conspiração na história - exemplos do antigo testamento - orlando fedeli

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A Cidade do Homem contra a Cidade de Deus - As Revoluçõesda Modernidade Orlando Fedeli I - A SOCIEDADE EM GERAL E A SOCIEDADE MEDIEVAL II - CAUSAS RELIGIOSAS E FILOSÓFICAS DA REFORMA E DO RENASCIMENTO III - AS TRÊS REVOLUÇÕES DESTRUIDORAS DA SOCIEDADE MEDIEVAL 1 a Revolução: A Reforma e o Renascimento (1517) 2 a Revolução: A Revolução Francesa de 1789 3 a Revolução: Revolução Russa de 1917 IV - ENSINAMENTO DE PIO XII SOBRE AS TRÊS REVOLUÇÕES V - FORMAS DE GOVERNO INSTITUÍDAS EM CADA REVOLUÇÃO VI - AS TRÊS REVOLUÇÕES NA FILOSOFIA 1 a Revolução na Filosofia: o Cartesianismo 2 a Revolução na Filosofia: o Idealismo alemão 3 a Revolução na Filosofia: o Marxismo ou Materialismo Histórico VII - AS TRÊS REVOLUÇÕES NA ARTE 1 a Revolução na Arte: o Renascimento 2 a Revolução na Arte: o Romantismo 3 a Revolução na Arte: a Arte Moderna, negação da própria beleza VIII - AS TRÊS REVOLUÇÕES NA ECONOMIA 1 a Revolução na Economia: o Mercantilismo 2 a Revolução na Economia: o Capitalismo 3 a Revolução na Economia: o Socialismo e o Comunismo O apogeu da Cidade de Deus na História realizou-se na Cristandade medieval, durante o século XIII. Foi o tempo das Catedrais, do Feudalismo, das Universidades. Foi o tempo das Cruzadas e da Cavalaria. Foi o tempo em que São Tomás e São Boaventura ensinavam na Sorbonne. Foi o tempo da Suma Teológica. Foi o tempo dos grandes santos, tais como São Francisco e São Domingos. Não foi, porém, um período sem males. Foi a época de Frederico II, dos hereges cátaros, dos hereges Espirituais Franciscanos, dos Fraticelli e da irrupção do milenarismo joaquimita. Foi a época de Dante e de seus Fedeli d’Amore. Como foi o tempo da edição do Roman de la Rose, livro imoralíssimo — o mais lido da Idade Média — e que dava um programa para destruir a Igreja, defendendo as mais escandalosas teses heréticas que acabaram triunfando na Modernidade. Neste trabalho, pretendemos dar uma visão de conjunto das Revoluções que destruíram a sociedade medieval, procurando instituir uma sociedade igualitária em lugar da sociedade hierárquica que a Igreja estabelecera na Cristandade medieval. Muitos autores descreveram as linhas gerais dessas revoluções. Não é, pois, uma tese nova que vamos demonstrar. Leão XIII tratou, em parte, dessa visão histórica na encíclica Parvenu. Monsenhor Gaume foi outro autor que tratou da Revolução com competência, mostrando como ela foi a colocação do Homem no lugar de Deus. Plínio Corrêa de Oliveira deu-nos a exposição das Três Revoluções em aulas, que assistimos como alunos dele, na PUC em 1952, tema do qual ele voltou a tratar no opúsculo Revolução e Contra Revolução. Não negamos, como é de justiça, que foi ele quem nos abriu, pela primeira vez, essa perspectiva Copyright © 1999-2011 - Associação Cultural Montfort - http://www.montfort.org.br/ Pág. 1/21

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  • A Cidade do Homem contra a Cidade de Deus - As RevoluesdaModernidade

    Orlando FedeliI - A SOCIEDADE EM GERAL E A SOCIEDADE MEDIEVAL II - CAUSAS RELIGIOSAS E FILOSFICAS DA REFORMA E DO RENASCIMENTO III - AS TRS REVOLUES DESTRUIDORAS DA SOCIEDADE MEDIEVAL 1a

    Revoluo: A Reforma e o Renascimento (1517) 2a Revoluo: A Revoluo Francesa de 1789 3a Revoluo: Revoluo Russa de 1917 IV - ENSINAMENTO DE PIO XII SOBRE AS TRS REVOLUES V - FORMAS DE GOVERNO INSTITUDAS EM CADA REVOLUO VI - AS TRS REVOLUES NA FILOSOFIA 1a Revoluo na Filosofia: o Cartesianismo 2a Revoluo na Filosofia: o Idealismo alemo 3a Revoluo na Filosofia: o Marxismo ou Materialismo Histrico VII - AS TRS REVOLUES NA ARTE 1a Revoluo na Arte: o Renascimento 2a Revoluo na Arte: o Romantismo 3a Revoluo na Arte: a Arte Moderna, negao da prpria beleza VIII - AS TRS REVOLUES NA ECONOMIA 1a Revoluo na Economia: o Mercantilismo 2a Revoluo na Economia: o Capitalismo 3a Revoluo na Economia: o Socialismo e o Comunismo

    O apogeu da Cidade de Deus na Histria realizou-se na Cristandade medieval, durante o sculoXIII. Foi o tempo das Catedrais, do Feudalismo, das Universidades. Foi o tempo das Cruzadas e daCavalaria. Foi o tempo em que So Toms e So Boaventura ensinavam na Sorbonne. Foi o tempo daSuma Teolgica. Foi o tempo dos grandes santos, tais como So Francisco e So Domingos. No foi, porm, um perodo sem males. Foi a poca de Frederico II, dos hereges ctaros, doshereges Espirituais Franciscanos, dos Fraticelli e da irrupo do milenarismo joaquimita. Foi a pocade Dante e de seus Fedeli dAmore. Como foi o tempo da edio do Roman de la Rose, livro imoralssimo o mais lido da Idade Mdia e que dava um programa para destruir a Igreja, defendendo as maisescandalosas teses herticas que acabaram triunfando na Modernidade. Neste trabalho, pretendemos dar uma viso de conjunto das Revolues que destruram a sociedademedieval, procurando instituir uma sociedade igualitria em lugar da sociedade hierrquica que a Igrejaestabelecera na Cristandade medieval. Muitos autores descreveram as linhas gerais dessas revolues. No , pois, uma tese nova que vamosdemonstrar. Leo XIII tratou, em parte, dessa viso histrica na encclica Parvenu. Monsenhor Gaume foioutro autor que tratou da Revoluo com competncia, mostrando como ela foi a colocao do Homem nolugar de Deus. Plnio Corra de Oliveira deu-nos a exposio das Trs Revolues em aulas, queassistimos como alunos dele, na PUC em 1952, tema do qual ele voltou a tratar no opsculo Revoluo eContra Revoluo. No negamos, como de justia, que foi ele quem nos abriu, pela primeira vez, essa perspectiva

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  • histrica. Deus o pague por isso. Porm de justia tambm que diga que ele nos deu a exposio apenasdas Trs Revolues, mas sem nunca tratar da ao da Gnose e do Pantesmo nessas Revolues. Todo oresto do quadro que vamos expor no o devemos a ele, mas cabe dizer que foi fruto de inmeros estudosque fizemos, inclusive para combater o Romantismo do prprio Plnio C. de Oliveira. Basta comparar o queescrevemos com o que ele escreveu em Revoluo e Contra Revoluo para se dar conta do que devemose do que no devemos a ele.

    I - A SOCIEDADE EM GERAL E A SOCIEDADE MEDIEVAL

    A Sociedade Medieval, sendo conseqncia da aplicao da doutrina crist ensinada pela Igreja, tinha que serhierrquica e no igualitria. Estudamos as razes desse anti-igualitarismo da sociedade catlica em nosso trabalhoDesigualdade ou Igualdade de Direitos: consideraes sobre um mito. Como toda sociedade retamente organizada, a sociedade medieval era formada por Estados e no por castascomo era de regra nas sociedades pags. Havia trs Estados na Sociedade Medieval: o Clero, a Nobreza e o Povo, sendo que este era formado pelaBurguesia, pelos Camponeses e Artesos. Era o que formava a famosa pirmide maldita do linguajar marxista dos professores de cursinho.

    Tais professores se esquecem de dizer que, em todos as sociedades, em todos os tempos, existiu sempre essamesma estrutura. Toda sociedade , portanto, necessariamente piramidal, pois os sbios que dirigem sero sempre minoria. No h como fugir desse esquema. Uma sociedade horizontal igualitria -- nunca existiu e nunca poder existir. E isso assim pela prpria natureza dos homens e das coisas. Deus fez tudo com desigualdade, por isso toda sociedade necessariamente hierrquica.

    J Plato mostrara, no dilogo Repblica, que, para existir uma sociedade, preciso em primeiro lugar, queexistam pessoas que produzam os bens necessrios vida. Tais bens so os alimentos e objetos necessrios paraviver. Portanto, no pode haver sociedade se no houver camponeses que produzam os alimentos, e artesos queproduzam utenslios, mveis, vestes, etc. Em primeiro lugar, h a necessidade do trabalho agrcola e artesanal. Ora, se camponeses e artesos produzirem s o absolutamente necessrio para a sua manuteno e a de suasfamlias, como eles no podem produzir tudo que precisam, ver-se-o sem possibilidade de adquirir bens que lhessejam necessrios e dos quais tm falta. Da, camponeses e arteso serem obrigados a produzir mais do quenecessitam, para poderem trocar sobras do que produziram por objetos de que precisam. O comrcio nasce dessanecessidade de troca de bens. Portanto, alm de camponeses e artesos nasce quase imediatamente o grupo doscomerciantes, que fazem circular e trocar os bens produzidos. Porm, onde h bens, surgem logo os que querem se apossar desses bens de modo injusto. Isso exige, ento, aproteo desses bens pela fora armada. Da, a existncia de um grupo armado para guardar os bens produzidos. Surge o grupo social militar que tem por fim a proteo dos bens e da propriedade particular. assim que todasociedade tem sempre um tal grupo armado para fazer respeitar o direito e a justia. So os militares, ou nobres,porque devem dar a vida para proteger a justia e os direitos das pessoas. Deixar no topo da sociedade a fora com o poder supremo, manter no pice da sociedade os que detm o uso daespada equivale a colocar a fora material acima de tudo, o que gerar abusos. preciso ento colocar acima da forada espada, acima da fora material um grupo que controle a fora fsica pela sabedoria. Por isso, mesmo nassociedades pags havia um grupo sacerdotal, considerado mais prudente e sbio para controlar a mera fora dasarmas.

