conhecendo as famÍlias adotivas e suas dificuldades

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CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO Dirce Teresinha Tatsch e Silvana Terezinha Baumkarten Universidade de Passo Fundo Brasil Eixo Temático – Ensino Pesquisa e Extensão Resumo A pesquisa levantou aspectos sociodemográficos das famílias adotivas, identificando o perfil dos pais e filhos adotivos e as dificuldades encontradas durante o estágio de convivência. Foram analisados Relatórios Psicológicos enviados ao Juizado da Infância e Juventude de 40 famílias atendidas no Projeto de Extensão de Intervenções Psicossociais na Adoção de 2011 a 2013. Verificou-se que a maior frequência da idade das crianças adotadas é de 1 a 3 anos de idade sendo a maioria do sexo masculino; a maioria dos pais adotivos são casais, casados e não possuem filhos biológicos. A média geral do tempo de espera para adoção é de três anos; na maioria houve boa aceitação da família extensa; 27 famílias apresentaram dificuldades durante o estágio de convivência: em relação ao comportamento das crianças adotadas, dos pais e familiares em relação ao adotado, quanto ao processo de adoção e em relação ao preconceito. Os achados desta pesquisa apontam para a complexidade do tema adoção, onde é preciso quebrar paradigmas em torno da constituição familiar através da adoção e tratar do assunto sem preconceito, buscando o bem da criança e da família adotiva.

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Page 1: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO

Dirce Teresinha Tatsch e Silvana Terezinha Baumkarten

Universidade de Passo Fundo

Brasil

Eixo Temático – Ensino Pesquisa e Extensão

Resumo

A pesquisa levantou aspectos sociodemográficos das famílias adotivas, identificando o

perfil dos pais e filhos adotivos e as dificuldades encontradas durante o estágio de

convivência. Foram analisados Relatórios Psicológicos enviados ao Juizado da Infância e

Juventude de 40 famílias atendidas no Projeto de Extensão de Intervenções Psicossociais na

Adoção de 2011 a 2013. Verificou-se que a maior frequência da idade das crianças adotadas é

de 1 a 3 anos de idade sendo a maioria do sexo masculino; a maioria dos pais adotivos são

casais, casados e não possuem filhos biológicos. A média geral do tempo de espera para

adoção é de três anos; na maioria houve boa aceitação da família extensa; 27 famílias

apresentaram dificuldades durante o estágio de convivência: em relação ao comportamento

das crianças adotadas, dos pais e familiares em relação ao adotado, quanto ao processo de

adoção e em relação ao preconceito. Os achados desta pesquisa apontam para a complexidade

do tema adoção, onde é preciso quebrar paradigmas em torno da constituição familiar através

da adoção e tratar do assunto sem preconceito, buscando o bem da criança e da família

adotiva.

Palavras-Chaves: Adoção, perfil de pais e filhos adotivos, dificuldades de adaptação,

estágio de convivência, preconceito.

INTRODUÇÃOA adoção no Brasil vem desde a antiguidade, mas só em 1916 que ela ganhou suas

primeiras regras formais, as quais não favoreciam muito o processo. Em 1988, filhos adotivos

ou de sangue têm os mesmos direitos, sendo a primeira vez que a legislação nacional

prevaleceu o interesse do menor no processo. Com o Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA, Lei 8.069/1990) entrando em vigor veio reforçar ainda mais a proteção e o interesse do

menor. Em agosto de 2009, é vigorada a Nova Lei da Adoção, a Lei nº 12.010, a qual vem

para subsidiar o ECA criando novas exigências, inclusive o cadastro nacional de crianças

possíveis de adoção (SENADO FEDERAL, 2013).

Page 2: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

A adoção é uma maneira de se construir uma família, implicando diversos aspectos

jurídicos, psicológicos e sociais, onde se cria os vínculos afetivos e que correspondem as

necessidades da sociedade conforme a sua época. A família adotiva, entendida como família

substituta, precisa acolher a criança ou adolescente e propiciar desenvolvimento sadio,

cuidando, dando carinho, afeto, atenção a quais estes tanto necessitam (CHAVES, 2002).

Hamad (2002, p. 84) afirma que para adotar uma criança é preciso maturidade e

disponibilidade psíquica “que permite ao casal abrir-se para acolher em seu seio uma criança

que não viria mais reparar uma injustiça ou suprir uma falta, mas, antes, o seu lugar no desejo

de um casal”.

De acordo com a análise dos dados do Cadastro Nacional da Adoção (CNA) e do

Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes (CNCA), existem hoje quase 33 mil famílias

na lista de espera do CNA, e aproximadamente 44 mil crianças e adolescentes em situação de

acolhimento, sendo que somente 5.500 crianças estão no cadastro nacional de adoção em

condições de serem adotadas, ou seja, para cada criança pronta para adoção existem seis

pessoas dispostas em acolhê-la, mas a discrepância entre o perfil desejado e os que se

encontram para adoção impede que os dados mudem (SENADO FEDERAL, 2013).

Diante do exposto, o presente estudo buscou analisar dados sociodemográficos e

levantar as principais dificuldades durante o estágio de convivência das famílias adotivas,

com o intuito de aprofundar esta temática da adoção. Para isso foram analisados 40 relatórios

psicológicos de março de 2011 a julho de 2013 das famílias participantes do Projeto de

Extensão em Terapia Familiar com Famílias Adotivas e Intervenções Psicossociais na

Adoção.

