conservacao e restauracao de livros e documentos

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  • 5/11/2018 Conservacao e Restauracao de Livros e Documentos

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    CADERNOS FUNDAP - Sfa Paulo - Ano 4 - N

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    Conservat;;aoe restaurat;io de Jivros e documsntos

    cesso tao de morado, nao havia maneira de expandir a escalade produ.;:ao do pergaminho, como era possfvel fazer com 0papel.Na segunda metade do Seculo XIX , surge 0 papel de fibrasde madeira. A obtencao de trapos nao mais atendia ;} de-manda de papel e urgia a descoberta de outras fontes deproducsc. A companhia editora do "Times", de Londres,premiou em 1861, como resultado de um concurso abertoem 1854, Thomas Rutledge pela obtencao de papel quenao era de trapos.Papel de polpa de madeira jii havia side obtido em 1844,por Friedrich Keller, na Alemanha, e 0 portuques Moreirade Sa fundou, em 1802, uma fabrica que produziu papet depasta de madeira pouco tempo depois. Tal fate nao cerise-guiu larga divulg?"ao porque a fabrica toi oestrurda em1808, durante a invasso francesa. Dessa forma, considera-se 1861 a data-base para a fabri ca.;:ao don ovo ti po de pape I.No Brasil, no decorrer do seculo passado, foram feitas va-rias tentativas para a producao de papel, mas as Ubricas aca-baram falindo por falta de estrutura econOmica.Os acervos de documentos brasileiros assentados em papel,ate a metade do Seculo XIX, sao, com certeza, de papel detrapo, sejam eles manuscritos ou impresses, de fabricacaocatala, italiana ou francesa, devido ;! I baixa producfo portu-guesa e tI qualidade, que deixava muito a desejar.Apesar das vicissitudes por que passou, essa documentacaochegou ate nossos dias qracas tI resistencia do papel detrapo, pois 0 que nao toi sistematicamente eliminadosofreu armazenamento inadequado, recebendo a aCao daumidade, da poeira e da oscilacdo da temperatura. Uma par-te muito reduzida da docurnentacso brasileira deixou depassar por pelo men os um desses inconvenientes.Nao pretendemos rnenosprezar 0 born papel fabricado demadeira. Entretanto, devido tI sua maior propensdo tI aci-dez, seu similar de trapo e mais duradouro. No primeiro,a aeidez, em decorrencia do processo de fabrica.;:ao, tendea aumentar com 0 tempo, enquanto no segundo a acidez,em gerat, e causada pelas tintas de escrever ou por contatocom atmosfera polufda ou com material acldo.A industria brasileira tern hoje condlcoes tscnicas para fa-bricar papel de pH neutro, mas seu mercado e muito res-trito, 0que torna sua prodw;:ao antieconOmica.

    Nossa experlencia em restauracao permite afirmar que 0papel de trapo e muito mais resistente aos agentes agresso-res e aos tratamentos regenerativos do que 0 de fibra de ma-deira. Como a maior parte das inforrnacoes conternpcrsneasestao assentadas em papel, se nao conservarmos nossa docu-

    rnenracso atual em condicoes ideals, teremos grande partede nossa Hist6ria em branco.Para a obtencao do papel de madeira, troncos de Arvoressao transformados em pequenos pedacos e, sob acao de ca-lor, pressao e produtos qufmicos, a celulose e 0material fi-broso sao separados da lignina, encontrada nas intercelulasda madeira e que torn a 0 papel de pessima qualldsde. Dapasta obtida, branqueada e tratada com produtos qurrnlcos,forma-se 0 papel. Nao pretendemos descrever aqui a fabrica-clio do papel, mas apenas situar que durante a preparacdoda pasta celul6sica e no seu clareamento sao usados produ-tos cujos resfduos, futuramente, possihilitarjo a acidifica-"ao de sse mesmo papel, sendo a acidez urn dos fatores dedestruicao de documentos assentados nesse material.As principais causas de perda da docurnentacao em papelsao qufmicas, ffsicas e biol6gicas_