    Da, toda sociedade ser formada,esquematicamente,por:a) produtores de bens (camponeses e artesos) e de encarregados de fazer circular os bens atravs do comrcio(comerciantes);b) militares que guardam o direito aos bens pelo emprego da fora militar ( guerreiros ou nobres);

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  • c) supostos sbios, que devem controlar o uso da fora material, para evitar abusos. Tanto isso tem que ser assim, que at a sociedade sovitica, que se pejava de ser igualitria, foi obrigada a serender natureza, mantendo essa estrutura, pois l tambm havia a famosa pirmide maldita. Na URSS, havia:a) O proletariado (camponeses e operrios) produtores de bens necessrios vida, e funcionrios encarregados dacirculao dos bens, e mesmo um certo pequeno grupo de comerciantes;b) Os militares que garantiam a ordem social;c) Os sbios Os membros do Partido Comunista que dirigiam e controlavam a fora em razo de seu conhecimentoideolgico supostamente sbio e verdadeiro. Portanto, nem na URSS havia, ento, a igualdade. Pena que professores de cursinho, profissionais da mdia e padres de passeata no sejam capazes de ver oevidente. Ser que, no Brasil do PTBrs, no Brasil do mensalo, os canonizados pela CNBB como catlicos sua maneira,estabelecero realmente a igualdade da utopia? Frei Betto que guiou Lula at l, conseguiu fazer a repblica metalrgica, que daria, a cada operrio, direito a umapizza e a uma cervejinha por semana? Ou picanha com o vinho Roman-Conti ficou s para os privilegiados, para ossbios da Granja do Torto? Direito picanha s para os simpticos do Torto? Ser isso igualdade? Ser isso o fim dapirmide maldita?

    ***

    Esse mesmo esquema era o da sociedade medieval. Na sociedade medieval havia, sim, a pirmide social natural, na qual os mais sbios, os que tinham maioresresponsabilidades e virtudes necessariamente os menos numerosos dirigiam os mais numerosos, e de funesmenos importantes. No alto da sociedade medieval estava o Clero, nica ordem social instituda diretamente por Cristo, para guiar oshomens na prtica dos mandamentos da lei natural a fim de dar glria a Deus e alcanar o cu. O Clero era constitudo, como at hoje o , e sempre o ser, pelo Papa, Bispos e Padres. Cardeais, Arcebispos,Monsenhores so apenas ttulos honorficos, e no graus da Sagrada Hierarquia estabelecida por Cristo. O Segundo Estado, ou Ordem, era a Nobreza feudal cujos componentes eram o Imperador, os Reis, os Prncipes,os Duques, Condes e Bares. O Terceiro Estado era formado pelo Povo, e era constitudo pelos Burgueses, Camponeses e Artesos. A Burguesia era o grupo dos que exerciam trabalho no manual, e habitava nas cidades, como, por exemplo, oscomerciantes, os advogados, os mdicos, os professores, etc. Abaixo deles, estavam os que exerciam trabalhos manuais. Os Artesos faziam os instrumentos e objetos necessrios para a vida social, enquanto os camponeses cultivavama terra e criavam o gado. Os artesos tambm possuam uma hierarquia interna, dividindo-se em Mestres, Companheiros e Aprendizes. Esquematicamente, a escala social medieval poderia ser assim representada:Clero | Nobreza | Povo: Burguesia | Camponeses e Artesos: - Mestres - Companheiros- Aprendizes No aqui o momento de justificar essa organizao social, expondo suas funes, sacrifcios, virtudes e direitos.Faremos isso, noutro trabalho. Agora, importa-nos apenas registrar essa organizao social medieval, para explicarcomo se deu a sua destruio. Todavia, um ponto que convm desde agora salientar que essa organizao social no era de castas, como eramas sociedades pags. Na sociedade medieval, qualquer pessoa podia mudar de grupo social. Assim, qualquer campons poderia se

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  • tornar sacerdote, e passaria para a primeira camada da sociedade. E, entrando no clero, tendo valor, esse camponspoderia alcanar altas dignidades, e at mesmo chegar a ser Papa, como, alis, aconteceu por diversas vezes, naIdade Mdia. So Gregrio VII, por exemplo, foi o Papa mais importante da Idade Mdia e tinha origem camponesa,sendo filho de um cabreiro (Rgine PERNOUD, 1981, p.101). O Abade Suger era filho de servo da gleba, e, mesmoassim se tornou Abade de So Denis, e foi Regente da Frana. O Arcebispo de Paris, Maurice de Sully, que ordenou aconstruo da famosa catedral de Notre-Dame de Paris, era de famlia pobre. O Papa Urbano VI era filho de umsapateiro. O Clero foi o grande instrumento de ascenso e promoo social na Idade Mdia. O campons tambm poderia ascender nobreza, pela pratica de um herosmo. Santa Joana dArc foi enobrecidapor sua proeza militar. Por outro lado, qualquer pessoa de Estado mais elevado poderia ser rebaixada: um clrigo podia ser reduzido aoestado leigo como punio de certos crimes. Um nobre poderia perder seu ttulo e seus privilgios por causa de crimes,ou, por vezes, por exercer o comrcio, visto que a Nobreza consiste em usar todas as qualidades prprias em proveitode outrem, enquanto o comerciante usa de todas as suas qualidades para obter lucro para si. Mas, em Repblicas queviviam do comrcio como Genova e Veneza o comrcio era obrigatrio para os nobres, pois seu esfororedundaria em proveito geral daquela sociedade e daquela Repblica. Portanto, no havia castas na Idade Mdia. Esse foi um dos grandes bens que a Igreja proporcionou civilizaona Idade Mdia: acabar com as castas. A sociedade medieval tinha, pois, como pilares de sua estrutura, em primeiro lugar, o Papa, aceito como autoridadesuprema, pois era o Vigrio de Cristo na Terra; e, em segundo lugar, o princpio da desigualdade de direitos, j que seadmitia, com o Evangelho e com So Toms de Aquino, que Deus no fez e no quer os homens iguais, massemelhantes. Portanto, para destruir a sociedade medieval, era preciso derrubar esses dois pilares: o Papa e a desigualdade dedireitos. E foi o que fizeram aqueles que desejavam destruir a Cidade de Deus, e fazer triunfar a Cidade do Homem. Substituram o Teocentrismo pelo Antropocentrismo. Colocaram o Homem no lugar de Deus.

    II - CAUSAS RELIGIOSAS E FILOSFICAS DA REFORMA E DO RENASCIMENTO

    Estaria fora do mbito dos limites e escopo deste trabalho dar todas as causas que prepararam o triunfo daReforma protestante sobre o Papado, no sculo XVI. Mas convm acenar, pelo menos em poucas pinceladas, a alguns

    dos fatos principais que prepararam a revolta e o xito de Lutero. Entre esses fatos, aos quais fazemos apenas aluso, devem ser considerados como mais importantes:

    1 O atentado de Anagni . Em 1203, o Rei da Frana, Felipe IV, o Belo, mandou seu ministro um neto de ctaros Guillaume de Nogaret, atacar o castelo do Papa Bonifcio VIII, em Anagni, contando com a ajuda de Sciarra Colonna,

    o qual, ento, teria esbofeteado o Papa com seu gante de ferro. Esse fato o prprio smbolo do fim da ordemmedieval.

    2 O Cativeiro de Avignon. Felipe IV, o Belo, obrigou o Papa Clemente V a transferir a Santa S para Avignon, naProvena, onde os Papas ficaram por cerca de 70 anos, tornando-os, praticamente, capeles dos Reis da Frana. Istofez o Papado perder o prestgio de juz imparcial da Cristandade, levando Alemanha e Inglaterra, as principaispotncias rivais da Frana, a desconfiarem da autoridade e dos julgamentos papais. E isso favoreceu, duzentos anosdepois, a adeso da Alemanha e da Inglaterra ao Protestantismo. 3 O Grande Cisma do Ocidente. No sculo XV, houve uma crise no Papado, tendo sido eleitos anti-papas. AIgreja, durante certo tempo, teve dois pretendentes ao papado, e mesmo, em perodo menor, trs papas, umverdadeiro, e dois anti-papas. A Cristandade se dividiu, e a autoridade papal sofreu srio dano, o que preparou arevolta de Lutero. 4 Heresias precursoras do ProtestantismoCitaremos apenas algumas delas que foram das principais causas preparatrias do Protestantismo:a) A Gnose irracionalista de Mestre Eckhart (1300), cuja mstica e moral foram adotados por Lutero, apesar de teremsido anatematizadas pelo Papa Joo XXII em 1319. Eckhart defendia at mesmo a santidade do pecado, que tambmLutero defender.

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  • b) A heresia medieval dos valdenses cuja revolta contra o papado e cuja recusa de venerar os santos seroadotadas pelos protestantes.c) As heresias franciscanas Desde o sculo XIII, as heresias surgidas entre os franciscanos a dos Espirituais, ados Pseudo Apstolos ou dos Fraticelli, a dos Beguinos, defendendo uma Igreja absolutamente pobre, prepararam arevolta protestanted) O Catarismo que minou a autoridade papal e dividiu profundamente a Cristandade. O catarismo foi propagadosub-repticiamente pelos trovadores do trobar clus e pelos poetas pertencentes ao grupo dos Fedeli d Amore, aosquais pertenceu Dante. A obra Le Roman de La Rose, de Guillaume de Lorris e de Jean de Meung, publicado em1278, no sculo XIII, alm de ser um livro imoralssimo, defendia grande nmero de teses modernas, como o contratosocial, o amor livre, e expunha como destruir a Igreja. Dante traduziu em resumo essa obra para o italiano como nomede Il Fiore, e Chaucer a traduziu para o inglse) O Milenarismo Joaquimita Desde o sculo XIII, os hereges espirituais franciscanos esperavam um grandecastigo e o retorno pobreza da Igreja primitiva. Depois desse enorme castigo, e depois da era de Deus Pai, e da erado Filho, um Papa anglico e um Grande Imperador instaurariam o Reino do Esprito Santo, ou a era do Amor aCivilizao do Amor na Terra, reino em que a lei seria abolida, e na qual tudo seria possudo em comum. f) O Humanismo influenciou tambm os estudos bblicos por seu esprito crtico e racionalista, minando a f no textoda Vulgata. Erasmo foi o exemplo tpico desse tipo de Humanismo. O seu Novo Testamento clssico se ops Vulgata, tornando-se o grande precursor da Bblia alem de Lutero, atacando ao mesmo tempo a patrstica, o Papado ea guarda da Escritura pela Igreja. g) As heresias de Wyclef e de Joo Huss que foram em grande parte assumidas por Lutero e pelos anabatistas.h) O Cabalismo Cristo que propagou a Gnose judaica -- a Kabbalah nos meios intelectuais e eclesisticos nossculos XV e XVI. Pico de Mirandola, na Itlia, e Reuchln, na Alemanha foram os grandes difusores da Cabala nosmeios reformistas e renascentistas. O cabalismo cristo penetrou no clero que homens como o Cardeal Egidio deViterbo o Superior Geral da Ordem a que pertencia Lutero e o famoso exegeta Cornlio a Lapide aceitaram osmtodos cabalistas de interpretao da Sagrada Escritura. 5 Os erros filosficos que prepararam a Reforma e o Renascimento.