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICAAdoção é um processo legal e afetivo onde uma criança passa a ser filha de um adulto.

É o meio em que um adulto, ou casal passam a serem pais de uma criança que não foi gerada

por eles. Adotar é tornar “filho”, uma criança que não foi protegida e cuidada pelos pais que a

geraram (FREIRE, 2001).

Adoção vem do latim: adoptione, escolher, adotar. É uma questão de escolher a

“decisão” de serem pais de uma criança adotada e não “escolher” a criança. Adoção é uma

doação, um ato de amor e o propósito dos pais é de construir a cidadania da criança ou

adolescente. É uma filiação que possibilita a criança ou adolescente pertencer a uma família, e

essa adoção para ser bem sucedida precisará de muita dedicação, paciência, amor, e conquista

diária (SOUZA e CASANOVA, 2012).

Page 3: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

Venosa (2006, p. 271) nos mostra que a adoção consiste em “modalidade artificial de

filiação que busca imitar a filiação natural”. Já Weber (1998) enfatiza adoção como uma

realidade biológica e ao mesmo tempo social, marcada pelo sobrenome. E também se insere

numa realidade psicológica e afetiva: onde a filiação significa pertencer a uma história, ligar-

se por raízes a uma criança. Para os pais adoção significa ter um filho (WEBER, 1998).

Weber (1998) afirma ainda que a adoção é uma das melhores formas de modificar a

vida das crianças que vivem em instituições, pois permite o homem fazer-se humano pela

relação familiar contínua e amorosa, através da consciência e habilidade de planejar o seu

futuro e da capacidade de amar o outro e a si.

Camargo (2012) menciona a importância de que as pessoas que solicitam a adoção

devam estar preparadas, contando com a ajuda de profissionais capacitados, que auxiliem para

a compreensão da construção familiar por meio da adoção, sendo essa uma prática humana a

qual possa estar destinada aos limites e fragilidades ligados às condições humanas. Assim,

continua dizendo o autor, um filho adotivo não tem mais chances de ser um excelente filho,

ou um péssimo filho pelo fato de ser adotado.

Souza e Casanova (2012) colocam que adoção é oportunizar alguém a crescer, tanto

internamente quanto para a vida. É a inserção de uma criança ou adolescente em uma família

definitivamente, com vínculos próprios de filiação. É uma decisão para o resto da vida, onde a

família precisa ver a criança realmente como um filho que decidiu ter.

Já no que diz respeito ao processo histórico, Bandeira (2001) afirma que o ato de

adotar, tem uma história muito antiga, por isso fica impossível determinar com precisão a sua

origem. Sabe-se que antigamente praticamente todos os povos do mundo experimentaram o

acolhimento de crianças como filhos naturais estando ligado esse ato com a necessidade de

perpetuar o culto doméstico, onde ao invés de estar ligada ao direito, a adoção estava ligada

mais a religião (BANDEIRA, 2001).

A primeira e principal evidência pode ser encontrada no Código de Hamurabi, onde se

tornou conhecida no Egito, Caldéia e Palestina. A utilização da adoção pelos gregos e

romanos sempre privilegiava os interesses do adotante e não do adotado. (WEBER, 1998).

Conforme Granato (apud WEBER, 1998), a adoção na antiguidade atendia os anseios

de ordem religiosa, onde a religião só poderia se espalhar pela geração onde o pai ensinava a

sua crença, seu culto, o direito de manter o lar. Sendo assim adotar um filho era dar

continuidade a religião doméstica, era a salvação do lar e a garantia das oferendas fúnebres do

repouso dos antepassados. Não tinham preocupação com laços afetivos entre adotado e

adotante (GRANATO apud WEBER, 1998).

Page 4: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

No direito Canônino a adoção permaneceu desconhecida, onde a Igreja via como uma

forma de transgredir o casamento e ter a possibilidade de reconhecer algum filho adulterino.

(WEBER, 1998).

De acordo com Bandeira (2001), na França a adoção começou a fazer parte do Código

de Napoleão, funcionando como um aspecto contratual. Continua referindo o autor que o

adotante precisava ter mais que 50 anos, e ser 15 anos mais velho que o adotando, não ter

filhos biológicos e nem descendentes legítimos.

Segundo Pilotti (apud WEBER, 1998), as primeiras regulamentações da situação de

crianças em família substitutas nos Estados Unidos surgiram pelo fato dos meninos órfãos e

abandonados serem utilizados como mão de obra barata. A partir daí, da primeira guerra

mundial a adoção começou a se voltar para o interesse da própria criança. Porém após a

segunda guerra mundial, o interesse pela adoção foi limitado às crianças menores.

No que diz respeito ao Brasil a adoção tem o reflexo do direito português onde as leis,

regimentos, resoluções que Portugal se utilizava, foram aceitos após a nossa independência

passando a ser uma instituição do nosso direito civil (BANDEIRA, 2001).

Com a instituição do Código de Menores houve um progresso maior na questão da

adoção, passando a haver três procedimentos básicos, a adoção simples e a adoção plena,

regidas pelo Código de Menores e a adoção do Código Civil (WEBER, 1998). Bandeira

(2001) nos lembra de que foi a lei nº 6.697 de 10 de outubro de 1979, que estabeleceu o

Código de Menores e criou a figura da adoção simples, mas mantendo a adoção do Código

Civil.

