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Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social 1 Anais do Seminário Reforma Política

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

1Anais do Seminário Reforma Política

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Anais do Seminário

“REFORMA POLÍTICA”

Brasília, novembro de 2007

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

SECRETARIA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS

SECRETARIA DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL

Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social

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Secretária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – SEDESEsther Bemerguy de Albuquerque

Secretária Adjunta da Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – SEDESÂngela Cotta Ferreira Gomes

Diretoria de GestãoDiretorRonaldo Kufner

Gerente de ProjetosRaquel de Albuquerque Ramos

Gerente de ProjetosLuiz Carlos Emanuely Osório

Diretoria de Tecnologia de Diálogo SocialDiretoraAna Lúcia de Lima Starling

Gerente de ProjetosMaria França e Leite Velloso

Gerente de ProjetosRosa Maria Nader

Diretoria de Políticas de DesenvolvimentoDiretorAdroaldo Quintela Santos

Gerente de ProjetoMaria Luiza Falcão Silva

OrganizadoraMaria Francisca Pinheiro Coelho

Anexo I – Ala “A”, sala: 202 – (61) 3411.2199 / 3393 • Brasília – DF – CEP: 70150-900

[email protected] www.cdes.gov.br

Disponível em: CD-ROM

Disponível também em: <http//www.cdes.gov.br>

Tiragem: 500 exemplares

Impresso no Brasil

Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CID)

S471a Seminário “Reforma Política” (Brasília: 2007).Anais do Seminário “ Reforma Política ’’. Brasília : Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social – CDES, 2007.

p. 176

1. Reforma Política – Brasil. 2. Mudança Política – Brasil. 3. Fidelidade Partidária –Brasil. Sistema Partidário – Brasil. I. Título. II. Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social.

CDD – 320.981

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SUMÁRIO

PREFÁCIO 7

PARTE I - O CONTEXTO DA REFORMA POLÍTICA NO BRASIL 9

PARTE II - PARECER DO CDES SOBRE A REFORMA POLÍTICA 19

PARTE III - RELATO DO SEMINÁRIO 25

MESA DE ABERTURA - A RELEVÂNCIA E SENTIDO DA REFORMA POLÍTICA 27

• Renato Rossi – Vice-Presidente da Confederação Nacional do Comércio e Presidente

da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais 28

• Cezar Britto – Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil 28

• Deputado Federal José Múcio Monteiro Filho – Líder do Governo na Câmara dos Deputados 29

• Senador Romero Jucá Filho – Líder do Governo no Senado 30

• Deputado Federal Arlindo Chinaglia – Presidente da Câmara dos Deputados 30

• Ministra Nilcéa Freire – Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres 32

• Senador Tião Viana – 1º Vice-Presidente do Senado Federal 35

• Ministro Walfrido dos Mares Guia – Ministro de Estado Chefe da

Secretaria de Relações Institucionais 37

1ª MESA-REDONDA: APERFEIÇOAMENTO DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA – O FINANCIAMENTO DAS CAMPANHAS POLÍTICAS E O VOTO EM LISTA 41

Introdução 41

Coordenador:

• Cezar Britto – Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e Conselheiro do CDES 41

Expositor:

• Ronaldo Caiado – Deputado Federal (DEM/GO) – Relator do PL da Reforma Política 42

Debatedores:

• Jairo Nicolau – Professor do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro 45

• Antônio Octávio Cintra – Consultor Legislativo do Câmara dos Deputados 49

• Cristina Buarque – Secretária Especial da Mulher do Estado de Pernambuco

e pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco 52

Debate com o Plenário 53

Considerações Finais da Mesa 57

2ª MESA-REDONDA: APERFEIÇOAMENTO DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA - A CLÁUSULA DE BARREIRA, IMUNIDADES E A FIDELIDADE PARTIDÁRIA 61

Introdução 61

Coordenador:

• Rodrigo Rocha Loures – Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP)

e Conselheiro do CDES 61

Expositores:

• Renato Janine Ribeiro – Professor da Universidade de São Paulo 62

• Ministro Nelson Jobim – Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) 67

Debatedores:

• Rodrigo Collaço – Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros e Conselheiro do CDES 71

• Fernando Abrúcio – Professor da Fundação Getúlio Vargas 71

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Debate com o Plenário 75

Considerações Finais da Mesa 77

3ª MESA-REDONDA: FORTALECIMENTO DA DEMOCRACIA DIRETA E DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA – PLEBISCITO, INICIATIVA POPULAR, RECALL, REGULAÇÃO 83

Introdução 83

Coordenador:

• José Antônio Moroni – Membro do Colegiado de Gestão do Instituto de Estudos

Socioeconômicos (INESC) e Conselheiro do CDES 83

Expositora:

• Luiza Erundina – Deputada Federal (PSB/SP) e Coordenadora da Frente Parlamentar pela

Reforma Política com Participação Popular 84

Debatedores:

• Lúcio Rennó – Professor da Universidade de Brasília 88

• Francisco Antônio da Fonseca Menezes – Presidente do Conselho Nacional

de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) 90

• Arthur Henrique da Silva Santos – Presidente da Central Única dos Trabalhadores

e Conselheiro do CDES 92

Debate com o Plenário 93

Considerações Finais da Mesa 96

GLOSSÁRIO DE SIGLAS 100

ANEXOS 101

• ANEXO I - Projeto de Lei nº 2. 679/2003 da Comissão Especial

de Reforma Política da Câmara dos Deputados. 103

• ANEXO II - Emenda Aglutinativa Global ao Projeto de Lei nº 1.210/2007. 116

• ANEXO III - Projeto de Lei Complementar nº 35-B/2007. 129

• ANEXO IV - Propostas para a Reforma Política – Ordem

dos Advogados do Brasil – Conselho Federal. 130

• ANEXO V - Reforma Política - Conhecendo, você pode ser o juiz

dessa questão – Associação dos Magistrados Brasileiros. 135

• ANEXO VI - Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma Política. 153

• ANEXO VII - Seminário sobre Reforma Política – Subsídios para Discussão

(Documento com reflexões do Ministério da Justiça sobre pontos da

Reforma Política e Projetos de Lei em tramitação; Síntese das propostas

do CDES e OAB sobre a Reforma Política e pontos convergentes;

Relatório Preliminar do CDES sobre a Reforma Política). 159

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

7Anais do Seminário Reforma Política

O “Seminário Reforma Política” foi promovido pelo Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social – CDES com o objetivo de agregar as perspectivas do Congresso, daacademia e de outros atores sociais às análises dos Conselheiros e Conselheiras, e gerousubsídios significativos para o parecer do CDES sobre a Reforma Política encaminhado aoPresidente da República em julho de 2007.

O tema é considerado da maior relevância pelo CDES, tendo como premissa que oaprimoramento do sistema político contribui, de maneira estrutural, para o fortalecimentoda democracia e para a construção do desenvolvimento promotor de eqüidade defendidopelo Conselho.

Não há dúvida que as decisões sobre a Reforma Política cabem ao Congresso Nacional.Mas cabe também ao conjunto da sociedade debater, buscar esclarecimentos, refletir,discutir e expressar seus posicionamentos diante da organização política brasileira.

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social defende a urgência e prioridadede se implementar mudanças que fortaleçam os partidos brasileiros, aumentando o graude representatividade dos mandatos e assegurando a soberania dos cidadãos e cidadãs nosistema democrático.

A contribuição do CDES para o conteúdo da Reforma Política se organizou em tornode três eixos: o aperfeiçoamento do sistema de democracia representativa; o fortalecimentoda democracia direta e da democracia participativa; e a reforma do processo orçamentário,com o objetivo de aperfeiçoar os mecanismos que regem essa produção conjunta dosPoderes Executivo e Legislativo.

Os Conselheiros e Conselheiras consideram, de maneira consensual, que é necessárioestabelecer normas para coibir as trocas de partido no Parlamento e incentivos para adisciplina e a fidelidade partidária; estabelecer novas regras para o uso da imunidade e do foroprivilegiado dos parlamentares; e regulamentar os princípios constitucionais que prevêem a realização de plebiscitos, referendos e iniciativas populares. Constituíram-se, ainda,consensos a possibilidade de revogação de mandato, mediante consulta popular (o chamadorecall), e a necessidade de se definir novas regras relacionadas aos suplentes de senadores.

O financiamento das campanhas políticas ganhou relevância nos debates e formou-seuma forte convergência entre os Conselheiros e Conselheiras em torno da alternativa dofinanciamento público das campanhas. O Conselho convergiu também sobre a adoção dovoto em lista fechada ou em lista flexível, na qual o eleitor pode alterar a ordem propostapelo partido. Essencial para combater o personalismo e fortalecer os partidos políticos, osConselheiros e Conselheiras entendem, entretanto, que o sistema de listas pressupõeprocessos internos mais democráticos nos partidos e redução da interferência de suasestruturas hierárquicas superiores.

No nosso sistema político eleitoral multipartidário, a diversidade de tendências eopiniões presente hoje na sociedade, com possibilidade de representação política, tornainimaginável que um partido no Brasil possa ter maioria para governar. Desde 1986,nenhum partido político conseguiu ter mais de 20% das cadeiras na Câmara dosDeputados. As coalizões de governo passam a ser, portanto, fundamentais.

Os quatorze partidos políticos que atualmente compõem a coalizão de governo sereúnem periodicamente por meio de seus presidentes e líderes para analisar as medidas

Prefácio

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

8 Anais do Seminário Reforma Política

legislativas e aconselhar o Presidente da República na sua relação com o CongressoNacional. A complexidade crescente desse exercício de governo compartilhado impõeavanços também nas condições que asseguram o exercício do poder. Nós precisamos,e os Conselheiros e Conselheiras do CDES acreditam ser possível, fortalecer o caráterrepublicano de nosso sistema político-eleitoral e dar um passo à frente nagovernabilidade democrática.

O Presidente da República afirmou, em discurso no CDES, que a Reforma Política nãopode ser discutida apenas quando os problemas se instalam ou ficar restrita aos períodoseleitorais. A realização do “Seminário Reforma Política” e a disponibilização do seuconteúdo certamente contribuem para o esclarecimento e a divulgação do tema, de formaque cidadãos e cidadãs possam debater e se posicionar sobre ele, e que o sistema políticoreflita o desejado pelo conjunto da sociedade brasileira.

Walfrido dos Mares GuiaMinistro de Estado Chefe da Secretaria de Relações Institucionais

da Presidência da República

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9Anais do Seminário Reforma Política

PARTE IO Contexto da ReformaPolítica no Brasil

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O Contexto da Reforma Política no Brasil

11Anais do Seminário Reforma Política

A Constituição de 1988 é um marco na consolidação da ordem democrática no Brasil.Sua elaboração ocorreu no processo de uma Assembléia Nacional Constituinte, antecedidapor uma ampla mobilização da sociedade civil organizada. A primeira fase da Constituinte,a das Subcomissões, foi caracterizada pela realização de audiências públicas comassociações da comunidade científica, associações profissionais e entidades sindicais, como objetivo de ouvir sugestões e reivindicações da sociedade. A Carta Constitucionalhomologada refletiu esse momento político e resultou, depois de quase dois anos dedebates, das tensões e acordos realizados no interior da Constituinte.

A soberania popular consagrada na Constituição Cidadã, como foi denominada pelopresidente da Constituinte, o Deputado Ulysses Guimarães, é garantida pelo exercício dademocracia representativa, da democracia direta e da democracia participativa. A iniciativalegislativa é concedida na Constituição aos três Poderes da República e à sociedade, pormeio da iniciativa popular. Contudo, desde sua homologação, diversas reformas previstascomo pré-requisitos para a governabilidade democrática não foram realizadas. Entre elas,a reforma política.

Já se passaram 19 anos sem que o Poder Legislativo realize a reforma política. Claroque se o conceito de reforma for ampliado para toda a legislação pertinente ao sistemapolítico-eleitoral nesse período, mudanças no sistema já foram efetuadas. Mas como otermo foi concebido, no contexto de uma revisão dos preceitos constitucionais e dasreformas do Estado, a reforma política ainda está por se realizar, sendo sua mençãorecorrente como uma necessidade do sistema político brasileiro.

O tema da reforma política é bastante complexo e em todos os espaços em que a discussão se realiza surgem dúvidas e divergências. Há desde os que são contra porconcepção, por não verem problemas no funcionamento do presidencialismo de coalizão,aos que são contra por se beneficiarem pessoalmente do sistema eleitoral vigente. Nocampo dos reformistas, a clivagem está entre os que defendem uma reforma políticaampla, com alterações na Constituição, e os que são favoráveis a uma reforma políticarestrita à ordem infraconstitucional, uma Lei Ordinária.

Na conjuntura atual, a discussão entre uma reforma ampla ou restrita está maisrelacionada às dificuldades e possibilidades de sua aprovação do que aos conteúdosem si. As diferenças não significam necessariamente que os que defendem umareforma política ampla sejam contra uma reforma infraconstitucional. Muitos chegammesmo a considerar que a melhor estratégia no momento é uma reforma político-eleitoral restrita a uma Lei Ordinária, por causa das resistências à aprovação de umaEmenda Constitucional.

Dentro da pauta das reformas previstas na Constituição, a reforma políticaconstituiu-se objeto de discussão na Legislatura de 1995-1999, quando foram criadasComissões Especiais para analisar a matéria e propor alternativas, na Câmara dosDeputados e no Senado Federal. A Comissão da Câmara não concluiu seus trabalhos. Ado Senado, após inúmeros debates, nos quais foram ouvidos representantes do PoderExecutivo, da Justiça Eleitoral e de partidos políticos, concluiu, em 1998, pelaapresentação de uma série de propostas, na forma de Propostas de Emendas àConstituição e Projetos de Lei do Senado.

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12 Anais do Seminário Reforma Política

Entre as alterações mais importantes propostas pela Comissão do Senado estavam ainstituição da fidelidade partidária, ou seja, a previsão de perda de mandato para oparlamentar que após as eleições mudasse de partido ou incorresse em falta disciplinargrave; o voto facultativo; o financiamento público exclusivo de campanha; e a cláusula debarreira. Algumas dessas mudanças já foram aprovadas no Plenário do Senado, como ofinanciamento público de campanhas, a fidelidade partidária, o fim das coligações e acláusula de barreira, aguardando votação na Câmara dos Deputados.

O processo da reforma na 52ª legislatura (2003-2007)

Na primeira gestão do atual governo a reforma política voltou ao centro daspreocupações. No início da 52ª legislatura foi criada, na Câmara dos Deputados, aComissão Especial de Reforma Política, com a atribuição de efetuar um estudo sobre asmatérias em tramitação no Congresso Nacional e elaborar uma proposta de reforma. Osprojetos aprovados pelo Senado na legislatura anterior tiveram influência significativa nostrabalhos da Comissão Especial.

A Comissão tinha como presidente o deputado Alexandre Cardoso (PSB/RJ) e relator odeputado Ronaldo Caiado (DEM/GO). Depois de quase um ano de trabalho, da realizaçãode reuniões e audiências públicas foi apresentado, no final de 2003, um relatório, em formade Anteprojeto de Lei, que procurava reunir as principais propostas formuladas nos últimosanos, mas debatidas isoladamente no Congresso Nacional.

A Comissão encaminhou uma proposta de Lei Ordinária, deixando de fora medidas querequeressem mudanças na Constituição. O Anteprojeto concentrava-se no processo de escolhada representação política e nos partidos. Sendo uma proposta de lei infraconstitucional, nãoforam incluídos, no Anteprojeto, temas recorrentes no debate sobre a reforma política, comoo voto facultativo e a proporcionalidade da representação dos estados.

As principais mudanças propostas pelo Anteprojeto foram as seguintes: a substituiçãodo voto em lista aberta pelo voto em lista preordenada pelos partidos, a chamada listafechada; o fim das coligações partidárias nas eleições proporcionais e sua substituição pelasfederações partidárias; e o financiamento público de campanhas.

A lista preordenada levaria as campanhas eleitorais a se concentrarem mais nospartidos do que nos candidatos. Porém, o voto em lista tornou-se um dos pontos maispolêmicos na discussão sobre a reforma na medida em que essa opção contrairia atendência do eleitorado no País do voto nominal. De acordo com esta visão, a lista fechadaseria uma transferência da soberania do eleitor para o partido. Mas, por outro lado,pesquisas de opinião atestam que depois das eleições, o eleitor esquece em quem votounas eleições proporcionais.

O propósito da lista preordenada é o fortalecimento dos partidos. Com base nessaproposta, a Comissão Especial procura articular o processo eleitoral com a vida parlamentar.Os partidos passariam a ter uma presença forte tanto no plano eleitoral quanto noParlamento. Pretendia-se, com isso, resolver a lacuna existente, hoje, entre essas duasinstâncias: a eleitoral, centrada no candidato, e a parlamentar, focada nos partidos.

Por sua vez, as coligações partidárias, de acordo com a fundamentação do Anteprojeto,seriam prejudiciais à vida partidária porque só existem durante o processo eleitoral e diluemas diferenças entre os partidos. Os votos dos partidos coligados se totalizam em nível decoligação e na atribuição das cadeiras vigora a ordem de votação nominal dos candidatos,

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como se fosse um único partido. Não é raro o eleitor votar em um candidato e eleger umde outro partido. A não-permanência da coligação após o pleito, no trabalho legislativo,acentua o caráter episódico da aliança.

As federações estabeleceriam vínculos mais duradouros entre os partidos. De acordocom o Anteprojeto de Lei, dois ou mais partidos poderiam reunir-se em federação, queatuariam como se fosse uma única agremiação partidária, inclusive no registro decandidatos e no funcionamento parlamentar, com garantia da preservação da identidade e da autonomia dos partidos que a integram.

Os partidos reunidos na federação deveriam permanecer a ela filiados, no mínimo, portrês anos. As federações partidárias procurariam sanar os problemas dos pequenos partidosque não conseguem atingir o quociente eleitoral nem participar do fundo partidário. Ospartidos políticos e as federações poderiam, dentro da mesma circunscrição, celebrarcoligação somente para a eleição majoritária.

O Anteprojeto mantinha com algumas modificações o mecanismo da cláusula dedesempenho definido na Lei nº. 9.096/1995, a Lei dos Partidos Políticos. De acordo comessa Lei somente tem direito a funcionamento parlamentar o partido que, em cadaeleição para a Câmara dos Deputados, obtenha o apoio de, no mínimo, 5% dos votosapurados, não computados os brancos e nulos distribuídos em, pelo menos, um terçodos Estados, com um mínimo de 2% do total de votos. O Anteprojeto diminui para 2%esse percentual nacional, devendo esses votos ser distribuídos em, pelo menos, umterço dos Estados, necessitando o partido eleger, pelo menos, um representante emcinco desses Estados.

O Anteprojeto também instituía o financiamento público de campanha, proibindodoações aos partidos de empresas e pessoas jurídicas no período eleitoral. Essa propostaprovocou muitas controvérsias, menos pelo que o Estado gastaria – em torno de 800milhões, nas eleições de 2006 – do que pelo que representava em termos de cerceamentode contribuições que desde que fossem reguladas, transparentes e contabilizadas nãocriariam obstáculos à democracia.

Entre as posições que alimentam o debate sobre o financiamento público, umadelas está voltada ao aperfeiçoamento do sistema atual, reduzindo a quantia máximapermitida de doações e tornando transparente o processo e a prestação de contasdurante o período eleitoral. A Lei poderia determinar, por exemplo, a quantia-limitede dinheiro que cada pessoa ou empresa poderia doar por ano, em lugar de, como éo caso da lei de financiamento de campanha vigente, estabelecer como limite oequivalente a certa parte da renda do doador. O sistema de financiamento decampanhas eleitorais vigente favoreceria os vínculos de candidatos com empresas,limitando a capacidade de novos interesses de ganharem espaço de expressão nasinstituições representativas.

Em 3 de dezembro de 2003, o Anteprojeto de reforma política foi votado na ComissãoEspecial, sendo esta considerada como a melhor proposta construída no CongressoNacional. Dos 11 partidos representados na Comissão, oito foram favoráveis ao Relatório:o PV, PC do B, PDT, PSB, PMDB, PSDB, PFL e PT, e três foram contrários: PTB, PL e PP.Concluída a votação por bancada, foi realizada, por deliberação da Mesa, a votaçãonominal, que resultou em 26 votos favoráveis, 11 contrários e uma ausência.

A proposta aprovada pela Comissão Especial de Reforma Política constituiu o Projetode Lei nº 2.679/2003, que passou a tramitar na Comissão de Constituição, Justiça e

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13Anais do Seminário Reforma Política

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14 Anais do Seminário Reforma Política

Cidadania (CCJC), apenso ao PL nº 5.268/2001. Para entrar em vigor nas eleições de 2006,o PL nº 2.679/2003 teria que ser votado até 30 de setembro de 2005, prazo mínimoexigido, um ano antes do pleito, para alteração nas normas eleitorais.

Na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) foi designado como relatordos dois projetos, ambos sobre a reforma política, o deputado Rubens Otoni (PT-GO), queapresentou um relatório favorável aos dois projetos, comentando mais o de 2003, segundoele, por promover mudanças de maior impacto nas instituições eleitorais e partidárias.

Em seu relatório, o relator destacou a sofisticação e a complexidade dos temasabordados no PL nº 2.679/2003 e a inter-relação entre os seus dispositivos: “Por teremsido cuidadosamente inter-relacionados pela Comissão Especial, que os congregou namesma proposição, a complexidade da análise se multiplicou. Isso permite umaabordagem mais completa das alterações legais pretendidas, pois esclarece a teia derelações entre elas; ao mesmo tempo, contudo, dificulta em muito a redação de cadadispositivo, na medida em que as futuras interferências mútuas tornam a avaliação decada parte do projeto mais arriscada”1.

O relator considerou a opção pela lista preordenada sólida e coerente, mas seria, deacordo com sua análise, um risco legislar em detalhes no Projeto de Lei a forma como alista deveria ser feita, devendo-se deixar aos partidos definirem os critérios: “Na verdade,o ideal seria que deixássemos aos partidos, em respeito a sua autonomia, a formulação dométodo a ser usado nas convenções que realizassem para a escolha e ordenamento deseus candidatos”2.

Considerou, também, que o mérito do Projeto de Lei nº 2.679/2003 era o de estabeleceruma inter-relação entre as quatro grandes questões abordadas: coligações eleitorais em eleiçõesproporcionais; federações; lista preordenada; e financiamento de campanhas. Concluiu seurelatório pelo voto nos dois PLs no sentido da constitucionalidade e juridicidade.

Em 22 de junho de 2005, os dois PLs foram colocados em votação na CCJC. O relatórioapresentado foi pela constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa do PL nº 5.268/2001e do PL nº 2.679/2003, tramitado como apenso. O parecer do relator foi aprovado no méritopela CCJC. No entanto, o PL não foi encaminhado ao Plenário da Câmara dos Deputados, umavez que o requerimento assinado pelos líderes do PTB, PP, PL e PMDB, aos quais se somou, noúltimo momento, o líder do PT, impediu de seguir para votação no plenário da Câmara.

Nas eleições de 2006 vigorou pequenas alterações na legislação eleitoral aprovadas noSenado, a chamada minireforma, que modificou aspectos pontuais do processo eleitoral,como a proibição de venda de broches, de camisetas e de realização de showmícios. Estaminireforma introduziu, também, maior controle na prestação de contas das campanhas.

O processo da reforma na 53ª legislatura (2007-2011)

Na ausência da reforma política, o foco de debate sobre o tema se deslocou do Legislativopara a sociedade civil. No final de 2005 diversas entidades se reuniram visando à construçãoda Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma do Sistema Político no Brasil.

Desde a legislatura anterior, os movimentos sociais, apesar de serem críticos a aspectos do

1 – Relatório sobre os Projetos de Lei nº 5.268, de 2001, e nº 2.679, de 2003. p. 5.2 – Ibid. p. 6.

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

15Anais do Seminário Reforma Política

PL nº 2.679/2003, concordavam em termos da avaliação de que a proposta avançava emrelação ao sistema vigente. No início da legislatura de 2007-2011, ao se retomar o debatesobre a reforma política, permaneceu a questão se haveria uma nova Comissão ou se retomavao projeto da Comissão Especial. Ao se discutir o encaminhamento sobre a matéria optou-sefinalmente por manter e enviar para votação o Projeto de Lei nº 2.679/2003, renomeado nestalegislatura de Projeto de Lei nº 1.210/2007, o qual seria votado em partes.

Na primeira sessão legislativa ordinária, realizada em 27 de junho passado, os artigosdo PL nº 1.210/2007 referentes ao voto em lista preordenada dos candidatos nas eleiçõesproporcionais foram para votação e obtiveram 181 votos a favor, 252 contra e trêsabstenções, levando o projeto a ser derrotado por 71 votos.

Antes dessa votação, pediu-se preferência para uma emenda aglutinativa nº 1, queintroduzia a proposta de lista flexível, a lista flex, como foi chamada, pois combinava o votona legenda com o voto no candidato, onde o eleitor daria dois votos: no partido e em seucandidato. As vagas obtidas pelo partido ou federação seriam preenchidas metade pelaordem dos candidatos na lista e metade pela ordem dos outros candidatos mais votados,independente de seu lugar na lista. Havendo apenas um lugar a ser preenchido, ficaria como candidato mais votado da lista. A emenda aglutinativa foi derrotada por 37 votos (203deputados votaram a favor e 240 contra).

Em 15 de agosto, foi votado o Projeto de Lei Complementar nº 35, que instituía afidelidade partidária, sendo aprovado com 310 votos, 28 contrários, duas abstenções e 24obstruções. Conforme o disposto no projeto, art. 2º, “O ocupante de cargo eletivo que sedesligar do partido político pelo qual se elegeu poderá ter cassado o seu diploma e perdero mandato por decisão da Justiça Eleitoral, assegurados o contraditório e a ampla defesa”.

As disposições da Lei Complementar nº 35 não se aplicam nos seguintes casos:demonstração de descumprimento pelo partido do programa ou do estatuto partidário,registrados na Justiça Eleitoral; prática de atos de perseguição política no âmbito interno dopartido em desfavor do ocupante de cargo eletivo; filiação visando à criação de novopartido político; filiação visando a concorrer a eleição na mesma circunscrição,exclusivamente no período de 30 dias imediatamente anterior ao término do prazo defiliação que possibilite a candidatura; e em caso de renúncia de mandato. Pela Lei, ficamresguardadas e convalidadas todas as mudanças de filiação partidária constituídas até adata de 30 de setembro de 2007.

Até o momento, foram esses os itens votados na Câmara dos Deputados sobre areforma política, faltando ainda para ser votado o financiamento público de campanha. ALei Complementar da fidelidade partidária foi a única proposta aprovada da reformapolítica até o momento, mas ainda precisa ser aprovada pelo Senado. A reforma política emvotação na Câmara dos Deputados é uma Lei Ordinária. Uma Emenda Constitucionalrequereria o quórum de três quintos para aprovação na Câmara dos Deputados e noSenado, com dois turnos de votação em cada Casa.

Reforma política, representação e participação política

A Constituição de 1988 incluiu a iniciativa popular como uma das iniciativas legislativase criou mecanismos de exercício da democracia direta, como o plebiscito e o referendo,estabelecendo elos entre a democracia representativa e a democracia participativa. Naatualidade, quando a sociedade civil se mobiliza em prol da reforma política expressa a força do legado de participação da Assembléia Nacional Constituinte.

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16 Anais do Seminário Reforma Política

Quando as entidades se mobilizam para debater a reforma política, estão formulandodemandas ao Estado e não apenas ao Legislativo. Ampliar os canais de discussãoprocurando um vínculo entre sociedade civil e Estado tem sido o caminho do movimentosocial nesse momento. Com sua ação, as entidades procuram ampliar as formas de expressão da democracia participativa e construir instrumentos de luta para melhorar aqualidade da representação política.

Apesar das dificuldades em torno da aprovação da reforma política, os elementosnovos na conjuntura atual vêm de instâncias da sociedade civil, que chamam para si odebate sobre a reforma, buscando meios de influenciar o Estado. Entidades e instituiçõesse articulam para oferecer subsídios à discussão do problema, que por sua naturezapertence à esfera do Legislativo.

Nos últimos dois anos, o tema ganhou espaço e expressão com a produção dedocumentos e propostas de entidades, tais como a Ordem dos Advogados do Brasil(OAB), a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), o Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social (CDES) e a Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma doSistema Político, a qual integra 24 entidades, e em março de 2007, foi criada noCongresso Nacional a Frente Parlamentar pela Reforma Política com ParticipaçãoPopular. Ainda que não haja consenso entre as soluções propostas pelas entidades, aposição é pró-reforma, opinião também compartilhada pelo eleitor, nas pesquisas deopinião pública.

O tema da reforma política deixou de ser uma preocupação apenas do PoderLegislativo, que, apesar de possuir vasto conhecimento acumulado sobre a matéria, nãotem conseguido aprová-la. Observa-se hoje que o debate sobre a reforma possibilitouestabelecer uma relação entre níveis distintos, mas inter-relacionados, da democracia. Oexemplo disso é a formação da Frente Parlamentar pela Reforma Política comParticipação Popular. Dessa forma, para cada item ou proposta da reforma política,percebe-se que há um vasto conhecimento acumulado, tanto na esfera do Legislativoquanto na sociedade civil.

Desde 2006, entre os temas fundamentais na agenda do Conselho deDesenvolvimento Econômico e Social foi incluída a reforma política. Em 24 de agosto, no documento Enunciados Estratégicos para o Desenvolvimento, o CDESressaltou a reforma política como uma prioridade do Estado e da sociedade. Visandoaprofundar sua contribuição em relação ao conteúdo da proposta, o CDES criou oGrupo de Trabalho Reforma Política, que contou com a colaboração da FundaçãoGetúlio Vargas.

Na reunião de instalação do Grupo de Trabalho, em São Paulo, em 20 de setembro de2006, foi elaborado um plano de trabalho, no qual foram expressos os objetivos da reformapolítica: o fortalecimento da representação política; a ampliação da governabilidade; ocontrole social sobre o Estado; e a eficiência e eficácia do sistema. Sobre o processo derealização da reforma, definiu-se a importância da mobilização social pela reforma expressaem dois eixos principais: 1. O conteúdo e a relevância da política e suas instituições, no qualse inclui o debate sobre a democracia representativa e a democracia participativa; 2. Ofortalecimento do Estado democrático, no qual se insere o debate da inclusão social comopré-requisito para a democracia.

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17Anais do Seminário Reforma Política

Na reunião do CDES, em 5 de dezembro de 2006, foi apresentado e debatido orelatório do Grupo de Trabalho. O resultado dessa reunião está consubstanciado nodocumento Relatório Preliminar da Reforma Política3, que apresenta as propostasconsensuais, as propostas com forte convergência de opinião e as propostas polêmicasentre os conselheiros. Entre as propostas consensuais ou com forte convergência de opiniões está o voto em lista fechada ou flexível, o financiamento público decampanha e a fidelidade partidária. De acordo com o Relatório, a reforma política deveser tratada em três eixos principais: o aperfeiçoamento do sistema de democraciarepresentativa; fortalecimento da democracia direta e da democracia participativa; e areforma do processo orçamentário.

Visando ampliar o debate realizado no CDES, trazer a perspectiva do Congresso, da academia e outros atores sociais para subsidiar a elaboração de um parecer do mesmosobre o momento político e aportunidade de realização da reforma política, foi organizado,em 14 de julho último, o “Seminário Reforma Política”, uma parceria entre a Secretaria deRelações Institucionais da Presidência da República, por intermédio do CDES, e o Ministérioda Justiça.

O Seminário procurou reunir um conjunto significativo de entidades para discutir otema, com foco na democracia representativa, participativa e direta. O evento deixou umacervo considerável sobre o debate da reforma política em questão, através dascontribuições expressas vivamente nas exposições de políticos, intelectuais e representantesde entidades nacionais.

Pelo fato de o Seminário ter se realizado na véspera da votação do Projeto de Lei nº 1.210, um sentimento de esperança rondou as discussões. Apesar de críticas ao projeto,a compreensão é de que o modelo atual encontra-se superado.

Em 17 de julho, o CDES encaminhou ao Presidente da República o documento Parecersobre a Reforma Política, que reflete o intenso debate realizado em quase um ano peloCDES e transmite a visão dos Conselheiros sobre o tema, solicitando ao Executivo umainiciativa sobre o tema.

Segundo o Parecer, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social acredita sernecessário e possível fazer as alterações demandadas pelo momento político atual e que oenvolvimento do governo, em especial do Presidente da República, “é um fatorextremamente positivo para fazer avançar o processo e aprofundar a mobilização dasociedade”. O documento considera que o tema da reforma política diz respeito aoconjunto da sociedade e aos poderes constituídos e que cabe, portanto, “também aogoverno, e ao Presidente da República em particular, a iniciativa em relação a ele”.Expressa, ainda, a compreensão de que a ação do Executivo, como agente mobilizador, éfundamental para fortalecer o debate e reduzir a distância entre o que se discute noParlamento e o que a sociedade deseja.

Contudo, as votações na Câmara dos Deputados não avançaram muito, mas a aprovaçãoda fidelidade partidária representou uma melhoria se comparada à legislação em vigor. Em climade reforma, o Poder Judiciário também tem legislado sobre a matéria a partir das consultas feitaspelos partidos, em um processo denominado de judicialização da política. Em resposta àsconsultas partidárias sobre parlamentares que deixaram o partido, a decisão do Tribunal SuperiorEleitoral, em 27 de março, foi de que o mandato pertence ao partido, posição confirmada peloSupremo Tribunal Federal, em 4 de outubro.

3 – Em anexo.

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18 Anais do Seminário Reforma Política

Em termos de conteúdo, a decisão do Supremo Tribunal Federal não diferesubstancialmente da Lei Complementar nº 35 (da fidelidade partidária), mas em relação aosprazos, sim. Se para o Supremo o prazo para a perda do mandato é a partir de 27 demarço, data em que o TSE declarou que o mandato pertence ao partido, para a lei dafidelidade partidária, aprovada na Câmara dos Deputados, esse prazo vigora somente apartir de 30 de setembro de 2007.

A demanda da sociedade civil pela reforma política no Brasil se reflete nas decisões doPoder Judiciário. A preocupação com o tema vem de um movimento da sociedade e sedirige aos poderes do Estado. É a visão da base que se reflete no topo. As leis mudam, masantes disso há um movimento em curso na sociedade por mudanças, que repercute nacultura política e nas instituições.

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19Anais do Seminário Reforma Política

PARTE IIParecer do Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Socialsobre Reforma Política

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21Anais do Seminário Reforma Política

Brasília, julho de 2007

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES - apresenta a VossaExcelência parecer sobre a necessidade e oportunidade de aprimorar nosso sistema político,fortalecendo os partidos brasileiros, aumentando o grau de representatividade dosmandatos e, sobretudo, assegurando a eficácia da soberania popular no sistemademocrático. O CDES considera que um processo de reforma política contribuiestruturalmente para o desenvolvimento do País e o aperfeiçoamento de nossa democracia,em relação a qual muito já se avançou.

O CDES tem pautado suas análises e contribuições pela centralidade do processo de desenvolvimento com eqüidade, baseando-se na crença no compartilhamento deresponsabilidades entre governo e atores sociais para a redução das desigualdades e da exclusãosocial, respeitando as diversidades, e no incentivo à participação política dos cidadãos.

Nesse sentido, o Conselho ressaltou, desde 2005, a importância de debater e contribuircom idéias sobre a reforma política, considerada primordial, urgente e prioritária para queo País siga rumo ao desenvolvimento democrático e sustentado.

Há um entendimento de que o espaço de decisão é o Congresso Nacional, mas que aoconjunto da sociedade cabe debater, buscar esclarecimentos e expressar seusposicionamentos diante da necessidade e das possibilidades de mudança na organizaçãopolítica brasileira.

O CDES reuniu, além de Conselheiros e Conselheiras, especialistas, e autoridades paradebater o tema, ao longo de 2006 e no Seminário “Reforma Política”, realizado em junhopassado, e nesse processo reconhecemos possibilidades e limitações existentes para sepromover a reforma política desejada.

Acreditamos, no entanto, que é necessário e possível fazer as alterações demandadaspelo momento político atual e que o envolvimento do governo, em especial de VossaExcelência, é um fator extremamente positivo para fazer avançar o processo e aprofundara mobilização da sociedade.

Consideramos fundamental que o conjunto da sociedade seja permanentementeinformada e chamada a discutir o funcionamento do sistema político, as conseqüências decada regra existente e das possíveis mudanças, seja por meio do sistema educacional, sejapor meio das organizações e movimentos sociais ou até mesmo pela própria imprensa, aquem cabe o papel de esclarecer os cidadãos.

As alterações recomendadas pelo CDES contemplam três eixos políticos fundamentais:o do aperfeiçoamento da democracia representativa, o do fortalecimento da democraciadireta e participativa, e o das relações entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo noprocesso orçamentário.

Parecer do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social sobre Reforma Política

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22 Anais do Seminário Reforma Política

Ciente das dificuldades e limitações conjunturais e estruturais, mas firmementeconvicto sobre o desejo do aprimoramento do sistema político brasileiro, o CDESencaminha a Vossa Excelência as seguintes recomendações:

1. Reafirmar a prioridade de avançar no processo de reforma política como umcaminho para aperfeiçoar as relações entre Estado e Sociedade e solucionar osgraves problemas enfrentados pelos poderes constituídos;

2. Considerar que o tema da reforma política diz respeito ao conjunto da sociedadeaos poderes constituídos e que cabe, portanto, também ao governo, e aoPresidente da República em particular, a iniciativa em relação a ele;

3. Considerar que um dos objetivos desse processo de reforma política é encontrarmecanismos eficazes para minimizar os problemas de corrupção política e dedesigualdade de oportunidades entre partidos e candidatos, em função dasdiferenças de poder econômico, de gênero e etnia, assim como ampliar o papel dasociedade civil no processo democrático;

4. Considerar que a reforma política necessária deve buscar alterações no sistemapartidário e nos processos eleitorais, contemplando a democratização dos processosinternos aos partidos para seleção de lideranças e candidatos; aperfeiçoando asregras sobre formação de coligações, migração partidária, eleição de suplência,imunidades e foro privilegiado; cláusula de barreira, e financiamento de campanha.

5. Considerar que a reforma política necessária deve envolver também aregulamentação dos mecanismos inscritos no artigo 14 da Constituição Federal,como plebiscito, referendo, iniciativa popular, e consulta popular para revogação demandatos. De acordo com os debates realizados pelo CDES e as informaçõesaportadas, ainda há muito espaço para a ampliação da participação popular nademocracia brasileira.

6. Considerar que a reforma política necessária deve abranger o aperfeiçoamento da relação entre o Poder Executivo e o Legislativo no que se refere ao processo de elaboração e execução do orçamento para aumentar a transparência e reduziras vulnerabilidades que levam a distorções na aplicação dos recursos públicos quesão, em última instância, arrecadados da própria sociedade. Para isso, énecessário aperfeiçoar as regras de elaboração, de processamento legislativo, e deexecução do Orçamento, de modo a promover a democratização no uso dosrecursos fiscais e parafiscais; a criação de mecanismos de participação e decontrole social, com amplo acesso às informações em todo o ciclo orçamentáriona União, estados e municípios, e nas regras para apresentação de emendasparlamentares. Alterações na composição da Comissão Mista de Orçamentoprecisam, também, ser consideradas.

7. Considerar que os cidadãos e cidadãs brasileiros devem conhecer e expressar seuposicionamento sobre a reforma e que a participação de Vossa Excelência comoagente mobilizador é fundamental para fortalecer o debate e reduzir a distânciaentre o que se discute no Parlamento e o que a sociedade deseja.

O CDES, cada liderança que dele participa, compromete-se a manter vivo o debate,contribuindo para que o conjunto da sociedade se aproprie do tema e possa se posicionarsobre ele, de modo que este processo seja contínuo e não se esgote apenas nas decisõesmais recentes do Congresso Nacional. Entendemos que este tema deve ser constantemente

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23Anais do Seminário Reforma Política

debatido pelos cidadãos e cidadãs, de forma que o sistema político reflita o desejado peloconjunto da sociedade brasileira.

O CDES se dispõe a acompanhar, com especial atenção, o processo de Reforma Política,que precisa tomar novo impulso daqui para frente com a incisiva participação de VossaExcelência. Reitera sua convicção de que a Reforma Política, reconhecidas as atribuiçõesconstitucionais do Congresso Nacional, se constitui em tema a ser debatido por toda asociedade, e precisa ser definido em função dos seus anseios de aperfeiçoamento econsolidação da democracia, para favorecer o desenvolvimento eqüitativo para benefíciode toda a população brasileira.

Conselho de Desenvolvimento Econômico e SocialBrasília, 17 de julho de 2007

22ª reunião Plenária do CDES

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25Anais do Seminário Reforma Política

PARTE IIIRelato do Seminário“Reforma Política”

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MESA DE ABERTURAA Relevância e o Sentido da Reforma Política

27Anais do Seminário Reforma Política

Introdução

O interesse pelo tema da reforma política se refletiu na pluralidade dos debates e dopúblico presente no Seminário Reforma Política. Conselheiros do CDES, presidentes deentidades, representantes de movimentos sociais, políticos, intelectuais e estudantesparticiparam do evento. A diversidade do público e o tom dos pronunciamentos da Mesade Abertura demonstraram a relevância da matéria.

A necessidade e a urgência da reforma política foram destaques nos pronunciamentosdos integrantes da Mesa. Todos foram unânimes em reconhecer as falhas no sistema atuale a necessidade da melhoria do processo eleitoral e da qualidade da representação política.

As várias exposições ressaltaram a importância do Seminário e também as contribuições doCDES na ampliação do debate sobre tema. Em quase um ano de trabalho, o Conselho ouviusugestões, formulou propostas e apresentou para o Seminário um documento com subsídiospara discussão.4

Mestre-de-Cerimônias

O Seminário Reforma Política está sendo promovido pelo Conselho deDesenvolvimento Econômico e Social (CDES) por meio de uma parceria entre a Secretariade Relações Institucionais da Presidência da República e o Ministério da Justiça. Contoucom o apoio institucional da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), doConselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), do Instituto de EstudosSocioeconômicos (INESC), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da ConfederaçãoNacional do Comércio (CNC), da Confederação Nacional da Indústria, da Associação dosMagistrados Brasileiros (AMB) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

4 – Documento em anexo.

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28 Anais do Seminário Reforma Política

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão consultivo da Presidênciada República, foi criado por Lei Federal em 2003, sendo composto de 102 conselheiros econselheiras, entre lideranças representativas dos diferentes segmentos da sociedade civil edo governo. No Conselho, trabalhadores, empresários, organizações sociais epersonalidades públicas discutem e formulam propostas para as questões fundamentaispara o desenvolvimento do Brasil. Nesse âmbito, o Conselho vem debatendo o tema dareforma política e propôs este seminário.

O seminário tem como objetivos aportar conceitos e análises qualificando acontribuição do Conselho ao tema, e ampliar o debate realizado no mesmo, trazendo asperspectivas do Congresso Nacional, da academia e de outros atores sociais. Nesse sentido,o seminário visa contribuir para o esclarecimento e a mobilização da sociedade em tornoda necessidade da reforma política.

RENATO ROSSIVice-Presidente da Confederação Nacional do Comércio ePresidente da Federação do Comércio do Estado de MinasGerais

Senhoras e senhores, um bom-dia. É com a máxima satisfação que recebemos aquieste Conselho para o estudo da reforma política brasileira. Quero saudar as autoridadesaqui presentes, dar boas-vindas a todos e desejar um bom trabalho. Desejo que esseseminário contribua para a melhoria do sistema político brasileiro como um todo.

CEZAR BRITOPresidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conselheiro do CDES

Saúdo os integrantes da mesa, colegas do Conselho, senhoras e senhores. Este é semdúvida um dos melhores momentos da República, quando autoridades do governofederal junto com a sociedade, aqui representada em todos os seus segmentos, resolvemdiscutir o que chamamos de “mãe de todas as reformas”. É ela quem vai dar diretriz paraa República. Não se pode mais permitir que no Brasil a política seja confundida compoliticagem. A política é fundamental, política é vida, vida da sociedade, vida doscidadãos que habitam na pólis. É preciso, portanto, valorizar esse relacionamento que o cidadão tem com a sua classe representativa e sua entidade. Por isso que esse encontroé importante.

Vamos aqui discutir a valorização da política em todas as suas formas, tanto dademocracia participativa quanto da democracia representativa. É preciso fortalecer asinstituições brasileiras, principalmente o Parlamento. É nele que o cidadão se senterepresentado. O tempo todo o Parlamento tem que ser fortalecido e isso só ocorre quandomantém intercâmbio constante com a sociedade, como aqui está a fazer o CDES.

Não falo aqui na condição de presidente da OAB, mas na condição de conselheiro doConselho de Desenvolvimento Econômico e Social, demonstrando que a sociedade querparticipar ativamente dos destinos da sua Nação. E só participa quando assim é convocada,quando se nela acredita e a escuta. Não tenho dúvida de que neste seminário vamos traçarum novo Brasil.

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29Anais do Seminário Reforma Política

Queremos um Brasil que respeite o estado democrático de direito, não um País queprivilegia o Estado policial, mas que respeita as garantias do cidadão. E uma das formas deconquista será por meio da Reforma Política, que deve tornar claro os gastos de campanhae a vontade do eleitor, que precisa ser concretizada nas ações dos políticos. Portanto, nacondição de membro do Conselho e, posteriormente, de coordenador de um dos painéis,desejo a todos que o Brasil saia melhor deste seminário. Muito obrigado.

JOSÉ MÚCIO MONTEIRO FILHODeputado Federal e Líder do Governo na Câmara dosDeputados

Quero saudar a todos, Senadores, Deputados, senhoras e senhores, e parabenizar ainiciativa desta casa no momento em que se discute, pela primeira vez e em tantos anos, a Reforma Política com a sociedade. Esta talvez seja a mais difícil de todas as reformasporque cada parlamentar ao debater a reforma política pensa sempre na sua eleição e seindaga: “Qual é a forma mais fácil para eu me eleger? Qual é a forma mais fácil para eume manter na vida pública?”

Quero dizer aos senhores que é por isso que os partidos não conseguiram fechar aquestão. Com raríssimas exceções os partidos conseguiram se posicionar, mesmo que nãochegassem a uma posição unânime. Deve-se reconhecer que esse trabalho vem sendoperseguido com competência e eficácia pelo deputado Ronaldo Caiado, que viajou peloBrasil inteiro discutindo e explicando esta reforma que todos falam, mas poucos,sinceramente poucos, inclusive eu, dentro da Casa, conhecem com profundidade. Edesconhecem também os modelos aplicados no mundo. Agora há pouco o presidenteArlindo Chinaglia estava se referindo à declaração que dei ontem e que repito aqui: “Se meperguntarem qual é o melhor modelo que temos hoje no mundo, eu digo que não sei, mastenho absoluta certeza de que o modelo atual no Brasil está falido.”

O capital privado que elege os homens públicos no Brasil tem sido resultante de tudoisso que os senhores ao amanhecer vêem nos jornais e pela televisão. Toda a fonte deescândalos passa pela mistura do dinheiro privado na vida pública brasileira. Foi criado umsistema de financiamento do capital privado numa forma quase que oficial na vida públicabrasileira. Porém, no momento em que se expõe na Internet quem ajudou um deputado,quem ajudou um senador, passa a haver sempre a desconfiança de uma relação promíscuaentre aquele que recebeu dinheiro e aquele que financiou. Por isso quero, sem me alongar,parabenizar os senhores por esta iniciativa e pedir que todos a incentivem. Diante dosobstáculos que temos pela frente, peço que não desanimem até que conseguirmos exaurirtodas as nossas mazelas e dificuldades.

Certo que vamos ter dificuldade no novo modelo, mas quantos anos nós passamospara exaurir o modelo atual? Quantos anos tentamos aperfeiçoar o modelo vigente? O votono Brasil foi “fulanizado”, me perdoem a expressão, pois ninguém vota no partido.Menciono sempre o exemplo que quando o melhor jogador de futebol muda de time atorcida não o segue. Lamenta, mas continua no time. Ao contrário, no partido políticoexiste uma torcida que torce pelo jogador. O político muda de partido sem dar satisfaçãoaos seus eleitores porque sabe que torcida o acompanha. O político vai para outro partidoe leva toda sua torcida. Os partidos não têm um posicionamento, uma ideologia. Quandoum partido político participa da coalizão governista, pergunto se é o partido ou algunselementos do partido que participam do governo. É o pensamento do partido ou daquelesque estão filiados àquele partido?

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30 Anais do Seminário Reforma Política

A reforma política é a mãe de todas as reformas. Com ela vamos passar a ter partidospolíticos numa democracia que ainda não experimentou ter partido político. Temos agremiaçõeseleitorais. O político entra sempre naquele partido aonde ele vai se eleger com maior facilidade.

Para terminar, parabéns ao Conselho pela iniciativa e me sinto honrado diante de tãoilustres presenças e de especialistas na matéria. Vamos fazer um esforço porque quem vaiganhar é a democracia no Brasil. Muito obrigado.

ROMERO JUCÁSenador e Líder do Governo no Senado Federal

Bom-dia a todos. Quero saudar os integrantes da mesa e a todos os presentes e registrar, em rápidas palavras, o posicionamento que temos visto majoritariamente noSenado. Gostaria de dizer que temos a mesma consciência, independentemente do modeloque se defina no futuro, o atual modelo do processo eleitoral fragiliza a ação política, ospolíticos e os partidos. Não podemos mais disputar eleição dessa forma. Devemos procuraroutro caminho, que nos credencie perante a sociedade e que possibilite escutá-la. Oprocesso eleitoral deixa uma série de problemas, de denúncias, de questionamentos e, de certa forma, inviabiliza o trabalho do político eleito.

Nós, senadores, temos a consciência de que já avançamos em alguns pontos. O Senadojá aprovou, há mais de três anos, o financiamento público de campanhas, a fidelidadepartidária, o fim das coligações, a cláusula de barreira. Discute hoje uma emendaconstitucional do fim da reeleição e do voto facultativo. Acompanhamos e torcemos paraque as dificuldades da Câmara, que são muito maiores, sejam resolvidas.

A eleição para senador é majoritária e a eleição para deputado é proporcional. Então,na realidade, a grande mudança no sistema eleitoral não será na eleição majoritária, massim na eleição proporcional. Sabemos a dificuldade que a Câmara tem hoje e torcemos,apoiamos, para que essa Casa chegue a um posicionamento. Se não puder aprovar areforma para as eleições de 2008, que tente para 2010. Precisamos fazer mudanças nãoapenas vendo o presente, mas com a visão de futuro.

Queremos registrar a importância deste debate no momento político brasileiro e desejarque a Câmara dos Deputados possa votar a reforma política. O Senado já se debruçou sobrea matéria, e os deputados precisam votá-la e dar uma resposta à sociedade brasileira. Éfundamental mudar a forma de eleição e de financiamento de campanhas. Enfim, é importantemudar a visão da sociedade sobre a política e sobre nós políticos porque isso tem enfraquecidoa ação parlamentar no nosso país. Quero saudar o Conselho e dizer da minha satisfação emver um debate como este ser realizado aqui hoje. Muito obrigado e sucesso ao seminário.

ARLINDO CHINAGLIADeputado Federal e Presidente da Câmara dos Deputados

Saúdo os componentes da mesa, autoridades presentes, senhoras e senhores. Diria,com justa razão, que aqui nos encontramos representantes da Câmara Federal, do Senado,ministros e várias instituições que representam a sociedade brasileira para cumpririmportante papel que é a discussão da reforma política. O que vamos discutir atinge diretaou indiretamente cada cidadão, cada homem e cada mulher que buscam dar o melhor desi para a construção de um Brasil mais justo e melhor.

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31Anais do Seminário Reforma Política

Como sabemos, a política é um vigoroso agente de mudança de qualquer nação. Apolítica se renova permanentemente, sobretudo nas sociedades jovens em processo deamadurecimento histórico como a brasileira. Tomemos como exemplo as profundasmodificações que ocorreram no Brasil ao longo dos últimos 50 anos. Nós conquistamos aredemocratização do país, após duas décadas de governos militares. Ocorreu a renovação,portanto, de lideranças políticas e nós conseguimos a extensão do direito do voto aosanalfabetos, inclusive conquistamos o direito de que a constituição de novos partidosficasse fora da tutela do Estado. É natural que nesse processo permanente detransformações se busque aperfeiçoamento e atualização das instituições. O país precisa seadaptar aos novos tempos e às novas circunstâncias histórico-sociais. Somente assim é quea política e, por conseqüência, os chamados políticos poderão cumprir seu papel deinstrumento da promoção humana, do desenvolvimento econômico e da justiça social.

Desse modo, mais importante do que definirmos a necessidade de uma reformapolítica precisamos saber qual reforma política. E a reforma política que precisamos deveatender a três pressupostos: concorrer de maneira objetiva e direta para a consolidação dademocracia; contribuir para o fortalecimento das instituições; e, claro, corroborar para odesenvolvimento do país.

