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CONHECENDO A BÍBLIA Título do Original Inglês: On Knowing the Bible Witness Lee 1. Que é a Bíblia? 2. A Completação da Bíblia 3. O Tema, o Pensamento Central e as Subdivisões da Bíblia 4. Princípios de Interpretação da Bíblia PREFÁCIO Este livro é constituído de mensagens dadas em Taipé, Taiwan, na década de 1950. Elas foram dadas como parte de um treinamento para encorajar e ajudar os jovens a lerem a Bíblia. Nesses capítulos temos uma vista panorâmica da Bíblia, de como ela foi escrita, de seu tema, pensamento central, e suas partes e dos princípios de interpretação bíblica. O objetivo de publicar essas palavras é suprir a necessidade dos recém-salvos.

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Page 1: Conhecendo a Biblia

CONHECENDO A BÍBLIA Título do Original Inglês: On Knowing the Bible

Witness Lee

1. Que é a Bíblia?

2. A Completação da Bíblia

3. O Tema, o Pensamento Central e as Subdivisões da Bíblia

4. Princípios de Interpretação da Bíblia

PREFÁCIO

Este livro é constituído de mensagens dadas em Taipé, Taiwan, na década de 1950. Elas foram dadas como parte de um treinamento para encorajar e ajudar os jovens a lerem a Bíblia. Nesses capítulos temos uma vista panorâmica da Bíblia, de como ela foi escrita, de seu tema, pensamento central, e suas partes e dos princípios de

interpretação bíblica. O objetivo de publicar essas palavras é suprir a necessidade dos recém-salvos.

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Capítulo 1

QUE É A BÍBLIA?

O objetivo destas lições é ajudar as pessoas a aprender a ler a Bíblia, ou seja, ajudá-las a saber como ler a Bíblia. Talvez alguns irmãos possam pensar que em cada lição estaremos estudando a própria Bíblia; mas não é isso que faremos. Em vez disso, iremos ajudar os irmãos a aprender a como ler a Bíblia e como conhecê-la.

DEVE HAVER UM EQUILÍBRIO ENTRE O ESPÍRITO INTERIORMENTE E A BÍBLIA EXTERIORMENTE

Para edificar espiritualmente uma pessoa, precisamos ajudá-la a conhecer a Bíblia. Nos últimos dois mil anos, todos os cristãos reconhecem que ninguém pode conhecer verdadeiramente o Senhor sem conhecer a Bíblia. Nós, seres humanos, não somos meramente espírito. Embora tenhamos um espírito, não somos simplesmente um espírito, mas somos um ser humano completo. Se fôssemos apenas um espírito, Deus somente precisaria nos dar Seu Espírito; não haveria necessidade da Bíblia; entretanto, como não somos apenas espírito, Ele também teve de nos dar a Bíblia. As heranças espirituais que Deus nos deu são o Espírito, que não pode ser visto, e a Bíblia, que pode ser vista. O Espírito está em nosso interior e a Bíblia é exterior a nós. Os cristãos de todas as épocas podem testificar, por sua experiência, que um cristão adequado deve ser totalmente equilibrado nestes dois aspectos - a Bíblia exteriormente e o Espírito interiormente. Esses dois aspectos precisam estar absolutamente equilibrados. Qualquer tendência para um desses lados resultará em sérios problemas. Entre os cristãos de todos os séculos, alguns penderam para o Espírito interior, o que resultou em grandes erros. A maioria, entretanto, pendeu para a Bíblia exterior. Aparentemente esses não erraram tanto, todavia, entre eles há uma condição muito séria de morte. Em outras palavras, se houvesse somente o Espírito interiormente e não houvesse a Bíblia exteriormente, o homem facilmente cometeria erros. Por outro lado, se houvesse somente a Bíblia exteriormente e não houvesse o Espírito interiormente, o homem ficaria totalmente morto, totalmente sem vida e sem qualquer vitalidade. Os cristãos podem ser comparados a um trem. É necessário o combustível interiormente, para atuar como sua força propulsora. Mas um trem também precisa de trilhos exteriormente. Se houver combustível interiormente mas nenhum trilho exteriormente, o trem não poderá andar. Mesmo que ele consiga andar, haverá problemas. No entanto, se houver somente os trilhos exteriormente e nenhum combustível interiormente, o trem pode estar na estrada correta, mas não conseguirá andar. Portanto, para que um trem ande, e o faça bem, deve haver a coordenação destes dois aspectos: o aspecto interior e o aspecto exterior. Exteriormente deve haver o ajuste dos trilhos e, interiormente, é necessária a energia do combustível. O mesmo ocorre conosco. Temos o Espírito em nosso interior e a Bíblia exteriormente. Infelizmente, os cristãos, através dos séculos, têm-se inclinado para um ou para outro. Até mesmo em nossos dias, muitas pessoas continuam fazendo o mesmo. Os que enfatizam demais o Espírito condenam os que se inclinam para a Bíblia, dizendo-lhes: "O que vocês lêem são apenas letras mortas. Todos os dias vocês usam apenas a mente para estudar os ensinamentos mortos. A letra mata, mas o Espírito vivifica. Somente nós vivemos no Espírito". Os que tendem para a Bíblia exteriormente, da mesma forma, condenam os que enfatizam o Espírito interiormente, dizendo para eles: "O que vocês têm é apenas emoção. Somente há animação e entusiasmo, mas nenhuma estabilidade. Considerem todas as pessoas que vocês dizem ter sido despertadas pelo Espírito. Onde estão elas hoje? Muitas coisas que se alegou terem sido iniciadas pelo Espírito, na verdade, resultaram num desastre completo". Anos atrás, vimos muito desse tipo de condenação no norte da China. Quando o chamado movimento pentecostal ou movimento carismático estava com plena força ali, seus participantes opunham-se muito à interpretação da Bíblia. Eles pensavam que bastava ser enchido com o Espírito Santo e ter o derramamento do Espírito Santo. Entretanto, entre eles, não apenas houve muitos erros, mas também muitas histórias esquisitas. Aqueles erros e histórias esquisitas realmente causaram muita vergonha para o nome do Senhor. Essas coisas não ocorreram apenas na China, mas também no cristianismo ocidental. Até hoje, ainda há essas duas tendências e esses dois erros.

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Essas coisas nos mostram que um cristão adequado deve ser equilibrado; deve estar cheio do Espírito interiormente e deve conhecer a Bíblia exteriormente. Aquele que é cheio do Espírito interiormente e conhece a Bíblia exteriormente será como um trem que, interiormente tem o combustível que dá energia e exteriormente está sobre os trilhos. Dessa maneira, ele será um cristão que é vivo, estável, que se move e que também se dirige para o alvo. Portanto, devemos enfatizar igualmente o Espírito e a Bíblia; não devemos negligenciar nenhum desses assuntos. Não podemos omitir o Espírito interior nem desprezar a Bíblia exterior.

CONHECER A BÍBLIA EXIGE O EXERCÍCIO DO ESPÍRITO E O TREINAMENTO DA MENTE

O Espírito e a Bíblia são dois lados de um mesmo assunto. Similarmente, o conhecimento da Bíblia também tem dois lados. Quase todas as coisas que Deus ordenou neste universo têm dois lados. Por exemplo: há o céu e a terra; há macho e fêmea; há dois lados, o de dentro e o de fora; há a parte de cima e a de baixo - tudo isso tem dois lados. Para uma pessoa conhecer a Bíblia também ocorre o mesmo. Há a necessidade da mente e também do espírito. Ninguém pode conhecer adequadamente a Bíblia, negligenciando qualquer um desses aspectos. Para se conhecer a Bíblia, é preciso ser treinado na mente e também ser exercitado no espírito.

Entretanto, quanto ao conhecimento da Bíblia os cristãos hoje em dia posicionam-se ou pela mente ou pelo espírito. Os que se posicionam pela mente exageram no estudo da letra, enquanto os que se posicionam pelo espírito são livres demais para espiritualizar tudo, a tal ponto que a Bíblia para eles se torna quase vazia de letras. Portanto, ao estudar a Bíblia, novamente há o perigo de ser tendencioso. Muitas pessoas enterram-se na Bíblia, dia após dia. Elas tornam-se especialistas no estudo da letra da Bíblia. Por exemplo, a língua hebraica é formada por um alfabeto de vinte e duas letras. Algumas pessoas estudaram tanto que contaram quantas vezes cada uma dessas letras foram usadas na Bíblia. Eles também contaram o número de vezes que cada letra do alfabeto grego é usada no Novo Testamento. Além disso, as línguas hebraica e grega são similares ao latim, na questão de letras representarem números. Por exemplo: no latim, X equivale a dez e V equivale a cinco. Da mesma forma, as letras no hebraico e no grego também representam números. Algumas pessoas mergulharam profundamente nesse estudo. Elas calcularam o valor numérico de cada palavra do Antigo e do Novo Testamento. E impressionante sua descoberta de que o valor numérico representado em cada palavra na Bíblia é múltiplo de sete. Eu nunca tentei conferir isso, mas há escritos que confirmam esse fato. Agora vocês sabem a que ponto chegaram as pessoas no estudo da letra. Há os compiladores de concordâncias que também laboram na letra e fazem muita pesquisa na Bíblia . Ao mesmo tempo, há pessoas hoje que abrem a Bíblia e agem inteiramente por sua inspiração interior. Isso é como "o vento [que] sopra onde quer"! Da maneira que o "vento" soprar, elas falam. Às vezes elas vêm como um furacão. Originalmente o trem estava andando adequadamente nos trilhos, mas quando chegou o furacão, os trilhos foram varridos para o ar e com eles o trem. Creio que vocês já encontraram esse tipo de pessoa. A exposição da Bíblia apresentada por eles é algo no espaço; está toda flutuando. Elas são totalmente extremistas pelo lado espiritual. Deixem-me repetir agora: inclinar-se para as letras resulta em muita morte, e inclinar-se para a esfera espiritual é muito perigoso. É verdade que aqueles que se inclinam para o lado espiritual podem ser pessoas muito interessantes e persuasivas, até mesmo pessoas que liberam seu espírito; mas depois de ouvi -Ias falar, facilmente se é levado para o ar. Por outro lado, quanto aos que se inclinam para a letra, cada linha que eles falam é apoiada por provas, entretanto eles são muito "mortos". Após estarem falando por menos de meia hora, pode-se cair no sono. Os dois lados estão alienados. Portanto, irmãos, se verdadeiramente queremos conhecer a Bíblia, precisamos ser equilibrados. Devemos entender adequadamente a letra da Bíblia e devemos usar adequadamente o nosso espírito, para sentir o significado espiritual do que estamos vendo na Bíblia. Para lermos bem a Bíblia, devemos treinar nossa mente para isso e, talvez ainda mais, exercitar nosso espírito. Treinar a mente visa entender a Bíblia. Exercitar o espírito tem o propósito de tocar e contatar a Bíblia. O primeiro é uma questão da mente; a mente tem de entender a Bíblia. O outro é uma questão do espírito; o espírito deve contatar a Bíblia.

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Usando a eletricidade como exemplo, vemos que entender a eletricidade é uma coisa, e contatá-la é outra coisa. Entendê-la é uma questão da mente, ao passo que contatá-la é uma questão do corpo. Muitas vezes há corrente elétrica, mas um pedaço de madeira a isola do corpo. Sob tal circunstância, embora a mente de uma pessoa possa entender a eletricidade, seu corpo não pode contatá-la. Por outro lado, algumas pessoas não entendem nada de eletricidade, mas seu corpo verdadeiramente a contatou. Elas podem contatar a eletricidade porque ela está ali e porque seus corpos não estão isolados dela. Assim que a tocam, elas podem senti-la. Essa é uma boa ilustração do nosso relacionamento com a Bíblia. Entender a Bíblia com a nossa mente é uma coisa, e tocá-la, contatá-la com o nosso espírito é outra coisa bem diferente. Pode ser que entendamos a Bíblia com a nossa mente e que nosso espírito ainda não a tenha contatado. Não basta apenas entender a Bíblia com a nossa mente, precisamos também contatá-la com nosso espírito. Por outro lado, assim como precisamos tocar e contatar a Bíblia com o nosso espírito, é necessário que também a entendamos na mente. Temos que perceber que o motivo de querermos que a mente entenda a Bíblia é para que o nosso espírito possa contatar e tocar suas palavras. Uma coisa é certa: é difícil nosso espírito tocar as palavras da Bíblia sem que elas tenham primeiramente passado pelo entendimento da nossa mente. Isso ocorre com as palavras da Bíblia, assim como com as palavras que são pregadas. Até mesmo as palavras deste capítulo não podem tocar seu espírito, sem primeiro terem passado pelo seu entendimento. Suponha que eu esteja aqui pregando em chinês e que haja alguém sentado aí que não entenda chinês. Nada penetrará a mente dessa pessoa. Como poderá seu espírito ser tocado? A verdade deve primeiro ser compreendida pela mente antes de alcançar o espírito e tocar a pessoa. Se houver uma pessoa inculta que abra a Bíblia para lê-la, como pode seu espírito ser tocado? Para que seu espírito seja tocado pela Bíblia, ela deve esforçar-se para, primeiramente, aprender a ler com sua mente. Ela precisa, pelo menos, ser capaz de identificar as palavras na Bíblia para que possa lê-las e ser tocada por elas em seu espírito. Se não entendemos as palavras na Bíblia, mesmo que oremos por três horas com muita inspiração, ainda nos será impossível entendê-la ou ser tocados quando a lemos, porque suas palavras não podem alcançar nossa mente. Temos de gastar muito tempo aprendendo nossa língua com nossa mente, até que venhamos a ler a Bíblia. Somente então as palavras poderão alcançar nossa mente para tocar nosso espírito. Além disso, a Bíblia não é tão simples. Podemos conhecer todas as palavras da Bíblia e ainda não sermos capazes de entender seu significado. Há passagens na Bíblia que não podem ser compreendidas por uma simples leitura. A Bíblia tem suas características próprias e sua própria história. Muitas pessoas com grau de doutorado e com muito conhecimento abrem a Bíblia para lê-la e descobrem que, embora conheçam todas as palavras, não conseguem entender algumas passagens, porque não têm o conhecimento específico do “pano de fundo” ou de determinados termos específicos da Bíblia. Como eles não entendem essas passagens, é difícil que sejam tocados por elas. É claro que há determinadas passagens, como João 3:16, que não apresentam nenhuma dificuldade técnica de linguagem. Desde que se entenda as palavras, uma simples leitura é suficiente para que a mente entenda. Há, entretanto, muitos outros lugares na Bíblia que apresentam problemas especiais de linguagem. Por exemplo, há nomes específicos de pessoas e lugares, há a questão da dispensação, os tipos e as profecias. Além disso, há muitos outros assuntos como os números, as alegorias e os símbolos. A capacidade de compreender essas expressões e termos específicos não se encontra em alguém que é apenas culto ou instruído na educação deste mundo. Isso pode ser comparado ao fato de que, embora eu seja culto, fico totalmente perdido quando me defronto com um livro de eletricidade. Posso ler as palavras, mas não entendo seu significado por causa dos muitos termos técnicos específicos. Para entendermos um livro de eletricidade, precisamos primeiramente aprender o significado de alguns termos técnicos. No mesmo princípio, as palavras da Bíblia podem parecer muito comuns, todavia elas são muito específicas e contêm muitos termos peculiares. Se não formos treinados adequadamente nesses termos específicos e assuntos técnicos, teremos dificuldade em entender o que lemos. Por exemplo: João 1:17 diz que a lei foi dada por intermédio de Moisés. "A lei" é um termo especial e "Moisés" também é um nome especial. Sem um conhecimento dos antecedentes desses dois termos, mesmo cem PhDs juntos não seriam capazes de entender o significado dessa frase.

