conhecimento dos indios kaiabi sobre abelhas sem ferrao no parque indigena do xingu

Upload: wasbarros-cavalcante

Post on 07-Apr-2018

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    1/34

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSOFACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINRIA

    Programa de Ps-Graduao em Agricultura Tropical

    CONHECIMENTO DOS NDIOS KAIABI SOBRE ABELHASSEM FERRO NO PARQUE INDGENA DO XINGU, MATO

    GROSSO, BRASIL

    WEMERSON CHIMELLO BALLESTER

    CUIAB MT

    2006

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    2/34

    1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSOFACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINRIA

    Programa de Ps-Graduao em Agricultura Tropical

    CONHECIMENTO DOS NDIOS KAIABI SOBRE ABELHASSEM FERRO NO PARQUE INDGENA DO XINGU, MATO

    GROSSO, BRASIL

    WEMERSON CHIMELLO BALLESTEREngenheiro Agrnomo

    Orientador: Prof. Dr. MRCIO DO NASCIMENTO FERREIRA

    Dissertao apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao em

    Agricultura Tropical da

    Universidade Federal de Mato

    Grosso, para obteno do Ttulo

    de Mestre em Agricultura Tropical.

    CUIAB MT2006

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    3/34

    2

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSOFACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINRIA

    Programa de Ps-Graduao em Agricultura Tropical

    CERTIFICADO DE APROVAO

    Ttulo: CONHECIMENTO DOS NDIOS KAIABI SOBRE ABELHAS SEM

    FERRO NO PARQUE INDGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL

    Autor:WEMERSONCHIMELLOBALLESTER

    Orientador: Prof.Dr.MRCIODONASCIMENTOFERREIRA

    Aprovado em 18 de Dezembro de 2006.

    Comisso Examinadora:

    Prof. Dr. MRCIO DO NASCIMENTO FERREIRAFAMEV/UFMT

    Orientador

    Prof. Dr. Sebastio Carneiro GuimaresFAMEV/UFMT

    Prof. Dr. Alberto DorvalFENF/UFMT

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    4/34

    3

    CONHECIMENTO DOS NDIOS KAIABI SOBRE ABELHAS SEM FERRO

    NO PARQUE INDGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL

    RESUMO As abelhas sem ferro desempenham um papel significativo na

    alimentao, religio, mitos, ritos, crenas e tambm na medicina de vrios

    povos do mundo. Esta pesquisa teve como objetivo registrar o conhecimento

    que os ndios Kaiabi possuem sobre as abelhas sem ferro. Os objetivos

    especficos foram verificar o nmero de etnoespcies de abelhas sem ferro

    conhecidas pelos Kaiabi, a utilidade dos produtos fornecidos pelas abelhas,

    algumas caractersticas ecolgicas de etnoespcies, alm da classificao

    morfolgica das abelhas, na viso desse povo. O estudo foi desenvolvido na

    aldeia Kwaruj, localizada no Parque Indgena do Xingu, regio norte doestado de Mato Grosso e realizado no ano de 2001. Foram cinco meses de

    trabalho de campo, onde se utilizou tcnicas de coleta de dados

    etnocientficos. O Parque encontra-se em rea de transio ecolgica, entre

    o Cerrado do Centro-Oeste e a Floresta Amaznica, apresentando espcies

    animais e vegetais dos dois ecossistemas. Como resultado desta pesquisa

    foi registrado 27 etnoespcies de abelhas sem ferro reconhecidas pelos

    Kaiabi. Os Kaiabi identificam tambm preferncias das abelhas porambientes com maior diversidade de plantas e animais; indicam espcies

    vegetais preferidas pelas abelhas para nidificao e espcies vegetais

    utilizadas para a alimentao; reconhecem diferenas nas estratgias de

    defesa das abelhas, na quantidade, densidade, colorao e gosto dos mis.

    A estrutura morfolgica das abelhas recebe nomes na lngua Kaiabi que, na

    maioria das vezes, correspondem a partes do corpo humano.

    Palavras-chave: etnoentomologia, ndios Kaiabi, abelhas sem ferro

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    5/34

    KNOWLEDGE OF KAIABI INDIANS ON STINGLESS BEES AT PARQUEINDGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRAZIL

    ABSTRACT Stingless bees play a significant role in the feeding, religion, myths,

    rites, beliefs, as well as in the medicine of several peoples worldwide. This

    research aimed to record the knowledge possessed by Kaiabi Indians on stingless

    bees. The specific objectives were to identify the number of stingless-bee

    ethnospecies known to the Kaiabi, the usefulness of products provided by bees,

    some ecological characteristics of ethnospecies, in addition to a morphological

    classification of these bees, as viewed by this people. The study was conducted at

    the Kwaruj village, located at Parque Indgena do Xingu (Xingu Indian

    Reservation), in the northern region of the State of Mato Grosso, Brazil, in the year

    2001. The research consisted of five months of field studies, during which

    ethnoscientific data collection techniques were used. The Reservation is located in

    an ecological-transition area, between the Central-Western Cerrado and the

    Amazon Rainforest, with animal and plant species of both ecosystems. Twenty-

    seven stingless-bee ethnospecies recognized by the Kaiabi were recorded as a

    result of this research. The Kaiabi also identify bee preferences for environments

    with greater diversity of plants and animals; indicate plant species preferred by the

    bees for nest building and plant species used for feeding; acknowledge differences

    in the defense strategies of bees, as well as in honey quantity, density, color, and

    taste. The morphological structures of bees receive names in the Kaiabi language

    that frequently correspond to parts of the human body.

    Keywords: ethnoentomology, Kaiabi Indians, stingless bees

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    6/34

    NDICE Pg

    1 INTRODUO 62 REVISO DE LITERATURA 8

    2.1 Abelhas sem ferro 82.2 Os ndios Kaiabi 92.3 Etnocincia 112.3.1 Etnoentomologia 132.4 Metodologia Participativa em Pesquisas Etnocientficas 152.4.1 Questes a serem consideradas pelo pesquisador 152.4.2 Tcnicas de coleta de dados 162.4.2.1 Pajs como informantes chave 17

    3 MATERIAL E MTODOS 183.1 Tcnicas Empregadas na Coleta dos Dados 18

    4. RESULATDOS E DISCUSSO 214.1 Identificao, Comportamento e Usos os Produtos das

    Abelhas sem Ferro 21

    4.1.1 Espcies Vegetais Utilizadas pelas Abelhas naNidificao e Alimentao

    25

    4.2 Representao Biogeogrfica das Abelhas na AldeiaKwaruj

    25

    4.3 Aspectos Morfolgicos das Abelhas 28

    5. CONCLUSES 306 REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS 31

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    7/34

    6

    1 INTRODUO

    O desenvolvimento de pesquisas junto a populaes tradicionais

    comeou a ganhar impulso a partir de 1950. O conhecimento indgena

    passou a ser estudado e a ser considerado por alguns cientistas como

    etnocincia.

    Para POSEY (1983a) a etnocincia explora a percepo do

    conhecimento do homem em sua adaptao a determinados ambientes e

    estuda como a populao interage com todos os aspectos do ambiente

    natural. Isto inclui a fauna, a vegetao, solo, tipos de ambientes, alm das

    particularidades locais e aspectos espirituais.

