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A Conquísta da Terra A coNeuISTÀ da terra pode ser considerada, A como a do ar, no seu conhecimento e na l I sua exploração. No conhecimento, primeiro a fixação de sua posição no espaço, o que representa um longo e penoso trabalho da inteligência e do conhecimento humano para vencer noções e preconceitos de muito estabelecidos. Conseguir deslocar da sua morada a Ter- ra - centro do sistema de movimentos a gue ela está sujeita; determinar com tôdas as suas mi- núcias êsses movimentos, com a conseqüência de um grau de precisão espantosa , tal a marcha de uma das mais eloqüentes justificativas da exclamação de SórocLES: "Nada é mais po- deroso gue o homem"! A admirável concepção de HtpeRco de Nicéia, desenvolvida por Proronrru - a dos epiciclos - dois séculos antes da era cristã, foi um esfôrço milagroso para explicar a extre- ma complicação dos movimentos dos astros com os dados insuficientes da época. O monge polonês CopÉnNIco, no século XV, conseguiu a primeira simplificação dêstes movimentos, com a genial concepção do deslo- camento do centro do sistema, da Terra para o Sol, semelhante para os demais planetas co- nhecidos e combinando com o de rotação dia Terra sôbre si mesma. Igualmente a Lua, nosso único satélite conhecido, girava em tôrno da Terra. As observações Íeitas com uma precisão, até então, inédita do astrônomo dinamarquês Tycuo-Bnaur indicaram certas discordâncias, pequenas embora, entre as posições reais e as gue a teoria de CopÉnNICo determinava. F. VeNÂNcro FnHo Professor do Instituto d,e &lucação, do Rio de Janeiro Como exemplo dos mais pujantes do po- der da inteligência humana, surge a obra cicló- pica de KnprBn, astrônomo de Würtenberg, que, pelo só exame dos dados até então reco- lhidos sôbre as posições dos planetas em obser- vação direta, auxiliado por invenção matemá- tica oportuna - a do logarítmo - pelo escos- sês JoÃo Neptnn, consegue determinar-lhe tô- das as leis de seu movimento. As idéias domi- nantes na época traçavam aos planetas trajetó- rias circulares, e movimento uniforme, de acôrdo com a perfeição da obra da Criação. As três leis de Knprrn, definiam os ele- mentos fundamentais do movimentr> dos plane- tas. Pela primeira, tem-se a trajetôria, isto é, a linha elítica que êles percorrem no espaço; pela segunda, a lei do movimento, isto é, âs Íe- lações entre os espaços percorridos e os tempos correspondentes, de que decorre a velocidade de cada qual; pela terceira, a relação entre os elementos dos diversos planetas. ( Gênio dos maiores da espécie, não exce- dido por nenhum outro, surge Isaac NBwroN, no século XVI, com o poder de sua capacidade incomparável, e consegue, por via matemática, dar a explicação de todos os movimentos, reu- nindo em fórmula única o admirável princÍpio da gravitaçãc universal. A obra de NrwroN ê realmente assom- brosa. Os recursos do cálculo matemático não eram suficientes e o sábio teve de os criar, como o cálctrlo inÍinitesim al, para a solução do pro- blema de mecânica racional que se lhe apresen- tava. Foi exposta num dos livros fundamentais da humanidaãe - Phisilophiae naturalis prin- cipia mathematica - publicado, em 1687, e cujo I REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONÀL

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A Conquísta da Terra

A coNeuISTÀ da terra pode ser considerada,A como a do ar, no seu conhecimento e nal I sua exploração.

No conhecimento, primeiro a fixação desua posição no espaço, o que representa umlongo e penoso trabalho da inteligência e doconhecimento humano para vencer noções epreconceitos de muito estabelecidos.

Conseguir deslocar da sua morada a Ter-ra - centro do sistema de movimentos a gue elaestá sujeita; determinar com tôdas as suas mi-núcias êsses movimentos, com a conseqüênciade um grau de precisão espantosa , tal a marchade uma das mais eloqüentes justificativas daexclamação de SórocLES: "Nada é mais po-deroso gue o homem"!

