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ABIM 005 JV Ano XI - Nº 85 - Mai/17 “Conhecimento, Liberdade e Responsabilidade são, essencialmente, as características do homem e, também, do caminho direto de seu progresso para outros estados superiores”. (Professor Henrique José de Souza)

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ABIM 005 JV Ano XI - Nº 85 - Mai/17

“Conhecimento, Liberdade e Responsabilidade são, essencialmente, as características do homem e, também, do caminho direto de seu progresso para outros estados superiores”. (Professor Henrique José de Souza)

Editorial

A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 33.154 e-mails de leitores cadastrados, no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005 JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.

www.revistaartereal.com.br - [email protected] - Facebook RevistaArteReal - (35) 99198-7175 Whats App.

Trata-se de uma coleção histórica de

22 edições publicadas, no período de

jul/12 a fev/16. Nada tem a ver com a

edição virtual. Confeccionada em 28

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PROMOÇÃO

Revista Arte Real

Edição Impresssa

22 exemplares

A edição de maio de sua Revista Arte Real, mais uma vez, vem cumprir seu altruístico trabalho de conscientização de nossos

leitores, quanto aos diversos fatos que envolvem o nosso país, no que se refere à política e à postura do cidadão brasileiro. Diante de tantos acontecimentos, é bastante normal que, por algumas vezes, possamos chegar a perder a esperança de transformar nosso país em um lugar mais digno de se viver. O descrédito com a classe política já atingiu a índices inimagináveis. Somos bombardeados, a todo momento, pela mídia, com noticiários sobre escândalos sem fim, o que nos deixa atônitos, anestesiados, ao ponto de ficarmos estáticos assistindo “o” Brasil ser subtraído, ao invés de assistir “ao” Brasil, dando-lhe assistência, ajudando-lhe no combate à corrupção, manifestando-nos nas mais diversas formas.

Mediante a isso, achamos por bem escrever a matéria “Assistir o Brasil ou ao Brasil?”, na tentativa de conscientizar nossos leitores, que dispensam seu valioso tempo com a leitura de nossa Revista, para as nossas responsabilidades como cidadão, a fim de que possamos nos manifestar, a fim de nos libertarmos dessa corja de maus políticos, que tomou de assalto nosso Brasil.

Apresentamos, também, a publicação de uma compilação da matéria “O Duplo”, de autoria do Irmão Cláudio Américo, da Loja Maçônica Vera Lux, do Oriente de Maringá, no Paraná, que de forma muito didática, expressa como melhor lidar com a polaridade envolvendo o ego e o Eu verdadeiro, batalha interna que devemos estar, sempre, vigilantes!

Fechando esta edição, apresentando a matéria de autoria do Irmão Raymond Dejean, sobre a “Epopeia Templária”, texto traduzido pelo Irmão Roberto Schukste, do Oriente de Caxias do Sul, publicado no livro “Os Filhos da Luz”, que, de forma sintética, narra a trajetória da Ordem dos Templários, através das Cruzadas.

Suas críticas, sugestões e comentários, sempre, serão muito bem-vindos, e, em muito têm nos ajudado em nossa eterna busca da excelência deste nobre trabalho de difusão da cultura a todo o Povo Maçônico.

A todos, uma boa leitura e uma necessária reflexão sobre os temas abordados. Encontrar-nos-emos na próxima edição!

Revista Arte Real nº 85 - Mai/17 - Pg 03

Assistir o Brasil ou ao Brasil?

Francisco Feitosa

Por mais que possa parecer estranho, estou otimista com o futuro do nosso querido Brasil. A meu ver, tudo que nos vem acontecendo

é uma preparação para novos dias na política e, consequentemente, nas demais áreas, como a educação, a saúde, a segurança, etc.

Compararia o Brasil, desde seu Descobrimento, a um vaso com água, aparentemente cristalina, porém com um depósito de lama e sujeira no fundo. A corrupção e o descaso com a coisa pública, neste país, existe desde sempre, não é privilégio dos políticos de então. Ao longo de sua história, a nação foi sendo subtraída pouco a pouco. A água cristalina foi se evaporando com a ganância de nossos governantes e com o descomprometimento de nós, eleitores.

Assumimos uma postura de colonizados e optamos por sustenta-la até os dias atuais. Os políticos, eleitos pelo povo, portanto, deveriam estar submetidos aos interesses da população, ao contrário, vivem em um patamar bastante superior e criam leis que os protegem e facilitam sua perpetuação no poder. São intocáveis e recebem um tratamento de excelência, apesar de seus atos se balizarem pela excrecência, pelo deplorável.