A lei nº 8.069 do Estatuto da Criança e do Adolescente, vigorada no dia 13 de julho de

1990, estabelece que a adoção passe a ser simplesmente adoção, deixando de ser simples ou

plena. Passando a valer para crianças de zero a dezoito anos, e para os que se encontram entre

os 18 e 21 anos se estiverem sob a guarda dos adotantes antes de completar a idade. Com a

Constituição Federal de 1988 fica estabelecido os direitos iguais entre os filhos de qualquer

natureza, diante disso, deixa de existir a adoção do Código Civil (BANDEIRA, 2001).

O Estatuto da Criança e do Adolescente tem a finalidade de proteger integralmente a

criança e o adolescente, com uma série de direitos imprescindível para o inteiro

desenvolvimento dos mesmos (ELIAS, 2010).

No dia 24 de setembro de 2008, começou vigorar no Brasil o Cadastro Nacional de

adoção (CNA), onde surgiu com o objetivo de tornar mais rápido os processos de adoção,

fazendo um mapeamento de informações utilizando a ferramenta da internet onde se faz uma

intercomunicação entre todas as Varas da Infância e Juventude de todo o território nacional

Page 5: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

implicando numa desburocratização dos processos onde se dispõe às crianças e adolescentes

uma família substituta pelo meio da adoção. O CNA permite que as pessoas que desejam

adotar e estejam devidamente aprovadas na Vara da Infância possam ser indagadas sobre a

pretensão da adoção de determinada criança ou adolescente, mesmo residindo em outra cidade

ou estado brasileiro, desta forma aumentando as chances da adoção se concretizar

(CAMARGO, 2012).

Em 03 de agosto de 2009 foi publicada a Lei 12.010, denominada a nova Lei da

Adoção, onde garante o direito às crianças e adolescentes à convivência familiar e visa

aperfeiçoar a Lei nº 8.069 do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2009). De

acordo com Cipriano (2012), essa nova Lei veio para mudar às outras e agilizar os processos

de adoção minimizando a espera tanto dos adotantes como dos adotados.

Cipriano (2012), afirma que quando essa nova Lei da Adoção se vigora ocorrem

importantes modificações ou acréscimos, tais como:

O direito à assistência psicológica para as mães que desejam entregar seus

filhos para adoção durante o período pré e pós-natal e também estas serão

obrigatoriamente encaminhadas para a Justiça da Infância e da Juventude. Foi

acrescentado com a finalidade de evitar o abandono dos filhos em locais

inadequados, e também, pela difícil decisão de entregar um filho, sendo assim

necessário um acompanhamento de especialista.

No art. 19 do ECA foi acrescentado o fato de que o abrigo deve ser a última

alternativa a ser utilizada. E os quais já estiverem na situação de abrigados,

devem ser reavaliados a cada seis meses. Acrescenta também, que a justiça terá

um prazo de dois anos para a definição do adolescente e da criança, se vai para

adoção ou se volta para a família biológica, com isso tendo a finalidade que a

situação de abrigo seja provisória.

O que surgiu com a Nova Lei foi ouvir o adotado, sendo ele maior de 12 anos

para ter o seu consentimento sempre que possível. Levando em conta seu

estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações desta

medida e sendo colhido em audiência, num ato específico pelo juiz.

Será levado em conta o parentesco, afinidade ou afetividade na avaliação da

adoção com o intuito de se evitar ou amenizar as consequências do novo estado

de filiação. Na adoção de irmãos, que antes não era cogitado em mantê-los em

uma família, hoje a aproximação é obrigatória a não ser que alguma situação

justifique o afastamento dos mesmos, sendo evitado o rompimento dos laços

Page 6: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

fraternais. Para adotar deve-se respeitar a idade mínima de 18 anos de idade,

sendo casado, separado, viúvo.

Se não encontrar pessoa apta ou interessada em adotar determinada criança ou

adolescente, partirá para a adoção internacional. Quando não se encontrar um

lar para eles, preferencialmente será colocada num acolhimento familiar, esta

não dando o direito a adoção (CIPRIANO, 2012).

Existem no Brasil diferentes tipos de adoção: (SOUZA e CASANOVA, 2012).

- Adoção por casal, é a adoção feita por pessoas casadas ou em união estável, uma

adoção conjunta onde parte de interesse dos dois.

- Adoção por solteiros, também conhecida como adoção monoparental, podendo ser

realizada por homem ou mulher. É uma adoção que pode sofrer preconceitos por se

tratar da falta de figura paterna ou materna.

- Adoção clandestina ou ilegal é a adoção irregular, adoção de rua, também conhecida

como “adoção a brasileira”. Registrar uma criança que “ganhou” sem passar pelas vias

jurídicas, somente ir ao cartório e registrar como filho.

- Adoção precoce é a adoção de bebês onde a pessoa justifica a vontade de ver a

criança crescer, ser educada pelo “seu jeito”. É uma adoção difícil onde demora mais

que as outras.

- Adoção Tardia é a adoção de crianças mais velhas, onde existem várias bem

sucedidas, diferente do que muitas pessoas acham por se tratar de uma criança que já

traz uma bagagem. É preciso um acompanhamento com o casal e uma explicação

sobre as dificuldades que possam ser encontradas.

