADE E VIDA
PRIVADA. PRECEDÊNCIA DO PRIMEIRO BLOCO.
INCIDÊNCIA A POSTERIORI DO SEGUNDO BLOCO DE
DIREITOS, PARA O EFEITO DE ASSEGURAR O DIREITO DE
RESPOSTA E ASSENTAR RESPONSABILIDADES PENAL,
CIVIL E ADMINISTRATIVA, ENTRE OUTRAS
CONSEQUÊNCIAS DO PLENO GOZO DA LIBERDADE DE
IMPRENSA. PECULIAR FÓRMULA CONSTITUCIONAL DE
PROTEÇÃO A INTERESSES PRIVADOS QUE, MESMO
INCIDINDO A POSTERIORI, ATUA SOBRE AS CAUSAS
PARA INIBIR ABUSOS POR PARTE DA IMPRENSA.
PROPORCIONALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA
E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS A TERCEIROS. RELAÇÃO DE MÚTUA
CAUSALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E
DEMOCRACIA. RELAÇÃO DE INERÊNCIA ENTRE
PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA LIVRE. A IMPRENSA
COMO INSTÂNCIA NATURAL DE FORMAÇÃO DA
OPINIÃO PÚBLICA E COMO ALTERNATIVA À VERSÃO
199 TURMA MPF
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OFICIAL DOS FATOS. PROIBIÇÃO DE MONOPOLIZAR OU
OLIGOPOLIZAR ÓRGÃOS DE IMPRENSA COMO NOVO E
AUTÔNOMO FATOR DE INIBIÇÃO DE ABUSOS. NÚCLEO
DA LIBERDADE DE IMPRENSA E MATÉRIAS APENAS
PERIFERICAMENTE DE IMPRENSA. AUTORREGULAÇÃO E
REGULAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE DE IMPRENSA. NÃO
RECEPÇÃO EM BLOCO DA LEI Nº 5.250/1967 PELA NOVA
ORDEM CONSTITUCIONAL. EFEITOS JURÍDICOS DA
DECISÃO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. ARGUIÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL
(ADPF). LEI DE IMPRENSA. ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. A
ADPF, fórmula processual subsidiária do controle
concentrado de constitucionalidade, é via adequada à
impugnação de norma pré-constitucional. Situação de
concreta ambiência jurisdicional timbrada por decisões
conflitantes. Atendimento das condições da ação. 2.
REGIME CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE DE IMPRENSA
COMO REFORÇO DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO
DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO
EM SENTIDO GENÉRICO, DE MODO A ABARCAR OS
DIREITOS À PRODUÇÃO INTELECTUAL, ARTÍSTICA,
CIENTÍFICA E COMUNICACIONAL. A Constituição
reservou à imprensa todo um bloco normativo, com o
apropriado nome "Da Comunicação Social" (capítulo V
do título VIII). A imprensa como plexo ou conjunto de
"atividades" ganha a dimensão de instituição-ideia, de
200 TURMA MPF
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modo a poder influenciar cada pessoa de per se e até
mesmo formar o que se convencionou chamar de
opinião pública. Pelo que ela, Constituição, destinou à
imprensa o direito de controlar e revelar as coisas
respeitantes à vida do Estado e da própria sociedade. A
imprensa como alternativa à explicação ou versão
estatal de tudo que possa repercutir no seio da
sociedade e como garantido espaço de irrupção do
pensamento crítico em qualquer situação ou
contingência. Entendendo-se por pensamento crítico o
que, plenamente comprometido com a verdade ou
essência das coisas, se dota de potencial emancipatório
de mentes e espíritos. O corpo normativo da
Constituição brasileira sinonimiza liberdade de
informação jornalística e liberdade de imprensa,
rechaçante de qualquer censura prévia a um direito que
é signo e penhor da mais encarecida dignidade da
pessoa humana, assim como do mais evoluído estado de
civilização. 3. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA
COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO
PROLONGADOR DE SUPERIORES BENS DE
PERSONALIDADE QUE SÃO A MAIS DIRETA EMANAÇÃO
DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: A LIVRE
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E O DIREITO À
INFORMAÇÃO E À EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA,
INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. TRANSPASSE DA
201 TURMA MPF
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NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS PROLONGADOS AO
CAPÍTULO CONSTITUCIONAL SOBRE A COMUNICAÇÃO
SOCIAL. O art. 220 da Constituição radicaliza e alarga o
regime de plena liberdade de atuação da imprensa,
porquanto fala: a) que os mencionados direitos de
personalidade (liberdade de pensamento, criação,
expressão e informação) estão a salvo de qualquer
restrição em seu exercício, seja qual for o suporte físico
ou tecnológico de sua veiculação; b) que tal exercício
não se sujeita a outras disposições que não sejam as
figurantes dela própria, Constituição. A liberdade de
informação jornalística é versada pela Constituição
Federal como expressão sinônima de liberdade de
imprensa. Os direitos que dão conteúdo à liberdade de
imprensa são bens de personalidade que se qualificam
como sobredireitos. Daí que, no limite, as relações de
imprensa e as relações de intimidade, vida privada,
imagem e honra são de mútua excludência, no sentido
de que as primeiras se antecipam, no tempo, às
segundas; ou seja, antes de tudo prevalecem as relações
de imprensa como superiores bens jurídicos e natural
forma de controle social sobre o poder do Estado,
sobrevindo as demais relações como eventual
responsabilização ou consequência do pleno gozo das
primeiras. A expressão constitucional "observado o
disposto nesta Constituição" (parte final do art. 220)
202 TURMA MPF
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traduz a incidência dos dispositivos tutelares de outros
bens de personalidade, é certo, mas como consequência
ou responsabilização pelo desfrute da "plena liberdade
de informação jornalística" (§ 1º do mesmo art. 220 da
Constituição Federal). Não há liberdade de imprensa
pela metade ou sob as tenazes da censura prévia,
inclusive a procedente do Poder Judiciário, pena de se
resvalar para o espaço inconstitucional da
prestidigitação jurídica. Silenciando a Constituição
quanto ao regime da internet (rede mundial de
computadores), não há como se lhe recusar a
qualificação de território virtual livremente veiculador
de ideias e opiniões, debates, notícias e tudo o mais que
signifique plenitude de comunicação. 4. MECANISMO
CONSTITUCIONAL DE CALIBRAÇÃO DE PRINCÍPIOS. O art.