Neste amplo debate todos podem e devem manifestar-se, pois dessa matéria depende o próprio futuro da nação. Este, acreditamos, é o sentimento que dará norte a este semináriocomo antes inspirou os trabalhos do fórum “Reforma Política em Questão” de que tambémtivemos a honra de participar, há pouco menos de um mês, na Universidade de Brasília. Estevetambém presente o deputado Ronaldo Caiado. A par da relevância de temas como oplebiscito, iniciativa popular, regulação e recall que aqui se discutirão, julgamos do maiorinteresse, como representantes do povo no Congresso Nacional, os esforços que busquem o aperfeiçoamento da democracia representativa, no que concerne especialmente ainstituição partidária, aliás, motivo já de avaliações aqui colocadas com os quais concordo.

Sabemos todos, mas vale a pena repetir, que não há plenitude democrática sem querelevantes setores da população se articulem em partidos fortes, politicamente definidos einstitucionalmente organizados, que se apresentem aos eleitores, à sociedade não apenascomo siglas, grupos de candidatos, circunstancialmente reunidos, em nome de projetospessoais ou de interesses econômicos, mas como conjunto de homens e mulheres que, defato, se identifiquem pela base social que representam, pelos valores morais, pelas idéiaspolíticas e pelos métodos de ação com que se dispõem a fazer da política uma arma na lutapelo desenvolvimento humano e pela transformação social.

Está claro aqui que todos têm direito à divergência, às nossas convicções políticas e ideológicas. Para tanto, há que se considerar a substância dos programas partidários, a definição dos seus ideais, o desempenho dos parlamentares eleitos, mas também aatuação do partido ao longo do processo eleitoral, como se posiciona frente às demandase às lutas sociais. Então, temos que definir o partido no seu conjunto, na sua atuação, nãosó quando pede votos, mas como age na sociedade.

Por isso a importância de temas como financiamento público das campanhas, questãoque se soma ao debate sobre o voto em lista preordenada de candidatos, a cláusula dedesempenho, a fidelidade partidária, aquilo que genericamente definimos como controlesocial, que vem da participação popular, do papel das organizações sociais, das centraissindicais, entre outras instâncias da sociedade civil. A reforma política é um gigantescopasso que daremos, não só em favor de uma simples mudança, mas, sobretudo, doaperfeiçoamento do processo eleitoral e das instituições partidárias.

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32 Anais do Seminário Reforma Política

Muitas vezes, ouvi na Câmara, representantes legítimos da sociedade dizer: “Isso é apenas uma reforma eleitoral”. Faço uma pergunta para o debate posterior: “Há avançona humanidade superior do que o voto universal?” Portanto, essa observação, em minhaopinião, tem que ser mais qualificada porque desqualificar o processo eleitoral é no limitedesqualificar aquilo que é radicalmente o mais democrático dos instrumentos: o voto decada cidadão. Portanto, dessa forma lograremos talvez mostrar que a ação política não seencerra no voto, mas continua ao longo de todo mandato no decorrer no qual temos comoparlamentares a obrigação política e o dever moral de prestar contas das nossas ações e danossa conduta. Esse é o objetivo central da reforma política, concorrer para que exerçamosde fato a plenitude da cidadania, como homens e mulheres a quem cabem construir odesenvolvimento econômico e a justiça social a que todos têm direito.

Não creio em determinismos históricos. Nenhuma nação naturalmente se reserva porvocação e destino a um futuro de bonança e de prosperidade. Cada povo, cada geração,cumpre conquistar duramente, arduamente, na luta cotidiana o que quer fazer com ahistória do seu país. É ingênuo acreditar que feita a reforma política estarão solucionadostodos os problemas, satisfeitas todas as exigências para que vençamos os desafios docrescimento econômico e da prosperidade social. Reformas serão necessárias sempreporque a evolução da sociedade é contínua e a transformação por que passa o povobrasileiro é permanente.

Nós, homens públicos, devemos ficar alertas para determinar quando e como procederàs reformas que atendam aos interesses coletivos e ao bem comum. Esse será o sentimentodominante na discussão do Projeto de Lei nº 1.210, de 2007, a que demos início ontem, noPlenário da Câmara dos Deputados, quando realizamos duas sessões extraordinárias paradebatermos exclusivamente a reforma política. Nessa Legislatura, a reforma política entrouem pauta na terceira semana de fevereiro. Sabemos que está sendo discutida há mais de dezanos e nunca foi colocada em pauta no plenário da Câmara.

Portanto, queremos homenagear a todos os parlamentares, especialmente o deputadoRonaldo Caiado. Em quatro meses e meio dessa Legislatura nós colocamos para votaracordos de procedimentos, sempre com muitas dificuldades. Mas é um processo deconvencimento que, creio, merece a atenção de todo povo brasileiro. Esperamos que aCâmara dos Deputados cumpra o seu papel.

Uma vez mais contribuiremos com o nosso trabalho, com o nosso esforço para ofortalecimento das instituições políticas em que se alicerçam a democracia, a liberdade e a cidadania que temos a honra de representar e temos a consciência de que nãosubstituímos. Aos participantes deste seminário sobre a reforma política promovido peloConselho de Desenvolvimento Econômico e Social os nossos cumprimentos e a nossasaudação. Juntos e solidários façamos da ação política um instrumento maior na luta porum Brasil mais justo, mais digno e mais próximo dos brasileiros. Muito obrigado.

NILCÉA FREIREMinistra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres - SPM

Eu vou pedir licença para falar de pé por duas razões: um vício profissional, de sala deaula, e outra porque sou de uma família de origem italiana e desde pequena tinha que falarsempre alto e de pé para ser ouvida porque todo mundo falava muito alto. Isso tem meservido muito para na condição de mulher me fazer ouvir nos espaços majoritariamente

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masculinos e, portanto, todo mundo já pode saber mais ou menos o que vou falar nestamesa dada à própria composição dela onde sou a única mulher.

Queria cumprimentar o senhor Renato Rossi, presidente em exercício da CNC, e pormeio dele todos os membros da mesa. Queria cumprimentar todas as mulheres presentesneste plenário por intermédio da conselheira Clara Sharf, do Conselho Nacional dos Direitosda Mulher. Hoje, me encontro aqui com dois chapéus: um como ministra da Secretaria dePolíticas das Mulheres e outro como presidente do Conselho Nacional dos Direitos daMulher. Mas vou falar com meu segundo chapéu, como representante do CNDM.

Vou começar essa brevíssima intervenção, apresentando alguns dados aos presentes,que apresentei num seminário recente que se intitulava “Existe Política e Democracia naAusência das Mulheres?” Naquele seminário, apresentei alguns dados sobre a participaçãodas mulheres nos parlamentos em nível mundial. A média mundial da participação dasmulheres hoje é de 17,2%, uma média muito baixa evidentemente, puxada por algunspaíses africanos, sobretudo da África Subsahariana e por alguns países da América Latina,notadamente o Brasil. Nos países nórdicos a média de participação das mulheres está acimados 40% e em alguns países da América Latina, onde o impacto do sistema de cotas foiextremamente positivo como na Argentina, a média de participação das mulheres estáacima de 30%. No Brasil, a nossa média de participação na Câmara dos Deputados é de8,96%. Por isso o Brasil ocupa o centésimo sétimo lugar no ranking da UniãoInterparlamentar. No Senado temos uma representação um pouquinho maior, 12.34%, nasAssembléias Legislativas, 11.61%, e nas Câmaras Municipais, 12.65%.

Isso significa baixíssima participação das mulheres no sistema parlamentar brasileiro,seja no nível local ou no nível da União, o que evidentemente se constitui um paradoxo àmedida que, repetindo uma afirmação da Clara Sharf, por isso a homenageio, não hásequer um movimento social de envergadura e transformação social importante neste paísque não tenha tido a contribuição e a participação efetiva das mulheres.

Portanto, trata-se de um paradoxo que as mulheres brasileiras estejam tão bemrepresentadas nas transformações da sociedade, nos movimentos sociais, e tenham essabaixíssima representação nos parlamentos. A partir desses dados, vou pedir licença para leruma carta enviada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher aos nossos congressistas,senadores, senadoras, deputados e deputadas, por motivo da discussão da reforma política.Este ano o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e a Secretaria Especial de Políticaspara as Mulheres, representando o governo brasileiro, a Presidência da República,convocam a 2ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. O processo municipaljá se iniciou e dele participaram em torno de 195 mil mulheres. Já iniciamos as conferênciasestaduais. Tivemos a Conferência Estadual de Pernambuco e a Conferência Nacional vai serrealizada em agosto aqui em Brasília.

Um dos temas da conferência é sobre a participação das mulheres nos espaços de poder. Nesse sentido, o tema da reforma política está incluso no nosso processo de discussão da Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres e, por isso, o ConselhoNacional dos Direitos da Mulher, conduzindo essa discussão, enviou essa carta aoCongresso Nacional e ontem fizemos uma pequena manifestação frente ao Congresso combalões, que ainda se encontram lá, com o slogan “nem menos, nem mais, apenas iguais”.Isso é o que esperamos da reforma política.

Passo a leitura da carta do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, agradecendo à Secretaria Executiva do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, por meio doministro Walfrido dos Mares Guia, pelo convite para participarmos deste seminário:

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“Nós, mulheres somos mais de 51% da população do Brasil e 42% da populaçãoocupada, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Representamos 52% doeleitorado, que legitima, democraticamente, cada legislatura do Congresso Nacional,conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral. Não há uma só atividade transformadora nonosso país que não tenha o coração, o braço e a cabeça da mulher.

Ao longo da história, participamos dos movimentos pela Abolição da Escravatura, pelacriação da República, pela paz, por melhores condições de vida, de trabalho e de moradia,pelo fim dos regimes autoritários e de exceção e pelas reformas agrária e urbana. No Brasil,como no resto do mundo, lutamos pelo direito à educação, de voto e trabalho remuneradodas mulheres, contando com o apoio de diversos setores sociais e forças políticas.

Todavia, nossa presença nos parlamentos brasileiros é inteiramente desproporcional aonosso protagonismo na construção da Nação. Confrontada com o restante do mundo, nossaparticipação exibe índices constrangedores. Enquanto a média mundial da participação dasmulheres no parlamento é de 17,2%, chegando a alcançar mais de 40% em países nórdicos,no Brasil não ultrapassa 8,96%. Temos apenas 8,77% dos 513 mandatos que constituem a Câmara dos Deputados.

Em mais de 180 anos jamais uma mulher foi titular de cargo na Mesa Diretora da Câmarados Deputados. Acumulando as tarefas domésticas e os cuidados com os filhos e a vidalaboral, as mulheres suportam uma sobrecarga de responsabilidades que restringe o tempodedicado à ação política. A cultura patriarcal que associa os homens aos espaços públicos e asmulheres aos espaços privados se encarrega de obstaculizar de diversas formas a presença dasmulheres no campo da política representativa. Por isso, em inúmeros países são adotadasações afirmativas voltadas para a ampliação da participação política das mulheres.

Neste momento, portanto, no qual a sociedade clama por mudanças no sistema políticobrasileiro, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher vem se dirigir as Vossas Excelências paraafirmar nosso propósito de participar com vigor nos debates sobre a reforma política. Julgamosinadmissível a atual sub-representação feminina nos parlamentos brasileiros em geral e noCongresso Nacional em particular. Por óbvio não admitiremos mudanças que atinjam conquistasjá obtidas, como é o caso da cota de 30% para candidaturas femininas, o que seria umretrocesso. Ao contrário, queremos debater sobre alternância de sexo nas listas preordenadas, ofinanciamento público de campanhas, a destinação de recursos do fundo partidário paraorganismos de mulheres dos partidos políticos, cota de tempo para candidaturas de mulheres napropaganda eleitoral no rádio e TV, entre outros tantos temas.

Queremos compartilhar com Vossas Excelências o nosso propósito de nas próximassemanas e meses estarmos presentes em cada debate, instaurando diálogo em cada comissão ou gabinete, da Casa do povo, implementando uma campanha veemente no parlamento e nasociedade para ampliar a participação das mulheres na cena política brasileira. Contamos paraisso com o apoio de sempre da valorosa bancada feminina do Congresso Nacional, masqueremos contar com cada congressista, independentemente do sexo ou do partido político.

Está em curso em centenas dos municípios brasileiros a realização de conferênciasmunicipais e estaduais que culminarão com a 2ª Conferência Nacional de Políticas para asMulheres, em Brasília, no mês de agosto. A participação das mulheres nos espaços de poderé tema central deste processo e trará contribuições significativas ao debate nacional. Areduzida participação e representação política das mulheres empobrece a democraciabrasileira e reduz o pleno exercício da cidadania quando restringe o acesso das mulheres aosespaços de decisão sobre o rumo do país e de seu desenvolvimento. Contribuímossignificativamente para a produção da riqueza nacional, somos promotoras dinâmicas detransformações sociais, protagonistas de uma cultura de paz, desenvolvimento humano esustentável. Somos mulheres sem medo do poder.”

Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.Brasília, 17 de maio de 2007

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TIÃO VIANASenador e 1º Vice-Presidente do Senado Federal

Saúdo os integrantes da mesa, em particular, o Presidente da Câmara dos Deputados,Arlindo Chinaglia, pela determinação de colocar em pauta a votação de matéria tãodesafiadora para o Brasil, como a Reforma Política.

Saúdo, igualmente, os membros do Conselho, e as senhoras e os senhores aqui presentes.Quero agradecer o convite do Ministro Walfrido dos Mares Guia e dizer da minha alegria emparticipar da abertura deste seminário sobre Reforma Política, promovido pelo CDES.

Compartilho com as instituições promotoras deste encontro a preocupação emouvir os clamores que nos chegam de toda a sociedade brasileira. Recordo aqui quefoi criada em 2005, no Senado Federal, a Secretaria de Coordenação Técnica eRelações Institucionais, cuja missão principal é, exatamente, aproximar o processolegislativo das reais necessidades dos Poderes e da sociedade organizada. É mais umcanal de parceria com as nossas instituições, e que pode contribuir para uma maioraproximação técnico-institucional entre aquela Casa e o Poder Executivo. De fato, égrande a urgência de aperfeiçoarmos o sistema político brasileiro em vista de algunsobjetivos, quais sejam: a estabilidade política, a qualidade da representação e oencaminhamento no âmbito legal e administrativo das demais reformas estruturais; e disso dependem as perspectivas de futuro de nosso País.

Do ponto de vista da estabilidade política é essencial que os programas de governoconsagrados nas urnas sejam implementados e superados os obstáculos à governabilidade doatual sistema. A exagerada amplitude do espectro partidário e a baixa coerência programáticatransformam a negociação política em verdadeiro pesadelo para todas as lideranças doCongresso Nacional, sejam elas ligadas à base do governo, sejam elas de oposição.

Da mesma forma, a representatividade está limitada pelas regras atuais falhas, tanto emfunção da baixa taxa de adesão ao programa partidário, quanto pela excessiva autonomia dosrepresentantes em face das agremiações. É possível, sob esse aspecto, perguntar: a quempertence o mandato popular, quando as regras de fidelidade partidária são frouxas e permitemo infindável troca-troca de legenda? Como sustentar a legitimidade dos mandatos debaixíssima votação, obtidos com base no coeficiente eleitoral? E, finalmente, como progredirna busca de uma representação política mais afinada com o sentimento do eleitor, num cenáriode partidos cada vez mais fracos e de comportamento cada vez mais personalistas?

Decorre de tudo isso a dificuldade de progredir com a análise, a discussão e oencaminhamento dos ajustes estruturais que condicionam e viabilizam o desenvolvimentonacional, a exemplo das reformas previdenciária, trabalhista e sindical, entre outras. O quebuscamos então? Partidos mais fortes? Maior fidelidade aos programas e às legendas?Maior grau de aderência do eleito às aspirações dos eleitores? Menor influência do podereconômico no resultado dos pleitos? Maior clareza em relação às fontes de financiamentoeleitoral e, conseqüentemente, mais transparência nas relações dos partidos com as esferaspúblicas e privadas? Esses são os desafios que figuram há quase duas décadas na agendapolítica brasileira. Muitas das contradições são, inclusive, remanescentes da Constituição de1988, derivadas de sua orientação de essência parlamentarista.

Passados quase 20 anos da promulgação da Carta, é inaceitável que os temas da Reforma Política, em sua maior parte, continuem sem solução, apesar de algunsavanços já alcançados. Entre esses cabe citar o estabelecimento da cláusula de desempenho em 1995, ainda que ela tenha retornado à mesa de discussão em

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função de divergência jurídica quanto à forma a ser adotada, pois tal cláusula constituiorientação e prioridade indiscutíveis.

Outro ponto relevante é a minirreforma eleitoral, aprovada em abril de 2005, cujomérito foi o de introduzir a redução dos gastos de campanhas e imprimir maiortransparência às contas eleitorais. A minirreforma, entretanto, faz parte de um conjuntomuito maior de medidas que vêm sendo debatidas, avaliadas e aprovadas pelo SenadoFederal, desde 1999. Mas essas propostas não conseguiram, infelizmente, alcançar osmesmos níveis de consenso na Câmara dos Deputados.

Dentre as propostas em discussão na Câmara dos Deputados, há itens de grandeimportância política e alto impacto moralizador, cuja adoção poderia melhorar de modosignificativo o desempenho geral do sistema político eleitoral. Cito, como exemplo, aproibição das coligações em eleições proporcionais; a aprovação do financiamento públicode campanhas; a adoção do sistema de listas de candidatos; e a aprovação de mecanismosmais rigorosos de garantia da fidelidade partidária.

Essas são medidas rigorosamente alinhadas à lista de objetivos que mencionei acima comosendo as grandes linhas de discussão da reforma. São posições realistas e conseqüentesassumidas pelo Senado Federal, depois de amadurecida reflexão. Representam, com todacerteza, um patamar de consenso mínimo a ser construído pela Casa.

Destaco, na oportunidade, a grande contribuição que o Senado tem dado ao tema dareforma política e às instituições que aqui se fazem representar, seja pela mobilização desuas bases representativas, seja pelas arenas que oferece para os debates, onde se constróia convergência, como a de hoje. A atuação dos movimentos sociais, em várias ocasiões,inclusive no período que precede à redemocratização, constitui um exemplo de como agirem favor do povo e da sociedade, influenciando, de forma legítima, os fóruns da decisãorepublicana, quer no Parlamento, quer no Governo.

Quaisquer que sejam as conclusões deste seminário uma coisa é certa: teremos, ao seufinal, avançado em direção a uma melhor compreensão acerca das necessidades, daurgência e das prioridades no âmbito da reforma política. Teremos afinadas nossas reflexõese crença no diapasão das convicções da sociedade brasileira, único método efetivamenteabsoluto para orientar o juízo de nossa ação.

Finalizo reafirmando minha crença de que a maturidade das instituições políticas brasileiras,bem como a de seus agentes e operadores legais, será suficiente para compensar atrasos,ultrapassar dificuldades e promover mudanças de parâmetros, engendrando o aprimoramentosistêmico. O Brasil experimenta, neste momento, uma construção feliz em termos deperspectivas de desenvolvimento econômico e social com a crescente geração de riqueza, amultiplicação das oportunidades de trabalho, e a forte redução de fatores de injustiça social.

Percebo, com clareza, que o vetor mais forte de que dispomos para consolidar, defini-tivamente, a moralidade pública no Brasil reside no tema da reforma política. O ventre dacorrupção neste país está exatamente nos moldes de financiamento de campanha quetemos hoje.

Gostaria de encerrar lembrando à sociedade que o artigo 41º da Lei nº 9.504, de 30de setembro de 1997 (Código Eleitoral), é fruto de uma conquista sua, de uma emenda deiniciativa popular encabeçada por nossa CNBB, a favor da moralização política do Brasil,transformada em lei. Que nos sirva de lição: o Congresso sozinho tem pouca força;permeado pela participação popular tem muita força. Muito obrigado.

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WALFRIDO DOS MARES GUIAMinistro de Estado Chefe da Secretaria de RelaçõesInstitucionais da Presidência da República

Inicialmente, queria prestar uma homenagem ao ministro Tarso Genro, que não pôdeestar presente. Confirmou ontem que vinha, mas teve um impedimento e enviou um textoque pediria ao mestre-de-cerimônias que lesse. Gostaria de dizer que foi sob a gestão doMinistro neste Conselho que se instalou o Grupo de Trabalho sobre a Reforma Política, emagosto do ano passado, numa reunião do Pleno, com a presença do Presidente Luiz InácioLula da Silva. Naquela reunião, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Socialdecidiu discutir a reforma política de uma maneira ampla. Criou um grupo de trabalho quefez duas reuniões técnicas, contratou a Fundação Getúlio Vargas para fazer uma pesquisano Congresso Nacional sobre as tendências da reforma política, e apresentou no final doano passado, em dezembro, ao presidente Lula, as conclusões desse grupo de trabalho.Tive a oportunidade de estar presente nessa reunião, e naquela data foi marcado esteseminário. Vejam que coincidência. Há seis meses foi marcado para 14 de junho, hoje, oseminário que ora realizamos, exatamente no dia seguinte em que o presidente ArlindoChinaglia colocou na pauta, como ele já explicou, a questão da reforma política. Adiscussão da reforma começou de fato ontem. De maneira que quero prestar essahomenagem ao Tarso Genro, pois ele foi o artífice desse assunto no CDES. Solicito aomestre-de-cerimônias a leitura do seu texto:

“A prioridade estratégica do governo Lula para o início do segundo mandato será um conjuntode reformas baseada em três eixos políticos fundamentais: a reforma do sistema partidário,ampliação da participação democrática e reforma da elaboração do processo legislativo e do orçamento”.

Por meio do primeiro eixo propõe-se fortalecer a identidade política dos partidos, como areforma do sistema eleitoral que diminua a personificação do voto, proporcional às disputasentre candidatos de mesma legenda, uma rediscussão sobre o financiamento de campanhas,sobre a migração partidária e a formação das coligações.

No segundo eixo deverão ser regulamentados os mecanismos de participação inscritos naConstituição Federal como o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. Serve como exemplopositivo desses instrumentos democráticos o referendum nacional sobre o comércio de armas,o qual só trouxe contribuição à democracia, demonstrando a disposição da população emparticipar ativamente de decisões relevantes para o país. Uma proposta importante nessesentido defende que a iniciativa popular tenha preferência na agenda do Congresso Nacional.Um projeto que tenha sido fruto de coleta de um milhão de assinaturas não deveria seraprovado 13 anos depois de sua apresentação. São mecanismos relativamente simples e degrande relevância para a coesão dos atores sociais na construção de referenciais nacionais ondetodos se sentem contemplados com o processo de debates.

Quanto ao terceiro eixo, sobre a reforma da elaboração do orçamento federal, precisamos fazeruma grande discussão sobre o caráter do orçamento, fortalecendo o papel institucional doLegislativo e garantindo uma elaboração mais eficaz na peça orçamentária. As discussões emtorno do orçamento precisam ser vinculadas a um debate sobre um projeto de Nação.

Hoje, a tramitação do orçamento dispersa energias republicanas em vez de acumulá-las emtorno de uma execução eficiente e isonômica do orçamento. A reforma política não é uma reforma do governo. É reivindicada por um amplo conjunto de forças da sociedade. O

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Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que possui em seu interior atores do setorfinanceiro, produtivo, trabalhadores e representantes da sociedade civil, apresentou,recentemente, ao presidente Lula um conjunto de proposições sobre o tema, resultado de seudebate interno. No momento, essas propostas estão sendo debatidas em conjunto com aOrdem dos Advogados do Brasil e o Movimento Pró-Reforma Política para que sejamefetivamente expostas às opiniões da sociedade. A reforma política deve ser compreendidacomo um momento de concertação nacional onde as forças políticas demonstrarão capacidadede diálogo e desprendimento republicano, sintetizando os aprendizados de duas décadas dedemocracia e a compreensão dos desafios que a sociedade tanto espera que tenhamos êxitoem superá-las.”

Tarso GenroMinistro de Estado da Justiça

Eu queria agradecer ao nosso companheiro, conterrâneo, Renato Rossi, querepresenta a presidência do CNC, a hospitalidade com que nos recebe nesta manhã.Cumprimentar o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, extraordinário parlamentar,que enfrenta com galhardia e competência este tema, delicado, mas de extremaimportância para nós. Cumprimentar o deputado Ronaldo Caiado, que vem lutando háalgum tempo como relator deste importantíssimo projeto de lei da reforma política, osdemais integrantes da mesa, os membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico eSocial e todos os presentes.

A reforma política tornou-se um dos temas de maior relevância para os conselheirose conselheiras do CDES que pensam a melhoria do sistema político como aprimoramentodo Brasil democrático. Sem dúvida, a reforma política é uma pauta do CongressoNacional. Mas a sociedade brasileira vem debatendo e reivindicando mudanças. Estamovimentação ecoou no Conselho desde 2005, quando se defendeu a urgência e aprioridade da reforma política, necessidade expressa na elaboração da agenda de trabalhodo próprio Conselho.

Este escolheu três temas: Reforma Política, Reforma Tributária e Agenda da Infra-estrutura. Em 2006, o Conselho construiu um enunciado geral sobre a reforma políticaque pontua a necessidade de reorganização do sistema partidário e de qualificação dosprocessos eleitorais promovendo a valorização dos partidos políticos e o aprimoramentoda sua vida interna. O funcionamento interno dos partidos é um problema muito maissério do que se possa imaginar. Pontua também a necessidade de nova regulamentaçãopara as formas de manifestação da soberania popular, como plebiscito, o referendo e ainiciativa popular.

A contribuição do conselho para o conteúdo da reforma se organizou em três eixos. O primeiro deles trata do aperfeiçoamento do sistema da democracia representativa, osegundo aborda o fortalecimento da democracia direta e da democracia participativa (oConselho é uma das formas da democracia participativa), e o terceiro eixo se refere àreforma dos processos de construção do orçamento geral da União. Para o Conselho, areforma é uma oportunidade de aperfeiçoar os mecanismos que regem os poderesExecutivo e Legislativo.

É consensual a necessidade do estabelecimento de normas para coibir as trocasde partidos no Parlamento e a definição de incentivos para a disciplina partidária, a fidelidade partidária. Também é consenso o estabelecimento de novas regras para o uso da imunidade e de fórum privilegiado para os parlamentares, bem como a

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regulamentação dos princípios constitucionais para a realização de plebiscitos,referendos e iniciativas populares. Também foram consensos construídos no Conselhoa possibilidade de revogação de mandatos mediante consulta popular, o chamadorecall, e a necessidade de definir novas regras relacionadas aos suplentes dossenadores.

A questão do financiamento das campanhas políticas ganhou relevância nos debates eexiste uma forte convergência entre os conselheiros e conselheiras em torno da alternativado financiamento público de campanhas. Há convergência também sobre a adoção do votoem lista fechada ou em lista flexível na qual o eleitor pode alterar a ordem proposta pelopartido, essencial para combater o personalismo, fortalecer e democratizar os partidos. Osconselheiros entendem, entretanto, que os sistemas de listas pressupõem processosinternos mais democráticos nos partidos e redução da interferência das suas estruturashierárquicas superioras.

A partir desse enunciado preliminar e compreendendo a complexidade do tema, osconselheiros consideraram fundamental ouvir outras análises sobre os pontos de maiorrelevância e ponderar sobre as conseqüências de cada mudança em debate para a vidapolítica da nação. Propuseram então a realização deste seminário há seis meses. O seminário tem por objetivo central, portanto, ampliar o debate sobre a reformapolítica, realizado dentro do conselho, trazendo agora as perspectivas do Congresso, daacademia e de outros atores sociais. Este debate ampliado vai qualificar a contribuiçãodo Conselho e também contribuir para o esclarecimento e mobilização da sociedade emtorno da reforma.

Acabamos de ouvir o senador Tião Viana dizer que o Congresso se fortalece quando asociedade se mobiliza. O Conselho acredita que vivemos num momento favorável nosentido de uma mudança que priorize a reorganização do sistema partidário, a qualificaçãodos processos eleitorais, a valorização dos partidos políticos e o aperfeiçoamento dasformas de participação popular. Existe um consenso latente da nossa sociedade em tornoda necessidade de fortalecimento do caráter republicano do nosso sistema político eleitoral.

Desde muito tempo, nenhum partido político no Brasil conseguiu ter 20% dosvotos na Câmara dos Deputados. Por isso as coalizões passam a ser fundamentais e a nossa coalizão hoje é de 11 partidos políticos, que se reúnem praticamente todasemana, por intermédio de seus presidentes, líderes na Câmara, líderes no Senado, os três líderes do presidente, eu como secretário executivo, comandados pelopresidente Lula. Temos que fazer um trabalho hercúleo de organizar uma coalizãopara poder governar.

Há consenso de que precisamos dar um passo à frente. A reforma é oportuna parafortalecer a democracia e aprimorar a relação entre o Estado e a sociedade. Com isso,estaremos enfrentando as desigualdades e a exclusão social e promovendo a participaçãopolítica dos cidadãos. Como afirmou o presidente Lula, em seu discurso no Conselho, emmaio deste ano, quando vários conselheiros aqui tomaram posse. Ele disse o seguinte: “Areforma política não pode ser um tema que discutimos apenas quando acontece umproblema ou em época de eleição. Temos um momento, portanto, no qual o governo temsensibilidade e me parece que o Congresso Nacional e os partidos políticos têm absolutanoção de que reforma precisa ser feita”.

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Tenho certeza de que este seminário vai contribuir para o debate. Contamos comconvidados do mais alto nível, nas mesas de debate e nas plenárias. Estão presentesconvidados e convidadas dos nossos Conselheiros e Conselheiras, dos parceirosinstitucionais e da rede de debate do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.É nosso desejo que o Congresso Nacional propicie ao País a sonhada Reforma Política.Muito obrigado.

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Introdução

Uma das idéias divulgadas sobre a reforma política no Brasil é a de que ela requer umamudança ampla e radical do sistema político-partidário. O tema de discussão desta Mesa-Redonda – o financiamento das campanhas eleitorais e o voto em lista –, embora introduzapropostas que se restringem ao âmbito de uma Lei Ordinária (legislação infraconstitucional),necessitando para sua aprovação de maioria simples na Câmara dos Deputados e noSenado, traz significativas alterações no sistema político-eleitoral. Uma proposta de reformapolítica ampla requereria uma Emenda Constitucional que para sua aprovação precisariaobter três quintos de aprovação nas duas Casas, em dois turnos de votação em cada.

Os debates desta Mesa vão evidenciar que a adoção do voto em lista e o financiamentopúblico de campanhas teriam um impacto estrutural na vida dos partidos. De acordo coma fundamentação das propostas, as mudanças resultariam na melhoria da qualidade darepresentação política, com o fortalecimento dos partidos políticos, e proporcionaria maiorequanimidade na disputa eleitoral.

O debate trouxe também à baila as controvérsias em torno dessas propostas. A listapartidária, por exemplo, poderia interferir na liberdade de opção do eleitor, que manifestapreferência pelo voto nominal. Uma alternativa à lista fechada seria a lista flexível, em queo eleitor escolhe um nome na lista partidária. Sobre o financiamento público decampanhas, há opiniões que consideram que um controle mais eficaz dos gastos poderiaser feito com a proibição da doação de empresas e a definição de tetos mais rígidos paraas doações, em vez do financiamento público exclusivo.

Entre os pontos avaliados como positivos da proposta de reforma política pauta desseSeminário, ressalte-se o fortalecimento dos partidos, não apenas no Congresso, mas emtodas as etapas, inclusive na eleitoral. Para os componentes da mesa, um partido forte, noplano eleitoral, daria centralidade ao sistema político, aos partidos, diminuindo a migraçãopartidária e, por sua vez, negociações individuais e favorecimentos seriam substituídos poratores coletivos (os partidos) que seriam cobrados por suas plataformas políticas.

• COORDENADOR

CEZAR BRITTOPresidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) eConselheiro do CDES

O debate sobre o tema financiamento público de campanhas e o voto em lista talvez sejao de maior dissenso no Congresso Nacional. Mas o clima aqui neste seminário é o danecessidade de formarmos consensos – alguns preferem o termo concertação –, para podermosavançar na proposta de reforma política, considerada a mãe de todas as reformas. Pode-se dizerque da ausência da reforma política deriva boa parte dos problemas do país.

O tema desta mesa exige de nós muita atenção, porque mudanças no sistema vigentepodem modificar a história da política brasileira e alterar o financiamento de campanhas,significando romper com o voto viciado pela sua compra ou pelo abuso do poder econômico.

1ª MESA-REDONDAAperfeiçoamento da Democracia Representativa –

O Financiamento das Campanhas Políticas e o Voto em Lista

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O Deputado Ronaldo Caiado, nosso convidado e expositor, vem a ser um dos maisbalizados a falar sobre o tema e elogiado por todos pelo seu trabalho como relator do Projeto de Lei nº 2.679/03, aprovado pela Comissão Especial de Reforma Política, emdezembro de 2003, e renomeado nesta legislatura como o Projeto de Lei nº 1.210/07, queentrou na pauta de votação da Câmara dos Deputados. Todos que aqui falaram realçarama importância de sua participação nos debates na Câmara dos Deputados. Obrigado.

• EXPOSITOR

RONALDO CAIADODeputado Federal (DEM/GO) – relator do PL da ReformaPolítica

Muito obrigado. Quero cumprimentar a todos os membros da mesa, colegas, membrosdo Conselho e todos os presentes. Esta matéria, sem dúvida nenhuma, não só é polêmicacomo complexa. O que ocorre? Como disse o senador Tião Viana, este tema já foi objetode debate no Senado Federal e em boa parte aprovado, mas foi votado de uma maneirafatiada. Discutiu-se o voto em lista, financiamento, federação de partidos, fim dascoligações em eleições proporcionais, voto distrital. Vários temas foram debatidos noSenado Federal e foram encaminhados à Câmara dos Deputados.

Contudo, existem entre essas matérias as que são infraconstitucionais e as que sãoconstitucionais. As matérias constitucionais possuem um outro rito, muito mais complexas,e são difíceis de serem aprovadas. Uma matéria constitucional precisa de 308 votos naCâmara dos Deputados, em duas votações sucessivas, e duas também no Senado Federal,com 49 votos favoráveis e, para serem aprovadas, precisam, nas duas Casas, de 3/5 doPlenário. O que a Comissão Especial de Reforma Política fez? em vez de estarmos fazendoreformas fatiadas, concordamos em reunir toda matéria infraconstitucional que pudessemudar o sistema eleitoral brasileiro num só projeto.

Sabemos que a reforma política é muito mais ampla que o projeto de lei apresentado.Isso não é novidade alguma. Mas a comissão identificou que o ponto principal seria alteraro sistema eleitoral brasileiro. Este seria o ponto de partida a partir do qual avançaríamosgradualmente em direção à formulação de emendas constitucionais e leis complementares.

A compreensão predominante na Comissão era a de que deveríamos fazer uma propostaque fortalecesse os partidos e evitasse o troca-troca entre eles em cada legislatura. Qual é acondição para se fazer uma reforma, quando não se tem partidos fortes? Quando não se temuma vinculação do parlamentar ao partido? Pareceu-nos ser o estabelecimento de regraseleitorais que contribuam para dar solidez ao compromisso do parlamentar com o partido.

As críticas ao projeto existem, sem dúvida nenhuma, e nós as respeitamos. No entanto,consideramos que os que são a favor do atual sistema estão em total descompasso emrelação à sociedade, porque essa já entendeu que tal sistema se exauriu. O modelo atualsó produz crises, ingovernabilidade e descrédito do Congresso Nacional. É CPI, escândalo,caixa 2, e nesse campo vocês podem escolher: Lalau, Waldomiro, Operação Vampiro,Gafanhoto, Sanguessuga, Navalha e assim por diante. Por quê? Porque hoje a situação deuma campanha eleitoral é voltada a quem tem mais poder financeiro para bancar umacampanha, principalmente a majoritária, com raras e honrosas exceções. Não prevalecenessa disputa quem tem mais conteúdo, preparo ou capacidade de representar seu povo eespírito público. As pessoas são excluídas de escolhas entre bons talentos. Quem tem

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condição de arcar com a campanha majoritária? Alguém pode ser ótimo candidato, masnão dá conta de bancar sua campanha e de outros? O critério para indicação passa serquem tem o caixa para poder bancar a campanha.

É nisso que está se transformando a eleição no país. Essa é a grande realidade.Sabemos que a reforma política não é o antídoto para a corrupção, pois ninguém tem apretensão de elaborar um sistema eleitoral e proclamar: “Vamos acabar com a corrupçãono Brasil!” Mas precisamos sem dúvida é criar um sistema que dê oportunidades aocidadão de bem, aos jovens, àqueles que possam entrar para a política e não estabelecerdiálogos do tipo: “Olha, você vai me financiar em quanto?”

Hoje, quando o político recebe financiamento de uma empresa, tem de rezar porquatro anos para que ela não esteja envolvida num escândalo. Do contrário, ele vai ser oporta-voz dela no Congresso Nacional e inevitavelmente ficar rotulado. A pessoa de bemnão aceita mais essa situação.

Pela manhã, eu liguei para um colega meu, um oftalmologista de renomeinternacional, o professor Marcos Ávila, e insisti para que ele aceitasse ser candidato aprefeito de Goiânia. Ele me disse: “Caiado, pelo amor de Deus, eu não vou me envolvercom isso. Amanhã em vez de estar aí nas primeiras páginas com as boas cirurgias deoftalmologia, eu vou estar com meu nome envolvido em escândalos de financiamento decampanha eleitoral”.

Gostaria que o Conselho refletisse sobre isso. O cientista político David Samuelsescreveu que a eleição de 1994 no Brasil custou 10 bilhões de reais, comparável aos gastosde uma campanha nos Estados Unidos. Só que aqui ela tem em torno de 20% de origemlícita. O restante é do narcotráfico, tráfico de armas, jogo do bicho, o desvio da verba doorçamento. As verbas do orçamento estão exatamente entrando no processo definanciamento das campanhas eleitorais.

Por mais preparo que os senhores e senhoras aqui presentes tenham, o contato com a realidade eleitoral surpreende. Quando os pré-candidatos chegam num município, seucabo eleitoral vai dizer: “Olha, sinto muito, mas sua campanha, não tem volume decampanha. O senhor não trouxe carro de som, não contratou aqui os cabos eleitorais, nãofoi padrinho de formatura, não trouxe o brinde para a festa no dia da cidade”. O pré-candidato se torna incapaz ou impotente diante das situações vivenciadas. Não estoudizendo que isso acontece com a totalidade dos candidatos. Estou dizendo que,infelizmente, esse processo está aumentando, a cada ano que passa. Esse tipo de candidatoestá ampliando suas ações e cada vez mais definindo as eleições no Brasil. E, por isso, nósvoltamos a discutir o sistema eleitoral, como sendo o alicerce sobre o qual construirmos,depois, e discutirmos, seja o voto distrital, seja o misto, seja a unificação das eleições, sejao voto no suplente de senador, seja a introdução do voto facultativo. Esses pontos todossão emendas à Constituição Brasileira, que não há como debatermos agora no Plenário.

Nesse momento, o ponto principal é exatamente o poder dar transparência ao financiamento das campanhas eleitorais, como ponto de partida, e fortalecer os partidospolíticos, como segundo ponto. Ao chegar aqui, me entrevistaram sobre a lista preordenada eeu disse: “Estou copiando a OAB”. Na OAB se vota em lista para eleição de presidente.

Muita gente diz que o voto em lista não é democrático, porque não é o voto direto nocandidato. Como não é voto direto? Desde quando o voto direto é voto em pessoa? Hojese elegem deputados federais também pelo voto de legenda. Vota-se na lista da OAB e seelegem todos os representantes que foram escolhidos naquela lista. Voto indireto é aquele

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que você elege um delegado para que o delegado eleja um presidente. Isso é outra coisa.Ao se votar na lista, vota-se exatamente naqueles que são os melhores para amanhãgerenciar essa ou aquela entidade. No caso dos parlamentares, representar o estado comodeputado federal, ou as regiões do estado, como deputado estadual ou distrital, e, nascidades, seus bairros e vizinhanças, como vereador.

Hoje, se o candidato tem boas condições financeiras, é indicado pelo partido. Esse é olado que precisamos mostrar à sociedade. O partido nem se preocupa em acompanhar suacampanha. Ele é eleito e muitos parlamentares depois são envolvidos em escândalos decorrupção. Pergunto: “Se fosse aprovado o voto em lista, quem colocaria na lista do partidoesses nomes?” O eleitor, ao analisar uma lista, confrontando-a com outra, vai falar:“Aquela ali, aquela está contaminada; essa outra, é de compadre, filho de político, assessor,coisa e tal; vou votar naquela outra lista que, sem dúvida nenhuma, tem os melhores nomespara me representar no Congresso Nacional.”

Sabemos que o voto em lista não faz parte da cultura do povo brasileiro. Todos nós fomoscriados e aprendemos a votar nominalmente. Mas a sociedade aprende a mudar e estáinsatisfeita com o sistema atual. Com o financiamento público não é preciso ficar mendigandoou se comprometendo com financiamento privado nas campanhas eleitorais. O voto do eleitorvai custar R$ 7,00, e o custo da campanha, como um todo, em torno de mais ou menos R$ 910 milhões. Com essa mudança, penso que a sociedade e a democracia vão ganhar.

Uma eleição hoje custa cerca de R$ 10 bilhões. E não foi ninguém que teve esse gestode despejar R$ 10 bilhões em benefício da Nação. Todos que gastaram querem receber nomínimo dez vezes em troca daquilo que foi aplicado na campanha eleitoral. Esse dadoprecisa ser considerado. O porquê da lista é para fortalecer os partidos e viabilizar ofinanciamento público das campanhas eleitorais.

A lista estimula, promove uma ligação do eleitor com o candidato e desse com opartido. Sua continuidade e lugar na lista vão depender de seu desempenho comoparlamentar. Nos países onde se tem um sistema de indicação de candidatos bemidentificados não ocorre o troca-troca de partidos. Existem, sim, partidos fortes e o centroda política passa a ser trabalho legislativo.

Sobre a participação das mulheres no parlamento, o que se constata é que onde há osistema de lista, o percentual de participação é maior. Vimos a Ministra Nilcéa dizer que asmulheres no Brasil não ocupam posição de destaque nas assembléias, câmaras de vereadorese no Congresso Nacional. Em nenhum país onde se tem sistema proporcional com lista aberta,a pesar de serem poucos, Brasil, Peru, Chile, Finlândia, Polônia, a participação das mulheres ésignificativa. A lista fechada possibilita aumentar essa participação. A sociedade vai compararas chapas e cobrar a presença das mulheres. Mas isso é um processo, não ocorre do dia paraa noite. As mulheres no Brasil reivindicam essa participação.

A proposta do voto em lista tem recebido muitas críticas. O bombardeio é grande. Antesde concluir, quero deixar claro que tudo isso só está sendo possível graças à coragem pessoal dopresidente Arlindo Chinaglia. Isso tem que ser reconhecido. Essa matéria estava engavetada,apesar de pronta para entrar em pauta. Ele teve a coragem de dizer que, independentementedo que pensam os partidos ou os deputados e deputadas, colocaria a matéria em votação.

O que ocorre no Brasil hoje é que o partido consulta o Tribunal Superior Eleitoral e estelegisla. Quanto o faz, todos criticam. Então, por que o Congresso Nacional não legisla, seessa é uma matéria específica do Congresso Nacional? Por ser matéria específica doCongresso Nacional, é fundamental conseguirmos aprová-la na Câmara dos Deputados.

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O projeto da Comissão Especial propõe uma reforma política eleitoral em sua inteireza.É um projeto que comparo, em termos da medicina, com vasos comunicantes, porque cadaitem tem a ver com o outro. Há a lista fechada ou preordenada e o financiamento público,e como esse deve ser distribuído. Há também o fim das coligações nas eleiçõesproporcionais, a criação de federações de partidos, enfim todos esses itens são interligados.

Nossa intenção é aprovar o projeto, para entrar em vigor nas eleições de 2008. Vejamos senhores o quanto estou otimista. Vou continuar lutando para aprovação dessa matériaainda na próxima semana, com todas as dificuldades regimentais que existem. Temostambém a esperança de que o Senado também a aprove e que cheguemos à sanção doPresidente da República.

É um prazer participar desta mesa, com figuras tão importantes da Ciência Política noBrasil. Meu orientador na Câmara dos Deputados, e responsável por grande parte do queaprendi, é o Antônio Cintra. Muito Obrigado e um bom-dia a todos.

• DEBATEDORES

JAIRO NICOLAUProfessor do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio deJaneiro (IUPERJ)

Agradeço o convite do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, saúdo oscolegas da mesa e o público. Vim disposto a debater tecnicamente algumas questões. Seique talvez esse não seja o melhor momento porque não é fácil discutir um tema queenvolve questões técnicas em um clima, vamos dizer, “quente” do momento.Coincidentemente, como o ministro Mares Guia chamou a atenção, esse semináriomarcado há muito tempo acontece justamente na semana em que o projeto está entrandoem votação na Câmara dos Deputados. Essa coincidência, que ele viu com bons olhos,confere a este seminário um caráter político mais do que propriamente de debate técnico.

O projeto Caiado, posso chamar assim, uma homenagem justíssima ao relator, sempreconsiderei o melhor projeto já feito sobre reforma política no Brasil, desde aredemocratização. É o mais consistente, o que tem melhor justificativa, o mais integrado.As metáforas médicas, utilizadas por ele, como as dos vasos comunicantes, ilustram bem oespírito do projeto. Porém, por ser um projeto integrado possui também suas dificuldades.Um pacote fechado gera mais problemas em sua aprovação.

Nas oportunidades que tive de debater com o deputado, chamei a atenção para o queeu julgava algumas dificuldades e inconsistências, que não merecem ser retomadas a essaaltura. Sempre disse a ele, e as pessoas envolvidas nessa empreitada, que o projeto contémuma reforma radical e profunda. Penso que nem os políticos nem a imprensa conseguemperceber a radicalidade dessa mudança que está sendo proposta.

É radical a proposta de financiamento público de campanha. Do levantamento que fiz de144 países, nenhum usa o financiamento público exclusivo de campanha. As razões disso,podemos discutir. Muitos países têm problemas de corrupção na política, mas nenhumpensou, até onde eu saiba, em adotar essa alternativa. O problema da relação da política comdinheiro é muito sério no Brasil e estamos partindo para estatizar o financiamento decampanhas. Deve-se considerar que os partidos hoje já vivem basicamente do dinheiro doEstado, não exclusivamente, mas praticamente com o dinheiro do fundo partidário.

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Tembém é radical a proposta do voto em lista fechada. O Brasil usa a lista aberta há muitotempo. Adotamos esse sistema desde 1945, está em vigor, pelas minhas contas, há 16 eleiçõespara a Câmara dos Deputados, sendo usado não apenas nas eleições para deputado federal,mas para deputados estaduais e vereadores. O debate atual é todo feito em torno da discussãoda reforma na Câmara dos Deputados, esquecendo-se que essa reforma vai implicar em fechara lista nas eleições estaduais e municipais. Isso terá um enorme impacto na política do país.

São passagens difíceis no sistema eleitoral do país. O político é eleito com votos nele e nãoabre mão desta prerrogativa. Estamos diante de um desafio e tanto. Vou aproveitar o tempoque me resta para apresentar uma proposta. Desculpem-me a essa altura do campeonatoapresentar mais uma proposta, mas tem a que ver com as solicitações das últimas semanas. Eusempre defendi que não teria dúvida em embarcar nesse projeto. Acho-o consistente, é umpasso radical, mas com todas as dificuldades apontadas, arriscaria, não tenho dúvida, emaprová-lo. Vários colegas meus, cientistas políticos, o criticam.

O Deputado Caiado sofre muitas críticas por conta de seu projeto, mas eu arriscariavotar nele se eu fosse político, pois é muito superior ao sistema privado viciado e à listaaberta como está sendo utilizado no Brasil. Todavia, pessoalmente, sempre tive preferênciapor um outro sistema, o de lista flexível, usado em alguns países. Escrevi recentementealguma coisa sobre essa proposta e a debati com alguns deputados que me procuraram,nas últimas semanas. Eles me pediram que apresentasse a proposta e penso que algunschegaram a propor, para o meu desespero, como uma alternativa à lista fechada. Mas issoé uma preferência intelectual, não uma alternativa nesse momento.

Achei que valia a pena compartilhar com vocês esse tema, ainda que considere que nãovai prosperar politicamente. Mas queria trazer mais essa alternativa ao debate que é aadoção da lista flexível. O que é o sistema de lista flexível? O sistema de lista flexível é umalista como a que a Comissão Especial está propondo, mas o eleitor tem duas opções: se eleconcorda com a lista, vota na legenda; se prefere votar em um candidato, escolhe um dalista. Os votos da legenda seriam transferidos para os primeiros nomes da lista.

A maioria das democracias européias usa o sistema de lista flexível, a Bélgica,Dinamarca, Grécia, Estônia, República Checa, Suécia, Áustria, Holanda, Islândia e Noruega.Na Bélgica, Dinamarca, Grécia, Estônia, República Checa e Suécia o eleitor de fato mexe nalista, votando de modo que alguns candidatos que estão lá embaixo conseguem com seusvotos ultrapassar as posições. Na Áustria, Holanda, Islândia e Noruega raramente umpolítico muda a sua posição. Na verdade, esses países funcionam quase como um sistemade lista fechada, onde o eleitor tem a liberdade de votar em nomes, mas não vota porqueé um eleitor que pensa, sobretudo partidariamente.

Os passos que devem ser seguidos para definir os eleitos na lista são os seguintes:

1. calcula-se a distribuição de cadeiras entre os partidos;

2. calcula-se uma quota mínima de votos que um candidato precisa atingir para seeleger;

3. se o candidato ultrapassa a quota está eleito;

4. os votos de legenda são transferidos para o primeiro da lista até que iguale a quota;

5. os votos que sobram do passo quatro são transferidos para o segundo da lista;

6. os candidatos seguintes são eleitos segundo a votação final obtida.

Pessoalmente, acho que no primeiro passo deveria ser permitido que os partidos que nãoatingiram o quociente eleitoral disputassem as sobras. Quer dizer, cada partido sai com sua força,

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mas tem o benefício de agora ter uma barreira de entrada um pouco mais baixa. Calcula-sedepois uma cota, que pode ser simplesmente o quociente eleitoral, se um político individualmenteconsegue se eleger. O candidato pode se eleger e se reposicionar na lista. Mas, o segredo é oseguinte: o que se faz com os votos de legenda? Os votos de legenda são transferidos para o primeiro da lista até que ele iguale essa cota, ou seja, até que chegue ao quociente eleitoral. Seo primeiro atingiu o quociente os votos passam para o segundo em cascata.

Na tabela abaixo, dou um exemplo de como se calcula a posição na lista, combinando ovoto no candidato com o voto em lista. De acordo com o quadro, obtiveram 20.000 votos delegenda. Os números de um (1) a 15 é a ordem dos candidatos. Eles não estão com nomes,mas com números na ordem que eles concorreram na lista do partido. Essa ordem aparece naTV, nos panfletos dos partidos, na propaganda eleitoral. No exemplo, só 10% votaram na listae 90% continuaram votando em nomes (peguei um exemplo do sistema atual para ver comofuncionaria). Foram 20.000 votos de legenda e o quociente para eleição 50.000 votos. Comisso, o candidato nº 8 fez sozinho 55.000 e, portanto, está eleito. Depois os 20.000 votos delegenda vão para o primeiro nome, que teve 40 mil votos. Ele pega 10 mil dos 20 e chega àcota 50 mil, está eleito. Os outros 10 mil votos de legenda são transferidos para o segundonome, que passa a ter 22 mil. A operação é feita com a posição que cada candidato tem,somando-se o que ele teve nominal com o transferido da lista. Na verdade, o primeiro eleitofoi o candidato 8º da lista, o segundo foi o primeiro da lista, o quinto da lista passou a ser oterceiro, e o último candidato eleito foi o segundo.

1 40.000 10.000 50.000 2º Eleito

2 12.000 10.000 22.000 4º Eleito

3 15.000 15.000

4 10.000 10.000

5 32.000 32.000 3º Eleito

6 1.000 1.000

7 2.000 2.000

8 55.000 55.000 1º Eleito

9 1.500 1.500

10 1.000 1.000

11

12 500 500

13 18.000 18.000

14 500 500

15 1.000 1.000

Legenda 20.000

Total 200.000

Candidato Votos Transferência Total Situaçãodo Voto de Legenda

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O sistema de lista flexível combina a preferência do partido, mas sem que o eleitor percaa sua liberdade de voto. Se todos os eleitores votarem na lista teremos o sistema de listafechada, que é o que acontece na prática na Áustria, Holanda, Islândia e na Noruega. Se todosos eleitores votarem nominal teremos o sistema de lista aberta como o nosso agora. O ideal é que se todos os eleitores votarem nominal, teremos, na prática, um sistema de lista aberta,como o nosso. Teríamos um sistema com um grau de flexibilidade, como o modelo usado naBélgica, com uma pequena diferença técnica. Os belgas são eleitores partidários, entãoraramente um candidato mal posicionado na lista consegue uma boa classificação.

Esse projeto de lista flexível teria os seguintes efeitos: maior vitalidade aos partidos(garantia na lei de distribuição proporcional na lista e escolha por voto secreto); maiorestímulo à campanha e o voto partidário; permanência de um mecanismo de prestação decontas pessoal; possibilidade de coordenação partidária para montagem da lista decandidatos. Com o sistema de lista flexível, inevitavelmente, os partidos ficariam muito maisconsistentes e o voto também mais partidário.