- Adoção de grupo de irmãos é a adoção de duas ou mais crianças simultaneamente.

Dificuldade em adotar é o medo dos adotantes assumirem mais de uma criança, um

grande compromisso.

- Adoção Indígena, vai ser prioritária dentro da sua comunidade onde deve ter um

responsável. Pode acontecer de pessoas comuns adota-las, mas é preciso respeitar as

regras indígenas.

- Adoção inter-racial é a adoção de pessoas de diferentes etnias ou raças. É bastante

comum nas adoções internacionais e também está crescendo em nosso país.

- Adoção unilateral é a adoção onde o cônjuge adota o filho do seu companheiro,

numa família recomposta (SOUZA e CASANOVA, 2012).

Schettini (2007) observa que às vezes não são os filhos que tem dificuldades, mas sim

os pais, ou até, as pessoas que os cercam com atitudes preconceituosas. Devido à insegurança

Page 7: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

dos pais adotivos em seu lugar de pais, transmitem mensagens ambivalentes aos seus filhos

adotivos, diante disso, estes apresentam dificuldades para perceber a família como

“verdadeira e natural”. O que também pode contribuir para reforçar essa condição são o

preconceito social e as pressões vindas dos familiares (SCHETTINI, 2007).

Seguindo o pensamento do autor acima, a adoção tem a sua trajetória própria, é

preciso entender as diferenças e elabora-las. É importante que a criança compreenda a

importância dos pais biológicos e pais adotivos na sua constituição enquanto sujeito para a

saúde psíquica e o seu desenvolvimento tranquilo. Podem-se amenizar as dificuldades e

fantasias da criança adotiva numa boa relação com os pais, onde esta criança possa sentir-se

amada, aceita e compreendida (SCHETTINI, 2007).

Culturalmente no Brasil, existe um sentimento que valoriza os laços sanguíneos e as

semelhanças entre pais e filhos. Mesmo este filho não tendo características incomuns com

seus pais, as pessoas “fingem ver” e assinalam as semelhanças, se os pais não souberem lidar

com estas situações, poderão sofrer com a não semelhança deste filho (WEBER, 2010).

Diniz (apud LEVINZON, 2004), ressalta que não existe uma patologia específica da

adoção e por isso as dificuldades encontradas no processo educativo devem ser tratadas como

questões familiares normais. Através do desempenho da relação parental é que a criança e

suas experiências se organizam, ou seja, se os pais viverem a experiência da adoção de forma

perturbada é possível que o filho sofra prejuízos.

2. METODOLOGIA2.1 Instrumentos

A partir da análise dos 40 Relatórios Psicológicos, montou-se uma ficha de dados

contendo a idade do adotado, o sexo do adotado, se houve troca de nomes dos mesmos, quem

são os adotantes, homem, mulher, ou casal, quantas crianças foram adotadas, o tipo de

adoção, o estado civil, o tempo da união, idade dos pais adotivos, tempo que aguardaram a

adoção, se já possuem filhos biológicos ou adotivos, a aceitação do adotado na família, e as

principais dificuldades durante o estágio de convivência.

2.2 Procedimentos

A pesquisa se desenvolveu no Centro de Psicologia Aplicada (CPA) do Curso de

Psicologia de uma Universidade do interior do RS. Foram analisados os Relatórios

Psicológicos já concluídos e enviados ao Juizado da Infância e Juventude de 40 famílias

Page 8: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

atendidas no Projeto de Extensão Terapia Familiar com Famílias Adotivas e Intervenções

Psicossociais na Adoção, coordenado pela orientadora da pesquisa nos anos de março de 2011

a julho de 2013. Nestes relatórios foram colhidos os dados sociodemográficos (o perfil das

pessoas que adotam e o perfil das crianças e adolescentes adotados) e as principais

dificuldades durante o estágio de convivência.

Cabe salientar que esta pesquisa é um recorte de um projeto maior denominado

“Aspectos sociais e psicológicos da adoção” aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade

de Passo Fundo, protocolo 253.653 de 2013.

3. ANÁLISE E INTERPRETAÇÕES DOS DADOSOs resultados da pesquisa são apresentados com a literatura, tendo por finalidade

complementar o estudo. Inicialmente são apresentados os resultados da média de idade das

crianças e adolescentes adotados.

3.1. Idade da criança

Tabela 1: Distribuição de frequências referente a idade da criança adotada.

Idade Frequência Porcentagem

Bebê (menos de 1 ano) 5 11,4

1 ano 6 13,6

2 anos 7 15,9

3 anos 9 20,4

4 anos 5 11,4

5 anos 2 4,5

6 anos 5 11,4

7 anos 1 2,3

8 anos 0 0

9 anos 1 2,3

10 anos 2 4,5

11 anos 0 0

12 anos 0 0

13 anos 1 2,3

TOTAL 44 100

Page 9: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

Podemos constatar que as idades são variadas e a maior frequência de adotados está

entre 1 a 3 anos de idade, sendo que representam 50% do total das crianças adotadas. A maior

média se deu nos três anos de idade onde 20,4% das crianças são adotadas nesta faixa etária.

Percebe-se na tabela a preferência por crianças pequenas, mas também ocorre a adoção tardia.

A preferência por crianças pequenas é a nossa realidade, onde as famílias adotantes

desejam uma criança pequena supostamente por pensarem que seria mais fácil de educa-la e

de se adaptar na nova família, enquanto uma criança mais velha já tem uma história de vida

que poderá dificultar a educação e a aceitação desta família substituta.

