conhece esta marca?

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N” 35 ! Julho de 2005 Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ ! 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/radis NESTA EDI˙ˆO LEISHMANIOSE Notificaªo Ø o primeiro passo para o controle desta perigosa doena tropical PCCS DO SUS Quer lutar pelo seu plano de carreira? A hora Ø essa: o projeto estÆ em fase final de discussªo Conhece esta marca? Gestor esconde e pœblico ignora smbolo do SUS, criado em 1991

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N º 3 5 ! J u l h o d e 2 0 0 5

Av. Brasil, 4.036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ ! 21040-361

www.ensp.f iocruz.br/radis

NESTA EDIÇÃO

LEISHMANIOSENotificação é

o primeiro passopara o controledesta perigosa

doença tropical

PCCS DO SUSQuer lutar pelo

seu plano decarreira? A hora

é essa: o projetoestá em fase final

de discussão

Conheceesta marca?Gestor escondee público ignorasímbolo do SUS,criado em 1991

O SUS nosso de cada dia

Marcelo Marques de Mélo é dentista com espe-cialidade em Saúde Coletiva. Mas o forte dele é

comunicação. Na Fundação Nacional de Saúde de San-ta Catarina, onde trabalha na Assessoria de Comuni-cação e Educação em Saúde, desenhou variações damarca do SUS para todas as situações: alegria, tole-rância, indignação. São figuras, tiras de quadrinhos eemoticons (pequenos ícones da internet que expres-sam sentimentos) para ilustrar textos, apresentações,e-mails e conversas em tempo real.

O que Marcelo quer é valorizar o SUS, divulgan-do sua marca oficial. Marcelo oferece as artes paradownload gratuitamente: o que usou na tarefa, docomputador aos aplicativos, pertence ao SUS, res-salta. �Tudo é mantido com impostos cobrados aopovo brasileiro, do qual todos somos parte�, diz.

�Portanto, queiram utilizá-las à vontade, amigos!�

Endereços para download (instruções na página):Figuras e emoticonswww.grupogices.hpg.ig.com.br/Emoticons.htmlTiraswww.grupogices.hpg.ig.com.br/TirasMarcaSUS.html

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Quando o leitor dita a pautaComunicação e Saúde! O SUS nosso de cada dia 2

Editorial! Quando o leitor dita a pauta 3

Cartum 3

Cartas 4

Súmula 5

Toques da Redação 7

Sistema Único de Saúde! Identidade relegada 8

! Em Santa Catarina, os pioneirosda causa 12

Ouvidoria Pública! Participação democrática e cidadã 13

Leishmaniose! Doença tropical atinge 1,5 milhãopor ano 14

Plano de Carreira, Cargos e Saláriosdo SUS! O modelo avança 16

Entrevista: Deputado RobertoGouveia! �Os recursos do SUS não podemescorrer pelo ralo da ganância� 17

Serviço 18

Pós-Tudo! O marketing do SUS 19

Capa e ilustrações Aristides Dutra

Esta edição está cheia de suges-tões de pauta apresentadas pelos

leitores em mensagens que enviam àredação. Na seção de cartas, as pro-postas de matérias futuras vão desdeAlzheimer, depressão, efeitos da te-lefonia celular e funcionamento deconselhos de saúde até informes so-bre concursos públicos.

Na medida do possível e dentrode nossa linha editorial, temos noti-ciado ou retomado temas que nos sãosugeridos, como na matéria sobreleishmaniose, doença tropical queatinge 12 milhões de pessoas em todoo mundo � com até 1,5 milhão denovos casos a cada ano, 3 mil só noBrasil. A Fiocruz sempre pesquisou odesenvolvimento da doença, sua pre-venção e seu tratamento.

A matéria de capa que destaca o(não) uso da marca do Sistema Únicode Saúde foi sugerida pelo leitor RudiLopes. Aparentemente secundário di-ante de tantos problemas na saúdepública, o assunto mostrou sua rele-vância nas falas de integrantes do Con-selho Nacional de Saúde, de profissio-nais e usuários dos serviços de saúde eespecialistas em comunicação. Umamarca tem grande valor simbólico e seuocultamento pode representar a omis-são daquilo que ela sintetiza, como odireito de todos à saúde e de exercercontrole sobre governos, instituições

� inclusive conveniadas � e profissio-nais, que têm o dever de trabalhar den-tro dos princípios constitucionais.

Dar voz ao cidadão é também atônica da matéria sobre a recém-cri-ada ouvidoria da Fiocruz. Em defesado orçamento da Saúde, o deputadoRoberto Gouveia fala à revista Radissobre a importância da mobilizaçãopela aprovação de projetos de lei desua autoria para a quebra de paten-tes de remédios contra a Aids e paraa definição do que são serviços e açõesde saúde e dos percentuais de finan-ciamento do setor pela União, os es-tados e os municípios. Matéria acer-ca do Plano de Carreira do SUS mostraque ainda é tempo de os sindicatosintervirem em defesa de suas teses.

Confirmando o valor do olhar ex-terno, ao elaborar a matéria de capa, aequipe do Programa RADIS percebeu quenossa revista, tão defensora do siste-ma, não destacava a marca SUS. A par-tir de agora, portanto, a logomarca [-]precede Ministério da Saúde, Fiocruze Ensp no expediente da página 4. Afi-nal, o dito �casa de ferreiro, espetode pau� revela contradição da qualnossos leitores, como os demais cida-dãos e eleitores brasileiros, devemestar fartos atualmente.

Rogério Lannes RochaCoordenador do Radis

Nº 35 � Julho de 2005

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expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente

RADIS é uma publicação impressa e onlineda Fundação Oswaldo Cruz, editada peloPrograma RADIS (Reunião, Análise eDifusão de Informação sobre Saúde),da Escola Nacional de Saúde PúblicaSergio Arouca (Ensp).

Periodicidade mensalTiragem 42 mil exemplaresAssinatura grátis

(sujeita à ampliação do cadastro)

Presidente da Fiocruz Paulo BussDiretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho

PROGRAMA RADISCoordenação Rogério Lannes Rocha

Subcoordenação Justa Helena FrancoEdição Marinilda CarvalhoReportagem Jesuan Xavier (subeditor),

Katia Machado, WagnerVasconcelos (Brasília/Direb) e ThiagoVieira (estágio supervisionado)

Arte Aristides Dutra (subeditor)Documentação Jorge Ricardo Pereira,

Laïs Tavares e Sandra SusanoSecretaria e Administração Onésimo

Gouvêa, Fábio Renato Lucas,Cícero Carneiro e Mario Cesar G.F. Júnior (estágio supervisionado)

Informática Osvaldo José Filho e GeisaMichelle (estágio supervisionado)

EndereçoAv. Brasil, 4.036, sala 515 � ManguinhosRio de Janeiro / RJ � CEP 21040-361Tel. (21) 3882-9118Fax (21) 3882-9119

E-Mail [email protected] www.ensp.fiocruz.br/radisImpressãoEdiouro Gráfica e Editora SA

USO DA INFORMAÇÃO � O conteúdo da revista Radispode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-quer meio de comunicação impresso, radiofônico,televisivo e eletrônico, desde que acompanhado doscréditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-

sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aosveículos que reproduzirem ou citarem conteúdo denossas publicações que enviem para o Radis um exem-plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-rências da reprodução ou a URL da Web.

CCCCC ARARARARARTTTTTASASASASAS

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tes os assuntos da saúde pública eprincipalmente sobre o tema aci-ma. Sugiro que as próximas ediçõesvenham a publicar temas sobreAlzheimer, depressão e luto.! Neuma M. de Sousa, Redenção, PA

Sou cirurgiã-dentista e desde ostempos de faculdade sempre me

interessei pelos assuntos relacionadosà saúde coletiva. Recebo Radis desdea primeira publicação. Gostaria deagradecer à revista pela imensa con-tribuição que tem nos dado, princi-palmente aos profissionais de saúde,com informações em saúde pública.Pretendo especializar-me nesta áreae gostaria de obter mais informaçõessobre a Escola Nacional de Saúde Pú-blica Sergio Arouca e os cursos deeducação a distância. Sugestão: a re-vista poderia nos informar sobre con-cursos públicos nas áreas de saúde.! Ana Nery Alves de Souza, Jussara, BA

Recomendamos à leitora as páginasna internet da Ensp (www.ensp.fiocruz.br)e do Programa de Educação a DistânciaEnsp/Fiocruz (http://ead.redefiocruz.fiocruz.br).

Acredito que todos os leitores,como eu, estão satisfeitos com as

matérias publicadas nessa revista. Osuporte informativo que a Radis ofe-rece aos profissionais da área de saú-de, gestores e usuários, vem colabo-rando para o crescimento do SUS.Sugiro algumas idéias de pauta que for-talecerão a estrutura do controle so-cial da instituição. Em saúde pública,a telefonia celular e os perigos dessatecnologia; o controle social na forma-ção dos conselhos municipais e estadu-ais de saúde; os programas Saúde daFamília/de Agentes Comunitários de Saú-de e a formulação de políticas públicas.! Luís Carlos de Sousa, Embu, SP

REPRODUÇÃO DE TEXTOS

Estou coordenador de Saúde e Se-gurança do Trabalhador da Asso-

ciação dos Servidores da Universida-de Federal do Rio Grande do Sul(Assufrgs), e gostaria de, na medidado possível, publicar textos da revis-ta Radis, da qual sou assinante. Es-clareço que, no caso de ser possível

HANSENÍASE, ESPERANÇA E FÉ

Sou aluno do 2º período do cursotécnico em enfermagem da Escola

de Ciências da Saúde de Patos, PB,mantida pela Fundação FranciscoMascarenhas. Tenho 28 anos, sou as-sinante da revista há pouco tempo eas matérias têm me ajudado muito.Apresentei um seminário sobrehanseníase, baseado na reportagemde capa da Radis nº 27, que atualizouos conteúdos transmitidos pelo pro-fessor. O resultado agradou muito, umverdadeiro sucesso, que me rendeunota máxima na disciplina.! Simão Pedro dos Santos Cezar, Pa-tos, PB

Agradecimentos pela remessa da re-vista Radis nº 32. Tenho muita es-

perança na atuação do embaixadorda OMS Sasakawa para a eliminação

da hanseníase, mas nenhuma fé. Umgrande abraço e todo o meu respei-to à equipe Radis.Cordialmente,! G. Brazão

Obrigado à Radis pela matéria�Hanseniase � Uma questão de

direitos humanos� (nº 32). Esse pre-conceito em torno da hanseníasedeve-se à falta de informação das pes-soas sobre a doença. O governo de-veria agir no sentido de conscientizara população quanto à exclusão soci-al a que um portador ou ex-porta-dor está sujeito. A Radis trabalhanesse sentido, de levar informaçãode forma prática e clara. Com a aju-da da Radis, consigo implementar emminhas aulas questões de saúde pú-blica com respaldo de quem enten-de do assunto.! Everton Demetrio, professor de His-tória, Lagoa Seca, PB

ASSUNTOS EM PAUTA

Sou psicóloga da saúde pública etive contato com a Radis procu-

rando informações sobre a doençahanseníase. Achei muito interessan-

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a (re)publicação de textos, estareiindicando a fonte. Saúde!! Julio Oliveira, Porto Alegre

Como indica a nota �Uso da Infor-mação�, na página 3, o conteúdo daRadis pode ser livremente reproduzi-do, com os devidos créditos. Solicita-mos aos amigos que nos informem so-bre eventuais publicações, para queregistremos a referência.