    O enraizamento milenar das sociedades indgenas nos diversos

    ecossistemas possibilitou-lhes um acmulo de conhecimentos botnicos e

    zoolgicos que as tornaram capazes de elaborar tcnicas sofisticadas de

    manejo destes recursos naturais, obtendo um aproveitamento ecolgico de

    grande diversidade biolgica (POSEY, 1993).

    Algumas pesquisas indicam que a polinizao das florestas tropicais,como no Brasil, realizada em grande parte por insetos. KERR et al. (1996)

    atribuem a polinizao de 40% a 90% das rvores nativas brasileiras s

    abelhas sem ferro, mostrando que estes insetos so importantes e

    fundamentais para a formao de boas sementes, mantendo assim a

    diversidade nas florestas midas e evitando a perda significativa do banco

    gentico das florestas nativas.

    Esta pesquisa tem como objetivo registrar aspectos do conhecimentoque os ndios Kaiabi, do Parque Indgena do Xingu, possuem sobre as

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    8/34

    7

    abelhas sem ferro. Para a apresentao das informaes o trabalho foi

    dividido em trs partes: a primeira aborda a reviso da literatura com

    informaes sobre as abelhas sem ferro, aspectos da etnografia dos ndios

    Kaiabi, conceitos e trabalhos sobre etnocincia/etnoentomologia e as

    tcnicas de coleta de dados utilizadas. A segunda faz um apanhado do

    material e da metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa. Por

    fim, faz-se a apresentao dos resultados alcanados incluindo nmero de

    etnoespcies de abelhas sem ferro conhecidas pelos ndios Kaiabi,

    utilidade dos produtos fornecidos por elas, caractersticas ecolgicas de

    algumas etnoespcies, classificao morfolgica da abelha sem ferro na

    viso Kaiabi.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    9/34

    8

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Abelhas sem ferro

    As abelhas sem ferro so consideradas abelhas sociais e

    pertencentes subfamlia Meliponinae, sendo conhecidos tambm como

    meliponneos. Ocorrem com muita diversidade em toda regio tropical do

    Planeta e tambm ocupam reas de clima temperado subtropical. No Brasil

    existem mais de 200 espcies diferentes (ROUBIK, 1989).

    Os ninhos dessas abelhas so encontrados em locais bastantediversos como formigueiros abandonados, razes de rvores, cavidades

    existentes nos troncos e galhos, alm de construrem ninhos subterrneos.

    Algumas espcies fazem seus ninhos em cupinzeiros e outras em

    formigueiros ativos (POSEY, 1987).

    Os meliponneos utilizam diversos materiais para a construo dos

    seus ninhos. A cera, produzida pela prpria abelha, juntamente com resinas

    de rvores, denominada por NOGUEIRA-NETO (1997) de cerume, utilizado para a construo de favos, potes de mel e entradas de ninhos.

    Alm do cerume para a construo de entradas dos ninhos, algumas

    espcies utilizam o barro misturado com resinas de rvores denominado

    geoprpolis (NOGUEIRA-NETO, 1997).Os potes, que armazenam o mel e o

    plen, so pequenos reservatrios feitos de cerume ou cera pura,

    geralmente de forma oval e construdos fora da regio das crias, ou s vezes

    encostadas nela, apresentando tamanhos variados (NOGUEIRA-NETO,

    1970).

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    10/34

    9

    Os meliponneos exercem diversas atividades como, construir e

    manter os ninhos, abastecer os mesmos de alimentos, defenderem seus

    enxames com estratgias diferenciadas, comunicar com outros membros da

    colnia, etc., alm de desempenharem um importante papel ecolgico nos

    ecossistemas brasileiros atravs da realizao da polinizao de inmeras

    espcies vegetais (NOGUEIRA-NETO, 1997).

    2.2 Os ndios Kaiabi

    Os Kaiabi so um povo de lngua da famlia tupi-guarani, originrios

    das regies dos rios dos Peixes (MT) e mdio Teles Pires (PA). As primeiras

    notcias desta etnia aparecem em 1915 no Relatrio da Expedio Rondon

    (GRUMBERG, 1970).

    Naquela poca, a principal atividade econmica na regio era a

    extrao de borracha, onde ocorreram muitos conflitos com os seringueiros

    subordinados a empresas seringalistas. Tal contato dizimou

    aproximadamente 2/3 da populao kaiabi original (SENRA et al., 2004).

    O boom da borracha em 1942 e o incio das atividades da

    Companhia Colonizadora Noroeste Mato-grossense LTDA (CONOMALI), na

    perspectiva do surgimento de novas cidades em terras Kaiabi, segundo

    (GRUMBERG, 1970), foram os fatores decisivos para o abandono de muitas

    famlias Kaiabi da rea ancestral indo habitar as regies do Parque Indgena

    do Xingu.

    Em 1955 criou-se a Operao Kaiabi, idealizada pelos irmos Villas-

    Boas, onde ocorreu a transferncia de parte dos Kaiabi para o Parque

    Indgena do Xingu. Esta transferncia foi percebida na poca como nicaforma de preservar a integridade Kaiabi frente s presses econmicas.

    Entretanto, os Kaiabi que migraram, tiveram que se adaptar nova realidade

    ambiental e cultural pois, vrias espcies de animais e vegetais importantes

    para sua dieta, para sua cultura material, para fins medicinais, rituais e

    outras, no ocorriam no Parque Indgena do Xingu (ATHAYDE, 1999).

    Segundo ATHAYDE (1999) uma espcie vegetal que representava

    importante fonte de protena com alto valor nutritivo a castanha-do-par(Bertholletia excelsa) denominada por eles de (ywa ete fruto verdadeiro).

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    11/34

    10

    GRUMBERG (2004) cita outros recursos florestais utilizados como fonte de

    alimento, que esto ausentes no Parque Indgena do Xingu, como o patau

    (Oenocarpus bataua), o cacau (Theobrona cacao) e o aa (Euterpe

    precatoria). J o maraj (Bactris sp.) e a siriva (Bactris macana) eram

    usados para confeces de artesanatos e arcos, respectivamente.

    Na rea ancestral existia maior diversidade e quantidade de

    mamferos e aves. Com relao pesca o quadro se inverte, pois o Xingu

    apresenta maior diversidade e abundncia de peixes (ATHAYDE,1999).

    ATHAYDE(1999) comenta que, se por um lado os Kaiabi sentem falta

    do seu ambiente ancestral, por outro lado sabem que no Xingu que

    conseguiro viver sem grandes conflitos e manter sua cultura e seus

    conhecimentos tradicionais.

    Atualmente os Kaiabi vivem na Reserva Tatuy do Rio dos Peixes

    (MT), na Terra Indgena Kururuzinho (PA), prximo ao Rio Teles Pires e

    tambm no Parque Indgena do Xingu, sendo esta ltima localidade, a rea

    de estudo desta pesquisa. importante destacar que a populao cresce a

    cada ano (SCHMIDT, 2001).

    Os Kaiabi do Parque Indgena do Xingu vivem em uma rea de

    transio das savanas e florestas semideciduais mais secas ao sul para a

    floresta ombrfila amaznica ao norte com presena cerrados, campos,

    florestas de vrzea, floresta de terra firme em terras pretas arqueolgicas

    (ATHAYDE, 1999).