    a) A Filosofia univocista de Duns Scoto

    No seu famoso Discurso na Universidade de Regensburg (Ratisbona), Bento XVI apontou o incio de todadecadncia do Ocidente, na filosofia voluntarista de Duns Scoto. Disse o Papa Bento XVI:Por honestidade, preciso anotar neste ponto, que, na tardia Idade Mdia, desenvolveram-se tendncias na teologiaque rompiam esta sntese entre o esprito grego e o esprito cristo. Em contraste com o assim chamado intelectualismo agostiniano e tomista, iniciou-se com Duns Scoto uma impostaovoluntarstica, que afinal levou afirmao de que, de Deus, conheceramos apenas a voluntas ordinata. Alm dela,existiria a liberdade de Deus, em virtude da qual Ele teria podido criar e fazer tambm o contrrio de tudo aquilo queefetivamente fez. Aqui se esboam posies que, de todo modo, podem aproximar-se daquelas de Ibn Hazn epoderiam levar at imagem de um Deus-Arbtrio, que no estivesse ligado nem mesmo verdade e ao bem. Atrascendncia e a diversidade de Deus vinham acentuadas de modo to exagerado, que tambm nossa razo, o nossosenso do verdadeiroo e do bem, no seriam mais um verdadeiro specquemo de Deus, cujas possibilidades abissaispermaneceriam para ns eternamente inatingveis e escondidas por trs de suas decises efetivas. Em contraste com isso, a f da Igreja sempre se ateve convico que entre Deus e ns, entre o seu eterno Espritocriador e a nossa razo criada existe uma verdadeira analogia, na qual, certamente as dissemelhanas soinfinitamente maiores que as semelhanas, no todavia at o ponto de abolir a analogia e a sua linguagem (cfrLateranense IV). Deus no se torna mais divino pelo fato que O distanciemos bem longe de ns num voluntarismo puroe impenetrvel, mas o Deus verdadeiramente divino aquele Deus que se mostrou como Logos e como Logos agiu,e age, cheio de amor em nosso favor. Certamente, o amor "ultrapassa" o conhecimento, e por isso capaz de percebermais do que o mero pensamento (cfr Ef 3,19), todavia, ele permanece o amor do Deus-Logos, para o qual o cultocristiano espiritual" um culto que concorda com o Verbo eterno e com a nossa razo (cfr Romani 12,1). (BentoXVI, Discurso na Universidade de Ratisbona, O melhor do pensamento grego parte integrante da f crist, 12de Setembro de 2006, http://www.quemesa.espressonline.it/dettaglio.jsp?id=83303)

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  • Resumidamente, Duns Scoto divergiu da Filosofia tomista em alguns pontos fundamentais que daro incio aodesmoronamento de toda a Escolstica, quer pelo misticismo de Eckhart, quer pelo racionalismo voluntarista deOckham: i) Univocidade do ser: Para Duns Scoto, o conceito de ser seria unvoco, e no analgico, como ensinava otomismo. Portanto, ou se identificava o mundo a Deus, pela negao da matria, ou Deus ao mundo, pela negao detodo o sobrenatural. Da, Duns Scoto negar o princpio da analogia do ser.

    ii) Negao da analogia: Esse erro levaria quer ao repdio do mundo caindo na Gnose, com Eckhart, quer identificao de Deus com o mundo, caindo no pantesmo racionalista de Ockham.

    iii) Voluntarismo: a vontade divina no agiria com base na Sabedoria: No havendo analogia, Duns Scotoacabava por negar que toda a ao de Deus partia do Princpio, do Verbo. E No princpio era o Verbo (Jo I,1). Deuscriou tudo em sua sabedoria. Todas as coisas criadas foram feitas pelo Verbo, e sem Ele nada foi feito. Por isso, tudo inteligvel, pois todo ser verdadeiro. O Verum um transcendental do ser. Para Duns Scoto isso no seria assim.Para ele, Deus poderia ter feito um mundo ao contrario deste que Ele criou. Toda ordem seria arbitrria e no teriafundamento na Sabedoria de Deus, e Deus poderia ter feito um declogo oposto ao que deu no Sinai, erro esse queser explicitamente defendido por Ockham. Da, Duns Scoto colocar a vontade acima do intelecto, o amor acima eindependente do Conhecimento. Como disse o Papa Bento XVI em Ratisbona: Em contraste com o assim chamadointelectualismo agostiniano e tomista, iniciou-se com Duns Scoto uma impostao voluntarstica, que afinal levou afirmao de que, de Deus, conheceramos apenas a voluntas ordinata. Alm dela, existiria a liberdade de Deus, emvirtude da qual Ele teria podido criar e fazer tambm o contrrio de tudo aquilo que efetivamente fez.

    b) O Irracionalismo e a filosofia dialtica do gnstico Mestre Eckhart.

    Mestre Eckhart negar a analogia tomista, afirmando existir no ser criado uma intrnseca oposio dialtica.Se Deus era Ser, a criatura seria no-ser. Se Deus fosse o nada absoluto, ento a criatura seria ser. Ser e noser se oporiam em todas as coisas, como o ying e o yang da doutrina do taosmo. Para Eckhart, a razoenganaria o homem. A matria seria m. Toda inteleco seria absurda e o homem nada poderia desejar, nemmesmo se poderia desejar o cu ou a virtude, nem se deveria desejar amar a Deus, devendo-se atingir um nadasem desejo, como no budismo. Para Eckhart, s existiria o universal, e jamais o individual, visto que a individualidade provinha da matria,princpio do mal. A Filosofia de Eckhart vai ser um misticismo inteiramente gnstico, que servir de base para os erros dosIrmos do Livre Esprito. Eckhart foi condenado por Joo XXII j em 1329, enquanto na opinio comum dos historiadores, a IdadeMdia iria terminar somente em 1453...

    c) A filosofia nominalista, racionalista e pantesta de Guilherme de Ockham, foi condenada tambm porJoo XXII, anulava toda noo de verdade e de moral universais. Para Ockham, no existiria o universal, mas apenas o indivduo. Portanto, a matria era alada condio de nicarealidade. Nada haveria de universal, nem verdade e nem lei. Ockham vai lanar as bases do materialismo, doracionalismo e do empirismo da filosofia moderna. De Ockham nascer a idia da supremacia da matria sobre o esprito, do Imperador sobre o Papa; do Estadosobre a Igreja. E Ockham foi contemporneo e inimigo de Eckhart.

    d) As novas doutrina polticas estatistas. Os erros da filosofia poltica de Marslio de Pdua, autor do Defensor Pacis, prepararam o Estado Moderno,absolutamente laico, independente da Igreja e livre de toda a Moral. Lutero vai defender no s a completa independncia do Estado em relao Igreja e ao Papa, como tambm vaiatribuir ao Soberano poderes religiosos fazendo do Rei um papa em seu reino. e) A Decadncia da Filosofia Escolstica No sculo XV, as heresias de Eckhart e de Ockham, assim como os primeiros influxos secretos da Cabala, levarama Filosofia ao delrio.

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  • Alguns filsofos como Jean de Mricourt e Nicolau dAutrecourt defenderam a tese da santidade do pecado, queLutero transformar em tese bsica da moral protestante.

    f) O Humanismo A Academia Platnica de Florena, dirigida por Marslio Ficino, que aceitou e difundiu as doutrinas gnsticas doHermes Trismegisto, influiu poderosamente no Renascimento. Botticelli, Verrochio, Leonardo, Michelangelo foramartistas que expressaram a Gnose hermtica em suas obras de Arte, com o fim de combater a doutrina catlica. Essa influncia do hermetismo na modernidade foi de tal grau, que Francs A. Yates afirmou: Foi a magia, com oauxlio da Gnose, que comeou e imprimiu vontade um nova direo (Francs A. Yates, Giordano Bruno e aTradio Hermtica, Editora Cultrix, So Paulo, 1995, p. 180). [Para distinguir o que dizemos do que foi ensinado por Plnio Corra de Oliveira, lembramos que jamais esse autor fezqualquer aluso a muitas dessas causas precurssoras da Reforma e do Renascimento. Era como se elas nuncativessem existido. Especialmente ele omitia creio que por desconhecimento histrico as causas medievais daReforma. Para ele a Revoluo comeou no que ele chama de risonho sculo XV.]

    III - AS TRS REVOLUES DESTRUIDORAS DA SOCIEDADE MEDIEVAL

    Tendo visto o esquema da sociedade medieval e as causas mais remotas da Revoluo protestante de Lutero, vejamosagora como se concatenaram as trs revolues destruidoras da Sociedade medieval. Esse quadro que nos foi explicado por Plnio Corra de Oliveira, em 1952, em suas aulas na PUC, e que ele exps,de modo bem sucinto e muito superficialmente, em seu pequeno opsculo Revoluo e Contra Revoluo, editadoem 1959, livro que tido como uma espcie de Bblia ou Coro da TFP e dos Arautos do Evangelho, todos elescultuadores de Plnio como santo e profeta de um reino milenarista, que estaria sempre para surgir, e que sempreadiado para... o ano que vem... Em Jerusalm.Vejamos, ento, agora esse quadro das trs revolues:Antes, porm, uma nota importante: uma Revoluo s eclode, quando se d a sntese dialtica do Pantesmoracionalista com a Gnose irracionalista, dando-se o curto circuito dialtico-revolucionrio.Em breve, publicaremos um estudo mais profundo sobre o curto circuito da Gnose com o Pantesmo, do irracionalismocom o racionalismo, que d uma explicao mais clara e mais profunda da Revoluo e da ao do demnio naHistria.

    1 a Revoluo: A Reforma e o Renascimento (1517)

    A data de 1517 foi posta, a, por ser o ano da revolta de Lutero, e a de um ano do perodo de apogeu do Renascimento.A Reforma luterana defendeu as seguintes idias fundamentais:1 Igualdade Religiosa.O luteranismo resultou da sntese dialtica da Gnose irracionalista de Mestre Eckhart com a filosofia racionalista donominalismo de Ockham.Pelo livre exame da Bblia, Lutero fez de cada fiel um Papa. Lutero proclamou que cada fiel, ao ler a Bblia, seriainspirado diretamente pelo Esprito Santo, de tal modo que a interpretao de cada um seria infalivelmente verdadeira.Cada um, lendo a Bblia, poderia identificar sua razo com o prprio Esprito SantoDesse modo, o Papa se tornava desnecessrio. E no s o Papa, mas tambm todo o clero. Para qu ouvir aexplicao da religio por um membro do clero, se era possvel receber sempre a inspirao divina do prprio EspritoSanto?Cada fiel era o seu prprio Papa, Bispo e Sacerdote.O Protestantismo, negando a autoridade divina e infalvel do Papa, caiu na contradio de tornar todo mundo Papa. Foio livre exame da Bblia que derrubou o Clero como classe social. Lutero, negando o poder papal, derrubou o pilarfundamental da sociedade medieval.2 Cada Prncipe seria o chefe do Estado e da Religio em seus territrios.Lutero, por poltica, para obter a proteo da Nobreza contra o poder do Imperador, tirou a primeira conseqncia dolivre exame: cada prncipe seria um papa em suas terras.Desse modo, ele apoiava as teses de Ockham e de Marslio de Pdua a respeito da supremacia do Estado sobre a