    F a to re s q u im ic o s d e d es tru ir;a o d o p a p e l

    Ja nos referimos, de passagem, ;! I acidez como causa de des-trui.;:ao do papel. Eta pode atacar urn documento de tresformas: atraves dos componentes usados na fabricacao dopr6prio papel, por intermedlo das tintas usadas para grafaro mesmo e por exposic~o a material acido ou atmosfera po-lutda, Seja de que mane ira se apresente, a acidez ataca ascolas usadas na fixac;:ao das fibras, tornando-as mais perrnea-veis II umidade e, a seguir, destr6i as molecules da celulose.A constatacao visual e tatil da acidez no papel s6 e possjvelquando muito pronunciada. A folha torna-se pardacenta,com cheiro acre e pouco maleavel ao tate, tornando-sequebradlca, Quando a causa do problema ~ devida II tinta,em determinados traces das letras 0 papel fica trAgil e as ve-zes tern suas flbras total mente dastrufdas, formando bura-cos. Nos documentos manuscritos, antes da destrui"ao dasfibras, nota-se que os papeis em branco, que ficaram emcontato com 0 material acldo por muito tempo, mostramtraces identicos ao original, como se tivessem sido usadoscomo mata-borrso em tinta recern-usada. Em nossa vivl!nciacom docurnentacso, encontramos centenas de casos assirn.Lembramos que as tintas usadas em pinturas sobre papeltambern podem apresentar problemas de aeidez. Esse tipode problema, produzido pelas tintas de escrever, e tao en-contradico em documentacso de papel de trapo quanto depapel de polpa de madeira.As tintas Abase de ferro foram largamente usadas e causam,

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    Conlervat;:io e reltaur~fo de livros e documentos

    ainda hoje, graves lesOes tI documentacao, J~as tintas tI basede carbono nao descolorern-com a mesma facilidade das queforam fabricadas tI base de sulfato ferroso, e apresentammenor perigo de acidez. Atualmente, usa-se anilina para fa-bricacao de tintas.Os papeis de trapo, quando acidificados, tem como primeiracausa as tintas e, a seguir, a exposi~ao a materiais acidos.Dessa forma, devemos evitar, ao maximo, colocar docurnen-tos em bom estado perto de documentos atacados. Papeis,papel5es, couros ou colas de alto teor de acidez (usados nasencadernacdes), gases industrials, rssrduos resultantes dacombustso da gasolina e do 61eo diesel, e outros existentesna atmosfera, tarnbern sao fatores de contagio de acidez. 0problema de acidez durante a manufatura era quase inexis-tente, por nao haver uso de produtos acidos na transforma-yao dos tecidos em pasta, a qual viria a formar 0papel,A alcalinidade a tambem fator de degenerar;:ao de papeis,ainda que menos frequente do que a aeidez. Ela age sobreo material favorece~do a penetracfo da umidade e prolife-ra~ao de fungos. Facilita a dissolucao do encolamento dopapel, e a celulose passa a absorver muita umidade, apodre-cendo rapidamente. Tal problema aparece quando 0 papelfoi exposto a intensa umidade por longo tempo ou tevecontato com cloro, nao sendo submetido tI neutralizacao,Para sabermos sa 0papel esta com acidez ou alcalinidade,precisamos determinar 0 pH do mesrno ou seu potencial hi-drogeiOnico (Figura 1).

    Figura 1PH = 8 9 10 11 12 13 14

    faixa alcalinaNEUTRO

    Considerando 0 nurnero 7,0 como ponto neutro, abaixo de-le ate 0 a faixa e ~ida e quanto mais baixo 0 pH, maior seraa aeidez. Acima de 7,0 a faixa sera alcaHna e quanto maispr6ximo do rnirnero 14 maior sera a alcalinidade do papeLVisando tI melhor preservacao do documento, 0mesmo de-ve estar na faixa de 6,0 a 7,0. Oependendo da idade do ma-terial, 5,5 e um pH toleravet, valendo 0 mesmo para embala-gens de papel e papelao. Ha, porern. a necessidade deconstante acompanhamento para nao haver aumento deacidez. No caso de alcatintdade, se 0 pH atingir 8,0 ou mais,teremos que submeter 0material a tratamento.

