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Geraldine Faccio da Silveira CONSIDERAÇÕES ANATÓMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO APARELHO ESTOMATOGNÁTICO Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Ciências da Saúde Porto 2016

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Geraldine Faccio da Silveira

CONSIDERAES ANATMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO

APARELHO ESTOMATOGNTICO

Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Cincias da Sade

Porto 2016

Geraldine Faccio da Silveira

CONSIDERAES ANATMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO

APARELHO ESTOMATOGNTICO

Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Cincias da Sade

Porto 2016

ii

iii

Geraldine Faccio da Silveira

CONSIDERAES ANATMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO

APARELHO ESTOMATOGNTICO

_________________________________________________

Monografia apresentada Universidade Fernando Pessoa

como parte dos requisitos para a obteno do grau de

Mestre em Medicina Dentria

iv

RESUMO

Introduo: com o crescente aumento da expectativa de vida, o conhecimento das

alteraes anatmicas e fisiolgicas que ocorrem no aparelho estomatogntico durante o

envelhecimento de suma importncia para a correta avaliao do paciente idoso.

Objetivos: descrio e abordagem das principais estruturas anatmicas do indivduo,

adulto e idoso. Estabelece-se uma anatomia comparativa e evolutiva durante o processo

de envelhecimento. Pretende-se contribuir para o conhecimento e reflexo sobre o tema

em questo e demonstrar a aplicabilidade deste conhecimento em contexto clnico.

Mtodos: realizou-se pesquisa bibliogrfica, nas bases de dados Pubmed, b-on SciElo e

Elsevier, no perodo entre 2006-2016.

Resultados: Maxila - ocorre reabsoro ssea, alterao no contorno do arco da maxila,

retruso maxilar, rotao da maxila no sentido horrio, diminuio gradual e constante

do ngulo maxilar e reduo vertical da altura maxilar. Mandbula - aumento do ngulo

da mandbula, diminuio da densidade e volume sseo. Articulao gonfose e

Articulao Temporo-Mandibular - pode ocorrer tanto anquilose, como perda das

estruturas de suporte. Observa-se degenerao e/ou perfurao do disco radicular e

alterao do formato do cndilo. Dentes - cries radiculares, fraturas dentrias e desgaste

dentrio. Ocorrem modificaes histolgicas no esmalte, dentina e polpa dentria.

Periodonto: reabsoro do osso alveolar, gengiva atrfica com tendncia a migrao

apical, deposio apical das camadas incrementais e desgaste de cemento exposto,

ligamento periodontal fino, irregular e diminuio do espao periodontal.

Concluses: as alteraes anatmicas decorrentes do envelhecimento fisiolgico so

mltiplas. O Mdico Dentista diante de um paciente idoso, dever conhecer e distinguir

entre uma alterao decorrente do envelhecimento fisiolgico e uma alterao

patolgica, para o correto diagnstico clnico e uma excelente deciso teraputica. O

Mdico Dentista dever contribuir para o envelhecimento saudvel e para tal deve ser

conhecedor em pleno da temtica do presente trabalho.

v

Palavras-chave: odontogeriatria, anatomia, histologia, maxila, mandbula, ATM,

periodonto, esmalte, dentina, polpa dentria

vi

ABSTRACT

Introduction: Global average life expectancy is increasing. Understanding the normal

age-related changes in the stomatognathic system is crucial practice in Geriatric

Dentistry.

Goals: description and approach of the main anatomical structures of the individual, adult

and elderly. Establishing a comparative anatomy and evolving during the aging process.

It is intended to contribute to knowledge and reflection on the topic in question and

demonstrate the applicability of this knowledge in clinical context.

Methods: Literature research in the Pubmed, b-on, SciElo and Elsevier. Inclusion of

articles published between 2006-2016.

Results: Maxillary - bone resorption, arch contour change, maxillary retraction,

clockwise rotation, decrease angle and height reduction. Mandible - increase of angle and

decreased of branch height, density and bone volume reduction. Gonfose joint and

Temporomandibular joint - ankyloses or loss of support structures, degeneration and / or

perforation of the disk and changes in the condyle format. Teeth - root caries, fractures

and teeth wear. Histological changes in enamel, dentin and dental pulp. Periodontium -

alveolar bone resorption, atrophic gum to apical migration, apical deposition of

incremental layers and wear of exposed cementum, periodontal ligament thinning and

periodontal space decrease.

Conclusion: anatomical changes due to physiological aging are multiple. The dentist on

an elderly patient should know and distinguish between a change resulting from normal

aging and pathological change and an excellent therapeutic decision. The dentist should

contribute to healthy aging and to do so must be knowledgeable in full the theme of this

work.

Keywords: geriatric dentistry, anatomy, histology, maxillary bone, jaw,

Temporomandibular joint, periodontal, enamel, dentin, dental pulp.

vii

AGRADECIMENTOS

Aos meus amados e queridos pais, Jos Joo e Regina Stela, responsveis pela minha

formao pessoal e, em grande parte, pela profissional. Obrigada por tudo, por me

ensinarem os pilares para ser um ser humano digno, honrado e bondoso; por me ensinarem

a importncia do estudo no crescimento pessoal e intelectual; pelo apoio incondicional na

tomada da minha deciso de embarcar numa nova aventura pessoal e profissional na

Europa; e, principalmente pelo infinito amor que sempre demonstraram e por serem meu

porto-seguro. Amo vocs!

Prof. Doutora Augusta Silveira, agradeo pela confiana depositada em minha

pessoa e apostando na minha capacidade no desenvolvimento deste projeto. Obrigada por

sua dedicao, que muito contriburam para o meu crescimento cientfico, intelectual e

pessoal.

A Universidade Fernando Pessoa, na pessoa do seu Reitor, Prof. Doutor Salvato

Trigo, e Diretora Clnica, Prof. Doutora Sandra Gavinha pela oportunidade de

realizao do curso Mestrado Integrado em Medicina Dentria.

Aos meus amigos, pela presena constante, apoio, incentivo e pacincia nos momentos

que precisei. Principalmente as queridas Juliana Sfadi, Fernanda Mesquita, Ana Rita

Oliveira, Dbora Brancaglione e a Ana Paula Gomes que fizeram este perodo muito mais

alegre e agradvel. Obrigada!

Aos meus preciosos irmos, Tatiana e Rodrigo, que me mostraram que a persistncia no

estudo leva ao sucesso muito antes do que imaginamos.

Ao meu queridos sobrinhos Guilherme e Ana Beatriz, que me relembram diariamente a

magia e da alegria das descobertas.

Ao meu querido Ricardo, que com muito carinho me incentivou nesta nova jornada.

Agradeo especialmente a minha grande mestra Dr. Regina Stela Faccio da Silveira, que

tenho o prazer de t-la como me, que me ensinou no apenas que o estudo o melhor

caminho a ser trilhado, como tambm que a dedicao e a paixo na cincia da Medicina

Dentria so ingredientes para a felicidade e sucesso na profisso. Minha eterna gratido!

viii

NDICE

I. INTRODUO ................................................................................................... 1

II. DESENVOLVIMENTO ..................................................................................... 5

1. MATERIAL E MTODOS ......................................................................................... 5

2. CONSIDERAES ANATMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO

APARELHO ESTOMATOGNTICO ............................................................................ 6

2.1 Maxila............................................................................................................. 6

2.2. Mandbula .................................................................................................... 10

2.3. Artrologia ..................................................................................................... 13

2.3.1 Gonfose ............................................................................................... 13

2.3.2 Articulao Tmporo-Mandibular (ATM) .......................................... 14

2.4. Anatomia Dentria ....................................................................................... 17

2.4.1 Aspectos macroscpicos por grupo dentrio ....................................... 17

2.4.2 Esmalte, Dentina e Polpa Dentria ...................................................... 20

2.5. Estruturas Periodontais ................................................................................ 24

2.5.1 Osso Alveolar ...................................................................................... 25

2.5.2 Cemento .............................................................................................. 26

2.5.3 Gengiva ............................................................................................... 27

2.5.4 Ligamento Periodontal ........................................................................ 29

III. DISCUSSO ..................................................................................................... 31

IV. CONCLUSO ................................................................................................... 47

V. PERSPECTIVAS FUTURAS .......................................................................... 50

VI. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................ 51

ANEXOS ....................................................................................................................... 63

ix

NDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Alteraes da curvatura do arco maxilar (Williams, 2010). ............................ 8

Figura 2 - Retruso maxilar (Mendelson & Wong, 2012) ................................................ 9

Figura 3 - Tomografia computadorizada mostrando o ngulo maxilar - reduzido no

indivduo idoso (Shaw & Kahn, 2007). ............................................................................ 9

Figura 4 - reas de reabsoro ssea (Mendelson & Wong, 2012). .............................. 10

Figura 5 - Alteraes da mandbula (Ghaffari, 2013). .................................................... 12

Figura 6 - Esquema representativo dos tecidos e das interfaces da gonfose (Ho et al.,

2007). .............................................................................................................................. 14

Figura 7 - Anatomia da ATM boca fechada (Choi et al., 2012). ................................. 15

Figura 8 - Disco articular - setas indicam perfurao do disco (Stratmann et al., 1996).16

Figura 9 - Desgaste dentrio (Bartlett & Dugmore, 2008). ............................................ 19

Figura 10 - Desgaste dentrio (Burke & McKenna, 2011). ............................................ 19

Figura 11 - Desgaste dentrio causado por distrbio gstrico bulimia (Burke &

McKenna, 2011). ............................................................................................................ 21

Figura 12 - Desenho esquemtico dos tipos de danos mecnicos do esmalte (Lucas &

Casteren, 2015). .............................................................................................................. 22

Figura 13 - Remodelao dentoalveolar (Margveelashvili et al., 2013). ....................... 26

x

ABREVIATURAS

% - Percentagem

ATM - Articulao Temporomandibular

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

1

I. INTRODUO

Segundo a definio da Organizao Mundial de Sade, o indivduo idoso aquele que

possui 65 ou mais anos. Em 2010, cerca de 8% da populao mundial era idosa, e,

estima-se, que este valor duplique em 2050. As taxas de longevidade mais elevadas so

observadas nos pases desenvolvidos, representando 15,8% da populao geral. Em

Portugal, segundo o Censo 2011, realizado pelo Instituto Nacional de Estatstica, cerca

de 19% da populao idosa, com a regio Centro acima da mdia, com 22,4%

(Europeu, 2010; Censo, 2012).