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  • Igreja, do Imperador sobre o Papa.Isso agradou muito a muitos nobres alemes que estavam em grande crise econmica. Com efeito, os impostosfeudais haviam sido fixados para sempre l pelo sculo VIII. Com o tempo e com a inflao crescente, especialmenteaps as descobertas martimas e o conseqente enorme afluxo de ouro, os preos aumentaram muito, e como essesnobres recebiam uma renda fixada pelo costume, eles ficaram arruinados. A esses nobres empobrecidos Lutero oferecia o poder religioso, o que significava dominar as riquezas e terras daIgreja. Naturalmente, muitos nobres se deixaram arrastar pela tentao de se apoderar das riquezas da Igreja, e, porisso, apoiaram a Reforma luterana.Outros nobres, menos afetados pela crise econmica, apoiaram Lutero, por causa que tinham aderido oas princpios dohumanismo pago, como foi o caso do Duque da Saxnia, o maior protetor de Lutero3 Maior liberdade na Moral.O princpio luterano de que a salvao vinha pela F sem as obras, e que quanto mais algum pecasse, mais provariaque acreditava no perdo de Deus atraiu para Lutero todos os que desejavam pecar vontade. Padres corruptosapoiaram Lutero, porque ele defendeu o fim do celibato e dos votos religiosos, especialmente o de castidade. Eledefendeu tambm o divrcio e permitiu at a bigamia do Prncipe Felipe de Hesse. Uma onda de imoralidade arrastoupara a Reforma luterana a multido dos corruptos. Pela Reforma, Lutero no pretendia, de modo algum, a reforma doscostumes corrompidos do clero. Pelo contrrio. O que Lutero queria era reformar a Moral dos dez mandamentos,permitindo o que era proibido, tornando lcito, o que era ilcito.Lutero adotou ento a tese gnstica e cabalista da santidade do pecado, ao lanar seu princpio: Cr firmemente, epeca muito. Era a exaltao da mstica gnstica de Mestre Eckhart e dos Irmos do Livre Esprito que Lutero adotava,unindo o irracionalismo de Eckhart com o racionalismo da filosofia nominalista de Ockham. Foi esse curto circuitoracionalista irracionalista que deslumbrou ambas as correntes herticas que se digladiavam nas Universidades, eque, agora, se uniram dialeticamente por um pouco de tempo na exaltao do profeta racionalista e mstico deWittemberg.O Renascimento registrou, tambm ele, a sntese dialtica da cincia racionalista, ento em desenvolvimento, com aGnose irracionalista do hermetismo. Leonardo foi exemplo vivo dessa sntese, com seus estudos e invenescientficas, com a magia hermtica aprendida por ele atravs de Marslio Ficino, na Academia Platnica de Florena. O Renascimento e o Humanismo defenderam idias correlatas, seno idnticas, o primeiro nas Artes, o segundonas letras e na Filosofia. Reforma e Renascimento foram o primeiro triunfo do Antropotesmo, da Religio do Homem do Humanismo -- queviria a alcanar seu triunfo final no Discurso de encerramento do Conclio Vaticano II, quando Paulo VI declarou: Reconhecei-lhe pelo menos este mrito, vs humanistas modernos, que renunciais transcendncia das coisassupremas, e saibais reconhecer o nosso novo humanismo: ns tambm, Ns mais do que qualquer outro, nstemos o culto do homem"(Paulo VI, Discurso de Encerramento do Conclio Vaticano II, 7 de Dezembro de 1965). O Renascimento defendeu as seguintes idias fundamentais:

    1 -- O Soberano deveria ser chefe do Estado e da Religio

    O Renascimento queria fazer ressurgir a cultura pag greco-romana morta h mil anos. Ora, pela culturaclssica, o Imperador era soberano absoluto dirigindo o Estado e a Religio. Csar era at adorado como Deus. Conseqentemente, todo soberano seria independente do Papa, e governaria a Igreja em seus territrios. Da, Henrique VIII ter fundado a religio Anglicana. Da, o Galicanismo de Luis XIV. V-se claramente ento que esta idia fundamental do Renascimento coincidia com a segunda idiafundamental da Reforma Luterana. 2 Moral pag contra a Moral crist. O Renascimento, adotando as doutrinas gnsticas do Hermetismo, atacou a moral crist, ensinada pelo Clero.Evidentemente, isto ops o Renascimento ao Clero catlico, ainda que Papas e muitas autoridades eclesisticas deento adotassem a filosofia e a moral pag do Renascimento. Resultado das idias da Reforma e do Renascimento foi a derrubada do Clero como Estado social supremo nasociedade. Portanto, o lugar do Clero foi assumido imediatamente pela Nobreza, elevada ao pice social. O esquema da sociedade, aps a Revoluo da Reforma e do Renascimento passou a ser o seguinte:Nobreza _ _ _ _ _ |

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  • | Burguesia $ | Camponeses e Artesos Estabelecendo a igualdade religiosa, e elevando a Nobreza antiga posio do Clero, Reforma e Renascimentoaumentaram a desigualdade poltica entre a Nobreza e a Burguesia. Isto colocou o grmen de uma nova Revoluo. Pois se os homens so iguais na Religio, se cada fiel Papa, por que tanta desigualdade entre Nobreza e Povo?No disse Lutero que deveria ser aplicado ao Povo o princpio que todo fiel era um sacerdcio real? Isto , que o povodevia ser tido como Sacerdote e Rei? Por que ento tanta desigualdade na poltica, se todos eram iguais em coisa maisfundamental como a religio?Se os homens so iguais na religio, com maior razo deveriam ser iguais tambm politicamente. Todos teriam igualdireito de escolher seus governantes ou de governarem, e no s o filho do Rei poderia ter o direito ao governo. Da Reforma protestante, ento, nasceu a Revoluo Francesa de 1789.

    2a Revoluo: A Revoluo Francesa de 1789

    A Revoluo Francesa aplicou os princpios e as idias da Reforma protestante ordem poltica, atravs de seulema de Igualdade, Liberdade e Fraternidade. 1 - Igualdade poltica

    A Revoluo Francesa de 1789, assim como sua predecessora, a Revoluo Americana de Washington, em1776, aplicaram ao campo poltico os princpios revolucionrios da Reforma protestante. Assim como aReforma defendeu a igualdade religiosa, a Revoluo Francesa defendeu a igualdade poltica. Todos teriamdireito de votar, para escolher um governante, e todos poderiam ser votados para governar um pas. 2 - Liberdades polticas Alm da igualdade, a Revoluo Francesa pregou a adoo das liberdades de religio e de conscincia; a liberdadepoltica; a liberdade de imprensa; a liberdade de educao; a liberdade de comrcio separada de qualquer moral; aliberdade de propaganda e a liberdade artstica absoluta, hoje chamada liberdade de expresso. So essas as liberdades para o erro e para o mal, as liberdades que o Papa Leo XIII chamou, com SantoAgostinho, de liberdades de perdio. Essas idias de igualdade e de liberdade polticas formam o cerne do liberalismo. Com essas idias de igualdade poltica a Revoluo Francesa guilhotinou o Rei Luis XVI, e liquidou a Nobreza e osdireitos feudais. Todos os ttulos nobilirquicos foram anulados e proibidos. Todos os sditos foram reduzidos categoria de cidados. A Liberdade da Revoluo Francesa fez a Guilhotina e a Lei dos Suspeitos que permitia matar sem direito dedefesa, quem fosse acusado de suspeito de ser contra a Revoluo. A Fraternidade era pregada com o lema: La Fraternit ou la Mort. (Fraternidade ou Morte), lema que poderia muitobem ser assinado por Caim. A nica desigualdade que restou foi a econmica, distinguindo-se os cidados apenas por sua fortuna. Com adestruio da Nobreza como classe social, a Burguesia assumiu a liderana na sociedade, e o dinheiro passou a ser onico critrio de valor e de classificao dos homens. Quem tivesse dinheiro, teria todos os valores... Desta forma, o esquema da sociedade passou a ser o seguinte depois de 1789:Burguesia $ |_ _ _ _ _ _ _ | _ _ _ _ _ _ _ | | Camponeses e ArtesosCom a aplicao da igualdade poltica, cresceu a desigualdade entre Burguesia e as classes trabalhadoras manuais.Ascender socialmente ficou, ento, muito mais difcil do que antes.Por outro lado, se a igualdade era considerada um bem, quando aplicada religio e poltica, por que deveriasubsistir tanta desigualdade na economia e na propriedade? Se a igualdade, em si mesma, um bem, ento deveriahaver tambm igualdade econmica e igualdade de propriedade. E foi o que propugnou a Revoluo Russa de 1917.

    3 a Revoluo: Revoluo Russa de 1917

    As idias fundamentais da Revoluo Russa foram duas:

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  • 1a Igualdade econmica: Isto quis ser alcanado pela eliminao do direito de propriedade particular. Tudopassou a ser do Estado.2a

    Liberdade Absoluta: Esta liberdade total do Homem s seria alcanada pelo atesmo, que livraria ohomem da obedincia aos mandamentos do Criador. Isto implicava na negao de toda a propriedade e dafamlia, defendendo-se mais do que o divrcio, o amor livre. Negava-se ainda qualquer direito dos pais sobreos filhos, que pertenceriam ao Estado.

    ***

    Essas trs revolues formaram um processo de causas e de efeitos interligados, pois que a Reforma foi me daRevoluo Francesa, e esta gerou a Revoluo Russa. Assim, como um resfriado, se no for sanado, produz umagripe, e esta, por sua vez, caso no seja debelada, pode produzir uma pneumonia e levar morte, assim o vrus dastrs revolues foi a idia de igualdade como um bem em si mesma.A Revoluo , pois, um processo histrico, que, em trs etapas, --- Reforma, Revoluo Francesa, Revoluo Russa-- destruiu a sociedade medieval, para implantar a igualdade completa.Plnio Correa, explicava esse esquema em suas aulas, assim como em seu livro Revoluo e Contra Revoluo, massem entrar em muitos pormenores

    IV - ENSINAMENTO DE PIO XII SOBRE AS TRS REVOLUES O Papa Pio XII, tratando desse tema das trs Revolues, genialmente ensinou que elas renegaram os trsfundamentos da F Catlica: Deus, Cristo e a Igreja. Foram trs graus de apostasia, cada uma mais profunda que aoutra. A Reforma luterana proclamou que aceitava Deus e Cristo, mas que repudiava a Igreja. Da crena catlica em Deus, em Cristo e na Igreja, Lutero eliminou a Igreja. Bastava crer apenas em Deus e emCristo. E no na Igreja. Herege aquele que coloca o seu juzo particular no lugar do juzo da Igreja. Lutero, proclamando o livre exame daBblia, fez da essncia da heresia o princpio fundamental do protestantismo. O protestante o herege por excelncia.O livre exame da Sagrada Escritura faz de cada protestante o seu prprio Papa, e constitui cada indivduo como onico membro de sua igreja. No h dois protestantes de uma mesma seita, porque cada um tem a sua prpria enica interpretao da Bblia. Cada um deles se julga A Igreja. No protestantismo, o homem se faz a IgrejaDa a multiplicidade das seitas protestantes, desde a Igreja Evanglica Sabo, Sopa, e Salvao, at a seita IgrejaEvanglica Bola de Neve, aquela que vai para o abismo.Protestante aquele que acredita no que o Verbo se fez carne Verbum caro factum est (Jo. I, 14), mas que oVerbo se fez livro: a Bblia.Todo protestante faz da bblia um dolo. A Revoluo Francesa levou a apostasia mais adiante: no s negou a Igreja, mas negou tambm a Cristo. Eladizia aceitar apenas a Deus. Mas um Deus vago, que ora foi o Ser Supremo, ora, a Razo. Para a Revoluo Francesae para o Liberalismo, se h um Deus, no sabemos o seu nome. Ela defendeu o desmo.Ora, como Cristo a Verdade, ao recusar Cristo, a Revoluo Francesa repudiou a Verdade objetiva. Da, osubjetivismo radical do Liberalismo seguidor da Filosofia idealista subjetivista dos filsofos alemes -- e doRomantismo, que o Liberalismo na Arte. Cada sujeito teria a sua verdade pessoal. O que cada um pensasse, aopinio de cada um, isso, seria o real. Assim como Lutero proclamou o livre exame da Bblia, o subjetivismo da Filosofia Idealista alem e da RevoluoFrancesa proclamou o livre exame do mundo. O livre exame da realidade. Ora, foi no Verbo que Deus fez todas as coisas, e quando Deus tinha idia de uma criatura em sua Sabedoria noVerbo -- a coisa passava a existir. O subjetivismo da Revoluo Francesa, do Liberalismo e do Romantismo fazia decada sujeito o equivalente ao Verbo de Deus, pois o que cada sujeito pensasse assim seria a realidade. O pensamentocriaria o real. O indivduo se colocava como o Verbo divino. Negando a Cristo, cada indivduo se colocava como Cristo.No subjetivismo, o homem se faz Cristo.No subjetivismo liberal, a razo individual se torna completamente independente do real, e se pretende geradora daverdade. Antes mesmo de introduzir o culto da Razo em Notre Dame de Paris, o idealismo subjetivista j haviaintroduzido o culto da Razo em cada cidado.E se cada razo individual gera o real a seu bel prazer, ento se faz uma negao completa do real, admitindo-seapenas o ideal subjetivo. Ora, a negao da realidade a negao da verdade enquanto tal. Recusar a verdadeconhecida enquanto tal exatamente a definio de pecado contra o Esprito Santo. A recusa do real a recusa do ser