    Atravs dos trabalhos de SCHMIDT (2001) e SENRA et al. (2004),

    pde-se observar que as classificaes de ambientes que compe o sistema

    Kaiabi so semelhantes aos utilizados no sistema convencional da cincia,

    ou seja, considera-se a altura do dossel, incidncia de luminosidade,ocorrncia de determinadas rvores como plantas indicadoras, tipos de solo,

    entre outros.

    a) Kaaret: Representa uma floresta de terra firme, com rvores altas

    e maior diversidade florstica se comparado a outras formaes do Parque.

    composto por trs extratos arbreos, sendo que o inferior pouco

    desenvolvido facilitando o deslocamento no seu interior. neste ambienteque aparecem trilhas para os deslocamentos mais longos, para caar,

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    12/34

    11

    coletar plantas medicinais, coletar mel, extrair madeiras para a construo

    das casas, etc...

    Uma espcie vegetal indicadora deste ambiente tanto para os kaiabi

    como para a cincia, o jatob (Hymenaeasp.) denominada jutayp. Sua

    casca utilizada para confeces de canoas e seu fruto consumido in

    natura.

    b) Yapopet: Floresta de vrzea, rea sujeita a inundaes sazonais

    durante as estaes chuvosas que vo de novembro a maro. Ocorre nas

    imediaes da toda a calha do rio principal e seus afluentes. Este tipo de

    ambiente fornece madeira para confeces de cabos de machado e de

    enxada, fibras para amarraes das casas, lenha para fins domstico e

    tambm muito utilizado para a pesca nas estaes chuvosas, onde o peixe

    se torna escasso.

    c) Ko: a denominao das reas de roa. No calendrio agrcola

    Kaiabi, no interessa o ms em si, mas sim os avisos da natureza para o

    incio dos trabalhos da roa. Por exemplo, o aparecimento de borboletas nas

    margens dos rios denominadas pelos Kaiabi de pana-pana e o

    amarelecimento e queda das folhas da rvore yag yp, indicam que o rio no

    subir mais. A florao da rvore tameju yp um sinal que em breve as

    chuvas comearo, portanto deve-se queimar a roa. Quanto as dimenses,

    as roas apresentam um padro de aproximadamente seis mil metros

    quadrados, podendo haver roas maiores, porm os Kaiabi nunca fizeram

    roas muito grandes. A roada feita em aproximadamente trs dias de

    trabalho, podendo contar com a mo-de-obra familiar ou tambm comconvidados. Segundo SENRA et al. (2004)so cultivadas 154 variedades de

    plantas para fins de alimentao, onde o destaque fica para o amendoim

    Kaiabi com 26 variedades. H uma seqncia identificvel desde a roa de

    ciclo curto, passando pelo pomar, estgios de sucesso mais avanados at

    a floresta secundria.

    d) Kofet: uma denominao genrica que representa o primeiroestgio sucessional aps dois ciclos de cultivos agrcolas. Aps este perodo

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    13/34

    12

    continua-se colhendo mandioca, algodo, pimenta, car, mamo, banana,

    entre outras. Esta rea utilizada para caa e coletas. Para os Kaiabi as

    rvores muag yp, makawa yp e jateta yp so indicadoras deste ambiente.

    e) Ju: rea de campo sujeita a inundao sazonal. Na poca das

    chuvas este ambiente utilizado para pesca com arco e flecha e na poca

    da seca utilizado para coleta de frutas como o murici.

    GRUMBERG (1970) apresenta a economia Kaiabi baseada no cultivo

    de uma grande variedade de plantas e uma coleta diversificada. A produo

    primria de alimentos proveniente do cultivo da terra; da caa de

    mamferos, aves, anfbios e rpteis; da pesca e da coletas de frutas, de

    cogumelos e de mis.

    O mel um alimento muito apreciado por este povo. O mais

    valorizado entre os Kaiabi, segundo GRUMBERG (1970) o da abelha

    denominada tapwa. Se um enxame descoberto durante uma expedio

    de caa e/ou coleta, seu mel propriedade da pessoa que observou

    primeiro. Geralmente a rvore derrubada e aberta com o machado,

    expondo os favos de mel que so espremidos com as mos e colocados em

    recipientes feitos com folhas de banana-brava. Se o enxame estiver

    nidificado em rvores bem grossas, os Kaiabi constroem um andaime com

    pequenas rvores, ramos e cips para a coleta do mel.

    2.3 Etnocincia

    VIERTLER (2002) ilustra a histria da etnocincia como sendo oentrecruzamento principal de duas cincias: A Antropologia e a Biologia.

    POSEY (1983) salienta que a etnocincia estuda a interao de uma

    determinada populao com o ambiente em que vive, incluindo a fauna,

    vegetao, solo e tipos de ambientes, alm de particularidades locais e

    aspectos espirituais.

    Para LVIS-STRAUSS (1970) esta ntima relao das populaes

    com os ambientes em que vivem e nos quais se organizam, nos permite

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    14/34

    13

    compreender a lgica de um ecossistema equilibrado e suas interaes

    fsicas e biolgicas.

    A esse respeito, transcreve-se a definio de etnoecologia

    apresentada por (MARQUES, 2002).

    Etnoecologia o campo da pesquisa (cientfica) transdisciplinar que

    estuda os pensamentos (conhecimentos e crenas), sentimentos e

    comportamentos que intermediam as interaes entre as populaes

    humanas que os possuem e os demais elementos do ecossistema que as

    incluem, bem como os impactos ambientais da decorrentes.

    Quando o prefixo etno utilizado antes do nome de uma disciplina

    acadmica, por exemplo, etnoentomologia, MARTIN (1995) mostra que

    pesquisadores desta rea esto buscando as percepes de uma

    determinada sociedade dentro do contexto acadmico da entomologia. Os

    conceitos de etnoecologia e etnocincia vm sendo utilizados por vrios

    pesquisadores que trabalham com populaes tradicionais. Os trabalhos de

    SCHIMIT (2001), VIERTLER (2002), MARQUES (2002) e POSEY (1979),

    demonstram a importncia do conhecimento tradicional na interlocuo com

    a sociedade acadmica. Embora os estudos nesta rea sejam novidade,

    comeam a aparecer pesquisadores interessados no desenvolvimento de

    pesquisas de cunho etnocientfico (RODRIGUES, 2005).

    Estudando o conhecimento dos ndios Guarani-Mby sobre abelhas

    sem ferro, RODRIGUES (2005) concluiu que muitas vezes o

    etnoconhecimento coerente com o conhecimento cientfico. Destaca ainda

    que o conhecimento dos ndios poder contribuir para a re-introduo deespcies polinizadoras na regio de Mata Altntica, onde os Guarani vivem.

    2.3.1 Etnoentomologia

    Estudos de COSTA-NETO (2004), demonstram que os insetos so

    um importante recurso alimentar para mais de trs mil etnias em todo o

    mundo, apresentando alto valor nutritivo por serem ricos em protenas,lipdeos, aminocidos, sais minerais e vitaminas. RAMOS-ELORDUY (2000)

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    15/34

    14

    revela que o maior grupo de insetos comestveis o dos colepteros,

    conhecidos popularmente como besouros, seguidos pelos ortpteros (grilos,

    gafanhotos) e pelos lepidpteros (borboletas e mariposas).