A admirável concepção de HtpeRco deNicéia, desenvolvida por Proronrru - a dosepiciclos - dois séculos antes da era cristã,foi um esfôrço milagroso para explicar a extre-ma complicação dos movimentos dos astros comos dados insuficientes da época.

O monge polonês CopÉnNIco, no séculoXV, conseguiu a primeira simplificação dêstesmovimentos, com a genial concepção do deslo-camento do centro do sistema, da Terra parao Sol, semelhante para os demais planetas co-nhecidos e combinando com o de rotação dia

Terra sôbre si mesma. Igualmente a Lua, nossoúnico satélite conhecido, girava em tôrno daTerra.

As observações Íeitas com uma precisão,até então, inédita do astrônomo dinamarquêsTycuo-Bnaur indicaram certas discordâncias,pequenas embora, entre as posições reais e asgue a teoria de CopÉnNICo determinava.

F. VeNÂNcro FnHoProfessor do Instituto d,e &lucação, do

Rio de Janeiro

Como exemplo dos mais pujantes do po-der da inteligência humana, surge a obra cicló-pica de KnprBn, astrônomo de Würtenberg,que, pelo só exame dos dados até então reco-lhidos sôbre as posições dos planetas em obser-vação direta, auxiliado por invenção matemá-tica oportuna - a do logarítmo - pelo escos-sês JoÃo Neptnn, consegue determinar-lhe tô-das as leis de seu movimento. As idéias domi-nantes na época traçavam aos planetas trajetó-rias circulares, e movimento uniforme, de acôrdocom a perfeição da obra da Criação.

As três leis de Knprrn, definiam os ele-mentos fundamentais do movimentr> dos plane-tas. Pela primeira, tem-se a trajetôria, isto é,a linha elítica que êles percorrem no espaço;pela segunda, a lei do movimento, isto é, âs Íe-lações entre os espaços percorridos e os temposcorrespondentes, de que decorre a velocidadede cada qual; pela terceira, a relação entre oselementos dos diversos planetas. (

Gênio dos maiores da espécie, não exce-dido por nenhum outro, surge Isaac NBwroN,no século XVI, com o poder de sua capacidadeincomparável, e consegue, por via matemática,dar a explicação de todos os movimentos, reu-nindo em fórmula única o admirável princÍpioda gravitaçãc universal.

A obra de NrwroN ê realmente assom-brosa. Os recursos do cálculo matemático nãoeram suficientes e o sábio teve de os criar, comoo cálctrlo inÍinitesim al, para a solução do pro-blema de mecânica racional que se lhe apresen-tava. Foi exposta num dos livros fundamentaisda humanidaãe - Phisilophiae naturalis prin-cipia mathematica - publicado, em 1687, e cujo

I REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONÀL

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manuscrito se conserva religiosamente na QoyalSociety de Londres.

No século XVIII, Crarnaur, D'Arrnaspnre LecneucE preparam a obra com que Leplecn,de certo modo, dá o código do universo nestaoutra obra prima que é seu Sistema do Mun-do - e na Mecânica Celeste. Aos cinco pla-netas conhecidos da antiguidade, HERSCHEL, em1781, acrescentara [.Irano.

Lr Vrnnren era um jovem "polytechni-cien" a princípio especialista em química, masque foi levado, por uma oportunidade eventual,à astronomia teórica.

Procurando explicar as perturbações doSistema Solar, empreendeu a obra gigante derever todos os dados referentes a todos os pla-netas, aproximando os cálculos atê a máximaprecisão possível.

Como observa pitorescamente D'ôcÀcNE,foi o mau caráter de Urano que conduziu LtVrnnrrn à sua descoberta, pús que êste pla-neta, o mais afastado do sol, aberrava das leisda mecânica celeste.

Ls Vrnrunn fêz a hipótese de um planetadesconhecido, que pudesse explicar âs êrorrâ-lias observadas e determinou rigorosamente to-dos os seus elementos.