    Na deterrninacso do pH, pode-se fazer uso de indicadoresuniversais e de pl-l-rnetro. Os primeiros silo encontradosem solu~ao indicadora e papel indicador, ambos sensrveis

    a rnudancas na concsntracso do (on hidrogenio, sendo 0pHdeterminado atraves de cor correspondente. Essa determi-na~ao nao e exata, mas aproximada. J~ 0 pHmetro danos uma resposta exata, sendo 0mais recomendado para as-sa finalidade. No laborat6rio que montamos no ArquivoHist6rico Municipal de Sao Paulo, usamos 0 referido apare-Iho com bons resultados.

    F ato re s ffs ico s d e d estru ir;;a o d o p ap al

    Entre os agentes Hsicos que atuam como agressores dos li-vras e documentos est.A0 homem. Quando faz dobradurasno papel ou manuseia descuidadamente os volumes, quandousa saliva nos dedos para soltar as folhas umas das outras,quando fuma nos ambientes onde ha documentos, aolanchar enquanto lida com livros e quando pratica outrasprofanscbes do mesmo teor, 0 homem esta contribuindopara a destruteso dessa material. Isso para nao falar noarmazenamento de documentos e livros em subsolos ousalas urnidas ou na eltrninacao surnana de papeis por ordemde alguem que se julga "dono da verdade" e toma talatitude sem consultar especialistas no assunto.A luz solar contern radiar;:5es ultravioleta e infravermelhoque agridem as fibras do papel. Livros e gravuras nunea de-vern ser expostos c) luz do sol, mesmo que tenham sido v(ti-mas da ar;:ao direta da ~gua da chuva ou de inundaebes,A radiaciio infravermelho aumenta a temperatura da regiaoem que incide. Entretanto, causa menores danos do que aradiar;:ao ultravioleta, que rompe as cadeias moleculares dacelulose, levando tI destrui~ao do papel a curto prazo, A re-sistencta do papel exposto ao sol e diminufda em 65%, deacordo com G.A. Richter em seu trabalho "Relative Perma-nence of Papers Exposed to Sunlight", Industries andEngineering Chemistry XXVII, 1935 pp. 177/185.

    Os locals de exposir;:o de livros, documentos e obras de ar-te devem ser iluminados artificial mente, de preferencia comlampadas fluorescentes dotadas de filtros especiais. As lampadas com filamentos de tungstlnio devem ser evitadas.A umidade e urn dos fatores ffsicos agressores do papel; n!onos referimos apenas tI umidade direta, pelo contato com aagua, mas tam bern tI contida na atmosfera ltue nos rodeia.o teor de umidade relativa do ar e fator muito importantepara a boa preservar;:aode livros e documentos. A faixa idealde umidade relativa do ar e entre 50% e 60%: a partir de60% h~ condlcoes de proliferar;:ao de colOnias de fungos; semuito baixo, 0 n(vel de umidade relativa resseca 0 papel e

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    facilita 0 rompimento de suas fibras. Quando a umidade ~muito alta, 0encolamento do papel ~ dissolvido e a celulo-se, absorvendo a cola, leva ao apodrecimento do material,o papel, apesar da aparencia fr~gil, ~ bastante resistente,principalmente em boas condicoes de temperatura e urnlda-de relativa. A celulose s6 se dissolve a 2500C. Entretanto, asvariacoes t~rmicas subitas sao danosas, pois a expansso e re-trac;:aodas fibras provoca-Ihes trauma e diminui sua durabili-dade. Cidades com clima igual ao de Sao Paulo tem, alem dealta umidade relativa do ar, oscilacoes muito grandes detemperatura, rnudancas que agridem os papeis,o ruvel ideal de temperatura para preservacao de livros edocumentos E ! laoe, quando em depositos, e ate 2loC.quando a documentacso localiza-se em ambiente normal detrabalho, pois mais baixa, a temperatura prejudicaria 0borndesempenho das pessoas. Temperaturas muito elevadas facl-litam a proliferacao de insetos e roedores, sendo portantobastante deseiavel 0 seu controle em recintos que abrigampapeis.