RADIS AGRADECE

Sou agente comunitário de saúde eparabenizo a revista Radis pelos exce-

lentes trabalhos publicados, especialmen-te a �Experiência com idosos mostra umSUS humanizado�, na edição n° 31.! Francisco Valdemício de Almeida,Pimenteiros, PI

APastoral da Criança de São Gabrielparabeniza pelas excelentes pu-

blicações que têm dado muita ajudanos conselhos sobre saúde nas reu-niões da Pastoral da Criança. Somos15 comunidades católicas ampliandoo trabalho da saúde básica, e agra-decemos a grande ajuda que a revis-ta nos traz. É importante saber quealguém está lutando conosco. As setenações preocupadas com pesquisaspara combater o vírus da Aids (Radis31) mostram que o respeito ao direi-to humano está em primeiro lugar.! Ana Beatris Rodrigues Marinho, SãoGabriel, RS

Sou aluna do curso de enfermageme foi na escola, por intermédio dos

professores, que conheci a revistaRadis. Gostaria de parabenizar a equi-pe pela publicação elaborada e degrande importância para nós, apren-dizes da área da saúde.! Loiva Regina Pianezzola, Porto Ale-gre, RS

A Radis solicita que a correspondên-cia dos leitores para publicação (car-ta, e-mail ou fax) contenha identifi-cação completa do remetente: nome,endereço e telefone. Por questões deespaço, o texto pode ser resumido.

NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA

SÚMULASÚMULASÚMULASÚMULASÚMULA

SURTO DE PÓLIO PREOCUPA OMS

AOrganização Mundial da Saúde de-tectou novos surtos de polio-

mielite em 16 países da África e daÁsia. Só o Iêmen registrou 22 ca-sos. Em fevereiro, mais quatro naArábia Saudita, e, em março, doisna Etiópia. A OMS esperava come-morar em 2005, após 50 anos da des-coberta da vacina contra a doen-ça, a erradicação total da pólio nomundo. É necessário um período detrês anos sem constatação de ca-sos para que uma doença possa serconsiderada erradicada.

OLIGOPÓLIO FARMACÊUTICO RESISTE

Associações, consórcios, farmáciaspopulares, compras governamen-

tais. Nada disso impede que o mer-cado de medicamentos no país con-tinue dominado por oligopólio,segundo o Ministério da Saúde. Ogoverno acha que a estrutura dosetor não mudou nos últimos anos� grandes laboratórios mantêm fa-tia imensa de mercado. As drogasnovas, criadas após 1996, têm pa-tente protegida por até 20 anos epreços bem mais altos; os 9 mil re-médios anteriores a 1996, já semproteção de patente, é que permi-tem ao país produzir genéricos eoutros medicamentos mais baratos.

Em 1992, o governo liberou osetor: segundo o IBGE, o aumentodos preços dos medicamentos en-tre 1994 e 1999 ficou perto de 80%,enquanto a inflação acumulada foide 57%.

Uma das saídas, então, tem sidoa união de forças. Consumidores es-tão se organizando em associações ejá compram produtos até 78% mais ba-ratos do que nas drogarias. É o casodos 100 filiados da Associação Brasi-leira de Asmáticos (Abra), do Rio, quecompram o Singulair por R$ 58. Comnota fiscal e receita médica nas mãos,retiram na Abra outra caixa do medi-camento. Ou seja, cada uma saipor R$ 29. Nas farmácias, a caixa cus-ta até R$ 134,21.

MAIS REMÉDIOS PARA O SUS

Anova fábrica de medicamentos daFiocruz, em Jacarepaguá, bairro

da Zona Oeste do Rio de Janeiro,será responsável pela produção deanti-retrovirais e contraceptivos queatenderão os usuários do SUS e do pro-grama Farmácia Popular. Comprada daGlaxoSmithKline, a unidade atualmen-te só fabrica o antibiótico amoxici-lina. A transferência total da fábrica

da Fiocruz, em Manguinhos (ZonaNorte) para Jacarepaguá dependede recursos federais, mas o gover-no promete repassar o dinheiro ne-cessário porque considera o inves-timento não um gasto, mas umaestratégia. Os números confirmam:em 2004, os remédios fabricados naFiocruz geraram economia de R$ 200milhões à União.

REMÉDIOS MAIS BARATOS

Aproposta do governo de subsidiarmedicamentos a hipertensos e di-

abéticos que não dependem do SUSmas têm dificuldades financeiras vi-rou projeto de lei enviado ao Con-gresso. O objetivo é garantir remé-dios mais baratos nas farmáciaspopulares a 11,5 milhões de pacien-tes. Prevendo descontos que variam

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de 50% a 90% nos medicamentos, oprojeto exige o credenciamento dasfarmácias e um modelo padronizadode receita que garanta aos médicosmaior controle sobre o tratamentodos pacientes. Segundo o Ministé-rio da Saúde, a idéia é evitar quehipertensos e diabéticos abandonemo tratamento por falta de recursos.Hoje o SUS atende 7,7 milhões dehipertensos, mas estima-se que noBrasil 16,8 milhões tenham a doen-ça. O país tem 5 milhões de diabéti-cos, dos quais 2,6 milhões são aten-didos pelo SUS.

VACINA CONTRA DIARRÉIA

OBrasil negocia com a Bélgica adistribuição da vacina de com-

bate à diarréia do laboratório Glaxo-SmithKlein. O rota-vírus é responsávelpor 30% dos casos de infecção gastro-intestinal no Brasil e atinge princi-palmente as populações mais caren-tes. A preocupação do Ministério daSaúde é o alto custo da vacina, ain-da não registrada, quando chegarao mercado. Segundo o acordo pro-posto, o mercado brasileiro estariagarantido à empresa por três anos,em troca da redução substancial dopreço. A transferência de tecnologiapara a produção nacional da vacinaé outra proposta negociada com aGlaxo, como também a de que o Bra-sil exporte o produto aos países la-tino-americanos.

CURUMINS: MORTE POR DESNUTRIÇÃO

Chegou ao fim o exame da mortedas crianças indígenas em Dou-

rados (MS) e Campinápolis (MT). Acomissão externa que analisava ocaso aprovou o relatório da depu-tada Perpétua Almeida (PcdoB-AC),afirmando que as mortes estão as-sociadas à desnutrição, à falta deágua tratada, de esgoto e de sane-amento. Indígenas e autoridadesdos dois estados e do governo fe-deral foram ouvidos pela comissão,que enviou o texto aos ministrosda Saúde e da Justiça, à Funasa,ao Ministério Público Federal e àControladoria Geral da União, paraque dêem prosseguimento às inves-tigações sobre o descaso com a po-pulação indígena.

O relatório denunciou a suspen-são de suplementos alimentares queeram distribuídos pela Funasa em par-ceria com ONGs e a falta de orienta-ção dos órgãos oficiais às famílias in-

dígenas. A Radis (nº 22) informou namatéria �Os convênios da Funasa�que a instituição repassa os recursospúblicos a organizações conveniadas.Quando os serviços são prestados porempresas não-indígenas, a parceriapode ser um risco para a populaçãoque recebe serviços desassociados desua realidade.

Em 2004, a mortalidade infantilaumentou 15% na região. De janeiroa abril deste ano, mais de 20 criançasindígenas morreram no município deDourados (MS).

Números oficiais indicam que hámais de 600 crianças desnutridas nasaldeias vizinhas, em risco de vida. Oatual índice é de 64,33 desnutridospor mil nascidos vivos, enquanto amédia brasileira é de 24 por mil.

MST REIVINDICA CPI NO SENADO

OMovimento dos TrabalhadoresRurais Sem-Terra (MST) reivindi-

ca a criação de uma Comissão Parla-mentar de Inquérito (CPI) para inves-tigar as dívidas brasileiras e ocumprimento da meta anunciada pelogoverno federal de assentar 430 milfamílias sem terra até 2006.

No documento intitulado �O queprecisa ser feito para mudar a vidado povo�, entregue ao presidente doSenado, Renan Calheiros, os líderesdo movimento exigem que fazendei-ros sejam punidos por abusos contratrabalhadores rurais e que os casosde assassinato no campo passem àesfera federal. O documento reivin-dica ainda o aumento do dinheiro li-berado para o Programa Nacional deFortalecimento da Agricultura Famili-ar (Pronaf), a duplicação do valor realdo salário mínimo e a não-liberaçãopara plantio comercial de sementestransgênicas.

Renan Calheiros defendeu a pri-oridade das pautas dos movimentossociais e afirmou que o CongressoNacional deve zelar para que os re-cursos da União, destinados à refor-

ma agrária e à área social, não so-fram cortes.

COMISSÃO APROVA ABORTO DE FETOSEM CÉREBRO

AComissão de Seguridade Social eFamília aprovou, com emenda, o

Projeto de Lei 4403/04, da deputadaJandira Feghali (PCdoB-RJ), que per-mite o aborto nos casos de fetosanencéfalos (sem cérebro). A decisão,que altera o Código Penal, autoriza oaborto nos casos em que a anomaliaimpede as chances de vida ao fetofora do útero. O juiz Rafael PagnomCunha, de Tupanciretã, no Rio Gran-de do Sul, autorizou em maio uma mu-lher grávida de feto anencéfalo a fa-zer um aborto. Ele alegou que nãohavia �existência técnica de vida� aser resguardada.

O deputado Rafael Guerra (PSDB-MG), relator da proposta na comis-são, apresentou emenda que escla-rece a exclusão de outras anomaliasdo projeto de lei. �Se o anencéfaloé um morto cerebral, não podemosafirmar o mesmo de fetos com outrasanomalias graves, irreversíveis e queaté podem chegar a ser incompatí-veis com a vida, como algumas altera-ções cromossômicas. Essas patologi-as, por mais graves que sejam, nãopodem ser igualadas à condição daanencefalia, que é equiparável à mor-te cerebral�, justificou.

A Constituição brasileira prevê oaborto somente nos casos de gravi-dez resultante de estupro ou quan-do a vida da gestante corre risco;nos demais casos é considerado cri-me. A Comissão de Constituição e Jus-tiça e de Cidadania analisa o projetoantes de ser ir ao Plenário.