Em 23 de setembro de 1846, no Observa-tório de Berlim, Garre conseguiu observar oplaneta desconhecido, rigorosamente no pontoindicado.

O sucesso de tal descoberta foi sensacio-nal em tôda a Europa, dando ao mesmo tempoprova do vigor da inteligência do homem.

Outro exemplo de igual porte é o da des-coberta dos asteróides, entre Marte e fúpiter.

Ptezzt, do Observatório de Palermo, âcorr-panhou durante um mês, desde I de janeiro de1801, um astro que êle descobrira, mas adoe-cendo cessaram as observações e o astro, apro-ximando-se do sol, tornou-se invisível. O pro-blema que se pôs foi o de determinar a órbitadêste planeta, Ceres, com os dados insuficientespossuídos, de modo a fixar a sua posição no fimde 1801.

A solução foi achada por via exclusiva-mente matemática, pelo gênio Geuss, então com24 anos.

Conhecida a posição da terra no conjunlodo Universo, por uma das conquistas portento-sas do gênio humano, veja-se agora a conquistada terra próxima.

Poucas, as observações vindas da Anti-guidade.

Àristótcles

Escassas, as de XeNóraNEs de Colofon,do poeta filósofo XeNrus de Sardis e de Hs-RóDoro,' de AnIsIóTELES, algumas sôbre ter-remotos freqüentes na região mediterrânea.EsrnenÃo, o grande geógrafo grego, autor dadefinição célebre da geograf.ia, dâ descriçõesexatas de alguns fenômenos como os deltasproduzidos pelos rios.

Mas, só nos tempos modernos, no séculoXVIII, é que o estudo da terra - a geologia -se inicia com caráter cientifico. Os grandes Íro-mes dêsse período são: o escossês HurroN, oalemão WEnNER, o inglês Snuru e os francê-ses LaueRCK e Cuvrcn.

O desenvolvimento das ciências funda-mentais - a física, a química, a teoria da evo-lução, as explorações geográficas, tiveram in-fluência decisiva, como era natural, no estudoda terra no curso do século XIX.

Para a constituição da geologia contribuí-ram diversos estudos, em fases várias.

A meteorologia, principalmente após osserviços de previsão do tempo, criados emFrança em 1855 e no mesmo ano na Inglaterra,

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Lineu (Linnaeus)

pelo Almirante Ronrnr FrrzRoy, comandanteda fragata em que DARwTN [êz a sua famosaviagem de naturalista, de tão profundas conse-qüências para a Ciência.

A oceanografia trouxe a sua contribuiçáono estudo das massas líquidas que constituem3Á do planeta.

A grande contribuição da geologia físicaestudando as formas e constituição das partesacessíveis da terra, a natureza e o trabalho dosvários processos geológicos, pelos quais âs ro-chas e a crosta se construíram e se metamorfo-searam, as modificações na distribuição dos ma-res e terras, no passado e no presente e o jôgode fôrças que transformam a terra.

O grande nome dêsse período é o do geó-logo inglês CHentrs LyBn, com os Pdncípiosde Geologia publicados em três volumes, entre1830 e 1833, de conseqüências científicas e filo-sóficas do maior alcance.

A sua teoria, "a das causas atuais", pelaqual as modificações que se vêm operando noplaneta são produzidas pelas causas presentes,cuja ação diuturna e pequenina escapa âos Ílos-sos olhos e só são sensíveis examinadas a longopÍazo, trouxe uma nova luz à geologia.

Estudado o globo terrestre em bloco, virianecessàriamente o estudo do detalhe. Depoisdo exame macroscópico, o microscopico. É acontribuição da mineralogia.

De TeornÀsro, filosoÍo grego, ficou, noseu tratado Das pedras, uma cópia de preciososinformes sôbre mineirais e Íosseis.