220 é de instantânea observância quanto ao desfrute
das liberdades de pensamento, criação, expressão e
informação que, de alguma forma, se veiculem pelos
órgãos de comunicação social. Isto sem prejuízo da
aplicabilidade dos seguintes incisos do art. 5º da mesma
Constituição Federal: vedação do anonimato (parte final
do inciso IV); do direito de resposta (inciso V); direito a
indenização por dano material ou moral à intimidade, à
vida privada, à honra e à imagem das pessoas (inciso X);
livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei
203 TURMA MPF
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estabelecer (inciso XIII); direito ao resguardo do sigilo da
fonte de informação, quando necessário ao exercício
profissional (inciso XIV). Lógica diretamente
constitucional de calibração temporal ou cronológica na
empírica incidência desses dois blocos de dispositivos
constitucionais (o art. 220 e os mencionados incisos do
art. 5º). Noutros termos, primeiramente, assegura-se o
gozo dos sobredireitos de personalidade em que se
traduz a "livre" e "plena" manifestação do pensamento,
da criação e da informação. Somente depois é que se
passa a cobrar do titular de tais situações jurídicas ativas
um eventual desrespeito a direitos constitucionais
alheios, ainda que também densificadores da
personalidade humana. Determinação constitucional de
momentânea paralisia à inviolabilidade de certas
categorias de direitos subjetivos fundamentais,
porquanto a cabeça do art. 220 da Constituição veda
qualquer cerceio ou restrição à concreta manifestação
do pensamento (vedado o anonimato), bem assim todo
cerceio ou restrição que tenha por objeto a criação, a
expressão e a informação, seja qual for a forma, o
processo, ou o veículo de comunicação social. Com o
que a Lei Fundamental do Brasil veicula o mais
democrático e civilizado regime da livre e plena
circulação das ideias e opiniões, assim como das notícias
e informações, mas sem deixar de prescrever o direito
204 TURMA MPF
Aula 005– Direito constitucional – Professor Paulo Gustavo – 12.04.13
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de resposta e todo um regime de responsabilidades
civis, penais e administrativas. Direito de resposta e
responsabilidades que, mesmo atuando a posteriori,
infletem sobre as causas para inibir abusos no desfrute
da plenitude de liberdade de imprensa. 5.
PROPORCIONALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA
E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. Sem embargo, a excessividade indenizatória
é, em si mesma, poderoso fator de inibição da liberdade
de imprensa, em violação ao princípio constitucional da
proporcionalidade. A relação de proporcionalidade
entre o dano moral ou material sofrido por alguém e a
indenização que lhe caiba receber (quanto maior o dano
maior a indenização) opera é no âmbito interno da
potencialidade da ofensa e da concreta situação do
ofendido. Nada tendo a ver com essa equação a
circunstância em si da veiculação do agravo por órgão de
imprensa, porque, senão, a liberdade de informação
jornalística deixaria de ser um elemento de expansão e
de robustez da liberdade de pensamento e de expressão
lato sensu para se tornar um fator de contração e de
esqualidez dessa liberdade. Em se tratando de agente
público, ainda que injustamente ofendido em sua honra
e imagem, subjaz à indenização uma imperiosa cláusula
de modicidade. Isto porque todo agente público está
sob permanente vigília da cidadania. E quando o agente
205 TURMA MPF
Aula 005– Direito constitucional – Professor Paulo Gustavo – 12.04.13
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estatal não prima por todas as aparências de legalidade
e legitimidade no seu atuar oficial, atrai contra si mais
fortes suspeitas de um comportamento antijurídico
francamente sindicável pelos cidadãos. 6. RELAÇÃO DE
MÚTUA CAUSALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA
E DEMOCRACIA. A plena liberdade de imprensa é um
patrimônio imaterial que corresponde ao mais
eloquente atestado de evolução político-cultural de
todo um povo. Pelo seu reconhecido condão de vitalizar
por muitos modos a Constituição, tirando-a mais vezes
do papel, a Imprensa passa a manter com a democracia
a mais entranhada relação de mútua dependência ou
retroalimentação. Assim visualizada como verdadeira
irmã siamesa da democracia, a imprensa passa a
desfrutar de uma liberdade de atuação ainda maior que
a liberdade de pensamento, de informação e de
expressão dos indivíduos em si mesmos considerados. O
§ 5º do art. 220 apresenta-se como norma constitucional
de concretização de um pluralismo finalmente
compreendido como fundamento das sociedades
autenticamente democráticas; isto é, o pluralismo como
a virtude democrática da respeitosa convivência dos
contrários. A imprensa livre é, ela mesma, plural, devido
a que são constitucionalmente proibidas a
oligopolização e a monopolização do setor (§ 5º do art.
220 da CF). A proibição do monopólio e do oligopólio
206 TURMA MPF
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como novo e autônomo fator de contenção de abusos
do chamado "poder social da imprensa". 7. RELAÇÃO DE
INERÊNCIA ENTRE PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA
LIVRE. A IMPRENSA COMO INSTÂNCIA NATURAL DE
FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E COMO
ALTERNATIVA À VERSÃO OFICIAL DOS FATOS. O
pensamento crítico é parte integrante da informação
plena e fidedigna. O possível conteúdo socialmente útil
da obra compensa eventuais excessos de estilo e da
própria verve do autor. O exercício concreto da
liberdade de imprensa assegura ao jornalista o direito
de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em
tom áspero ou contundente, especialmente contra as
autoridades e os agentes do Estado. A crítica jornalística,
pela sua relação de inerência com o interesse público,
não é aprioristicamente suscetível de censura, mesmo
que legislativa ou judicialmente intentada. O próprio das
atividades de imprensa é operar como formadora de
opinião pública, espaço natural do pensamento crítico e
"real alternativa à versão oficial dos fatos" ( Deputado
Federal Miro Teixeira). 8. NÚCLEO DURO DA LIBERDADE
DE IMPRENSA E A INTERDIÇÃO PARCIAL DE LEGISLAR. A
uma atividade que já era "livre" (incisos IV e IX do art.
5º), a Constituição Federal acrescentou o qualificativo de
"plena" (§ 1º do art. 220). Liberdade plena que,
repelente de qualquer censura prévia, diz respeito à
207 TURMA MPF
Aula 005– Direito constitucional – Professor Paulo Gustavo – 12.04.13
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essência mesma do jornalismo (o chamado "núcleo
duro" da atividade). Assim entendidas as coordenadas
de tempo e de conteúdo da manifestação do
pensamento, da informação e da criação lato sensu, sem
o que não se tem o desembaraçado trânsito das ideias e
opiniões, tanto quanto da informação e da criação.