ABORTO AINDA É TABU NO PAÍS

ASecretaria Especial de Políticaspara as Mulheres avaliou com pre-

ocupação os resultados de pesquisado Instituto Sensus feita para a Con-federação Nacional dos Transportes.A prática do aborto ainda é tabu nopaís: 85% dos entrevistados condena-ram (12,3% são favoráveis ao abortocomo prerrogativa da mulher); 49,5%são contra o aborto mesmo em casode gravidez por estupro, direito as-segurado na Constituição. Mas 84,4%apóiam a política de distribuição depreservativos e pílulas do dia seguin-te pelo governo, 82,9% defendem oplanejamento familiar e 87,2%, a ado-ção de métodos anticoncepcionais

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SÚMULA é produzida a partir do acom-panhamento crítico do que é divulgadona mídia impressa e eletrônica.

FALTA UMA CONFERÊNCIA � A edi-ção 44 do Informativo da Rede Uni-da (www.redeunida.org.br) infor-ma que o Conselho Nacional deSaúde, seguindo deliberações da12ª Conferência Nacional de Saú-de (novembro/2003), aprovou a re-a l ização de três conferênciastemáticas: Saúde do Trabalhador,Gestão do Trabalho e Educação naSaúde e Saúde Indígena. Por en-quanto, apenas a Conferência Na-cional de Gestão do Trabalho eEducação na Saúde (de 13 a 16 denovembro) teve regimento aprova-do pelo CNS. Convocado pela Por-taria Ministerial 592 (27/4/2005), oevento será precedido de etapasmunicipais e estaduais.

Fica aqui uma perguntinha: e aConferência de Comunicação, Infor-mação e Educação Popular em Saú-de, também deliberada na Doze?

PESQUISAS EM SAÚDE � Nosso re-pórter Inocêncio Foca foi atrás edescobriu importante oportunida-de para pesquisadores em saúde.Foram liberados R$ 25,4 milhõespara financiamento de pesquisasnas seguintes áreas: Saúde Men-tal, Saúde dos Povos Indígenas,Neoplasias, Avaliação Econômica eAnál i se de Custos em Saúde,Hanseníase, Pesquisas para o SUSAmazônia e Órteses e Próteses. Asáreas foram definidas pela AgendaNacional de Prioridades de Pesquisaem Saúde como de grande interes-se para o SUS. Desse total, R$ 17milhões são provenientes do Minis-tério da Saúde e o restante do Mi-nistério da Ciência e Tecnologia,recursos resultantes de acordo decooperação técnica. Os recursosserão gerenciados pelo CNPq epela Finep. Para mais informações,os pesquisadores podem consultaros editais de financiamento de pes-quisas na página do Departamentode Ciência e Tecnologia do Minis-tério da Saúde, no endereço ele-trônico www.saude.gov.br/sctie/decit, no link Serviços, clicandoem Editais.

POUCA INTIMIDADE COM O SUS

Amudança promovida pelo prefeitoJosé Serra (PSDB) na Secretaria de

Saúde de São Paulo agradou aos ativistasdo Movimento Social de Luta contra aAids. A pediatra Maria Cristina Cury, di-retora do curso de Medicina da Uni-versidade de Santo Amaro, assumiu afunção no lugar de Cláudio Lottenberg.

Segundo Paulo Giacomini, doMovimento Paulistano de Articulaçãoe Luta contra a Aids (Mopaids), o des-gaste do ex-secretário era resultadode sua �visão empresarial da saúde�e da �pouca intimidade� com o SUS.Segundo ele, Lottenberg queria in-corporar as Unidades Básicas de Saú-de (UBS) ao Serviço de AtendimentoEspecializado (SAE). �Não é isso quepreconiza o SUS�, afirmou.

Para o presidente do Grupo deIncentivo à Vida (GIV), Cláudio Toledo,Lottenberg saiu porque lhe faltavaconhecimento da saúde pública. En-tre as expectativas dos ativistas com anova gestão estão novas ações de pre-venção e assistência no tratamento dosportadores do HIV/Aids.

GÊMEOS COM 6 ANOS DE DIFERENÇA

Pela primeira vez na história da me-dicina brasileira, um tratamento de

fertilização resultante do congelamen-to de embriões cria gêmeos com seisanos de diferença. O caso aconteceuem Rio Preto, São Paulo. Em 1998, ocirurgião-dentista Marcelo Silveira e apedagoga Alessandra Câmara Silveira,com dificuldades para ter filhos, pro-curaram a Clínica de Reprodução Hu-mana Sinhá Junqueira, de Ribeirão Pre-to (SP). Nasceu João Marcelo, oprimeiro filho do casal, e os embriõesnão-utilizados foram congelados.

Mas João Marcelo, hoje com 6anos, pedia aos pais uma irmã; o casalretornou à clínica e implantou umembrião congelado. Resultado: nasceuem maio Alissa, segunda filha do casale irmã bivitelina de João Marcelo, gê-meos não-idênticos. Para os médicos,as chances de engravidar na primeiratentativa são de 50%; na segunda, 25%.O casal não afasta a possibilidade deter um terceiro filho gêmeo. Basta re-correr aos embriões congelados e con-tinuar contando com a sorte.

PORTAL DE MEDICAMENTOS � O novoPortal de Compras de Medicamentos ad-quiridos pelo Ministério da Saúde entrouem funcionamento em junho, segundoinformou o site do Governo Eletrônicono dia 9/5 (www.governoeletronico.e.gov.br). O sistema, desenvolvido pelaSecretaria de Logística e Tecnologiada Informação, do Ministério do Pla-nejamento, registrará informações so-bre compra de medicamentos e ma-teriais hospitalares feitas pelo SUS eservirá para consulta de gestores desaúde das esferas federal, estadual emunicipal, como também de fornece-dores e de toda a sociedade. Comesse novo recurso, será possível iden-tificar os melhores preços de compra;estados e municípios, num segundomomento, poderão se unir em con-sórcios para aquisições em escala.

O objetivo do Portal de Com-pras de Medicamentos é reduzir ocusto das aquisições do setor, per-mitindo a integração e a padroni-zação das informações e aquisiçãode medicamento pelos governos.

De acordo com Rogério Santanna,secretário de Logística e Tecnologiada Informação, em entrevista ao sitedo Governo Eletrônico, o custo dosremédios comprados pelo SUS pode-rá cair em pelo menos 20%, a partirdo uso do pregão eletrônico na ge-ração de um registro nacional de pre-ços. Isso significa que, dos R$ 13 bi-lhões em medicamentos e materiaishospitalares repassados ou compra-dos pelo SUS atualmente (dos quaiscerca de R$ 2 bilhões comprados di-retamente, e o restante repassado aestados e municípios), cerca de R$8,5 bilhões em medicamentos pode-rão ter redução.

O portal vai possibilitar, porexemplo, que a União identifiquequando um estado estiver compran-do determinados medicamentos porpreços muito altos. No lugar de con-tinuar repassando recursos, podecomprar diretamente o produto.

Além disso, o governo determi-nou que, a partir de 1º de julho,todas as compras de bens e servi-ços comuns da administração públi-ca federal sejam feitas por pregão,especialmente na forma eletrônica.Nada mal nesses tempos de denún-cias de todo tipo sobre as comprasfederais.

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SSSSSIIIIISSSSSTETETETETEMA ÚNIMA ÚNIMA ÚNIMA ÚNIMA ÚNICCCCCO DO DO DO DO DE SE SE SE SE SAAAAAÚDÚDÚDÚDÚDEEEEE

Identidaderelegada

Jesuan Xavier e WagnerVasconcelos *

Ébásico. Ao abrirum negócio, umalanchonete queseja, o dono pen-

sa imediatamente numnome e numa logomarcaque chamem a aten-ção do público. Man-da o marketing queessa marca esteja emlocais bem visíveis,para que fique na me-mória dos usuários eseja facilmente reco-nhecida. O SistemaÚnico de Saúde, cla-ro, não é um negócio,e sim o maior serviçopúblico de saúde domundo. Pois, passados15 anos de sua criaçãono Brasil, ainda nãotem identidade visual.

É mais do que umsimples desleixo. Ins-tituições públicas desaúde, em todo opaís, simplesmente ig-noram determinaçãodo Ministério da Saú-de: a �cruzinha�, cri-ada em 1991, teria deestar exposta em pré-dios, veículos, unifor-mes, ofícios e qual-quer publ icação deentidades que inte-gram o sistema. Mas arealidade é bem dife-rente. Em diversos lu-gares, quando apare-ce, es tá em loca lpouco visível e com-pletamente descarac-terizada.

Jader Augusto procura imagem deJesus atrás da cruz do SUS: �Éalguma coisa ligada à religião, não?�

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Desde 2002 o Gices, GrupoInterinstitucional de Comunicaçãoe Educação em Saúde de SantaCatarina vem denunciando estaomissão (ver box). �O povo brasi-leiro, verdadeiro dono da marcaSUS, precisa fazer valer seu direi-to e cobrar de cada autoridade adivulgação de seu produto pelopaís inteiro�, conclama o farma-cêutico-bioquímico Rudi PereiraLopes, do Gices.

�É fundamental que consoli-demos essa marca, pois o SUS temgrandes conquistas a serem rea-firmadas�, conclama SilvioFernandes, presidente do Conse-lho Nacional de Secretários Mu-nicipais de Saúde. �Em nosso mu-nicípio mesmo, a marca foiesquecida algumas vezes�, diz ele,que é secretário de Saúde da ci-dade de Londrina (PR). �Temosque criar o hábito de usar a mar-ca, pois simbolicamente ela con-tribui para consolidar uma imagempositiva do SUS�.

�É um problema comum que alogomarca não seja respeitada�, la-menta Artur Custodio Moreira deSousa, do Conselho Nacional deSaúde (CNS) e coordenador naci-onal do Movimento de Reintegra-ção das Pessoas Atingidas pelaHanseníase. Segundo ele, os con-selheiros, freqüentemente, mani-festam repúdio a esse desrespei-to � inclusive na 12ª ConferênciaNacional de Saúde. �Isso, muitasvezes, reflete algo comum na vidapolítica e nos trabalhos públicos:a prática de os governantes cri-arem suas próprias marcas, ouainda mudarem mesmo o que forpositivo da gestão anterior�, diz.

Opinião semelhante à da pes-quisadora da Fiocruz Inesita Soa-res de Araújo, doutora em Comu-nicação e Cultura. De acordo comela, a marca do SUS realmente nãoé usada, apesar das normas exis-tentes. �As razões disso não es-tão, evidentemente, ligadas à mar-ca em si, como dispositivo gráfico,mas ao que ela significa�, diz. �Eo que ela significa implica todauma arena de embates políticos�.