PrÍNlo, o antigo, em Roma; entre as árabesAvrcrNa e Gnonce AcRtcota, e principal-mente LINru, o famoso naturalista sueco, quereconhece a natureza cristalina dos minerais,são os primeiros nomes da mineralogia, que seviria a constituir com WgnNER, no estudo daspropriedades físicas, RôuÉ de L'Isrn, e o abadeHüv que fundam a cristalografia, Wottesrox,físico e químico, gue mede os ângulos dos cristais.

O livro de Jenars DaNa, da Universidadede Yale - System of Mineralogy - fixa amineralogia em bases definitivas.

A pouco e pouco, do núcleo principal vãose destacando, como é natural, capítulos dageologia, cujo desenvolvimento vai exigindoespecializações diferenciadas. Assim, a petro-grafia estudo das rochas - iniciada porWrnNBn e com CunroN Sonnv, em memóriacélebre - On the Microscopical Structute ofCrystals - em 1858, dá-lhe largo surto.

A paleontologia - estudo dos Íósseis -adquire justo prestígio graças aos trabalhos deLevtaRCK, e sobretudo CuvlBn e mais tardeDanwtN. Já em 1855 cêrca de 22.000 espé-cies de fósseis eram conhecidas.

A estratig raf.ia - que estuda o caráter ea ordem de sucessão das várias camadas dacrosta terrestre pelo estudo das regiões - ÍrãItália, com ARouINo, em 1759, FücHsBr, naTuríngia, em 1762 e mais tarde na Europa e

na América, a coluna geológica vai sendo esta-belecida, por tôda parte.

Na segunda metade do século XIX a estra-tigrafia permite a elaboração da história daterra.

Os esturlos de fisiografia geológica - quercalizaram síntese do material acumulado pelasoutras contribuições.

Nrcorau Drsnranesr, do século XVIII,é considerado o pai da fisiografia, a cujos tra-balhos comparativos entre as Ilhas Britânicas e

o continente se juntam os de Dn SaussuRE, cle

HurroN, PLayFArR, Becxr, ]ures, diretor doBritish Geological Suruey.

DÀNa, SrnoNc NrwnEnnv, da Colúmbiae JoHN Wrsrev Powur, diretor do Geologi-cal SuruerT dos Estados Unidos dão constitui-ção definitiva a êsse ramo de estudo da Terra.

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A teoria de glaciação continental desenvolvidaprincipalmente por Acessts, a despeito de al-gumas inexatidões tem seu papel em ciência.

Foi, pois, em confluência de vários estu-dos, que em nossa época se chegou a um sis-tema de doutrina, baseado em fatos verifica-dos por todo o planeta, com a qual a geologiase contitui em bases sólidas.

É evidente que êste conhecimento da terra,seja nos seus aspectos gerais, seja nos parti-culares não se f.êz em ordem sucessiva, antessimultânea e entrelaçadamente, ajudando-seuns aos outros, no desvendar os seus segredos.

Assim, ao mesmo tempo gue se ia fazendoesta sondagem sôbre a constituição superficial e

profunda do planeta, os químicos procuravampenetrar no recesso da intimidade da matéria,chegando a um rigor de conhecimerito que é,também, uma glória do espírito humano.

A concepção atômica da matéria, vindados gregos, apenas na sua feição filosófica, sótomou bases científicas com JoHN DarroN,professor de matemática e filosofia natural emManchester.

A noção - precisa de corpo simples ou deelemento deve-se a RoerRr Boyrn no seu 7áeSccptical Chymist, publicado em 1661.

Esta noção fundamental de matéria, guese pode isolar e que se transmite para outrasformas de combinação, seria de rara fecundi-dade.

A classificação dos elementos empreen-dida por MrNoererEFF, reunindo dados ante-riores, mas por golpe de gênio distribuindo-senuma série periódica, representa um dos exeÍrr-plos mais eloqüentes da previsibilidade daCiência.

Com efeito, quando o sábio russo orga-nizou a sua Tábua, havia nela inúmeros espa-ços vazios, que representavam elementos desco-nhecidos. Como cada qual se caracteriza porum número, denominado numero atomico, quemais tarde teria uma signiÍicação muito maisprofunda, com as novas descobertas da físicanuclear, os elementos ainda não descobertosocupam as casas 21,31,32,43,61,72,75,85 e87, nove ao todo.