Weber (apud VARGAS, 1998), nos traz em uma das suas pesquisas que as pessoas

optam por adotar crianças pequenas, pois estas teriam uma adequada socialização, uma

melhor adaptação entre a criança e os pais adotivos e são capazes de atender melhor os

anseios da família.

A adoção tardia que é considerada a adoção de crianças e adolescentes acima de três

anos de idade é rodeada de mitos e preconceitos. Barbosa (2006) relata que a criança

considerada mais “velha” já vem com uma bagagem de vida e que por vezes acredita-se que

possa interferir no seu comportamento. No entanto, continua o autor, aprendemos e mudamos

o nosso comportamento desde o nascimento até a nossa morte. Quando a criança ou o

adolescente tem um novo modelo e sente que este trará benefícios, há uma grande chance de

seguirem os novos modelos e mudar o comportamento, mas tudo isso dependendo do

estímulo que a família oferecer.

É preciso que a criança ou adolescente, independente da idade e da sua história

pregressa, possam ter os seus direitos atendidos, sendo acolhida e respeitada pelos seus

adotantes para que consiga superar as dores e medos já passados.

3.2. Sexo da criança

Observa-se que 75% das crianças adotadas são do sexo masculino, enquanto 25% são

do sexo feminino. Segundo o Cadastro Nacional da Adoção (CNA), 56% das crianças

inscritas são meninos, enquanto 44% são meninas. O CNA também nos mostra que 60% dos

pretendentes são indiferentes ao sexo da criança, o que demonstra que as adoções estão mais

de acordo com a realidade que as famílias querem um filho (a) independente do sexo

(SENADO FEDERAL, 2013).

Page 10: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

Segundo Amim e Menandro (apud WEBER e PEREIRA, 2012) alguns pretendentes

não escolhem o sexo do filho adotivo, pois buscam uma experiência parecida com a gestação

na qual naturalmente não se pode escolher o sexo do filho.

3.3. Troca de nome

Observa-se que 40% das crianças e adolescente adotados não tiveram mudança no

nome, enquanto 32% optaram por trocar o nome do adotado e ainda 28% que trocaram apenas

em partes, onde incluíram ou retiraram um segundo nome.

Segundo a Cartilha de Adoção de Crianças e Adolescentes (DEFENSORIA

PUBLICA, 2013), a criança ou adolescente quando adotada, recebe o sobrenome da família

adotiva, e também se pedido pelos pais ou o adotado, pode mudar o prenome depois de ser

avaliado rigorosamente para ter o cuidado de preservar a subjetividade do adotado. Por outro

lado traz a ideia de que é preferível que se acresça mais um nome para marcar uma “nova

vida”, pois quando é dado o nome a uma criança este passa a fazer parte do registro civil e do

psiquismo, contando um pouco da história do sujeito, sendo uma herança da mesma desde o

dia em que nasceu (DEFENSORIA PUBLICA 2013).

Assim a maioria dos pais adotivos está procurando preservar essa identidade da

criança, através da conservação do seu nome. Algumas retiram e/ou acrescentam um segundo

nome, parecendo com isso dar um registro de entrada nesta nova família.

Quanto a troca de nome, ocorreram quando o adotado era bebê, o que não traz prejuízo

para a identidade da criança, pois ainda não se reconhecia com este nome. Ocorreram

também, casos de troca de nome por motivos de serem nomes muito diferentes e que

poderiam levar à identificação da criança pela família biológica.

3.4. Por quem foi adotado

Nas tabelas a seguir, verificamos por quem as crianças foram adotadas, quantas

crianças foram adotadas e o tipo de adoção. Tabela 2: Distribuição de frequência referente a por quem foi adotado.

Adotado por Frequência Porcentagem

Casal 33 82,5

Mulher sozinha 3 7,5

Homem Sozinho 1 2,5

Page 11: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

Homem em adoção

unilateral

3 7,5

TOTAL 40 100

Como demonstra a tabela acima 82,5% dos adotantes são casais, 7,5% são homens que

realizaram a adoção unilateral, 7,5% são adotados por mulheres sozinhas e 2,5% são homens

sozinhos.

Através destes dados percebe-se que ainda o maior índice de adoção acontece por

casais, sendo eles casados ou em união estável. Trata-se de uma adoção conjunta, onde os

dois precisam estar em plena concordância. Conforme Souza e Casanova (2012) pode ocorrer

em caso de infertilidade, vontade de aumentar a família já existente, ou também por um

projeto de vida onde planejaram e desejam realizar uma adoção.

A adoção por solteiros, tanto homem como mulher, também conhecida como adoção

monoparental segue o mesmo caminho dos demais pretendentes. Mas enfrenta preconceito

pelo fato de faltar uma figura materna ou paterna em tal processo. Hoje no Brasil, o

percentual das famílias monoparentais vêm crescendo sistematicamente, as pessoas estão

mudando a visão quanto a isso e adequando um lar estável para criar um filho sozinho. Weber

(2011) embasando-se nas pesquisas científicas de todo o mundo, nos mostra que a adoção

realizada somente por uma pessoa não traz maiores dificuldades de comportamentos dos

filhos, ou seja, a adaptação de um filho adotivo por uma pessoa solteira é comparável às

outras formas de família adotiva.