Chegamos, hoje, ao ponto de não mais existir água cristalina neste vaso. Restou-nos

contemplar a lama, as impurezas que são as ações de nossos políticos. Fedorenta e pegajosa, tal lama lambuza, sem medo de errar, quase todas as nossas instituições, fruto de uma corrupção sistêmica que, ao olhar de um povo conformado e, mentalmente colonizado, acredita ser normal.

Chamaria isso de “normose”, como uma anomalia da normalidade. Na política brasileira é “normal” o “toma lá dá cá” entre os políticos e, também, com os eleitores, nas campanhas eleitorais, quando um voto é trocado por um saco de cimento, um óculos, uma dentadura. Porém, chegamos a um momento em que a lama do vaso virou um atoleiro fedorento e insuportável. Embora, representando em uma minoria pouco expressiva, a população começou a se revoltar com este modelo político e começou a sair às ruas, a protestar, exigindo mudanças.

Tropeçando em seus próprios escândalos, políticos se descuidam e deixam vasar o que passou a ser considerada a ponta do fio de um novelo interminável da corrupção, o “mensalão”. De seu desdobramento nasce a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já assistiu - a “Lava-Jato”, ao mesmo tempo em que um grupo de Juízes, Promotores, membros da Procuradoria Geral da República, Polícia Federal, Conselho Superior do Mistério Público, pessoas

Revista Arte Real nº 85 - Mai/17 - Pg 04

sérias e comprometidas com o Brasil, representando os anseios daquela minoria pouco expressiva, passou a escrever uma nova página na história deste país.

Criada em 17 de março de 2014, a “Lava-Jato”, e contrariando às expectativas dos poderosos e “pseudos” donos do país, que desmandavam e subtraíam os cofres públicos, há séculos, tal Operação chega como a “água cristalina” a ocupar seu espaço no vaso, chamado Brasil. É compreensível que, ao adicionarmos água limpa em um vaso com sujeira no fundo, crie um grande turbilhonamento, fazendo com que se remexa todo o depósito de lama e sujeira, e, aparentemente, a água cristalina fique turva e suja. A entrada constante da água limpa fará com que o vaso transborde, o que é a nossa realidade atual, e coloque às claras a podridão da política brasileira.

Não é momento para desacreditar no Brasil. Muito pelo contrário. O momento é de confiar e de dar apoio à Operação “Lava-Jato”, essa água cristalina que, paulatinamente, está sendo colocada nesse vaso. O seu transbordamento é parte do processo, pois, com isso, as impurezas estarão sendo expulsas e, a cada momento, a água que restar se tornará, cada vez mais, pura e cristalina.

O momento nos inspira e nos leva a escolher o verbo “assistir” (do latim, “assistere”) para melhor expressar qual deveria ser a postura da população. Este verbo, dependendo do comprometimento da povo brasileiro, poderá ser utilizado de duas formas: como transitivo direto ou indireto.

Para aqueles, ainda, com uma visão de colonizados e descomprometidos com o país, preferirá o transitivo indireto, dando-lhe o significado de, “observar”, “presenciar”, ser um mero espectador. Os que estão comprometidos, de fato, com os destinos do Brasil, uma minoria, embora esteja em uma crescente absoluta, optarão pelo verbo transitivo direto, significando “dar assistência”, “oferecer ajuda”, “estar junto de”, “participar de algo”. O verbo é o mesmo, mas a opção é de cada um.

O Brasil está tomando o maior banho de moralidade de sua história, onde o império da corrupção está caindo como um castelo de areia. Poderosos, jamais imaginados, sendo presos. A verdade sendo exposta, às claras, sem o menor pudor. A opção do verbo assistir é, absolutamente, nossa! Passemos do transitivo indireto para o

transitivo direto, sem medo de ser felizes. Chega de sermos meros espectadores. Precisamos sair da plateia e subir ao palco dos acontecimentos, fazendo parte na história brasileira!

Não é lógico tomar banho e se vestir com as mesmas roupas sujas, as quais já tomaram, até, as formas de nosso corpo. O Brasil banha-se nas cristalinas águas de um “Lava-Jato”, e não poderá se vestir com roupas sujas, representadas pelos políticos e eleitores de então, e de um sistema político corruptor. Neste momento confuso do país, em que as águas cristalinas expulsam as impurezas deste vaso chamado Brasil, pede-se à população que acredite e se comprometa com a solução. Que conjugue o verbo assistir, como transitivo direto, dando assistência ao Brasil, e não assistindo a tudo como se não fosse o parte dele!