Verifica-se, nos pases europeus, uma mudana na pirmide populacional, com a

diminuio da base e alargamento do topo; decorrente da diminuio da taxa de

natalidade e aumento da longevidade (Censo, 2012)

A diminuio da taxa de natalidade traz diversas consequncias; sendo que, do ponto de

vista socioeconmico, a mais importante, a reduo da populao economicamente

ativa ao longo dos anos. Atualmente, h quatro pessoas economicamente ativas para cada

idoso na Unio Europeia. Mantendo-se os ndices da taxa de natalidade e expectativa de

vida nos ritmos atuais, estima-se que, na Unio Europeia, nos anos de 2060, haver dois

indivduos economicamente ativos para cada inativo; sobrecarregando, portanto, o

sistema previdencirio (Europeu, 2010).

Neste mesmo contexto, o sistema de sade pblica, tambm, ver-se- sobrecarregado,

pois, com o aumento da longevidade, as patologias crnico-degenerativas, fsicas e

mentais, tendem a aumentar, em nmero, e, em complexidade, exigindo maior atuao

do Sistema de Sade.

Dessa forma, a participao do idoso na vida social indispensvel, evitando o

isolamento, que, muitas vezes, caracteriza o indivduo nesta fase; e faz com que, muitas

doenas, se desenvolvam, ou, no mnimo, se agravem. A presena de amigos,

conselheiros e familiares que fazem parte da rede social do idoso fundamental em seu

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

2

cotidiano, diminuindo, pois, a percentagem de isolamento, e, com isso, o

desenvolvimento de doenas e do alto ndice de depresses.

As diversas atividades culturais, tais como, teatro, cinema, espetculos musicais, que no

apresentam limitao quanto idade, so timos para a vida e o lazer do indivduo idoso.

importante que as expectativas pessoais, nessas reas, para msicos e todos aqueles

que apreciam as artes e as expresses corporais, sejam mantidas at a idade mais

provecta possvel.

O envelhecimento resulta de uma complexa interao entre os processos celulares,

orgnicos e sistmicos; com influncia de fatores genticos, ambientais, alimentares,

infeciosos, fsicos, psquicos e sociais. As alteraes anatmicas e fisiolgicas so

inevitveis, surgem de maneira normal, e atingem todos os indivduos. O processo de

senescncia caracteriza-se pela deteriorao gradual, contnua e irreversvel das diversas

funes celulares e dos vrios processos fisiolgicos, culminando com a alterao da

capacidade adaptativa do organismo face s agresses a que est sujeito ao longo da vida

e da acumulao de detritos celulares e moleculares por falncia das capacidades de

reparo e regenerao celular (Verssimo, 2014).

Devido ao aumento da expectativa de vida, uma etapa desafiadora compreender as

bases biolgicas do envelhecimento, bem como as alteraes moleculares, celulares e

morfolgicas que resultam no aparecimento de alteraes anatmicas associadas ao

envelhecimento.

O tema escolhido para o desenvolvimento deste trabalho na generalidade, a descrio

das alteraes anatmicas do aparelho estomatogntico durante o processo de

envelhecimento. O conhecimento adquirido, ao longo dos anos pela sociedade cientfica,

nas reas da antropologia e anatomia vem contribuindo para o melhor entendimento das

alteraes que ocorrem nos seres humanos associado ao envelhecimento. Estes

conhecimentos tornaram-se extremamente relevantes na atualidade, uma vez que, o

aumento crescente da expectativa de vida, tem sido uma realidade em todas as sociedades

desenvolvidas.

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

3

Assim, a motivao que me levou a discorrer sobre as consideraes anatmicas do

envelhecimento do aparelho estomatogntico foi, de pronto, oferecer, ao leitor, uma

viso clara, sobre as alteraes anatmicas ocorridas, nesta rea, na velhice; pois, exceto

aqueles que partem prematuramente, o destino do ser humano envelhecer. O idoso no

um jovem envelhecido, um ser humano repleto de experincias e anseios distintos

dos seus considerados anos juvenis, seu corpo moldado com o passar dos anos, obriga-o

a algumas adaptaes e ao convvio com algumas limitaes. Outro aspeto importante

para a escolha do tema a minha paixo, desde os tempos de criana, pela magnfica

mquina chamada Corpo Humano- conhecer as suas alteraes anatmicas ao

envelhecer despertaram-me uma grande curiosidade representando a motivao para

estudar estes aspetos do ser humano que tanto me fascinam.

Neste contexto, extremamente relevante o conhecimento das estruturas normais do

aparelho estomatogntico e das suas alteraes prprias decorrentes do envelhecimento,

a fim de, primeiro, identific-las, e, posteriormente, distingui-las de alteraes

patolgicas tambm existentes neste aparelho. Assim, a demonstrao de alguns aspetos,

e a discusso sobre as alteraes anatmicas do envelhecimento do aparelho

estomatogntico, podem contribuir para o conhecimento e a reflexo sobre o tema em

questo.

Para a produo deste trabalho, foi realizada, uma reviso de literatura, atravs de busca

de artigos cientficos em bibliotecas virtuais, tais como: Pubmed, B-on, Scielo, Elsevier

e Google acadmico, alm de livros publicados relacionados com o tema em estudo na

Biblioteca da Universidade Fernando Pessoa e na Biblioteca das Cincias da Sade da

Universidade de Coimbra.

Este trabalho foi estruturado de forma a abordar os assuntos mais pertinentes sobre o

envelhecimento anatmico do aparelho estomatogntico. Em princpio, neste item I, ser

realizada a Introduo do trabalho, no qual consta, resumidamente: o objeto do trabalho,

as motivaes pessoais e acadmicas que levaram a autora a escolher este tema, os

objetivos do trabalho, a estrutura do trabalho.

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

4

No item II, ser realizada a descrio, mais detalhada, dos mtodos utilizados para a

realizao deste trabalho; bem como, sero abordadas as modificaes decorrentes do

envelhecimento das principais estruturas do sistema estomatogntico, tais como:

osteologia da maxila e mandbula; artrologia, com nfase para a gonfose e articulao

tmporo-mandibular; anatomia e histologia dentria, descrevendo os aspetos

macroscpicos por grupo dentrio e esmalte, dentina e polpa dentria; estruturas

periodontais, tais como o osso alveolar, cemento, gengiva e ligamento periodontal. Esta

abordagem ter carcter descritivo e ilustrativo para melhor compreenso das alteraes

que ocorrem no corpo humano com o envelhecimento.

A Discusso sobre as abordagens expostas, das alteraes anatmicas do aparelho

estomatogntico no envelhecimento ser apresentada no item III. Os itens IV e V sero

compostos pelas concluses tiradas pela autora sobre o tema exposto e consideraes

finais acerca do envelhecimento anatmico do aparelho estomatogntico e suas

perspetivas futuras, respetivamente.

O item VI ser composto pelas Referncias Bibliogrficas consultadas e estudadas para

a realizao deste trabalho.

O objetivo deste trabalho consiste na descrio e abordagem das principais estruturas

anatmicas do indivduo, adulto e idoso. Estabelece-se uma anatomia comparativa e

evolutiva durante o processo de envelhecimento. Pretende-se contribuir para o

conhecimento e reflexo sobre o tema em questo e demonstrar a aplicabilidade deste

conhecimento em contexto clnico.

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

5

II. DESENVOLVIMENTO

1. MATERIAL E MTODOS

As pesquisas foram realizadas atravs de artigos cientficos nas bibliotecas virtuais:

Pubmed, b-on, SciELO, Elsevier e Google acadmico; alm de livros relacionados com

o tema de estudo na Biblioteca da Universidade Fernando Pessoa do Porto e na

Biblioteca das Cincias da Sade da Universidade de Coimbra, estes ltimos sem

qualquer limite temporal.

Os critrios de incluso na reviso bibliogrfica de artigos foram: limite temporal, desde

janeiro 2006 at maro de 2016, numa primeira reviso; no entanto, numa segunda

reviso, tornou-se pertinente a referncia a alguns artigos mais antigos, escritos em

lnguas inglesa e portuguesa; e artigos com disponibilidade de texto na ntegra.

Os critrios de excluso foram: assunto no diretamente pertinente para incluso do

trabalho; artigo no disponvel na base de dados eletrnicos; artigo disponvel em lnguas

diferentes das impostas nos critrios de incluso; e, artigos apresentados repetidamente

nas bases de dados.

Para a busca dos artigos cientficos usaram-se as seguintes descries/palavras-chave:

Maxilla AND Ageing, Mandible AND Ageing, Dental arthrology, Gomphosis

AND Anatomy AND Ageing, Temporomandibular joint AND Anatomy AND Ageing,

Enamel AND Ageing, Dentin AND Ageing, Dental Pulp AND Ageing, Alveolar

bone AND Ageing, Cementum AND Anatomy AND Ageing, Gingival AND Anatomy

AND Ageing, Periodontal ligaments AND Ageing. Na Tabela 1, em anexo, encontra-

se descrita a pesquisa bibliogrfica, com o nmero total de artigos encontrados na base

de dados eletrnicos e os artigos includos para o desenvolvimento deste trabalho, usando

as palavras-chave outrora mencionadas.

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

6

Dado tratar-se de um trabalho de Anatomia descritiva entendeu-se fundamental a

colocao de imagens para ilustrar o texto apresentado. Vale ressaltar que todas figuras

possuem autorizao de utilizao pelo autor/editora para a reproduo nesta dissertao.

2. CONSIDERAES ANATMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO

APARELHO ESTOMATOGNTICO

2.1 Maxila

A maxila est localizada na regio central do esqueleto da face, e articula-se com os ossos

do viscerocrnio, exceto com a mandbula. um osso par, pneumtico e apresenta-se com

pouca densidade, possuindo maior proporo de osso esponjoso que de osso compacto.

A sutura intermaxilar responsvel pela unio da maxila direita com a maxila esquerda

(Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012).

Anatomicamente, a maxila formada por um corpo central e quatro processos. Os

processos so denomidados: processo frontal, processo zigomtico, processo alveolar e

processo palatino (Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012).

O processo frontal extende-se superiormente, articulando-se com o osso frontal por meio

da sutura frontomaxilar (Madeira, 1998).

O processo zigomtico articula-se com o processo do osso zigomtico, atravs da sutura

zigomaticomaxilar. No indivduo idoso, a crista zigomtico-alveolar pode aproximar-se

do rebordo residual (Madeira, 1998).