Assim, para que uma pessoa salva entenda adequadamente a Bíblia, ela deve gastar algum tempo nos termos e linguajar específicos e deve ser treinada em sua mente. Com treinamento, a leitura torna-se muito mais fácil. Ela não terá muita dificuldade quando encontrar palavras como "a lei", "Moisés" ou o

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"derramamento de sangue para a remissão de pecados", porque já conhecerá esses termos específicos. Assim que forem lidos, eles serão prontamente entendidos. As palavras da Bíblia passarão imediatamente pela mente e serão toca das pelo espírito. Portanto, desta vez gastaremos um bom tempo nos termos específicos e na linguagem da Bíblia. Esse aspecto de treinamento da mente é uma preparação para nos ajudar a usar nosso espírito, a fim de contatarmos e tocar a Bíblia. Esperamos que, por meio deste treinamento, a maioria dos irmãos, por um lado, sejam treinados nas técnicas de penetrar a Bíblia e a terminologia específica para ter o chamado conhecimento bíblico, e que, por outro lado, exercitem-se no espírito. Dessa maneira, quando lerem a Bíblia, as palavras penetrarão imediatamente em sua mente. Ao mesmo tempo, eles saberão como usar seu espírito para contatar o Espírito na Palavra. Resumindo, este treinamento é para que todos aprendam a entender a Bíblia com a mente e a tocá-la com o espírito. A primeira metade desta série consiste no treinamento da mente e a segunda metade, no exercício do espírito. A primeira metade desta série é sobre o treinamento da mente; a segunda é sobre o exercitar do espírito. Na primeira metade gastaremos bastante tempo para entrarmos nos termos e técnicas especiais que são usados. Isso exige muita paciência. Pessoas preguiçosas não conseguem conhecer a Bíblia. Não se pode esperar que uma pessoa preguiçosa alcance um conhecimento adequado da Bíblia. Talvez, uma vez ou outra, Deus, em Sua misericórdia, permita a ela um toque e uma inspiração. Entretanto, isso é como ser atingido por um relâmpago, o que é muito raro. Todos aqueles que conhecem adequadamente a Bíblia, têm uma mente e um entendimento adequados. Embora tenhamos um espírito, não somos somente espírito. Deus nunca teve a intenção de fazer de nós um espírito. Ele apenas deseja que sejamos pessoas espirituais. Deus ainda quer que sejamos seres humanos, e, como seres humanos, temos não somente espírito, mas também uma mente. Portanto, . para que conheçamos a Bíblia, precisamos, interiormente, exercitar o espírito e, exteriormente, ser treinados na mente. Somente quando temos os dois aspectos é que somos pessoas adequadas. Agora chegamos à primeira lição desta série. Precisamos descobrir o que é a Bíblia. Que é, de fato, a Bíblia? Se alguém perguntar: "Que é esta mesa?" podemos imediatamente responder que esta mesa é feita de madeira; pode-se colocar coisas sobre ela. Mas são poucos os que têm clareza sobre o que seja a Bíblia. Até mesmo hoje nos é difícil explicá-la plenamente. Falaremos o que pudermos. Usaremos quatro pontos para explicar o que é a Bíblia. A Bíblia é uma só, mas falaremos de quatro aspectos a seu respeito para cobrir plenamente o assunto.

A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS

A Bíblia é constituída de palavras, todavia não são palavras humanas, mas palavras de Deus. A maior coisa neste universo, exceto Deus, é a Bíblia. A Bíblia nos diz que até mesmo o próprio universo foi criado pela palavra de Deus (Hb 11:3). A palavra está acima de tudo e é maior que tudo. Ela também é antes de todas as coisas. Antes que tudo existisse a Palavra já existia. Mesmo entre os homens, as palavras são uma coisa muito importante. Quase cem por cento de uma pessoa e suas atividades têm a ver com suas palavras. Imagine onde estaria uma pessoa se ela não pudesse falar, escrever, nem usar qualquer tipo de linguagem para expressar o que vai no seu interior. Pareceria que essa pessoa não existe. Se você é alguém que não consegue falar e não é capaz de usar uma linguagem para se expressar, então, mesmo que esteja aqui, é como se não estivesse; enfim, você não se expressaria. Portanto, a expressão da vida, do caráter e de toda a história de uma pessoa depende totalmente de palavras. Como surgiram as palavras ? Teriam elas sido criadas por Deus? Não ouso dizer e tampouco sei como surgiram as palavras. Penso que se eu fizesse essa pergunta aos cientistas, eles também achariam difícil respondê-la. Como surgiram as palavras? Esse é um assunto muito interessante. Como Adão aprendeu a falar no princípio? Sem dúvida, a capacidade de falar foi criada por Deus, mas de onde vieram as palavras que ele falou? Que língua ele usou no Éden? Creio que ninguém sabe a resposta. Entretanto, se não existissem palavras no universo, não haveria nada para fazermos aqui hoje; tudo estaria acabado. Toda a humanidade, a sociedade e o mundo estariam terminados. Portanto, as palavras são algo muito importante.

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A Bíblia é a palavra de Deus. Isso é algo ainda mais grandioso. É impossível ao homem pesquisar o universo, a humanidade e a existência de Deus hoje sem ir à Bíblia. Toda a história do universo está contida nas palavras da Bíblia. Se você quer conhecer Deus, a história do universo e a humanidade, você tem de ler a Bíblia. Todas essas coisas existem e estão contidas nas palavras da Bíblia. Além disso, essa palavra não é palavra de homens, mas a palavra de Deus. A Segunda Epístola de Pedro 1:21 diz que a profecia na Bíblia, ou seja, as palavras da Bíblia são faladas "da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo". Há dois pontos importantes, dignos de nota. Um é que a palavra da Bíblia é movida pelo Espírito Santo, e o outro é que ela foi falada da parte de Deus. Ser movido pelo Espírito Santo, no grego, significa ser levado. É como um barco ser movido na água pela força propulsora do vento. Aqui diz que as palavras da Bíblia foram faladas por homens movidos pelo Espírito Santo. Esse mover é exatamente como ser carregado pelo vento. O Espírito Santo é como o vento, vem sobre aqueles que falam por Deus, para levá-los, conduzindo-os em seu falar. Os cinco livros de Moisés foram escritos por Moisés mas o Espírito Santo estava ali, conduzindo Moisés enquanto ele escrevia. É verdade que muitos salmos são palavras de Davi. Entretanto, o Espírito Santo estava sobre ele levando-o a falar.

Além disso, temos de perceber também que a Bíblia é a palavra falada "da parte de Deus". Quanto a esta frase os tradutores da Bíblia e estudiosos dos manuscritos tem opiniões diferentes. Alguns dizem que as palavras "da parte de Deus" devem referir-se às pessoas que falaram, indicando que eles eram "homens de Deus", falando enquanto eram movidos pelo Espírito Santo. Outros dizem que as palavras "da parte de Deus" devem referir-se não as pessoas que falaram, mas às coisas faladas, indicando que o que elas falaram veio de Deus. As melhores traduções, como a Revised Standard Version, concordam com o segundo conceito. Ela nos fala que a palavra na Bíblia, não somente foi falada por pessoas movidas pelo Espírito Santo mas também por homens falando da parte de Deus. É o Espírito de Deus que leva os homens a falar. Também são homens falando da parte de Deus. Em outras palavras, Deus falou Sua própria palavra a partir do interior do homem e pela boca do homem. Isso é a Bíblia. Que é a Bíblia? A Bíblia é o Espírito de Deus vindo sobre o homem e levando o homem a falar a palavra de Deus. Quando Deus declara Sua palavra no universo a partir de e por meio do homem, temos a Bíblia. O segundo livro de Samuel 23:2 diz: "O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua". Isso foi falado por Davi. Davi era não apenas um salmista, mas também um profeta (At 2:30). Ele nos disse que o que falou foi pelo Espírito de Deus e que a palavra de Deus estava em sua boca. Note que não apenas o Espírito de Deus falou por seu intermédio, mas que a palavra de Deus estava em sua própria boca e foi falada por meio de sua boca. Isso é a Bíblia. Isso é algo verdadeiramente impressionante. Hoje, não somente temos de admitir que a Bíblia é inspiração de Deus, mas temos de perceber também que a Bíblia é o Espírito de Deus introduzindo o homem em Deus, e é da parte de Deus, declarando a palavra de Deus. Ela também é o Espírito Santo falando a palavra de Deus por intermédio da boca do homem. Isso é a Bíblia. Que é a Bíblia? A Bíblia é a palavra de Deus falada por meio do homem, movido pelo Espírito Santo. Atos 1:16 diz que o Espírito Santo profetizou na Escritura pela boca de Davi. Isso nos mostra que não apenas o Espírito Santo falou por boca de homem, mas também que a palavra assim falada é a Bíblia. Portanto, a Bíblia e a inspiração do Espírito Santo são reunidas aqui. A Bíblia é simplesmente o Espírito Santo falando a palavra de Deus pela boca do homem.

Mateus 4:4 diz: "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus". A palavra que procede da boca de Deus é cada uma das palavras da Bíblia. Assim, a Bíblia nada mais é que a palavra que procede da boca de Deus.

Portanto, podemos chegar a uma conclusão muito clara, simples e precisa: a Bíblia é a palavra de Deus falada por Seu Espírito Santo pela boca do homem.

A. Explica o Próprio Deus

A Bíblia são as palavras de Deus. Primeiro, essas palavras explicam o próprio Deus. Todas as palavras são para explicação e expressão. As palavras da Bíblia são para expressão e explanação do próprio Deus. Se a pessoa não lê ou não entende a Bíblia, ela não entenderá nem conhecerá a Deus. Por exemplo: se você

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hoje não entende a língua chinesa, você não me conhecerá como pessoa. Você pode ouvir minha voz, mas não saberá o que estou expressando. A Bíblia, como a palavra de Deus, antes de tudo explica e expressa o próprio Deus.

B. Explica o Desejo de Deus

A Bíblia também explica o desejo de Deus. Ela explica o que está no coração de Deus, o que Ele deseja, o que Ele almeja, o que Ele ama e o que odeia. Todos os interesses e desejos de Deus são explicados na Bíblia. Graças a Deus que temos tal Bíblia. Se a lermos de capa a capa, conheceremos o desejo de Deus. Este livro não somente expressa o próprio Deus, como também expressa Seu desejo.

C. Explica o Plano de Deus A Bíblia também explica o plano de Deus. Deus é um Deus que não somente tem desejo e emoção; Ele também é um Deus de plano e realização. Se lermos toda a Bíblia cuidadosamente, entenderemos o que Deus planeja fazer no universo. Por intermédio da Bíblia podemos entender o plano de Deus.

D. Explica a Origem do Universo. e de Todas as Coisas

A Bíblia também explica a origem do universo e de todas as coisas. Como foi criado o universo com todas as coisas que ele contém? Como é que elas surgiram, e qual o seu fim no futuro? Tudo isso está claramente explicado na Bíblia. O mistério do universo é esclarecido na Bíblia. Sem a Bíblia ninguém pode entender o universo. O universo é, sem dúvida, um mistério e é incompreensível para o homem. Embora muitos astrônomos, geólogos e outros tipos de cientistas tenham realizado muitas pesquisas, eles não conhecem a finalidade do universo. Precisamos da Bíblia para explicar o mistério do universo. A Bíblia explica essas quatro coisas principais. Sem dúvida, se quisermos dizer mais, podemos dizer que ela também explica a condição do homem e mostra o caminho para a salvação do homem. Mas essas coisas podem ser incluídas nos quatro itens principais anteriores. Ela explica o próprio Deus, explica o desejo de Deus, explica o plano de Deus. (O desejo e o plano de Deus incluem a redenção de Deus.) Ela também explica o universo.

A BÍBLIA É A REVELAÇÃO DE DEUS Uma vez que a Bíblia é a palavra de Deus, ela é a revelação de Deus. Como já mencionamos anteriormente, a palavra é a expressão e a explicação. Como ela é a expressão e a explicação, ela é uma revelação. A Primeira Epístola de Pedro 1:10-12 diz que os profetas que escreveram a Bíblia receberam revelação de Deus. Revelação, no texto original, significa remover o véu e revelar o mistério que está dentro. A Bíblia é a revelação de Deus. Ela revela o próprio Deus, Seu desejo, Seu plano e a origem do universo. Por meio da Bíblia é-nos mostrado o próprio Deus, Seu desejo, Seu plano e a origem do universo. Se entendermos a Bíblia, veremos o próprio Deus, Seu desejo, Seu plano e a origem, a história e o fim do universo, ou seja, a história completa do universo. A Bíblia inteira é a revelação de Deus. Quando Deus remove todo o véu e nos desvenda o que está dentro, temos a Bíblia.

A BÍBLIA É O SOPRO DE DEUS

A Bíblia também é o sopro de Deus; é a expiração do próprio Deus. A Segunda Epístola a Timóteo 3: 16 nos diz que toda a Escritura é inspirada por Deus. "Inspirada", no original grego, significa "soprada". Daí, alguns terem traduzido essa palavra para o inglês por "soprada". A Bíblia é o sopro de Deus, da mesma maneira que o meu falar esta manhã é o meu sopro. Desculpe-me, por favor, por falar algo de mim mesmo. Desde as cinco e meia da manhã, quando me levantei, tenho estado cheio de encargo interiormente. Gostaria que as oito e meia chegasse mais cedo, de maneira que eu pudesse soprar para fora este assunto. Que estava em mim? A palavra. Como eu poderia descarregar meu sentimento, as coisas que estavam no meu interior e a palavra que estava em mim? Expirando. O que estou falando é minha própria expiração. Da mesma maneira, a Bíblia é a palavra de Deus. Ela também é a expiração de Deus.