Somente, a população brasileira poderá salvar o país das garras dessa corja de maus brasileiros que subtraem os cofres públicos. Mais do que nunca, precisamos estar comprometidos, exigindo mudanças, manifestando-se ordeiramente pela moralidade. Nosso país não está cruzando este momento difícil e transitório ao acaso. Profecias de milênios já apontavam para este lugar como o berço de uma Nova Civilização, o Quinto Império, a Pátria do Evangelho, dentre outras, onde há de surgir um novo conceito de humanidade, obedecendo às novas diretrizes para um Novo Tempo.

Que as águas cristalinas que adentram ao vaso e expulsam o lodaçal da política brasileira, purifique, também, a consciência de nosso povo, livrando-lhe das vendas da ignorância que lhe cobrem os olhos, e de sua postura de colonizados, submissos aos desmandos de maus brasileiros, que assolam a Pátria do Avatara. Sejamos parte da solução e vamos “assistir ao Brasil” (dando-lhe assistência) e não sermos parte do problema, assistindo, pacificamente, sua total deterioração.

Que venham os Novos Tempos!

Revista Arte Real nº 85 - Mai/17 - Pg 05

O DuploCláudio Américo

Adelbert Von Chamisso, poeta alemão, falecido em 1838 é o autor de “A Estranha História de Peter Schlemihl”, que retrata a sina de

um homem que recebe uma inusitada proposta de um velho misterioso, que em troca de uma bolsa mágica, que nunca para de fornecer moedas de ouro, compraria sua sombra. Schlemihl, sem pensar muito, aceita a transação. Então, com calma o velho se abaixa, enrola a sombra e se afasta dando um sorriso baixinho. As consequências não tardam a acontecer e, logo, Schlemihl se arrepende do que fizera. As pessoas estranham e se afastam. Começa a ser perseguido e afastado da sociedade. Gritam: “Pessoas decentes costumam levar a sombra junto, quando saem ao Sol”. Agora, ele é um estranho, um verdadeiro estrangeiro por onde quer que passe. É rico, milionário como mais ninguém poderia ser em toda a face da Terra, mas não tem mais convívio social, não tem mais identidade, não pode sonhar em se casar e ter filhos, ter uma vida normal como qualquer pessoa comum que possui sombra.

É interessante notar que a sombra representa uma extensão do “eu” e condena Schlemihl à um enfrentamento consigo mesmo, fazendo-o recordar, a todo instante, o destino trágico de sua condição, tendo como uma das particularidades o fato de que, embora a sombra seja, neste caso, a extensão de alguém, ela acaba por tornar-se uma entidade independente ao separar-se de seu protótipo.

Hans Christian Andersen, escritor dinamarquês, falecido em 1875, escreveu “A sombra”, história de um homem que certo dia perdeu sua sombra, pois ela decidiu separar-se do dono e partir pelo mundo. A princípio o homem ficou transtornado com a partida de sua companheira, mas logo cresceu-lhe uma nova sombra, submissa e silenciosa. Muitos anos depois, o homem é visitado pela antiga sombra, que prosperou, fez fortuna e surgiu bem vestida e ricamente adornada. A sombra retornou cheia de más intenções e acabou por dominar o seu senhor, pois a sombra conhece o lado sombrio das pessoas.

Neste conto, ressalta-se que a sombra, não só se transforma num ser autônomo, possuidor de corpo e alma próprios, mas, também, torna-se poderosa para aniquilar seu próprio senhor. Também, neste caso, o duplo persegue seu protótipo de origem.

Valiéri Briússov, poeta e contista russo, falecido em 1924, escreveu o conto “Dentro de Um Espelho”, que retrata a história de uma mulher obcecada por espelhos, e que os via como universos à parte, isolados do nosso, que, em contradição com a consciência, existiam ao mesmo tempo e no mesmo lugar que ele. Essa realidade invertida, separada de nós por uma lisa superfície de vidro e, por algum motivo, inacessível ao tato, a atraia e a puxava como um precipício, como um mistério. A

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imagem de duas mulheres sentadas imóveis, uma diante da outra, ligadas pelo influxo mágico do olhar. O espelho que, estranhamente duplicava o seu ser tornara-se fatal para ela, pois ficou aprisionada no espelho e seu reflexo tomou o seu lugar.