No processo alveolar localizam-se os alvolos dentrios, que so responsveis pela

insero das razes dos dentes superiores; so tambm encontradas, no processo alveolar,

as eminncias alveolares e a eminncia canina. Localizam-se, tambm, neste processo, a

fossa incisiva e a fossa canina, bem como, em sua base, a espinha nasal anterior. Com o

passar dos anos, tanto o forame incisivo quanto a espinha nasal anterior, podem ser

encontrados prximos superfcie do rebordo residual (Madeira, 1998).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

7

O processo palatino articula-se atravs da sutura palatina mediana, com a lmina

horizontal do osso palatino, formando o palato sseo. A sutura palatina transversa

responsvel pela articulao dos processos palatinos das maxilas com as lminas

horizontais dos palatinos. Anteriormente sutura palatina mediana est localizado o

forame incisivo, que a abertura do canal incisivo, proveniente da cavidade nasal

(Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012). Durante o processo de

envelhecimento o palato sseo torna-se plano e mais raso, deixando de apresentar o aspeto

arqueado; pode-se formar um toro palatino (Madeira, 1998).

Pode-se, didaticamente, dividir o corpo da maxila em quatro faces: anterior, posterior

ou infratemporal, medial ou nasal e superior ou orbital (Madeira, 1998; Rossi, 2010;

Paulsen & Waschke, 2012).

Na face anterior, localizam-se, a abertura da cavidade nasal, a abertura piriforme e a

margem infraorbital, que, junto com o osso zigomtico, delimita inferiormente a cavidade

orbital. Abaixo da margem infraorbital, localiza-se o forame infraorbital, que a abertura

final do sulco e canal infraorbital. A face anterior da maxila limitada lateralmente pela

crista zigomaticoalveolar, que corresponde a rea de condensao ssea, estendendo-se

desde o processo zigomtico da maxila at o processo alveolar, ao nvel do primeiro

molar. A face posterior ou infratemporal est localizada na regio da fossa

infratemporal, onde apresentam-se os forames alveolares e a tuberosidade da maxila. A

face infratemporal da maxila articula-se com a lmina lateral do processo pterigoide do

osso esfenoide. A fissura orbital inferior localiza-se entre a parte mais superior da face

infratemporal da maxila e a crista infratemporal da asa maior do osso esfenide. A face

medial ou nasal constitui a parede lateral da cavidade nasal, onde ocorre a fixao da

concha nasal inferior. O meato nasal mdio delimitado, lateralmente, pela maxila, e,

superiormente, pela concha nasal mdia. A face superior ou orbital forma o soalho da

cavidade orbital. Nesta face, localiza-se o sulco infraorbital, que passa a ser o canal

infraorbital e abre-se no forame infraorbital, localizado na face anterior da maxila

(Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

8

No interior do corpo da maxila est localizado o maior seio paranasal, designado por seio

maxilar (Rossi, 2010). Durante o envelhecimento, a cavidade do seio maxilar pode

ampliar-se em decorrncia da reabsoro ssea de suas paredes, bem como, o soalho pode

alterar-se e ficar muito prximo do rebordo residual, culminando em deiscncias

(Madeira, 1998).

Com o envelhecimento, ainda podem ser observadas: alteraes no contorno do arco

maxilar (Figura 01); retruso maxilar (Figura 02); rotao da maxila no sentido horrio;

diminuio gradual e constante do ngulo maxilar (Figura 03); reduo vertical da altura

maxilar; reabsoro ssea, diminuio do volume e densidade ssea da maxila (Figura

04) (Madeira, 1998; Brunetti & Montenegro, 2002 ; Shaw & Kahn, 2007; Williams SE,

2010; Mendelson & Wong, 2012; Glowacki & Cristoph, 2013; Ilankovan, 2014; Kim, et

al., 2015).

Figura 1 - Alteraes da curvatura do arco maxilar. (A) Traado da curvatura do lado direto da

face (Curvatura maxilar 1; pontos pr at ecm); Vetores do processo alveolar maxilar, vista

superior e vista anterior; as linhas indicam a direo das alteraes (Williams, 2010).

A

B C

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

9

Figura 2- Retruso maxilar. O aprofundamento da maxila culmina em um posicionamente mais

posterior do sulco nasogeniano e do lbio superior (Mendelson & Wong, 2012).

Figura 3- Tomografia computadorizada mostrando o ngulo maxilar - reduzido no indivduo

idoso. Imagem da esquerda corresponde ao indivduo jovem e a imagem da direita corresponde

ao indivduo idoso (Shaw & Kahn, 2007).

.

ngulo

Glabelar: 77.1

ngulo

Glabelar: 77.4

ngulo

Piriforme: 60.5 ngulo

Piriforme: 56.9

ngulo Maxilar:

64.4

ngulo Maxilar:

53.6

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

10

Figura 4 - reas de reabsoro ssea. (A) Setas indicam as areas sucetveis a reabsoro ssea com o

envelhecimento; o tamanho da seta proporcional a quantidade de reabsoro que pode ocorrer. (B)

reas em preto so as de maior perda ssea (Mendelson & Wong, 2012).

Vale ressaltar que, a perda dentria, causa da perda ssea acentuada na maxila e

processo alveolar (Madeira, 1998; Brunetti & Montenegro, 2002 ; Silveira, et al., 2005;

Ilankovan, 2014).

2.2. Mandbula

A mandbula o nico osso mvel do crnio, um osso mpar e, anatomicamente,

dividido em corpo mandibular e ramos da mandbula. Apresenta maior quantidade de

osso compacto e o osso esponjoso denso, caracterizando a mandbula com maior

densidade ssea que a maxila (Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012).

Durante o processo de envelhecimento, foi observado por Jonasson et al., um aumento

do espao intratrabecular; o trabeculado sseo parece ser menos mineralizado e o osso

compacto torna-se mais fino e poroso (Jonasson, et al., 2013). Bem como, Kingsmill et

al., em 1998, observaram que, diferentemente dos outros ossos do organismo, o osso

A B

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

11

mandibular parece ter a densidade ssea aumentada com o envelhecimento (Kingsmill

& Boyde, 1998).

No corpo da mandbula est localizado o processo alveolar, regio onde as razes dos

dentes inferiores esto inseridas. O limite inferior do corpo denominado base da

mandbula. Nesta base, prximo linha mediana, est localizada a fvea digstrica. Na

face lateral so observadas as seguintes estruturas anatmicas: linha oblqua, que

percorre o processo alveolar na zona dos molares; forame mentual, que o orifcio

ovalado localizado abaixo das razes entre o primeiro pr-molar e segundo pr-molar

(por este forame ocorre a sada do canal mandibular); protuberncia mentual, rea de

forte condensao ssea, que localiza-se na regio da snfise mentual e fossa mentual,

que a depresso localizada abaixo dos alvolos dos incisivos e do tubrculo mentual.

A face que representa a superfcie do corpo voltada para dentro , nomeadamente, a face

medial do corpo, e, nela, esto localizadas as seguintes estruturas anatmicas: linha

milo-hioidea, elevao linear localizada abaixo dos alvolos dos molares; fossa

submandibular, depresso localizada abaixo da linha milo-hioidea; fossa sublingual,

depresso localizada acima da linha milo-hioidea e processos genianos, elevaes

pontiagudas localizadas na linha mediana. O canal mandibular atravessa toda extenso

do corpo da mandbula, terminando no forame mentual; por ele, passam os vasos e

nervos alveolares inferiores; e, pode, este canal, por vezes, continuar seu trajeto

intrasseo em direo ao mento, passando a ser denominado canal incisivo (Madeira,

1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012; Muinelo-Lorenzo, et al., 2015). Com o

envelhecimento a mandbula sofre inmeras alteraes anatmicas, sendo que, as mais

observadas so: a espinha mentoniana, ou tuberculos genianos, pode apresentar-se no

mesmo plano horizontal do rebordo residual; o forame mentoniano e o canal da

mandbula podem localizar-se prximos ao rebordo residual, ou, at mesmo, sobre ele;

a linha milo-hiidea e a linha oblquoa podem ficar no mesmo nvel, e, at mesmo, sobre

o do rebordo residual (Madeira, 1998).

A regio de interseco ente o corpo e o ramo da mandbula denominada de ngulo

da mandbula (Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012). Em indivduos

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

12

idosos observa-se um aumento deste ngulo da mandbula (Figuras 05) (Merrot, et al.,

2005; Chole, et al., 2013; Ghaffari, et al., 2013; Oksayan, et al., 2014).

Figura 5- Alteraes da mandbula mulher jovem (esquerda) e idosa (direita) (Ghaffari, 2013).

Na regio superior do ramo da mandbula localizam-se: o processo condilar, salincia

elptica que se articula, na articulao temporomandibular, com a fossa mandibular do

osso temporal; colo da mandbula, correspondente ao estreitamento que contorna a

cabea da mandbula; fvea pterigoide, depresso localizada na face anterior do

processo condilar; e, o processo coronoide, salincia localizada anteriormente ao

processo condilar, separada deste pela incisura mandibular (Madeira, 1998; Rossi,

2010; Paulsen & Waschke, 2012). Na face lateral do ramo e ngulo da mandbula,

localiza-se o conjunto de salincias sseas denominado tuberosidade massetrica. Na

face medial localiza-se a tuberosidade pterigoidea; medialmente ao processo

coronoide localiza-se a crista temporal; entre a crista temporal e a borda anterior do

ramo encontra-se a fossa retromolar; na regio posterior, a crista temporal delimita uma

rea conhecida como trgono retromolar. Ainda na face medial do ramo, est

localizado o forame mandibular, que corresponde a entrada do canal mandibular;

frente desse forame localiza-se a lngula. Imediatamente abaixo do forame mandibular

est o sulco milo-hiodeo, depresso linear que extende-se at o corpo da mandbula

(Rossi, 2010).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

13

Inmeros estudos tambm demonstraram outras alteraes na mandbula, tais como:

diminuio da altura do ramo da mandbula e diminuio da altura e comprimento da

mandbula (Figura 05) (Brunetti & Montenegro, 2002 ; Merrot, et al., 2005; Mendelson

& Wong, 2012; Chole, et al., 2013; Ghaffari, et al., 2013; Ilankovan, 2014; Oksayan, et

al., 2014). No entanto, utilizando parmetros diversos, outros estudos demonstraram o

oposto destas ltimas alteraes: Pecora et al., em 2006, demonstrou que o comprimento

da mandbula aumenta com a idade; e, Pessa et al., em 2008, observou um aumento da

mandbula, tanto em largura como em altura, com o aumento da idade (Pecora, et al.,

2006; Pessa, et al., 2008).