Longe dessa arena, nas ruas,quase ninguém reconhece a cruzdo SUS. Para conferir essa reali-dade, a equipe da Radis passouuma manhã em frente ao HospitalGeral de Bonsucesso (HGB), naZona Norte do Rio de Janeiro.

Das 27 pessoas entrevistadas,entre usuários, enfermeiros e mé-dicos, apenas dois � Daniele Gon-

Se tivesse um fiopassando em cimada cruz, eu diriaque é a Fiocruz.

José Luiz da Silva

Acho que o SUSdeveria ter umsímbolo melhor

divulgadoWilson Okabayashy

çalves e Frederico Machado da Cos-ta Chaves, ambos estudantes de Me-dicina � reconheceram o símbolocomo a marca do SUS.

Com a imagem nas mãos, o apo-sentado Jader Augusto tenta encon-trar a figura de Jesus atrás da cruz.�É alguma coisa ligada à religião,não?�, divaga. Ao seu lado, Josemarda Silva Queiroz também se surpre-ende quando informado de que esseera o símbolo do SUS. �É mesmo?Nunca reparei�, admite. �Quem estáerrado não é o médico, e sim omarqueteiro do Ministério da Saú-

de�, rebate um profissional desaúde, visivelmente constrangidopor não identificar a logomarcaque aparece na porta de entra-da de seu próprio hospital. Elepreferiu não se identificar.

MARKETING NEGATIVOPara o neurocirurgião

Wilson Okabayashy, este éum problema menor pertode tantos outros que o SUS en-frenta. �Mas, de qualquer forma,acho que o SUS deveria ter umsímbolo mais bem divulgado�, con-corda. �Psicologicamente issopoderia funcionar de forma po-sitiva tanto para o usuário quan-to para as pessoas que traba-lham na área�.

Para Mário Scheffer, comu-nicador social e sanitarista, jápassou a hora de se fazer um in-vestimento na padronização daimagem e ampla divulgação damarca. �Até para se contrapor

ao marketing negativo contra oSUS, que é muito bem feito�. Se-gundo ele, diariamente jornais, rá-dios e televisões mostram as filasde espera, os hospitais lotados esucateados, o mau atendimento e afalta de remédios. �Realmente exis-tem essas mazelas, mas o lado bomdo SUS é pouco conhecido, há pre-conceito, desinformação e até máfé de setores que lucram com a ex-posição negativa dos serviços públi-cos de saúde�.

Scheffer, que é representantedos usuários do Movimento de Luta

contra a Aids no CNS, lembra queo SUS realiza 1 bilhão de proce-dimentos de atenção básica porano, mantém 500 mil profissionaise cerca de 6 mil hospitais, faz85% de todos os procedimentoscomplexos, dá cobertura univer-sal aos pacientes de HIV e re-nais crônicos, faz quase todos ostransplantes, entre tantas outrasrealizações. �Se cada serviço,cada ação de saúde, cada equi-pamento exibisse corretamentee de forma padronizada a marcado SUS seria, sem dúvida, umapropaganda positiva�.

Ele ressalta que a marca pre-cisa ser conhecida e populariza-da, providência elementar paraque o SUS seja identificado, de-fendido e valorizado por todosos brasileiros. �Os gestores dasaúde, que gastam tantos recur-sos de comunicação com auto-promoção e com intenção elei-toral, deveriam investir na marca

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No Hospital São Lucas, a logomarca correta está em fundoescuro, desbotada e escondida atrás da fiação da rua

Em Vitória, alguns exemplosEm Vitória, alguns exemplos

Numa placa de obra do Hospital Santa Rita, a marca aparece,mas totalmente descaracterizada

No Hospital Universitário, aausência da marca na fachada

No Hospital da PM, a logomarcaem local pouco visível

SUS, atendendo, inclusive, reite-rados reclames das instâncias decontrole social�.

Para Inesita, a marca tem o pa-pel de remeter a um conjunto deinformações que as pessoas já tra-zem na memória sobre a instituiçãoou o produto que representa. �Po-dem ser informações boas ou ruins,isto vai depender da vivência quecada um teve ou tem em relaçãoàquela instituição ou produto�. Elacita como exemplo a suástica. �Umsímbolo que nos remete rapidamen-te a um mundo de horrores�. Se-gundo ela, a �cruzinha� do SUS nun-ca foi devidamente trabalhada peloMinistério da Saúde. �Para o usuá-rio, não representa nada�.

O vendedor de salgados JoséLuiz da Silva, que faz ponto na calça-da em frente ao HGB há mais de umano, nunca tinha reparado no símbo-lo. �Se tivesse um fio, passando emcima da cruz, eu diria que é aFiocruz�, disse, às gargalhadas.

Mas Artur não vê tanta graçaassim. Para o conselheiro, a popula-ção tem que criar intimidade com alogomarca. �Tem que perceber o sis-tema como único e nacional, sen-tir-se proprietário da marca�. Emsua opinião, é necessário garantirisso de qualquer forma. Se for ocaso, disse ele, até aprovar uma leifederal para este fim. �Ignorar amarca é não trabalhar a lógica dosistema único!�, enfatiza.

AUSÊNCIA DE NORTE A SULA falta que a logomarca faz é

sentida de Norte a Sul. Em Vitória, aRadis pôde comprovar que as unida-des de saúde do SUS também desres-peitam o símbolo, que ou não apare-ce ou é usado fora das especificações.�Acaba que depomos contra nós mes-mos�, reconhece o médico Erivelto Pi-res Martins, assessor da Subsecretariade Saúde do Espírito Santo. Alertado,ele promete divulgar a imagem do SUSno estado. �Vou sugerir ao nosso de-partamento de comunicação que façaum trabalho em cima disso�, diz.�Pode parecer que não é nada, masse não valorizarmos a marca não valo-rizamos o nosso próprio trabalho, poisimagem é tudo, né?�.

Em Belém do Pará, o descasogeral incomodava a jornalista RobertaVilanova, da assessoria de imprensado Hospital Universitário João de Bar-ros Barreto (HUJBB). Por exemplo, afachada da Unidade Municipal de Saú-de do bairro de Sacramenta exibia,pintada na parede, a logomarca doSUS. Com a mudança do governo mu-

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nicipal, depois de uma reforma a mar-ca desapareceu. Roberta, então, re-solveu pesquisar o assunto.

Especialista em Comunicação eSaúde pela Fiocruz e em Saúde Públi-ca pela Universidade do Estado doPará, Roberta entrevistou, nos cincoprimeiros meses do ano passado, 71pessoas para a sua pesquisa, intitulada�Comunicação: Teoria e prática noSUS�. O público era formado por 24usuários do SUS atendidos no ambu-latório da Fundação Pública EstadualHospital das Clínicas Gaspar Vianna(FHCGV) e no ambulatório do HUJBB;20 trabalhadores de saúde dessasduas instituições; 12 jornalistas queatuam nos principais jornais de Belém;cinco jornalistas que trabalham nasassessorias de comunicação da Secre-taria Executiva de Saúde Pública(Sespa) e da Secretaria Municipal deSaúde (Sesma), e 10 diretores doHUJBB e da FHCGV.

E o que a pesquisa revela épreocupante. O desconhecimento doSUS é geral. �As pessoas não sabemda amplitude do SUS, acham que osistema se limita à realização de con-sultas�, disse Roberta à Radis.

Roberta testou os diretores doshospitais para saber se eles eram ca-pazes de identificar a logomarca doSUS. Para isso, criou, por conta pró-pria, uma logomarca fictícia e juntou-a à verdadeira marca do SUS e à daSespa. E aí veio a decepção: nadamenos que 70% dos entrevistados er-raram, confundindo a logomarca doSUS com a da Sespa. Os que assumi-ram desconhecer somaram 10%, e osque apontaram a logomarca fictíciasomaram mais 10%.

Em outra etapa de seu trabalho,Roberta perguntou aos diretores doshospitais que visitou a razão pela quala logomarca do SUS não era mostra-da. A pergunta causou surpresa: amaioria não soube justificar a ausên-cia � mesmo sabendo que se tratade determinação dos primeiros mo-mentos do SUS. As respostas variaramde falta de recursos por parte doshospitais até falta de vontade políti-ca dos gestores. Roberta escreve emseu trabalho que, para alguns direto-res, �não interessa muito aos políti-cos que a população perceba que oSUS é um direito, porque a políticabrasileira ainda se faz a partir declientelismo e favor�.

Uma das constatações mais cu-riosas da pesquisa é que hospitaisparticulares que atuam de forma su-plementar ao sistema exibem alogomarca do SUS, ao contrário dasentidades públicas.

Em Belém, tons erradosEm Belém, tons errados

O MISTERIOSO SUSMas não é só nas paredes das

unidades públicas de saúde que alogomarca do SUS inexiste. Em ma-teriais impressos pelo próprio Minis-tério da Saúde, como cartazes e fo-lhetos de campanhas (como a davacinação para idosos, a do combateà paralisia infantil ou pelo uso de ca-misinha), não há o menor sinal de queaquilo também é SUS. �A marca não éusada em documentos, nas receitasnem nos saquinhos de remédios. Naverdade, cada hospital tem sua pró-pria logomarca�, diz Roberta. �E nãocustaria nada mostrar que os examesrealizados pela população também sãobancados pelo SUS�.

Assim, o SUS permanece umgrande mistério para a população. Apesquisa de Roberta comprova queas pessoas desconhecem a amplitu-de de atuação do sistema, não sabemquem são os responsáveis por suagestão e muito menos de onde vêmseus recursos financeiros. Vejamos

alguns números. Quem é o responsá-vel pelo SUS? Apenas 5% dos usuáriose 8,3% dos jornalistas acertaram, di-zendo que a responsabilidade é dastrês esferas de governo.

E a origem do dinheiro usado nosistema? Para 25% dos jornalistas, 15%dos usuários e 20,8% dos servidores, odinheiro vem do governo federal. Ape-nas 4,16% dos servidores e 8,3% dosjornalistas citaram as três esferas. Queserviços são prestados pelo SUS, alémde consultas e exames? Para 16,6% dosservidores, 50% dos usuários e 8,3% dosjornalistas, nenhum. Pelo menos a to-talidade dos jornalistas e dos servido-res disse que a população não é bem-informada sobre o assunto; mas 20%dos jornalistas que atuam em assesso-rias de comunicação disseram que apopulação é bem-informada.

Um consolo: 80% dos usuários doSUS entrevistados disseram ter rece-bido um bom atendimento.

* Colaborou Katia Machado

A unidade do bairro de Sacramenta, antes da reforma...