Interdição à lei quanto às matérias nuclearmente de
imprensa, retratadas no tempo de início e de duração do
concreto exercício da liberdade, assim como de sua
extensão ou tamanho do seu conteúdo. Tirante,
unicamente, as restrições que a Lei Fundamental de
1988 prevê para o "estado de sítio" (art. 139), o Poder
Público somente pode dispor sobre matérias lateral ou
reflexamente de imprensa, respeitada sempre a ideia-
força de que quem quer que seja tem o direito de dizer o
que quer que seja. Logo, não cabe ao Estado, por
qualquer dos seus órgãos, definir previamente o que
pode ou o que não pode ser dito por indivíduos e
jornalistas. As matérias reflexamente de imprensa,
suscetíveis, portanto, de conformação legislativa, são as
indicadas pela própria Constituição, tais como: direitos
de resposta e de indenização, proporcionais ao agravo;
proteção do sigilo da fonte ("quando necessário ao
exercício profissional"); responsabilidade penal por
calúnia, injúria e difamação; diversões e espetáculos
públicos; estabelecimento dos "meios legais que
208 TURMA MPF
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garantam à pessoa e à família a possibilidade de se
defenderem de programas ou programações de rádio e
televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem
como da propaganda de produtos, práticas e serviços
que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente"
(inciso II do § 3º do art. 220 da CF); independência e
proteção remuneratória dos profissionais de imprensa
como elementos de sua própria qualificação técnica
(inciso XIII do art. 5º); participação do capital
estrangeiro nas empresas de comunicação social (§ 4º
do art. 222 da CF); composição e funcionamento do
Conselho de Comunicação Social (art. 224 da
Constituição). Regulações estatais que, sobretudo
incidindo no plano das consequências ou
responsabilizações, repercutem sobre as causas de
ofensas pessoais para inibir o cometimento dos abusos
de imprensa. Peculiar fórmula constitucional de
proteção de interesses privados em face de eventuais
descomedimentos da imprensa (justa preocupação do
Ministro Gilmar Mendes), mas sem prejuízo da ordem
de precedência a esta conferida, segundo a lógica
elementar de que não é pelo temor do abuso que se vai
coibir o uso. Ou, nas palavras do Ministro Celso de
Mello, "a censura governamental, emanada de qualquer
um dos três Poderes, é a expressão odiosa da face
autoritária do poder público". 9. AUTORREGULAÇÃO E
209 TURMA MPF
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REGULAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE DE IMPRENSA. É da
lógica encampada pela nossa Constituição de 1988 a
autorregulação da imprensa como mecanismo de
permanente ajuste de limites da sua liberdade ao sentir-
pensar da sociedade civil. Os padrões de seletividade do
próprio corpo social operam como antídoto que o tempo
não cessa de aprimorar contra os abusos e desvios
jornalísticos. Do dever de irrestrito apego à completude
e fidedignidade das informações comunicadas ao
público decorre a permanente conciliação entre
liberdade e responsabilidade da imprensa. Repita-se:
não é jamais pelo temor do abuso que se vai proibir o
uso de uma liberdade de informação a que o próprio
Texto Magno do País apôs o rótulo de "plena" (§ 1 do
art. 220). 10. NÃO RECEPÇÃO EM BLOCO DA LEI 5.250
PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. 10.1. Óbice
lógico à confecção de uma lei de imprensa que se orne
de compleição estatutária ou orgânica. A própria
Constituição, quando o quis, convocou o legislador de
segundo escalão para o aporte regratório da parte
restante de seus dispositivos (art. 29, art. 93 e § 5º do
art. 128). São irregulamentáveis os bens de
personalidade que se põem como o próprio conteúdo ou
substrato da liberdade de informação jornalística, por se
tratar de bens jurídicos que têm na própria interdição da
prévia interferência do Estado o seu modo natural, cabal
210 TURMA MPF
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e ininterrupto de incidir. Vontade normativa que, em
tema elementarmente de imprensa, surge e se exaure
no próprio texto da Lei Suprema. 10.2.
Incompatibilidade material insuperável entre a Lei n°
5.250/67 e a Constituição de 1988. Impossibilidade de
conciliação que, sobre ser do tipo material ou de
substância (vertical), contamina toda a Lei de Imprensa:
a) quanto ao seu entrelace de comandos, a serviço da
prestidigitadora lógica de que para cada regra geral
afirmativa da liberdade é aberto um leque de exceções
que praticamente tudo desfaz; b) quanto ao seu
inescondível efeito prático de ir além de um simples
projeto de governo para alcançar a realização de um
projeto de poder, este a se eternizar no tempo e a
sufocar todo pensamento crítico no País. 10.3 São de
todo imprestáveis as tentativas de conciliação
hermenêutica da Lei 5.250/67 com a Constituição, seja
mediante expurgo puro e simples de destacados
dispositivos da lei, seja mediante o emprego dessa
refinada técnica de controle de constitucionalidade que
atende pelo nome de "interpretação conforme a
Constituição". A técnica da interpretação conforme não
pode artificializar ou forçar a descontaminação da parte
restante do diploma legal interpretado, pena de
descabido incursionamento do intérprete em legiferação
por conta própria. Inapartabilidade de conteúdo, de fins
211 TURMA MPF
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e de viés semântico (linhas e entrelinhas) do texto
interpretado. Caso-limite de interpretação
necessariamente conglobante ou por arrastamento
teleológico, a pré-excluir do intérprete/aplicador do
Direito qualquer possibilidade da declaração de
inconstitucionalidade apenas de determinados
dispositivos da lei sindicada, mas permanecendo
incólume uma parte sobejante que já não tem
significado autônomo. Não se muda, a golpes de
interpretação, nem a inextrincabilidade de comandos
nem as finalidades da norma interpretada.
Impossibilidade de se preservar, após artificiosa
hermenêutica de depuração, a coerência ou o equilíbrio
interno de uma lei (a Lei federal nº 5.250/67) que foi
ideologicamente concebida e normativamente
apetrechada para operar em bloco ou como um todo
pro indiviso. 11. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO.
Aplicam-se as normas da legislação comum,
notadamente o Código Civil, o Código Penal, o Código de
Processo Civil e o Código de Processo Penal às causas
decorrentes das relações de imprensa. O direito de
resposta, que se manifesta como ação de replicar ou de
retificar matéria publicada é exercitável por parte
daquele que se vê ofendido em sua honra objetiva, ou
então subjetiva, conforme estampado no inciso V do art.
5º da Constituição Federal. Norma, essa, "de eficácia
212 TURMA MPF
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plena e de aplicabilidade imediata", conforme
classificação de José Afonso da Silva. "Norma de pronta
aplicação", na linguagem de Celso Ribeiro Bastos e
Carlos Ayres Britto, em obra doutrinária conjunta. 12.
PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. Total procedência da ADPF,
para o efeito de declarar como não recepcionado pela
Constituição de 1988 todo o conjunto de dispositivos da
Lei federal nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967.