Um aspeto que parece no haver controvrsia entre os autores o de que, a perda dentria

e a menopausa em mulheres, so fatores que alteram o processo de remodelao ssea

na mandbula, favorecendo a perda ssea mandibular (Kingsmill & Boyde, 1998;

Merrot, et al., 2005; Jonasson, et al., 2013; Chole, et al., 2013; Oksayan, et al., 2014;

Silveira, et al., 2005).

2.3. Artrologia

Artrologia a area responsvel pelo estudo cientfico das variaes funcionais e

temporais das articulaes (Williams, et al., 1995).

A unio de duas ou mais estruturas denomina-se articulao, e, so estas que permitiro,

ou no, os movimentos livres dos ossos, cartilagens e tecidos fibrosos, de acordo com o

tipo de tecido e as caractersticas prprias de cada articulao (Rouviere & Delmas, 2005).

2.3.1 Gonfose

A articulao fibrosa especializada do complexo dento-alveolar denominada gonfose;

esta composta por osso alveolar, complexo colagenoso do periodonto e cemento

dentrio (Figuras 06). A existncia desta articulao permite a fixao dos dentes nos

alvolos dentrios na mandbula e na maxila (Williams, et al., 1995; Ho, et al., 2007;

McIntosh, et al., 2002; Paulsen & Waschke, 2012); permite, tambm, a

micromovimentao dentria, para a manuteno da normalidade em eventos fisiolgicos

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

14

do contato dentrio. Importante mencionar que movimentos maiores que 0,12 a 0,25mm

so considerados patolgicos (Pergoraro, 1998).

Figura 6 - Esquema representativo dos tecidos e das interfaces da gonfose osso alveolar, ligamento

periodontal (PDL) e cemento (Ho et al., 2007).

No idoso, devido s alteraes metablicas, podem ocorrer diversas alteraes na

gonfose. Estudos demonstram que existe uma diminuio das fibras periodontais e do

contedo celular; e sua estrutura torna-se mais irregular que no indivduo jovem

(Severson, et al., 1978; Chantawiboonchai, et al., 1999). Entretanto, com a progresso da

doena periodontal, tambm prevalente em idosos, e outros fatores, como a presena de

inflamao, podem ocasionar a degradao das propriedades fsicas da gonfose,

resultando em perda de insero e facilitando a perda dentria (Ho, et al., 2007). Outro

fenmeno, observado em animais e humanos, descrito por diversos autores, a anquilose

dentria, caracterizada pela fuso do cemento dentrio ao osso alveolar quando o

ligamento periodontal no se encontra presente, podendo ser influenciada pelo

envelhecimento (Andersson & Malmgren, 1999; Gonalves, et al., 2008; Xiong, et al.,

2013; Lim, et al., 2014; LeBlanc, et al., 2016).

2.3.2 Articulao Tmporo-Mandibular (ATM)

A articulao tmporo-mandibular uma articulao sinovial e apresenta-se em par,

direita e esquerda, sendo denominada bicondilar (Williams, et al., 1995). composta pelo

disco articular, ossos, cpsula fibrosa, lquido sinovial, membrana sinovial e ligamentos

(Figura 07). A superfcie articular recoberta por fibrocartilagem, na qual existe uma

predominncia de fibras colgenas (Williams, et al., 1995; Alomar, et al., 2007; Choi, et

al., 2012).

Osso Alveolar PDL Cemento Dentina Tubular

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

15

Figura 7 - Anatomia da ATM boca fechada (Choi et al., 2012).

Os movimentos mandibulares so orientados pela forma anatmica dos ossos, msculos

e ligamentos, bem como, pela ocluso dentria (Katsavrias & Halazonetis, 2005; Alomar,

et al., 2007).

Durante o processo de envelhecimento, as alteraes mais frequentes so as degenerativas

e podem ocorrer em mais de 50% dos indivduos idosos (Tour, et al., 2005). Os

mediadores da resposta inflamatria, como a interleucina-1, parecem exercer um papel

catablico neste processo degenerativo ocorrido na ATM. (Blumenfeld, et al., 1997).

O disco articular a estrutura mais importante da ATM, apresenta-se como lmina oval

de fibrocartilagem bicncava e tem seu longo eixo orientado transversalmente; localiza-

se entre o cndilo da mandbula e o osso temporal. Sua presena divide, anatomicamente,

a articulao em duas cmaras, superior e inferior. Sua morfologia molda-se s estruturas

anexas; na superfcie superior cncavo-convexa, ajustando-se ao tubrculo articular e

fossa; na superfcie inferior, de formato cncavo, h adaptao cabea da mandbula. A

poro que permite a fixao posterior do disco articular e do cndilo composta pelos

tecidos retrodiscais e tem ntima relao com o meato acstico externo. O disco articular

Tuberosidade

articular

Banda Anterior e Posterior

do disco articular

Fossa mandibular do

osso temporal

Cabea do cndilo

Pescoo do cndilo

Parede posterior da

cpsula

Pterigideo lateral

Processo estilide

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

16

recebe, tambm, as foras de compresso geradas durante o ato da mastigao, triturao

e apertamento dentrio (Williams, et al., 1995; Alomar, et al., 2007; Paulsen & Waschke,

2012; Choi, et al., 2012). Diversos estudos, com o objetivo de estudar o comportamento

da ATM, observaram que, com o envelhecimento, as principais alteraes macroscpicas

foram ao nvel do disco articular; esta degenerao manifesta-se de diferentes maneiras,

atravs de desgaste por atrito ou frico e adelgaamento e/ou perfurao (Figura 08)

(Widmalm, et al., 1994; Stratmann, et al., 1996; Grunert, et al., 2000; Tour, et al., 2005).

Figura 8 - Disco articular - setas indicam perfurao do disco (Stratmann et al., 1996).

A ATM est completamente envolta por uma fina cpsula fibrosa, que se estende, em

conformao afunilada, desde o tubrculo articular at a fissura escamotimpnica e ao

redor das bordas da fossa e cndilo mandibular. Na cmara superior da ATM, a cpsula

apresenta-se frouxa e com uma conformao mais densa na cmara inferior. Estas

caractersticas da cpsula fibrosa permitem a limitao do movimento de translao do

cndilo e, quando associado aos ligamentos externos da ATM, o movimento de abertura

mxima da boca tambm limitado. A cpsula articular revestida pela membrana

sinovial (Williams, et al., 1995; Paulsen & Waschke, 2012; Alomar, et al., 2007; Choi, et

al., 2012).

Em indivduos idosos foram observadas alteraes radiogrficas da ATM, como

mineralizao difusa, afilamento da cortical ssea e processos de osteoartrose (eroso

ssea, ostefitos, cistos) e variaes regionais de mineralizao do tecido sseo dos

cndilos mandibulares. Histologicamente, diversos estudos demonstraram um afilamento

da cartilagem, degenerao amiloide e osteoesclerose do disco articular (Castelli, et al.,

1985; Akerman, et al., 1988; Nannmark, et al., 1990; Holmlund & Axelsson, 1994;

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

17

Williams, et al., 1995; Stratmann, et al., 1996; Widmalm, et al., 1994; Grunert, et al.,

2000; Tour, et al., 2005; Kim, et al., 2015).

Diversos autores descrevem que a idade um fator de risco para o desenvolvimento de

patologias na ATM, e que, em pacientes idosos, os sinais clnicos e radiolgicos de

alteraes tem maior prevalncia (Roda, et al., 2007). Bem como, existe uma elevada

prevalncia de desordem temporomandibular entre os indivduos idosos, sendo que, o

gnero feminino, foi o mais afetado (Camacho, et al., 2014)

2.4. Anatomia Dentria

2.4.1 Aspectos macroscpicos por grupo dentrio

Conforme a morfologia os dentes so divididos em quatro grandes grupos: incisivos,

caninos, pr-molares e molares (Rossi, 2010).

Incisivos:

So os dentes localizados anteriormente na arcada dentria. Em nmero de oito, so

distinguidos em, incisivo central superior direito e esquerdo (2), incisivo central inferior

(2), incisivo lateral superior direito e esquerdo (2) e incisivo lateral inferior direito e

esquerdo (2). Anatomicamente, apresentam o bordo incisal fino e cortante. Sua funo

no aparelho estomatogntico o corte dos alimentos (Rossi, 2010).

Caninos:

So dentes tambm localizados na regio anterior das arcadas dentrias. So em nmero

de quatro, dois superiores (direito e esquerdo) e dois inferiores (direito e esquerdo). So

bastante volumosos e possuem uma cspide pontiaguda (Rossi, 2010).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

18

Pr-molares:

So dentes localizados na regio posterior das arcadas dentrias. So em nmero de

quatro, primeiro pr-molar superior, direito e esquerdo; e segundo pr-molar inferior,

direito e esquerdo. Sua funo no aparelho estomatogntico de triturar (Rossi, 2010)

Molares:

So dentes localizados na regio posterior das arcadas dentrias. So em nmero de oito

a doze dentes. Dentre eles esto o primeiro molar superior e inferior direito e esquerdo,

segundo molar superior inferior direito e esquerdo e terceiro molar superior e inferior

direito e esquerdo. Dos quais, os terceiros molares podem estar ausentes e os que

apresentam maior variao anatmica (Rossi, 2010).

Alteraes macroscpicas da anatomia dos dentes, durante o envelhecimento, so

decorrentes das cries, dos desgastes e das fraturas dentrias (Figura 09) (Osborne-

Smith, et al., 1999; Borcic, et al., 2004; Kaidonis, 2008; Barlett & Dugmore, 2008;

Huysmans, et al., 2011; Lucas & Casteren, 2015; Yahyazadehfar, et al., 2016). No estudo

epidemiolgico das perdas dentrias, Rocha GNP et al., em 1997, observou que, perdem-

se mais dentes na maxila que na mandbula, exceto em relao aos molares que

apresentam perdas iguais nos dois maxilares. Ademais, ocorre uma maior perda dentria

posterior quando comparado com a anterior (Rocha, 1997). Bem como, foi observado

por Carvalho GFP et al., que a perda dentria, por grupo dentrio, ocorre, primeiro, nos

molares (59%), seguido pelos pr-molares (24%), incisivos (13%) e por ltimo os

caninos (4%) (Carvalho & Spyrides, 2013). A perda do primeiro molar inferior

permanente apontada como a mais prevalente (Normando & Cavacami, 2010).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

19

Figura 9 - Desgaste dentrio. Combinao de eroso e atrio (A); Eroso (B)

(Bartlett & Dugmore, 2008).

