conflitos e injustiça ambiental: (re) avaliação da legislação referente à Área de proteção...

266
 ROVANE DOMINGUES Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito para obtenção do Grau de Mestre Área de Concentração Espaço Construído e Meio Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Werther Holzer. Niterói-RJ. 2012

Upload: rovanedomingues

Post on 12-Apr-2018

284 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 1/266

 

ROVANE DOMINGUES

Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente àÁrea de Proteção Ambiental de Maricá - RJ 

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo daUniversidade Federal Fluminense, comorequisito para obtenção do Grau de MestreÁrea de Concentração Espaço Construído eMeio Ambiente.

Orientador: Prof. Dr. Werther Holzer.

Niterói-RJ.2012

Page 2: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 2/266

 

ROVANE DOMINGUES

CONFLITOS E INJUSTIÇA AMBIENTAL: (RE) AVALIAÇÃO DALEGISLAÇÃO REFERENTE À ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

DE MARICÁ - RJ

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo daUniversidade Federal Fluminense, comorequisito para obtenção do Grau de MestreÁrea de Concentração Espaço Construído eMeio Ambiente.

BANCA EXAMINADORA:

 ________________________________________ Prof. Dr. Werther Holzer- Orientador

Universidade Federal Fluminense

Profª. Dra. Fernanda Furtado de Oliveira e Silva.Universidade Federal Fluminense 

 ________________________________________ Prof. Dr. Evandro Bastos Sathler.

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha eMucuri - campus Diamantina - MG. 

Niterói

2012

Page 3: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 3/266

 

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Werther Holzer pela

orientação e significativa contribuição para o meu

processo de crescimento profissional;

Aos meus pais Roque Domingues e

Ana Maria Gonçalves Domingues, pois a vitória

materializada neste trabalho só foi possível graças

à trajetória de lutas que eles trilharam em prol do

meu crescimento pessoal e profissional;

Aos meus filhos Anna Caroline Domingues e

Rovane Domingues Junior pelo incentivo e

confiança,

A todos os Mestres Doutores do Programa de Pós

Graduação da Arquitetura e Urbanismo e Geografia

da Universidade Federal Fluminense de Niterói, RJ,

em especial a Professora Doutora

Louise Land Bittencourt Lomard pelo incentivo e

acolhimento;

À Engenheira Tania Mara Ramos pelas discussões,

idéias e sem a sua compreensão não seria possível

à concretização desse trabalho;

Ao Leandro Chefe da APA de Maricá. Com toda a

minha sinceridade: Muito obrigado por tudo e saiba

eu não tenho palavras que possam expressar agrandeza da gratidão que eu devo a você;

Page 4: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 4/266

 

Ao Instituto Estadual de Floresta – IEF/RJ por todo

apoio a esse trabalho e principalmente pela

concessão do material digital que permitiu a

elaboração dos mapas.

Page 5: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 5/266

 

Page 6: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 6/266

 

Page 7: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 7/266

 

“Deus me permita que eu não morra, sem antes,

meu sonho realizar, de ver meus filhos criados,

honestos, formados, felizes a trabalhar.

Criando meus netos, alegria do meu lar.” 

Roque Domingues.

RESUMO

Page 8: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 8/266

 

A dissertação trata dos conflitos e injustiças ambientais, a partir de um estudo de

caso que propõe uma reavaliação da legislação referente à Área de Proteção

Ambiental de Maricá. Tal reavaliação parte do pressuposto de que nem sempre a

regra é o cumprimento da norma urbanística e a da proteção ambiental, que visa à

conservação/proteção do ambiente e da qualidade de vida da população. Em razão

destes fatos, é comum, se confrontarem o interesse na construção de

empreendimentos versus as normas ambientais e jurídicas (jusambientais) vigentes,

além dos deveres do poder público, de acordo com a legislação específica.

A observação desses conflitos teve como objeto a Área de Proteção Ambiental de

Maricá (APA de Maricá), localizada no complexo lagunar do município de Maricá.

Esta unidade de conservação vem sendo ameaçada há alguns anos pela construção

de um empreendimento imobiliário de grande porte, favorecido por um Plano de

Manejo executado exatamente para atender aos interesses imobiliários,

desrespeitando quesitos básicos para a preservação do local, tais como: garantir a

posse da população tradicional de Zacarias e definir as zonas de ocupação, assim

os parâmetros definidos devem ser mais restritivos para Áreas de Preservação

Permanente e Faixas Marginais de Proteção do Sistema Lagunar. A dissertação

conclui que a Área de Proteção Ambiental de Maricá (APA de Maricá) deve ser

urgentemente recategorizada para unidade de conservação integral como resolução

dos conflitos sociais e ambientais devido à instabilidade jurídica presente na

situação atual.

Palavras chaves: Area de Proteção Ambiental de Maricá; Unidade de Conservação,

Recategorização; Crise Ambiental; Conflito Socioambiental, Injustiça Ambiental.

ABSTRACT

Page 9: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 9/266

 

The dissertation deals with the conflicts and environmental injustices, from a case

study that proposes a reassessment of the legislation relating to the Environmental

Protection Area of Marica. This review assumes that the rule is not always

compliance with the standard of urban and environmental protection, aimed at the

conservation / protection of the environment and quality of life. In view of these facts,

it is common confronting interest the construction of projects versus environmental

rules and legal (jusambientais) , in addition to the duties of public authority, in

accordance with specific legislation. This protected area has been threatened a fewyears ago to large build development, favored by a management plan implemented

to meet the real estate interests, disrespecting the basic requirements for the

preservation of the site, such as: secure the possession of traditional population of

Zacarias and define zones of occupation, so the parameters should be defined more

stringent for Permanent Preservation Areas and Marginal Ranges of Protection

System Lagoon.The dissertation concludes that the Environmental Protection Area of

Marica (Maricá APA) must urgently be reclassified to conservation unit integralresolution of social conflict and environmental legal due to instability in this current

situation.

Key words: Maricá Environment Protection Area – Conservation Unit – new category –

Environment Crisis - Social and Environment Conflict – Environment Injustice.

Page 10: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 10/266

 

LISTAS DE FIGURAS

FIGURAS EMENTAS PÁGINAS

Figura 01 Delimitação da Área dePreservação de Maricá

19 

Figura 02 Expansão Urbana da Baíade Guanabara 2000

21

Figura 03 Mapa Turístico e Guia deRuas do Município de

Maricá

37

Figura 04 Mapa da Geomorfologia 39Figura 05 Localização de Maricá no

Estado do Rio de Janeiro.40

Figura 06 Divisão PolíticaAdministrativa do Estado

do Rio de Janeiro

41

Figura 07 Evolução da PopulaçãoMunicipal

48

Figura 08 Classe de Uso e Coberturado Solo

67

Figura 09 Zoneamento do Plano deManejo – Decreto n º

41.048/07

79

Figura 10 Mapa de Restrições Legais 80

Figura 11 Áreas de CoberturaVegetal e Mata Atlântica

protegidas pela Lei nº11.428/2006 e Resolução

CONAMA nº 303/2002

81

Figura 12 Zoneamento 84

Figura 13 Parcelamentos 99

Figura 14 APA de Maricá 106

Page 11: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 11/266

 

Figura 15 Mapa da InjustiçaAmbiental

130

Figura 16 Anfíbio encontrado na APA

de Maricá

161

Figura 17 Liolaemus, espécie cadavez mais ameaçada

162

Figura 18 Habitante legítimo daRestinga

162

Figura 19 Rara pitanga branca 162

Figura 20 Visualização do projeto 183

Figuras 21, 22 e 23 Comunidade de Zacarias 187

Figura 24 Localização da APA deMaricá no Território

Fluminense

191

Figura 25 A aproximação de Maricácom o Comperj e o Arco

Metropolitano

193

Figura 26 Localização do Parque noMunicípio de Maricá

210

Figura 27 Detalhe da Delimitação doParque Natural da

Restinga de Maricá.

211

Page 12: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 12/266

 

LISTA DE FOTOS

FOTOS EMENTAS PÁGINAS.

Foto 01 Vista aérea da APA deMaricá, em Zacarias

25

Foto 02 Disposição inadequada delixo na APA

27

Foto 03 Disposição inadequada delixo na APA

27

Foto 04 Disposição inadequada dolixo na APA

28

Foto 05 Disposição inadequada dolixo na APA

28

Foto 06 Associação de Pescadoresde Zacarias (ACCLAPEZ).

29

Foto 07 Placa na Área de Proteção

Ambiental

92

Foto 08 Associação de Pescadoresde Zacarias (ACCLAPEZ).

93

Foto 09 Vila dos Pescadores deZacarias

94

Foto 10 Biodiversidade da APA 95

Foto 11 Praia localizada na APAde Maricá 155

Foto 12 Dunas localizadas na APAde Maricá

157

Foto 13 Vegetação das DunasLocalizadas na APA de

Maricá

158

Foto 14 Restinga na APA de

Maricá

160

Page 13: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 13/266

 

Foto 15 Bromélia encontrada naAPA de Maricá

163

Foto 16 Foto de Mangue 168

Foto 17 Placa Considerando aÁrea como de Preservação

Ambiental

174

Foto 18 Imóveis construídos aolongo da APA de Maricá

176

Foto 19 Associação dosPescadores de Zacarias

177

Foto 20 Empresa Brasileira de InfraEstrutura Aeroportuárialocalizada na APA de

Maricá.

178

Page 14: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 14/266

 

LISTAS DE TABELAS

TABELAS EMENTAS PÁGINAS

Tabela 01 População: Municípiosda Região Metropolitana

do Rio de Janeiro2000/2005/2010

42

Tabela 02 Censo de 2010 43, 44 e 45

Tabela 03 Fundo de Participação

do Município

46

Tabela 04 Forças Restritivas quecontribuem para ocumprimento dos

objetivos de criação daAPA.

196

Tabela 05 Forças impulsoras quecontribuem para ocumprimento dosobjetivos de criação daAPA

196

Tabela 06 A Visão geral dosparticipantes sobre aAPA Maricá

197

Tabela 07 Aspectos negativosrelacionados com otema Fiscalização

199

Page 15: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 15/266

 

LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACCLAPEZ- Associação Comunitária de Cultura e Lazer dos Pescadores deZacarias.

AEIP - Área de Especial Interesse dos Pescadores.

AEIT - Área de Especial Interesse Turístico.

AEIHC - Área de Especial Interesse Histórico e Cultural.

AEIUE - Área de Especial Interesse Urbanístico e Econômico.

AEIS -. Área de Especial Interesse Social.

AID - Área de Influência Direta.

APA – Área de Proteção Ambiental.

APALMA - Associação de Preservação Ambiental das Lagunas de Maricá.

CIDE- Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro.

CONAMA –Conselho Nacional do Meio Ambiente.

CONLESTE- Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento do Leste Fluminense.

CUT - Central Única dos Trabalhadores.

COMPERJ - Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.

CFB- Código Florestal Brasileiro.

CECA- Comissão Estadual de Controle Ambiental.

DRP - Diagnostico Rápido Participativo.

DNAEE- Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica.

DNPM- Departamento Nacional de Prospecção Mineral.

EPA-Environmental ProtectAgency.

EIA- Estudo de Impacto Ambiental.

FUNDREN- Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio deJaneiro.

Page 16: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 16/266

 

FEEMA- Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente.

FPM – Fundo de Participação dos Municípios.

FMPR - Faixas Marginais de Proteção dos Rios.

FMPL - Faixas Marginais de Proteção das Lagoas.

FMPOM - Faixa Marginal de Proteção da Orla Marítima.

FPLAT - Faixa de Proteção da Linha de Alta Tensão.

GAO- U.S. General Accounting Office.

GEF- Global Environmental Found.

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IDH – Índice de desenvolvimento humano.

IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal.

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

INEA - Instituto Estadual do Ambiente.

IUCN -União Nacional para a Conservação da Natureza.

IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas.

IPPUR - Instituto Brasileiro de Pesquisas de Planejamento Urbano e Regional.

LAGEMAR - Laboratório de Geologia Marinha da UFF.

LBMA- Lei do Bioma da Mata Atlântica.

PPMA- Projeto de Proteção à Mata Atlântica.

PNGC- Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro.

PMMA- Prefeitura Municipal de Maricá.

PIB – Produto interno bruto.

RB- Reserva da Biosfera.

SNUC- Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

Page 17: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 17/266

 

SERLA- Superintendência Estadual de Rio e Lagoas.

SUDEPE- Superintendência do Desenvolvimento da Pesca.

SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente.

UCC- United Church of Christ’s Commission for Racial Justice.

UC- Unidade de Conservação.

WWF - World Wildlife Fundation.

ZR- ZonasResidenciais.

ZCs - Zonas Comerciais.

ZI- Zona Industrial.

ZRe- Zona Recreacional. .

ZTs -Zonas Turísticas.

ZPs Zonas de Proteção.

ZNAs- Zonas Non-Aedificandi);

ZAp- Zona Aeroportuária.

ZE- Zona Especial.

ZPVS – Zona de Preservação da Vida Silvestre.

ZPVS- Zona de Preservação da Vida Silvestre.

ZCVS-. Zona de Conservação da Vida Silvestre.

ZPN - Zona de Preservação das Nascentes.

ZUAP-Zona de Uso Agropecuário;

ZOCs- Zonas de Ocupação Controlada

Page 18: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 18/266

 

EMENTÁRIO

LEGISLAÇÂO EMENTA PÁG.

Ordenações Afonsinas

em1446 

Tipifica como crime de injúria ao rei o corte de

árvores frutíferas.

50

OrdenaçõesManoelinas em 1521

Estabelece a proibição da comercialização dascolméias sem a preservação das abelhas ou dacaça de animais como coelhos, lebres e perdizescom instrumentos que pudessem denotarcrueldade.

50

Ordenações Filipinasem 1603

Estabelece a proibição de serem jogados na águaqualquer material que pudesse matar os peixes esuas criações ou que se sujassem os rios e aslagoas.

50

Código Criminal do

Império 1830

Tipifica como crime o corte ilegal de madeira.  50

Lei nº 601/1850 Discrimina a ocupação do solo no que diz respeitoa ilícitos como desmatamentos e incêndios

50

Decreto nº16.300/1923

Rege o Regulamento de Saúde Pública. 52

Decreto nº 23.793/34 Aprova o Código Florestal. 52

Decreto nº24.643/ 1934.

Código de águas define o direito de propriedade ede exploração dos recursos hídricos para oabastecimento, a irrigação, a navegação, os usosindustriais e a geração de energia.

55

Decreto nº 1.713/1937  Cria o Parque Nacional do Itatiaia. 55

Decreto-Lei nº 25 de30/11/37 

Organiza o Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional, e dá rote ão aos bens móveis

55

Decreto-lei nº 794/38 Código de Pesca. 52

Decreto-lei nº852/1938

Código das águas passa a reger os recursoshídricos.

52

Decreto nº 1.985/40 Código de Minas. Define as atividades deexploração do subsolo e dissocia o direito depropriedade do direito à exploração.

55

Decreto-Lei nº 2940/40 Promulga a Convenção das Nações Unidas de 1940sobre o Direito do Mar.

35

Decreto-leinº 5.894/43 Código de Caça. 52

Decreto nº 9760/46 Faixa de 20 metros considerados a partir da linhade raia dos terrenos de marinha como áreas “non – aedificand ”.

66

Lei nº 4.504/64 Estatuto da Terra. Define a função social da terra 52

Lei nº 4.771/65 Novo Código Florestal. 52,56,78

Lei nº 5.197/67 Lei de Proteção à Fauna. 52

Decreto-lei nº 221/67 Código de Pesca. 52

Page 19: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 19/266

 

Decreto-lei nº 227/67. Código de Mineração. 56,52

Convenção de Ramsarou Convenção das

Terras Húmidas/71

Tratado intergovernamental cuja missão é aconservação e uso correto das terras húmidas

através da ação nacional e cooperação

160

1ª Conferência dasNações Unidas Sobreo Meio Ambiente/72,

Aprova a Declaração Universal do Meio Ambienteque declarava que os recursos naturais, como aágua, o ar, o solo, a flora e a fauna, devam serconservadas em benefício das gerações futuras.

53

II Plano Nacional deDesenvolvimento (IIPND), de 74.

Incorpora em seu bojo medidas de caráterambiental.

56

1975 Plano Nacional de Conservação de Solos 56

Decreto-Lei nº

1.413/75.

Disciplina a emissão de poluentes pelas atividades

industriais.

56

Lei nº 60513/77. Institui o tombamento de trechos a serem preservados evalorizados no sentido cultural e natural, destinados aplanos e projetos de desenvolvimento turístico.

56

Lei nº 77/ 78 Código de Obras do Município de Maricá. 86

Dec. Estadual2.148/79

Aprova o Plano de Alinhamento da APA 72

Dec. Estadual nº2.418/79

Delimita a Faixa Marginal de Proteção (FMP) daLaguna em 300 m.

72,73

Lei Federal nº 6766 /79 Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano 65

Lei 6.803/80  Zoneamento Industrial Estações Ecológicas eÁreas de Proteção Ambiental. 

56

Lei 6.902/81  Estações Ecológicas e Áreas de ProteçãoAmbiental

56,70

Lei nº 6.938/81 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambienteseus fins e mecanismos de formulação.

54,56,58,60

Lei nº 463, de 17 deDezembro de 1984.

Cria o Plano de Desenvolvimento Urbano deMaricá.

83

Dec. Estadual nº7.230/84

Declara a área de estudo como UC. 69,71

Lei nº 7.347/85 Lei da Ação Civil Pública disciplina ação civil comoinstrumento de defesa do meio ambiente.

54,57

Resolução nº 01/86 doCONAMA

Estudo de Impacto Ambiental. 55

Lei Estadual 1130//87 Protege as matas ciliares 108

Lei nº 7.661/88 Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro. 146

ConstituiçãoFederal/1988

Reconhece o Direito de Propriedade e estabelecedeterminantes para o M. Ambiente.

54

Lei nº 7.735/89 Criação do IBAMA. 54

Lei nº 7.802/89 Agrotóxicos. 57

Page 20: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 20/266

 

Constituição do Estadodo Rio de Janeiro/1989.

Promulgada através de Assembléia EstadualConstituinte em 05 de Outubro de 1989

73

CONAMA/1990 Criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente,compreendendo o Conselho Nacional do M.A

77

Decreto nº99.274/1990.

Regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de1981 e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,

77

Lei 1901/91 PESET 111

Dec. Estadual nº38.490/95

Reduz a FMP da APA em 30 m. 201

Lei nº 9.733/97 Política Nacional de Recursos Hídricos. 58

Lei nº 9.605/98 Lei de Crimes Ambientais. Dispõe sobre assanções penais e administrativas.

155

Lei nº 9.795/99 Estabelece uma Política Nacional de EducaçãoAmbiental.

58

Decreto nº 3.179/1999 Dispõe sobre as sanções aplicáveis às condutas eatividades lesivas ao meio ambiente. 60Lei nº 9.985/2000 Cria o Sistema Nacional de Conservação (SNUC). 58

Lei nº 10.257/2001 O Estatuto da Cidade 58

Resolução CONAMAnº 275/2001

A reciclagem de resíduos deve ser incentivada 60

Medida provisória2220/2001

Usucapião individual e coletivo, concessão de usoespecial

89

Resolução CONAMA303/2002

Delimita as áreas de preservação permanente 79

Resolução CONAMA341 de 2003

Dispõe sobre critérios para a caracterização deatividades ou empreendimentos turísticos.

35

Lei Complementar108/2003

Plano de Desenvolvimento Urbano 83

2003 Ministério das Cidades 87

Decreto 5031/2004 Conselho da Cidade 87

Decreto 38490/2005 Reduz de 300 para 30 a faixa marginal de proteção

em torno da lagoa

73

Resolução 25/2005 Determina a elaboração de Plano Diretor deacordo com Estaturo da Cidade

90

Resolução CONAMA369 /2006

Dispõe sobre os casos de utilidade pública deinteresse social ou baixo impacto ambiental.

35

Lei Complementar145/2006

Plano Diretor Urbano de Maricá 92

Decreto nº 5940 /2006.

Institui a recuperação dos resíduos recicláveisdescartados

62

Resolução CNJ11/2007

Formação de um Ambiente EcologicamenteEquilibrado

63

Page 21: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 21/266

 

Decreto 41.048/2007 Plano de Manejo e altera o Decreto 7230/84 76

Decreto nº 6.514, de

2008

Sanções aplicáveis às condutas e atividades

lesivas ao meio ambiente.

63

Lei 2272/2008 Parcelamento do solo de Maricá 99

Lei Complementar

133/2009

Maricá volta para a região metropolitana do Rio de

Janeiro

42

Instrução Normativa

01/2010

Critérios de Sustentabilidade Ambiental 63

Lei 2331/2010 Plano Diretor Setorial da Área da Restinga de

Maricá

110

Resolução Conama

422/2010

Ações e projetos de educação ambiental 63

Page 22: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 22/266

 

Sumário 

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 17 1.  CONHECENDO A APA DE MARICÁ ......................................................................... 23 1.1 A Imprescindibilidade da Análise da Problemática Ambiental .....................30 1.2 Aspectos Gerais ................................................................................................36 1.3 O Município de Maricá ......................................................................................37 1.3.1 Aspectos físicos .......................................................................................................... 37 1.3.2 Território ..................................................................................................................... 43 1.3.3 Indicadores do Censo de Maricá em 2010 .................................................................. 43

 1.4 Evolução ............................................................................................................47 2.  DAS LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO DA APA ........................................................ 48 2.1 Evolução da Legislação Ambiental .................................................................48 2.1.1. Cronologia de Atos Normativos e Leis do Superior Tribunal de Justiça ..................... 58 2.1.2. Princípios Ambientais no Brasil .................................................................................. 63 2.2 Leis de Proteção Ambiental em Maricá. ..........................................................64 2.3 Decreto de Criação da Área de Proteção Ambiental ......................................68 2.4 A Inconstitucionalidade do Decreto Estadual 38.490/05................................71 2.4.1 Ação Civil Pública Ambiental proposta pela APALMA. ................................................ 74 2.5 A Ameaça do Plano de Manejo ao Patrimônio Ambiental .............................78 2.6 Plano Diretor do Município de Maricá. ............................................................82 2.7 Decreto de Criação do Plano de Manejo da APA de Maricá ..........................90 2.8 A Lei de Parcelamento do Solo de Maricá. .....................................................97 2.9 A Lei do Plano Diretor Setorial da APA de Maricá. ...................................... 108 3.  A CRISE AMBIENTAL - INJUSTIÇA E CONFLITO AMBIENTAL ........................... 120 3.1 Da Fragilidade Socioambiental ......................................................................123 3.2 Justiça ou (IN)Justiça Ambiental. .................................................................126 3.2.1 (In)Justiça Ambiental e a Disparidade Territorial. ...................................................... 130 3.2.2 Histórico da Injustiça Ambiental ................................................................................ 133 

Page 23: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 23/266

 

3.2.3 A Injustiça Ambiental na Preponderância de Conflitos Ambientais ............................ 133 3.3 O Conflito Socioambiental e Ambiental ........................................................135 3.1.1. Conflitos Ambientais e os Diferentes usos da Natureza ............................................ 140 3.3.2 Conflitos Ambientais Antagônicos ............................................................................. 142 3.4 Etapas Análiticas dos Conflitos .....................................................................143 3.4.1 Formas de Tratamento de Conflitos .......................................................................... 144 3.5 Racismo Ambiental ou Ecologismo dos Pobres. .........................................145 3.5.1 O Movimento Chipko, os Embates de Chico Mendes e a Resistência dosAtingidos por Barragens .................................................................................................... 145 3.5.2 Os Casos do Brasil. .................................................................................................. 146 3.6 Justiça ou Racismo Ambiental. .....................................................................147 4.  INJUSTIÇAS E CONFLITOS AMBIENTAIS EM MARICÁ ..................................... 150 4.1 A Relevância das Praias, Dunas, Restingas e Mangues sob a Égide do Direito Ambiental. ..................................................................................................150 4.1.1. Das Praias ................................................................................................................ 150 4.1.2 Das Dunas ................................................................................................................ 156 4.1.3 Das Restingas.......................................................................................................... 159 4.1.4 Dos Mangues e a Convenção de Ramsar ................................................................. 166 4.2 Os Conflitos na APA de Maricá. .....................................................................171 4.2.1 O Projeto do Resort de Maricá .................................................................................. 183 4.2.2 Competição por Espaços na Área de Preservação de Maricá ................................... 185 4.3 Maricá no Contexto Regional .........................................................................191 4.4 Diagnóstico da APA de Maricá. ......................................................................195 5.  DA RECATEGORIZAÇÃO DA ÁREA DE ProteÇÃO AMBIENTAL........................ 204 5.1 - Propostas de Criação do Parque Natural. ...................................................209 5.2 Usos Propostos ...............................................................................................211 6.  CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 215 6.1 Conclusões ......................................................................................................215 

Page 24: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 24/266

17

INTRODUÇÃO

A sociedade do século XXI confronta-se diariamente com novos desafios que

lhe são impostos. A preocupação com a qualidade de vida dessa sociedade e coma própria sobrevivência no planeta obriga o homem a repensar a forma como

impacta o ambiente em que vive.

Enquanto pessoas são cobradas para repensar suas atitudes em relação ao

ambiente, estudiosos, pesquisadores e governo têm se dedicado a consolidar ações

e instrumentos que possam diminuir os impactos causados por essa sociedade.

Conceitos como preservação, conservação e sustentabilidade têm sidoutilizados diariamente pela mídia, e muitas vezes apropriados por empresas,

multinacionais, grupos imobiliários e interesses que a partir do apelo ao ecológico

buscam construir uma imagem politicamente correta. Diegues (2000) afirma que

freqüentemente uma concepção ambientalista generalizada, tecnocrática e

neoliberal, tende a considerar essas questões como problemas solucionáveis pelas

técnicas modernas. Quando essas questões ambientais não são resolvidas, a

argumentação é sempre a falta de recursos ou a carência de fiscalização.

A análise dos instrumentos de gestão deve levar em conta os problemas e

limitações que cada modelo metodológico contém, e as ferramentas aplicadas nesta

gestão. Em muitos casos, as formas propostas pelo Estado geram conflitos no meio

social em que são aplicados. Esses conflitos são causados, em geral, pela ausência

na maioria das sociedades, do conhecimento das suas demandas e necessidades,

no momento em que as políticas são elaboradas. Neste sentido, a sociedade

maricaense, difere da grande maioria, visto que ela se encontra mobilizada, tendoconhecimento de alternativas para proteger a área objeto de estudo, porém, sem

conseguir ser ouvida pelo Estado.

Diegues (2000) afirma o caráter autoritário de muitas práticas

conservacionistas por parte do governo e organizações não-governamentais. Estas

práticas autoritárias além de não contar com a participação da população para a

elaboração e implementação das políticas ambientais, em muitos casos levam

também ao desrespeito dos direitos civis dessas comunidades.

Page 25: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 25/266

18

Podemos identificar em muitos casos que as ações e decisões sobre a

execução das políticas ambientais ficam a cargo exclusivamente de técnicos.

Fazendo referência ao trabalho de Max-Neff et al (1989) e Pimbert&Pretty

(2000), assim afirmam que 

Muitos esquemas de áreas protegidas não consideram apropriadamente a importância das formas locais pelas quais as comunidades se abastecem em alimento, medicina,habitação, energia e suprem outras necessidades básicas.Profissionais externos e instituições têm falhado freqüentemente em levar em consideração as necessidades básicas. Ainda que as necessidades sejam universais, suas formas de satisfazê-las variam de acordo com cultura, religião e 

condições históricas (p. 183).

Em contrapartida a esta vertente em que predomina a ausência da população,

vêm ganhando força metodologias e propostas alternativas para a gestão de áreas

protegidas que levam em conta o contexto e as demandas locais, incluindo a

sociedade tanto no processo de levantamento de dados e informações, quanto nas

decisões e planejamento das ações previstas.

Neste contexto, insere-se a APA de Maricá, que está localizada na costa domunicípio de Maricá e no litoral do Estado do Rio de Janeiro (figura 1). A área possui

cerca de 8 km de extensão, é composta pela restinga (Fazenda São Bento da

Lagoa), Ilha Cardosa, Ponta do Fundão e o Morro do Mololô, sendo as três últimas

constituídas por tabuleiros costeiros cobertos por vegetação de Mata Atlântica e

possuem falésias esculpidas pelo mar em terrenos terciários além de sítios históricos

e arqueológicos, em alguns pontos com altura variável entre 2 e 5 metros.

Compreende trechos com vegetação típica de restinga: cactos, bromélias, espéciesdiversas de gramíneas e arbustos de baixo porte. Aproximando-se do mar, existe a

caracterização de um duplo cordão arenoso coberto por dunas ainda bastante

preservadas, que protegem a costa contra a ação erosiva do mar, tão violento nesse

litoral.

Page 26: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 26/266

19

Figura 1 – Delimitação da Área de Preservação de Maricá.

Fonte CIDE/2001.

O cordão mais interno, o primeiro, é o mais antigo e tem aproximadamentesete mil anos, e o externo, o segundo, é o mais recente, com cerca de três mil anos.

Estas estruturas diversificadas caracterizam este complexo ecossistema de restinga.

Na APA de Maricá, a situação é agravada pela presença da comunidade

pesqueira de Zacarias, presente na localidade desde o século XVIII, portanto a

comunidade de Zacarias situa-se há mais de dois séculos na região, localizando-se

na margem da Lagoa de Maricá, ocupando uma faixa com cerca de 100 metros de

largura.

Na década de 1980 as associações ambientalistas, a comunidade local e

científica e o poder público propuseram a criação de uma unidade de conservação

na região da restinga de Maricá, com o intuito de evitar o processo de urbanização e

pelo notável patrimônio ambiental da região, que abriga um conjunto de

ecossistemas e paisagens cênicas ímpares. Assim, a localidade foi transformada

numa Unidade de Conservação em 1984, através do Decreto Estadual nº 7.230.

Dentre as determinações do decreto que a criou estava a proibição total de

parcelamento de terras para fins urbanos e a construção de edificações,

Page 27: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 27/266

20

considerando que isso se deu antes da criação do Sistema Nacional de Unidades de

Conservação (SNUC). Porém a área foi transformada num tipo de unidade de

conservação que não obrigava ao Estado a indenização ao proprietário. Ou seja, a

área continua a ser uma propriedade privada, o que freqüentemente coloca os

pescadores e o ecossistema em ameaça diante da implantação de algum

empreendimento no local.

O Ecossistema da restinga, o sistema lagunar e a comunidade pesqueira de

Zacarias no entorno da Laguna de Maricá encontram-se ameaçadas de degradação

e extinção diante da implantação de um mega empreendimento imobiliário e turístico

na Área de Preservação Ambiental de Maricá.

Hoje em dia, o principal conflito que envolve a área ocupada pela APA de

Maricá se refere a seu pseudo “Plano de Manejo” e respectivo zoneamento, em vigor

desde dezembro de 2007, que é questionado pelos pescadores, ambientalistas,

associações de moradores, entre outros, por ter sido elaborado sem a participação e

aprovação de um Conselho Gestor constituído e transgredirem várias Leis Estaduais

e Federais.

Normalmente, as leis que criam as Unidades de Conservação prevêem a

elaboração de um Plano de Manejo, que em muitos casos é realizado por

consultores externos à Unidade, técnicos que não conhecem o cotidiano e as

dinâmicas locais (Diegues 2000). Nestes casos, o resultado do zoneamento e

propostas para utilização das áreas da Unidade acabam sendo definidas a partir

somente de valores técnicos. As demandas e necessidades da população, assim

como a cultura e as formas de saber local, acabam ficando “de fora” das propostas

definitivas, conforme supramencionado.

Assim, após várias tentativas de implantar o Plano de Manejo da UC, em

2007 o Governo do Estado aprovou por Decreto Estadual nº 41.048, instituindo seu

respectivo zoneamento para ordenar a ocupação da área. Este “plano de manejo”

permite a ocupação urbana em diversas áreas como dunas e áreas cobertas por

vegetação primária, como pode ser visto no mapa da Fig. 1. Nas áreas em rosa o

parcelamento de terras para fins urbanos, residencial e turístico é permitido,

contrariando as bases legais federal e estadual sobre a proteção do entorno lagunar,

das dunas, da vegetação primária e dos sítios arqueológicos, ferindo completamente

Page 28: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 28/266

21

as bases legais, no que tange à implantação do Conselho Gestor e sem a devida e

imprescindível audiência pública.

Figura 2 – Expansão Urbana da Baía de Guanabara 2000.

Fonte FEEMA 2000.

A Área de Proteção Ambiental faz parte da Reserva da Biosfera da Mata

Atlântica, seriamente ameaçada de destruição, pois a ocupação prevista no Planode Manejo é incompatível com as características naturais da região e com os

instrumentos legais que preservam a Mata Atlântica e os ecossistemas de restinga.

Além disso, geram um forte impacto social, aumentando as injustiças ambientais, ao

gerar problemas que podem se refletir na qualidade de vida da população. A

disposição urbana do plano de ocupação ignora a complexidade dos ecossistemas

existentes.

Para os ambientalistas, o plano de ocupação da restinga é segregacionista e

altera a silhueta da restinga, transformando a horizontalidade atual que contrasta

Page 29: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 29/266

22

com a harmonia de morros da região em um perfil mais verticalizado, não

considerando que a concentração demográfica pode causar impactos ambientais e

sociais irreversíveis, comprometendo a sustentabilidade de toda a região.

O Plano, portanto, não seria compatível com as disponibilidades e

sustentabilidades da qualidade de vida dos habitantes, não levando em

consideração os anseios da população, os estudos e pareceres técnicos ambientais,

e não demonstrando que qualquer tipo de ocupação da restinga é agressivo,

impactante e polêmico porque envolve interesses imobiliários, que ameaçam o

equilíbrio do meio ambiente.

O objetivo desta dissertação é avaliar os conflitos e injustiças ambientaisgerados pelo Plano de Manejo da APA de Maricá, aprovado e tendo em vista que

seu patrimônio está ameaçado pelo processo de urbanização em curso no

município, apontando para a necessidade de reavaliação da Unidade de

Conservação a partir do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza, (SNUC) e da Legislação vigente.

Para que este objetivo seja atingido, pretende-se proceder à análise jurídico-

ambiental da legislação ambiental e demais, pertinentes a Área de PreservaçãoAmbiental, avaliando, a partir das reivindicações da população local e de

pesquisadores, as possibilidades de Recategorização da APA para uma unidade de

proteção integral e de Conservação/Preservação Sustentável objetivando regular o

uso do solo.

Page 30: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 30/266

23

1. CONHECENDO A APA DE MARICÁ

A APA de Maricá é uma área extensa, com 496 hectares e com certo grau de

ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos e culturais,indescritivelmente especiais e importantes para a qualidade de vida e o bem-estar

da população humana. A Unidade de Conservação - UC, tem como objetivo

primordial proteger a biodiversidade, disciplinar o processo de ocupação e assegurar

a sustentabilidade do uso dos recursos naturais; ela é constituída por terras públicas

e privadas.

A Unidade de Conservação é ocupada por vegetação de restinga, a área

encontra-se em diversos estágios de urbanização e de degradação. Atualmente é

uma das poucas áreas de restinga relativamente preservada no litoral brasileiro. As

restingas constituem um dos ambientes naturais mais visados e explorados pelo

turismo e atividades de lazer.

Estudos realizados pela FUNDREN¹ em 1979, através de convênio com os

Municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com relação à Lei de

Zoneamento, já alertavam para os impactos negativos que determinadosempreendimentos poderiam ter para o ecossistema local, fragilizando-o, senão

destruindo-o por completo. Estes determinavam que na orla marítima fosse

respeitada a faixa estabelecida pela Regulação Urbanística, além das disposições

existentes no Código Florestal e demais legislações aplicáveis. No ano 1983, os

vereadores aprovaram por unanimidade essa área correspondente a APA como

sendo “Non Aedificand ”.

A Área de Proteção Ambiental de Maricá – APA, conforme estabelecido noDecreto nº 7.230 de 23 de abril 1984, é delimitada da seguinte forma:

¹FUNDREN – FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIODE JANEIRO, 1982, Zoneamento Industrial Metropolitano, Rio de Janeiro.

Page 31: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 31/266

24

“- llha Cardosa  

Abrange todas as terras emersas na ilha Cardosa (dos Amores), situada na lagoa da Barra, pertencente ao 

Sistema Lagunar de Maricá. 

- Restinga de Maricá  

Área I - Enseada de São Bento 

Abrange todas as terras, dentro do perímetro que se inicia no PONTO 1, situado na linha de água na enseada que verte para a lagoa da Barra, localizado na reta norte-sul que passa sobre o ponto nº 1191, definido pela SERLA

sobre o PAL 05 do Decreto nº 2.148, de 16 de fevereiro de 1979. Daí segue para o sul até o oceano na praia da Barra de Maricá (PONTO 2). Daí segue pela linha do litoral para oeste até encontrar a reta norte-sul do prolongamento da margem leste do canal de São José (PONTO 3). Daí segue pela citada linha em direção norte até a margem leste do canal de São José (PONTO 4).Segue depois pela margem leste do canal de São José até o encontro com o canal de São Bento (PONTO 5).Daí segue pela margem leste do rio Brejo da Costa até a lagoa de Maricá (PONTO 6). Prossegue em direção sul 

pela linha da água da lagoa de Maricá (enseada de São Bento), continuando em direção leste e nordeste, sempre pela linha da água, da lagoa de Maricá, até a ponte do Boqueirão (PONTO 7). Segue pela linha da água, na lagoa da Barra entrando pela pequena enseada até o PONTO 1, fechando o perímetro.

Área II - Ponta do Fundão 

Abrange todas as terras dentro do perímetro limitado ao norte, leste e oeste pela linha da água da lagoa da Barra 

no sistema Lagunar de Maricá e ao sul pela reta formada pelo lado norte da Rua 9 do loteamento denominado Praia da Barra de Maricá, aprovado em 1964, prolongada para leste e oeste até as linhas da água da lagoa da Barra.” 

Page 32: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 32/266

25

Foto 1 - Vista aérea da APA de Maricá, em Zacarias

Fonte: Diego Souto Monteiro, 2006. 

A APA possui espaços de grande relevância ecológica e que são protegidos

pela legislação, o que não garante efetivo controle sobre esses locais. Até os dias de

hoje, é alvo constante da ação especulativa do mercado imobiliário.

“Problemas como desmatamento, fluxo viário crescente e invasão em áreas de proteção são observados na unidade. Na APA, existe há décadas um conflito pela posse da terra entre a comunidade de pescadores de Zacarias e o suposto proprietário legal”. (BAHIENSE,2003, p. 27).

Apesar disso, o ecossistema da unidade encontra-se em bom estado de

conservação, onde espécies raras da fauna e flora são encontradas. A área de

proteção ambiental caracteriza-se como importante local para a realização de

pesquisas científicas em diversas áreas. Atividades relacionadas ao turismo

ecológico e de aventura também são praticadas nestas áreas.

A APA é formada por cordões de restinga, depressões entre cordões, dunas,

tabuleiros e orla de lagoa, inclui ainda a Ilha Cardosa e a ponta do Fundão. Estes

dois acidentes apresentam “falésias mortas”, esculpidas há milhares de anos

quando ainda era batido pelo mar, representando conformação geomorfológicaímpar, com pouquíssimas ocorrências no Estado.

Page 33: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 33/266

26

Segundo o Diagnóstico Ambiental da Área de Proteção Ambiental de Maricá:

subsídio à elaboração do Plano de Manejo, elaborado pela FEEMA², em 2007 (p.7),

a APA de Maricá “encontra-se em bom estado de conservação, apresentando um

conjunto diferenciado que se interage e cujos componentes bióticos são,

praticamente, únicos, compondo uma paisagem de excepcional beleza”. A riqueza

ecológica da APA pode ser comprovada pelos inúmeros trabalhos científicos

realizados na região, inclusive com a descrição de diversos endemismos. Existe,

ainda, a comprovação de existência de sambaquis, que, apesar de ainda pouco

estudados, guardam valiosas informações sobre populações pré-históricas que

freqüentaram a região.

A criação da Área de Proteção Ambiental, que se deu através do Decreto nº

7.230/84, em seu artigo 3º estabelece que seja proibido em toda a área “o

parcelamento da terra para fins urbanos”. Esta vedação vem se configurando um

obstáculo na elaboração de um modelo de ocupação da área. Mesmo após um

intenso processo de discussão envolvendo o poder público, a comunidade local,

instituições de pesquisa e proprietários da área, não se chegou a um consenso

sobre a regulamentação do uso do solo e dos recursos naturais ali existentes. Os

Planos Diretores elaborados pela FEEMA para a APA (1988 e 1995) não foram

aprovados e segundo o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC), a

APA não é cadastrada.

Além da degradação ambiental representada pela extração mineral, pela

disposição inadequada de lixo e pelo desmatamento, a APA de Maricá apresenta

problemas no que diz respeito à questão fundiária. Grande parte do seu território éde domínio privado e há discussões quanto à legalidade da posse da terra.

² FEEMA- Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente criada pelo Decreto-lei nº. 39, de 24de março de 1975, por ocasião da fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, a Feemaresultou da unificação e ampliação de objetivos de quatro órgãos que atuavam setorialmente - o

Instituto de Engenharia Sanitária, o Instituto de Conservação da Natureza, a Divisão de Combate aInsetos e a Divisão de Controle da Poluição, as duas últimas subordinadas às antigas ESAG eSanerj, respectivamente. 

Page 34: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 34/266

27

Foto 02- Disposição inadequada de lixo na APA

Fonte Rovane Domingues, 2010.

Foto 03- Disposição inadequada de lixo na APA.

Fonte Rovane Domingues, 2010. 

Page 35: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 35/266

28

Foto 04- Disposição inadequada do lixo na APA

Fonte Rovane Domingues, 2010.

Foto 05 – Disposição inadequada do lixo na APA.

Fonte Rovane Domingues, 2010.

Page 36: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 36/266

29

Com relação à localidade de Zacarias, situada no interior da APA, existe uma

comunidade de pescadores originária de duas famílias, há várias gerações. No

aldeamento estima-se que vivem cerca de 150 pessoas (levantamento da FEEMA

de 1995), que não possuem a propriedade da terra que ocupam na margem da

Lagoa de Maricá, nem o Termo de Permissão de Uso da Faixa marginal de

Proteção, expedido pela SERLA³.

Foto 06- Associação de Pescadores de Zacarias (ACCLAPEZ).

Fonte Rovane Domingues, 2010.

³ Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas - SERLA - órgão gestor e executor daPolítica Estadual de Recursos Hídricos, especialmente no que tange à outorga de uso dos recursoshídricos superficiais e subterrâneos, de domínio do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente a SERLAfoi absorvida pelo INEA.

Page 37: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 37/266

30

1.1 A Imprescindibilidade da Análise da Problemática Ambiental

A problemática ambiental da Área de Preservação Ambiental envolve

múltiplas dimensões, pressupondo um entendimento do que seja complexidade.Entre as muitas qualificações deste fenômeno destaca-se a que considera a

interação sua idéia-chave (Prigogine, 1996; Genelot, 2001; Agostinho, 2003; Morin,

2000): as peças agem entre si reciprocamente, no lugar de se conformarem a

determinações exteriores.

Agostinho (2001) toma como exemplo a metáfora de um “quebra-cabeça”

para traduzir a visão epistemológica da Natureza e do Cosmos, os quais seriam

constituídos de “peças”, cada uma possuindo, fixamente, um único lugar. O que

permite simplificar a intervenção do sujeito no mundo por meio da atividade de

“análise” das peças – ou seja, da decomposição das partes do todo pela diferença –

e da síntese – o agrupamento das suas partes semelhantes. Nesse contexto,

podemos aplicar o conceito de sistema socioecológico, que caracteriza a estrutura e

a dinâmica de ecossistemas nos quais a sociedade desempenha uma função

culturalmente estruturante ou formativa (Vieira et al, 2005).

O planeta encontra-se a caminho de um processo irreversível, devido à crise

ambiental gerada, entre outros motivos, por um desenvolvimento industrial

desenfreado, seguido pelo desenvolvimento urbano. Neste contexto as áreas

protegidas são consideradas por um grande segmento da sociedade e pelos

cientistas como uma estratégia necessária para a conservação da biodiversidade e

para a melhoria da qualidade de vida da população da terra.

Em geral, em todo o planeta, as áreas protegidas estão em constanteameaça, devido a problemas conhecidos desde os primórdios da criação das

primeiras Unidades de Conservação (UC): a caça, incêndios, desmatamentos,

conflitos fundiários, invasões são apenas alguns dos inúmeros problemas presentes

no cotidiano da maioria das áreas protegidas.

No Brasil não é diferente. E diante desta crise, profissionais que atuam em

unidades de conservação, em organizações não governamentais e outros atores

têm se mobilizado para encontrar mecanismos de gestão eficientes e eficazes, paraque as UCs consigam atingir seus objetivos. Como um dos resultados desta busca,

Page 38: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 38/266

31

surge a figura da (re)avaliação da legislação referente à Área de Proteção Ambiental

de Maricá – RJ, tendo como intuito a mitigação dos Conflitos e da Injustiça

Ambiental.

Profissionais que atuam na conservação e preservação in situ, no Brasil,

Instituições de gestão ambiental, ONGs etc., têm procurado discutir as legislações e

com isto implantá-las, através de tentativas de integração, mobilização e

conscientização junto aos Órgãos Legislativos, em razão destes ecossistemas

encontrarem-se constantemente ameaçados e desprotegidos.

Essa mudança de enfoque metodológico está diretamente conectada às

transformações apontadas por Leff (2007). O autor afirma que um conceito de

ambiente, como uma nova visão do desenvolvimento humano, foi sendo configurado

na percepção da crise ecológica contemporânea, capaz de reintegrar os valores e

potenciais da natureza, as externalidades sociais, os saberes subjugados e a

complexidade do mundo, negada pela racionalidade mecanicista, simplificadora,

unidimensional e fragmentadora que conduziu o processo de modernização.

