conserva~io da biodiversidade da mata atlantica, no estado...

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Vista da Mata Atlantica - RJ Foto: Raimundo Bandeira de Mello da biodiversidade da Mata Atlantica, no Estado do Rio de Janeiro: atuais e propos as de estrategias e Marta Bebianno Costa1, Marcos Antonio Santos1, Rachel Saldanha de Alencar1, Antonio Carlos R. Cozzolino1, Carlos Frederico D. Ro- cha 2 , Helena G. Bergallo 2 , Maria Alice S. Alves 2 , Monique Van Sluys2, Mariella C. Uzeda 3 , Elaine C. Fidalgo4, Thomaz C. e Castro da Costa 5 O Brasil possu; a maior cobertura fJorestal do planeta e, aliado a sua gran- de extensao territorial, abriga uma imensa diversidade biol6gica. Para proteger patrimonio, 0 Ministerio do Meio Ambiente definiu areas e . prioritarias para a da biodiversidade dos Biomas Bra- sileiros (MMAjSBF 2002). Estas areas foram c1assificadas em qua ro niveis de impor- tancia biol6gica e passaram e tao a ser definidas as estrategias de 1 Cide - Centro de e Dados do Rio de Janeiro; 2 Instituto Biomas e Departamento de Ecologia - UERJ, 3 Embrapa Agrobiologia e Instituto BioAtiantica; 4 Embrapa Solos; 5 Embrapa Milho e Sorgo.

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Vista da Mata Atlantica - RJ

Foto: Raimundo

Bandeira de Mello

Conserva~io da biodiversidade da Mata Atlantica, no Estado do

Rio de Janeiro: condl~6es atuais e propos as de estrategias e a~6es

Marta Bebianno Costa1, Marcos Antonio Santos1, Rachel Saldanha de Alencar1, Antonio Carlos R. Cozzolino1, Carlos Frederico D. Ro­

cha2, Helena G. Bergallo2 , Maria Alice S. Alves2, Monique Van Sluys2, Mariella C. Uzeda3, Elaine C. Fidalgo4,

Thomaz C. e Castro da Costa5

O Brasil possu; a maior cobertura fJorestal do planeta e, aliado asua gran­de extensao territorial, abriga uma imensa diversidade biol6gica. Para proteger e~te patrimonio, 0 Ministerio do Meio Ambiente definiu areas e

. a~6es prioritarias para a conserva~ao da biodiversidade dos Biomas Bra­sileiros (MMAjSBF 2002). Estas areas foram c1assificadas em qua ro niveis de impor­tancia biol6gica e passaram e tao a ser definidas as estrategias de conserva~ao.

1 Funda~ao Cide - Centro de Informa~6es e Dados do Rio de Janeiro; 2 Instituto Biomas e Departamento de Ecologia - UERJ, 3 Embrapa Agrobiologia e Instituto BioAtiantica; 4 Embrapa Solos; 5 Embrapa Milho e Sorgo.

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Embora restrita aaproximadamen­

te 8% de sua cobertura original, aMata

Atlantica e uma das areas de maior con­

centrac;ao de biodiversidade do mun­

do e esta sujeita a elevada pressao

antr6pica, sendo considerada um

hotspot (Meyer et aI., 2000 e Galindo­

Leal & Camara, 2005). Sua conserva­

<;ao depende de planejamento e

ordenamento tenritorial. Implementar

corredores de biodiversidade foi um

dos mecanismos adotados, que

resultou na proposic;ao de tres

corredores: Nordeste, Central e Ser­

ra do Mar (Aguiar et aI., 2005: Pinto et

al.,2006).

Quase que integralmente compre­

endido dentro do Corredor da Serra

do Mar, 0 territ6rio que abrange 0 Es­

tado do Rio de Janeiro, alem da eleva­

da biodiversidade, destaca-se pelo tam­

bem elevado endemismo de diversos

grupos animais evegetais, 0 que levou

o Ministerio do MeioAmbiente acon­

siderar varias de suas areas como de

"Extrema Impomncia Biol6gica" (MMN

SBF 2002).

o planejamento sustentavel da pai­

sagem, no contexte de corredores de

biodiversidade, considera as relac;6es

espaciais no uso do solo, abiodiversi­

dade local e as dinamicas dos fragmen­

tos florestais, buscando sua compati­

bilizac;ao com areas urbanas, assenta­

mentes rurais, areas agrfcolas, indus­

triais ea infra-estrutura (Sanderson et

al.,2003).