A. Tem o Elemento de Deus Uma vez eu a Bíblia é a expiração de Deus, ela contém o elemento de Deus. Não ouso dizer que a Bíblia é Deus. Entretanto, tenho a ousadia de falar que se você toca o espírito na Bíblia, você toca o próprio Deus. Isso é algo que não podemos imaginar ou compreender plenamente com a nossa mente. Mas é uma

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realidade em nosso espírito. Você não sente muitas vezes, quando lê a Bíblia, que está tocando Deus? Não podemos dizer que a Bíblia é Deus. Se o dissermos seremos quase que supersticiosos. Mas temos de admitir que, em espírito, certamente tocamos o próprio Deus quando tocamos o espírito da Bíblia. Não se trata apenas de estar na presença de Deus, mas é uma questão de tocar o próprio Deus. Quando você toca o espírito da Bíblia, você toca o próprio Deus. Por que isso ocorre dessa maneira? Porque a Bíblia é a expiração do próprio Deus. Ela é Deus soprando-se a Si mesmo por meio das palavras. Portanto, temos de admitir que nesse soprar existe o elemento de Deus. A Bíblia é o sopro de Deus. Isso quer dizer que a Bíblia não são apenas palavras sopradas por Deus, mas é o próprio Deus soprado em Sua palavra. Portanto, na palavra há o elemento de Deus. Essa é a diferença entre a Bíblia e outra palavra qualquer. Não há o elemento de Deus em outras palavras, ao passo que, na palavra da Bíblia, há o elemento de Deus. A Bíblia é a palavra de Deus. Ela é, não somente o soprar de Deus, mas é o próprio Deus soprado na palavra. Assim, nesse soprar existe o elemento de Deus. Uma vez que você toca esse sopro, você toca o elemento de Deus. Por essa razão, muitas vezes quando lemos a Bíblia não apenas sentimos a presença de Deus, mas sentimos que contatamos e tocamos Deus em nosso interior.

B. Tem o Sabor de Deus Nesse sopro há o sabor de Deus. Uma vez que há o elemento de Deus, há o sabor de Deus. É difícil descrever sabor. Quem pode descrever qual é o sabor da doçura? Embora ninguém consiga fazê-lo, tal sabor existe. Da mesma maneira, na Bíblia há o sabor de Deus. Quando lemos a Bíblia e tocamos Deus em nosso espírito, de fato sentimos o sabor de Deus. Você pode me perguntar como é esse sabor de Deus. Eu diria que não consigo descrevê-lo. Tudo o que sei é que eu toquei a doçura de Deus e experimentei Seu sabor. É por essa razão que, muitas vezes, quando lemos a Bíblia, temos alegria. Quando lemos livros e jornais do mundo, pode ser que, às vezes, haja coisas que nos alegrem. Mas não é o mesmo tipo de alegria, nem na mesma intensidade, de quando lemos a Bíblia. Quando lemos a Bíblia e tocamos Deus no espírito, temos a profunda percepção interior de que absorvemos Deus. Temos a sensação de que comemos Deus, bebemos Deus e desfrutamos Deus. Se você nunca tem esse tipo de sentimento quando lê a Bíblia, você deve estar lendo a Bíblia de uma maneira morta. Você está lendo apenas as letras e não tocou o sopro de Deus nelas. Essa não é a maneira adequada de ler a Bíblia. Se ler a Bíblia adequadamente, você não apenas sentirá que tocou Deus, mas também sentirá que provou Deus. Se ler a Bíblia de maneira adequada, não apenas sentirá a presença de Deus, mas terá o sentimento de estar tocando Deus. Você também terá a doce sensação de haver provado o próprio Deus. Irmãos, a Bíblia é o sopro de Deus. Deus sopra a Si mesmo de tal maneira que podemos respirá-lo. Quando O inspiramos como nosso desfrute, sentimos um sabor especial. É mais que um sentimento de descanso, de paz, de alegria ou de doçura. É algo além da descrição das palavras humanas. A maior alegria ou bênção de ser um cristão é tocar e provar o próprio Deus por meio da palavra soprada por Ele. Isso é alimentar-se espiritualmente. Dessa maneira seremos alimentados e estaremos satisfeitos. Não lemos a Bíblia somente para ser iluminados, ensinados ou instruídos. Há algo mais elevado e mais profundo que isso: tocar o próprio Deus em nosso interior. A Bíblia não é meramente o pensamento, a doutrina, a verdade ou o ensinamento de Deus. A palavra da Bíblia é o sopro de Deus. É o próprio Deus soprando-Se. Ele mesmo está no sopro e na palavra. Portanto, não devemos entender a palavra apenas com a nossa mente. Isso não é suficiente. Temos de aprender a usar nosso espírito para contatar essas palavras; temos de tocar o sopro de Deus e o elemento de Deus nas palavras. Quando temos tal contato, não apenas sentiremos que estamos na presença de Deus, e não apenas teremos tocado Deus, mas também sentiremos que provamos Deus; Ele se tornará nosso desfrute interior. Sempre que temos uma boa leitura da Bíblia, temos um bom comer e beber. Isso nos satisfará interiormente e verdadeiramente teremos provado a doçura do próprio Deus. Uma vez que a Bíblia é o sopro de Deus, ela contém o elemento e o sabor de Deus. Portanto, todo aquele que a tocar sentirá que tocou o próprio Deus.

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A BÍBLIA É A CORPORIFICAÇÃO DE DEUS ESPÍRITO

Deus é Espírito. O Espírito, entretanto, é muito abstrato. É tão abstrato como as ondas de rádio no ar. É difícil ao homem tocá-Lo ou entendê-Lo. Mas a Bíblia é a corporificação desse Espírito. O Senhor Jesus disse em João 6:63 que as palavras que Ele fala são espírito. Isso nos mostra que a palavra de Deus é a corporificação do Espírito de Deus. É como um rádio receptor captando as ondas radiofônicas que estão no ar; o rádio receptor torna-se a corporificação das ondas radiofônicas. Quando as ondas de rádio estão no ar, nós não as ouvimos, nem as tocamos, nem as entendemos. Assim que são captadas pelo aparelho receptor, as ondas de rádio tornam-se manifestas diante de nós. O que era abstrato torna-se real. Podemos sentir, ouvir e entender. Assim, podemos dizer que o rádio receptor é a corporificação das ondas de rádio. No mesmo princípio, se houvesse apenas Deus Espírito no universo e não existisse a Bíblia, Deus seria como as ondas de rádio; não seríamos capazes de a1cançá- Lo ou de encontrá-Lo. Mas graças a Deus porque Sua palavra está aqui. Essa palavra é a corporificação Dele mesmo. Deus Espírito está contido na palavra. É por isso que o Senhor Jesus disse que Sua palavra é espírito. Da mesma maneira, podemos dizer que a palavra na Bíblia é o Espírito. Para tornar isso mais claro, podemos dizer que a Bíblia é a corporificação do Espírito.

A. A Expressão de Deus Espírito Além de ser a corporificação de Deus Espírito, a Bíblia também é a expressão de Deus Espírito. Deus Espírito é expresso pela Bíblia como Sua corporificação. Desde o dia em que ouviu o evangelho até hoje, quantas vezes você foi movido pelo Espírito Santo à parte da palavra de Deus? Provavelmente pouquíssimas vezes. Quase todas as vezes que somos movidos pelo Espírito Santo, é por meio da palavra de Deus. O Espírito Santo nunca nos estimula à parte da palavra. Às vezes, é por meio de um versículo que você leu na Bíblia; às vezes, é por lembrar-se de um versículo que leu; às vezes é por meio de palavras que combinam com a Bíblia, em princípio. Tudo isso são palavras. Embora você seja movido pelo Espírito Santo, nesses casos é difícil separar o Espírito Santo da palavra. É difícil você dizer se é movido pela palavra ou pelo Espírito Santo, porque, nessa hora, o Espírito Santo está na palavra. A palavra é a corporificação e a expressão do Espírito Santo. Sem dúvida, admitimos que muitas vezes podemos ter a palavra sem o Espírito. É como ter um rádio sem as ondas de rádio. Evidentemente, isso é vão. Admitimos que muitas pessoas lêem a Palavra de Deus em vão. Mas também ocorre muitas vezes que, ao abrirmos um pouco a Palavra de Deus, o Espírito Santo vem. O Espírito Santo está na palavra, e a palavra é a expressão do Espírito Santo. De qualquer maneira, é difícil sermos movidos pelo Espírito Santo sem a palavra de Deus. Falando com outras palavras, raramente somos movidos pela palavra sem o mover interior do Espírito Santo. Sob circunstâncias normais, não se pode separar Deus Espírito da Bíblia, uma vez que a Bíblia é a corporificação e expressão de Deus Espírito. Note, por favor, que é a corporificação de Deus Espírito, e não a corporificação do Espírito Santo. Isso significa que o Espírito é Deus e que Deus é o Espírito.

B. A Habitação de Deus Espírito

A Bíblia como corporificação de Deus Espírito não é somente Sua expressão, mas também Sua habitação. Deus Espírito mora em Sua palavra. Pela nossa experiência sabemos que isso é verdadeiro. Muitas vezes, quando lemos a Bíblia, tocamos Deus Espírito. Isso ocorre porque a Bíblia é a habitação de Deus Espírito. Ela é o lugar onde Deus Espírito reside.

C. O Instrumento de Deus Espírito Há, ainda, outro aspecto. A Bíblia é o instrumento de Deus Espírito. Tudo o que Ele faz para nós é por meio da Bíblia. Tudo o que Deus faz em relação a nós e tudo o que Ele quer que façamos, é feito por intermédio de Sua palavra. A palavra é a corporificação de Deus Espírito. Portanto, ela também é a expressão, a habitação e o instrumento de Deus Espírito. Sob circunstâncias normais, sempre que tocamos a palavra na Bíblia, deveríamos receber, tocar e sentir o mover de Deus Espírito e deveríamos contatar o próprio Deus.

Isso é a Bíblia. Que é a Bíblia? A Bíblia é a palavra de Deus, a revelação de Deus, o sopro de Deus e a corporificação de Deus Espírito.

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Capítulo 2

A COMPLETAÇÃO DA BÍBLIA

Neste capítulo, consideraremos como a Bíblia foi completada, do ponto de vista histórico. Também consideraremos quando ela foi escrita e como foi aceita depois de ter sido escrita. Embora sejam apenas fatos, isso está intimamente relacionado conosco como cristãos.

ANTES DE A BÍBLIA TER SIDO ESCRITA

A. Sem a Revelação Escrita de Deus

Nos primeiros dois mil e quinhentos anos da história da humanidade, não havia revelações escritas de Deus. Havia apenas Suas instruções verbais, como as que falara aos patriarcas, incluindo Adão, Abel, Noé, Abraão, Isaque e Jacó. Em Gênesis vemos que antes de a Bíblia ser escrita, Deus freqüentemente aparecia aos antepassados e lhes dava instruções verbais.

B. Instruções Transmitidas Oralmente Antes de a Bíblia ser escrita, embora não houvesse revelações escritas de Deus, havia instruções orais, transmitidas de geração a geração pelos patriarcas. Esse fato pode ser provado a partir de tábuas de pedra entalhadas, descobertas no Egito e em Babilônia. Em 1901, foi descoberta na Pérsia uma coluna negra, sobre a qual estavam inscritas algumas leis dos tempos antigos. Algumas delas eram semelhantes à Lei de Moisés, muito embora essa coluna tenha sido inscrita cerca de quinhentos a seiscentos anos antes de Moisés. Isso prova que antes de a Bíblia ter sido escrita, entre as civilizações antigas, havia instruções verbais de Deus que eram passadas adiante por seus antepassados.

C. As Línguas Antigas

Se quisermos conhecer como a Bíblia foi escrita, precisamos saber algo a respeito das línguas e alfabetos usados pelas civilizações antigas.

1. Acadiano

Não se sabe que tipo de língua o homem utilizava antes do dilúvio. Segundo pesquisas históricas, a língua mais antiga falada pelo homem após o dilúvio é proveniente da Acádia, na região noroeste da antiga Babilônia e é chamada de acadiano. Os três termos: Adão, Éden e Sabat1, no livro de Gênesis, capítulo dois, provavelmente, são acadianos e não hebraicos. O acadiano, originalmente, era formado de linhas. Essas linhas eram traça das em forma de cunha. Por fim, essa escrita desenvolveu-se para a chamada escrita cuneiforme. Essa escrita foi usada até aproximadamente dois mil anos antes de Cristo, mais ou menos à época de Abraão.

2. A Escrita Babilônica da Tribo de Sem

A partir de uns dois mil anos antes de Cristo, a escrita babilônica da tribo de Sem substituiu o acadiano. Cremos que essa é a origem da língua aramaica, que surgiu mais tarde. Esse tipo de escrita foi usado até aproximadamente seiscentos anos antes de Cristo, na época em que Nabucodonosor governou sobre Babilônia.

C. A Língua de Canaã e a Língua Hebraica

A terra natal de Abraão era Ur dos caldeus (Gn 11:31); ela ficava em Babilônia. As pessoas ali eram descendentes da tribo de Sem, e a língua que eles usavam era a língua babilônica, como mencionado anteriormente. Quando Abraão foi chamado por Deus para ir a Canaã, todos os historiadores concordam que ele teria naturalmente abandonado sua língua nativa babilônica de Sem, e assimilado a língua local de Canaã. Essa língua de Canaã provavelmente veio a tornar-se a língua hebraica, ou parte dela. Alguns estudiosos têm considerado a "língua de Canaã" em Isaías 19:18 como a língua usada pelos israelitas, descendentes de Abraão. Os historiadores postulam que uma grande porção da língua hebraica subseqüente foi desenvolvida a partir dessa língua de Canaã.

4. Aramaico Aproximadamente seiscentos anos antes de Cristo, os israelitas foram levados cativos pelos babilônios à Babilônia. Eles permaneceram ali por longo tempo. Espontaneamente, eles deixaram o hebraico e

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adotaram o aramaico, que era a língua dos caldeus. Após seu retorno do cativeiro, a história nos conta que eles ainda usavam a língua aramaica. Na época do Senhor Jesus, os romanos já haviam ocupado a terra de Israel, e, embora o grego fosse a língua comumente usada no império romano, os judeus ainda usavam o aramaico entre si. Somente os rabinos falavam e liam as Escrituras em hebraico, nas sinagogas. Se houvesse alguns na sinagoga que não entendessem o hebraico, haveria alguém para traduzir para o aramaico. Muitos historiadores têm postulado que a língua utilizada pelo Senhor Jesus para falar às pessoas diariamente, provavelmente era o aramaico e não o hebraico. As palavras que Ele falou em Marcos 5:41: "Talita cumi" e em 15:34: "Eloí, Eloí, lamá sabactâni" eram aramaicas.