... e o hospital privado: marca presente, apesar da cor errada

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Marinilda Carvalho

Pioneiros na valorização da marcado SUS, os profissionais que

compõem o Grupo Interinstitu-cional de Comunicação e Educaçãoem Saúde de Santa Catarina (Gices)lutam contra o descaso. Seu site(www.grupogices.hpg.ig.com.br) pu-blicou em 2002 uma espécie de ma-nifesto intitulado �SUS nega seunome � Entidades não divulgam mar-ca do Sistema Único de Saúde�. Dizo texto que a logomarca oficial doSUS, detalhada em escassos exem-plares da cartilha ABC do SUS, de 1991� �que defensores do sistema guar-dam com zelo� �, raramente estápresente em prédios, veículos, sites,publicações, peças publicitárias ouuniformes de servidores de entida-des que integram o sistema, como opróprio ministério, a Fundação Na-cional de Saúde, secretarias estadu-ais e municipais de Saúde.

�Esse comportamento das insti-tuições, tal como filhos que negamos pais, não contribui para a consoli-

dação do SUS�, continua o manifes-to. �Ao contrário, reforça uma visãofragmentada, focada na instituição emuitas vezes no gestor, distorcendoo entendimento da população e dospróprios servidores sobre o sistema�.

Lembra o Gices que o deslize écometido até por organismos volta-dos ao controle social do SUS, comoo Conselho Nacional de Saúde, cujapágina na internet é ilustrada somen-te pelo catavento do Ministério daSaúde. �A importante e bem-acabadapublicação� do relatório da 11ª Con-ferência Nacional de Saúde, de de-zembro de 2000, voltada à efetivaçãodo SUS, por exemplo, só tem as assi-naturas �Ministério da Saúde e Go-verno Federal � Trabalhando em todoo Brasil�. Pergunta o Gices: foi timi-dez, vergonha da marca ou um pe-queno esquecimento?

A �CRUZINHA� DO SUSO grupo faz instigante provo-

cação: �O curioso é que o Ministé-rio da Saúde exige na portaria quetrata do financiamento de progra-mas e projetos mediante convênioso uso da marca oficial em veículos,prédios e placas de obras custea-dos com recursos do Sistema Únicode Saúde�. E acrescenta: �Mais cu-rioso ainda é saber que uma marcanão-oficial foi engendrada por umaagência de comunicação para o mi-nistério, ainda na gestão de JoséSerra. O descaso com a logomarca,chamada por alguns de �cruzinha� doSUS, persiste na administração deHumberto Costa�.

No pé do texto, o leitor é enca-minhado a duas outras páginas dosite: um texto do farmacêutico-bioquímico Rudi Pereira Lopes e astiras de quadrinhos do dentista e es-pecialista em Saúde Coletiva Marcelo

Marques de Mélo. Trata-se de umareunião de esforços: Rudi escreveuo artigo �SUS clama por sua própriaidentidade� e Marcelo criou cartunse emoticons (carinhas para uso nainternet) com a marca do SUS (queilustram a página 2 desta edição).

Rudi escreveu à Radis no anopassado propondo esta pauta, agoracumprida nos 15 anos da querida Lei8.080/1990. (Radis 23, �SUS, marca avalorizar�). Pois bem, Rudi nos envioupreciosa cópia da cartilha ABC do SUS,que destrincha as regras do uso damarca. O arquivo em PDF da cartilhaestará à disposição dos interessados,na página do RADIS na internet.

E por que essa dificuldade toda?Quem responde é o próprio Rudi, umidealista que nada tem de DomQuixote, pois bem conhece o poderdo marketing. �Pela primeira vez nahistória do Brasil uma Constituição re-gistra em suas páginas a saúde comodireito fundamental do cidadão, dan-do ensejo ao surgimento do SistemaÚnico de Saúde, fruto de profundadiscussão da sociedade�, lembra eleem artigo no site do Gices. Então, porque, tantos anos depois, grande par-te da população desconhece porcompleto esse �extraordinário instru-mento de cidadania�?

�Sabemos todos que a marca éuma forma poderosa no processo decomunicação de massa�, diz. �Nocaso específico do SUS, sua assinatu-ra completa continua ignorada pelasinstituições de saúde, que fazemquestão de promover a sua não-di-vulgação�. Rudi afirma que é fácilidentificar, neste cenário, os princi-pais responsáveis pela �grave omis-são�: as instituições de saúde, quenegam a razão de sua própria exis-tência. Para ele, a assinatura comple-ta do SUS deveria estar estampada nasfachadas dessas instituições, nos ve-ículos, nos postos de atendimento ehospitais conveniados, na correspon-dência, nos sites da internet e, prin-cipalmente, �nos corações dos pro-fissionais de saúde�.

�O povo brasileiro, verdadeirodono da marca SUS, precisa fazer va-ler seu direito e cobrar de cada auto-ridade a divulgação de seu produtopelo país inteiro�, conclama o idealis-ta (antenado) desta sólida causa �cuja dissolução no ar só os usuáriosunidos impedirão. �O SUS não perten-ce às instituições e não é do gover-no. O SUS é seu. Lute por ele.�

Ogrupo foi criado em 1999, no1º Encontro Estadual de Co-

municação e Educação em Saúdede Santa Catarina. O objetivo doGices é integrar as ações de co-municação e educação em saúdeno estado, na busca da melhor qua-lidade de vida da população,aprofundar e socializar o conheci-mento teórico-prático de comuni-cação e educação em saúde e pro-mover a integração das instituiçõesque desenvolvem ações de comu-nicação e educação em saúde.

Em Santa Catarina, os pioneiros da causa

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Ouvidoria PúblicaOuvidoria PúblicaOuvidoria PúblicaOuvidoria PúblicaOuvidoria Pública

Participação democrática e cidadã

Opequeno auditório do Insti-tuto Nacional de Controlede Qualidade e Saúde daFundação Oswaldo Cruz fi-

cou cheio para o seminário �Ouvidoria,instrumento de participação cidadã�,realizado no dia 23 de maio pela re-cém-criada ouvidoria da Fiocruz. Pre-sente ao evento, Eliana Pinto, ouvidora-geral da União, destacou o númeroinsuficiente de ouvidorias no país. Dis-se ela que entre os 5.565 municípios�há menos de 100 ouvidorias municipaise cerca de 10 ouvidorias estaduais�. Emsua opinião, a maioria das pessoas, mes-mo aquelas que passaram por um bancoescolar, não sabe sequer o que é estainstituição.

Então, pergunta-se: o que éuma ouvidoria e qual a diferençaentre a pública e a privada? Difun-dida nas instituições e caracteriza-da como um espaço para registrode críticas, sugestões, reclamaçõese denúncias, as ouvidorias estabe-lecem um canal prático e de fácilacesso a usuários e consumidores. Adiferença entre uma e outra é sim-ples, como explicou Eliana: �Aouvidoria pública é um espaço que ocidadão tem para fazer valer seus di-reitos. Diferentemente da ouvidoriaprivada, que usa o espaço comomarketing, para obter lucro�.

A proposta da ouvidoria privadaé melhorar serviços e produtos paraobtenção de melhores receitas fi-nanceiras. O objetivo da ouvidoriapública, porém, é servir de canal decomunicação ou meio para que apopulação possa interagir e intervirna organização de uma instituição efazer valer seus direitos de cidadãos.Como disse a ouvidora geral da União,�é um importante canal de controlesocial, buscando a melhoria dos ser-viços públicos oferecidos�.

Graduado em Farmácia pelaUFRJ, especialista em Saúde Públicae mestre em Gestão de Ciência eTecnologia pela ENSP, João Quental,o novo ouvidor da Fiocruz, acha quea adoção de ouvidorias públicas écada vez mais importante no contex-to democrático brasileiro. �Sendoelas os canais de comunicação capa-

zes de captar as demandas da socie-dade a respeito da atuação dos ór-gãos públicos, promovem o aperfei-çoamento institucional a partir daperspectiva do cidadão�, disse.

A proposta tem por base a Cons-tituição Federal (Emenda Constitu-cional nº 19, de 1998, parágrafo 3ºdo artigo 37), que indica a necessi-dade de promover-se a participaçãoda sociedade na administração pú-blica e de regular o atendimento aousuário, o seu acesso a informaçõese a disciplina da representação con-tra abusos ou negligências da admi-nistração pública.

INDEPEDÊNCIA E AUTONOMIAPara o bom exercício da ouvidoria

pública, Manoel Eduardo Alves Camargoe Gomes, o pioneiro em tal função noBrasil, representando a Ouvidoria Pú-blica da Cidade de Curitiba, defendea necessidade de o ouvidor ter auto-nomia suficiente para levar as recla-mações e sugestões da sociedade àsinstâncias máximas da instituição querepresenta. �Os ouvidores da insti-tuição pública deverão defender osinteresses daqueles que não estãodentro dela�, disse em sua participa-ção no seminário.

Na opinião do presidente da As-sociação Brasileira de Ouvidores(ABO), Edson Luiz Vismona, tambémpalestrante, sendo o ouvidor públi-co o representante do cidadão e oagente de mudança dentro da insti-tuição, ele precisará ter apoio dadireção, ser pró-ativo, interagir comas demais áreas e ter acesso livreentre as várias instâncias do órgãono qual atua. Cabe a ele ainda: serunipessoal, dar sempre resposta aoreclamante, agir com independênciae autonomia, ter visibilidade e zelarpela credibilidade. �O ouvidor nãotem o poder de decidir, mas de per-suadir para que determinada deman-da tenha solução�, ressaltou.

Nesse sentido, destacou ManoelEduardo, a ouvidoria da Fiocruz, cri-ada em dezembro de 2004 e agora emoperação, é um exemplo a ser segui-do. A proposta é fruto da determina-ção do Congresso Interno da institui-ção (instância deliberativa composta

por representantes/funcionários detodas as unidades da Fiocruz), e ins-trumento de gestão e transformaçãoinstitucional que busca corrigir eaperfeiçoar os serviços por ela pres-tados. �A diferença da ouvidoria daFiocruz é ter nascido de uma deci-são coletiva de seus trabalhadores.Ela passa a contar, desde a sua cria-ção, com o apoio da comunidade in-terna�, exaltou João Quental.

A primeira ouvidoria, na figura doombusdman, surgiu na Suécia em1915. Foi criada para fazer cumprir asleis e denunciar agentes públicos que,no exercício de suas funções públi-cas, cometeram ilegalidades ineren-tes ao cargo, além de canalizar quei-xas, reclamações e sugestões do povorelacionadas à administração pública.O segundo país a criar um institutosemelhante foi a Finlândia. Hoje, maisde 100 países contam com a ouvidoriacomo mecanismo de controle social.

No Brasil, a primeira ouvidoriapública foi criada em 1986, em Curitiba.Em 1988, foi criada a Ouvidoria Públi-ca do Estado do Paraná. Em 1992, oMinistério da Justiça instituiu a pri-meira Ouvidoria Pública Federal, soba denominação de Ouvidoria-Geral daRepública. Em 1995 foi criada a ABO,marcando o crescimento deste insti-tuto no país. (K. M.)