Esse tipo de planejanrento depen­

de da integra<;ao e disponibilidade de

informac;6es, para aforma<;ao de um

56lido alicerce voltado ainformac;ao da

sociedade civil e agerac;ao de politicas

publicas bem fundamentadas.

Ate recentemente, as estrategias

desenvolvidas para aconserva<;ao da

Mata Atlantica baseavam-se apenas em

elementos da fauna e flora, carecendo

de uma analise mais ampla e sistemica

do cenario atual.

No projeto "Estrategias e A<;6es

para aConservac;ao da Biodiversidade

da Mata Atlantica no Estado do Rio de

Janeiro"l, foi utilizada uma nova meto­

dologia que prioriza aconsolidac;ao de

territ6rios sustentaveis, de forma a

manter tanto adinamica dos processos

ecol6gicos, quanta 0 desenvolvimento

socioecon6mico. Quatro iniciativas

principais comp6em esta metodologia:

a) levantamento e mapeamento de

especies endemicas e ameac;adas da

...0 territorio que

abrange 0 Estado do

Rio de Janeiro, ah~m da

el vada biodiversidade,

destaca-se pelo

tambem elevado

endemismo de iver­

sos grupos animais e

eg tais, 0 que levou 0

Ministerio do Meio

biente a considerar

vanas de suas areas como de UExtrema

Imp rtancia Biologica."

flora e fauna: b) levantamento e

mapeamento das caracteristicas

socioecon6micas, geomorfol6gicas e

do uso do solo; c) definic;ao de areas

prioritcirias para aconserva<;ao e de di­

retrizes do uso do solo; d) consolida­

<;ao e disseminac;ao das informac;6es

geograficas, bio/6gicas, socioecono­

micas egeomorfol6gicas, em um banco

de dados interativo.

Tendo em vista a diversidade

socioeconomica eambiental do Estado,

o projeto definiu nove regi6es com

caracteristicas socioeconomicas,

polfticas e ambientais semelhantes

(Figura I), com vistas a proposic;ao de

medidas de conservac;ao e manejo

destinadas a dar suporte as ac;6es do Poder Publico.

Essas medidas visam consevar a

biodiversidade da Mata Atlantica e

subsidiar ac;6es para a criac;ao de co­

nectividade entre remanescentes de

florestas, recomposic;ao de areas de

floresta, protec;ao dos recursos hidri­

cos e sua utilizac;ao racional.

Visam tambem contribuir com

dados, para aefetiva implementa¢o das

Unidades de Conservac;ao (UCs) ja

existentes e 0 estabelecimento de

novas, bem como subsidiar diretrizes

para um apropriado uso do solo.

A analise do estado em que se

encontram os remanescentes de Mata

AtJantica, no Rio deJaneiro, foi desenvol­

vida em tres vertentes: PressaoAntr6pica

- presente eprevista no curto ou medio

prazo; Estado Fisico eBi6tico - situac;ao

atual doambiente edos recursos naturais; •e Capacidade Atual de Resposta ­

capacidade instalada para responder as press6es antr6picas eatuar na conser­

vac;ao dos recursos naturais e na pre­

servac;ao dos remanescentes de Mata

Atlantica. Apartirda nova regionaJiza¢o

proposta e tomando como principal

unidade de referencia espacial 0

Municipio, a analise dos dados se deu de forma integrada, segundo um pro­

cesso de sintese e agregac;ao.