Ern 1870, MeNorrrtenr previu as pro-priedades do 21, do 3l e do 32, pouco depoisencontrando-se o 31 - o gálio, o 2l - o es-cândio e o 32 - o germâxio.

Sucessivamente, descobrem-se: em 1922, o72- oháfnio, o4.3eo75 - omesúrioeorênio em 1925; e em 1926 o 6l - o ilínio, [i-cando duas vagas 85 e 87. Em 1930 encon-tram os pesquisadores do Instituto Politécnico

Newton

de Alabama os dois esquivos, denominando-osalabâmio e virgínio.

Estavam assim completos, após 60 anos,os 92 alicerces da constituição da matéria.

Vistas as linhas gerais das diversas facesdo conhecimento da Terra, seja agora consi-derado o aspecto da exploração da sua super-[ície, que levou no século XX a um conheci-mento bastante profundo de tôda a sua exten-são.

Claro que, também aqui, as aquisiçõesestão subordinadas aos recursos que, paralela-mente, a técnica vem oferecendo ao homem.

A princípio contou apenas com o seu pró-prio aparelho locomotor para percorrer as dis-tâncias terrestres. Mais tarde associou o dosanimais gue domesticou. Algumas invençõesda aurora da humanidade - corlo a alavanca,a roda, a vela - permitiram utilizar desde logo,em melhores condições, as primeiras energiasou conquistar outras como o vento. O remoampliou o devassamento da terra, pela trans-posição das massas líquidas. Aperfeiçoamen-tos sem conta, de conjunto e de detalhe, ÍepÍe-sentam uma longa evolução gue nos dá o gua-dro magnífico dos meios de transporte no nosso

ÀGôSTO, 1945 11

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Ctarlcs Darq/m

tempo. A descoberta da fôrça propulsora dovapor d'água, que o Eópno de Heron nãopudera apresentar, dadas as condições sociaisda época, mas que a máquina a vapor - aprincípio e durante longo intervalo - e a tvr.bina de vapor, mais tarde, utilizam nas compo-sições ferroviárias e marítimas de agora. Omotor de combustão interna, nas suas diversasmodalidades, permitiu as rodovias maravilho-sas e a aviação. A eletricidade, a êsse aspecto,

ensaia os primeiros passos, porque ainda pre-cisa do fio condutor para a tração em grandeescala. Eis as principais energias que permiti-ram ao homem, no século XX, poder traçar umacarta do planeta, bastante expressiva, che-gando, em algumas regiões, a uma documen-tação de detalhe, auxiliada pelos levantamen-tos geodésicos, e pela fotografia e cinemato-grafia, que nos põe à disposição, a qualquerinstante, o trecho desejado.

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E tôda a história da geografia.Como a civilização segue a rota aparente

do sol, o mundo conhecido primeiramenie foi odo oriente asiático e africano, em poucos terri-tórios, passando-se daí para a Europa. Sómuito mais tarde surge a América e posterior-mente a Austráli a e a poeira de ilhas que a cir-cundam.

"No berço da ciência da geografia", diz oilustre dinamarquês Metrn-BRuN, nesta pâ-gina brilhante de síntese, "MoISÉs e HourRoapresentam-oos os mapa-mundi de dois povosantigos. Bem depressa ao bruxolear das estrê-las o navegador fenício atravessa o Mediterrâ-neo e descobre o Oceano; Hnnó»oto conta aosgregos o que viu e o que ouviu dizer, O vastosistema colonial de Cartago e as viagens âvefl-turosas de PvrHsas de Marselha, Í.azem conhe-cer o Ocidente e adivinhar o Norte. A glóriade ArexeNDRE espalhou viva luz sôbre as re-giões orientais. Os romanos herdam a maiorparte dos descobrimentos feitos pelas naçõespoliciadas da antiguidade. Os Eratóstenes, os