A adoção unilateral é quando o padrasto ou madrasta opta por adotar o filho do seu

cônjuge, passando por um processo simples e ágil.

3.5. Estado Civil dos pais/mães adotivos

A seguir analisaremos a tabela referente ao estado civil dos pais adotivos.

Tabela 3: Distribuição de frequência referente ao estado civil.

Estado civil Frequência Porcentagem

Casados 30 75

União estável 5 12,5

Divorciada 3 7,5

Solteiro 1 2,5

Sem resposta 1 2,5

Page 12: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

Analisando a tabela acima podemos observar que a grande maioria, 75% são casados,

e 12,5% dos casais tem união estável, o que se percebe em outros estudos de dados, assim

como o levantamento feito pelo Cadastro Nacional de Adoção, onde a maioria é casado, mas

uma considerável parcela de pessoas com união estável.

Observa-se também que 7,5% são divorciadas e 2,5% solteiras. O que podemos

assinalar é que se trata de adoções por pessoas sozinhas, o que antigamente não era permitido,

mas com o passar do tempo tem se tornado comum e mostrado que não há diferenças das

outras adoções. É uma adoção que passa pelo mesmo processo e segue as mesmas regras que

a adoção feita por casais.

3.6. Idade dos pais e mães adotivos

Analisaremos a seguir a média de idade dos pais adotivos.Tabela 4: Distribuição de frequência referente a idade do pai adotivo.

Classes Xi Fi Percentual

30.0 |— 35.0 32.5 4 14.81 %

35.0 |— 40.0 37.5 4 14.81 %

40.0 |— 45.0 42.5 6 22.22 %

45.0 |— 50.0 47.5 10 37.04 %

50.0 |— 55.0 52.5 1 3.70 %

55.0 |— 60.0 57.5 2 7.41 %

TOTAL 27 100.0 %

Dos 37 pais adotivos, somente 27 relatórios constavam a idade, sendo assim, a média

geral da idade dos pais adotivos de 42,7 anos. A seguir observaremos a média geral da idade

das mães adotivas.Tabela 5: Distribuição de frequência referente a idade da mãe adotiva.

Classes Xi Fi Percentual

30.0 |— 35.0 32.5 6 21.43 %

35.0 |— 40.0 37.5 4 14.29 %

40.0 |— 45.0 42.5 8 28.57 %

45.0 |— 50.0 47.5 8 28.57 %

50.0 |— 55.0 52.5 2 7.14 %

TOTAL 28 100.0 %

Page 13: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

Das 36 mães adotivas, somente em 28 relatórios constava a idade, mostrando que a

média geral de idade é de 41,6 anos. Observando as médias de idade dos pais e mãe adotivos,

podemos ver que é uma idade já um pouco avançada, como nos mostra o Cadastro Nacional

de Adoção, a adoção seria um desejo de pessoas que estariam entrando na meia idade.

(SENADO FEDERAL, 2013)

Parece que as pessoas passam um longo tempo de suas vidas tentando ter um filho

biológico e somente depois que isto não acontece é que optam pela adoção. Outras, por não

terem tido filhos biológicos, em função de estarem centradas em suas carreiras, e quando

percebem, esta gravidez é difícil ou irrealizável e assim optam pela adoção.

3.7. Existência de filhos biológicos

Observa-se que 62,5% dos pais adotivos não possuem filhos biológicos, enquanto

37,5% possuem. As famílias adotivas que já tem filhos biológicos optam por adotar pelo fato

de querer aumentar a família e não poder mais viver a gestação, ou por sentirem que há

espaço afetivo para mais um membro, ou até por estarem em segundas núpcias e o marido já

ter feito vasectomia. Também precisamos ressaltar da importância dos filhos já existentes

nesta família, participarem deste processo e desta aceitação (SOUZA e CASANOVA, 2012).

3.8 Existência de filhos adotivos

Percebes-e que 87,5% das famílias adotivas deste estudo não possuem filhos adotivos,

enquanto 12,5% possuem. Como podemos perceber para a maioria das famílias adotivas é a

primeira adoção, mas encontram-se famílias que estão repetindo este processo.

3.9 Quantidade de crianças adotadas por família

Page 14: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

Nota-se que 87,5% das famílias adotaram uma criança, e somente 12,5% adotaram

duas crianças, sendo estas irmãs. Pela amostra deste estudo constatou-se que a maioria das

famílias adotivas opta por adotar apenas uma criança pela dificuldade ou medo de assumir

tamanha responsabilidade e por vezes pela parte financeira. A adoção de duas ou mais

crianças, sendo estas irmãs, exige da família adotiva mais atenção, pois cada criança

geralmente se adapta diferente a esta nova família, e acabam exigindo mais dos pais adotivos.

Por outro lado quando acontece a adoção de irmãos, estes funcionam de suporte um para o

outro, onde se apoiaram e sentiram-se mais seguros para adaptar-se a família substituta.

Apesar da Lei da Adoção (BRASIL, 2009) dizer que os grupos de irmãos são

colocados juntos para adoção com a mesma família substituta para que seja evitado o

rompimento de vínculos fraternais, este tipo de adoção acontece pouco, pois se trata de uma

adoção muito complexa, onde envolve uma adoção de irmãos e simultaneamente uma adoção

tardia, o que exige uma preparação maior destes pais adotivos.