    A utilizao de formigas Atta sexdenscomo alimento para os povos

    indgenas muito comum. Segundo DUFOUR (1987) cada formigueiro, no

    auge da produo, pode fornecer entre 10 e 16 quilos das mesmas. Elas so

    consumidas crua ou torradas pelos ndios Guarani (RODRIGUES, 2005) e

    entre os Enawene Nawe, que habitam a regio noroeste do estado de Mato

    Grosso, as formigas so consumidas de forma in natura ou assadas e

    socadas em pilo e misturadas na massa de mandioca que se faz o beiju

    (MENDES, 2001).

    Pupas de uma vespa do gnero Polistesso consumidos pelos ndios

    Chuh, da Guatemala que acreditam que a ingesto dos olhos pigmentada

    dessa espcie lhes dar poderes procriativos, gerando crianas com olhos

    grandes (RODRIGUES, 2005). O consumo espordico de pupas de vespas

    tambm ocorre entre os Enawene Nawe (MENDES, 2001).

    As larvas de abelhas tm grande utilizao como alimento e no

    preparo de receitas destinadas ao uso medicinal tradicional entre os ndios

    Guarani (RODRIGUES, 2005). Entre os Enawene Nawe se observou o

    consumo de crias de abelhas, onde na hora da coleta de mel na mata,

    habilmente os ndios retiram os favos contendo as crias que so

    consumidas no local, ou ento, dependendo da quantidade, so levadas

    para a casa e levadas diretamente ao fogo por alguns minutos (MENDES,

    2001).

    Segundo COSTA NETO (2004),

    os estudos de etnoentomologia podem estimular novas idias a serem

    investigadas pela cincia, especialmente no que diz respeito utilizao

    medicinal e alimentar de insetos. O seguimento de linhas de pesquisa que

    enfatizem o potencial entomoterpico e protico desses animais representa

    uma importante contribuio questo da biodiversidade e abre

    possibilidades para a valorizao econmica de espcies que so tidas

    como sem valor.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    16/34

    15

    Estudos realizados por CAPPAS e SOUZA (1995), mostram que o

    povo Maya tambm estabeleceu uma importante interao com as abelhas

    sem ferro, relacionando esses insetos s questes religiosas, alm de

    realizarem melhoramento gentico para o aumento da produo de mel.

    No Brasil e no mundo, POSEY (1987) se tornou referncia ao

    aprofundar suas pesquisas etnoentomolgicas demonstrando a profunda

    relao dos ndios Kayap com as abelhas e vespas. Essa etnia conhece 56

    etnoespcies de abelhas e utilizam tcnicas sofisticadas de manejo de

    enxames na natureza. Uma das tcnicas utilizadas a construo de uma

    plataforma com degraus para alcanar enxames que nidificam em rvores

    altas e com troncos grossos. Geralmente so abertos buracos nas rvores

    para a extrao de mel, deixando partes de crias, plen e mel para o re-

    estabelecimento do enxame.

    2.4 Metodologia Participativa em Pesquisas Etnocientficas

    2.4.1 Questes a serem consideradas pelo pesquisador

    Segundo VIERTLER (2002) devido complexidade do processo de

    comunicao intercultural, ficou evidenciado a necessidade de estadias mais

    numerosas e prolongadas nas comunidades a serem estudadas, pois

    estreita o relacionamento do pesquisador e seus informantes. Neste

    contexto de profunda amizade e respeito ocorre no s um envolvimento

    racional, mas tambm afetivo entre o pesquisador e algumas famlias ou

    pessoas.

    Outro ponto fundamental que deve ser considerado em pesquisasetnocientficas que em sociedades tradicionais, o saber sempre aparece

    interligado a um fazer, e uma vivncia prtica. No caso de investigaes

    etnobotnicas a classificao de plantas s faz sentido para os informantes

    se for construdo atravs de prticas sociais, como o trabalho do cultivo da

    terra, preparao de comida, etc. (VIERTLER, 2002).

    preciso tambm que o pesquisador considere a existncia de certas

    entidades sobrenaturais, inacessvel a verificao cientfica ocidental(VIERTLER, 2002). Neste sentido, SUI (2002) afirmou que seu povo tem

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    17/34

    16

    regras para respeitar cada ser vivo que existe na natureza, interagindo com

    aspectos espirituais:

    Todos os recursos naturais tem vida, tem seus espritos. Por

    exemplo: pedra, aves, vento, peixes, barro, todos tem vida. Por isso, ns

    respeitamos os recursos naturais, porque eles tm seus espritos e so

    seres vivos.

    2.4.2 Tcnicas de coleta de dados

    Existem vrias tcnicas de coleta de dados sobre a fala dos

    informantes, sendo muitas delas, disponibilizadas pela antropologia

    (MINAYO, 1998).

    O questionrio a tcnica mais fechada coleta de dados

    etnocientficos. O pesquisador o elabora antes de ir para o campo,

    embasado em conceitos e teorias cientficas priorizando os dados cientficos.

    Em outro extremo est a tcnica de observao participante, onde o

    pesquisador se dedica participao nas vrias atividades de interesse dos

    pesquisados. A tcnica de entrevistas est entre os dois extremos,

    ocorrendo uma relao de comunicao mais equilibrada entre a viso do

    pesquisador e a dos informantes (VIERTLER, 2002).

    A tcnica da entrevista mais flexvel quando comparado com a

    tcnica de aplicao do questionrio, pois alm da diferena no tipo de

    linguagem, as peculiaridades culturais dos informantes podem ser

    abordadas (BECKER, 1994). Segundo o mesmo autor as entrevistas se

    organizam da seguinte forma: Nas entrevistas estruturadas todos os tpicosso fixados antes do contato com os informantes. Nas entrevistas

    parcialmente estruturadas alguns pontos fixos podem sofrer um

    redirecionamento, conforme o andamento da entrevista, e nas entrevistas

    no estruturadas, o dilogo entre o pesquisador e o informante livre, pois

    quanto mais o informante falar, mais informaes sero obtidas de acordo

    com sua prpria viso de mundo.

    No caderno de campo, so feitas observaes e impressessubjetivas, relacionadas ao dia-a-dia da comunidade, podendo no confirmar

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    18/34

    17

    previses baseadas em teoria cientficas. As representaes grficas, como

    desenhos e mapas, so muito teis servindo para ensinar pessoas mais

    jovens da comunidade e o prprio pesquisador (MARQUES, 2002).

    2.4.2.1 Pajs como informantes chave

    Em pesquisas etnocientficas fica evidente a importncia da tentativa

    de aproximao do pesquisador com o(s) paj(s). KAIABI (2002) descreve a

    importncia dos pajs na transmisso do conhecimento deste povo.

    Na filosofia indgena, todos os seres que existem no mundo tm vida

    e esprito. (...) A sociedade no indgena no consegue compreender o que

    so os espritos dos seres e sua importncia (...) (...) Ns ndios

    conseguimos conhec-los, sabe como? Para isto ns temos o paj que

    visualiza o mundo espiritual e transmite o conhecimento e a importncia

    deste mundo (...).

    IKPENG (2002) diz que os pajs ensinam a manejar os seres vivos.