A prestação de contas individual é o grande problema dos países de lista fechada. Todaa discussão que se faz em Israel, África do Sul, Portugal, Espanha, que se fez na Venezuelarecentemente, países de lista fechada, resume-se a como criar um mecanismo de prestaçãode contas individual. Sem esse mecanismo, os partidos vão se afastando da sociedade e seinternalizando no Estado, restando ao político como estímulo de carreira prestar contas aoseu partido e não à sociedade. Em Israel, por exemplo, que adota sistema de lista fechada,já existe clientelismo. Os deputados e grupos da sociedade criaram mecanismos de relaçãocom os partidos que são bem parecidos com o clientelismo que conhecemos no Brasil.

Quando apresento a proposta de lista flexível, a pergunta que me fazem é se esse sistemapermite o financiamento público de campanha. Digo, não. Ele melhora a representação, dámais peso aos partidos, mas não resolve o problema do financiamento. Se o financiamentopúblico é prioridade não há outro jeito senão a lista fechada. Na minha visão, temos enormepossibilidade de melhorar o nosso sistema de financiamento, independentemente detransformá-lo num sistema público. Eu não entendo por que isso não é feito.

Há formas de melhorar o financiamento de campanhas no Brasil sem abolir o financiamentoprivado. Por exemplo, nos Estados Unidos, desde 1907, empresas não doam diretamente parapolíticos. No Brasil, não sei por que podem doar. Pessoa física tudo bem, empresário doa emnome dele, mas a empresa não devia doar. Devia ser proibida a doação de empresas acampanhas políticas. Não dá para continuar com esse sistema de doações de empresas paracampanha e depois elas participarem de licitação. Sei que esse tema é controverso, mas é precisomexer nisso agora. Não é necessário acabar com o sistema de lista aberta e adotarnecessariamente o financiamento público, mas proibir as doações de empresas.

Outro problema no país é que não temos um sistema rigoroso de punição. Não temosuma auditoria rigorosa, que só pode ser rigorosa se for por sorteio. O princípio do sorteioé utilizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para analisar as contas do município,sendo esse também o princípio do antidoping no futebol e do CNPq para avaliar osbolsistas. Se o bolsista não prestar conta e cair no sorteio, será punido.

Penso que se deve começar a avaliar o sistema de financiamento dos Estados Unidos.Verificar como ocorre na eleição presidencial, porque é nessa que os candidatos precisamde mais recursos e com recursos públicos podem fazer uma campanha mais equilibrada.Minha idéia nessa exposição foi trazer esses pontos para reflexão porque podem funcionarcomo um plano alternativo.

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ANTÔNIO OCTÁVIO CINTRAConsultor Legislativo da Câmara dos Deputados

Senhor Presidente da mesa, Senhores Ministros, Senhora Ministra, Parlamentares, senhorase senhores. Gostaria de lembrar o seguinte: a idéia de reforma política não é mania brasileira,não é idiossincrasia nacional, faz parte do regime democrático. Todas as democracias queconhecemos, à medida que foram sendo implantadas, aperfeiçoaram suas instituições,experimentaram sistemas eleitorais, mexeram no relacionamento entre os poderes, atentarampara a distribuição do poder no território, entre outros aspectos. Essas questões foramenfrentadas ao longo do tempo por todos os sistemas democráticos, e até hoje, nas democraciasque se conhecem como “consolidadas”, vez por outra aparecem sugestões de mudança.

Lembraria, por exemplo, que o sistema eleitoral proporcional, que hoje em dia tendea universalizar-se – pois poucos países ainda permanecem com o sistema chamado, entrenós, distrital puro, e que tecnicamente se conhece como sistema eleitoral uninominal demaioria relativa –, foi uma criação da segunda metade do século 19.

Ao longo do século XX, vimos muitas transformações importantes nos sistemas degoverno, sobretudo entre os parlamentarismos, como a criação do chamadoparlamentarismo racionalizado, que permitiu aos sistemas parlamentares terem maisestabilidade e mais capacidade de decidir, ou a implantação do semipresidencialismo, apartir da Constituição de 1958 na França, modelo que tem inspirado outros países, comoPortugal, após a derrubada do salazarismo e os países da ex-União Soviética.

No Alemanha do pós-guerra, tivemos a criação de um sistema eleitoral originalíssimo,o sistema misto, em que se elege a metade dos representantes da maneira proporcional eoutra metade em distritos. Esse sistema também tem inspirado reformistas em outros paísese alguns têm tido êxito em implantar novos sistemas eleitorais. Algumas dessas reformasseguem os trâmites formais, de forma explícita, e outras ocorrem como se fosse porevolução natural. Como exemplo dessa última modalidade, temos o caso norte-americano.Menciona-se pouco, no Brasil, que os presidentes norte-americanos também usam uminstrumento que, em alguns sentidos, sobretudo em seus efeitos no policy makinggovernamental, é parecido com as nossas medidas provisórias. Esse instrumento é a“ordem executiva”. Se os senhores tiverem interesse em saber disso com mais detalhe,temos um colega na Câmara dos Deputados, Ricardo Rodrigues, que recentementedefendeu uma tese nos Estados Unidos sobre as ordens executivas daquele país.

A idéia que o deputado Ronaldo Caiado aqui expôs responde a uma reivindicaçãoantiga na nossa sociedade, veiculada pela imprensa, defendida por muitos cientistaspolíticos e juristas, a saber, é preciso reforçar os partidos políticos para que a democracia seconsolide entre nós. Obviamente, quando defendemos a idéia de reforçar os partidos,estamos criticando uma situação determinada, em que eles não seriam fortes.

Este diagnóstico prevaleceu durante a Constituinte de 1988. Isso era bastante falado,mas parte de nossa comunidade de ciência política, em anos mais recentes, tenta mostrarque essa análise não é totalmente verdadeira, porque os partidos podem ser fracos emvários planos, mas no plano parlamentar funcionam razoavelmente. Como se chega a essa conclusão? Pelo exame, no âmbito da Câmara dos Deputados das votaçõesnominais, em que se revela que a maioria dos deputados, em cada partido, segue asorientações das lideranças. Com base nesses dados, conclui-se que o sistema brasileironão estaria funcionando mal porque os partidos, pelo menos no plano parlamentar, dãoconta do recado.

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50 Anais do Seminário Reforma Política

Porém, na verdade, no jogo eleitoral, ocorre o seguinte: o sistema se caracteriza pelavalorização do candidato e não do partido. A candidatura é individual, o financiamentotambém, tudo concorrendo para uma descentralização das campanhas. Ademais, o sistemaeleitoral de tipo proporcional, comparado com um de tipo majoritário-distrital, não põeobstáculos à fragmentação do sistema partidário, que traz, ao recinto parlamentar, quase duasdezenas de partidos. O individualismo no plano eleitoral também facilita “o troca-troca” de partidos após as eleições, fenômeno este que entre nós assume proporções cataclísmicas.

No entanto, como as votações nominais mostram a capacidade dos partidos de daremo voto de acordo com a orientação da liderança, alguns cientistas políticos dizem que asmás conseqüências de nosso sistema eleitoral não se produzem porque o sistema políticotem instrumentos que lhes permitem funcionar. Traduzindo numa palavra muito usada emanos recentes, a governabilidade não é colocada em questão.

Um desses instrumentos que neutralizaria as forças presentes no plano eleitoral, dentrodo próprio Poder Legislativo, é a grande centralização do poder parlamentar na MesaDiretora e no Colégio de Líderes. O deputado eleito individualmente quando chega àCâmara dos Deputados não tem poder, se não estiver bem integrado com as liderançaspartidárias, com a Mesa, e a agenda de trabalhos que é decidida de modo centralizado. Eesse poder parlamentar centralizado se articula com o poder Executivo, em cujas mãos anova Constituição colocou também instrumentos não desprezíveis para fazer valer a suavontade do outro lado da Praça dos Três Poderes. A iniciativa legislativa privativa doExecutivo está sacramentada na Constituição e é abundantemente usada. E também opoder de decreto, via Medidas Provisórias.

Esses instrumentos, tanto no Legislativo quanto no Executivo, fazem com que o sistemaconsiga funcionar sem incorrer nos riscos em que incorreria caso se deixasse operar,desimpedidas, as conseqüências do sistema eleitoral.

Esse conjunto político, que muitos estão louvando, porque funciona e permite agovernabilidade, apresenta muitos problemas. Nesta mesa já tivemos vários depoimentos nessesentido. Para lembrar um problema crítico: como se constrói a maioria? Fala-se depresidencialismo de coalizão, que aqui praticamos, porque os partidos congressuais são muitos,e é preciso vários para obter uma maioria confortável de apoio ao governo, como uma grandeinvenção, que permite ao sistema funcionar. Estamos vendo, porém, que a construção decoalizão tem um custo muito grande. Temos, hoje, 11 partidos na coalizão governamental. Issoé problemático. O líder Deputado José Múcio reconhecia, faz pouco, neste foro, e o SenadorTião Viana concordava com ele, a dificuldade de construir esse tipo de maioria.

O sistema atual está gerando uma coisa muito ruim para a política democrática. Opresidencialismo de coalizão funciona, mas a custo da desmoralização da política é muitogrande, o preço em termos de legitimidade, de identificação da população com o seusistema político é alto. Há uma instituição, o Latino-Barômetro, que mede o apreço pelademocracia e, às vezes, surgem índices assustadores de que o apreço pela democraciadiminui muito com a crise de legitimidade que está acontecendo.

A proposta Caiado tem uma característica interessante: não vamos ter partidos fortesapenas no Congresso, mas partidos fortes em todas as etapas, inclusive na etapaeleitoral. Porque em lugar de a votação ser individual, passará a ser uma votação numacoletividade, o partido. A democracia de massa, em que milhões de eleitores participam,precisa ter partidos. Os partidos foram invenções organizacionais do século 19, quandose começou a ampliar o eleitorado. Surgiram eles então para apresentar candidatos,organizar a participação política, comprometer-se com certas posições no tocante à ação

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do governo, e depois atuar no parlamento e no governo basicamente de acordo com oque foi decidido na eleição.

No caso brasileiro, isso não acontece. A mudança de partido tornou-se uma coisatrivial. Chegamos à conclusão, analisando a situação brasileira, que o que existe nomomento é o seguinte: governo e oposição, sem grande correlação com o que surgiu daeleição. Não importa como a pessoa foi eleita, em qual partido, porque na verdade oimportante é saber se ela vai apoiar o governo do dia ou não, se vai proteger-se sob oguarda-chuva do governo ou correr o risco de ficar exposta ao sol e a chuva da oposição.Essa é, no momento, a grande clivagem brasileira, mas que não se produz na eleiçãoparlamentar, nem a traduz, se não que se constrói depois, nas tratativas intra-parlamentares, obviamente sob a inspiração do governo. Então, temos sempre de nosacostumar a ver líderes de um governo anterior continuando como líderes, mas agora deum governo que se elegeu em oposição ao anterior.

Se tivermos partidos fortes também no plano eleitoral – essa é uma das idéias doprojeto Caiado – gradualmente o sistema vai se centrar nos partidos, nas propostasque vão oferecer, e diminuirá a migração partidária. O partido do fulano, que perdeua eleição presidencial ou para governador, vai formar possivelmente a minoriaparlamentar. Se ele é maioria no Congresso, na Câmara, na Assembléia, apesar de não ser o partido do governador, o governador vai ter que negociar com essepartido, como acontece nos Estados Unidos. Agora, por exemplo, o presidente Bushtem que lidar com uma oposição que é maioria. Isso é o chamado governo dividido,sistema com que os Estados Unidos têm convivido há decênios. É muito raro lá teruma situação de o presidente ter a maioria parlamentar. Os democratas foram amaioria parlamentar em mais de 50 anos, mas vários presidentes foram do PartidoRepublicano nesse período. E o país funcionou.

Então, no lugar de termos negociações individuais, favorecimento de emendas doorçamento, vamos ter grandes atores coletivos que são os partidos, procedendo àsnegociações, oferecendo à sociedade plataformas políticas. Não precisam ser partidosradicalmente opostos uns aos outros, polarizando a política nacional em torno de pontosinegociáveis. Se o eleitorado brasileiro é um eleitorado que tende a uma visão de centro –isso as eleições presidenciais provaram nos pleitos recentes – a oposição e a situação nãoprecisam se destroçar e ter plataformas totalmente opostas. Se a maior parte do eleitoradoestá no centro da distribuição de posições entre esquerda e direita, os partidos precisamcompetir por este centro e suas plataformas a isso devem ajustar-se.

Na verdade, a proposta do Caiado visa tornar os partidos fortes antes e depois daseleições. A característica do quadro eleitoral atual é de uma disputa entre os candidatos; e no funcionamento parlamentar, uma disputa entre partidos com composição flutuante,no sentido de que crescem os governistas e minguam os de oposição. Com a reforma, oque se pretende é criar interlocutores coletivos, que são os partidos, que vão mudar a natureza da política nacional.

Para finalizar, gostaria de chamar atenção para um ponto importante que tem sidosuscitado como objeção fundamental em debates na Câmara e fora dela. Diz-se o seguinte:“Está sendo retirado do eleitor o direito sagrado do voto pessoal.” É curioso que só agorase descobriu a grande virtude do voto pessoal. O voto pessoal é sagrado, sim, mas quandoé praticado na escala do distrito, como nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha. Quando o sujeito é eleito por maioria relativa em distrito, todo mundo o conhece e o eleitor sabequem é aquele representante.

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Esse não é o caso no Brasil, em que o eleitor, como mostram as pesquisas, esquece o candidato em quem votou meses depois das eleições. Além do mais, pela mecânica dosistema proporcional, o voto de uma pessoa não necessariamente vai elegê-la. Pode elegerum companheiro de partido ou uma pessoa de um partido coligado que nada tem a vercom sua preferência. Ninguém protestou contra o voto em Enéas que elegeu mais quatroou cinco pessoas. Mas isso é transferência de votos. O voto em Enéas, na eleição de 2002,trouxe à Câmara gente que por certo o eleitor dele não conhecia. Onde está o voto pessoalintocável? Por que não se reclama contra isso?

Outro fato, que se desconhece nesse debate, é a existência do voto de legenda noBrasil, por meio do qual muitos candidatos são eleitos. Se o voto de lista não éconstitucional, depois da eleição da Constituição de 1988, como se tem alegado, por quese admite o voto de legenda? O voto de legenda não é um voto pessoal, mas do partido.Se o voto pessoal é imprescindível, precisamos rediscutir o princípio de organização doCongresso Nacional, pois houve votos de legenda em sua composição. Nos Estados Unidoso voto pessoal é importante. A Câmara é organizada dando grande poder aos deputados,que são eleitos nos distritos. O deputado tem grande poder nas Comissões e nofuncionamento do Congresso. A lógica do sistema centrado no voto pessoal distrital édiferente da do voto proporcional. O voto em lista é um voto em legenda. Nesse sentido,o voto no partido que está sendo proposto no projeto Caiado, na verdade, não éinconstitucional. É voto direto em uma legenda, o que nosso direito eleitoral permite, delonga data. Muito obrigado.

CRISTINA BUARQUESecretária Especial da Mulher do Estado de Pernambuco e Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

Bom-dia a todos e a todas. Gostaria de saudar os companheiros de mesa, por meio doconselheiro Cezar Britto, as autoridades parlamentares, judiciárias, gestores, a ministraNilcéa Freire e todos os presentes. As mulheres têm sido um dos segmentos da sociedadeque talvez mais tenham discutido a reforma política em virtude da preparação da 2ªConferência Nacional de Políticas para as Mulheres e da inclusão, nela, do tema dasmulheres no espaço do poder. Só em Pernambuco foram cinco mil mulheres discutindo otema da mulher no espaço de decisão e a reforma política.

Nessa minha participação, gostaria de saudar as companheiras de longas caminhadas nosentido de buscar formas políticas inclusivas e penso que essa reforma política deve ter essapreocupação fundamentalmente. Vou me concentrar na questão da inclusão versus exclusãodesse processo, e brigar por inclusão como uma dimensão da própria democracia. A democraciase revela na tensão entre incluídos e excluídos, vamos dizer assim. Vou chamar bem para o feminino agora, porque aqui estamos o tempo todo dizendo os excluídos, os cidadãos, e gostaria de dizer nós, mulheres públicas, preocupadas com a reforma política.

Na perspectiva das mulheres é preciso que os partidos sejam transformados e nãoreforçados simplesmente, isso porque a estrutura dos partidos é hierárquica. Quando foramcriados não tínhamos sequer o direito ao voto. Historicamente, o partido é uma estrutura nãosó hierárquica, mas profundamente masculina. Os partidos no Brasil já tiveram bastanteoportunidade de incluir as mulheres nos espaços de poder, mas não o fizeram, tanto que nãocumprem sequer os 30% da cota. Por isso a discussão da questão da transformação departidos relacionada à busca de políticas includentes é tão importante. Esse debate que de fatoestá vinculado à definição de quem está no poder e de quem não está no poder.

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Nós mulheres, gestoras ou integrantes dos movimentos sociais, consideramos que ainclusão é a fórmula, o caminho mais profundo da transformação dos partidos. Na medidaem que você inclui, você não transforma só a instituição, mas todos os sujeitos, porque oindivíduo incluído não é o mesmo sujeito de antes.

Nesse sentido, queria defender a lista fechada, com alternância de sexo. A Argentinachegou à inclusão das mulheres por meio desse mecanismo. Nós precisamos fazer o granderesgate no País, dos impedimentos e interdições que as mulheres sofreram e ainda sofrem.Quando falamos em financiamento público de campanha, estamos dizendo que ele precisaacontecer. Nós temos de considerar seriamente a representação da sociedade brasileira,afinal o poder político é o poder de decisão para decidir sobre a vida da população.

O patrimônio, as empresas, os recursos, estão nas mãos dos homens. Nós falamos àsvezes muito facilmente: “Está nas mãos de famílias”. Não, estão nas mãos dos homens, nasmãos das pessoas brancas e das pessoas do sexo masculino. As pessoas não-brancas e asmulheres não têm esse patrimônio. Se quisermos mudar a sociedade, e a reforma políticaé um meio e um espaço para isso, temos de promover, sem dúvida nenhuma, essa inclusão.

Além da aprovação da lista fechada, temos de encontrar uma forma de impedir que ospartidos políticos coloquem as mulheres no final da lista, pois essa tem sido a tendência.Isso vai acontecer se não mudarmos a lógica que exclui a participação da mulher no espaçodo poder. Os presidentes de partidos, os senhores deputados, precisam dividir esse poder,ou então vão continuar a reproduzir uma cultura política discriminatória de amplos setoresda população, entre eles, mulheres e negros.

Para que a democracia representativa se aperfeiçoe, é preciso que se avance nademocracia participativa e na democracia direta. Temos a experiência da democraciarepresentativa, acompanhada de uma experiência de democracia participativa, onde asmulheres também participam dela, mas não chegam ao espaço do poder em proporção àsua força social. Precisamos construir uma isonomia na participação da mulher nademocracia, seja na democracia representativa, seja na participativa e na direta.

Nessa perspectiva, não podemos acreditar que com listas fechadas ou flexíveis estarágarantido o exercício da democracia, se não tivermos uma paridade entre mulheres ehomens no espaço de poder. As instituições brasileiras amadurecem na medida em queincluem os segmentos excluídos e na medida em que esses são integrados nos espaços depoder, predominantemente ocupados por homens e pessoas brancas. Muito obrigada.

• DEBATE COM O PLENÁRIO

CÉSAR BRITTOPresidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) eConselheiro do CDES

Esclareço que as perguntas podem, também, ser encaminhadas por escrito. Solicito atodos que mencionem o nome e a instituição para serem registrados nos anais.5

5 – As perguntas sem identificação do nome e de instituição não foram registradas nos Anais.

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PAULO SAFADY SIMÃOPresidente da Câmara Brasileira da Indústria daConstrução (CBIC) e Conselheiro do CDES

Como foi amplamente mencionado, nesse momento parece haver uma motivaçãomaior no sentido de se fazer uma reforma política. No entanto, temos dificuldadesenormes, nós mesmos dentro do Conselho, em relação à lista fechada. Tenho dúvidas, poisnão sei como a lista será formulada, se é democraticamente dentro de um partido ouescolhida por alguém. Enfim, há uma desconfiança muito grande a respeito da elaboraçãodessa lista. Não sei também os critérios estabelecidos pelo projeto do deputado Caiado.Parece-me que há uma priorização nesta lista para os deputados já eleitos.

Gostaria que o problema da lista fosse mais esclarecido e de também perguntar aodeputado Caiado sobre as possibilidades reais da reforma ser aprovada nesse momento.Meu receio é o de que no final de toda essa discussão não se chegue a lugar nenhum, pelaprópria história desse debate no país. Se a reforma não for aprovada, haveria condições dese convocar uma Assembléia Nacional Constituinte exclusiva para votar uma reformapolítica como o país precisa?

DOM LUIZ DEMÉTRIO VALENTINIPresidente da Cáritas Brasileira, Membro da ComissãoEpiscopal de Pastoral da CNBB e Conselheiro do CDES

Concordo com a Cristina que, de fato, só se aprimora a democracia representativa namedida em que se aprimora a democracia participativa. Ao se iniciar o processo eleitoralnão se deve esquecer que é preciso simultaneamente abordar também o aprimoramentoda participação direta.

Minhas preocupações estão relacionadas à formulação das listas, com a participaçãode pessoas representativas da sociedade, e ao financiamento público das campanhas.Sobre o financiamento de campanhas, minhas questões são as seguintes: Como impedirque, havendo o financiamento público, o poder econômico continue tambéminfluenciando? Ou seja, como impedir que o poder econômico exerça uma influêncianegativa no processo eleitoral?

JOÃO BOSCO BORBAPresidente da Associação Nacional de Empresários Afro-Brasileiros (ANCEABRA) e Conselheiro do CDES

Tenho receio que o financiamento público de campanhas não resolva o problema maior dacorrupção. Gostaria que fosse mais aprofundada a discussão da relação entre o público e oprivado na política brasileira. Sobre a representação política observo o problema da nãoparticipação de setores importantes da população, como mulheres e negros. Sabemos que oBrasil é a segunda maior nação de negros do planeta, depois da Nigéria. Nós que estamos forada política sabemos que é porque a política tem a ver com a relação econômica e que as pessoasse elegem em função do poder econômico. Faço parte do grupo que defende uma reformapolítica aprovada por uma Assembléia Constituinte, isso porque o Congresso Nacional seapresenta hoje mais como um órgão corporativista e como um balcão de negócios.

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MAURÍCIO PIRAGIDiretor da Escola de Governo de São Paulo

Eu gostaria de perguntar ao relator, deputado Caiado, qual a garantia que vamos ter se aslistas vão ser compostas de forma democrática na questão de gênero e cor, para que nãotroquemos um sistema pelo outro, sem que haja nenhum avanço. Gostaria de saber por que a reeleição não está nesta discussão da reforma política. Estamos na expectativa de que essadiscussão sobre a reforma política seja ampliada no sentido de se pensar também os movimentossociais do Brasil, a transparência do Judiciário, a democratização da mídia, a articulação entredemocracia representativa, direta e participativa. Simplesmente transformar a democraciarepresentativa é muito pouco para os anseios e a necessidade da democracia brasileira.

CHICO VIGILANTEEx-Deputado Federal, ex-Deputado Distrital e Representanteda Confederação Nacional dos Vigilantes

Tenho uma convicção comigo, conhecendo mais ou menos como conheço aqueleCongresso, de que não adianta querermos fazer tudo de uma vez porque terminamos nãofazendo nada. Para mim, também está mais do que claro de que a raiz de todo o problemada corrupção eleitoral no Brasil está centrado no financiamento das campanhas. O setorresponsável por tudo isso que tem ocorrido é o das empreiteiras, que vem atuando desdeo tempo dos anões do orçamento, quando foram cassados 15 deputados, mas tinham pelomenos 100 a serem cassados, naquela época. E com os empreiteiros não aconteceu nada.Depois vieram as denúncias sobre as emendas do Guilherme Palmeira, que deixou de sercandidato a vice-presidente porque estava envolvido com emenda de empreiteiras.

Portanto, para mim, deveríamos centrar todas as nossas forças na questão dofinanciamento. Não penso que o financiamento público seja incompatível com a listaaberta, desde que haja fiscalização. Não adianta dizer que não dá pra fazer o financiamentopúblico se não tiver lista fechada. Até porque vimos recentemente no estado de Goiásgente vendendo vaga para ser candidato pelo Prona. Quem me assegura que com as listasfechadas as vagas não vão ficar mais caras ainda?

JUSSARA DUTRAPresidente da Confederação dos Trabalhadores emEducação (CNTE) e Conselheira do CDES

Eu queria fazer uma observação sobre financiamento de campanhas que julgo centralnesse debate. Acho que o financiamento público democratiza os partidos. Se nósobservarmos em todos os partidos a lista de corte nas eleições é determinado pelo chamado“volume de campanha” do candidato. Concordo também com a Cristina de que deveríamoster listas alternadas na questão do gênero. Mas pergunto ao deputado Relator, qual é o tipode alternância prevista na lista?

Considero que o debate sobre lista fechada deve ser muito bem articulado eesclarecedor para não corrermos o risco de fazermos uma discussão atravessada, como a que foi feita, por exemplo, no referendum sobre o desarmamento. Independentementedo resultado e das opções que as pessoas tinham, o debate sobre o desarmamento foimalfeito. Tenho receio que a discussão sobre a lista fragilize os defensores da mesma pelaconotação dada pela mídia brasileira, que já trabalha contra, sem esclarecer as posições.

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ANTÔNIO NETOPresidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil(CGTB) e Conselheiro do CDES

Queria parabenizar o Caiado, pela tenacidade em torno da defesa do projeto e pelaclareza na exposição das mudanças propostas que, se ocorrerem, vão revolucionar aquestão eleitoral no Brasil. O financiamento público realmente é muito importante e pensoque não tem como ter financiamento público com lista aberta. O financiamento público vaifavorecer a instituição de partidos fortes e proporcionar as condições para que os partidospossam financiar candidatos que não têm recursos próprios.

O financiamento público significa recursos financeiros para ampliar a representação dasociedade na política. E a lista partidária alternância por gênero é uma mudançafundamental para inclusão das minorias na política.

RODRIGO ROCHA LOURESPresidente da Federação das Indústrias do Estado doParaná (FIEP) e Conselheiro do CDES

Temos no Paraná uma rede de participação política que se constitui no movimento pelacidadania para aprimoramento das instituições e dos costumes políticos. Esse movimentofoi organizado há mais de um ano. Fizemos uma consulta a esse movimento sobre areforma política e foi quase que unânime a rejeição da proposta de lista fechada. Existe umadesconfiança de que os políticos atuais possam deliberar sobre a lista. Gostaria deperguntar a respeito da possibilidade da convocação de uma Constituinte Revisional. Há umgrupo expressivo de conselheiros que entendem que a reforma deva ser abrangente. E essasolução só poderia ocorrer por meio de uma Constituinte Revisional.

Essa Constituinte seria composta metade por um colégio eleito diretamente, um delegadopara cada milhão de habitantes, e outra metade seria constituída de delegados do Congressoatual, de sorte que teríamos um colégio de 360 membros, sendo 180 eleitos para finalidadeespecífica desta Constituinte. Dessa forma haveria um equilíbrio na representação da classepolítica e da sociedade civil e isso daria ensejo a que a sociedade brasileira tivesse a oportunidadede não só conhecer o tema, mas também fazer escolhas e participar do processo. Haveriacondição do Congresso Nacional convocar uma reforma através de uma Constituinte revisional?

CONSITA MAIARepresentante do Movimento Articulado de Mulheres daAmazônia (MAMA) e membro do Conselho Nacional dosDireitos da Mulher

Inicialmente gostaria de dizer que nos sentimos muito honradas pela exposição daministra Nilcéa Freire, a nossa porta-voz. Gostaria também de dizer que nos sentimoscontempladas pela fala da Cristina Buarque. Acreditamos que a reforma que a populaçãobrasileira espera e deseja é uma reforma inclusiva, na qual a pluralidade étnica racial estejarepresentada. Sua exposição foi direcionada a todas as mulheres negras, indígenas, quefazem parte da pluralidade no Brasil.

Queremos registrar que defendemos a lista preordenada com alternância de sexo, uma

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mulher e um homem, a cota de 30% do programa partidário gratuito no rádio e na TV, adestinação obrigatória de 30% dos recursos do fundo partidário para os organismos demulheres de cada partido político e o financiamento público.

CLÁUDIO AZEVEDOCoordenador da Federação dos Trabalhadores do Judiciário Federal

Minha preocupação com a reforma política concentra-se no papel reservado à JustiçaEleitoral. Sabemos que esse grande aparato da Justiça Eleitoral que existe no Brasil se limitaa uma atuação vinculada ao processo eleitoral. Considero esse instrumento, não diria queé ocioso, subaproveitado num país como o nosso que quer caminhar para a democracia. Equando vemos tantos problemas com relação a ilícitos políticos, a delitos políticos,problemas por demais conhecidos, vemos pouca ação da Justiça Eleitoral. Então perguntono que o projeto do Deputado Caiado de reforma política, stricto sensu, tem a apresentarno que diz respeito ao papel da Justiça Eleitoral.

MURILO LOBORepresentante da OAB/Goiás

Deputado Caiado, Vossa Excelência discorreu com muita propriedade e competênciasobre os benefícios a lista fechada. No entanto, o senhor nada disse sobre as desvantagense, em especial, sobre o caciquismo e a excessiva concentração de poderes nas mãos dosdirigentes partidários. Como se poderia evitar na reforma política a excessiva concentraçãode poderes nas mãos dos dirigentes partidários?

RICARDO MARTINSEstudante de Ciências Políticas Universidade de Brasília (UnB)

A existência do financiamento público de campanha se não for acompanhada dapunição dos parlamentares que continuarem recebendo doações ilegais não será apenasum recurso a mais de campanha?

• CONSIDERAÇÕES FINAIS

RONALDO CAIADODeputado Federal (DEM/GO) – relator do PL da Reforma Política

São várias perguntas. Vou tentar cingir-me a alguns aspectos. Ao Ricardo Martins, da Ciência Política da UnB, diria que hoje a legislação diz quais são as punições que existem, masnão tem condições de as aplicar. São milhares de pré-candidatos. Ouvimos um desembargador,corregedor do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, dizer: “Numa campanha eleitoral, em 90dias, eu recebi 7.000 denúncias. Como vou poder fiscalizar um terço delas?”. Então, é aqueleprocesso do “faz-de-conta” que fiscaliza. Temos no mínimo 2.500 candidatos a seremfiscalizados. Isso é quase a certeza de que não vão ser fiscalizados.

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Com a lista fechada vamos transferir a fiscalização para 200 a 250 contas. O TRE nãoterá um aparato ali para poder fiscalizar no estado em torno de 15 a 20 contas?Acompanhar milimetricamente o que se gastou porque sabe o que o partido recebeu antes,até o centavo?

Não adianta preescrever punição sem as condições de realizá-la. Se as punições não têmcondição de serem aplicadas, é letra morta na legislação brasileira, como têm sido. Agora, quandose dá mecanismo para identificar o desvio, a punição torna-se possível: se for o dirigentepartidário, cai a lista do partido inteiro, perdem todos os registros dos pré-candidatos; se for ocandidato, o registro dele é cancelado e a diplomação dele, cassada. Instrumentos de puniçãoexistem hoje. Não há como dizer apenas que não existe punição, porque temos instrumentos atédemais. Se vocês abrirem a legislação, vão ficar impressionados, mas não são praticadas.

Sobre as listas, diria que são votadas nas convenções, nos congressos dos partidos. Osconvencionais vão votar. Os mecanismos que usamos para poder diminuir a corrupção noprocesso da convenção é dar a cada convencional o direito a cinco votos. Os votos sãocumulativos. Cada delegado é obrigado a votar em cinco diferentes pré-candidatos. Comisso, sem dúvida nenhuma você dá um espaço maior para que o pré-candidato que temvida partidária, que tem espírito público e talento, possa ficar bem destacado na lista.

Reconheço não ser esse processo também imune a uma tentativa de corrupção numcolégio eleitoral. Mas o ambiente é propício ao debate do assunto, quando se diz que háa elaboração de uma lista do partido, que pré-candidatos vão ser escolhidos em umaConvenção. A discussão da lista deve ser feita dentro do partido, com direito a recurso ainstância superior do partido também, que é outra condição principal.

Murilo Lobo, do meu estado, pergunta sobre o caciquismo. A tese de que a lista fortaleceo caciquismo tem prevalecido muito. Um verdadeiro terrorismo é feito. Existe um clima dedizer que com a lista vai ser pior. É a tentativa de demonizar o projeto de reforma. De repente,começam a desenhar as coisas mais absurdas que, na verdade, não têm a menor consistência,mas inquietam. Isso ocorre por desconhecimento dos argumentos a favor da lista e peloprocesso de satanização que existe: Diz-se: “É o cacique, o dono da lista e tal.”

Conheço países que não adotam o sistema de lista fechada e têm tantos caciquesquanto se tem no Brasil. E no Brasil não há lista fechada. Quem produziu o cacique não foia lista fechada. Quem produziu o cacique foi o atual sistema eleitoral. Para demonstrarmosisso é suficiente observar o baixo índice de renovação do Congresso Nacional. O que existeé uma falsa renovação. Os novos são retornos. Voltam para lá secretários de governo,parentes de políticos, em geral, após a definição e partilha das famílias dos políticos. Sãotrocas do tipo: “Já tenho o meu patrimônio eleitoral, você vai ser meu deputado da próximavez, está bem?”. Ou, senão, quem tem caixa para poder bancar uma campanha.

Penso que o problema não é só proibir as empresas de financiarem as campanhas, comosugere Jairo Nicolau. Se for assim, temos que tirar mais do que empresas, porque comovamos poder controlar o narcotráfico, que hoje é o que mais financia? O narcotráfico jogaviolentamente no financiamento das campanhas no Brasil, assim como o jogo do bicho.

Com a lista, o caciquismo vai passar por momentos difíceis, porque, se o caciqueformar a lista dele, com seus secretários e parentes, a população, ao comparar as listas, vaiquerer votar naquela que não tem patrão ou vai querer votar numa lista em que ocandidato tem identidade com a população.

O Paulo Simão indagou sobre a proposta da Assembléia Nacional Constituinte para a

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reforma política. A Assembléia Nacional Constituinte já está proposta em uma Proposta deEmenda Constitucional, uma PEC, que tramita na Casa. Agora, quando essa PEC vai servotada? Se não damos conta de votar uma lei ordinária, como vamos votar uma emenda àConstituição para fazer uma Assembléia Revisional com 308 votos na Câmara dosDeputados, em duas votações, e 48 no Senado, com duas votações?

Costumo dizer para alguns teóricos da medicina: “Operar no papel é uma maravilha. Vocêfaz qualquer cirurgia, não sangra e não tem complicação, nem do lado cirúrgico, nem com oanestesista. Agora, quando se vai para o campo cirúrgico, aí a coisa é diferente”. Então, de forado Congresso Nacional, é muito bonito pensar em uma proposta mais abrangente, mas entralá para poder fazer uma votação dessa. Lá, cada deputado é 1/513 avos. Tentem imaginar essarealidade. Até se conseguirem 308 favoráveis, é uma batalha impossível.

Sobre o problema da corrupção, a grande preocupação é como se vai evitar que odinheiro privado continue a financiar campanhas. O professor Jairo foi muito claro aodizer que com a lista flexível ele não recomenda o financiamento público. O DeputadoChico Vigilante acha que deve. Eu, por exemplo, sou da posição do professor JairoNicolau. Acho que não tem como, ao flexibilizar a lista, manter o financiamento público.À primeira vista, o dinheiro público fica difícil de ser controlado, porque seriamcandidaturas individuais e não se tem como controlar atividade do dia-a-dia de umcidadão, e o Tribunal não terá como andar ao lado daquele candidato 24 horas por dia.

Quanto à promiscuidade da relação entre o público e o privado, é lógico que temosque tentar mecanismos para coibir. O professor Nicolau disse o seguinte: “Não existenenhum país do mundo que tenha financiamento público exclusivo”. É verdade. Eutenho aprendido com o professor Nicolau. Mas não existe nenhum país que tenhachegado à situação que hoje vivemos, de descrédito do Congresso Nacional, descréditodos políticos e anemia dos partidos políticos.

Defendo que tenhamos de passar por uma transição. A proposta de reforma políticaque apresentamos contém os elementos dessa transição. Vamos reformar o sistemaeleitoral e avançarmos nos outros pontos depois. Precisamos arriscar, porque o sistemaatual está falido. O que diferencia o remédio do veneno é a dose. Temos que saber a doseque vamos dar ao paciente para não matá-lo.

Pergunta-se, também, por que não está no projeto a questão da reeleição. É porquereeleição é emenda à Constituição e nós deliberamos na Comissão Especial da ReformaPolítica que o projeto seja infraconstitucional. Só sobre reeleição deve haver umas 15 a20 PECs tramitando no Congresso Nacional.

Sobre a participação das minorias na lista de candidatos, sem dúvida algum esse éum tema relevante e tanto a deputada Erundina como a ministra Nilcéa Freire têmenfatizado esse aspecto. Acredito que vou ter o apoio ao projeto não só das mulheres,neste seminário, como também dos parlamentares para que ajudem na aprovação dalista. A mulher passa a ter hoje direito a 30% da verba dos partidos para a área deeventos, dinheiro do fundo partidário, e também 20% do tempo do rádio e televisãopara as mulheres. A alternância é uma matéria que exige um prazo. Não podemos iravançando muito no processo, porque precisamos saber administrar as pressões.

A lista realmente vem sendo penalizada porque existe um sentimento do cidadão deque ela retira o direito dele de escolha de seu candidato. Há um desconhecimento dosbenefícios da lista. Quando fui debater a lista com vereadores, prefeitos e deputados

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estaduais, eles queriam quase me linchar no primeiro debate. Mas já fui aplaudido emMinas Gerais, pelos vereadores, após explicar as vantagens do voto em lista.

Ao término desta mesa, preciso voltar à Câmara dos Deputados e gostaria de contarlá com a presença do professor Jairo. Gostaria que ele fizesse a exposição, que fez aqui,aos parlamentares que estão aguardando para discutir a reforma e os encaminhamentosnecessários. Ao Rodrigo Loures, quero dizer que espero ter a oportunidade de debatercom os paranaenses, que são tão refratários à lista, e convencê-los das vantagens dela.Muito obrigado.

CEZAR BRITTOPresidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) eConselheiro do CDES

Agradeço ao deputado Ronaldo Caiado, aos nossos debatedores, ao público. Algunsconsensos aqui foram firmados: o de que a situação atual é a pior possível; o de que énecessário melhorar o sistema político brasileiro; e o de que precisamos aprofundar odebate sobre a questão do financiamento público de campanha. Não existe consenso noque se refere à lista fechada e aos critérios quanto ao processo de elaboração da mesma.Muito obrigado a todos.

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2ª MESA-REDONDAAperfeiçoamento da Democracia Representativa – Cláusula

de Barreira, Imunidades e Fidelidade Partidária

Introdução

Esta Mesa-Redonda também se situa no debate sobre o aperfeiçoamento da democraciarepresentativa e discute as questões da cláusula de barreira, imunidades e a fidelidadepartidária. Na compreensão dos expositores e debatedores, o sistema político brasileiroprecisa de uma reforma e se beneficiaria com medidas que fortalecessem o processo eleitorale os partidos. O diagnóstico geral é o de que o modelo atual funcionou em um determinadoperíodo, quando o universo eleitoral era mais restrito, mas se esgotou, trazendo prejuízos à democracia representativa.

Partindo da visão comum da necessidade da reforma política, expositores e debatedoresdão sugestões de como enfocar as questões em debate. Uma delas é se procurar pensar emum modelo de sistema político democrático, que, para obter bom funcionamento, precisaria de medidas restritivas e ampliadoras.

Na discussão sobre cláusula de barreira, imunidades e a fidelidade partidária, acláusula de barreira seria uma medida restritiva, porque limita a expressão pura dasvontades. Já a fidelidade partidária e as imunidades fariam parte das medidasampliadoras, porque forçam o representante a prestar mais contas ao representado. Nosdois casos, tanto as medidas restritivas como as ampliadoras visam ao aperfeiçoamento dademocracia representativa.

Debatem-se também, nesta Mesa, o próprio emprego e a abrangência do conceito dereforma política. Tendo como foco o período mais recente, o termo pode abarcar oconjunto de mudanças que ocorreram no sistema político depois da Constituição de 1988.Nesse sentido, não há porque temer a demanda no momento por uma reforma política,com o argumento de ser impossível controlar seus efeitos. Foi sugerido identificarconcretamente os problemas que afetam o sistema político e procurar soluções quecontribuam para a melhoria e a eficácia do mesmo.

• COORDENADOR

RODRIGO ROCHA LOURESPresidente da Federação das Indústrias do Estado doParaná (FIEP) e Conselheiro do CDES

Boa-tarde a todos, senhoras e senhores. Nesta mesa temos como expositores oprofessor Renato Janine e o ministro Nelson Jobim e como debatedores o conselheiroRodrigo Collaço e o professor Fernando Abrúcio. Após a participação dos debatedores,abrimos para o debate com o plenário.

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• EXPOSITORES

RENATO JANINE RIBEIROProfessor de Ética e Filosofia Política da Universidade deSão Paulo (USP)

Este convite para uma discussão tão importante me faz começar pensando no que seriauma representação política ideal: do ponto de vista do eleitorado, seria considerar o país emtermos de uma única circunscrição, cuja representação política fosse rigorosamenteproporcional. Dessa maneira, teríamos a expressão das vontades, adequadamente, tanto asvontades localizadas mais regionalmente quanto aquelas que são dispersas pelas regiões,como é o caso, por exemplo, do voto de opinião, que não necessariamente é local, do votode interesses, por exemplo, o dos defensores de interesses de minorias, de valores comoeducação etc. Seria uma representação proporcional do ponto de vista puro e teórico, ondese combinariam interesses amplos e locais que são irredutíveis uns aos outros.

Não é à-toa que, quando se fala numa Constituinte para se discutir a reforma política,se imagina uma representação ideal. Seguramente, desse modelo que chamo de ideal,outros poderiam dizer que não é o ideal deles; mas, como seria proporcional aos interessese/ou ideais e/ou desejos expressos pela população, penso que posso partir daí. Ora, desteponto de partida, posso distinguir dois tipos básicos de medidas que vão alterar esse modelopuro: as restritivas e as ampliadoras. As restritivas limitarão o modelo que chamei de ideal.As ampliadoras fazem a representação funcionar melhor.

Na discussão sobre cláusula de barreira e fidelidade partidária, eu entenderia a cláusulade barreira como uma medida restritiva. Ela restringe a expressão pura das vontades,proporcionalmente falando, e pode fazê-lo por boas razões. Já a fidelidade partidária é umamedida ampliadora, porque força o representante a prestar contas ao representado. Amesma pessoa pode assim defender medidas que restringem e ampliam.

Proponho utilizar esta tipologia – das medidas restritivas ou ampliadoras – para entrarno debate atual sobre a reforma política. Considero que as emendas e alterações de ordemrestritiva procuram ampliar a eficácia do sistema gerado pela eleição. O objetivo delas não éprecisamente o de tornar o sistema mais representativo, mas torná-lo mais eficiente.

Dois enormes fantasmas atravessaram o século XX – regimes políticos que geraram umaincapacidade permanente de governar. Um foi a República de Weimar, outro a IV Repúblicafrancesa. Nos dois casos, na Alemanha entre 1920 a 1933, na França entre 1946 a 1958,era impossível um gabinete perdurar muito tempo dado o grande número de partidos, dadoo sistema parlamentarista e dada a inexistência de barreiras à derrubada de um ministério.Os melhores gabinetes duravam poucos meses. Esses sistemas, pela sua incapacidade degerar uma maioria capaz de governar, acabam até sendo, negativamente, os que expressama necessidade que temos de restringir a expressão pura da proporcionalidade, a fim de criarmaneiras para um governo permanecer.

Há vários artifícios para lidar com essa situação como, por exemplo, o voto distrital. Este éum sistema que, dependendo do país, elimina a representação de certas minorias e consegue,sobretudo, nos países em que prevalece um sistema bipartidário, engendrar uma maioria degoverno – que não precisa ser a maioria do voto popular, mas assegura, mesmo em detrimentodo elemento democrático que seria uma representação teórica ou idealmente perfeita, agovernabilidade. Países bipartidários como Estados Unidos, países que têm pelo menos duasfrentes fortes, como a direita e a esquerda, como a França, lidam com maiorias e minorias.Existem barreiras com o objetivo de fazer com que uma maioria simples se torne uma maioria

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absoluta. Ou, se quisermos usar o termo em inglês, fazer que uma plurality, que é a maioriasimples, se torne numa majority, que seria a maioria absoluta capaz de governar.

A cláusula de barreira pura, adotada na Alemanha, exigindo que um partido atinja pelomenos tantos por cento dos votos para ter representação parlamentar pertence a essa família.Bônus para os partidos mais votados, como foram adotados na Itália, em que o partido oucoligação mais votado tem algo como uma vantagem de 60 votos sobre o segundo colocado,pertencem também a essa família. Regimes democráticos podem adotar esse sistema de bônus.

O problema dessas medidas restritivas, porém, é que correm o risco de afastar o eleitordo sistema – de criar uma relação de alienação entre os eleitores e o sistema. O eleitor podenão se reconhecer nele. Uma parte da sociedade não terá representação. Quem nãogostava dos liberais, no Reino Unido, não tinha muito o que fazer, na segunda metade doséculo XX. Teve que esperar que os liberais se juntassem aos social-democratas, e mesmoassim eles continuaram fortemente minoritários em Westminster, bem mais que no votopopular – o que por sua vez levou os eleitores a perderem a esperança de votar neles,porque sabiam que jogavam fora o sufrágio. É um círculo, mais vicioso que virtuoso.Seguramente esse quadro assegura a eficiência, mas enfraquece a democracia.

Daí que, para garantir a governabilidade, uma estratégia freqüente consista emintroduzir uma desproporção até mesmo aguda na representação. O regime que assim segera não é fácil de derrubar e foi o que De Gaulle percebeu, ante a agonia da IV Repúblicana França, em 1958, levando-o então a criar um sistema em que o presidente era forte. AAlemanha Federal, já antes disso, escaldada pelo instável parlamentarismo da República deWeimar, tinha-se recusado a permitir uma queda de governo por um mero voto dedesconfiança, sem que deste já constasse o nome do novo primeiro-ministro. É o chamadovoto de desconfiança construtivo que, na verdade, é a substituição direta de um primeiro-ministro por outro, sem aquele intervalo em que o chefe de Estado consulta os partidos,chama os possíveis chefes de governo e este fica em mãos de interinos. Em suma, não háregime mais instável do que o parlamentarismo com voto proporcional e sem cláusula debarreira, ou seja, um sistema no qual há inúmeros partidos, de dimensão muito pequena,pequena ou média, e a formação de um governo é sempre bastante frágil.

Nessas restrições à pura expressão proporcional do voto popular está presente umelemento de frieza, de cálculo racional, de lógica, necessário para que se governe, mas quepode entrar em choque com as preferências do eleitor – e até mesmo, quando o sistemadistrital é adotado, privar a maioria expressa no voto popular de exercer o poder, porqueuma minoria de eleitores pode fazer a maioria das cadeiras no Parlamento. Este aspectotambém se vê na atual discussão política, centrada nas questões das listas fechadas e dofinanciamento público de campanhas. Apesar de pessoalmente não simpatizar com as listasfechadas, fui persuadido pela argumentação, tanto da equipe do Ministério da Justiçaquanto do deputado Caiado, de que essa medida integra um sistema do qual não dá paraaprovar apenas uma parte. De todo modo, mesmo quem está convencido da validade dessaproposta tem que reconhecer que ela é pouco popular – aliás, assim como seria suaalternativa, o voto distrital.

Encerro esta introdução dizendo que, hoje, se houver reforma do sistema político, ou seráa lista fechada com financiamento público ou será o voto distrital. Não vejo uma terceira opçãoque possa enfrentar o problema sério da corrupção e seus anexos, como a promiscuidade entreos interesses públicos e privados. Se entendermos que a grande falha do sistema políticobrasileiro hoje está ligada a esse problema – uma situação em que até os honestos têm de secorromper, não para colocar dinheiro no seu bolso, mas para assegurar uma campanhaeleitoral, se entendermos que tal fenômeno é mundial, como argumentei em outro lugar,

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chamando-o de corrupção pós-moderna, então disso decorre que teremos de efetuar umaopção por uma dessas duas possibilidades. Resumindo, nenhuma delas é ideal ou perfeita;ambas contrariam fortes tradições nossas; mas nosso problema não é de governabilidade, é decorrupção, patrimonialismo e mistura de interesses privados e públicos.

A cláusula de barreira faz parte do que designo como medidas restritivas, as quelimitam a expressão vamos dizer libérrimas, da vontade popular. No Brasil, não vi ninguémpropor uma cláusula de barreira radical. Cláusula de barreira radical seria privar o partidode seus eleitos se não atingisse um “x” por cento dos votos no Estado ou no país. Seusdeputados não assumiriam, talvez nem os seus prefeitos ou vereadores. Isso ninguémpropôs. O que se propõe é penalizar o partido pequeno no fundo partidário e no tempo dedivulgação de TV. Isso é bem mais leve do que cassar os seus parlamentares, emboratambém limite sua ação parlamentar. É algo que pode e deve ser discutido. Considerocorreto evitar que partidos sem maior base disponham do mesmo tempo de antena queagremiações consolidadas e com bom número de eleitores. Mas sustento que não está aío nó do problema partidário brasileiro.

Temos hoje quatro partidos com um tamanho similar, entre 60 e 90 deputados. Destesquatro, dois firmaram uma aliança histórica que se mantém mais ou menos bem há 15anos, o PSDB e o atual DEM, malgrado rusgas e pequenas fraturas. Um preferiu sempreandar sozinho, o PT, e um quarto oscila, o PMDB. Esses quatro partidos são os maiores e,no entanto, nenhum deles ocupa mais que 20% das cadeiras da Câmara. Ou seja, osquatro somados superam um pouco a maioria absoluta da Câmara, em todas as últimaslegislaturas. E, se os quatro somados usualmente não conseguem nem três quintos daCâmara, necessários para uma emenda constitucional, dois deles ou um deles sozinho nãoatingem nem a maioria. Se ampliarmos nosso leque para os partidos que têm pelo menos35 deputados, que são bancadas respeitáveis em termos numéricos, provavelmentedobraríamos o número de agremiações que estamos considerando. Ou seja, temos quatropartidos maiores e uns quatro de dimensão média.

Mesmo que condenemos os partidos de um dígito de deputados, a dificuldade para geraruma maioria está mais nos grandes partidos – e talvez nos médios – do que nos “nanicos”. Porisso, não vejo muito em que a cláusula de barreira ajudaria, em termos de formar maioriasconsistentes no Congresso. Estou persuadido de que nosso sistema é pluripartidário e presidencialista. Equilibra-se por isso. Se fosse parlamentarista puro, seria um desastre. Sendopresidencialista, combina a escolha popular de um chefe de governo mais ou menos poderosocom a restrição a seu poder por meio de um legislativo pluralista. Pretendo estudar melhor osproblemas que esse regime proporciona, mas – em que pese o repúdio popular à figura do“político” – tal sistema é bastante apreciado pela nossa sociedade. Qualquer reforma, queprocure garantir a governabilidade e combater a corrupção e o patrimonialismo, terá de levarem conta a implantação desse sistema em nossos costumes. Terá, digamos, de negociar o quepode ser mudado e o que precisa ser mantido.

Darei um exemplo. Fala-se muito no sistema distrital. Na verdade, nas propostas dereforma política, o PT e o ex-PFL, agora DEM, estão defendendo a lista fechada, enquantoo PSDB apóia o voto distrital. Ora, na prática, especialmente nos Estados maiores, o votose distritalizou há bastante tempo. Certos políticos alternam estágios como prefeito e comodeputado federal ou estadual. Quando vão para o legislativo, são votados em suas cidadese região. Em São Paulo, grande número dos representantes do interior se elege assim. Mas,ao mesmo tempo, há um voto de opinião que é difuso pelo Estado todo – representantesde segmentos que não têm um território determinado, como dos professores (outrora, dosferroviários). E na capital o voto é menos marcado pelo território, tanto que na Assembléia

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estadual a presença de deputados do interior é proporcionalmente superior ao quinhãodele na população paulista.

Assim, quais os ganhos e perdas que trará um sistema distrital? Ele implica uma sériede custos. O primeiro é que provavelmente provincianiza a representação. Nomes queexpressam uma opinião ou um interesse difuso terão maior dificuldade em se eleger.Causas que hoje estão representadas no Congresso – como os vários comunismos, osecologistas e outras – somente terão lugar caso se integrem num partido que dê espaço aelas. É o fenômeno que os franceses chamam de “pára-quedismo”, quando um políticonovo cai “de pára-quedas” num distrito com o qual não tem nenhum elo, mas que éescolhido porque é uma circunscrição garantida, fiel e de baixo risco. O segundo é o riscobastante grande de manipulação na constituição dos distritos. A prática que os norte-americanos chamam de “jerrymandering” permite recortar distritos de maneira artificiosa,conseguindo assim concentrar o voto de oposição em poucas circunscrições e assegurar amaioria de assentos graças a outros distritos seguros. Por exemplo, se com o histórico devotações eu concentrar o voto X em distritos que lhe dão (por hipótese) 90% dos votos, eo voto Y ficar em distritos nos quais a vitória se dá por 55%, o excesso de votos naqueleprimeiro distrito foi esterilizado – um recorte diferente permitiria, talvez, que a mesmamaioria ganhasse nas duas circunscrições. O terceiro é, justamente, que uma parte dasociedade fica sem representação. Podem ser os que votaram “a mais”, mas são comfreqüência os que votaram num partido que acabou sem assentos parlamentares, ou combem menos do que teria num sistema proporcional.