Neste conto, o duplo se apresenta desmembrado da individualidade pela obsessão. O reflexo acaba por dominar e assumir o lugar da sua dona, incorporando personalidade distinta.

Machado de Assis, escritor brasileiro, falecido em 1908, escreveu “O espelho”. Trata-se da história de Jacobina, um homem que nunca expunha suas opiniões porque não queria discutir, mas, em certa ocasião, é instigado a expressar sua opinião sobre a existência da alma. Emite, então, uma curiosa teoria sobre a existência não de uma, mas de duas almas, interligadas, a alma interna, que pode ser entendida como a verdadeira maneira como nos enxergamos, e a alma externa, que é como os outros nos enxergam. E para provar sua teoria, conta uma história passada em sua juventude, quando havia recebido o título de alferes. Era, apenas, um título e uma farda, mas isso trouxe à personagem uma notoriedade tamanha. Tanto que sua tia Marcolina pede para que ele passe uns dias em seu sítio, só para ter a honra de receber, em suas terras, um alferes. E, em sua homenagem, deixa no quarto dele um móvel, cuja parte mais chamativa era um espelho. Pouco depois da chegada de Jacobina, sua parenta recebe a notícia da morte eminente da filha dela, o que a faz partir com demais

familiares, deixando o protagonista só com os escravos, mas estes fogem no dia seguinte.

Jacobina fica quase uma semana na completa solidão, sem ninguém para elogiar seu cargo e, principalmente, sua farda. Chega a uma crise tal que pensa em praticar suicídio. Seu único momento de alívio era quando dormia e em seus sonhos via as pessoas elogiarem sua farda. O clímax da negatividade ocorre quando acidentalmente se olha no espelho e percebe a sua imagem muito difusa, pouco nítida. Supera, no entanto, o desespero e tem uma ideia salvadora: veste a farda e se coloca diante do espelho. Espantosamente, sua imagem está nítida. Passa, então, a dedicar uma determinada hora do dia para olhar-se no espelho e admirar a sua vestimenta, o que lhe garante a sobrevivência no final do período de 14 dias em que ficou sozinho.

Neste conto nota-se, também, O Duplo. Cada criatura traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro, e nos indica que, em nosso meio, a alma externa, ligada ao status, ao prestígio social, à imagem que os outros fazem de nós, é muito mais importante do que a alma interna, a nossa real personalidade. Ao olhar-se no espelho sem a farda não consegue ver a sua própria imagem.

São numerosas na literatura aparições de personagens que se duplicam, personagens que encontram e passam a ser assombrados por um

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outro “eu”. Na sombra, no reflexo, vê-se as figuras do excluído, do outro, do duplo.

Nos contos de Hoffmann, mais especificamente em “A noite de São Silvestre, também temos que o duplo pode ser representado pelo reflexo no espelho.

Edgar Allan Poe em “Willian Wilson” nos dá o duplo pelo sósia ou pela consciência que assume forma humana

Eis, que “nossa sombra, continua a ser o grande fardo do autoconhecimento, o elemento destrutivo que não quer ser conhecido. O termo sombra refere-se àquela parte da personalidade que foi reprimida em benefício do ego ideal, encontramos a sombra na projeção – na nossa visão do outro, e só achamos impossível aceitar nos outros aquilo que não conseguimos aceitar em nós mesmos”.

O mito do duplo está, também, relacionado à ideia de dualidade: benéficas/maléficas; masculino/feminino; homem/animal; espírito/carne e vida/morte. E nas mitologias há um reforço, realce do duplo aspecto humano: benéfico versus maléfico, assim como no cristianismo: diabo versus anjo da guarda.

O Duplo, simbolizado pelo número dois, neste caso, “o símbolo dos contrários e, portanto da dúvida, do desiquilíbrio e da contradição. O número dois representa a polaridade entre o bem e o mal, a verdade e a falsidade, a luz e as trevas, a inércia e o movimento enfim, todos os princípios antagônicos adversos”.

Tomemos, pois o teorema da hipotenusa, do grego “hypoteínousa”, que significa “contrário a”, ou seja, o Teorema de Pitágoras, segundo Euclides afirma que “a soma dos quadrados dos catetos e igual ao quadrado da hipotenusa”. Por definição,

a hipotenusa é o lado oposto do ângulo reto, e os catetos são os dois lados que o formam. Eis, que a aritmética nos ensina que 2+2=2x2. Até na matemática, o número dois provoca confusão, pois ao vermos o número quatro ficamos na dúvida se é o resultado da combinação de dois números dois pela soma ou pela multiplicação, o que não se dá, em absoluto com outro qualquer número.