    Os pajs de todas as etnias so os cientistas de cada povo. Eles que secomunicam com os espritos dos seres vivos e ensinam para as pessoas

    que no so pajs como cada ser vive e como pode manejar os seres vivos

    De acordo com POSEY (1987), entre os ndios Kayap todos

    especialistas de abelhas so xams. Foram eles que conceberam o

    modelo natural da organizao social desses ndios, baseando-se na

    observao da ordenao social dos himenpteros.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    19/34

    18

    3 MATERIAL E MTODOS

    O estudo1 foi realizado no Parque Indgena do Xingu, localizado ao

    norte do estado de Mato Grosso, mais particularmente na aldeia Kwaruj dopovo Kaiabi. A regio dos formadores do rio Xingu est situada ao sul do

    Parque, entre as coordenadas 10 30e 14 30 Latitude Sul e 51 30 e 55 30

    Longitude Oeste onde se encontram os rios Von den Stein, jatob, Ronuro,

    Batovi, Kurisevo e Kuluene, sendo este o principal formador do Xingu, ao se

    encontrar com o Batovi-Ronuro (SCHMIDT, 2001). Segundo classificao de

    Kppen, o clima regional caracterizado pelo tipo tropical chuvoso, com

    chuvas bem distribudas durante o ano (em mdia 1600 mm anuais), etropical mido, com uma estao seca mais prolongada. As chuvas se

    concentram nos perodos de setembro a abril, com as mximas nos meses

    de novembro e dezembro, atingindo 2000 mm anuais (ATHAYDE, 1999).

    A classe de solo que predomina na regio o Latossolo Vermelho-

    Amarelo. Outras classes ocorrentes so: areias quartzosas, podzlicos em

    relevos acidentados, latossolos arenosos, solos litlicos e reas que sofrem

    inundaes peridicas (SCHMIDT, 2001).

    3.1 Tcnicas Empregadas na Coleta dos Dados

    1 Este estudo foi desenvolvido a partir do projeto de alternativas econmicas executado peloInstituto Socioambiental ISA. O projeto desenvolve aes de apicultura e meliponicultura,no contexto do Programa Xingu, com objetivo de formar tcnicos das etnias Kaiabi, Sui,Ikpeng, Trumai e Yudj. O ISA uma associao sem fins lucrativos, fundada em 1994. OInstituto tem como objetivo de defender bens e direitos sociais, relativos ao meio ambiente,

    ao patrimnio cultural, aos direitos humanos e dos povos. O ISA produz estudos quepromovam a sustentabilidade socioambiental, divulgando a diversidade cultural e biolgicado pas.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    20/34

    19

    Para a realizao desta pesquisa, foram realizadas vrias visitas

    aldeia Kwaruj no ano de 2001, totalizando cinco meses de trabalho de

    campo, oportunidade em que, participando da vida cotidiana dos ndios,

    coletou-se os dados com uso de metodologia participativa.

    Durante todo o trabalho foi utilizada a tcnica de observao

    participante, na qual, atravs de contatos diretos com a comunidade

    estudada, buscava-se informaes com base somente nas observaes,

    sempre seguidas de anotaes no caderno de campo. Na aplicao desta

    tcnica alguns pontos mereceram destaques:

    - acompanhar os ndios em diversas atividades como: caar, pescar, jogar

    futebol, queimar roas, buscar produtos nas roas e participar de coletas

    extrativistas de mel;

    - realizar capturas de enxames de abelhas sem ferro, visando implantar a

    criao na aldeia Kwaruj;

    - participar de conversas informais com moradores da aldeia sobre assuntos

    no ligados aos objetivos da pesquisa

    No decorrer da pesquisa, mais precisamente no perodo de

    30/10/2001 a 03/11/2001, foi realizado um evento na aldeia Kwaruj

    denominado ecologia das abelhas. Nesta ocasio buscou-se conhecer,

    com mais preciso, o nmero das etnoespcies de abelhas sem ferro

    conhecidas pelos Kaiabi, algumas caractersticas ecolgicas das abelhas e

    usos dos produtos oferecidos por elas. Para a coleta destes dados utilizou-se a tcnica de entrevistas livres e tambm de entrevistas parcialmente

    estruturadas.

    Outra tcnica utilizada para conhecer a percepo dos ndios com

    relao distribuio das abelhas sem ferro nas unidades de paisagem no

    entorno da aldeia, foi o mapeamento participativo, seguindo a metodologia

    de SCHMIDT (2001). Inicialmente foram realizadas reunies com a

    comunidade para explicar os objetivos da elaborao do mapa, as atividadesprevistas e onde se pretendia chegar com esta ferramenta.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    21/34

    20

    Atravs de descries orais sobre a localizao dos crregos, rios,

    lagoas, os caminhos utilizados nos variados tipos de ambientes, pde-se

    esboar, em um quadro negro, o desenho preliminar do mapa que, por sua

    vez, subsidiou o mapa definitivo em papel canson.

    As pessoas mais velhas da comunidade que participaram ativamente

    das discusses e tiveram um papel importante em reunir a comunidade em

    torno das atividades do projeto de pesquisa. Os mais jovens, por serem mais

    familiarizados com o uso do papel, facilitaram o trabalho de desenho e

    pintura do mapa, sempre acompanhado pelos mais velhos.

    Com o mapa elaborado e a lista de etnoespcies de abelhas sem

    ferro conhecidas, pde-se ento, cruzar os dados e obter, na percepo

    indgena, a distribuio das etnoespcies nas unidades de paisagens.

    Para a coleta de dados sobre os recursos vegetais que as abelhas

    utilizam para se alimentarem e nidificarem foi utilizada a tcnica de

    entrevista estruturada. A identificao taxonmica das espcies vegetais, j

    muito conhecidas na regio, foi realizada atravs de literatura (LORENZI,

    1992) e (ATHAYDE, 1999).

    As espcies de abelhas identificadas pelo taxonomista Prof. Dr.

    Moure encontra-se na coleo entomolgica da Universidade Federal do

    Paran.

    O professor indgena Siraw Kaiabi serviu de intrprete e formulava

    as perguntas na lngua Kaiabi, para os dois principais informantes Arup

    Kaiabi e Tuiaraiyp Kaiabi. As respostas traduzidas da lngua Kaiabi para o

    portugus foram gravadas em fitas K-7 e posteriormente transcritas.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    22/34

    21

    4. RESULATDOS E DISCUSSO

    4.1 Identificao, Comportamento e Usos os Produtos das

    Abelhas sem Ferro

    Dentre as 27 espcies conhecidas pelos Kaiabi, sete foram

    identificadas cientificamente: Melipona (michmelia) oblitescens

    (COCKERELL, 1919), Tetragona clavipes(FABRICIUS, 1804), Tetragonisca

    angustula (LATREILLE, 1811), Frieseomelitta varia (LEPELETIER, 1836),

    Scaptotrigona postica (LATREILLE, 1807), Oxytrigona flaveola

    (FRIESE,1900), Tetragona truncata (MOURE, 1971). Neste trabalho,

    constatou-se a presena de uma etnoespcie de abelha sem ferro ainda

    no classificada pela cincia, denominada pelos Kaiabi de Jawakanguu.

    Portanto, com base no resultado da identificao taxonmica, pode-se

    afirmar que as espcies de abelhas sem ferro citadas, so encontradas no

    estado do Mato Grosso, contribuindo assim com os estudos de levantamento

    da biodiversidade de abelhas na regio amaznica que, segundoPINHEIRO-MACHADO (2002), so incipientes.