O ambiente emerge, então, como um saber reintegrador da diversidade, denovos valores éticos e estéticos e dos potenciais sinérgicos gerados pela articulação

de processos ecológicos, tecnológicos e culturais. O saber ambiental ocupa o

espaço vazio deixado pelo progresso da racionalidade científica, como sintoma de

sua falta de conhecimento e como sinal de um processo interminável de produção

teórica e de ações práticas orientadas por uma utopia: a construção de um novo

mundo sustentável, democrático, igualitário e diverso.

Esse saber ambiental definido por Leff (2007), em que o ambiente passa aagregar, tanto na sua concepção, quanto nas suas representações, novos valores,

estéticas e éticas, contribuem para o esforço das propostas alternativas de gestão,

que levam em conta saberes que não são apenas legitimados pela técnica dos

pesquisadores, mas também pela experiência do cotidiano das populações locais.

Segundo Schmidt (2001), o envolvimento da comunidade em projetos

conservacionistas deve levar em conta o conhecimento que estas possuem sobre

seu próprio ambiente. Isso possibilita uma forma de trabalhar com informações que

Page 39: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 39/266

32

melhor descrevem a complexidade dos ecossistemas, além de incluir as prioridades

locais no planejamento e objetivos dos projetos.

Além do aval de estudiosos e especialistas do tema, a metodologiaparticipativa para a elaboração de gestão de Unidades de Conservação também é

legítima pela legislação que criou o Sistema Nacional de Conservação – SNUC, lei

9.985 de 2000. Entre suas diretrizes, a lei estabelece, em seu art. 5º

II- Assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de conservação; 

III- Assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação; (...)IX- Considerem as condições e necessidades das populações locais no desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais; 

E ainda, em seu art. 27, afirma:

Na elaboração, atualização e implementação do Plano de Manejo das Reservas Extrativistas, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, das Áreas de Proteção Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais e das Áreas de Relevante Interesse Ecológico, será assegurada a ampla participação da população residente.

Partindo destas concepções, este trabalho reafirma a importância de

(re) avaliar a legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá – RJ e do

indispensável envolvimento participativo das populações que habitam as Unidadesde Conservação da Natureza; tendo como intuito primordial valorizar o

conhecimento popular destas para o planejamento e estratégias de uso e

conservação dos recursos ambientais e mitigar os conflitos e injustiças ambientais.

Os fatos colocados acima apontam para a necessidade de se estudar as

diversas mudanças e superposições na legislação local e avaliar em que medida elas

geram ou potencializam conflitos e injustiças ambientais. 

Page 40: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 40/266

33

A Restinga de Maricá faz parte destes ecossistemas conforme

supramencionado, sendo um dos mais pesquisados do país por membros de

inúmeras universidades renomadas. São mais de 300 trabalhos científicos entre

teses, dissertações e artigos em revistas e congressos nacionais e internacionais. As

áreas de pesquisa são botânica, zoologia, geologia, geomorfologia costeira,

limnologia, geografia, antropologia, urbanismo e história. Além dos trabalhos de longa

data, como no Museu Nacional da UFRJ, e da Zoologia da UFRJ, a área natural é

referência nos estudos de restinga no Brasil, pois várias espécies de fauna e flora

foram ali descobertas. Atualmente permanece como uma fronteira para novas

pesquisas em diferentes campos do conhecimento como arqueologia, zoologia (com

mais de 40 espécies novas descobertas, sendo uma no ano de 2009 pelo Laboratóriode Geologia Marinha da UFF (LAGEMAR).

Em virtude deste patrimônio ambiental, antropológico, histórico, pré-histórico e

científico, e por correr o risco de degradação e extinção por possíveis mega projetos

imobiliário-turístico transnacionais, a comunidade cientifica fluminense se mobiliza em

defesa da preservação do ecossistema.

No caso da APA de Maricá, o problema ambiental se complexifica por elalocalizar-se bem junto ao espaço urbano, com alta taxa de pressão antrópica

exercida, inclusive pelo turismo e pela industria do setor da especulação imobiliária.

A Área de Proteção Ambiental de Maricá foi criada sob a égide do Decreto Estadual

de nº 2.418/79, que delimitou em 300 metros a Faixa Marginal de Proteção do entorno

das Lagunas de Maricá. Posteriormente, foi publicado novo Decreto de nº

38.490/2005, que reduziu para 30 metros do nível mais alto as faixas marginais de

proteção dos corpos d’água integrantes do Sistema Lagunar de Maricá, ficando,assim, todo o entorno da APA de Maricá, totalmente prejudicado em razão desta

redução de proteção.

O Decreto de criação da APA inviabilizou vários projetos para o local e

garantiu a permanência da comunidade pesqueira de Zacarias em seu território

tradicional; contudo, a mesma não garantiu o caráter e o controle público necessários

à perenidade de sua preservação.

Segundo Désirée Guichard Freire, em A Disputa por Território na Área de

Proteção Ambiental de Maricá (2007, p. 6), a  Madri Lisboa/IDB do Brasil lançou o

Page 41: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 41/266

34

megaresort no Salão Imobiliário de Madri em 2007, segundo o mesmo o

empreendimento é “adequado à classe média alta e criado para desenvolver a

qualidade de vida de uma zona que está muito degradada, sofre com a desordem

urbanística, perdeu o encanto em termos da natureza e possui carências no setor de

serviços”.

Com a implantação do resort haveria uma contrapartida, assim o

empreendimento contava com o apoio da administração municipal e da estadual, visto

que nessas já se gestavam modificações nas regras da APA, a fim de viabilizar a

instalação do resort, como o aumento da permissibilidade em relação a construções

naquele terreno. Se o decreto original vetava qualquer tipo de edificação, o plano de

manejo proposto pela Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA)4 abria

brechas para que isso acontecesse.

Em 2007, pouco depois do lançamento do projeto, foi realizada uma reunião,

propalada pelo governo estadual como “audiência pública”, na qual foram apontadas

várias imprecisões técnicas e inconsistências em relação à legislação relativa àquele

tipo de ecossistema. A CECA recuou com relação ao Plano de Manejo e afirmou que

realizaria audiências para discutir o plano modificado. Outras audiências ocorreram,mas não para discutir o Plano de Manejo da APA.

Ignorando o processo de participação popular, também em 2007, o Governador

publicou um decreto que impunha um novo plano de manejo para a APA, o qual

mantinha as deficiências daquele apresentado pela CECA em julho e ia além, pois

ampliava a permissividade em relação às edificações na área da APA. Entre os

problemas apontados nesse plano pelas entidades ambientalistas e pesquisadores,

está ainda a identificação de áreas de vegetação de restinga como áreas degradadase a permissão para construções nessas áreas.

Dunas, restingas, manguezais e sambaquis são riquezas que não estão

resguardados na referida área, embora possuam funções vitais para a sobrevivência

do homem, sendo inclusive protegidos pelas legislações a seguir:

4 Comissão Estadual de Controle Ambiental - Ceca é um órgão colegiado, criado em 1975, com oobjetivo de coordenar, supervisionar e controlar o uso racional do meio ambiente no Estado do Rio deJaneiro, tendo sido incorporado em 2007 pelo INEA.

Page 42: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 42/266

35

•  Artigos 2º, 3º (incisos II, V, VI e VIII); 4º, 5º, 6º, 7º, 9º, 10º, 11º, 13º, 20º e 30º

da Lei 11.428/2006 (Lei do Bioma da Mata Atlântica);

•  Artigos 1º, 2º e 3º da Lei 4.771/1965 Código Florestal; 

•  Plano de Gerenciamento Costeiro – Decreto nº 5.300 de 7 de dezembro de

2004, artigos 2º (inciso IV e XIV); 

•  Artigo 5º (incisos IX e X), 6º (incisos I, II, e IV), 23º (inciso II, parágrafos 1º e

2º), que atende à Convenção das Nações Unidas, de 1940, para o Direito do

Mar do qual o Brasil é signatário, promulgado através do Decreto-Lei

2940/1940;

•  Convenção de Ramsar, de 1971, sobre Zonas Úmidas visando à conservação

e a utilização responsável das terras úmidas e seus recursos e a Convençãoda Biodiversidade, de 1992;

•  Declaração de Changwon, de 2008; Lei n° 7.661, de 16 de maio de 1988, que

estabelece o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro - PNGC, e dá outras

providências, em especial o art. 3° onde diz que o PNGC deverá prever o

zoneamento de usos e atividades da Zona Costeira e dar prioridade à

conservação e proteção das dunas, entre outros bens; sendo, ainda, dever do

Poder Público e dos particulares preservar a biodiversidade, notadamente aflora, a fauna, os recursos hídricos, as belezas naturais e o equilíbrio

ecológico, evitando a poluição das águas, solo e ar;

•  Pressuposto intrínseco ao reconhecimento e exercício do direito de

propriedade, nos termos dos artigos 5°, caput (direito à vida) e inciso XXIII

(função social da propriedade), 170, VI, 186, II, e 225, todos da Constituição

Federal;

  Artigo 1.299, do Código Civil, que obriga o proprietário e posseiro arespeitarem os regulamentos administrativos;

•  Resolução CONAMA n° 303, de 20 de março de 2002;

•  Resolução CONAMA nº 341de 2003; 

• Resolução CONAMA nº 369, de 28/03/2006.

Page 43: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 43/266

36

1.2 Aspectos Gerais 

Maricá é um município brasileiro, situado no litoral do Estado do Rio de

Janeiro, localiza-se a 22º55’10’’ de latitude sul, 42º49’07’’de longitude oeste. O

território é dividido em quatro distritos: Maricá (sede), Ponta Negra, Inoã e Itaipuaçu;

a área possui uma diversidade de ecossistemas costeiros e marinhos exuberantes –

como belas praias, dunas, restingas e mata litorânea – tornando-se fator

preponderante para o turismo e a pesca.

O Município de Maricá também é conhecido por suas propriedades rurais-

chácaras e grandes fazendas, muitas delas ricas em conteúdo histórico e rodeadas

por maciços costeiros. As serras principais são: Calaboca, Mato Grosso (onde se

localiza o ponto mais alto do município- o Pico da Lagoinha, com 890m), Lagarto,

Silvado, Espraiado e Tiririca. Também é conhecida pelas praias oceânicas, dentre

as quais se destacam a de Jaconé, Ponta Negra, Barra de Marica, do Francês e

Itaipuaçu. Segundo a Prefeitura de Maricá (PMMA) a topografia peculiar cria um

ambiente propício à prática de esportes como vôo livre, trekking e montainbike,

dentre outros. Há um grande complexo lagunar que contempla as lagoas de Maricá,

Barra de Maricá, do Padre, Guarapina e Jaconé, além dos canais de Ponta Negra e

de Itaipuaçu que ligam as lagoas ao mar.

A Serra da Tiririca, entre Maricá e Niterói, é um Parque Estadual com um

valioso trecho de mata atlântica. Segundo o Instituto Estadual de Florestas (IEF),

hoje INEA, a Área de Proteção Ambiental – APA Estadual de Maricá é uma área

tipicamente de restinga, localizada na costa do município, formada pela AntigaFazenda São Bento da Lagoa, a Ponta do Fundão e a Ilha Cardosa. Abriga a

Comunidade Pesqueira de Zacarias, presente na área desde o século XVIII, sítios

arqueológicos e o complexo ecossistema de restinga. Este último é formado, entre

outros componentes, por tabuleiros costeiros, um duplo cordão arenoso coberto por

dunas, brejos, vegetações e fauna de restinga. A sua construção promoveu a

constituição do sistema lagunar Maricá-Guarapina pelo fechamento da antiga

enseada.

Page 44: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 44/266

37

Possui, ainda, uma grande área urbana de ocupação rarefeita e formada por

dezenas de bairros e condomínios. A maior parte dos domicílios é de uso

permanente, sobretudo no Centro da Cidade e nas localidades mais antigas. Nas

áreas do litoral e nas margens das lagoas as residências são majoritariamente

utilizadas para o turismo do tipo veraneio.

Figura 03- Mapa Turístico e Guia de Ruas do Município de Maricá.

Fonte Prefeitura Municipal de Maricá.

1.3 O Município de Maricá

1.3.1 Aspectos físicos 

Maricá pertence à Região das Baixadas Litorâneas, que também abrange os

municípios de Araruama, Armação dos Búzios, Cabo Frio, Cachoeiras de Macacu,

Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Arraial do Cabo, Rio Bonito, Rio das Ostras, São

Pedro da Aldeia, Saquarema e Silva Jardim. O município possui uma área total

(IBGE/CIDE, 2002.) de 363,81km2. O principal acesso à cidade é feito tanto pela

RJ-106 (Rodovia Amaral Peixoto), que liga o município às cidades de Niterói, São

Page 45: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 45/266

38

Gonçalo e Saquarema, quanto pelo RJ-114, que faz a conexão com o município de

Itaboraí e as rodovias RJ-114 e BR-101. De acordo com o censo de 2007, Maricá

tinha uma população em 2004 de 92.227 pessoas, passando a 105.294 em 2007, e

123.492 em 2008, a densidade demográfica era de 290,9 habitantes por km2, seu

IDH é de 0, 786 e PIB R$ 667, 074 mil (FONTE IBGE 2005).

Quanto à geomorfologia, o relevo de Maricá caracteriza-se, ao sul, por uma

extensa planície que se estende por toda a orla. Ao norte, leste e oeste, são

encontradas diversas colinas e maciços. As serras possuem origem tectônica e

relevo acidentado com declives acentuados. Os maciços, de origem gnáissica,

apresentam altitude variável entre 100 e 600 metros. As maiores elevações do

município estão na Serra do Mato Grosso, no limite com Saquarema, onde os picos

ultrapassam 800 metros. (BAHIENSE, 2003, p. 17).

Os vales podem ser encontrados principalmente próximos às lagoas. A

baixada litorânea, que engloba o sistema lagunar de Maricá, foi formada por

sucessivas oscilações do nível do mar, juntamente com a atuação do conjunto de

rios e córregos locais. A última regressão marinha gerou um extenso cordão arenoso

que fechou antigas enseadas e formou as atuais lagoas, incluindo a Restinga deMaricá. (BAHIENSE, 2003, p. 17).

O reconhecimento e o mapeamento das diversas unidades geomorfológicas

do município de Maricá, com seus 363,9 Km², são de fundamental importância para

a avaliação do impacto decorrente de cada tipo de intervenção e para subsidiar

propostas básicas de diagnóstico ambiental e de planejamento ordenado do território

desse município.

Na Unidade Geomorfológica onde se encontra Maricá, considerada como

Portal de Entrada dessa região, é freqüente a ocorrência de pequenas lagunas

alongadas ou brejos intercordões entre os dois alinhamentos de cristas arenosas.

Os cordões arenosos (121) isolaram uma série de corpos lagunares que

preencheram as reentrâncias do antigo litoral delineado pelas elevações do

embasamento cristalino. Esses sistemas lagunares estão progressivamente

colmatados pelo movimento recente de regressão marinha, expondo amplamente as

planícies flúvio-lagunares (124), ou sendo recobertos pelos sedimentos das

Page 46: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 46/266

39

baixadas colúvio-aluviais (122). Com bastante freqüência está sendo possível

identificar e mapear colinas isoladas (221) no interior dessas baixadas. O Sistema

Lagunar de Maricá está contido na baixada de Maricá, circundado pelos maciços

costeiros da Região dos Lagos (251). Todos os sistemas lagunares têm

comunicação natural com o oceano.

Figura 04 Mapa da Geomorfologia

A rede de drenagem que converge para as lagunas é pouco expressiva,

contribuindo muito pouco para a diminuição da salinidade. As correntes de

circulação interna dos sistemas lagunares promovem o desenvolvimento de pontõesarenosos, perpendiculares ao eixo longitudinal das lagunas, formando feições

morfológicas peculiares, denominadas “Esporões”. Dentre os principais canais que

convergem para os sistemas lagunares destacam-se os rios Vigário e Ubatiba, que

desembocam na Lagoa de Maricá.

Page 47: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 47/266

40

Figura 5. Localização de Maricá no Estado do Rio de Janeiro.

Fonte Governo do Estado do Rio de Janeiro

Page 48: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 48/266

41

A Região Metropolitana do Rio de Janeiro, também conhecida como Grande

Rio, foi instituída pela Lei Complementar nº 20/74, após a fusão dos

antigos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, unindo as então regiões

metropolitanas do Grande Rio Fluminense e da Grande Niterói, (IBGE/2008), é a

segunda maior área metropolitana do Brasil, terceira da América do Sul e 20ª maiordo mundo (Censo 2010).

   F   i  g  u  r  a   0   6   D   i  v   i  s   ã  o

  p  o   l   í   t   i  c  a   A   d  m   i  n   i  s   t  r  a   t   i  v  a   d  o   E  s   t  a

   d  o   d  o   R   i  o   d  e   J  a  n  e   i  r  o .   F  o  n   t  e   C   I   D

   E .

 

Page 49: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 49/266

42

Seus limites sofreram alterações, em anos posteriores, com a exclusão

dos municípios de Petrópolis e São José do Vale do Rio

Preto (1993), Itaguaí, Mesquita, Mangaratiba (2002) e Maricá (2001), que também

faziam parte da Região Metropolitana, conforme a primeira legislação. Itaguaí,

Maricá e Mesquita foram novamente incluídas no Grande Rio através da Lei

Complementar 133/2009 estabilizando o número de municípios em 19.

A Tabela 01, que apresenta os valores apurados nos censos de 2000, 2005 e

2010, permite verificar o extraordinário processo de crescimento populacional vivido

pelo município de Maricá. 

Tabela 01: População: Municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 2000/2005/2010

MUNICÍPIO 2000 2005* 2010 Tx. de cresc.Rio deJaneiro

5.850.544 6.094.183 6.323.037 0,08076

Duque deCaxias

770.858 842.890 855.046 0,10921

São João deMeriti

449.562 464.327 459.356 0,02178

Nilópolis 153.572 150.968 157.483 0,01244Belford Roxo 433.120 480.695 469.261 0,08344Nova Iguaçu 915.364 830.902 795.212 -0,13126

Magé 205.699 232.251 228.150 0,10914Guapimirim 37.857 44.139 51.487 0,36003Mesquita 165.843 182.546 168.403 0,01543

Queimados 121.681 136.509 137.938 0,13360Japerí 83.160 94.239 95.391 0,14707

Paracambi 40.412 43.011 47.074 0,16485Seropédica 65.020 75.032 78.183 0,20244

Itaguaí 81.952 93.662 109.163 0,33206Mangaratiba 24.854 29.272 36.311 0,46097

Niterói 458.465 474.046 487.327 0,06295São Gonçalo 889.828 960.841 999.901 0,13264

Itaboraí 187.038 215.877 218.090 0,16901Tanguá 26.001 29.481 30.731 0,18191

MARICÁ 76.556 95.653 127.519 0,66569Total RMRJ 11.037.386 11.570.524 11.875.063 0,07589

Fonte IBGE- Estimativa IBGE* DPUR- Depto. de Urbanismo e Meio Ambiente- FAU-Faculdadede Arquitetura e Urbanismo - UFRJ

Page 50: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 50/266

43

Observa-se que o processo de urbanização da Região Metropolitana do Rio

de Janeiro nos últimos anos consolidou o também acelerado processo de

conurbação dos municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá, estando a malha

urbana destes municípios quase sedimentada a partir do eixo da BR-101 entre

Niterói e São Gonçalo e a partir dos eixos das rodovias RJ-104 e RJ-106 ou Rodovia

Amaral Peixoto entre Niterói, São Gonçalo e Maricá, que a partir da sua duplicação

em 2004 vem acelerando este processo.

1.3.2 Território 

De acordo com o Mapa de Uso e Cobertura do Solo - 2001, elaborado pelaFundação CIDE, apenas 31,7% do território estadual é coberto por vegetação

remanescente (florestas, mangues e restingas) e secundária. O restante é ocupado

principalmente por pastagens, áreas cultivadas e/ou urbanizadas.

Os ecossistemas do Estado têm sofrido intensa e contínua degradação. As

áreas naturais protegidas - Unidades de Conservação -, sob tutela federal e

estadual, cobrem cerca de 10% da área do Estado. Nelas, se encontram 63,7% das

florestas fluminenses, de acordo com o IQM-Verde II, publicação da Fundação

CIDE, atual CEPERJ- Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de

Servidores do Rio de Janeiro, lançada em 2003 .

1.3.3 Indicadores do Censo de Maricá em 2010 

Tabela 02: Censo de 2010.

CNEFE – Cadastro Nacional de Endereços para fins estatísticos

Total de endereços urbanos 75.238 Endereços

Total de endereços rurais 1.041 Endereços

Total de estabelecimentos de saúde 83 Estabelecimentos

Page 51: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 51/266

44

Censo Demográfico 2010: Características da População e dosDomicílios: Resultados do Universo

Domicílios particulares permanente 42.810 Domicílios

Domicílios particulares permanentes-abastecimento de água – Rede Geral

8.112 Domicílios

Domicílios particulares permanentes- energiaelétrica – tinham

42.759 Domicílios

População residente 127.461 Pessoas

População residente –homens 62.649 Pessoas

População residente –mulheres 64.812 Pessoas

População residente - alfabetizada 113.245 Pessoas

População residente – cor ou raça – branca 68.806 Pessoas

População residente – cor ou raça – preta 9.550 Pessoas

População residente – cor ou raça – parda 48.346 Pessoas

População residente- classes de rendimento

nominal mensal- até ¼ de salário mínimo

999 Pessoas

População residente- classes de rendimentonominal mensal – mais de 30 salários mínimos

81 Pessoas

Base Territorial

Área da unidade territorial 362.571 Km²

Representação política 2006

Eleitorado 65.117 Eleitores

Produto Interno Bruto dos municípios 2008

Pib per capta a preços correntes 7.942,72 Reais

Page 52: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 52/266

45

Ensino – matrículas, docentes e rede escolar 2009

Matrícula – Ensino fundamental - 2009 18.152 Matrículas

Matrícula – Ensino médio - 2009 3.927 Matrículas

Docentes – Ensino fundamental - 2009 978 Docentes

Docentes – Ensino médio- 2009 379 Docentes

Serviços de Saúde 2009

Estabelecimentos de Saúde SUS 1.230 Estabelecimentos

Finanças Públicas 2009

Receitas orçamentárias realizadas-Correntes

143.090.312,00 Reais

Despesas orçamentárias empenhadas –Correntes

115.139.396,00 Reais

Valor do Fundo de Participação dosmunicípios – FPM

21.120.407,00 Reais

Estatísticas do Cadastro Central de Empresas 2009

Número de unidades locais 1.998 Unidades

Pessoal ocupado total 13.704 Pessoas

Fonte IBGE, 2010. 

Segundo a Câmara Técnica de Políticas Sociais do Governo do Estado do

Rio de Janeiro, a população na região do Conleste, na qual Maricá se insere, estava

distribuída na forma equacionada abaixo.

Page 53: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 53/266

46

Tabela 03- Fonte Câmara Técnica de Políticas Sociais do Estado do Rio de Janeiro 2007.  

O CONLESTE5 reúne uma população que corresponde a 14% dos habitantes

da região Fluminense. Os municípios que compõem a Área de Influência Direta do

CONLESTE - AID (Itaboraí, Guapimirim e Tanguá), segundo o Estudo de Impacto

Ambiental, e o respectivo Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA),

apresentaram, com exceção de Tanguá, crescimento superior à taxa estadual e

integraram, juntamente com Casimiro de Abreu, Magé, Maricá e os demais

municípios da Baixada Litorânea, o grupo que cresceu com maior vigor entre 1991 e

2000.

Os municípios apresentam, com exceção de Guapimirim e Silva Jardim,

altas taxas de urbanização, com índices superiores a 80% – Niterói e São Gonçalo

atingiram 100%. A AID deverá ter, em 2010, uma população superior a 380.000

pessoas, cerca de 70% a mais do que no ano de 1990, o que mostra o acentuado

processo de expansão demográfica da região.

5 Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento do Leste Fluminense – Conleste, com o objetivo de

definir estratégia e atuação conjuntas diante dos possíveis impactos sociais decorrentes daimplantação do megaprojeto de investimento do Complexo. O Conleste, além de Itaboraí, reúne osmunicípios de Niterói, São Gonçalo, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Guapimirim, Magé,Maricá, Rio Bonito, Silva Jardim e Tanguá.

Page 54: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 54/266

47

Dentro do CONLESTE, os municípios com melhores indicadores sociais são,

nesta ordem, Niterói, Maricá, São Gonçalo e Casimiro de Abreu. Os municípios

menos favorecidos são Silva Jardim e Tanguá. A partir do estudo dos dados

estatísticos e das pesquisas realizadas, foi possível observar que os municípios da

região de influência do COMPERJ6 sofrem deficiências quanto aos serviços básicos

à população, como educação, saúde, transporte e saneamento.

Assim, pelos dados anteriormente apresentados, notadamente a Tabela 03,

constata-se o crescimento populacional de Maricá superior à taxa Estadual, que é de

0,08%, e que a sua base populacional e da região vem sofrendo aumento

considerável nos últimos 10 anos.

1.4 Evolução

O Município de Maricá, por apresentar diversos e distintos cenários urbanos,

com características bastantes distintas uma das outras, acomoda diversos estágios

de urbanização concomitantemente.

Pode-se dizer que alguns territórios já estão saturados, iniciando-se umprocesso de adensamento; outras partes, apesar de parceladas, mas sem infra-

estrutura, encontram-se bastante vazias além, de ainda, disponibilizar para

expansão, de 18,5% do seu território.

A partir dos dados da figura 08 da PMMA, se verifica que desde a década de

1960 o município vem apresentando taxas de crescimento bem altas culminando em

64,5% na década de 1990 tendo a população residente quase duplicado. Do próprio

gráfico, comprova-se o maior aumento entre os anos de 1991 a 2000. Outro fator

importante a explicitar é que nesta última década Maricá vem deixando de ser um

local de veraneio da Metrópole para ser um local de residência de apoio à Metrópole

do Rio de Janeiro, transformando-se numa cidade dormitório. As melhorias de suas

conexões com a Metrópole, desde a abertura da ponte Rio-Niterói e a duplicação da

Rodovia Amaral Peixoto, vêm provocando esta mudança.

6Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - Comperj, se localiza no território leste fluminense, assim,instalou-se um movimento de reestruturação da economia regional e nacional, onde a idéia dedesenvolvimento se impõe como um processo de mudança do território, como realidade econômica,social e institucional no Estado do Rio de Janeiro.

Page 55: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 55/266

48

Figura 07 – Evolução da População Municipal.

2. DAS LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO DA APA

2.1 Evolução da Legislação Ambiental

BENJAMIN (1993) defende que a evolução da legislação ambiental brasileira

se desenvolve em três fases ou momentos históricos, que são a fase de exploraçãodesregrada, a fragmentária e a holística. Terminologicamente, talvez seja mais

adequado tratar esses mesmos momentos históricos como fase fragmentária,

setorial e holística, porque na fase que BENJAMIN (1993) chama de fase de

exploração desregrada já existe uma legislação ambiental esparsa e na fase que ele

chama de fragmentária a legislação ambiental passa a existir em função de cada

área de interesse econômico.

Torna-se necessário dizer que essas fases históricas não possuem marcos

afirmativos precisamente delineados, de maneira que elementos caracteristicamente

pertencentes a uma fase podem estar cronologicamente relacionados a outra fase.

O primeiro momento histórico no que diz respeito à legislação ambiental

brasileira é aquele descrito como do descobrimento até aproximadamente a década

de 1930 sendo chamado de fase fragmentária. Essa fase é caracterizada pela

ausência de uma preocupação com o meio ambiente, a não ser por algunsdispositivos protetores de determinados recursos ambientais. Édis Milaré (2009) faz

Page 56: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 56/266

49

um estudo da legislação ambiental desse período, afirmando que o esbulho do

patrimônio natural e a privatização do meio ambiente eram muito comuns nesse

período.

Em Portugal, na época do descobrimento, vigoravam as Ordenações

Afonsinas, cujo trabalho de compilação foi concluído no ano de 1446, durante o

reinado de Dom Afonso IV. É possível encontrar nas Ordenações Afonsinas algumas

referências à preocupação com o meio ambiente, a exemplo do dispositivo que

tipificava como crime de injúria ao rei o corte de árvores frutíferas.

As Ordenações Manuelinas foram editadas em 1521, também contendodispositivos de caráter ambiental, a exemplo da proibição da comercialização das

colméias sem a preservação das abelhas ou da caça de animais como coelhos,

lebres e perdizes com instrumentos que pudessem denotar crueldade. A tipificação

do corte de árvores frutíferas passou a ser punida com o degredo para o Brasil

quando a árvore abatida tivesse valor superior a trinta cruzados.

As Ordenações Filipinas, editadas em 1603 durante o período em que o Brasil

passou para o domínio espanhol, proibiam que fossem jogados na água qualquer

material que pudesse matar os peixes e suas criações ou que se sujassem os rios e

as lagoas. A tipificação de árvores frutíferas é mantida, prevendo-se como pena o

degredo definitivo para o Brasil, segundo BuscaLegis.ccj.ufsc.br ( 2008, p.09).

O primeiro Código Criminal de 1830 tipificou como crime o corte ilegal de

madeira e a lei nº 601/1850 discriminou a ocupação do solo no que diz respeito a

ilícitos como desmatamentos e incêndios criminosos. Na prática, só eram punidosaqueles que de alguma forma prejudicassem os interesses da Coroa ou dos

latifundiários, ou grandes comerciantes.

Com a proclamação da República a falta de interesse pela questão ambiental

permaneceu e talvez até tenha se acentuado. SALGE (2003) ressalta que sob o

aspecto jurídico a preocupação com o meio ambiente sequer existia, tanto no

período colonial quanto no imperial e republicano.

Page 57: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 57/266

50

Nessa fase ainda não existe de fato uma preocupação com o meio ambiente,

a não ser por alguns dispositivos isolados cujo objetivo seria a proteção de alguns

recursos naturais específicos como o pau-brasil e outros. Tais restrições se

limitavam à preservação de um ou outro elemento da natureza, destacando sempre

a importância botânica ou estética ou o direito de propriedade.

A segunda fase é chamada de fragmentária e se caracteriza pelo começo da

imposição de controle legal às atividades exploratórias dos recursos naturais pela

iniciativa econômica. Contudo, esse controle era exercido de forma incipiente

porque de um lado era regido pelo utilitarismo, visto que só se tutelava o recurso

ambiental que tivesse valoração econômica, e de outro pela fragmentação do objeto,o que negava ao meio ambiente uma identidade própria, e em conseqüência até do

aparato legislativo existente.

Milaré (2009) destaca a importância do Código Civil de 1916 como

precedente de uma legislação ambiental mais específica ao trazer alguns elementos

ecológicos, especialmente no que diz respeito à composição dos conflitos de

vizinhança. Mas foi aproximadamente a partir do final da década de 1920 que surgiu

uma legislação ambiental mais completa, embora o meio ambiente tenha continuado

a ser compreendido de forma restrita.

NEDER (2002) afirma que o que marca o Estado brasileiro após a década de

30 em relação ao meio ambiente é o estabelecimento do controle federal sobre o

uso e ocupação do território e de seus recursos naturais, em uma atmosfera de

disputa entre o governo central e as forças políticas e econômicas de diferentes

unidades da Federação. Para o autor, a “regulação pública sobre recursos naturaisno Brasil nasceu da coalização de forças políticas industrialistas, classes médias e

operariado urbano que deu origem à Revolução de 30 e do modelo de integração

(nacional e societária) daí decorrente” (p.38).

Os recursos ambientais como a água, a faunae e a flora passaram a ser

regidos por uma legislação diferenciada, de maneira que não existia articulação

entre cada um desses elementos ou entre cada uma das políticas específicas.

Page 58: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 58/266

51

Dessa forma, a saúde pública passou a ser regida pelo Regulamento de

Saúde Pública ou Decreto nº 16.300/23, os recursos hídricos passaram a se reger

pelo Código das Águas ou Decreto-lei nº 852/38, a pesca pelo Código de Pesca ou

Decreto-lei nº 794/38, a fauna pelo Código de Caça ou Decreto-lei nº 5.894/43, o

solo e o subsolo pelo Código de Minas ou Decreto-lei nº 1.985/40, e a flora pelo

Código Florestal ou Decreto nº 23.793/34.

O Código das Águas, de 1934 e a assinatura do Protocolo de Genebra, de

1925 (que dispõe sobre a proibição de meios bacteriológicos de guerra), fazem parte

do rol de normas surgidas no início do Século XX.

O documento legal brasileiro mais antigo é o Código das Águas (Dec. 24.643,

de 10/07/34), que define o direito de propriedade e de exploração dos recursos

hídricos para o abastecimento, a irrigação, a navegação, os usos industriais e a

geração de energia. Reza ainda que infratores devam pagar os custos dos

trabalhos para a salubridade das águas, e ainda ser punidos criminalmente e

responsabilizados pelas perdas e danos causados, e que a utilização das águas

para fins agrícolas e industriais depende de autorização administrativa, com

obrigatoriedade de restabelecimento do escoamento natural após o uso.

Ainda na década de 1930, surgem mais dois documentos importantes: O

Decreto nº 1.713, de 14/07/37, que cria o Parque Nacional do Itatiaia, e o Decreto-

Lei nº 25, de 30/11/37, que organiza o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e dá

proteção aos bens móveis e imóveis, de interesse público, por sua vinculação à

história do país e por seu valor arqueológico e bibliográfico.

O Código de Minas, Decreto nº 1.985, de 10/10/40, define as atividades de

exploração do subsolo e dissocia o direito de propriedade do direito à exploração.

Desta forma, o concessionário de exploração tem o dever de evitar o extravio das

águas e drenar aquelas que possam causar algum dano ao próximo, bem como

evitar a poluição do ar, da água e conservar as fontes, sem prejuízo das condições

gerais exigidas. Sua redação foi modificada pelo Decreto-lei nº 227, de 28/02/1967.

O Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30/11/64) define a função social da terra,que será cumprida, dentre outras condições, quando sua posse assegurar a

Page 59: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 59/266

52

conservação dos recursos naturais, além de estabelecer critérios de desapropriação

das terras e de acesso à propriedade rural, e a racionalização da atividade

agropecuária dentro dos princípios de conservação dos recursos naturais

renováveis. Destaca-se a exigência de manutenção de uma reserva florestal nos

vértices de espigões e nascentes, para a aprovação de projetos de colonização

particular.

A partir da década de 1960 começa a segunda etapa da fase setorial, que é

marcada pela edição de normas com maiores referências às questões ambientais

propriamente ditas do que as da fase anterior. Entre os textos legislativos mais

importantes se destacam a Lei nº 4.504/64 (Estatuto da Terra), a Lei nº 4.771/65(novo Código Florestal), a Lei nº 5.197/67 (Lei de Proteção à Fauna), o Código de

Pesca (Decreto-lei nº 221/67) e o Código de Mineração (Decreto-lei nº 227/67).

O Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15/09/65) reconhece as florestas e todas

as formas de vegetação brasileiras como bens públicos, impondo limites ao direito

de propriedade. Estabelece critérios mínimos para a preservação permanente de

áreas e para a criação de parques e reservas biológicas

Por conta da ênfase dada ao direito de propriedade, não existia efetivamente

uma preocupação com o meio ambiente, já que não se considerava as relações de

cada um dos recursos naturais entre si como se cada recurso ambiental específico

não influísse no restante do meio natural e social ao redor de si. O Estado reduzia

sua atuação àqueles recursos ambientais naturais que pudessem ter algum valor

econômico.

No entendimento de NEDER (2002) a legislação ambiental desse período

tinha como objetivo viabilizar a regulação administrativa centralizada de uma

autoridade geopolítica sobre os recursos ambientais como tarefa da União. Esse

mesmo autor afirma que é na fase setorial, chamada por ele de fase de gestão de

recursos naturais, que o Estado passa a regulamentar o uso dos recursos

ambientais por meio de outorgas e concessões a particulares, que assim poderiam

explorar a fauna, a flora, os minérios, os recursos hídricos, os recursos pesqueiros e

a exploração da terra.

Page 60: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 60/266

53

Essa estrutura administrativa estava praticamente centralizada na União, que

desempenhava as políticas relativas a cada um dos tipos de recursos ambientais por

meio dos seguintes órgãos específicos: Departamento Nacional de Águas e Energia

Elétrica (DNAEE), Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF),

Departamento Nacional de Prospecção Mineral (DNPM), Superintendência do

Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (IPHAN).

Cada um desses órgãos federais passou a desempenhar suas atribuições e

competências em todo o território nacional independentemente da atuação dos

demais, o que conduziu a ações descoordenadas e conflitantes. Ainda naatualidade, a Administração Pública ambiental é pautada pela existência de lógicas

setoriais de ação e de interesses que impedem a integração das políticas públicas

de meio ambiente.

Tanto quanto nos momentos anteriores, a legislação ambiental brasileira

estava mais ou menos em compasso com a legislação internacional, refletindo a

falta de conscientização ambiental da época. Depois da 2ª Guerra Mundial, com oaceleramento desordenado da produção agrícola e principalmente da produção

industrial, a esgotabilidade dos recursos naturais ficou evidente.

Todavia, somente a partir de meados da década de 1960, com a divulgação

de dados relativos ao aquecimento global do planeta e ao crescimento do buraco na

camada de ozônio na atmosfera, e com a ocorrência de catástrofes ambientais,

como o vazamento do petroleiro Torrey Canyon em 1967 e a ameaça imobiliáriacontra o parque de Vanoise, na França, é que a sociedade civil começou a

gradualmente construir uma consciência ambiental, conforme Pascal (1990, p. 7).

Em junho de 1972, a Organização das Nações Unidas organizou em

Estocolmo, na Suécia, a 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,

aprovando ao final a Declaração Universal do Meio Ambiente, que declarava que os

recursos naturais, como a água, o ar, o solo, a flora e a fauna, devem ser

conservados em benefício das gerações futuras, cabendo a cada país regulamentar

esse princípio em sua legislação de modo que esses bens sejam devidamente

Page 61: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 61/266

54

tutelados. Essa declaração abriu caminho para que a legislação brasileira, e as

demais legislações ao redor do planeta, perfilassem a doutrina protetiva com a

promulgação de normas ambientais mais amplas e efetivas.

MILARÉ (2009) afirma que no Brasil somente a partir da década de 1980 a

legislação começou a se preocupar com o meio ambiente de uma forma global e

integrada. A Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio

Ambiente, é o primeiro grande marco em termos de norma de proteção ambiental no

Brasil. Essa legislação definiu de forma avançada e inovadora os conceitos,

princípios, objetivos e instrumentos para a defesa do meio ambiente, reconhecendo

ainda a importância deste para a vida e para a qualidade de vida.

O segundo marco foi à edição da Lei da Ação Civil Pública ou Lei nº 7.347/85,

que disciplinou a ação civil pública como instrumento de defesa do meio ambiente e

dos demais direitos difusos e coletivos e fez com que os danos ao meio ambiente

pudessem efetivamente chegar ao Poder Judiciário.

A Constituição Federal de 1988 foi o terceiro grande marco da legislaçãoambiental ao encampar tais elementos em um capítulo dedicado inteiramente ao

meio ambiente e em diversos outros artigos em que também trata do assunto,

fazendo com que o meio ambiente alcançasse a categoria de bem protegido

constitucionalmente.

O quarto marco foi à edição da Lei de Crimes Ambientais ou Lei nº 9.605/98,

que dispõe sobre as sanções penais e administrativas aplicáveis às condutas eatividades lesivas ao meio ambiente. Essa Lei regulamentou instrumentos

importantes da legislação ambiental como a desconsideração da personalidade da

pessoa jurídica e a responsabilização penal da pessoa jurídica.

Destaca-se que é somente na fase holística que surge o Direito Ambiental

propriamente dito, com princípios, objetivos e instrumentos peculiares. Nessa fase

desponta a idéia de intercomunicação e interdependência entre cada um dos

elementos que formam o meio ambiente, o que faz com que esses elementos devam

ser tratados de forma harmônica e integrados.

Page 62: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 62/266

55

Com relação às normas, as de cunho ambiental tiveram seu incremento

legislativo a partir dos anos de 1970 (no Brasil, em 1971, segundo BRITO &

CÂMARA – 1999, p. 73). É nesta década que se verifica um aperfeiçoamento dos

meios de atuação dos movimentos ambientalistas e permite-se então denunciar o

estágio de crise ecológica.

Foi a partir da década de 1970 que surgiram a maioria das disposições

ambientais brasileiras, decorrente de um movimento ambientalista que exigia uma

nova postura no relacionamento sociedade-natureza e, à medida de seu avanço

teórico-prático, tem feito também evoluir o Direito Ambiental no plano legislativo.

Como exemplo da produção legislativa do período, temos o II Plano Nacional

de Desenvolvimento (II PND), de 1974, que incorporou em seu bojo medidas de

caráter ambiental; o Plano Nacional de Conservação de Solos, de 1975; o Decreto-

Lei nº 1.413/75, que disciplina a emissão de poluentes pelas atividades industriais; e

ainda o III PND, de 1979, que representou um marco decisivo para a consolidação

do Direito Ambiental, pois ali se esboçou o estabelecimento de uma política

ambiental a nível nacional (MAGALHÃES – 1998, p. 49-53). Nesta década, tratou-se

também das áreas de interesse turístico, através da Lei nº 6.513, de 20/12/77,

instituindo o tombamento de trechos a serem preservados e valorizados no sentido

cultural e natural, destinados a planos e projetos de desenvolvimento turístico.

A década de 1980 reserva à legislação brasileira, vários avanços importantes,

significando passos largos à regulamentação de aspectos significativos na defesa do

ambiente, dos quais podemos citar: Zoneamento Industrial (Lei 6.803/80); Estações

Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental (Lei 6.902/81); Estudo de ImpactoAmbiental (Resolução 01/86 do CONAMA); Plano Nacional de Gerenciamento

Costeiro (Lei 7.661/88); Criação do IBAMA (Lei 7.735/89); Agrotóxicos (Lei

7.802/89).

Ainda na década de 80, podemos mencionar a afirmação de Birnfeld (1998, p.

80) que, discorrendo sobre a evolução da legislação ambiental brasileira, destaca

três momentos normativos de envergadura: o ineditismo da Política Nacional do

Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), a qual pela primeira vez conceituou o meio

ambiente no plano legislativo (o meio ambiente como o mundo natural: conjunto de

Page 63: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 63/266

56

condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que

permitem, abrigam e regem a vida em todas as suas formas); a Lei nº 7.347/85, que

disciplina a Ação Civil Pública por danos causados ao meio ambiente e outros bens

de valor artístico, paisagístico, estético e histórico; e a Constituição Federal de 1988,

que além de consagrar diversos institutos voltados para a proteção ambiental,

dedica todo um capítulo destinado à disciplina da relação do cidadão brasileiro com

o meio.

A Política Nacional do Meio Ambiente foi criada pela Lei nº 6.938, de

31/08/81, a qual dispõe sobre conexões entre desenvolvimento econômico e

preservação ambiental, órgãos da administração direta e indireta, das três esferasde governo, além da criação do CONAMA7 e do SISNAMA8.

A defesa judicial dos chamados "direitos difusos" vem ser tratada pela Lei

7.347/85, que disciplina a Ação Civil Pública de responsabilidade por danos

causados ao meio ambiente.

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a atual Constituição brasileira, em

que pela primeira vez foi inserido um capítulo específico para o Meio Ambiente,apesar de esparsamente previstas cláusulas protetoras em dispositivos

constitucionais anteriores. Em seu artigo 225, declara o meio ambiente como bem

de uso comum de todos, e impõe tanto ao poder público quanto à coletividade, o

dever de zelar pela sua proteção.

7 (CONAMA) Conselho Nacional do Meio Ambiente é o órgão consultivo e deliberativo do SistemaNacional do Meio Ambiente (SISNAMA), instituído pela a Política Nacional do Meio Ambiente.8 (SISNAMA) O Sistema Nacional do Meio Ambiente foi instituído pela Lei 6938 de 31 de agosto de1981, regulamentada pelo Decreto 99.274/90, sendo constituído pelos órgãos e entidades da União,dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público,responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental.

Page 64: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 64/266

57

Além deste, traz no texto um elenco vasto de dispositivos afetos à proteção

ambiental, como a legitimidade do cidadão para propor ação popular, defesa da

biota e demais recursos hídricos, minerais e naturais, função social da propriedade,

proteção da população indígena, controle das atividades nucleares, direito à

informação, princípios da administração pública, direito de participação, etc.

O art. 225 declarou, também, como patrimônio nacional, diversos

ecossistemas representativos existentes no território brasileiro, como a Floresta

Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Matogrossense e a Zona

Costeira.

Após o advento da Constituição de 1988, a legislação brasileira avançou no

sentido de se reconhecer a necessidade de participação da sociedade na gestão de

recursos ambientais, o que se vê em diversas leis de políticas de gestão, a saber:

A lei nº 9.733/97, de Política Nacional de Recursos Hídricos, reconhece em

seus fundamentos que a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e

contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades;

a) O estabelecimento de uma Política Nacional de Educação Ambiental, através

da Lei nº 9.795/99, significou um amadurecimento por parte do poder público

com relação aos instrumentos de treinamento de pessoal e conscientização

coletiva no tocante às questões ambientais, e estabelece a responsabilidade

da sociedade com a educação para o meio ambiente através da educação

ambiental não-formal;

b) O Sistema Nacional de Unidades de Conservação, instituído pela Lei nº9.985/2000, reconhece os direitos das chamadas populações tradicionais e

garante a participação comunitária em todas as fases de implantação e

manejo das unidades de conservação do território nacional.

c) O Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001, que estabelece normas de ordem

pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol

do bem coletivo, da segurança e do bem-estar da população, bem como do

equilíbrio ambiental.

Page 65: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 65/266

58

Faz-se necessário acrescentar que todas as vertentes voltadas para as

questões ambientais têm sido reformuladas no sentido de se garantir uma maior

participação dos cidadãos interessados na aplicação das políticas públicas no Brasil,

dando-se especial consideração para a composição de Conselhos Municipais

setoriais, abrindo-se espaço para a presença efetiva da população, a qual utiliza

estes espaços como tribunas de fiscalização do poder público e reivindicação, seja

pela participação representativa, seja pela participação direta.