Já os ganhos dizem respeito a uma relação mais direta entre eleito e eleitor, permitindoinclusive um “recall” justo, que é impossível no sistema proporcional. É viável que oseleitores de um distrito destituam o seu eleito, porque representados e representantesconstituem uma relação direta, ao contrário do modo proporcional. Isso também podebaratear o custo da campanha, porque ela se fará num território menor. Há duasconseqüências adicionais que têm sido pouco meditadas. A primeira é que a fidelidadepartidária deixa de ter sentido, neste caso. Embora o eleito o tenha sido por um partido,com a estrutura deste último, na verdade a eleição o personalizou. A segunda é quecandidaturas independentes, sem estrutura ou indicação partidária, não perturbam osistema. São aceitáveis – e eu pessoalmente acho isso muito bom.

O sistema distrital misto procura atenuar os danos que apontei acima, no sistema distritalpuro. Nele se pode, por exemplo, compensar o excesso – ou o déficit – de representaçãoconseguida no Parlamento por um partido mediante a distribuição de um contingenteadicional de cadeiras preenchidas de modo proporcional. O Partido Trabalhista propôs, noReino Unido, alguns anos atrás, um sistema muito interessante. O País seria dividido emquinhentos distritos e em cada um deles valeria o sistema atual, isto é, o mais votado é eleito(lá, não há segundo turno). Contudo, depois disso seria feita uma conta proporcional e haveriaaté 150 vagas adicionais para permitir equilibrar as escolhas feitas nos distritos com as opçõesdo país como um todo. Assim, o grande golpe que houve nos anos 70 – quando o PartidoLiberal teve mais de 20% dos votos e ficou com uma ninharia de deputados – não se repetiria.Ele provavelmente levaria quase todas as cadeiras suplementares.

Contudo, há também um sistema distrital misto que é mera mistura do distrital com oproporcional. O eleitor dá dois votos, um para o seu candidato no distrito, outro para o seupreferido no país. São computados separadamente. Alguns acham que essa mescla reúneo melhor dos dois sistemas. Eu tenderia a dizer que soma o pior de cada um.

Passo agora às medidas ampliadoras da vontade popular. Elas têm de positivo o

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aumento do reconhecimento do seu sistema e de seus resultados pelo eleitor. Reduzem oque eu chamaria de efeito de alienação, ou seja, o eleitor sentir que o sistema está longedele. Em outras palavras, aumentam sua legitimidade. Já apontei que a maiorgovernabilidade corre o risco de traduzir-se em maior alienação, estranhamento e mesmomenor legitimidade. Ora, a grande reforma legitimadora, certamente a mais popular hojeno Brasil, é a fidelidade partidária.

As reformas políticas são discutidas no ambiente dos partidos, do Congresso, doscientistas políticos, da imprensa e não é muito além disso. A mais popular é a fidelidadepartidária, depois o voto facultativo, que também tem certa presença no eleitorado, porémprovavelmente sobretudo de classe média6. A força popular da fidelidade partidária deveestar ligada à preocupação ética. É a ética na veia da política.

Como uma pessoa eleita por um partido muda de agremiação, até antes de tomarposse? Como acontece que certos parlamentares se transfiram de partido, às vezes, maisque uma vez por dia? Recente decisão judicial acena com a perda de mandato do deputadoque deixa o seu partido. Essa decisão judicial deixa uma série de pontos em aberto, porquese baseia, antes de mais nada, no fato de que 482 dos 513 deputados foram eleitos pelocoeficiente partidário, ou seja, por sobras de legenda e não por seus votos próprios. Talvezse entenda que os outros 31 sejam donos de seu mandato, podendo fazer com ele o quequiserem. Embora eticamente essa diferença possa ser até correta, legalmente soaestranha. Também fica em dúvida a questão dos senadores, eleitos nominalmente, e maisainda a dos detentores de cargos executivos. Dir-se-á, para todos eles, que tendo sidoeleitos com o apoio de uma estrutura partidária não têm direito ao mandato se aabandonarem? Creio que o eleitorado apoiará a fidelidade partidária no âmbito daseleições hoje proporcionais, mas não acredito que reaja do mesmo modo no plano dasmajoritárias (que incluem a de senador) e menos ainda no caso do prefeito, governador epresidente. Em todas essas últimas eleições, o cidadão vota no nome da pessoa e não nasigla partidária. De qualquer forma, eu preferiria que as decisões sobre matéria políticafossem tomadas pelo Parlamento e não pelo Judiciário. Se este assume o lugar daquele, éem larga medida devido à omissão dos que são incumbidos de votar e sancionar as leis.

Na verdade, vejo com receio a tendência do Judiciário a tomar decisões que dizem respeitoà cidadania. Creio que a legislação, sobretudo a eleitoral, constitucional e política, deve estardefinida em termos sempre muito claros e compreensíveis. Quando juízes e tribunais decidema respeito, preocupa-me que interpretem numa direção ou noutra o que está formuladoem termos ambíguos, porque assim ocorre uma subtração da soberania popular expressano Congresso. Mais que isso, preocupa-me que o eleitor não saiba com clareza quais sãoos seus direitos, quais as regras do jogo, como funciona o exercício, por sua parte, dasoberania popular. Mas, seja como for, voltando ao caso em questão, diria que há umaforte convicção popular de que pelo menos os eleitos pelo voto proporcional devam ser fiéisao partido pelo qual se elegeram.

Mas a questão da fidelidade partidária nos remete ainda a outro problema: comoabordar os motivos que levaram os eleitos pelo voto partidário a mudar de partido. Se ospolíticos deixam o partido porque esse descumpriu compromissos eleitorais ou mesmoestatutários, como fica a questão? Um caso delicado é dos petistas que deixaram seupartido para fundar o PSOL. Seria o Tribunal Eleitoral que julgaria se eles violaram ou nãoseu compromisso com o partido, ou se foi esse que descumpriu seu programa? Foi a

6 – Ver meu artigo “Sobre o voto obrigatório”, publicado no livro Reforma Política e Cidadania, organizado por PauloVannuchi et al. e prefaciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (SP: Fundação Perseu Abramo, 2003), disponíveltambém em http://www.renatojanine.pro.br/Brasil/sobreovoto.html.

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maioria do partido ou foram eles que violaram o estatuto partidário? Pior ainda, cabe a umtribunal decidir se a maioria do partido violou o estatuto? A corte judicial estaria seimiscuindo no fórum tipicamente partidário e emitindo uma sentença condenatória a umpartido com um rigor quase inaceitável. Imaginem o que seria o Tribunal Superior Eleitoraldecidir que o PT – ou o PSDB, em alguma privatização – violou seu programa.

Concluo com a questão das imunidades. Diria que esta faz parte das medidas ampliadoras.Entendo que a imunidade que estamos discutindo é basicamente a do parlamentar. Em algunspaíses, o presidente da República tem uma imunidade majestática durante o exercício dopoder. Não pode ser processado por crimes comuns enquanto exercer a presidência. Essa éuma concessão que a sociedade faz para que o presidente não perca o mandato por uma falhaque é menor, em face de sua responsabilidade perante a sociedade inteira. No caso dosgovernadores isso é discutível; no caso dos prefeitos, aceitamos e mesmo queremos que elessejam destituídos por crimes quaisquer. Parece que é mais ou menos essa a nossa tendência:uma certa imunidade presidencial, talvez dos governadores, não dos prefeitos.

A questão então se coloca para os parlamentares, sobretudo, e é em relação a eles quehá uma sensível insatisfação social. De novo é um sentimento ético, dos que sentem que omandato assegura a impunidade, mais que a imunidade. O sentido original desta éproteger o eleitor, não o eleito: é proteger o deputado na medida em que ele exprime aopinião de seus representados. Mas, no Brasil, a sensação dominante é de que se trata deuma maneira de conseguir não ser punido por crimes comuns efetivamente praticados.Talvez, enquanto a concessão ao presidente de não puni-lo por crimes comuns seja umpequeno preço a pagar para preservar o mandato que cinqüenta ou mais milhões de votoslhe conferiram, no caso dos parlamentares sejam justamente os crimes comuns que nãodevam ter nenhum tipo de proteção, chame-se ela como for. O resultado dessa má situaçãoacaba sendo que, ante a pressão popular, ante uma nova convicção ética e política, oJudiciário ocupa o lugar que os dois poderes aos quais cabe legislar deixam vago.

Concluo propondo o seguinte: quem foi eleito pelo povo não deve ficar impune, mastampouco deve estar sujeito à ação de qualquer juiz isolado. Um parlamentar não pode serdeixado ao julgamento por apenas um indivíduo. Talvez pudéssemos manter o julgamentopela Casa do parlamentar, mas com uma investigação realizada externamente. Melhorainda seria se houvesse instâncias mistas, com juízes, promotores, representantes dasociedade civil e parlamentares, para julgar os pares destes últimos. Esse é um ponto quetem maculado a imagem do Parlamento e é sua responsabilidade resolvê-lo. Não podemosdeixar que a instituição democrática por excelência, a do debate, a da diversidade, tenha aimagem manchada. Cabe a ela corrigir-se. Cabe a nós insistir para que isto aconteça.

MINISTRO NELSON JOBIMEx-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)

Saúdo a todos da mesa, senhoras e senhores presentes. Gostaria de partir deexperiência pessoal e tentar identificar o problema do nosso sistema político e suasconseqüências. O primeiro princípio básico que temos que trabalhar é o seguinte: o partidopolítico disputa eleição para ganhar e não para marcar posição. Como um partido políticoganha uma eleição proporcional? Conquistando o maior número de vagas.

No Brasil, o nosso sistema determina uma divisão espacial das vagas no CongressoNacional nas 27 unidades federativas, incluindo o Distrito Federal. Vou tomar o meu estado,o Rio Grande do Sul, como exemplo. O Rio Grande do Sul tem 31 vagas na Câmara dos

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Deputados. É talvez um dos únicos estados, junto com o Paraná, cuja proporcionalidadecom o número de vagas está ajustada ao número do eleitorado. Como um partido políticoconquista o maior número nessas 31 vagas? No cálculo do nosso sistema, dividindo onúmero de eleitores que compareceram à eleição e votaram validamente – a soma dosvotos no candidato com os votos de legenda, mas antes se acrescentava o voto em branco– pelo número de vagas, para definir o coeficiente eleitoral.

Vamos estabelecer para efeito de cálculo que o coeficiente eleitoral seja 200 mil votos.Os votos válidos divididos por 31 vagas correspondem a 200 mil votos. Esse seria ocoeficiente eleitoral do Rio Grande do Sul. O que significa que cada vaga dentro da Câmaracusta ao partido 200 mil votos. Feito isso, chega-se agora ao cálculo do coeficientepartidário. Toma-se o número de votos dados ao partido e divide-se pelo coeficiente, pelos200 mil. Vamos supor que esse partido tenha obtido 2 milhões de votos. Divididos por 200mil, o partido conquistou 10 vagas. Foram eleitos os 10 mais votados naquele partido. Essassão as regras institucionais do jogo eleitoral vigente.

O eleitor no nosso sistema tem aquilo que se chama voto uninominal. O eleitor votaem um dos candidatos oferecidos pelos partidos. O problema é como compor a lista decandidatos. Quais são os nomes que precisamos oferecer aos eleitores? A primeira premissabásica obrigatória é: precisamos ter candidatos que produzam votos. É com a soma dosvotos dados a esses candidatos que vamos chegar aos 2 milhões de votos para eleger 10deputados federais. Logo, precisamos fazer uma indicação, uma composição doscandidatos do partido que produzam votos.

Com base na minha experiência política no PMDB do Rio Grande do Sul construí umatipologia do perfil dos candidatos que interessavam ao partido. É uma tipologia muitoprimitiva, mas que responde até hoje ao tipo de eleição proporcional que temos no Brasil.Inicialmente, olhávamos o estado do Rio Grande do Sul e identificávamos aquelascategorias profissionais no estado que eram organizadas. Criava-se assim o primeiro tipo decandidato: os candidatos de categorias profissionais.

No Rio Grande do Sul, famosa Brigada Militar Gaúcha tinha capilaridade. E não só tinhacapilaridade, mas interesses a defender, porque era um órgão do estado e tinham umaorganização. Os partidos saíam atrás sempre de um candidato que pudesse trazer os votosda Polícia Militar para dentro da legenda do partido. Escolhíamos então o presidente doClube de Subtenentes de Sargentos, um major que tinha liderança, um ex-comandante daBrigada, e esse cidadão, esse personagem, era convidado para ser candidato.

O mesmo se diga com a Associação dos Professores Públicos estaduais. Todos ospartidos tinham candidatos que vinham dessa categoria. O mesmo se diga da Polícia Civil.Estou falando objetivamente do que se passa e não do que deveria se passar. Depois depreenchermos o conjunto de categorias profissionais, saíamos atrás do segundo tipo decandidato, que denominei na época de candidato de aparelho. Era um candidato que tinhaum instrumental que lhe dava acesso à população. Subdividi o candidato de aparelho emduas categorias: os candidatos de mídia e os candidatos evangélicos.

Na década de 1970, com o futebol em alta, copa do mundo, os candidatos preferidos eramos cronistas esportivos. Não era o radialista, mas o cronista, aquele que depois do jogo fazia oscomentários e a população ouvia aquela opinião sobre o Internacional, o Grêmio. Escolhíamosos cronistas esportivos. Depois de passada a efusão do tricampeonato de futebol, os cronistasperderam o espaço e vieram então os personagens, que ainda hoje se conservam em algunsestados, os donos de programas assistencialistas. São aqueles que resolvem o problema dahospitalização, da muleta, dificuldades reais da população.

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Fomos então atrás desse personagem. Tivemos casos, e aqui vem uma coisatipicamente gaúcha, de alguns programas, como o da Rede Brasil Sul de Comunicações,que eram sucesso de audiência. A Rede Brasil Sul de Comunicações tinha um programa às12h30. O gaúcho almoçava em casa, hábito que existe até hoje, e às 12h30 iniciava-se oprograma chamado “O jornal do almoço”. Eram notícias leves e havia, fundamentalmente,uma exposição que eu chamava de “digestiva”. Falava de amor, de festa, naquele ambientede sonolência, após refeição. Ele foi convidado pelo PMDB à época para ser candidato adeputado federal. O presidente do partido lhe deu uma carta autorizando-o a ter posiçõesque bem entendesse. Não se cobrava dele nenhuma responsabilidade com o partidoporque o partido precisava dos votos dele.

Esse cidadão foi o deputado federal Jorge Alberto Mendes Ribeiro, pai do atualdeputado Mendes Ribeiro. Ele foi candidato e obteve 330 mil votos. Foi o mais votado emnúmeros absolutos do Brasil, em 1996. Um outro candidato, que não morava no RioGrande, fez 300 mil votos, porque teve uma exposição na mídia durante o período damorte de Tancredo, o Antonio Brito, que depois se consolidou como político.

A segunda categoria dos candidatos de aparelhos constitui-se dos evangélicos. Porvolta de 1975, os partidos detectaram personagens que tinham público, tribuna e nãoprecisavam de recursos. Eram os pastores evangélicos. Os partidos foram atrás deles. Eleseram examinados na perspectiva da capilaridade que tinham no estado e dos seus templos.E nós trouxemos os pastores evangélicos por quê? Porque os partidos precisavam dos votosdos crentes que somariam aos dois milhões.

O terceiro tipo de candidatos é o regional. Com a reforma tributária de Bulhões Campos secriou o imposto de circulação de mercadorias. Isso alterou substancialmente a participação dosestados na divisão da receita pública nacional. Era o momento da política dos planos nacionaisde desenvolvimento. O Governo Federal votava o Plano Nacional de Desenvolvimento e depoisvotava o orçamento. A proposta orçamentária era enviada ao Congresso e não poderia seremendada pelo Parlamento, por quê? Porque aquilo era a execução do Plano Nacional de Desenvolvimento que estava, digamos, sendo disciplinado ou encaminhado pela via daproposta orçamentária. Nesse momento, aguçando uma tendência que já havia, percebeu-seentão que a política pública de desenvolvimento se fazia com verba federal e não com verbaestadual. Estados e municípios recebiam o mínimo para atender a folha. E todos osinvestimentos que estados e municípios pretendiam fazer dependiam da liberação de verbasfederais. Surgiu a necessidade de se ter nas regiões do estado, representantes regionais junto ao Poder Executivo Federal para conseguir liberação de verbas para construir estrada, colégio, o saneamento de determinada região, reivindicações absolutamente legítimas. Surgiram entãoo que chamávamos de “candidatos distritais”, que eram candidatos preferenciais do diretóriomunicipais do partido. Precisávamos escolher um candidato que pudesse representar a região.Esse candidato era apoiado pelos diretórios da microrregião. Nenhum um outro candidato dopartido poderia entrar naquela região para fazer campanha.

Em 1986, eu era candidato por Santa Maria, pelo PMDB, e o Tarso Genro, pelo PT. Nósdois não brigávamos. O Tarso Genro era ligado à época ao PRC, tendência do PT. Nós nãotínhamos disputa porque nem ele tirava voto de mim nem eu dele. O Paulo Paim não podiafazer campanha em Santa Maria. Só pôde fazer campanha junto a um distrito chamadoCamobi, onde tinha um líder ligado à igreja que o apoiava. Os outros candidatos do PMDBnão entravam em Santa Maria, porque a minha militância partidária de Santa Maria nãodeixava. O CDL, Clube dos Diretores Lojistas, fazia uma campanha genérica: “Vote emcandidatos ligados à Região, votem em candidatos regionais”. Os municípios precisavam deinvestimento de desenvolvimento e não havia nisso nada de ilicitude.

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Este era o quadro real que existia e que de certa forma permanece no país. O desastrepara o candidato de categoria profissional era que seu partido ganhasse o governo. Porquê? Porque os governos não iam atender às reivindicações da categoria. Criava-se entãoum dilema: ele ficava fiel ao partido que lhe deu a legenda ou aos eleitores que lhe davamvoto? Lembrando que o partido o chamou exatamente para obter aqueles votos que eramdele, o que acontecia era que ele acabava saindo do partido, porque o governador e o seupartido não atendiam às reivindicações dos seus eleitores. O desastre de candidato decategoria profissional é ser governo.

Por sua vez, os candidatos de mídia e os pastores evangélicos são fiéis a quem? Os primeiros à sua imagem. É falso dizer e a experiência nos ensina que esses candidatosde mídia são dependentes dos danos das empresas. Não é verdade. Eles são fieis à imagemque eles fizeram, por meio do rádio. Os candidatos evangélicos eram fiéis a quem? Aointeresse do seu grupo.

No tempo da Assembléia Constituinte, na disputa em torno do mandato Sarney, sequatro ou cinco anos, o PMDB, liderado por Mário Covas, queria quatro anos, Um dos nossosliderados na época veio me procurar depois. Ele me mostrou uma pasta enorme com cartasdo partido, das lideranças municipais, atestando que o problema deles lá era o asfaltamentoda estrada de uma cidade à outra, da fronteira com a Argentina. Dizia as correspondências:não nos interessam os quatro anos, nos interessa o asfaltamento, consigam o asfaltamento evotem com quem viabilize o asfaltamento. Ele resolveu ser fiel ao partido e votou pelos quatroanos, mas nunca mais voltou a ser deputado. Vieram as cartas para ele, chamando-o detraidor, porque não atendeu aos interesses da região. Ele foi candidato à reeleição e teve 10%dos votos naquele município porque não resolveu os problemas do município.

Em síntese, esse sistema eleitoral no país funcionou, mas se esgotou. Esgotou-se porque arepresentatividade e a governabilidade não caminham no mesmo ciclo ou vértice. Quanto maisrepresentativo for um parlamento menos capacidade decisória tem. Precisamos encontrar umcaminho absolutamente necessário porque se nós não tivermos governos eficazes e que dêemresultados, a população o abandona. Precisamos criar condições de desenvolvimento. Não sepode cobrar do Governo Federal, nem do presidente Lula, que vai negociar dentro do Congressocom seus representantes partidários individualmente. O fato é que não adianta negociarpartidariamente porque as estruturas partidárias se compõem com esses personagens, eleitospor esse sistema que tem uma outra agenda de sucessão e de sobrevivência. Não se exige dosparlamentares o suicídio nem que sejam heróis.

Temos problemas com a fidelidade partidária porque o sistema não funciona. A fidelidadeé o voto e não ao partido. A legenda do partido nem aparecia direito nos partidos. Só foicolocada em destaque quando a lei exigiu. O eleitor nos disse que não votava em partidos,votava em pessoas, com orgulho. E depois você atrela essa pessoa a um partido que não tevenada que ver com o voto. Como é que faz? O sistema não prioriza isso.

Creio que a fidelidade nasceria na hipótese de termos exatamente uma reforma políticaque equilibrasse a relação entre representação e partido. Diria, para encerrar, que nãoexistem sistemas eleitorais bons ou maus, que possam ser julgados a partir de perspectivasmeramente teóricas. Existem sistemas eleitorais que funcionam e aqueles que nãofuncionam. A história nos mostra que esses sistemas eleitorais passam a funcionar numdeterminado momento e se esgotam num outro momento. Precisamos ter a lucidez de trabalhar em um acerto de contas com o futuro e não uma mera retaliação com opassado. Obrigado.

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• DEBATEDORES

RODRIGO COLLAÇOPresidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)e Conselheiro do CDES

Boa-tarde a todos. Cumprimento o presidente da mesa, demais integrantes, senhorase senhores. Na verdade, talvez eu seja nesta mesa aquele com menos condições de falarsobre os temas aqui tratados. Primeiro porque temos dois cientistas políticos que estudamesta matéria e são reconhecidamente atuantes na área. Temos também o ministro Jobim,que viveu a experiência de ser deputado, ministro da Justiça e presidente do TribunalSuperior Eleitoral. Farei apenas alguns comentários, como presidente de uma associaçãoque promove uma campanha pela reforma política, procurando esclarecer a população: aAssociação dos Magistrados Brasileiros.

Vou abordar dois pontos apenas e gostaria que eles fossem comentados pelos doisexpositores: a cláusula de barreira e o esgotamento do sistema eleitoral. Caso o Supremonão tivesse liberado a cláusula de barreira, em vez de 20 partidos no Congresso Nacional,teríamos sete. Na concepção dos senhores, a cláusula traria vantagens, decorrentes doaumento da governabilidade, ou o sistema é melhor assim como está, por proporcionar umgrau maior de representatividade?

O outro ponto que gostaria de abordar diz respeito à constatação praticamenteunânime do esgotamento do nosso sistema político atual. Caso a reforma política não seconcretize, mesmo que seja para entrar em vigor daqui a uma ou duas eleições, qual o riscopara a nossa democracia, tendo em vista acontecimentos próximos, na América do Sul,mais precisamente na Bolívia e no Equador, em que os parlamentos estão sob sistemasortodoxos de não-renovação? Eu gostaria de propor essas duas questões aos debatedores,porque acho que são importantes e elucidativas ao público.

FERNANDO ABRÚCIOProfessor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP)

Boa-tarde a todos, agradeço o conselho pelo convite. Ouvi com muita atenção as duasexposições. Uma usando um argumento lógico-teórico e outra mostrando a prática dapolítica. Gostaria de antes fazer um comentário mais geral para depois me ater aos trêspontos das exposições: a cláusula de barreira, imunidades e a fidelidade partidária.

A reforma política é um termo histórico que pode incluir mudanças no sistemapolítico das mais variadas. Em uma definição bastante ampla, reforma política é oaperfeiçoamento do desenvolvimento das instituições. Esse termo aparece de formadiferenciada em vários países. Nos primeiros momentos de sufrágio universal havia umprocesso de reforma política. Na passagem de regimes autoritários para democráticoshouve toda uma discussão sobre o fim do sistema autoritário que dizia respeito a umareforma política. O que estamos debatendo, em grande medida e que se concentra noeixo eleitoral partidário, é uma reforma política. Isso não quer dizer que a reforma políticase esgote nisso. Num certo momento, no Brasil a reforma política se concentrava nosistema de governo.

Boa parte da literatura da ciência política no século vinte se sustentou no debate sobreo melhor sistema de governo. Se nós pensarmos nos sistemas políticos modernos, maispróximos e democráticos, eles nasceram, em parte, da reforma do sufrágio, mas a grande

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reforma política que criou os sistemas democráticos modernos foi a reforma da relaçãoentre política e burocracia, com o fim do sistema de patronagem.

Foi assim nos Estados Unidos e na Inglaterra no século XIX. Nos Estados Unidos foi essaa grande reforma política se nós pensarmos nos grandes reformadores norte-americanos.A agenda de reforma política deles incluía a reforma da burocracia e da patronagem. Demodo que a reforma política é histórica e depende do diagnóstico do momento. Isso nãoquer dizer que não existam diagnósticos melhores. Todos os diagnósticos como asideologias vêm ao mundo de alguma parte da realidade. Isso é inexorável.

Mas quando estamos falando em reforma política, nos referimos não só de uma coisahistórica, mas de um diagnóstico do momento atual brasileiro. Por que chegamos a estediagnóstico? Podemos pensar em quatro momentos de reforma política no Brasil,recentemente. A primeira fase estou falando do Brasil recente, foi o processo de transiçãoautoritarismo para a democracia.

A Constituição de 1988 foi um marco nesse sentido. Todo trabalho feito na Constituinte foium processo de reforma política. Nós todos aqui em grande medida participamos disso. OMinistro Jobim mais ainda participou. Esse processo foi importantíssimo porque a Constituiçãode 1988 aumentou o sufrágio no Brasil. Alguns estudos internacionais têm mostrado acorrelação estatística entre o aumento do sufrágio universal e a melhoria da educação. E noBrasil os analfabetos ficaram sem votar até 1988. Quem não vota não tem como demandar. Ea educação brasileira melhorou bastante nas duas últimas décadas. Temos ainda longo caminhoa percorrer, mas a reforma do sufrágio desempenhou um papel importante nessa direção.

Após 1988, outra reforma foi o aperfeiçoamento do controle institucional. E o controleinstitucional brasileiro ainda tem muitas falhas, ninguém duvida disso. Mas é incomparávelo controle institucional no Brasil hoje com o do passado. Quando a imprensa diz que esseé o governo mais corrupto da história do país é falta de conhecimento histórico,independentemente dos escândalos que de fato ocorreram.

Este país nunca teve controle institucional republicano. O primeiro foi a partir de 1988.Apesar dos erros que podem existir no Ministério Público, por exemplo, devem-se reconheceros avanços. Imagine se houvesse o Ministério Público de hoje no período 1946-1964 ou noregime militar. Houve também avanços nas formas de democracias semidiretas. Experiênciasque nós não tínhamos ou conhecíamos muito pouco. É verdade que no final do regimeautoritário já havia manifestações nesse sentido. Hoje há um avanço enorme. Quando o Brasilteve isso antes? Se pegarmos estudos internacionais na área de Ciência Política, o Brasil é umpaís muito interessante porque tem algumas formas de democracia semidiretas. Os paísescentrais olham e falam assim: “Engraçado, eles estão inovando e nós não”. Veja queinteressante! E também houve o surgimento de novos atores de demanda.

O debate hoje pela manhã foi muito interessante, em todos os sentidos. Discutiu-se aquestão de gênero, a questão étnica. Quando que isso houve no Brasil? O surgimento de novosatores nas demandas é resultado de um processo muito recente e rápido de redemocratizaçãodo país. O Brasil hoje é a terceira maior democracia eleitoral do mundo. A primeira é a Índia.O voto lá não é obrigatório, mas na última eleição votaram, se não me engano, 380 e poucosmilhões. Não temos a menor idéia do que significa isso, imaginar quase 400 milhões depessoas votando. Em segundo lugar são os Estados Unidos. A terceira democracia eleitoral é oBrasil. Estou querendo ressaltar isso, não para dizer que não há problemas, depois falo deles,mas para mostrar o quanto se avançou na democracia brasileira e que esta primeira fase temum papel muito importante que não pode ser negligenciado, e mais, que os frutos dessaprimeira fase não podem ser jogados fora.

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Na Constituinte houve toda discussão sobre o mandato do presidente, sobre o sistemade governo e o diagnóstico final do presidente Sarney, que esta Constituição tornava estepaís ingovernável. Depois vem a experiência do presidente Collor, convenhamos um testede ferro para a democracia brasileira. Um presidente bonapartista não se sustentou. O fatoé que se pensava, nessa segunda fase, que o sistema político brasileiro tinha que sermudado na sua totalidade, porque o país era ingovernável.

Havia uma fragmentação partidária gigantesca que se misturava ao federalismo. Qual foio resultado prático e histórico desse período? O plebiscito sobre sistema e forma de governo.Por outro lado, já começava uma terceira fase de reforma política, pois, embora o Brasil tenhaoptado pelo presidencialismo, os cidadãos brasileiros não se esqueceram que havia ali, naquelesistema, a despeito de seus ímpetos e impulsos democratizantes, problemas.

A terceira fase se dá a partir do plebiscito sobre a forma de governo e se define pelaintrodução de uma série de reformas incrementais no sistema político brasileiro. Fico bravoquando colegas da Ciência Política são contra todas as reformas. Dizem que o problema dareforma política é preocupante porque não sabemos os seus efeitos. Digo: “Mas, o Brasilfez várias reformas”. Uma foi sobre a revisão constitucional, quando casou a eleiçãopresidencial com a eleição estadual, o que garantiu maior governabilidade. FernandoHenrique e Lula não teriam governabilidade se nós não tivéssemos o sistema eleiçãocasada. São mudanças que vieram quase sem querer, mas vieram outras mais, asintencionais, como a CPI do orçamento. Fizemos mudanças no orçamento, melhorias. Seolharmos mais adiante fizemos uma reforma do voto eletrônico, que cientistas políticos nãoacreditavam porque “o povo não sabe votar, vai ter dificuldade”.

O Prof. Jairo Nicolau mostra que sistema de voto eletrônico incorporou milhões deeleitores, que antes votavam brancos e nulos, porque não sabiam votar. A reeleiçãotambém foi uma reforma. Portanto, reformas vieram várias de lá para cá no sistemapolítico. Não se pode dizer que não houve reformas até agora. A da cláusula de barreira,que foi uma reforma muito bem pensada, mas o TSE a definiu como inconstitucional.Considero que houve um equívoco nesse sentido porque a cláusula de barreira tinha oapoio da soberania popular e possibilitava uma transição histórica para ninguém dizer queseus direitos adquiridos não estavam ali colocados. A realidade é que essa terceira fase foiincremental, trouxe mudanças.

Estamos numa quarta fase cujo desfecho ainda não sabemos. Gostaria de concluir comalgumas questões que me parecem importantes, a primeira delas, a própria demanda poruma reforma política, que se fortaleceu muito por conta da crise política de 2005. Esta éuma reforma cujo olho está no Legislativo mais especificamente naqueles que têm votoproporcional e mais diretamente da Câmara dos Deputados. Ninguém está discutindoreforma política e seus efeitos na Assembléia Legislativa ou na Câmara dos Vereadores. Estareforma está com o olho no Legislativo, no voto proporcional e na Câmara dos Deputados.Sua demanda nasce de duas causas. Uma do sentimento negativo em relação aosdeputados ou aqueles eleitos pelo voto proporcional. Esse sentimento da populaçãocresceu com os escândalos de corrupção. Não envolvem só deputados, mas eles ganhamuma proeminência gigantesca. Esta reforma, portanto, ganhou ímpeto, em parte por isso,mas em parte também pelo diagnóstico feito por cientistas políticos, juristas, meios decomunicação de massa, e o próprio Congresso.

O projeto do deputado Caiado vem nesse sentido de discutir a qualidade darepresentação. Não creio que se deva pensar separadamente representação política degovernabilidade. Os sistemas lidam com as duas coisas. Darei alguns exemplos. Na

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Dinamarca há muitas décadas se tem governos minoritários, com sistema muito maispróximo do proporcional, digamos assim, e governam.

No Brasil temos problema com a qualidade da representação e com a fidelidadepartidária. É um dos países do mundo com mais índice de amnésia eleitoral, isto é oseleitores não lembram em quem votaram. Não se pode controlar quem não se conhece. Emtermos de accountability, portanto, não é possível ter responsabilização dos governantes,se você não sabe em quem votou.

Passo então ao comentário dos três aspectos da exposição e começo com o problemada imunidade. No que se refere à imunidade é preciso ter muito cuidado, mas é possívelavançar no sistema que temos hoje. Aliás, reformas na imunidade parlamentar já existiramna terceira fase de reformas. As pessoas se esquecem disso, mas o Brasil já começou quantoa esse ponto.

O segundo aspecto é o da cláusula de barreira. Eu diria que a cláusula de barreiratem um componente mais importante que é o quão nacional e representativo é o sistemapolítico. Sobre o que disse o Renato Janine, eu diria que as medidas restritivas nãonecessariamente diminuem a democracia e as ampliadoras nem sempre a fortalecem.Muitas ampliadoras podem dificultar a democracia, podem acabar com ela e muitasrestritivas podem salvar a democracia. Pensemos no caso americano, muitas vezes o quesalvou os Estados Unidos de graves crises foi o sistema de check and balance, oscontroles institucionais.

Restrições como a cláusula de barreira criam mecanismo que medem a qualidade darepresentação nacional de modo a premiar e a incentivar determinados partidos. Adiscussão da cláusula de barreira na verdade deveria ser mais casada com a discussão, queme parece importante, de separar representação nacional de representação local. Soufavorável a ter cláusula de barreira nacional e possibilidade de representação de partidos regionais, no plano local. Por que o poder local deve ter uma estruturapartidária igual ao poder nacional? Isso não faz o menor sentido. Quando você vai aosEstados Unidos ou a Alemanha e conta isso, as pessoas não acreditam. Portanto, é possível sim ter uma cláusula de barreira no plano nacional e ampliar a liberdade noplano subnacional.

O problema da fidelidade partidária é que como outras regras do sistema geram umjogo de barganhas políticas pouco visíveis pelos dados quantitativos das votações noCongresso. O eixo da política do Brasil está na distribuição de cargos. É este o eixo dapolítica e se não mudarmos esse eixo as reformas podem melhorar um pouquinho comomelhoraram em 1988, melhoraram recentemente com reeleição, podem melhorar com fimde coligação na eleição proporcional.

O eixo do sistema político brasileiro está na distribuição de cargos. Enquanto nãomexermos com isso, não poderemos melhorar a representação política brasileira. O Brasil jáestá melhorando, mas se não mudar a estrutura de cargos esse sentimento negativo,gerado pela onda de corrupção, da “falta da vergonha na cara dos políticos”, como ouvioutro dia em uma pesquisa qualitativa que fazia, não vai modificar. São mais de 20.000cargos públicos no Governo Federal e se somarmos mais os estados, vamos ter algo emtorno de 200 mil cargos públicos em comissão, que era o número que havia nos EstadosUnidos em 1883.

Não sou favorável a todas as reformas, mas a uma boa parte delas, sobretudo aproposta do deputado Ronaldo Caiado. É muito interessante estarmos discutindo isso, mas

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duvido que o Congresso discuta a distribuição de cargos no Brasil. Essa é a grande diferençado Brasil com as outras democracias consolidadas, que vão além da discussão do sistemaeleitoral e partidário. Obrigado.

• DEBATE COM O PLENÁRIO

CARLOS ALBERTOCentral Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB)

Sou de opinião também que o sistema eleitoral brasileiro tem falhas, dificuldades, mastem muitas coisas boas. Esse sistema eleitoral permitiu que nós elegêssemos por duas vezesum operário Presidente da República e que elegêssemos também trabalhadores de váriosestados. Estamos vivendo um momento especial de discussão da reforma política. Ademocracia vem avançando no Brasil que é possível transformar aumentos de quantidadenum salto de qualidade.

Uma das minhas preocupações relaciona-se aos órgãos que não estão sob controlepúblico. O controle público é absolutamente essencial para as instituições brasileiras. Oprocesso de monopolização da mídia, com poder que ela tem hoje sobre a opinião pública,é uma coisa que prejudica a democracia. Tornam-se, portanto, necessários ademocratização da mídia e o estabelecimento de critérios claros nas pesquisas eleitorais.

O financiamento público de campanhas vai melhorar o sistema eleitoral e acho que aslistas ajudam nesse sentido. Meu otimismo em relação a essas mudanças é porque achoque interessa à grande maioria da população, aos trabalhadores, às mulheres e outrossetores também. Principalmente as mulheres que representam mais da metade dapopulação. Então, isso interessa e muito, porque se unifica a população, unifica o setorpopular, você vai ter muito mais força de pressão.

ZILDA ARNSCoordenadora da Pastoral da Criança e Conselheira do CDES

Gostaria de cumprimentar a todos que falaram na mesa. Achei assim muitointeressante e profundo o que foi dito, mas duas coisas, pelo que notamos, fazem muitomal ao Brasil. A corrupção, talvez com o financiamento público possa diminuir, e aqualidade dos candidatos. Faltam-lhes a ética.

Como se poderia coibir a corrupção? E como coibir também a corrupção dentro doEstado pelo sistema de nomeações? Talvez devesse haver um plano de carreira em que dosegundo escalão em diante não precisaria mudar com um novo ministro. Então, mepreocupa muito esse atraso enorme no Brasil.

Deveria também haver uma valorização da educação. Sei que tudo depende da lei e daeducação de cada um. A corrupção é o cancro no País, assim como a concentração derenda é a coisa mais violenta e parece que não tem jeito de mudar. Gostaria de saber se foiestudada alguma questão que pudesse induzir a esse caminho de combate à corrupção ede melhora da educação.

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CHICO VIGILANTEEx-Deputado Federal, ex-Deputado Distrital e Representanteda Confederação Nacional dos Vigilantes

Uma vez no plenário da Câmara dos Deputados ouvi do deputado Prisco Viana: “Daquimais uns anos você vai chegar nas galerias e olhar aqui embaixo e ver umas três ou quatropessoas assim abatidas, um paletozinho puído e tal, são os políticos por vocação, que vãoestar aqui dentro do Congresso, muito poucos. Os demais serão todos representantes degrupos ou interesses que não são exatamente os do País”. Acho que chegamos a esseponto, porque o modelo se esgotou. Então, a hora é realmente de mudanças.

Gostaria que se aprofundasse mais a visão a respeito do financiamento público. Não queseja a solução de tudo, mas ajuda. Queria ouvir a opinião do ministro Nelson Jobim sobre umponto que ouvi uma vez do presidente Lula. Nós queríamos trazer o professor FlorestanFernandes para ser candidato, e ele não queria se filiar em partido, e o Lula tinha uma opiniãonaquela época de que tínhamos de ter uma cota para candidatos da sociedade, ou seja,pessoas reconhecidamente com capacidade, mas que não queriam se filiar a partido nenhum.Eu queria saber no momento em que se discute tanto lista fechada e tudo, o que o senhoracha. Se tiver espaço para designarmos uma cota para essas pessoas. Citando aqui umexemplo de corpo presente, a senhora Zilda Arns, tem prestado um serviço extraordinário aopaís, mas que não vai se vincular a nenhum partido, mas que viria efetivamente para dentrodo Congresso para dar mais amplitude à missão que ela desenvolve.

FERNANDO HENRIQUE OLMEDO MONTEIROFEQUIMFAR – Federação dos Trabalhadores nas IndústriasQuímicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo

Eu tenho duas perguntas: uma para o ministro Jobim e outra para o Fernando Abrúcio.A primeira gostaria de dizer que fiquei um pouco assustado, ministro, quando da sua frase“quanto mais representativo o parlamento, menos poder decisório ele tem”. Eu queria queo senhor comentasse um pouco a respeito e que nós pudéssemos lembrar que o quediminui o poder decisório, não só do Poder Executivo como do Legislativo, é também adívida, interna e externa, que o Estado é obrigado a cumprir e que praticamente engessaos orçamentos e tantas políticas que são necessárias a um país.

Ao professor Fernando Abrúcio, quando o senhor fala de inovação de política demecanismos na democracia brasileira, eu queria que o senhor comentasse se isso teriaalguma ligação com orçamento participativo.

GONZAGA MOTAEx-governador do Ceará e Ex-Deputado Federal

Gostaria de fazer duas indagações, uma ao nosso ministro Nelson Jobim e outra aoprofessor Abrúcio. Primeiro ao ministro Jobim, uma vez que o ministro passou pelos trêspoderes, foi pessoa de destaque nos três poderes, perguntaria sobre o nosso artigo 2ª daConstituição, que trata da harmonia e independência dos poderes. Não está havendo umadesarticulação significativa dos poderes constituídos da República da União? O Executivo legislamais do que qualquer coisa, O Legislativo está julgando por meio das CPIs. E o Judiciário estáadministrando por intermédio de liminares. Então está havendo uma inversão, quando o

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Executivo legisla, o Judiciário administra e o Legislativo julga. Vejo ainda um quarto poder,como se diz, a imprensa, a nossa válvula de escape, a salvação que temos.

A segunda indagação é para professor Abrúcio. Sou economista e várias pessoas falaramque a democracia tem realmente evoluído bastante aqui no Brasil, nos seus aspectosinstitucionais etc., mas no aspecto econômico essa democracia não tem evoluído. A distribuiçãode renda é perversa. A distribuição tanto no aspecto pessoal, quanto regional, no aspectofuncional da renda. Quando a senhora Zilda falou com muito acerto na educação, é um aspectofuncional da renda que é má distribuída. A saúde não tem dinheiro. O Nordeste e o Sulnecessitam de ajuda. Estamos nos concentrando muito nos aspectos institucionais, estamosevoluindo, claro, mas esquecendo os aspectos econômicos. Muito obrigado.

• CONSIDERAÇÕES FINAIS DA MESA

MINISTRO NELSON JOBIMEx-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)

O Rodrigo Collaço se referiu ao problema da cláusula de barreira. O problema noBrasil é tratado de maneira curiosa. Em 1987, se tentou na Assembléia Constituinteestabelecer certo controle na representação partidária. Houve uma oposição porqueestávamos saindo de um Estado bipartidário, que vinha de 1964, e tínhamos queconsolidar uma série de partidos novos. Quem fez essa observação sobre esse tema,e relembro aqui como um dever histórico, foi o Virgílio Távora, ex-governador doCeará, que advertiu de que se fizéssemos a cláusula de barreira nós teríamos umretorno ao bipartidarismo porque os setores à esquerda se teriam que se agasalharnum partido de centro. Então, surgiu uma solução que foi proposta, isso consta dosregistros, pelo Pimenta da Veiga de distinguir a eleição do deputado da representaçãopartidária. Quando veio a legislação infraconstitucional misturou os dois aspectos.Enquanto que a Constituição dizia que o partido não funcionaria e, portanto,deputado eleito não teria o agasalho do partido, a lei infraconstitucional dizia outracoisa. E foi por isso que o STF disse que não poderia por força da Constituição aplicara cláusula de barreira.

Não sou muito crente de que o problema da cláusula de barreira vai resolver o problemade partidos. O problema não seria por aí porque a questão não é a cláusula de barreirasreduzir o número de partidos, ela visava reduzir o número de partidos com o exercícioparlamentar, que é outra coisa. A questão é que no nosso sistema tenta-se acoplar umsistema de cláusula de barreira dentro de um sistema de escolha de candidatos. O Ulyssesensinou uma coisa na época e aprendi: “As reformas só nascem em dois momentos: precisater o momento da catarse, que é o momento do grito, do choro, do pontapé, do ranger dedentes, depois vem a solução.” Estamos começando a trabalhar em cima dessa catarse porobra do presidente da Câmara, porque foi ele quem pôs em pauta a reforma política e fezbem, para criar a discussão porque antes era uma discussão teórica.

Quanto ao problema do financiamento público, Chico, tem ficado muito claro oseguinte: para ter financiamento público é preciso ter lista. Isso pela dificuldade de seestabelecer os critérios de financiamento das candidaturas individuais. A única forma seriaa formulação de uma lista partidária. Sou favorável de que a lista seja fixada em lei, a suaforma de composição, e seja autorizado aos partidos a dispor de forma diferente, porquea composição da lista do partido, uma lista bloqueada, vai depender da eficácia dessacomposição no resultado eleitoral. Ou seja, os partidos vão se ajustar no sentido de

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comporem listas que sejam viáveis eleitoralmente e não a partir dos interesses da burocraciado partido. Estabeleceria um modelo na lei e deixaria os partidos indicarem os nomes. Sequiserem ser autoritários que sejam, se a população quiser votar neles que vote, mas tentarestabelecer, a partir de nós, na perspectiva dos outros, não funciona.

O senhor Fernando da Força Estadual ficou preocupado com a minha afirmação dequanto mais representativo for o parlamento, menos hegemônico. Mas é essa a realidadee a produção legislativa paga um preço por isso. E entrando na questão levantada peloGonzaga Mota, da relação entre os três poderes, diria também que quanto mais menoshegemônico for esse parlamento, mais ambigüidade coloca no texto. Quando você podejogar para a lei ordinária ou complementar não tem problema. Porém, quando não se tema capacidade de resolver esse conflito, o Poder Judiciário entra com a interpretação da lei.

Esse tipo de entendimento acaba transformando o Poder Judiciário numa espécie dePoder Legislativo supletivo para resolver os conflitos que não encontrou maioria parasolucionar dentro do Congresso. Essa é a verdade. E aqui encerro para dizer por último, emrelação ao próprio Gonzaga, que essa desarticulação de poderes não existe, mas umajustamento. Lembre-se bem, o Brasil não é afeito a rupturas, mas a transições. O nossohistórico é um histórico de transições. Estamos em transições e por meio desses processos,mecanismos, vamos criando as coisas, como exatamente disse o Abrúcio. Essas mudançastodas vão se ajustando. Nós temos dois assuntos resolvidos: quem pode votar e quem deveser votado. Um outro assunto superado: a verdade eleitoral, o voto votado é o votoapurado. A urna eletrônica resolveu o problema. O problema que estamos discutindo nãoé a representação majoritária, mas exclusivamente a representação proporcional. Esse é otema do momento, pontual e que tem que ser assim. Se quisermos fazer uma reformaglobal não haverá consenso para nada. Obrigado.

RENATO JANINE RIBEIROProfessor da Universidade de São Paulo

Foi um grande prazer ouvir e aprender com os demais membros da mesa. Começo coma preocupação do Dr. Collaço, quando indaga se nossa democracia corre risco. Penso quetivemos um grande ganho, entre outros, no atual governo. Estamos numa situação em queentre 90 e 95% das forças representadas no Congresso, pelo menos, já tiveramresponsabilidade de governo. Não as pessoas necessariamente, mas seus partidos. Issointroduz um elemento de responsabilidade que é muito importante. É claro que aos olhosde alguns as concessões que o governo Lula fez foram demasiadas. Talvez ele pudesse nãoter feito algumas, mas o fato é que hoje temos um sistema dentro do qual não hápraticamente ator político competitivo, certamente, não em escala nacional, provavelmentenão em escala estadual, que não sinta uma responsabilidade de gestão.

Diria mais: hoje o risco Brasil está baixo porque há uma forte convicção de quequalquer gestor da política brasileira vai ser cauteloso. Se essa cautela é excessiva, é outrahistória. Mas não creio que nossa democracia corra risco. O risco que me preocupa é o dadeslegitimação da esfera política por parte da opinião pública. Esse descrédito não pairatanto sobre o Executivo, mas sobre os órgãos eleitos proporcionalmente. Sobretudo oLegislativo Federal, porque no fundo não sabemos muito sobre as assembléias estaduais emunicipais. Na verdade, um deputado estadual já comentou comigo que, enquanto ogovernador tem uma esfera de poder próprio, a respectiva assembléia não a tem. Sobre o

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que legisla? Não se sabe bem. Conhecem-se os assuntos sobre os quais se legisla nosplanos federal e municipal, mas o legislativo estadual é mais fraco em competências.

Já a senhora Zilda levantou o problema da corrupção. O que me incomoda nesse pontoé que quase todas as sugestões que tenho visto para enfrentar a corrupção dizem respeitomais a mecanismos do que à educação. Se fôssemos discutir a corrupção um tempo atrás,diríamos que a maneira de enfrentá-la é educando as pessoas para serem honestas. Hoje,quando se fala nisso, se costuma dizer que o problema se resolve com sistemas deinformatização mais transparentes. Esperamos que a máquina, o computador resolvam oproblema da corrupção. Acho pouco.

Escrevi recentemente o verbete de financiamento de campanhas para o livro que aEditora da UFMG fez sobre reforma política no Brasil7. O que me impressionou quandoconsultei a bibliografia a respeito foi ver sua maior parte discutindo quais as formas técnicasde evitar a corrupção, mas muito pouco a questão da res publica mesmo. A idéia derespeito à coisa pública, a idéia de uma educação republicana mal passa pela cabeça dequem quer definir meios eficazes de combater a corrupção. Acho isso preocupante, porqueé como se tivéssemos renunciado ao sentido cívico. É como se aceitássemos viver numacidade onde cada um procura maximizar seus ganhos. Então a maneira de evitar acorrupção é tornar a punição visível. Não se vai à raiz, à mudança de atitude.

A última questão retoma um pouco uma observação feita pelo Prof. Abrúcio sobre algoque eu disse, quando distingui medidas restritivas e ampliadoras. Não quis dizer que asmedidas restritivas reduzam o teor democrático e que as medidas ampliadoras o aumentem.Evidentemente, um Estado democrático precisa dos dois tipos de medidas. Mas deveríamosdefinir claramente o que está em jogo em toda essa questão. Se a questão é que existe umsistema que falhou, parece haver duas opções e nenhuma delas é perfeita: a lista fechada e ovoto distrital. A lista fechada exclui as candidaturas individuais e estabelece uma decisão pelospartidos. Tenho esperança de que os partidos pelos quais simpatizo façam prévias, primárias,eleições universais. Tenho esperanças de que os partidos que lancem candidatos só da suaburocracia ou máquina percebam, o mais tardar na segunda ou terceira eleição, que terão quese corrigir porque estarão perdendo votos. É um aprendizado.

O voto distrital tem de saída um grande problema, que é o recorte dos distritos, passívelde manipulações extraordinárias. Tem também o problema de que as minorias correm orisco de não ser representadas. Há o risco de provincianizar a representação. Por outro lado,ele pode reduzir o problema do financiamento. À medida que se aproxima o eleitor doeleito, pode-se reduzir o próprio financiamento. No limite, o candidato pode dispensar aprópria figura do partido. Embora sejam raros os eleitos que não pertençam a partidos emsistemas distritais, não há necessidade absoluta disso.

Os dois sistemas têm suas vantagens e desvantagens. Aqui estamos trabalhando,sobretudo, em cima do relatório Caiado. Trabalhamos numa direção que, afinal de contas,está mais dentro da tradição brasileira, a do voto proporcional. O voto distrital desde 1930foi abandonado pelos nossos costumes. Mas, de qualquer forma, todo sistema tem custos.A questão é dupla. Primeiro, qual o problema que queremos enfrentar. Parece que é o dacorrupção quase inevitável no caso do sistema atual. Segundo, qual o melhor meio deenfrentá-lo, ou pelo menos o preferido pela maioria. Mas não vejo alternativa fora dessasduas opções, o distrital (de preferência misto) e o proporcional com listas fechadas.

7 – ANASTASIA, Fatima, e AVRITZER, Leonardo (org.), Reforma política no Brasil, Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006,verbete “Financiamento público e privado”.

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FERNANDO ABRÚCIOProfessor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP)

Eu vou responder a três pontos que foram colocados. O primeiro da senhora Zilda Arnssobre a corrupção. A corrupção é muito multifacetada. Não creio que é forma política, nemesta reforma política resolva o problema da corrupção. O que eu poderia dizer é que se essesmecanismos da reforma política favorecem o maior controle dos representantes e isso já é umpasso importante para combater o problema da corrupção. Embora, repito, o centro dacorrupção no Brasil está na estrutura político-administrativa e não na político-eleitoral.

Suponho que o debate de hoje leve adiante uma quinta fase de reforma política que épolítico-administrativa. Sem mexer nessa estrutura é muito difícil reduzir a corrupção nopaís. Podemos fazer educação cívica, podemos melhorar a accountability, mas sem mexernesse problema, a corrupção ainda será muito alta. Todos os países do mundo quereduziram a corrupção enfrentaram dois problemas: o político-administrativo e o dapunição, na esfera do Judiciário. São as duas coisas que a literatura comparada mostracomo fundamental. O resto ajuda, mas não resolve. No Brasil, não se pode dizer que nãoesteja atacando a corrupção, o que não se está fazendo é atacar a impunidade. São duascoisas distintas e há uma sensação enorme de corrupção que permanece, embora muitosgrupos corruptos estejam sendo expulsos nos últimos 10 anos do sistema político. Asensação de impunidade abre portas para outros problemas.