5. Grego

Após o império romano ter conquistado as terras em torno do mar Mediterrâneo e ter espalhado a cultura grega por toda parte, o grego tornou-se a língua vernácula comum, usada por todos os povos no império romano naquela época. Todas essas línguas estão, direta ou indiretamente, relacionadas à completação da Bíblia.

AS LÍNGUAS UTILIZADAS NA BÍBLIA

A. Hebraico

A parte principal do Antigo Testamento foi escrita em hebraico.

B. Aramaico

No Antigo Testamento, há quatro passagens que foram escritas em aramaico. Elas são: Jeremias 10:11, Daniel 2:4 -7:28, Esdras 4:8 - 6:18 e 7:12-26. Essas quatro porções estão absolutamente relacionadas ao povo aramaico (isto é, aos babilônios). É por isso que a Bíblia usou o aramaico em vez do hebraico.

C. Grego Todo o Novo Testamento foi escrito na língua grega. Algumas sentenças nele foram escritas em aramaico. Elas são as já mencionadas: "Talita cumi" e "Eloí, Eloí, lamá sabactâni" .

OS AUTORES DA BÍBLIA E OS LUGARES EM QUE FOI ESCRITA

A. O Antigo Testamento

O Pentateuco de Moisés - Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio - foi escrito por Moisés. Moisés foi criado no palácio. Ele era erudito, político e líder militar. Segundo o mundo, ele também era um líder religioso. O Pentateuco foi escrito por ele no monte Sinai, no deserto. O livro de Josué foi escrito por Josué. Ele era um líder militar e político. Escreveu a maior parte de seu livro em Canaã, e uma pequena porção nas planícies de Moabe. Há muita controvérsia a respeito da autoria do livro de Juízes, e é difícil de ser verificada. Entretanto, muitas autoridades têm afirmado que ele foi escrito por Samuel. O livro de Rute está conectado, quanto à época e à história, ao livro precedente de Juízes e aos livros de Samuel, que vêm a seguir. Portanto, é muito provável que ele tenha sido escrito por Samuel. Os primeiros vinte e quatro capítulos de 1 Samuel foram provavelmente escritos por Samuel. O capítulo vinte e cinco, versículo um, diz que Samuel faleceu. Portanto, a partir do capítulo vinte e cinco de 1 Samuel e todo o livro de 2 Samuel com certeza não foram escritos por ele. O primeiro livro das Crônicas 29:29 diz que, quanto aos atos de Davi, havia não apenas os registros de Samuel, mas também as crônicas dos profetas Natã e Gade. Estudiosos da Bíblia concluíram, a partir desse versículo, que os registros nos livros de Samuel, após a morte deste, devem ter sido continuados pelos profetas Natã e Gade. Por que 2 Samuel foi chamado por esse nome, embora não tenha sido escrito por Samuel? Isso ocorre porque esses dois livros formam um único grupo histórico. Portanto, o autor ou os autores continuaram a escrever, a partir do capítulo vinte e cinco de 1 Samuel até o final de 2 Samuel. Além disso, no original do

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Antigo Testamento hebraico, os dois livros de Samuel constituíam um único livro e não dois. Foi somente quando o Antigo Testamento foi traduzido para o grego, na Septuaginta, que Samuel foi dividido em primeiro e segundo livros, porque era muito extenso e difícil de ser contido em um único rolo. Samuel era um nazireu consagrado a Deus. Ele se tornou sacerdote, e também juiz e profeta. Além disso, ele introduziu a realeza. É certo que seu livro foi escrito em Canaã. Natã e Gade eram profetas. É certo que seus registros foram escritos em Canaã. Os livros de 1 e 2 Reis eram um único livro no Antigo Testamento hebraico. Eles também foram divididos pela Septuaginta. É difícil para os estudiosos da Bíblia afirmarem quem escreveu os livros dos Reis, mas alguns acham que foi Jeremias. Os livros de 1 e 2 Crônicas também eram um só livro no Antigo Testamento hebraico. Ele também foi dividido pela Septuaginta. Muitas autoridades em geral afirmam que esse livro foi escrito por Esdras. Se compararmos o final de Crônicas e o início de Esdras, veremos que o estilo, a gramática e as frases são muito parecidas e devem ter sido compostos pelo mesmo autor. Portanto, tem se afirmado que as Crônicas foram escritas por Esdras. O livro de Esdras seguramente foi escrito por Esdras. Ele era um escriba muito versado e sacerdote. Ele conhecia muito bem as leis de Deus e, portanto, também era um mestre da lei. Seus livros foram escritos em Jerusalém. O livro de Neemias certamente foi escrito por Neemias. Esdras era descendente de Levi, a tribo dos sacerdotes. Neemias era descendente de Judá, a tribo dos reis. Um cuidava da religião e o outro da política. Naquele tempo, o Império Persa tratava a Judéia como uma província, e Neemias tornou-se o governador da Judéia. Seu livro também foi escrito em Jerusalém. É difícil afirmar a autoria do livro de Ester. Provavelmente Mordecai tenha sido o autor, porque em 9:20 e 23 é mencionado que Mordecai escreveu aqueles acontecimentos. Ele era alguém que amava a Deus e amava aos judeus. Se esse livro foi escrito por ele, foi escrito na cidade gentia de Susan. Há uma polêmica maior quanto à autoria do livro de Jó. Os fatos registrados nesse livro ocorreram antes da época de Moisés e podem ter sido contemporâneos a Abraão, aproximadamente dois mil anos antes de Cristo. Alguns dizem que foi escrito por Eliú e outros dizem que provavelmente Moisés foi o autor. Entre os salmos, há alguns que não fazem menção do autor, mas a autoria da maioria deles está identificada. Entre os cento e cinqüenta salmos, pelo menos setenta e três estão claramente identificados como Salmos de Davi. Além desses, há outros que, embora não contenham o nome do autor, foram claramente escritos por Davi. Portanto, Davi escreveu o maior número de salmos, quase cem. Além de Davi, outros escreveram salmos, como: Asafe, Hemã, Etã, os filhos de, Coré, Salomão e Moisés. Portanto, pelo menos sete autores são claramente identificados. Os filhos de Coré refere-se, provavelmente, a mais de uma pessoa, pois está no plural nos manuscritos. Todos os salmos desses autores foram provavelmente escritos na terra de Israel. Davi primeiramente foi um pastor e depois um rei. Vários de seus salmos foram escritos enquanto ele estava sendo perseguido no deserto. Alguns foram escritos quando ele reinava no palácio. Quanto a Asafe, Hemã e Etã, não temos muita clareza. Pode ser que eles fossem pessoas comuns. Os filhos de Coré eram descendentes de Coré. Os estudiosos da Bíblia admitem que esse Coré é o Coré registrado em Números 16, como o líder da rebelião contra Deus. Entretanto, da descendência desse rebelde surgiram pessoas tão piedosas e que amavam a Deus. Eles não quiseram divulgar seus próprios nomes; antes preferiram mostrar a grandeza da graça de Deus, reconhecendo que eram descendentes daquele que fora rebelde a Deus. A maior parte do livro de Provérbios foi escrita por Salomão. Há algumas palavras de Agur e Lemuel. Portanto, Provérbios foi escrito por, pelo menos, três pessoas. Salomão foi o rei mais glorioso e sábio da história da humanidade. Todos os seus livros foram escritos em Jerusalém. Agur pode ter sido uma pessoa comum e Lemuel era um rei.

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O livro de Eclesiastes foi escrito por Salomão. O Cântico dos Cânticos de Salomão também foi escrito por Salomão. São dezessete os livros dos profetas, de Isaías a Malaquias. Eles foram escritos por dezesseis profetas, com os livros de Jeremias e Lamentações escritos por Jeremias. Isaías era um ministro do rei e também um historiador (2 Cr 26:22; 32:32). Seu livro foi escrito na capital Jerusalém. Jeremias nasceu sacerdote e tornou-se profeta. Ele passou a maior parte de seu tempo na Judéia e o último período no Egito. Ezequiel era um sacerdote que se tornou profeta. Ele escreveu o livro de Ezequiel na terra do cativeiro em Babilônia. Daniel era da tribo de Judá. Seu livro deve ter sido escrito na terra do cativeiro, em Babilônia e em Ulai. Amós foi o mais peculiar dos dezesseis profetas. Ele era pastor de ovelhas, cuidava de amor eiras e, provavelmente, não tenha recebido muita educação. Seu livro deve ter sido escrito na terra de Israel. Jonas provavelmente escreveu seu livro em Nínive. Sofonias era descendente de reis e tornou-se profeta. Seu livro foi escrito na terra da Judéia. Zacarias também foi um sacerdote que se tornou profeta. Seu livro também foi escrito na terra da Judéia. Além desses, Oséias, Joel, Obadias, Miquéias, Naum, Habacuque, Ageu e Malaquias, oito ao todo, muito provavelmente eram pessoas comuns que se tornaram profetas. Seus livros foram escritos ou na Judéia ou na terra de Israel. Há, portanto, pelo menos, trinta e dois autores do Antigo Testamento, de Moisés a Malaquias. Se Jó foi escrito por Eliú, e se mais de um dos filhos de Coré escreveu, serão mais de trinta e dois os autores. Entre eles, com exceção de Eliú, o provável autor gentio, e Agur e Lemuel, cujas origens tribais são desconhecidas, todos os demais eram israelitas. Entre esses autores do Antigo Testamento, havia pessoas de níveis e antecedentes diversos. Havia estudiosos, religiosos, políticos, líderes militares, reis, sacerdotes, profetas, pessoas comuns, pastores e fazendeiros. Uns eram altamente educados, e outros sem muita cultura. Uns foram perseguidos e oprimidos, e outros desfrutaram glória e honra. Uns viviam em Israel, outros estavam em terras gentias no cativeiro.

B. O Novo Testamento O Evangelho de Mateus foi escrito por Mateus. Ele, originalmente, era um coletor de impostos e sua origem não era honrada. O Senhor chamou-o para ser um dos doze apóstolos. Seu Evangelho foi, provavelmente, escrito na Judéia. O Evangelho de Marcos foi escrito por Marcos. Ele era um discípulo muito comum. Seu Evangelho provavelmente foi escrito em Roma. O Evangelho de Lucas foi escrito por Lucas. Ele era um médico gentio. Seu Evangelho provavelmente foi escrito em terras gentias. O Evangelho de João foi escrito por João. João era um pescador na Galiléia e não era muito culto. Mas ele também foi chamado pelo Senhor para ser um dos doze apóstolos. Seu Evangelho foi, provavelmente, escrito em um país gentio. Os Atos dos Apóstolos também foram escritos por Lucas, o médico. Esse livro foi, provavelmente, escrito também em um país gentio. Os catorze livros, de Romanos a Hebreus, foram escritos por Paulo. Ele, em sua origem, era zeloso pelo judaísmo e também era uma pessoa muito culta. Ele tinha capacidade, habilidade e competência, e podia

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realizar coisas. Ele foi especialmente chamado pelo Senhor, ainda jovem, para tornar-se um apóstolo para os gentios. Seus livros foram todos escritos em terras gentias e alguns foram escritos em uma prisão romana. A Epístola de Tiago foi escrita por Tiago. Ele era irmão de sangue do Senhor Jesus (Gl 1:19) e era um cristão devoto que tornou-se uma coluna na igreja (2:9), mas que era cheio de judaísmo, proveniente de seu passado. Seu livro foi provavelmente escrito em Jerusalém. A primeira e segunda Epístolas de Pedro foram escritas por Pedro. Pedro também era um pescador inculto, mas ele foi chamado pelo Senhor para se tornar o primeiro dos doze apóstolos. Seus livros foram, provavelmente, escritos em um país gentio. As três Epístolas de João foram escritas pelo apóstolo João. Todas devem ter sido escritas em terras gentias. O livro de Judas foi escrito por Judas. Ele também era um irmão consangüíneo do Senhor. Ele pode ter escrito esse livro na Judéia. O livro de Apocalipse também foi escrito pelo apóstolo João. Foi escrito em terras gentias, provavelmente na ilha de Patmos. Portanto, há oito autores do Novo Testamento. Entre eles, Paulo era um judeu erudito e Lucas um médico gentio. Eles foram os únicos a terem recebido educação elevada. Os demais eram todos pessoas comuns, sem muita cultura. O número de autores de toda a Bíblia é maior que quarenta, e a maioria deles era de judeus. Lucas era um gentio. Isso mostra que entre os autores havia judeus e gentios, reis e pessoas comuns, escribas e soldados, pessoas cultas e incultas. Alguns tinham posições elevadas e outros, bem humildes; uns eram ricos e outros eram pobres. Há todo tipo de pessoas. Quanto aos lugares onde foram escritos os livros, uns foram escritos no deserto, outros em um palácio, outros em uma ilha e outros na prisão.

IV. QUANDO A BÍBLIA FOI ESCRITA

Os primeiros livros do Antigo Testamento, o Pentateuco de Moisés, foram escritos por volta do ano 1500 a.e. O último livro, Malaquias, foi escrito próximo ao ano 400 a. e. Portanto, os trinta e nove livros do Antigo Testamento foram completados em um período de mil e cem anos.

Mateus, o primeiro livro do Novo Testamento, foi escrito entre os anos 37 e 40 d. e. Apocalipse, o último livro, foi escrito entre 94 e 96 d.e. Portanto, todo o Novo Testamento foi concluído em um prazo de aproximadamente cinqüenta anos. Portanto, toda a Bíblia foi completada em um período de mil e quinhentos a mil e seiscentos anos, do princípio ao fim, de Gênesis a Apocalipse.

V. O RECONHECIMENTO DA AUTORIDADE DA BÍBLIA

O Antigo Testamento

1. O Pentateuco de Moisés

Entre os escritos do Antigo Testamento, o Pentateuco foi sempre reconhecido pelos judeus, como sendo proveniente de Deus e tendo autoridade absoluta e divina. Isso porque ele foi a revelação escrita de Deus a Moisés, e foi transmitida por seus antepassados. Embora os judeus reconheçam que todo o Antigo Testamento é de Deus, eles conferem ao Pentateuco de Moisés uma posição especial. Atualmente, em todas as sinagogas judaicas, por todo o mundo, há, pelo menos, duas ou três cópias do Pentateuco de Moisés. Pode ser que eles não tenham outros livros do Antigo Testamento, mas sempre têm o Pentateuco. Conseqüentemente, os samaritanos reconheceram somente o Pentateuco de Moisés. É claro que a religião dos samaritanos é distorcida, mas isso prova a autoridade do Pentateuco de Moisés entre os antigos adoradores de Deus.