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  • como Deus o fez, que o equivalente do verum e do bonum, dois dos chamados transcendentais do ser. E tipicamente atitude gnstica negar o bem da criao tal qual Deus a fez. H, pois, um fundo de Gnose, no liberalismo, eno subjetivismo, o que far do Romantismo -- liberalismo na Arte--, um movimento gnstico. Ser Romntico serrevolucionrio e ser tambm um gnstico. Veremos mais particularmente isto, mais adiante.Negando a Verdade, o Liberalismo mentiroso.

    Finalmente, numa terceira apostasia, se nega o prprio Deus.A Reforma negou a Igreja. Fez de cada protestante a IgrejaA Revoluo Francesa negou a Cristo. Fez de cada cidado o Verbo, Cristo, a Verdade.A Revoluo Russa negou a Deus. Fez de cada homem Deus.A Revoluo Russa foi atia. Para ela nada vale: nem a Igreja, nem Cristo, nem Deus. O comunismo a supremaapostasia, que coloca o Homem no lugar de Deus. Ela foi o triunfo da impiedade. Foi a instaurao da Cidade doHomem triunfante no mundo sob a forma de humanismo. Foi o triunfo do antropocentrismo iniciado na Idade moderna.Com a revoluo russa de 1917, o Homem se fez Deus.E a tragdia das tragdias foi Paulo VI ter admitido que no Conclio Vaticano II, a Igreja como que se fez escrava daHumanidade. Tragdia misteriosa foi Paulo VI ter declarado:

    Alguns acusam o Conclio [Vaticano II] ter se desviado para o antropocentrismo. Desviado, no. Dirigido, sim. Trgico, como j vimos, foi Paulo VI ter declarado no final do Conclio Vaticano II: Humanistas do sculo XX, reconhecei pelo menos isto: Ns tambm temos o culto do homem (Paulo VI, Discurso deencerramento do Conclio Vaticano II)

    V FORMAS DE GOVERNO INSTITUDAS EM CADA REVOLUOCada uma das trs revolues instituiu uma forma de governo de acordo com sua doutrina. 1 - A Reforma e o Renascimento instauraram uma Monarquia Absoluta, que foi uma caricatura de Monarquia.Uma Monarquia hipertrofiada, anti aristocrtica, que solapou sua prpria raiz. O monarca absoluto foi um tirano quepretendia ser Csar, soberano, ao mesmo tempo, do Estado e da Igreja. Um Rei que, conforme a Reforma, queria serPapa, e, conforme o Renascimento, queria ser Csar.Para isto os Reis absolutos deviam combater dois adversrios: o Papa e a Nobreza feudal. Deviam combater osdireitos da Igreja e eliminar os direitos feudais.Luis XIV, tpico Rei absoluto da Frana, afirmava; L tat c est moi (O Estado sou eu) e pretendia ser o nicoproprietrio da Frana, afirmando que se havia propriedades particulares em seu Reino, era por tolerncia dele. Nofundo, se comparado com So Luis, ele parecia um Lnin coroado. Na religio, ele favoreceu o Galicanismo, limitando o poder da Santa S sobre a Igreja, na Frana. Nomeava Bispos, eabades a seu bel prazer, dando ttulos e direitos religiosos a seus cortesos. Bulas papais s valiam na Frana caso oRei as permitisse. O Rei absoluto tentava destruir todos os privilgios feudais, sem o conseguir. Tinha menos poder que qualquer prefeitode hoje, mas pretendia ser um Trajano.O palcio de Versailles, embora majestoso e esplndido exemplar de arte barroca, tinha todos os defeitos doracionalismo e do otimismo pantesta do barroco. Se artisticamente era espetacular, fisicamente tinha o mau cheiro deuma sentina, e moralmente tresandava luxria.Tambm Henrique VIII da Inglaterra foi um rei absoluto, que fundou uma nova religio: o Anglicanismo. Essa seitacomeou, porque o rei queria divorciar-se, e depois casar-se de novo. O que aconteceu seis vezes. Como na Romaantiga pag, o capricho de Csar foi lei.Se o absolutismo monrquico fez triunfar a heresia na Inglaterra, enquanto na Frana o Galicanismo foi menos pujante,isso foi porque desde o sculo XII, o Rei Henrique II tentou instaurar o absolutismo impondo seus caprichos Igreja, oque levou ao martrio de So Thomas Becket.Os soberanos absolutos instituram as Cortes, reduzindo a Nobreza a um conjunto de bibelots corrompidos, ou alacaios servis. Fazendo uma Corte em que os nobres viviam como numa gaiola dourada sem nada fazer, os soberanosabsolutos destruram a aristocracia. Depois do que, sem o apoio de suas razes nobres, ficou fcil para a Burguesiaderrubar um rei sem prncipes.Alm disso, os Reis absolutos, para colocar a Nobreza de lado, fizeram exrcitos permanentes constitudos por

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  • mercenrios. O que lhes causava enormes despesas. Para pagar tais despesas, e s do funcionalismo necessrio auma monarquia que pretendia cuidar de tudo, os reis absolutos tiveram que se socorrer de emprstimos dos grandesbanqueiros burgueses...E quem paga, manda.O Rei absoluto se enforcou num cifro, antes de ter a cabea decepada na guilhotina. 2 - A Democracia liberal foi o regime institudo pela Revoluo Francesa.

    Segundo a doutrina Catlica, h trs formas de governo possveis e legtimas, que buscam o bem comum: aMonarquia, a Aristocracia e a Democracia. No se julgue, porm, que a Democracia que a Igreja aceita seja a Democracia liberal, regime movido a dinheiro,para controlar a propaganda, a mdia, e as eleies. A Democracia liberal afirma a igualdade de direitos polticos, o sufrgio universal, coloca a origem do poder nopovo, no em Deus, o direito de revoluo, o atesmo ou o indiferentismo do Estado face Deus, idias essas todascondenadas pela Igreja. Uma democracia catlica tem de afirmar que nem todos tm o direito de voto, que o poder vem de Deus, que noh direito de revoluo. A Democracia liberal quer a liberdade de religio, e a separao entre a Igreja e o Estado. Uma Democracia de acordo com a doutrina catlica no pode admitir a liberdade de religio, pois o erro no temdireito nem liberdade, nem propaganda. E uma democracia catlica exige a unio entre Igreja e Estado, isto , queo Estado deve reconhecer a Igreja Catlica como a nica verdadeira, e favorecer sua ao e seu trabalho apostlico. O que no significa que o Estado tenha direito de forar algum a ser catlico. Obrigar algum a praticar a religio fora pecado muito grave. A unio entre Igreja e Estado s no permite que as seitas herticas propaguemorganizada e publicamente seus erros, pois o erro no tem direito de ser publicamente ensinado. 3 - O regime de governo estabelecido pela Revoluo Russa pura e simplesmente a Tirania Comunista.Na tirania bolchevista, no se respeita a lei natural. No h direito de propriedade particular. Visa-se a destruio dafamlia. Nega-se o direto dos pais a educar os filhos. Admite-se o amor livre. O atesmo propagado pelo Estado e senega qualquer direito religio.

    VI - AS TRS REVOLUES NA FILOSOFIAAssim como houve trs revolues na Cristandade, houve necessariamente tambm trs revolues na Filosofia,porque evidentemente cada Revoluo se fundamentava em uma cosmo-viso prpria.Nessas revolues filosficas, constatamos a existncia de duas correntes, que, como duas serpentes, uma vermelhaoutra branca, se enrolam uma na outra. Uma a serpente do Pantesmo racionalista. Outra a da Gnose irracionalista. O Pantesmo racionalista diviniza o mundo material. A Gnose irracionalista v o mundo material como o calabouo do esprito divino nele aprisionado. E o que dificulta acompreenso desse problema o fato que tanto o Pantesmo como a Gnose, admitindo um pensamento dialtico, isto, a identidade dos contrrios, fazem do esprito matria sublimada, e da matria esprito cristalizado. Os contrriosseriam idnticos. Portanto, para o pensamento dialtico, o racionalismo a irracionalidade, e o irracionalismo seria aracionalidade.

    1 a Revoluo na Filosofia: o Cartesianismo

    A Reforma e o Renascimento resultaram da fuso dialtica da Gnose irracionalista de Mestre Eckhart com a filosofiaracionalista do Nominalismo de Frei Guilherme de Ockham. Da, ser possvel constatar dois veios dialeticamenteopostos na Reforma e no Renascimento. Na Reforma, um o Protestantismo racionalista com pretenses cientificista, no exame da Bblia, com clara tendnciapantesta. Outro, o Protestantismo alumbrado, pentecostal, que se cr movido irracionalmente pelo Esprito Santo, eque se revela como claramente gnstico.Por sua vez, um o Renascimento racionalista, epicurista e materialista. Outro o Renascimento gnstico, mgico,irracionalista do hermetismo de Marslio Ficino e de seus discpulos, como Botticelli, Verrochio, Leonardo eMichelangelo.Por isso, a Filosofia correspondente primeira Revoluo foi o Cartesianismo, que continha em si, tanto um veioracionalista, como um veio irracionalista, subjetivista.No princpio da Filosofia Moderna de Descartes est a afirmao: "Cogito, ergo sum" ("Eu penso,logo eu sou"). No cartesianismo, pela primeira vez a Filosofia deixa de partir do ser, para partir do eu. O homem moderno no olha

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  • mais para a realidade exterior a si mesmo, mas se volta para dentro de si. O primeiro conhecimento seria interior. Seria o pensamento que daria existncia ao real. dessa revoluo antropocntrica que nascer, sculos depois, todo o subjetivismo e relativismo da Modernidade. Oconhecimento do eu. O homem deixa de buscar o conhecimento de Deus atravs das coisas criadas, mas a fonte doconhecimento seria o eu e dele derivaria a realidade existente. A fonte do conhecimento e do real estaria no mistriointerior do homem, numa experincia mstica interior com algo imanente no homem. Tanto que o prprio Descartes partiu de uma famosa experincia mstica interior, de uma viso que o iluminou. Deus estaria no homem, e de modo substancial, como dizia a velha Gnose.Com Descartes o imanentismo irrompia, de novo, na Histria. A filosofia cartesiana, pondo em duvida o real, iniciavauma corrente negadora do conhecimento humano e, portanto, defensora do irracionalismo. Descartes separou ointelecto humano da realidade.Por outro lado e dialeticamente o mtodo cartesiano afirmava que a razo humana seria capaz de conhecertoda verdade. Era o otimismo racionalista pantesta e experimentalista, oriundo do nominalismo que o cartesianismoaprofundava.Do cartesianismo, ento, vo nascer duas tendncias opostas e dialeticamente iguais:

    a) uma corrente racionalista, materialista, tendente ao pantesmo, e que se manifestar mais explicitamente noempirismo ingls, e, depois, nos filsofos da Enciclopdia, com Voltaire, Diderot e D Alembert; b) outra corrente de carter irracionalista, mstica e gnstica, que se manifestar mais claramente no Pietismoprotestante alemo, e no Quietismo francs, e cujo principal divulgador foi Rousseau. Essa corrente irracionalista quedar nascimento Filosofia idealista alem.