    A denominao na lngua indgena e alguns aspectos dos usos e

    restries dos produtos e comportamento das abelhas, na viso Kaiabi, so

    apresentados na Tabela 1.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    23/34

    22

    TABELA 1. Usos, restries e comportamento das abelhas na perspectivaKaiabi

    Nome indgena Nome cientfico Comportamento Usos dos produtosMarumar Scaptotrigona

    posticaMorde e corta o cabelo,muito brava, produz pouco

    mel

    Crias, mel e plen soapreciados para consumo. No

    ms de julho o plen maisdoce.

    Tataeit Oxytrigonaflaveola

    Solta lquida que queima apele

    Apenas o mel consumido comoalimento e retirado com fogo

    Myjuieit Sem identificaotaxonmica

    Comumente encontram-sevrios enxames em umamesma rvore.

    Crias, mel e plen soapreciados para o consumoProduz muito mel nos meses desetembro a novembro

    Ywauu Sem identificaotaxonmica

    Muito agressiva, produzbastante mel e prefere arvore de jatob paranidificar externamente

    Apenas o mel consumido comoalimento

    Mamangairowas

    ing

    Melipona(michmelia)

    oblitescens

    Morde e seu plo dcoceira, produz bastante

    mel de colorao escura,coleta fezes de ona

    O mel e o plen so consumidos.O mel utilizado para tosse e

    gripe. A cera utilizada naconfeco de artesanatosJawakanguu Espcie nova Morde e seu plo d

    coceira, produz bastantemel. consideradaparente da Melipona(michmelia) oblitescens

    O mel e o plen so consumidos

    Jateii Tetragoniscaangustula

    Muito mansa, produzpouco mel e geralmente encontrada em rvoresmortas cadas no cho

    Crias, mel e plen soapreciados para o consumo. Omel utilizado como antitrmicoe dores de garganta

    Ayapyj Sem identificaotaxonmica

    Gosta de entrar nos olhos Seu mel apreciado somente noms de agosto, pois na pocadas chuvas seu mel amargo

    Marapypit Tetragonaclavipes Carrega cera na pata,morde e enrosca nocabelo

    Crias, mel e plen soapreciados para o consumo

    Akykyeit Sem identificaotaxonmica

    Morde forte Crias, mel e plen soapreciados para o consumo

    Eiryak Tetragonatruncata

    Mansa e produz melazedo

    Crias, mel e plen soapreciados para o consumo

    Akawut Sem identificaotaxonmica

    Mansa e produz poucomel

    Apenas o mel consumido comoalimento

    Ywypyeit Sem identificaotaxonmica

    Eirywy Sem identificaotaxonmica

    encontrada em at 2metros de profundidade,produz pouco mel

    Apenas o mel consumido comoalimento

    Awaruu Sem identificaotaxonmica Muito brava e corta ocabelo. O mel retiradocom fogo

    Crias, mel e plen soapreciados para o consumo

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    24/34

    23

    Nome

    indgena

    Nome cientfico Comportamento Usos dos produtos

    Kawintajuu Lestrimelittasp. 1 Produz bastante mel degosto azedo e espesso

    Mel txico. A cera quandoqueimada utilizada paraespantar mosquito

    Kawintaii Lestrimelittasp. 2 Produz bastante mel de

    gosto azedo e espesso

    Mel txico. A cera quando

    queimada utilizada paraespantar mosquito

    Ywau wai Sem identificaotaxonmica

    Pequena, mansa e produzpouco mel

    Crias, mel e plen soapreciados para o consumo

    Eju Sem identificaotaxonmica

    Muito agressivo e possuiferro. Seu mel doce eproduz bastante

    O mel que consumido retirado com fogo

    Kupiaeit Sem identificaotaxonmica

    Nidifica dentro decupinzeiros e produzpouco mel

    Apenas o mel consumido

    Tymkapemeit Frieseomelitta varia Abelha mansa, produzbastante mel, preferenidificar em rvores secase no alto

    Seu mel denso muitoapreciado. As crias e plen soconsumidos

    Jukyratyfet Sem identificaotaxonmica Abelha mansa e produzbastante mel Seu mel consumidoprincipalmente no ms deoutubro

    Tapew Sem identificaotaxonmica

    Abelha brava, enrosca nocabelo, morde forte.Produz bastante mel. Estaetnoespcie prefereambientes comcaractersticas maisamaznicas

    Crias, mel e plen soapreciados para o consumo

    Tapeowari Sem identificaotaxonmica

    Abelha mansa e noproduz mel

    Ajurusing Sem identificaotaxonmica

    Nidifica em cupinzeirosareos, produz bastante

    mel

    O mel consumido

    Curuneit Sem identificaotaxonmica

    Nidifica em cupinzeirosterrestres e produz melamargo

    O mel no consumido, poisapresenta odor desagradvel

    Eiratapap Sem identificaotaxonmica

    Produz mel ruim, fazvomitar

    O mel no consumido

    Os ndios Kaiabi observaram o hbito anti-higinico a espcie

    Melipona (michmelia) oblitescens, coletando fezes de ona. De fato algumas

    espcies de abelhas sem ferro utilizam excrementos de vertebrados para

    us-los em determinadas estruturas dos ninhos. Algumas espcies deabelhas sem ferro utilizam tambm fezes de humanos e animais para

    construo do batume, estrutura que delimita os ninhos. Fato este

    observado tambm por NOGUEIRA-NETO (1997), com relao s espcies

    Trigona spinipes e Melipona rufiventris que coletaram excrementos de

    vertebrados para construo externa de ninhos areos e para o revestimento

    da colmia, respectivamente.

    Para os Kaiabi, os mis das espcies Lestrimelittaspp so perigosos.Certa vez, um cacique Kaiabi ingeriu este mel e sofreu um encolhimento dos

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    25/34

    24

    dedos da mo direita. Pelo acontecimento ele recebeu o nome desta abelha,

    Kawintaii. NOGUEIRA-NETO (1997) refere-se ao sabur (plen misturado

    com mel) da abelha Lestrimelitta sp. e espcies afins, como tendo

    propriedades txicas aos seres humanos e que jamais devem ser

    consumidas. Ainda de acordo com este autor, o Padre Anchieta em 1.560,

    escreveu uma carta ao seu superior dizendo haver uma abelha chamada

    eiraquiet, cujo ninho apresenta numerosas bocas de entradas e que

    quando se chupa toma as juntas do corpo, encolhe os nervos, ocasiona

    dores e tremores, provoca vmitos e relaxa o ventre.

    Entre os Kaiabi, GRUMBERG (1970) destaca quatro etnoespcies de

    abelhas, sendo a Tapew a mais valorizada. Em aldeias do povo Kaiabi

    localizadas no Rio Manito, a oeste do Parque, onde as caractersticas

    florestais so mais de espcies amaznicas, existe a ocorrncia e a criao

    desta etnoespcie em colmias racionais. Entre os Kaiabi da aldeia Kwaruj,

    clara a inteno de uma tentativa de aclimatao da etnoespcie Tapew,

    pois no Rio Xingu ela no ocorre.

    O povo Kaiabi da aldeia Kwaruj tambm faz uso de crias, de 11

    etnoespcies, na sua alimentao cotidiana. Fato este observado entre os

    povos Guarani (RODRIGUES, 2005), Enawene-Nawe (MENDES, 2001) e

    Kayap (POSEY, 1987). Geralmente os Kaiabi consomem as crias nos

    locais onde os enxames so explorados, e, caso sobre, so levadas as suas

    residncias para consumo posterior.