Os dados obtidos mostram que 0

Estado do Rio de Janeiro e, atualmen­

te, coberto por vegetac;ao em 20,3%

de sua area, em uma paisagem consi­

1 Projeto coordenado pelo Instituto Biomas, em parceria com a Fundac;ao Cide, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Embrapa Solos, Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa Agrobiologia e Insti­tuto BioAtlantica. Este projeto teve apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Criticos - CEPF e da Alianc;a para a Con­servac;ao da Mata Atlantica (Conserva­c;ao Internacional e 50S Mata Atlantica). Tambem prestaram apoio: Fundac;ao Carlos Chagas de Amparo aPesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Petrobras, Fundac;ao Estadual de Enge­nharia do Meio Ambiente (Feema), Su­perintendencia Estadual de Rios e Lago­as (Serla), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaveis (Ibama), Ministerio do Meio Ambiente e Fundac;ao Biodiversitas.

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Con~d.

Macabu C.apebul

ReglOes do Projeto

d.Pttr6Ito.GasN&turI1

Ufb&fK' InduWf.1

• • JurI'lica do$ Lagos Rumlnensu

Seman. de Econom;. OMnif"lC.dI

Turistlca d. Costa Verde

Indultrttl do WdIo Paraib.

• Tutistiw.cultur.l do Nedio Panlb.

• SerTln'deEconomi'A~u'ri. N • ~'rlado.R1osPomb.,Oceano Atlantica

"uri".~ ... .. .. .A Figura 1 - Mapa do Estado do Rio de Janeiro, definindo a nova regionalizat;ao utilizada no projeto. No quadro menor, as Regi6es de Governo oficiais, atualmente em vigor.

deravelmente fragmentada (Figura 2). jeto, acrescida de outros dados des de Conserva~ao nos poucos re­Os grandes fragmentos (> I.000 hec­ cedidos por pesquisadores e manescentes que se encontram fora tares) concentram-se na Regiao Sui e institui~6es - e suas respectivas de areas protegidas; 0 fortalecimento Serrana Central do Estado; mas a maio­ analises - foram levados a um das UCs ja existentes, de forma a ria dos fragmentos e de pequeno ta­ workshop. Ali, I 10 especialistas de reverter 0 quadro de invasao (no Rio manho (50 a 250 hectares) e esta dis­ diferentes areas propuseram estrate­ de Janeiro, por exemplo, a faveliza<;ao persa no territ6rio do Estado (Fidalgo gias e a~6es de conserva~ao adequa­ na Floresta da Tijuca); e a imple­et al., 2007). 0 conhecimento bi6tico das a cada uma das nove regi6es cria­ menta<;ao de mosaicos de UCs. concentra-se em poucas regi6es de facil das. Essas estrategias passaram entao Na Regiao dos Lagos (Figura I), 0

acesso. Existem extensas manchas de a ser discutidas, considerando-se a dis­ turismo e agrande fonte de pressao e solos frageis, sub-bacias com alto indi­ tribui~ao dos fragmentos, a relevancia acarreta degrada~ao dos ambientes ce de vulnerabilidade e grandes exten­ biol6gica, avulnerabilidade ambiental, costeiros e marinhos. Devido aenorme s6es de atividade pecuaria pouco pro­ o tipo de pressao antr6pica na regiao pressao de grileiros e grandes empre­dutiva e com grande exodo rural. Mui­ e 0 potencial de sucesso das a~6es endimentos paraa constru~o de hoteis tas Unidades de Conserva~ao do Esta­ propostas. Tudo isso baseado na e resorts nas restingas, parte das estra­do nao possuem plano de manejo ou medida em que sociedade e governo tegias e a~6es visa, justamente, a prote­conselho gestor, 0 que restringe ainda estao respondendo as mudan<;as e ~ao deste ecossistema. Nas regi6es li­mais a sua capacidade de conserva~ao. quest6es ambientais. toraneas, foram propostas tambem es­

III Os dados tambem indicaram que as Como exemplo, a Regiao Urba­ trategias e a<;6es para os ambientes ma­C '"

's III C

a~6es de conserva~o nao devem ser no-Industrial (Figura I) e caracterizada rinhos, criando-se um corredor para a ::l implementadas de forma homogenea por uma forte pressao urbana sobre uniao de ambos ecossistemas: marinhou::: l'I para 0 Estado, como um tOOo, ou com os remanescentes florestais. Desse ecosteiro.'s o base apenas em aspectos biol6gicos. modo, as principais estrategias propos­ Ja a Regiao do Pomba, Muriae ec o... Abase de dados gerada pelo pro- tas visam: a implementa<;ao de Unida- ltabapoana (Figura I) e caracterizada w

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ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Mapa dos Fragmentos Florestais da Mata Atlantica

2000

Mmas Gerais

legend<:!