A ocorrncia de crie na coroa e raiz dentria de 65% em pacientes com idade superior

a 65 anos (Arola & Reprogel, 2005). A prevalncia de desgaste dentrio de 17% na

idade de 70 anos (Huysmans, et al., 2011). Alm disso, inmeros outros estudos apontam

para o aumento gradual do desgaste dentrio e fraturas dentrias durante o

envelhecimento (Figura 10) (Osborne-Smith, et al., 1999; Borcic, et al., 2004; Kaidonis,

2008; Barlett & Dugmore, 2008; Burke & McKenna, 2011; Huysmans, et al., 2011;

Lucas & Casteren, 2015; Yahyazadehfar, et al., 2016).

Figura 10 - Desgaste dentrio combinao de eroso e abraso (Burke & McKenna, 2011).

A

B

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

20

O rgo dentrio faz parte do aparelho estomatogntico e insere-se no osso alveolar.

composto pelo dente, esmalte, dentina e polpa. O periodonto composto por cemento,

ligamento periodontal, osso alveolar e gengiva (Rossi, 2010).

2.4.2 Esmalte, Dentina e Polpa Dentria

Esmalte:

O esmalte a estrutura dentria que recobre a superfcie de todos os dentes, nas faces

vestibular, mesial, distal, oclusal/incisal e palatina/lingual. composto,

maioritariamente, por apatitas cristalinas, ocupando 96% do volume do esmalte, o que

lhe confere uma caracterstica extremamente dura e rgida; sendo considerado o tecido

mais duro do organismo. constituido tambm por gua (3%) e o teor de protenas

corresponde a 1% em peso (Williams, et al., 1995; Bajaj & Arola, 2009; Yahyazadehfar,

et al., 2016; Yahyazadehfar & Arola, 2015).

Os cristais de hidroxiapatita esto dispostos de maneira varivel e se unem formando

bastonetes cilndricos, nomeadamente, primas de esmalte. A orientao dos cristais varia

espacialmente dentro do prisma. Dentro da regio cuspidal de um prisma, os cristais

esto alinhados com o eixo longitudinal, ao passo que, aqueles na regio interprismtica,

esto orientados obliquamente. A interface entre prismas adjacentes so separados por

uma zona estreita, por vezes referida como bainha de prismas, e composto de cristalitas

com orientao menos bem definida e, ligeiramente, com maior grau de contedo

orgnico. Em geral, as protenas servem como o material de unio entre os cristalitas

adjacentes e as interfaces dos prismas de esmalte (Williams, et al., 1995; Bajaj & Arola,

2009; Yahyazadehfar & Arola, 2015; Yahyazadehfar, et al., 2016).

A espessura mxima do esmalte de 2,5mm sobre as cspides e adelgaa-se nas margens

cervicais. Ademais, durante a irrupo dentria, as clulas de formao do esmalte so

perdidas, o que lhe confere uma inabilidade de crescimento ou reparos posteriores

(Williams, et al., 1995).

Inmeros estudos demonstraram que a prevalncia do desgaste dentrio aumenta com a

idade (Barlett & Dugmore, 2008; Huysmans, et al., 2011; Yahyazadehfar, et al., 2016).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

21

Com o decorrer dos anos, a exposio prolongada do esmalte dentrio ao meio oral,

ingesto de uma dieta cida e/ou abrasiva, aos distrbios gstricos (Figura 11) e aos

constantes contatos dentrios, culminam no desgaste e fraturas do esmalte dentrio.

Figura 11 - Desgaste dentrio causado por distrbio gstrico bulimia (Burke & McKenna, 2011).

O desgaste dentrio pode ser decorrente de fenmenos qumicos, mecnicos e pela

associao de ambos, so nomeadamente os desgastes por atrio, abraso, eroso e

abfrao (Burke & McKenna, 2011; Huysmans, et al., 2011; Lucas & Casteren, 2015;

Yahyazadehfar, et al., 2016). Lucas PW, em 2015, descreve que, as macrofraturas de

esmalte so aquelas que, iniciam-se, prximo juno esmalte-dentina, e, estendem-se,

para fora, na direo da superfcie do dente; as mesofraturas iniciam-se na superfcie do

dente a partir de uma indentao prxima margem do esmalte; por fim, as microfaturas

so aquelas que resultam da perda de partculas muito pequenas na superfcie do esmalte,

que culminam no desgaste (Figura 12) (Lucas & Casteren, 2015).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

22

Figura 12 - Desenho esquemtico dos tipos de danos mecnicos do esmalte; incluindo a diviso

coronria, desgaste, fratura em lasca, trica e abfrao (Lucas & Casteren, 2015).

Dentina:

A dentina composta, maioritariamente, por material inorgnico (70%), principalmente

por hidroxiapatita, representada pela frmula qumica de Ca10(PO4)6(OH)2. A gua

outro componente, correspondendo a 10% do volume da dentina. As matrizes orgnicas

representam 20% da dentina, das quais, o colgeno o que se apresenta em maior

quantidade; sendo o colgeno do tipo I o mais predominante, e, em menor proporo, o

colgeno do tipo V. Os outros componentes da matriz no-colagenosa so: fosfoprotenas,

proteoglicanos, g-carboxiglutamatos, glicoprotenas cidas, fatores de crescimento e

lipdios (Butler, et al., 1992; Goldberg & Takagi, 1993; Kinney JH, 1996; Wang &

Weiner, 1998; Breschi L, 2002; Kinney, et al., 2003).

Durante o desenvolvimento dentrio formada a dentina primria; e, a dentina secundria

aquela que se forma aps a completa formao radicular. A dentina formada nas fases

iniciais da dentinognese, subjacente ao esmalte e cemento, denominada dentina do

manto e possui grossas fibras de colgeno em formato de leque (Cohen & Hargreaves,

2007).

Dentina

Polpa

Gengiva

Ligamento

Periodontal

Osso alveolar

Cemento

Lasca de esmalte (meso)

Lamela (macro)

Abfrao

(meso)

(macro)

Esmalte

Desgaste

(micro) Rachadura da coroa

(macro)

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

23

No interior da dentina localizam-se os tbulos dentinrios, que so, em pequeno nmero,

por unidade de rea, na dentina mais superficial do dente e, em maior nmero, na dentina

profunda; eles contm odontoblastos. Apresentam um conformao cnica e sua poro

mais estreita voltada para o esmalte e a poro mais larga voltada para a polpa dentria

(Garberoglio & Brannstrom, 1976; Pashley, 1996).

A dentina ao redor dos tbulos dentinrios a denominada dentina peritubular, apresenta-

se altamente calcificada, com poucas fibras colgenas e alta quantidade de proteoglicanos

e minerais sulfatados (Kinney JH, 1996; Kinney, et al., 1999; Weiner, et al., 1999). A

dentina localizada entre os tbulos dentinrios denominada dentina intertubular,

apresenta-se com grandes quantidades de fibrilas colgenas, esto dispostas

perpendicularmente aos tbulos dentinrios e calcificada, o que confere resistncia a

dentina (Kinney, et al., 2003). Com o envelhecimento, pode-se observar alteraes

morfolgicas nas estruturas dentinrias, ocorrendo um aumento da dentina peritubular,

esclerose dentinria e ausncia de processos odontoblsticos nos tbulos dentinrios

(Stanley, et al., 1983; Tagami, et al., 1992; Arola & Reprogel, 2005).

Quando ocorre obstruo parcial ou total do tbulo dentinrio por depsitos minerais, a

dentina passa a ser esclertica, culminando na alterao da tranlucidez da dentina e na

diminuio da permeabilidade dentinria (Pashley, 1996; Tagami, et al., 1992). Alm

disso, conforme a dentina se torna progressivamente esclertica, ocorre a diminuio da

sua permeabilidade (Tagami, et al., 1992).

Polpa:

A polpa dentria pode ser dividida por zonas morfolgicas, sendo elas: camada de

odontoblastos, zona pobre em clulas, zona rica em clulas e polpa propriamante dita

(Cohen & Hargreaves, 2007).

A camada de odontoblastos localiza-se sujacentemente pr-dentina e a camada mais

externa da polpa. constituda, principalmente, por corpos de clulas de odontoblastos,

cincundado por capilares, fibras nervosas e clulas dentrticas (Cohen & Hargreaves,

2007).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

24

Logo abaixo da camada de odontoblstos localiza-se uma zona estreita e livre de clulas,

designada por zona pobre em clulas, onde atravessam vasos sanguneos, fibras nervosas

no-mineralizadas e processos citoplasmticos de fibroblastos (Coure, 1986).

A zona rica em clulas possui uma grande quantidade de fibroblastos, macrfagos, clulas

dendrticas e clulas-tronco mesodrmicas indiferenciadas. Tem sido sugerido que esta

zona se forma pela migrao perifrica das clulas centais da polpa dentria (Gotjamanos,

1969; Fitzgerald, et al., 1990).

Na regio central da polpa localiza-se a polpa propriamente dita, caracterizada pela

grande quantidade de fibroblastos e clulas da polpa, bem como, por vasos sanguneos

mais largos e nervos (Cohen & Hargreaves, 2007).

Com o passar dos anos, ocorre uma degenerao progressiva do complexo pulpar, bem

como, uma diminuio do tamanho da cmara pulpar e do dimetro dos canais

radiculares, devido contnua deposio de dentina secundria e terciria.

Concomitantemente, ocorre uma diminuio da celularidade, principalmente, dos

odontoblastos, e aumento no nmero e espessura das fibras colgenas, podendo levar a

processos de calcificao pulpar (Cohen & Hargreaves, 2007; Goga, et al., 2008; Daud,

et al., 2014; Johnstone & Parashos, 2015). Em decorrncia da deposio contnua de

cemento na regio apical do dente, a distncia, entre o forame apical e o pice

radiogrfico, aumenta (Johnstone & Parashos, 2015).

Durante o envelhecimento, a quantidade de nervos e vasos sanguneos tambm diminui

progressivamente (Espina, et al., 2003; Johnstone & Parashos, 2015). Da mesma forma,

o indivduo idoso apresenta um aumento no tempo da resposta pulpar ao teste de

sensibilidade pulpar ao frio (Farac, et al., 2012).

2.5. Estruturas Periodontais

O periodonto constitudo, essencialmente, pelo osso alveolar, cemento, gengiva e

ligamento periodontal (Lindhe, et al., 2008; Bath-Balogh & Fehrenbach, 2012).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

25

O periodonto o tecido responsvel pela insero e suporte do dente no tecido sseo dos

maxilares e mantm a integridade da superfcie da mucosa mastigatria da cavidade oral.