O mito do duplo vem sendo discutido desde a literatura greco-romana da Antiguidade até os dias atuais. A dupla personalidade parece ser algo que está impregnado no ser, algo que todos nós, seres humanos, possuímos, a divisão de nosso eu em um “ego”, o mito do duplo, a constante busca de si mesmo, através de reflexos, seja no espelho ou na água.

No tortuoso caminho entre a Pedra Bruta e a Pedra Polida, o Aprendiz, ao tentar cruzar o umbral, pode deparar-se com o outro, com o duplo, de modo que o encontro definitivo consigo mesmo torna-se, apenas, um mito, um desejo de se encontrar de verdade. Mas, sempre, que pensa ter encontrado a si mesmo, o ser humano se depara com o Outro, com aquele ser desconhecido que busca conhecer, mas que parece estar cada vez mais distante e mais intransponível. “Esta é, ainda, uma das razões pela qual o Aprendiz é guiado em seus trabalhos iniciáticos”.

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Revista Arte Real nº 85 - Mai/17 - Pg 08

A EpopeiaTemplária

Raymond François Dejean

A Europa, sempre, teve relação íntima com o oriente, que se manteve sempre presente, graças à constante leitura das Santas Escrituras e as

peregrinações. Até o ano 1000, a luta da Espanha contra os muçulmanos forjou o conceito de Guerra Santa. Quando o monge Pedro “o Ermitão”, pregava a libertação da Terra Santa pelos cidadãos da Europa, durante a última década do século XI, promoveu, no ano de 1095, a primeira cruzada diante do Papa Urbano II. O Papado reuniu um concilio em Clermont, que propunha aos Cavalheiros da Cristandade uma ação piedosa, que devia assegurar a salvação espiritual e eterna da classe militar dos Cavalheiros: uma cruzada para reconquistar os lugares santos.

Houve um total de oito cruzadas, durante qual a mais alta nobreza europeia, sob o comando de seus soberanos, Conrado III da Alemanha, Luís VII da França, Ricardo Coração de Leão da Inglaterra, Felipe Augusto II da França, Frederico I da Alemanha, André II da Hungria, Frederico II da Alemanha, Luís IX da França (São Luís), puderam expressar sua fé e a força das armas de seus contingentes, que foram exércitos em permanente crescimento e simultâneo destaque durante dois séculos.

A primeira cruzada (1096-1099) foi dirigida por Godofredo de Bouillon, Duque de Lorena, porém, mal concebida e composta de Cavalheiros acompanhados de mercenários mais terroristas que redentores, invadiram o Oriente Médio, matando, assaltando e exterminando a todos aqueles que protestaram, em meio de um barbarismo de sangue e fogo. Segundo as palavras do

Papa Urbano II “...o Cristo ordenava...” e os assassinos “...mereceriam o perdão eterno...”.

Desde a tomada do simbólico centro do mundo, Godofredo de Bouillon foi eleito Rei de Jerusalém, titulo que ele recusou para adotar o de “Defensor do Santo Sepulcro”. Os Cavalheiros Templários – A Ordem dos Cavalheiros-Monges Combatentes - “os Humildes Soldados Irmãos de Cristo e do Templo de Salomão” (os Cavalheiros Templários), foi fundada em 1118, por um pequeno grupo de nove nobres Cavalheiros franceses “devotos, religiosos e tementes a Deus”, homens gentis “distinguidos e veneráveis”: Godofredo de Saint-Omer, Godofredo Bisoi, Godofredo Roval, Payen de Mont-Didier, Arquibaldo de Saint-Armand, Fulco d’Angers e Gondemare, encabeçado por Hugo de Payens, vassalo do Conde de Champagne.

Em 1125, eles aceitaram um novo Cavalheiro: Hugo, Conde de Champagne, que abandonou o seu condado e repudiou a sua mulher e filhos para unir-se a eles. Diante do túmulo de Jesus Cristo, esses Cavalheiros fizeram voto perante Garimont, Patriarca de Jerusalém, de retomar dos “infiéis” árabes, o território do Santo Sepulcro, que os turcos Seldjoukides, mais intolerantes que os árabes, proibiam os cristãos de velar com as armas na mão o triunfo da justiça, a defesa dos oprimidos, de praticar todas as virtudes e proteger os peregrinos que viajavam durante as cruzadas aos lugares sagrados da Terra Santa, intentando evitar um novo massacre, como aquele que foi a primeira cruzada que havia degenerado em uma paranoia criminosa.