Fragmenl.o Floreslel de Meta Atlantlca

limite Municipal

FOnl(l r IoIndly.lio 50S M:lI~ AlIGnroc, • Figura 2 - Mapa do Estado do Rio de Janeiro, mostrando os fragmentos florestais da Mata Atlantica, no ano 2000

por um baixo Produto Interno Bruto

(PIB) e exodo da popula<;ao; por so­los desertificados, agropecuaria exten­

siva e pouco produtiva; por pequenos remanescentes florestais (0 maior tem

1.000 hectares) e um profundo des­

conhecimento sobre sua fauna e flora. Para esta regiao, as estrategias foram elaboradas no sentido de melhorar a

conectividade entre os pequenos frag­mentos, atraves de atividades econo­

micas que impliquem na melhoria da

renda; aumentarapercep¢o ambiental

da popula<;ao, por meio da educa<;ao ambiental; ampliar 0 conhecimento da

biodiversidade na regiao, alem de en­

volver asociedade civil.

A op<;ao metodologica do estudo propiciou 0 reconhecimento de que, it grande heterogeneidade do Estado do Rio de Janeiro - em termos de frag­menta<;ao e geomorfologia - soma­

se umagrande heterogeneidade socio­

economica e cultural, assim como da

capacidade instalada de resposta,

Como decorrencia, evidencia-se ane­

cessidade de proposta de a<;6es de conserva<;ao especfficas para cada re­

giao que, ao mostrarem-se condizen­

tes com a realidade local, terao possi­

bilidade de maior sucesso na prote¢o dos remanescentes de FlorestaAtlan­

tica, no Estado. Finalmente. a difusao da base de

dados, atraves de uma pagina na

internet, vai se constituir em solido ali­

cerce de infonrna¢o edirecionamento,

para as a<;6es assumidas pela socieda­

de civil e pelo governo,

Referencias bibliogrcificas Aguiar, AP.; Chiarello, AG.; Mendes,

S.L.; & E.N. Matos. 2005, Os corredores Central e da Serra do Mar na Mata Atlan­tica Brasileira. In: e. Galindo-Leal & I.G. Camara (Eds.). Mata Atlantica: biodiversidade, amea~as e perspectivas, pp 117- 132. Funda00 SOS Mata Atlantica e Conserva~ao Internacional.

Fidalgo, E.e.C; Uzeda, M.C; Bergallo, H.G,; & TCe. Costa. 2007. Remanescen­tes da Mata Atlantica no Estado do Rio de Janeiro: distribui00 dos fragmentos e possi­bilidades de conexao. Anais XIII Simp6sio Bra­sileiro de Sensoriamento Remoto, pp. 3885­3892. INPE, Florianopolis, Brasil.

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Galindo-Leal, C. & I.G. Camara. 2005, Status do hotspot Mata Atlantica: uma sintese, In: C Galindo-Leal & I.G. Camara (Eds.), Mota Atlontico: biodiversi­dade, amea~as e perspectivas, pp 3-11. Funda<;ao SOS Mata Atlantica e Conser­va<;ao Internacional.

Meyers, N,; Mittermeir, R.A.; Mittermeir, CG.; Fonseca, GA B.; & Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, 403: 853-85

MMNSBF, 2002. Avalia~ao e identifi­ca~ao de areas e a<;6es prioritarias para a conserva~ao, utiliza~ao sustentavel e re­parti<;ao dos beneficios da biodiversidade

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Sanderson, J.; Alger, K.; Fonseca, GAB.; Galindo-Leal, C;lnchausty, Y.H.; & K. Monison. 2003, Biodiversity conservation corridors: planning, impiemenUng and monitDring sustainable landscapes. Conservation International, Washington, DC

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