No tocante às questões ambientais, nas políticas de gestão ambiental

surgidas na década de 90, em especial nos recursos hídricos, na educação

ambiental e no sistema de unidades de conservação, vê-se claramente a opção porconselhos para a administração destas políticas. Estes espaços são ocupados por

representantes do aparelho estatal e da sociedade civil (ONG’s, setores de usuários,

comunidades locais, populações tradicionais e indígenas, além dos interesses de

mercado – empresários e proprietários de terra).

Outro avanço interessante é o reconhecimento de participação direta da

sociedade em iniciativas de proteção à natureza, verificadas nas ações da educação

ambiental não-formal, a adoção de parcerias entre governo e sociedade, bem como

negociação direta com as comunidades, além da institucionalização da consulta

pública na gestão do meio ambiente.

2.1.1 Cronologia de Atos Normativos e Leis do Superior Tribunal de Justiça 

Segundo o Superior Tribunal de Justiça, a legislação ambiental brasileira éformada por um conjunto de normas que se destinam a disciplinar a atividade

humana para torná-la compatível com a proteção do meio ambiente. Sendo assim,

temos algumas dessas leis e atos normativos listados em ordem cronológica:

• 1981: Política Nacional do Meio Ambiente

Page 66: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 66/266

59

LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981 

Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação e dá outras providências.

• 1988: Constituição Federal

Capítulo VI – Do Meio Ambiente

• 1990: Criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente, compreendendo o

Conselho Nacional do Meio Ambiente- CONAMA, que propõe

regulamentações específicas.

Decreto 99.274, de 06 de junho de 1990.

Regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de

agosto de 1981, que dispõem, respectivamente sobre a criação de Estações

Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional do Meio

Ambiente, e dá outras providências.

• 1992: Agenda 21 – ECO 92 – Resultado da Conferência das Nações Unidas

para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento UNCED/Rio-92.

• 1998: Sanções Criminais.

Lei 9605, de 12 de fevereiro de 1998.

Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e

atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

• 1999: Sanções Administrativas

Decreto nº 3179 de 21 de setembro de 1999

Dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades

lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

Revogado pelo Decreto nº 6.514, de 2008

Page 67: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 67/266

60

Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o

processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras

providências.

• 1999: Educação Ambiental

Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999.

Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação

Ambiental e dá outras providências.

2000: Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

Lei nº 9985 de 18 de julho de 2000.

Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o

Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras

providências.

2001: Código de cores para diferentes tipos de resíduos, a ser adotado naidentificação de coletores e transportadores.

Resolução CONAMA nº 275 de 25 de abril de 2001.

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso das atribuições

que lhe conferem a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, e tendo em vista o

disposto na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e no Decreto no 3.179, de 21

de setembro de 1999. Considera que a reciclagem de resíduos deve ser incentivada, facilitada e expandida

no país, para reduzir o consumo de matérias-primas, recursos naturais não-

renováveis, energia e água; Considera a necessidade de reduzir o crescente impacto ambiental associado à

extração, geração, beneficiamento, transporte, tratamento e destinação final de

matérias-primas, provocando o aumento de lixões e aterros sanitários; 

Page 68: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 68/266

61

Considera as campanhas de educação ambiental, providas de um sistema de

identificação de fácil visualização, de validade nacional e inspirado em formas de

codificação já adotadas internacionalmente, sejam essenciais para efetivarem a

coleta seletiva de resíduos, viabilizando a reciclagem de materiais, resolve:

• 2006: Define separação dos resíduos recicláveis descartados pela

administração pública e sua destinação.

Decreto nº 5940 de 25 de novembro de 2006.

Institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades

da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a suadestinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e

dá outras providências.

• 2007: Recomenda aos Tribunais adotarem políticas de proteção ao meio

ambiente, instituir comissões ambientais e estabelecer metas de preservação

e recuperação do meio ambiente.

Recomendação CNJ nº 11 de 22 de maio de 2007.

Recomenda aos Tribunais relacionados nos incisos II a VII do art. 92 da Constituição

Federal de 1988, que adotem políticas públicas visando à formação e recuperação

de um ambiente ecologicamente equilibrado, além da conscientização dos próprios

servidores e jurisdicionados sobre a necessidade de efetiva proteção ao meio

ambiente, bem como instituam comissões ambientais para o planejamento,

elaboração e acompanhamento de medidas, com fixação de metas anuais, visandoà correta preservação e recuperação do meio ambiente.

• 2008: Decreto 6.514 de 2008 revoga o Decreto nº 3179 de 21 de setembro de

1999.

• 2010: Educação Ambiental

Page 69: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 69/266

62

Resolução CONAMA 422 de 2010.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE RESOLUÇÃO 422, de 23 de março

de 2010.

Estabelece diretrizes para as campanhas, ações e projetos de Educação Ambiental, 

conforme Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, e dá outras providências. 

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso da competência

que lhe confere o art. 7o, inciso XVIII, do Decreto no 99.274, de 6 de junho de 1990,

e tendo em vista o disposto nos arts. 2o, inciso XVI, e 10, inciso III, do RegimentoInterno do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA, Anexo à Portaria nº 168,

de 13 de junho de 2005, e o que consta do Processo no 02000.000701/2008-30. 

Considera a educomunicação como campo de intervenção social que visa promover

o acesso democrático dos cidadãos à produção e à difusão da informação,

envolvendo a ação comunicativa no espaço educativo formal ou não formal; 

Considera a necessidade de garantir que as políticas de meio ambiente abordem a

Educação Ambiental em consonância com a Política Nacional de Educação

Ambiental-PNEA, estabelecida pela Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999 e pelos

artigos 2º, caput, e 3º, inciso II, do Decreto no 4.281, de 25 de junho de 2002, bem

como com o Programa Nacional de Educação Ambiental-ProNEA.

• 2010: Critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens,

contratação de serviços ou obras para a Administração Pública (Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão – Instrução Normativa nº 1, de 19 de

 janeiro de 2010).

INSTRUÇÃO NORMATIVA NO 01, DE 19 DE JANEIRO DE 2010. 

Dispõe sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens,

contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta,autárquica e fundacional e dá outras providências. 

Page 70: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 70/266

63

2.1.2. Princípios Ambientais no Brasil 

Segundo a Revista Científica ANAP Brasil, (julho de 2008), os Princípios de

uma ciência, de acordo com José Cretella Júnior, “são proposições básicas,

fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturas subseqüentes, inaugura-

se, desta forma, uma nova fase do Direito Ambiental no Brasil, em que se evolui,

nitidamente, de enunciados normativos que apenas vêem os recursos ambientais

como bens a serem utilizados de forma racional, para o reconhecimento dos

mesmos como bem de uso comum do povo, necessários à sadia qualidade de vida,

com a consciência de que sua manutenção é importante também para as futuras

gerações.

De acordo com a Revista Científica ANAP Brasil (julho de 2008), os princípios

ambientais encontram-se, pois, no ordenamento jurídico, com função de orientar a

atuação do legislador e dos poderes públicos além de toda a sociedade na

concretização e cristalização dos valores sociais, relativos ao meio ambiente,

harmonizando as normas do ordenamento ambiental, direcionando a sua

interpretação e aplicação, e ressaltando definitivamente a autonomia do DireitoAmbiental, como ciência.

Assim, todo o emaranhado de normas, princípios, instituições, etc., que

emanam não só do Estado, como também dos princípios gerais do Direito, do

costume, de organizações, movimentos sociais, dentre outras, instrumentalizam o

Direito Ambiental no Brasil, definindo para o mesmo uma série de princípios

norteadores de sua aplicação, a saber:

• Princípio do direito humano fundamental: informa que o meio ambiente é um

direito subjetivo fundamental do ser humano, essencial à sua sadia qualidade

de vida;

• Princípio da necessidade de intervenção estatal: o Estado tem o dever de

intervir na defesa e preservação do meio ambiente, no âmbito dos seus

Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e nas esferas de governo (União,

Estados e Municípios), pela atividade compulsória dos órgãos e agentesestatais;

Page 71: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 71/266

64

• Princípio da prevenção: pauta-se na adoção de todas as medidas necessárias

para evitar que as ações humanas causem danos ambientais irreversíveis ou

de difícil reparação;

• Princípio da precaução: se caracteriza pela não intervenção no meio

ambiente antes que se tenha certeza de que não haverá dano;

• Princípio do poluidor-pagador: é a responsabilização civil, administrativa ou

penal do agente responsável pelas atividades lesivas ao meio ambiente;

• Princípio do desenvolvimento sustentável: a utilização dos recursos naturais

deve satisfazer as necessidades das atuais gerações sem comprometer a

satisfação das necessidades das futuras gerações;

• Princípio da função sócio-ambiental da propriedade: a garantia do direito de

propriedade está vinculada à utilização adequada dos recursos naturais

disponíveis para a preservação do meio ambiente;

• Princípio da cooperação estado-coletividade: impõe tanto ao poder público,

quanto à sociedade civil, o dever de zelar pelos recursos naturais, para as

presentes e futuras gerações.

2.2 Leis de Proteção Ambiental em Maricá.

Segundo XAUBET (1988), tendo em vista o estabelecido nas Leis Federais nº

6.766 de 19/12/79 e nº 6.938 de 31/08/81, foi decretado pelo Governo do Estado do

Rio de Janeiro, áreas de interesse Especial para proteção ambiental em vários

trechos do território deste Estado:

Art. 1º) XI) - no município de Maricá (...).

Impreterivelmente no artigo 4º está especificado que “nas Áreas de Interesse

Especial o parcelamento de terra para fins urbanos deverá respeitar a configuração

dos monumentos naturais a seguir descritos, sendo proibido o parcelamento, a

edificação ou o exercício de qualquer atividade que os descaracterize:

I) Costões;

Page 72: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 72/266

65

II) Dunas

III) Manguezais

IV) Restingas

V) Praias

VI) Parágrafo 1º - As faixas marginais de proteção de lagoas e rios;

Parágrafo 2º - Faixa de 20 metros considerados a partir da linha de raia dos

terrenos de marinha (Decreto nº 9.760 de 05/09/1946 como “non –aedificadi ”).

Segundo a Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA) e a FundaçãoEstadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA) – a Constituição do Estado do

Rio de Janeiro dispõe em seu artigo 122, Cap. II - Da Proteção do Meio Ambiente –

especificando que o:

“Estado, através de Órgão próprio (CECA), estabelecerá o plano geral de proteção ao meio ambiente, para preservá- lo de alterações físicas, químicas ou biológicas que, direta 

ou indiretamente sejam nocivas à saúde, à segurança e ao bem-estar das populações e ocasionem danos à fauna e à flora.” 

Segundo MARTINS (1986 p. 64), várias ações judiciais foram ajuizadas,

devido às irregularidades nos loteamentos litorâneos em Maricá. Em 1978, uma

ação popular contra loteamentos marginais da Lagoa de Maricá (cinco ao todo), que

ocuparam áreas consideradas nos projetos aprovados pela Prefeitura, como

destinadas ao lazer e à recreação. Outra questão foi a da colônia de pescadores deZacarias, na Barra de Maricá, pela posse da terra. Outras ações foram movidas por

moradores, na tentativa de embargar prédios que possuíam infra-estrutura

inadequada, descarregando efluentes de esgotos sanitários no lençol freático da

região; prédios que possuíam excesso de unidades residenciais construídas por

área de terreno; imóveis sem área de recreação que se apropriaram da área de

praia; construções em terrenos de praias e em faixas não edificantes destinadas às

vias públicas. Poucas destas ações tiveram êxito, segundo a autora, estando osprocessos em andamento pelo menos até junho de 1983.

Page 73: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 73/266

66

O desrespeito às normas urbanísticas, segundo MARTINS, e ao código de

obras no município, refletem um baixo padrão construtivo em certos lugares como a

restinga, deteriorando a qualidade do meio ambiente. De acordo com as leis que

regulam a implantação e aprovação de loteamentos urbanos no Brasil, além da

simples demarcação dos lotes, da abertura das ruas e colocação de meios-fios,

cabe ao loteador a implantação dos sistemas de água, esgoto e luz elétrica. Estes

serviços de infra-estrutura básica não foram executados pelos loteadores de Maricá,

cabendo à própria população pagá-los, já que o dinheiro para a execução destes

equipamentos provinha dos impostos recolhidos à Prefeitura Municipal.

MARTINS, denuncia que os fatores que realmente estão coibindo a ação dosagentes loteadores são a inexistência de uma demanda, a impossibilidade de

urbanização e o custo da mesma, dificultada pela topografia da região, com grandes

declividades de montanhas, solos altamente instáveis, rios, lagoas, mangues,muito

mais do que qualquer legislação específica para o setor, já que o Estado não

elaborou uma fiscalização adequada para que a legislação existente fosse

integralmente cumprida.

Page 74: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 74/266

67

Figura 08- Classe de Uso e Cobertura do Solo

Fonte Prefeitura Municipal de Maricá.

Page 75: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 75/266

 

Legenda do uso e cobertur

2.3 Decreto de Criação

Com o Decreto nº

criou a rea de Proteçã

um inestimável valor

circunvizinha. Teve c

ecossistema, com o intui

Assim foi decreta

proteção do sistema L

Padre, Barra, Maricá e

Negra, faixa essa dem

(SERLA) através da P

Superintendente, seria p

I - o parcelamento da t

madeira e vegetação ca

do solo

da Área de Proteção Ambiental

7.230 de 23 de abril de 1984, o Govern

Ambiental na região do sistema lagun

aisagístico e ambiental do sistema

mo necessidade primordial, promover

to de garantir a mais completa salubrida

o pelo Governador em seu artigo 1º qu

gunar de Maricá, integrado pelas La

Brava e pelos canais de São Bento,

rcada pela Superintendência Estadual

ortaria nº 02, de 06 de fevereiro d

roibido às seguintes atividades:

rra, para fins urbanos; II - o desmatam

racterística e a retirada de espécimes v

68

ador Leonel Brizola,

r de Maricá, devido

lagunar e da área

a preservação do

e da região.

a faixa marginal de

oas de Guarapina,

ordeirinho e Ponta

e Rios e Lagoas –

1984, do Diretor-

ento, a extração de

egetais; III - a caça,

Page 76: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 76/266

69

ainda que amadorística, e o aprisionamento de animais; IV - a alteração do perfil

natural do terreno; V - a abertura de logradouros; VI - a construção de edificações ou

edículas.

No artigo 2º, declarou Área de Proteção Ambiental, nos termos estatuído no

art. 8º da Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, parte da Restinga de Maricá e a

totalidade da Ilha do Cardoso, consoante delimitação feita no anexo deste decreto, e

no artigo 3º vetou na APA as seguintes atividades:

II - o parcelamento da terra para fins urbanos; II - o desmatamento, a extração de

madeira e vegetação característica e a retirada de espécimes vegetais; III - a caça,

ainda que amadorística, e o aprisionamento de animais; IV - a alteração do perfilnatural do terreno.

Determinou no artigo 4º que fosse da Competência da Superintendência

Estadual de Rio e Lagoas – SERLA, executar o poder de polícia e praticar medidas

técnico-administrativas na faixa marginal de proteção, ressalvado o disposto no § 3º

do art. 6º deste decreto; no artigo 5º que é da competência da Comissão Estadual

de Controle Ambiental – CECA, exercer o poder de polícia na Área de Proteção

ambiental instituída no art. 2º e no Parágrafo Único, que a Fundação Estadual de

Engenharia do Meio Ambiente – FEEMA, compete proporcionar apoio técnico e

administrativo à CECA, exercendo, em nome dela, a fiscalização do cumprimento

das normas do art. 3º deste decreto.

Com relação ao artigo 6º a transgressão às vedações previstas nos arts. 1º e

3º estão sujeitas ao infrator à pena de multa, de 10 (dez) a 1000 (um mil) UFERJ'S,

sem prejuízo da imposição da medida de interdição, quando cabível; com relação às

circunstâncias do § 1º sempre agravam a pena de multa a gravidade da infração, a

reincidência, o manifesto dolo, fraude ou má-fé; § 2º- O infrator é, ainda, obrigado,

independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos

causados ao meio ambiente; § 3º- Nos casos do art. Iº, o Presidente ou Plenário da

CECA, ou quem deles tenha recebido delegação de competência, aplicará as penas

de multa e o Diretor-Superintendente da SERLA decretará a interdição e ordenará a

indenização ou reparação dos danos ao meio ambiente; § 4º- Nos casos do art. 3º, o

Presidente ou o Plenário, ou quem deles tenha recebido delegação de competência,

aplicará a pena de multa e ordenará a indenização ou reparação dos danos ao meio

Page 77: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 77/266

70

ambiente e o Secretário de Estado de Obras e Meio Ambiente, por proposta da

CECA, decretará a interdição; § 5º- Das decisões do Presidente ou do Plenário da

CECA, ou de quem deles tenha recebido delegação de competência, bem como das

do Diretor-Superintendente da SERLA, cabe recurso, com efeito, meramente

devolutivo, ao Secretário de Estado de Obras e Meio Ambiente, no prazo de 15

(quinze) dias, contado da intimação do interessado; § 6º- Os infratores serão

notificados a satisfazerem as obrigações de indenizar ou reparar os danos ao meio

ambiente no prazo que for fixado na decisão; § 7º- Esgotado o prazo previsto no

parágrafo anterior sem comprovação, pelo infrator, de ter sido satisfeita a obrigação,

serão encaminhados à Procuradoria Geral do Estado as cópias de autos ou

documentos necessários; § 8º- Serão igualmente remetidos ao Procurador Geral daJustiça as cópias de autos e documentos em que houver notícia da prática de

infração penal.

Ademais, no artigo 7º quando se tratar da ação de responsabilidade civil e

criminal prevista no § 1º do art.14 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 será

sempre encaminhada ao Procurador Geral da Justiça a cópia de autos ou

documentos necessários à propositura da ação.

No anexo, delimitou a Área de Proteção Ambiental de Maricá, instituída pelo

decreto nº 7.230, de 23 de abril de 1984, da seguinte forma:

- llha Cardosa , abrange todas as terras emersas na ilha Cardosa (dos Amores),

situada na lagoa da Barra, pertencente ao Sistema Lagunar de Maricá.

- Restinga de Maricá, Área I  - Enseada de São Bento abrange todas as terras,

dentro do perímetro que se inicia no PONTO 1, situado na linha de água na enseada

que verte para a lagoa da Barra, localizado na reta norte-sul que passa sobre o

ponto nº 1191, definido pela SERLA sobre o PAL 05 do Decreto nº 2.148, de 16 de

fevereiro de 1979. Daí segue para o sul até o oceano na praia da Barra de Maricá

(PONTO 2). Daí segue pela linha do litoral para oeste até encontrar a reta norte-sul

do prolongamento da margem leste do canal de São José (PONTO 3). Daí segue

pela citada linha em direção norte até a margem leste do canal de São José

(PONTO 4). Segue depois pela margem leste do canal de São José até o encontro

com o canal de São Bento (PONTO 5). Daí segue pela margem leste do rio Brejo da

Costa até a lagoa de Maricá (PONTO 6). Prossegue em direção sul pela linha da

Page 78: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 78/266

71

água da lagoa de Maricá (enseada de São Bento), continuando em direção leste e

nordeste, sempre pela linha da água, da lagoa de Maricá, até a ponte do Boqueirão

(PONTO 7). Segue pela linha da água, na lagoa da Barra entrando pela pequena

enseada até o PONTO 1, fechando o perímetro.

Área II - Ponta do Fundão Abrange todas as terras dentro do perímetro limitado ao

norte, leste e oeste pela linha da água da lagoa da Barra no sistema Lagunar de

Maricá. Ao sul pela reta formada pelo lado norte da Rua 9 do loteamento

denominado Praia da Barra de Maricá, aprovado em 1964, prolongada para leste e

oeste até as linhas da água da lagoa da Barra.

2.4 A Inconstitucionalidade do Decreto Estadual 38.490/05.

Segundo VIEIRA (2006) o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

através do seu Procurador-Geral de Justiça moveu a Representação por

Inconstitucionalidade, feito nº 2006.204486, em razão do Decreto Estadual nº

38.490/2005 alterar o Decreto Estadual nº 2.418/1979, reduzindo sem amparo legal

a faixa de proteção em torno da Lagoa de Maricá de 300 m para 30 m.

Segundo o Presidente da 38ª Subseção da OAB/RJ- Maricá, Dr. Antônio

Vieira Filho, em ofício nº GAB/032/2006, de 02/05/06 encaminhou ao Procurador-

Geral que o mesmo tomasse as devidas providências. Justificando: pois o Decreto é

danoso ao Sistema Lagunar do Município de Maricá, vez que se for mantido como

está, com certeza irá destruir toda a fauna e flora das lagoas, além de torná-las um

grande poço de dejetos humanos, a exemplo das Lagoas da cidade do Rio de

Janeiro.

Para VIEIRA (2006) o Decreto Estadual nº 38.490/2005 alterou o Decreto

Estadual nº 2.418/1979 (Projeto de Alinhamento da Orla do Sistema Lagunar de

Maricá), conforme consta no artigo 2º.

Para o Ministério Público Estadual, o Decreto Estadual nº 38.490/2005 conflita

com o artigo 261, caput, e § 1º, incisos IV e X e com incisos I e II do artigo 268 da

Constituição do Estado do Rio de Janeiro, sendo que o artigo 261 da Constituição

Page 79: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 79/266

72

Estadual reproduz o que diz o artigo 225, caput e § 1º, incisos I e I V da Constituição

Federal.

Segundo a Superintendência Estadual de Rios e Lagoas – SERLA, a mesma,não realizou nenhum estudo técnico ambiental para a edição do Decreto

38.490/2005 e sequer foi consultada. Portanto, a SERLA não ofereceu estudos,

nem fez pareceres e laudos sobre os diferentes impactos que o referido Decreto

pudesse produzir (no meio ambiente, sistemas viários e de transportes, esgotamento

sanitário, fauna e flora das lagoas, lagunas, paisagístico, turístico, etc.).

Em 2006, o Secretário Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente de Maricá,

Dr. Carlos Augusto Santos Scisinio Dias, através de ofício encaminhou ao

Presidente da Câmara Municipal de Maricá, se manifestou da seguinte forma:

“(...)

Atendendo à solicitação, desde já esclarecemos, que a matéria não se restringe ao domínio de uma única disciplinar e fundamentalmente multiprofissional, havendo que se entender não só as nuances do direito ambiental,mas com certeza, as características e os parâmetros que 

norteiam o conhecimento de tão complexos e ricos ambientes sistêmicos de lagunas interligadas e intercomunicantes com seus ecossistemas associados.

Não se trata de uma Lei e sim de um Decreto, o Decreto nº 38.490/2005, ato do Poder Executivo Estadual que,principalmente, engendra modificações nas dimensões da Faixa Marginal de Proteção dos Corpos hídricos no Município de Maricá, conforme rege o artigo 2º. Não há tempo e espaço, no momento, para a completa análise e compreensão, pois o entendimento se delineia no 

conhecimento técnico e significativo do “nível mais alto” do espelho d’água lagunar e do processo, ao longo do tempo geológico, que modifica não somente o espelho,mas a espessura da lâmina, em virtude da ação concomitante de inúmeros parâmetros culturais e antrópicos.Ressaltamos que, segundo a regulamentaçãoda SERLA- RJ, no caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por Lei deverá ser observado o disposto nos respectivos Planos Diretores e Leis de Uso do Solo, respeitados os princípios 

e limites referidos na referida Portaria (referiu-se à Portaria SERLA 324, de 28/08/2003)”.

Page 80: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 80/266

73

O Município de Maricá, segundo DIAS (2006), também não foi consultado e

nem realizou nenhum estudo técnico sobre os impactos ambientais que o Decreto

Estadual 38.490/2005, produziria, inclusive no próprio Plano Diretor Municipal.

Para a Ordem dos Advogados do Brasil, os impactos já estavam sendo

produzidos como demonstrado no Relatório de denúncia em Apuração de Crime

Ambiental no Município de Maricá, elaborado pela 38ª Subseção.

Assim, para o Órgão Especial após julgamento da Representação de

Inconstitucionalidade, extraiu-se a seguinte Ementa:

“REPRESENTAÇÃO POR INCONSTITUCIONALIDADE,DECRETO Nº 38.490/2005, QUE ALTEROU O DECRETO Nº 2.418/1979 E REDUZIU A FAIXA DE PROTEÇÃO EM TORNO DA LAGOA DE MARICÁ, DE 300 (TREZENTOS) PARA 30 (TRINTA) METROS.NORMA GERAL E ABSTRATA QUE NÃO TEM EFEITOS CONCRETOS, PRELIMINAR DE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO REJEITADA, POR MAIORIA DE VOTOS, ATO GOVERNAMENTAL SUJEITO À PRÉVIAELABORAÇÃO DE ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL,COMO EXIGE O ART. 261, § 1º, X, DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. DEVER DE OBSERVAR A PRESERVAÇÃO PERMANENTE DE MANGUEZAIS, LAGOS, LAGOAS,LAGUNAS E OUTRAS ÁREAS, COMO EXPRESSO NO SEU ART. 268, I E II. PARECER DA ILUSTRADAPROCURADORIA DE JUSTIÇA QUE SE ACOLHE.CUIDADOSO EXAME DA MATÉRIA, QUANDO DACONCESSÃO DA MEDIDA LIMINAR.INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA POR VÍCIO MATERIAL. DECISÃO UNÃNIME, NESTAPARTE.” 

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, através de seu Órgão

Especial considera o Decreto nº 38.490/2005 Inconstitucional e ilegal, pois reduziu a

faixa de proteção em torno da Lagoa de Maricá de 300 para 30 metros e tal ato

governamental estava sujeito à prévia elaboração de Estudo de Impacto Ambiental

de acordo com o artigo 261, § 1º, da Constituição Estadual. Devendo, contudo,

ainda, ter observado a preservação permanente de manguezais, lagos, lagoas,

lagunas e outras áreas, conforme preconiza o artigo 268, I e II da Constituição do

Page 81: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 81/266

74

Estado do Rio de Janeiro, tendo em vista que o artigo 261 da CE reproduz o que diz

o artigo 225, caput e § 1º, incisos I e I V, da Constituição Federal.

A Constituição do Estado do Rio de Janeiro em seu artigo 261 determina quetodos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado. Trata-

se de um bem de uso comum do povo e incondicionalmente essencial à qualidade

de vida, impondo a todos e, em especial ao Poder Público, a obrigação e o dever de

defendê-lo, zelando, entretanto, por sua recuperação e proteção, em benefício das

gerações atuais e futuras.

A efetividade desse direito é assegurada de forma a incumbir o Poder Público

proteger e preservar a flora e a fauna, as espécies ameaçadas de extinção, as

vulneráveis e raras vedadas às práticas que submetam os animais à crueldade, por

ação direta do homem sobre os mesmos.

O estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade, está

condicionado na forma da lei, a implantação de instalações ou atividades, efetiva ou

potencialmente causadoras de alterações significativas ao meio ambiente.

Para a Constituição Estadual em seu artigo 268, as áreas de preservação

permanente são os manguezais, lagos, lagoas, lagunas, as áreas estuarinas, as

praias, vegetação de restingas quando fixadoras de dunas, as dunas, costões

rochosos e as cavidades naturais subterrâneas-cavernas.

2.4.1 Ação Civil Pública Ambiental proposta pela APALMA.

A transgressão da legislação chega ao absurdo da Associação de

Preservação Ambiental das Lagunas de Maricá (APALMA), ajuizar o Processo

Judicial nº 0029208-19.2009.8.19.0031, antes mesmo do Tribunal de Justiça julgar

inconstitucional o Decreto 38.490/2005, em desfavor do Estado do Rio de Janeiro,

do Instituto Estadual do Ambiente – INEA e do Município de Maricá. A Ação Civil

Pública Ambiental se baseou nos seguintes fatos:

• “A Área de Proteção Ambiental de Maricá foi criada mediante o Decreto

Estadual nº 7.230/84 onde foram estabelecidos entre outros, as dimensões,entornos e restrições de uso do solo em seu interior.

Page 82: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 82/266

75

• A referida APA foi criada sob a égide do Decreto Estadual de nº 2.418/79, que

delimitou em 300 metros a faixa marginal de proteção do entorno das

Lagunas de Maricá.

• Após, publicou-se novo Decreto de nº 38.490/2005 que reduziu para 30

metros do nível mais alto as faixas marginais de proteção dos corpos d’água

integrantes do Sistema Lagunar de Maricá, ficando todo o entorno da

APAprejudicado em razão desta redução de proteção.”

Sendo que o desastroso Decreto nº 38.490/2005 teve a sua

Inconstitucionalidade declarada nos autos da Ação de Representação por

Inconstitucionalidade nº 2006.007.00099, em curso pelo Órgão Especial do tribunal

de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. A ação teve como Representante o Exmo

Senhor Procurador-Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e como

Representados, a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e o Exmo

Senhor Governador do Estado do Rio de Janeiro, referente à Legislação do Decreto

Estadual nº 38.490/2005, conforme explicitado no processo supramencionado.

A inconstitucionalidade do Decreto nº 38.490/2005 foi declarada, mas numa

manobra político-administrativa, adveio o Decreto nº 41.048/2007, que instituiu o

Plano de Manejo da APA de Maricá e promoveu alteração no Decreto nº 7.230/84,

considerando os limites do entorno das lagoas de Maricá para 30 metros.

Segundo o Processo Judicial nº 0029208-19.2009.8.19.0031 o procedimento

administrativo no Ministério Público Estadual já foi iniciado sob o protocolo nº 20080003 5621- 2403-2008, para declarar, também, a Inconstitucionalidade do Decreto

nº 41.048/2007, uma vez que o mesmo foi editado sob a vigência de um Decreto que

reduziu a faixa de proteção das lagoas de Maricá.

A total insegurança paira em torno da proteção das faixas marginais das

lagunas de Maricá, uma vez que o Plano de Manejo observou o Decreto nº

8.490/2005, flexibilizando ainda mais a possibilidade de exploração das áreas de

preservação permanente consistentes nos entornos das lagoas de Maricá.

Page 83: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 83/266

76

O Decreto que instituiu o Plano de Manejo foi respaldado de um dispositivo

normativo inconstitucional e ilegal, uma vez que, segundo a melhor doutrina

 jusambientalista dominante, e os Entes da Federação, quando exercem as

competências previstas no artigo 23 da Constituição Federal, com o intuito de

legislar e proteger o Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, nunca pode ser

menos restritivo. E sim, sempre mais restritivos em relação a esta proteção.

Tal fato está amplamente caracterizado no artigo 23 da CF, verbis :

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios: (...)

VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII – preservar as florestas, a fauna e a flora;

A Lei de Regência da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei 6938/81, em

especial o seu parágrafo 1º do artigo 6º, onde se configura a obrigatoriedade dos

entes federativos a legislarem sempre de maneira mais restritiva em relação à

proteção do ambiente, no que tange ás normas federais.

Assim dispõe o § 1º do Art. 6º da Lei 6.938/81:

Art. 6º (...)

§ 1º Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição,

elaborarão normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio

ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA.

A própria Lei nº 4.771/65 (Código Florestal Brasileiro), em seu Art. 2º, assim

se expressa quanto à proteção do entorno das margens das lagoas:

Art. 2º Considera-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as

florestas e demais formas de vegetação natural situadas: (...).

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais;

Page 84: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 84/266

77

O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA , em sua resolução nº

303 de 20 de março de 2002, objetivando esclarecer as distâncias referentes à

proteção do artigo acima mencionado, quando conceitua e delimita as áreas de

Preservação Permanente, prevê:

Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:

(...).

III- ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima de:

a) Trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas;

b) Cem metros, para os que estejam situados em áreas rurais, exceto os corpos

d’água com até vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinqüentametros;

(...).

IX- Nas restingas:

a) Em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar

máxima;

b) Em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação com

função fixadora de dunas ou estabilizadores de mangues;

X- Em manguezal, em toda a sua extensão;

XI- Em duna;

(...).

XIII- Nos locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias;

XIV- Nos locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna ameaçados de

extinção que constem da lista elaborada pelo Poder Público Federal, Estadual ou

Municipal;

XV- Nas praias, em locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre.

Verifica-se, portanto, que ambos os Decretos, nº 38.490/2005 e 41.048/2007,

reduziram a extensão das faixas marginais de proteção ou área de preservação

permanente das lagoas de Maricá, para 30 metros, sem, contudo, observar as

proibições contidas na legislação federal supramencionada, em manifesta

contrariedade ao dispositivo constante no Artigo 2º da Lei 4.771/65 (Código

Florestal), bem como ao contido na resolução 303/02 do CONAMA.

Page 85: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 85/266

78

Segundo o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental de Maricá, a

mesma não possui demarcação das faixas marginais de proteção de suas lagoas, e

não cumpre com a função socioambiental a qual objetivou sua criação.

Assim, por meio da Ação Civil Pública, proposta pela APALMA em curso pela

2ª Vara Cível de Maricá, requereu-se a paralisação de qualquer atividade ou

empreendimento na área protegida até a determinação legal da faixa marginal de

proteção das lagoas da APA de Maricá, mediante a elaboração de um Plano Diretor

que contemple as restrições já mencionadas, além da restauração das contidas no

Decreto de criação da APA.

2.5 A Ameaça do Plano de Manejo ao Patrimônio Ambiental

Segundo os Decretos 38.490/05 e 41.048/07, os dispositivos ao invés de

proteger de forma mais restritiva conforme determina a legislação, na verdade não

deixaram a proteção primordial para a área, demarcando áreas novas, alterando o

uso e a restrição anteriormente mantida, pois:

•  O mapa apresentado no último Plano de Manejo da APA de Maricádemonstra que as áreas em rosa foram classificadas como Zonas de Ocupação.

(ZOC). 

Page 86: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 86/266

 

Figura 09 – Zoneamento do

Fonte Fundação Estadual

Plano de Manejo – Decreto n º 41.048/07 

e Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA).

79

Page 87: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 87/266

 

•  No entanto, as á

restrições legais,

descritos no Map

Figura 10- Mapa de restriçõ

Fonte FEEMA 1995

eas acima mencionadas estavam clas

principalmente as dunas e cordões are

de Restrições legais desenvolvido tam

s legais

80

ificadas com várias

osos, que estavam

ém pela FEEMA. 

Page 88: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 88/266

 

• Assim, o Decreto

pelo novo Plano de Man

de restinga, os compon

encontradas próximas

totalmente desprotegido

abaixo.

Figura 11 Áreas de cobertResolução CONAMA nº 303

Fonte FEEMA, 1995.

9 Art. 11. O corte e a suprregeneração do Bioma MataI- A vegetação:a) abrigar espécies da floraparcelamento puser em riscob) exercer a função de proteçc)possuir excepcional valorSistema Nacional do Meio A

de criação da APA revogado e o zone

ejo através do Decreto nº 41.048/07, as

entes da Mata Atlântica e, sobretudo

a praias e encontradas sobre o cor

, em razão da fragilidade dos ecossiste

ura vegetal e mata atlântica protegidas pel/2002 9 

ssão de vegetação primária ou nos estágiostlântica ficam vedados quando:

da fauna silvestres ameaçadas de extinção, ea sobrevivência dessas espécies;ão de mananciais ou de prevenção e controle dpaisagístico, reconhecido pelos órgãos execbiente – SISNAMA; Lei nº 11.428 de 22 de dez

81

mento estabelecido

áreas de vegetação

as dunas marginais

ão arenoso, estão

as conforme figura

Lei nº 11.428/2006 e

avançados e médio de

território nacional ou o

erosão;utivos competentes dombro de 2006. 

Page 89: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 89/266

82

2.6 Plano Diretor do Município de Maricá.

Na década de 80 a legislação urbanística do município de Maricá, é

composta por dois instrumentos reguladores: o Plano de Desenvolvimento Urbano -PDU e o Código Municipal de Obras. Devido à inexistência de prazos de validade,

estas leis não mais correspondiam à atual realidade do município, fazendo-se

necessário a execução de revisões abrangentes.

Para o “Plano de Desenvolvimento Urbano de Maricá” criado pela Lei nº 463,

de 17 de Dezembro de 1984, “[...] o mesmo identifica os princípios do

desenvolvimento urbanístico que orientam as entidades públicas e privadas, visandoao desenvolvimento integrado da comunidade através desta legislação”. (MARICÁ,

1984, p. 19). No Título I – Objetivo da Lei e Definição do Plano de Desenvolvimento 

Urbano ; Capítulo II – Dos Objetivos e das Diretrizes Básicas , esta Lei traz o artigo

5º, que apresenta os principais objetivos do PDU. São eles:

• Ordenar a ocupação da terra urbana para garantir o pleno atendimento

de suas funções;

• Preservar as áreas de valor paisagístico, turístico, histórico e cultural;

• Desestimular a ocupação desordenada no município, objetivando evitar

os efeitos negativos de numerosos núcleos urbanos isolados.

As principais disposições referentes ao zoneamento, uso e ocupação do solo

são tratadas no Título II – Regulamentação Urbanística , através de seus três

capítulos. O Capítulo I – Da Divisão e Delimitação do Território Municipal divide o

município em três distritos (1º Distrito – Cidade de Maricá, 2º Distrito – Vila doBananal e 3º Distrito – Vila de Inoã) e seus respectivos subdistritos. Em 05 de Abril

de 1990 a configuração distrital foi alterada pela Lei Orgânica Municipal de Maricá.

Esta Lei criou o 4º Distrito (representado pela Vila de Itaipuaçu) e renomeou o 2º

Distrito, que desde então, denomina-se Vila de Ponta Negra.

No Capítulo II – Do Zoneamento, o território municipal é setorizado em áreas

rurais, urbanas e de expansão urbana. O artigo 28 deste capítulo subdivide a área

urbana nas seguintes zonas:

Page 90: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 90/266

83

• Zonas Residenciais (ZR 1, ZR 2, ZR 3 e ZR 4);

• Zonas Comerciais (ZCs);

• Zona Industrial (ZI);

• Zona Recreacional (ZRe);

• Zonas Turísticas (ZTs);

• Zonas de Proteção (ZPs);

• Zonas Non-Aedificandi (ZNAs);

• Zona Aeroportuária (ZAp);

• Zona Especial (ZE).

Page 91: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 91/266

84

Figura 12 – Zoneamento

Fonte Prefeitura Municipal de Maricá. 

Page 92: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 92/266

85

Segundo a democracia nacional a Constituição da República Federativa do

Brasil constitui-se como documento-símbolo. Seu preâmbulo institui um Estado

Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a

liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça

como valores supremos.

Esta Constituição, através do Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira ,

Capítulo II – Da Política Urbana , apresenta os artigos 182 e 183. O “caput” do artigo

182 reza que a política de desenvolvimento urbano tem por objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funções sociais da cidade, além de garantir o bem-estar de

seus habitantes. Tal política deve ser executada pelo Poder Público Municipal,conforme diretrizes gerais fixadas em Lei.

O parágrafo 1º deste artigo define que: “O Plano Diretor, aprovado pela

Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o

instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana”.

(OLIVEIRA, C., 2004, p. 128).

Os parágrafos 2º, 3º e 4º tratam, respectivamente, da função social dapropriedade urbana, das desapropriações de imóveis urbanos, e da concessão dada

ao poder público municipal de exigir o adequado aproveitamento do solo urbano.

Para o artigo 183, incluindo seu “caput” e seus parágrafos 1º, 2º e 3º, aborda-

se a questão do domínio de imóvel urbano, através da ação de Usucapião Especial 

Urbana .

De acordo com a Lei Federal nº 10.257, de 10 de Julho de 2001, denominadaEstatuto da Cidade , os artigos 182 e 183 da Constituição Federal são

regulamentados. Esta Lei “[...] estabelece normas de ordem pública e interesse

social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da

segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental”.

(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005, p. 143).

No Capítulo II – Dos Instrumentos da Política Urbana , Seção I – Dos 

Instrumentos em Geral , através do artigo 4º, são definidos os instrumentos da

política urbana a serem utilizados em níveis nacional, regional, estadual e municipal

Page 93: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 93/266

86

para a ordenação territorial e desenvolvimento econômico-social. Entre os

instrumentos de planejamento municipal, é citado o plano diretor. Esse é discutido

através do Capítulo II – Do Plano Diretor , em todos os seus artigos (30 ao 42).

O artigo 39 menciona que as exigências expressas no plano diretor devem

assegurar as necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social

e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as diretrizes gerais

previstas no artigo 2º desta Lei.

O Plano Diretor é instituído no artigo 40, que deve ser aprovado por Lei

Municipal, como instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão

urbana. Seu parágrafo 2º cita que o plano diretor deve englobar todo o território

municipal. O parágrafo 3º torna obrigatória a revisão da Lei do Plano Diretor, no

mínimo, a cada dez anos. E o parágrafo 4º define os poderes Legislativo e Executivo

como responsáveis pela promoção de audiências públicas com a população,

publicidade quanto aos documentos produzidos, e garantia de acesso por qualquer

cidadão a esses documentos.

Conforme o artigo 41, torna o plano diretor obrigatório para cidades com maisde vinte mil habitantes (assim como reza o artigo 182, parágrafo 1º da Constituição

Federal); para cidades integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações

urbanas; para cidades onde o poder público municipal pretenda utilizar os

instrumentos previstos no parágrafo 4º, artigo 182, da Constituição Federal; para

cidades integrantes de áreas de especial interesse turístico; e para cidades inseridas

na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto

ambiental em âmbito regional ou nacional.

Já o artigo 42 apresenta o conteúdo mínimo dos planos diretores. Esse

conteúdo deve ser composto pela delimitação das áreas urbanas onde poderá ser

aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; pelo atendimento

das disposições referentes ao direito de preempção, outorga onerosa do direito de

construir, operações urbanas consorciadas e transferência do direito de construir; e

pela aplicação de adequado sistema de acompanhamento e controle.

Page 94: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 94/266

87

O Ministério das Cidades foi criado em Janeiro de 2003, com a principal

missão de formular e executar políticas integradas de desenvolvimento urbano para

o Brasil. Através do Decreto nº 5.031, de 02 de Abril de 2004, foi criado o Conselho

das Cidades. Em seu artigo 1º ficou estabelecido que:

“O Conselho das Cidades, órgão colegiado de natureza deliberativa e consultiva, integrante da estrutura do Ministério das Cidades, tem por finalidade propor diretrizes para a formulação e implementação da política nacional de desenvolvimento urbano, bem como acompanhar e avaliar a sua execução [...]”. (BRASIL,2004, p. 1).

De acordo com o artigo 2º, Inciso IV, compete ao Conselho das Cidades

“emitir orientações e recomendações sobre a aplicação da Lei nº 10.257, de 2001, e

dos demais atos normativos relacionados ao desenvolvimento urbano”. (BRASIL,

2004, p. 1). Dentre as orientações e recomendações relativas a planos diretores,

podem ser citadas as Resoluções nos 25 e 34.

Na Resolução nº 25, de 18 de Março de 2005, foi determinado em seu artigo

1º que todos os municípios deveriam elaborar seus planos diretores de acordo comas determinações do Estatuto da Cidade. Conforme o artigo 2º, os municípios que

ainda não possuem o plano diretor, ou aqueles que possuem plano diretor aprovado

há mais de dez anos deverão elaborá-lo (ou reelaborá-lo) até o prazo máximo de

Outubro de 2006.

“O processo de elaboração, implementação e execução do plano diretor deve ser participativo, nos termos do art.40, § 4º e do art. 43 do Estatuto da Cidade”. (BRASIL,2005, p. 2). A coordenação desse processo participativo deve ser compartilhada entre representantes do poder público e da sociedade civil.

No artigo 8º ficaram definidos os requisitos a serem atendidos quanto da

realização das audiências públicas determinadas pelo artigo 40, parágrafo 4º, inciso

I do Estatuto da Cidade, dentre eles: convocação por meio de edital, realização em

locais e horários acessíveis à maioria da população, coordenação executada pelo

Page 95: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 95/266

88

poder público municipal, e registro dos cidadãos presentes através de listas de

presença e atas.

Segundo o artigo 10: “A proposta do plano diretor a ser submetida à CâmaraMunicipal deve ser aprovada em uma conferência ou evento similar [...]”. (BRASIL,

2005, p. 3).

Conforme a Resolução nº 34, de 01 de Julho de 2005, a mesma estabelece

parâmetros quanto ao conteúdo mínimo dos planos diretores. Segundo o artigo 1º, o

plano diretor deve prever, no mínimo: as ações e medidas para assegurar o

cumprimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana; os objetivos,

temas prioritários e estratégias para o desenvolvimento e reorganização territorial do

município; e os instrumentos da política urbana previstos pelo artigo 42 do Estatuto

da Cidade.

O artigo 2º desta resolução define que:

“As funções sociais da cidade e da propriedade urbana serão definidas a partir da destinação de cada porção do território do município bem como da identificação dos imóveis não edificados, subutilizados e não utilizados, no caso de sua existência [...]”. (BRASIL, 2005, p. 2).

Para o artigo 5º, a instituição das zonas especiais deve: destinar áreas para

assentamentos e empreendimentos de interesse social; demarcar os territórios

ocupados por comunidades locais tradicionais; demarcar áreas sujeitas a

inundações e deslizamentos; demarcar assentamentos irregulares; definir as normas

especiais e os instrumentos de regularização fundiária, de produção de habitação de

interesse social e de participação das comunidades na gestão das áreas; e

demarcar as áreas de proteção, preservação e recuperação do meio ambiente

natural e construído.

No artigo 10 ficou instituído que: “Além do conteúdo mínimo exigido, o Plano

Diretor poderá inserir outros temas relevantes, considerando a especificidade de

cada município”. (BRASIL, 2005, p. 4).

Page 96: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 96/266

89

Conforme a Constituição do Estado do Rio de Janeiro, promulgada através de

Assembléia Estadual Constituinte em 05 de Outubro de 1989, à política de

desenvolvimento urbano é tratada através do Título VII – Da Ordem Econômica,

Financeira e do Meio Ambiente ; Capítulo III – Da Política Urbana . Este capítulo

apresenta-se pelo artigo 229 ao 241.