E qual foi o posicionamento adotado pelo STF? A lei de imprensa não foi
recepcionada, nenhum artigo da lei de imprensa foi recepcionado pela constituição da
república. Isso porque, qual foi a ideia do STF? Na época até o ministro Gilmar chegou
a fazer um voto que foi o mesmo posicionamento adotado pelo então advogado geral
da União, Dias Toffoli, hoje ministro do STF no sentido de que a lei de imprensa não
tinha sido recepcionada exceto um dispositivo, qual seja, o do direito de resposta.
Porém o ministro Carlos Ayres Brito e o restante, boa parte do STF
entendeu que o direito de resposta é auto aplicável, já é uma norma de eficácia plena,
razão pela qual não há necessidade de uma regulamentação para que ele possa ser
aplicado. Se formos analisar temos normas de eficácia aplicada, contida, limitada.
Havia uma ideia de que talvez esse direito de resposta fosse uma norma de
eficácia limitada, um principio institutivo, ou seja, precisasse de uma regulamentação.
Porém o que STF assentou? Não, já é direto, já decorre da própria constituição, não há
necessidade aqui de uma regulamentação para se chegar a esse direito de resposta.
Então nessa ADPF 130 o STF assentou que é uma norma de eficácia plena.
213 TURMA MPF
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Além disso, obviamente aquele que vai fazer uma manifestação de
pensamento vai responder por eventuais danos ocasionados então pode responder e
ter que reparar danos patrimoniais, então vamos imaginar alguém que tenha um
contrato, o contrato é rescindido por causa de uma manifestação de pensamento,
ocasionou um dano para alguém, então aqui é um dano patrimonial.
Pode se ter ainda um dano moral, um dano a imagem, ai já é um ponto que
nós podemos até fazer a diferenciação entre quatro danos, dano patrimonial, dano
moral, dano a imagem e dano estético. Aqui qual a diferença? O dano patrimonial é
aquele dano que você pode converter em pecúnia, você pode dizer exatamente
quanto vale aquele dano patrimonial. Então os danos materiais em regra vão ser danos
patrimoniais os quais devem ser devidamente comprovados, tem que ter uma
comprovação desse dano patrimonial, ou seja, alguém bate no seu carro, você teve ali,
amassou o para-choque, você teve que utilizar taxi, então tudo isso pode
perfeitamente ser contabilizado, e tem que ser demonstrado, você não pode
pressupor que simplesmente porque bateram no seu carro houve a utilização de taxi.
Então vou ter que ter a nota, tem que ter a comprovação do dano patrimonial.
Já o dano moral até tem um julgamento interessante sobre dano moral foi
o primeiro julgado do STF, foi o primeiro julgado que o STF decidiu sobre dano moral
foi o recurso extraordinário 172 720 e o que o STF assentou quanto a esse dano moral?
INDENIZAÇÃO - DANO MORAL - EXTRAVIO DE MALA EM
VIAGEM AÉREA - CONVENÇÃO DE VARSÓVIA -
OBSERVAÇÃO MITIGADA - CONSTITUIÇÃO FEDERAL -
SUPREMACIA. O fato de a Convenção de Varsóvia
revelar, como regra, a indenização tarifada por danos
materiais não exclui a relativa aos danos morais.
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Configurados esses pelo sentimento de desconforto, de
constrangimento, aborrecimento e humilhação
decorrentes do extravio de mala, cumpre observar a
Carta Política da República - incisos V e X do artigo 5º,
no que se sobrepõe a tratados e convenções ratificados
pelo Brasil.
Falou que todo aquele infortúnio que afeta o direito a personalidade e que
você não consegue converter em pecúnia é dano moral, ou seja, é algo que é intimo, é
algo que a pessoa não consegue dizer quanto vale. Se vocês forem ver, o caso concreto
foi até interessante, que foi a pessoa viajou daqui para o exterior, foi passar 15 dias na
Europa, e quando voltou, aliás, quando foi a mala tinha sido extraviada, a mala foi
extraviada no 1º dia. No 14º dia devolveram a mala, parece até aquele filme entrando
em uma fria, não sei se alguém assistiu, mas foi do 1º ao 15º dia, no 14º dia devolve a
mala para pessoa.
O individuo quando chegou aqui no Brasil ingressou com uma ação
pedindo danos morais e na época o tribunal, o tribunal de justiça do Rio de Janeiro
assentou que não era dano moral, mas sim um mero aborrecimento do dia a dia, um
mero aborrecimento do cotidiano.
Diante disso o que nós tivemos ao final? O STF assentou que não era dano
moral porque o dano moral é tudo aquilo que você não consegue converter em
pecúnia e afeta direitos relacionados a personalidade.Então tudo aquilo que você não
consegue dizer quanto vale , quanto vale você ficar 14 dias sem mala, em um local
estranho, no estrangeiro?Isso ai não tem preço, então nesse caso você teve um dano
moral, e o STF até assentou e hoje o STJ reproduz muito isso, a justiça em geral que o
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dano moral ele tem que ser colocado como duas balizas, quais sejam a indenização por
dano moral ela tem que ser grande o suficiente a ponto de inibir a prática de um ato
ilícito, mas ela também não pode ocasionar enriquecimento sem causa, então são as
duas balizas.
Porque tem que ser grande o suficiente a ponto de inibir a prática de um
ato ilícito? Porque senão muitas vezes a empresa e hoje cada vez mais temos a ideia
de uma análise econômica do direito e isso acaba sendo verdadeiro, vamos imaginar
uma empresa quer lucro. Se a empresa quer lucro, vou colocar um exemplo hipotético,
vamos supor o overbooking, se o overbooking da 10 mil de lucro para a empresa e as
indenizações que ela vai ter que pagar em média dão 5 mil é claro que a empresa vai
continuar praticando o overbooking , sabendo que não vai ganhar 10 mil de lucro, mas
sim 5 mil com essa prática ilícita.
Então qual a consequência? Essa indenização por dano moral por ser muito
baixa ela não vai elidir o ato ilícito, por isso ela tem que ser grande o suficiente a ponto
de elidir o ato ilícito, ou seja, não valer apenas para empresa continuar fazendo aquela
prática. Mas também não pode ser um motivo de enriquecimento sem causa. Então
vamos ter aqui essa ideia do dano moral.
Nós já vimos dano patrimonial, dano moral, dano a imagem. O que vem a
ser o dano a imagem? É o dano que reflete no que as outras pessoas pensam de você.
Nós temos aqui a imagem de cada um e há pessoas que trabalham inclusive com a
imagem, então político, professor, todos eles tem uma imagem, o ator, todos eles tem
uma imagem e se essa imagem for arranhada acaba que isso vai gerar um dano.