Com o passar dos anos, o periodonto sofre determinadas alteraes, bem como, podem

ocorrer alteraes, ao nvel morfolgico, relacionadas com as modificaes funcionais e

alteraes no meio bucal (Lindhe, et al., 2008).

2.5.1 Osso Alveolar

A hidroxiapatita o principal componente da matriz mineralizada do osso,

correspondente a cerca de 60% do peso bruto. O osso pode ser dividido em dois

componentes: osso mineralizado e osso medular. O osso mineralizado constitudo de

lamelas sseas, enquanto que, o osso medular apresenta adipcitos, estruturas vasculares

e clulas mesenquimais indiferenciadas em sua constituio (Lindhe, et al., 2008).

O osso alveolar, mineralizado, dividido em duas pores: processo alveolar e o osso

alveolar propriamente dito; entretanto, eles apresentam-se em continuidade um com o

outro e variam anatomicamente conforme a regio dentria (Lindhe, et al., 2008).

O processo alveolar formado, tanto por clulas do folculo dentrio, como por clulas

que no esto envolvidas no desenvolvimento dentrio, e, desenvolve-se conjuntamente

com a erupo dentria. Constitui a parte da maxila e da mandbula que formam o

aparelho de insero dos dentes nos alvolos dentrios; sua funo principal distribuir

e absorver as foras mastigatrias e as foras geradas pelos contatos dentrios (Figura

41). O osso alveolar propriamente dito apresenta largura variada e reveste todo o

alvolo dentrio na forma de uma fina lmina ssea; associado ao ligamento periodontal

e ao cemento, responsvel pela insero dentria no osso (Lindhe, et al., 2008).

Em busca de compensar o desgaste causado pela atrio constante dos dentes ao longo da

vida, os dentes erupcionam, e migram em direo mesial (Figura 13). Em consequncia

desta movimentao dentria, e das demandas funcionais, o osso alveolar, sofre um

processo de remodelao ssea constante. O processo de remodelao consiste em

reabsoro e neoformao das trabculas sseas. O metabolismo sseo modulado por

inmeros fatores, como, por exemplo, dieta, drogas, hormonas e envelhecimento

(Lindhe, et al., 2008; Bullon P, 2013; Reddy & Morgan, 2013; Margvelashvili, et al.,

2013; Pandruvada, et al., 2016).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

26

Figura 13 - Remodelao dentoalveolar (Margveelashvili et al., 2013).

Inmeros estudos demonstram a associao entre a perda do osso alveolar e o

envelhecimento, fumo, gnero, hbitos de higiene, hbitos parafuncionais, a colonizao

bacteriana na flora gengival, diabetes, aterosclerose, deficincia de hormonas, como o

estrgeno, e osteoporose (Lindhe, et al., 2008; Huttner, et al., 2009; Reddy & Morgan,

2013; Panchbhai, 2013; Ruquet, et al., 2014; Shiau, et al., 2014). Esta perda ssea est

relacionada com o desequilbrio no processo de remodelao ssea, predominando a

reabsoro sobre a neoformao ssea. Pode-se perder osso em densidade, volume e/ou

altura da crista alveolar. Diversos so os fatores de risco associados a essa perda ssea;

no entanto, os estudos enfatizam para a presena de um processo inflamatrio crnico

como fator predominante (Grzibovskis, et al., 2011; Liang, et al., 2010; Jiang, et al., 2010;

Panchbhai, 2013; Reddy & Morgan, 2013; Bullon P, 2013; Shiau, et al., 2014; Ruquet, et

al., 2014; Mays, 2014; Pandruvada, et al., 2016). Outros estudos ainda relatam que a

ausncia do elemento dental, evento extremamente comum entre os idosos, acelera o

processo de reabsoro ssea (Bodic, et al., 2012; Panchbhai, 2013).

2.5.2 Cemento

O cemento um tecido mineralizado que recobre a raz dentria, constituido

principalmente por hidroxiapatita e forsfato de clcio amorfo. composto organicamente

por colageno tipo I em sua grande marioria, nomeadamente as fibras de Sharpey. O

cemento perfurado pelas fibras de Sharpey do ligamento periodontal e constitui o local

de ligao para as fibras do ligamento periodontal fixando o dente ao osso alveolar

(Williams, et al., 1995; Carranza, 2007; Pudir, et al., 2009; Huttner, et al., 2009; Mallar,

et al., 2015).

Desgaste dentrio

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

27

O cemento que se forma em conjuno formao radicular e erupo dentria

denominado de cemento acelular, apresenta-se com at 200 m de espesura e contem

apenas fibras extrinsecas. O cemento celular forma-se aps o dente entrar em ocluso, e,

em resposta s demandas funcionais. formado, tanto por matriz extrinseca, como por

intrnseca, e possui cementcitos em lacunas unidos por canalculos que digirem-se para

o ligamento periodontal. Entretando, as reas com cemento acelular ou celular podem se

alternar na superfcie radicular. Ao longo da vida, camadas irregulares de cemento celular

so depositadas sobre os cemento acelular para compensar o processo de movimentao

dentria e as demanda funcionais. feito por uma camada produtora de cemento

adjacente dentina (Williams, et al., 1995; Carranza, 2007; Pudir, et al., 2009; Mallar, et

al., 2015).

Os feixes de orientao, formados pelas camadas de cimento depositadas, parecem ser

responsveis pelo efeito tico de camadas alternadas entre as bandas claras e escuras,

observados em fotomicrografias de seces dentrias, nomeadamente, as linhas

incrementais de cemento. Estudos demonstraram que, estas linhas alternadas esto

relacionadas s fases de mineralizao durante o continuo crescimento de fibroblastos,

levando mudana na orientao dos cristais mineralizados; sendo, as linhas escuras, as

fases de paragem de mineralizao (Pudir, et al., 2009; Mallar, et al., 2015). Inmeros

estudos, ainda, apontam que, a deposio contnua de cemento, promove o aumento em

largura; estas camadas que se formam, as chamadas camadas incrementais de cemento,

so marcadores da idade cronolgica do indivduo e podem alcanar a espessura de 1

milmetro na regio apical e nas bifurcaes radiculares; sendo, inclusive, utilizado como

padro para anlise forense (Severson, et al., 1978; Williams, et al., 1995; Pudir, et al.,

2009; Mallar, et al., 2015).

Durante o processo de envelhecimento, a exposio radicular um evento comum, devido

recesso gengival, o que leva exposio do cemento e subsequente desgaste do mesmo

(Williams, et al., 1995; Huttner, et al., 2009).

2.5.3 Gengiva

A gengiva faz parte da chamada mucosa mastigatria; ela recobre o processo alveolar e

circunda a regio cervical dos dentes; constituda por uma camada epitelial e um tecido

conjuntivo subjacente, chamado de lmina prpria. Podem ser divididas,

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

28

anatomicamente, em gengiva livre e gengiva inserida. Entretanto, a forma e a textura

gengival definitivas so definidas aps a completa erupo dentria (Williams, et al.,

1995; Lindhe, et al., 2008).

Lindhe descreve que, com o avano da idade, a gengiva possui tendncia a aumentar em

largura; e que, este alargamento gengival parece decorrer da erupo lenta e contnua dos

dentes aps desgaste oclusal ao longo da vida, pois tem-se demonstrado que ocorre a

estabilidade da juno mucogengival em relao borda inferior da mandbula (Lindhe,

et al., 2008).

A gengiva livre apresenta-se com colorao rsea, contorno festonado, superfcie opaca

e consistncia firme, engloba o tecido gengival vestibular e lingual ou palatina dos dentes.

Estende-se a partir da margem gengival em direo apical at a ranhura gengival livre,

sendo mais saliente na face vestibular dos dentes. A margem gengival livre tem forma

arrendondada, de modo que permite a formao de uma pequena invaginao entre o

dente e a gengiva; localiza-se na superfcie do esmalte cerca de 1,5 a 2mm e

coronariamente juno cemento-esmalte (Lindhe, et al., 2008).

A gengiva inserida apresenta-se com colorao rsea, com textura firme e com pequenos

pontilhados, conferindo-lhe um aspeto de casca de laranja. Estende-se apicalmente at a

juno mucogengival, onde torna-se contnua com a mucosa de revestimento. Por meio

de fibras do tecido conjuntivo, a mucosa inserida encontra-se firmemente inserida no osso

alveolar e cemento subjacente e, portanto, comparativamente imvel em relao aos

tecidos prximos (Williams, et al., 1995; Lindhe, et al., 2008).

Com o passar dos anos, pode ocorrer a migrao epitelial em sentido apical, causando

retrao gengival (Figura 10) (Dvorok, et al., 2009; Andreescu, et al., 2013; Smith, et al.,

2015)

A mucosa alveolar ou mucosa de revestimento apresenta-se com colorao avermelhada

mais escura e possui uma ligao frouxa com o osso alveolar subjacente, estando

relativamente mvel em relao aos tecidos prximos; delimitada no sentido coronal

pela juno mucogengival (Lindhe, et al., 2008).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

29

As relaes dos contatos dentrios, largura da superfcie proximal e contato da juno

cemento-esmalte, determinam a forma da gengiva interdentria ou tambm chamada

papila interdental. A papila interdentria apresenta-se na forma piramidal nas regies

anteriores da arcada dentria; e nas regies posteriores, as papilas so mais achatadas no

sentido vestibulo lingual (Lindhe, et al., 2008).

A anatomia microscpica da gengiva livre compreende todas as estruturas epiteliais e do

tecido conjuntivo localizadas coronalmente ao nvel da juno cemento-esmalte. O

epitlio que recobre a gengiva livre pode ser diferenciado da seguinte forma: epitlio

voltado para a cavidade oral, epitlio oral; epitlio voltado para o dente, sem ficar em

contato com a superfcie do dente, epitlio do sulco; epitlio em contato da gengiva com

o dente, epitlio juncional. O tecido conjuntivo projeta-se no epitlio atravs das

chamadas papilas do tecido conjuntivo, sendo separadas entre si pelas cristas epiteliais.

Ondulaes delimitam o limite entre o epitlio oral e o tecido conjuntivo subjacente

(Williams, et al., 1995; Lindhe, et al., 2008).

Estudos relatam que o processo de cicatrizao gengival gravemente afetado durante o

envelhecimento e, a defesa imunologica dos tecidos orais, pode ser comprometida com o

avano da idade, tanto pela diminuio das clulas de Langerhans quanto pela diminuio

dos processo apoptticos no tecido gengival (Zavala & Cavicchia, 2006; Gonzalez, et al.,

2011).