Revista Arte Real nº 85 - Mai/17 - Pg 09

Os “Humildes Soldados do Templo” decidiram orientar suas atividades à reconstrução de pontes e de estradas que os cruzados tinha destruído nos combates; implantar praças fortificadas, portos, hospedarias para os peregrinos e capelas para suas orações e atuar como polícia das estradas das peregrinações na Terra Santa. Os Templários introduziam um elemento novo naquela época da Idade Média: a conciliação de duas formas de vida, que, durante muito tempo, tinham sido consideradas contraditórias: o sacerdócio e a milícia.

Como ordem religiosa, os Templários tinham suas regras de conduta de uma constituição de 72 artigos escritos por Bernard de Fontaine, abade de Citaux, filho de Aleth de Fontaine, conhecido como Bernardo de Clairvaux (Bernardo de Clairval – São Bernardo -1090-1153), sobrinho do Cavalheiro Templário André de Montbard. Esta constituição, baseada nas das Ordens dos Beneditinos e do Cister, era mais severa que a mais severa das regras monásticas em uso nessa época. Os obrigava a levar uma vida piedosa, entregando-se ao serviço de Cristo, em estrita obediência, pobreza e castidade.

A regra tem outras rudezas: os Templários têm, apenas, um prato para dois, devem comer em silêncio, comer carne, apenas, três vezes por semana e fazer penitência na sexta-feira. Esta constituição foi confirmada, em 1139, pelo Papa Inocente II, na bula “Omne datum optimum”, segundo a qual os Templários não deviam lealdade a nenhum poder secular ou eclesiástico salvo ao próprio Papa. Não dependendo senão da Santa Sé, eles eram “soberanos” no sentido espiritual, em virtude de uma bula do Papa Alexandre III.

Como sinais distintivos, os Templários tinham o crânio raspado, a barba longa e não tomavam banho. A Ordem Templária começou a expandir-se pela Europa nove anos depois de sua fundação, pouco antes de ser

reconhecia pela Igreja, no Concílio de Troie (Troyas). Os Templários obtêm, em 1127, uma carta de Estevão de Chartres, Patriarca de Jerusalém e do Patriarca Teócletes, 67º sucessor de São João, que eles adotaram como Santo Protetor.

A divisa da Ordem não pode conter mais humildade. “...Non nobis, Domine, sed Nomini tuo da gloriam...” (Nada para nós, Senhor, nada para nós, senão para dar glória ao Teu nome). O estandarte de combate dos Cavalheiros Templários, chamado “Beau Séant” era vertical em dois quadros: um de cor negra acima, que simboliza a escuridão do mundo de pecado que os Templários tinham deixado para traz e o outro, de cor branca abaixo, que refletia vida de pureza da Ordem.

Os Templários careciam, totalmente, de bens particulares. Começaram sem casa onde viver, de tal forma que Balduino II, Rei de Jerusalém e sobrinho de Godofredo de Bouillon, os acolheu e lhes concedeu a ala norte do seu palácio Real, situado sobre o monte de Mojira, onde esteve construído o Templo de Salomão, para que estabelecessem seu Quartel General: uma cripta meio escavada nas ruínas da antiga mesquita de Masjid al Aqsa, onde os muçulmanos tinha edificado 2000 anos antes, o santuário “a Rocha”. Alguns anos mais tarde, o Rei Balduino II fez doação do dito palácio aos Templários e transferiu sua residência para a parte oposta da cidade: a Torre de Davi. Os nobres da sua corte, assim como o Patriarca de Jerusalém, conferem-lhes doações de seus próprios pertences de territórios, onde o Rei lhes concedia soberania.

Nota do Editor: extraído do livro “Os Filhos da Luz”, traduzido pelo Mestre Maçom Roberto Schukste (oriente de Caxias do Sul). Um ensaio sobre a história, tradições, mitos, lendas e fábulas da Maçonaria Universal, de autoria de Raymond François Aubourg Dejean – Mestre Maçom da Loja Maçônica Veritas Vinci nº 13, Oriente de Santa Fé, Bogotá, Colômbia, dedicado aos Irmãos Aprendizes e disponibilizada a todos.