Vamos imaginar Brasil, se um político aqui no Brasil se vê envolvido
equivocamente com um escândalo de corrupção, ele nunca mais vai ser eleito, ou pelo
menos supostamente não seria novamente eleito, então isso acarreta um dano a
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imagem dele, ou seja, enquanto o dano moral é no intimo da pessoa, o dano a imagem
é o que os outros pensam daquele individuo.
E o dano estético é o que os outros veem naquele individuo, ou seja,
muitas vezes você vai ter dano estético, ou seja, o rosto fica danificado por algum ato,
então isso gera um dano estético que podem ser cumulados, dano moral, patrimonial,
dano a imagem e o dano estético.
Teve até um julgamento recente do STJ do ano passado em que o STJ ele
reafirmou essa ideia de que o dano estético e o dano moral podem perfeitamente
serem aplicados cumulativamente, até porque o dano moral ele se refere ao intimo da
pessoa. Então vamos imaginar alguém que tinha sido até o caso, alguém que tinha
recebido um corte no rosto, e ai toda vez ao ver aquilo ali, ao sentir ele tinha um
sentimento intimo que lhe causava um desconforto, aquilo era um dano moral. Além
disso, o que os outros viam daquela pessoa acabava ocasionando o dano estético, a
necessidade de reparação do dano estético.
Outro ponto que temos que ver diz respeito a inviolabilidade domiciliar , na
verdade até nesse momento vamos entrar na questão do direito a intimidade, ou seja,
direito que nós temos de simplesmente não saberem nossas coisas pessoas, invadirem
a nossa intimidade.
A primeira garantia que vamos ver quanto ao direito a intimidade é a
inviolabilidade domiciliar que está no inciso XI do art. 5º da constituição e fala o
seguinte:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
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direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;
Então temos que ver cada um desses elementos, ou seja, temos que ver
primeiro: A casa é asilo inviolável do individuo. Qual o conceito de casa que nós
utilizamos?Aqui o próprio STF ele utiliza um conceito de casa mais amplo do que a
moradia, do que o local onde nós residimos. O conceito de casa aqui é todo local
imóvel ou imobilizado, porque já houve casos até de um carro que não funcionava e
que um morador de rua utilizava para dormir, utilizava como sua morada, foi
considerado também dentro do conceito de casa.
Então todo local imóvel ou imobilizado de acesso restrito ao público, por
isso que escritório de advocacia, consultório médico, todo local em que a pessoa
guarda a sua intimidade, ela vai estar dentro desse conceito de casa. E pode ser local
de trabalho, não necessariamente o local de trabalho será uma casa, estará dentro do
conceito de casa, mas sim aquele local onde a pessoa guarda a intimidade. Eu posso
até citar o exemplo da sala de aula, uma sala de aula, a pessoa guarda intimidade na
sala de aula, seja o professor ou aluno? Não. Mas é um local de trabalho? É. Mas não
está dentro do conceito de casa, porque segundo o STF a ideia da inviolabilidade
218 TURMA MPF
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domiciliar é justamente preservar a intimidade, o inciso XI, XII do art. 5º estão
relacionados ao inciso X que trata do direito a intimidade.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal;
(Vide Lei nº 9.296, de 1996)
219 TURMA MPF
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Então por conta disso haverá um alargamento no conceito de casa, não é
somente o local onde você reside, não é somente o local onde você mora, mas
também o local onde você guarde a sua intimidade.
Então a casa é asilo inviolável do individuo ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo e ai vem às hipóteses em que há possibilidade.
E quais são as hipóteses? Primeiro em flagrante, no caso de desastre, para prestar
socorro. E aqui no caso de flagrante é qualquer tipo de flagrante, defensoria pública
muitas vezes tem questionado o flagrante impróprio ou flagrante presumido, mas aqui
o que a constituição fala é que o flagrante acarreta a possibilidade de ingressar na
casa.
Para prestar socorro, no caso de desastre. Obviamente nesses casos
precisa ser na sua casa?Não, é uma questão que é de urgência, então pode ser durante
o dia ou durante a noite, tanto faz, pode ser em qualquer horário, mas também não
precisa ser dentro da sua casa, dentro da casa daquele individuo , é em qualquer casa.
Vamos imaginar isso aconteceu até uma hipótese aqui um caso até
interessante que foi quando um avião da TAM caiu lá em SP, no aeroporto de
Congonhas destruiu um prédio da frente da TAM também e o que aconteceu? Naquele
momento, foi um desastre e entraram nas casas que circundava para dar um rescaldo,
os bombeiros tiveram que entrar, e descobriram até uma casa de tolerância ali e
prenderam em flagrante o dono da casa de tolerância.
Podiam entrar dentro daquela casa? Poderiam o desastre não foi naquela
casa, mas nada impede de ingressar na casa por conta do desastre, para prestar
socorro a mesma coisa. Se for em um caso de flagrante, então vamos imaginar alguém
comete um crime e na fuga ingressa na casa de uma outra pessoa , você pode entrar
na casa dessa pessoa para prender em flagrante aquele individuo.Então essas questões
220 TURMA MPF
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são questões de urgência que não podem esperar, então pode ser durante o dia ou
durante a noite.
Pode ainda ingressar por determinação judicial, mas aqui somente durante
o dia até porque a questão não é urgente, ou seja, aqui o que a constituição fala?Pode
ingressar no caso de flagrante, para prestar socorro ou durante o dia por determinação
judicial. Se for determinação judicial é só durante o dia, mas aqui a gente tem que ver
o conceito de determinação judicial é uma cláusula de reserva de jurisdição, o conceito
aqui é somente o juiz em sentido estrito, somente o juiz pode determinar, não pode,
por exemplo, uma CPI determinar uma busca e apreensão domiciliar, e ai até tem um
julgado do STF da relatoria do ministro Celso de Melo que foi o MS 23452 que é um
julgado até bem interessante que trata dos poderes de CPI de modo geral e dentre
eles tratou da impossibilidade de uma CPI determinar busca e apreensão domiciliar,
até busca e apreensão CPI pode até determinar, tem alguns julgados, alguns HCS do
STF que o STF assentou que pode determinar busca e apreensão, o que não pode é
busca e apreensão domiciliar justamente por ser uma cláusula de reserva de jurisdição,
uma cláusula em que somente o juiz pode determinar a busca e apreensão domiciliar.
E M E N T A: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO -
PODERES DE INVESTIGAÇÃO (CF, ART. 58, §3º) -
LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS -LEGITIMIDADE DO
CONTROLE JURISDICIONAL - POSSIBILIDADE DE A CPI
ORDENAR, POR AUTORIDADE PRÓPRIA, A QUEBRA DOS
SIGILOS BANCÁRIO, FISCAL E TELEFÔNICO -
NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DO ATO
DELIBERATIVO - DELIBERAÇÃO DA CPI QUE, SEM
FUNDAMENTAÇÃO, ORDENOU MEDIDAS DE RESTRIÇÃO
221 TURMA MPF
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A DIREITOS - MANDADO DE SEGURANÇA DEFERIDO.