    F a to re s b io /6 g ic os d e d es tru k;a o d o p a p e l

    Entre os organismos que atacam documentos, livros, aqua-relas, desenhos e outros materia is assentados em papel, es-tao os insetos, como besouros, traces, cupins e baratas, e osroedores,As brocas ou carunchos sao an6bios pertencentes ~ ordemdos cole6pteros. Instalam-se nos livros e dao prefen'!ncia avolumes compostos de papel de trapo, nao deixando de la-do, porsrn, outros papeis, A destrulcao ~ feita pelas larvas,que atacam inicialmente as lombadas dos livros e desprezamas folhas nao-encadernadas.Os tE!rmitas ou cupins pertencem ~ ordem is6ptera, sendo oscriptotermes, chamados cupins de madeira seca, os queperfuram os llvros em sua caminhada rumo ~s estantesde madeira. Sua alirnentacao basica ~ a celulose; os copto-termes, conhecidos como cup ins subterrsnsos, j~ foramencontrados consumindo papel, quando este estava muitopr6ximo ao assoalho.

    Pertencentes ~ lista de agressores biol6gicos do papel, osfungos proliferam muito bem em ambientes com alta urnl-dade relativa do ar. A umidade relativa de 60%, certas espe-cies jtt tem condicbes ideals de reproducao, Os generos malsencontrados em materiais d.:: bibliotecas e congeneres sao

    "aspergillus", "penicillium", "trlchodermo", "cladospori-urn", "torula" e "chaetomium". Os fungos disseminam-seatraves de esporos, encontrados dispersos no ar, e prolife-ram em condi~es de alta umidade relativa. Onde os fungosse instalam, forrnam-se manchas esbranquic;:adas que maistarde podem mudar de cor. Seu desenvolvimento deve-setambern Apouca olrculacso de ar em locais urnidos.

    M e did as p re ve ntiv as aos d iv e rs o s fa to re sd e d e s tru ic a o d o p a p e l

    Os bibliotecarlos, arquivistas e preservadores de papels,aquarelas, desenhos e afins devem, antes de qualquermedida paliativa, prevenir-se quanto aos diversos fatores dedestruicso do papel, Isso e possrvel evitando as condicbesproprcias aos eventos degenerativos.A acidez do papel, devido il sua fabricac;ao ou provocada pe-la tlnta, nao pode ser evitada, mas pode ser remediadapelo restaurador de papeis. Entretanto, 0contaqlo com ma-teriais adjacentes E ! passrvel de sustac;:ao.Quando uma pecaestiver com cheiro acre e apresentar cor arnarelo-parda-cento, ela deve ser separada, 0mesmo sendo feito quando atinta der mostras de ataque Asfibras.

    Muitas vezes, num acervo antigo, pode-se encontrar materialque apresenta claros sinais de ter sido submetido a intensaumidade ou mesmo ~gua, como efeito de anteriores armaze-namentos inadequados. Papeis com essas caracter(sticas ecom pequenos pontes escuros ou acastanhados tambern de-vern ser separados dos demais e encaminhados ao restaura-dor para tratamento adequado; se continuarem em contatocom outros documentos podem provocar futuros danos.Como dissemos, 0 local de armazenamento de documents-c;:aodeve ter temperatura e umidade relativa do ar controla-das: de 1aoC a 210e para a primeira e d e 50% a 60% para asegunda. Quando nao houver possibilidade de cllrnatlzacso,pelo menos a umidade deve ser controlada atreves dedesumidificadores com higrostatos. Esses aparelhos siloautornaticos, relativamente baratos e lndispensaveis, e taisprovidanclas evitam a orollteracso de fungos.As estantes devem ser metalicas e com espac;o suficienteentre 0assoalho e a ultima prateleira, para facilitar a limpe-za, Devem ser evitadas. perto da docurnentacfo, quaisquerpec;:as de madeira, a qual atrai cupins. 0 revestimentodo assoalho deve ser de material slntetico, tipo paviflex,medida que facilita a limpeza e nao atrai cupins.