Ouvidoria da FiocruzTel. (21) 3885-1762E-mail [email protected].

Apalavra ombudsman, expressãode origem nórdica, é resulta-

do da junção da palavra ombud,que significa �representante� ou�procurador�, com a palavra man,�homem�. A palavra em sua formaoriginal foi adotada em vários paí-ses. Outros adotaram denomina-ção própria, a exemplo da Espanha,que usa �Defensor del Pueblo�,da França (�Médiateur�), de Por-tugal (�Provedor de Justiça�). NoBrasil utilizam-se duas expressões:�Ouvidor�, denominação predo-minante no setor público; e�Ombudsman�, predominante nosetor privado.

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LeishmanioseLeishmanioseLeishmanioseLeishmanioseLeishmaniose

Katia Machado

Um grupo de especialistasdo Centro de PesquisaGonçalo Moniz, unidadeda Fiocruz na Bahia, co-

meça a desvendar o modo como oparasita Leishmania, causador daleishmaniose, dissemina a doença peloorganismo humano. O estudo, coor-denado pelo médico patologista Wa-shington Luis Conrado dos Santos,propõe entender como um parasitaque é injetado na pele pode causarlesões e migrar para órgãos internose mucosas. A pesquisa ajuda a encon-trar uma maneira de controlar a mi-gração do parasita e inibir o desen-volvimento de formas graves da que éconsiderada pela Organização Mun-dial de Saúde (OMS) uma das seis do-enças tropicais de importância mun-dial e a segunda, após a malária, entreas causadas por protozoários.

Transmitida por insetos hemató-fagos infectados denominados fle-

bótomos e caracterizada, em geral,por apresentar inflamações crônicasde pele, mucosas ou vísceras, aleishmaniose afeta cerca de 1,5 mi-lhão de pessoas por ano no mundo.Hoje, cerca de 12 milhões apresen-tam umas das duas formas da enfer-midade: a tegumentar e a visceralamericana.

A leishmaniose tegumentar é aforma mais branda da doença. Comoexplicou Washington do Santos, elaaparece como uma úlcera cutânea.�Em 3% da população doente, é de-senvolvida uma lesão mucosa no narizou no palato (boca)�. A visceral, co-nhecida também como calazar,esplenomegalia tropical ou febredundun, que nas Américas é causadanormalmente pela espécie deprotozoário Leishmania chagasi, é otipo mais grave da doença, podendocausar febre irregular prolongada,hepatoesplenomegalia (aumento dofígado e do baço), pancitopenia (pro-blemas no sangue), perda de peso,desnutrição e imunossupressão, elevar ao óbito caso a pessoa não re-ceba o tratamento adequado.

No Brasil, a forma mais presenteé a tegumentar, do tipo leishmaniosebrasiliensis. Provoca o aparecimen-to de feridas na pele e, em algunscasos, destrói a cartilagem do nariz

e o interior da boca e a garganta. Adoença só leva à morte quando nãotratada devidamente. Tem esse nomeporque na maioria dos casos ocorrena Amazônia e em áreas de florestas,onde estão presentes os mosquitostransmissores, os flebotomíneos,chamados popularmente de mosqui-to palha, cangalhinha ou asa dura de-vido a sua aparência cor de palha ecom grandes asas dirigidas para tráse para cima.

Segundo a OMS, surgem 500 milcasos da leishmaniose tegumentaranualmente no mundo � no Brasil,esse número varia entre 2 mil e 3mil casos. A maioria está nos esta-dos costeiros, do Pará ao Paraná, eem estados centrais como Goiás,Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.De acordo com Expedito Luna, di-retor do Departamento de Vigilân-cia Epidemiológica da Secretaria deVigilância em Saúde do Ministério daSaúde, em 2004 foram detectados22.590 novos casos de leishmaniosetegumentar. Desse total, o estadodo Pará registrou 4.095, Mato Gros-so, 3.284, e Maranhão, 2.625. Osestados com os menores númerosforam Santa Catarina, com oito ca-sos, e Rio Grande do Sul, com ape-nas dois. �Acreditamos que a maio-ria dos casos surgidos no sul do país

Doença tropical atinge1,5 milhão por ano

Ao que tudo indica, o estudomostra que certas molé-

culas do sistema imune encon-tradas na pele têm sua funçãoalterada pelo parasita e adqui-rem a capacidade de se desta-car, podendo migrar pela cor-rente linfática ou sanguíneapara outros locais. Para tanto,os pesquisadores pegaram cé-lulas do sangue e infectaramalgumas com o protozoário. Emseguida, puseram essas célulassobre um pedaço de pele comuma área de inflamação. �Ob-servamos ao microscópio que,em geral, enquanto as célulasnão-infectadas aderiam à pele,as infectadas não ficavam pre-sas�, contou o patologista Wa-shington Luis.

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seja proveniente de outros estados�,informou. Nos últimos anos, a médiafoi de 30 mil novos casos por ano.

Ainda que os números de casosda leishmaniose tegumentar sejamimportantes, o Ministério da Saúdevem se preocupando ainda mais coma forma visceral da doença, que cres-ceu consideravelmente na última dé-cada, ocasionando muitas mortes.Segundo dados ainda preliminares, em10 anos a média anual de casos daleishmaniose visceral foi de 3.500, emortes em torno de 10%. Em 2004,registrou-se um total de 2.583 novoscasos e uma taxa de letalidade emtorno de 8,4% (cerca de 300 óbitos).Minas Gerais apresentou maior núme-ro, 580, seguido do Maranhão, com390, Bahia, com 296, e Mato Grossodo Sul, 213. �Em contraponto, váriosoutros estados não apresentam ca-sos da doença�, informou Luna.

Em sua análise, somente a leish-maniose tegumentar se manteve es-tável nessa última década. �Perce-bemos uma expansão geográficaquanto à leishmaniose visceral, queé a mais perigosa�, disse. O motivoque explica o crescimento dessa for-

ma da doença em algumas regiõesdo país ainda está sendo investiga-do. Luna apontou causas prováveis:�Possivelmente esse aumento estáassociado à urbanização maciça e àmigração de pessoas e de animaispara as periferias�, adiantou. �Acerteza do real motivo só podere-mos ter depois de uma investigaçãomais profunda�.

CONTROLE COMEÇACOM A NOTIFICAÇÃO

Para o Ministério da Saúde, oprimeiro passo a ser dado no contro-le e no tratamento da doença é anotificação de casos. Na opinião dopatologista Washington Luis, houveconsiderável progresso nas açõespara identificação da leishmaniose nopaís. �Antigamente, achava-se que adoença era estritamente rural, maspercebemos, hoje em dia, que avisceral não está apenas concentra-da nas áreas rurais, ela é também ur-bana e periurbana, e a tegumentar,por exemplo, cresceu com o avançoda fronteira agrícola�. Para ele, essanova percepção sobre as áreas geo-gráficas da doença a torna mais visí-

Perguntas e respostas sobre detecção, tratamento e cura

L e i s h m a n i o s ete g u m e n t a r

O que é?Doença infecciosa que provo-

ca o aparecimento de feridas napele e em alguns casos destruindoa cartilagem do nariz e o interior daboca e garganta. É causada porprotozoários de gênero Leishmania.É uma doença de animais silvestres(paca, preguiça, gambá, tamanduáe alguns roedores), transmitida aci-dentalmente ao homem ao penetrarnuma área de selva. As feridas sur-gem no local da picada dos insetosno período de 2 semanas a 3 meses,na forma de lesões avermelhadas,endurecidas e elevadas.

Como é transmitida?Através da picada de mosqui-

tos conhecidos genericamentecomo flebotomíneos e, popularmen-te, chamados de mosquito palha,cangalhinha ou asa dura.

Em florestas, o que fazer para evi-tar a forma da doença?

Dormir sempre que possívelem rede de selva (coberta), evi-

tando dormir desprotegido sob acopa das árvores; enterrar detri-tos encontrados; evitar entrar oupermanecer em áreas endêmicas,no período das 16h às 8h; usar rou-pas e gorros para dificultar a pi-cada do mosquito; e usar repe-lentes contra insetos.

L e i s h m a n i o s evi s c e ra l

O que é?A leishmaniose visceral é a for-

ma mais séria dessa doença que podeafetar outros animais além do homem.Quando não é tratada, pode levar àmorte em um ou dois anos após oaparecimento dos sintomas caracte-rizados, normalmente, por febres delonga duração. A doença pode afe-tar baço, fígado e medula óssea. Elaé causada pelo protozoário da famí-lia Tripanosomatidae e gêneroLeishmania. Existem três espécies quecausam a leishmaniose visceral:Leishmania donovani, na Ásia;Leishmania infantum, na Ásia, na Eu-ropa e na África, e Leishmaniachagasi, nas Américas, onde a doen-

ça é denominada leishmaniose visceralamericana ou calazar neotropical.

Como é transmitida?A transmissão entre os hospe-

deiros vertebrados é feita pela pi-cada do mosquito palha (flebótomoLutzomia longipalpis) infectado porparasitas do gênero Leishmania.

Quem são os hospedeiros da do-ença?

No Brasil, os mais importantesreservatórios ou hospedeiros são ocão e a raposa. O homem tambémpode ser hospedeiro, principalmen-te quando a doença incide sob a for-ma de epidemia. Os cães infectadospodem ou não desenvolver quadroclínico da doença, que apresentasinais de emagrecimento, eriçamentoe queda dos pêlos, nódulos ou ulce-rações, hemorragias intestinais, pa-ralisia dos membros posteriores,ceratite com cegueira e caquexia.Em alguns casos, pode ser fatal.

Como controlar a doença?Eliminação dos cães infectados,

redução da população de flebóto-mos, diagnóstico e tratamento pre-coce dos casos.

vel e passível de tratamento e, con-seqüentemente, menores são os ín-dices de mortalidade.

Para a OMS, a notificação e aidentificação ainda não são suficien-tes na maioria dos países. Acredita-se que, para cada caso notificado,existam 4 ou 5 não comunicados.

O cuidado com as pessoas quecontraem a leishmaniose está pre-visto pelo sistema de saúde do país.Estão garantidos o fornecimento gra-tuito de medicamento, baseado eminjeções de glicantim ou petamedina,e a assistência à saúde, que no casoda leishmaniose tegumentar estácentrado no atendimento ambula-torial, enquanto a visceral, no aten-dimento hospitalar. Paralelamente,disse Luna, o ministério vem realizan-do a capacitação dos profissionais desaúde do SUS e organizando o siste-ma de informação para que a Vigi-lância Epidemiológica tenha uma vi-são exata do surgimento de novoscasos da doença no país para disporrecursos especiais para os municípi-os que apresentaram números altosda doença, como Campo Grande (MS)e Palmas (TO).