O artigo 229 e os parágrafos 2º e 3º rezam sobre o direito de propriedade e a

função social da cidade. Este direito, somado ao direito de construir, deve estar

condicionado às exigências das leis orgânicas e dos planos diretores. Segundo o

parágrafo 1º do artigo 231:

“O plano diretor é parte integrante de um processo contínuo de planejamento a ser conduzido pelos municípios, abrangendo a totalidade dos respectivos territórios e contendo diretrizes de uso e ocupação do solo, vocação das áreas rurais, defesa dos mananciais e demais recursos naturais, vias de circulação integradas,zoneamento, índices urbanísticos, áreas de interesse especial e social, diretrizes econômico-financeiras e administrativas”. (RIO DE JANEIRO, 1989, p. 109).

Para o parágrafo 3º deste mesmo artigo as intervenções de órgãos federais,

estaduais e municipais nos territórios dos municípios devem seguir as diretrizes

contidas no plano diretor.

Segundo a legislação básica para elaboração, modificação, revisão e

aprovação de planos diretores municipais a Lei Orgânica Municipal de Maricá, ela

completa a legislação em escala hierárquica. A Lei Orgânica de 05 de Abril de 1990,

através do título V I – Da Ordem Econômica, Financeira e do Meio Ambiente ;Capítulo III – Da Política Urbana , apresenta os artigos 246 ao 265.

O “caput” do artigo 248 institui que: “O plano diretor, aprovado pela Câmara

Municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão

urbana”. (MARICÁ, 1990, p. 52). Em seu parágrafo 2º, ficam atribuídas

exclusivamente ao município a elaboração e posterior implementação do plano

diretor.

Page 97: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 97/266

90

Para o parágrafo 5º as normas básicas estabelecem que devam ser

regulamentadas pelo Projeto de Plano Diretor a Lei de Diretrizes Gerais, entre elas:

proibição de construções e edificações sobre dutos, canais, valões e vias de

esgotamento ou cursos d’água; restrição à utilização de áreas que apresentem

riscos geológicos; e respeito ao patrimônio paisagístico, cultural e ambiental.

A participação de entidades representativas na elaboração dos projetos de Lei

municipal locais está explícita no artigo 255. Estas Leis devem dispor sobre o

zoneamento; parcelamento, uso e ocupação do solo; construções e edificações;

proteção ao meio ambiente; licenciamento; fiscalização; e parâmetros urbanísticos

básicos contidos no plano diretor.

Portanto, com base na legislação supracitada, criou-se a Lei Complementar

Municipal nº 145, de 10 de outubro de 2006, (Plano Diretor Urbano do Município de

Maricá). Assim todas as áreas que atualmente são encontradas no interior da APA,

mesmo na zona de ocupação, são consideradas como Unidade de Proteção

Integral, conforme disposto no artigo 32 do referido diploma legal.

“Art. 32. Deverão ser consideradas como Unidade de Proteção Integral: I) Os manguezais; II) As áreas que abrigam exemplares raros da fauna e flora, como aqueles que servem de local de pouso ou reprodução de espécies migratórias; III) As unidades de proteção das nascentes dos rios; IV) As faixas marginais de proteção dos rios e lagoas; V) As ilhas marítimas de Maricá; VI) As áreas acima da cota 100.

Parágrafo Único – Estas unidades deverão ser criadas por Lei específica.” 

2.7 Decreto de Criação do Plano de Manejo da APA de Maricá

De acordo com o Plano de Manejo da APA de Maricá, criado através do

Decreto nº 41.048/2007, foram originados alterações no Decreto de Criação da Área

de Proteção Ambiental, pois de acordo com o artigo 15 ficou estipulado que os

artigos 1º e 2º do Decreto nº 7.230, passariam a vigorar com a seguinte redação:

Page 98: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 98/266

91

“Artigo 15- Os art. 1º e 2º do Decreto nº 7.230/84, passou a vigorar com a seguinte redação: Artigo 1º - Fica criada a área de Proteção Ambiental de Maricá, incluindo a Ilha Cardoso, consoante delimitação 

descrita no anexo deste Decreto.Artigo 2º - Na área de Proteção Ambiental instituída no Artigo anterior serão proibidas as seguintes atividades: I- a implantação e o funcionamento de indústrias potencialmente poluidoras, capazes de afetar mananciais de água; II- o exercício de atividades capazes de provocar uma acelerada erosão das terras e/ou um acentuado assoreamento das coleções hídricas; III- o exercício de atividades que ameaçam extinguir na área protegida, as espécies raras da biota regional” 

Indiscutivelmente a redação anterior era mais ampla e trazia maior proteção

ao local, sendo que o artigo 1º e 2º do Decreto 7.230/84, assim vigia:

“Artigo 1º - Na faixa marginal de proteção do Sistema Lagunar de Maricá, integrado pelas lagoas de Guarapina,Padre, Barra, Maricá e Brava e pelos canais de São Bento, Cordeirinho e Ponta Negra, faixa demarcada pela Superintendência Estadual de Rios e Lagoas – SERLAatravés da Portaria nº 2 de 6 de fevereiro de 1984, do Diretor Superintendente, são proibidas as seguintes atividades: I- o parcelamento da terra, para fins urbanos; II- o desmatamento, a extração de madeira e vegetação característica e a retirada de espécimens vegetais; III- a caça, ainda que amadorística e o aprisionamento de animais; IV- a alteração do perfil natural do terreno; V- a abertura de logradouros; VI- a construção de edificações ou edículas.”  

Page 99: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 99/266

92

Foto 07- Placa na Área de Proteção Ambiental.

Fonte Rovane Domingues, 2010.

“Artigo 2º - É declarada área de proteção ambiental, nos termos estatuído no artigo 8º da Lei 6.902 de 27 de abril de 1981, parte da Restinga de Maricá e a totalidade da Ilha do Cardoso, consoante delimitação feita no anexo deste decreto.” 

O Plano de Manejo da APA é totalmente contrário às disposições e restrições

contidas na criação da Unidade de Conservação, o mesmo não pode de forma

alguma conforme legislação vigente, descaracterizar a UC, pois é através deste

Plano que se determinam as possibilidades de uso e criação de normas para autilização da unidade.

Segundo a Lei 9.985/00 (SNUC) em seu artigo 22, § 7º regula que a

desafetação ou a redução da unidade de conservação requer Lei específica, assim o

inciso II do artigo 225 da constituição Federal, ou seja, o Decreto Estadual nº

41.048/2007 não poderia alterar a forma e objeto da Área de Proteção Ambiental. O

Plano de Manejo retirou do Decreto de criação nº 7.230/84, a proteção em face de

edificações e alterou a delimitação da área, sendo que tais alterações violam por

completo o aspecto conservacionista da criação da APA.

Page 100: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 100/266

93

O artigo 28 do SNUC regula também, de forma categórica o que ocorre no

Decreto nº 41.048/07, sendo que o Plano de Manejo retirou as restrições, as quais

diante da legalidade passaram a ser permitidas:

Artigo 28 – São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações,

atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu

Plano de Manejo e seus regulamentos.

Outro fato de extrema relevância é que o Plano de Manejo ignorou a

população local tradicional, visto que a população dos pescadores de Zacarias, não

foi inserida na norma. 

Foto 08- Associação de Pescadores de Zacarias (ACCLAPEZ).

Fonte Rovane Domingues, 2010.

Page 101: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 101/266

94

Foto 09 - Vila dos Pescadores de Zacarias.

Fonte Rovane Domingues, 2010.

Segundo os artigos 261 e 268 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, a

Lei 9.985/2000, bem como o artigo 6º da Lei 6.938/81, o Decreto Estadual nº

41.048/2007 confronta indiscutivelmente com a legislação acima mencionada, vistoque:

O artigo 261- Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-

se a todos, e em especial ao Poder Público, o dever de defendê-lo, zelar por sua

recuperação e proteção em benefício das gerações atuais e futuras.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Público:

(...).

IV- proteger e preservar a flora e a fauna, as espécies ameaçadas de extinção, as

vulneráveis e raras, vedadas as práticas que submetam os animais à crueldade, por

ação direta do homem sobre os mesmos;

X- condicionar, na forma da lei, a implantação de instalações ou atividades, efetivas

ou potencialmente causadoras de alterações significativas do meio ambiente, àprévia elaboração de estudo de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

Page 102: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 102/266

95

Artigo 268- São áreas de preservação permanente:

I- os manguezais, lagos, lagoas e lagunas e as áreas estuarinas;

II- as praias, vegetação de restingas quando fixadoras de dunas, as dunas, costões

rochosos e as cavidades naturais subterrâneas.

Foto 10- Biodiversidade da APA.

Fonte Rovane Domingues, 2010.

O Princípio da Precaução determina que quando exista perigo grave ou

irreversível ao meio ambiente, não se deve impor a certeza instrumental como meio

de se postergar a adoção de medidas eficazes para impedir a degradação do meio

ambiente. Exige-se, a completa afirmação da inexistência de prejuízo ao meio

ambiente, a fim de que qualquer tipo de intervenção possa ser admitida, a doutrina

 jusambientalista diz o seguinte: 

Page 103: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 103/266

96

“De forma expressa a Declaração do Rio, representando a vontade dos países signatários e re-ratificando as conclusões do Fórum de Siena, estabelece a necessidade de aplicação de medidas voltadas à precaução de todas 

as formas de lesão ao patrimônio ambiental. A eficácia da precaução traduz-se na diminuição das possibilidades de ocorrência de danos ambientais.” 10 

Segundo MILARÉ 200111, o princípio da obrigatoriedade de intervenção

estatal, ou da natureza pública da proteção ambiental, considerado como princípio

de regência do Direito Ambiental se caracteriza da seguinte forma:

“... De fato, não é possível, em nome deste direito,

apropriar-se individualmente de parcelas do meio ambiente para o consumo privado. O caráter jurídico do meio ambiente ecologicamente equilibrado é de um bem de uso comum do povo. Assim a realização individual deste direito fundamental está intrinsecamente ligada à sua realização social.” 

O Princípio da Precaução (ANTUNES, 2007)12, em sua obra Direito

Ambiental, é referido como:

“(...) A expressão normativa do princípio da precaução se materializa nas diversas normas que determinam a avaliação dos impactos ambientais dos diferentes empreendimentos capazes de causar lesão ao meio ambiente, ainda que potencialmente.” 

Com o mesmo entendimento MACHADO, 200913 menciona que:

“(...) A implementação do princípio da precaução não tem por finalidade imobilizar as atividades humanas. Não se 

trata da precaução que tudo impede ou que tudo vê catástrofes ou males. O principio da precaução visa à durabilidade da sadia qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da natureza existente no planeta. A precaução deve ser visualizada não só em relação às gerações presentes, como em relação ao direito ao meio ambiente das gerações futuras, como afirma Michel Prieur.” 

10 CARRERA, Francisco & SÉGUIN, Elida. Planeta Terra uma abordagem de Direito Ambiental. Ed.Lúmem Júris. 2ª. Ed. 2001.11 MILARÉ. Edis. Direito do Ambiente. Ed. RT. 5ª. Ed. São Paulo.12 ANTUNES. Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Lúmem Júris. 10.a. Ed. 2007. Rio de Janeiro.13 MACHADO. Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. Malheiros. São Paulo. 15ª Ed. 

Page 104: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 104/266

97

2.8 A Lei de Parcelamento do Solo de Maricá.

As condições de uso, ocupação e parcelamento do solo para o Município de

Maricá, estão estabelecidas na Lei Municipal de Maricá nº 2272/2008, assim os

artigos abaixo exercem relevância no presente estudo, conforme se segue:

Conforme o art. 1º as condições do uso do solo para o território do município

de Maricá tiveram os seguintes objetivos:

I. Ordenar e controlar o uso do solo urbano e direcionar o processo de

expansão urbana nas unidades de planejamento de acordo com suas características

e potencialidades;• II. Estimular à coexistência de usos e atividades de pequeno porte com o uso

residencial, evitando-se a segregação dos espaços e deslocamentos longos ou

desnecessários;

• III. Buscar a distribuição equilibrada dos ônus e benefícios da urbanização,

com a subordinação do uso do solo ao interesse coletivo;

• IV. Manter e controlar as características das zonas residenciais específicas de

cada bairro e de cada Unidade de Planejamento;• V. Integrar as comunidades carentes nas zonas urbanas da Cidade com vista

à sua inserção nos bairros em que se situam;

• VI. Compatibilizar os usos e atividades permitidas às necessidades de

preservação ambiental;

• VII. Direcionar as indústrias de médio e grande porte, não poluidoras, para

locais adequados sob o devido controle ambiental;

VIII. Garantir o pleno desenvolvimento das funções sociais, econômicas,culturais e turísticas do Município;

• IX. Garantir o bem estar e a melhoria da qualidade de vida da população

residente, veranista e turística de Maricá.

No art. 2º ficou determinado que as normas referentes à ordenação e controle

do uso da macrozona de urbanização preferencial e da macrozona de urbanização

restrita, seriam pautadas pelas seguintes diretrizes:

• I. Proibição do parcelamento em lotes e ou frações ideais de pequenas

dimensões;

Page 105: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 105/266

98

• II. Pelo estabelecimento de lotes agrícolas mínimos, em função das

características de unidade de planejamento;

• III. Estabelecimento de medidas de proteção das unidades de conservação

ambiental e do uso agropecuário nestas unidades;

• IV. Controle das atividades agropecuárias pelo estabelecimento de critérios e

procedimentos que assegurem um uso racional do solo rural.

Page 106: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 106/266

99

Figura 13 Parcelamentos

Fonte Prefeitura Municipal de Maricá.

Page 107: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 107/266

100

Legendas

No Capítulo II – do Zoneamento conforme o art. 3º foi especificado que o uso

do solo seria controlado pela implantação de um zoneamento que consistisse em

subdividir as macrozonas definidas pelo Plano Diretor, em zonas e áreas de especial

interesse de acordo com as suas potencialidades. Para as quais o uso permitido

seria o especificado no Anexo X desta Lei e a ocupação adequada seria definida

pelos índices e parâmetros urbanísticos especificados no Anexo XI desta Lei.

Para o parágrafo 1º as Áreas de Especial Interesse são espaços do Municípioperfeitamente delimitados por suas características físico-ambientais, acessibilidade e

utilização prévia, para os quais serão especificados em legislação específica, seus

usos e seus índices urbanísticos para controle da ocupação.

Conforme o parágrafo 2º, outras Áreas de Especial Interesse poderão ser

criadas através de legislação específica, sobrepostas às zonas existentes e para as

quais poderão incidir novos usos e parâmetros de ocupação.

De acordo com os objetivos e diretrizes especificados, no art. 4º o Município

de Maricá, ficou dividido nas seguintes zonas e áreas de especial interesse:

• I. Zona Residencial 1 (ZR1);

• II. Zona Residencial 2 (ZR2);

• III. Zona Residencial 3 (ZR3);

• IV. Zona Residencial 4 (ZR4);

• V. Zona Residencial 5 (ZR5);• VI. Zona Central de Comércio (ZC1);

Page 108: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 108/266

101

• VII. Zona de Comércio de Subcentro; (ZC2);

• VIII. Zona de Comércio de Bairro (ZC3);

• IX. Zona de Comércio Local (ZC4);

• X. Zona de Comércio na Rodovia (ZC5);

• XI. Zona de Indústria e Comércio 1 (ZIC1);

• XII. Zona de Indústria e Comércio 2 (ZIC2);

• XIII. Zona Especial 1. Aeroporto (ZE-1);

• XIV. Zona Especial 2. Aterro Sanitário (ZE-2);

• XV. Zona Especial 3. Área da Pedreira do SPAR (ZE-3);

• XVI. Zona de Preservação da Vida Silvestre (ZPVS);

• XVII. Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS);

• XVIII. Zona de Preservação das Nascentes (ZPN);

• XIX. Faixas Marginais de Proteção dos Rios (FMPR);

• XX. Faixas Marginais de Proteção das Lagoas (FMPL);

• XXI. Faixa Marginal de Proteção da Orla Marítima (FMPOM);

• XXII. Faixa de Proteção da Linha de Alta Tensão (FPLAT);

• XXIII. Área de Especial Interesse Social (AEIS);

• XXIV. Área de Especial Interesse dos Pescadores (AEIP);

• XXV. Área de Especial Interesse Turístico (AEIT);

• XXV Área de Especial Interesse Histórico e Cultural (AEIHC);

• XXVI Área de Especial Interesse Urbanístico e Econômico. AEIUE;

• XXVII. Zona de Uso Agropecuário (ZUAP);

• XIX. Unidades de Conservação Estaduais;

XXX. Unidades de Conservação Municipais.• Parágrafo único. As Zonas Residenciais se subdividirão em unifamiliares (U) e

multifamiliares (M), diferenciadas pela colocação das letras. U. e .M. ao final

das referidas siglas.

Page 109: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 109/266

102

No artigo 5º ficou definido que o uso e a ocupação do solo obedecerão à zona

pela qual se dará o acesso principal do lote. Zonas e Unidades de Conservação da

Natureza.

A Zona Residencial. ZR, no art. 6º foi considerada como uma zona urbana ou

de expansão urbana, onde a utilização do solo ou o seu parcelamento se destina ao

uso predominantemente residencial, podendo coexistir com os usos recreacional e

institucional, desde que compatíveis com o uso residencial previsto.

Para fins de compatibilização do Zoneamento das Unidades de Conservação

no Parágrafo 7º com esta Lei, consideram-se equivalentes às ZRs, as Zonas deOcupação Controlada. ZOCs, devendo estas possuir índices e parâmetros mais

restritivos.

(...).

Para a Zona de Preservação da Vida Silvestre (ZPVS) é considerada no

artigo 20 como uma zona de preservação máxima, cujo destino é a manutenção do

ecossistema natural. De modo a favorecer a criação de um habitat propício à fauna

e flora local e compreender as manchas de vegetação natural, bosques eprincipalmente as áreas acima da cota 100 (cem) dos morros especificados no

Anexo I desta Lei.

De acordo com o Parágrafo Único, serão consideradas como ZPVS as

encostas ou partes dessas, com declividade superior a 45º (quarenta e cinco graus),

equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive, assim como as

restingas, que funcionem como fixadoras de dunas ou estabilizadores de mangues.

Os objetivos específicos do art. 21º para a ZPVS são:

I. Proteger a mata residual representativa da vegetação mista de Mata Atlântica e

Estepe Arbórea existentes no município, seja nas áreas acima da cota 100 (cem);

II. Proporcionar condições de monitoramento ambiental e pesquisas científicas;

III. Garantir a manutenção do conjunto de espécies da fauna e flora locais;

Page 110: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 110/266

103

IV. Garantir a estabilização de terrenos impedindo o estabelecimento de processos

erosivos e conseqüentemente o carreamento de sedimentos em direção ao fundo

dos vales adjacentes;

V. Garantir o processo de formação natural dos solos;

VI. Regular e orientar as atividades antrópica nestas zonas visando ao equilíbrio

ambiental para a proteção de mananciais;

VII. Assegurar a preservação de espécies vegetais e animais representativos nestas

zonas;

VIII. Regular o uso dos recursos naturais no interior destas zonas.

Ficam estabelecidas as seguintes diretrizes para as ZPVS, no artigo 22º:

I. Plantio de espécies nativas, dando-se preferência às formas perenifólias,

objetivando-se reduzir os efeitos de borda e a propagação de incêndios para o

interior da mata;

II. Implantação de aceiro raspado, faixa mínima de 6m (seis metros), ou em

conformidade com a distância a ser estipulada pelo Corpo de Bombeiros, para

impedir a propagação de incêndios;

III. Implantação de faixa de transição com a redução gradativa da densidade de

indivíduos arbóreos até o limite da faixa tampão;

IV. Impedir qualquer tipo de impermeabilização, abertura de vias ou acessos na faixa

tampão;

V. Impedir a introdução de plantas ou animais exóticos à flora e fauna da região;

VI. Promover o replantio de espécies da flora nativa em locais onde a vegetação

tenha sido removida;

VII. Promover a formação de corredores da vida silvestre. que possam conectar

áreas remanescentes de vegetação, permitindo o fluxo genético das .populações.;

VIII. Promover a recuperação dos solos degradados.

Page 111: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 111/266

104

Segundo a Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS) considerada no

artigo 23º, será aquela na qual poderá ser admitido um uso moderado e auto-

sustentado dos recursos naturais, regulados de modo a assegurar a manutenção

dos ecossistemas naturais e compreendem as áreas entre as cotas 50 (cinqüenta) e

100 (cem), onde existe um determinado grau de intervenção humana e onde o

ambiente natural encontra-se alterado.

Os objetivos específicos para a ZCVS estão no parágrafo único:

I. Garantir a preservação dos remanescentes florestais e sua biota com vistas à

minimização dos impactos ambientais resultantes das atividades antrópicas;

II. Garantir a integridade dos remanescentes de vegetação estépica e demais formas

de vegetação cuja permanência implique na proteção do solo contra processos

erosivos e manutenção da biodiversidade local;

III. Divulgar a importância da vegetação estépica e de brejos como ecossistemas de

notável interesse para a manutenção da biodiversidade local e regional;

IV. Garantir o processo natural de formação do solo;

V. Promover a educação e interpretação ambiental através de um contato mais

íntimo com a natureza.(...).

A Faixa Marginal de Proteção dos Rios, no artigo 26º tem por objetivo

proteger as matas ciliares das margens dos cursos d’água, na forma da Lei Estadual

nº 1.130, de 12/02/87 e a Resolução CONAMA nº 303, de 20/03/02.

§ 1º Fica estabelecida como zona “non aedificandi” a faixa de 30m (trinta metros)

para cada lado, contados a partir da margem, dos cursos d’água com a largura de

até de 10m (dez metros), assinalados no Anexo I desta Lei.

§ 2º Fica estabelecida como zona “non aedificandi”  a faixa de 50m (cinqüenta

metros) para cada lado, contados a partir da margem, dos cursos d’água com a

largura superior a 10m (dez metros), assinalados no Anexo I desta Lei.

A Faixa Marginal de Proteção das Lagoas no artigo 27 objetiva proteger as

matas ciliares das margens das lagoas, ficando estabelecida como zona

“non aedificandi”, a faixa de 30m (trinta metros), na forma da Lei Estadual nº 1.130,

de 12/02/87 e da Resolução CONAMA nº 303, de 20/03/02.

Page 112: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 112/266

105

A Faixa Marginal de Proteção da Orla Marítima no artigo 28 protege a

continuidade territorial por força de formações geográficas como as praias e dunas,

restingas, costões, pontas e ilhas e outras áreas aí integradas, necessárias à

ambiência do conjunto, na forma da Lei Estadual nº 1.130, de 12/02/87.

(...).

No art. 30 ficam mantidas as Unidades de Conservação instituídas pelo

Estado, tais como a APA de Maricá, cujo objetivo é promover a preservação do

ecossistema e garantir a mais completa salubridade do sistema lagunar e área

circunvizinha conforme o Decreto 7.230 de 23/04/84 e o Parque Estadual da Serra

da Tiririca conforme Lei 1.901 de 29/11/91 e a Lei nº 5.079 de 03/09/2007. Afinalidade precípua é proteger a flora, a fauna, as belezas cênicas nele existentes,

contribuindo para a amenização climática, a recarga natural do lençol freático e a

redução da erosão na região.

Page 113: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 113/266

106

Figura 14- APA de Maricá.

Fonte Prefeitura Municipal de Maricá. 

Page 114: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 114/266

107

(...).

As Áreas de Especial Interesse Social (AEIS) conforme o artigo 32 tem por

objetivo a regularização fundiária, reurbanização e regulamentação das construções

residenciais de comunidades carentes.

O Parágrafo Único da Lei específica estabelece padrões especiais de

urbanização, parcelamento da terra, o uso e ocupação do solo nas áreas declaradas

de especial interesse social, conforme Anexo III desta Lei.

A relocalização estará sujeita no art. 33, nas áreas de especial interesse

social que oferecerem riscos à segurança individual e coletiva e que estejam

localizadas em:

I. Áreas de risco;

II. Faixas de proteção das margens dos cursos d’água;

III. Faixas de proteção das margens das lagoas;

IV. Faixa de proteção de linhas de alta tensão;

V. Faixa de domínio de estradas estaduais e municipais;

VI. Em unidades de conservação;

VII. Em áreas que não possam ser dotadas de condições necessárias de

urbanização e saneamento básico.

Portanto, a finalidade primordial da Lei de Parcelamento do Solo foi ordenar e

controlar o uso do solo urbano, estimular à coexistência de usos e atividades de

pequeno porte com o uso residencial, buscar a distribuição equilibrada dos ônus e

benefícios da urbanização, com vistas a subordinação do uso do solo ao interesse

coletivo, manter e controlar as características das zonas residenciais específicas decada bairro e de cada Unidade de Planejamento, integrar as comunidades carentes

nas zonas urbanas da cidade, compatibilizar os usos e atividades permitidas às

necessidades de preservação ambiental, direcionar as indústrias de médio e grande

porte não poluidoras, para locais adequados sob o devido controle ambiental,

garantir o pleno desenvolvimento das funções sociais, econômicas, culturais e

turísticas do Município e garantir, ainda, o bem estar e a melhoria da qualidade de

vida da população residente, veranista e turística de Maricá.

Page 115: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 115/266

108

2.9 A Lei do Plano Diretor Setorial da APA de Maricá.

A Lei nº 2331 de 25 de maio de 2010, estabelece o Plano Diretor Setorial da

Área da Restinga de Maricá, situado na APA de Maricá criada pelo Decreto Estadual

nº 7.230, de 23 de janeiro de 1984.

Desta forma, se estabeleceu no Parágrafo único do Artigo 1º que o Plano

Diretor Setorial da Área da Restinga de Maricá situado na APA de Maricá criada pelo

Decreto Estadual nº 7.230, de 23 de janeiro de 1984, empregaria os seguintes

objetivos:

I. Proteger a biodiversidade quer seja pela sua importância genética,

assegurando o processo evolutivo, ou pelo seu valor econômico ou ainda

para atividades de pesquisa científica e de lazer;

II. Proteger espécies raras, em perigo ou ameaçadas de extinção, biótipos,

comunidades bióticas únicas;

III. Proteger formações geológicas e geomorfológicas de relevante valor,

paisagens de rara beleza cênica, como garantia de diversificação e auto-regulação do meio ambiente;

IV. Proteger os corpos hídricos minimizando a erosão, a sedimentação,

especialmente quando afetem ou possam afetar atividades que dependam da

utilização da água ou do solo, como colaborar com a manutenção dos ciclos

biogeoquímicos fundamentais à conservação ambiental;

V. Conservar valores culturais, históricos e arqueológicos – consideradospatrimônio cultural da nação – para a investigação científica e as visitações

controladas;

VI. Promover as bases para o desenvolvimento sustentável da região costeira,

através do ordenamento e disciplinamento de atividades, adequando-as às

características da região, visando à conservação do meio ambiente;

proporcionando os meios para a educação ambiental, investigação, estudos,

divulgação sobre os recursos naturais e o fomento do seu manejosustentável;

Page 116: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 116/266

109

VII. Proporcionar os mecanismos para a gestão e o monitoramento ambiental da

região, em cooperação e parceria com o município, comunidade científica e

demais segmentos da sociedade civil organizada, visando garantir-se a

qualidade dos sistemas naturais existentes, além da melhoria da qualidade de

vida das populações locais.

No artigo 2º para fins de adoção das medidas necessárias a disciplinar a

ocupação do território e o exercício de atividades causadoras de degradação

ambiental, a Restinga se apresentaria dividida nas seguintes zonas:

I – Zonas de Preservação da Vida Silvestre – ZPVS;

II – Zonas de Conservação da Vida Silvestre - ZCVS;

III – Zonas de Ocupação Controlada – ZOC.

Parágrafo único. As Zonas mencionadas têm seus limites descritos no Anexo I

(limites) e estão representadas em bases cartográficas na escala 1:20.000 parte

integrante desta Lei.

As zonas foram consideradas no artigo 3º, da seguinte forma:

I – Zona de Preservação da Vida Silvestre (ZPVS) é aquela destinada à

salvaguarda da biota nativa através da proteção do habitat de espécies

residentes, migratórias, raras, endêmicas, e/ou ameaçadas de extinção, bem

como à garantia da perenidade dos recursos hídricos, das paisagens e belezas

cênicas, da biodiversidade e de sítios arqueológicos. Nessa categoria de zona

não é admitida a utilização de áreas para fins de implantação de projetos

turístico-hoteleiros e de condomínios, bem como de edificações, exceto asintervenções indispensáveis à recuperação, pesquisas científicas, atividades

educacionais e fiscalização da APA:

a) ZPVS A – Corresponde a uma faixa com largura aproximada de trezentos

(300) metros, demarcados a partir da linha de preamar máxima, estendendo-se

ao longo de toda a faixa de restinga, envolvendo, além do primeiro cordão de

dunas, as áreas brejosas interiores e as áreas de praia;

Page 117: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 117/266

110

b) ZPVS B – Corresponde à elevação topográfica situada a oeste da APA –

Morro do Mololô, limitado em parte pelo Rio Brejo da Costa, a Lagoa de Maricá e

a depressão situada entre os cordões arenosos;

c) ZPVS C – Correspondeà elevação conhecida como Morro do Boqueirão,

situada entre a comunidade de Zacarias, as Lagoas de Maricá e da Barra e a

ponte de acesso ao Centro Urbano;

d) ZPVS D – Compreende a totalidade da Ponta do Fundão, delimitada ao norte,

a leste e a oeste pelo espelho d’água da Lagoa da Barra; ao sul, pela Rua

Otacílio de A. Rangel;

e) ZPVS E – Corresponde à totalidade do território da Ilha Cardosa ou dos

Amores, situada na Lagoa da Barra, entre a Ponta do Fundão e a Ponta do

Boqueirão;

II – Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS) é aquela destinada à

salvaguarda de espécies nativas que, apesar de endêmicas e/ou ameaçadas de

extinção, encontra-se em estado vulnerável de degradação ambiental em

conseqüência de pressão antrópica local, podendo admitir, nos locaisdesprovidos de vegetação, uso moderado e auto-sustentado dos recursos

naturais:

a) ZCVS A – Corresponde à faixa situada na porção média da estrada que passa

pelo Morro do Mololô e dá acesso às instalações da Aeronáutica; essa faixa

possui largura variada prolongando-se a sua maior extensão em direção a

Oeste;

b) ZCVS B – Corresponde à faixa compreendida entre a Avenida Litorânea, na

altura da localidade de Zacarias e a faixa de praia; a oeste faz limite com a

ZPVS A e a leste com a área urbana de Barra de Maricá;

c) ZCVS C – Corresponde à faixa com largura de 100 metros a partir da margem

da Lagoa de Maricá;

d) ZCVS D - Corresponde à área do segundo cordão arenoso compreendida

entre a estrada que liga a Avenida Litorânea à praia até o limite onde se inicia a

ZOC B e até a confluência da Avenida Litorânea com a ZPVS A;

Page 118: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 118/266

111

e) ZCVS E – Corresponde à faixa de 30 (trinta) metros que margeia o Rio Brejo

da Costa, no seu trecho limítrofe ao território da APA de Maricá;

III – Zona de Ocupação Controlada (ZOC) é aquela que, além de apresentarcerto nível de degradação ambiental com menores possibilidades de

preservação, fornece condições favoráveis à expansão moderada das áreas

urbanas. A Zona de Ocupação Controlada está dividida em:

a) ZOC A – Localiza-se ao Norte da APA de Maricá, na Ponta dos Macacos,

entre o Rio do Brejo da Costa e a Lagoa de Maricá estendendo-se até a estrada

RJ-110;

b) ZOC B – Seu limite Norte corresponde à estrada RJ-110 estendendo-se até o

início da ZCVS- A. De um lado faz limite com o Rio Brejo da Costa e do outro

com a FMP da Lagoa de Maricá;

c) ZOC C – Localiza-se a Oeste da APA de Maricá, próximo à faixa marginal do

Rio do Brejo da Costa e estende-se até o espaço situado entre o primeiro cordão

(ZPVS-A) e a base do Morro do Mololô (ZPVS-B);

d) ZOC D – Corresponde à faixa de largura variada situada entre a FMP da

Lagoa de Maricá e o trecho da Avenida Litorânea, que vai de sua confluência

com as ZCVS C e D até a ZOC – E (Zacarias);

e) ZOC E – Corresponde à região denominada de Zacarias, localizada a leste da

APA de Maricá, na orla da Lagoa de Maricá;

f) ZOC F – Corresponde à área situada entre a localidade Zacarias, a base do

Morro do Fundão, a ZCVS-C e a extremidade leste da APA.

Ficou determinado, também no artigo 4º,que qualquer empreendimento a ser

implantado na Restinga deverá se observar, dentre outras, as seguintes condições:

a) adequação ao Plano de Manejo da área;

b) implantação de sistema de coleta e tratamento de esgotos;

c) sistema de vias públicas com implantação de galerias de águas pluviais;

Page 119: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 119/266

112

d) implantação de áreas verdes, com plantio de espécies nativas da restinga,

paramanutenção da paisagem e da fauna local;

e) implantação de projeto de recuperação de áreas degradadas no interior daAPA;

f) adequação a legislação ambiental vigente, mesmo quando localizado em zona

apropriada;

g) justificativas técnicas para fins de pesquisa científica, educação ambiental,

uso turístico e hoteleiro;

h) A harmonia da configuração da paisagem local e a proteção dos corposd’água.

As disposições desta lei quanto à ocupação estão contidas no artigo 5º, e as

mesmas, não desobrigam o cumprimento da Lei Orgânica municipal, Plano Diretor e

Uso, Ocupação e Parcelamento do Solo.

Quanto à implantação de projetos turístico-urbanísticos e condomínios na

Restinga, os mesmos estão no artigo 6º, e, não serão permitidos nos seguintescasos:

a) em locais onde forem observadas condições geológicas ou geotécnicas que

não aconselhem a edificação;

b) quando forem propostos para Zonas de Preservação da Vida Silvestre

(ZPVS);

c) quando forem propostos para Zonas de Conservação da Vida Silvestre(ZCVS), exceto nas áreas desprovidas de formações de vegetação de restinga

arbóreo-arbustiva e dunas, desde que sejam apresentadas justificativas técnicas

e locacionais com mapeamento em escala apropriada e inventário de flora e

fauna;

d) em cordões arenosos com vegetação de restinga em estágio avançado de

regeneração e nos alagadiços ou brejos onde for constatada a presença de

espécies ameaçadas de extinção;

Page 120: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 120/266

113

e) em área de dunas com vegetação fixadora e nas faixas marginais de proteção

de corpos d’água (conforme o que estabelecem a Lei Federal nº 4.771, de

15/09/1965 - Código Florestal, a Resolução CONAMA nº 303/2002 e delimitadas

pelo zoneamento ambiental anexo);

I – todos os projetos turístico-urbanísticos e de implantação de condomínios

deverão prever servidão de acesso à praia (oceânica e de lagoa) com um

espaçamento de 100 (cem) em 100 (cem) metros, pelo menos;

II – os projetos turístico-urbanísticos e de implantação de condomínios

localizados no interior da APA, em ZOC, deverão atender aos seguintes

requisitos:

a) as obras que exigirem movimento de terra deverão ser executadas segundo

projeto que assegure:

1 – a proteção dos corpos d’água contra assoreamento e erosão;

2 – a proteção e a preservação dos fragmentos de vegetação nativa nelas

situadas;

b) a implantação de empreendimentos somente ocorrerá após a instalação dos

dispositivos de tratamento de esgotos aprovados no licenciamento ambiental,

sendo esta obrigação intransferível aos futuros proprietários;

c) as áreas objetos de implantação de empreendimentos manterão uma faixa

não edificável, com afastamento daquelas caracterizadas como de preservação

permanente, nunca inferior a 15 (quinze) metros;

d) as formações de vegetação de restinga arbórea não deverão ser objeto de

supressão, bem como as Áreas de Preservação Permanente não deverão sofrer

intervenções;

e) deverá ser ainda, comprovada a viabilidade locacional e técnico-operacional

para implantação dos seguintes equipamentos urbanos:

1 - rede de abastecimento de água potável;

2 - rede de drenagem de águas pluviais e de esgoto sanitário;

Page 121: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 121/266

114

3 - estações de tratamento de esgotos (ETE).

III – nas Zonas de Ocupação Controlada os critérios de ocupação estão assim

definidos:

a) ZOC A (Ponta dos Macacos) – Nesta ZOC a taxa máxima de ocupação

permitida será de 40%. O gabarito admitido será de até 4 (quatro) pavimentos,

mais pilotis e cobertura ocupando a metade da área de projeção do pavimento,

correspondendo a uma altura máxima de 20 (vinte) metros. Dos 60% restantes,

30% poderão ser utilizados com jardins, piscinas, estacionamento, ruas etc. Os

30% restantes terão a vegetação nativa mantida em estado natural. A estes

parâmetros se somam, ainda, os demais parâmetros urbanísticos estabelecidospela legislação municipal;

b) ZOC B - Nesta ZOC a taxa máxima de ocupação permitida será de 40%. O

gabarito admitido será de até 2 (dois) pavimentos mais pilotis e cobertura

ocupando a metade da área de projeção do pavimento, correspondendo a uma

altura máxima de 14 (quatorze) metros. Dos 60% restantes, 30% poderão ser

utilizados com jardins, piscinas, estacionamento, ruas etc. Os 30% restantes

terão a vegetação nativa mantida em estado natural. A estes parâmetros se

somam, ainda, os demais parâmetros urbanísticos estabelecidos pela legislação

municipal;

c) ZOC C – Nesta ZOC a taxa máxima de ocupação permitida será de 40% O

gabarito admitido será de até 2 (dois) pavimentos mais pilotis e cobertura

ocupando a metade da área de projeção do pavimento, correspondendo a uma

altura máxima de 14 (quatorze) metros. Dos 60% restantes, 20% poderão ser

utilizados com jardins, piscinas, estacionamento, ruas e 40% terão mantida a

vegetação nativa em estado natural, ou serão objeto de implantação de projetos

de recuperação de áreas degradadas e reflorestamento com espécies nativas. A

estes parâmetros se somam, ainda, os demais parâmetros urbanísticos

estabelecidos pela legislação municipal;

d) ZOC D – Nesta ZOC a taxa máxima de ocupação permitida será de 40%. O

gabarito admitido será de até 2 (dois) pavimentos mais pilotis e coberturaocupando a metade da área de projeção do pavimento correspondendo a uma

Page 122: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 122/266

115

altura máxima de 14 (quatorze) metros. Dos 60% restantes, 30% poderão ser

utilizados com jardins, piscinas, estacionamento, ruas etc. Os 30% restantes

terão a vegetação nativa mantida em estado natural. A estes parâmetros se

somam, ainda, os demais parâmetros urbanísticos estabelecidos pela legislação

municipal;

e) ZOC E – Áreas destinadas à ocupação de comunidade tradicional, com taxa

de ocupação de 50% (cinqüenta por cento) e gabarito máximo de 02 andares ou

08 metros;

f) ZOC F – Nesta ZOC a taxa máxima de ocupação permitida será de 70%

(incluindo área de jardim, piscina, estacionamento etc.). O gabarito admitido seráde até 4 (quatro) pavimentos mais pilotis e cobertura ocupando a metade da

área de projeção do pavimento, correspondendo a uma altura máxima de 20

(vinte) metros. Os 30% restantes serão objeto de implantação de projetos de

recuperação de áreas degradadas e reflorestamento com espécies nativas. A

estes parâmetros se somam, ainda, os demais parâmetros urbanísticos

estabelecidos pela legislação municipal.

§ 1º Para o cálculo da taxa máxima de ocupação a ser utilizada poderão ser

computadas as áreas definidas como de preservação permanente e de Reserva

Legal inseridas em cada uma das ZCVS e ZOC.

§ 2º As áreas de pilotis não poderão sofrer fechamento que prejudique a

circulação atmosférica e a visão da paisagem.

Na Zona de Ocupação Controlada, ocupada pela Colônia de Pescadores de

Zacarias, no artigo 7º deverão ser observados os parâmetros urbanísticosestabelecidos pela legislação municipal, e no parágrafo único:

Qualquer proposta de intervenção urbanística na área deste núcleo deverá

ser orientada no sentido da preservação de suas características econômicas e sócio-

culturais, quais sejam: o exercício de suas atividades econômicas, seu desenho

urbano e suas características locais. Essas propostas deverão ser objeto de estudos

específicos, contando com a participação da comunidade afetada e a sociedade civil

organizada para a tomada de decisões.

Page 123: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 123/266

116

A ocupação do solo no território da Restinga, nas zonas não enquadradas

como ZOC, deverá obedecer aos seguintes critérios do artigo 8º:

I – são consideradas não edificantes todas as áreas:

a) situadas nas ZPVS, exceto as obras indispensáveis à recuperação, ao apoio à

pesquisa, à administração, à fiscalização da APA e à fruição de espaços

recreacionais;

b) consideradas de preservação permanente pela Lei nº 4.771, de 15/09/65 –

Código Florestal, Lei nº 6.938/81, Constituição Estadual, artigo 268 e por outros

dispositivos legais aplicáveis;

II – Em ZCVS será admitida uma ocupação com as seguintes características:

a) para a ZCVS A - será permitida a taxa máxima de 20% (vinte por cento) de

ocupação, gabarito máximo de 2 (dois) pavimentos mais pilotis e cobertura

ocupando a metade da área de projeção do pavimento, correspondendo a uma

altura máxima de 14 (quatorze) metros. Dos 80% restante, 20% (vinte por cento)

podem abrigar uso que preservem a permeabilidade do solo e 60% (sessenta

por cento) destinados à recuperação vegetal, empregando-se, para isto,

espécies nativas da restinga;

b) para a ZCVS B – será permitida a taxa máxima de 20% (vinte por cento) de

ocupação, gabarito máximo de 2 (dois) pavimentos mais pilotis e cobertura

ocupando a metade da área de projeção do pavimento, correspondendo a uma

altura máxima de 14 (quatorze) metros. Dos 80% restantes, 15% (quinze por

cento) de área impermeável, 15% (quinze por cento) podem abrigar uso que

preservem a permeabilidade do solo e 50% (cinqüenta por cento) destinados à

recuperação empregando-se, para isto, espécies nativas da restinga;

c) para a ZCVS C – área destinada à estabilização das margens da Lagoa de

Maricá, admitindo nos primeiros 30 metros à implantação de atividades

recreativas, atividades de cunho técnico-científico, educacional e projetos de

manejo sustentável. Nos 70 metros subseqüentes admite-se atividades turístico-

urbanísticas, com uma taxa máxima de 15% de ocupação e gabarito de 1pavimento;

Page 124: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 124/266

117

d) para a ZCVS D – será permitida a taxa máxima de 15% (quinze por cento) de

ocupação, gabarito máximo de 2 (dois) pavimentos mais pilotis e cobertura

ocupando a metade da área de projeção do pavimento, correspondendo a uma

altura máxima de 14 (quatorze) metros. Dos 85% restantes, 15% (quinze por

cento) podem abrigar uso que preservem a permeabilidade do solo e 70% e/ou

(setenta por cento) destinados à recuperação vegetal empregando-se, para isto,

espécies nativas de restinga;

e) para a ZCVS E – área correspondente à faixa de 30 metros destinada à

estabilização das margens do Rio Brejo da Costa, admitindo nos primeiros 15

metros à implantação de atividades recreativas com ênfase no ecoturismo,

atividades de cunho técnico-científico, educacional e projetos de manejo

sustentável. Nos 15 metros subseqüentes, quando confrontante com ZOC,

admite-se uma taxa máxima de 15% de ocupação e gabarito de 1 pavimento.

Para o trecho confrontante com a ZPVS B, só serão admitidas atividades

recreativas com ênfase no ecoturismo, atividades de cunho técnico-científico,

educacional e projetos de manejo sustentável.

III – é vedada a implantação de indústrias de médio e grande porte no interior daAPA, independente da sua tipologia industrial, e de indústrias de pequeno porte

com médio e alto potencial poluidor, de acordo com os critérios de classificação

estabelecidos pela CECA;

IV – é vedada a extração mineral de qualquer substância no território da Área de

Proteção Ambiental de Maricá;

V – são proibidos no território da APA:

a) aterros em espelho d’água;

b) lançamento de efluentes líquidos sem processo de tratamento ou que não

atendam aos padrões de lançamento previstos pela legislação em vigor;

c) lançamento de resíduos sólidos de qualquer natureza;

d) vazadouros de lixo e/ou aterros sanitários;

Page 125: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 125/266

118

e) construção de cais, píer, atracadouros ou similares que prejudiquem a

circulação das águas.

As atividades efetivas ou potencialmente poluidoras, mesmo quandolocalizadas em zonas adequadas, no artigo 9º, terão sua instalação, operação e

ampliação submetidas ao licenciamento ambiental pelos órgãos competentes,

conforme determina o artigo 9º.

E, no parágrafo único, quando do licenciamento ambiental, além das

especificações exigidas no âmbito do Sistema de Licenciamento de Atividades

Poluidoras (SLAP), será exigida ainda a apresentação do Plano de Ocupação de

Zona (POZ), de caráter detalhado, representando, espacial e quantitativamente,todos os parâmetros e restrições estabelecidas neste Plano Diretor Setorial.

No território da Restinga, as atividades de terraplanagem, dragagem e

escavação só serão permitidas mediante prévia consulta ao órgão ambiental,

independente do seu porte e/ou localização e estarão condicionadas ao

licenciamento ambiental, como designa o artigo 10.

Nos Projetos de recomposição da vegetação, no artigo 11 deverão serutilizadas espécies nativas de restinga para manutenção da paisagem e apoio à

fauna. Os proprietários deverão apresentar projeto de recomposição da cobertura

florestal a serem submetidos ao órgão competente e só deverão ser implantados

após aprovação. Conforme o parágrafo único, as áreas degradadas, localizadas nas

ZPVS e ZCVS, terá prioridade nos planos de recuperação e reflorestamento a serem

fomentados pela Secretaria Municipal de Ambiente e Urbanismo – SAU.