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    Con.. ~1Jo e restaur~o de livros II documentos

    A luz direta do sol danifica 0 papel; dessa forma, a iluml-na.;:ao deve ser artificial. Quando isso nao for possfvel, sioindlspensavels persianas nas janelas.De prefer~ncia, as pessoas nao devem trabalhar na mesmasala que serve de dep6sito para 0acervo. Em hip6tese algu-ma deve-se permitir fumar perto de livros e documentos,nao s6 pelo perigo de inc"ndio, mas porque a furnace ~ umpoluente que deteriora 0papel. Ingerir alimentos perto dadocurnentacao e ato duplamente irresponsaval: podeprejudicar a conservacso dos papels e contaminar 0 consu-lente, caso os livros estejam afetados por fungos ou bacte-rias que normal mente se espalharn pela atmosfera que en-volve 0 local.o acervo deve ser examinado periodicamente e, no caso deestar contaminado por termltas, an6bios ou colOnias defungos, deve-se chamar um especialista. Pequenas infesta-.;:oes podem ser debeladas pelo restaurador e, para as gran-des, sugerimos firmas especializadas. Em Sao Paulo, 0 Insti-tuto de Pesquisas Tecnol6gicas, ap6s minucioso examede identificacao biol6gica, aplica 0 tratamento adequadoem todo 0predlo.RegiOes multo polufdas sao inadequadas para instalaeoes dearquivos, bibliotecas e museus. Entretanto, quando isso forlnevitavel, os locals de armazenamento devem ter as janelase portas sempre cerradas e 0ambiente deve ser clirnatlzado.Os consulentes devem ser instrufdos quanto a maneira deconsultar livros e documentos. Nao marcar pc1ginascom do-braduras, nao riscar 0 material, nao manusear os papeiscom as maos suadas, nao molhar os dedos nos labios paravirar folhas, nao firmar os braces sobre os volumes enquan-to h~eme outras acOes danosas sao algumas orientacoes quedevem ser obedecidas na consulta de papeis,

    R es ta ura 98 0 d e p ap eis

    Nossa intencao neste item e dar algumas nocoes sobre res-tauro de papels e nao um curso sobre a materia, que necss-sita muito tempo para aprendizado.Quando um livre ou documento ~ levado para restauro, aordem de procedimento do laborat6rio deve ser:

    registro de entrada e abertura de ficha;fotografia do material;exame e diagn6stico;

    limpeza;teste e fixaltao de substAncias soluveis:rernocso de elementos estranhos ao documento;verificaCao da numeracso (quando encadernado);desmontagem do volume;remocao de manchas;desinfeccao e/ou lavagem; .branqueamento (quando necessarlo):neutral iza.;:ao/desacid i1icaJ;iio;restauro;fotogra1ia do material pronto.

    Todo material que entrar no Laborat6rio de Restaurodeve ser fichado. Devem constat da ficha as caracterrstlcas,classiflcacao e procedsncia da documentacao, A ficha acorn-panhara 0material em todas as fases da passagem do mesmopeta restauracao.A fotografia do documento antes e depois do restauro e in-dispensavel nao s6 como registro, mas para tranqiillldade dorestaurador, sequranca do docurnento e como base para fu-turas pesquisas. Infelizmente, nao temos conhecimento delaborat6rio em Sao Paulo onde isso seja feito.o exame e diagn6stico devem ser registrados em ficha,juntamente com a indicacao do tratamento para a do-curnentacao,A primeira limpeza deve ser feita com trinchas macias e p6de borracha, quando necessario, Os produtos qurrnlcos usa-dos em sotucso devem ser testados em pequena area do ma-terial. As tlntas tambem devem ser testadas e, quando sola-veis, fixadas com produtos especfficos.A seguir, os elementos estranhos ao documento devem serretirados (fitas adesivas, remendos, suportes etc.). Fitadurex e flta mc1gicasao inimigas da docurnerrtacao e e verda-deiro atentado usa-las. A prime ira ~ removida com benzolou ~ter de petr6leo; ja na remocso da segunda, usa-se aceto-na p.a., eter sulfurico e alcoot absoluto. Conforme 0estadodo papel, a fita mc1gicadeixa resrduos, Etiquetas auto-adesi-vas sao removidas com benzol au eter de petr6teo. A maiorparte das colagens sao removidas com c1guadestilada apli-cada no verso do remendo.Quando 0documento e encadernado, verifica-se a nurnera-cao e, nao havendo, numera-se a lapis para que a ordem naoseja perdida. A seguir procede-se ;)desmontagem.As manchas que possam existir devem ser identificadase tratadas, conforme 0 case, com amonraco, eter sulfu-rico, eter de petr61eo, benzol, benzeno, per6xido de hldro-g~nio ou solucees preparadas conforme a necessidade.