2.5.4 Ligamento Periodontal

O ligamento periodontal constituido de tecido conjuntivo frouxo, ricamente

vascularizado e celular, sendo que, as principais clulas so fibroblastos, que, por sua vez,

so essenciais para a manuteno da homeodinmica e para a regenerao tecidual. O

ligamento periodontal envolve todas as paredes radiculares dos dentes, e une o cemento

radicular lmina dura ou ao osso alveolar propriamente dito, pomovendo o suporte do

dente no alvolo dentrio (Lindhe, et al., 2008; Konstantonis, et al., 2013).

O espao do ligamento estende-se em largura varivel de 0,2 a 0,4mm, sendo mais estreito

ao nvel de tero mdio radicular. As foras produzidas durante a mastigao e os contatos

dentrios, so distribudas e absorvidas pelo processo alveolar atravs do ligamento

periodontal; permitindo, dessa forma, uma mobilidade fisiolgica dos dentes. A largura,

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

30

altura e qualidade do ligamento periodontal est intimamente relacionada a esta

mobilidade dentria (Pergoraro, 1998; Lindhe, et al., 2008; Grzibovskis, et al., 2011).

Durante a erupo dentria surgem as fibras principais do ligamento periodontal;

inicialmente, estas fibras penetram na poro mais apical do osso alveolar; sofrem

constantes processos de remodelao. Entretando, quando existe o contato oclusal

dentrio e o dente entra em funo, as fibras do ligamento periodontal organizam-se em

grupos de fibras colgenas dentoalveolares bem orientadas. Os grupos principais so:

fibras da crista alveolar; fibras horizontais; fibras oblquas e fibras apicais (Lindhe, et al.,

2008).

Inmeros estudos, em animais e humanos, demostraram a correlao entre o ligamento

periodontal e o envelhecimento (Huttner, et al., 2009; Persson, 2006; Cafiero C, 2013;

Konstantonis, et al., 2013; Lossdorfer, et al., 2010). O ligamento periodontal torna-se fino

e irregular com a idade, decorrente da diminuio da produo de matrix inorgnica, das

fibras e do contedo celular. Diversos autores descreveram que, durante o

envelhecimento, comum ocorrer uma perda moderada do ligamento periodontal, e que,

entretanto, a periodontite, doena com alta prevalncia entre os idosos, no uma

consequncia da idade, mas que, a sua severidade pode ser pela idade agravada (Huttner,

et al., 2009; Siukosaari, et al., 2012; Zhang, et al., 2012; Konstantonis, et al., 2013).

Alm disso, as alteraes metablicas, decorrentes do envelhecimento, parecem

comprometer a habilidade de manter a homeostase celular e tecidual; causando, no

ligamento periodontal, uma diminuio do reparo tecidual de suporte e destruio dos

tecidos de suporte dentrio, levando a um quadro de periodontite crnica e perda dentria

(Enoki, et al., 2007; Dvorok, et al., 2009; Lossdorfer, et al., 2010; Renvert, et al., 2011;

Toron-Arroyave, et al., 2012; Konstantonis, et al., 2013). No mesmo sentido, estas

alteraes metablicas, influenciam a prevalncia de que periodontite, que apresenta-se

aumentada com a idade (Renvert, et al., 2013).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

31

III. DISCUSSO

Com o passar dos anos, desenvolve-se o processo de envelhecimento, onde ocorrem

alteraes metablicas inerentes, de ordem bioqumica e celular, que culminam em

modificaes anatmicas no organismo humano; essas modificaes que caracterizam

o indviduo idoso. No aparelho estomatogntico so observadas inmeras alteraes, das

quais, as principais foram descritas no captulo anterior e sero discutidas adiante.

Na maxila, durante o processo de envelhecimento, so observadas diversas alteraes.

Madeira MC, em 1998, descreve algumas das modificaes anatmicas comumente

encontradas em idosos, entre elas: a localizao do forame incisivo e da espinha nasal

anterior que podem ser encontrados prximos superfcie do rebordo residual; o palato

sseo torna-se plano e mais raso, deixando de apresentar o aspeto arqueado; pode-se

formar um toro palatino; a crista zigomtico-alveolar pode aproximar-se do rebordo

residual; a cavidade do seio maxilar pode ampliar-se atravs da reabsoro ssea de suas

paredes, bem como, o soalho pode ficar muito prximo do rebordo residual e culminar

em deiscncias (Madeira, 1998).

Diversos autores, ainda apontam para outras alteraes, como as no contorno do arco

maxilar; retruso maxilar; rotao da maxila no sentido horrio; diminuio gradual e

constante do ngulo maxilar; reduo vertical da altura maxilar; reabsoro ssea,

diminuio do volume e densidade ssea da maxila (Brunetti & Montenegro, 2002 ;

Williams SE, 2010; Mendelson & Wong, 2012; Glowacki & Cristoph, 2013; Ilankovan,

2014; Kim, et al., 2015).

Williams SE et al., em 2010, em seu estudo, avaliou as alteraes de forma nas curvaturas

dos ossos da face ocorridas com a idade, nomeadamente do arco do processo alveolar da

maxila, entre indivduos africanos e europeus; e, observou que, no existe diferena

estatstica significante entre as diferentes origens tnicas; mas, por outro lado, verificou

que, ocorrem alteraes no contorno do arco maxilar, com alteraes nos vetores de

crescimento sseo entre os indivduos jovens e idosos (Williams SE, 2010). No estudo de

Ilankovan V et al., em 2014, sobre a anatomia da face no envelhecimento, observou-se,

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

32

alm da alterao do contorno do arco maxiliar; a rotao, no sentido horrio, da maxila

e reduo vertical da altura maxilar (Ilankovan, 2014). Utilizando os mesmos parmetros

e mtodos de anlise dos trabalhos citados anteriormente, Kim SJ et al., em 2015,

analisaram as alteraes faciais relacionadas com a idade em indivduos asiticos; e,

embora tenham descrito que o processo de envelhecimento facial dos asiticos seja

diferente dos indivduos caucasianos, eles observaram que, nos asiticos, tambm ocorre

uma diminuio significativa do ngulo maxilar, tal como ocorre nos indivduos

caucasianos (Kim, et al., 2015).

Em 2012, Mendelson B et al., analisaram as mudanas do esqueleto facial com o

envelhecimento; e, observaram que, ocorre reabsoro ssea maxilar associada retruso

maxilar, culminando na diminuio acentuada do angulo maxilar; bem como, ocorre uma

maior reabsoro ssea em reas espefcicas, sendo que, na maxila, a regio da abertura

piriforme a mais afetada, resultando em perda do suporte da base do nariz e parte do

lbio superior do sulco nasolabial (Mendelson & Wong, 2012). Em concordncia com

os achados do trabalho anterior, Ilankovan V et al., tambm descreveram a diminuio

constante do ngulo maxilar com o envelhecimento (Ilankovan, 2014).

Glowacki J et al., em 2013, analisaram as diferenas ocorridas, com o envelhecimento,

na maxila; e, observaram que, com a idade, ocorre uma diminuio do volume e densidade

mineral ssea da maxila, podendo culminar em aumento do risco de fraturas por trauma

suave (Glowacki & Cristoph, 2013).

Diversos autores, relataram que, a perda dentria uma causa determinante de perda ssea

acentuada na maxila e processo alveolar (Madeira, 1998; Brunetti & Montenegro, 2002 ;

Silveira, et al., 2005; Ilankovan, 2014). Ademais, nos estudos de Bodic F et al. e Mays S

et al., os autores descreveram, tambm, que a perda dentria acelera o processo de

reabsoro ssea (Bodic, et al., 2012; Mays, 2014).

Na mandbula, as alteraes anatmicas observadas, no processo de envelhecimento, so:

a espinha mentoniana ou tuberculos genianos podem apresentar-se no mesmo plano

horizontal do rebordo residual; o forame mentoniano e o canal da mandbula podem

localizar-se prximo ao rebordo residual, ou, at mesmo, sobre ele; a linha milo-hiidea

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

33

e a linha oblqua podem ficar no mesmo nvel, e, at mesmo, sobre o rebordo residual

(Madeira, 1998).

Diversos autores, descreveram que, na mandbula, ocorre um aumento do ngulo da

mandbula, diminuio da altura do ramo da mandbula e diminuio da altura e

comprimento da mandbula (Brunetti & Montenegro, 2002 ; Merrot, et al., 2005;

Mendelson & Wong, 2012; Chole, et al., 2013; Ghaffari, et al., 2013; Ilankovan, 2014;

Oksayan, et al., 2014).

Em 2012, Mendelson B et al., analisaram as alteraes do esqueleto facial com o

envelhecimento, e, descreveram que, ocorre um aumento gradual do ngulo da

mandbula, diminuio da altura do ramo e corpo da mandbula (Mendelson & Wong,

2012). Os resultados obtidos por Chole RH et al., Ghaffari R et al. e Oksayan R et al.

esto concordncia com estes achados, acrescentando que o edentulismo aumenta o grau

de diminuio da altura do ramo e o aumento do ngulo da mandbula (Chole, et al., 2013;

Ghaffari, et al., 2013; Oksayan, et al., 2014). Merrot O et al., descreveram que, estas

alteraes, podem ser decorrentes do desequilbrio entre os msculos elevadores e

abaixadores da mandbula e pela reabsoro ssea (Merrot, et al., 2005). Ilankovan V et

al., em 2014, no estudo em que analisaram a anatomia do envelhecimento facial, tambm

observaram que, ocorre uma reduo da altura alveolar da mandbula, causada pela

reabsoro ssea e aumento da dobra labiomentual (Ilankovan, 2014).

No entanto, alguns estudos, contradizem os achados acima citados; Pecora et al., em 2006,

demonstraram que o comprimento da mandbula aumenta com a idade. Pessa et al., em

2008, observaram um aumento da mandbula, tanto em largura como em altura, com o

aumento da idade (Pecora, et al., 2006; Pessa, et al., 2008). Entretanto, a diferena dos

achados nos diversos trabalhos pode ser decorrente da diferena de pontos cefalomtricos

elegidos para tal anlise.