Com relação às bases cartográficas originais e cópias, que representam ozoneamento da Restinga, estão disponíveis, para consulta, no cadastro técnico

situado na Rua Álvares de Castro nº 346 1º andar, conforme determinado no artigo

12.

Partes dos recursos provenientes das medidas compensatórias decorrentes

da implantação de empreendimentos de qualquer natureza serão destinados para

urbanização qualificação profissionais, e melhoria das condições sócios econômicas

da comunidade de pescadores de Zacarias, em razão do artigo 13.

Page 126: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 126/266

119

Nos projetos de aprovação de empreendimentos ou loteamentos nas áreas

em que essa lei se refere no artigo 14, deverão ser doada a Prefeitura Municipal

áreas para a criação do parque municipal da restinga de maricá e para ocupação de

aldeia indígena, e no parágrafo único, a Prefeitura Municipal se reserva o direito de

recusar as áreas reservadas para atender aos fins previstos no artigo 14, podendo

escolher outras.

As infrações a presente Lei, bem como aos Decretos nºs 7.230 de 23 de

 janeiro de 1984, 4.104 e às demais normas de proteção ambiental, sujeitarão os

infratores, sem prejuízo da obrigação de reparação e indenização de dano, às

sanções legais cabíveis, conforme assevera o artigo 15.

Page 127: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 127/266

120

3. A CRISE AMBIENTAL - INJUSTIÇA E CONFLITO AMBIENTAL

Subscrevendo o posicionamento de PECCATIELLO (2010, p.27), em

O Uso e a Ocupação do Espaço na Vila do Abraão - Ilha Grande, RJ: sobre o

Desenvolvimento Turismo, a urbanização e os instrumentos legais:

“A crise ambiental característica da modernidade deflagrou a necessidade de

organização sistemática das ações do homem sobre o espaço, induzindo a

estruturação de formas de planejamento que minimizem os impactos do

insustentável sistema de desenvolvimento implantado. Esta crise, envolta por

nuances diversas – economia, demografia, desenvolvimento, ecologia – tornou

eminente a globalidade das problemáticas em questão, instaurando o que MORIN &KERN (2005) denominaram “agonia planetária”. Tornaram-se palpáveis os limites

do crescimento devido às graves conseqüências do desequilíbrio entre a natureza e

o homem e em variados contextos e escalas, revelando as disfunções próprias do

estilo de desenvolvimento o que reporta à necessidade de se repensar as heranças

socioculturais e econômicas que embasam os paradigmas sociais” . Assim existem

coisas que, por mais que tentemos nos habituar, não é possível, pois a falta de

capacidade de percebermos o que é melhor para a natureza e para o nossoambiente se perdeu em razão da fome desordenada do crescimento urbano,

portanto devemos continuar sendo uma sociedade que teima em lutar sobretudo,

para preservar o meio ambiente. 

Seguindo Leff (2006, p. 191), a crise ambiental é a crise de nosso tempo. O

risco ecológico questiona o conhecimento do mundo. Esta crise apresenta-se a nós

como um limite no real, que ressignifica e reorienta o curso da história: limite do

crescimento econômico e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e das

capacidades de sustentação da vida; limite da pobreza e da desigualdade social.

Mas também crise do pensamento ocidental: ‘dadeterminação metafísica’ que, ao

pensar o ser como ente, abriu o caminho para a racionalidade científica e

instrumental que produziu a modernidade como uma ordem coisificada e

fragmentada, como formas de domínio e controle sobre o mundo. Por isso, a crise

ambiental é acima de tudo um problema de conhecimento, o que nos leva a

repensar o ser do mundo complexo, a entender suas vias de complexificação (adiferença e o enlaçamento entre a complexificação do ser e o pensamento) para, a

Page 128: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 128/266

121

partir daí, abrir novas pistas para o saber no sentido da reconstrução e da

reapropriação do mundo (Leff, 2006, p. 191).

É nesta perspectiva, que se insere o discurso, ainda, da sustentabilidadedefendida por autores como ACSELRAD (1997), SACHS (2002) e LEFF (2006), que

buscam trazer tal conceito para o campo das relações sociais, de forma a possibilitar

a internalização da dimensão ambiental nos paradigmas do conhecimento. O

ambiente assim é tido como uma categoria sociológica e não biológica, que se

configura em comportamentos, valores, saberes e potenciais produtivos. Não há

sentido, portanto em se falar de natureza sem sociedade. Assim, a sustentabilidade

não pode ser pensada a partir de uma visão reducionista que prioriza aspectos como

o estoque e o fluxo de recursos e capitais; deve, todavia considerar a melhoria da

qualidade de vida14 das populações, a diminuição do consumo de recursos e da

produção de resíduos além da melhoria da distribuição dos aglomerados urbanos

sobre o território.

Segundo PECCATIELLO (2010), a história humana sobre a Terra é marcada

pela exploração dos recursos naturais e a evolução dos processos produtivos

associados às constantes necessidades criadas pelo homem são geradores doprocesso de degradação ambiental15. A forma como a sociedade mundial organiza

a produção de sua vida tem como conseqüência maior a problemática

socioambiental caracterizada pelo crescente impacto negativo no ambiente e

aumento das desigualdades socioeconômicas, aspectos que colocam em xeque a

possibilidade de sobrevivência humana no Planeta dentro do que hoje seguimos

como modelo de desenvolvimento.

14  Segundo HERCULANO (2006) qualidade de vida é definida como “a soma das condições econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que estes possam realizar suas potencialidades: inclui a acessibilidade à produção e ao consumo, aos meios para produzir cultura, ciência e arte, bem como pressupõe a existência de mecanismos de comunicação, de informação, de participação e de influência nos destinos coletivos, através da gestão territorial que assegure água e ar limpos, higidez ambiental, equipamentos coletivos urbanos, alimentos saudáveis e a disponibilidade de espaços naturais amenos urbanos, bem como a preservação de ecossistemas naturais”.15  O conceito de degradação ambiental adotado é o existente na Lei nº 6.938, de 31/08/81, artigo 3º,inciso II da Política Nacional do Meio Ambiente, onde degradação da qualidade ambiental constitui-se “[...] a alteração adversa das características do meio ambiente" (BRASIL, 1981). Encontra-se implícito 

na Lei nº 6.938 o conceito de degradação ambiental como sinônimo da expressão degradação da qualidade ambiental. Salienta-se que a lei federal foi alterada pela Lei nº 7.804, de 18/07/89, que mantém a mesma definição referente ao termo. 

Page 129: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 129/266

122

Nesse processo, concordando com o posicionamento de PECCATIELLO

(2010), as cidades apresentam-se como um palco onde estão expostos os mais

complexos desafios de organização social, ambiental e econômica, reflexos do

processo de apropriação do espaço onde o ambiente natural é alterado

artificialmente para atender as necessidades do homem enquanto ser social.

Nessa perspectiva, as condições ambientais do sistema urbano têm sido

caracterizadas por temperaturas elevadas, adensamento de edificações, poluição

por gases lançados por veículos automotores e pelas indústrias, cúmulo de lixo,

lançamento de esgotos em cursos d’água e morte da fauna e flora urbana. 

A cidade é uma máquina infernal que consome e desperdiça enormes quantidades de energia e matéria- prima, produz montanhas de lixo, expele e derrama venenos. Esta máquina evolui constantemente, enquanto um exército de instituições e incontáveis indivíduos monta e desmonta a máquina, forja ligações e as quebra, resolve problemas individuais e gera uma multidão de novos problemas. O ar, o solo, a água e os organismos vivos da cidade absorvem essa atividade caótica com uma 

manifesta perturbação na estrutura, na população e nos fluxos dos recursos e energia (Spirn, 1995, p. 12).

Apoiado no pensamento de LYNCH (1985) acredita-se que o aglomerado

populacional assemelha-se a um ecossistema uma vez que este pode ser

considerado como um conjunto de organismos onde cada organismo se relaciona

com indivíduos de sua própria espécie, com outras espécies e com as matérias

físicas do local.É neste sentido, também, que SPIRN (1995) utiliza o termo ecossistema

urbano e preconiza a necessidade de se utilizar o conceito de ecossistema para a

compreensão do ambiente urbano, das inter-relações entre asatividades humanas e

do impacto cumulativo que os indivíduos exercem sobre a cidade.

Acredita-se, ainda, que um ecossistema é maior do que a soma de suas

partes, pois existem ligações que unem as partes e formam uma vasta rede. A

identificação da importância destas ligações produz novos discernimentos quepodem levar ao uso mais eficiente das atividades, recursos e espaços.

Page 130: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 130/266

123

O fluxo e a transformação da energia e da matéria-prima forjam as ligações entre o ar, o solo e a água do ecossistema urbano e os organismos que nele vivem.Estabelecendo os caminhos ao longo dos quais a energia e as matérias fluem através do ecossistema urbano,podem-se também traçar a rotas ao longo das quais os poluentes se disseminam e determinar onde a energia é despendida e armazenada (Spirn, 1995, p. 269).

É plausível, admitir, portanto, conforme PECCATIELLO (2010) que as

soluções para os problemas da cidade sejam coordenadas e tratadas dentro da

compreensão do ecossistema total, suas partes e ligações, tornando as

conseqüências das ações mais previsíveis. Além disso, é preciso que os cidadãostenham consciência da situação ambiental em que estão inseridos e se reconheçam

como agentes da organização do espaço, já que como afirma ROSSI (1998 apud

ARAUJO, 2009) “a cidade é uma coisa humana por excelência, sendo um reflexo da

sociedade”.

3.1 Da Fragilidade Socioambiental

A fragilidade socioambiental mencionada por Alves (2006) pode serexplicitada como uma coexistência ou sobreposição espacial entre grupos

populacionais pobres e com alta privação (vulnerabilidade social) e áreas de risco ou

degradação ambiental (vulnerabilidade ambiental).

O tema da vulnerabilidade é apontado, também por outro autor que aborda

questões relativas: Chambers (1989). Para o mesmo, vulnerabilidade é um conceito

relativo, estando normalmente associado à exposição aos riscos e designa a maior

ou menor suscetibilidade de pessoas, lugares, infraestruturas ou ecossistemassofrerem algum tipo particular de agravo.

Conforme Acselrad se manifestou no II Encontro do Instituto Del Bien Común

do Peru (2006, pág. 1): “da noção de risco à noção de vulnerabilidade, buscou-se

melhor articular as condições que favorecem a suscetibilidade de sujeitos a agravos”

e “a disposição a tratar as condições de vulnerabilidade como uma questão de

direitos humanos, por sua vez, é apresentada também como destinada a vinculá-las

às suas raízes sociais mais profundas, estimulando e potencializando a mobilização

das pessoas para a transformação destas condições”.

Page 131: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 131/266

124

Para tornar visíveis as dificuldades adicionais que certas regiões, sociedades

e populações possuem em relação aos problemas ambientais, incorporou-se a

temática da vulnerabilidade contribuindo assim para explicitar que tais problemas de

ordem socioambiental são decorrentes dos processos da divisão internacional do

trabalho, dos riscos e dos benefícios, se incluindo os investimentos industriais e

econômicos e seus efeitos sobre a saúde e o meio ambiente.

Havendo deste modo avaliações limitadas, tanto do ponto de vista ambiental,

quanto dos processos decisórios e das propostas de gestão dos problemas, as

indagações de Freitas e Porto (2004) corroboram a tese de que as abordagens

científicas tradicionais, ao não incorporarem em suas pesquisas a noção de

vulnerabilidade, contribuem ainda mais para descontextualizar a problemática

ambiental, não sendo capazes de compreender os aspectos específicos das

realidades de países como o Brasil.

Sendo também uma categoria analítica importante para instituições

internacionais, como algumas agências das Nações Unidas e o Banco Mundial, a

noção de vulnerabilidade social tem se tornado recentemente uma questão central

para os estudiosos dos problemas ambientais e da sustentabilidade.

O conceito de vulnerabilidade social, ao ponderar a insegurança e a

exposição a riscos e perturbações provocados por eventos ou transições

econômicas, permitiria uma visão mais abrangente sobre as condições de vida dos

grupos sociais mais frágeis e, ao mesmo tempo, consideraria a viabilidade de

utilização de recursos e estratégias por esses grupos para enfrentarem os impactos

que os afetam.

Podemos subdividir o conceito de vulnerabilidade social segundo dois

enfoques conforme Freitas et al (2001, Pág. 135-151).

De acordo com os autores, o primeiro refere-se à vulnerabilidade

populacional, no qual “percebe-se a existência de grupos populacionais vulneráveis

em relação ao status social, político e econômico, raça e gênero, sendo isto derivado

principalmente de variadas formas e níveis de exclusão social e diretamente

associados às injustiças ambientais”.

Page 132: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 132/266

125

O segundo refere-se à vulnerabilidade institucional e relaciona-se “às

deficiências do funcionamento da sociedade em termos das políticas públicas,

processos decisórios e das instituições que possuem algum tipo de atuação junto às

situações e eventos de risco, seja em termos de prevenção, controle, atenção,

recuperação ou remediação”.

Ainda sobre esta discussão, podemos destacar os estudos de outros autores

Szasz (1994), por exemplo, acrescenta que a capacidade de escolha habitacional,

dentro deste processo de distribuição dos riscos ambientais, está intrinsecamente

relacionada a uma maior capacidade financeira, pois, se em uma área descobre-se

uma contaminação ambiental, aqueles economicamente mais favorecidos, estão

prontamente aptos a se mudarem para um local menos arriscado. No entanto, os

que possuem menor capacidade financeira são obrigados a permanecerem na área

contaminada.

Preferencialmente as indústrias optam por terrenos cujo valor do solo seja

menor. Tais áreas possuem uma estreita relação com as classes economicamente

fragilizadas, pois são essas áreas as únicas nas quais eles possuem condições para

habitar. Em contrapartida, áreas mais atraentes, geralmente disponibilizadas para ouso residencial, e para aqueles com riqueza suficiente para residir em áreas amenas

ambientalmente, são provavelmente menos lucrativas para a instalação de novas

indústrias. Independentemente do uso do solo destinado para essas áreas, a

discussão hipotética de sua implementação nestes espaços, estaria, de alguma

maneira, associada com o aumento dos custos ambientais e de saúde pública.

Não são apenas os grupos de baixa renda e minorias étnicas que sofrem os

impactos da degradação ambiental. Em consonância com os estudos, porém, severifica que nestas comunidades os impactos possuem maiores dimensões. Não há

dúvidas, que os riscos associados a materiais tóxicos afetem, tanto em intensidade

quanto em quantidade, populações de menor renda e minorias, segundo Baileyet AL

(1995).

Os pobres e minorias são mais expostas aos contaminantes ambientais

afirmado, também, por Wright (1995). Ao longo da história estas comunidades

sempre sofreram mais os efeitos negativos da degradação ambiental, com a

 justificativa de ser um mal necessário para o desenvolvimento da sociedade.

Page 133: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 133/266

126

Em seu estudo sobre a emissão de poluentes em cidades de Ohio, realizados

por Timney (1998), este escolheu as áreas mais afetadas e menos afetadas por esta

problemática para então fazer um estudo da situação econômica e educacional das

populações das áreas selecionadas. Assim, as áreas mais afetadas são justamente

aquelas habitadas por populações de baixa renda e baixo grau educacional. Como

pode ser visto, os estudos que tratam do tema apontam que existe uma forte

correlação entre a presença de grupos sociais vulneráveis e os espaços de moradia

em áreas mais desvalorizadas, sendo estas, freqüentemente, áreas impactadas do

ponto de vista ambiental. Estas populações, por sua posição social não têm acesso

aos mesmos recursos de poder que as populações de classes mais favorecidas, o

que faz com que elas não consigam resistir a processos de fragilização do ambientedecorrentes da atuação de empresas ou mesmo do poder público, neste sentido, a

análise das questões relativas à vulnerabilidade socioambiental corrobora com a

investigação proposta nesta dissertação.

3.2 Justiça ou (IN)Justiça Ambiental.

A forma como as pessoas são afetadas pelo ambiente são muitas vezes

apresentadas em uma escala global, marés crescentes ou florestas morrendo como

resultado das mudanças climáticas. Mas a maneira como os seres humanos têm um

impacto direto sobre o planeta, é muitas vezes mais visível em um nível local. Por

exemplo, comunidades mais perto de áreas industriais podem ser afetadas por taxas

superiores à média de doenças respiratórias.

Um relatório divulgado por duas organizações ambientais, o InstitutoBlacksmith e a Cruz Verde da Suíça, descobriram que a poluição localizada é o

principal fator que contribui para a deficiência e a doença em comunidades em todo

o mundo; os pesquisadores descobriram, também, que as crianças são geralmente

afetadas desproporcionalmente.

Os ativistas assinalam para que as comunidades reivindiquem a justiça

ambiental, pois as pessoas mais afetadas, geralmente não têm tempo ou recursos

para lutar contra os fatores que afetam sua saúde.

Page 134: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 134/266

127

Mas o problema, diz Julie Sze (2008, Pág. 25), diretor do Projeto de Justiça

Ambiental da Universidade da Califórnia, “raramente a política é motivada, pelo

menos não explicitamente. É mais uma questão de negócios com foco no

zoneamento e no controle regulamentar. Também pode ser um sintoma de maior

desigualdade na América, que muitas vezes cai junto com a raça e linhas de

classe,Sze enfatiza, ainda,sobre a extensão da injustiça ambiental”.

Segundo Sze, a globalização tem realmente permitido injustiça. O termo

realmente descreve todos os tipos de problemas diferentes, pois algumas pessoas

usam para descrever as mudanças climáticas e como isso afeta

desproporcionalmente as pessoas no terceiro mundo. Não é [um único] problema,

mas mais um quadro analítico que descreve injustiça ambiental, para que você

possa aplicá-lo em lotes de diferentes temas.

No diálogo de Sze, os problemas como a contaminação da água subterrânea

e falta de ar limpo são encontrados mais em países em desenvolvimento e

comunidades mais desfavorecidas.

As relações geográficas de poder, resgata igualmente as questões relativas

às injustiças sócio-ambientais, que como aponta Freitas et al (2001) estão

intrinsecamente relacionadas com as questões das vulnerabilidades

socioambientais. O movimento de justiça ambiental começou nos Estados Unidos na

década de 70, com objetivo de lutar pelos direitos civis. Inicialmente, foi liderado pelo

movimento negro contra o racismo, surgindo para mostrar que as comunidades

negras viviam mais próximas de áreas poluídas, de depósitos de lixo e resíduos

perigosos. Ao longo dos anos 80 esse movimento se ampliou, mostrando que a

discriminação não era somente contra negros e/ou minorias étnicas, mas estavarelacionada às questões de classe e gênero, atingindo grupos sociais mais

vulneráveis.

Segundo Bullard (1996), as eqüidades ambientais estão intimamente

relacionadas à estrutura do movimento pela justiça ambiental, e se encontram

situadas em três amplas categorias: a eqüidade de procedimentos, a eqüidade

geográfica e a eqüidade social. Respectivamente, tais categorias tratam de temas

que vão desde a justiça propriamente dita (regras governamentais,

regulamentações, critérios de avaliação, cumprimento das leis, etc.), passando pelas

Page 135: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 135/266

128

questões de configuração e localização espacial como proximidades a fontes de

riscos ambientais, instalações perigosas, e uso do solo localmente indesejados das

comunidades, até os critérios relativos ao papel dos fatores sociológicos nas

decisões ambientais, tais como raça, etnicidade, classe, cultura, estilo de vida, poder

político, etc..

No desenvolvimento de ferramentas, estratégias e políticas públicas para

eliminar condições e decisões injustas, parciais e iníquas, repousa a estrutura da

 justiça ambiental. A sua estrutura procura revelar os pressupostos subjacentes que

podem contribuir para produzir exposições diferenciadas e proteção desigual, e traz

à superfície as questões éticas e políticas sobre quem possui o que, quando, como e

quanto.

Caracterizando uma distribuição geográfica social do poder, a iniqüidade

social e suas conseqüências trazem à tona a discussão por parte do movimento da

Justiça Ambiental sobre a distribuição desigual do espaço frente aos vulneráveis.

Assim, tais lógicas surgem como uma justificativa importante de buscar a

comprovação de que nas áreas de riscos ambientais se encontram os grupos mais

vulneráveis, politicamente impotentes, e que estes enfrentam as iniqüidadesambientais justamente pelo fato de possuírem capacidades limitadas de rejeitar a

imposição de tais riscos.

O movimento pela justiça ambiental surgiu no Brasil através de uma coleção

intitulada “Sindicalismo e Justiça Ambiental” realizada pela CUT (Central Única dos

Trabalhadores), pelo IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e

pelo IPPUR-UFRJ (Instituto Brasileiro de Pesquisas de Planejamento Urbano e

Regional), no qual se buscou a avaliação do papel dos trabalhadores e suasentidades representativas frente à defesa do meio ambiente urbano sustentável de

modo a oferecer qualidade de vida a todos, reconhecendo os recursos ambientais

como bens coletivos.

A Justiça Ambiental, através de seu movimento, abarca outras problemáticas

que vão além das relacionadas somente ao meio ambiente, pois as desigualdades

no cenário nacional são ainda maiores quando comparadas com países

desenvolvidos, como os Estados Unidos, e deste modo, o reconhecimento das

injustiças sociais decorrentes da desigual distribuição do poder e da riqueza, torna-

Page 136: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 136/266

129

se necessário muitas vezes pela evidência através da apropriação do território e dos

recursos naturais pelos grupos mais abastados.

Deve-se também considerar as carências em saneamento ambiental, saúdepública, educação, renda, habitação etc. que estão associadas às populações de

baixa renda urbanas e rurais que acabam pagando um alto custo pelas

externalidades da produção das riquezas brasileiras, de acordo com Herculano

(2000). Ao considerar a realidade brasileira, na qual se encontra uma infinidade de

injustiças, torna-se necessária uma ampliação do escopo do conceito de injustiça

ambiental que ultrapassa as questões raciais e de localização de riscos provenientes

de origem química.

Estatisticamente, o fato é que ao se visitar centenas de favelas ou periferias

das grandes metrópoles, se vê as faces do racismo ambiental exposta na população

que habita estes espaços, revelando-se como sendo os espaços destinados aos

pobres. A questão racial é um fator importante para explicar a desigualdade social e

ambiental, por conta da imputação que é dada aos grupos negros e/ou outros

grupos discriminados no Brasil (nordestinos, nortistas, índios, pardos, etc.) que ainda

enfrentam diversas formas de racismo.

A nossa extrema injustiça em termos de distribuição de renda, de acesso aos

recursos naturais e de como o sentido de cidadania e de direitos devem ser

equânimes, ainda se encontram em um espaço relativamente pequeno em nossa

sociedade. Assim, o Brasil ainda configura-se como um país de grandes injustiças e

que apresenta profundas desigualdades, apesar da luta de movimentos e pessoas

em favor de um país mais justo.

Page 137: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 137/266

 

Figura 15- Mapa da Injustiç

3.2.1 (In)Justiça Ambien 

notória a ten

aquisitivo e baixa capac

degradados, assim a di

como fonte de outras

epidemiológicos, de ace

grupos sociais. Portanto

aos riscos ambientais

ambiente, condições de

de fatores com múltiplas

Ambiental no Brasil. 

Fonte FIOCRUZ/2006.

tal e a Disparidade Territorial .

ência de concentração de populaçõe

idade de organização no entorno de lo

stribuição desigual da população no e

esigualdades, que se refletem na dife

sso aos serviços de saúde e de condiç

, as justiças ambientais têm demonstra

ão ocorre de forma equânime no es

vida e situação de saúde formam elem

e complexas interações.

130

s de menor poder

ais ambientalmente

paço atua também

renciação de perfis

es ambientais entre

do que a exposição

aço. Desse modo,

entos indissociáveis

Page 138: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 138/266

131

O produto das desigualdades é o espaço geográfico refletido numa

determinada organização social, econômica e política de épocas passadas,

materializada através da segregação espacial e de mecanismos de mercado. De

fato, as áreas pobres tendem a concentrar pessoas pobres. Os processos de

segregação espacial, através de mecanismos de valorização do solo urbano e de

auto-segregação produzem fortes diferenciais intraurbanos, marcados pelas

desigualdades sociais.

Como as injustiças ambientais são mediadas por processos de segregação

espacial e concentração de populações pobres no entorno de fontes potenciais de

risco, torna-se necessário adotar alguns instrumentos que permitam a análise de

diferenciais socioeconômicos no espaço urbano. Tal abordagem está presente nos

objetivos básicos da Secretaria Nacional da Rede Brasileira de Justiça Ambiental,

criada em 2002, que no seu item 4 propõe:“... Produzir metodologias de avaliação de

eqüidade ambiental... Produzir argumentos conceituais e evidências empíricas em

favor da sustentabilidade democrática e da justiça ambiental”.

Os espaços territoriais são palcos de conflitos entre grupos que se apropriam

de benefícios e outros que arcam com danos à saúde e ao ambiente. Desse modo, aprimeira tarefa de estudos sobre o impacto de projetos de desenvolvimento sobre a

saúde é reconhecer esses grupos e as formas de resistência e apropriação que

podem ser mobilizadas para garantir condições de vida e saúde das populações

afetadas.

Entretanto, apesar da metodologia buscar a identificação de desigualdades

socioambientais, a apropriação do conceito de injustiça ambiental torna-se

pertinente, uma vez que entendemos que as possíveis desigualdades encontradaspodem ser provenientes de mecanismos aos quais determinados grupos

populacionais dentro da área de estudo podem estar sofrendo um dano

desproporcional frente aos riscos ambientais quando em comparação com outras

parcelas da sociedade, corroborado por Silva e Barros (2002) “a qualidade de ser

igual ou desigual possui caráter apenas descritivo, sem associação necessária com

um juízo de valor sobre justiça ou injustiça”.

Page 139: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 139/266

132

Segundo o levantamento bibliográfico pode-se perceber que a atenção

recente nas pesquisas metodológicas para a avaliação de injustiças ambientais tem

sua origem nos estudos norte americanos realizados pelo U.S. General Accounting

Office (GAO) (1983) e The United Church of Christ’s Commission for Racial Justice

(UCC) (1987).

As evidências estatísticas fornecidas por estes estudos constataram que

havia uma discriminação baseada na raça, mostrando que a distribuição espacial

dos depósitos de resíduos químicos perigosos, bem como a localização de indústrias

muito poluentes não se distribuía de modo aleatório: ao contrário, se sobrepunham e

acompanhavam a distribuição territorial das etnias pobres nos Estados Unidos.

Posteriormente a esses dois estudos iniciais, a Environmental Protect Agency

(EPA) (2005), devido a necessidade de se rediscutir mais intensamente às ligações

entre raça, pobreza e poluição, realizou alguns estudos baseados em estatística

para avaliar as injustiças ambientais na escalas local, regional e global.

Devido à preocupação em mostrar o quanto os problemas ambientais estão

distribuídos de maneira desigual entre a população, criaram-se os estudos de

desigualdade ambiental, ou justiça ambiental concordando com a assertiva de

Harner et al (2002), visto que, os pesquisadores, há um bom tempo se empenham

na tentativa de medir as injustiças ambientais.

As variáveis utilizadas para a mensuração de injustiças ambientais incluem,

entre outras, a média da renda familiar; população de não brancos; percentual da

população de não-brancos; percentual da população abaixo do nível de pobreza;

população de afro-americanos e hispânicos; renda doméstica média e o percentual

de negros, conforme explicitado por Harner et al (2002),.

Uma alternativa de aproximação para especificar o limite de uma região

impactada, consiste em uma construção de uma área de influência concêntrica

(concentric ring buffer) para a fonte de poluição potencial, segundo Zandberg &

Chakraborty (2006),

Não há clareza e caminho definido para conduzir uma análise de (in)justiça

ambiental. No Brasil, quando comparados aos estudos norte-americanos, ainda são

Page 140: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 140/266

133

poucos os autores voltados para uma abordagem quantitativa em avaliações de

injustiça ambiental.

3.2.2 Histórico da Injustiça Ambiental 

Conforme mencionado por Acselrad et al no livro “ O Que é Justiça Ambiental

(2009, p.07 e 08), não é de hoje que ocorrem casos de injustiça ambiental pelo

mundo. O termo Justiça Ambiental surgiu em 1991, através da circulação de um

memorando do Banco Mundial  incentivando a migração de indústrias poluidoras

para países periféricos.

Havia três razões segundo o memorando para que se discorresse destaforma:

• 1- O meio ambiente teria apenas uma preocupação estética.

• 2- Os mais pobres não viveriam tempo suficiente para que sofressem efeitos

da poluição ambiental

• 3- A necessidade econômica.

O documento saiu da esfera do Banco Mundial e foi para os meios de

comunicação, se propagando negativamente para a Instituição. Este fenômeno

impinge os malefícios ambientais muito além dos padrões as populações mais

pobres de recurso financeiro, ficou conhecido como injustiça ambiental.

3.2.3 A Injustiça Ambiental na Preponderância de Conflitos Ambientais 

A instalação de novas indústrias e obras governamentais traz a necessidade

de mão-de-obra para as áreas onde serão extraídos os recursos naturais. As

populações mais pobres se concentram nestes locais formando comunidades,

muitas vezes em ambientes sensíveis. Os agravantes como a poluição ambiental, ou

a remoção de famílias destas áreas acabam caindo sobre a população local,

gerando um caso de conflito ambiental. A Justiça ambiental se insere através das

leis ambientais e da interferência do governo para mediar os casos buscando um

equilíbrio entre o desenvolvimento da área afetada e as conseqüências que istoatinge na comunidade local.

Page 141: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 141/266

134

O Brasil possui muitas leis na área ambiental, porém a sua eficácia ainda é

considerada baixa, por exemplo, há a Lei nº 9.985/00 que estabelece a classificação

de diferentes níveis de áreas ambientais e a sua proteção e conservação, dando

poder à Federação a interferir em qualquer estado caso haja um descumprimento à

lei.

A Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), com o apoio do Departamento de

Saúde Ambiental e Saúde do trabalhador do Ministério da Saúde, desenvolveu a

partir de 2006, o Mapa de Conflitos envolvendo Injustiças ambientais e Saúde no

Brasil, em consonância com os princípios da Justiça Ambiental. O Mapa buscou

sistematizar informações indisponíveis, dando a visibilidade às denúncias

apresentadas pelas comunidades.

O trabalho foi respaldado pela Constituição Federal, em especial nos seus

artigos 1º inciso III e artigo 5º, os quais estão expressamente relacionados à missão

da entidade na defesa da dignidade humana e do direito à vida, à liberdade e à

igualdade.

Os conflitos levantados tiveram como base principal as situações de injustiça

ambiental discutidas em diferentes fóruns e redes a partir de 2006, em particular aRede Brasileira de Justiça Ambiental (www. justicaambiental.org.br). O foco do

mapeamento foram as visões das populações atingidas, suas demandas, estratégias

de resistência e propostas de encaminhamento. Os casos não esgotam as

situações existentes, mas refletem uma parcela importante nos quais a população

atingida, movimentos sociais e entidades ambientalistas vêm se posicionando. As

informações contidas deverão ser vistas como dinâmicas e em processo de

aperfeiçoamento, na medida em que novas informações e situações possam, na

continuidade do projeto, aprimorar, corrigir, dar visibilidade a denúncias e permitir o

monitoramento de ações e de projetos que enfrentem situações de injustiças

ambientais em diferentes territórios e populações como é o caso da APA de Maricá. 

Page 142: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 142/266

135

3.3 O Conflito Socioambiental e Ambiental

A Professora Selene Herculano, em sua apresentação no I Seminário

Cearense contra o Racismo Ambiental, em Fortaleza, novembro de 2006, iniciou sua

fala com três tópicos a seguir:

I. “ No sentido de mostrar como as Ciências Sociais desenvolveram-se através de uma reflexão e da procura de uma abordagem teórica para casos de conflitos ambientais como os que se viram e foram ouvidos no I Seminário Brasileiro contra o Racismo Ambiental, em Niterói em novembro de 2005, ressalta-se, os conflitos entre grupos sociais muito desiguais em termos de poder econômico e político e que se defrontam em disputas que têm no meio ambiente seu epicentro; 

II. Com base em relatos secundários (livros de Joan Martinez Alier sobre o Ecologismo dos Pobres ou Ecologismo Popular; publicações da Environmental Justice Foundation – EJF; denúncias sobre casos de conflitos e de injustiças ambientais no Brasil, feitas no 

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Ambiente e Desenvolvimento – FBOMS, no Colóquio sobre Justiça Ambiental e Cidadania, ocorrido em 2001,em Niterói,casos estes, cujo relato reforça a argumentação de que tais conflitos não são fenômenos pontuais e isolados, mas evidenciam um enfrentamento de uma lógica de expansão de fronteiras econômicas por todo o globo e que se tem demonstrado deletéria à natureza e aos povos locais. Conforme Herculano (2006)a resistência a tais avanços, por outro lado, também não pode ser organizada isoladamente, precisando, pois, de uma estratégia de alianças, o que o estudo dos casos também busca propiciar; 

III. Na conclusão, Herculano (2006) refletiu sobre a pertinência ou não do conceito de racismo ambiental como uma ferramenta operacional identificadora dos nossos esforços de compreensão e de atuação sobre conflitos ambientais entre atores sociais desiguais”.

Page 143: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 143/266

136

Prosseguindo com o seminário, Herculano (2006) fez comentários sobre

como os conflitos podem ser percebidos de formas diferentes nas Ciências Sociais:

podendo ser disfunções ou perturbações da ordem que precisam ser curadas (um

exemplo desta concepção é o da Sociologia de Talcott Parsons e a Escola

Funcionalista).

Herculano (2006), ainda, ressalta que sendo a sociedade moderna modelada

pelos ideais de democracia, da convivência das diferenças, da igualdade de direitos

em uma realidade, todavia plural, ela é caracterizada pelo dissenso, por defrontar-se

pelas diferentes visões de mundo, interesses e motivações, e, portanto, os conflitos

são seus elementos naturais, precisando ser geridos e negociados.

O terceiro aspecto é a negação dos conflitos encobertos pelas “tecnologias

do consenso, que caracterizam litígios como problemas a serem ocultados, além das

perspectivas apontadas no seminário. Chama-se tal perspectiva de o paradigma da

paz autoritária, inclusive Alier os chama de “paradigma do avestruz”, pois é uma

criatura muito particular, no início parece ser um animal impotente, cheio de força e

veloz, mas quando nos aproximamos damos conta que é veloz e tem uma força

enorme, mas também é descoordenada e tem a particularidade de enfiar a cabeçana areia por tudo e por nada. Portanto, algumas pessoas são assim , tentando

demonstrar algo que, na realidade , está longe de ser . Assim a solução é enfiar a

cabeça na areia e repetir tudo e todos, chamando isto sobrevivência, mas na

realidade é solidão e puro egoísmo.

Sonia Oliveira (2009) em seu texto “A Releitura dos Critérios de Justiça na

Região dos Lagos no Rio de Janeiro “ no livro Conflitos Ambientais no Brasil,

organizado por ACSELRAD relata que as relações que se desenvolvem a partir dasegunda metade do século XX, no território do estado do Rio de Janeiro conhecido

por Região dos Lagos são multiplas e complexas. Em diferentes momentos dos

últimos 30 anos foram desencadeados na região conflitos ambientais presumindo

projetos sociais diferenciados quanto ao uso e a procriação dos recursos. Estes

conflitos demonstram o esforço e as lutas de comunidades residentes há muito no

local: alguns grupos vêm se organizando na tentativa de defender seu modo

tradicional de vida. Entretanto, confrontos entre segmentos sociais mais recentesvêm destacando divergências quanto ao tipo de “ meio ambiente” almejado para

Page 144: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 144/266

137

aquele território. Associação de Moradores, Ongs, Centros de Pesquisas ou

Instituições Acadêmicas e Núcleos Empresariais vêm se manifestando, tecendo uma

complexa rede de relações da qual não estão ausentes alianças e tensões.

Conforme Herculano (2006), no caso dos conflitos ambientais eles ora são

vistos como fatos isolados, casos pontuais que podem ser bem resolvidos ao menos

em uma dada escala e dimensão geográfica, ora são percebidos como estruturais,

derivados do antagonismo profundo entre Economia e Ambiente e tendo sempre e

necessariamente uma dimensão mais ampla e global. Portanto, o primeiro foco é o

do Ecossocialismo; o segundo seria o paradigma da adequação.

O Ecossocialismo é uma vertente das Ciências Sociais, que segundo Alier(2004) chama-se, também, de Ecologismo dos Pobres, vendo os conflitos sócio-

ambientais como estruturalmente antagônicos, decorrendo assim de uma situação

de contradição estrutural própria da economia capitalista contemporânea, na qual a

produção se orienta pela busca do crescimento econômico, obtido pela integração

ao mercado globalizado, através da exportação. Tal raciocínio de crescimento está

em antagonismo com a preservação do ambiente e com as formas de vida social

não-capitalistas, que sobrevivem em zonas refugiadas que são todavia,incorporadas às áreas de produção em expansão; o mesmo raciocínio esclarece a

existência de áreas urbanas degradadas e abandonadas pelas forças econômicas.

Ademais, existe uma contradição entre economia e ecologia, o que repercute

em impactos sócio-ambientais, pois não apenas há a degradação da natureza, mas

a degradação de culturas não-capitalistas e do ser humano que as compõe. No caso

dos conflitos ambientais emerge a idéia de riqueza acumulada e desenvolvimento

tecnológico, contrastando com a disseminação da pobreza e da degradaçãoambiental que os acompanham. Portanto, perceber os conflitos ambientais como

sendo de natureza antagônica e estrutural implica buscar sua solução no fim do

sistema capitalista e sua ideologia de crescimento exponencial e a qualquer custo.

Estudar os conflitos ambientais nesta perspectiva fortalece o lado vulnerável do

debate e aumenta sua capacidade de resistência. Assim sendo, o conflito sócio-

ambiental é um dos instrumentos de construção de outra sociedade em uma

perspectiva chamada de ecossocialista. E passa por mostrar que uma situação deconflito não é um caso único mas se repete em inúmeros locais do planeta.

Page 145: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 145/266

138

Ratificando o posicionamento de Herculano, o Ecossocialismo, embora esta

corrente não seja só marxista, tem no marxismo sua base, ao analisar a apropriação

dos recursos naturais e o confronto entre seu valor de uso e seu valor de troca,

através de uma luta desigual entre populações camponesas, indígenas, extrativistas

de um lado e empresários capitalistas de outro. Observa-se, portanto, que existem

duas definições de conflitos ambientais que seguem tal corrente:

“Conflitos sócio-ambientais são aqueles conflitos sociais que têm elementos da natureza como objeto e que expressam as relações de tensão entre interesses coletivos/espaços públicos versus interesses privados/tentativa de apropriação de espaços públicos...” 

Isabel Carvalho e Gabriela Scotto. Conflitos sócio- ambientais no Brasil v.1. Rio de Janeiro, Ibase, 1995, p.7.

“Os conflitos ambientais são aqueles envolvendo grupos sociais com modos diferenciados de apropriação, uso e significação do território, tendo origem quando pelo menos um dos grupos tem ameaçada a continuidade de suas formas de apropriação, ameaçada por impactos indesejáveis – transmitidos pelo solo, água, ar ou sistemas vivos – em decorrência do exercício das práticas de outros grupos. O conflito pode derivar da disputa por apropriação de uma mesma base de recursos, ou de bases distintas, interconectadas pelas interações ecossistêmicas.” 

ACSELRAD, H. As práticas espaciais e o campo dos conflitos ambientais. Em Conflitos Ambientais no Brasil. H.ACSELRAD (org.). Rio de Janeiro: RelumeDumará; F.

Heinrich Böll, 2004.

Page 146: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 146/266

139

Herculano, no mencionado seminário chama a atenção para que se perceba

nessas conceituações a construção do objeto em disputa, a apropriação de espaços

e da natureza e sua harmonia com a concepção marxista. Nesta, o fato inicial é o de

que grupos locais, não-inseridos no sistema capitalista, poderiam aumentar o conflito

de classes na proporção em que sofrem com os processos de expansão do capital

em suas áreas. Assim seriam os produtores rurais, pelo custo sócio-ambiental que

suportam sem paga e por aquilo que será agregado, nas “mochilas ecológicas”16 do

que será produzido a partir do material de suas localidades. Por outro lado, os

conflitos ambientais representam ampliações das lutas de classes. 

A outra vertente, chamada por ACSELRAD de “paradigma da adequação”,

visualiza os conflitos ambientais como sendo passíveis de soluções mitigadoras e

compensatórias e busca construir estratégias de desenvolvimento sustentável.

Busca-se assim a invenção e implantação desses mecanismos mitigadores e busca,

ainda, a governança (ONGs e governos em parceria; conselhos paritários; gestão

social participativa), tendo como foco as técnicas de tratamento e de negociação de

conflitos.

Positivado pelo pensamento de Alier, o mesmo tece criticas à pontualidade naresolução de conflitos ambientais, visto que estes diminuam em escala local ou

regional, contudo, aparecerão outros impactos em outras escalas, produzindo outros

conflitos, pois não existe a possibilidade de uma solução em que todos saiam

ganhando em razão de que, por exemplo, uma indústria poluente pode ser

deslocada para outro local, onde poluirá outros ambientes e pessoas. E foi nesse

sentido que houve a escrita de que “a ênfase não deve estar na resolução dos

conflitos ambientais, e sim na sua exacerbação” (2004 p. 324).

16 O conceito de mochila ecológica (MIPS – “material intensity per serviceunit” ou densidade materialpor unidade de serviço), de Schmidt-Bleek, busca calcular, em cada bem produzido e tornadodisponível, o que ele realmente custou em termos não apenas do material e do trabalho neleembutido, mas também da energia, da água, do custo ambiental relacionados ao seu transporte, aosdejetos do seu processo produtivo etc.

Page 147: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 147/266

140

3.1.1. Conflitos Ambientais e os Diferentes usos da Natureza 

Em linhas gerais, Herculano, corrobora os ensinamentos de Acselrad,

explicitando que os conflitos ambientais condizem com os quatro diferentes usospossíveis da natureza:

A. Como suporte de vida (água, ar, alimento, abrigo);

B. Como vazadouro de dejetos, metabolizadora de detritos;

C. Como fonte de matérias primas para a produção;

D. Como espaço de amenidades (belezas cênicas, refrigério,

lazer, sanatório) e de sacralidade (UC.s) para o bem-estarpsicológico e harmonia religiosa. (Se compartilhamos com

os outros animais seu uso como suporte de vida e como

vazadouro, as outras funções são eminentemente

humanas, históricas).

Os modelos de conflitos com base em acontecimentos, no entendimento de

Herculano se apresentam na seguinte forma:

a) Conflitos oriundos da “chegada do estranho” (J.S. MARTINS, 1991),

causando rupturas em um modo se viver local. Dizem respeito à chegada de

novos empreendimentos em um local de modo de vida tradicional, tais como:

• Construção de barragens hidroelétricas;

Construção de vias de tráfego massivo (rodovias, ferrovias, aeroportos,portos, etc.);

• Construção de usinas nucleares, fábricas poluentes etc.;

• Construção de incineradores, depósitos de lixo etc.;

• Construção de viveiros para a exploração industrial de camarões;

Construção de complexos turísticos;

• Construção de mega-edifícios concentradores de população;

Page 148: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 148/266

141

b) Conflitos oriundos da percepção da presença do risco crônico e da

deterioração de sistemas de vida. Tais conflitos disputam a produção da verdade

sobre o local, os riscos e o controle sobre o que fazer:

• Em locais de moradia contaminados (subsolo, águas e solo) e solos

desertificados Contra o lançamento e presença de dejetos/resíduos

contaminantes na água, ar e solo;

• Contra o uso de substâncias tóxicas no processo de trabalho (agrotóxicos,

benzeno, amianto etc.) e descoberta de doenças crônicas delas decorrentes.

c) Conflitos oriundos da ocorrência de acidentes e da luta por sua

remediação(descontaminação, indenizações, realocações de refugiados

ambientais, não-estigmatização das vítimas):

• Acidentes químicos ampliados (vazamentos, explosões, acidentes no

transporte de carga perigosa)

• Catástrofes naturais relativas à ação antrópica (enchentes, deslizamentos,

desertificação de solos)

d) Conflitos decorrentes da transformação da paisagem e das alterações

climáticas e da perda das formas de vida (defesa de belezas cênicas, da

biodiversidade natural):

Lutas por políticas de conservação ou políticas de preservação

• Conflitos entre produzir ou viver;

• Conflitos pela precedência do ser humano sobre outros animais

• Conflitos sobre Ética e Ciência: transgenia e engenharia genética

e) Conflitos decorrentes das implicações de uma escolha para regulação e

gestão (perfil dos atores; aplicabilidade e eficácia):

• Empresas capitalistas ou cooperativas.

• Regiões políticas ou regiões geofísicas (bacias hidrográficas, por exemplo).

• Planejamento governamental ou as forças de mercado.

Page 149: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 149/266

142

Em resumo, Herculano menciona que os tipos de conflitos ambientais dizem

respeito a:

Conflitos entre as diferentes formas de uso acima apontadas (interesses evalores de uma comunidade versus da empresa capitalista e de sua

produção; uso de uma área para depósito de lixo versus sua defesa pelas

amenidades e belezas cênicas ou pela defesa da saúde e da qualidade de

vida de uma comunidade);

• Conflitos pela definição da verdade ambiental (produção simbólica): controle

formal do conhecimento; percepção de risco ambiental, construção e

divulgação da verdade; conflitos por valores.

• Conflitos pela criação, adoção, aplicação e cumprimento de políticas

ambientais.

• Conflitos por recursos ambientais escassos face à contaminação, ao

esgotamento e à degradação de recursos e ecossistemas; face à exportação

da capacidade de suporte (disputa de recursos escassos).

3.3.2 Conflitos Ambientais Antagônicos 

No entender e acompanhando Herculano, os diferentes usos geram conflitos,

que podem ou não ser estruturalmente antagônicos. Os conflitos ambientais não são

estruturalmente antagônicos, em razão de que quando dizem respeito a disputas

entre iguais e ou quando ficam contidos em uma dada escala geográfica, os

mesmos pela verdade ambiental podem ser não-estruturalmente antagônicos,enquanto que o conflito por valores sempre será.