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO -
COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL.- Compete ao Supremo Tribunal Federal
processar e julgar, em sede originária, mandados de
segurança e habeas corpus impetrados contra
Comissões Parlamentares de Inquérito constituídas no
âmbito do Congresso Nacional ou no de qualquer de
suas Casas. É que a Comissão Parlamentar de Inquérito,
enquanto projeção orgânica do Poder Legislativo da
União, nada mais é senão a longa manus do próprio
Congresso Nacional ou das Casas que o compõem,
sujeitando-se, em consequência, em tema de mandado
de segurança ou de habeas corpus, ao controle
jurisdicional originário do Supremo Tribunal Federal (CF,
art. 102, I, "d" e "i"). Precedentes. O CONTROLE
JURISDICIONAL DE ABUSOS PRATICADOS POR
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO NÃO OFENDE
O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES.- A essência
do postulado da divisão funcional do poder, além de
derivar da necessidade de conter os excessos dos órgãos
que compõem o aparelho de Estado, representa o
princípio conservador das liberdades do cidadão e
constitui o meio mais adequado para tornar efetivos e
reais os direitos e garantias proclamados pela
Constituição. Esse princípio, que tem assento no art. 2º
222 TURMA MPF
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da Carta Política, não pode constituir e nem qualificar-se
como um inaceitável manto protetor de
comportamentos abusivos e arbitrários, por parte de
qualquer agente do Poder Público ou de qualquer
instituição estatal.- O Poder Judiciário, quando intervém
para assegurar as franquias constitucionais e para
garantir a integridade e a supremacia da Constituição,
desempenha, de maneira plenamente legítima, as
atribuições que lhe conferiu a própria Carta da
República. O regular exercício da função jurisdicional,
por isso mesmo, desde que pautado pelo respeito à
Constituição, não transgride o princípio da separação de
poderes. Desse modo, não se revela lícito afirmar, na
hipótese de desvios jurídico-constitucionais nas quais
incida uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que o
exercício da atividade de controle jurisdicional possa
traduzir situação de ilegítima interferência na esfera de
outro Poder da República. O CONTROLE DO PODER
CONSTITUI UMA EXIGÊNCIA DE ORDEM POLÍTICO-
JURÍDICA ESSENCIAL AO REGIME DEMOCRÁTICO.- O
sistema constitucional brasileiro, ao consagrar o
princípio da limitação de poderes, teve por objetivo
instituir modelo destinado a impedir a formação de
instâncias hegemônicas de poder no âmbito do Estado,
em ordem a neutralizar, no plano político-jurídico, a
possibilidade de dominação institucional de qualquer
223 TURMA MPF
Aula 005– Direito constitucional – Professor Paulo Gustavo – 12.04.13
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dos Poderes da República sobre os demais órgãos da
soberania nacional. Com a finalidade de obstar que o
exercício abusivo das prerrogativas estatais possa
conduzir a práticas que transgridam o regime das
liberdades públicas e que sufoquem, pela opressão do
poder, os direitos e garantias individuais, atribuiu-se, ao
Poder Judiciário, a função eminente de controlar os
excessos cometidos por qualquer das esferas
governamentais, inclusive aqueles praticados por
Comissão Parlamentar de Inquérito, quando incidir em
abuso de poder ou em desvios inconstitucionais, no
desempenho de sua competência investigatória. OS
PODERES DAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE
INQUÉRITO, EMBORA AMPLOS, NÃO SÃO ILIMITADOS E
NEM ABSOLUTOS.- Nenhum dos Poderes da República
está acima da Constituição. No regime político que
consagra o Estado democrático de direito, os atos
emanados de qualquer Comissão Parlamentar de
Inquérito, quando praticados com desrespeito à Lei
Fundamental, submetem-se ao controle jurisdicional
(CF, art. 5º, XXXV). As Comissões Parlamentares de
Inquérito não têm mais poderes do que aqueles que lhes
são outorgados pela Constituição e pelas leis da
República. É essencial reconhecer que os poderes das
Comissões Parlamentares de Inquérito - precisamente
porque não são absolutos -sofrem as restrições impostas
224 TURMA MPF
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pela Constituição da República e encontram limite nos
direitos fundamentais do cidadão, que só podem ser
afetados nas hipóteses e na forma que a Carta Política
estabelecer. Doutrina. Precedentes. LIMITAÇÕES AOS
PODERES INVESTIGATÓRIOS DA COMISSÃO
PARLAMENTAR DE INQUÉRITO.- A Constituição da
República, ao outorgar às Comissões Parlamentares de
Inquérito "poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais" (art. 58, § 3º), claramente
delimitou a natureza de suas atribuições institucionais,
restringindo-as, unicamente, ao campo da indagação
probatória, com absoluta exclusão de quaisquer outras
prerrogativas que se incluem, ordinariamente, na esfera
de competência dos magistrados e Tribunais, inclusive
aquelas que decorrem do poder geral de cautela
conferido aos juízes, como o poder de decretar a
indisponibilidade dos bens pertencentes a pessoas
sujeitas à investigação parlamentar. A circunstância de
os poderes investigatórios de uma CPI serem
essencialmente limitados levou a jurisprudência
constitucional do Supremo Tribunal Federal a advertir
que as Comissões Parlamentares de Inquérito não
podem formular acusações e nem punir delitos (RDA
199/205, Rel. Min. PAULO BROSSARD), nem
desrespeitar o privilégio contra a auto-incriminação que
assiste a qualquer indiciado ou testemunha (RDA
225 TURMA MPF
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196/197, Rel. Min. CELSO DE MELLO -HC 79.244-DF, Rel.