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2. Os Outros Livros Os outros livros do Antigo Testamento foram gradualmente reconhecidos pelo povo de Deus como provenientes de Deus, devido ao seu próprio valor e autoridade. Um autor colocou essa questão muito bem ao fazer a seguinte afirmação: "Não é necessário chamar uma árvore por seu nome. Ela apenas necessita crescer gradualmente, florescer e dar frutos. Então, espontaneamente, os homens reconhecerão que tipo de árvore ela é. Da mesma maneira, se os demais livros do Antigo Testamento vieram ou não de Deus, a melhor resposta vem do tempo; não é necessária nenhuma declaração explícita. Os valores e a autoridade dos livros espontaneamente se manifestam". Isso é verdade. Todos os escritores inspirados entre o povo de Deus, depois do Pentateuco, tiveram seus escritos reconhecidos como provenientes de Deus por um longo período de testes e pela identificação de autoridade neles. Por volta do ano 457 a.C., o escriba Esdras compilou o Pentateuco de Moisés e os demais escritos autorizados, comumente reconhecidos entre o povo de Deus, que viriam a se tornar o Antigo Testamento (os livros de Neemias e Malaquias não foram incluídos porque ainda não tinham sido escritos). O historiador judeu ]osefo e outros historiadores gentios confirmam esse fato. Depois de Esdras, houve um grupo de escribas entre os judeus chamados de "A Grande Sinagoga" que continuou esse trabalho de compilação e averiguação. Em 400 a.C., eles completaram a compilação de todos os livros que temos hoje no Antigo Testamento. Entretanto, em seu trabalho não havia trinta e nove livros, mas vinte e quatro. Mais tarde falaremos a respeito. Portanto, por volta do ano 400 a.C. as escrituras do Antigo Testamento estavam não apenas completas, como também reconhecidas e confirmadas. De qualquer modo, cerca de 277 a.C., no mais tardar, quando a tradução do Antigo Testamento para o grego, chamada de Septuaginta, foi realizada, todos os livros do Antigo Testamento já deviam estar reconhecidos.

B. O Novo Testamento

1. Os Evangelhos

As primeiras igrejas freqüentemente liam os Evangelhos e o Antigo Testamento em suas reuniões. Portanto, os quatro Evangelhos foram os primeiros livros a serem reconhecidos no Novo Testamento.

2. Os Demais Livros

Depois de os apóstolos terem morrido, houve alguma confusão pelo fato de algumas pessoas terem escrito livros em nome dos apóstolos. Então, os líderes das igrejas primitivas, os chamados "Pais da igreja", reuniram todos os livros escritos pelos apóstolos e os reuniram com os Evangelhos. Não muito tempo depois que Policarpo foi martirizado, o N ovo Testamento era reconhecido basicamente da mesma maneira em todas as igrejas. Entretanto, ainda havia desacordo quanto aos sete livros: Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse, se deviam ou não ser incluídos. Como esses livros foram verdadeiramente inspirados pelo Espírito Santo e têm autoridade e valor espiritual, após um longo período de teste, em um concílio de líderes de todas as igrejas, os sete livros foram reconhecidos como parte do Novo Testamento, no ano 397, em Cartago, no norte da África. O Novo Testamento foi reconhecido contendo os mesmos vinte e sete livros que temos hoje. Portanto, no ano 397, no Concílio de Cartago, toda a Bíblia, incluindo o Antigo e o Novo Testamento, foi reconhecida e confirmada pelo povo de Deus.

VI. OS LIVROS DA BÍBLIA E SUA SEQÜÊNCIA

A. O Antigo Testamento O arranjo que temos agora dos livros do Antigo Testamento não era a seqüência original do Antigo Testamento hebraico. Em vez disso, esta foi a seqüência adotada na Septuaginta. Em 277 a.C., setenta escribas traduziram o Antigo Testamento para o grego, e reorganizaram a seqüência dos livros. Eles foram arranjados muito adequadamente, segundo o contexto espiritual, e os estudiosos da Bíblia reconhecem a soberania de Deus nesse arranjo.

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O Antigo Testamento hebraico original era dividido em três partes, conforme falado pelo Senhor em Lucas 24:44 e 27. Essas três partes eram: as Leis de Moisés, os Profetas e os Salmos.

1. As Leis de Moisés

As leis de Moisés consistiam do Pentateuco de Moisés, cinco livros ao todo.

2. Os Profetas

Os Profetas eram divididos em Primeiros Profetas e Profetas Posteriores. Os Primeiros Profetas eram formados por quatro livros: Josué,Juízes, Samuel (sem distinção de 1 ° e 2° livros) e Reis (sem distinção de 1 ° e 2° livros), nessa ordem. Os Profetas Posteriores também consistiam de quatro livros: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Profetas Menores. (Os doze livros proféticos restantes, excluindo Lamentações e Daniel, foram combinados em um único livro denominado de Profetas Menores.)

3. Os Salmos ou Demais Escritos

Os Salmos, ou demais escritos, incluíam muitos livros, num total de onze: Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras e Neemias (Esdras e Neemias eram contados corno um único livro), e Crônicas (sem distinção de 1 ° e 2° livro). Os cinco livros da Lei de Moisés, os oito livros dos Profetas e os onze livros dos Salmos totalizavam vinte e quatro livros. Esse era o Antigo Testamento judaico daquela época e sua seqüência. No começo da era da igreja, os "Pais da igreja" preferiram considerar o Antigo Testamento corno vinte e dois livros, para corresponder às vinte e duas letras do alfabeto hebraico. Essa divisão também foi confirmada pelo historiador Josefo. Alguns dos nomes dos livros do Antigo Testamento também foram usados pela primeira vez na Septuaginta. Originalmente, muitos livros tinham corno nome a primeira palavra do livro. Por exemplo, o nome original de Gênesis era "O Princípio". Alguns tornaram o significado do nome da pessoa proeminente daquele livro para seu nome. Por exemplo: O nome original do livro de Samuel era "Dado por Deus", o significado do nome "Samuel" (1 Sm 1:20). O nome original do livro de Isaias era "Salvação de J eová", o significado do nome "lsaias". Após a compilação da Septuaginta, esses livros foram chamados pelos nomes que utilizamos hoje.

B. O Novo Testamento

Desde o ano 397, após o reconhecimento dos livros do Novo Testamento no Concílio de Cartago, os livros e a seqüência do Novo Testamento tornaram-se o que temos hoje.

VII. OS LIVROS APÓCRIFOS (*)

A. Não Estavam na Bíblia Inicialmente

Há catorze livros apócrifos que não foram incluídos na Bíblia. Alguns pensavam que esses catorze livros foram incluídos no Antigo Testamento antes da tradução do Antigo Testamento para o grego, chamada Septuaginta em 277 a. C. Mas podemos verificar em diversas informações históricas que tal afirmação é incorreta.

1. A Prova de Josefo

O historiador judeu, Josefo, urna autoridade no assunto (nascido no ano 37 da era cristã) disse: "Nós [os judeus] não somos como os gregos, que têm muitos livros que são contraditórios entre si. Ternos apenas vinte e dois livros, incluindo os escritos do passado, devidamente reconhecidos corno divinos. Depois de tão longo tempo, ninguém jamais ousou acrescentar, retirar ou alterar esses livros". Isso prova que até mesmo na época de Josefo (século I da era cristã), o Antigo Testamento tinha apenas os vinte e dois livros, sem os catorze livros apócrifos adicionais. Portanto, afirmar que o Antigo Testamento continha os livros apócrifos antes do ano 277 a.C. não é correto.

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2. A Prova de Cirilo

Houve, em Jerusalém, um estudioso chamado Cirilo, nascido no ano 315 d.C., que disse: "Por favor, leiam a Escritura Sagrada, os vinte e dois livros do Antigo Testamento, que foram traduzidos pelos setenta e dois". Isso mostra que até mesmo em 315 d.C., as autoridades eruditas entre os judeus ainda reconheciam que o Antigo Testamento deles tinha somente vinte e dois livros. Suas palavras também provam claramente que na tradução da Septuaginta (Cirilo referiu-se aos setenta e dois, o número de estudiosos que traduziram a Septuaginta. Os historiadores não têm clareza se foram setenta ou setenta e dois.) não estavam os catorze livros apócrifos do Antigo Testamento.

3. As Provas do Senhor Jesus e dos Apóstolos

O Senhor Jesus e os apóstolos citavam freqüentemente o Antigo Testamento. Se os catorze livros apócrifos estivessem entre os livros do Antigo Testamento, o Senhor e os apóstolos os teriam citado. Entretanto, não encontramos nem sequer uma citação dos livros apócrifos. Isso prova que, no tempo do Senhor Jesus e dos apóstolos, esses livros não estavam no Antigo Testamento.

B. Foram Acrescentados ao Manuscrito do Vaticano Entre os manuscritos da Bíblia que são considerados os mais antigos do mundo, um está guardado no Vaticano, local onde mora o Papa católico romano. Esse manuscrito é chamado de Codex Vaticanus, ou Manuscrito do Vaticano. Segundo os historiadores, esse manuscrito foi terminado no século quatro da era cristã e, na parte do Antigo Testamento, que era a versão Septuaginta, foram incluídos os catorze livros apócrifos. Eles devem ter sido acrescentados depois do ano 315. Pode ter sido a discordância a esse acréscimo que levou a Igreja Ortodoxa Grega Oriental a convocar um concílio em Laodicéia, no ano 361, para denunciar oficialmente esses catorze livros apócrifos. Eles também proibiram o uso desses livros apócrifos na igreja. Isso prova que, até 361, havia uma grande questão se esses livros apócrifos deveriam ou não ser incluídos no Cânon da Escritura.

C.O Reconhecimento pela Igreja Católica Romana

Somente em 8 de abril de 1546 é que a Igreja Católica Romana convocou um concílio, na cidade de Trento, diretamente sob a liderança do Papa, para afirmar a autoridade desses catorze livros apócrifos. A partir de então, esses livros apócrifos têm estado na Bíblia Católica Romana. Isso prova que, até o século 16, nem mesmo a Igreja Católica Romana reconhecia oficialmente esses livros apócrifos como canônicos. Embora essa questão tenha sido definida no Concílio de Trento pela Igreja Católica Romana, os luteranos negaram solenemente que esses livros apócrifos tenham sido divinamente inspirados. Em 1646, mais de cento e cinqüenta protestantes estudiosos da Bíblia publicaram a "Confissão de Westminster", que também declarava que os livros apócrifos não tinham nenhuma autoridade divina e que eram iguais a qualquer outra composição humana.

Por ora, devemos ter clareza de que a Bíblia completa consiste de trinta e nove livros do Antigo Testamento e vinte e sete livros do Novo Testamento. Os catorze livros apócrifos foram acrescentados arbitrariamente pela Igreja Católica Romana e não são dignos de confiança. Além do mais, o conteúdo dos livros apócrifos inclui anedotas históricas ridículas. Não há como descobrir alguns dos autores ou a data e lugar onde foram escritos esses livros. Por essa razão, eles não têm qualquer valor canônico.

(*)Apócrifo = Obra cuja autenticidade não é provada.

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Capítulo 3

O TEMA, O PENSAMENTO CENTRAL E AS SUBDIVISÕES DA BÍBLIA

Se queremos conhecer um livro, qualquer que seja ele, temos de apreender seu tema e seu pensamento central. Além disso, precisamos de uma análise adequada de sua estrutura e um entendimento claro de suas subdivisões. A Bíblia tem seu tema específico, sua linha central de pensamento e suas subdivisões. Embora seja formada por sessenta e seis livros, a Bíblia tem seu tema e linha de pensamento central; tem também diversas subdivisões em sua estrutura. Se queremos conhecer a Bíblia, devemos entender claramente essas três coisas.

TEMA

O tema da Bíblia pode ser resumido em apenas quatro sentenças: Deus planejou e criou, Satanás rebelou-se e danificou, o homem caiu e perdeu-se, e Cristo redimiu e edificou. Nesse tema há quatro pessoas: Deus, Satanás, o homem e Cristo. A Bíblia toda fala quase que exclusivamente dessas quatro pessoas. Para cada uma dessas pessoas, temos dois verbos. Deus planejou e criou. Ele planejou na eternidade passada e criou dentro do tempo. Satanás rebelou-se e danificou. Deus tinha Seu plano e criou conforme esse plano, mas Satanás rebelou-se contra Deus e danificou a criação de Deus. Tudo o que Satanás fez foi rebelar-se e danificar. Esses dois verbos podem resumir toda a obra de Satanás no universo. O homem caiu e se perdeu. O homem caiu e, como resultado, perdeu-se das mãos de Deus, deixando de ser usado por Deus. A história do homem em toda a Bíblia pode ser resumida por esses dois verbos: cair e perder-se. Cristo redimiu e edificou. No passado, quando os cristãos falavam de Cristo, eles falavam apenas de redenção; a questão da edificação sempre foi negligenciada ou omitida. Mas não devemos nos esquecer que o nosso Senhor não apenas disse que o Filho do homem veio para buscar e salvar os perdidos, mas também disse que Pedro era uma pedra, e que Ele edificaria Sua igreja sobre essa rocha. Por um lado, o Evangelho de João diz que Cristo "veio para que tenham vida". Por outro lado, ele também diz que ainda que o homem "destrua esse templo", Cristo o "reconstruirá" em três dias. Quer seja a realização da redenção pelo Senhor ou a vinda do Senhor como vida para o homem, o resultado de ambas é para a edificação da igreja. Por essa razão, não devemos ver apenas a redenção; precisamos ver também a edificação. No começo da Bíblia, vemos ouro, bdélio e pedras preciosas, que são materiais para edificação (Gn 2:10-12). No final da Bíblia, vemos uma edificação completa, edificada com ouro, pérola e pedras preciosas (Ap 21). Isso mostra que Deus, ao final, terá um edifício, que é edificado como resultado da redenção realizada pelo Seu Filho, como o Cordeiro. Portanto, quando falamos de Cristo, devemos vê-Lo não apenas como o redentor, mas também como o edificador. Ele veio para redimir e também para edificar. A razão de Deus ter criado todas as coisas, incluindo o homem, é ter um edifício no universo. Temos de lembrar-nos bem dessas quatro pessoas, juntamente com os dois verbos relacionados a cada uma delas. Se o fizermos, entenderemos o tema da Bíblia. Deus criou todas as coisas, incluindo o homem, segundo o Seu plano. Satanás era orgulhoso e rebelou-se contra Deus; ele, maliciosamente, danificou a criação de Deus e fez com que o homem caísse e se perdesse. Cristo veio para redimir o homem e edificá-lo como Sua igreja gloriosa e Seu Corpo místico, de maneira que Deus possa obter um vaso corporativo para Sua expressão. Esse é o tema de toda a Bíblia. Vejamos, agora, separadamente, os temas do Antigo e do Novo Testamento.