    ~ desejc1velque 0Laborat6rio de Restauro possua uma ca-53

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    mara de Tirnol, um sal que com pouco calor transforma-seem gas inseticida e fungicida, e 56 nao tem efeito sobre ostermites. Nao dispondo desse reCUfSO,um produto que sejainseticida e fungicida deve ser usado. Indicamos 0Pentaclo-rofenol dilufdo em alcool etflico (absoluto) em coneentra-t;:aode 1% a 5%, para desinfetar livros e estantes. Nos llvros,deve ser aplieado a cada dez folhas, com urn pincel peque-no, junto ao dorso. Nos documentos desencademados usa-se um banho de pentaclorofenato de s6dio dilufdo de 1%a5% em aqua destilada, Os dois produtos aeima citados po-dem ser usados em pulverizacoes, Reeome'ndamos muitocuidado quando se estiver aplicando os mesmos devido fIsua toxidade.Nao havendo necessidade de dasinfeccao do material e casoo mesmo precise de lavagem, esta devera ser feita com aguadestilada ou deionizada e jamais com agua de torneira.AI~m dos mais diversos resrduos, a agua das cidades con-tern cloro, produto de qualidades higrosc6picas cujos rest-duos no papel farao as fibras absorverem mais umidade.Durante seu exams e diagn6stico, 0material deve ter medi-do 0 seu pH. Se estiver abaixo de 6,0, 0 documento deveraser desacidificado. Caso esteja acima de 8,0, devera ser de-salcalizado. Documentos manuscritos nao podem ser sub-metidos a clareamento, apenas os impresses. Se um impres-so estiver acido. podera ser tratado com branqueador a basede cloro, que 0 desacldiflcara. Citaremos aqui apenas ummetodo de branqueamento. Mergulha-se 0 documento im-presso, por 10 minutes, em uma solucao de agua morna, ouem temperatura ambiente, e hipoclorito de s6dio, numaproporcao de 2% a 5%. A seguir, submete-se 0material a ba-nhos de agua fria e corrente, mais ou menos por trl!s horas.Prepara-se uma sotucao de agua destilada e hiposulfito des6dio a 2%, e deixa-se 0 material mergulhado por trss ho-ras. Coloca-se, entao, para secar. A agua usada nessesbanhos pode ser comum, exceto no ultimo.Nem todo material acido pode ser tratado com solucaoaquosa. Quando um livre nao pode ser desmontado deveraser desacidificado pela pulverizacao de uma solucao de hi-dr6xido de baric cristalino e atcool meHlico na proporcsode 18,6g por litro. Recomendamos cuidado para nao as-pirar as ernanacoes dessa solucso.

    Uma desactdlficacao em solucao aquosa ~ a que segue: hi-dr6xido de calcio a 3% (agua de cal) em banho de 10 mlnu-tos, A seguir, mais 10 minutes ern solucdo de carbonato decatcio em proporcao que pode variar de 0,5% a 3%. A solu-Cao de carbonato de calcic s6 deve ser usada quando a aguase tornar quase transparente e os restduos tiverem pousadono fundo do recipiente. Tal tratamento ~ ideal para manus-critos. Muitos autores afirmam que 0 carbonato de calcio56 surte efeito quando recebe injecao de anidrido de carbo-no. Usamos a solucao citada sam anidrido de carbono anos