    Como a dialtica faz coincidir os contrrios como iguais, o racionalismo e o irracionalismo se identificariam. Com efeito, mesmo um pensador moderno que no pode ser elogiado, Karl Popper, mostrou o carter dialtico doracionalismo ao mostrar que O racionalismo uma f irracional na razo (Karl Popper, "A Sociedade Aberta e seuInimigos", ed. Edusp- Itatiaia, So Paulo- Belo Horizonte, 1974 , dois volumes, Vol. II, p. 238). Pois se cada razoindividual se sabe limitada, como poderia a razo humana pretender entender tudo?

    2a Revoluo na Filosofia: o Idealismo alemo

    O fundamento mais profundo da Revoluo Francesa e do liberalismo que dela surgiu, semexcluir Rousseau, vem do Idealismo alemo de Kant, e que foi posteriormente desenvolvido pelosgnsticos Fichte, Schelling, Hegel e Schleiermacher. O Idealismo alemo vai aplicar o livre exame de Lutero ao prprio ser. Kant foi para oProtestantismo, -- secundum quid, claro o que So Toms foi para a Escolstica. O Idealismo vaidesenvolver as tendncias subjetivistas subjacentes no Cogito, ergo sum de Descartes. Para o Idealismo alemo, a verdade seria subjetiva. A idia do sujeito conhecedor que projetaria, naexistncia, o ser real. Da idia que surgiria o mundo real. O ideal geraria o real.A verdade ento no seria objetiva, mas sim subjetiva, pessoal. Cada um teria a sua verdade. Na Filosofia escolstica, a verdade foi definida como sendo a correspondncia entre a idia do sujeito conhecedorcom o objeto conhecido:

    CONHECEDOR

  • Conseqentemente, o Bem e a Beleza tambm seriam meramente opinativos. Para o Idealismo a Idia que produz o objeto. O pensar produziria o ser. Ora, isso s verdadeiro em um caso: no caso da criao de Deus. Isso s ocorreu com a Sabedoria divina ao criaro mundo a partir do nada. Quando Deus cogitou cada coisa, ela passou a ser tal qual Deus a concebera em seu Intelecto divino. Por isso,est escrito que foi na Sabedoria que Deus fez todas as coisas, e que no Verbo de Deus que todas as coisasforam feitas, e sem o Verbo nada foi feito. O Idealismo, ao afirmar que, aquilo que cada sujeito pensa, passa a ser o real, faz de cada inteligncia individual, oprprio Verbo de Deus. O Idealismo divinizou o homem. Foi do Idealismo subjetivista que nasceu o relativismo, caracterstico dos sculos posteriores Revoluo Francesae que hoje, no dizer de Joo Paulo II e de Bento XVI, estabeleceu sua tirania sobre o mundo. No s nos hospcios que cada louco tem a sua verdade. Na Democracia liberal ocorre o mesmo. E se cada umtem a sua verdade prpria, fica impossvel qualquer dilogo. O Mundo contemporneo se tornou uma nova torre deBabel, onde cada um fala uma lngua particular, que ningum mais entende. Todo mundo fala. Ningum se entende. a era do Dilogo. a era do ecumenismo.

    3a Revoluo na Filosofia: o Marxismo ou Materialismo Histrico

    Da afirmao de que a verdade subjetiva, isto de que cada um tem a sua verdade pessoal, logo se concluiu queento no h verdade. Para o marxismo, havendo uma evoluo contnua de tudo, no possvel ao intelecto captar a idia do que umacoisa . Seria como se uma mquina fotogrfica estivesse sempre mudando, e como se o objeto que se quer fotografarmudasse tambm continuamente. A fotografia seria impossvel. A verdade no existiria. Porm, essa frase: a verdade no existe auto-destrutiva. Pois, ou essa afirmao certa, ou ela errada. Se ela certa, nela estaria a nica coisa da qual teramos certeza, e nela estaria a nica verdade. Mas, ento, averdade existiria nela. Se a frase acima afirma uma falsidade, ento, o contrario dela estaria certo, e a verdade existiria. Nas duas pontas do dilema, a concluso uma s: A VERDADE EXISTE. A negao da verdade pela doutrina marxista faz com que, o comunista que realmente acreditasse nessa tese, teriacometido o pecado contra o Esprito Santo consistente em negar a verdade conhecida como tal, pecado para o qualno h perdo.

    VII - AS TRS REVOLUES NA ARTE J publicamos, no site Montfort, um trabalho sobre as Trs Revolues na Arte. Agora, queremos fazer apenas umapequena exposio sobre esse problema. A Arte, segundo So Toms, a reta razo no fazer. Ela a transposio de uma Filosofia para um sistema de smbolos. O prprio Beethoven afirmava que havia maisFilosofia em uma de suas sinfonias do que em um Tratado de Metafsica. Conforme Pio XII, a Arte abre uma janela para o infinito. Com efeito, a Arte visa fazer o homem conhecer a Deus atravs do conhecimento do bem, da verdade e da belezaexistentes nas coisas criadas. Da, So Toms definir: Belo o bem claramente conhecido. Ora, o que se conhececlaramente a verdade. Portanto, Belo = Bem + Verdade.

    1a Revoluo na Arte: o Renascimento

    A Arte satisfaz a alma humana em seu desejo de Deus atravs do desejo de bem, verdade e debeleza, dando um impulso vontade para amar o bem; uma idia clara de verdade para a inteligncia,e prazer esttico, agradando a sensibilidade. Ora, o Renascimento, repudiou a idia de que a Arte deveria ser moral. A aceitao da falsa moralpag fez o Renascimento querer representar prazerosamente o mal e o pecado nas obras de arte. O

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  • Renascimento afirmou a liceidade de representar o pecado com agrado e como bem. Prova disto soas obras imorais nas artes plsticas e na literatura. Basta ler o Prncipe de Machiavel paracompreender a imoralidade do Renascimento. Basta conhecer a doutrina gnstica do hermetismoensinada por Marslio Ficino, para estar convencido da imoralidade das obras renascentistas. Eliminado o bem da obra de arte, o Renascimento colocou em primeiro lugar a satisfao dointelecto. O Renascimento admitia apenas que a arte devia ser clara, compreensiva, ainda quando fosseesotrica, como nas obras de Botticelli, Leonardo e Michelangelo. Nessas obras, a Gnose clarapara quem conhece o que significam aqueles quadros e afrescos. (em trabalho futuro, exporemos osignificado do verdadeiro Cdigo usado por esses pintores em suas principais obras). No Renascimento possvel distinguir um veio racionalista, defensor do Pantesmo, e outro veioirracionalista, mgico, e gnstico seguidor da Gnose de Hermes Trismegisto. Leonardo reuniu esses dois erros dialeticamente opostos numa sntese muito original. O racionalismo queria que as obras de Arte clssicas fossem muito claras, obedecendo rigorosamenteas leis da arte (Unidade, variedade, ordem, proporo, simetria, contraste, gradao, etc) como tambmque exprimissem muito clara, ou bem conseqentemente, o que queriam. Claramente, quando fossem obrasexotricas. Conseqentemente, quando fossem feitas em cdigo, exprimindo doutrinas esotricas. Alm disso, a obra de arte clssica deveria ser esteticamente agradvel sensibilidade. Portanto, a obra de arte renascentista tinha como falha maior a ausncia do bem que deixava a vontadehumana frustra e mutilava a obra de arte de um elemento essencial beleza que o bem. Inicialmente, os grandes gnios da Renascena conseguiram sintetizar o racionalismo pantesta com oirracionalismo gnstico. Porm, logo, esses opostos se repeliram, dando origem separao do Barrocootimista e alegre, do maneirismo tenebroso, ilgico, inimigo da razo, pessimisticamente gnstico. Visto que esse tema bem pouco conhecido, no Brasil, colocaremos aqui, alguma citaes retiradas deum nosso trabalho, mais extenso e especfico sobre as Trs Revolues na Artert.org. br). As caractersticas do Maneirismo, filho do classicismo hermtico, em certo sentido, uma ContraRenascena, so, entre outras, as seguintes: 1o - Rejeio da Realidade Objetiva: "O maneirismo assinalou uma revoluo na histria da arte (...) pela primeiravez a arte divergia deliberadamente da natureza" (A. Hauser, Maneirismo, Ed. Perspectiva, So Paulo, 1993, p. 16). 2o - Dualismo metafsico e conseqente pensamento dialtico: Para o pensamento maneirista "nada neste mundoexiste de maneira absoluta, e o oposto de toda realidade tambm real e verdadeiro. Tudo se expressa em extremosopostos a outros extremos, e atravs desse pareamento paradoxal de opostos que a afirmao significativa possvel. (...) a verdade tem inerentemente dois lados, a realidade bifronte e (...) aderir verdade e realidadeimplica evitar toda super simplificao e abranger coisas em sua complexidade" (A. Hauser, op. cit.,pp. 21-22). Da, aimpossibilidade de alcanar a certeza a respeito de qualquer coisa". (A. Hauser, op. cit. p. 21). 3o - Negao do conhecimento racional e de certezas , portanto, a terceira caracterstica do pensamentomaneirista. 4o - Negao do ser; s existe o devir. 5o - Negao da identidade do ser: "No somente a natureza da realidade externa e objetiva se modifica de acordocom o ponto de vista subjetivo, no somente tudo o que percebemos 'alterado e falsificado por nossos sentidos', maso eu tambm muda to acentuadamente de caso para caso que no h possibilidade de captar sua verdadeiranatureza (...) motivo pelo qual a dvida lanada sobre a prpria natureza e permanncia do eu. Este foi o golpedemolidor contra a f na identidade do ser humano, do qual a cultura da Renascena nunca se recuperou; sem issono pode haver explicao para o maneirismo, seja como viso de vida, seja como estilo artstico. A distoro nas artesvisuais, o uso exagerado e impaciente da metfora na literatura, a freqncia com que os caracteres no drama comooutrem e questionam sua prpria identidade, so apenas meios de expressar o fato de que, enquanto o mundo objetivose tornou ininteligvel, a identidade do ser humano foi abalada e se tornou vaga e fluida. Nada era o que parecia ser, etudo era diferente do que denotava ser. A vida era disfarce e dissimulao e a prpria arte ajudava no s a mascarar avida como a discernir sua mscara" (A. Hauser, op. cit., p. 49). Expresso maior desse irracionalismo na arte foi,posteriormente, o Romantismo. Foi do Maneirismo que vieram quer o Romantismo lrico, sonhador, simbolista egnstico, assim como as correntes gnsticas da Arte Moderna, como o Expressionismo, o Abstracionismo, e oSurrealismo, por exemplo.