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PLANO DE CARREIRA, CARGOS E SALÁRIOS DO SUSPLANO DE CARREIRA, CARGOS E SALÁRIOS DO SUSPLANO DE CARREIRA, CARGOS E SALÁRIOS DO SUSPLANO DE CARREIRA, CARGOS E SALÁRIOS DO SUSPLANO DE CARREIRA, CARGOS E SALÁRIOS DO SUS

O modelo avança

A tenção, trabalhadores dasaúde de todo o Brasil: jáestá pronto o modelo comas diretrizes sobre o Plano

de Carreiras, Cargos e Salários do SUS,o tão aguardado PCCS-SUS. As dire-trizes estiveram abertas a consultapública até 20 de junho, e agora en-tram na fase final de discussão paraelaboração de um plano definitivo.Consenso, porém, ainda não existe.

Há questionamentos sobre pon-tos considerados vitais para os tra-balhadores em saúde, como cargahorária e progressão na carreira. Pormais que o tema tenha sido debati-do ao longo dos últimos meses, aspropostas dos trabalhadores e do go-verno ainda não entraram em per-feita sintonia.

O secretário-geral da Confede-ração Nacional dos Trabalhadoresem Saúde, José Caetano Rodrigues,não vê razões, por exemplo, para ogoverno temer a redução da jorna-da de trabalho para 30 horas sema-nais. De acordo com ele, tal políti-ca estaria de acordo com asintenções do Palácio do Planaltode criar novos postos de traba-lho no país. Além disso, garanti-ria ao trabalhador em saúde(assim como conseguiram osdo setor bancário) melhorescondições de trabalho. Aprincipal conseqüência dis-so, aponta Caetano, seriaa prestação do serviçocom maior qualidade.

O governo, de acor-do com ele, argumentaque a medida traria a ne-cessidade de contratarmais gente, o que redunda-ria em gastos elevados para osgestores. �Acontece que, na práti-ca, essa redução já acontece em re-lação a 70% dos servidores públicosmunicipais de saúde�, afirma Cae-tano, citando dados do Conasems.�O que precisamos, agora, é le-galizar a situação�. Segundo ele,o estado de Santa Catarina,que aprovou a redução há pou-cos dias, vem conseguindobons resultados.

Outra preocupação da catego-ria e que até o momento não faz par-te das diretrizes já traçadas é a quan-tidade de cargos (ou níveis) noserviço público. A reivindicação dosservidores é por apenas um cargo,para que, assim, o servidor possaprogredir de níveis ao longo da vida.Acabaria, dessa forma, a atual divi-são em níveis fundamental, médio esuperior. Um servidor de nível mé-dio, por exemplo, poderia chegar àclasse de nível superior sem neces-sidade de fazer novo concurso pú-blico. Bastaria, para isso, que se qua-lificasse. Mas o governo, segundoCaetano, não estaria disposto a acei-tar a idéia, dizendo que a progres-são deve se dar dentro do mesmonível. Por isso, propõe quesejam avaliadas pro-postas de doisou três car-gos.

Oque pa-

rece ser con-senso, até o

momento, é aperspectiva de

carreira com pro-gressão a cada

dois anos. Essaprogressão se daria

respeitando-se trêscritérios fundamen-

tais: qualificação dotrabalhador, seu tempo

de serviço e seu desem-penho.

O coordenador geralde Gestão do Trabalho em

Saúde do Ministério da Saúde,Henrique Vitalino, diz que ainda écedo para se falar que algum pontoem discussão está gerando polêmi-ca. Afirma até que não há �resistên-cias� por parte do governo. De acor-do com ele, tanto a reivindicação dajornada de 30 horas quanto a docargo único serão assuntos a seremdebatidos, novamente, na Mesa deNegociação Permanente do SUS, quevolta a se reunir depois que as con-tribuições feitas pela consulta pú-blica tiverem sido consolidadas pelacomissão formada para elaborar asdiretrizes do PCCS-SUS.

Sobre a redução da jornada detrabalho, Henrique ressalta que aquestão é complexa, envolvendo,

sobretudo, os municípios, queconcentram a maior parte

dos trabalhadores em saú-de. Por isso, também osgestores municipais te-rão de ser ouvidos, umavez que será preciso sa-ber que impactos a redu-ção traria às administra-

ções. Sobre o cargo único,Henrique afirma que a Mesa

debaterá, em princípio, aspropostas de dois ou três car-

gos. Mas isso não significa quea proposta de cargo único este-

ja descartada.A revista Radis vem acompa-

nhando as discussões a respeito doPCCS desde que as reuniões da co-missão responsável pela elaboraçãodas diretrizes começaram, em agos-to do ano passado (Radis nº 26). Acomissão é composta por represen-tantes do governo e dos trabalha-dores. Depois da consulta pública,as diretrizes serão novamente avali-adas pela comissão, numa espéciede compilação das propostas. Em se-guida, a Mesa Nacional de Negocia-ção Permanente do SUS se reunirápara as discussões finais e para aelaboração do documento, a ser re-passado ao Conselho Nacional deSaúde e à Casa Civil da Presidênciada República. A partir daí, poderáse tornar projeto de lei. Por issomesmo, a atuação da categoria podeser decisiva na reta final. (W.V.)

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Wagner Vasconcelos

OProjeto de Lei Complementar01/2003 (PLP 01/03), quedefine ações e serviços desaúde e estabelece percen-

tuais fixos de recursos para o setor� obrigando estados e municípios ainvestir em saúde no mínimo 12% e15%, respectivamente, de sua arreca-dação, e a União, 10% de suas recei-tas correntes brutas �, está tendotramitação no Congresso bem mais len-ta do que se esperava: não foramatendidos os pedidos de urgência parasua análise. Aprovado em todas as ins-tâncias da Câmara, só falta a Comissãode Constituição e Justiça e de Cidada-nia (CCJC). Seu relator, José Pimentel(PT-CE), deu parecer favorável. Depois,a prova de fogo: o plenário.

Apesar da demora, seu autor, odeputado federal Roberto Gouveia(PT-SP), continua otimista. Médicoformado pela USP, especialista em saú-de pública, deu entrevista à Radis emBrasília e disse esperar que a votaçãoocorra, afinal, no segundo semestre.

O deputado também falou sobrea aprovação na CCJC, em 1º de ju-nho, de seu projeto (PL 22/03) queprevê a quebra de patente dos re-médios usados no tratamento da Aids.No dia seguinte a ONU divulgou re-latório mostrando que, apesar dosinvestimentos mundiais de US$ 8 bi-lhões, a Aids é mais veloz do que ocontrole. O Brasil é citado no relatóriocomo país em desenvolvimento com o maisbem-sucedido programa de combate. Mes-mo sendo a quebra de patentes tática jáusada pelo governo, o deputado espera,com seu projeto, estender o debate tam-bém ao Legislativo.

E a aprovação do projeto?O PLP 01/03 está sendo muito bem

aceito pelos deputados e vem tendoaprovação significativa em todas as co-missões por onde tem passado. Agora,está na CCJC aguardando apenas a vo-tação. O parecer do relator JoséPimentel foi pela aprovação.

E o que isso representa?Basta dizer que três dos 16 me-

dicamentos que constituem o coque-tel consumiram cerca de 70% de todoo dinheiro usado no programa de Aidsno Brasil entre 2004 e 2005. Temosde ter cuidado para, daqui a pouco,não começar a faltar recursos paraoutras necessidades na saúde emnosso país. Por isso, é importanteproteger os nossos recursos.

São muito elevados os preços?A OMS mostra que o laboratório

Gilead, por exemplo (que produz oTenofovir, usado no coquetel), cobra9,7 vezes a mais do que o custo deprodução. É um lucro absurdo! Nãose pode colocar interesse comercialacima da vida humana. Tanto a OMSquanto a ONU consideram os anti-retrovirais bens da humanidade. Res-tringi-los, portanto, é um atentado.

Os laboratórios não concordam...A própria Organização Mundial do

Comércio determinou que, para paísespobres, a propriedade intelectual des-ses remédios deve ser relativizada, ouseja, estar subordinada às necessida-des da população. Temos de protegero orçamento público da saúde no Bra-sil para que os recursos do SUS nãoescorram pelo ralo da ganância.

Roberto Gouveia

�Os recursos do SUS não podemescorrer pelo ralo da ganância�

ENTREENTREENTREENTREENTREVIVIVIVIVISSSSSTTTTTAAAAA

E quando seria a votação?Já conversei sobre o assunto

com o presidente da CCJC, depu-tado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).De acordo com ele, o projeto deveser apreciado ainda no primeiro se-mestre e votado já no segundosemestre. O presidente da Câ-mara dos Deputados, SeverinoCavalcanti (PP-PE), também jádisse que fará o possível paraagilizar a votação do proje-to no plenário.

A quebra de patentes já exis-te. Qual a razão do projeto?

Com a aprovação pelaCCJC, a Câmara entra de vezno processo de discussão de paten-tes, que antes se dava de forma ex-clusiva entre o Poder Executivo e aindústria farmacêutica, uma novelaque se arrasta há tempos. Os depu-tados se manifestaram contrários àspatentes para anti-retrovirais com oobjetivo de preservar o controle detratamento da Aids realizado no Bra-sil e que é um patrimônio para o mun-do inteiro. Devido a esse programa eà distribuição do coquetel de medi-camentos, já conseguimos melhorara qualidade de vida dos pacientes,aumentar a esperança de vida e di-minuir o tempo de internação, as do-enças oportunistas e até a transmis-são, já que a medicação baixa ainfectividade do vírus.

Por que quebrar patentes?Com a transformação da Aids

numa doença crônica, os pacientespassaram a fazer uso de medicamen-tos de forma contínua, por um tem-po muito grande. Esse uso, contudo,gera um certo processo de acomo-dação do organismo, de resistência.Por isso, passa a ser necessário o usode novas drogas. Hoje, o Brasil distri-bui medicamentos a 156 mil pacien-tes, mas temos números que mostramque há mais 600 mil infectados, e atendência é de crescimento. O pro-blema é que essas drogas novas sãoprotegidas por patentes.