Assim, os conflitos ambientais, segundo ACSELRAD (2004), além de serem

lutas sociais, econômicas e políticas, também são simbólicas, conforme o exemplo

de Herculano no seminário, pelo critério da eficiência, a monocultura de eucalipto

para a exportação de celulose seria mais eficiente em termos econômicos e,

portanto, mais legítima do que uma reserva extrativista. Mas, ao entrar o argumento

ambiental, as bases desta legitimidade se redefinem: a monocultura do eucalipto

Page 150: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 150/266

143

erode e compacta solos, reduz nutrientes, altera microclima, diminui a água

disponível, afeta a biodiversidade e inviabiliza a pequena agricultura familiar.

Um novo conceito de eficiência emerge, portanto da argumentação ambiental,menos ligado à valoração do capital monetário investido e mais ligado à durabilidade

das atividades produtivas e à interatividade. O meio ambiente é assim o veículo de

transmissão de impactos indesejáveis, disseminados pela água, pelo ar, pelo solo e

pelos sistemas vivos.

Ademais, Herculano (2006) explicita que os conflitos ambientais possuem

resultados negativos e positivos. Como resultados negativos temos:

• Desterritorialização de populações locais; Solução parcial que atende a apenas

um segmento da categoria, tornando-se problemas para as outras; Procrastinação

de decisões.

Com relação aos positivos, estes mencionam os ganhos táticos de uma luta

mais ampla, segundo o olhar eco-socialista:

• Criação de categorias de lutas e sua organização em rede e alianças, Criação de

novas institucionalidades (por exemplo, o Centro Nacional das Populações

Tradicionais - CNPT do IBAMA); a legislação do direito à informação – Right to Know

Act (EUA) (2008).

3.4 Etapas Análiticas dos Conflitos

No I Seminário Cearense sobre Racismo Ambiental (2006) foram

apresentadas como etapas analíticas dos conflitos os seguintes itens:

I. Descrição, identificação e análise dos atores sociais envolvidos, com base

nos seus interesses econômicos e ambientais e na quantidade e tipo de

poder à sua disposição.

II. Descrição, identificação e análise dos agentes naturais envolvidos (área –

bairro(s), cidade(s), rios, lagos, lagoas, praias, ecossistemas afetadosetc...).

Page 151: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 151/266

144

III. Análise da equação de poder/antagonismos; análise das relações sociais,

políticas e econômicas entre os atores envolvidos.

IV. Grau de institucionalização do conflito (registro nos órgãos públicoscompetentes. Processos judiciais ou inquéritos no Ministério Público etc.).

V. Grau de divulgação do conflito pelos meios de comunicação. Disputas

pela opinião pública.

VI. Tipos de tratamento (remediações) dados ao conflito (soluções técnicas –

descontaminação; obras); de justiça (remediação, indenização); soluções

de continuidade; violência (assassinatos; revoltas e quebra-quebras);

evasão da população afetada.

3.4.1 Formas de Tratamento de Conflitos 

No mesmo seminário, Herculano apresenta como forma de tratamento de

conflitos os seguintes temas;

I. Ocultação;

II. Repressão: ação policial; ação disciplinar das autoridades competentes;

III. Manipulação política: clientelismo, cooptação, suborno;

IV. Confrontação: denúncias, marchas e passeatas, boicote, campanhas

várias;

V. Busca de parceiros e alianças;

VI. Diálogo/ cooperação: participação voluntária;

VII. Negociação/ mediação: postulação explícita de interesses; mediação

externa: arbitragem/facilitação;

VIII. Criação de legislação para prevenção e remediação.

Page 152: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 152/266

145

3.5 Racismo Ambiental ou Ecologismo dos Pobres.

Jamais se poderia falar em conflitos ambientais, sem antes mencionar o

racismo ambiental ou ecologismo dos pobres, que foi muito bem enfatizado por Alier(2004). O mesmo é também uma referência no movimento cada vez mais influente

para a sustentabilidade ecológica e para a justiça social.

O racismo ambiental ou ecologia dos pobres requer um senso de urgência,

visto que existem descrições numerosas dos movimentos ambientais pobres ao

redor do mundo em defesa dos serviços e dos recursos ambientais

A ecologia dos pobres sistematicamente possui a intenção de tentar ajudar aconsolidar duas áreas de estudos, a ecologia política e a economia ecológica ao

analisar a relação entre eles.

Ocorre que os movimentos de justiça ambiental, e dos crescimentos do

ambientalismo popular vão se tornar forças propulsoras para alcançar uma

sociedade ecologicamente sustentável. Assim, muitos conflitos ambientais ao longo

da história e hoje, em áreas urbanas e rurais, mostram como os pobres muitas vezes

favorecem a conservação dos recursos naturais. O ambiente é, portanto, umanecessidade dos pobres e não um luxo para os ricos.

Segundo ALIER (1998), os conflitos pelo meio ambiente começaram a ocorrer

há mais tempo do que se supõe, sendo anterior à conscientização ecológica dos

ativistas ambientalistas, tendo inclusive como protagonistas mineiros de cobre (em

Huelva, na Andaluzia, Espanha, em 1880; em Ashio, no Japão, em 1907; em La

Oroya, no Peru, em 1920). Em todos esses casos os mineiros se organizaram não

apenas contra suas condições de trabalho, mas também contra a contaminação de

sua saúde e do solo e água de suas localidades por metais pesados, ácido sulfúrico,

dióxido de enxofre, etc.

3.5.1 O Movimento Chipko, os Embates de Chico Mendes e a Resistência dos Atingidos por Barragens 

Outro exemplo de um ecologismo, explicitado por Herculano, foi a atuação de

mulheres camponesas em uma aldeia ao pé do Himalaya, que em 27 de março de1973, se abraçaram às árvores que seriam cortadas para servir de matéria prima de

Page 153: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 153/266

146

uma indústria desportiva em Allahabad. A população evitou a derrubada das árvores

abraçando-se a elas, dando-se assim início ao Movimento do mesmo nome e que

Vandana Shiva analisou.

Movimento similar, assim reconhecido por ALIER (1998), foram os embates

dos seringueiros liderados por Chico Mendes no Acre, nos anos 80, que deu início

ao Movimento Aliança dos Povos da Floresta e à proposta de criação das reservas

extrativistas.

Ainda outro exemplo de resistência ecológica que não se constituiu como tal é

o dos camponeses, lavradores, pequenos e médios agricultores atingidos pelas

usinas hidrelétricas – UHEs – no Brasil, no Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB e no mundo.

Hoje, os conflitos que Alier (1998) define como o Ecologismo dos Pobres

move-se em torno dos direitos de pescadores, camponeses, extrativistas, etc. à

sobrevivência e ao sustento, pelo direito à saúde, pelo direito de ficar e continuar

com suas práticas de vida, bem como trazem para o cenário de discussões as

questões da dívida ecológica e das trocas desiguais no comércio. Tal ecologismo

fala em sustento, sobrevivência, soberania alimentar, direitos humanos e direitos

territoriais comunitários, são inúmeros: contra a carcinicultura comercial que degrada

os mangues, contra as formas de extração mineral e petrolífera, contra as florestas

uniformes da indústria da celulose, contra a pesca industrial.

3.5.2 Os Casos do Brasil.

Alguns casos de injustiça e ou de racismo ambiental no Brasil estãoreportados em coletâneas. Dizem respeito a populações deslocadas para a

construção de hidrelétricas; a comunidades quilombolas às quais é destinada a

instalação de resíduos tóxicos; a aldeias indígenas, e grupos quilombolas

deslocados por mega-projetos turísticos e intoxicados pelas monoculturas (do pinus 

para as fábricas de celulose; da soja); a colônias de pescadores deslocados por

mega-projetos imobiliários e turísticos; a mulheres extrativistas – as quebradeiras de

babaçu – perseguidas de morte por jagunços de pecuaristas, que cercam e se

apropriam dos babaçuais comunais; a aldeias indígenas que vêem seus manguezais

secados e cercados, suas águas poluídas pela construção de viveiros de camarões

Page 154: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 154/266

147

em escala industrial; a pobres suburbanos aos quais é destinada a vizinhança de

vazadouro de lixo metropolitano; a crianças pobres, sob tutela do Estado e em cujo

educandário o próprio Estado instala fábrica de inseticidas; a populações pobres das

margens das estradas, que recebem lixo tóxico clandestino proveniente de grandes

indústrias; à imposição autoritária de uma usina nuclear sobre uma pequena cidade

e seus planos de emergência tratados todavia como secretos.

Os casos são vários, estamos longe de esgotá-los ao contrário, novas

pesquisas e seminários são necessários para montar o mapa da injustiça e ou do

racismo ambiental no Brasil.

3.6 Justiça ou Racismo Ambiental.

Os estudos de casos como os supramencionados, conforme as assertivas de

Herculano, iniciaram como novas bandeiras de luta e novos focos de pesquisa: a

busca de “democracia ecológica” (FABER, 1998), a busca de justiça ambiental e a

denúncia da existência de um racismo ambiental.

A Fundação da Rede Brasileira de Justiça Ambiental realizou o Colóquiosobre Justiça Ambiental e Cidadania, ocorrido em 2001, em Niterói (RJ), e aí surgiu

a dúvida sobre qual o conceito mais adequado, o de Racismo Ambiental ou o de

Justiça Ambiental; naquela ocasião, preferiu-se falar em Justiça Ambiental.

Herculano (2006), ressalta que de acordo com BULLARD (1996), se deve

entender por Justiça Ambiental “o conjunto de princípios que asseguram que

nenhum grupo de pessoas, sejam grupos étnicos, raciais ou de classe, suporte uma

parcela desproporcional das conseqüências ambientais negativas de operaçõeseconômicas, de políticas e programas federais, estaduais e locais, bem como

resultantes da ausência ou omissão de tais políticas”. Herculano (2006), ratificando

Acselrad (2004), ressalta que é ainda, “a busca do tratamento justo e do

envolvimento significativo de todas as pessoas, independentemente de sua raça,

cor, origem ou renda, diz respeito à elaboração, desenvolvimento, implementação e

reforço de políticas, leis e regulamentações ambientais.” 17

17ACSELRAD, Henri et al (orgs.). Conflitos Ambientais e Cidadania. Rio de Janeiro: Relume-Dumará,2004; HERCULANO, Selene & PACHECO, Tania. Racismo Ambiental. Rio de Janeiro: FASE, 2006. 

Page 155: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 155/266

148

O movimento por Justiça Ambiental nos Estados Unidos, segundo Herculano(2006), é visto como tendo dois momentos de criação: sendo um em 1978, com LoveCanal, quando uma comunidade de famílias de operários (brancos) da indústriaelétrica, no Niágara, descobriram que estavam vivendo em cima de um aterro deresíduos tóxicos, e passaram desta forma, a lutar por indenizações, por tratamentomédico, pelo direito à informação sobre seu local de vida, constituindo-se emcoalizão de moradores que a seguir deu forma ao Center for Health andEnvironmental Justice (Centro pela Saúde e por Justiça Ambiental)..

E, outro em 1982, devido à revolta da população negra de Warren County,Carolina do Norte (EUA), organizado pelo movimento negro contra a iminência de terem sua vizinhança depósito de material contaminado retirado de outros sítios, e que

se baseou no movimento exitoso por direitos civis dos negros, contra adiscriminação racial.

19 Em texto de 2002 ( Justiça Ambiental: há algo de novo que justifique a Rede?”, mimeo) ACSELRADfalava do movimento sindical como ator decisivo e da necessidade de se obter maior adesão às lutasambientais no seu interior. As questões seriam as contaminações, a chantagem do emprego, achantagem da localização em um contexto no qual o capital tem grande mobilidade geográfica esindicatos e governos não. O foco da demanda por justiça ambiental seria por empregos de alta

qualidade social e ambiental e a tática seria a resistência à exportação da injustiça ambiental atravésda organização em rede interlocal. 

Page 156: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 156/266

149

Portanto, seguindo os ensinamentos de Herculano (2006), chegou-se a

veracidade de que Racismo ambiental é o conjunto de idéias e práticas das

sociedades e seus governos, que aceitam a degradação ambiental e humana, com a

 justificativa da busca do desenvolvimento e com a naturalização implícita da

inferioridade de determinados segmentos da população afetados – negros, índios,

migrantes, extrativistas, pescadores, trabalhadores pobres, que sofrem os impactos

negativos do crescimento econômico e a quem é imputado o sacrifício em prol de

um benefício para os demais. O racismo ambiental seria, portanto, um objeto de

estudo crítico da Ecologia Política (ramo das Ciências Sociais que examina os

conflitos sócio-ambientais a partir da perspectiva da desigualdade e na defesa das

populações vulnerabilizadas). 

Page 157: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 157/266

150

4. INJUSTIÇAS E CONFLITOS AMBIENTAIS EM MARICÁ

4.1 A Relevância das Praias, Dunas, Restingas e Mangues sob a Égide doDireito Ambiental.

Dialogando com MOURA (2009), quando falamos em problemas ambientais

que geram conflitos judiciais na zona costeira, certamente a maior parte deles se dá

nas praias. E, como não podemos falar em praia sem tratar dos ambientes que estão

intimamente ligados a ela, por extensão trata-se também das dunas, restingas e

mangues, pois um dano que ocorra num desses três ambientes afetará também os

outros.

4.1.1. Das Praias 

As Praias, segundo o art. 10, parágrafo 3º da Lei Nacional de Gerenciamento

Costeiro, foram conceituadas como sendo:

• A área coberta ou descoberta periodicamente pelas águas acrescidas

da faixa subseqüente de material detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos

e pedregulhos até o limite onde se inicie a vegetação natural, ou, em sua

ausência, onde comece outro ecossistema.

• A definição legal de praia é importante para que esse bem seja

delimitado, uma vez que diversas questões jurídicas sobre ele podem surgir.

Quando não for possível demarcá-la, a solução é realizar perícia segundo os

parâmetros da Lei 7.661 de 16/05/1988. Logo, o Poder Público deve evitar a

invasão, a privatização ou o desvio de finalidade desse bem que não estejapreviamente delimitado. Já a sua proteção jurídica é garantida pelo art. 3º,

inc.I, da mesma lei.

Page 158: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 158/266

151

• A importância das praias está ligada primeiramente ao lazer, como

forma de diversão, tanto para o banho de mar quanto para práticas esportivas

e sociais. Porém, toda essa recreação à beira-mar faz com que a degradação

desse ambiente costeiro se dê de forma bem acentuada, afinal, a maioria dos

municípios da zona costeira é desprovida de sistemas adequados para coleta

e disposição final dos efluentes líquidos produzidos pelas pessoas que ali se

encontram. Conseqüentemente, o lançamento desses sedimentos se dará no

mar, interferindo na balneabilidade destas praias. Possui também importante

função paisagística, o que gera grande especulação imobiliária, pois a disputa

por imóveis de frente para o mar é grande, apesar de terem um valor mais

elevado. Portanto, do ponto de vista econômico, se faz necessário que a praiase mantenha com suas características naturais.

Ratificando MOURA (2009), o contato direto do mar com a praia poderá

ocasionar a poluição marinha, pois como alerta Robson José Calixto (2005) “a 

principal fonte de poluição marinha está principalmente baseada em terra e 

relacionada à ação antrópica”   Salienta ainda que as atividades socioeconômicas

cujo lixo produzido não têm nem tratamento nem destino controlado como os lixosdepositados pelos veranistas, os esgotos sanitários e os sedimentos e nutrientes são

responsáveis por cerca de 44% da poluição do mar.

Outras causas de degradação do ambiente praiano e marinho são as

construções como barragens e portos, a expansão urbana, as instalações

industriais, as obras de recreação e turismo realizadas na própria praia, a mineração

costeira (retirada de areia), a construção de centros de pesquisas, bem como os

bares e restaurantes erguidos sobre as areias. Essa situação gera problemas não só

ambientais como a poluição marinha e o comprometimento de sua balneabilidade,

mas também problemas sociais ou socioambientais, atingindo, inclusive, os

pescadores, pois não são raras as vezes que a imprensa noticia as graves situações

por que passam as pessoas que vivem da pesca e que em razão da poluição

marinha se vêem privados de seu sustento.

Page 159: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 159/266

152

Por ser a praia um bem público, de uso comum do povo, é livre a sua

utilização por todos. Além disso, por ser patrimônio público, somente poderá ser

apropriada por terceiro em caso de desafetação que deverá ser feita expressamente

por uma emenda à Constituição Federal. Dessa forma, a inalienabilidade é uma

característica inerente aos bens de domínio público e conseqüentemente das praias.

Porém, a realidade nos mostra outra situação bem diferente, como no caso

das residências particulares que são construídas em terrenos limítrofes às praias,

dificultando o acesso a elas. Em tal situação, a melhor solução é, muitas vezes, a

instituição da servidão de passagem, desapropriando-se a praia para que a

população tenha seu acesso ao mar assegurado. Outras situações problemáticas

são as construções de condomínios particulares e fechados à beira-mar, aos quais

somente quem for proprietário do imóvel localizado em seu interior, é que pode

freqüentar a praia cercada pelo condomínio, o que a torna privativa de um grupo

restrito.

Além disso, de acordo com MOURA (2009), freqüentemente vemos nas

praias construções de áreas esportivas, clubes, bares e restaurantes, embora, tais

efeitos sejam contrários à Constituição Federal. Aliás, o parágrafo 1º do art. 10 daLei n° 7.661 de 16/05/1988 deixa claro que a construção de loteamentos na beira da

praia e o conseqüente impedimento de acesso do público são condutas contrárias à

lei, que podem e devem ser coibidas, pois de nada adiantaria a Constituição e as

leis ordinárias de Gerenciamento Costeiro estabelecerem que a praia é bem público

de uso comum do povo se seu uso e acesso puderem ser dificultados. Neste mesmo

sentido de defesa do livre acesso às praias, podemos também destacar o art. 21,

parágrafo 1º, incisos I, II e III do Decreto nº 5.300 de 07/12/2004.Outro ponto de bastante relevância quanto à análise da praia como bem de

todos os cidadãos é o fato de que no Estado do Rio de Janeiro algumas praias são

ocupadas pelas Forças Armadas, permitindo-se nestes locais acessos ao banho e a

atividades esportivas somente a militares ou a convidados previamente

credenciados. Os militares ocupam trechos supervalorizados da orla, como é o caso

da Prainha do Forte Copacabana; a Restinga da Marambaia; as Praias de Dentro e

de Fora na Urca, as Praias de Imbuí, e as Praias do Forte Rio Branco em Niterói.

Page 160: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 160/266

153

Segundo as Forças Armadas, a mesma dá duas justificativas para tal

acontecimento. A primeira é a de que nesses locais há quartéis com acesso direto

às praias e que pela grande quantidade de armamento neles guardado não há

pessoal e infra-estrutura suficiente para garantir a segurança das unidades e dos

banhistas ao mesmo tempo. A segunda justificativa fundamenta-se na afirmação de

que não havendo intervenção urbana essas praias encontram-se com seus

ecossistemas originários totalmente preservados, diversamente do que ocorre com

as praias vizinhas.

A conclusão inevitável a que se chega é a de que estas praias não estariam

bem preservadas se estivessem liberadas para o público. Desse conflito uma

pergunta se impõe, isto é, deve prevalecer a determinação de que a praia é um bem

público de uso comum do povo e, portanto, aberta a todos, ou tem primazia a

proteção ambiental? Neste caso, o bem continua sendo público de uso comum do

povo e pertencente à União, mas seu uso encontra-se restrito, contrariando o que

até agora foi dito. Assim, deve-se utilizar o Princípio da Razoabilidade para avaliar o

que seria de maior relevância. Mariana Passos de Freitas diz que “no conflito de 

interesses deve prevalecer a proteção ao meio ambiente, porém facultando-se o 

acesso ao público, ainda que não se ponha em risco o bem ambiental”. 

Por fim, não podemos deixar de mencionar o art. 54, da Lei 9.605 de

12/02/1998, mais conhecida como Lei de Crimes Ambientais que estabelece como

crime a ação de causar poluição de qualquer natureza desde que esta cause danos

à saúde humana ou a mortandade de animais ou ainda a destruição da flora. Já, o

parágrafo 2º, inc. IV desta mesma lei enumera como qualificadora do crime de

poluição o ato de poluir tornando difícil ou inviável o uso ou acesso às praias.Por tratar-se de bem público federal e em face de sua fragilidade, as

construções e realizações de atividades nas praias, por particulares, sujeitam-se à

autorização do Poder Público, fornecida por um dos entes políticos para atividades

precárias, geralmente de curta duração. Atividades mais prolongadas e de interesse

da coletividade são autorizadas através de permissão de uso, devendo ter também o

aval da Secretaria de Patrimônio da União. Tal autorização deve ser

necessariamente fornecida com vistas ao interesse público. A questão é saber qual

Page 161: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 161/266

154

ente expediria a autorização, já que se trata de competência comum: interesse local

e ao mesmo tempo propriedade do bem por parte da União.

A conclusão através de uma análise exclusivamente constitucional é que, aprincípio, havendo interesse preponderantemente local, o Município é competente,

por ter maior conhecimento das necessidades locais e saber como atingir

plenamente as funções sociais da cidade e o bem comum de seus habitantes. A

União encontra-se muito distante, e a maior parte das atividades a serem realizadas

apenas nos limites do Município não enseja interesse nacional que justifique

autorização a ser expedida pelo Poder Público Federal. Ademais, a competência

administrativa dá-se pela matéria, não pelo domínio de bens. Todavia, a autorização

deve ser feita com cautela, visando ao bem comum e não a interesses puramente

políticos. Devemos salientar, contudo, que a competência conferida ao Município

não é absoluta, pois quando houver claro interesse federal, como nos casos de

envolvimento de interesses da navegação, das comunicações, da defesa nacional,

da política de fronteiras e o relevante interesse coletivo, a União é competente para

autorizar construções e atividades na praia.

Em relação às construções próximas da praia e que podem afetar seu uso,devemos registrar o problema das sombras nas praias e da interferência paisagística

que as enormes construções na orla marítima podem provocar. Além desses

problemas, outros tantos podem surgir em decorrência dessas construções, como

por exemplo, o acúmulo de esgoto doméstico à beira-mar, a dificuldade de

circulação do vento e a grande concentração de veículos. É por isso que diversas

normas estaduais com o objetivo de limitar construções próximas das praias vêm

sendo estabelecidas.Para a construção nas praias torna-se indispensável concessão de licença

por órgão ambiental da Administração Pública, prevista de forma genérica na Lei da

Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei nº 6.938 de 31/08/1981 e especificamente

em relação à Zona Costeira na Lei nº 7.661 de 16/05/1988, mais conhecida como

Plano de Gerenciamento Costeiro. Somente serão passíveis de licenciamento as

obras que não causem alteração das características naturais da zona costeira, pois

o licenciamento privilegia o Princípio da Prevenção, um dos corolários do Direito

Page 162: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 162/266

155

Ambiental, já que está ligado aos conceitos de afastamento de perigo e segurança

das gerações futuras.

Requisito indispensável, corroborado por MOURA (2009) para a concessãoda licença é a realização de prévio Estudo de Impacto Ambiental (EIA), previsto

constitucionalmente no art. 225, parágrafo 1º, inc. IV. Esse estudo limita-se a

atividades que possam causar significativo impacto ambiental. A competência para a

expedição desse licenciamento fixa-se pela abrangência direta do impacto

provocado ou que se pode provocar, logo, o interesse ambiental preponderante é

que determinará o órgão competente.

Foto 11 Praia localizada na APA de Maricá.

Fonte Rovane Domingues

As obras e atividades realizadas sem observância da legislação ambiental

são passíveis de sanção administrativa por parte dos órgãos ambientais dos três

níveis da federação, em face da competência comum do art. 23, inc. VI, da

Page 163: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 163/266

156

Constituição Federal. Sua aplicação deve atentar para o devido processo legal, com

ampla defesa e contraditório, ou seja, dando total liberdade de se defenderem, e

estarem devidamente motivada. Justifica-se sua aplicação imediata já no início do

processo quando a perpetuação da atividade possa continuar causando danos

ambientais. As penas de maior complexidade são o embargo e a demolição da obra.

A primeira é utilizada de forma preventiva, já a segunda, será aplicada com bastante

cautela e motivação suficiente, porquanto sua má utilização pode gerar danos

irreversíveis. Os princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade devem nortear

a aplicação de sanções. Multas também são bastante comuns. O mais razoável

seria sua destinação a um fundo ambiental, dirigido especificamente para atividades

voltadas à preservação da zona costeira, mas na realidade não é o que acontece.

4.1.2 Das Dunas 

São elevações de areia, podendo apresentar-se mais ou menos cobertas por

vegetação. São formadas pelos ventos que vêm do mar carregando a areia fina até

que se estabilizem por uma vegetação pioneira. Sua função é proteger a costa nos

momentos de maior energia, como por exemplo, nas ressacas, pois servem debarreira natural à invasão da água do mar e da areia em áreas interiores e

balneários. Protege também o lençol de água doce evitando a entrada de água do

mar. A fauna é bem escassa nesse ambiente devido às altas taxas de salinidade,

baixas taxas de umidade e instabilidade térmica. Já a vegetação nativa das dunas é

composta principalmente de gramíneas e plantas rasteiras que desempenham papel

importante na sua formação e fixação. São plantas adaptadas às condições

ambientais, com alto índice de salinidade. À medida que a vegetação pioneiracresce, as dunas ganham volume e altura. Com o tempo, outras plantas colonizam o

local, mantendo o equilíbrio ecológico e a estabilidade do cordão de dunas

litorâneas. As plantas de pequeno porte cortam o vento, limitam as cheias e abrigam

a fauna e a flora originais. Logo, a retirada da vegetação acarreta movimentos de

areia carregada pelo vento, que passam a cobrir casas e estradas, podendo

assorear lagoas e rios.

Page 164: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 164/266

157

Em nosso País as dunas estão sendo bastante degradadas não só pelos

loteamentos e edificações que alteram a paisagem, como também pela constante

trilha traçada pelo ser humano que passa por cima das dunas, dispersando sua

areia. Porém, não é somente a ação do homem que prejudica a preservação das

dunas, outro problema bastante comum são os automóveis que passam por cima

das dunas danificando-as violentamente e o que é mais lamentável é que em muitos

balneários passeios e campeonatos com automóveis com rodas especiais são

estimulados como fonte de lazer e atrativo turístico.

Foto 12 Dunas localizadas na APA de Maricá.

Fonte Rovane Domingues

No Código Florestal, apenas a vegetação das dunas é considerada como de

preservação permanente, logo as não vegetadas não têm nenhuma proteção

específica determinada por lei. Todavia tal lacuna foi suprida em parte com a

Resolução nº 341 do Conama, que embora não declare as dunas não vegetadas

Page 165: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 165/266

158

como de preservação permanente, como trata dos casos de atividades e

empreendimentos turísticos sobre elas, os quais, para que sejam autorizados,

devem ser declarados de interesse social e deverão estar previamente definidos e

identificados pelo órgão ambiental competente, com aprovação do Conselho

Estadual do Meio Ambiente. Cada empreendimento deverá ainda ser precedido por

Estudo de Impacto Ambiental. Como motivos para a preservação das dunas, o

Conama aponta o papel que representam na formação e recarga de aqüíferos e no

controle de erosão costeira, além da beleza de sua paisagem que propicia o turismo.

Foto 13 Vegetação das Dunas Localizadas na APA de Maricá.

Fonte Rovane Domingues

Além das diversas disposições legais existentes a respeito deste assunto,

existe também o Projeto de Lei nº 1.197 de 05/06/2003 que considera todas as

dunas como espaços territoriais especialmente protegidos. De acordo com o Projeto,

nestas regiões serão proibidas quaisquer atividades que comprometam ou ameacem

a sustentabilidade ambiental. O texto exige licença ambiental e audiências públicas

com as comunidades para a construção de vias de transporte, execução de projetos

de uso do solo e extração de recursos minerais potencialmente causadores de

Page 166: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 166/266

159

impacto ambiental naquelas áreas. Para quem descumprir essas determinações a

proposta prevê como tipo penal a detenção de um a quatro anos, aumentada de

50% se o crime for praticado por funcionário público ou durante a noite. A mesma

punição é prevista para o agente político ou público que se omitir na adoção de

medidas de conservação de dunas ou falésias. No caso de empresa infratora, as

penalidades previstas são: multa, suspensão parcial ou total das atividades,

interdição temporária do estabelecimento ou da obra e proibição de contratar com o

Poder Público. A empresa pode ser condenada ainda à prestação de serviços à

comunidade, como o custeio de programas ambientais, execução de obras de

recuperação de áreas degradadas, manutenção de espaços públicos e contribuição

a entidades ambientais ou culturais públicas.

Além dessas disposições, temos também o art. 50 da Lei 9.605 de 13/02/1998

que sujeita o infrator a pena de seis meses a um ano de prisão e multa ao dispor

como crime o ato de “destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou 

vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial 

preservação” . Como podemos observar, a destruição das dunas pode acarretar

conseqüências danosas não só para o meio ambiente como também para quem

colaborou para sua destruição, aliás, neste sentido, há inúmeros processos que

tratam desses casos em nossos Tribunais.

4.1.3 Das Restingas 

No tocante a Restinga se torna oportuno, primeiramente, analisarmos seu

conceito, algumas de suas características como, por exemplo, a sua fauna e flora,

para que possamos ter idéia do quanto este ecossistema é importante para a

manutenção do equilíbrio ecológico e então perceberemos por que não raras vezes

elas se tornam direta ou indiretamente objeto de situações que envolvem o mundo

 jurídico. Assim, para darmos início a esta análise, passamos ao entendimento do

que sejam propriamente as restingas, pois, afinal, diversos autores e resoluções

tentam defini-las. A dificuldade de sua definição está no fato de existirem diversos

significados para essa denominação, pois elas podem ser conceituadas sob o

aspecto legal, geológico, náutico, botânico e ecológico, por exemplo. Entretanto,

podemos destacar o conceito dado por Carlos Gomes de Carvalho que definerestinga como sendo uma “Acumulação arenosa litorânea, paralela à linha da costa,

Page 167: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 167/266

160

de forma geralmente alongada, produzida por sedimentos transportados pelo mar,

onde se encontram associações vegetais mistas [...]” (1991, p. 303).

Geralmente apresenta vegetação baixa, criando, assim, variações climáticasque conferem a ela grande diversidade ambiental e biológica. Seu solo arenoso é

muito pobre, contudo sua vegetação serve de suporte vital para todo esse

ecossistema. A preservação do solo arenoso também é importante, pois, sendo

altamente poroso, a água da chuva infiltra-se nele com facilidade, reduzindo os

riscos de enchentes e os custos com obras de drenagem.

Foto 14 Restinga na APA de Maricá

Fonte Rovane Domingues.

Quando essa vegetação é destruída, o solo sofre intensa erosão pelo vento, o

que ocasiona a formação de dunas móveis com riscos para o ambiente costeiro epara a população.

Page 168: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 168/266

161

Apesar de, em geral, não ter uma flora própria, as restingas se destacam por

sua importância ornamental e paisagística, uma vez que nela podemos encontrar

uma variedade de orquídeas, bromélias e outras epífitas. A riqueza de sua

vegetação manifesta-se também nas espécies de frutos comestíveis, entre os quais

o caju, a pitanga e o araçá. Cabe também destacar a grande importância medicinal

das restingas, pois ela guarda informações ainda desconhecidas do público, mas

que estão sendo objeto de pesquisas.

Quanto à fauna, assim como a flora, a riqueza é imensa com grande

ocorrência de endemismo. Podem, ainda, ser encontrados nas restingas animais

como o caranguejo, a viúva negra, o gavião de coleira, o gafanhoto grande, a barata

do coqueiro, o sabiá da praia, perereca, jararacuçu do brejo. Cabe aqui salientar

também que em zonas urbanas costeiras, a restinga preservada facilita o controle de

espécies com potencial para pragas como cupins, formigas, escorpiões e baratas.

Figura 16 Anfíbio encontrado na APA de Maricá.

Fonte Google.

Page 169: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 169/266

162

Figura 17 Figura 18

Figura 19

Fonte file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Desktop/Reportagens%20MARICA.htm 

Uma das formas de degradação é a que resulta da retirada de plantas

ornamentais nativas desses locais, como as bromélias e as orquídeas, pois talprática representa grave ameaça à sobrevivência de muitas dessas espécies.

Apesar de ser aceita com muita passividade, na verdade isto constitui crime previsto

no art. 49 da Lei n° 9.605 de 12/02/1998.

Page 170: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 170/266

163

Foto 15 Bromélia encontrada na APA de Maricá.

Fonte Rovane Domingues

As dunas e as restingas, por sua fixação em frente ao mar, são áreas

valorizadas e alvo de especulação imobiliária. Há muitos casos de destruição desseslocais para a construção de hotéis, residências e centros de lazer, embora se saiba

dos sérios problemas ambientais que isso acarreta. Por isso, acertadamente a

 jurisprudência tem defendido a regularidade de embargos ou interdição de

atividades aplicadas por órgão ambiental em relação a obras que destroem a

vegetação nativa de restinga e dunas.

As dunas e restingas são também protegidas em algumas Constituições

Estaduais brasileiras, que, além disso, determinam sua condição de área depreservação permanente, como exemplos temos os Estados da Bahia, o Espírito

santo, o Maranhão, a Paraíba, o Rio de Janeiro e o Sergipe. Além disso, há

legislações que também protegem os ecossistemas como a do estado do Rio

Grande do Norte. Essas regiões podem ser protegidas também por lei municipal,

que pode considerar a sua área de incidência como zona de preservação

permanente, em conformidade com o Plano Diretor, tal qual ocorre no município de

Florianópolis no estado de Santa Catarina.

Page 171: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 171/266

164

Diante da grande importância tanto das dunas quanto das restingas para a

manutenção de um ambiente ecologicamente equilibrado, podemos dizer que a

regra é a de que elas não poderão ser exploradas. A única exceção a esta

determinação seria o previsto pelo Código Florestal que é a o caso de utilidade

pública ou interesse social, desde que devidamente caracterizados e motivados em

procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional

ao empreendimento proposto.

Alguns autores e autoridades ambientais, para suprir esta situação, por

inconformismo ou para tentar conter efetivos exageros, interpretam que o artigo 50

da Lei de Crimes Ambientais se aplica a toda e qualquer vegetação que possua

algum mecanismo de especial proteção, quando se lê:

“Art. 50 – Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora 

de dunas, protetora de mangues, objeto de especial proteção.

Pena –…”  

Quanto aos termos “florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora” ,

salvo raras interpretações, não existe dúvida de que se referem a uma ampla

relação de qualquer tipologia vegetal de proteção a fixação das dunas.

Estas dunas tipificadas, ainda quando servindo de proteção a mangues, neste

caso podem passar para a condição de áreas de preservação permanente, após ato

que as transformem em objeto de especial proteção.

O Código Florestal esclarece, ainda, que a vegetação é considerada de

preservação permanente pelo simples efeito da Lei, quando:

“Art. 2° – Consideram-se, de preservação permanente, só pelo efeito desta lei, as 

florestas e demais formas de vegetação natural situadas: 

f) nas “restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;” 

Page 172: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 172/266

165

Portanto, este tipo de situação é específica e a vegetação natural, ao ser

cortada ou danificada, é tipificada como crime nos artigos que as protegem quando

situadas em áreas de preservação permanente, criando ainda o conflito de que a

letra “f” do artigo limita a condição de APP da vegetação nas restingas, só quando

na função de fixadora de dunas ou estabilizadoras de mangues. Como o foco é a Lei

de Crimes Ambientais, vou me limitar ao artigo em análise, sem o conflito gerado

pelo artigo 4°, parágrafo 5°, do Código Florestal20.

Já o artigo 3°, do mesmo Código Florestal, cria uma situação diferenciada

para as “dunas” :

“Art. 3° – Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando assimdeclaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação 

natural destinadas:  

b) a fixar dunas;… ” Ou seja, qualquer forma de floresta ou vegetação natural, em

dunas, só será uma APP quando declarada como tal, por ato do Poder Público, até

mesmo, por que dunas, em muitas regiões, podem ser móveis e se deslocar para

áreas povoadas ou utilizadas. Neste movimento não podem por si só transformar a

área em APP ou seus ocupantes, em criminosos.

O ato de declarar uma vegetação ou floresta de determinada área em APP,

por “fixar dunas” deve ser específico, ou muito claro sobre a que dunas, regiões ou a

que tipologia se refere.

Como as restingas estão protegidas automaticamente como APPs no artigo

2° do Código Florestal, foi necessário um tipo penal para a vegetação em duna, no

caso dela estar servindo de fixadora desta duna, e ainda servindo de proteção amangues, e que tenham sido declaradas como tal por ato especifico do Poder

Publico, e passem a ser áreas “objeto de especial proteção” .

20 Lei 4771/65 – Código Florestal- Art. 4o A supressão de vegetação em área de preservaçãopermanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social,devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistiralternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto. (Redação dada pela Medida Provisória

nº 2.166-67, de 2001). § 5o A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, ou de dunas emangues, de que tratam, respectivamente, as alíneas "c" e "f" do art. 2 o deste Código, somentepoderá ser autorizada em caso de utilidade pública. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de2001). 

Page 173: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 173/266

166

Quanto à Lei de Crimes Ambientais, ela sem dúvida garantiu a proteção às

dunas, quando na situação descrita, incluindo também as florestas plantadas, no tipo

penal do artigo 50.

4.1.4 Dos Mangues e a Convenção de Ramsar 

Os Mangues ou áreas com Influência Fluvial segundo o Caderno nº 22, da

Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (2003, pág. 46), são os brejos e luzirias que

se formam nos baixos cursos dos rios. A vegetação predominante é constituída por

herbáceas helóbias, das quais a mais característica é a cosmopolita taboa

(Typhadomingensis - Typhaceae). Os manguezais, os brejos e as lagunaslitorâneas barradas por cordões de restingas constituem áreas úmidas de especial

importância para a avifauna migratória.

Segundo a Revista Ambiente Brasil, o Brasil tem uma das maiores extensões

de manguezais do mundo. Estes ocorrem ao longo do litoral Sudeste-Sul brasileiro,

margeando estuários, lagunas e enseadas, desde o Cabo Orange no Amapá até o

Município de Laguna, em Santa Catarina. Os mangues abrangem uma superfície

total de mais de 10.000 km², a grande maioria na Costa Norte. O Estado de SãoPaulo tem mais de 240 km² de manguezal.

Conforme a Revista o mangue é um ecossistema particular, que se

estabelece nas regiões tropicais de todo o globo. Origina-se a partir do encontro das

águas doce e salgada, formando a água salobra. Este ambiente apresenta água

com salinidade variável, sendo exclusivo das regiões costeiras.

No Brasil, os mangues são protegidos por legislação federal, devido àimportância que representam para o ambiente marinho. São fundamentais para a

procriação e o crescimento dos filhotes de vários animais, como rota migratória de

aves e alimentação de peixes. Além disso, colaboram para o enriquecimento das

águas marinhas com sais nutrientes e matéria orgânica.

No passado, a extensão dos manguezais brasileiros era muito maior: muitos

portos, indústrias, loteamentos e rodovias costeiras foram desenvolvidos em áreas

de manguezal, ocorrendo uma degradação do seu estado natural.

Page 174: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 174/266

167

É uma pena que esse tão importante ecossistema sofra intensa exploração

pelo homem, que retira mariscos, ostras e peixes em quantidades elevadas.

Derrubam-se árvores para a extração do tanino, da casca e para fazer carvão. O

mangue é alvo da especulação imobiliária, que aterra suas áreas para a construção

de casas, marinas e indústrias. Suas águas são alvo de esgotos domésticos e

industriais.

Os manguezais fornecem uma rica alimentação protéica para a população

litorânea brasileira: a pesca artesanal de peixes, camarões, caranguejos e moluscos,

que são para os moradores do litoral a principal fonte de subsistência.

O manguezal foi sempre considerado um ambiente pouco atrativo emenosprezado, embora sua importância econômica e social seja muito grande. No

passado, estas manifestações de aversão eram justificadas, pois a presença do

mangue estava intimamente associada à febre amarela e à malária. Embora estas

enfermidades já tenham sido controladas, a atitude negativa em relação a este

ecossistema perdura em expressões populares em que a palavra mangue,

infelizmente, adquiriu o sentido de desordem, sujeira ou local suspeito. A destruição

gratuita, a poluição doméstica e química das águas, derramamentos de petróleo eaterros mal planejados são os grandes inimigos do manguezal.

Page 175: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 175/266

168

Foto 16 Mangue.

Fonte National Geographic Brasil.

Nos manguezais, as condições físicas e químicas existentes são muito

variáveis, o que limita os seres vivos que ali habitam e freqüentam. Os solos sãoformados a partir do depósito de siltes (mineral encontrado em alguns tipos de

solos), areia e material coloidal trazido pelos rios, ou seja, um material de origem

mineral ou orgânica que se transforma quando encontra a água salgada.

Estes solos são muito moles e ricos em matéria orgânica em decomposição.

Em decorrência, são pobres em oxigênio, que é totalmente retirado por bactérias

que o utilizam para decompor a matéria orgânica. Como o oxigênio está sempre em

falta nos solos do mangue, as bactérias se utilizam também do enxofre para

processar a decomposição.

Um forte aliado para a preservação dos Mangues é a Convenção de Ramsar

ou Convenção das Terras Húmidas, pois é um tratado intergovernamental cuja

missão é a “conservação e uso correto das terras úmidas através da ação nacional e

cooperação internacional como meio de se alcançar o desenvolvimento sustentável

em todo mundo. Adaptada na cidade Iraniana de Ramsar, em 2 de Fevereiro de

1971, entrou em vigor em 1975.

Page 176: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 176/266

169

De acordo com a convenção de Ramsar as áreas úmidas são áreas de

pântanos, charcos, terras turfosas ou águas, quer naturais ou artificiais,

permanentes ou temporárias, com água corrente ou estática, doce, salobra ou

salgada, incluindo áreas de águas marinhas cuja profundidade na maré baixa não

exceda os 6 metros” e, Terra Úmida são zonas de transição entre sistema terrestre e

aquático, onde a água é o fator primário controlador do ambiente, das plantas e da

vida animal associada. 

A Convenção teve como objetivo delinear, promover e desenvolver ações

nacionais e a cooperação internacional para o uso correto e racional das terras

úmidas e seus recursos de modo a atingir o desenvolvimento sustentável, através da

distribuição equitativa dos recursos e a redução da pobreza no mundo

Os Princípios da Convenção são os seguintes:

• Adotar medidas de proteção das terras úmidas em beneficio das atuais e

futuras gerações;

• Promover o desenvolvimento sustentável;

• Promover sinergias com outras convenções e processos relacionados com a

diversidade biológica;

• Aplicar o princípio de uso racional na gestão integrada da água (a função das

terras húmidas na manutenção do ciclo hídrico, as funções ecológicas, uso na

agricultura e seu vínculo com a segurança alimentar e o alívio a pobreza.

As vantagens da adesão para os países é que eles podem solicitar

assistência financeira ao Secretariado da convenção para executar projetos deconservação e uso racional das terras úmidas bem como realizar atividades que

visam a proteção do meio ambiente das áreas úmidas e que recorram para o alívio

da pobreza ao fundo Ramsar de pequenas subvenções, ao fundo das terras

húmidas para o futuro, ao GEF (Global Environmental Found/Fundo Mundial do

Ambiente) através do Small Grants Found e outros parceiros tais como a IUCN

(União Nacional para a Conservação da Natureza), Wetland Internacional, WWF

(World WildlifeFundation/Fundação Mundial para a Natureza), Bird Life Internacional;

Page 177: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 177/266

170

As zonas identificadas como tendo problemas para a manutenção das

características ecológicas das terras úmidas, poderão ser inscritas pelos respectivos

países na lista especial “Registro de Montreal” para beneficiarem da assistência

técnica na resolução dos problemas.

As obrigações dos países membros são Identificar e designar pelo menos um

lugar que reúna os critérios para ser incluído na lista RAMSAR e assegurar a

manutenção das suas características ecológicas;

• Promover atividades de conservação e uso racional das terras úmidas e seus

recursos de modo a atingir o desenvolvimento sustentável e a reduzir a

pobreza.

• Incluir a conservação das terras úmidas no planejamento do uso do território

para promover o uso prudente de todas terras úmidas dentro do território;

• Promover a capacitação em matéria de investigação, gestão e uso racional

das terras úmidas;

• Estabelecer reservas naturais das terras húmidas, promover a sua

investigação e uso racional;

• Consultar outras partes sobre a implementação da Convenção, especialmente

as terras úmidas trans-fronteiriças, os sistemas aquáticos compartilhados;

• Conceber e programar projetos.

• Designar uma autoridade administrativa como ponto focal e formar Comitês

Nacionais de Gestão;

No âmbito dos compromissos assumidos perante a Convenção de Ramsar,

em outubro de 2003 o Brasil instituiu o Comitê Nacional de Zonas Úmidas, composto

pelo Ministério do Meio Ambiente e outros setores do governo, pela sociedade civil

organizada, academia e setor privado, que participam da tomada de decisões e

definição de diretrizes para a conservação e o uso sustentável das zonas úmidas

brasileiras. Até o momento, o Brasil possui oito sítios que integram a Lista de Zonas

Úmidas de Importância Internacional, segundo propugna o artigo 2º da Convenção:os Parques Nacionais do Pantanal Mato-grossense, Araguaia e Lagoa do Peixe; a

Page 178: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 178/266

171

Reserva Particular do Patrimônio Natural do SESC Pantanal, as Áreas de Proteção

Ambiental da Baixada Maranhense e das Reentrâncias Maranhenses; o Parque

Estadual Marinho do Parcel de Manuel Luis e a Reserva de Desenvolvimento

Sustentável de Mamirauá. Ao mesmo tempo, o Brasil tem diversas unidades de

conservação, tanto federal como estadual ou municipal que, embora não constem da

lista da Convenção, protegem a diversidade de ecossistemas úmidos encontrados

em território brasileiro (artigo 4°).