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  • 2a Revoluo na Arte: o Romantismo

    Vimos que a Arte deve visar o Bem, a Verdade e a Beleza. Assim como o Renascimento recusou buscar o bem atravs da obra de arte, o Romantismo recusoubuscar o bem e a verdade. Na arte, o Romantismo quis buscar apenas o agradvel. O Renascimento separou a arte da moral, mas respeitou muito as leis da esttica, pois super exaltou arelao entre beleza e a razo. Ora, o Romantismo argumentou que se o declogo no devia ser respeitado na obra de arte, por que sedeveriam respeitar as leis estticas, muito menos importantes do que os dez mandamentos? Deste modo, o Romantismo no fez mais do que tirar as conseqncias lgicas dos princpios estticosdo Renascimento. Ele uma conseqncia do Renascimento e, alm dessa relao lgica com ele, ele temtambm as mesmas fontes e princpios doutrinrios: tanto quanto a Renascena, o Romantismo gnstico epantesta. Nele tambm se podem encontrar as duas serpentes enroscadas do caduceu de Hermes. Noromantismo lrico e simbolista, se oculta a serpente gnstica irracional e mgica. No Romantismoracionalista do Naturalismo e do Realismo, se encontra a serpente do Pantesmo. O Romantismo vai levar mais adiante o processo revolucionrio na esttica, declarando que a belezanada tem a ver com a verdade. A beleza no deveria ser nem moral nem lgica, mas apenas agradvel,satisfazendo ento apenas sensibilidade e no inteligncia (pela verdade) e vontade (pelo bem). E eralgico que o romantismo recusasse a unio da beleza com a verdade, dado que para a filosofia que o gerou- o idealismo - a verdade objetiva no existe. Assim como o Romantismo esteticamente derivou do Renascimento, teologicamente ele proveio do livreexame luterano. Lutero asseverou que cada um podia interpretar a Bblia a seu talante. O Idealismo e oRomantismo afirmavam que cada um podia interpretar a realidade a seu modo pessoal. O Romantismo,tanto como o idealismo, seu gerador, foi ento o livre exame da realidade. Para os idealistas assim como para os romnticos, na correspondncia da idia do sujeito ao objetoconhecido, o elemento determinante era a idia do sujeito. Era a idia que criava o objeto. Portanto, averdade era subjetiva. Cada um tinha a sua verdade particular, no existindo verdade objetiva. A realidadeera subjetivizada, no sonho do lirismo, ou renegada, no realismo e no naturalismo, por seus defeitos efalhas, por ser o vale de lgrimas. Ora, essa rejeio da realidade e da verdade conhecidas como tais coloca o Romantismo e o Idealismocomo pecados contra o Esprito Santo, pecado que no tem perdo. Da, a impossibilidade quase total deconverter algum que adira realmente ao Romantismo. Fala-se-lhe razo, ele responde com o sentimento.Argumenta-se-lhe com fatos, ele contesta com mitos ou lendas. Coloca-se-lhes ante os olhos o real, elecontesta com o sonho e a imaginao. Por isso muito difcil converter um romntico, porque nele h uma negao da verdade e da realidadeconhecidas como tais. Para o Romantismo, a beleza nada tinha que ver com a verdade. Belo era o que agradava, ainda quefosse objetivamente feio. O artista deveria, pois, se deixar levar por seu agrado pessoal e no pela razo. Aarte no teria que obedecer a nenhuma lei racional e objetiva. A esttica caa no subjetivismo e norelativismo. So conhecidas as razes esotricas, cabalsticas e pietistas do Romantismo. As trs razes doRomantismo - o esoterismo, o pietismo, o idealismo filosfico - eram irracionalistas. Os esotricos do sculo XVIII tinham uma doutrina tipicamente gnstica. Eles condenavam a razo edefendiam o sonho como meio de apreenso do real. O mundo concreto seria falso. Ele era o produto dopensamento - sonho da razo. O universo real s podia ser atingido pela anulao da razo atravs dosonho, da hipnose magntica, do sonambulismo, do "xtase" ou das drogas. Ou por meio de uma intuiomstica. A anulao e a destruio da razo acabariam com a dualidade sujeito-objeto, permitindo aunificao do eu com o mundo. E, nesta unio, atravs do sonho, seria reconstituda a inocncia primeira doden e a unio com a prpria divindade. Alcanar-se-ia a restaurao do homem na inocncia original. Os romnticos esperavam para breve um Reino de Deus na terra - que Jacob Boehme denominava o "tempo dos lrios", Lilienzeit - reino do Amor, no qual a Lei seria abolida. Esse messianismo cabalista

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  • repercutiu no sonho romntico de um futuro Reino do Amor, no qual ressoavam ecos das teoriasmilenaristas do abade Joaquim de Fiore. Esperava-se para logo mais o estabelecimento de um perodo defelicidade perfeita na terra, como uma volta ao paraso terrestre. Exemplo desse milenarismo romntico setem na expectativa certa seita a respeito de um Reino de Maria, em que haveria cidades com ruas decristal e catedrais de porcelana, com vitrais de pedras preciosas... Todos os filsofos idealistas alemes foram seguidores dos ideais gnsticos de Boehme, dos esotricose dos pietistas. Quando eles descobriram as obras de Mestre Eckhart, eles viram nelas a expresso de seupensamento mais profundo. A viso dialtica do ser da Gnose, de Eckhart e Boehme, ser adotada porSchelling, por Hegel e, depois, pelo prprio Marx. De todo modo, esotricos, pietistas, idealistas repudiavam a razo e levantavam contra ela a intuio -espcie de capacidade mgica e no discursiva de que o homem seria dotado, e que lhe permitiria alcanaro mundo invisvel, passando por cima dos dados dos sentidos e dos raciocnios lgicos. Essa mesma atitude face realidade, razo e ao estudo, com super favorecimento imaginao e aosonho se encontra, por exemplo, nos escritos de Plnio Corra de Oliveira, o profeta da TFP. E isso revelauma aceitao, pelo menos em certo grau, da mentalidade revolucionria e gnstica do romantismo. Porqueo romantismo era gnstico. E por isso era tambm revolucionrio G. Gusdorf, em sua importante obra a respeito do Romantismo afirma explicitamente que:

    "O Romantismo uma renascena gnstica (...) Schelling um gnstico, cujas convices se desenvolvem medida que ele avana em idade, da mesma forma Baader; a Naturphilosophie impe pesquisa cientficacdigos gnsticos. (G. Gusdorf, Le Romantisme, Payot, Paris,1993, I vol. p. 512). Tambm Simone de Ptrement acusou a Gnose escondida sob os vus sonhadores e as brumas misteriosas doRomantismo. Disse ela: "Pode-se dizer que reina, desde o romantismo, uma espcie de dualismo pessimista e sentimental, anlogo ao dosgnsticos. Ele consiste sobretudo no sentimento que o homem est mal adaptado em sua prpria condio, que ele seacha angustiado, que ele precisa de outra coisa (como se ele fosse estranho a si mesmo e ao mundo em que ele seacha, como s sua verdadeira natureza no estivesse nesse mundo). Ns dissemos que os gnsticos so romnticos;ns poderamos dizer igualmente que o Romantismo gnstico" (Simone de Ptrement, Le Dualisme chez Platon, lesGnostiques et Manichens", PUF , Paris, 1947, p. 344). Com efeito, o que a Revoluo Francesa foi para a poltica, o Romantismo foi para a arte, porque ambos, oRomantismo e a Revoluo, so filhos do liberalismo. Ora, para o liberalismo no existe verdade objetiva. Em criteriologia o liberalismo subjetivista: verdade o que osujeito considera como tal. A idia que o homem tem de um objeto variaria de sujeito para sujeito. No havendo verdade objetiva, o certo e o errado, o bem e o mal, o belo e o feio passam a ser conceitos subjetivos.Belo o que a pessoa considera tal. Belo o que agrada a um sujeito. No haveria, portanto, nem beleza objetiva enem regras de beleza. O subjetivismo do romntico uma revolta contra o racionalismo clssico e, ao mesmo tempo, uma conseqnciadele. Lutero pregou o livre-exame da Bblia. O Renascimento "endeusou" a razo humana. Desses dois erros nasceu osubjetivismo, pois que, sobre uma determinada questo, todas as opinies seriam certas e verdadeiras, ainda quecontraditrias. O Romantismo foi o triunfo da imaginao sobre a razo, do subjetivo sobre o objetivo, do sensvel sobre oabstrato. O Romantismo o sonho. a imaginao tentando negar a realidade e os sacrifcios que a vida traz consigo. O romntico sonha que na natureza no h nem espinhos nem lama. Seus heris - filhos de Rousseau - no tmpecado original, nem defeitos, nem tentaes. O Romantismo uma tentativa de negar que o homem foi expulso do Paraso terrestre, ou a tentativa frustra detentar voltar a ele, clandestinamente, pela porta do sonho. O romntico sentimental. Ele busca sentir de modo exacerbado. Edouard Schurr escreveu:

    "O sono, o sonho e o xtase so as trs portas abertas para o Alm, de onde nos vem a cincia da alma e a arte daadivinhao". (Edouard Schurr, Les Grands Initis, in Alain Mercier, op cit. p. 207). E Plnio Corra de Oliveira, apesar de se dizer Contra Revolucionrio, e de se apresentar at como a ContraRevoluo, romanticamente declarou:

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  • A Histria , na alma do homem, um movimento pendular entre o sono e o sonho. (A Cavalaria no Morre -- Excertosdo pensamento de Plnio Corra de Oliveira, recolhidos por Leo Daniele, Edies Brasil de Amanh, So Paulo, 1998,p. 18). E ainda: Os sonhos e as aspiraes so a fora motriz da Histria. (A Cavalaria no Morre -- Excertos do pensamento dePlnio Corra de Oliveira, recolhidos por Leo Daniele, Edies Brasil de Amanh, So Paulo, 1998, p. 18)