Sobre o orçamento participativo, o Brasil não tem só essa experiência de inovaçãoinstitucional local, mas outras importantes experiências. Às vezes se fala no Brasil dedemocracia semidireta como algo igual ao orçamento participativo. Não é verdade, háoutras experiências de conselhos no Brasil. Existem modelos de conselhos na área demeio ambiente que o resultado é muito bem-sucedido. Na área de saúde razoavelmentebem-sucedida. Estou procurando dar esse exemplo para chegar ao orçamentoparticipativo. Acho que o orçamento participativo como idéia muito bom, mas dependedo modelo institucional das forças políticas que são agregadas nesse processo. Soumuito favorável a essas inovações institucionais, sobretudo no plano local, que no Brasiltem um espaço de inovação ainda pouco aproveitado, mas é preciso pensar como fazeresse processo.

Por fim, a pergunta do ex-deputado Gonzaga Mota sobre em que o Brasil melhorou,vou fazer um pouco de advogado do diabo. Primeiro não há uma clara vinculação entredemocracia e desenvolvimento. O país que mais tem se desenvolvido nos últimos 20 anos,e ninguém diz que a China é democrática. Diz-se a China é boa, mas longe de mim, dádinheiro, mas longe de mim. Mas o que sabemos é que estudos, como o do professorFernando Limongi, com um livro premiado nos Estados Unidos, mostram que é possívelimaginar numa série histórica mais longa que haja mais chance de certos regimesdemocráticos lidarem com as crises econômicas. Isso é uma coisa interessante porque se odesenvolvimento é um processo que vai produzir certas crises econômicas, a democracialida melhor do que os regimes não-democráticos.

O que eu diria é que a democracia lida melhor com crises econômicas. Que ademocracia torna mais claro o conjunto de problemas. A China hoje passa regularmentepor uma série de manifestações populares contra o governo. Isso não aparece na mídialocal. Os bancos no mercado mundial não dizem nada sobre isso. Isso não muda porque nofundo o capitalismo se move pela taxa de retorno, o que não muda a percepção dessesbancos. Só que isso está acontecendo.

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No Brasil vemos o que está acontecendo. Nunca a desigualdade social ficou tão clarae se tornou um tema de discussão no país como hoje. Se olharmos indicadores sociais,todos têm mudanças para melhor. Pela primeira vez na história a desigualdade social é um fato tematizado no país e isso não é pouco porque só assim poderemos colocarcomo prioritária a questão da educação. Um movimento de todos pela educação só podenascer num contexto em que se coloque de outro sentido. Não nascia antes, pois antesera importante construir indústrias, seja no empresariado paulista, seja a Sudene, o importante era construir indústrias, se o Brasil tivesse nos 50 anos passadosinvestido em educação, pensado nessa sociedade melhor não pior hoje, mas isso está napauta, graças à democracia.

Por fim, mesmo olhando os dados brutos o Brasil melhorou. Do ponto de vista doíndice de Gini tem tido melhores, do ponto de vista do IDH tem tido melhoras. É só olharos dados, embora sejam menores do que gostaríamos. Diria que talvez a área queprecisamos aumentar mais a democracia seja a política econômica. É importante como hácertas searas das políticas públicas que são muito protegidas do debate democrático. Épreciso que nós possamos ter a condição de discutirmos democraticamente essas políticas.Não estou propondo nada de revolucionário ou coisas afins porque é preciso pensar quedemocraticamente eu sou a favor de autonomia, independência não existe no conceitoconstitucional, autonomia do Banco Central. Mas para termos uma autonomia do BancoCentral, e nós temos hoje uma autonomia de fato, não de direito, é preciso ter uma sériede regras, de accountability.

O Brasil não está cumprindo do ponto de vista legal e democrático as metas de inflaçãocomo deveria. Portanto, queria dizer que a democracia melhorou muitas coisas no Brasil,mas talvez não tenha entrado em uma série de searas, como o desenvolvimentoeconômico, a segurança, a urbanização. Mas a única saída para isso é apostar mais nademocracia em longo prazo. Obrigado.

RODRIGO COLLAÇOPresidente da Associação dos Magistrados Brasileiros(AMB) e Conselheiro do CDES

Muitas pessoas se candidatam a mandatos na Câmara dos Deputados em busca deforo privilegiado. No Brasil, o foro privilegiado está efetivamente associado à impunidade,não por imaginação da população, mas por dados concretos. Recentemente vimos que oSupremo Tribunal Federal julgou um caso de 20 anos atrás. E não julgou nenhum outrocaso. Isso leva a uma série de distorções que estão presentes hoje na vida política. Otrabalho da Polícia Federal não é mais um trabalho destinado a produzir efeitos noJudiciário, mas na própria mídia. Então, as pessoas já não acreditam mais que possa haverum julgamento a respeito de quem é culpado ou inocente, e se satisfazem com olinchamento produzido pelo uso indiscriminado de algemas ou pelo vazamento degravações telefônicas.

O Judiciário é um poder que interpreta mal o clamor social. Interpreta mal, na minhavisão, porque não dá respostas a esse clamor pelo fim da impunidade. O que se quer é quequem é culpado cumpra a pena e quem é inocente seja absolvido. Mas é evidente que oJudiciário não pode sofrer pressão da opinião pública para condenar ou absolver. Noentanto, a pressão para dar prioridade a certos segmentos de processos num dadomomento do país é absolutamente legítima.

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A pressão popular é legítima e cabe ao Judiciário, como poder de Estado, atender aesta demanda. Desta forma, teremos condições de dar prioridade a certos julgamentos eproduzir decisões a respeito de quem é culpado ou inocente, contribuindo, inclusive, coma solução de problemas como o vazamento de escutas telefônicas ou utilizaçãodesnecessária de algemas.

O foro privilegiado no Brasil acaba sendo um foro de impunidade. Há duasformas de acabar com isso. A primeira delas é a sua retirada da Constituição. Masisso me parece difícil, até porque o movimento no Congresso vai exatamente nosentido contrário, pois há uma proposta de emenda constitucional para estender o foro privilegiado também a ex-autoridades, deixando de ser uma prerrogativadaqueles que estão no exercício do mandato. A outra forma é com o julgamentodefinitivo, punindo quem tem que ser punido e absolvendo quem tem que serabsolvido. Muito obrigado.

RODRIGO ROCHA LOURESPresidente da Federação das Indústrias do Estado doParaná (FIEP) e Conselheiro do CDES

Encerrando os trabalhos, queria deixar a minha contribuição. Procurando sintetizar,gostaria de dizer que me marcou a análise feita pelo ministro Nelson Jobim de que a disputanão é extrapartidária nem intrapartidária e que, por sua vez, os representantes têm umafidelidade maior ao eleitor do que ao partido. De outra parte, uma colocação feita peloprofessor Renato Janine de que temos que fazer uma opção entre lista fechada ou votodistrital, uma vez que queremos fazer uma mudança no sistema atual de voto proporcional,onde o foco maior tem sido a Câmara dos Deputados.

Já disse pela manhã que temos uma comunidade no Paraná que se dedica ao estudodo aperfeiçoamento do sistema político e que são mais de quatro mil participantes. E, sobreeste tema, nas últimas semanas revelou-se o seguinte: que há uma rejeição muito grandeà tese da lista fechada por conta da desconfiança com relação a como ela vai ser construída.E de outra parte existe assim uma preferência bastante acentuada pela solução do votodistrital misto. Então essa questão do voto distrital misto tem que ser analisada, me parece,com maior atenção, assim como também a questão da eleição por lista fechada, para quea reforma, se vier a ser feita, seja uma reforma que venha obter a adesão da sociedade. Nocaso da lista fechada, se vier a ser adotada, requer em primeiro lugar que seja explicada eobtida, a adesão da sociedade.

Considero que os parlamentares também devem estar abertos para a possibilidade deadotar o voto distrital misto, uma vez que essa tese permite uma maior proximidade doseleitos dos seus eleitores e corresponde a uma percepção na sociedade de que essa seriauma mudança que poderia ajudar o fortalecimento dos partidos, uma vez que eliminariaum dos fatores de falta de coesão dos partidos, relacionadas às disputas intrapartidárias.Agradeço a participação de todos e muito obrigado.

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Introdução

Esta Mesa aborda as interfaces entre a democracia representativa, a democracia diretae a democracia participativa. São reconhecidas as dificuldades da democracia representativaem responder às demandas crescentes por participação política. Os problemas incluemdesde a inaptidão dos partidos em incorporar questões emergentes da sociedade àslimitações dos mecanismos eleitorais de escolha da representação política.

O legado de participação da sociedade brasileira na luta pela democracia estáregistrado nas conquistas da Constituição de 1988, como a iniciativa popular, oplebiscito e o referendo. No entanto, apesar dessas conquistas – consagradas no Artigo14 da Constituição –, são enormes as dificuldades na regulamentação dessesdispositivos. No debate sobre o uso dos mesmos procura-se ressaltar os aspectospositivos, mas descrever também as dificuldades e empecilhos que podem levar àsdistorções na utilização dos mesmos.

O conteúdo da exposição da Mesa concentra-se na importância e na centralidade dademocracia direta e da democracia participativa, como formas de expressão da soberaniapopular. Não há uma verdadeira democracia sem a prática da democracia direta e ademocracia participativa.

Discute-se também o engajamento dos movimentos sociais na causa da reformapolítica. Um dos exemplos é a formação da Frente Parlamentar pela Reforma Política comParticipação Popular. A Frente se compõe não só de parlamentares de diferentes partidos,mas também de representantes da sociedade civil organizada. Discute questões e elaborapropostas a serem votadas no âmbito do Congresso Nacional.

• COORDENADOR

JOSÉ ANTÔNIO MORONIMembro do Colegiado de Gestão do Instituto de EstudosSocioeconômicos (INESC) e Conselheiro do CDES

Boa-tarde a todas e a todos. Quando no CDES falamos em reforma política nãofalamos unicamente em reforma eleitoral ou a reforma político-eleitoral. Precisamosavançar na concepção do que seja a reforma política e, nesse sentido, para o conselho éimportante pensar no fortalecimento dos processos democráticos, nos quais as questões dademocracia direta e da democracia participativa têm relevância. Na verdade, quandoestamos abordando a reforma política estamos discutindo o poder. Quem exerce o poder?Em nome de quem se exerce o poder? Quais são os mecanismos que se tem do controledo poder? Enfim, quem tem o poder de exercer o poder? Como expositora do tema destamesa, teremos a deputada Luiza Erundina.

3ª MESA-REDONDAFortalecimento da Democracia Direta e da Democracia

Participativa – Plebiscito, Iniciativa Popular, Recall, Regulação

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• EXPOSITORA

LUIZA ERUNDINADeputada Federal (PSB/SP) e Coordenadora da FrenteParlamentar pela Reforma Política com Participação Popular

Boa-tarde a todos e a todas. Quero saudar os membros desta Mesa, que, estou certa,vai agregar novos conhecimentos e experiências sobre o tema, aos que já trouxeram osparticipantes das outras mesas de debate.

Gostaria de saudar também o CDES e as outras entidades que co-patrocinaram esteevento, pela oportuna iniciativa.

Assim como o Moroni entendo que o que o Congresso propõe não é a reforma políticaque o país precisa, mas, apenas, mudanças de regras eleitorais e de normas partidárias, semalterar o essencial do sistema político brasileiro, com vistas a remover as causas estruturaisdas graves distorções que ele apresenta.

O tema que cabe a esta mesa abordar refere-se à reforma política sob a ótica dademocracia representativa e a democracia direta e participativa. Está, portanto, no centrodeste debate a questão do poder e da soberania popular.

Participei, como representante da minha bancada na Câmara dos Deputados, da ComissãoEspecial da Reforma Política, que elaborou e aprovou o Projeto de Lei que está em discussãonaquela Casa. A Comissão funcionou por mais de um ano e já no início dos trabalhos deliberourestringir-se a aspectos passíveis de ser modificados mediante legislação ordinária, porconsiderar a impossibilidade de se aprovar, no âmbito da Comissão Especial, alterações dotexto constitucional. Assim, os aspectos estruturais do sistema político ficaram intocados. Porisso, o Projeto de Lei que a Comissão aprovou apresenta limitações, sendo, portanto,insuficiente para resolver os graves problemas e distorções do sistema político brasileiro.

O argumento da Comissão, naquele momento, era de que tínhamos que dar logo umaresposta à sociedade, que já acumulara enormes frustrações com relação ao desempenhodos seus representantes no Congresso Nacional. Era preciso, pois, responder à expectativada sociedade o mais rapidamente possível. Por isso, teria que se limitar à legislação infra-constitucional. O resultado disso foi o projeto que teve como relator o DeputadoRonaldo Caiado, do DEM de Goiás, e aprovado pela maioria dos parlamentares quecompunham a Comissão Especial. Entretanto, esse Projeto de Reforma gerou insatisfações,tanto da parte dos que esperavam e queriam mais, quanto dos que não aceitavam nemmesmo o pouco que se pretendia avançar. Alguns afirmavam que aquela proposta seriamais um fator de frustração para a sociedade, face, segundo eles, à insuficiência dasmedidas que propunha para solucionar os graves problemas há muito tempo sem solução.Mesmo se aprovado na íntegra, consideravam que não daria conta de responder a todas asquestões implicadas nas distorções do atual sistema político brasileiro.

Os aspectos que compõem a Proposta de Reforma guardam entre si certa lógica e coerência, o que significa que aprovar um e rejeitar um ou outro comprometerá os efeitospositivos da mudança, ou, até mesmo, a inviabilizará. É o caso, por exemplo, de aprovar ofinanciamento público de campanha e se rejeitar a votação em lista. Se isso ocorrer, alémda sobrevivência do “caixa 2”, induzirá o duplo financiamento de campanha, o público eo privado, o que certamente será um desastre.

O que temos visto na Câmara nesses últimos dias nos deixa pessimistas quanto à aprovação de algum ponto da proposta que significasse um primeiro passo na direção deuma reforma política que o país precisa e espera.

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Outrossim, uma autêntica reforma política poderá levar a mudança de cultura políticaque, por sua vez, induziria os políticos a mudar de comportamento, bem como, os partidospolíticos e até mesmo os eleitores. É necessário, pois, entender-se que a reforma política éum processo capaz de suscitar mudança de concepções, de valores, e de atitude dos atorespolíticos na sociedade.

O debate sobre a reforma política vem se dando na sociedade há algum tempo, atravésde organizações populares que se articulam e se organizam em frentes parlamentares, comparticipação popular, em vários estados e municípios brasileiros.

A discussão que faz a sociedade sobre a reforma política se baseia na concepção desoberania popular que supõe democracia representativa e democracia direta e, como tal,vai muito além de mudanças de regras eleitorais e normas partidárias, exigindo, portanto,mudanças estruturais do sistema político. Entende, pois, que não existe verdadeirademocracia sem democracia direta e democracia participativa. Assim, o projeto em debatena Câmara dos Deputados não corresponde à expectativa da sociedade.

Não obstante, o debate que ora ocorre no âmbito do legislativo estimula o envolvimento dossetores organizados da sociedade, através da “Frente Parlamentar pela Reforma Política comParticipação Popular”, integrada por parlamentares dos diferentes partidos políticos, e porrepresentantes de entidades e movimentos da sociedade civil organizada. A Frente se reúneregularmente para acompanhar as discussões da matéria na Câmara dos Deputados e paraelaborar Emendas ao Projeto de Lei a serem apresentadas e defendidas por alguns parlamentares.Mantendo-se esse processo de mobilização e de participação popular em torno da ReformaPolítica, mais cedo ou mais tarde ela se viabilizará, a exemplo do que ocorreu com os avanços econquistas inscritos na Constituição Federal de 1988.

A Constituição de 1988, denominada de “Constituição Cidadã”, foi a que maisavançou em termos de democracia direta e de democracia participativa, dentre todas asConstituições brasileiras, inclusive a de 1946. Criou mecanismos de participação popular,em respeito à soberania popular prevista no Artigo 1º, parágrafo único, que estabelece que“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos oudiretamente, nos termos da Constituição”.

Esses avanços da Constituição de 1988, frente às outras constituições brasileiras, sedevem à participação da sociedade, que se mobilizou e se organizou para participar daslutas pela redemocratização do país e do processo de construção de um novo marcoinstitucional para reger os destinos da nação brasileira.

Após a promulgação da Constituição de 1988, face aos resultados da primeira eleição diretapara Presidente da República e os percalços que todos conhecemos, a sociedade se desmobilizou,talvez porque acreditasse que bastava as conquistas constarem da lei maior, para que estivessemasseguradas. Além disso, contribuíram também para a desmobilização dos setores populares asexigências da realidade da maioria das pessoas. A não ser um ou outro grupo se manteve atuantepela preservação das conquistas inscritas na Constituição e por sua ampliação.

Por isso, importantes conquistas e avanços previstos no texto da Constituição aindanão foram efetivados por falta de regulamentação, através de legislação infra-constitucional, e enquanto isso não se fizer, os direitos conquistados ficam congelados, sobo risco de perdas e retrocessos.

Vale destacar, entre outras conquistas importantes que ainda não tiveram eficácia, oartigo 14 da Constituição Federal, que dispõe sobre os mecanismos de democracia direta,

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ou seja, plebiscito, referendo e projeto de lei de iniciativa popular, até hoje nãoregulamentado por omissão do poder legislativo e por falta de pressão da sociedade sobreseus representantes para que o façam. Até mesmo a prerrogativa da sociedade deapresentar projeto de lei de iniciativa popular, previsto na Constituição, apresenta um talgrau de exigência e complexidade que torna sua aplicação praticamente inviável. Até hoje,um único projeto de lei de iniciativa popular chegou a ser aprovado pelo CongressoNacional e, mesmo assim, levou mais de treze anos para virar lei, a que criou o FundoNacional de Habitação Popular.

Em 1999, no início do meu primeiro mandato de Deputada Federal, apresentei umaProposta de Emenda Constitucional, a PEC nº 02/1999, que propõe a simplificação e aredução das exigências constitucionais, no sentido de viabilizar o exercício dessaprerrogativa pela sociedade civil. A aprovação dessa PEC garantirá a apropriação, pelasociedade, desse importante mecanismo de democracia participativa junto ao PoderLegislativo. Entretanto, há oito anos essa PEC está paralisada, aguardando que aPresidência da Câmara dos Deputados instale a Comissão Especial para apreciá-la e votá-la. Se aprovada pela Comissão Especial, estará em condições de ser pautada para discussãoe votação no plenário da Câmara, onde será submetida a duas votações. Caso sejaaprovada, será encaminhada ao Senado Federal, onde também passará por dois turnos devotação. Além disso, sua aprovação tanto na Câmara como no Senado exige 3/5 de votosa favor, do total dos membros de cada uma das Casas. Portanto, é um processo bastantecomplexo e demorado e, certamente, a votação da matéria enfrentará grande resistênciados parlamentares que se sentem ameaçados pela possibilidade de terem suas prerrogativaspartilhadas com o povo, que, segundo nossa Constituição, é a fonte e a origem do poder,enquanto que os mandatos dos parlamentares são obtidos por delegação, através do votodos eleitores. Lamentavelmente, nem todos aceitam essa determinação constitucional, eos que ignoram esse princípio democrático, agem e se comportam como se fossem donosdos mandatos, têm verdadeira ojeriza da participação popular e se consideram suficientescomo representantes do povo. Não é por acaso que, após 19 anos de vigência daConstituição de 1988, seu artigo 14, que trata dos mecanismos de democracia direta, aindanão foi regulamentado pelo Congresso Nacional. Há quase 20 anos, portanto, a soberaniapopular é negada e usurpada de seu real e exclusivo detentor, o povo brasileiro.

Enquanto persistir esse quadro, não podemos dizer que vivemos numa verdadeirademocracia. Daí a premência por uma reforma política que enfrente a questão dademocracia direta como condição essencial para se resolver as distorções do sistemapolítico brasileiro e a grave crise de representação. Os sucessivos escândalos que atingemdeputados e senadores são sintomas dessa crise, que leva à perda de legitimidade e decredibilidade dos representantes do povo, significando, assim, uma crise de representaçãoe, conseqüentemente, um risco para a democracia.

As tentativas de reforma política, no âmbito do Congresso Nacional, frustraram-setodas, até agora, o que sugere a necessidade de uma ampla e permanente mobilização dasociedade civil organizada para pressionar o Congresso e exigir uma reforma política dignadesse nome, ou seja, que repense o sistema político como um todo e que assegure ademocracia plena que supõe a representação e a participação direta dos cidadãos na possee no exercício do poder.

Num louvável esforço para preencher esse vazio jurídico, a OAB e a CNBB entraramcom um projeto de lei de iniciativa popular, na Câmara dos Deputados, por meio daComissão de Legislação Participativa - CLP, no ano de 2004, visando à regulamentação doartigo 14 da Constituição Federal, que cria os mecanismos de democracia direta: plebiscito,

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referendo e projeto de lei de iniciativa popular. O mesmo encontra-se parado na Comissãode Constituição e Justiça daquela Casa. Cansados de esperar, os proponentes resolveramapresentar no Senado Federal, através do Senador Eduardo Suplicy, no ano de 2006,projeto semelhante, que também está parado na Comissão de Justiça do Senado.

Isso ocorre por desinteresse dos parlamentares, e por falta de pressão da sociedade, nosentido de impor a vontade e os anseios da população aos seus representantes no parlamento.A maioria dos Deputados e Senadores não considera a importância da democracia direta e dademocracia participativa como condição essencial à consolidação da democracia.

Quando o Presidente da Câmara, o ex-deputado Aécio Neves, criou, no ano de 2001,mais uma comissão permanente, a CLP, que representa um espaço de democraciaparticipativa junto ao Legislativo, possibilitou a construção de uma ponte entre esse podere a sociedade civil organizada, à qual se conferiu a prerrogativa de apresentar sugestões deprojetos de lei sobre matérias de seu interesse. A CLP representa uma conquista importanteda cidadania e que suscitou iniciativas semelhantes no Senado Federal e em AssembléiasLegislativas de alguns Estados da Federação, e em várias Câmaras de Vereadores deimportantes municípios brasileiros.

Eu tive o privilégio e a responsabilidade de ser a primeira presidenta da CLP da Câmarados Deputados, cabendo-me a tarefa de estruturá-la e colocá-la em funcionamento numcurtíssimo espaço de tempo, pois a minha presidência, por determinação regimental,dispunha de apenas quatro meses para implementar um projeto inovador, ousado e quedespertava enorme desconfiança dos parlamentares.

Essa Comissão é permanentemente ameaçada de extinção, de fusão com outrasComissões, ou de diminuição de suas prerrogativas, como ocorreu, por exemplo, em2006, quando uma Resolução do Congresso Nacional, aprovada no final daquele ano,retirou da CLP o poder de apresentar, mediante sugestões de organizações sociais,Emendas à Lei de Diretrizes Orçamentárias e, conseqüentemente, à Lei OrçamentáriaAnual – LOA. Representou, sem dúvida nenhuma, uma perda inestimável em termos doempoderamento dos setores organizados da sociedade, que desenvolvem projetossociais de relevante interesse para a população mais pobre. O atual presidente,deputado Eduardo Amorim, e os demais membros da Comissão estão empenhados emreverter aquela injusta decisão do Congresso Nacional, que, de forma autoritária, retiraum direito conquistado pelos cidadãos brasileiros, significando um enorme retrocessodo ponto de vista democrático. Esse fato evidencia o quanto o país ainda está longe deser uma verdadeira democracia.

Outrossim, por ser uma das últimas comissões permanentes, criadas na Câmara, e, de acordocom o princípio da proporcionalidade, é uma das últimas escolhas possíveis das bancadaspartidárias menores. Assim, alguns deputados, que têm como única opção a CLP, se sentemdiscriminados pelas suas respectivas lideranças, até descobrirem a novidade e a riqueza daexperiência no contato com os movimentos que levam suas propostas à Comissão, debatendo-asem audiências públicas e seminários temáticos de grande valor e oportunidade.

Com efeito, enquanto não se regulamenta o dispositivo constitucional que trata dosmecanismos de democracia direta e de democracia participativa, a CLP preenche esse vaziojurídico no que se refere à iniciativa popular legislativa, o que, sem dúvida, é muito importante!

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• DEBATEDORES

LÚCIO RENNÓProfessor da Universidade de Brasília (UnB)

Boa-tarde a todos. É um prazer estar aqui. Gostaria de parabenizar a organização desteevento e ao CDES pela iniciativa de discutir reforma política de forma ampla, incluindo umdebate sobre a democracia participativa e democracia direta, que raramente ganham atenção.

Vou comentar alguns aspectos positivos, ganhos que a democracia participativa trazpara o funcionamento da democracia, mas também tentar apontar algumas das possíveislimitações e distorções que mecanismos de democracia direta podem gerar.

Mas antes, cabe salientar que a discussão sobre reforma política em votação naCâmara dos Deputados, embora limitada a mudanças na esfera eleitoral, abre espaço paraque nós possamos conversar sobre o sistema político brasileiro de forma mais ampla,abrangente. Isso já é um grande avanço e um ganho significativo que a iniciativa da Câmarade discutir a reforma política traz para o Brasil. Portanto, a Câmara dos Deputados está deparabéns por colocar esse tema na agenda. A meu ver, a discussão contínua sobre ofuncionamento do sistema político brasileiro leva a aprimoramentos do regime atual, se nãono curto prazo, certamente no longo.

A discussão sobre democracia direta que se fortalece com o debate acerca da reformapolítica é um exemplo. Esse tema não tinha a saliência que tem agora antes do debate sobrereforma política. E, como foi argumentado acima, esses mecanismos de democracia diretaaumentam a participação do eleitor e dão visibilidade a temas de relevância nacional. Portanto,referendos e plebiscitos têm um componente pedagógico claro, um caráter didático, ao instruiros eleitores sobre temas e sobre sua capacidade decisória acerca desses temas. Não há dúvidasque essas iniciativas de participação popular são benéficas para o sistema político.

É muito fácil falar bem dos instrumentos de democracia participativa como o plebiscito,o referendo, a iniciativa popular, o recall, porque todos aumentam ainda mais o poder deinfluência de um legítimo detentor do poder no regime democrático: o eleitor. Portanto,mecanismos participativos e de democracia direta retornam ao eleitor a capacidade,principalmente no caso do plebiscito e do referendo, de decisão sobre conteúdossubstantivos das políticas públicas. Nesse sentido, é claro que mecanismos que estimulema participação e a ampliação da capacidade de influência do eleitor são bem-vindos paraqualquer regime democrático. Aumenta o poder do eleitor, e esse é um objetivo diretodesses instrumentos de democracia participativa.

Mas há também ganhos indiretos. Outros benefícios de mecanismos participativos, quesurgem como conseqüência do efeito direto de aumentar o poder do eleitor, também sãomuito importantes, plebiscitos e referendos aumentam em muito a visibilidade dos temaspor eles tratados. Assim sendo, esses instrumentos participativos servem também paraampliar níveis de atenção e informação do eleitorado sobre os temas de que tratam. Claro,como veremos adiante, isso não se dá de forma automática, garantida. É condicional aoutros fatores, como o financiamento das campanhas sobre os distintos lados do tematratado. Mas, ao trazer um tema para agenda, os mecanismos de participação diretaaumentam a visibilidade do tema.

A democracia direta ganha com o referendo, o plebiscito, o recall, mas tambémexistem outras iniciativas que já estão funcionando bem, em alguns casos, como oorçamento participativo, os conselhos de saúde, as convenções estaduais para se discutiremtemas específicos. Enfim há mecanismos diversos de incorporação do eleitorado brasileiro

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dentro do processo decisório na democracia. Penso que esses são pontos pacíficos, todosconcordam com essas vantagens da democracia direta.

Dito isso, vou assumir agora o papel do crítico, do advogado do diabo, e tentar apontaralgumas das limitações possíveis de mecanismos participativos.

Um primeiro problema diz respeito ao conteúdo substantivo dos temas tratados emplebiscitos e referendos. Os sistemas democráticos contemporâneos, principalmente no nívelfederal, possuem um grau de complexidade muito grande, e o Brasil é um bom exemplo dessacomplexidade. Alguns temas discutidos nacionalmente estão muito distantes daspreocupações diárias dos eleitores. Conseqüentemente, como argumentaria Schumpeter emdefesa de mecanismos representativos de democracia, a falta de interesse do eleitor sobrecertos temas poderia afetar sua decisão e ser um empecilho à adoção de mecanismos maisextensos e participativos. Ou seja, será que se pode decidir sobre tudo usando mecanismosparticipativos? Caso a resposta seja negativa, quais os temas que seriam mais adequados paraesses tipos de decisão? Não há uma resposta clara para essa pergunta.

Alem disso, há o problema da metodologia de consulta ao eleitor, que também pode gerardistorções. Vejamos um exemplo concreto. No caso do referendo sobre desarmamento vimosque a formulação da pergunta foi decisiva para o resultado final atingido, para a decisãosubstantiva do eleitor. Se a pergunta posta não é clara, é confusa, isso pode gerar distorção noresultado final. Então o mecanismo em si de consulta no caso de plebiscitos e referendos é algoque exige uma atenção redobrada e que pode gerar distorções graves na decisão substantivaadotada. Parece-me que o referendo sobre desarmamento gerou um resultado inesperadomuito por conta de uma formulação confusa da pergunta feita ao eleitorado.

Outro ponto problemático, tanto para plebiscito, referendo quanto para recall, é a questão de financiamento das campanhas para essas votações. Podemos até levantar a hipótese, usando ainda o exemplo acima, de que um grupo de pessoas contrário a restrições no comércio de armas teve uma campanha melhor estruturada e financiada doque o grupo favorável às restrições que o referendo iria impor. O grupo contra odesarmamento tinha seus interesses tangíveis e imediatos ameaçados pela mudança propostano referendo, o que, sem dúvida, pode ter sido um incentivo forte para investir pesado nacampanha. Já os interesses do outro grupo eram difusos e não tão imediatos. Isso pode terafetado o financiamento da campanha e o resultado do processo.

Ou seja, a questão do financiamento das campanhas também tem que ser levada emconsideração. A própria proposta da plataforma das ONGs, dos movimentos sociais mencionaesse ponto ao tratar de recall e do plebiscito. Tais iniciativas devem vir acompanhadas,segundo eles, de financiamento público para as campanhas. Caso contrário, pode acontecero que tem acontecido com certa freqüência em plebiscitos, recalls e referendos nos EstadosUnidos, onde sempre quem leva a melhor é o lado com melhor financiamento. Normalmenteesses lados são também os mais conservadores. Portanto, criasse a situação contra-intuitivade que mecanismos diretos de participação popular acabam levando à reversão de políticaspúblicas progressistas. Os casos de reversão de leis de ação afirmativa nos Estados Unidosaconteceram, em grande medida, através de referendos.

Políticas progressistas podem ser revogadas com o voto popular porque os dois ladossão financiados de forma muito diferenciada. O lado conservador nos Estados Unidossempre tem certa vantagem no tipo de financiamento das suas campanhas. Então ofinanciamento público passa a ser fundamental para garantir certo equilíbrio e certaimparcialidade nesse processo de participação popular.

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Por último, levanto uma questão sobre o recall que é a capacidade de retirar do cargoeletivo, antes do término do mandato, o representante que tiver desempenho insatisfatórioatravés de petição da população assinada por um número predeterminado, erepresentativo, de eleitores. O exemplo recente de recall nos Estados Unidos, onde existeesse mecanismo participativo, foi o caso da Califórnia, onde o governador do PartidoDemocrata perdeu uma eleição de recall e foi retirado do cargo. Na disputa pela vagaaberta, foi eleito Arnold Schwatzeneger, do Partido Republicano. O financiamento dacampanha pelo recall foi feito por um magnata que sempre apoiou o Partido Republicanoe superou em muito os gastos do Partido Democrata na defesa do então governador. Umavez que a eleição de recall foi decidida pela perda do mandato, abriu-se imediatamenteuma eleição especial, com curto período de campanha, onde um candidato com imensavisibilidade, um ator de Hollywood, venceu a eleição. Ou seja, nada garante que recallaumente o caráter democrático do processo eleitoral se ele abre ainda mais espaço para ainfluência do dinheiro nas eleições.

Além disso, há uma questão institucional a se pensar. Parece-me que o recall se adequade forma melhor a certos sistemas eleitorais. O recall cabe com certeza no sistemamajoritário, como o utilizado nos Estados Unidos tanto nas eleições do Executivo quantopara o Legislativo, em todos os níveis. Nesse sistema, apenas um candidato é eleito porcircunscrição eleitoral. Portanto, retirá-lo e eleger outro na mesma circunscrição é tarefarelativamente fácil. Mas, como fazer recall em um sistema onde mais do que um candidatoé eleito por circunscrição eleitoral? Esse é o caso do sistema proporcional de lista aberta noBrasil. Caso haja o recall de um deputado no Brasil, haveria uma outra eleiçãoimediatamente, no Estado todo, que é a delimitação espacial da circunscrição eleitoral, paraeleger apenas um deputado? Na prática, então, a eleição desse único deputado passaria aser em um sistema majoritário. Portanto, deputados eleitos em eleições de recall passariama replicar o processo eletivo para eleições no Senado. Isso geraria um sistema esdrúxulo,onde ocupantes do mesmo cargo seriam eleitos por regras eleitorais distintas.

Eram esses os pontos que queria abordar. Meu objetivo aqui foi de pensar epolemizar sobre os mecanismos de democracia direta e participativa. Há ganhos, semdúvida nenhuma, e o Brasil teve ganhos significativos nesse sentido nos últimos anos, mashá que se ter cuidado também ao olhar os detalhes. O problema está nos detalhes e se nãose tem cuidado com os detalhes institucionais, acaba-se tendo surpresas futuras que podemser muito negativas. Obrigado.

FRANCISCO ANTÔNIO DA FONSECA MENEZESPresidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar eNutricional (CONSEA)

Quero cumprimentar aos integrantes da mesa, na figura da deputada Luiza Erundina,senhoras e senhores. Vejo com entusiasmo a iniciativa do CDES de promover esse debatesobre o tema da reforma política, contemplando os aspectos da democracia direta e dademocracia participativa. Isso me parece importante porque no debate sobre a reformapolítica muito freqüentemente se omite a discussão dessas duas dimensões.

Como o Moroni já expôs na sua introdução, a reforma política que estamos falando ésobretudo a reforma do poder, a discussão da forma como o poder é exercido e, nesse sentido,não podemos deixar de fora as possibilidades de uma participação popular direta. Por outrolado, parece-me importante também o aspecto que, sobretudo, a deputada Luiza Erundinafrisou do risco que nos parece estar evidente hoje de se implementar uma reforma política

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deixando de fora justamente esses aspectos da democracia participativa e direta, quando nãosó no Brasil, mas em diversos países, a discussão desses aspectos é fundamental.

Considerando o que o professor Lúcio falou, e ele cumpriu bem o papel de provocarquestões, dentro das propostas de democracia participativa e democracia direta, nósencontraremos dificuldades e problemas. Precisamos discutir a regulamentação dosmecanismos da democracia direta, principalmente pelos aspectos de financiamento da fasepreparatória desse processo, haja vista a experiência do referendo sobre o desarmamento,quando houve um desequilíbrio dos recursos e a bancada da bala se mobilizou paraconfundir a população.

A minha contribuição vai se concentrar na democracia participativa e maisespecificamente nas experiências dos conselhos, pela minha própria participação noCONSEA. Percebe-se um avanço nessa formação de conselhos, mas também se tem ademonstração dos limites e dificuldades na regulamentação dos mesmos. Sem dúvidanenhuma, com o impulso provocado pela Constituição de 1988 assistimos a uma aberturae desencadeamento de um processo de criação e depois de funcionamento dos conselhosnas três esferas, federal, estadual e municipal. Ao todo no país são em torno de 64 conselhos federais que estão funcionando. No entanto, a realidade desses conselhos ébastante diversa. Alguns são mais consolidados. O Conselho Nacional de Saúde pelo seutempo de implantação, o Conselho Nacional de Assistência Social e alguns outrosconselhos, como o CDES, vêm provando sua capacidade de funcionamento com muitaeficácia. Mas um conjunto de conselhos tem uma série de dificuldades dentro daquilo que desenvolvem.

Nas esferas estaduais e municipais falta estrutura e existe baixa representatividade,sobretudo em conselhos municipais, montados muito artificialmente por meio daspróprias prefeituras. Há aí baixa efetividade e extrema fragmentação. A multiplicaçãodessas instâncias muitas vezes se traduz por menores efetividades. Há discussões hojede como se poderia reagrupar esse conjunto tão amplo de conselhos, sobretudo noplano local e com maior ligação com o cidadão. Então, tem impasses e desafios, semdúvida nenhuma, no plano federal acho que persiste ainda uma setorização forte denão comunicação entre os conselhos. Nós, do CONSEA, até experimentamos de doisanos para cá um processo de reunião dos conselhos, buscando identificação de pontoscomuns na sua busca de intervenção e, portando, de potencialização de seu poder.

Existe também intensa discussão sob o aspecto consultivo ou deliberativo dosconselhos. A experiência tem nos provado que a força política de um conselho reside narepresentatividade das bases, o que lhe possibilita maior capacidade de ação. Nós vemosdefinição de conselhos tidos como deliberativos, mas que, na verdade, deliberam paracomunicar a sua deliberação, mas que não prevalecem como forma de poder. Acho isso umexemplo da frágil relação com a democracia representativa.

Temos aspectos positivos, como hoje a formação de frentes parlamentares que abremdireta relação com os conselhos e nesse aspecto, me parece, surge uma possibilidade deuma relação com a discussão de aspectos da política econômica e do controle social sobreo ciclo orçamentário. Alguns conselhos, como o CONSEA, têm trabalhado já há três anospropostas para o orçamento público federal e agora uma insistência maior em relação aoPlano Plurianual, o PPA. Interessante que na realidade o governo federal reconheceu opapel que os conselhos deveriam ter no processo do PPA, mas isso não foi ainda efetivado.Creio que a proposta do PPA vai chegar ao Congresso sem a devida interlocução com essetipo de representação.

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Gostaria de terminar dizendo dos riscos em não se reconhecer os ganhos dessa forma dedemocracia participativa ligada aos conselhos. Se olharmos os processos de conferências quese realizaram nos últimos quatro anos, vamos ver que provavelmente ultrapassamos a casa deum milhão de pessoas mobilizadas discutindo políticas públicas. Nós estamos num processode conferência alimentar, agora para julho, e nas nossas contas temos 70 mil pessoasdiscutindo esse tema, que não é tão simples. O que significa 70.000 pessoas discutindopolíticas públicas e formulando propostas nesse sentido? Esse fato não pode ser ignorado.

Concluo dizendo que creio que uma reforma política que não considere esses aspectos daparticipação popular traz riscos muito grandes, pelo nível de insatisfação que causará. Talvez hojeesses riscos podem não ser medido, mas o clamor e os protestos virão e soarão mais alto. Obrigado.

ARTUR HENRIQUE DA SILVA SANTOSPresidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) eConselheiro do CDES

Queria cumprimentar os integrantes da mesa, senhoras e senhores. O tema da reformapolítica nos leva a pensar o conceito de democracia e que o Estado, uma nação, somenteterá instituições fortes se conseguir de fato exercer a democracia em sua plenitude.Fortalecer a democracia é garantir que o Estado e as políticas públicas tenham efetivamenteo objetivo de estar a serviço do bem comum e da população como um todo.

Penso que o movimento social – o movimento sindical, em geral, e a CUT, em especial– entende que não podemos conversar e debater apenas a questão da reforma política soba ótica do debate de uma reforma política eleitoral, sem expor claramente a importância,no mesmo nível de prioridade, do debate que estamos fazendo a respeito da necessidadede introdução de mecanismos de participação popular – participação direta e participaçãorepresentativa – no sentido de aperfeiçoar a democracia no nosso país.

Queria começar rapidamente falando sobre a participação popular e o controle social,colocando algumas questões fundamentais, algumas delas já mencionadas aqui e outrasrelacionadas ao debate que estamos fazendo na CUT. A primeira, sem dúvida, é anecessidade de ter uma ampla mobilização social para garantir a regulamentação do artigo14 da Constituição. Concordo com a deputada Luiza Erundina que se não tivermos umaampla mobilização esse processo vai ficar na gaveta, porque isso não interessa a umconjunto de forças da sociedade. Precisamos colocar a necessidade de regulamentação doartigo 14 para que se possa exercer o poder popular.

Acrescentaria mais duas outras questões. Uma delas é a participação dos trabalhadores nosconselhos de administração das empresas. Do ponto de vista da participação e do controle socialter um trabalhador eleito diretamente pelos trabalhadores das empresas estatais ou públicas,empresas controladas pelo governo nos três níveis, Federal, Municipal ou Estadual, para umconselho que toma as decisões gerais nos parece ser uma medida que ajuda ao controle sociale ao aumento da participação dos trabalhadores nas principais decisões dessas empresas.

Queria lembrar aos componentes do conselho, que o CDES aprovou uma proposta, porunanimidade, a ser levada às centrais sindicais e aos empresários, de que era precisoampliar o Conselho Monetário Nacional (CMN), trazendo para dentro dele a participaçãode trabalhadores e empresários no sentido de discutir não só as metas de inflação e a taxade juros, mas também para debater as questões de emprego e de desenvolvimentoeconômico. No entanto, até agora, mesmo o CDES sendo um órgão consultivo, esperamos

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que o governo, o presidente Lula, atenda aos anseios do mesmo de ampliação desteconselho, dando a ele no sentido de ampliar o CMN. A participação desses atores éfundamental para a democratização do CMN.

A outra questão é a do orçamento público. Não estou falando apenas do orçamentoparticipativo, porque, apesar dos avanços em algumas cidades, tem também suas limitações. Nãobasta fazermos um amplo debate sobre a questão da participação popular se nós não tivermosmecanismos e instrumentos eficazes de que as decisões a respeito dos principais investimentos noorçamento público tenham se transformado efetivamente em deliberação pela maioria dapopulação com controle social sobre o orçamento. O orçamento não deve ser visto apenas comouma peça que visa à definição dos gastos, mas como uma instância de definição das principaisprioridades de gastos no orçamento federal, estaduais de municipais. Isso é sim democratizar poder.

Estamos querendo realmente ampliar e fortalecer a democracia em nosso país. E paraisso não é suficiente, apesar de ser fundamental, fortalecer a democracia representativa ea democracia direta, mas a democratização dos meios de comunicação do país. Ademocratização dos meios de comunicação é fundamental se quisermos efetivamenteimplementar a democracia direta e a democracia representativa.

Um outro tema importante também que raramente é posto em debate, mas que euqueria aqui reforçar, é a necessidade de fortalecimento da democracia no espaço dasrelações de trabalho. É preciso democratizar as relações de trabalho no Brasil, garantindoorganização por local de trabalho, garantindo que os sindicatos tenham liberdade paraatuar na defesa dos interesses dos trabalhadores. Que nós não tenhamos a cada dia de serperseguido por dirigentes e gestores que são contra o movimento sindical e demitem ostrabalhadores, impedindo que a liberdade sindical se instaure efetivamente no país.

Eu queria terminar fazendo uma crítica, mas, por favor, ela é construtiva. Percebi no debatea respeito da lista fechada uma preocupação muito grande sobre a igualdade de oportunidadesentre homens e mulheres no momento de definição das candidaturas. Uma companheira mechamou a atenção sobre a cartilha da Associação dos Magistrados Brasileiros, onde todas asfiguras que aparecem são de homens. A única vez que aparece uma mulher é para falar dainfidelidade partidária. Sei que isso não foi de propósito, mas como nós precisamos nos policiar,não sei se o melhor nome é esse, de um processo cultural de educação, temos que ter cuidado.A cartilha está muito boa, mas as figuras são de homens. A mulher aparece uma única vez sópara falar sobre infidelidade partidária e ela sendo a infiel.

Concluo dizendo que todo o processo que aqui assistimos de discussão é um processo deeducação, mas temos que construir coletivamente, com o movimento social, com omovimento sindical e o conjunto da população. Esperamos que a reforma política contempleos principais pontos colocados nesse seminário, que são fundamentais para a mudança dosistema político eleitoral. Obrigado.

• DEBATE COM O PLENÁRIO

ARNALDO FERNANDESColaborador da Rede Nacional de Advogados Populares(Renap)

Concordo com tudo que a deputada Luiza Erundina falou a respeito da democraciaparticipativa, inclusive lembrando os conselhos de Paulo Bonavides de que nos países

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periféricos, onde sequer os direitos de primeira, de segunda e de terceira dimensão foramefetivados, e mais que urgente os direitos da quarta dimensão, os direitos à participaçãoampla nos processos políticos no sentido de turbinar o sistema democrático para quepossamos dar um salto para alcançar o quanto antes os demais direitos de política pública.

Em relação às listas fechadas, sou contra a proposta, pois os partidos políticos praticamentenão possuem democracia interna e o que acaba prevalecendo é a politicagem populista e osditames do caciquismo de plantão. Defendo a implantação do sistema distrital misto, no qualpelo menos a metade das vagas nas eleições parlamentares é ocupada pelas candidaturas maisvotadas em determinadas nos distritos eleitorais, enquanto a outra metade é preenchidaproporcionalmente pelo voto de legenda, dividindo o total de cadeiras equivalente à votação decada partido onde os mandatários seriam aqueles constantes das listas preordenadas.

Defendo a implantação da fidelidade programática e não só partidária, porque o queacontece é que os candidatos são atrelados a determinados partidos, mas muitas vezes ospróprios partidos desrespeitam os programas, os estatutos. A fidelidade programática deveser sim levada em conta e ser cobrada, de modo que, no caso de desvio de condutapartidária, sejam aplicadas penalidades variáveis desde a suspensão no recebimento da cotade fundo partidário ou até a cassação definitiva do registro do partido.

E finalizo com a questão da obrigatoriedade do voto, uma coisa como normal, mas quenão é, porque o voto não é apenas uma mera obrigação formal. O voto é um direitoinalienável de todas as pessoas. Portanto, se é um direito das pessoas, não deve ser umdever em relação ao Estado e ao governo. Obrigado.

MARA CAMBEBAMembro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher,Representante das Mulheres Indígenas e Conselheira deSegurança Alimentar pelo Município de Manaus

Gostaria de perguntar se as questões levantadas aqui serão consideradas porque hoje,praticamente, a política vem imposta de cima para baixo, só para a gente confirmar ebalançar a cabeça, e há com a participação efetiva das pessoas (elas não são consideradas).Por exemplo, a população indígena hoje não foi chamada para a discussão do PAC, entãonão houve uma democratização participativa.

Gostaria que hoje a democracia nessa reforma política revisse as questões de formaregionalizada e que respeitasse as populações. Sou presidente do Instituto de Saúde Indígena deManaus, onde temos que lidar com várias agressões mesmo. Chamo de agressão quando asnossas propostas nem são consideradas. A reforma política partidária deve abranger a construção de políticas públicas voltadas para atender à necessidade da população.

A política hoje é totalmente desigual, porque ela não atende às necessidades da populaçãonem dos segmentos minoritários. As minorias não se sentem livres para se expressar, paracolocar para fora suas angústias, porque são desrespeitadas. Gostaria de perguntar se noConselho de Desenvolvimento Econômico e Social estão presentes todos os segmentos sociais.

LUCIANO SANTOSMembro da OAB/SP e do Movimento Pró-Reforma Políticacom Participação Popular

Gostaria de dizer da satisfação em participar dessa discussão sobre a reforma política,

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em um momento tão oportuno, mas lamentar que esse painel tenha sido deixado porúltimo. Como a maior parte das pessoas tem que viajar, há um esvaziamento do plenário.Também lamento que tenhamos as galerias cheias para discussão da reforma política. Talvezse fosse pelo salário mínimo, se fossem questões que pegam no bolso diretamente,tivéssemos mais condições de mobilizar.

Antes de começar este painel, eu dizia que a minha esperança estava exatamente nele.Na realidade sabemos que o que precisamos é de uma reforma política com participaçãopopular, ampliando as possibilidades dos mecanismos de democracia direta: plebiscito,referendo, iniciativa popular. Exatamente disso que precisamos.

Pelo que tudo indica essa reforma não caminhará nesse sentido. A minha pergunta éessa: Como vamos conseguir as entidades mobilizadas nesse debate sobre a reforma política,que inclui um debate sobre a própria ampliação da democracia? Sinto também falta daparticipação do movimento sindical. Acho que o movimento sindical deveria se aproximarpara fazermos as mobilizações necessárias. Não temos prática em grandes mobilizaçõescomo têm o movimento sindical e outros. Então precisamos nos unir, trabalhar, até porquea reforma política não se dará num ato único. É um processo contínuo de aperfeiçoamentodo sistema político-eleitoral e do modo de governar.

JORGE NAZARENO RODRIGUESPresidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco eConselheiro do CDES

Penso que o Conselho foi muito feliz em organizar este seminário e não sei se naCâmara dos Deputados houve uma discussão tão rica quanto tivemos aqui hoje. No iníciode seu funcionamento, o Conselho foi muito criticado, mas o fato é que criou depois umespaço de formulação de propostas da sociedade. É evidente que nem todas as propostasaqui produzidas são acatadas pelo governo e tampouco pelo Congresso, mas o fato é quehá debate. O Conselho acertou ao chamar a essa discussão.

A deputada Erundina falou da necessidade de controle público das instituições, inclusive doTribunal de Contas da União. Eu visitei o Tribunal de Contas, no ano retrasado, e tinha umaimpressão do TCU como o de um grupo de pessoas, sem nenhuma ofensa, que lá que tomavao chá das cinco e não fazia lá muitas coisas, pelo que ouvíamos. Mas vi um grupo de pessoasdinâmicas, dispostas e demonstrando muita capacidade de trabalho. Recentemente eles fizeramum bom trabalho sobre a concessão de rodovias, inclusive ajudou-nos a formar opinião dentrodo Conselho. Há um projeto de lei, não sei se na Câmara, que restringe a atuação do Tribunalde Contas para atuar sobre as agências reguladoras: telecomunicações, ferrovias, rodovias.

Considero ser tarefa da CUT, da Força Sindical, dos representantes das centraissindicais, dos movimentos sociais encherem as galerias da Câmara para dizer o que o povobrasileiro pensa e o que a sociedade organizada pensa. Dessa forma, podemos influenciarna formação da opinião dos deputados e ter uma reforma política a melhor possível.

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EMÍLIA FERNANDESProfessora, Ex-Senadora, Ex-Ministra da Secretaria Especialde Políticas para as Mulheres e presidente no Brasil doFórum de Mulheres do Mercosul

Quero cumprimentar os integrantes da mesa e os organizadores desse evento que, semdúvida, de grande importância. A qualidade das palestras e das reflexões desenvolvidas aquijustifica aquilo que temos discutido, que a reforma política vai muito além de quatro ou cincoaspectos pontuais do sistema eleitoral brasileiro. Quando se fala em reforma política se deve,pelo menos, pensar em partidos políticos, em democracia, em participação popular, na questãoda igualdade, do respeito às diferenças, na presença e no empoderamento das mulheres.

Gostaríamos de fortalecer as idéias que aqui foram colocadas e salientar os desafiospostos. Sabemos hoje que as formas de participação se dão das mais variadas formas.Vimos aqui a questão dos conselhos, do referendo, do plebiscito, das audiências públicas.Queremos dizer do nosso reconhecimento e da nossa admiração pela postura e o trabalhoda deputada Luiza Erundina. Queria também dar meu testemunho de quanto é difícil otrabalho no Congresso Nacional, dentro dos partidos, independentemente do campoideológico em que eles se situam. Precisamos valorizar a participação popular.

No Senado Federal, quando presidi a Comissão de infra-estrutura, a primeira e únicamulher que presidiu aquela comissão, discutimos muito a importância das audiênciaspúblicas. Era tipicamente uma comissão para homens, tratando setores dirigidos porhomens, e nós quebramos um tabu trazendo a questão das audiências públicas, comoinstrumento de fortalecimento e esclarecimento das opiniões. As pessoas começaram a sedar conta da importância daquela comissão que discutia problemas estratégicos. Foiquando começou a grande discussão das privatizações, da criação das agências reguladorase o povo não sabia o que era isso. O mesmo acontece quando abrimos uma discussão maisampla sobre a reforma política. As pessoas vão se interessando pelo tema e formandoopinião com base em uma quantidade maior de informação.

Penso que um ponto fundamental é o da fidelidade partidária, mas a fidelidadeprogramática da ação daqueles que nos representam e não alguma coisa sob comando delideranças. Vimos na nossa experiência no Congresso, quando o líder define, não reúne,não discute com os liderados. Contrariando as posições do seu partido, decide o que vaiser votado, como, e termina a questão.

Que a participação popular seja a alavanca de um grande debate nacional, que se fará nestepaís para se fazer a grande reforma política. Precisamos resgatar urgentemente a credibilidadeda classe política e fortalecer os nossos partidos. Viemos dessa luta e sabemos o quanto é difícilincorporar no meio político a necessidade da participação. E não podemos esquecer que nãotemos democracia sem a participação das mulheres e o empoderamento delas. Obrigada.