3.10 Tipo de Adoção

Abaixo discutiremos através da tabela e do gráfico os tipos de adoção neste estudo.

Tabela 6: Distribuição de frequência referente ao tipo de adoção.

Tipo de adoção Frequência Porcentagem

Adoção 26 65

Adoção dirigida 11 27,5

Adoção unilateral 3 7,5

TOTAL 40 100

Page 15: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

Observando a tabela percebe-se que 65% refere-se a adoção comum, onde casais ou

pais solteiros, fizeram a habilitação para adoção junto ao Juizado da Infância e Juventude e

foram cadastrados no Cadastro Nacional De Adoção. 27,5% referem-se a uma adoção

dirigida, quando os pais biológicos entregam o filho para uma pessoa conhecida adotar.

Através da Nova Lei da Adoção, 12.010/09 (BRASIL, 2009) ficou estabelecido que a adoção

dirigida deve passar pelos mesmos trâmites de uma adoção comum, onde a família adotiva

precisa estar habilitada para receber esta criança. Também 7,5% tratam-se de adoção

unilateral, onde o companheiro da mãe biológica exerce o papel de pai e deseja adota-lo como

seu filho.

3.11 Tempo de espera pela adoção

Seguindo a tabela abaixo, observaremos o tempo em que as famílias adotivas

aguardaram para adoção, mas sem levar em conta as adoções dirigidas e as unilaterais.

Tabela 7: Referente a distribuição de frequências do tempo que ficaram aguardando a

adoção.

Tempo Frequência Porcentagem

2 anos 4 15,4

3 anos 4 15,4

4 anos 10 38,5

5 anos 1 3,8

Sem resposta 7 26,9

TOTAL 26 100

Como nos mostra as tabela acima, a média geral de tempo que se espera para uma

adoção é de três anos e quatro meses. O que literatura nos mostra é que as pessoas que se

encontram nas filas de adoção questionam o tempo de espera para alcança-las. Por outro lado,

o que as pesquisas nos relatam que a demora pela adoção se dá pelo fato dos adotantes

preferirem certo perfil de crianças que não condiz com o perfil das que estão disponíveis para

adoção, sendo assim, o processo demora mais.

3.12 Família Ampliada

Tabela 8: Referente à aceitação do adotado pela família ampliada.

Aceitação Frequência Porcentagem

Page 16: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

Boa 30 68,12

Ruim 0 0

Em partes 2 4,55

Não referiram 12 27,27

TOTAL 44 100

Referente à aceitação do adotado por parte da família extensa, o que a tabela acima

nos traz é que 68,18% das crianças adotadas tiveram uma boa aceitação dos familiares

enquanto 27,27% dos adotantes não informaram este dado e 4,55% relatam que em partes,

onde no inicio foi mais difícil, teve certa resistência, mas, com o tempo se tornou boa.

Dias (apud SCHETTINI, 2007) menciona que a chegada de uma criança exige

investimentos e expectativas que envolvem todo o sistema familiar e são de grande

importância para a socialização da criança, através da aceitação da adoção, pois estas vão ter

um papel importante na vida desta criança. “Os familiares da mesma forma que podem ajudar

e contribuir para a adaptação das crianças à família podem servir de obstáculos com seus

comentários maldosos e mesmo atitudes de rechaço” (DIAS apud SCHETTINI, 2007, p. 40).

3.13. Dificuldades no processo de adaptação

Tabela 14: Refere-se às dificuldades encontradas durante o processo de adaptação.

Dificuldades no processo de adaptação Frequência Porcentagem

Dificuldades de comportamento do adotado 17 62,96

Dificuldades dos pais e famílias em relação ao adotado 6 22,22

Dificuldade em relação ao processo de adoção 2 7,41

Preconceito dos outros em relação a adoção 2 7,41

TOTAL 27 100

Algumas famílias relataram dificuldades no processo de adaptação da criança a nova

família (adotiva). Através dos dados colhidos das 40 famílias deste estudo, pode-se levantar

que 27 apresentaram dificuldades perante a adoção.

Diante disso, 62,96% relataram dificuldades em relação ao comportamento das

crianças adotadas, podem ocorrer diante a todo o processo delicado que é a adoção, onde ela

precisa se readaptar a uma nova família e sentir-se pertencente a ela. Por isso a importância

dos pais adotivos não julgarem a sua história, as suas dificuldades, mas sim, tentar ajuda-las

com isso, mostrando que estão ali para protegê-las e ampara-las. Existem também os

Page 17: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

problemas que surgem em relação aos maus tratos sofridos e o descuido da família biológica

com estas crianças, apresentando desnutrição, cicatrizes de queimaduras, dentes estragados

mostrando o descaso com que eram criadas.

Sobre as dificuldades dos pais e familiares em relação ao adotado, foram 22,22% os

que relataram. Alguns adotantes trazem que não estavam organizados quando a criança

chegou, que tiveram problemas com os outros filhos em relação ao filho adotado e ainda que a

mãe adotiva tinha medo de falhar como mãe, não conseguindo vincular-se afetivamente com a

criança.

Schettini (2007) refere que a adoção precisa ser muito bem planejada e orientada pois

é uma decisão muito importante. As pessoas baseiam a representação de família somente no

vínculo consanguíneo e acreditam que o melhor para a criança é ficar com seus pais

biológicos. Em função disso parece que os pais adotivos necessitam provar que podem ser

bons pais.