O TEMA DO ANTIGO TESTAMENTO

O tema do Antigo Testamento é que Deus criou, Satanás danificou, o homem caiu e Deus prometeu a vinda de Cristo para a redenção. Embora haja trinta e nove livros no Antigo Testamento, ele nos mostra principalmente que Deus criou o universo, Satanás veio para danificar a criação de Deus, o homem caiu e Deus prometeu a vinda de Cristo para a realização da redenção. Portanto, o Cristo no Antigo Testamento era apenas uma esperança para o homem, porque Ele apenas havia sido prometido por Deus, como Redentor, para o homem caído.

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O TEMA DO NOVO TESTAMENTO

O tema central do Novo Testamento é Cristo vindo para redimir os pecadores e edificar a igreja, conforme o plano de Deus. No Antigo Testamento, vemos como Deus criou, Satanás danificou, o homem caiu e Deus prometeu a vinda de Cristo, para redimir o homem conforme Seu plano e promessa. No Novo Testamento, vemos como Cristo redimiu os pecadores perdidos, conforme o plano e promessa de Deus, e como Ele edifica Sua igreja gloriosa como Seu Corpo místico para que Deus tenha um vaso corporativo para expressá-Lo. Quando reunimos os temas do Antigo e do Novo Testamento, temos o tema de toda a Bíblia, como apresentado anteriormente.

O PENSAMENTO CENTRAL

No cristianismo há muitos livros de exposição da Bíblia. A maioria deles diz que o pensamento central da Bíblia é Cristo. Mas hoje, segundo a luz que recebemos, por Sua misericórdia, sentimos que é insuficiente dizer simplesmente que o pensamento central da Bíblia é Cristo. Devemos nos lembrar das palavras do apóstolo Paulo: "Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja" (Ef 5:32). Portanto, devemos dizer que o pensamento central da Bíblia é Cristo e a igreja. A Bíblia não apenas revela o próprio Cristo; ela também revela a noiva e o Corpo de Cristo, que é a igreja. Sem dúvida, toda a Bíblia nos mostra Cristo. Mas, ao mesmo tempo, ela também nos mostra que Cristo precisa de uma igreja, assim como o homem precisa de uma esposa. Desde o começo, a Bíblia revela isso em tipo - que não era bom que Adão vivesse só. Pelo Novo Testamento sabemos que isso tipifica o fato de Cristo necessitar de uma noiva. Portanto, no começo da Bíblia, não apenas nos é revelado Adão, mas também nos é revelado como Eva foi produzida a partir de Adão para se tornar sua noiva, e como os dois tornaram-se um. Havia Adão e também Eva. O apóstolo disse que isso é um grande mistério, mas que ele se referia a Cristo e à igreja. Na Bíblia, não podemos ver apenas Cristo, sem ver a igreja. Muitos falam de Isaque e se esquecem de Rebeca. Mas havia Isaque e também Rebeca. Na Bíblia há a história de Deus contatando o homem por meio de Cristo, mas também vemos o homem ocupando uma posição muito importante. Os personagens centrais na Bíblia são não apenas Deus em Cristo, mas também o homem como a noiva de Deus em Cristo. O casal universal é Deus e o homem. No universo Deus é o único varão e o homem é Seu complemento. Se o homem não tem Deus, ele é como uma viúva. Se Deus não tem o homem, é como se Ele fosse "solteiro". No universo tem de haver o casamento de Deus com o homem. Por essa razão, a primeira cena apresentada no Antigo Testamento é a história de um homem buscando uma esposa. Esse homem tipifica Cristo, e Cristo é a corporificação de Deus. Essa esposa tipifica a igreja, e a igreja é um grupo de homens salvos por Deus dentre a humanidade para que sejam edificados por Ele. Por todo o Antigo Testamento, Deus colocava-se o tempo todo na posição de marido para com o Seu povo. Deus tratou os israelitas como Sua esposa. Mais tarde, veio o Senhor Jesus. João, o antecessor do Senhor Jesus, não apenas apresentou-O como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, mas também testificou que Aquele que tem a noiva é o Noivo. João não apenas apresenta o Senhor Jesus como o Cordeiro redentor, mas também como o Noivo que tem a noiva. Então, nas Epístolas, o apóstolo Paulo diz: "Tenho preparado para vos [os salvos] apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo" (2 Co 11:2). Ele também diz que a igreja é para Cristo assim como Eva é para Adão. Em Apocalipse, no fim de toda a Bíblia, há uma proclamação de que chegaram as bodas do Cordeiro. Quando a Nova Jerusalém aparece, é dito que ela foi preparada e adornada para o seu marido. Essa é a união de Deus com o homem. Todas as pessoas redimidas e o Redentor tornam-se um como o mistério do universo, que é Cristo e a igreja.

Portanto, a personagem central de toda a Bíblia é esse casal misterioso. Deus e o homem tornam-se um, da mesma maneira que o homem e a mulher tornam-se uma carne. O homem e a mulher tornarem-se uma carne tipifica Deus e o homem tornando-se um. Cristo é Deus tornando-se um com o homem, e a igreja é o homem tornando-se um com Deus. Deus vem em Seu Filho, Cristo, para poder tornar-se um com o homem. O homem é edificado em Seu Filho como Sua igreja, para que possa tornar-se um com Deus. Essa unidade, essa união misteriosa, é Cristo e a igreja, e também a união de Deus com o homem. Esse é o pensamento central da Bíblia. Podemos falar do pensamento central da Bíblia de outra maneira. Cristo é a palavra viva de Deus, e a Bíblia é a palavra escrita de Deus. Cristo é o conteúdo da Bíblia e a Bíblia é a explanação de Cristo. Se tirarmos Cristo da Bíblia, ela se tornará um livro vazio, como um vaso vazio sem o seu conteúdo. Ao

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mesmo tempo, ninguém pode conhecer bem a Cristo sem conhecer a Bíblia, porque a Bíblia é a explanação de Cristo. Somente quando alguém lê a explanação na Bíblia pode entender e conhecer o que Cristo é. A Bíblia nos diz que tudo o que é de Cristo foi posto na igreja e é expresso pela igreja. Portanto, o pensamento central da Bíblia é Cristo e a igreja. É insuficiente conhecer apenas Cristo; temos de conhecer também a igreja. A Bíblia mostra-nos que a personagem central e universal tem tanto uma cabeça quanto um corpo. A Cabeça é Cristo e o Corpo é a igreja. Portanto, Cristo e a igreja são o pensamento central da Bíblia.

O PENSAMENTO CENTRAL DO ANTIGO TESTAMENTO –

LEVAR O HOMEM A CRISTO PARA A REDENÇÃO

O Antigo Testamento leva o homem a Cristo para que seja redimido.

O PENSAMENTO CENTRAL DO NOVO TESTAMENTO –

EM CRISTO, A IGREJA É REDIMIDA E EDIFICADA

O Novo Testamento nos mostra como a igreja é redimida e edificada em Cristo.

AS SUBDIVISÕES Há muitas maneiras de se subdividir a Bíblia. Selecionamos quatro das mais importantes para a nossa consideração.

SUBDIVISÃO CONFORME A ESTRUTURA DA BÍBLIA

A. O Antigo Testamento

1. O Pentateuco

São os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Esses cinco livros foram escritos por Moisés e, portanto, são normalmente conhecidos como o Pentateuco de Moisés.

2. Livros Históricos

Depois do Pentateuco, há os livros de história. São doze esses livros, de Josué a Ester; Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.

3. Salmos Essa subdivisão é formada por seis livros, todos no estilo poético. Cinco desses livros estão relacionados: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Lamentações também é incluído nessa seção por estar mais no estilo poético que em prosa. Em algumas versões traduzidas, não se pode identificar esses seis livros como poemas, mas no original, eles estão claramente em forma de poesia, com rimas e métrica. Esses livros não foram compostos na forma de prosa.

4. Os Livros dos Profetas

Esta é a última parte do Antigo Testamento. Ela pode ser dividida em três categorias, cronologicamente.

a. Os Livros dos Profetas Antes do Cativeiro

São, ao todo, onze livros. Se arranjados em ordem cronológica, segundo a época em que foram escritos, o mais antigo é, provavelmente, Obadias, a seguir Joel, Jonas, Amós, Oséias, Isaías, Miquéias, Naum, Sofonias,Jeremias e Habacuque. Jeremias foi escrito um pouco antes de Habacuque, mas Jeremias estendeu-se ao período do cativeiro. Jeremias começou como profeta antes do cativeiro e terminou como um profeta no cativeiro. É por isso que alguns expositores da Bíblia consideram-no um profeta antes do cativeiro e outros o consideram um profeta durante o cativeiro. Sugerimos considerá-lo um profeta antes do cativeiro, porque ele passou a maior parte de seu tempo como profeta antes do cativeiro.

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b. Os Livros dos Profetas Durante o Cativeiro

São, ao todo, dois livros: Daniel e Ezequiel. Ambos foram profetas durante o cativeiro do povo de Israel.

c. Os Livros dos Profetas Depois do Cativeiro

São, ao todo, três livros: primeiro Ageu, depois Zacarias e, então, Malaquias.

Dividindo os profetas de acordo com o tempo do cativeiro, há essas três categorias de livros. O profeta mais antigo, Obadias, viveu aproximadamente em 800 a.C., próximo a 900 a.C. O último profeta, Malaquias, viveu aproximadamente nos anos 390 a. c., próximo a 400 a.C. Isaías viveu ao redor do ano 760 a.C. Se também considerarmos Lamentações como um livro dos profetas, serão dezessete os livros dos profetas, de Isaías a Malaquias. Se tirarmos Lamentações, serão dezesseis. Algumas pessoas têm agrupado os livros mais longos dos profetas, chamando-os de profetas maiores, e os mais curtos de profetas menores. Nesse caso, há quatro livros entre os profetas maiores, que são: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Os doze livros restantes são os profetas menores.

B. O Novo Testamento

Os quatro Evangelhos: Há quatro Evangelhos. Eles são os quatro primeiros livros do Novo Testamento. Atos dos Apóstolos: Há um único livro de Atos. As Epístolas: São vinte e um livros, de Romanos a Judas. O livro de Profecia: O único livro de profecia é Apocalipse. Os quatro Evangelhos, Atos, as vinte e uma Epístolas e o livro de profecia perfazem um total de vinte e sete livros. Uma maneira fácil de memorizar o número de livros da Bíblia é lembrar que três vezes nove é igual a vinte e sete, isto é trinta e nove livros no Antigo Testamento e vinte e sete livros no Novo Testamento.

A SUBDIVISÃO SEGUNDO A EXPÊRIENCIA ESPIRITUAL Esta é a melhor maneira de se subdividir a Bíblia e é a maneira que recomendamos. Há três categorias no Antigo Testamento e três categorias no Novo Testamento. A natureza dessas três categorias é a mesma em ambos os Testamentos.

A. O Antigo Testamento

1. História: De Gênesis a Ester há dezessete livros históricos. Essa seção começa com a criação do universo por Deus e segue até quando os israelitas retomaram do cativeiro para reedificar o templo e a cidade santa. Essa é a história e a jornada do povo de Deus diante Dele; é tudo o que eles passaram diante de Deus. 2. Experiência: Há cinco livros poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Pode haver alguns registros históricos nesses livros, mas eles não são livros essencialmente históricos. Há, também, algumas profecias neles, mas sua ênfase principal não é profecia. Esses cinco livros enfatizam as experiências espirituais dos santos de Deus, diante Dele. Se houvesse apenas a história, na categoria precedente, sem a experiência que veio a seguir, somente poderíamos ver os fatos históricos sem entender a condição interior sob tais circunstâncias. Esses cinco livros poéticos da Bíblia descrevem, precisamente, a condição interior das pessoas escolhidas diante de Deus, sob várias circunstâncias e experiências. Quando lemos esses cinco livros poéticos, podemos descobrir as experiências espirituais dessas pessoas diante de Deus. 3. Profecia: De Isaías a Malaquias, há dezessete livros. São dezessete livros de história no início, e dezessete livros de profecia no fim, com 'Cinco livros de experiência no meio, totalizando trinta e nove livros.

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B. O Novo Testamento 1. História: Os quatro Evangelhos mais o livro de Atos constituem os cinco livros históricos. Os quatro Evangelhos falam da experiência do Senhor Jesus na terra juntamente com a experiência de Seus discípulos em segui-Lo. O livro de Atos mostra-nos como os discípulos testificaram do Senhor por toda parte em que foram. Esses cinco livros são essencialmente fatos históricos. 2. Experiência: Nesta seção temos as vinte e uma Epístolas, de Romanos a Judas. Essas vinte e uma Epístolas falam das experiências dos cristãos. Os Evangelhos e Atos mostram-nos o que Cristo e os cristãos encontraram. Eles nos mostram suas atividades, seu mover e suas obras. As vinte e uma Epístolas explicam-nos as experiências espirituais interiores dos cristãos. 3. Profecia: Há somente um livro, o livro de Apocalipse. Quer seja o Antigo Testamento ou o Novo, ambos começam com história, passam a falar das experiências e terminam com profecias. Para os cristãos individualmente, a ordem é a mesma. Primeiro temos nossa história diante do Senhor. A seguir, desenvolvemos algumas experiências espirituais durante o curso da história, e, então há a esperança e antecipação do futuro. O Antigo Testamento narrou com detalhes muita história e muitas experiências espirituais, e, no final, falou dos santos sendo enchidos de esperança e antecipação da vinda de Cristo. O Novo Testamento é escrito da mesma maneira. Há muitos fatos e experiências, e, no final, há uma expectativa e esperança, que é a volta do Senhor Jesus. Nenhum cristão pode evitar esses três passos: a história, a experiência e a expectativa.