Em atenção ao Plano Estratégico da Convenção, está em fase de execução o

projeto “Fortalecimento de capacidade institucional dos Sítios Ramsar brasileiros”

que visa consolidar as unidades de conservação incluídas pelo Brasil na Lista

Ramsar. O Projeto está elaborando planos de ação a partir da visão de gestores

governamentais e não-governamentais, representantes de movimentos sociais e da

academia. Foram definidos alvos de conservação para cada área, identificadas as

fontes de impacto e estabelecidas estratégias e ações prioritárias. O Projeto tem

como parceiros as ONGs Mater Natura e TNC e conta com o apoio financeiro do

Fundo de Pequenas Subvenções da Convenção de Ramsar.

4.2 Os Conflitos na APA de Maricá.A região é hoje palco de uma disputa acirrada envolvendo projetos de

preservação ambiental propostos pelas diversas organizações ambientalistas

maricaenses e fluminenses, e o projeto de construção de um mega resort na área

por um grupo de investidores luso-espanhóis. No centro do conflito encontra-se a

comunidade bicentenária de pescadores do Zacarias, que depende quase que

completamente do sistema lagunar para garantir a sua estabilidade e permanência

no local.

Segundo Mello e Vogel (2004) drama social é o conflito que, com extensão e

intensidade variáveis opõe pessoas ou grupos, no seio de uma totalidade. É um

conflito em que as partes invocam, seja a lealdade em princípios diferentes, seja

uma regra comum, de cuja violação uma é acusada pela outra, seja, ainda, o direito

a posição de autoridade ou privilégio, estabelecidos na Lei ou no costume.

Dramas sociais são, pois, processos, onde o que está em jogo é a

continuidade do grupo. Com efeito, o agravamento da crise pode levar suasecessão, em dois ou mais segmentos, doravantes rivais, à descontinuidade no

Page 179: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 179/266

172

tempo, entretanto, pode acrescentar-se uma possível descontinuidade no espaço.

Quando isso acontece, parte do grupo ou todas as suas frações vêem-se privadas

de seu assentamento ou até mesmo de seu território.

Como tanto outros redutos submetidos ao assédio, Zacarias não conseguiu

resistir incólume ao cerco da Companhia de Vidros do Brasil (Covibra) na década de

1930.

Muito tempo se passou, quase quatro décadas até que um dia apareceram

uns homens dizendo que os pescadores deviam abandonar Zacarias, porque não

tinham direito à terra. A pressão para que deixassem o lugar foi aumentando, até

que, finalmente em 1975, sobre as ordens de Oficial de Justiça e apoio policial,

peões da COVIBRA derrubaram a primeira casa, sendo que seus moradores foram

obrigados a deixar sua moradia às pressas.

Num primeiro momento, o confronto aberto evidenciou a existência do

conflito, no segundo, ficou patente o envolvimento da comunidade na contenda. Daí

a sensibilidade exacerbada da fronteira social.

Quando à investida da companhia pela violência acrescentou-se a incídia das

promessas, alguns trocaram as suas inscrições consuetudinárias na praia daZacarias por títulos de propriedade e casas de tijolo numa área próxima, a certa

distância das margens da Lagoa do Bacopari.

Outros deixaram para trás suas casas familiares e confrades e aderiram à

companhia, passando a defendê-la e a trabalhar para ela. Abandonaram o seu

ofício de pescadores por um emprego de carteira assinada, como serventes,

pedreiros, vigias ou até mesmo capatazes de obra.

Desse ponto de vista, a história de Zacarias trouxe consigo o fracionamento

do grupo distinguindo “os que se renderam”, “os que se venderam” e “os que

lutaram”. Com a segmentação espacial havia-se instaurado uma oposição moral.

Oposição rabatida no terreno sobre a forma de dois assentamentos com o mesmo

nome, mas não com o mesmo valor.

Um drama social leva à descoberta de muitas coisas. Através de episódios

dramáticos a vida da sociedade estudada adquiriu um perfil processual onde se

delineiam não só os valores axiomáticos da cultura de um grupo mas os seus modos

de atualização e hierarquização.

Page 180: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 180/266

173

Em 1975, graças a uma novela de televisão (Fogo sobre Terra) que projetou o

cenário de lagoas e restingas de Maricá em escala nacional, a avidez da procura

despertou a cobiça dos especuladores que começaram a multiplicar os loteamentos.

As areias da restinga começaram a ser retalhadas por uma urbanização predatória,

que degradava os “valores ecológicos”, descaracterizando a paisagem e destruindo

a base econômica do Município.

As dragas revolviam o fundo da lagoa enquanto os tratores iam devastando

os morros limítrofes para aterrar suas margens. Tudo com o apoio das autoridades

municipais.

Os eventos consecutivos de um drama social, jamais se fazem esperar, uma

vez desencadeado o processo, vários atores começaram a se incorporar ao conflito.

Um advogado impetrou uma ação para garantir a salvaguarda dos direitos dos

pescadores, alegando uma motivação altruísta, porém o editor do Jornal Tribuna da

Imprensa acusou o empresário rotulando-o de aventureiro e mercenário, por ter

negócios em várias partes do mundo.

O turismo então se revelou como problema, não só para os pescadores,

causando apreensão com a ocupação da restinga. O número de pessoasconstruindo aumentou muito desde a novela. Cerca de 30 projetos davam entrada

na prefeitura por mês.

A partir de 1978, os habitantes da praia de Zacarias, cerca de 40 famílias de

pescadores, passaram a viver sob um virtual estado de Sítio. Não podiam construir,

nem empreender melhorias em suas casas. E, fazia parte das técnicas de cerco e

intimidação, negar ao povoado acesso a energia elétrica, cujas linhas de

transmissão passavam a pouco mais de 200 metros.A comunidade de Zacarias situa-se há mais de dois séculos na região,

localizada dentro da Área de Proteção Ambiental (APA), na margem da Lagoa de

Maricá, ocupando uma faixa com cerca de 100 metros de largura. “Escondido entre

a Ponta da Pedra e a Ponta do Capim, o casario do povoado amoldava-se à

vegetação baixa da restinga”. (Mello e Vogel, 2004, p. 29).

Page 181: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 181/266

174

A APA foi criada pelo Decreto nº 7230 /1984, do então Governador Leonel de

Moura Brizola e jamais recebeu do poder público a atenção proporcional à sua

importância. Pelo contrário, apesar de o decreto de sua criação ter proibido o

parcelamento de terras para fins urbanos e a construção de edificações no local, a

área permaneceu nas mãos de particulares. Sua posse foi sendo transferida entre

diversas empresas, até ser adquirida pela MadriLisboa/IDB do Brasil, em 2006.

Foto 17 Placa Considerando a Área como de Preservação Ambiental.

Fonte Rovane Domingues

Os pescadores, devido às restrições ficaram constrangidos, pois vão

diariamente à lagoa a fim de retirar o pescado do qual se alimentam e com o qual

garantem a subsistência de suas famílias; a construção civil é outro ramo no qual

eles ocasionalmente, se empregam a fim de complementar o orçamento familiar.

No entanto, devido à ameaça de destruição daquele ecossistema pelas

propostas de investimentos da MadriLisboa, os pescadores se organizaram em

torno da Associação Comunitária de Cultura e Lazer dos Pescadores de Zacarias

(ACCLAPEZ) e, com o apoio de diversas instituições ambientalistas, ONGs,sindicatos, redes, associações e pesquisadores universitários, têm lutado pela

Page 182: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 182/266

175

criação de um mosaico de unidades de conservação no local, o qual poderia impedir

que empreendimentos danosos ao frágil equilíbrio da restinga e do sistema lagunar

sejam novamente propostos para a APA. Entre as propostas para atingir esse

objetivo estão a criação de um Parque Natural Municipal, uma Reserva Extrativista

para a Pesca Artesanal e Área de Proteção Ambiental, que permita o uso

sustentável de uma parte da área de amortecimento do Parque Natural - que

abrangeria uma parcela do Jardim Atlântico, a fazenda da Manchete, São José do

Imbassaí, Ponta Grossa, Itapeba, Mumbuca, parte do Centro, Araçatiba, Boqueirão,

Barra de Maricá e Zacarias.

Segundo a definição do SNUC, a Reserva Extrativista está prevista no artigo

14, inciso IV da Lei 9.985 de 2000, definindo-a como sendo uma área utilizada por

populações tradicionais, cuja sobrevivência baseia-se no extrativismo e,

complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de

pequeno porte. Tem como objetivos básicos proteger os meios da vida e a cultura

dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da

unidade. As áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas.

No Brasil, a Reserva Extrativista é gerida por um conselho deliberativo,presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por

representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das

populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e

no ato de criação da unidade.

Esta batalha encontra empecilhos diante de um executivo estadual favorável

ao empreendimento hoteleiro. Até 2007, a APA de Maricá sequer possuía um plano

de manejo, o qual foi instituído por decreto pelo Governador Sérgio Cabral Filho, emdezembro daquele ano.

Esse plano de manejo sofre severas críticas por parte do movimento social de

Maricá, de estudiosos e de ambientalistas por ser completamente distinto daquele

construído durante as audiências públicas promovidas pela Comissão Estadual de

Controle Ambiental (CECA) e ter uma série de erros técnicos e inconsistências em

relação à legislação ambiental fluminense e o SNUC.

Page 183: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 183/266

176

O problema principal é a permissão de edificações em áreas erroneamente

identificadas como áreas degradadas, mas que na verdade constituem trechos de

vegetação nativa da restinga. Outro ponto crítico é o fato de o plano de manejo ter

sido elaborado sem que fosse instituído um Conselho Gestor para a APA, o que

inviabiliza na prática a execução e fiscalização do mesmo.

Foto 18 Imóveis construídos ao longo da APA de Maricá

Fonte Rovane Domingues.

Considerando que isso se deu antes da criação do Sistema Nacional de

Unidades de Conservação (SNUC) e num período em que o movimento

ambientalista brasileiro ainda estava se consolidando (após um período de

desenvolvimentismo radical preconizado pelo regime militar, o qual ignorava

qualquer tipo de precaução ambiental em nome da geração de divisas), pode-se

afirmar que a APA foi importante no cenário das lutas ambientais fluminenses.

Entretanto, se a criação da APA inviabilizou os projetos para o local e garantiu

a permanência da comunidade pesqueira de Zacarias em seu território tradicional, a

mesma não garantiu o caráter e o controle público necessários à perenidade de sua

preservação.

Page 184: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 184/266

177

Foto 19 Associação dos Pescadores de Zacarias.

Fonte Rovane Domingues

Ao mesmo tempo em que a APA permaneceu uma propriedade privada, não

se instituiu um Conselho Gestor para sua administração e fiscalização, deixando-a

vulnerável a novos ataques da especulação imobiliária e novos projetos de

privatização de sua biodiversidade e da beleza do ecossistema lagunar. Esses

benefícios, usufruídos diariamente pelos pescadores da comunidade, se tornam aomesmo tempo a fonte da existência daqueles que ali habitam há centenas de anos,

e um atrativo turístico, motivo pelo qual também atrai investidores do ramo hoteleiro.

Page 185: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 185/266

178

Foto 20 Empresa Brasileira de Infra Estrutura Aeroportuária localizada na APA de Maricá.

Fonte Rovane Domingues

Durante os primeiros 20 anos de existência da APA, os pescadores da

comunidade de Zacarias e os freqüentadores das praias de Maricá conviveram em

relativa harmonia (só ameaçada pelos problemas ocasionados pelo lixo que é

deixado no local, o qual contribui para a degradação da lagoa), testemunhando o

crescimento do município. Atualmente, Maricá conta com aproximadamente 120.000

habitantes e é um dos principais destinos turísticos da região metropolitana

fluminense, tendo-se consolidado como pólo do turismo de veraneio no estado,

limítrofe à região dos Lagos.

Inicialmente não se sabia exatamente quem seria o novo dono do local. O

mistério permaneceu entre os moradores, pois nem os guardas contratados, nem

tampouco a prefeitura local informavam quem seria o proprietário da área. Esse

mistério começou a ser desvendado, quando um dos administradores do Grupo Dico

Harisa Obrum, Miguel de Almeida, lançou o empreendimento do mega resort durante

o Salão Imobiliário de Madri, em maio de 2007.

Page 186: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 186/266

179

Entre os problemas apontados nesse plano pelas entidades ambientalistas e

pesquisadores, está ainda a identificação de áreas de vegetação de restinga como

áreas degradadas e a permissão para construções nessas áreas. Na prática, isso

abria uma brecha legal para o licenciamento ambiental do resort .

O Plano decretado não considera a Lei do Bioma Mata Atlântica — Lei nº 11

428 de 22 de dezembro de 2006 —, artigos 2º, 3º (incisos II, V, VI e VIII); 4º, 5º, 6º,

7º, 9º, 10º, 11º, 13º, 20º e 30º, assim como o Código Florestal —Lei nº 4.771 de 15

de setembro de 1965 —, artigos 1º, 2º e 3º e o Plano Nacional de Gerenciamento

Costeiro — Decreto nº 5.300 de 7 de dezembro de 2004 —, artigos 2º ( incisos IV e

XIV), 5 º (incisos IX e X), 6º (incisos I, II e IV) 23º (inciso II, parágrafos 1º e 2º), que

atende à convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar da qual o Brasil é

signatário.

O Plano de Manejo contém equívocos graves, como o de considerar a

vegetação rasteira (típica do ecossistema em questão) como área degradada, sujeita

à ocupação urbana. O mesmo acontece em áreas desprovidas de vegetação, como

em alguns campos de dunas, também consideradas como áreas degradadas

quando na verdade são características do mesmo ecossistema. Inclui-se ainda que

estas duas porções correspondem ao segundo cordão arenoso, que é o mais antigo,

logo, um elemento estrutural da feição geomorfológica, além de ser um fundamental

aporte de areia para a defesa e equilíbrio da costa do estado do Rio de Janeiro e da

Região Sudeste.

Desde então, o movimento ambientalista local e os pescadores têm

intensificado suas ações a fim de impedir a concretização do projeto. Entre elas está

a articulação política com outros grupos e entidades de expressão nacional e até

internacional, articulação com grupos de pesquisa universitários, especialmente

aqueles relacionados às áreas mais sensíveis do empreendimento, como os

impactos sociais e ambientais, divulgação desses possíveis impactos entre a

população maricaense, de modo a garantir seu apoio na luta contra o resort (o que

tem se revelado uma dura tarefa, na medida em que uma parte significativa da

população tem corroborado o discurso de desenvolvimento e geração de empregos

da empresa), e a mobilização de parceiros e apoiadores em torno de projetos

Page 187: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 187/266

180

alternativos para o local, como o projeto de substituição da APA por um mosaico de

unidades de conservação, tendo em vista que o atual status da área não assegura a

proteção integral do ecossistema, nem garante o acesso dos pescadores aos

recursos naturais de que necessitam. Essa proposta inclui:

• A criação do Parque Natural Municipal da Restinga de Maricá, que se estenda

pelas áreas do ecossistema composto pelos cordões arenosos, dunas, praias,

brejos e vegetações de restinga, além de tabuleiros costeiros, falésias, mata

atlântica e as suas áreas dos sítios históricos e arqueológicos,

• A criação de uma Reserva Extrativista para a Pesca Artesanal, que inclua a

comunidade pesqueira de Zacarias e parte do sistema lagunar de Maricá,permitindo que a comunidade tenha acesso ao pescado e não tenha sua

subsistência novamente ameaçada no futuro,

• A criação da Área de Proteção Ambiental (APA), que consiste numa Unidade

de Conservação de Uso Sustentável com o objetivo de regular o uso do solo

de parte da área de amortecimento do Parque, que abrange: uma parcela do

Jardim Atlântico, a fazenda da Manchete, São José do Imbassaí, Ponta

Grossa, Itapeba, Mumbuca, parte do Centro, Araçatiba, Boqueirão, Barra de

Maricá e Zacarias.

A aprovação dessas alternativas esbarra na atual política de desenvolvimento

do poder executivo brasileiro, na qual as questões da proteção ambiental e da

garantia da subsistência das comunidades tradicionais são tratadas como

empecilhos e entraves ao desenvolvimento, a serem contornados de forma aviabilizar os projetos que trarão crescimento econômico ao país.

Outro fator de extrema relevância são as recentes transformações

econômicas situadas no estado do Rio que se devem aos novos investimentos

industriais, sobretudo petrolífero, naval e siderúrgico. Em especial, o Leste

Metropolitano, que se apresenta com um dinamismo significativo em virtude da

revitalização da indústria naval e, principalmente, da implantação do Complexo

Petroquímico do Rio de Janeiro – COMPERJ, nos municípios São Gonçalo e de

Itaboraí, que se iniciaram em 2006.

Page 188: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 188/266

181

A atividade imobiliária já se apresenta com uma intensa atuação na região

com entrada de capitais oriundos de outros estados, como São Paulo e Minas

Gerais, e do exterior em decorrência destes investimentos. Tal fato é um importante

marco neste setor no Leste Metropolitano, que até então era marcado pela presença

de capitais locais que atuavam no mercado de terras (diversos loteamentos) e na

construção civil. Embora a inserção dos bancos privados no financiamento

imobiliário seja um elemento fundamental neste fenômeno, as transformações

socioeconômicas regionais são as maiores motivadoras deste novo processo em

curso.

Assim se destaca, como supramencionado, o mega projeto imobiliário-

turístico do tipo resort de capital luso-espanhol no litoral de Maricá, especialmente

dentro da Área de Proteção Ambiental. Esta modalidade de empreendimento já é

uma realidade nas áreas costeiras do estado, como em Angra dos Reis,

Mangaratiba e Paraty, e atualmente em Cabo Frio e Búzios, porém é uma novidade

no contexto metropolitano. Outro elemento marcante é a resistência da sociedade

local e da comunidade científica na implantação deste investimento que resultou

num conflito ainda em curso.

Sendo assim, se analisa os fatores econômicos e espaciais que induzem o

processo em tela diante das distintas maneiras de organização e ação social, com

fim de propiciar a identificação dos atores econômicos, especialmente o Setor

Imobiliário, e dos sujeitos sociais, para assim verificar as suas relações de força nos

processos que calham sobre as dinâmicas territoriais.

Pretende-se, ainda, compreender as formas de resistência social a este

empreendimento.

No entanto, em 13 de maio de 2011, o Jornal O Globo, publica notícia de que

o grupo IDB Brasil entrou com pedido de licença-prévia no Inea para a construção

de um megaempreendimento turístico na Área de Proteção Ambiental (APA) de

Maricá. A APA foi criada pelo estado em 1984, num terreno de propriedade do

IDB. Mas um decreto do governador Sérgio Cabral, de dezembro de 2007 só admite

edificações em apenas 9,9% dos 8,4 milhões de metros quadrados (840 hectares)

da unidade.

Page 189: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 189/266

182

Acontece, entretanto, que a proposta do IDB vai além e planeja construir

campos de golfes em áreas não-edificantes e altamente protegidas pela atual lei,

as Zonas de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS). O diretor de Biodiversidade e

Áreas Protegidas do INEA, André Ilha, já antecipou que a proposta é inviável. Mas

entende que o governo do estado e IDB podem chegar a um acordo.

Recentemente, constatamos a entrada de diferentes empresas no município

de Maricá, adquirindo terras, como o grupo canadense Brascan Residencial

Properties S.A. e Alphaville Urbanismo S.A. (São Paulo); este último também está

interessado em urbanizar a área do resort . Em relação aos processos de resistência

que circundam a Área de Proteção Ambiental da restinga de Maricá, foram

identificados os seguintes agentes: PROPRIETÁRIOS/EMPRESÁRIOS LUSO-

ESPANHÓIS – conglomerado formado por seis empresas, dentre elas o consórcio

Madrilisboa (IBD do Brasil), formado pelo grupo de empresas Dico, Âmbito

Consultoria e Engenharia, Geexgroup e os parceiros espanhóis Avantis, Vancouver

e Cetya que são os donos “legais” daquela área e esperam ordem judicial para

iniciarem a construção do empreendimento; MEMBROS DO EXECUTIVO E

LEGISLATIVO MUNICIPAL E ESTADUAL - o primeiro busca a instalação de um

parque na restinga e que recentemente aprovaram uma lei municipal autorizando a

urbanização da área; o segundo gestor da área quer a instalação do resort ;

COMUNIDADE DE PESCADORES DE ZACARIAS – comunidade pesqueira secular

que busca permanecer na área ocupada de onde provém o seu sustento;

SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA – constituída pelos movimentos sociais nos quais

englobam: associações de moradores, sindicatos e entidades ambientalistas;

COMUNIDADE ACADÊMICA - realiza pesquisas científicas desde a década de1980, em vários ramos do saber, como a botânica, zoologia, hidrologia,

geomorfologia e geologia costeira, antropologia, geografia e climatologia, fazendo da

restinga um laboratório vivo das universidades, elevando a área à condição de ser a

mais pesquisada entre restingas no Brasil.

Page 190: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 190/266

183

Em relação aos processos de resistência, o projeto do resort  não foi

executado ainda devido às ações judiciais que a sociedade civil organizada,

 juntamente com o apoio da comunidade acadêmica impuseram e que esperam

decisão judicial para o início ou não da construção, uma vez que como mencionado

acima, o prefeito do município de Maricá já sancionou uma lei – Plano Diretor

Setorial - em relação à ocupação do solo na área da restinga.

4.2.1 O Projeto do Resort de Maricá 

O projeto ambicioso de construção de um empreendimento imobiliário e

turístico do tipo resort, que caso for liberado para a construção será realizado peloInstituto de Desenvolvimento Brasileiro (IDB), braço no Brasil do grupo de

empresários portugueses e espanhóis, que são os atuais proprietários da área,

prevê um investimento segundo o projeto estimado na ordem de U$ 4 bilhões,sendo

R$ 320 milhões investidos em água e esgoto. Segue abaixo a imagem do projeto do

resort (figura 23).

Figura 20 - Visualização do projeto.

Fonte Anais VXI Encontro Nacional dos Geógrafos Crise, práxis e autonomia: espaços deresistência e de esperanças, Espaços de Diálogos e Práticas- 2010.

Page 191: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 191/266

184

Um dos argumentos do projeto de construção do resort denominado Fazenda

São Bento da Lagoa, seria a junção de comodidade com a natureza. Outro fator

levado em consideração pela construtora na publicidade do local seria a

tranqüilidade, a segurança e o conforto de uma área isolada, permitindo que as

pessoas desfrutem dos mais elevados padrões de qualidade de vida.

Segundo o grupo Madrilisboa, o futuro complexo turístico e residencial que se

instalará na restinga de Maricá, entre a lagoa de Maricá e o Oceano Atlântico, possui

8 km de praia com areia branca e mar cristalino, aproximadamente 840 hectares. O

resort possuirá uma área de projeto exclusivo, englobando moradias de luxo

(condomínio de casais e prédios), marina privada para mil embarcações (a partir da

abertura de um novo canal) grande zonas desportivas (campo de golfe), SPA, teatro,

parque empresarial, piscinas, hotéis, o que permitirá aos freqüentadores em seu

tempo livre, desfrutar de toda essa magnífica estrutura.

Faz parte ainda do projeto, a criação de um complexo de turismo ecológico e

a recuperação das áreas de brejo. O projeto baseia-se nos problemas que segundo

o grupo são de grande importância, como a desordem urbanística, a deteriorização

da natureza e a “necessidade” de maior qualidade de vida para a populaçãomaricaense. O slogan do projeto do resort é: “Fazenda de São Bento da Lagoa, um

lugar onde se despertam os sentidos”.

Isso deixava claro que o empreendimento contava com o apoio da

administração municipal naquela ocasião, que assim se manifestou durante

audiência pública realizada pela FEEMA para discutir o projeto, em outubro de 2007.

O apoio do poder público ao empreendimento não se restringiu à esfera

municipal. Naquela ocasião, se gestavam no âmbito estadual modificações nas

regras da APA a fim de viabilizar a instalação do resort. Entre essas modificações

estava o aumento da permissividade em relação a construções naquele terreno.

Se o decreto original vetava qualquer tipo de edificação, o plano de manejo

proposto pela Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA) abria brechas para

que isso acontecesse. Em julho de 2007, pouco depois do lançamento do projeto e

antes da audiência pública referida anteriormente, a CECA já havia realizado outra,para discutir o plano de manejo, no qual foram apontadas várias imprecisões

Page 192: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 192/266

185

técnicas e inconsistências em relação à legislação relativa àquele tipo de

ecossistema.

A CECA na ocasião recuou em relação a esse plano de manejo e afirmou querealizaria uma nova audiência para discutir um plano modificado. Outras audiências

foram realizadas depois disso, mas não para discutir o plano de manejo da APA.

Em 4 de dezembro de 2007, ignorando o processo de participação popular

que se estava construído nas audiências públicas, o Governador Sérgio Cabral Filho

assina o Decreto 41.048 instituindo o Plano de Manejo para a APA de Maricá

tornando seu parcelamento ainda mais permissivo que o da CECA, impondo assim

um novo plano de manejo para a APA. Esse plano mantinha as deficiências daqueleapresentado pela CECA em julho e ia além, pois ampliava a permissividade em

relação às edificações na área da APA.

4.2.2 Competição por Espaços na Área de Preservação de Maricá 

O debate sobre as questões sócio-ambientais que tratam das Unidades de

Conservação (UCs) vem sendo travado com freqüência na última década no Brasil.

Não são poucos, nem recentes, os conflitos que envolvem UCs, comunidades

tradicionais, agentes econômicos e governo. Especialmente no Rio de Janeiro,

diversos noticiários mostraram a entrada de investimentos de grupos estrangeiros

nos setores turístico e imobiliário em UCs situadas na área costeira.

As áreas mais polêmicas são as Áreas de Proteção Ambiental - APAs de

Maricá, no município do mesmo nome, e do Pau Brasil nas localidades do Peró, em

Cabo Frio e Tucuns, em Búzios. Tal inquietação se deve aos anúncios de instalaçãode resorts nas UCs e em trechos do ecossistema de restinga, com total aprovação

das prefeituras e do órgão ambiental do estado, a Fundação Estadual de Engenharia

Ambiental - FEEMA (atualmente incorporada ao Instituto Estadual do Ambiente -

INEA).

Na APA de Maricá a situação é agravada pela presença da comunidade

pesqueira de Zacarias, presente na localidade desde o século XVIII. O projeto de

implantação de um resort poderá descaracterizar grande parte da APA, a única com

uma grande área de vegetação de restinga preservada do município. Este

Page 193: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 193/266

186

ecossistema abriga flora e fauna significativa (inclusive aves migratórias e espécies

endêmicas e ameaçadas de extinção), além de possuir sítios arqueológicos a serem

estudados, consistindo num patrimônio ambiental, cultural, arqueológico e científico.

O contexto regional é marcado pelo dinamismo econômico promovido pela

instalação do Complexo Petroquímico de Rio de Janeiro – COMPERJ no município

de Itaboraí, ao norte de Maricá. Todo o Leste Metropolitano está envolvido com este

empreendimento da Petrobrás que trará profundas transformações na economia,

sobretudo no setor industrial, e no fluxo populacional nos próximos vinte anos. A

nova inserção de Maricá no estado ocorre pela sua posição estratégica, entre o

grande empreendimento e o litoral. Assim o projeto do resort em Maricá faz parte

deste novo quadro econômico regional.

Sendo assim, identificamos os seguintes agentes da disputa territorial:

Membros do Executivo e Legislativo Estadual e Municipalrepresentado pelos

governantes daquela área e que estão a favor da construção de um resort na APA;

Proprietários/Empresários Luso-Espanhóis - buscam se apropriar daquela área para

a construção de um empreendimento bilionário; Comunidade de Pescadores -

querem permanecer na área ocupada de onde provém o seu sustento; sociedadecivil organizada e os professores e estudantes universitários.

Fica imprescindível, portanto, manter-se o fluxo gênico de grande

biodiversidade presente na área com vistas a garantir a perpetuidade dos recursos

naturais, o que somente será alcançado preservando os locais que formam o

mosaico biótico da restinga.

Com base nos posicionamentos (prós e contras) oriundos de diversos setores

da sociedade que se vêem fortemente envolvidos com a possível construção de um

conglomerado hoteleiro na região de restinga, apresentaremos nossas conclusões -

um conflito territorial com diferentes agentes e objetivos - sobre o impasse

socioeconômico e ambiental que ocorre e também a partir de nossas análises

exporem opiniões sobre uma solução viável para a utilização da área, de maneira

que respeite o ambiente e traga benefícios para a cidade e a permanência da

colônia de pescadores de Zacarias.

Page 194: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 194/266

187

Figuras 21, 22, 23- Comunidade de Zacarias

Fonte ACCLAPEZ

Segundo o ex-prefeito de Maricá, Ricardo Queiróz, a instalação do

empreendimento será de ganho ambiental, uma vez que de acordo com o projeto o

grupo irá investir R$ 320 milhões em água potável e esgoto sanitário tratado, o que

vai contemplar todo o município, além de revitalizar as lagoas, tornando-as

navegáveis e atrativas. Outro argumento do ex-prefeito é a possibilidade de cerca de

quarenta mil empregos (utilizando e qualificando profissionalmente a mão-de-obra

local) em torno da implantação do resort e da emancipação econômica que o

investimento garantirá a Maricá.

Em uma reunião pública no dia 10/10/2007 pela FEEMA – Fundação Estadual

de Engenharia do Meio Ambiente – no município, o ex-prefeito Ricardo Queiróz,alertou para o risco da aceleração da degradação da área devido à aproximação da

instalação do complexo petrolífero (Comperj) em Itaboraí, o que irá refletir em um

aumento populacional de Maricá. Ressaltou a importância de instalação de

empreendimentos turísticos na área, o que pode ser fundamental para a sua

conservação, bem como ser fator decisivo no desenvolvimento sustentável da

cidade, através do segmento turístico. Outro ponto citado pelo ex-prefeito foi à

manutenção da comunidade de pescadores de Zacarias com melhorias

habitacionais, construção e implantação de um Instituto de Pesquisa da Restinga,

com o objetivo de conservar e proteger a vegetação nativa, além de acompanhar a

qualidade das águas e do ar e por último a instalação da Casa do Pescador com o

intuito de desenvolver atividades econômicas e educacionais para os pescadores e

os familiares.

Ao analisar os ganhos que a instalação do resort poderá provar, o ex-prefeito

afirmou: “Temos que pensar com muita responsabilidade, o ganho não vai ser sóeconômico, vamos ganhar muito em meio ambiente e por conseqüência, também

Page 195: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 195/266

188

vamos crescer socialmente. Maricá só tem a ganhar com este projeto", disse

Ricardo, lembrando ainda da perenidade da indústria turística ao contrário do

crescimento promovido pela atividade petrolífera, que tem tempo para acabar.

O prazo para o início do projeto depende da aprovação da FEEMA21 e da

SERLA, que já estão realizando o estudo técnico, e de audiência pública.

Apesar dos diversos argumentos, muitas coisas são questionadas na

construção do resort. A primeira delas é na questão política, segundo matéria do

 jornal O Globo , de 07/10/2007, vereadores de Maricá viajaram para a Espanha, com

tudo pago pelos empresários do grupo que está investindo na construção. Esse fato

põe em dúvida a legitimidade da aprovação desse projeto, devido aos “interesses”desses vereadores. Também é averiguável que a imprensa local está fazendo

campanha a favor da construção, o que conseqüentemente forma nos leitores uma

imagem positiva desse possível resort. O próprio jornal “A voz de Marica” estampou

em sua capa a seguinte manchete: “Marica quer o resort: A imprensa maricaense faz

campanha para a construção do resort na restinga”.

Existem ainda outros fatores contra a construção. O professor Doutor da UFF

Werther Holzer, em uma entrevista dada ao jornal O rebate , apontou alguns

problemas que a possível instalação do resort causará.

Ao ser perguntado se o município de Maricá tem condição de absorver a mão

de obra após a construção ele disse “Provavelmente não, o impacto poderá, e

deverá ser direto: favelização de grandes áreas do município”. E esse não é o único

problema apontado por ele; na questão da lagoa os problemas podem ser ainda

maiores:

21Órgão do governo estadual extinto e unificado em 12/01/2009. Hoje a FEEMA (Fundação Estadualde Engenharia e Meio Ambiente), a SERLA (Superintendência Estadual de Rios e Lagoas) e o IEF(Instituto Estadual de Floretas) fundiram e originou o INEA – Instituto Estadual do Ambiente.

Page 196: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 196/266

189

“Quanto à dragagem das lagoas; este é com certeza o impacto mais sério do projeto, e neste caso não se trata de suposição, pois se a Marina projetada for implantada todo o sistema lagunar terá que ser dragado. Como a profundidade média deste sistema hoje, segundo dados de cartas batimétricas não deve passar de algo entorno dos 60 cm, os impactos são previsíveis: salinização,desestabilização de margens, diminuição significativa do espelho d`água e, inclusive, a possibilidade da desestabilização da faixa arenosa da restinga”.

Uma possível solução encontrada pelo grupo em relação à área da provávelimplantação do resort, seria a implementação do Parque da Restinga e da Reserva

Extrativista Restinga de Maricá. De acordo com a definição no Atlas Geográfico

Escolar do IBGE 2007, reserva extrativista seria:

“Unidade de conservação cuja área é utilizada por populações extrativistas tradicionais para os quais a subsistência se baseia no extrativismo e,complementarmente, na agricultura de subsistência 

e na criação de animais de pequeno porte. Tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. È de domínio público, com seu uso concedido às populações extrativistas tradicionais”.(p.192)

No que tange a futura utilização da área de proteção ambiental, na reserva

seria incentivado o uso da restinga para realização de pesquisas cientificas (a ser

implantado por instituições de pesquisa) bem como visitas guiadas (cobrando um

valor simbólico), excursões de programas de educação ambiental ou cursos avulsos

(sobre ecologia, sistema de lagunas, etc.). Vale ressaltar que a mão-de-obra

utilizada neste projeto seria a local que no caso da restinga de Maricá são os

próprios pescadores da comunidade de Zacarias e seus familiares, após passarem

por um curso de formação de guias que poderá ser elaborado, por exemplo, pela

prefeitura.

Page 197: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 197/266

190

Sendo assim, os pescadores manteriam sua principal atividade econômica

tradicional, a pesca e teriam uma renda extra, oriunda com o trabalho de guia do

parque. Além de garantir a pesca artesanal, estariam assegurados a ecossistema, a

área costeira, o sistema lagunar, os sítios arqueológicos e a pesquisa científica.

Portanto, a partir da situação retratada, vimos como necessidade informar

para as pessoas no sentido de fazer emergir para o foco discursivo vigente toda a

questão que envolve a implementação do resort na restinga, não como oposição

direta a esse tipo de construção no município de Maricá, mas sim a instalação deste

tipo de infra-estrutura de tamanha magnitude dentro de uma Área de Preservação

Ambiental.

É necessário deixar bem claro que, na concepção do grupo de pesquisa, a

implantação do resort que possui um projeto bem “elaborado” e grandioso seria de

bom proveito para a economia do município, porém somente se for construído em

local apropriado, fora da área de proteção ambiental.

Caso o resort seja realmente construído na APA, todo o ecossistema local

será atingido e poderá ter conseqüências irreversíveis. Em relação à comunidade de

pescadores de Zacarias provocará o fim de suas atividades que duram centenas de

anos. Considerando que o ambiente da restinga é formado por uma especificidade

de recursos naturais (biótico e abiótico) acreditamos ser a melhor forma de utilização

da área, como citamos anteriormente, a instalação de um parque ecológico que

viabilizaria a preservação de seus atributos naturais, ao mesmo tempo movimentaria

a economia do município de forma a prover um desenvolvimento econômico que

assegure aos pescadores sua fonte de renda e conscientizaria todos moradores da

região de Maricá sobre a importância da preservação ambiental enquanto umaquestão social.

Diversas implicações decorrem desta nova conjuntura, na qual eclodem

disputas políticas e redefinição das forças produtivas presentes no território.

Concomitantemente, a região metropolitana fluminense vem sofrendo mudanças de

cunho político-administrativo com o movimento de saída e retorno de alguns

municípios integrantes de sua composição original devido aos mais distintos

interesses. Em 2002, o processo ocorreu com a saída do município de Maricá, o

qual se deslocou e passou a integrar a região administrativa das Baixadas

Page 198: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 198/266

191

Litorâneas, área com forte processo de expansão turística e imobiliária, ou seja,

valorização e possíveis captações de novos investimentos - ficando o município

conhecido como “Portal da Costa do Sol”. Entretanto, no ano de 2009, o município

de Maricá retorna para a região metropolitana, em vista dos atrativos que já estão

sendo gerados a partir do anúncio e instalação do Comperj.

4.3 Maricá no Contexto Regional

O contexto regional está sendo marcado por processos de

reorganização/modernização espacial com novas transformações por meio do

dinamismo econômico a serem promovidos principalmente pela instalação do

Terminal de Gás da Baía de Guanabara, o Arco Metropolitano, a Thyssen-Krupp

CSA Siderúrgica do Atlântico, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro –

Comperj, entre outros. O mapa 1.1 localiza alguns destes empreendimentos.

Figura 24 Localização da APA de Maricá no território Fluminense

Fonte: XVI Encontro Nacional dos Geógrafos- Porto Alegre, (2010). 

Page 199: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 199/266

192

A tais processos mencionados, relacionam-se outros tantos, sendo de índole

quantitativa como qualitativa. A dinâmica imobiliária na parte leste do território

fluminense ganha um novo impulso dentro deste contexto. A este fato não podemos

deixar de mencionar a retomada das atividades voltadas para a indústria do petróleo

em Niterói na última década, o que vem provocando um aquecimento no setor naval

e um “boom ” no setor imobiliário desta cidade, e ainda os cada vez mais constantes

lançamentos de condomínios em São Gonçalo feitos em sua maioria por empresas

paulistas, como a Abyara Incorporação e a CR2 Empreendimentos Imobiliários S.A;

ambos municípios vizinhos a Maricá.

É notória a forte ligação do município de Maricá com a dinâmica

metropolitana, assim sendo, a nova inserção de Maricá na RM ocorre principalmente

pela sua posição estratégica – entre o COMPERJ22 e a extração de petróleo e gás

na Bacia de Santos. Diante deste contexto, as prefeituras dos municípios vizinhos ao

Comperj se associaram, consolidando o Conleste (Consórcio Intermunicipal da

Região Leste Fluminense) com o intuito de obter ganhos com a nova conjuntura

econômica da região; logo, o projeto do resort  luso-espanhol em Maricá faz partedeste novo quadro econômico regional.

22Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) será um pólo petroquímico com duas refinariasque produzirão matérias-primas para a indústria de plásticos e combustíveis. Associado ao Comperjacredita-se que se instalarão uma série de empresas de segunda e terceira geração, que utilizarão amatéria prima do pólo para fabricação de produtos finais para o consumo da população. 

Page 200: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 200/266

193

.

Figura 25 - A aproximação de Maricá com o Comperj e o Arco Metropolitano

Fonte: www.ademi.webtexto.com.br

Devemos deixar claro que a nova produção imobiliária em Maricá neste

estudo está sendo analisada como sinônimo do resort  em si, uma vez que um

empreendimento desta magnitude mudará a dinâmica não só do município, mas

influenciará todo o Leste Metropolitano. Sendo assim, o projeto turístico-imobiliáriodo resort é um ponto de inflexão no Leste Metropolitano, muito menos em relação a

Maricá onde o setor imobiliário sempre foi marcado pelo mercado de terras

(loteamentos). É notório que a estes empreendimentos está ligado o meio técnico-

científico informacional, que condiciona estes espaços para serem apropriados,

refletindo sobre esse modelo, Santos (1997) afirma:

Essa união entre técnica e ciência vai dar-se sob a

égide do mercado. E o mercado, graçasexatamente a ciência e a técnica, torna-se ummercado global. A idéia de ciência, a idéia detecnologia e a idéia de mercado global devem serencarados conjuntamente e desse modo podemoferecer uma nova interpretação a questãoecológica, já que as mudanças que ocorrem nanatureza também se subordinam a essa lógica.(SANTOS, 1997, p. 238).

Page 201: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 201/266

194

Em Matias et al. (2009) foram apontados os possíveis argumentos a serem

utilizados pelo grupo de empreendedores, nos quais os problemas alegados

estavam baseados principalmente na “desordem urbanística” da cidade, adeteriorização na natureza (área verde do local) e a “necessidade” de maior

qualidade de vida para a população maricaense.

Outros fatores levados em consideração pela construtora na propaganda do

local seriam a tranqüilidade, a segurança, conforto e o “prestígio” de uma área

isolada, permitindo que as pessoas desfrutem dos mais elevados padrões de

qualidade de vida junto ao “verde”. Tais argumentos vão de encontro com que

Ribeiro (1997) denominou de sobrelucro de urbanização , isto é, uma política

fundiária realiza pelos incorporadores associada às maciças campanhas publicitárias

em prol de venda de um novo modo de vida, recriando nos compradores o contato

com a natureza. Outra consideração do autor está orientada no que denominou de

sobrelucro de antecipação , ou seja, condições que os construtores encontram nos

terrenos que permitem um maior lucro, este caracterizada pela forte especulação

imobiliária onde o Estado modifica as condições que regulam o uso do solo

(legislação urbana) para que os incorporadores apropriem-se de importantes

sobrelucros, fatos esses que ocorrem atualmente no município de Maricá. Em Singer

(1979) percebemos que o prestígio citado anteriormente configura-se enquanto

status para uma determinada classe, onde:

“O elemento “prestígio” tende a segregar os mais ricos da classe média, que paga muitas vezes um preço extra pelo privilégio de morar em áreas 

residenciais que os “verdadeiros ricos” estão abandonando exatamente devido à penetração dos “arrivistas”. Os promotores imobiliários, que conhecem bem este mecanismo, tiram o máximo proveito dele ao fazer “lançamentos” em áreas cada vez mais afastados para os que podem pagar o preço do isolamento e ao mesmo tempo incorporar prédios de apartamentos em zonas residenciais “prestigiosas”. (SINGER, 1979, p. 27).

Page 202: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 202/266

195

Em relação ao papel do Estado na produção do espaço urbano, este continua

a agir visando garantir a reprodução do capital, em geral, e do capital imobiliário, em

particular. Este processo, apesar de diversas vezes exposto de outras formas, com

novos discursos de legitimação, são considerados como uma velha forma de

intervenção. O Estado a partir de seus recursos, consegue dotar no espaço urbano

toda uma infra-estrutura que permita a instalação de novos empreendimentos

capitalistas, sendo que estes investimentos são legitimados por serem supostamente

“grandes” geradores de empregos e de desenvolvimento social (SILVA, 2008).

A respeito disso, Limonad (2007) afirma ainda que muitas vezes com o

discurso do desenvolvimento sustentável do local e da implementação de novos

fluxos produtivos, o Estado sucumbe às propostas dos promotores imobiliários, o

que contribui para a implantação de resorts , hotéis de luxo ou condomínios fechados

em faixas litorâneas. Os empreendimentos privados, portanto, não são possíveis de

existência, caso de início não haja um mínimo de esforço nas condições gerais do

local por parte de investimentos públicos. Em relação a estas observações, podemos

destacar o comprometimento com as obras de acessibilidade, redes de água e

esgoto e mudança na legislação de uso do solo para facilitar a implantação do

empreendimento.

Vale ressaltar que além do impacto no mercado imobiliário da cidade, o

exorbitante empreendimento poderá ocasionar uma série de impactos ambientais e

sociais. É necessário, portanto, haver um acompanhamento perante tal processo

com o intuito de minimizar os efeitos do mesmo, além de pensar formas mais

conscientes de uso e gestão do espaço urbano.

4.4 Diagnóstico da APA de Maricá.

A Fundação Instituto Estadual de Florestas, promoveu com o apoio do Projeto

de Proteção à Mata Atlântica – PPMA, no dia 31 de Maio de 2008 (no Colégio

Elisário da Mata, Rua Abreu Rangel, N° 115, Centro de Maricá), a Oficina de

Diagnóstico Rápido Participativo da Área de Proteção Ambiental de Maricá (APA

Maricá).

Page 203: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 203/266

196

Segundo os participantes do evento, os mesmos apontaram como forças

restritivas ao cumprimento dos objetivos de criação da APA os seguintes elementos:

  Conselho gestor;•  Plano de Manejo;•  Poder Publico;•  Gestão;•  Educação/ informação;•  Categoria da UC;•  Fiscalização/proteção;

Prosseguindo com a Oficina, os aspectos identificados foram analisados

destacando-se, segundo a visão individual dos participantes, aqueles considerados

de maior gravidade.

Como forças impulsoras, ou seja, que contribuem para o cumprimento dos

objetivos de criação da APA, os temas mapeados foram propostos de forma que

devam ser implementadas na APA Maricá e Região, sendo os seguintes:

•  Gestão;

•  Conhecimento e pesquisa;•  Patrimônio natural/ cultural;

•  Turismo;

•  Conservação / preservação;

•  Integração com Outras UC's;

•  Controle / participação;

•  Proteção / fiscalização;

•  Populações locais;

•  Conselho;

•  Áreas degradadas;

•  Pesquisa (arqueológicas);

•  Plano de Manejo;

•  Proteção / fiscalização;

•  Recategorização;

•  População local;

•  Legislação;

•  Educação/pesquisa;

•  Questões fundiárias.

Page 204: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 204/266

197

O interesse e comprometimento dos participantes com a oficina possibilitaram

vivenciar um ambiente construtivo, de intercâmbio de idéias, tendo como objetivo

buscar soluções para os problemas diagnosticados na Área de Proteção Ambiental.