Min. SEPÚLVEDA PERTENCE), nem decretar a prisão de
qualquer pessoa, exceto nas hipóteses de flagrância
(RDA 196/195, Rel. Min. CELSO DE MELLO - RDA
199/205, Rel. Min. PAULO BROSSARD). OS DIREITOS E
GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO TÊM CARÁTER
ABSOLUTO. Não há, no sistema constitucional brasileiro,
direitos ou garantias que se revistam de caráter
absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse
público ou exigências derivadas do princípio de
convivência das liberdades legitimam, ainda que
excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos
estatais, de medidas restritivas das prerrogativas
individuais ou coletivas, desde que respeitados os
termos estabelecidos pela própria Constituição. O
estatuto constitucional das liberdades públicas, ao
delinear o regime jurídico a que estas estão sujeitas - e
considerado o substrato ético que as informa - permite
que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica,
destinadas, de um lado, a proteger a integridade do
interesse social e, de outro, a assegurar a coexistência
harmoniosa das liberdades, pois nenhum direito ou
garantia pode ser exercido em detrimento da ordem
pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de
terceiros. A QUEBRA DO SIGILO CONSTITUI PODER
INERENTE À COMPETÊNCIA INVESTIGATÓRIA DAS
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COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO.- O sigilo
bancário, o sigilo fiscal e o sigilo telefônico (sigilo este
que incide sobre os dados/registros telefônicos e que
não se identifica com a inviolabilidade das comunicações
telefônicas) - ainda que representem projeções
específicas do direito à intimidade, fundado no art. 5º,
X, da Carta Política - não se revelam oponíveis, em nosso
sistema jurídico, às Comissões Parlamentares de
Inquérito, eis que o ato que lhes decreta a quebra traduz
natural derivação dos poderes de investigação que
foram conferidos, pela própria Constituição da
República, aos órgãos de investigação parlamentar. As
Comissões Parlamentares de Inquérito, no entanto, para
decretarem, legitimamente, por autoridade própria, a
quebra do sigilo bancário, do sigilo fiscal e/ou do sigilo
telefônico, relativamente a pessoas por elas
investigadas, devem demonstrar, a partir de meros
indícios, a existência concreta de causa provável que
legitime a medida excepcional (ruptura da esfera de
intimidade de quem se acha sob investigação),
justificando a necessidade de sua efetivação no
procedimento de ampla investigação dos fatos
determinados que deram causa à instauração do
inquérito parlamentar, sem prejuízo de ulterior controle
jurisdicional dos atos em referência (CF, art. 5º, XXXV).-
As deliberações de qualquer Comissão Parlamentar de
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Inquérito, à semelhança do que também ocorre com as
decisões judiciais (RTJ 140/514), quando destituídas de
motivação, mostram-se írritas e despojadas de eficácia
jurídica, pois nenhuma medida restritiva de direitos
pode ser adotada pelo Poder Público, sem que o ato que
a decreta seja adequadamente fundamentado pela
autoridade estatal.- O caráter privilegiado das relações
Advogado-cliente: a questão do sigilo profissional do
Advogado, enquanto depositário de informações
confidenciais resultantes de suas relações com o cliente.
MOTIVAÇÃO PER RELATIONEM CONSTANTE DA
DELIBERAÇÃO EMANADA DA COMISSÃO PARLAMENTAR
DE INQUÉRITO. Tratando-se de motivação per
relationem, impõe-se à Comissão Parlamentar de
Inquérito - quando esta faz remissão a elementos de
fundamentação existentes aliunde ou constantes de
outra peça - demonstrar a efetiva existência do
documento consubstanciador da exposição das razões
de fato e de direito que justificariam o ato decisório
praticado, em ordem a propiciar, não apenas o
conhecimento do que se contém no relato expositivo,
mas, sobretudo, para viabilizar o controle jurisdicional
da decisão adotada pela CPI. É que tais fundamentos -
considerada a remissão a eles feita - passam a
incorporar-se ao próprio ato decisório ou deliberativo
que a eles se reportou. Não se revela viável indicar, a
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posteriori, já no âmbito do processo de mandado de
segurança, as razões que deveriam ter sido expostas por
ocasião da deliberação tomada pela Comissão
Parlamentar de Inquérito, pois a existência
contemporânea da motivação - e não a sua justificação
tardia - constitui pressuposto de legitimação da própria
resolução adotada pelo órgão de investigação
legislativa, especialmente quando esse ato deliberativo
implicar ruptura da cláusula de reserva pertinente a
dados sigilosos. A QUESTÃO DA DIVULGAÇÃO DOS
DADOS RESERVADOS E O DEVER DE PRESERVAÇÃO DOS
REGISTROS SIGILOSOS.- A Comissão Parlamentar de
Inquérito, embora disponha, ex propria auctoritate, de
competência para ter acesso a dados reservados, não
pode, agindo arbitrariamente, conferir indevida
publicidade a registros sobre os quais incide a cláusula
de reserva derivada do sigilo bancário, do sigilo fiscal e
do sigilo telefônico. Com a transmissão das informações
pertinentes aos dados reservados, transmite-se à
Comissão Parlamentar de Inquérito -enquanto
depositária desses elementos informativos -, a nota de
confidencialidade relativa aos registros sigilosos.
Constitui conduta altamente censurável - com todas as
conseqüências jurídicas (inclusive aquelas de ordem
penal) que dela possam resultar - a transgressão, por
qualquer membro de uma Comissão Parlamentar de
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Inquérito, do dever jurídico de respeitar e de preservar o
sigilo concernente aos dados a ela transmitidos.
Havendo justa causa - e achando-se configurada a
necessidade de revelar os dados sigilosos, seja no
relatório final dos trabalhos da Comissão Parlamentar
de Inquérito (como razão justificadora da adoção de
medidas a serem implementadas pelo Poder Público),
seja para efeito das comunicações destinadas ao
Ministério Público ou a outros órgãos do Poder Público,
para os fins a que se refere o art. 58, § 3º, da
Constituição, seja, ainda, por razões imperiosas ditadas
pelo interesse social - a divulgação do segredo,
precisamente porque legitimada pelos fins que a
motivaram, não configurará situação de ilicitude, muito
embora traduza providência revestida de absoluto grau
de excepcionalidade. POSTULADO CONSTITUCIONAL DA
RESERVA DE JURISDIÇÃO: UM TEMA AINDA PENDENTE
DE DEFINIÇÃO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. O
postulado da reserva constitucional de jurisdição
importa em submeter, à esfera única de decisão dos
magistrados, a prática de determinados atos cuja
realização, por efeito de explícita determinação
constante do próprio texto da Carta Política, somente
pode emanar do juiz, e não de terceiros, inclusive
daqueles a quem se haja eventualmente atribuído o
exercício de "poderes de investigação próprios das
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autoridades judiciais". A cláusula constitucional da
reserva de jurisdição - que incide sobre determinadas
matérias, como a busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), a
interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e a decretação
da prisão de qualquer pessoa, ressalvada a hipótese de
flagrância (CF, art. 5º, LXI) - traduz a noção de que,
nesses temas específicos, assiste ao Poder Judiciário,
não apenas o direito de proferir a última palavra, mas,
sobretudo, a prerrogativa de dizer, desde logo, a
primeira palavra, excluindo-se, desse modo, por força e
autoridade do que dispõe a própria Constituição, a
possibilidade do exercício de iguais atribuições, por
parte de quaisquer outros órgãos ou autoridades do
Estado. Doutrina.- O princípio constitucional da reserva
de jurisdição, embora reconhecido por cinco (5) Juízes
do Supremo Tribunal Federal- Min. CELSO DE MELLO
(Relator), Min. MARCO AURÉLIO, Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, Min. NÉRI DA SILVEIRA e Min. CARLOS
VELLOSO (Presidente) -não foi objeto de consideração
por parte dos demais eminentes Ministros do Supremo
Tribunal Federal, que entenderam suficiente, para efeito
de concessão do writ mandamental, a falta de
motivação do ato impugnado.