• CONSIDERAÇÕES FINAIS DA MESA

ARTUR HENRIQUE DA SILVA SANTOSPresidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) eConselheiro do CDES

Acho que mais uma vez está demonstrada a importância do CDES em promover esses

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97Anais do Seminário Reforma Política

debates que estão na ordem do dia. Tenho certeza que as três mesas-redondascontribuíram e muito para a compreensão da democracia no nosso país com análises,proposições e diagnósticos. Cabe a nós do movimento social, do movimento sindical epopular fazer com que as várias propostas aqui apresentadas tenham efetividade e possamser encaminhadas e aprovadas pelo Congresso Nacional. Agradeço mais uma vez aoportunidade da participação e com certeza estaremos juntos na construção dessatransformação tão necessária pela sociedade brasileira.

FRANCISCO ANTÔNIO DA FONSECA MENEZESPresidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar eNutricional (CONSEA)

Queria dizer que olhando em curto prazo talvez sejamos pessimistas em relação àreforma política com a não inclusão da participação, mas acho que no médio e longodevemos ser otimistas. Tomando um pouco as palavras da Emília, acho que a participaçãoda sociedade civil vem em um processo crescente que vai obrigar inevitavelmente oreconhecimento da democracia participativa e da democracia direta. Penso que essas duasdimensões da democracia vão se impor futuramente. Espero que o debate continue, pois éfundamental. Acho que essa foi uma primeira e saudável iniciativa do CDES. Outrosconselhos precisam estar se juntando nessa perspectiva e se pronunciando com vigor paraque seja atendida a necessidade de avanço da democracia brasileira. Obrigado.

LÚCIO RENNÓProfessor da Universidade de Brasília (UnB)

Falei dos pontos positivos e negativos, mas quero deixar claro que para mim é evidenteque os pontos positivos desses mecanismos participativos superam, e muito, os negativos.Os pontos negativos são, até certo ponto, contornáveis, por meio de regulação, de pensarformas de financiamento público, enfim, de outros mecanismos de aprimoramento dosinstrumentos participativos. O ganho que trazem esses mecanismos de participação sãoincomparáveis em relação aos custos de sua implementação. E o próprio CDES é um bomexemplo de participação, de consulta e que funciona muito bem, criando espaços para odiálogo, contatos entre membros da sociedade civil que não necessariamente existiriam senão fosse nesse ambiente. Gostaria de parabenizar o CDES pela iniciativa de criar esseespaço e agradeço, mais uma vez, o convite.

LUIZA ERUNDINADeputada Federal (PSB/SP) e Coordenadora da FrenteParlamentar pela Reforma Política com ParticipaçãoPopular

Quero lamentar que o tempo destinado ao debate com o plenário seja tão reduzido.Fica o compromisso de se retomar a discussão para aprofundá-la, seja neste Conselho, sejaem outro espaço.

Esse aspecto da reforma política, abordado aqui, não está sendo discutido nem pelaCâmara, nem pelo Senado. No entanto, a sociedade a está fazendo, através das entidadese dos movimentos sociais, e, sobretudo, pelas Frentes Parlamentares pela Reforma Política

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98 Anais do Seminário Reforma Política

com Participação Popular. Este tem sido um valioso instrumento para se ampliar amobilização e a participação da sociedade no debate sobre os temas da reforma.

Ao professor Rennó Lúcio, eu diria que, em vez de desvantagens ou limitações dosmecanismos de democracia direta, eu falaria de condicionamentos. Eles estão condicionados porvários fatores, sendo a mídia o principal deles. Os meios de comunicação social devem serdemocratizados, pois condicionam todos os processos sociais, no interesse dos detentores dopoder, cuja visão de mundo eles reproduzem, favorecendo seus privilégios.

A mídia é o meio mais eficaz na formação da opinião pública, por isso mesmo é o maiscobiçado e disputado pelos que detêm o poder econômico e o poder político na sociedade,com vistas a influir, de forma determinante, no comportamento dos trabalhadores, dossetores populares, e do conjunto da sociedade, sempre no seu próprio interesse, emdetrimento do interesse dos setores populares.

Num passado não muito distante, outros instrumentos eram usados na educaçãopolítica dos trabalhadores e dos segmentos populares da sociedade. Dentre outros,destacaria os partidos políticos de esquerda que tinham, entre suas funções importantes, ade educação e organização política dos trabalhadores e dos setores populares dasociedade. Entretanto, essa função foi sendo abandonada por esses partidos à medida quetransferiam sua militância política, das bases da sociedade, para os espaços institucionaisconquistados em eleições.

Nós, que temos origem nas classes trabalhadoras, somos minoria na Câmara e noSenado, enfrentando uma situação de absoluta desvantagem em termos de correlação deforças, o que é ainda mais difícil para nós, mulheres, que, sendo mais de 50% dapopulação, somos menos de 9% na Câmara dos Deputados e cerca de 12% no SenadoFederal. Em 180 anos do Legislativo no Brasil, nunca uma mulher ocupou uma vaga naMesa Diretora da Câmara, a não ser como suplente, e só a partir da década de 1980. Nãofalo da Presidência, mas, simplesmente, de cargo titular da mesa, de menor poder.

Não só a população tem dificuldade de entender a proposta de reforma política emdebate. Até mesmo alguns deputados não dominam todos os aspectos do tema. Alémdisso, a maior preocupação da maioria dos parlamentares é saber, por exemplo, se avotação em lista os prejudicaria ou não. A pergunta recorrente é: “Em que a lista será boapara mim, ou em que poderá me prejudicar?”

Quanto ao financiamento público, todos concordam, por entenderem que esse pontoos favorece: “Isso é bom para mim”, dizem.

Somos todos responsáveis pela preservação e pelo fortalecimento da democraciabrasileira, e, para tanto, precisamos nos juntarmos aos militantes das causas populares e àsforças progressistas da sociedade, protagonistas da luta pela redemocratização do país ecredores da democracia que conquistamos. É necessário, pois, preservar esse bem supremo;evitar e combater toda e qualquer ameaça de retrocesso; levarmos para as ruas, as praças,os ambientes de trabalho o debate sobre a reforma política. Não vale a alegação de que éum assunto complexo e, portanto, difícil de ser entendido pelo povo. Esta é uma maneirade subestimá-lo. O povo é capaz, sim, de entender tudo, desde que se adote umalinguagem simples e compreensível para ele.

Vejamos, por exemplo, o orçamento público que é a lei mais importante de qualquergoverno. É uma matéria, do ponto de vista técnico, bastante complicada; difícil, até mesmopara quem deve votá-la, ou seja, os parlamentares, que precisam de uma assessoria

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99Anais do Seminário Reforma Política

especializada para analisá-la e entendê-la. Mas não precisava ser assim, bastava sertraduzida numa linguagem acessível a qualquer cidadão que é a quem mais interessa, poisé quem paga os tributos que compõem a maior parte da receita orçamentária. Do lado dasdespesas, um governo que se diz democrático deve consultar a sociedade sobre em queaplicar, prioritariamente, os recursos previstos no orçamento. É assim que deve ser, se sequer, realmente, respeitar a vontade soberana do povo, pois é também disso que se estáfalando ao se discutir a reforma política como meio para se aperfeiçoar e fortalecer asinstituições públicas brasileiras.

Acho que, por termos nos afastado do meio do povo, perdemos o jeito de abordá-loe, conseqüentemente, de ajudá-lo a entender o que estamos decidindo em seu nome.Precisamos, pois, redescobrir e voltar a usar a pedagogia de Paulo Freire, que foi quem nosensinou a conhecer, a respeitar, e, sobretudo, a amar o povo a quem devemos servir.

É necessário que nos desencastelemos; que derrubemos os muros institucionais quenos distanciam da população. Abandonamos a militância a que nos dedicávamos, nos finsde semana, e que nos mantinha ligados às comunidades locais onde o povo vive. Estamosocupados demais com as querelas inúteis, principal ocupação dos que se fecham para avida real daqueles que representamos nos espaços institucionais como vereadores,deputados, senadores. Dessa forma, nos afastamos do povo, origem do poder queexercemos por delegação; fonte de inspiração da nossa ação política; por conseqüência,perdemos a legitimidade para representá-lo. É esta, pois, a principal causa da crise quevivemos hoje no Brasil: a perda de legitimidade da representação popular.

A verdadeira democracia supõe não só representantes legitimados e acreditados diantedo povo, mas este também precisa ser chamado a exercê-la diretamente, através demecanismos adequados e eficazes de democracia participativa.

Temos que sair deste encontro não só com o diagnóstico feito, mas sabendo também o que fazer para promover as mudanças necessárias. Neste sentido, proponho que se faça a democratização dos meios de comunicação social, para que esse patrimônio público não sejaapropriado, como é hoje, por meia dúzia de apaniguados, e tenha o controle da sociedade.Esse debate precisa ser feito, e o CDES é um dos espaços apropriados para se fazer isso.

Finalmente, temos que sair daqui determinados a contribuir para o fortalecimento daFrente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular, nos níveis nacional,estadual e local. Não podemos perder mais tempo, esperando, passivamente, que oCongresso faça essa reforma, ele não a fará. E se a fizer, serão apenas remendos, que nãoresolverão as graves distorções do nosso sistema político. Façamos, pois, a nossa parte, paraque tenhamos a reforma política que o país precisa e que a sociedade brasileira há muitotempo espera.

JOSÉ ANTONIO MORONIMembro do Colegiado de Gestão do Instituto de EstudosSocioeconômicos (INESC) e Conselheiro do CDES

Em nome do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, gostaria de agradecera presença de todos e de todas neste seminário. Obrigado e boa-noite.

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

100 Anais do Seminário Reforma Política

• AMB – Associação dos Magistrados Brasileiros

• ANCEABRA – Associação Nacional de Empresários e Empreendedores Afro-Brasileiros

• CDES – Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

• CGT – Central Geral dos Trabalhadores do Brasil

• CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

• CNC – Confederação Nacional do Comércio

• CNDM – Conselho Nacional dos Direitos da Mulher

• CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Ciêntífico e Tecnológico

• CNTI – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria

• CTE – Confederação dos Trabalhadores em Educação

• CUT – Central Única dos Trabalhadores

• FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná

• INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos

• IUPERG – Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro

• MAMA – Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia

• OAB – Ordem dos Advogados do Brasil

• SPM – Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres

• STF – Supremo Tribunal Federal

• TCU – Tribunal de Contas da União

• USP – Universidade de São Paulo

GLOSSÁRIO DE SIGLAS

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101Anais do Seminário Reforma Política

ANEXOS

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103Anais do Seminário Reforma Política

Projeto de Lei nº 2. 679/2003 (da Comissão Especial de Reforma Política)

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre as pesquisas eleitorais, o voto de legenda em listaspartidárias preordenadas, a instituição de federações partidárias, o funcionamentoparlamentar, a propaganda eleitoral, o financiamento de campanha e as coligaçõespartidárias, alterando a Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), a Lei nº9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei dos Partidos Políticos) e a Lei nº 9.504, de 30 deDsetembro de 1997 (Lei das Eleições).

Art. 2º Os artigos adiante enumerados da Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (CódigoEleitoral), passam a vigorar com a seguinte Dredação:

“Art. 105. (REVOGADO)..........................................................................

Art. 107. Determina-se para cada partido ou federação o quociente partidáriodividindo-se pelo quociente eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma

legenda, desprezada a fração. (NR)

Art. 108. Estarão eleitos tantos candidatos por partido ou federação partidária quantoso respectivo quociente partidário indicar, na ordem em que foram registrados. (NR)

Art. 109. ........................................................... I - dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a cada partido ou federação pelo

número de lugares por eles obtidos, mais um, cabendo ao partido ou federação que apresentara maior média um dos lugares a preencher;

II - ......................................................................

Parágrafo único. O preenchimento dos lugares com que cada partido ou federaçãopartidária for contemplado far-se-á segundo a ordem em que seus candidatos forem registradosnas respectivas listas. (NR)

Art. 110. (REVOGADO)

Art. 111. Se nenhum partido ou federação alcançar o quociente eleitoral, proceder-se-á a nova eleição. (NR)

Art. 112. Considerar-se-ão suplentes da representação partidária ou da federação oscandidatos não eleitos efetivos das listas respectivas, na ordem em que foram registrados. (NR).

ANEXO I

Dispõe sobre as pesquisas eleitorais, o voto de legenda em listas partidárias preordenadas, a instituição de federações partidárias, o funcionamento parlamentar, a propaganda eleitoral, o financiamentode campanha e as coligações partidárias, alterando a Lei nº 4.737, de15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), a Lei nº 9.096, de 19 desetembro de 1995 (Lei dos Partidos Políticos), e a Lei nº 9.504, de 30de setembro de 1997 (Lei das Eleições).

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104 Anais do Seminário Reforma Política

Art. 3º Fica acrescido, à Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995, o art. 11-A, com a seguinteredação:

“Art. 11-A Dois ou mais partidos políticos poderão reunir-se em federação, a qual, após a sua constituição e respectivo registro perante o Tribunal Superior Eleitoral, atuará como se fosse umaúnica agremiação partidária, inclusive no registro de candidatos e no funcionamento parlamentar,com a garantia da preservação da identidade e da autonomia dos partidos que a integrarem.

§ 1º A federação de partidos políticos deverá atender, no seu conjunto, às exigências do art. 13, obedecidas as seguintes regras para a sua criação:

I - só poderão integrar a federação os partidos com registro definitivo no Tribunal SuperiorEleitoral;

II - os partidos reunidos em federação deverão permanecer a ela filiados, no mínimo, por três anos;

III - nenhuma federação poderá ser constituída nos quatro meses anteriores às eleições.

§ 2º O descumprimento do disposto no § 1º deste artigo acarretará ao partido a perda do funcionamento parlamentar.

§ 3º Na hipótese de desligamento de um ou mais partidos, a federação continuará em funcionamento, até a eleição seguinte, desde que nela permaneçam dois ou mais partidos.

§ 4º O pedido de registro de federação de partidos deverá ser encaminhado ao TribunalSuperior Eleitoral acompanhado dos seguintes documentos:

I - cópia da resolução tomada pela maioria absoluta dos votos dos órgãos dedeliberação nacional de cada um dos partidos integrantes da federação;

II - cópia do programa e estatuto comuns da federação constituída; III - ata da eleição do órgão de direção nacional da federação.

§ 5º O estatuto de que trata o inciso II do § 4º deste artigo definirá as regras paracomposição da lista preordenada da federação para as eleições proporcionais. (NR)”

Art. 4º Os arts. 13, 39, 44 e 45 da Lei nº 9.096, de 1995, passam a vigorar com as seguintesalterações:

“Art. 13. Tem direito a funcionamento parlamentar, em todas as Casas Legislativas paraas quais tenha elegido representante, o partido que, em cada eleição para a Câmara dosDeputados, obtenha o apoio de, no mínimo, dois por cento dos votos apurados nacionalmente,não computados os brancos e nulos, distribuídos em, pelo menos, um terço dos Estados e eleja,pelo menos, um representante em cinco desses Estados. (NR)

..........................................................................

Art. 39. Ressalvado o disposto no art. 31, o partido político ou federação pode receber doações de pessoas físicas e jurídicas para a constituição de seus fundos, sendo vedado usá-losno financiamento de campanhas eleitorais. (NR)

..........................................................................

Art. 44..................................................................II - na propaganda doutrinária e política, exceto no segundo semestre dos anos em que

houver eleição; III - no alistamento; IV - na criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e

educação política, sendo esta aplicação de, no mínimo, vinte por cento do total recebido, dosquais, pelo menos, trinta por cento serão destinados às instâncias partidárias dedicadas aoestímulo e crescimento da participação política feminina.

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105Anais do Seminário Reforma Política

.........................................................................§ 4º É vedada a aplicação de recursos do Fundo Partidário em campanhas eleitorais. (NR) ..................................................................................

Art. 45. ................................................................. ..........................................................................IV - promover e difundir a participação política das mulheres, dedicando ao tema, pelo

menos, vinte por cento do tempo destinado à propaganda partidária gratuita. ........................................................................... (NR)”

Art. 5º Os dispositivos adiante enumerados da Lei n.º 9.504, de 1997, passam a vigorar comseguinte redação:

“Art. 5º Nas eleições proporcionais, contam-se como válidos apenas os votos dados às legendas partidárias e às de federações. (NR)

Art. 6º Poderão os partidos políticos e as federações partidárias, dentro da mesma circunscrição,celebrar coligação somente para a eleição majoritária.

..........................................................................

§ 2º Na propaganda eleitoral, a coligação usará, obrigatoriamente, sob sua denominação, as legendas de todos os partidos que a integram, devendo a coligação ser identificadapor número próprio, diverso dos usados para identificar cada um dos partidos coligados.

§ 3º...................................................................... ..........................................................................II - o pedido de registro dos candidatos deve ser subscrito pelos Presidentes dos

partidos e federações coligados, por seus delegados, pela maioria dos membros dos respectivosórgãos executivos de direção ou por representante da coligação, na forma do inciso III;

I I I - os partidos e federações integrantes da coligação devem designar umrepresentante, que terá atribuições equivalentes às de Presidente de partido político, notrato dos interesses e na representação da coligação, no que se refere ao processo eleitoral;

IV - a coligação será representada perante a Justiça Eleitoral pela pessoa designada na forma do inciso III ou por delegados indicados pelos partidos ou federações que a compõem, podendonomear até:

..........................................................................

§ 4º A deliberação sobre coligações caberá à convenção de cada partido ou federação partidária, em âmbito nacional, nas eleições presidenciais; em âmbito regional, quando se tratarde eleição federal ou estadual; e, em âmbito municipal, quando se tratar de eleição municipal,e será aprovada conforme dispuserem seus estatutos;

§ 5º Na mesma oportunidade, serão estabelecidas as candidaturas que caberão a cada partido ou federação. (NR)

.................................................................................

Art. 8º A escolha dos candidatos pelos partidos ou federações e a definição da ordem em queserão registrados devem ser feitas no período de 10 a 30 de junho do ano em que se realizarem aseleições, lavrando-se a respectiva ata em livro aberto e rubricado pela Justiça Eleitoral.

§ 1º (REVOGADO) .................................................................................

§ 3º Obedecido o disposto no § 4º, o partido ou a federação organizará, em âmbito estadual, em convenção regional, pelo voto secreto dos convencionais, uma lista partidária para

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106 Anais do Seminário Reforma Política

a eleição de Deputado Federal e outra para a de Deputado Estadual, Distrital ou de Território;em convenção de âmbito municipal, organizará uma lista partidária para a eleição de Vereador.

§ 4º A ordem de precedência dos candidatos na lista partidária corresponderá à ordem decrescente dos votos por eles obtidos na convenção;

§ 5º Cada convencional disporá de três votos, sendo-lhe permitido conferir mais de um voto ao mesmo candidato.

§ 6º Se no primeiro escrutínio não se lograr estabelecer a ordem de precedência da totalidade dos candidatos inscritos, os lugares remanescentes serão preenchidos em escrutíniossucessivos, vedado conferir mais de um voto ao mesmo candidato.

§ 7º No caso de mais de um candidato obter a mesma votação, a precedência será do mais idoso.

§ 8º Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou federação deverá reservar o mínimo de trinta por cento e o máximo de setenta por cento paraas candidaturas de cada sexo.

§ 9º O estabelecimento da ordem de precedência dos candidatos na lista de federação partidária obedecerá ao disposto no respectivo estatuto. (NR)

.................................................................................

Art. 10. Cada partido ou federação poderá registrar candidatos em listas preordenadas para a Câmara dos Deputados, Câmara Legislativa, Assembléias Legislativas e CâmarasMunicipais, até cento e cinqüenta por cento do número de lugares a preencher.

Parágrafo único. No caso de as convenções para a escolha de candidatos não indicaremo número máximo de candidatos previsto neste artigo, o partido ou a federação poderápreencher as vagas remanescentes até sessenta dias antes do pleito.(NR)

.................................................................................

Art. 12. (REVOGADO).................................................................................

Art. 15. Aos partidos e federações partidárias fica assegurado o direito de manter os números atribuídos à sua legenda na eleição anterior.

§ 1º Os candidatos aos cargos majoritários concorrerão com o número identificador do partido ao qual estiverem filiados.

§ 2º Os candidatos de coligações, nas eleições majoritárias, serão registrados com o número próprio da coligação, diverso dos usados para identificar cada um dos partidoscoligados. (NR)

.................................................................................

Art. 17. As despesas da campanha eleitoral serão realizadas sob a responsabilidade dos partidos e federações, e financiadas na forma desta Lei.

§ 1º Em ano eleitoral, a lei orçamentária respectiva e seus créditos adicionais incluirão dotação, em rubrica própria, destinada ao financiamento de campanhas eleitorais, de valorequivalente ao número de eleitores do País, multiplicado por R$ 7,00 (sete reais), tomando-sepor referência o eleitorado existente em 31 de dezembro do ano anterior à elaboração da leiorçamentária.

§ 2º A dotação de que trata este artigo deverá ser consignada ao Tribunal Superior

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107Anais do Seminário Reforma Política

Eleitoral, no anexo da lei orçamentária correspondente ao Poder Judiciário.

§ 3º O Tesouro Nacional depositará os recursos no Banco do Brasil, em conta especial à disposição do Tribunal Superior Eleitoral, até o dia 1º de maio do ano do pleito.

§ 4º O Tribunal Superior Eleitoral fará a distribuição dos recursos aos órgãos de direção nacional dos partidos políticos, dentro de dez dias, contados da data do depósito a que se refereo § 3º, obedecidos aos seguintes critérios:

I - um por cento, dividido igualitariamente entre todos os partidos com estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral;

II - quatorze por cento, divididos igualitariamente ente os partidos e federações com representação na Câmara dos eputados;

III - oitenta e c inco por cento, d iv id idos entre os part idos e federações,proporcionalmente ao número de representantes que elegeram, na última eleição geral paraa Câmara dos Deputados.

§ 5º Os recursos destinados a cada partido ou federação deverão aplicar-se de acordo com os seguintes critérios:

I - nas eleições presidenciais, federais e estaduais, quando o partido ou a federação tiverem candidato próprio a Presidente da República, os diretórios nacionais dos partidospolíticos e a direção nacional de cada federação reservarão trinta por cento dos recursos parasua administração direta;

II - se o partido ou federação não tiver candidato próprio a Presidente da República, mesmo concorrendo em coligação, os respectivos diretórios nacionais reservarão vinte por centodos recursos para sua administração direta;

III - nas hipóteses dos incisos I e II, os diretórios nacionais dos partidos ou federações distribuirão os recursos restantes aos diretórios regionais, sendo:

a) metade na proporção do número de eleitores de cada Estado, do Distrito Federale de cada Território; e

b) metade na proporção das bancadas dos Estados, do Distrito Federal e dosterritórios, que o partido ou federação elegeu para a Câmara dos Deputados.

II - nas eleições municipais, os diretórios nacionais dos partidos políticos ou a direção nacional de cada federação reservarão dez por cento dos recursos para sua administração diretae distribuirão os noventa por cento restantes aos diretórios regionais, conforme critériosestabelecidos nas alíneas a e b do inciso I.

III - dos recursos recebidos pelos diretórios regionais, dez por cento serão reservados para a sua administração direta e os noventa por cento restantes serão distribuídos aosdiretórios municipais, sendo: a) metade na proporção do número de eleitores do município; b) metade na proporção do número de vereadores eleitos pelo partido político ou federação, nomunicípio, em relação ao total de vereadores eleitos pelo partido político ou federação noEstado.(NR)

Art. 18 (REVOGADO)

Art. 19. Até dez dias após a escolha de seus candidatos em convenção, o partido,coligação ou federação partidária constituirá comitês financeiros, com a finalidade deadministrar os recursos de que trata o art. D17. (NR)

Art. 20. O partido, coligação ou federação partidária fará a administração financeira de cada campanha, usando unicamente os recursos orçamentários previstos nesta Lei, e fará aprestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral, aos Tribunais Regionais Eleitorais ou aosJuizes Eleitorais, conforme a circunscrição do pleito.

§ 1º Fica vedado, em campanhas eleitorais, o uso de recursos em dinheiro, ou

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108 Anais do Seminário Reforma Política

estimáveis em dinheiro, provenientes dos partidos e federações partidárias e de pessoasfísicas e jurídicas.

§ 2º Os partidos políticos, as coligações e as federações partidárias deverão apresentar: I - quarenta e cinco dias anteriores à data da eleição, a primeira prestação de contas

dos recursos usados na campanha até o momento da declaração; e II - até dez dias após a data de realização do pleito, a prestação de contas

complementar, relativa aos recursos despendidos posteriormente à primeira declaração atéo fim da campanha. (NR)

Art. 21. (REVOGADO)

Art. 22. É obrigatório para o partido, coligação e federação partidária abrir contabancária específica para registrar todo o movimento financeiro das campanhas.

§ 1º Os bancos são obrigados a aceitar o pedido de abertura de conta destinada àmovimentação financeira de campanha, sendo-lhes vedado condicioná-la a depósito mínimo.

......................................................................(NDR)

Art. 23 (REVOGADO)

Art. 24. É vedado a partido, coligação, federação Dpartidária e candidato receber,direta ou indiretamente, Drecursos em dinheiro ou estimáveis em dinheiro, inclusive DatravésDde Dpublicidade Dde Dqualquer Despécie, Dalém Ddos Dprevistos nesta Lei. D

§ 1º A doação de pessoa física para campanhas eleitorais sujeita o infrator aopagamento de multa no valor de cinco a dez vezes a quantia doada.

§ 2º A pessoa jurídica que descumprir o disposto neste artigo estará sujeita aopagamento de multa no valor de cinco a dez vezes a quantia doada e à proibição departicipar de licitações públicas e de celebrar contratos com o Poder Público pelo período decinco anos, por determinação da Justiça Eleitoral, em processo no qual seja asseguradaampla defesa.

§ 3º O partido ou federação que infringir o disposto neste artigo estará sujeito a multa no valor de três vezes o valor recebido em doação.

§ 4º Nas eleições majoritárias, o candidato que infringir o disposto neste artigo estará sujeito à cassação do registro ou do diploma, se este já houver sido expedido.

§ 5º Nas eleições proporcionais, observar-se-á o seguinte:

I - comprovada a responsabilidade do candidato, aplicar-se-lhe-ão as mesmas punições previstas no § 4º deste artigo, sem prejuízo de sua responsabilização por abuso de podereconômico, conforme as penas cominadas no art. 23, inciso III, da Lei nº 8.884, de 11 dejunho de 1994;

II - comprovada a responsabilidade do partido ou federação, independentemente daaplicação da multa prevista no § 3º, serão cassados o registro da lista partidária ou os diplomasdos candidatos, se já expedidos.

§ 6º Na hipótese de cassação de registro da lista partidária ou de federação, os votosque lhes foram atribuídos serão nulos, devendo a Justiça Eleitoral proceder a novo cálculo dosquocientes eleitoral e partidário. (NR)

Art.25. O partido ou federação que descumprir as normas referentes à arrecadação e

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109Anais do Seminário Reforma Política

aplicação de recursos fixadas nesta Lei perderá o direito ao recebimento da quota do FundoPartidário do ano seguinte, sem prejuízo de responderem os candidatos beneficiários por abuso dopoder econômico. (NR)

Art. 25-A A fiscalização de abuso do poder econômico, no curso da campanha, seráexercida por uma comissão instituída pela Justiça Eleitoral, em cada circunscrição.

§ 1º A composição, atribuições e funcionamento da comissão serão disciplinados pelo Tribunal Superior Eleitoral.

§ 2º Entre os membros da comissão constarão os representantes dos partidos,federações, coligações e outros que a Justiça Eleitoral considerar necessários.

§ 3º Por solicitação da comissão, o órgão competente da Justiça Eleitoral poderá,liminarmente, determinar a suspensão da campanha do candidato ou da lista, nas hipótesesprevistas nos §§ 4º e 5º do art. 24, pelo prazo máximo de cinco dias, assegurada ampla defesa.

..........................................................................

Art.27 (REVOGADO) .................................................................................

Art. 33. .......................................................................................................................................IV - plano amostral e quotas a serem usadas com respeito a sexo, idade, grau de

instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho; intervalo de confiança emargem de erro máximo admissível; informações sobre base de dados usada para a confecçãoda amostra, a saber: proveniência (censo, pesquisa por amostragem, ou outra modalidade),entidade que produziu e o ano de coleta dos dados;

.......................................................................(NDR)

Art. 33-A. As entidades e empresas especificadas no art. 33 são obrigadas, a cadapesquisa, a depositar, na Justiça Eleitoral, até quarenta e oito horas após a divulgação dosresultados, as seguintes informações:

a) percentual de entrevistas obtido em cada combinação de atributos ou valores das variáveis usadas para estratificação da amostra, tais como idade, sexo, escolaridade e nível sócioeconômico dos entrevistados;

b) para pesquisas de âmbito nacional, o perfil, por Estado, da amostra usada, com asinformações da alínea a, complementadas com a relação nominal dos municípios sorteados e onúmero de entrevistas realizadas em cada um;

c) para pesquisas de âmbito estadual, a relação nominal dos municípios sorteados, número de entrevistas realizadas e número de pontos de coleta de dados usados em cada um deles;

d) para pesquisas de âmbito municipal, número e localização dos pontos de coleta de dados usados, número de entrevistas efetuadas em cada um, e processo de seleção desses pontos;

e) para as pesquisas de “boca de urna”, além das informações objeto dos itens anteriores, a distribuição das entrevistas por horários no dia da eleição, com especificação dequantas entrevistas foram feitas em cada horário, a partir do começo da votação, até o últimohorário, quais as zonas e seções eleitorais sorteadas, qual o número de entrevistas por zonas eseções eleitorais e, se houver quotas, a sua especificação por horários, zonas e seções eleitorais.

Parágrafo único. O arquivo eletrônico com os dados obtidos pela aplicação doquestionário completo registrado deverá ser depositado, até quarenta e oito horas após adivulgação dos dados da pesquisa, nos órgãos da Justiça Eleitoral mencionados no § 1º doart. 33, e ser de imediato posto à disposição, para consulta, dos partidos, coligações efederações com candidatos ao pleito.

.................................................................................

Art.39.................................................................

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110 Anais do Seminário Reforma Política

..........................................................................

§ 4º A realização de comício é permitida no horário compreendido entre as oito horas e as vinte e quatro horas; espetáculos do tipo “showmício” e apresentações de natureza similar,que usem de artifícios visuais ou da participação de músicos, artistas e profissionais dos meiosde comunicação de massa são permitidos desde que, para efeito de prestação de contas, sejamcontabilizados a preço de mercado, ainda que prestados graciosamente.

..........................................................................

§ 6º Os infratores do disposto no § 4º estão sujeitos a multa equivalente ao dobro do que foi recebido ou estipulado, e o candidato, partido ou federação, a cassação do respectivoregistro. (NR)

.................................................................................

Art. 42 ................................................................ ..........................................................................

§ 2º................................................................... I - trinta por cento, entre os partidos, federações partidárias e coligações que tenham

candidato a Presidente da República; II - trinta por cento, entre os partidos, federações partidárias e coligações que tenham

candidato a Governador e a Senador; III - quarenta por cento, entre os partidos e federações partidárias que tenham

candidatos a eputado Federal, Estadual ou Distrital; IV - nas eleições municipais, metade entre os partidos, federações partidárias e

coligações que tenham candidato a Prefeito, e metade entre os partidos e federações quetenham candidatos a Vereador.

........................................................................(DNR)

.................................................................................

Art. 46................................................................... ..........................................................................II - nas eleições proporcionais, os debates deverão ser organizados de modo que

assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos e federaçõespartidárias a um mesmo cargo eletivo, podendo desdobrar-se em mais de um dia.

.......................................................................(DNR)

.................................................................................

Art. 59. .................................................................. ..........................................................................

§ 2º (REVOGADO) .................................................................................

Art. 60. (REVOGADO) .................................................................................

Art. 83. .................................................................. ...........................................................................

§ 2º Os candidatos a eleição majoritária serão identificados pelo nome indicado nopedido de registro, pela sigla e pelo número adotados pelo partido, coligação ou federação aque pertencem, e deverão figurar na ordem determinada por sorteio;

§ 3º Para as eleições realizadas pelo sistema proporcional, a cédula terá espaços para que o eleitor escreva a sigla ou o número do partido ou da federação de sua preferência.

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111Anais do Seminário Reforma Política

........................................................................(DNR)

Art. 85. (REVOGADO)

Art. 86. (REVOGADO)”

Art. 6º Os atuais detentores de mandato de Deputado ederal, Estadual e Distrital que, até avéspera da convenção para escolha de Dcandidatos, fizerem comunicação por escrito, ao órgão dedireção regional, de sua intenção de concorrer ao pleito, comporão a lista dos respectivos partidosou federações, na ordem decrescente dos votos obtidos nas eleições de 2002, salvo deliberação emcontrário do órgão competente do partido.

§ 1º O ordenamento da lista a que se refere o caput obedecerá aos seguintes critérios: I - primeiramente, na ordem decrescente da votação obtida no pleito de 2002, os

candidatos originários, isto é, os eleitos pelo próprio partido ou em coligação com este, ossuplentes efetivados e os suplentes que exerceram o mandato por, pelo menos, seis meses até31 de dezembro de 2003;

II - a seguir, os candidatos que houverem mudado de legenda partidária após o pleito de 2002, respeitada, igualmente, a ordem da votação obtida.

§ 2º Na hipótese de o partido ou federação não dispor de nenhum candidatooriginário, os candidatos oriundos de outros partidos comporão sua lista pela ordemdecrescente de suas votações no pleito de 2002.

Art. 7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO

O presente projeto de lei visa a sanar alguns problemas cruciais, de longa data apontados nosistema eleitoral brasileiro, os quais afetam não apenas o comportamento dos candidatos durante ascampanhas, mas também os próprios partidos políticos. Esses problemas têm, igualmente, profundosreflexos no funcionamento das Casas Legislativas, dos órgãos governamentais nos três níveis degoverno e, até mesmo, no relacionamento entre os Poderes.

Entre os problemas mencionados, que requerem soluções mais urgentes, estão os seguintes:

a) a deturpação do sistema eleitoral causada pelas coligações partidárias nas eleiçõesproporcionais;

b) a extrema personalização do voto nas eleições proporcionais, da qual resulta oenfraquecimento das agremiações partidárias;

c) os crescentes custos das campanhas eleitorais, que tornam o seu financiamento dependentedo poder econômico;

d) a excessiva fragmentação do quadro partidário;

e) as intensas migrações entre as legendas, cujas bancadas no Legislativo oscilamsubstancialmente ao longo das legislaturas.

Tais aspectos estão inter-relacionados e demandam, portanto, tratamento conjunto, apesar dea disciplina legal das matérias pertinentes ocorrer em diferentes diplomas.

O sistema eleitoral proporcional, adotado em nosso país desde o Código Eleitoral de 1932, épraticado em numerosas democracias contemporâneas, seja em forma pura, seja combinado com osistema majoritário, em escala distrital, em sistemas mistos de várias modalidades, os quais se têmdifundido mundialmente nos últimos anos.

No sistema proporcional, a regra de conversão de votos em cadeiras parlamentares estipula que se

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112 Anais do Seminário Reforma Política

guarde a proporcionalidade entre o tamanho da bancada que um partido conquista e o número de votospor ele recebido. No Brasil, essa proporcionalidade se faz dentro dos Estados, do Distrito Federal e dosTerritórios. É usada a fórmula do "quociente eleitoral", somente podendo ter representantes eleitos opartido que conquistar votos que alcancem pelo menos uma vez o valor desse quociente.

A exigência não é atendida por muitos partidos, os quais, para contorná-la, se coligam comoutros, estratégia que lhes permite superar a barreira do quociente. Os votos dos partidos coligadosse totalizam em nível de coligação e, na atribuição das cadeiras, segue-se a ordem de votaçãonominal dos candidatos, como se apenas de um partido se tratasse.

A mecânica mencionada é habitualmente ignorada pelo eleitor, que sufraga um candidato, semsaber que o voto que a ele confere pode, na verdade, vir a eleger candidato de outro partido. Não raro,um candidato da agremiação maior na coligação deixa de ser eleito, porque vem a ser preterido peloda agremiação menor. Esta, sem a coligação, não teria alcançado o quociente.

A prática dilui as diferenças entre os partidos, parecendo servir apenas de expediente para burlara barreira legal. Além disso, a não-permanência da coligação após o pleito, no trabalho legislativo,acentua o caráter oportunista e episódico da aliança.

Da perspectiva do eleitor comum, portanto, subtrai-se inteligibilidade ao sistema e, no médioprazo, pode afetar-se a própria legitimidade da representação.

Para corrigir tal distorção, estamos propondo o fim das coligações nas eleições proporcionais,em linha com numerosos projetos de lei que têm tramitado tanto nesta Casa quanto no SenadoFederal, entre eles o PL nº 1.562, de 1999 (PLS 178/99), de autoria do então Senador SérgioMachado, o PL nº 669, de 1999, de autoria do Deputado Aloysio Nunes Ferreira; PL nº 3.367, de2000, do Deputado Ricardo Ferraço; PL nº 7.048, de 2002, do Deputado Coriolano Sales.

Contudo, pequenas agremiações, de caráter histórico, que legitimamente se propõem a difundir suasidéias e princípios na vida política, reivindicam o direito de subsistir como tais. Com o fim das coligações,a fórmula das federações, sobre a qual dispõe o projeto, permitirá aos pequenos partidos contornar oobstáculo do quociente eleitoral, desde que haja o compromisso, legalmente estabelecido, de estabilidadeda aliança pelo período mínimo de três anos, pois funcionarão eles como um só partido.

Outrossim, a união de partidos em federações permitir-lhes-á satisfazer as exigências da Lei dosPartidos no que respeita ao funcionamento parlamentar, uma vez que seus votos são somados comose de um único partido se tratasse.

A idéia de federação foi lançada, inicialmente, no Senado Federal, no PL nº 2.220, de 1999, deautoria do Senador José Agripino (PLS nº D180/99), dentro do contexto do voto proporcional vigenteno País, que é o da lista aberta. Visa a proposição contornar a exigência legal para o funcionamentoparlamentar contida no art. 13, da Lei nº 9.096, de 1995 (Lei dos Partidos). Nesta Casa, o DeputadoVirgílio Guimarães apresentou o PL nº 3.952/2000, instituindo as federações partidárias destinadasa permitir o registro definitivo dos partidos dela integrantes.

Outro aspecto problemático do sistema eleitoral brasileiro que acima apontamos reside napersonalização do voto.

Uma característica da maioria das democracias que adotam o sistema eleitoral proporcional é o votoem listas fechadas, ou seja, listas definidas pelos partidos antes das eleições, em que os candidatos vêmapresentados na seqüência em que os partidos os querem eleitos. Após as eleições, se um partido, emrazão do “quociente partidário”, tem direito, por exemplo, a quinze cadeiras no Legislativo, elas serãoocupadas pelos quinze primeiros nomes da lista preordenada oferecida aos eleitores.

No Brasil, optou-se por uma espécie rara de sistema proporcional, a lista aberta, em que o voto é dado ao candidato, não à legenda. Ainda que se permita o voto de legenda, ele ainda é minoritário.É somado ao total de votos conferidos aos candidatos, para efeito do cálculo do quociente eleitoral.

O voto em candidato, em vez de em partido, tem sido diagnosticado, de longa data, inclusive poreminentes líderes políticos, como nocivo à disciplina e coesão partidárias. à medida que boa parcela denossa representação política enfrenta o desafio eleitoral através de esforços e estratégias individuais,inclusive no financiamento de campanhas, certamente seu comportamento com relação ao partido nãoterá as mesmas características que teria, caso o partido fosse relevante para a escolha dos eleitores.

Como se vê, no projeto, estamos diante do voto de legenda puro. Em geral, na cédula de

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113Anais do Seminário Reforma Política

votação, aparecem legenda partidária e, a título de ilustração, os primeiros nomes da lista, nunca alista completa. Vota-se num partido, não num candidato. Propostas no sentido de abandonarmos avotação em candidato para a votação na lista partidária preordenada, seja em forma pura, seja mista(no que a literatura chama sistemas de lista flexível), têm sido apresentadas no Congresso: naCâmara, o PL nº 2.887, de 2000, de autoria do Deputado João Paulo; o Senado Federal aprovou oPL nº 3.428, de 2000 (PLS nº 300/99), de autoria do ex-Senador Roberto Requião, ao qual seapensaram nesta Casa o PL nº 3.949/2000, de autoria do Deputado Virgílio Guimarães, e o PL nº992/2003, de autoria do Deputado Bonifácio de Andrada.

Trata-se de uma opção política, no sentido de reforçar as agremiações partidárias, dentro da visãode que, em sociedades de massa, com gigantescos eleitorados, a democracia representativa só funcionabem quando há partidos, isto é, organizações intermediárias capazes de recrutar líderes e militantes,fazer campanhas em torno de plataformas, atuar disciplinadamente no Legislativo e, conquistando ogoverno, levar adiante as políticas pelas quais propugnaram. O funcionamento da democracia requerinterlocutores confiáveis e permanentes. Os partidos são tão relevantes na moldura política de um paísquanto a existência de um marco regulatório e jurídico estável o é para a sua economia e sociedade.

Não há falar, com a introdução do voto em lista partidária preordenada, em ofensa ao princípiodo voto direto, cláusula pétrea da Constituição. Voto direto significa que o voto leva à apuração do resultado da eleição sem decisão intermediária. Fica excluída, por exemplo, a eleição por meio de delegados, num colégio eleitoral. O eleitor escolhe diretamente o partido, oque significa escolher um grupo de candidatos organizados em lista, os quais, eleitos na ordem emque nela se apresentam, vão desempenhar sua função no parlamento.

Não é novidade ter optado nosso sistema constitucional, faz muito, pela democracia por meiodos partidos. Nossa Constituição dedica aos partidos políticos o Capítulo V – “Dos Partidos Políticos”- do Título II - "Dos Direitos e Garantias Fundamentais", além de exigir, entre as condições deelegibilidade, a filiação partidária, na forma da lei. Aos que argumentam que, com a sistemática oraproposta, priva-se o eleitorado de um direito, que é o de votar no candidato, na pessoa, obrigando-o avotar numa coletividade, há que lembrar que, mesmo sob a forma atual de voto em lista aberta, o eleitornão vota no universo de concidadãos. Vota em candidatos filiados a partidos, por estes selecionadospreviamente, colocados numa lista e assim apresentados ao eleitorado. Houve, portanto, umaintermediação, uma seleção prévia, feita pela agremiação, não pelo eleitor, que não pode votar emquem quiser, a seu bel-prazer, senão apenas num grupo de pessoas designado pelo partido.

Ademais, o voto de legenda é ínsito ao sistema proporcional, sendo adotado entre nós desde aintrodução deste, jamais contestada a sua constitucionalidade.

A disposição contida no projeto visa precisamente ao reforço das entidades partidárias. A disciplinado comportamento legislativo destas se obtém, quase sempre, não como fruto da adesão de seusfiliados a princípios ou programas, que os levam a votar na mesma direção, mas sim da busca, por eles,de vantagens individuais. Tampouco se pode ignorar que, tal como acontece na presente legislatura,em virtude das intensas migrações entre as legendas, a disciplina do partido num tempo 1 é a de umaentidade diversa da que se apresenta em plenário nos tempos 2, 3, e assim por diante, em virtude damudança significativa de composição partidária.

Tal situação longe está de refletir a desejável estabilidade institucional; retrata, antes, umambiente altamente instável, e provavelmente diminui o prestígio das instituições políticas, emparticular o do Poder Legislativo, perante a sociedade.

Com maior estabilidade do quadro partidário, podem os partidos desempenhar uma crucial função, ade clarificar, para o eleitorado, as questões em jogo na sociedade e as propostas de cada grupo para lidarcom elas. Os partidos organizados são capazes de fazer compromissos e cumpri-los, de interagirresponsavelmente uns com os outros nas negociações no plano do Legislativo e na composição dosgovernos de coalizão, que em nosso país são a forma habitual de exercício do Poder Executivo. Em suma,os partidos trazem segurança à vida política e permite a formação de expectativas razoáveis sobre seuscomportamentos futuros, exigência da vida moderna para todos os agentes responsáveis no âmbito público.

O atual sistema eleitoral não só é corrosivo para os partidos, mas é também obstáculo àimplantação do financiamento público de campanhas eleitorais.

O problema do financiamento de partidos e candidaturas é um dos maiores desafios que enfrentam

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114 Anais do Seminário Reforma Política

as democracias hodiernas. Em passado não muito distante, o trabalho eleitoral era feito, em muitos países,com recurso à militância, quase sempre em caráter voluntário. Em alguns países, fazia-se a campanha deporta em porta e contato direto com o eleitor. Os comícios tinham grande importância. Crescentemente,os meios de comunicação de massa passaram a substituir o antigo trabalho pessoal, sobretudo devido àprópria magnitude demográfica do eleitorado. As campanhas mudaram radicalmente de feição, com apresença cada vez maior da mídia televisiva. As implicações de custo foram imediatas. Hoje em dia, ascampanhas se tornaram caríssimas, o que leva à necessidade de abundantes recursos financeiros, em geralnão disponíveis para partidos e candidatos.

A necessidade de recursos é suprida seja pelas contribuições privadas, de cidadãos e, sobretudo, degrandes empresas, seja pelo uso da máquina administrativa. Em ambos os casos, são maculadas anormalidade e a legitimidade das eleições. Na primeira situação, gera-se dependência da representaçãocom respeito aos seus financiadores, o que não é sadio para a vida democrática. Na segunda, configura-se uma deturpação do princípio republicano, desigualando os competidores e criando-se umapatrimonialização da coisa pública em proveito de poucos. As democracias têm apelado, por essa razão,para esquemas de financiamento público, que, entre outras virtudes, possibilita a partidos e candidatossem acesso a fontes privadas competir em igualdade de condição com os demais.

No entanto, o convívio entre financiamento público e privado é problemático, porque não inibe aação do poder econômico, razão pela qual optamos, neste projeto, pelo financiamento público exclusivo.

O tema do financiamento público vem sendo tratado em proposições apresentadas nas duasCasas do Congresso: o PL nº 4.593, de 2001 (PLS nº 353/99), de autoria do ex-Senador SérgioMachado, o PL nº 671/99, de autoria do Deputado Aloysio Nunes Ferreira, o PL nº 830/99, deautoria da ex-Deputada Rita Camata, o PL nº 1.577/99, de autoria do Deputado ClementinoCoelho, o PL nº 1.495/99, do Deputado João Paulo, o PL nº 2.948/00, do Deputado Haroldo Lima.

O financiamento público exclusivo é, porém, incompatível com a sistemática atual do voto em listaaberta. A campanha em bases individuais, peculiar a essa modalidade, exigiria a divisão da dotaçãopartidária pelos candidatos. Os recursos se diluiriam e, certamente, teriam de ser complementados comrecursos de outras fontes, e o sistema estaria comprometido. Com financiamento a partidos queapresentam listas fechadas, a campanha eleitoral será da agremiação como um todo. Os programaseleitorais, os comícios, a propaganda, enfim, serão empreendimentos partidários, devendo todostrabalhar pela causa comum. O custo da campanha poderá diminuir sensivelmente e mais se reforçaráa legitimidade do processo político. Também a fiscalização dos pleitos pela Justiça Eleitoral tornar-se-ámuito mais simples, pois em vez de deparar-se ela com milhares de prestações de conta, produzidas pormilhares de candidatos, examinará um número reduzido delas, de responsabilidade os próprios partidos.

Não menos significativo em nossa vida política tem sido o problema da fragmentação do quadropartidário, já implicitamente mencionado quando falamos do tema das coligações nas eleiçõesproporcionais. Diagnósticos de faz alguns anos viam como extremamente negativa a proliferação delegendas, propiciada por normas legais demasiado permissivas para a criação de partidos.

Muitas democracias contemporâneas são multipartidárias e parlamentares. Sua governabilidade nãoé comprometida, porque os partidos se unem para a formação de gabinetes, que procuram contemplaras várias agremiações com pastas ministeriais. Na prática, portanto, os partidos se aproximam, passandoa funcionar em bloco, seja no governo, seja na oposição.

Contudo, o multipartidarismo com presidencialismo é mais problemático. São oportunas asconclusões de ambiciosa pesquisa comparativa sobre as instituições políticas e o desenvolvimento,que a seguir citamos:

1 [1] – Adam Przeworski, Michael E. Alvarez, José Antônio Cheibub e Fernando Limongi, Democracy and Development: PoliticalInstitutions and Well-Being in the World, 1950-1990, Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2000, pgs 128-136.

Tem-se afirmado serem os sistemas presidenciais sobremodo instáveis quando seu sistemapartidário é altamente fracionado (...) A ausência de um partido majoritário (...) tem forteimpacto sobre a estabilidade das democracias presidenciais, instáveis quando nenhum partidocontrola uma maioria de assentos na câmara baixa. Já as perspectivas de sobrevivência das

democracias parlamentares independem da existência de um partido majoritário.1 [1]

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115Anais do Seminário Reforma Política

Na verdade, a maneira como o sistema presidencial brasileiro procura superar a dificuldade dafragmentação partidária, com a falta de um partido maior de sustentação parlamentar, é mediantea construção de coalizões, tecidas mediante forte cooptação individual de parlamentares, a qual, omais das vezes, é a responsável pelas intensas mudanças de partido.

Para obter um quadro partidário menos fragmentado, as democracias contemporâneas valem-se de alguns recursos. Um deles é a adoção de uma regra de atribuição de cadeiras entre os partidos,após as eleições, que pode favorecer os partidos maiores (a fórmula D’d Hondt, conhecida como“das maiores médias”, tem esse efeito). Outro recurso são as cláusulas de desempenho, que fixamporcentagens mínimas do eleitorado para que os partidos tenham representação parlamentar.

No Brasil, o art. 13 da Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos) dispõe que, para funcionamentoparlamentar, os partidos tenham alcançado pelo menos cinco por cento dos votos apurados, distribuídosem, pelo menos, um terço dos Estados, com um mínimo de dois por cento do total de cada um deles.Essa cláusula, atenuada por disposições transitórias de transição, entrará em vigor na eleição de 2006.

A existência de legendas pequenas, mas com importância histórica, que se propõem a difundirsuas idéias e princípios, suscita uma importante questão para os esforços de “engenharia política”destinados a estreitar o leque partidário.

Até o momento, como salientado anteriormente, a mecânica das coligações tem dadosobrevida a essas legendas. No projeto ora apresentado, propõe-se a nova figura das federaçõespartidárias, para que desempenhem a mesma função das coligações, sem os inconvenientes destas.

A disposição permanente do art. 13 da Lei dos Partidos, diante da proibição das coligações naseleições proporcionais, parece-nos poder ser atenuada, sem concessão, todavia, no que diz respeitoao caráter nacional dos partidos, exigência da Constituição Federal (art. 17, I).

Além dos aspectos acima discutidos, outros problemas se apresentam no sistema eleitoral, com reflexosno sistema político, que é possível corrigir. Outra deficiência de nossa organização política é a baixarepresentação das mulheres. A experiência internacional demonstra que um estímulo consciente, no planoinstitucional, dessa representação tem dado frutos, pelo que se recomenda a atenção ao problema napresente reforma. Além de manter, na disposição relativa às listas preordenadas, o percentual mínimo hojeassegurado a cada sexo, o projeto também assegura, inspirando-se em propostas apresentadas pelaDeputada Luíza Erundina, trinta por cento do total de recursos do Fundo Partidário destinados à criação emanutenção de instituto ou fundação de pesquisa ou de doutrinação política, às instâncias partidáriasdedicadas ao estímulo e crescimento da participação política feminina e pelo menos vinte por cento do tempodestinado à propaganda partidária gratuita para promover e difundir a participação política das mulheres.

Finalmente, o Projeto contempla aperfeiçoamentos no tocante às pesquisas eleitorais, nosentido de obter maior transparência no seu uso durante as campanhas eleitorais.

A proposição ora apresentada resulta do cuidadoso exame e aproveitamento de inúmeras outras,oferecidas nas duas Casas do Congresso Nacional, as quais versam sobre alguns dos temas básicos deuma reforma política. É produto, também, da audiência de renomados especialistas nos temas tratadosque atenderam ao convite da Comissão para discuti-los conosco.

Mas, sem dúvida, foi essencial para construí-la a contribuição de nossos Pares, tanto osmembros do Colegiado, como também outros ilustres colegas interessados na reforma política, que,com sua presença assídua e entusiasmo nas discussões, muito ajudaram ao Presidente e ao Relatorna consolidação de um texto com os pontos mais relevantes e urgentes da reforma política,suscetíveis de tratamento articulado no plano infraconstitucional.

Na certeza de que o projeto constitui um passo decisivo para o aprimoramento de nossademocracia, ao atacar problemas cuja natureza exige soluções interligadas, contamos com o apoiode nossos Pares para sua aprovação.

Sala das Sessões, em de ........ de 2003.

Deputado ALEXANDRE CARDOSOPresidente

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116 Anais do Seminário Reforma Política

EMENDA SUBSTITUTIVA GLOBAL AO PROJETO DE LEI Nº 1.210, de 2007 (Do Sr. Regis Oliveira)

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre as pesquisas eleitorais, o voto de legenda em listas partidárias, apropaganda eleitoral, o financiamento de campanhas e as coligações eleitorais, alterando a Lei nº4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), a Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995 (Leidos Partidos Políticos) e a Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições).