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SSSSSERERERERERVIÇVIÇVIÇVIÇVIÇOOOOO

EVENTOS

2º CONGRESSO INTERAMERICANODE SAÚDE AMBIENTAL

Cuba sediará a segunda edição doCongresso Interamericano de Saú-

de Ambiental, que traz como temacentral a dimensão ambiental nasaúde humana e qualidade de vida.O evento, promovido pelo InstitutoNacional de Higiene, Epidemiologiae Microbiologia de Cuba, tem porobjetivo contribuir e concentrar es-forços de cientistas, especialistas,profissionais e técnicos de saúde napromoção de uma melhor qualidadede vida para todos, enfocando osproblemas do ecossistema. Envio detrabalhos: até 30 de julho.Data 19 a 23 de setembroLocal Centro de Convenções de Ha-vana, CubaMais informaçõesEmail [email protected] www.inhem.sld.cu

9º SEMINÁRIO MINEIRO DE PLANTASMEDICINAIS E 2º JORNADAFARMACÊUTICA DE DIAMANTINA

Promovido pelas Faculdades Fede-rais Integradas de Diamantina

(Fafeid), o evento vai abordar, entreos temas centrais, a planta medicinale o medicamento e o conhecimentopopular dos raizeiros. O 9º SeminárioMineiro de Plantas Medicinais, queocorre concomitantemente à 2º Jor-nada Farmacêutica de Diamantina,terá ainda duas mesas-redondas, qua-tro minicursos e quatro palestras.Envio de trabalhos: até 30 de setembro.Data 10 A 13 de novembroLocal Diamantina, MGMais informaçõesTel. (38) 3531-1811 Ramal [email protected] www.fafeid.edu.br

6º CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOÉTICA

Bioética, meio ambiente e vida hu-mana são os temas da sexta edi-

ção do Congresso Brasileiro deBioética, que ocorre em Foz doIguaçu. Organizado pela SociedadeBrasileira de Bioética, o evento tem

como principal objetivo discutir apreservação ambiental como condi-ção primordial para sobrevivência davida humana no planeta.Data 30 de agosto a 3 de setembroLocal Centro de Convenções do HotelMabu, Foz do Iguaçu, ParanáMais informaçõesSecretaria-Executiva do CongressoFax (61) 328-6912Sitewww.sbbcongressobioetica2005.com.br

2º SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIADA SAÚDE E 1º ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO DE GEOGRAFIA DA SAÚDE

ORio de Janeiro sediará a segundaedição do Simpósio Nacional de

Geografia da Saúde que se realizajunto com o 1º Encontro Luso-bra-sileiro de Geografia da Saúde. Osobjetivos do evento são: avaliar edivulgar a produção científica so-bre geografia e saúde no Brasil; pro-mover o intercâmbio entre pesqui-sadores e entre métodos utilizadospela geografia da saúde e incenti-var a incorporação de abordagensgeográficas nas temáticas de saú-de coletiva. O simpósio, que reuni-rá pesquisadores da disciplina deGeografia da Saúde do Brasil e dePortugal, está dividido em quatroeixos temáticos: Situação de saú-de e condições de vida; Pensamen-to, história e ensino da Geografiada Saúde; Território, promoção desaúde e cotidiano; e Acesso aosserviços de saúde.Envio de trabalhos: até 14 de julho.A divulgação dos trabalhos aprovadossairá em 12 de agosto.Data 16 a 18 de novembroLocal Rio de JaneiroMais informaçõesSite www.geosaude.cict.fiocruz.br/simposio

NA INTERNET

BIBLIOTECA VIRTUAL DA FAPESP

AFapesp inaugurou sua BibliotecaVirtual do Centro de Documen-

tação e Informação, reunindo di-versas fontes de informação sobreciência, tecnologia e inovação(CT&I) numa única plataforma nainternet. Nela, o usuário acessa di-

versas bases de dados referenciaisde informações da fundação, comoprojetos de pesquisa, diretório deeventos e teses, além de reporta-gens publicadas pela imprensa so-bre a Fapesp e notícias sobre CT&I.O serviço contribui para a preser-vação e a disseminação da memó-ria institucional da fundação e co-labora para aumentar a quantidadee a qualidade de conteúdos nacio-nais em ciência, tecnologia e in-formação que circulam nas redeseletrônicas e nas novas mídias.Site www.bv.fapesp.br

GUIA DE FONTES E CATÁLOGOSEM SAÚDE MENTAL

Foram lançados estemês o Guia de Fon-tes e Catálogos deAcervos e Insti-tuições para Pes-quisas para SaúdeMental e Assistên-cia Psiquiátrica noEstado do Rio deJaneiro e o CD-ROM Catálogo dePeriódicos Não-Cor-rentes em Psiquia-tria da Bibliotecade Manguinhos. Aspublicações foramcoordenadas por Paulo Amarante, pro-fessor do Laboratório de Pesquisa emSaúde Mental da Escola Nacional deSaúde Pública Sergio Arouca, em par-ceria com a Casa de Oswaldo Cruz,ambos da Fiocruz.

No Guia, o usuário encontra algu-mas curiosidades, tais como os pron-tuários de Torquato Neto, Lima Barretoe Ernesto Nazaré, e documentos da ex-tinta Liga Brasileira de Higiene Mental.O trabalho é conseqüência do Proje-to Memória, iniciado por Amarante em1989 ao ingressar na Ensp para locali-zar fontes em psiquiatria, entre livros,documentos e vídeos.

O CD é outro importante instru-mento de pesquisa, pois auxilia o pes-quisador a encontrar mais facilmentealguns documentos que estavam forade circulação há anos. São ao todo 22periódicos nacionais não-correntes.

As publicações estão na Bibliote-ca Multimídia da Ensp, no endereçowww.ensp.fiocruz.br/biblioteca/.

O marketing do SUSPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDO

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seja assegurada pelo Estado.Assim é que inúmeros paísescolocam a questão social como cam-po de ação primordial do Estado etêm assegurado o direito à saúde emimpostos e contribuições do cidadão.A vantagem de ser estatal é a garan-tia de que será universal a todos oscidadãos ou que, no mínimo, dê co-bertura àqueles que mais necessida-des têm, provavelmente os que me-nos têm e menos podem. Assim algunspaíses dão cobertura universal a to-dos e outros à parcela da populaçãomais carente. Outros limitam não nauniversalidade, mas no alcance dacobertura (atendimentos ditos dealta-complexidade e custo).

O seguro estatal, financiado pe-los cidadãos, entre as muitas vanta-gens tem as seguintes: inexistênciado lucro (objetivo do privado), possi-bilidade de extensão de cobertura emnecessidades emergentes, aberturaao controle da sociedade (por meiodo Legislativo, do Judiciário e do con-trole social direto).

Assim é o SUS: um �seguro esta-tal� garantido por nossos impostos econtribuições sociais, previsto naConstituição como �direito de todose dever do Estado�.

Este é o primeiro ponto de marke-ting a ser feito. Defenda o que é seu!Exija dos governos que cumpram aconstituição e as leis �por pensamen-tos, palavras e obras�... garantindoos meios, principalmente financeiros,para que o SUS cumpra seu papel.

Ações: Expor a logomarca do SUSem unidades, impressos (das receitas,dos pedidos de exame etc.), nos me-dicamentos distribuídos.

De 1994 e 2001 havia obrigatorie-dade legal (portaria ministerial) dese entregar a todo cidadão interna-do pelo SUS documento em queconstasse os gastos totais � só pos-sível de ser feito graças aos impos-tos do cidadão. Infelizmente, estaportaria foi revogada, sob o argumen-to de que já existiam outros meca-nismos de divulgação. Com ou semportaria, o gestor pode tomar taldecisão: faça.

A íntegra deste texto pode ser lida no sitedo Gices (www.grupogices.hpg.ig.com.br)

Gilson Carvalho

No afã diário de resolver os pro-blemas emergentes do Sistema

Único de Saúde, os gestores públi-cos correm um alto risco, de ficaremapenas na administração das �faltas�de cada dia. Cuidando do varejo. Cor-rendo atrás do prejuízo. O grande pro-blema enfrentado hoje pelo sistemaé ter poucos defensores do SUS uni-versal e eqüitativo, servindo a todasas pessoas, em suas necessidades desaúde, numa concepção mais amplae integradora, como manda a Consti-tuição Federal.

Como não aparecem, não circu-lam pela mídia, os feitos de um Siste-ma de Saúde que realiza mais de 2bilhões de atendimentos/ano parauma população de 180 milhões depessoas, 140 milhões que, com cer-teza, se servem exclusivamente dele?Três milhões de mulheres dão à luzem leitos hospitalares pagos pelo SUS(isto é, financiados pelos impostos doscidadãos), e isso não aparece comoserviço prestado pelo SUS? São cer-ca de 11 milhões de internações porano, realizadas com recursos públi-cos do cidadão, gerenciadas peloSUS... e nada de aparecer na mídia ena opinião pública! É só problema, re-clamações... uma avalanche de críti-cas que mais parece orquestração deinimigos (entre estes, aqueles que en-riquecem com as dificuldades)!

O SUS tem duas classes de clien-tes. Uma dos que a utilizam, só têm oSUS a quem recorrer em suas necessi-dades de saúde. Infelizmente, muitasvezes nem fazem a associação entre oserviço de saúde recebido e seu res-ponsável, o SUS. Porque não sabem ouporque são iludidos por inescrupulosos,que os enganam dizendo que estãoprestando serviços gratuitos, para de-pois, por exemplo, cobrar o retornopelo voto ou outras coisas.

A outra classe que se utiliza doSUS faz questão de não aparecer oude ser escondida. São todos os quepagam planos e seguros de saúde e que,quando estes lhes negam algum servi-

ço, recorrem ao SUS. São clientes quepagam por fora a instituições ou pro-fissionais, inconstitucional e ilegalmen-te, e se utilizam das guias do SUS �cal-çando� o atendimento. Nesta últimatambém se incluem os clientes �parti-culares�, que pagam do que têm e al-guns do que não têm. Esta segundaclasse, usuários de planos e segurosprivados, é a que acaba atropelando aprimeira, furando filas de espera leva-dos �por alguma mão de anjo� que estáse favorecendo. Estes não têm inte-resse em divulgar o SUS. Seria comoque uma ofensa, uma humilhação dizerque se utilizaram de um sistema que,errônea e pejorativamente, denomi-nam de �sistema dos pobres�. Nuncaos vi na mídia louvando, agradecendoe, principalmente, defendendo o SUS.Defendendo mais recursos para o SUS.Defendendo o cumprimento da Cons-tituição, que garante saúde como di-reito universal e de equidade.

Acho que os gestores públicostêm que fazer mais marketing positi-vo do SUS. Não o marketing por elemesmo ou para enaltecer administra-ções públicas, deste ou daquele go-verno ou partido. Marketing paramostrar aos cidadãos brasileiros o quefaz o SUS que teimam em querer�privatizar à mão branca�. Seria umtrabalho de conscientização para quemais pessoas defendam o SUS.

No Brasil os últimos levantamen-tos apontam que seguros e planosde saúde têm sido oferecidos a umcusto mensal entre 20 e 1.000 dóla-res por pessoa, na dependência doque se cobre e de �quem� é cober-to. A outra alternativa é que a saúde* Médico-pediatra e de Saúde Pública