Estrabões, os Plínios, os Ptolomeus procuramcoordenar êsses materiais ainda imperfeitos e

incompletos. Depois a grande emigração dospovos veio derruir todo o edifício da antiga geo-graÍia; o aniquilamento clos gregos e dos roÍnâ-nos ensinou quanto o mundo era mais extensodo que parecia pelos sistemas dêles. Pouco apouco esclarece-se êste caos e com uma dovaEuropa nascem os elernentos de uma geografianova. Desperta o espírito das viagens; já êletinha levado os árabes às Molucas e os escandi-navos à América, mas sem utilidade por faltara ciência que recolhesse o fruto daquelas aven-turas audazes. Mais instruídos e não menosanimosos, os italianos e os portuguêses, auxilia-dos pela bússola, percorrem com segurança oalto mar. Caem por todos os lados as barrei-ras, erguidas pelos preconceitos, que contraíamos horizontes da geograÍia. Coronaso dá-noso Novo Mundo. Por mar e por terra todos ospovos se lançam na carreira dos descobrimen-tos e pelos seus esforços combinados o vastoconjunto, exceto algumas sombras parciais, ficaenfim patente aos olhares da ciência".

Pode-se afirmar que hoje não há trecho decerta extensão que não tenha sido palmilhadopelo pé indomável do homem ou por qualquerinvenção do seu cérebro prodigioso. Todos oscontinentes foram devassados. Até regiões maisinacessíveis, como as altas montanhas da Ásia,'os desertos da ÁÍrica, os grandes rios da Amé-rica, tudo foi visitado e explorado.

Dentre todos os pontos da terra, por certo,os que custaram mais sacrifícios foram os pólos.Não há, na história da luta do homem com aNatureza, exemplo mais expressivo da suacapacidade de heroismo, de resignação, de bra-vura, do que o da conguista das regiões polares.Cada grau de latitude aí percorrido se pontilhade sacrifÍcios e sofrimentos.

Uma viagem por outras regiões tem a se-gurança dos recursos possíveis e prováveis.LIma aventura de aviação se resolve na verti-gem de um vôo de horas: ou a derrota ou a vitó-ria. A excursão ao polo é só de imprevistos.Lenta, Íatigante e sempre incerta, numa dura-ção longa e penosa. E para que? CuenrrsRanor, explorador francês da Groenlândia,respondia a esta pergunta com boutade e ironia:"Tout simplement à devenir millionaire"'. Certoque há meios mais singelos e menos arrisca-dos. . .

Entretanto, enguanto as excursões alpinis-tas datam de 1786, com a escalada por Bernaerdo Monte Branco, as expedições polares se ini-ciam pouco depois da descoberta da América,com o veneziano Cesor, a serriço da Inglaterra.

Se cabem, respectivamente, uo ur.r"rãrroRoernr Prenv, em 7 de abril de 1907 e âo Íro-rueguês Roero AnluNpseN, em 14 de dezem-bro de l9ll, o acesso aos polos norte e sul, acoorte de heróis e mártires é sem conta desde êste

infortunado Scotr, que chegou ao polo antâr-tico a 17 de janeiro de 1912, pouco mais de ummês sôbre AnluNosEN, perdendo para a No-ruega a glória que ambicionava para a Ingla-terÍa, até êste glorioso BvRD, cujas exploraçõesÍelizes a tela cinematográfica Íixou para a sua

fama e nossa emoção.

Quando ainda há tanta pesquisa, tanta in-vestigação a completar, o conhecimento da hu-manidade sôbre sua morada, que encontroucheia de acidentes naturais e que pela ciência,pela arte, pela técnica, transformou, corrigindoe aperfeiçoando muitas vêzes a própria naturezapara as suas necessidades, e logrando atingirnas paisagens gue construiu o mesmo podercriador, das que lhes deu a própria Criação,pergunta-se, ansioso: por que não se unem parasempre, na obra comum de dar a todos os que

vivem no planeta os mesmos direitos de paz, de

alegria, de tranqüilidade, de amor?

Mas, êsse dia ha de chegar.

ÀGÔSTO, T9,T5 13