Art. 2º Os artigos adiante enumerados da Lei n.º 4.737, de 15 de julho de 1965 (CódigoEleitoral), passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 105. Fica facultado a 2 (dois) ou mais partidos celebrarem coligação para aeleição de candidatos a Deputado Federal, Deputado Estadual, Deputado Distrital e Vereador,atuando como se fossem uma única agremiação partidária, com a garantia da preservação daidentidade e da autonomia dos partidos que a integrarem.

§ 1º A coligação será constituída como federação de partidos políticos, identificadacom nome e facultado número próprio, obedecendo às seguintes regras para a sua criação:

I – só poderão integrar a federação os partidos com registro definitivo no TribunalSuperior Eleitoral;

II – os partidos coligados em federação deverão permanecer a ela filiados, no mínimo,por três anos;

III – nenhuma federação poderá ser constituída nos três meses anteriores às eleições.

§ 2º O descumprimento do disposto no § 1º, II, deste artigo acarretará ao partido aperda das cotas do fundo partidário no ano subsequente, que serão divididas entre os demaispartidos.

§ 3º Na hipótese de desligamento de um ou mais partidos, a federação continuará emfuncionamento desde que nela permaneçam dois ou mais partidos.

§ 4º O pedido de registro de federação de partidos deverá ser encaminhado ao TribunalSuperior Eleitoral acompanhado dos seguintes documentos:

I – cópia da resolução tomada pela maioria absoluta dos votos dos órgãos dedeliberação nacional de cada um dos partidos integrantes da federação;

II – cópia do programa e ato constitutivo da federação;

III – ata da eleição do órgão de direção nacional da federação.

§ 5º O ato constitutivo de que trata o inciso II do § 4º deste artigo definirá as regras

ANEXO II

Dispõe sobre as pesquisas eleitorais, o voto de legenda em listas partidárias,as coligações eleitorais, a propaganda eleitoral, o financiamento decampanhas, alterando a Lei n.º 4.737, de 15 de julho de 1965 (CódigoEleitoral), a Lei n.º 9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei dos PartidosPolíticos), e a Lei n.º 9.504, de 30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições).

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117Anais do Seminário Reforma Política

para composição da lista preordenada da federação para as eleições proporcionais. (NR)

§6º Não há obrigatoriedade da reprodução nos Estados e Municípios das coligaçõesestabelecidas nacionalmente .(NR)”

“Art. 107. Determina-se para cada partido ou federação o quociente partidáriodividindo-se pelo quociente eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma legenda,desprezada a fração. (NR)”

“Art. 108. Estarão eleitos tantos candidatos por partido ou federação quantos orespectivo quociente partidário indicar, ordenados conforme o disposto no art. 109-A. (NR)”

“Art. 109. ...........................................................

I – dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a cada partido ou federação pelonúmero de lugares por eles obtidos, mais um, cabendo ao partido ou federação que apresentara maior média um dos lugares a preencher;

.......................................................................

Parágrafo único. O preenchimento dos lugares com que cada partido ou federaçãopartidária for contemplado far-se-á segundo a ordem definida no art. 109-A. (NR)”

“Art. 109-A Após a determinação dos quocientes eleitoral e partidário e calculadas assobras, se houver (arts. 107 a 109), serão preenchidas os lugares com que cada partido oufederação for contemplado, de acordo com os seguintes critérios:

I – metade dos lugares com que o partido ou federação for contemplado, ou o númerointeiro menor mais próximo, será preenchida na ordem da lista registrada;

II – os demais lugares do partido ou federação serão distribuídas na ordem da votaçãonominal que cada candidato integrante da lista tenha recebido, dela retirados os candidatos jáeleitos conforme a regra do inciso I.

Parágrafo Único. Havendo apenas um lugar a ser preenchido, observar-se-á,exclusivamente, o critério estabelecido no inciso II.”

“Art. 110. (REVOGADO)”

“Art. 111. Se nenhum partido ou federação alcançar o quociente eleitoral, os lugaresserão distribuídos de acordo com o critério das maiores médias de votos, na forma estabelecidano art. 109, I e II. (NR)”

“Art. 112. Considerar-se-ão suplentes da representação partidária ou da federação oscandidatos com maior votação nominal dentre os não eleitos integrantes das listas respectivas.(NR)”

“Art.146...................................................................

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118 Anais do Seminário Reforma Política

§ 1º. Para ser admitido a votar, deverá o eleitor sempre apresentar documento oficialcom foto. (NR)”

§2º. A Justiça Eleitoral deverá substituir os atuais titulos eleitorais por documento comfoto do eleitor, conforme cronograma por ela fixado.

Art. 3º Os arts. 38, 39, 41, 44 e 45 da Lei n.º 9.096, de 1995, passam a vigorar com as seguintesalterações:

“Art. 38 ..................................................................................................................

III – (revogado) .......................................................................(NR)”

“Art. 39. É vedado a partido político ou federação receber doações de pessoas físicase jurídicas para a constituição de seus fundos. (NR)”

“Art. 41. O Tribunal Superior Eleitoral, dentro de cinco dias, a contar da data dodepósito a que se refere o § 1º do art. 40, fará a respectiva distribuição aos órgãos nacionaisdos partidos, nos termos do art. 41-A. (NR)”

“Art. 44...........................................................................................

II – na propaganda doutrinária e política, exceto no segundo semestre dos anos em quehouver eleição;

III – no alistamento;

IV – na criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinaçãoe educação política, sendo esta aplicação de, no mínimo, vinte por cento do total recebido, dosquais, pelo menos, trinta por cento serão destinados às instâncias partidárias dedicadas aoestímulo e crescimento da participação política feminina.

...........................................................................

§ 4º É vedada a aplicação de recursos do Fundo Partidário em campanhas eleitorais.(NR)”

“Art. 45. .......................................................................................

IV - promover e difundir a participação política das mulheres, dedicando ao tema, pelomenos, vinte por cento do tempo destinado à propaganda partidária gratuita.

V – promover e difundir a participação política dos jovens, negros e indígenas,dedicando ao tema, pelo menos, dez por cento do tempo destinado à propaganda partidáriagratuita.

........................................................................... (NR)”

Art. 5º Os dispositivos adiante enumerados da Lei n.º 9.504, de 1997, passam a vigorar com aseguinte redação:

“Art. 5º Contam-se como votos válidos os votos dados às legendas partidárias, federações eaos candidatos. (NR)”

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119Anais do Seminário Reforma Política

“Art. 6º Poderão os partidos políticos e as federações partidárias, dentro da mesmacircunscrição, celebrar coligação para a eleição majoritária.

............................................................................

§ 2º Na propaganda eleitoral, a coligação usará, obrigatoriamente, sob suadenominação, as legendas de todos os partidos e federações partidárias que a integram,podendo a coligação ser identificada pelo número de qualquer um dos partidos ou federaçãoque a integram, ou por número próprio.

§ 3º................................................................................................

II – o pedido de registro dos candidatos deve ser subscrito pelos Presidentes dospartidos e federações coligados, por seus Delegados, pela maioria dos membros dos respectivosórgãos executivos de direção ou por representante da coligação, na forma do inciso III;

III – os partidos e federações integrantes da coligação devem designar umrepresentante, que terá atribuições equivalentes às de Presidente de partido político, no tratodos interesses e na representação da coligação, no que se refere ao processo eleitoral;

IV – a coligação será representada perante a Justiça Eleitoral pela pessoa designada naforma do inciso III ou por Delegados indicados pelos partidos ou federações que a compõem,podendo nomear até:

.............................................................................

§ 4º A deliberação sobre coligações caberá à convenção de cada partido ou ao órgãocompetente da federação partidária, em âmbito nacional, nas eleições presidenciais; em âmbitoregional, quando se tratar de eleição estadual; e, em âmbito municipal, quando se tratar deeleição municipal.

§ 5º Na mesma oportunidade, serão estabelecidas as candidaturas que caberão a cadapartido ou federação. (NR)”

“Art. 8º A escolha dos candidatos pelos partidos ou federações e a definição da ordemem que serão registrados devem ser feitas no período de 10 a 30 de junho do ano em que serealizarem as eleições, lavrando-se a respectiva ata em livro aberto e rubricado pela JustiçaEleitoral.

§ 1º (REVOGADO)

............................................................................

“Art. 8-A A elaboração da lista de candidatos para a eleição de Deputado Federal, paraa de Deputado Estadual, Distrital ou de Território e para a eleição de Vereador poderá ser feitapor uma das seguintes formas, de acordo com a deliberação do Diretório Nacional:

I – votação nominal em convenção partidária;II – votação por chapas em convenção partidária;

III – prévias abertas à participação de todos os filiados da respectiva circunscriçãoeleitoral;

§1º No caso da votação nominal em convenção partidária observar-se-ão as seguintesregras:

I - A ordem de precedência dos candidatos na lista preordenada corresponderá à ordem

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120 Anais do Seminário Reforma Política

decrescente dos votos por eles obtidos em votação secreta

II - Cada convencional votará em três candidatos diferentes, em cédula única, sob penade nulidade.

III - Se, no primeiro escrutínio, não se lograr estabelecer a ordem de precedência datotalidade dos candidatos inscritos, os lugares remanescentes serão preenchidos em escrutíniossucessivos, em que o convencional terá direito a apenas um voto.

IV - No caso de mais de um candidato obter a mesma votação, em qualquer escrutínio,a precedência será dada àquele que contar com mais tempo de filiação; persistindo o empate,terá precedência o mais idoso.

§2º No caso da votação por chapas observar-se-á as seguintes regras:

I – para cada lista, serão apresentadas, na convenção correspondente, uma ou maischapas com a relação preordenada dos candidatos, até o número de candidatos por partidopermitido em lei;

II – cada convencional disporá de um voto por chapa, garantido o sigilo da votação;

III – computados os votos dados às chapas pelos convencionais, proceder-se-á àelaboração da lista partidária preordenada, na qual o primeiro lugar caberá à chapa mais votadae os demais, em seqüência, sempre à chapa que apresentar a maior média de votos por lugar,calculada da seguinte forma:

a) divide-se o número de votos atribuídos a cada chapa pelo número de lugares por elajá preenchidos, mais um, cabendo à que apresentar a maior média o próximo lugar a preencher;

b) repete-se a operação para a distribuição de cada um dos lugares na lista.

§3º No caso de prévias, observar-se-ão as regras do §1º ou do § 2º, conforme reguladono estatuto partidário

§4º Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido oufederação deverá reservar o mínimo de trinta por cento e o máximo de setenta por cento paraas candidaturas de cada sexo.

§5º A organização da lista deverá observar, a cada eleição, um percentual mínimo derenovação das candidaturas, a ser definido pelo estatuto partidário, não podendo ser inferior a20% da lista antecedente.

§6º O estabelecimento da ordem de precedência dos candidatos na lista de federaçãopartidária obedecerá ao disposto no ato constitutivo.

§7º O diretório nacional, por sua iniciativa ou provocado por convencional, poderáinvalidar o resultado das convenções dos órgãos inferiores, em caso de descumprimento dasregras deste artigo. (NR)”

“Art. 8º-B. É vedado a candidato, pré-candidato ou pessoa com seu conhecimentoefetuar quaisquer despesas com convencionais, inclusive com transporte, hospedagem,alimentação e material publicitário, salvo a entrega de uma carta aos convencionais, sob penade exclusão da lista de candidaturas, se, afinal, escolhido para integrá-la.”

“Art. 10. Cada partido ou federação poderá registrar candidatos em listas

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121Anais do Seminário Reforma Política

preordenadas para a Câmara dos Deputados, as Assembléias Legislativas, a Câmara Legislativae as Câmaras Municipais, até cento e cinqüenta por cento do número de lugares a preencher.

Parágrafo único. No caso de as convenções para a escolha de candidatos não indicaremo número máximo de candidatos previsto neste artigo, o partido ou a federação poderápreencher as vagas remanescentes até sessenta dias antes do pleito.(NR)”

“Art. 11. Os partidos, federações partidárias e coligações solicitarão à Justiça Eleitoralo registro de seus candidatos até as dezenove horas do dia 5 de julho do ano em que serealizarem as eleições.

§ 6º Os partidos deverão apresentar as diretrizes que balizarão o exercício dasatividades dos candidatos eleitos durante todo o mandato. (NR)”

“Art. 11-A. Na semana seguinte ao registro das candidaturas, a Justiça Eleitoralrealizará audiências públicas precedidas de ampla divulgação em todas as circunscrições parainformar a comunidade e os representantes partidários sobre o processo eleitoral.(NR)”

“Art. 13. É facultado ao partido, federação partidária ou coligação substituir candidatoque for considerado inelegível, renunciar ou falecer após o termo final do prazo do registro ou,ainda, tiver seu registro indeferido ou cancelado.

§ 1º A escolha do substituto far-se-á na forma estabelecida no estatuto do partido oufederação partidária a que pertencer o substituído, e o registro deverá ser requerido até dez diacontados do fato ou da decisão judicial que deu origem à substituição.

§ 2º Nas eleições majoritárias, se o candidato for de coligação, a substituição deveráfazer-se por decisão da maioria absoluta dos órgãos executivos de direção dos partidos efederações partidárias coligados, podendo o substituído ser filiado a qualquer partidointegrante da coligação ou de federação que a integre, desde que o partido ou federação aoqual pertencia o substituído renuncie ao direito de preferência.

.....................................................................(NR)”

“Art. 15. Aos partidos e federações partidárias fica assegurado o direito de manter osnúmeros atribuídos à sua legenda na eleição anterior.

........................................................................

§ 4º Os candidatos de coligações, nas eleições majoritárias, poderão ser registradoscom o número próprio da coligação, diverso dos usados para identificar cada um dos partidoscoligados, ou pelo número de qualquer um dos partidos ou federação que a integram. (NR)”

Art. 17. As despesas da campanha eleitoral serão realizadas sob a responsabilidade dospartidos e federações, e financiadas na forma desta Lei.

§ 1º A lei orçamentária e seus créditos adicionais incluirão dotação, em rubrica própria,destinada ao financiamento de campanhas eleitorais, tomando-se por referência o eleitoradoexistente em 30 de abril do ano da elaboração da lei orçamentária.

§ 2º A dotação referida no parágrafo anterior constará obrigatoriamente da propostaorçamentária do Poder Executivo, o qual solicitará manifestação prévia do Tribunal Superior

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122 Anais do Seminário Reforma Política

Eleitoral e dos partidos políticos até o final do mês de maio dos anos anteriores aos da realizaçãode eleições.

§ 3º O Tesouro Nacional depositará os recursos no Banco do Brasil, em conta especialà disposição do Tribunal Superior Eleitoral, até o dia 1º de maio do ano do pleito.

§ 4º O Tribunal Superior Eleitoral fará a distribuição dos recursos aos órgãos de direçãonacional dos partidos políticos, dentro de dez dias, contados da data do depósito a que se refereo § 3º, obedecidos os seguintes critérios:

I – cinco por cento, dividido igualitariamente entre todos os partidos com estatutosregistrados no Tribunal Superior Eleitoral;

II – vinte por cento, divididos igualitariamente entre os partidos com representação naCâmara dos Deputados;

III – quarenta por cento, divididos entre os partidos, proporcionalmente ao número devotos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados.

IV – trinta e cinco por cento divididos entre os partidos, proporcionalmente ao númerode eleitos na última eleição para a Câmara dos Deputados.

§ 5º Os recursos destinados a cada partido ou federação deverão aplicar-se de acordocom os seguintes critérios:

I – nas eleições presidenciais, federais, estaduais e distritais, quando o partido tivercandidato próprio a Presidente da República, os diretórios nacionais dos partidos políticosreservarão até trinta por cento dos recursos para sua administração direta, dos quais pelo menosa metade será destinada à candidatura presidencial;

II – se o partido não tiver candidato próprio a Presidente da República, mesmoconcorrendo em coligação, o diretório nacional reservará até vinte por cento dos recursos parasua administração direta, dos quais pelo menos a metade será destinada à candidaturapresidencial;

III – nas hipóteses dos incisos I e II, os diretórios nacionais dos partidos ou federaçõesdistribuirão os recursos restantes aos diretórios regionais, sendo:

a) sessenta e cinco por cento na proporção do número de eleitores de cada Estado, doDistrito Federal e de cada Território; e

b) trinta e cinco por cento na proporção das bancadas dos Estados, do Distrito Federale dos Territórios, que o partido elegeu para a Câmara dos Deputados.

IV – nas eleições municipais, os diretórios nacionais dos partidos políticos ou a direçãonacional de cada federação reservarão até dez por cento dos recursos para sua administraçãodireta e distribuirão o restante aos diretórios regionais, conforme critérios estabelecidos nasalíneas a e b do inciso III.

V – No caso do inciso IV, dos recursos recebidos pelos diretórios regionais, até dez porcento serão reservados para a sua administração direta e o restante será distribuídos aosdiretórios municipais, sendo:

a) sessenta e cinco por cento na proporção do número de eleitores do município; e

b) trinta e cinco por cento na proporção do número de vereadores eleitos pelo partidopolítico ou federação, no município, em relação ao total de vereadores eleitos pelo partidopolítico ou federação no Estado.(NR)

§6º Nas eleições para Governador, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual ouDistrital, cada campanha organizada pelo diretório regional terá, no mínimo, quinze por centodos recursos a que se refere o inciso III.

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123Anais do Seminário Reforma Política

§7º Nas eleições para Prefeito e Vereador, cada campanha organizada pelo diretóriomunicipal terá, no mínimo, trinta por cento dos recursos a que se refere o inciso V.

“Art. 17-A. (REVOGADO)”

“Art. 18. (REVOGADO)”

“Art. 19. Até dez dias após a escolha de seus candidatos em convenção, o partido,coligação ou federação partidária constituirá comitês financeiros, com a finalidade deadministrar os recursos de que trata o art. 17.

.....................................................................(NR)”

“Art. 20. O partido, coligação ou federação partidária fará a administração financeirade cada campanha, usando unicamente os recursos orçamentários previstos nesta Lei, e fará aprestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral, aos Tribunais Regionais Eleitorais ou aosJuizes Eleitorais, conforme a circunscrição do pleito.

§ 1º Fica vedado, em campanhas eleitorais, o uso de recursos em dinheiro, ouestimáveis em dinheiro, provenientes dos partidos e federações partidárias e de pessoas físicase jurídicas.

§ 2º Excetua-se da vedação do § 1º, o uso das sedes das agremiações partidárias. (NR)”

“Art. 21. (REVOGADO)”

“Art. 22. É obrigatório para o partido, coligação e federação partidária abrir contabancária específica para registrar todo o movimento financeiro das campanhas.

§ 1º Os bancos são obrigados a aceitar o pedido de abertura de conta destinada àmovimentação financeira de campanha, sendo-lhes vedado condicioná-la a depósito mínimo.

§ 2º (REVOGADO)”

“Art. 23 (REVOGADO)”

“Art. 24. É vedado a partido, coligação, federação partidária e candidato receber,direta ou indiretamente, recursos em dinheiro ou estimáveis em dinheiro, inclusive através depublicidade de qualquer espécie, além dos previstos nesta Lei.

§ 1º A proibição constante do caput aplica-se à transferência de recursos em dinheiro,ou estimáveis em dinheiro, entre candidatos, ainda que tais recursos sejam provenientes derepasses feitos aos partidos e federações nos termos desta Lei.

§ 2º A doação de pessoa física para campanhas eleitorais sujeita o infrator aopagamento de multa no valor de dez a cinquenta vezes a quantia doada, por determinação daJustiça Eleitoral, em processo no qual seja assegurada ampla defesa.

§ 3º A pessoa jurídica que descumprir o disposto neste artigo estará sujeita ao

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124 Anais do Seminário Reforma Política

pagamento de multa no valor de dez a cinquenta vezes a quantia doada e à proibição departicipar de licitações públicas e de celebrar contratos com o Poder Público pelo período decinco anos, por determinação da Justiça Eleitoral, em processo no qual seja assegurada ampladefesa.

§ 4º O partido ou federação que infringir o disposto neste artigo estará sujeito a multano valor de dez a cinquenta vezes o valor recebido em doação.

§ 5º No caso do parágrafo anterior, poderá ainda ser cominada, pela Justiça Eleitoral,a sanção de perda do registro, se a infração for cometida pelo órgão nacional de direção, oudissolução da seção regional ou municipal, pelo prazo de quatro anos, se por estes cometida.

§ 6º Nas eleições majoritárias ou proporcionais, o candidato que infringir o dispostoneste artigo estará sujeito à cassação do registro ou do diploma, se este já houver sido expedido.

§ 7º Nas eleições proporcionais, comprovada a responsabilidade do partido oufederação, independentemente da aplicação das sanções previstas neste artigo, serão cassadoso registro da lista partidária ou os diplomas dos candidatos, se já expedidos, após o devidoprocesso judicial.

§ 8º Na hipótese de cassação de registro da lista partidária ou de federação, os votosque lhes foram atribuídos serão nulos, devendo a Justiça Eleitoral proceder a novo cálculo dosquocientes eleitoral e partidário. (NR)”

“Art.25. O partido ou federação que descumprir as normas referentes à arrecadação eaplicação de recursos fixadas nesta Lei, além das outras sanções previstas no art. 24 desta lei,também perderá o direito ao recebimento da quota do Fundo Partidário do ano seguinte, semprejuízo de responderem os candidatos beneficiários por abuso do poder econômico. (NR)”

“Art. 25-A A fiscalização de abuso do poder econômico, no curso da campanha, seráexercida por uma comissão instituída pela Justiça Eleitoral, em cada circunscrição.

§ 1º A composição, atribuições e funcionamento da comissão serão disciplinados peloTribunal Superior Eleitoral.

§ 2º Entre os membros da comissão constarão os representantes dos partidos,federações, coligações e outros que a Justiça Eleitoral considerar necessários.

§ 3º Por solicitação da comissão, o órgão competente da Justiça Eleitoral poderá,liminarmente, determinar a suspensão da campanha do candidato ou da lista, nas hipótesesprevistas no art. 24, pelo prazo máximo de cinco dias, assegurada ampla defesa.”

“Art. 28. A prestação de contas das campanhas, nas eleições majoritárias eproporcionais, será feita por intermédio dos comitês financeiros dos respectivos partidos efederações, na forma disciplinada pela Justiça Eleitoral.

§ 1º Os partidos políticos, as coligações e as federações partidárias deverão apresentar,

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125Anais do Seminário Reforma Política

por intermédio de seus comitês financeiros:

I – no quadragésimo quinto dia anterior à data da eleição, a primeira prestação decontas dos recursos usados na campanha até o momento da declaração;

II - até trinta dias após a data de realização do pleito, a prestação de contascomplementar, relativa aos recursos despendidos posteriormente à primeira declaração até ofim da campanha;

III – prestação de contas referente ao segundo turno das eleições, até trinta dias apósa data da realização do pleito.

§ 2º A inobservância do prazo para encaminhamento das prestações de contas impedea diplomação dos eleitos, enquanto perdurar. (NR)”

“Art. 29. (REVOGADO)”

“Art. 30. ..............................................................

§ 1º A decisão que julgar as contas das campanhas de que resultarem candidatoseleitos, nas eleições majoritárias e proporcionais, será publicada em sessão até oito dias antesda diplomação.

.........................................................................

§ 4º Havendo indício de irregularidade na prestação de contas, a Justiça Eleitoralpoderá requisitar diretamente do candidato, do comitê financeiro ou de terceiro as informaçõesadicionais necessárias, bem como determinar diligências para a complementação dos dados ouo saneamento das falhas. (NR)”

“Art. 30-A. Qualquer partido político, coligação ou federação poderá representar àJustiça Eleitoral, relatando fatos e indicando provas e pedir a abertura de investigação judicialpara apurar condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e gastosde recursos.

.............................................................................

§ 2º Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos para fins eleitorais serãoaplicadas as sanções previstas no art. 24. (NR)”

“Art. 31. A sobra de recursos financeiros, ao final da campanha, se houver, deve serdeclarada na prestação de contas e, após julgados todos os recursos, transferida à JustiçaEleitoral para devolução ao Tesouro Nacional. (NR)”

“Art. 32-A. Os partidos políticos, as coligações e as federações são obrigados, durantea campanha eleitoral, a divulgar, pela rede mundial de computadores (Internet), nos dias 6 deagosto e 6 de setembro, do ano em que se realizarem eleições, relatório discriminando osrecursos orçamentários que tenham recebido para financiamento das respectivas campanhaseleitorais, e os gastos que realizarem, em sítio criado pela Justiça Eleitoral para esse fim.”

“Art. 32-B. No tocante à arrecadação e aplicação de recursos fixados nesta Lei, oscandidatos, dirigentes partidários e membros dos comitês financeiros equiparam-se aosfuncionários públicos para os fins penais (NR).”

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126 Anais do Seminário Reforma Política

“Art. 33. ................................................................

..............................................................................

IV – plano amostral e quotas a serem usadas com respeito a sexo, idade, cor, grau deinstrução, nível econômico e área física de realização do trabalho; intervalo de confiança emargem de erro máximo admissível; informações sobre base de dados usada para a confecçãoda amostra, a saber: proveniência (censo, pesquisa por amostragem, ou outra modalidade),entidade que produziu e o ano de coleta dos dados;

.......................................................................(NR)”

“Art. 33-A. As entidades e empresas especificadas no art. 33 são obrigadas, a cadapesquisa, a depositar, na Justiça Eleitoral, até quarenta e oito horas após a divulgação dosresultados, e obrigatoriamente antes do dia das eleições, as seguintes informações:

a) o percentual de entrevistas obtido em cada combinação de atributos ou valores dasvariáveis usadas para estratificação da amostra, tais como idade, sexo, escolaridade e nível sócioeconômico dos entrevistados;

b) para pesquisas de âmbito nacional, o perfil, por Estado, da amostra usada, com asinformações da alínea a, complementadas com a relação nominal dos municípios sorteados eo número de entrevistas realizadas em cada um;

c) para pesquisas de âmbito estadual, a relação nominal dos municípios sorteados,número de entrevistas realizadas e número de pontos de coleta de dados usados em cada umdeles;

d) para pesquisas de âmbito municipal, número e localização dos pontos de coleta dedados usados, número de entrevistas efetuadas em cada um, e processo de seleção desses pontos;

e) para as pesquisas de “boca de urna”, além das informações objeto dos itensanteriores, a distribuição das entrevistas por horários no dia da eleição, com especificação dequantas entrevistas foram feitas em cada horário, a partir do começo da votação, até o últimohorário, quais as zonas e seções eleitorais sorteadas, qual o número de entrevistas por zonas eseções eleitorais e, se houver quotas, a sua especificação por horários, zonas e seções eleitorais.

Parágrafo único. O arquivo eletrônico com os dados obtidos pela aplicação doquestionário completo registrado deverá ser depositado, até quarenta e oito horas após adivulgação dos dados da pesquisa, nos órgãos da Justiça Eleitoral mencionados no § 1º do art.33, e ser de imediato posto à disposição, para consulta, dos partidos, coligações e federaçõescom candidatos ao pleito.”

“Art. 36-A A confecção dos materiais de divulgação da plataforma política e dascandidaturas da lista será de responsabilidade exclusiva dos partidos e federações, sendovedado aos candidatos a elaboração de material próprio.

§ 1º Não haverá dispêndio de recursos com a propaganda exclusiva de candidatosindividuais em eleições proporcionais, salvo a impressão, pelo partido, de modelos de cédulas,em iguais tamanhos e quantidades, a todos os candidatos, com o conteúdo por eles solicitado.

§ 2º Os materiais de que tratam o caput deverão conter, no mínimo, o nome e númerode todos os candidatos que compõem a lista.

§ 3º Na hipótese de infração ao disposto no § 1º, se comprovada sua responsabilidadeou conhecimento, o candidato estará sujeito à cassação do registro, ou do diploma, se este jáhouver sido expedido.”

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127Anais do Seminário Reforma Política

“Art. 46. .....................................................................................

II – nas eleições proporcionais, os debates deverão ser organizados de modo queassegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos e federaçõespartidárias a um mesmo cargo eletivo, podendo desdobrar-se em mais de um dia.

.....................................................................(NR)”

“Art. 47 ..................................................................................

§ 7º É obrigatória a participação dos candidatos a Vice-Presidente, Vice-Governador,Vice-Prefeito e a suplente de Senador na propaganda eleitoral de que trata este artigo, emproporção não inferior a dez por cento do tempo destinado aos respectivos titulares. (NR)”

“8º É assegurada, nas eleições proporcionais, a todos os integrantes da lista partidária,a participação no horário eleitoral de que trata este artigo (NR)”

“Art. 59. .......................................................................................

§ 2º Na votação para as eleições proporcionais, a urna eletrônica exibirá para o eleitor,primeiramente, o painel destinado ao voto na lista do partido ou federação; dado o votoobrigatório na lista, a urna exibirá o segundo painel, em que o eleitor, se desejar, poderá votarem um candidato integrante da lista escolhida.

.....................................................................................................(NR)”

“Art. 60. (REVOGADO)”

“Art. 73-A. No dia da eleição, é vedado às empresas e cooperativas responsáveis pelotransporte coletivo alterar os trajetos ou diminuir o número de veículos disponíveis ao público,sob pena de multa de R$10.000,00 (dez mil reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), a ser fixadapela Justiça Eleitoral”

“Art. 81 (REVOGADO)”

“Art. 82 (REVOGADO)”

“Art. 83. .................................................................................................................

§ 2º Os candidatos a eleição majoritária serão identificados pelo nome indicado nopedido de registro, pela sigla e pelo número adotados pelo partido, coligação ou federação aque pertencem, e deverão figurar na ordem determinada por sorteio;

§ 3º Para as eleições realizadas pelo sistema proporcional, a cédula terá espaços paraque o eleitor escreva a sigla ou o número do partido ou da federação de sua preferência.

......................................................................(NR)”

“Art. 85. (REVOGADO)”

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128 Anais do Seminário Reforma Política

“Art. 86. (REVOGADO)”

Art. 6º Os atuais detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual e Distrital que, até avéspera da convenção para escolha de candidatos, fizerem comunicação por escrito, ao órgão dedireção regional, de sua intenção de concorrer ao pleito de 2010, comporão a lista dos respectivospartidos ou federações, na ordem decrescente dos votos obtidos nas eleições de 2006, salvodeliberação em contrário do órgão competente do partido.

§ 1º O ordenamento da lista a que se refere o caput obedecerá aos seguintes critérios:

I – primeiramente, na ordem decrescente da votação obtida no pleito de 2006, oscandidatos originários, isto é, os eleitos pelo próprio partido ou em coligação com este, ossuplentes efetivados e os suplentes que exerceram o mandato por, pelo menos, seis meses até31 de dezembro de 2007;

II – a seguir, os candidatos que houverem mudado de legenda partidária após o pleitode 2006, respeitada, igualmente, a ordem da votação obtida.

§ 2º Na hipótese de o partido ou federação não dispor de nenhum candidatooriginário, os candidatos oriundos de outros partidos comporão sua lista pela ordemdecrescente de suas votações no pleito de 2006.

§ 3º Os atuais detentores de mandato de Vereador que, até a véspera da convenção paraescolha de candidatos, fizerem comunicação por escrito, ao órgão de direção municipal, de suaintenção de concorrer ao pleito de 2008, comporão a lista dos respectivos partidos ou federações,na ordem decrescente dos votos obtidos nas eleições de 2004, de acordo com os critériosestabelecidos nos §§ 1º e 2º, salvo deliberação em contrário do órgão competente do partido.

§ 4º As regras dos arts. 8º e 8º-A, da Lei nº 9.504, de 1997, na redação dada por esta Lei,aplicam-se às eleições de 2008 e de 2010 apenas no que não colidirem com o disposto neste artigo.

Art. 7º O Tribunal Superior Eleitoral, dez dias antes de aprovar a resolução regulamentadora doprocesso eleitoral a ser adotado no primeiro pleito em que a presente Lei se aplicar, encaminhará aospartidos políticos e federações o texto da proposta de resolução para permitir que essas agremiaçõesofereçam sugestões para seu aprimoramento, sem prejuízo do disposto no art. 105 da Lei nº 9.504,de 30 de setembro de 1997.

Art. 8º O sistema de votação em listas partidárias e o financiamento público das campanhaseleitorais previstos nesta Lei serão objeto de referendo popular a ser realizado em maio de 2015.

Parágrafo único. Caso haja rejeição, voltarão a viger as regras alteradas pela presente Lei.

Art. 9º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 10 Fica revogado o art. 110 da Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral);38, III da Lei 9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei dos Partidos Políticos); 8º, § 1º; 17-A; 18; 21; 22,§ 2º; 23; 27; 29; 60; 81; 82; 85 e 86 da Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições).

Sala das Sessões, em ...... de junho de 2007.

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129Anais do Seminário Reforma Política

REDAÇÃO FINALPROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº 35-B DE 2007

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1º O inciso I do caput do art. 1º da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, passaa vigorar acrescido da seguinte alínea j:

“Art. 1º .................................................................I - .................................................................j) os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas, da Câmara Legislativa, das

Câmaras Municipais, o Presidente e o Vice-Presidente da República, o Governador e o Vice-Governadorde Estado e do Distrito Federal, o Prefeito e o Vice-Prefeito, que tenham alterado a sua filiação partidáriafora do período de 30 (trinta) dias imediatamente anterior ao término do prazo de filiação que possibilitea candidatura, para os 4 (quatro) anos subseqüentes ao término de seus respectivos mandatos;

.................................................................”(NR)

Art. 2º O ocupante de cargo eletivo que se desligar do partido político pelo qual se elegeupoderá ter cassado o seu diploma e perder o mandato por decisão da Justiça Eleitoral, asseguradoso contraditório e a ampla defesa.

Art. 3º As disposições desta Lei Complementar não se aplicam nos seguintes casos:I – demonstração de descumprimento pelo partido do programa ou do estatuto

partidários registrados na Justiça Eleitoral;II – prática de atos de perseguição política no âmbito interno do partido em desfavor

do ocupante de cargo eletivo, objetivamente provados;III – filiação visando à criação de novo partido político;IV – filiação visando a concorrer à eleição na mesma circunscrição, exclusivamente no período

de 30 (trinta) dias imediatamente anterior ao término do prazo de filiação que possibilite a candidatura;V – renúncia do mandato.

Art. 4º Caberá ao partido político ao qual pertencia o ocupante de cargo eletivo requerer acassação do seu diploma ao órgão da Justiça Eleitoral competente para expedi-lo.

§ 1º A ação deverá ser proposta no prazo de até 15 (quinze) dias após a cessação dafiliação partidária.

§ 2º O ocupante de cargo eletivo será citado para oferecer resposta em 15 (quinze)dias, assegurada a produção de provas.

§ 3º Cassado o diploma por sentença transitada em julgado, o sucessor legalcomparecerá perante o órgão competente para dar-lhe posse.

Art. 5º Ficam resguardadas e convalidadas todas as mudanças de filiação partidária constituídasaté a data de 30 de setembro de 2007, não incidindo nenhuma restrição de direito ou sanção.

Art. 6º O inciso XII do caput do art. 23 da Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 - CódigoEleitoral, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 23..................................................................XII – responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas em tese por órgão

nacional de partido político, vedada a aplicação retroativa da nova interpretação daí derivada;.................................................................”(NR)

Art. 7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Sala das Sessões, em 15 de agosto de 2007.Relator

ANEXO III

Altera a Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, e a Leinº 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral, e dá outrasprovidências.

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130 Anais do Seminário Reforma Política

Propostas para a Reforma Política Ordem dos Advogados do Brasil – Conselho Federal

Íntegra das propostas da OAB para a Reforma Política no País

Brasília, 19/12/2006 – A seguir a íntegra das propostas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)para a reforma política, entregues hoje (19) pelo presidente nacional da entidade, Roberto Busato,ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, em reunião realizada no gabinete do ministro,no Palácio do Planalto. As propostas foram aprovadas pela entidade máxima da advocacia em suaúltima sessão plenária, realizada em Brasília, e entregues ao governo e ao Congresso Nacional comosubsídio para a reforma.

I - Efetivação da Soberania Popular e Proteção dos Direitos Humanos

1) A OAB espera seja aprovado no Congresso Nacional, sem mais delongas, um dos dois Projetosde Lei, por ela apresentados: o PL nº 4.718/2004, na Câmara dos Deputados, ou o PL nº001/2006, no Senado Federal, projetos esses que procuram tornar efetivas as manifestações dasoberania popular consagradas no art. 14 da Constituição Federal, fazendo com que o plebiscitoe o referendo, tal como sufrágio eleitoral, não dependam, para o seu exercício, de decisão doCongresso Nacional, bem como reforçando a iniciativa popular legislativa.

2) Em consonância com o espírito dessas propostas legislativas, propõe-se a supressão do inciso XVdo art. 49 da Constituição Federal (“É da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizarreferendo e convocar plebiscito”), determinando-se que plebiscitos e referendos, uma vezpreenchidos os seus pressupostos formais, sejam convocados pela Justiça Eleitoral.

3) Propõe-se, igualmente, a retomada da proposta de emenda constitucional nº 002/1999,apresentada à Câmara dos Deputados pela Deputada Luiza Erundina e outros, modificando aredação do art. 61, § 2º da Constituição Federal, para permitir que os projetos de lei de iniciativapopular possam ser apresentados por “meio por cento do eleitorado nacional, ou porconfederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional, que representem este número,individualmente, ou por meio de associação a outras”;

4) Deve ser revogado § 3º do art. 5º da Constituição Federal, pelo qual “os tratados e convençõesinternacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do CongressoNacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentesàs emendas constitucionais”. Essa norma, introduzida na Constituição pela emendaconstitucional nº 45, de 2004, é incompatível com o entendimento universal sobre a vigência dedireitos humanos, além de conflitar com o disposto no § 2º do mesmo art. 5º. Definitivamente,a Constituição não pode pairar acima do sistema internacional de direitos humanos.

5) Propõe-se, por fim, a introdução na Constituição Federal, tal como ocorre em algumasConstituições Estaduais, da iniciativa popular em matéria constitucional.

II - Reforma Eleitoral e Partidária

Sistema partidário

O objetivo, aqui, não é criar pela lei partidos fortes e autênticos - o que seria puramente artificial -,mas minorar, tanto quanto possível, a predominância do caciquismo interno, da instrumentalizaçãodos partidos pelo poder econômico privado, da disputa negocial por posições de poder e dooportunismo individualista.

ANEXO IV

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131Anais do Seminário Reforma Política

Propõem-se, com esse objetivo, as seguintes medidas mínimas:

1) Proibição de o parlamentar eleito mudar de partido, a partir da data da eleição e durante toda alegislatura (Alterar a redação do art. 26 da Lei nº 9.096/2005).

2) Proibição de os partidos receberem doações, devendo manter-se exclusivamente com ascontribuições de seus filiados e os recursos do Fundo Partidário (mudança do Código Eleitoral).

Sistema Eleitoral

1) Financiamento das campanhas eleitorais (alteração do Código Eleitoral): propõe-se aqui adotar,basicamente, o sistema francês.

A Justiça Eleitoral terá o poder de fixar um limite máximo de despesas de campanha doscandidatos, em cada eleição, bem como de pagar, a título de reembolso, uma quantiadeterminada, variável conforme a eleição, a cada candidato cujo patrimônio e cuja rendatributável não sejam superiores a determinado montante, desde que o candidato tenha recebido,na eleição, pelo menos 5% (cinco por cento) da totalidade dos votos válidos no distrito.

A Justiça Eleitoral fixará, para cada eleição, o montante máximo de doações que cada candidatoestá autorizado a receber. A infração a essas disposições impedirá o candidato eleito de tomarposse no cargo e, se já tiver sido empossado, acarretará a perda do mandato.

2) Revogação popular de mandatos eletivos (recall): já objeto da proposta de emenda constitucionalnº 0073/2005, oriunda da Ordem dos Advogados do Brasil, e em tramitação no Senado Federal.

3) Inelegibilidades:

O prazo de inelegibilidade do Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, doPrefeito e Vice-Prefeito, que perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo daConstituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, deveser contado a partir do trânsito em julgado da decisão condenatória, e não a partir do términodo mandato para o qual tenham sido eleitos (Alterar o disposto no art. 1º, I, alínea c da LeiComplementar nº 64, de 1990).

O mesmo dies a quo deve ser estabelecido para “os que tenham contra sua pessoa representaçãojulgada procedente pela Justiça Eleitoral, transitada em julgado, em processo de apuração de abusodo poder econômico ou político” (Alterar a Lei Complementar nº 64, de 1990, art. 1º, I, alínea d).

4) Verticalização (regra a ser inscrita no Código Eleitoral):

Com a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 52, de 8 de março de 2006, que deu novaredação ao § 1º do art. 17 da Constituição Federal, admitindo que os partidos políticos façamcoligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas de âmbitonacional, estadual, distrital ou municipal, é indispensável, como medida de elementar coerência,quebrar a verticalização partidária no tempo de ocupação do rádio e da televisão pelos partidospolíticos, nas eleições estaduais, distritais e municipais. Ou seja, o tempo de ocupação gratuitade rádio e de televisão, nessas eleições, será computado com base na distribuição de cadeirasentre os partidos em cada Casa Legislativa, estadual, distrital ou municipal.

5) Coligações partidárias (regra a ser inscrita no Código Eleitoral, porque não conflita com a normageral do art. 17, § 1º da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda nº 52):

Elas devem ser abolidas nas eleições proporcionais (para a composição da Câmara dosDeputados, das Assembléias Legislativas dos Estados, da Câmara Legislativa do Distrito Federal edas Câmaras Municipais), a fim de se evitar que os votos dos eleitores sejam computadospromiscuamente para todos os partidos da coligação, o que fere o princípio da votaçãoproporcional.

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132 Anais do Seminário Reforma Política

6) Prestação de contas de campanha eleitoral:

Propõe-se seja dado apoio ao projeto de lei nº 391, de 2005, elaborado por comissão de juristaspresidida pelo então Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ministro Carlos Velloso.

7) Eleição e duração do mandato dos Senadores (mudança constitucional): O mandato dosSenadores passa a ser de quatro anos. Devem ser abolidos os suplentes de Senador.

8) Propõe-se seja dado apoio ao Projeto de Lei do Senado nº 389, de 2006, que dá nova redaçãoao Título IV do Código Eleitoral, relativo às disposições penais e processuais penais, projeto esseoriundo dos trabalhos de uma comissão de juristas presidida pela então Presidente do TribunalSuperior Eleitoral, Ministro Carlos Mário Velloso.

Exposição de motivos da OAB para propostas de reforma

Brasília, 19/12/2006 – A seguir a íntegra da exposição de motivos entregue ao ministro das RelaçõesInstitucionais, Tarso Genro, pelo presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil(OAB), Roberto Busato, quanto às propostas aprovadas pela entidade da advocacia para a reformapolítica:

“O Brasil sofre, há mais de um quarto de século, situação de marasmo econômico e desagregaçãosocial. Não se trata de simples crise episódica, mas de um estado de morbidez crônica, cujas causassão não apenas econômicas, mas também políticas”.

No tocante ao processo de crescimento econômico, o contraste não poderia ser maior em relaçãoao período histórico imediatamente anterior.

Em 1930, o Brasil ocupava a 50ª posição mundial, em tamanho de riqueza nacional produzida.Tivemos então o golpe de gênio de iniciar, imediatamente, o processo de industrialização acelerada,que nos levou, cinqüenta anos depois, a ocupar a honrosa posição de 8ª potência mundial emtermos de produção nacional.

Ora, a partir de 1980 e até hoje, a média do crescimento econômico do PIB brasileiro tem sido de2,6% ao ano. Em termos de crescimento do PIB per capita, ela foi, nesse período, de nada mais doque 0,6% ao ano em média. Entre 1995 e 2005, segundo dados incontestáveis do FMI, ocrescimento da economia brasileira ficou 17% abaixo da média do crescimento mundial. Trata-se defato inédito na história brasileira. Ao mesmo tempo, e como conseqüência direta desse marasmoeconômico, têm-se produzido, desde 1980, graves sintomas de desagregação social.

A distribuição da renda nacional, entre os que vivem do trabalho e os que recebem rendimentos nãoligados ao trabalho, modificou-se sensivelmente. Em 1980, essa distribuição era praticamente igual;em 2005, a repartição da renda nacional em termos de remuneração de trabalho de todas as formas,assalariado ou não, representava apenas um terço do total.

O rendimento médio do trabalhador brasileiro, segundo dados divulgados pelo Dieese e pelo Seade,caiu 33% entre 1995 e 2005. O IPEA calculou que o desemprego formal no país aumentou 80%,entre 1992 e 2004. A situação piorou sensivelmente nos últimos 6 anos, relativamente à classe média. Calculou-se recentemente, com base em registros do Caged(Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho), que a renda médiados que recebem remuneração acima de 3 salários mínimos decresceu 46% entre 2000 e 2006, como desemprego de quase 2 milhões de trabalhadores.

Contamos hoje com uma massa de desempregados formais da ordem de 8 milhões detrabalhadores. Ora, quando se leva em conta o fato brutal de que a informalidade no emprego jáatinge 60% da PEA, percebe-se o grau de desagregação a que está sendo submetida a sociedadebrasileira.

De pouco vale, nessas condições, argüir que houve uma inegável melhoria da condição de renda dasclasses E e D (faixa de até 2 salários mínimos), durante o mandato do atual Presidente da República.Tal fato se deu, como ninguém pode negar, em grande parte, por efeito da política de assistência

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133Anais do Seminário Reforma Política

social. Continua sem solução adequada o fato inescapável de que, todos os anos, cerca de doismilhões e trezentos mil brasileiros entram no mercado de trabalho demandando emprego. Segundoquadro revelado pela PME (Pesquisa Mensal de Emprego), do IBGE, 23% da população entre 16 e24 anos não estudam nem trabalham.

As causas dessa patologia social

Elas são de ordem econômica e de natureza política, como acima assinalado, e ambas coincidemcom uma inserção subordinada do Brasil no quadro da globalização capitalista atual.

O primeiro impacto da reordenação da economia num sentido globalizante, sofrido pelo nosso paísnos últimos 25 anos, deu-se no setor industrial. A indústria instalada nos países do primeiro mundo,não tendo condições de continuar a aumentar sistematicamente a sua produção com base noconsumo interno, impôs (é bem o termo) uma abertura dos mercados dos países da periferia.

Tal fato traduziu-se pela adoção, um pouco em toda parte, de um conjunto de políticas apregoadascomo de revigoração do liberalismo. Foram elas: a privatização de empresas estatais, a revogaçãodas regras de proteção das empresas nacionais em concorrência com as estrangeiras, a liberalizaçãodo fluxo de capitais e do sistema cambial.

O Brasil cumpriu subordinadamente a sua parte nesse terreno, produzindo-se, em termosmacroeconômicos, um fenômeno de desindustrialização precoce. É o que explica o extraordináriocontraste entre a pujança excepcional da economia brasileira nos 50 anos decorridos entre 1930 e1980 e o marasmo econômico dos últimos 26 anos.

O segundo impacto do processo de globalização econômica foi o advento da hegemonia docapitalismo financeiro em todo o mundo, a partir dos anos 90 do século passado. As atividades de produção foram rapidamente substituídas pela prática sistemática de operaçõesespeculativas, não só no mercado acionário tradicional, como ainda em mercados novos, ditos deíndices, sem qualquer ligação com a produção econômica.

O resultado é que as empresas industriais se descapitalizam, e os empresários passam a desviarrecursos da produção, para aplicações financeiras. No último decênio, as emissões líquidas de açõesforam em média negativas, tanto nos Estados Unidos, quanto na Europa.

As ações são artificialmente valorizadas em Bolsa, não só pela farta distribuição de dividendos, mas tambémmediante operações de resgate e compra, pelas empresas, de suas próprias ações, assim como pela emissãomaciça de opções de compra (stock options), distribuídas generosamente aos administradores.

Para tanto, é obviamente necessário aumentar ao máximo os ativos líquidos e abandonar osprogramas de investimento. O que implica, como é fácil imaginar, o sacrifício de todo o futuro daempresa, com a demissão em massa dos trabalhadores.

No Brasil, entre 1995 e 2005, como mostrou o IPEA, a taxa média de investimento global (público eprivado) em relação ao PIB, foi de 19,5%, contra 22,7% na Índia, 23,3% no Chile, 32,0% na Coréiado Sul e 35,3% na China. Com isso, o nosso crescimento econômico, durante toda essa década, foide longe o pior na comparação com esses países.

E por que razão apresentamos esse resultado ultramedíocre? Porque sucumbimos, servilmente,desde o início dos anos 90 do século passado, ao fascínio de uma política de endividamento públicosufocante. A reserva de quase 9% do PIB, todos os anos, ao serviço da dívida pública, impede nãosó os investimentos em infra-estrutura (energia, transportes, comunicações, pesquisa científica etecnológica), como também em políticas sociais de amparo à educação, à saúde, à previdênciasocial, entre outras. E sem essas políticas não há desenvolvimento nacional.

A esses fatores patogênicos de ordem econômica deve-se acrescentar um conjunto de causasdiretamente ligadas ao sistema político, a saber:

1. A persistente marginalização do povo, impedido de tomar diretamente as grandes decisõespolíticas, não só na esfera nacional, mas também no plano local;

2. Uma representação popular falseada, que acabou criando um pequeno mundo políticoirresponsável, cada vez mais distanciado da realidade social;

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134 Anais do Seminário Reforma Política

3. A incapacidade institucional do Estado brasileiro de elaborar e conduzir programas de açãode longo prazo, com base num projeto de desenvolvimento nacional.

As diretrizes fixadas pelo Conselho Federal da OAB no Fórum da Cidadania para a ReformaPolítica

A Ordem dos Advogados do Brasil tem em vista, como não poderia deixar de ser, os objetivosfundamentais da nossa República, proclamados no art. 3º da Constituição Federal:

1. Construir uma sociedade livre, justa e solidária;

2. Garantir o desenvolvimento nacional;

3. Erradicar a pobreza e a marginalização, e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

4. Promover o bem de todos, sem preconceitos ou discriminações de qualquer espécie.

Para tanto, classificou as propostas de reforma em três capítulos, correspondentes aos três grandesdefeitos do nosso sistema político, acima apontados: a efetivação da soberania popular, com integralproteção dos direitos humanos; a correção substancial das normas eleitorais e partidárias; e areforma do Estado, com a reorganização dos Poderes Públicos.

Em sua sessão plenária de 10 de dezembro último, o Conselho Federal deliberou sobre as duasprimeiras séries de propostas apensadas a esta Exposição de Motivos -, reservando-se paradiscutir e decidir aquelas concernentes à reforma do Estado em sua próxima sessão plenária, noinício de 2007.”

Roberto BusatoPresidente do Conselho Federal da OAB

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135Anais do Seminário Reforma Política

ANEXO V

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153Anais do Seminário Reforma Política

Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma Política

Por uma reforma política ampla, democrática e participativa

O momento político pelo qual passa o país vem despertando em toda a sociedade a necessidade de uma reforma política ampla, democrática e participativa. Tanto o governo, quantoo parlamento e a mídia vêm colocando a questão no centro dos debates, ressaltando a sua urgência,mas de forma restritiva, abrangendo unicamente aspectos do sistema eleitoral. Na maioria das vezeso caráter limitado dessa reforma (eleitoral) também vem sendo apregoado, já se falou até emreforma minimalista, de três pontos. No fim o que está em discussão até o momento são algunspontos de uma reforma das regras eleitorais e das normas que regem o funcionamento dos partidos.

É nesse contexto que o movimento “Mobilização por uma reforma política ampla, democráticae participativa” se apresenta ao Poder Legislativo e à sociedade e mostra suas propostas para umareforma do sistema político brasileiro com o objetivo de dialogar com o processo já em andamentono Congresso Nacional para que sejam consideradas nos debates em curso.

Para o movimento “Mobilização por uma reforma política ampla, democrática e participativa”questionar as regras eleitorais e partidárias é muito pouco. É apenas uma parte, considerada por nósimportante, mas, insuficiente. O país necessita de uma reforma que coloque no centro dos debates aestrutura do poder e as formas de exercê-lo. Para nós é necessário vencer preconceitos e ousar pensarnovas formas de organização dos processos decisórios, permeáveis à participação da sociedade. É urgentedemocratizar a democracia.

Democracia é muito mais que o direito de votar e ser votado. É preciso democratizar a vidasocial, as relações entre homens e mulheres, crianças e adultos, jovens e idosos, na vida privada e naesfera pública, as relações de poder no âmbito da sociedade civil.

Portanto, é mais que apenas reformar o sistema político formal, é a relação entre Estado esociedade. É também a forma como as pessoas se relacionam e se organizam. A Reforma Política quedefendemos visa radicalizar a democracia para enfrentar as desigualdades e a exclusão, promover adiversidade, fomentar a participação cidadã.

Isto significa uma reforma que amplie as possibilidades de participação política, capaz de incluire processar os projetos de transformação social que segmentos historicamente excluídos dos espaçosde poder, como mulheres, afrodescendentes, homossexuais, indígenas, jovens, pessoas comdeficiência, idosos e despossuídos de direitos de uma maneira geral trazem para o debate público.

Por isso, defendemos uma reforma que promova uma real transformação nos elementosestruturantes do atual sistema político brasileiro, como: patriarcado, patrimonialismo, oligarquia,nepotismo, clientelismo, personalismo e corrupção.

Esta transformação deve estar alicerçada nos princípios de igualdade, diversidade, justiça,liberdade, participação, transparência e controle social.