    seguidos e n1l0 registramos 0 retorno da acidez iI documen-taC!lo em um s6 caso ate 0momento.Recomendamos que todo papel submetido ~ imersao em so-lut;:oes aquosas seja antes colocado ,entre telas de nailon,para nao romper 0material, que se torna fragil quando mo-Ihado.A secagem do papel deve ser, de preferl!ncia, sem uso de ca-lor artificial. As fibras do papel dilatam-se quando molhadase retraem-se quando secam. Se a secagem for feita com altatemperatura artificial, as fibras ficarao mais fracas devido aotraumatismo da mudanca rapida,A alcalinidade do papel deve ser tratada quando a pH atinge8 au mais. Para neutralizacjo, usa-se acido crtrico dilu(doem agua destilada na oroporcso de 1/1 000.

    A recuperacso de documentos pode ser feita pela aplicacaode pasta de fibras, tambem chamada de polpa de papel,atraves de processo mecanlco ou manual. Citaremos a rein-tegracao atraves da Vinyector, maquina a vacuo desenvolvi-da pelo Prof. Vicente Vinas, do Centro Nacional de Restau-racao de Livros e Documentos de Madri, Espanha, quepreenche com polpa todas as faltas ou buracos do papel. Hatambern a maquina desenvolvida pelo qufrnico Ignacio Del-fin Marquez, da Escola Nacional de Conservacao, Restaura-cao e Museografia "Churubusco", no M~xico, que cornpletaas partes faltantes do papel e restaura folhas de at~ 45x65cm num perrodo de 3 a 5 minutos. Nao sabemos se algumlaborat6rio de restauro brasileiro adota algum desses equi-pamentos.o processo de restauracso manual, com pasta de fibras, emque se complementam os pedacos que faltam, embora lento~ bastante satisfat6rio.A velatura ~ urn rnetodo aconselhavel a grandes acervos,onde os documentos a ser restaurados sao numerosos, equando se tern certa pressa. Usa-se: papel mino extra finode 12g/m2, de fabricaCao nacional e tambern chamado depapel de arroz ou [apones (0 ideal seria 0 papel importado ede 9g/m2, que dificilmente se encontra no mercado); co-la slntetica, iI base de carboxi-metil-celulose dilufda em aguadestilada ou deionizada; e trincha macia. 0 papel ~ coladoao documento em uma ou nas duas faces, conforme as con-dicOes do mesmo, reforcando-o,Ap6s a restauracso, 0 material deve ser examinado nova-mente e a ficha, conferida. Quando necessario, deve serlevado tl encadernacao e fotografado.Papeis que foram tratados, mas n1l0 precisam de restau-ro, devem ser pincelados com uma camada de cola de car-boxi-metil-celulose, que os reforcara.

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    Rec omen da y6 es fin ais

    Livros e documentos nunca devem se r encadernados comcola de origem animal ou tI base de farlnaeeos, gelatinas esimilares. Tais produtos atraem baratas, traeas e outros in-setos, alern de facilitarem 0 surgimento de acidez no volu-me.Os papeis usados nas encadernacoes devem possuir pH neu-tro ou bem pr6ximo da neutralidade. Como e diffcil encon-trar no mercado material nessas condlcoes, h4 necessida-de de submets-los a um processo de desacldlflcacao antes deusa-los,Documentos l1A'o-encadernados, que estl;!jamem estado pre-carlo, devem ser colocados entre laminas de acetato de ce-lulose ate sua restauracao, 0 produto citado e encontradofacilmente no mercado.Nao contando com os prastimos de um restaurador, nao de-vem ser feitos remendos com qualquer material. Se for real-mente precise, e posstvel usar papel de arroz, encontradoem papelarias, e cola de carboxi-metil-celulose. Fita magica,fita durex e fita crepe e simi lares nlIo devem ser usadas emdocumentacfo. Todo e qualquer restauro deve ser facllrnen-te reverstvel.o ideal, no que tange aos grandes, medias ou pequenosacervos documentais, e a boa conservecso para que nao hajanecessidade de restauracao. Entretanto, se for de todo indis-pensavel, 0 restauro deve ser de boa qualidade, reversrvel efeito par preflsslonal consciente de sua responsabilidade.

    Refe renc ias b ib liogra ficas

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