A SUBDIVISÃO DO ANTIGO TESTAMENTO CONFOME OS JUDEUS OU OS RABINOS

O Antigo Testamento estava originalmente nas mãos dos judeus. Alguns mestres entre eles eram expositores bíblicos de muita autoridade. Os judeus os chamavam de rabis. A palavra rabi significa mestre. Nos tempos antigos, a subdivisão do Antigo Testamento entre os rabis era corno o Senhor Jesus disse em Lucas 24:44. Em outras palavras, as palavras do Senhor em Lucas 24:44 foram baseadas na subdivisão do Antigo Testamento em três categorias feita pelos rabis.

A. A Lei de Moisés

Esse termo refere-se ao Pentateuco. Às vezes os judeus abreviavam o Pentateuco de Moisés para Moisés. Quando os judeus mencionam Moisés, às vezes eles não se referem à pessoa de Moisés, mas aos cinco livros da lei escritos por ele. Esses cinco livros são, às vezes, chamados simplesmente de "a Lei". Quando os judeus dizem "a Lei", eles referem-se ao Pentateuco. Portanto, entre os cristãos e os judeus, há cinco maneiras diferentes de referir-se aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, a saber: o Pentateuco de Moisés, o Pentateuco, a Lei de Moisés, a Lei, e Moisés.

B. Os Profetas: Divididos em Primeiros Profetas e Últimos Profetas

1. Os Primeiros Profetas: São quatro livros. O primeiro é Josué. Os judeus tratam o livro de Josué corno um dos livros dos profetas, em vez de um livro histórico, corno nós o vemos. O segundo livro é Juízes, que também é tratado corno um livro dos profetas. O terceiro livro é Samuel. O primeiro e segundo livros de Samuel eram um único livro na Bíblia hebraica original. Não havia diferença entre 1 e 2 e ele era chamado de livro de Samuel. O quarto livro é Reis. O primeiro e o segundo livro dos Reis também eram um único livro no Antigo Testamento hebraico. Samuel, Reis e Crônicas foram divididos em primeiro e segundo livros, cada um deles, na Septuaginta, quando o Antigo Testamento foi traduzido, porque esses livros eram muito longos e não era conveniente enrolá-los em um único rolo de pele de carneiro. No Antigo Testamento hebraico original esses livros estavam juntos, como livros inteiros, sem distinção de primeiro e segundo livros. Os rabinos judeus chamam esses quatro livros Josué, Juízes, Samuel e Reis - de Primeiros Profetas.

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2. Os Últimos Profetas: São também quatro livros, a saber: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os profetas menores. Os profetas menores aqui mencionados incluem os doze livros, que os rabinos judeus consideravam um único livro. Historicamente, a ordem dos profetas menores não é sempre a mesma. Às vezes eles colocam um primeiro, às vezes colocam outro. A ordem mais comum é a seguinte: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Às vezes a ordem é ligeiramente mudada. Os rabinos judeus costumam tratar os livros que vêm após o Pentateuco simplesmente por livros dos profetas, que, segundo expusemos acima, totalizam oito livros.

c. Os Outros Livros

Os demais livros incluem: Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras e Neemias, 1 e 2 Crônicas, totalizando onze livros. Os judeus consideram Esdras e Neemias um único livro, assim corno 1 e 2 Crônicas. Esses onze livros mais os oito livros dos profetas somam dezenove livros. Com os cinco livros da lei de Moisés, são, ao todo, vinte e quatro livros. Os antigos "pais da igreja" combinavam esses livros de maneira a totalizarem vinte e dois, para igualarem-se às vinte e duas letras do alfabeto hebraico. É por isso que durante os séculos I, II e III eram chamados de vinte e dois livros do Antigo Testamento. Josefo, que era o historiador de maior autoridade entre os judeus, também chamou-os de os vinte e dois livros do Antigo Testamento, quando referiu-se a eles.

IV. A SUBDIVISÃO DO ANTIGO TESTAMENTO PELO SENHOR JESUS O Senhor Jesus também teve uma maneira de dividir Antigo Testamento. Ela é mencionada em Lucas 2:44. E uma maneira muito parecida com a dos rabinos judeus; não há muita diferença entre as duas. Ele também dividiu-o em três categorias:

A. A Lei de Moisés: os cinco primeiros livros.

B. Os Profetas: incluindo os livros históricos

C. Os Salmos: incluindo Cântico dos Cânticos.

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Capítulo 4

PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA

Neste capítulo, precisamos ver alguns dos princípios de interpretação da Bíblia. Se quisermos estudar a Bíblia, temos de entendê-la. Para entendermos a Bíblia, precisamos interpretá-la. Sem interpretação nem explicação, naturalmente não teremos como entender a Bíblia. Sabemos que todas as coisas têm seus princípios próprios. Quanto mais valorizado e importante for um assunto, mais rigorosos serão os seus princípios e leis governantes. Se determinado assunto não tem qualquer significado ou importância, e pode ser conduzido de qualquer maneira, não há que se falar em leis, princípios ou regras. Mas, se um assunto é respeitável e ocupa um lugar significativo e de destaque, se é algo grandioso e nobre, certamente existirão princípios e leis que governam esse assunto; não se pode encará-lo levianamente. A Bíblia é um item extremamente grandioso no universo. Além do nosso Senhor e Deus da glória, creio que o maior item no universo é a Bíblia que temos diante dos nossos olhos e em nossas mãos. Uma vez que a Bíblia é tão importante, precisamos da interpretação adequada, para que possamos estudá-la e entendê-la. Essa interpretação tem de ser regida por regras, leis e princípios definidos. Não podemos interpretá-la ao nosso bel-prazer. Agora que vimos como a Bíblia foi escrita, como ela foi traduzida para diversas línguas e posta em nossas mãos como um livro tão disponível, precisamos descobrir os princípios e leis governantes para a sua interpretação e estudo. Isso não apenas nos ajudará a entender a Bíblia, como também nos ajudará a evitar muitos erros. Todas as regras são um tipo de proteção. Se um trem não tiver trilhos para correr, ele não apenas será incapaz de mover-se suavemente, como também não terá proteção. Quando há trilhos, o trem move-se sem trancos e tem uma proteção adequada. O mesmo ocorre com o estudo da Bíblia. Se alguém estuda e expõe a Bíblia de maneira cega e descuidada, o resultado será inconcebível e até mesmo perigoso. Nossos pensamentos freqüentemente não têm limites. É muito perigoso a pessoa julgar segundo o que ela pensa e interpretar conforme concebe por meio dos sentidos. Se queremos estudar adequadamente a Bíblia e entendê-la com precisão, é necessária uma interpretação restritiva. Se quisermos uma exposição restritiva da Bíblia, precisamos encontrar os princípios e leis de interpretação da Bíblia. Mostraremos, aqui, dez desses princípios.

O MAIS LITERAL POSSÍVEL

O primeiro princípio de interpretar e entender a Bíblia é: o mais literal possível. Temos de apegar-nos firmemente ao fato de que quando Deus inspirou homens para escrever a Bíblia, Ele usou palavras que são totalmente compreensíveis ao homem. Quando tentamos entender a Bíblia hoje, temos de entender o pensamento de Deus, estrita e precisamente segundo a letra das palavras. Não devemos pensar que, uma vez que a Bíblia foi inspirada por Deus, ela sempre transcende a linguagem humana, e, portanto, está aberta para interpretação espiritual. Essa é uma tese perigosa. Devemos interpretar a Bíblia segundo o significado literal das palavras. Não importa quão difícil ou descabida uma interpretação literal possa nos parecer, temos de aderir estritamente ao significado literal.

Mencionemos alguns exemplos. Um exemplo óbvio é a profecia do Antigo Testamento, em Isaías, a respeito do Senhor Jesus nascer de uma virgem. Hoje, o Senhor Jesus já nasceu de uma virgem. Portanto, para nós não é surpresa quando lemos ou ouvimos essa palavra. Mas, na época de Isaías, quando os homens liam o que ele escrevera sobre uma virgem dar à luz um filho e chamá-lo de Emanuel, não teriam eles tido dificuldades em sua mente? Uma pessoa certamente teria dificuldade em entender como uma virgem poderia estar grávida. Alguns poderiam ter-se voltado para uma interpretação espiritual, sugerindo que a virgem pudesse significar algo mais que uma virgem de verdade. Mas quando essa profecia foi cumprida, ela foi cumprida literalmente. A virgem referia-se a uma virgem de verdade.

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Também, o livro de Zacarias, no Antigo Testamento, profetizou que o Senhor Jesus haveria de entrar pela última vez em Jerusalém montado em um jumentinho. Quando alguém lia isso, naquela época, poderia achar difícil entender, porque, para eles, esse a quem os outros proclamariam "Hosana", o Rei digno de louvor, o mais estimado de Israel, nunca poderia entrar em Jerusalém montado em um jumentinho. As pessoas achariam ilógico montar um jumentinho. Por essa razão, eles interpretariam espiritualmente essa profecia, de maneira que significasse algo diferente. Entretanto, quando a profecia foi cumprida, ela foi cumprida literalmente em todos os aspectos. A palavra era jumentinho, e de fato foi um jumentinho. Quando lemos a Bíblia, por um lado, temos de receber inspirações espirituais, mas, por outro lado, não devemos alterar o significado literal a fim de combinar com uma interpretação espiritual. Somente quando uma interpretação literal de uma profecia ou parábola leva a situações absurdas ou impróprias é que se pode interpretá-las espiritualmente. Mas são poucos esses casos na Bíblia. Deve-se considerar cuidadosamente se uma passagem deve ser interpretada literal ou espiritualmente. Há uma grande diferença nisso. Ouvi falar que alguns interpretam os gafanhotos em Apocalipse como sendo os aviões de hoje, e a praga proveniente dos céus como sendo as bombas lançadas pelos aviões. Isso é ridículo. Devemos ser cuidadosos para não interpretar tão livremente a Bíblia. Se alguém quiser encontrar exemplos de interpretações esquisitas e irracionais, leia "Os Sinais dos Tempos", publicado pelos adventistas do sétimo dia. Ali, pode-se encontrar as interpretações mais irrestritas e absurdas. Não devemos interpretar a Bíblia dessa maneira. Devemos apegar-nos aos princípios e aderir, o máximo possível, ao significado literal. Somente quando a interpretação literal de algumas palavras, em algumas visões, profecias e parábolas torna-se muito absurda e tola é que se pode interpretá-las espiritualmente.

NÃO INTERPRETAR LITERAL E ESPIRITUALMENTE A MESMA SENTENÇA, VERSÍCULO OU SEÇAO

Não podemos interpretar uma sentença, versículo ou seção da Bíblia espiritualmente em sua primeira parte e literalmente a segunda parte. Tampouco devemos fazê-lo da maneira inversa. Se uma passagem deve ser interpretada espiritualmente, deve sê-lo por completo. Igualmente, se uma passagem deve ser interpretada literalmente, deve sê-lo por completo. Por exemplo: o Senhor Jesus disse em João 3 que, se a pessoa não nascer da água e do Espírito, ela não pode entrar no reino de Deus. Muitos expositores da Bíblia têm interpretado espiritualmente a água, nessa passagem, referindo-se à palavra de Deus. Entretanto, na frase seguinte, eles tomam literalmente o Espírito, referindo-se ao Espírito Santo. Esse tipo de interpretação é errado e contraria o princípio de interpretação da Bíblia. Se deve-se interpretar literalmente o Espírito na segunda sentença, deve-se, igualmente, interpretar literalmente a água na primeira sentença, e vice-versa. Como não se pode interpretar espiritualmente o Espírito, tampouco se pode interpretar espiritualmente a água nessa passagem, ela deve ser tomada literalmente. Em Mateus, capítulo 3, João Batista disse: "Eu vos batizo em água, para arrependimento; mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu (...) Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. A Sua pá Ele a tem na mão, e limpará completamente a Sua eira; recolherá o Seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo inextinguível" (vs. 11-12). Alguns expositores da Bíblia interpretam o fogo, aqui, espiritualmente, como tribulações e provas. Alguns chegam até a interpretar como sendo o Espírito Santo queimando como fogo. Todos esses interpretaram espiritualmente a palavra fogo. Mas, neste versículo, a água mencionada por João é água de verdade, e o Espírito Santo é o Espírito Santo literalmente. Portanto, o fogo na última parte não deve ser interpretado espiritualmente, mas literalmente. Se a palavra fogo deve ser interpretada espiritualmente, então a água também tem de ser interpretada espiritualmente; o que é impossível de ser feito. Este é um princípio importante de interpretação da Bíblia: partes diferentes dentro de uma mesma passagem devem ser interpretadas todas literalmente ou todas espiritualmente; não pode haver mistura.

UMA PORÇÃO NÃO É SUFICIENTE PARA REPRESENTAR TODA UMA VERDADE Ao interpretar a Bíblia, temos de prestar atenção a mais uma coisa: uma porção da Palavra não é suficiente para representar a verdade completa. Em outras palavras: nenhuma verdade pode ser

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plenamente expressa em uma única porção da Palavra. Portanto, ao lermos e interpretarmos a Bíblia, devemos prestar atenção às palavras "também está escrito". Essa palavra é falada pelo Senhor Jesus em Mateus 4:7. Quando o Senhor foi tentado, o diabo citou as palavras do Salmo 91 para o Senhor, nas quais Deus ordenaria aos Seus anjos que O sustentassem, para que Ele não tropeçasse em alguma pedra. O diabo argumentava que Ele podia atirar-se do pináculo do templo e não seria ferido, por haver tal promessa no Antigo Testamento. Quando o Senhor ouviu isso, Ele respondeu imediatamente: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus". Isso nos mostra que não podemos considerar apenas uma porção isolada da Bíblia. Em vez disso, devemos considerar duas, três ou mais porções da Palavra juntas. Se negligenciarmos o principio do "também está escrito", e aplicarmos as palavras da Bíblia de uma maneira isolada, facilmente seremos enganados pelas ciladas do diabo. Se o diabo não consegue impedir a pessoa de seguir a Bíblia, ele a levará a tomar passagens isoladas da Bíblia. É claro que Satanás gostaria que não fizéssemos nada de acordo com a Bíblia. Mas, muitas vezes, ele sabe que isso é impossível. Todos aqueles que amam e temem o Senhor desejam andar de acordo com a Bíblia. O diabo não pode impedir-nos de seguirmos a Bíblia ou de andarmos de acordo com ela. Ele apenas pode usar outras maneiras, uma das quais é fazer com que sigamos a Bíblia de uma maneira isolada. Assim, somos levados ao extremo e esquecemos as palavras que dizem: "também está escrito". A palavra "também" é uma palavra muito grande. Deveríamos desenhar um círculo ao seu redor. Isso nos mostra que quando seguimos a Bíblia, não devemos fazê-lo de maneira isolada. Temos de considerar ambos os lados, até mesmo todos os lados. Nenhuma porção isolada da Bíblia pode representar toda a verdade, da mesma maneira que nenhuma fachada isolada de uma casa pode representar completamente toda a casa. Nós próprios somos assim. Se alguém tira uma foto nossa por trás, não se pode ver nela nenhum buraco na cabeça. Mas se nos tiram uma foto de frente, pode-se ver claramente sete buracos. Nenhum dos lados de um homem isoladamente pode representar a pessoa como um todo. O mesmo pode ser dito a respeito da Bíblia. Nenhuma porção isolada da Bíblia pode representar uma verdade completa, e temos de ser muito equilibrados em tudo. Portanto, temos de lembrar-nos do princípio "também está escrito".