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Além disso, essa determinação judicial só pode ser cumprida durante o dia,
e o conceito do dia na jurisprudência mudou. Antigamente a jurisprudência do STF era
até poética, dizia que o conceito de dia ia da aurora ao crepúsculo, ou seja, do nascer
ao por do sol, esse era o conceito de dia, nasceu o sol está dia, um conceito
naturalístico, acabou o sol, entrou o crepúsculo já não está mais dia, mas sim noite.
Porém em um país continental como é o Brasil isso acaba sendo de certa
forma complicado isso porque se formos ao nordeste , Natal, Recife vai ver que 4:30 , 5
horas da manhã já nasceu o sol e obviamente não seria razoável que alguém sofresse
uma busca e apreensão domiciliar 4:30, 5 horas da manhã, até porque o objetivo do
constituinte aqui foi estabelecer ser durante o dia para garantir o repouso noturno,
garantir que a noite, como a questão não é urgente, a noite a pessoa não iria ingressar
na casa de outra pessoa, ou seja, policia não poderia ingressar na casa da pessoa, a
não ser que fosse uma questão urgente, flagrante, caso de desastre , para prestar
socorro, mas por determinação judicial pode perfeitamente se aguardar o dia seguinte.
Então a ideia central é garantir o repouso noturno por isso que até a
jurisprudência do STF ela evoluiu e hoje coloca o horário inicial as 6 horas, de 6 ás 18
horas,obviamente se não terminar as 18 pode continuar o trabalho? Pode, sem
maiores problemas. Aqui é para iniciar e é claro para terminar ai entra uma questão de
proporcionalidade, qual seja, você começou o trabalho faltando um minuto para as 18
horas acaba sendo complicado você permitir que isso vá até 11 horas da noite. Agora
se começar no inicio da tarde ou pela manhã e avançar até uma hora mais adiantada
não há maiores problemas de acordo com STF.
Há ainda um julgado do STF bem interessante que foi o inquérito 2424 da
relatoria do ministro César Peluso o caso foi a instalação de uma escuta ambiental em
um escritório de advocacia no período noturno, ou seja, houve uma escuta ambiental
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se vocês forem ver, é possível uma escuta ambiental? Quando que a escuta ambiental
é lícita e quando é ilícita? Quando que há necessidade de uma autorização judicial?
Quando aquilo não for disponibilizado para a pessoa, ou seja, se A está
conversando com B e B está gravando, não há qualquer ilicitude nessa escuta
ambiental. Agora se A está conversando com B e uma terceira pessoa está gravando e
não está sendo disponibilizado precisaria de uma autorização judicial.
E nesse caso teve autorização judicial, foi dentro de um escritório de
advocacia em uma dessas operações da policia federal só que a instalação foi a noite, e
o STF considerou como constitucional. O STF por maioria, nesse caso foi até uma das
hipóteses que o ministro Celso de Melo foi vencido, mas o STF assentou ser
constitucional a prova ser licita, justamente por quê? Qual a ideia de ser durante o dia?
É garantir o repouso noturno, é garantir que haja um repouso noturno,
consequentemente se é garantir que haja o repouso noturno e está dentro de um
escritório de advocacia, ninguém presumidamente dorme em um escritório de
advocacia, além disso, no caso do inquérito 2424 é escuta ambiental e nesse caso o
tipo de prova, é uma prova que ninguém pode saber e o escritório de advocacia
funcionava até tarde, ou seja, o dia inteiro ele funcionava, avançava pela noite, qual foi
a consequência?
Somente se poderia chegar a essa prova, se fazer essa prova se a escuta
fosse implantada durante a noite, então por conta disso o STF considerou
constitucional, ou seja, não atrapalhou o repouso noturno que é a grande motivação
da mesma forma a gente pode até fazer um paralelo, da mesma forma que o STF
alargou o conceito de casa para permitir que escritório de advocacia esteja dentro do
conceito de casa, da mesma forma, claro MUTATIS MUTANDIS aqui nós vamos ter que
tem que ser durante a noite para garantir o repouso noturno. Se a pessoa, se não há
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quem durma e mais ainda a prova, ninguém poderia saber daquele tipo de prova até
porque se você sabe que está tendo escuta ambiental e pratica um crime, você não vai
falar nada que lhe possa incriminar. E, além disso, não tinha outra possibilidade a não
ser que fosse instalada a noite.
Com base nesses três fundamentos o ministro Peluso e a maior parte do
STF, foi por maioria no inquérito 2424 assentou que é no caso foi constitucional aquela
prova que tinha sido obtida a partir de uma gravação ambiental que tinha sido
instalada no período noturno, ou seja, sem respeitar a ideia de que o ingresso teria
que ser durante o dia.
EMENTA: PROVA EMPRESTADA. Penal. Interceptação
telefônica. Escuta ambiental. Autorização judicial e
produção para fim de investigação criminal. Suspeita de
delitos cometidos por autoridades e agentes públicos.
Dados obtidos em inquérito policial. Uso em
procedimento administrativo disciplinar, contra outros
servidores, cujos eventuais ilícitos administrativos
teriam despontado à colheira dessa prova.
Admissibilidade. Resposta afirmativa a questão de
ordem. Inteligência do art. 5º, inc. XII, da CF, e do art. 1º
da Lei federal nº 9.296/96. Precedente. Voto vencido.
Dados obtidos em interceptação de comunicações
telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente
autorizadas para produção de prova em investigação
criminal ou em instrução processual penal, podem ser
usados em procedimento administrativo disciplinar,
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contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às
quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos
supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa
prova.
Então nós temos aqui com relação a esse conceito de casa , esse dispositivo
vamos ter alguns elementos que nós já falamos, é o conceito de casa que foi alargado,
segundo as hipóteses que pode ser de dia e de noite, em terceiro lugar, a questão
relativa ao conceito de determinação judicial, que é causa de reserva de jurisdição que
é o caso do MS 23452 e por último a questão do dia, o que vem a ser dia , e mais ainda
a flexibilização desse conceito a partir do inquérito a partir do inquérito 2424 da
relatoria do ministro Peluso.
Eu agradeço a atenção de todos e na próxima reunião vamos ver, vamos
começar pelo sigilo de correspondência, das comunicações telefônicas, muito
obrigado.