    Os kaiabi fazem usos dos mis das espcies de abelhas Tetragonisca

    angustula e Melipona (michmelia) oblitescens como medicinais.

    CORTOPASSI-LAURINO & GELLI (1991) pesquisaram e comprovaram

    aes antibactericidas em mis das espcies de abelhas Tetragoniscaangustula, Tetragona clavipes, Melipona subnitida,Melipona scutelaris e

    Melipona quadrifasciata. Segundo NOGUEIRA-NETO (1997) os mis das

    espcies Melipona compressipes, Melipona quadrifasciata, Scaptotrigona

    bipunctata, Scaptotrigona postica e Tetragonisca angustula mostraram um

    poder antibacteriano de no mnimo grau 4 em uma escala de 5 graus.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    26/34

    25

    4.1.1 Espcies Vegetais Utilizadas pelas Abelhas na Nidificao e

    Alimentao

    ParaROUBIK (1989) a maioria das espcies de abelhas sem ferro

    depende de ocos das rvores para construir seus ninhos, enquanto uma

    minoria nidifica no solo ou constri ninhos areos. Esta informao

    coerente com a viso Kaiabi, pois das 27 etnoespcies, apenas cinco

    etnoespcies no nidificam em ocos de rvores. Como forma de localizar

    enxames na natureza, para posteriormente explor-los, os ndios Kaiabi

    procuram espcies vegetais que as abelhas utilizam para nidificao, e que

    so apresentadas a seguir: canelo (Lauraceae - Ocotea guianensis),

    arapari (Mimosaceae - Macrolobium acaciaefolium), itaba (Lauraceae

    Mezilaurus itauba), buriti (Arecaceae - Mauritiasp.), jatob (Caesalpinaceae

    Hymenaeasp.)e a peroba (Apocynaceae Aspidospermasp.)

    Os kaiabi indicam algumas espcies importantes na alimentao das

    abelhas: caf-bravo (Euphorbiaceae - Mabea fistulifera), crendiva

    (Ulmaceae Trema micrantha), jacareba (Clusiaceae Calophyllum

    brasiliense), inaj (Arecaceae Maximilliana maripa), buritizinho ( Arecaceae

    Mauritiella sp.), ip-amarelo (Bignoniaceae Tabebuia caraba), o

    mutambo (Sterculiaceae - Guazuma ulmifolia), a mangaba (Apocynaceae -

    Hancornia speciosa), o assa-peixe (Vernoniaspp.), a macaba (Arecaceae -

    Acrocomia aculeata), a bacaba (Arecaceae - Oenocarpus spp.) e o Ip

    amarelo (Bignoniaceae - Tabebuiaspp.). Algumas plantas da roa tambm

    so melferas, como a fava (Papilionaceae - Phaseolus lunatus), urucum

    (Bixaceae - Bixa orellana), a mandioca (Euphorbiaceae - Manihot esculenta)

    e o milho (Poaceae - Zea mayz),

    4.2 Representao Biogeogrfica das Abelhas na Aldeia Kwaruj

    Entre os ndios Kaiabi da aldeia Kwaruj, o mapeamento indicou cinco

    diferentes ecossistemas. So eles: Kaarete (mato alto de terra firme), Kofet

    (capoeira), Yapopet (mata de vrzea), Ju campo e Ko (roa)

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    27/34

    26

    FIGURA 2 Mapeamento dos ecossistemas na aldeia Kwaruj. As abelhas

    desenhadas na legenda so decorativas

    A partir do mapeamento participativo, pde-se observar a distribuio

    geogrfica das abelhas sem ferro nas cinco unidades de paisagens,conforme Tabela 2.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    28/34

    27

    TABELA 2. Etnoespcies de abelhas sem ferro e seus locais de ocorrncia

    conforme os ndios Kaiabi da aldeia Kwaruj

    Abelha Kaarete

    mato alto

    de terra

    firme

    Kofet

    capoeira

    Yapopet mata de

    vrzea

    Ju

    campo

    Ko

    roa

    Eiratapap XAjurusing X XCuruneit X X XKupiaeit X

    Tapeowari X X XTymkapemeit XJukyratyfet X XTapew X XMarumar X X XTataeit X X XMyjuieit X X XYwauu X X

    Mamangairowasing X X XJawakanguu X X XJateii X X XAyapyj X XMarapypit X X X XAkykyeit XEiryak X X XAkawut X X

    Ywypyeit XEirywy X XAwaruu X X XKawintajuu X X XKawintaii X X XYwau wai X XEju X

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    29/34

    28

    Segundo DOUBE e WARDHALGH (1991) a estrutura da vegetao

    influencia diretamente na composio da fauna local, onde suas

    caractersticas como, luminosidade, temperatura e umidade, entre outras,

    atuam diretamente na biologia das espcies, dando suporte para

    reproduo, nidificao, forrageamento e desenvolvimento.

    Os Kaiabi percebem que as etnoespcies de abelhas Ywypyeit,

    Akykyeit e Eirywy, so especficas das unidades de paisagem Kaaret,

    indicando a necessidade de um ambiente mais mido e com maior

    diversidade de espcies vegetais. Por este fato, essas abelhas

    provavelmente sirvam de indicadores biolgicos de ambientes. Pela anlise

    dos dados pode-se observar a preferncia das abelhas pelo Kaaret e a

    menor incidncia das abelhas, segundo os ndios, ocorre em reas alteradas

    como o Ko.

    Trabalhos como de Tschrntke et al. (1998) e Morato (2004)

    encontraram uma correlao entre riqueza e abundncia de espcies de

    abelhas solitrias entre os ambientes estudados, ressaltando o efeito direto

    da perturbao da vegetao sobre os insetos. Na perspectiva Kaiabi

    tambm existe a correlao entre o nmero de espcies de abelhas sem

    ferro e a complexidade do ambiente, onde em ambientes alterados, o

    nmero de espcies diminui drasticamente

    4.3 Aspectos Morfolgicos das Abelhas

    As estruturas morfolgicas das abelhas recebem nomes na lngua

    Kaiabi que, na maioria das vezes, correspondem aos da parte do corpo

    humano. Alguns, entretanto, so utilizados especificamente para a

    morfologia do inseto. Na Figura 3 so apresentadas as estruturas

    morfolgicas nomeadas na lngua Kaiabi e na Tabela 3 a correspondncia

    dos termos em portugus.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    30/34

    29

    FIGURA 3. Estrutura morfolgica da abelha na lngua Kaiabi.

    TABELA 3. Correspondncia dos nomes das estruturas morfolgicas das

    abelhas na lngua Kaiabi e em portugus

    Nome Kaiabi Nome PortugusIakang CabeaEirarea Olho composto

    eaii OcelosOpejop Antena

    Ijuru MandbulaIku GlossaEte Trax

    Ipepo Asa anterior

    Ipepoii Asa posterirorIjywa FmurIfw Tarso

    Tymakang Corbculaapia Abdome

    apiaap Placa tergal

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    31/34

    30

    5. CONCLUSES

    1. Os Kaiabi so entomofgicos.

    2. Na percepo dos ndios Kaiabi, as espcies de abelhas sem ferro esto

    associadas ao tipo de vegetao.

    3. O maior nmero de etnoespcies de abelhas sem ferro est inserido em

    ambientes com maior diversidade de espcies vegetais. Trs etnoespcies

    de abelhas so especficas deste ambiente.