A TOTALIDADE DOS VERSÍCULOS CONTÉM TODAS AS VERDADES

Um versículo isolado não pode representar uma verdade completa. Entretanto, todos os versículos da Bíblia contêm todas as verdades. Por um lado, para se entender uma verdade não se pode confiar em um único versículo, mas deve-se considerar muitos outros versículos. Por outro lado, ao se definir qualquer verdade, deve-se considerar todos os versículos. Cada versículo na Bíblia contém todas as verdades. Uma vez, um irmão disse que qualquer versículo da Bíblia exige toda a Bíblia para explicá-lo. Isso é muito correto. Se alguém quer entender Gênesis 1:1, ele tem de entender toda a Bíblia. Por um lado, Gênesis 1:1 não pode conter toda a verdade; por outro, Gênesis 1:1 inclui todas as verdades da Bíblia.

Portanto, ao definirmos qualquer verdade, não podemos apoiar-nos unicamente em uma porção da Bíblia. Em vez disso, temos de depender de todas as outras palavras da Bíblia. No mesmo princípio, a explicação de um versículo qualquer não pode ser baseada unicamente em seu próprio contexto, mas deve basear-se em toda a Bíblia. A Segunda Epístola de Pedro 1:20 diz que nenhuma profecia das Escrituras é de particular interpretação (IBB-Rev.). O significado original desse versículo é que a profecia da Bíblia não deve ser interpretada segundo seu próprio contexto. Isso quer dizer que, para interpretar qualquer profecia, deve-se estudar todas as profecias na Bíblia e tomar decisões baseadas em todas as profecias da Bíblia. Somente assim a interpretação será completa.

NÃO SACRIFICAR NENHUMA PORÇÃO DA PALAVRA

Ao se definir uma verdade, às vezes muitos versículos relacionados indicam um determinado significado, mas dois ou três deles não podem ser explicados dessa maneira. Não se pode dizer que, porque somente um ou dois versículos não podem ser explicados dessa maneira, pode-se, portanto, sacrificá-los e basear a exposição na maioria dos versículos. Se a pessoa faz dessa maneira, ela está sacrificando alguns versículos. Não podemos fazer assim. Uma vez que um ou dois versículos não concordem com determinada interpretação, temos de abandonar essa interpretação. Devemos respeitar todas as porções da Bíblia. Somente quando uma interpretação harmoniza-se com toda a Bíblia é que essa interpretação pode ser considerada confiável. Qualquer versículo que proíba certa interpretação da verdade não deve

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ser sacrificado. Em vez disso, essa determinada interpretação é que deve ser abandonada, e temos de esperar mais revelação da parte de Deus. Se estudarmos a Bíblia dessa maneira, não cairemos facilmente em erro.

TODAS AS EXPRESSÕES APOSITIVAS SÃO IGUAIS

Há muitas expressões na Bíblia que estão em aposição 1 a outras. Todas essas expressões apositivas são equivalentes e não diferentes. Por exemplo: Mateus 5 fala de nove bem-aventuranças. Ali diz: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus", e "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus". Essas são expressões casadas, onde a primeira expressão combina com a segunda. Neste caso, em cada bem-aventurança, há, primeiramente, a condição para a bênção e, então, a própria bênção. Todas as expressões casadas são equivalentes. Se a primeira parte de uma expressão especifica uma condição, então todas as primeiras partes dessas expressões casadas também especificam condições. Se a segunda parte de uma expressão especifica uma bênção, então a segunda parte de todas essas expressões também especificarão uma bênção. Este é outro princípio ou regra. Aposição = emprego de um substantivo, ou locução substantiva, como aposto. Aposto = nome, ou expressão equivalente, que exerce a mesma função sintática de outro elemento a que se refere.

NÃO SER RESTRINGIDO PELO “pano de fundo” NEM IGNORÁ-LO Ao interpretar a Bíblia, não se deve ser restringido pelo background, tampouco ignorá-lo. Por exemplo: no sermão que o Senhor fez no monte, são ditas muitas palavras de background judaico. O Senhor diz: "Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti" (Mt 5 :23). Essa oferta no altar é totalmente fundamentada no background judaico. Se quiser entender o significado original dessa palavra, você não pode desconsiderar o background daquela

época. Os judeus apresentavam suas ofertas no altar com o propósito de aproximarem-se de Deus e terem comunhão com Ele. Se você tomar esse princípio, perceberá que as palavras do Senhor dizem respeito a um homem oferecendo algo diante de Deus e tendo comunhão com Ele. Portanto, não podemos negligenciar a questão do background, mas devemos procurar entendê-lo. Por outro lado, não devemos ser restringidos ao background. Não podemos ensinar as pessoas a levarem ofertas ao altar, simplesmente porque o Senhor Jesus falou tal palavra. Se você for limitado pelo background, terá um grande problema. Portanto, temos de ver que não podemos negligenciar a questão do background; se o fizermos, não entenderemos o significado exato da Bíblia. Por outro lado, precisamos ser cuidadosos para não sermos presos ao background, levando-nos ao erro.

ATENTAR PARA AS DIFERENÇAS NAS DISPENSAÇÕES As palavras de Deus para o homem são divididas em dispensações. Algumas palavras foram faladas por Deus ao homem sob a dispensação da lei. Outras palavras foram faladas por Deus ao homem sob a dispensação da graça. Quando tentamos entender essas palavras, devemos discernir as diferentes dispensações. Não devemos aplicar à dispensação da graça, as palavras faladas na dispensação da lei. Esse é o engano dos adventistas do sétimo dia, quanto à questão de guardar o sábado. Guardar o sábado é um mandamento que Deus deu ao homem na dispensação da lei. Quando chega-se à era da graça, é algo totalmente diferente. Mas os adventistas do sétimo dia apegam-se a Êxodo 20 e dizem que, uma vez que Deus falou claramente sobre o sábado, temos que guardá-lo hoje. É verdade que Deus falou sobre guardar o sábado, mas isso é algo na dispensação da lei e não na dispensação da graça. Há outro exemplo. Em Salmos nos é dito que nossos filhos na carne são bênçãos de Deus. Lembre-se, por favor, que essa é uma palavra do Antigo Testamento. No Novo Testamento, isso já não é verdade. Não se pode encontrar nenhuma passagem no Novo Testamento que diga que os filhos na carne são bênçãos. Embora eu não possa dizer que os filhos na carne sejam agora maldições, ouso afirmar que eles são responsabilidades e lições. Hoje, na dispensação da graça, a verdadeira bênção são os filhos espirituais.

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No mesmo princípio, Deus prometeu ao Seu povo escolhido, no Antigo Testamento, que eles haveriam de prosperar e ampliar seu território sobre a terra. Mas no Novo Testamento, ocorre exatamente o oposto. Se você, hoje, citando palavras do Antigo Testamento, pregar para os irmãos e irmãs, dizendo: "Graças a Deus, Ele prometeu-nos que, se O temermos, Ele ampliará nosso território e todos seremos proprietários de grandes porções de terra", isso seria totalmente errado. Há tal promessa na Bíblia; todavia, essa promessa não está sob a graça, mas sob a lei. No Novo Testamento, Deus disse que devemos desistir de nossas terras e vendê-las para dar aos pobres. Isso é exatamente o oposto ao Antigo Testamento.

Embora sejam todas palavras da Bíblia, e sejam todas inspiradas por Deus, não devemos tomar as palavras da antiga dispensação e aplicá-las à atual dispensação. Os católicos e muitos protestantes erram nesse ponto. Há muitas coisas no catolicismo que vêm do judaísmo do Antigo Testamento. Até mesmo a vestimenta dos sacerdotes e seus rituais de adoração são todos emprestados dos princípios do Antigo Testamento. É claro que essas coisas são mencionadas na Bíblia, mas elas não são para a presente dispensação. Ao expor e interpretar a Bíblia, não se pode dizer: "Isso não é palavra da Bíblia? Se é, devemos guardá-la". Não podemos falar dessa maneira. Temos de diferenciar as eras; ou seja, temos de saber claramente a que dispensação determinada palavra pertence. Se você não está em certa dispensação, então as palavras daquela dispensação nada têm a ver com você. Mais tarde, falaremos mais sobre as dispensações.

LEVAR EM CONTA A DIFERENÇA DAS PESSOAS PARA QUEM A PALAVRA É DIRIGIDA

Ao expor a Bíblia, deve-se levar em conta as pessoas para quem determinada palavra é dirigida. Algumas palavras são dirigi das aos judeus, e não estão relacionadas aos gentios ou à igreja. Algumas palavras são ditas aos gentios e nada têm a ver com os judeus ou com a igreja. Algumas palavras são faladas à igreja e não têm nada a ver com os judeus ou os gentios. A Primeira Epístola aos Coríntios 10:32 diz: "Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tão pouco para a igreja de Deus". Na Bíblia, há, pelo menos, três tipos de pessoas para quem Deus dirige Suas palavras: os judeus, os gentios e a igreja. No Antigo Testamento, a maioria das palavras foram faladas para os judeus. No Novo Testamento, há algumas palavras faladas à igreja. Paralelamente, quer no Novo ou Antigo Testamento, há algumas palavras faladas aos gentios. Devemos diferenciá-las claramente quando as lermos e devemos descobrir para quem elas foram faladas. Temos de diferenciar as diversas pessoas a quem as palavras são dirigidas, se para os judeus, os gentios ou a igreja. Somente depois de identificar a pessoa a quem é dirigida a palavra é que podemos fazer o julgamento adequado. Por exemplo: alguns estudiosos da Bíblia têm discutido grandemente a respeito de para quem foi escrito o livro de Mateus. Há muitos expositores que afirmam que Mateus foi escrito para os judeus e não para a igreja. Eles se referem ao background judaico das palavras em Mateus, dizendo que o Senhor Jesus se referia claramente a levar as ofertas ao altar. Para eles, isso é uma prova de que essas palavras são para os judeus. O Senhor Jesus falou claramente sobre o julgamento do sinédrio. O sinédrio era uma organização judaica. Eles também se referem ao capítulo 24 de Mateus que faz menção ao abominável da desolação estando no santo lugar. Para eles, o santo lugar pertence aos judeus, de maneira inequívoca. O Senhor também disse que quando chegar a grande tribulação, as pessoas devem orar para que sua fuga não ocorra no sábado. Será que a igreja deveria guardar o sábado? Já que as pessoas a quem essa palavra é dirigida guardam o sábado, não serão eles judeus? Esses estudiosos mostram muitos exemplos como esses para provar que o livro de Mateus é dirigido aos judeus. Se assim fosse, isso seria algo muito sério, porque todo o livro de Mateus não mais seria nossa herança. Após termos lido cuidadosamente todo o livro de Mateus, temos de admitir que as palavras em Mateus 5 certamente têm um background judaico, mas elas não são dirigidas aos judeus; são dirigidas ao povo do reino dos céus. O povo do reino inclui não somente os salvos dentre os judeus, mas também inclui os convertidos dentre os gentios. O povo do reino é a igreja. Pelo fato de haver entre o povo do reino pessoas que anteriormente tinham estado no judaísmo, e que tinham background judaico, o Senhor Jesus tinha de usar essas coisas relacionadas àquele background, quando fez seu sermão na montanha. Há muitas discussões sobre os capítulos 24 e 25 de Mateus. Se ler cuidadosamente, você descobrirá que uma porção foi dirigi da aos judeus, uma porção foi dirigida à igreja e uma porção foi dirigida aos gentios. No capítulo 24, os versículos 1 a 30 são dirigidos aos judeus, os versículos 32 ao 30 do capítulo 25 são dirigidos à igreja. O versículo 31 até o fim desse capítulo é dirigido aos gentios. Ao estudarmos a Bíblia, antes de

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tomarmos uma decisão de interpretação, temos, primeiramente, de definir a pessoa a quem a palavra é dirigida. Somente então é que podemos entender e interpretar as palavras com precisão.

AS PESSOAS, EVENTOS E OBJETOS DO ANTIGO TESTAMENTO QUE NÃO SÃO CLARAMENTE APRESENTADAS COMO TIPOS, NÃO DEVEM SER TRATADAS COMO TIPOS, MAS COMO ILUSTRAÇÕES

Sabemos que há muitos tipos no Antigo Testamento. Alguns deles são simplesmente pessoas individualmente, tais como Isaque, que tipificava o Senhor Jesus como o filho herdeiro, e Rebeca, que tipificava a noiva ganha por Cristo - a igreja. Alguns tipos são eventos, tais como a páscoa dos israelitas que representa a nossa salvação diante de Deus quando recebemos o Cristo imolado como nosso Salvador. Outro exemplo é o êxodo do Egito pelos filhos de Israel, que tipifica nossa saída do mundo. Há também alguns tipos que são objetos, como o cordeiro tipificando Cristo e a serpente de bronze, também tipificando Cristo. No Antigo Testamento, muitas pessoas, eventos e objetos são tipos, mas não depende de nós decidir se eles são ou não tipos. Temos de descobrir evidências claras no Novo Testamento. Se não há nenhuma menção do objeto, evento ou pessoa no Novo Testamento, não devemos supor precipitadamente que é um tipo. No máximo, podemos apenas tomar emprestado esse objeto, pessoa ou evento como ilustração e usá-lo para explicar as verdades no Novo Testamento. Dizer que algo é um tipo significa dizer que isso é muito mais que uma ilustração. Aqui, apenas apresentamos e mostramos resumidamente esses dez princípios de interpretação da Bíblia. Esses princípios evoluíram gradualmente a partir de centenas ou milhares de anos de experiência no estudo da Bíblia. Eles são como a nata do leite e o mel das abelhas e são muito preciosos. Espero que todos possamos lembrar-nos deles claramente. Tudo isso é para nossa ajuda e restrição. Espero que, de hoje em diante, todos os irmãos e irmãs apliquem esses princípios em seu estudo da Bíblia. Se os aplicarmos, encontraremos novo significado na Bíblia e teremos um entendimento melhor, mais preciso e completo.