    3 a Revoluo na Arte: A Arte Moderna: negao da prpria Beleza

    O Renascimento separara a beleza do bem. O Romantismo foi alm, separando a beleza da verdade. A arte moderna far a ltima negao, ao repudiar a prpria Beleza. Chegava-se ao fim do processoanti-metafsico. A recusa de aceitar o bonum levou ao repdio do verum e do pulchrum. Mas, de fato, o que se fez foirepudiar o prprio ens, o prprio ser. A arte moderna a suprema manifestao de uma revolta metafsica. Ora, aessncia da revolta anti-metafsica a Gnose. A arte moderna uma arte que, repudiando o ser, renega a Deus e oprprio homem, que a sua imagem. Aniela Jaff mostra que a arte moderna se constitui como uma recusa ou fuga da Realidade. Paradoxalmente, aarte moderna que recusa os dados racionais, pretende se apoiar nas descobertas da cincia moderna. Diz A. Jaff que freudismo, fsica nuclear e biologia celular revelaram que o mundo que vemos no real. Assimcomo nosso verdadeiro eu estaria submerso nas profundidades misteriosas do inconsciente, assim tambm o mundomaterial, analisado atomicamente, se desfaz em partculas que so nada ou quase nada. Levada por esse mesmo esprito desintegrador - negador - da realidade, a Arte Moderna, nega a realidade objetiva,buscando uma "outra" Realidade superior e oposta quela em vivemos. Busca uma super realidade, desprovida de matria, exatamente como a que proposta pela Gnose. Por isso, osartistas modernos, em geral, consideram o universo criado como a obra de um Deus malvado, e que seu inimigo, que aBblia chama de Serpente e Lcifer, esse, sim, seria o deus bom. So abundantes os textos de artistas modernos que confirmam o que dizemos. Em estudo que editaremos embreve, trataremos disso. Por enquanto, basta-nos mostrar que a Arte Moderna visa o falso, o mal e o feio, que socomo que "imagens" do inimigo do Criador, isto , do demnio. A Arte Moderna diablica. Hans Sedlmayr afirmou que a Arte Moderna revela um pensamento que renunciou totalmente lgica, uma arteque renunciou estrutura, uma tica que renunciou ao pudor, um homem que renunciou a Deus" (Hans Sedlmayr, LaRivoluzone dell Arte Moderna", Garzanti, Milano, 1971, p. 111). Joaquim Inojosa no seu trabalho intitulado "O movimento Modernista em Pernambuco" declarou:

    "Guerra esttica absoluta, arte oficial, pintura de cpia. Guerra ao belo como o fim da arte" (Apud GilbertoMendona Teles, Vanguarda Europia e Modernismo Brasileiro", Vozes, Petrpolis, 1977, p. 274).

    Faamos corajosamente o "feio" em literatura, e matemos de qualquer maneira a solenidade (...) preciso cuspircada dia no Altar da Arte ! (...) Eu vos ensinei a odiar as bibliotecas e os museus, preparando-vos para odiar ainteligncia, despertando em vs a divina intuio (...)" (F.T. Marinetti, Manifesto do Futurismo, Milano, 1912, apud G.M. Teles , op cit. p. 93). A mesma insuspeita Aniela Jaff, tem textos impressionantes, confirmando o que dizemos.

    "O esprito em cujo mistrio a arte estava submersa era um esprito terrestre, aquele a que os alquimistas medievaischamavam de Mercrio. Mercrio o smbolo do esprito que estes artistas pressentiam ou buscavam por trs danatureza e das coisas, "por trs da aparncia da natureza" "O seu misticismo no era cristo, pois o esprito de Mercrio estranho ao esprito "celeste". Na verdade, era o velhoe tenebroso adversrio do Cristianismo que maquinava seu caminho arte adentro. Comeamos a ver aqui a verdadeirasignificao histrica e simblica da "Arte Moderna". tal como a os movimentos hermticos da Idade Mdia, ela deveser compreendida como um misticismo do esprito da terra, e, portanto, uma expresso de nossa poca decompensao ao cristianismo". (Aniela Jaff, "O Simbolismo nas Artes Plsticas" , -- in Carl G. Jung, "O Homem eseus Smbolos" , Nova Fronteira, Rio de Janeiro, -- pg.263).

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  • claro que esse esprito da terra, identificado com o velho e tenebroso adversrio do cristianismo" tem um nomebem conhecido, que a prpria Aniela Jaff vai acabar por exprimir: "No seu aspecto positivo, aparece como um "esprito da natureza", cuja fora criadora anima o homem, as coisas e omundo. o "esprito ctnico" ou terrestre, que tantas vezes mencionamos neste captulo. No aspecto negativo, oinconsciente (aquele mesmo esprito) manifesta-se como o esprito do mal, como uma propulso destruidora." "Como j observamos", - prossegue Jaff - "os alquimistas personificaram neste esprito como o "esprito de Mercrio",e chamaram-no muito adequadamente de "Mercurius Duplex" (O Mercrio de duas caras, dual). Na linguagem religiosado cristianismo, chamam-lhe diabo." (A. Jaff, op cit . pg. 267).

    No h dvida, pois, a Arte Moderna diablica. Nela o Antropocentrismo se rebela contra o Criador, e,pretendendo fazer o homem assumir o lugar de Deus, acaba por adorar o diabo.

    VIII - AS TRS REVOLUES NA ECONOMIA

    1a Revoluo na Economia: o Mercantilismo

    O antropocentrismo da Modernidade no podia seno desviar os olhos do homem para a terra. Em vez de ter porfinalidade alcanar o cu, o homem, considerando-se centro de tudo, s podia colocar sua finalidade na terra e namatria. Isto significou viver para este mundo, para seus prazeres e para suas riquezas. O ouro passou a ser o fim dohomem, e no Deus.

    2a Revoluo na Economia: o Capitalismo

    Do Mercantilismo se passou ao Capitalismo, que foi o liberalismo na economia.

    3 a Revoluo na Economia: o Socialismo e o Comunismo

    Se o homem deve viver s para a riqueza, se a vida dinheiro, a vida existe apenas para produzir. Da, Engels terdefinido o homem como um animal que trabalha. Com o Socialismo e o Comunismo, o homem passou a ser visto como uma mera pea na engrenagem daproduo, viso para a qual o Capitalismo, o modo de produo capitalista, o taylorismo, a produo em srie, haviammuito contribudo. No Socialismo tolera-se a propriedade particular apenas de bens de uso, sendo todo bem de produo pertencenteao Estado.Na fase socialista, a famlia ainda tolerada, mas mal vista. Por essa razo, no socialismo, se admite odivrcio e se d direito a fazer aborto. No Comunismo, toda propriedade, quer de bens de uso, quer de bens de produo, passa a ser do Estado. Afamlia desaparece, instaurando-se o amor livre, e os filhos passam a ser do Estado, que os educa no coletivismo. Depois da queda do muro de Berlim, parecia que no seria preciso mais provar como o socialismo mentiroso, ecomo ele s produz misria, escravido e terror. Mas, a sede de mentira e de absurdo inexaurvel, no homem. Bem razo teve a Igreja ,quando, com Pio XI, condenou o Socialismo como a anttese do Catolicismo, afirmando,na encclica Quadragsimo Ano, que Catolicismo e Socialismo so termos antagnicos, e que ningum pode sercatlico e socialista, ao mesmo tempo. Como teve razo quando Pio XI, na encclica Divini Redemptoris, condenou oComunismo como intrinsecamente mau.

    Claro que este quadro geral apresenta apenas uma sntese, e que muito mais poderia ser dito destas trs revolues,particularmente quanto s suas razes gnsticas e pantestas, causas maiores das crises revolucionrias, e nosimplesmente as paixes, como dizia e como escreveu Plnio Corra de Oliveira, simplificando, e, por isso, torcendo efalseando o problema. Mas, esse aprofundamento, ns o faremos num trabalho muito mais extenso em breve, Deojuvante.

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  • O Capitalismo tem como lema a frase Time is Money, que na verdade, dever-se-ia traduzir no como tempo dinheiro , mas como A Vida dinheiro, visto que a vida do homem se passa no tempo. Par o Capitalismo, Life isMoney. O Capitalismo respeitou ainda o direito de propriedade particular e a livre iniciativa.

    O direito de propriedade um direito natural e sagrado por dois mandamentos: no roubar, e no cobiar as coisasalheias.

    A livre iniciativa se fundamenta no prprio livre arbtrio humano. Negar a livre iniciativa e o direito de propriedadeparticular acarretam necessariamente a escravido do homem pelo Estado.

    Mas, o capitalismo, sendo o liberalismo na economia, como o liberalismo, separou a economia da Moral, e esse o seu veneno maior.

    Para o liberalismo, o lucro passou a ser o fim fundamental, no se considerando os meios de obt-lo, se erammeios morais ou no.

    O capitalismo tem nisso o seu erro maior. Por isso, o capitalismo tambm revolucionrio. E quantosdefendem o Capitalismo, como se nele houvesse apenas o bem do direito de propriedade particular. Desse modo, adefesa do Capitalismo, sem distino, sem crtica de seus princpios imorais se torna uma defesa da Revoluo.

    Outro ponto negativo do Capitalismo a livre concorrncia absoluta, que v como um mal qualquerinterveno do Estado na economia. claro que um excesso de interveno do Estado na economia a atrofia, e a levapara o Socialismo, e, conseqentemente, produz a misria.

    Mas, uma absoluta no-interveno do Estado permite que os grandes capitalistas eliminem os pequenoscomerciantes, e isso acaba por concentrar a riqueza nas mos de poucos, facilitando a introduo do Socialismo.

    Por isso, do Capitalismo nascem logicamente o Socialismo e o Comunismo.

    O homem, como disse Corts, ficou com uma doena em seu corao, que ele s queria curar comouro. Na verdade, o ouro era um falso remdio. Era, como a droga, um vcio, que quanto mais se toma, mais escraviza.O homem moderno se tornou escravo do ouro, o antropocentrismo foi um modo de o homem adorar-se, por orgulho, deviver na avareza e na cobia, pelo amor da riqueza, e de viver nos prazeres, escravizado pela impureza.

    A Modernidade a falsa cultura em que o homem adora a si mesmo como a um Baal, ajoelhando-sediante dos trs dolos de seus vcios principais: o ouro, o prazer e a soberba.

    Desse desejo de viver para a riqueza, nasceram os sistemas econmicos revolucionrios: oMercantilismo, o Capitalismo e o Socialismo.

    Do mesmo modo, que nos outros campos da atividade humana, houve tambm trs revolues naEconomia: o Mercantilismo, o Capitalismo, o Comunismo, um causando o outro.

    O Mercantilismo -- um capitalismo incipiente foi o sistema econmico do tempo do Renascimentoe da Reforma. Ele foi o resultado do abandono da concepo feudal, e vigorou praticamente em todo o perodo doAbsolutismo.

    O Estado absolutista, que adotou o sistema mercantilista, julgava que a finalidade humana seriabuscar a riqueza, e que esta consistia no simples acmulo de ouro.

    Tudo era organizado em funo do ouro. As exportaes de um pas deveriam ser pagas somente a ouro. Por sua vez, esse mesmo pas

    somente importaria atravs de pagamento com mercadorias, nunca pagando em ouro o que comprava. Desse modo, oouro deveria apenas entrar no pas, jamais sair.

    Dever-se-ia proteger a produo, impedindo o quanto possvel as importaes atravs detaxas elevadas, e favorecer a produo interna por meio de incentivos. o que se chamou de economia protecionista.

    O Mercantilismo, no fundo, coibiu o comrcio. A ambio, por medo de perder a riqueza,deixou de ganhar dinheiro.

    O Mundo moderno, procurando as riquezas e no o Reino de Deus e sua justia, aumentoua insatisfao, concentrou a riqueza, e certamente aumentou o nmero de miserveis.

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  • Para citar este texto:

    Fedeli, Orlando - "A Cidade do Homem contra a Cidade de Deus - As Revolues da Modernidade"MONTFORT Associao Cultural http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=tres_revolucoesOnline, 25/03/2011 s 19:31h

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