    4. Reconhecem diferenas nas estratgias de defesas das abelhas sem

    ferro na quantidade, densidade, colorao e gosto dos mis, alm de

    apontarem mel da espcie Lestrimelittacomo perigoso para a sade

    7. Os Kaiabi Identificam seis espcies vegetais utilizadas pelas abelhas para

    nidificao e 16 espcies vegetais utilizadas para a alimentao.

    8. Verificou-se um conhecimento detalhado dos ndios kaiabi sobre a

    morfologia das abelhas

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    32/34

    31

    6 REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS

    ATHAYDE, S. F. Caracterizao dos recursos naturais, vegetao e fauna.Relatrio interno do Programa Xingu Instituto Socioambiental, 1999.

    BECKER, H. S. Mtodos de pesquisas em ciencias sociais. 3 ed. SoPaulo, Ed Hucitec. 1994, 112p.

    BECKER, H. S. Mtodos de pesquisas em ciencias sociais. 3 ed. SoPaulo, Hucitec, 1994. 112p.

    CAPPAS-E-SOUSA. J. P. Os Maias e a Meliponicultura. In: JORNADAS

    DE LA ASOCIACIN ESPAOLA DE ENTOMOLOGIA 14., Cuenca, 1995.Resumos. (Espanha): Asociacin Espaola de Entomologia & Consejeria deAgricultura Y Mdio Ambiente. 146p. 1995.

    CORTOPASSI-LAURINO, M.; GELLI, D. S. Analyse pollinique, propritsphysico-chimiques et action antibacterienne ds miels dabeilles africanicesApis melliferaet Meliponins du Brasil. Apidologie v.22, p61-73, 1991.

    COSTA-NETO, E. M. A utilizao ritual de insetos em diferentes contextossocioculturais. Sitientibus Srie cincias biolgicas v. 2, p.97-103, 2002.

    COSTA-NETO, E. M. Estudos etnoentomolgicos no estado da Bahia, Brasil:uma homenagem aos 50 anos do campo de pesquisa. Biotemas, v1, p.117-149, 2004.

    DOUBE, B. M; WARDHALGH, K. G. Habitat associations and nicheparttioning in an island duna beetle community. Acta Oecol. V.12 p. 451-459, 1991.

    DUFOUR, D. L. Insect as food: a case stude fronm the northwestAmazon. American Anthropologist. V.89, p.383-397, 1987.

    GRUMBERG, G. Beitrage zur Ethnographie der Kayabi Zentralbrasiliens.Tese Doutoramento pela Faculdade de Filosofia da Universidade de Viena e

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    33/34

    32

    publicado em Archiv fur Volkerkunde, volume 24: 21-186, Viena. Traduzidopor Eugnio Wenzel sob o ttulo Contribuio para a etnografia dos Kayabido Brasil Central. 1970.

    IKPENG, K. Ecologia Economia e Cultura. So Paulo: Instituto

    Socioambiental, 2002.KAIABI, M. Ecologia Economia e Cultura. So Paulo: InstitutoSocioambiental, 2002.

    KERR, W. E.; CARVALHO, G. A.; NASCIMENTO, G. A. Abelha uruubiologia, manejo e conservao. Fundao Acanga. Belo Horizonte,p144, 1996.

    LVI-STRAUSS, C. O pensamento Selvagem. So Paulo, 331p, 1970.

    LORENZI, H. rvores brasileiras: manual de identificao de plantasarbreas nativas do Brasil. V1 e v2. So Paulo. Plantarium, 1992.

    MARQUES, J. G. W. O olhar (des)multiplicado. O papel do interdisciplinar edo qualitativo na pesquisa etnobiolgica e etnoecolgica. In: Mtodos decoletas e anlises de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinascorrelatos Rio Claro So Paulo, 2002.

    MARTN, G. J. Etnobotany, a methods manual. London, UK: Chapman eHall, 1995. 268p.

    MENDES, G. M. Seara de homens e deuses uma etnografia dos modosde subsistencia dos Enawene-Nawe. Dissetao de mestrado. UNICAMP-Campinas, 159p. 201.

    MINAYO, M. C. Pesquisa social: teoria, mtodo e criatividade. 9 ed.Petrpolis: vozes, 1998, 80p.

    MORATO, E. F. Efeitos da sucesso florestal sobre a nidificao de vespase abelhas solitrias. Tese... (doutorado) Universidade Federal de MinasGerais, Belo Horizonte. 2004.

    NOGUEIRA-NETO, P. A criao de abelhas indgenas sem ferro Ed.

    Nogueirapis, So Paulo, 1997.

    NOGUEIRA-NETO, P. A criao de abelhas indgenas sem ferro. EdTecnapis, p.365, 1970.

    PINHEIRO-MACHADO, C. et al. The conservation link betweenagricultura and nature Ministry of Environment/Brasilia, 2002. p. 115-129

    POSEY, D. A. Ethnomethodology as na emic guide to cultural systems:the case of the insects and the kayap Indians of Amaznia. RevistaBrasileira de Zoologia. v.1, n.2, p. 135-144, 1983.

  • 8/3/2019 Conhecimento Dos Indios Kaiabi Sobre Abelhas Sem Ferrao No Parque Indigena Do Xingu

    34/34

    33

    POSEY, D. A. Ethnomethodology of the Gorotire Kayap of CentralBrazil. (Tese Doutorado - University Georgia), Georgia, p.574, 1979.

    POSEY, D. A. Etnobiologia: teoria e Prtica. In: D. Ribeiro (Ed.) SumaEtnolgica Brasileira, v1, Ed Vozes, Petrpolis, p.302, 1987.

    POSEY, D. A. Folk apiculture of the Kayap Indians of Brazil. Biotrpica,v.15, n.2, p. 154-158, 1983a.

    RAMOS-ELORDUY, J. La etnoentomologia atual em Mxico em laalimentacin humana, em la medicina tradicional y em la reciclaje yalimentacin animal. In: Congresso Nacional de Entomologia, 35.,Acapulco, Sociedade Mexicana de Entomologia, p. 3-46, 2000.

    RODRIGUES, A. S. Etnoconhecimento sobre as abelhas sem ferro:Saberes e Prticas dos ndios Guarani MBY na Mata Atlntica.

    (Dissertao de mestrado - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"ESALQ/USP). Piracicaba. 2005. p. 236

    ROUBIK, D. W. Ecology and natural history of tropical bee. CambridgeUniversity Press, 1989. 514p.

    SCHMIDT, M. V. C. Etnosilvicultura Kaiabi no Parque Indgena do Xingu:Subsdios ao manejo de recursos florestais. (Dissetrao de mestrado -Escola de engenharia de So Carlos - Universidade de So Paulo). SoCarlos. 2001. p 185

    SENRA et al, Os Kaiabi do Brasil Central: histria e etnografia. SoPaulo. Instituto Socioambiental, 2004, 299p.

    SUI, T. Ecologia Economia e Cultura. So Paulo: InstitutoSocioambiental, 2002.

    TSCHARNTKE, T. Bioindication using trap-nesting bees and wasps and theirnatural enemies: community structure and intrations. J. Apl. Ecol, v.35p.708-719. 1998.

    VIERTLER, R., B. Mtodos antropolgicos como ferramentas para estudoem etnobiologia e etnoecologia. In: Mtodos de coletas e anlises dedados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatos. Rio Claro So Paulo, 2002.