Referente às dificuldades perante a adoção, 7,41% onde estas famílias trazem o medo

de que os pais biológicos viessem pegar a criança de volta, pois, haviam “ganhado” a criança

e num primeiro momento estariam com ela sem entrar com o processo legal. E também pela

demora de sair a adoção definitiva. As dificuldades relatadas aqui são de famílias que fizeram

a adoção dirigida, que segundo Ayres (2008) compreende-se pela adoção que onde os pais

adotivos já estão com a criança adotiva e se dirigem ao Juizado da Infância e Juventude para

entrar com o processo legalmente. Na maioria das vezes é a mãe biológica quem entrega o

filho acreditando possibilitar uma vida digna ao filho.

E quanto a dificuldade com relação ao preconceito dos outros com a adoção, 7,41%

das famílias relatam o receio das outras pessoas discriminarem seu filho por ser adotivo,

preocupação de que a criança sofra este preconceito quando souberem que ela é adotada,

como vai ser a reação das pessoas perante a criança.

A adoção é cercada de mitos e preconceitos, conforme nos trazem Souza e Casanova

(2012) muitas pessoas não tem realmente a compreensão do assunto, às vezes tem o

preconceito por ingenuidade ou por maldade, ou até, por ignorarem os verdadeiros fatos em

torno da mesma. A adoção vem cercada de comentários como do filho “problema” por ser

adotado.

Acreditamos que os pais adotivos terão um importante papel neste aspecto, onde

precisam dar o suporte necessário, oferecendo-lhes amor, carinho, segurança, e tendo muita

paciência e dedicação, que consigam que esta criança sinta-se acolhida e tenha um lugar

escolhido nesta família. Weber (2010) ressalta a importância de se ter uma dinâmica familiar,

Page 18: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

na qual haja compreensão, tolerância e capacidade de doação para com o outro, seja esta

família adotiva ou biológica.

4. CONLUSÃOHistoricamente sabe-se que a adoção surgiu somente para suprir a necessidade do

casal infértil, não se pensava antigamente em dar uma família a uma criança abandonada. É

recente a visão que a adoção é uma forma de proteger a criança que por algum motivo está

sem a proteção dos pais biológicos. Essa “adoção moderna” visa garantir as crianças o direito

de crescerem em uma família. É a tentativa de oportunizar à criança a possibilidade de

estabelecer laços afetivos próximos com pessoas capazes de amá-la, permitindo-lhe um

desenvolvimento saudável e feliz.

Através dos dados obtidos nesta pesquisa identificamos que: (1) as idades das crianças

adotadas são variadas e a maior frequência de adotados está entre 1 a 3 anos de idade.

Percebe-se a preferência por crianças pequenas, mas também ocorre a adoção tardia; (2)

Pode-se perceber que a maioria das crianças adotadas é do sexo masculino, 75%; (3) Grande

parte dos pais adotivos procurou preservar a identidade das crianças através da conservação

do seu nome 40%, enquanto 32% optaram por trocar o nome e 28% que trocaram apenas em

partes; (4) Através desta pesquisa confirma-se que ainda o maior índice de adoção acontece

por casais; (5) Podemos observar também que a grande maioria dos pais adotivos são casados;

(6) a média geral da idade dos pais adotivos é de 42,7 anos e das mães é de 41,6 anos; (7)

Mais do que a metade dos pais adotivos não possuem filhos biológicos; (8) Pode-se perceber

que para a maioria das famílias dessa pesquisa é a primeira adoção; (9) 87,5% das famílias

adotaram uma criança, e somente 12,5% adotaram duas crianças, sendo estas irmãs. (10)

Quanto aos tipos de adoção, percebe-se que 65% refere-se a adoção comum, 27,5% adoção

dirigida e 7,5% adoção unilateral; (11) A média geral de tempo que se espera para uma

adoção é de três anos e quatro meses; (12) Referente à aceitação do adotado por parte da

família extensa, 68,18% das crianças adotadas tiveram uma boa aceitação dos familiares,

27,27% dos adotantes não informaram este dado e 4,55% relatam que em partes; (13) Através

dos dados colhidos das 40 famílias deste estudo, pode-se levantar que 27 apresentaram

dificuldades perante a adoção.

O levantamento desses dados proporciona o diálogo em torno da complexidade que

envolve o tema da adoção. É necessário o “cuidado” com a temática, a fim de não se

reproduzir mitos e medos existentes na sociedade. Essa pesquisa busca ser uma alternativa

Page 19: CONHECENDO AS FAMÍLIAS ADOTIVAS E SUAS DIFICULDADES

para esclarecimento e quebra de paradigmas em torno da constituição familiar através da

adoção.

A construção de uma nova cultura da adoção é um dos caminhos para que o

contingente de crianças e adolescentes sem famílias comece a diminuir no Brasil. A sociedade

deve conscientizar-se de que toda criança tem o direito de pertencer a uma família, ser amada,

confortada, acolhida e educada, independentemente dos laços de sangue. Somente assim, será

possível garantir às crianças e aos adolescentes sem famílias o direito à convivência familiar e

comunitária.

Enfim, conclui-se que é preciso lidar com a adoção de forma acolhedora e livre de

preconceitos, assumindo esse processo de filiação como legitimo e legal, buscando sempre o

bem comum da criança e da família adotiva.

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