Jonasson G et al., em seu estudo sobre as alteraes sseas, realizado durante 24 anos,

observaram que, ocorre um aumento do espao intratabecular, o trabeculado sseo parece

ser menos mineralizado e o osso compacto torna-se mais fino e poroso (Jonasson, et al.,

2013). Entretanto, anteriormente a este estudo, Kingsmill VJ et al., em 1998, observaram

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

34

que, o osso mandibular parece ter a densidade ssea aumentada com o envelhecimento,

achado divergente aos outros ossos do organismo (Kingsmill & Boyde, 1998).

Inmeros estudos, apontam, ainda, a perda dentria e a menopausa em mulheres, como

fatores que alteram o processo de remodelao ssea na mandbula, favorecendo a perda

ssea mandibular (Kingsmill & Boyde, 1998; Merrot, et al., 2005; Silveira, et al., 2005;

Jonasson, et al., 2013; Chole, et al., 2013; Oksayan, et al., 2014).

As alteraes observadas na articulao dento-alveolar, nomeadamente, gonfose, foram

descritas por diversos autores. Desde o final dos anos de 1970, o comportamento anato-

fisiolgico das articulaes tem sido foco de estudo. Severson JA et al., avaliaram as

alteraes na gonfose com a idade, e, observaram que, ocorre um processo atrfico e

degenerativo semelhante ao que ocorre nas suturas cranio-faciais; bem como, ocorre uma

diminuio das fibras periodontais e do contedo celular e, sua estrutura, torna-se mais

irregular que no indivduo jovem (Severson, et al., 1978). Em concordncia com os

achados do estudo acima citado, Chantawiboonchai P et al., ao analisarem o efeito do

envelhecimento sobre as fibras oxitalnicas do ligamento periodontal, observaram que,

alm da diminuio da celularidade e das fibras colgenas, ocorre alteraes histolgicas

nas fibras oxitalnicas de jovens e idosos (Chantawiboonchai, et al., 1999).

Em 2007, Ho SP et al., ao analisarem o mecanismo de fixao dentria definida pela

estrutura, composio qumica e propriedades mecnicas das fibras colgenas,

observaram que, o carcter progressivo da doena periodontal, situao esta, com alta

prevalente entre idosos, e a presena de processo inflamatrio crnico, podem ocasionar

a degradao das propriedades fsicas e funcionais da gonfose, culminando na perda de

insero e contribuindo para a perda dentria (Ho, et al., 2007).

Diversos autores, descrevem, o processo de fuso do cemento dentrio ao osso alveolar,

quando o ligamento periodontal no se encontra presente, nomeadamente, a anquilose

dentria (Andersson & Malmgren, 1999; Gonalves, et al., 2008; Xiong, et al., 2013; Lim,

et al., 2014; LeBlanc, et al., 2016). Xiong J et al., em seu estudo, sobre o papel dos restos

epiteliais de Malassez no desenvolvimento, manuteno e regenerao dos tecidos do

ligamento periodontal, descreveram, a existncia de evidncias que, estas clulas,

participam do processo de manuteno do espao do ligamento periodontal, uma vez que,

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

35

sempre, so encontradas em reas vitais do ligamento periodontal de dentes

reimplantados; alm disso, a ausncia de clulas de resto epitelial de Malassez no

ligamento periodontal regenerado, est associada com a diminuio do espao do

ligamento periodontal (Xiong, et al., 2013). Entretanto, Gonalves et al., em 2008, j

houvesse descrito que este processo podia ser influenciado pelo envelhecimento

(Gonalves, et al., 2008).

Na literatura, existem inmeros estudos sobre o comportamento da ATM no

envelhecimento. Castelli WA et al., em 1985, estudou os componentes histolgicos da

ATM durante o envelhecimento, e, observou que, ocorre uma intensa proliferao de

fibrocartilagem da cabea do cndilo e da eminncia articular; que ocorre mudanas

degenerativas na neovascularizao no disco articular e proliferao da vilosidade

sinovial, tecido sinovial e fibras musculares. Bem como, que os componentes da ATM

frequentemente mais afetados so a cabea do cndilo (30.4%) e o disco articular (21.7%)

(Castelli, et al., 1985). Entretanto, em 1990, Nannmark U et al., descreveram que, as

perfuraes do disco articular so encontradas na ordem de 59% dos indivduos idosos;

entretanto, as alteraes encontradas na cabea do cndilo (38%) parecem de forma

semelhante ao trabalho anteriormente citado (Nannmark, et al., 1990)

Em 1988, Akerman S et al. analisaram as alteraes macroscpicas e microscpicas na

ATM em indivduos idosos, e, observaram que, os sinais radiolgicos de eroso foram

fortemente associados com a destruio da superfcie articular do cndilo; bem como,

observaram reas com esclerose do componente temporal da ATM e perfurao do disco

articular (Akerman, et al., 1988).

Em concordncia com os resultados obtidos por Stratmann U et al., em 1996, em estudo

mais recente, de Tour G et al., estes avaliaram as modificaes anatmicas da ATM

durante o envelhecimento, e, observaram alteraes degenerativa na ATM em mais de

50% dos indivduos idosos. As principais alteraes macroscpicas observadas foram ao

nvel do disco articular, e, degenerao manifestada atravs de desgaste por atrito ou

frico, adelgaamento e/ou perfurao. Assim como, alteraes radiogrficas

apresentaram-se como, mineralizao difusa e afilamento da cortical ssea e processos

de osteoartrose (eroso ssea, ostefitos, cistos). Histologicamente, foram observadas a

ocorrncia de degenerao amiloide e osteoesclerose do disco articular (Stratmann, et al.,

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

36

1996; Tour, et al., 2005). Anteriormente, em 2000, Grunet I et al., alm de descreverem

as alteraes acima mencionadas, tambm observaram que pode ocorrer alteraes na

forma do cndilo, e que, estas alteraes podem ser derivadas do edentulismo (Grunert,

et al., 2000). No entanto, Holmlund A et al., em seu estudo sobre a osteoartrose da ATM,

observou que, no existe diferena estatstica significante, entre, totalmente dentados, e

aqueles com reduo da ocluso molar na osteoartrose (Holmlund & Axelsson, 1994).

Adicionalmente a estas modificaes descritas que ocorrem na ATM durante o

envelhecimento em humanos, importante descrever os achados de Blumenfeld I et al.

de que, a interleucina-1, exerce um papel catablico no processo degenerativo ocorrido

na ATM de ratos idosos (Blumenfeld, et al., 1997).

No estudo de Roda RP et al., 2007, no qual apresentaram uma reviso sobre a patologia

da ATM, os autores, descrevem que, a idade, um fator de risco para o desenvolvimento

de patologias na ATM, e que, em pacientes idosos, os sinais clnicos e radiolgicos de

alteraes tem maior prevalncia (Roda, et al., 2007). Do mesmo modo, Camacho JG et

al., em 2014, observaram alta prevalncia de desordem temporomandibular entre os

indivduos idosos (61%), sendo que, o gnero feminino, foi o mais afetado (Camacho, et

al., 2014)

Em 2015, Kim DG et al., ao analisarem as variaes regionais das propriedades do tecido

sseo em cndilos mandibulares de cadveres entre 54 e 96 anos, observaram a ocorrncia

de variaes regionais de mineralizao do tecido sseo. Os valores obtidos para o

mdulo de elasticidade e dureza foram maiores no crtex periosteal do que na regio de

osso trabecular do cndilo. Em contraste, o trabeculado sseo apresentou maior

viscoelasticidade. Os autores sugerem, ainda, que estas caractersticas do tecido sseo

podem ser funcionais para resistncia da poro cortical e a absoro e dissipao das

cargas sobre a ATM durante a ocluso e mastigao (Kim, et al., 2015).

Durante o envelhecimento podem ocorrer alteraes macroscpicas da anatomia dos

dentes. Em 1999, Osborne-Smith KL et al. analisaram a etiologia das leses cervicais de

origem no cariosa (eroso e abraso), e, observaram que, a prevalncia e severidade da

eroso dentria pode aumentar com a idade; no entanto, a origem multifatorial e as

alteraes cervicais podem se manifestar clinicamente de diferentes maneiras (Osborne-

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

37

Smith, et al., 1999). No estudo sobre a relao da idade com o processo de desgaste

dentrio, Barlett D et al., observaram que, existe uma intima relao entre estes dois

fatores, mas que, a sua severidade, no influenciada pela idade (Barlett & Dugmore,

2008).

No estudo de Borcic J et al., em que avaliaram a prevalncia de leses no cariosas na

dentio permanente, os resultados encontrados esto de acordo com os achados de

Osborne-Smith KL et al.; ainda descrevem que, entre as causas possveis, para maior

prevalncia entre a populao idosa, esto, o efeito cumulativo das microfraturas que

ocorrem ao longo da vida e a fragilidade do esmalte em idades mais avanadas (Borcic,

et al., 2004).

Kaidonis JA et al, em 2008, analisaram o desgaste dentrio e observaram que a

prevalncia dos processos de atrio, abraso e eroso so maiores durante o

envelhecimento e apresentaram uma progresso inevitvel ao longo da vida (Kaidonis,

2008).

Em 2011, no estudo clnico da eroso dental e desgaste erosivo, Huysmans MCDNJM et

al., descrevem que, a prevalncia de desgaste dentrio na ordem de 17% na idade de 70

anos, enquanto que, de 3% aos 20 anos. Ainda puderam observar que necessrio o

desenvolvimento de novas tecnologias de diagnstico para anlise que casos no severos

de desgaste dentrio (Huysmans, et al., 2011).

O desgaste mecnico, nomeadamente, a fratura dentria, foi estudada por Lucas PW et

al., e, os autores, descreveram que, a perda cumulativa de estrutura de esmalte causada

pelas microfraturas no podem ser observadas clinicamente (Lucas & Casteren, 2015).

Yahyazadehfar M, em 2016, analisaram a importncia da idade sobre a resistncia

fratura do esmalte dentrio humano, e, observaram que, ocorre uma menor resistncia

fratura, no tecido envelhecido, que no tecido jovem; sendo que, esta reduo pode ser

atribuda diminuio do grau de dureza extrnseca do dente (Yahyazadehfar, et al.,

2016).

Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

38

Em concordncia com os achados descritos por Lucas PW e Yahyazadehfar M; Arola D

et al., ainda descrevem que, a crie na coroa e raiz dentria ocorre em 65% de pacientes

com idade superior a 65 anos (Arola & Reprogel, 2005).

Adicionalmente a todos estes estudos citados anteriormente sobre os desgastes dentrios,

principalmente, na regio do esmalte dentrio, outros foram realizados, que culminam em

alteraes na morfologia macroscpica dos dentes; Burke