É para reivindicar esta “outra reforma” que movimentos sociais, redes, fóruns e organizações não-governamentais vêm construindo, desde 2005, a plataforma dos movimentos sociais para a reforma dosistema político. Essa proposta exige uma reforma ampla que expanda a democracia em cinco diferenteseixos: I. Fortalecimento da democracia direta, II. Fortalecimento da democracia participativa, III.Aprimoramento da democracia representativa: sistema eleitoral e partidos políticos, IV. Democratização dainformação e da comunicação e IV. Transparência no poder judiciário.

Solicitamos que o Congresso Nacional priorize, em 2007, a votação da Reforma Política ampla,

ANEXO VI

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democrática e participativa. Neste sentido, defendemos a não instalação de uma nova comissão especiale sim que o relatório da comissão da legislatura passada seja levado à votação com a nomeação derelator(a) de plenário, com o compromisso de fazer um processo de diálogo com a sociedade civil naelaboração do novo relatório. Avaliamos que apesar do mencionado relatório ser limitado e não atendera uma reforma política ampla, democrática e participativa, esta é a melhor estratégia para que a reformapolítica seja votada no ano de 2007. Reivindicamos que ao novo relatório sejam incorporados os eixosapresentados pela Plataforma dos movimentos sociais pela reforma do sistema político.

Esses eixos estão compostos por uma série de propostas, como se pode ver a seguir:

EIXO 1 - FORTALECIMENTO DA DEMOCRACIA DIRETA: extrapolando a vidapartidária e trazendo a participação popular para o centro das decisões políticase econômicas

• Nova regulamentação e ampliação dos mecanismos de democracia direta prevista naConstituição Federal: plebiscitos, referendos e iniciativa popular;

• Possibilidade de convocar plebiscitos, referendos e propor emendas constitucionais poriniciativa popular;

• Precedência das iniciativas populares na tramitação e votação, com previsão de trancamentode pauta e votação em caráter de urgência;

• Instituição – nos estados e municípios – de mecanismos de participação direta – plebiscito,referendos e iniciativa popular;

• Realização de plebiscitos e referendos para acordos internacionais;

• Realização de plebiscitos e referendos para emissão de títulos públicos, privatizações eterceirizações dos serviços públicos essenciais;

• Criação de uma política de financiamento público e de controle das doações privadas nascampanhas de formação de opinião nos processos de referendos e plebiscitos;

• Construção de uma política pública de educação para a cidadania, oferecendo condições para quea sociedade civil possa influir efetivamente sobre as políticas públicas;

• Revogação popular de mandatos eletivos tanto no executivo quanto no legislativo;

• Realização de referendo sobre a Reforma Política aprovada pelo Congresso Nacional;

EIXO 2 - FORTALECIMENTO DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA: por meio daconstrução de um sistema integrado de participação popular

• Participação da sociedade na definição das prioridades de pauta do Congresso Nacional edemais câmaras legislativas;

• Criação de mecanismos de participação, deliberação e controle social das políticaseconômicas e de desenvolvimento;

• Criação de mecanismos de participação e controle social nas decisões do Banco Central,CMN – Conselho Monetário Nacional e no COFIEX – Comissão de Financiamento Externo;

• Estabelecimentos de mecanismos de participação e deliberação, desde a realidade local,para a aplicação de recursos parafiscais (recursos públicos que estão fora do orçamentofederal) administrados pelo BNDES, Caixa Econômica, Banco do Brasil, Banco do Nordeste eBanco da Amazônia;

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• Criação de mecanismos de participação e de controle social do ciclo orçamentário(formulação/definição, execução, avaliação/monitoramento e revisão) nos âmbitos da União,estados e municípios (Poder Executivo);

• Reformulação das Regras de Tramitação do Orçamento no Poder Legislativo: fim dasemendas individuais dos parlamentares;

• Criação de mecanismos de acesso universal às informações orçamentárias na União, estadose municípios;

• Continuidade de planos e programas das políticas públicas deliberados no âmbito deconselhos e conferências, que tenham comprovada a sua efetividade;

• Estabelecimento de princípios gerais para nortear a criação de todos os conselhos depolíticas públicas;

• Criação de mecanismos de diálogo e de interlocução dos diferentes espaços de participaçãoe controle social.

EIXO 3 - APRIMORAMENTO DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA: por meio demudanças nas regras dos sistemas eleitoral e da vida partidária

• Financiamento público exclusivo de campanhas com voto de legenda em listas partidáriaspreordenadas, com alternância de sexo e observância de critérios étnico/raciais, geracionaise de orientação sexual;

• Manutenção dos partidos políticos exclusivamente por meio de contribuições de filiados,definidas em convenções partidárias, e dos fundos partidários;

• Destinação do tempo de propaganda partidária para ações afirmativas;

• Uso de recursos do fundo partidário para a educação política e ações afirmativas;

• Implantação da Fidelidade Partidária, perda do mandato em caso de mudança de partido;

• Possibilidade de criação de federações partidárias, com sanções em caso de dissolução;

• Fim da cláusula de barreira;

• Prazo de filiação de um ano antes da realização da eleição ou dois anos, caso já tenha sidofiliado a outro partido;

• Fim da reeleição para todos os cargos executivos, com ampliação dos mandatos;

• Limite de dois mandatos eletivos consecutivos;

• Proibição de o/a candidato/a disputar novas eleições antes do término do mandato para oqual foi eleito, tanto no executivo como no legislativo;

• Indicação do nome do suplente de senador(a) conste da cédula eleitoral (urna eletrônica) eque seja submetido a voto;

• Fim das votações secretas nos legislativos, em qualquer caso;

• Fim da imunidade parlamentar a não ser exclusivamente ao direito de opinião edenúncia;

• Fim do direito a foro privilegiado, a não ser no que se refere ao estrito exercício do mandatoou do cargo;

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156 Anais do Seminário Reforma Política

• Organização dos debates eleitorais pela Justiça Eleitoral e transmissão facultada aos meiosde comunicação;

• Fim da publicação de pesquisas às vésperas do pleito (prazo de uma semana antes daseleições para veiculação);

• Proibição de contratação de cabos eleitorais nas campanhas;

• Fim do nepotismo direto ou cruzado em todo o setor público, e sua classificação como crimeno Código Penal;

• Fim do sigilo bancário, patrimonial e fiscal de candidatos/as, representantes e ocupantes de altoscargos dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público;

• Proibição de que detentores de mandatos e familiares mantenham vínculos administrativosde direção ou de propriedade com entidades ou empresas que prestem serviços ao Estado,sob pena de perda de mandato;

• Exigência de concursos públicos para preenchimento de cargos públicos nos três poderes,delimitando claramente os cargos de confiança;

• Exigência de concurso público para a escolha dos ministros dos Tribunais de Contas;

• Criação, com participação da sociedade civil, de Conselho Nacional de regulamentação doprocesso eleitoral, tirando este poder do TSE;

• Criação de órgão executivo eleitoral independente;

• Criação de órgão fiscalizador do processo eleitoral composto pelos partidos e organizaçõesda sociedade civil, com dotação orçamentária própria;

• Manutenção do TSE com a função judiciária. Que seus juízes não sejam os mesmos deinstâncias superiores, para evitar que recursos contra suas decisões voltem a cair nas suaspróprias mãos ou nas mãos de seus pares;

• Estabelecimento de cotas específicas para representantes indígenas nos legislativos federal,estaduais e municipais; estabelecimento de regras próprias adequadas à realidadesociocultural dos povos indígenas.

EIXO 4 - DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO: por meioda construção de um sistema público de comunicação e do fortalecimento dacomunicação comunitária

• Instituição de um Sistema Público de comunicação, não-comercial e não estatal, comautonomia administrativa e de gestão financeira;

• Instituição de mecanismos de controle público transparentes e democráticos, especialmenteno ato de outorga e renovação das concessões das emissoras de rádio e televisão;

• Fim da repressão e incentivo às rádios e TVs rádios e comunitárias;

• Isonomia e fiscalização de propagandas oficiais pagas em meios de comunicação privados;

• Criação de política pública de incentivo ao uso de software livre e obrigatoriedade desistemas de código e protocolos abertos para aplicação de uso público com auditabilidade;

• Instituição do direito de antena para as organizações da sociedade civil.

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157Anais do Seminário Reforma Política

EIXO 5 - TRANSPARÊNCIA NO PODER JUDICIÁRIO: por meio da construçãode mecanismos de participação e controle social sobre esse poder

• Exigência de concursos públicos para acesso às funções/cargos do Poder Judiciário;

• Fim do STF (Supremo Tribunal Federal) e criação de um Tribunal Constitucional como únicainstância acima do Superior Tribunal de Justiça;

• Criação de conselhos de participação popular e instituição de audiências públicas nosdiversos níveis da justiça eleitoral;

• Obrigatoriedade de criação de defensorias públicas municipais;

• Criação de corregedorias populares com a participação da sociedade civil para avaliar efiscalizar a ação do poder judiciário;

• Demissão de Juízes/as e promotores/as quando for comprovado caso de corrupção, vendade sentenças, tráfico de influências ou vínculo com grupos criminosos;

• Criação e/ou ampliação dos sistemas de informação do Judiciário.

ORGANIZAÇÕES PARTICIPANTES

Participaram do processo de construção da plataforma as seguintes articulações, redes,movimentos*, reunidos hoje na Mobilização por uma Reforma Política ampla, democrática eparticipativa:

- ABONG - Associação Brasileira de ONGs

- AMB - Articulação de Mulheres Brasileiras

- AMNB - Articulação de Mulheres Negras Brasileiras

- ACB - Associação dos Cartunistas do Brasil

- Campanha Nacional pela Educação

- CEAAL - Conselho Latino Americano de Educação

- CNLB - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

- Comitê da Escola de Governo de São Paulo da Campanha em Defesa da República e daDemocracia

- FAOC - Fórum da Amazônia Ocidental

- FAOR- Fórum da Amazônia Oriental

- FBO - Fórum Brasil do Orçamento

- FENDH – Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos

- FES - Fundação Friedrich Ebert

- Fórum de Reflexão Política

- Fórum Mineiro pela Reforma Política Ampla, Democrática e Participativa

- FNPP - Fórum Nacional de Participação Popular

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158 Anais do Seminário Reforma Política

- FNRU - Fórum Nacional da Reforma Urbana

- Inter-redes Direitos e Política

- Intervozes

- MCCE – Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral

- MNDH - Movimento Nacional de Direitos Humanos

- Movimento Pró-reforma Política com Participação Popular

- Observatório da Cidadania

- PAD - Processo de Diálogo e Articulação de Agências Ecumênicas e Organizações Brasileiras

- Rede Brasil Sobre Instituições Financeiras Multilaterais

- REBRIP - Rede Pela Integração dos Povos

- Rede Feminista de Saúde

* cada rede/fórum/movimento reúne em suas bases centenas de grupos e organizações.

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159Anais do Seminário Reforma Política

Presidência da RepúblicaSecretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – SEDES

Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES

SEMINÁRIO SOBRE REFORMA POLÍTICA

Subsídios para a discussão

ANEXO VII

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160 Anais do Seminário Reforma Política

I. Introdução

Reformas políticas profundas não ocorrem a partir de um diagnóstico sereno de que o sistemavigente não corresponde ao interesse público. Justamente pelo fato de este tipo de reforma afetarjustamente aqueles que definem o seu alcance – os parlamentares –, elas só ocorrem a partir de umacrise séria de legitimidade do sistema, que possibilite uma coalizão em torno de interesses políticosbem definidos.

Há uma série de distorções em nosso sistema político: o peso diferenciado do voto por estados; acompetição entre candidatos do mesmo partido; candidatos eleitos com menos votos do que candidatosque não se elegem etc. No entanto, nenhum destes problemas possui capacidade de mobilizaçãopolítica e social que supere as dificuldades para a sua alteração.

O único eixo que parece reunir atualmente um grande consenso na sociedade, a permitir a aglutinação de forças políticas dentro e fora do parlamento para a realização de umareforma consistente, é o tema da corrupção. A expectativa geral da sociedade, no âmbito daReforma Política, é a de fortalecimento do caráter republicano de nosso sistema político eleitoralcomo resposta às sucessivas crises.

Considerando, assim, que os aspectos de combate e prevenção à corrupção aparecem comoelemento comum viável a um grande acordo nacional republicano, é fundamental notar que o tema,por sua vez, leva-nos necessariamente a 3 pontos de discussão, com possibilidades reais de avanço:(i) financiamento público de campanhas, (ii) lista partidária fechada e (iii) fidelidade partidária 2.

II. Financiamento Público

Quando se pensa a Reforma Política nesses termos, o primeiro tema que ganha força é o dofinanciamento público das campanhas. Como lembra Renato Janine Ribeiro: “só cabe estudar ofinanciamento público das campanhas pensando na e contra a corrupção.”3

A relação entre corrupção e financiamento de campanha no Brasil é evidente. Diferentemente dosEUA, onde 10% dos eleitores4 registrados contribuem para alguma campanha eleitoral, no Brasil,segundo o cientista político David Samuels, em 1994 apenas 75.000 indivíduos o declararam – umaporcentagem ínfima do universo global de eleitores . A concentração do financiamento de campanha emum número tão reduzido de eleitores traz em si o fato de que o peso político dos setores com renda maiselevada é muito maior do que o das camadas mais pobres da população. O estabelecimento danecessidade de os candidatos procurarem o setor privado para financiar suas campanhas implica, quaseque de maneira inequívoca, a assunção de compromissos que atendam ao interesse dos financiadores.

A escolha desse eixo republicano para a reforma política e, conseqüentemente, do modelo definanciamento público de campanha, acarreta a necessidade de se apoiar uma mudança no sistemaeleitoral e um modelo rígido de fidelidade partidária.

Reforma Política

Ministério da JustiçaSecretaria de Assuntos Legislativos

2 - Embora, por certo, também alimentem outros desejos reformistas como maior racionalidade do sistema partidário e reforço dos elementos

representativos.

3 - Ribeiro, Renato Janine, Financiamento de Campanha (público versus privado), in Avritzer, Leonardo e Anastasia, Fátima (org)¸ Reforma Política

no Brasil, Ed. UFMG, Belo Horizonte, 2006.

4 - Samuels, David, Financiamento de Campanhas e Eleições No Brasil, in Benevides, Maria Victoria, Kerche, Fábio e Vanuchi, Paulo, Reforma

Política e Cidadania, Perseu Abramo, São Paulo, 2003.

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161Anais do Seminário Reforma Política

5 - O voto do Min. Peluzo excepciona, todavia, as situações em que o partido (i) altera radicalmente sua plataforma programática ou (ii)

persegue deliberadamente determinado ator político.

(Não acredito que o financiamento público fixado em lei elimine o privado, e só penso que esteúltimo será transparente – o que é absolutamente necessário – se gerar alguma redução no Impostode Renda - Renato Janine Ribeiro).

III. Lista Partidária Fechada

A mudança no sistema eleitoral é necessária por ser o financiamento público, a priori,incompatível com o voto em lista aberta, vigente atualmente no Brasil. Se os recursos serãointeiramente controlados pelo partido, sua divisão entre os candidatos que serão submetidos ao votonominal e que, portanto, vão competir entre si, é indesejável e inviável, já que gera uma fortetendência à busca de recursos privados – portanto ilegais – para diferenciar suas campanhasdaquelas de seus competidores diretos.

No sistema de lista fechada, os recursos são destinados ao partido, responsável único pelacampanha eleitoral, despersonalizando tanto a campanha quanto sua arrecadação. A fidelidade doeleito acentua-se em relação ao programa político-partidário que o elegeu e, por óbvio, aosdesígnios de seus eleitores, em detrimento de compromissos assumidos com eventuaisfinanciadores. A medida diminui muito o espaço para a corrupção e reforça o caráter representativodo mandato.

Além disso, o voto em lista diminui consideravelmente os custos da campanha, elementofundamental quando se pensa em financiamento público. É certamente mais barato realizar umasó campanha – que será muito mais programática – para uma lista fechada do que ter querealizar várias campanhas individuais em que os próprios candidatos de um mesmo partidorivalizam entre si. Acho difícil isso passar. E não sei se é bom. Contraria demais costumesarraigados. Fortalece os aparelhos partidários. Por que não pensar, como alternativaintermediária, no modelo de listas flexíveis que é defendido no último número de Teoria e debatepor Marcus Ianoni? (Renato Janine Ribeiro).

IV. Fidelidade Partidária

Finalmente, tanto o modelo de financiamento público quanto o voto em lista fechada nãodispensam um modelo mais rígido de fidelidade partidária. Se o financiamento é inteiro atribuído aopartido, não faz sentido o eleito poder desfiliar-se do mesmo ao longo do mandato. Mais contundenteainda é a necessidade de fidelidade partidária em um sistema de lista fechada, em que o eleitor votouno partido e não no candidato: em defesa da vinculação intrínseca entre o candidato e o programa dalegenda pela qual se elegeu, o eleito deve realmente perder o mandato em caso de desfiliação.

De todos os pontos da reforma, por sinal, este é o que tem maior apelo público. Há uma enormeindignação quanto à mudança dos eleitos entre partidos. (Renato Janine Ribeiro).

Com relação à fidelidade, aliás, e a despeito dos projetos de lei que já tramitam no Congressoa respeito do tema, é fundamental levar em conta um fato recente: o posicionamento do TSE naConsulta 1.398, realizada pelo PFL.

O voto do Min. Peluso é límpido ao acentuar a relação visceral entre o sistema representativoproporcional e o sistema partidário, anotando a “extravagância” do voto nominal do modelobrasileiro – essencialmente frente às regras de definição do quociente eleitoral e da distribuição dascadeiras parlamentares, umbilicalmente direcionadas aos partidos e às coligações e não aos meroscandidatos de forma avulsa e desvinculada. Adotando argumentos constitucionais einfraconstitucionais, bem como interpretações sistêmicas para “fidelidade partidária” e “sistemaproporcional”, aponta finalmente não existir direito subjetivo autônomo à manutenção pessoal nocargo, no caso de eventual desfiliação e troca de partido5.

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162 Anais do Seminário Reforma Política

Suas conclusões, em suma, não deixam dúvidas:

(i) a dinâmica da arquitetura político-eleitoral desenhada na Constituição da República écaracterizada pela adoção, para certos cargos, de eleições “pelo sistema proporcional”, cujomecanismo importa a primazia radical dos partidos políticos sobre a pessoa dos candidatos;

(ii) dessa caracterização de proporcionalidade brota, como princípio, a pertinência das vagasobtidas segundo a lógica do sistema, mediante uso de quocientes eleitoral e partidário, aopartido ou coligação, e não à pessoa que sob sua bandeira tenha concorrido e sido eleita;

(iii) sua previsão constitucional encontra eco na legislação subalterna;

(iv) a doutrina, assim nacional, como estrangeira, não hesita em reconhecer, dentre os modelosteóricos, a superioridade do sistema proporcional, que, apesar das imperfeições, é o que maisbem respeita as exigências de justiça, eqüidade e representatividade, sem comprometer aestabilidade do governo.

E, sob tais fundamentos, respondo à consulta, afirmando que os partidos e coligações têm odireito de preservar a vaga obtida pelo sistema eleitoral proporcional, quando, sem justificação nostermos já expostos, ocorra cancelamento de filiação ou de transferência de candidato eleito paraoutra legenda (grifo nosso).

É evidente que ainda se deve esperar o posicionamento do STF a respeito do tema, mas não épossível imaginar nenhuma solução que volte a desassociar sistema proporcional e titularidade dospartidos sobre os mandatos eletivos. Em função disso, o Congresso deverá regulamentar o temaestabelecendo as balizas legais dessa interpretação constitucional.

V. Principais Projetos de Lei

Atualmente, há no Congresso Nacional uma série de projetos e propostas que visam alterar ostemas aqui tratados, atingindo, essencialmente, as Leis n. 9.504/97 (eleições), 9.096/95 (partidospolíticos) e 4.737/65 (Código Eleitoral), todas elas já bastante modificadas. Muitos projetos já foramarquivados, mas alguns ainda continuam a tramitar nas Casas do Parlamento. Há, ainda, propostasinstitucionais como a da Ordem dos Advogados do Brasil e a do Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social, que discutem por completo a questão da Reforma Política e que tangenciam osaspectos aqui discutidos6.

No campo da constitucionalidade formal, normalmente não há óbices à propositura de tais projetos, dado que o art. 22 da Constituição Federal, em seu inciso I, atribui à União acompetência exclusiva para legislar sobre direito eleitoral, e o art. 48 atribui tal possibilidade aoCongresso. Não se trata de matéria de iniciativa privativa do Presidente da República (§ 1º, art. 61da CF) nem reservada a qualquer outro órgão.

No que tange ao mérito, por sua vez, a maioria dos debates gira em torno das mesmaspropostas. No caso da fidelidade partidária, dá-se a discussão a respeito do tempo mínimonecessário de filiação de um potencial candidato e, dentro do possível, do tempo mínimo depermanência do mesmo em seu partido, caso ocupante de cargo eletivo. No caso do financiamentopúblico de campanha, as querelas tangenciam a possível vedação de doações privadas a partidos (ecandidatos) para seus fundos ou para as campanhas eleitorais (com suas respectivas conseqüências),bem como os montantes a serem destinados ao Fundo Partidário e sua posterior distribuição.

6 – No que tange ao tema do financiamento de campanhas, a proposta da OAB adota em grande medida o modelo francês; o CDES, por suavez, também defende o financiamento público ou o financiamento misto de campanhas, com maior transparência às doações.

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163Anais do Seminário Reforma Política

Destacam-se, por certo, os PL 1.712 e 2.679, ambos de 2003, oriundos da Comissão Especialde Reforma Política formada durante a legislatura. Para além desses dois projetos principais emtramitação, ainda é possível citar o PLS 57/2006, do Sen. Pedro Simon, que objetiva estabelecerregras para facilitar a implementação do financiamento público de campanhas, o PLS 391/2005,apresentado pelo Sen. Renan Calheiros com o apoio da OAB, que dispõe sobre a prestação de contasde candidatos a cargos eletivos, e o PL 624/2007, do Dep. Luciano Castro (PR), que em resumo e emcontraposição à maioria das propostas almeja diminuir o prazo mínimo de filiação e de domicílioeleitoral de 01 ano para seis meses, mas que obriga o eleito a permanecer ao menos 3 anos em seupartido.

Com relação à fidelidade partidária, os projetos de lei que tratam do tema (PL 1.712/03 e PL6.24/07) tinham por foco a extensão do prazo de filiação para poder concorrer a um cargo eletivocomo maneira de inibir a mudança de partido. No entanto, o novo posicionamento do TSE vai muitoalém, impondo a perda de mandato do deputado que deixar o partido. Assim, se algum projeto foraprovado sobre este assunto, ele deve apenas balizar os limites da nova jurisprudênciaconstitucional. (Ressalvo que não gosto dessa legislação pelos tribunais, e tenho dúvidas de suaconstitucionalidade).

Os outros dois temas integrantes da Reforma – financiamento público e voto em lista fechada– estão presentes no PL 2.679/03, analisado a seguir.

- Projeto de Lei nº 2.679 de 2003 (Comissão Especial de Reforma Política)

Resumo

Dispõe sobre as pesquisas eleitorais, o voto de legenda em listas partidárias preordenadas, ainstituição de federações partidárias, o funcionamento parlamentar, a propaganda eleitoral, ofinanciamento de campanha e as coligações partidárias.

Financiamento público das campanhas eleitorais

Vedação reforçada à utilização do Fundo Partidário, além de quaisquer doações de pessoasfísicas ou jurídicas.

1. Veda a utilização de doações de pessoas físicas e jurídicas para o financiamento decampanha eleitoral, mas permite que essas doações integrem o fundo partidário (novoartigo 39 da Lei nº 9.096).

Passa a ter essa disposição normativa:

“Art. 39. Ressalvado o disposto do art. 31, o partido ou federação pode receber doações depessoas físicas e jurídicas para a constituição de seus fundos, sendo vedado usá-los nofinanciamento de campanhas eleitorais”.

2. Reforça a proibição de utilização de doações de pessoas físicas e jurídicas no financiamentode campanhas eleitorais, salientando a proibição do uso do Fundo Partidário (novo artigo44 da Lei nº 9.096).

Modificação:

“§ 4º É vedada a aplicação de recursos do Fundo Partidário em campanhas eleitorais”

3. Atrela o financiamento das campanhas ao número de eleitores do país, multiplicado por R$ 7,00(novo artigo 17, §1º da Lei nº 9.504/97, já alterado pela Lei nº 11.300/06).

4. Dá competência ao TSE para a distribuição do financiamento público de campanhas (§ 2º),sob os seguintes critérios (§ 4º):

• 1% igualitariamente entre todos os partidos;

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164 Anais do Seminário Reforma Política

• 14% igualitariamente entre os partidos com representação na Câmara de Deputados;

• 85% dividido entre os partidos proporcionalmente ao número de representantes eleitos naúltima eleição geral da Câmara de Deputados.

Dentro dos partidos, a distribuição para cada candidato terá os seguintes critérios (§ 5º, incisos I e II):

1) Quesito principal: Presidência da República

• Caso tenham candidato à Presidência da República, 30% destinado às campanhas aoscargos da administração direta;

• Caso não tenham candidato à Presidência da República, 20% destinado às campanhas aoscargos da administração direta.

2) Demais recursos (§ 5º, inciso III, alíneas a e b):

• 50% dividido na proporção de eleitores de cada Estado, DF e Territórios.

• 50% na proporção das bancadas dos Estados, do DF e Territórios que foram eleitas pelopartido para a Câmara de Deputados.

3) Dos diretórios nacionais para os regionais (§ 5º, inciso IV):

• 10% fica para a administração direta;

• 90% fica para os diretórios regionais, respeitando a divisão do quesito 2.

4) Dos diretórios regionais para os municipais (§ 5º, inciso V):

O mesmo critério do quesito 3, sendo os 90% dos diretórios municipais distribuídos da seguintemaneira:

• 50% na proporção do número de eleitores por município;

• 50% na proporção de vereadores eleitos pelo partido em relação ao número total de vagasde vereadores no Estado.

5. Os Comitês Financeiros dos partidos deixam de ter a finalidade de arrecadar recursos,ficando apenas com o atributo de aplicar corretamente o artigo 17 (novo artigo 19 da Leinº 9.504/97).

Modificação:

“Art. 19 Até dez dias após a escolha de seus candidatos em convenção, o partido, coligação oufederação partidária constituirá comitês financeiros, com a finalidade de administrar osrecursos de que trata o art. 17”.

6. A administração financeira da campanha deixa de ser competência do candidato e passa a ser responsabilidade do partido, coligação ou federação partidária (caput do novoartigo 20 da Lei nº 9.504/97).

7. Os partidos políticos, as coligações e as federações partidárias deverão apresentar prestaçãode contas nas seguintes datas: a primeira prestação 45 dias antes das eleições dos recursosutilizados até o momento; a prestação complementar em até 10 dias da realização do pleito (§2º, incisos I e II do novo artigo 20 da Lei nº 9.504/97)

8. Como os partidos passam a administrar as campanhas, o candidato não tem necessidadede abrir conta bancária específica, devendo apenas o partido fazê-lo (mudança no artigo 22,caput, e § 1º da Lei nº 9.504/97).

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165Anais do Seminário Reforma Política

9. Penas para os agentes da doação irregular (§ 1º a 6º do novo artigo 24 da Lei nº 9.504/97):

• Para o candidato infrator, sem prejuízo de sua responsabilização por abuso de podereconômico: Atribuição de uma multa no valor de cinco a dez vezes a quantia doadairregularmente; no caso de eleições majoritárias, cassação do registro ou diploma se este játiver sido expedido, sendo seus votos anulados pela Justiça Eleitoral. 1) Se qualquer infraçãoensejar a cassação, fica uma Espada de Dâmocles, como a que atingiu o senador Capiberibepor 26 reais. Deve haver um parâmetro para cassar, talvez um valor X. 2) Em caso decassação em eleições majoritárias, deve ser prevista nova eleição, mas JAMAIS a posseautomática do DERROTADO, como tem acontecido (p. ex. Mauá-SP, onde foi cassado oprefeito do PT e subiu o do PV). 3) Não se prevê pena para os candidatos a eleiçõesproporcionais? Por quê? (Renato Janine Ribeiro).

• Para a pessoa jurídica doadora que agiu de má-fé: Atribuição de uma multa no valor decinco a dez vezes a quantia doada irregularmente; julgada pela Justiça Eleitoral, poderá ficarproibida de participar de licitações públicas e de celebrar contratos com o Poder Público porcinco anos. (Melhor aumentar bastante a multa e excluir a outra punição; ou deixar a critériodo condenado: multa bem aumentada sem exclusão de contratos, ou multa menor comexclusão de contratos. Justifico: há vezes em que é do interesse do Poder Público contrataruma empresa, mesmo que ela tenha agido mal.)

• Para o partido ou federação: multa no valor de três vezes a quantia da doação recebida;possibilidade de cassação da lista partidária, se já expedida. (Possibilidade é pouco e é muito.Ou cassa a lista, ou não cassa. Agora, cassar um senador por R$ 26,00, como ocorreu noAmapá, é um absurdo. Deveria haver um parâmetro objetivo para cassar.)

10. Revogação dos artigos 18, 21, 23 da Lei nº 9.504/97, que contradizem as mudançaspropostas.

Voto em Lista Fechada Bloqueada

1. Altera o artigo 108 do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65). Deixa de ser eleito aquele queobtiver a maior votação nominal e passa a ser aquele que estiver no topo da lista decandidaturas registrada pelo partido. Troca também o termo “coligação” por federaçãopartidária.

Modificação grifada: “Art.108 Estarão eleitos tantos candidatos registrados por um partido oufederação partidária quantos o respectivo quociente partidário indicar, na ordem em que foramregistrados”.

2. Realça o critério da lista partidária ao adicionar um parágrafo único no artigo 109 do CódigoEleitoral (Lei nº 4.737/65), dizendo expressamente que o candidato eleito será aquele priorizadona lista partidária.

Novo parágrafo único: “O preenchimento dos lugares com que cada partido ou federaçãopartidária for contemplado far-se-á segundo a ordem em que seus candidatos forem registrados nasrespectivas listas”.

3. Modifica o dispositivo que regulamenta situação em que nenhum partido alcançar oquociente eleitoral (art. 111 do Código Eleitoral). Antes, preenchiam-se todos os lugares comos candidatos mais votados. Com a instituição da lista partidária como critério eleitoral, passa-se a ser necessária uma nova eleição.

Modificação grifada: “Art. 111. Se nenhum partido ou federação alcançar o quociente eleitoral,proceder-se-á a nova eleição”.

4. Há modificação também na eleição dos suplentes (art. 112 do Código Eleitoral). Deixam de

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166 Anais do Seminário Reforma Política

ser os suplentes aqueles mais votados entre os não-eleitos, e passam a ser aqueles não eleitosmais bem posicionados na lista.

Modificação grifada: “Art. 112. Considerar-se-ão suplentes de representação partidária ou dafederação os candidatos não eleitos efetivos das listas respectivas, na ordem em que foramregistrados”.

5. A ordem dos candidatos na lista partidária será determinada pelo artigo 8º da Lei nº9.504/97, também modificado pelo PL. O §1º foi revogado, por ser contrário às modificações,e foram incluídos os § 4º a 9º. De acordo com o novo § 4º, a ordem dos candidatos édeterminada por votação em convenção partidária, em ordem decrescente ao número de votosobtidos.

6. O voto é secreto (§ 3º), e cada convencional tem direito a três votos, podendo votar maisde uma vez no mesmo candidato (§ 5º). Tal parágrafo gera a possibilidade de o número devagas na lista não ser preenchida, por poucos candidatos receberem todos os votos daconvenção. Por isso, abre-se a possibilidade de haver mais de um escrutínio, sendo a partir dosegundo vedado o convencional vota mais de uma vez em um mesmo candidato (§ 6º). No casode empate na votação, prioriza-se o mais velho (§ 7º).

7. O § 8º estabelece um número máximo de setenta por cento (70%) e mínimo (30%) decandidatos na lista partidária por gênero.

8. O PL dá prazo de até sessenta dias antes do pleito para o partido ou a federaçãopreencherem as vagas da lista que não foram ocupadas na convenção. Isso ocorre com umaadição de um parágrafo único no artigo 10 da Lei nº 9.504/97.

9. Altera a disposição da numeração dos partidos nas eleições. Há apenas um número, o dopartido, para todos os candidatos da mesma sigla. No caso de coligações, o número doscandidatos será diferente daqueles utilizados por cada partido coligado.

10. Por que não permitir que a definição da lista se faça pelo voto universal dos filiados aopartido naquela circunscrição (Estado, DF ou Município)? Seria mais adequado ao estilo do PT.Quem quiser a convenção a fará. Quem quiser a eleição direta a fará. (Renato Janine Ribeiro).

Status:Plenário da Câmara

O projeto em questão traz, de fato, um resumo substancial dos debates e dos posicionamentos,e de maneira geral contempla as alterações aqui defendidas. Cabe apenas destacar eventuaisalternativas à lista fechada bloqueada, em prol eventualmente de um modelo misto ou de transiçãode lista flexível, aos moldes dos exemplos belga, holandês ou dinamarquês. Fundamental, ainda, oreforço das estruturas democráticas intrapartidárias, no intuito de se evitarem “vagas cativas” e dese garantir o escrutínio democrático de todos os filiados.

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

167Anais do Seminário Reforma Política

O caderno anexo contempla as propostas do Conselho de Desenvolvimento Econômico eSocial e da Ordem dos Advogados do Brasil – Conselho Federal, destacando as principaisproposições, a serem consultadas nos respectivos documentos, bem como o conteúdo das mesmas.

Cabe destacar as sugestões comuns de cada proposta, mesmo apresentando fundamentaçãocom alguma variável.

Principais convergências entre as propostas do CDES e da OAB

I – Fidelidade partidária;

II – Financiamento público de campanhas;

III – Revogação de mandato mediante consulta popular (Recall);

IV – Regulamentação dos princípios constitucionais relacionados a iniciativas populares, comoreferendos, plebiscitos, etc.;

V – Redefinição de regras relacionadas aos suplentes de Senadores.

Reforma Política

Ministério da Justiça

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

168 Anais do Seminário Reforma Política

REFORMA POLÍTICA

PROPOSTAS DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL E DAORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL

ABRIL DE 2007

APRESENTAÇÃO

O presente documento contempla as propostas sobre a reforma política, articuladasinicialmente pela Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, que desenvolveu váriasatividades e debates sobre o tema. Nesse trabalho, destaca-se o papel do Conselho deDesenvolvimento Econômico e Social, criado com o objetivo de ser o articulador entre governo esociedade, para viabilização do processo de diálogo social para o desenvolvimento do País.

Beneficiando-se da diversidade na composição e do compromisso dos Conselheiros com asatividades do CDES, o diálogo social foi exercitado em grupos de trabalho, colóquios, seminários,mesas-redondas. Dentre os trabalhos realizados pelo Conselho, destacam-se as Cartas deConcertação, a Agenda Nacional de Desenvolvimento e os Enunciados Estratégicos para oDesenvolvimento.

Em meados de 2006, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência daRepública iniciou um processo de elaboração dos Enunciados Estratégicos para o Desenvolvimento.Neste trabalho, os conselheiros consideraram a reforma política a mais importante e urgente, e aprioridade para o ano de 2007.

A partir daí, constituiu-se um grupo de trabalho que, no espaço da diversidade do Conselho,formou consensos de propostas de reforma política, de acordo com os seguintes eixos: 1)Aperfeiçoamento do sistema de democracia representativa; 2) Fortalecimento da democracia diretae da democracia participativa; e 3) Reforma do Processo Orçamentário.

O Relatório Preliminar da Reforma Política foi aprovado durante a 20ª Reunião Ordinária doPleno do CDES, realizada em 05 de dezembro de 2006, apresenta algumas propostas por consensoou forte convergência entre os Conselheiros, bem como outras diferentes opiniões sobre o tema,que integram o Anexo I deste documento.

Ao mesmo tempo, o Governo manteve permanente diálogo com entidades representativas dasociedade civil, merecendo considerar o esforço da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em seengajar no debate da reforma política, com a participação no Fórum da Cidadania para a ReformaPolítica, sob a coordenação do jurista Fábio Konder Comparato, presidente da Comissão de Defesada República e da Cidadania da OAB, que aprovou em sua sessão plenária de 10 de dezembro de2006 uma séria de sugestões sobre reforma política, as quais estão consubstanciadas no Anexo IIdeste texto.

Assim sendo, importa anotar que os relatórios da OAB e do CDES possuem convergências nasseguintes proposições: I – Fidelidade partidária; II – Financiamento público de campanha; III – Revogaçãode mandato mediante consulta popular (Recall); IV – Regulamentação dos princípios constitucionaisrelacionados a iniciativas populares, como referendos, plebiscitos etc.; V – Redefinição de regrasrelacionadas aos suplentes dos Senadores.

Na seqüência, apresentamos uma síntese das principais proposições debatidas e sugeridas peloConselho de Desenvolvimento Econômico e Social e pela Ordem dos Advogados do Brasil, as quaisestão detalhadas nos respectivos documentos anexos.

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

169Anais do Seminário Reforma Política

SÍNTESE DAS PROPOSTAS DE REFORMA POLÍTICA

Registram-se a seguir os principais pontos sobre a reforma política, a partir das proposiçõesconstantes do Relatório preliminar sobre Reforma Política do CDES e a Proposta da OAB. Além disso,ressaltamos os pontos em comum em cada um dos documentos, a fim de formar uma visão dasmaiores convergências sobre o tema, não obstante alguns aspectos diferenciados, como no tópicosobre o financiamento público de campanha.

Relatório preliminar sobre Reforma Política do CDES

De acordo com o documento do Conselho, a reforma política deve ser tratada em três eixosprincipais: 1) aperfeiçoamento do sistema de democracia representativa; 2) fortalecimento da democracia direta e da democracia participativa; 3) Reforma do Processo Orçamentário.

Em relação às propostas apresentadas pelo Conselho, seguem as principais, que alcançarammaior consenso dentro do CDES:

I. Voto em legenda em listas predeterminadas (fechada ou flexível);

II. Proibição da interrupção de mandatos conquistados para concorrer ou ocupar outro cargo;

III. Redefinir as regras relacionadas aos Suplentes dos Senadores;

IV. Financiamento público de campanha, com regras mais transparentes para as doações depessoas físicas e jurídicas e duas variáveis quanto a sua natureza: financiamento públicoexclusivo e financiamento misto;

V. Aumentar os repasses dos recursos federais para o fundo partidário nos anos eleitorais;

VI. Estipular sanções penais/eleitorais para candidatos que cometerem infrações graves emrelação ao financiamento de campanha;

VII. Estabelecer normas para coibir as trocas de partidos no Parlamento e incentivos para adisciplina partidária;

VIII. Revogação de mandato, mediante consulta popular (Recall);

IX. Regulamentação dos princípios constitucionais que prevêem a realização de plebiscitos,referendo e iniciativas populares;

X. Reforma do Processo Orçamentário: a) reforma das regras de tramitação do Orçamento noPoder Legislativo; b) criação de mecanismos de participação e de controle social e amploacesso às informações em todo o ciclo orçamentário, na União, estados e municípios; c)discutir a alta rigidez orçamentária; d) alterar a composição da Comissão Mista deOrçamento;

XI. Garantir participação, deliberação e controle social das políticas econômicas dedesenvolvimento;

Principais propostas da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB

I. Propugna pela aprovação dos Projetos de Lei de iniciativa do próprio Poder Legislativo (PL nº4.718/04, na Câmara dos Deputados ou o PL nº 001/06, no Senado Federal), que tornam maisefetivas as manifestações da soberania popular consagradas, fazendo com que o plebiscito e oreferendo, tal como o sufrágio eleitoral não dependam de decisão do Congresso Nacional,reforçando a iniciativa popular legislativa;

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

170 Anais do Seminário Reforma Política

II. Alteração constitucional (art. 61, § 2º da CF) para permitir que os projetos de lei de iniciativapopular possam ser apresentados por “0,5% do eleitorado nacional, ou por confederaçãosindical ou entidade de classe de âmbito nacional, que representem este número,individualmente, ou por meio de associação a outras”;

III. Proibição de o parlamentar eleito mudar de partido, a partir da data da eleição e durantetoda a legislatura;

IV. Proibição dos partidos receberem doações, devendo manter-se exclusivamente com acontribuição de seus filiados e os recursos do fundo partidário;

V. Adoção do sistema francês de financiamento das campanhas eleitorais, em que a JustiçaEleitoral poderá fixar um limite máximo de despesas de campanha dos candidatos, seguindouma série de critérios objetivos, desde que o candidato alcance na eleição pelo menos 5%da totalidade dos votos no distrito;

VI. Revogação popular de mandatos eletivos (Recall);

VII. O prazo de inexigibilidade de Governador e Vice, Prefeito e Vice, que perderam seus cargoseletivos por infringência a dispositivo da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do DistritoFederal ou do Município, deve ser contado a partir do trânsito em julgado da decisãocondenatória e não a partir do término dos mandatos;

VIII. Alterar a verticalização partidária no tempo de ocupação do rádio e da TV pelos partidospolíticos, nas eleições estaduais, distritais e municipais, passando a utilizar o critério arepresentatividade partidária em cada Casa Legislativa (estadual, distrital e municipal);

IX. Abolir as coligações partidárias nas eleições proporcionais;

X. Mandato de quatro anos para os Senadores e sem lista de suplentes.

Principais convergências entre as propostas do CDES e da OAB

I. Fidelidade partidária;

II. Financiamento público de campanha;

III. Revogação de mandato mediante consulta popular (Recall);

IV. Regulamentação dos princípios constitucionais relacionados a iniciativas populares, comoreferendos, plebiscitos etc.;

V. Redefinição de regras relacionadas aos suplentes de Senadores.

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171Anais do Seminário Reforma Política

Presidência da RepúblicaSecretaria de Relações Institucionais – SRI

Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES

Relatório sobre a Reforma Política

Enunciados Estratégicos para o Desenvolvimento

Brasília, dezembro de 2006

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

172 Anais do Seminário Reforma Política

INTRODUÇÃO

A Reforma Política será um dos temas mais importantes no primeiro semestre do segundomandato do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há muito tempo que o Brasil discute anecessidade de uma reforma política, mas há cerca de um ano a questão tem dominado os debatessobre o futuro do Brasil e é tido pela sociedade como primordial para que o País siga rumo aodesenvolvimento sustentado. Não resta dúvida de que o tema pautará as ações do CongressoNacional e da sociedade como um todo.

Sobre este tema, os conselheiros do CDES consideram que a reforma política deve ser feitaidealmente em 2007, e para tal é fundamental que o Presidente da República exerça um papel ativona sua realização. Os conselheiros acreditam que esta deve ser a primeira reforma a ser consideradapelo novo governo. Sem que ela seja feita, as demais perderão sua força transformadora darealidade.

Muitos dos problemas de nosso sistema partidário se devem a sérias imperfeições do sistemaeleitoral. Tem sido constante em nossa legislação e na prática política a tolerância em relação àinfidelidade partidária, o que evidencia, em diversos casos, uma inconsistência ideológica na relaçãoentre partidos e mandatários. Destaca-se, também, que na ausência de mecanismos eficazes deresponsabilização política, a coesão partidária pode ceder lugar ao exercício de mandatos a títuloeminentemente de caráter pessoal. Finalmente, sem esgotar os problemas, não há regrastransparentes e claras sobre os limites da influência que o poder econômico pode exercer sobre odebate eleitoral. É a reforma política que vai estabelecê-las, fazendo com que a decisão coletiva deum partido venha a se sobrepor aos interesses particulares de seus integrantes.

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), ao longo de seus quase quatroanos de trabalho, tem procurado ressaltar a importância de contribuir e ampliar o debate acerca dareforma política. A reforma esperada pelos conselheiros do CDES deve contemplar um sistemademocrático que seja mais que um sistema político formal e que aprimore a relação entre o Estadoe a Sociedade, para que juntos possam enfrentar as desigualdades e a exclusão social, respeitandoas diversidades e promovendo a participação política dos cidadãos.

Dada a prioridade à Reforma Política, O CDES considera relevante - e se dispõe a aprofundar -o debate sobre o Estado, buscando aprimorar a eficiência e a eficácia das políticas e ações para odesenvolvimento, envolvendo aspectos econômicos, sociais, ambientais e o equilíbrio do pactofederativo.

ANTECEDENTES

Estão em tramitação avançada no Congresso Nacional dois Projetos de Lei tratando do tema. OPL 2.679/2003, é focado em três eixos principais: 1) adoção do sistema de listas fechadas ebloqueadas para as eleições proporcionais; 2) financiamento de campanha eleitoral exclusivamentepúblico; 3) redução do número de partidos políticos.

Outro projeto em tramitação, o PL 4.718/2004, trata da regulamentação dos mecanismos dedemocracia direta previstos na Constituição Federal, o que inclui o plebiscito, o referendo popular ea iniciativa popular. Este projeto tem amplo apoio dos movimentos sociais.

Nos Enunciados para o Desenvolvimento, apresentados na 19ª Reunião do Pleno do CDES quefoi realizada em 24 de agosto de 2006, o tema é tratado da seguinte forma:

RELATÓRIO SOBRE REFORMA POLÍTICA

Enunciados Estratégicos para o Desenvolvimento

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Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social

173Anais do Seminário Reforma Política

Com o objetivo de aprofundar a contribuição do CDES em relação ao conteúdo da proposta eà condução do processo de debate da Reforma Política no país, o Conselho optou por criar umGrupo de Trabalho, que contou com a colaboração da Fundação Getúlio Vargas, e realizou duasreuniões – em 20 de setembro e em 14 de novembro de 2006.

A partir dos trabalhos do GT, foi agregado o tema do Orçamento Geral da União. Parece nãohaver dúvidas de que a elaboração e execução do OGU é ainda um grande ponto de atrito entre osPoderes Executivo e Legislativo. Como forma de aperfeiçoar os mecanismos que regem estaprodução conjunta, o CDES vê no debate sobre a reforma política uma grande oportunidade paraque se trate da questão orçamentária.

O relatório do GT foi apresentado e debatido na 20ª Reunião do Pleno do CDES e as propostasapresentadas a seguir – algumas por consenso ou forte convergência entre os Conselheiros, outrasapontando as diferentes opiniões presentes no CDES sobre o tema – representam uma contribuiçãopreliminar do CDES ao debate da Reforma Política.

Propostas

A reforma política deve ser tratada em três eixos principais:

1) Aperfeiçoamento do sistema de democracia representativa;

2) Fortalecimento da democracia direta e da democracia participativa;

3) Reforma do Processo Orçamentário.

Um dos objetivos da reforma é encontrar mecanismos eficazes que possam contribuir paraminimizar os problemas da corrupção política e da desigualdade de oportunidades entre os partidose candidatos, em função das diferenças econômicas, assim como, ampliar o papel da sociedade civilno processo democrático.

1º Eixo: Aperfeiçoamento do sistema de democracia representativa

Na democracia em que vivemos, o principal espaço de processamento e decisão sobre osconflitos sociais, econômicos e de interesses, está nas instituições representativas do povo, cujosmandatos são delegados através do voto. A reforma política necessária deve compreender mudançasnos processos eleitorais e sistema partidário, ainda que não se esgote nestas. As proposições para areforma dos processos eleitorais são as seguintes:

Reformulação do sistema eleitoral e partidário:

• Voto em legenda em listas predeterminadas

A adoção da lista fechada ou lista flexível (na qual o eleitor tem poder de alterar a ordemproposta pelo partido), em que as(os) eleitoras(es) votam nos partidos e não em pessoas, é essencial

“A reforma política deve dar nova regulamentação às formas de manifestaçãoda soberania popular expressas na Constituição Federal (plebiscito, referendo einiciativa popular), conforme projeto de Lei n° 4.718/2004, proposto pelo ConselhoFederal da OAB e CNBB, em tramitação no Congresso Nacional. Priorizar areorganização do sistema partidário e a qualificação dos processos eleitorais combase nos seguintes pontos: fidelidade partidária, financiamento público decampanha e votação em lista, promovendo a valorização dos partidos políticos e oaprimoramento de sua vida interna. A reforma política também buscará oaperfeiçoamento das formas de representação popular”.

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174 Anais do Seminário Reforma Política

para combater o personalismo, fortalecer e democratizar os partidos. Depende de uma ReformaPartidária que torne mais democráticos os processos internos dos partidos e reduza a interferênciadas suas estruturas hierárquicas superiores.

*forte convergência.

• Limitações do número de reeleições para o Legislativo

Restringir o limite para dois mandatos eletivos consecutivos em qualquer tipo de eleição a cargopolítico, com uma quarentena de quatro anos.

*polêmica: essa restrição, combinada com o voto em lista, pode dificultar a formaçãode lideranças nacionais.

• Proibição da Interrupção de mandatos conquistados para concorrer ou ocupar outro cargo

Os ocupantes de mandatos do Executivo e do Legislativo não podem disputar eleições paraoutros cargos antes de terminarem o mandato para o qual foram eleitos. Da mesma forma,ocupantes de mandato parlamentar não podem assumir cargos no Executivo no período de seumandato.

*forte convergência.

• Regras para eleição de suplentes de Senadores

Redefinir as regras relacionadas aos suplentes de Senadores

*consenso.

• Estabelecer novas regras para o uso da imunidade e do foro privilegiado para osparlamentares

Impor maiores restrições à imunidade parlamentar, considerando o direito a foro privilegiadoapenas no que se refere ao estrito exercício do mandato ou do cargo.

*consenso.

• Manter a cláusula de barreira

A manutenção da cláusula de barreira para acesso ao financiamento público direto (fundopartidário) e indireto (horários gratuitos de propaganda partidária e eleitoral do rádio e da televisão)evita o aumento da fragmentação do quadro partidário.

*polêmica: apresentadas observações sobre o congelamento e empobrecimento dacena política brasileira, com a inviabilização de partidos históricos e partidos nascentes.Também foi alegado que a cláusula não redundou em inviabilização dos chamados partidosde aluguel.

Financiamento de campanha

• Financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais ou Financiamento misto, comregras que tornem mais transparentes as doações de pessoas físicas e jurídicas.

– Financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais: doações de pessoas físicas eempresas são proibidas e sujeitas à punição. Em ano eleitoral, conforme a proposta, serão

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175Anais do Seminário Reforma Política

incluídos na Lei Orçamentária créditos adicionais para financiar campanhas eleitorais comvalores equivalentes ao número de eleitores do País.

– Financiamento misto, com regras que tornem mais transparentes as doações de pessoas físicase jurídicas: para nivelar as oportunidades entre as forças políticas, a legislação, poderiacontemplar um sistema eficiente de financiamento público de campanha eleitoral, devendomudar os atuais critérios de distribuição das ajudas públicas diretas e indiretas, que claramentefavorecem os grandes partidos e discriminam os partidos menores; deveria, além dos limites empercentuais que já existem, estabelecer tetos para as doações das pessoas físicas e jurídicasdurante as campanhas eleitorais; deveria estabelecer limites de gastos, principalmente nascampanhas eleitorais – e não deixar ao talante dos partidos fixarem o topo dos gastos dos seuscandidatos em cada eleição.

*consenso sobre a necessidade de financiamento público.

• Aumentar os repasses dos recursos federais para o fundo partidário nos anos eleitorais, dandoefetividade ao art. 79, da Lei nº 9.504/97, que prevê o financiamento público das campanhas eleitorais.

• Estipular sanções penais/eleitorais para candidatos que cometerem infrações graves emrelação ao financiamento de campanha

Estabelecer sanções penais e sanções eleitorais – inclusive a perda do registro de candidatura edo mandato – para algumas hipóteses de condutas mais graves relacionadas com o financiamentoirregular das campanhas eleitorais que atualmente são sancionadas com multas muito brandas.

*consensos.

Fidelidade partidária

Estabelecer normas para coibir as trocas de partidos no Parlamento e incentivos para a disciplinapartidária.

*consenso.

Revogação de mandato, mediante consulta popular (Recall).

*consenso.

2º Eixo: Fortalecimento da democracia direta e da democracia participativa

Regulamentação dos princípios Constitucionais que prevêem a realização de plebiscitos,referendos e iniciativas populares.

*consenso.

3º Eixo: Reforma do Processo Orçamentário

Democratização dos recursos fiscais e parafiscais.

• Reforma das Regras de Tramitação do Orçamento no Poder Legislativo.

• Criação de mecanismos de participação e de controle social e amplo acesso às informaçõesem todo o ciclo orçamentário (formulação/definição, execução, avaliação/monitoramento erevisão) na União, Estados e Municípios.

• Discutir a alta rigidez orçamentária.

• Alterar a composição da Comissão Mista de Orçamento.

*consenso.

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176 Anais do Seminário Reforma Política

Garantir participação, deliberação e controle social das políticas econômicas e dedesenvolvimento.

*consenso.

O Processo de Realização da Reforma Política

Colégio constituinte revisional - Câmara exclusiva para o debate e a implementação dareforma política.

*polêmica: a proposta depende da disposição do Congresso e / ou de forte mobilizaçãoda sociedade civil nesse sentido – condições de muito baixa probabilidade hoje. Por outrolado, a controvérsia que certamente a proposta vai enfrentar no Congresso e ascomplexidades de implementação terão impacto profundo em termos dos prazosdesejáveis para realização da reforma.

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