A Visão geral dos participantes sobre a APA de Maricá são as seguintes:

•  O futuro da soberania nacional;

•  Legislação frágil;

•  Abandono do poder publico;

•  Grande diversidade biológica, um dos últimos remanescentes de restinga do RJ;

•  Paisagem natural;

•  Local de grande relevância ecológica, contudo, carente de institucionalização;

•  Fundamental para a preservação da natureza do planeta;

•  Patrimônio ambiental;

•  Reclassificação;

•  Parque Nacional ou Estadual de Barra de Maricá;

•  Unidade de conservação do tipo APA não adequado para a restinga de Maricá;

•  O governo deve desapropriar a área e transformar numa U.C.que Garanta a proteção doecossistema, da colônia de pescadores e da pré-história. A atual categoria coloca em riscoeste patrimônio;

•  Espaço fundamental na construção da identidade do Município. Patrimônio do povo de

Maricá;•  Área de extrema importância para o sistema lagunar e para a comunidade pesqueira, podeser transformada em parque com visitação turística e de ensino;

•  Falta de fiscalização na área;

•  Área com grande diversidade biológica; unidade de conservação;

•  Área importante p/ o ambiente de Maricá, porém, desconhecida p/ sua população;

•  APA=Unidade de Conservação subordinada ao SNUC,PNGC,PNRHI, Reserva Biosfera daMata Atlântica;•

  Ecossistema frágil e vulnerável, atualmente, sem que nem as leis existentes conseguemproteger;•  Fauna e flora ameaçadas, assim como sambaquis e pescadores tradicionais;

•  Legislação não garante a preservação da restinga para a comunidade;

•  Precisa ser mais observada e protegida por aqueles que não a conhecem;•  Unidade de conservação preservada c/ espécies endêmicas e em extinção.

•  Uma das poucas restingas que resistem as pressões externas. Muitas espécies endêmicas.Berço de peixes p/ a lagoa;•  Reserva de areia que garante o equilíbrio da costa;

•  Raro e precioso bioma, frágil diante da inoperância e sério compromisso (ausente) doestado, a mercê da especulação imobiliária;•  A categoria APA é equivocada p/a área de restinga uma vez que este ecossistema deveser todo preservado;•  Ambiente com uma vegetação bastante diversificada e importante, porém, sujo e com

Page 205: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 205/266

198

pontosde degradação;

•  Área de preservação é para ser preservada, leis existem para serem acatadas e tratados depreservação respeitados;•  APA parcialmente degradada necessitando com urgência do conselho gestor e ações

imediatas p/ sua preservação;

As principais forças restritivas identificadas pelos participantes se relacionam

aos seguintes itens:

Educação ambiental

A inexistência de ações de educação ambiental e também de um centro de

pesquisas na região na APA. Este aspecto, segundo os participantes seria de

grande importância para que a própria unidade de conservação seja mais bem

reconhecida e respeitada enquanto local de alto valor ambiental.

Gestão – diálogo com a população local

Em relação ao processo de gestão, os participantes apontaram como de

grande relevância a ausência de diálogo do poder público e dos administradores daAPA Maricá com as populações locais no processo de gestão. Neste caso, a

população citada foram os moradores da localidade denominada Zacarias. Segundo

os participantes, a importância do diálogo se dá em função de uma gestão mais

participativa da unidade de conservação, mas também com base na importância em

se discutir, junto a estes moradores, possíveis impactos decorrentes de

empreendimentos na região.

Atuação do Poder Público

Em relação ao Poder Público, os participantes interpretam que há setores

governamentais que estariam potencializando conflitos locais em função de

adequações no Plano de Manejo da APA aumentando a permissividade de

atividades de interesses empresariais e de especulação imobiliária. Vale ressaltar

que, segundo os participantes, os conflitos se potencializam em função da APA estar

localizada em região costeira de manguezais e restingas, biomas protegidos por

Page 206: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 206/266

199

legislações estaduais e federais. Foi citada ainda que a prefeitura local, do município

de Maricá, encontra-se, até o momento, ausente do processo de gestão da APA.

Gestão – ausência de conselho

A ausência de um conselho²³ da APA Maricá foi considerado um aspecto

negativo, também de relevância, já o conselho foi apontado como importante

instrumento de gestão, previsto na legislação, e que deveria estar acompanhando

todos os processos relativos a elaboração e implementação do Plano de Manejo.

Gestão – elaboração do Plano de Manejo

Foi considerada de altíssima relevância a inadequação do processo de

elaboração do Plano de Manejo em função da não participação dos atores sociais

locais no processo. Segundo os participantes, o Plano de Manejo permite

planejamentos conflituosos em relação aos aspectos socioambientais que deveriam

ser melhor discutidos com a população local como, por exemplo, a ocupação e uso

intensivo de áreas de vegetação de restinga.

Ressaltou-se a necessidade de propor um projeto de recategorização da APA

para unidade de conservação de proteção integral para que, desta forma, os

recursos naturais possam ser preservados integralmente. Isto porque, segundo os

participantes da oficina a categoria APA é muito permissiva.

Além dos temas mencionados acima foram priorizados aspectos negativos

relacionados com o tema Fiscalização, foram apontadas ainda, as seguintes

ausências:

•  Fiscalização,•  Recursos naturais – foi apontada a possibilidade de erosão em áreas da APA caso

haja uso intensivo;

•  Questões fundiárias - tema ligado a proposta de recategorização, pois as APA´spodem ser compostas de terras públicas e/ou privadas e como a demanda é pelaproteção integral da área, conseqüentemente, é reivindicado que a área seja dedomínio do estado.

23 Os participantes se referem, em diversas ocasiões, a um conselho gestor deliberativo. No entanto,no caso das unidades de conservação APA, as diretrizes técnicas do IEF-RJ recomendam para acriação de conselhos consultivos. 

Page 207: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 207/266

200

Categoria da UC:

As principais forças impulsoras identificadas pelos participantes serelacionaram aos seguintes itens:

Recursos naturais

Enfatizou-se pelos participantes, que há na região da APA Maricá diversas

espécies ameaçadas de extinção, além das espécies endêmicas. Além disso, a áreaseria fundamental para a sobrevida do sistema lagunas pois é região de reprodução

da fauna marinha. É importante ressaltar também que, segundo os participantes, a

região abriga várias espécies ameaçadas de extinção e é refúgio de aves

migratórias, o que ressaltaria a importância de tornar grande parte da área como

região de proteção integral, e não de uso sustentável como prevê a atual categoria

da APA.

Pesquisas

Por conter grande relevância em relação aos aspectos naturais foi citado

pelos participantes que há diversas pesquisas já realizadas no local e que a

compilação destas pesquisas poderiam inclusive servir de subsídio pra a gestão da

APA. Além das pesquisas de cunho ecológico, foram citados pelos participantes que

a região da APA abriga diversos sítios arqueológicos de grande relevância que

deveriam ser estudados e registrados.

População local

De acordo com os participantes, a presença dos moradores da comunidade

de Zacarias, tida como população tradicional reconhecida pela legislação brasileira,

é um patrimônio da APA Maricá. Segundo os participantes, a presença dosmoradores com suas culturas, história e costumes representa um valioso patrimônio

que deve ser preservado.

Page 208: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 208/266

201

Gestão – fiscalização

Conforme os participantes a região da APA Maricá, apesar de ainda não

contar com efetiva fiscalização, é de fácil acesso para fiscalização e monitoramento

Através dos gráficos elaborados na Oficina, as principais ações propostas

identificadas pelos participantes se relacionaram aos seguintes itens:

Gestão – uso da APA

Segundo os participantes deve haver mecanismos de gestão da APA que

possibilitem o controle efetivo da atividade imobiliária no local. Foi sugerido que haja

atenção em relação aos possíveis impactos sociais, ambientais e econômicos na

APA caso seja permitida a instalação de empreendimentos de grande porte²4.

Gestão – categorização

A mudança da categoria da unidade de conservação, foi sugerida. Apesar de

ser solicitada uma categoria que permite maior efetividade de proteção da área, nãohá clareza nem consenso sobre o que seria mais adequado. Isto ocorre

principalmente do pouco entendimento e conhecimento das características previstas

na legislação para cada categoria de UC. Neste caso, foram citadas como alternativa

um Parque, pois é uma unidade de proteção integral, uma APA (só que federal), pois

poderia representar uma ação mais efetiva em função de ser atribuição federal, e

uma Reserva Extrativista, em função da existência de população tradicional no

interior da APA.

É importante considerar, principalmente, que a demanda é, ao mesmo tempo,

pela maior proteção de determinadas regiões e pela asseguração dos usos por parte

das populações locais.

24 O conceito de degradação ambiental adotado neste trabalho é o existente na Lei nº 6.938,de31/08/81, artigo 3º, inciso II da Política Nacional do Meio Ambiente, onde degradação da qualidade ambiental constitui-se “[...] a alteração adversa das características do meio ambiente" (BRASIL,1981). Encontra-se implícito na Lei nº 6.938 o conceito de degradação ambiental como sinônimo da 

expressão degradação da qualidade ambiental. Salienta-se que a lei federal foi alterada pela Lei nº 7.804, de 18/07/89, que mantém a mesma definição referente ao termo.  

Page 209: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 209/266

202

Gestão – população local

Ressaltou-se que a população local participe mais ativamente do processo degestão e que sejam garantidos e mantidos os seus direitos de uso e suas relações

com os recursos naturais presentes na APA Maricá.

Gestão – conselho e Plano de Manejo

Com relação à gestão torna-se necessário que seja feita uma articulação

entre os órgãos gestores ambientais em suas distintas esferas e as Universidades

visando efetivar a gestão. Além disso, foi ressaltada a importância da criação do

conselho da APA.

Neste mesmo sentido, foi solicitado que após a criação do conselho seja feita

uma revisão do Plano de Manejo em função do presente plano ter sido considerado

“falho” em virtude de não ter havido participação dos atores sociais regionais. Em

outro aspecto, foi sugerido que haja o fortalecimento e a intensificação no processo

de fiscalização.

Pesquisa

As ações de divulgação são de total relevância para o ambiente da região da

APA. Além disso, a criação de um centro de pesquisas e o resgate de pesquisas em

sítios arqueológicos já identificados.

Denota-se, por oportuno, que em 2008, os atores envolvidos na oficina

supramencionada, já acenavam para a necessidade das seguintes necessidades:

• Ausência do Conselho Gestor deliberativo,

• Ilegalidade do atual (pseudo) Plano de Manejo,

• Leis federais e estaduais e tratados internacionais não respeitados,

• Conivência do Poder Público com empresários da especulação imobiliária,

• Ausência de diálogo com os “Zacaeiros”,

• Inexistência de educação ambiental e ausência de um centro de pesquisa,

Page 210: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 210/266

203

• Tipo de Unidade de Conservação muito permissiva e vulnerável ,

• A APA foi instituída em 1984, antes do SNUC, a requalificação ou a mudança

do estatuto jurídico enquanto a UC na nova legislação federal deve serobservada,

• A APA enquanto UC não protege o patrimônio ambiental, social, histórico e

pré-histórico,

• Ausência de fiscalização participativa e monitoramento,

• Falta de fiscalização e segurança

•  Preocupação com as questões fundiárias. 

Page 211: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 211/266

204

5. DA RECATEGORIZAÇÃO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

Em razão dos diversos estudos realizados e fatos evidenciados durante a

trajetória desta dissertação, concluo pela recategorização da Área de ProteçãoAmbiental, visto que esta mostrou-se ser uma das formas mais indicada e

imprescindível, para a proteção integral do meio ambiente, pois não podemos deixar,

ainda, que a especulação imobiliária se torne vitoriosa em desfavor do ambiente

natural.

Assim sendo, diferentemente de outras categorias de unidade de

conservação, tem se como necessário a recategorização da área de forma que oconceito a ser implantado pressuponha o ser humano como um ator e gestor da

conservação e preservação, aliando cidadania e melhoria de qualidade de vida. O

presente estudo pretende educar, informar, orientar e auxiliar na implementação da

recategorização da Unidade de Conservação, para posteriormente assegurar para a

área um plano participativo de manejo, visando a exploração controlada dos

recursos naturais, assegurando à todos os demais atores sociais envolvidos e

interessados no d esenvolvimento sustentado do espaço territorial da UC, umacontribuição para o bem estar social.

O desenvolvimento do estudo para a recategorização da APA propõe um

modelo ambientalmente correto e socialmente justo para os munícipes de Maricá,

propiciando-lhes a resiliência auto-organizacional e, com isso, um efetivo

desenvolvimento auto-sustentável, visto que a Unidade de Conservação possui:

Caráter não edificante: Aproximadamente 90% da APA é APP (Área dePreservação Permanente), que é não edificante nos termos do Código Florestal (Lei

Federal 41771/65), e do Decreto Estadual 41612/08, e também existe um sambaqui,

localizado fora dos 90% não edificante, onde se aplicam outras leis, aumentando a

área não edificante para um percentual que ainda não podemos estimar, ressaltando

que além de ser não edificante, a área ainda não possui edificações, apenas uma

antena da INFRAERO, localizada em uma pequena área, de aproximadamente 5 mil

m², no cordão arenoso, mas devido a sua importância para segurança aeroportuária,

pode ser enquadrada pela resolução COMAMA 369/06, e deverá permanecer no

local.

Page 212: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 212/266

205

• APA anterior ao SNUC: A criação da unidade se deu em 1984, pelo então

governador do Estado do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, portanto é anterior ao

SNUC (Lei Federal 9.985/00), quando a denominação APA não pertencia a

nenhuma categoria, era apenas uma área de proteção ambiental, e a mesma

deveria ter sido re-categorizada com o advento do SNUC, pois o decreto de criação

da unidade (Decreto Estadual 7230/84 – em anexo) lhe oferece características de

proteção integral, como proibir a caça, a alteração do perfil do solo, à extração de

sedimentos, e de flora, proteção esta que foi parcialmente retirada com o plano de

manejo da APA, Decreto Estadual 41048/07.

• Valor ambiental: Alta diversidade biológica e alto endemismo, uma das espécies

que só ocorrem na APA, é o peixe sazonal Leptolebiascitrinipinnis, conhecido

popularmente como “peixe das nuvens”, que é endêmico das lagoas sazonais da

restinga da APA, e encontra-se extremamente ameaçado, pois sua ocorrência era

em todo distrito de Itaipuaçú, distrito este que atualmente está totalmente

antropizado, e é área urbana em franca expansão, a área serve também de pousio

de aves migratórias, e geologicamente seus cordões arenosos são essenciais para oequilíbrio da dinâmica dos sedimentos litorâneos no município de Maricá,

ressaltando que a APA, há mais de 20 anos, é campo de estudos de diversos

pesquisadores, de renomadas instituições, como o Museu Nacional, UFF, UFRJ,

UERJ, UFRRJ, dentre outras, e existem aproximadamente 300 trabalhos científicos

realizados na área, que é uma pequena amostra de como era a maior parte do litoral

do estado do Rio de Janeiro.

• Valor antropológico e histórico: A unidade abriga uma comunidade tradicional, a

Comunidade Caiçara do Zacarias, que ocupa uma pequena parte da área, a

estimados 200 anos, também existem ruínas de um mosteiro Beneditino, com idade

ainda não definida, além de um sambaqui, e também a área foi visitada em 1832,

pelo ilustre cientista Charles Darwin, que pernoitou as margens da lagoa de Maricá,

e que cita a própria lagoa, em seu livro “Viagem de um naturalista ao redor do

mundo”, quando diz: “Como a lua nasceu cedo resolvemos pernoitar as margens da

lagoa de Maricá”, e também a restinga da APA, com a seguinte citação: “O caminho

Page 213: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 213/266

206

agora nos leva por uma estreita faixa de areia entre o mar e a lagoa”, todo este

conjunto agrega à área um imenso potencial educacional.

• Pleito popular: Identificado pelo DRP - Diagnostico Rápido Participativo (em

anexo), realizado em 2008 pelo extinto IEF-RJ, com a participação de instituições

estatais e civis, que vieram a compor o Conselho Consultivo da APA Maricá (Portaria

INEA 048/09, DO-RJ de 07/07/09), pedem a re-categorização da unidade, também

questionam a legalidade do plano de manejo da APA, Decreto Estadual 41048/07,

por tornar a área parcialmente edificante, expondo problemas de interpretação do

Código Florestal. Ressalto que foi com muito custo que se conseguiu essa

ferramenta de gestão participativa, pois na ocasião do DRP, em 2008, a palavra APAera recebida com verdadeira ojeriza pelas instituições que vieram a compor o

conselho, e foram necessárias varias reuniões para convencê-los a se candidatar ao

conselho, pois assim, como instituições conselheiras, teriam maior

representatividade, e podemos afirmar que a re-categorização da unidade, para uma

de proteção integral, é o principal objetivo das instituições que compõe o Conselho

Consultivo da APA, conselho este, que estava elaborando seu regimento interno,

mas atualmente se encontra com as atividades congeladas, devido a declarações daadministração municipal a respeito de um empreendimento imobiliário na APA, e

também sobre o assentamento indígena no local, e o conselho alega estar sendo

utilizado como massa de manobra para legitimar a APA, e uma das instituições se

desligou do conselho formalmente, e essa mesma instituição questiona a legalidade

do plano de manejo junto ao Ministério Público.

• Ameaças ao ecossistema:

Atividades intra U.C: O frágil ecossistema da APA Maricá vem sofrendo

agressões desde 1950, quando se iniciaram as atividades da Companhia Vidreira de

Maricá, que explorava sedimentos arenosos na área, e até hoje podemos encontrar

alguns buracos, alguns ainda degradados, o mais conhecido, é o buraco da

INFRAERO, ou Maracanã, que se localiza no cordão arenoso da praia, o que fez

com que o cordão se rompesse em alguns pontos, permitindo a ação da erosão

costeira que vem escavando o “Maracanã”, aumentando seu diâmetro, a largura dos

Page 214: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 214/266

207

rompimentos, e formando uma lagoa no interior do buraco, e inclusive, já impõe a

instabilidade estrutural à antena da INFRAERO, que é vizinha ao buraco, e também

a umidade afeta os sensíveis equipamentos abrigados em uma parte subterrânea da

antena, tanto que, e a própria INFRAERO, nos procurou disposta a realizar um

PRAD (Plano de Recuperação de Área Degradada) para o “Maracanã”, os primeiros

estudos já começaram, e pretendemos realizar o PRAD agora em 2010.

Mais atualmente, práticas indevidas no interior da U.C., como o uso de fogo

em práticas religiosas, e a queima de veículos, vem acarretando incêndios, que por

sua vez, impõem ao ecossistema perdas irreparáveis; também existem 04 quiosques

de madeira, já notificados, todos localizados na praia, ao lado da antena da

INFRAERO, em uma área conhecida como praia da INFRAERO. A prática de

esportes automotores (motocross e competições 4x4), animais pastando, a extração

ilegal de plantas e sedimentos, também são desafios que devem ser superados.

Pressão imobiliária: A maior parte da área, que tem um total de

aproximadamente 960 hectares, pertence a um grupo Luso-Espanhol de

empreendimentos imobiliários, e ao grupo Alfavile, em que vale uma observação

importante: o Grupo Alfaville abriu mão do contrato que tinha com o grupo IDB.também de empreendimentos imobiliários, e o próprio município de Maricá, como um

todo está sofrendo uma grande expansão urbana devido ao advento do COMPERJ,

por ser vizinho dos municípios de São Gonçalo e Itaboraí, e também devido ao

saturamento demográfico do município de Niterói, que também é vizinho ao de

Maricá, até a comunidade tradicional vem sendo descaracterizada pela ocupação

irregular, que ocorre em sua área.

• Proposta do Parque Municipal: A proposta de criação de um Parque Municipal foi

considerada insatisfatória pelo conselho da APA, e pelo movimento ambiental do

município de Maricá, por abranger apenas uma pequena parte do território,

fragmentando a APA, e abrindo espaço para um futuro empreendimento; também

surgiram alguns questionamentos sobre a competência da administração municipal

para gerir a área, e proposições para que o Estado, que já tem experiência

comprovada na conservação da natureza, seja o gestor da nova unidade.

Page 215: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 215/266

208

• Potencial de implantação de um Parque: A área da APA Maricá possui

aproximadamente 960 hectares, constituída por um amplo cordão arenoso recoberto

por vegetação de restinga, uma ilha, e um pontal, ambos recobertos de mata

atlântica sub-montana, e é delimitada pelo canal da costa, pela lagoa de Maricá, e

pelo mar, possuindo apenas 03 entradas, o que facilita a implantação do serviço de

proteção da unidade, e de uso público, uso público este que já acontece, mas de

forma desordenada, impactando ainda mais esse frágil ecossistema. E mesmo

completando 25 anos de sua criação, esta unidade de conservação ainda não foi

implantada, pois não possui nenhuma estrutura institucional, e nenhum patrimônio,

nos oferecendo a oportunidade de implantá-la utilizando os conhecimentos mais

modernos. Outras potencialidades também devem ser consideradas, como aslagoas de Maricá, e a da Barra, esta em particular, onde se encontram o Pontal e a

Ilha do Cardoso, que compõem o território da APA; suas margens são muito

visitadas por pescadores amadores, e o espelho d’água, mesmo não integrando o

território da APA, representa grande potencial para esportes náuticos.

• Regularização fundiária: Como a APA Maricá é propriedade privada, faz-se

necessária a desapropriação, a maior parte do território da APA Maricá é depropriedade de um grupo Luso-Espanhol de empreendimentos imobiliários, e tem o

valor venal de 6 milhões de reais, ainda cabendo argumentação, devido a grande

área de APP, a respeito da ilha dos namorados e o pontal do Fundão, que

representam apenas uma pequena parte do território da APA, ainda não

identificamos os proprietários, nem seu valor venal, e nessas áreas não existem

construções, e também cabe argumentação devido a grande área de APP, existe

ainda uma pequena posse, o Sitio do Mano, com uma pequena e antiga construção,pasto, e pequenas roças, em uma área que totaliza aproximadamente 300 mil m²,

dentro da propriedade do grupo Luso-Espanhol.

Page 216: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 216/266

209

5.1 - Propostas de Criação do Parque Natural.

Em 2009 o Movimento Pró-Restinga com o referendo do INEA, apresentou a

proposta para Criação do Parque Natural da Restinga de Maricá como uma Unidadede Proteção Integral conforme previsto na Lei Federal N° 9.985 – de I8 de julho de

2000 que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

Art. 11. 0 Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.

§ 1º O Parque Nacional é de posse e domínio públicos,sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.

§ 2° A visitação pública esta sujeita as normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade,as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua 

administração, e aquelas previstas em regulamento.

§ 3º A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e esta sujeita as condições e restrições por este estabelecidas, bem como aquelas previstas em regulamento.

§ 4º As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão denominadas,

respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal.

Delimitação:

 _ Fazenda São Bento da Lagoa (com exceção da área da Comunidade Pesqueira

de Zacarias)

 _ Ponta do Fundão e

 _ Ilha Cardosa

Page 217: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 217/266

210

Figura 26 Localização do Parque no Município de Maricá.

Fonte Google.

Page 218: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 218/266

211

Figura 27- Detalhe da delimitação do Parque Natural da Restinga de Maricá.

Fonte Google.

5.2 Usos Propostos

As localizações dos equipamentos bem como o zoneamento ficarão a cargo

do Conselho Gestor desta UC:

• Preservação da Comunidade Pesqueira de Zacarias;

• O povoado deverá ficar fora do Parque com livre acesso à área para a extração de

recursos naturais com fins alimentícios, medicinais e fonte de renda na confecção de

artefatos de pesca e artesanato;

• Preservações integrais do Ecossistema;

• Proteção da vegetação e da fauna de restinga e mata atlântica na totalidade dos

seus micro-ambientes, bem como o seu relevo: praias de mar e de lagoa, dunas,

cordões arenosos, brejos, tabuleiros costeiros, falésias, colinas e faixas marginais

das lagoas, rios e canais. Nas seguintes localidades:

Page 219: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 219/266

212

Fazenda São Bento da Lagoa, Ponta do Fundão e Ilha Cardosa.

• Preservação Integral dos sítios arqueológicos;

• Fomento à pesquisa científica pelo Museu Nacional da UFRJ para reconhecer,

delimitar e tombar junto ao IPHAN os sítios pré-históricos e os sambaquis presentes

na área;

• Visita guiada e lazer;

• Equipamento: Centro de Visitantes com fins informativos e recreacionais, equipado

com:

• Hall de recebimento dos visitantes;

• Local de exposições de trabalhos escolares, pesquisa científica, flora local (como

orquídeas e cactos), História e Pré-história local;

• Banheiro;

• Lanchonete;

• Loja de artesanato local e de mudas de plantas típicas da restinga (originárias do

Centro de Reprodução Vegetal).

• Ponto de encontro dos guias e de distribuição de materiais informativos e de

educação ambiental com a finalidade de orientar o usuário a exercer práticas

preservacionistas.

• Administração do Parque;

• Pesquisas Científicas;

• Equipamento: Centro de Pesquisa – alojamento, laboratório, mini-auditório,

articulação com um Centro de Convenções externo;

• Zoneamento de áreas exclusivas para a pesquisa científica de longo prazo (a

serem definidas pelo Conselho Gestor e pelas universidades);

• Educação Ambiental;

Page 220: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 220/266

213

• Equipamento: Núcleo de Educação Ambiental com mini-auditório equipado com

áudio-visual e biblioteca articulado com as visitas guiadas no Centro de visitantes

por professores, estudantes universitários e pescadores às trilhas ecológicas;

• Apoio à cultural e à memória da atividade pesqueira artesanal;

• Equipamento: Casa do Pescador Oficina de reparação e confecção de artefatos de

pesca, memória da atividade pesqueira do município com exposições permanentes e

eventos culturais;

• Recuperação e manutenção do ecossistema;

• Equipamento: Centro de Reprodução Vegetal. Local de reprodução de mudas deespécies nativas para repovoamento e venda. Tais atividades podem ser

desenvolvidas no Horto Municipal e no Centro de Visitantes do Parque. Os objetivos

são recompor o ecossistema, sobretudo repovoar com as espécies mais retiradas da

restinga (pelo seu valor econômico), e sensíveis à ação antrópica, e, ainda, evitar

que a vegetação sofra com a coleta indevida dos visitantes com a venda de mudas a

preços populares;

• Lazer;

Equipamentos: áreas de recreação, parque infantil e trilhas ecológicas;

• Acessibilidade;

• Retirada do aterro da estrada próxima à praia, entre Zacarias e a Aeronáutica, em

virtude do grande prejuízo aos brejos que abrigam espécies endêmicas, e de serem

locais de pouso de aves migratórias, logo ameaçadas de extinção;

• Transformação da estrada próxima à lagoa numa Via-Parque. Trata-se de uma via

especial, com pavimentação e tratamento paisagístico diferenciados, destinada a

criar áreas de circulação de pedestres e ciclistas, e de lazer ao longo de áreas de

interesse ambiental.;

• Segurança;

Page 221: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 221/266

214

• Equipamentos: Guaritas 24 horas nos pontos de entrada: Zacarias, Ponte da

Vidreira e Itaipuaçu. As demais devem ser fechadas ou resolvidas pelo Conselho

Gestor da UC;

• Guarita numa torre de 20 metros de altura no meio do parque para uma vigilância

panorâmica;

• Cerca em torno da Fazenda (nas fronteiras da Barra, Itaipuaçu e São José) e na

Ponta do Fundão na fronteira com Divinéia;

Page 222: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 222/266

215

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS6.1 Conclusões

O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo abrangendo a reavaliação da

Legislação referente à unidade de conservação, verificando oportunamente os

conflitos e as injustiças Ambientais da Área de Proteção Ambiental de Maricá – RJ.

O primeiro passo do trabalho foi fazer a delimitação da área, identificando-a

no litoral do Estado do Rio de Janeiro, após se verificou que na década de 1980 as

associações ambientalistas, a comunidade local e científica e o poder público

propuseram a criação de uma unidade de conservação na região da restinga de

Maricá, com o intuito de evitar o processo de urbanização e pelo notável patrimônio

ambiental da região, que abrigava um conjunto de ecossistemas e paisagens

cênicas ímpares, assim a localidade foi transformada numa Unidade de

Conservação em 1984, através do Decreto Estadual nº 7.230.

Ocorre que no decreto que criou a UC estava a proibição total de

parcelamento de terras para fins urbanos e a construção de edificações, isso antes

do SNUC.

A área foi transformada num tipo de unidade de conservação que não

obrigava ao Estado a indenizar ao proprietário, ou seja, a área continuava sendo

uma propriedade privada, o que freqüentemente colocava os pescadores, o

ecossistema, o sistema lagunar e a comunidade pesqueira de Zacarias em

constante ameaça de degradação e extinção, diante da implantação de algum

empreendimento no local.

Atualmente o conflito se refere ao pseudo Plano de Manejo e respectivo

zoneamento, em vigor desde dezembro de 2007, questionado pelos pescadores,

ambientalistas, associações de moradores, dentre outros, pela elaboração sem a

participação e aprovação de um Conselho Gestor instituído, e transgredir várias Leis

Estaduais e Federais.

As leis que criam as UC prevêem a elaboração de um Plano de Manejo, que

em muitos casos é realizado por consultores externos à Unidade, técnicos que nãoconhecem o cotidiano e a dinâmicas locais, desta forma,o resultado do zoneamento

Page 223: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 223/266

216

e propostas para utilização das áreas da Unidade acabam definidos de valores

técnicos, ficando as demandas e necessidades da população,como a cultura e as

formas de saber local, de fora das propostas definitivas, conforme é o caso da APA

de Maricá.

No entanto, o Governador Sérgio Cabral implantou o Plano de Manejo da UC

em 04 de agosto de 2007, através do Decreto Estadual nº 41.048, instituindo o

zoneamento e ordenando a ocupação da área. Acontece que o plano permitia a

ocupação urbana em diversas áreas, contrariando as bases legais federais e

estaduais sobre a proteção do entorno lagunar das dunas, da vegetação primária e

dos sítios arqueológicos, ferindo completamente as legislações brasileiras, sem a

implantação do Conselho Gestor e sem a devida e imprescindível audiência pública.

Além disso geram impacto e as injustiças ambientais, ao gerar problemas

refletem na qualidade de vida, visto que, a disposição urbana do plano de ocupação

ignora a complexidade dos ecossistemas existentes.

Para os atores envolvidos, o plano de ocupação da restinga é segregacionista

e altera a silhueta da restinga, transformando a horizontalidade que contrasta com a

harmonia de morros da região em um perfil mais verticalizado, pois a concentração

demográfica causará impactos ambientais e sociais irreversíveis comprometendo a

sustentabilidade e o ecossistema de toda a região.

O plano é incompatível com as disponibilidades e sustentabilidades da

qualidade de vida dos habitantes, considerando os anseios da população, os

estudos e pareceres técnicos ambientais, demonstram que qualquer tipo de

ocupação é agressivo e impactante porque interesses imobiliários ameaçam o

equilíbrio do meio ambiente.

Os conflitos e injustiças ambientais gerados pelo Plano de Manejo da APA de

Maricá são notórios devidos o processo de urbanização em curso no município,

apontando para a recategorização da área a partir do SNUC e da Legislação.

Para alcançar a finalidade desta dissertação, foram feitas várias

investigações, trabalhos de campos, entrevistas se baseando, entretanto, nos fatos

e não nos sentimentos, usando impreterivelmente a crítica objetiva e construtiva.

Page 224: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 224/266

217

O problema ambiental se complexificou pela localização junto ao espaço

urbano com alta taxa de pressão antrópica exercida, inclusive pelo turismo e pela

especulação imobiliária. A APA, mediante o Decreto Estadual nº 7.230/84, teve

estabelecidos entre outros, as dimensões, entornos e restrições de uso do solo em

seu interior.

A APA foi criada sob a égide do Decreto Estadual de nº 2.418/79, que

delimitou em 300 metros a Faixa Marginal de Proteção do entorno das Lagunas de

Maricá. Posteriormente, foi publicado novo Decreto de nº 38.490/2005, que reduziu

para 30 metros do nível mais alto as faixas marginais de proteção dos corpos d’água

integrantes do Sistema Lagunar, assim todo o entorno da APA prejudicou-se em

razão desta redução de proteção.

Diante destes fatos, o TJRJ considerou o Decreto nº 38.490/2005

Inconstitucional, pois reduziu a faixa de proteção em torno da Lagoa de 300 para 30

metros e tal ato prévia elaboração de Estudo de Impacto Ambiental de acordo com o

artigo 261, § 1º, da Constituição Estadual. Devendo, contudo, observar a

preservação permanente de manguezais, lagos, lagoas, lagunas e outras áreas,

conforme preconiza o artigo 268, I e II da Constituição do Estado do Rio de Janeiro,sendo que o artigo 261 da CE reproduz o que diz o artigo 225, caput e § 1º, incisos I

e I V, da Constituição Federal.

Assim, a inconstitucionalidade do Decreto nº 38.490/2005 foi declarada, mas,

numa manobra ardilosa, sobreveio o Decreto nº 41.048/2007 que instituiu o Plano de

Manejo da APA de Maricá, alterando no Decreto nº 7.230/84 os limites do entorno

das lagoas de Maricá para 30 metros.

Ocorre que o Ministério Público Estadual iniciou em 2008 a

Inconstitucionalidade do Decreto nº 41.048/2007, uma vez que o mesmo foi editado

sob a vigência de um Decreto que reduziu a faixa de proteção das lagoas de Maricá.

Contudo, a total insegurança paira em torno da proteção das faixas marginais

das lagunas de Maricá, uma vez que o Plano de Manejo observou o Decreto nº

38.490/2005, flexibilizando a exploração das áreas nos entornos das lagoas de

Maricá.

Page 225: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 225/266

218

O Decreto que instituiu o Plano de Manejo foi respaldado de um dispositivo

normativo inconstitucional, pois a melhor doutrina jusambientalista no artigo 23 da

Constituição Federal, o Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, nunca pode ser

menos restritivo em relação a esta proteção.

Enfim, com o intuito de atingir o propósito deste estudo, procedeu-se à análise

 jurídico-ambiental das legislações ambientais e demais, pertinentes a Área de

Preservação Ambiental, procedendo inclusive à avaliação a partir das reivindicações

da população local e de pesquisadores, assinalando a Recategorização da APA

para Criação do Parque Natural da Restinga de Maricá como uma Unidade de

Proteção Integral conforme previsto na Lei Federal N° 9.985 de I8 de julho de 2000

que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. O artigo

11do SNUC, preceitua que o Parque tem como objetivo básico a preservação de

ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica,

possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de

atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a

natureza e de turismo ecológico. No Parágrafo 4º do artigo supramencionado,determina que as unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou

Município, serão denominadas, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural 

Municipal.

Desta forma, seria possível coibir os conflitos e injustiças ambientais naquela

localidade, servindo legitimamente de modelo para outras unidades de conservação.

Page 226: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 226/266

219

BIBLIOGRAFIA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ABAIXOASSINADO.ORG. Abaixo-Assinado (#2587): Criação do PARQUE DA

RESTINGA DE MARICÁ - RJ - BRASIL. Disponível em:

http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/2587. Acesso em: 16 nov. 2009.

ACOT, Pascal. História da Ecologia . Rio de Janeiro: Campus, 1990, p. 7.

ACSELRAD, Henri. Sustentabilidade e Democracia.Proposta n. 71, FASE, Rio de

Janeiro, 1997.

ACSELRAD, H (org.). Conflito Social e Meio Ambiente no Estado do Rio de Janeiro .

Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2004.

ACSELRAD, H (org.). Conflitos Ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume-

Dumará, 2004.

ACSELRAD, H. Justiça Ambiental – ação coletiva e estratégias argumentativas .In:Justiça Ambiental e Cidadania . Rio de Janeiro: Editora RelumeDumará; 2004.

ACSELRAD Henri, Mello Cecília Campello, Bezerra Gustavo das Neves: O que é 

Justiça Ambiental. Editora: Garamond, 2008.

ACSELRAD Henri (ORG), Conflitos Ambientais no Brasil , Relume Dumará, 2009.

AGOSTINHO, Márcia Esteves. Complexidade nas Organizações – em busca da 

gestão autônoma. São Paulo: Editora Atlas, 2003.

ALIER, Joan Martinez. El Ecologismo de los pobres . Barcelona: Icaria, 2004.

Page 227: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 227/266

220

ALIER, Joan Martinez, Da Economia ecológica ao Ecologismo Popular .

Blumenau:FURB, 1998.

ALVES, H. P. F. “Vulnerabilidade socioambiental na metrópole paulistana: uma 

análise sociodemográfica das situações de sobreposição espacial de problemas e 

riscos sociais e ambientais”. in: Revista Brasileira de Estudos Populacionais. São

Paulo.v. 23. n. 1, jan./jun. 2006.

AMAZONIA FILMES. Restinga de Maricá - Parte 1. Disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=d4e6WSq12tA&feature=related. Acesso em: 25nov. 2010.

ANAP Brasil – Revista Científica, ano I, nº I, julho de 2008.

ANTUNES. Paulo de Bessa. Direito Ambiental . Lúmem Júris. 10.a. Ed. 2007.

Rio de Janeiro.

ARAUJO, Nelson Paes Leme D. de. O paisagismo como forma de redução dosimpactos ambientais e melhoria da qualidade de vida nos condomínios horizontais:

uma análise dos condomínios de Juiz de Fora/MG. Niterói, 2009, 119f. (Mestrado

em Arquitetura e Urbanismo) – Curso de Pós-Graduação em Arquitetura e

Urbanismo, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.

A RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO. Caderno da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. São Paulo: CNRBMA

ARQUIVO NACIONAL. Carta Cartographica da Província do Rio de Janeiro, Major

Henrique Luis de Niemeyer Bellegarde, 1837.

ASTRO, M. “Racial Democracy a Myth: Carnival Reveals Cracks of Brazil’s Racial

Divide”. http://www.canoe.ca/cnewsFeature0002/07_brazil.html. Fevereiro.2000.

acessado em 10/05/2010.

Page 228: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 228/266

221

ATLAS GEOGRÁFICO ESCOLAR/ IBGE. Rio de Janeiro, 2007.

BAHIENSE, Marcos de Castro Martins. Zoneamento Ecológico-Econômico deMaricá. Niterói, 2003. 36 f. Trabalho Final de Graduação. (Graduação em Arquitetura

e Urbanismo) – Escola de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal

Fluminense, 2003.

BAILEY, C. ALLEY, K. FAUPEL, C.E. Environmental Justice and the Professional. In:

BRYANT, B. (ed.) Environmental Justice. Issues, Policies and Solutions.1ª ed.

Washington, D.C. Island Press.1995.

BARATA, R. Epidemiologia Social. Revista bras.epidemiol. vol.8. n1. pp.7-17. 2005.

BARCELLOS, C. O território: entre o ambiente e a saúde. Cadernos de Saúde

Pública (FIOCRUZ). Rio de Janeiro. V.23. p.486-487. 2007.

BARROS, Ana Angélica Monteiro de et al. Aspectos Ambientais e Legais da

Conservação do Parque Estadual da Serra da Tiririca. Estudo de Caso: Córrego dos

Colibris, Niterói, RJ, Brasil. Disponível em:

<http://www.ambiental.adv.br/colibris.html>Acesso em: 29 de julho de 2010.

BENJAMIN, Antonio Herman V. Função ambiental. In: BENJAMIN, Antonio Herman

V. (Coord.). Dano Ambiental: Prevenção, Reparação e Repressão. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 1993. p. 9-82.

BENJAMIN, César (Editor). Diálogo sobre ecologia, ciência e política. Nova 

Fronteira, Rio de Janeiro: Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, 1993. 198 p.

BOFF, Leonardo. Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres . São Paulo: Editora

Ática, 1995. 341 p.

Page 229: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 229/266

222

BIRNFELD, Carlos André S. Do Ambientalismo à Emergência das Normas de 

Proteção Ambiental no Brasil . In VARELA, Marcelo Dias et al. (orgs.). O Novo em 

Direito Ambiental . Belo Horizonte, Del Rey Editora, 1998. Págs.71-97.

BULLARD, Robert D. Dumping in Dixie: race, class and environmental quality.

Boulder, Westview Press, 1990.

BULLARD, R. D. “Environmental Racism and Land Use”. In: Land use Forum: a

 journal of international law 18 (1). 1993.

BULLARD, R.D. “Unequal Protection: Environmental Justices and Communities of

Color. San Francisco. Sierra Club Books. 1996.

BULLARD, R. “Enfrentando o racismoambiental no século XXI.”.in: JustiçaAmbiental 

e Cidadania. RelumeDumará. Rio de Janeiro. 2004.

BURSZTYN, M. (org.): A difícil sustentabilidade - política energética e conflitos 

ambientais. Rio de Janeiro: Garamond, 2001, pp. 123 - 147.

BRASIL. Lei 7.661, de 16 de maio de 1988. Institui o Plano Nacional de

Gerenciamento Costeiro e dá outras providências. Disponível

em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7661.htm. (Acesso em: 01/07/2011).

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional de

Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>.

Acesso em 5 julho 2011.

Page 230: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 230/266

223

BRITO, Francisco e CÂMARA, João. Democratização e gestão ambiental: em busca 

do desenvolvimento sustentável. Petrópolis: Vozes, 1999.

CALIXTO, Robson José opcit FREITAS, Mariana Almeida Passos de. Zona Costeira

e Meio Ambiente, 2005, p.78.

CAMACHO, D. (Ed.) Environmental injustices, political struggles: race, class and the

environment. Durham/London, Duke University Press, 1998.

CARRERA, Francisco & SÉGUIN, Elida. Planeta Terra uma abordagem de Direito 

Ambiental. Ed. Lúmem Júris. 2ª. Ed. 2001.

CARTIER, Ruy Lemme: “Uma proposta de operacionalização para avaliação de

injustiça ambiental: o caso do Distrito Industrial Fazenda Botafogo, Rio de Janeiro”,

Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Saúde Pública e Meio

Ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, 2008.

CARVALHO, Carlos Gomes de. Dicionário Jurídico do Ambiente. S.ed. São Paulo:

Editora Letras& Letras, 1991, p. 303.

CARVALHO, Isabel et al (coords). Conflitos sociais e meio ambiente . Rio de Janeiro:

Ibase, 1995.

CARVALHO, Renato V.; SILVA, Kleber G. da, BECKENKAMP, Paulo R. de C. &

MESSIAS, Leonardo T. Gestão Ambiental no Sistema de Dunas Costeiras – área de 

Preservação Permanente, no Balneário Cassino – RS in Áreas Protegidas: 

Conservação no âmbito do Cone Sul . Pelotas: Alex Bager Editor, 2003. pp. 223. (p.

199 à 210). 

CECA: Comissão Estadual de Controle Ambiental. Rio de Janeiro, 2004.

Page 231: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 231/266

224

CHAMBERS, R.Vulnerability, coping and Policy. IDS Bulletin.v.20. n.2. 1989.

COLLINSON, H. (ed.) Green Guerrillas: environmental conflicts and initiatives inLatin America and the Caribbean. Montreal-New York-London: Black Rose Books,

1997.

COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL).

“Sociodemographic vulnerability: old and new risks for communities, households and

individuals. Summaryandconclusions”. Brasilia: UNA, 2002.

Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, n. 22, 2003. 61 p.

Série Estados e Regiões da RBMA.

Convenção de Ramsar, disponível em http://www.ecoa.org.br/canal.php?c=560,

acesso em 02 de agosto de 2010.

CUTTER, S., CLARK, L., GLICKMAN,T.S., GOLDING, D., HERSCH, R. “GISBased

Environmental Equity Analysis, A Case Study of TRI Facilities in the Pittsburgh Area,”

In Computer Supported Risk Management, eds. W.A. Wallace and E.G. Beroggi,

1994, p.60-61.

Declaração de Changwon sobre bem estar social e Zonas Úmidas, Disponível em:

http://www.ramsar.org/pdf/cop10/cop10_changwon_portuguese.pdf, acesso em 20

de agosto de 2010.

DIEGUES, A. C. (ORG). Etnoconservação: novos rumos para a conservação da 

natureza nos trópicos. São Paulo: HUCITEC, 2000.

ENVIRONMENTAL PROTECT AGENCY (EPA). Environmental justice smartenforcement assessement tools. 2005.

Page 232: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 232/266

225

FABER, Daniel (ed.) The struggle for ecological democracy – environmental justice 

movements in the United States . New York/London: The Guilford Press, 1998 FASE.

Justiça Ambiental. Revista Proposta n. 99, dez/fev de 2003/04.

FELICE, Gabriel. Maricá volta a questionar quem é o dono da restinga. O

Fluminense, Niterói, 18 dez. 2006. Disponível em:

http://midiaemeioambiente.blogspot.com/2006/12/maric-volta-questionar-quem-o-

dono-da.html. Acesso em: 25 nov. 2010.

FIGUEIRA, Archibaldo. Grilagem transnacional avança na Resinga de Maricá (RJ). ANova Democracia, Rio de Janeiro, ano VII, n. 46, set. 2008. Disponível em:

http://www.anovademocracia.com.br/index.php/index.php?option=com_content&task

=view&id=1836&Itemid=105. Acesso em: 16 fev. 2011.

FORSTER, John Bellamy. 2005 A ecologia de Marx – materialismo e natureza . Rio

de Janeiro: Civilização Brasileira.

FREITAS, Mariana Almeida Passos de. Zona Costeira e Meio Ambiente: Aspectos

Jurídicos. Curitiba: Juruá, 2005.

FREITAS, C.M., PORTO, M.F.S., FREITAS, N.B.B. et al., 2001. “Chemical Safety

and Governance”.in: Journal of Hazardous Materious. 86: 135-151.

FREITAS, C. M.; PORTO, M. F. S. “Discutindo o papel da ciência frente à justiça

ambiental”. in: II Encontro da ANPPAS – Associação Nacional de Pós- Graduação

em Ambiente e Sociedade - GT "Justiça ambiental, conflito social e desigualdade".

Indaiatuba, SP, 26 a 29/05/2004.

GEORGE, Susan. O Relatório Lugano . São Paulo: Boitempo, 2003.

Page 233: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 233/266

226

HARNER, J.; WARNER, K.; PIERCE, J.; HUBER, T. Urban Environmental Justice

Indices.The Professional Geographer, Malden, v. 54, n.3, p.318–331, 2002.

HERCULANO, S. Ambiente Urbano, Pobreza e Desenvolvimento Sustentável .

Revista Nação Brasil. Rio de Janeiro. ADIA. vol.122. 2000.

HERCULANO, S. “Riscos e desigualdade social: a temática da Justiça Ambiental e

sua construção no Brasil. In: I Encontro da ANPPAS – GT Teoria e Ambiente.

Indaiatuba. São Paulo. 2002.

HERCULANO, S. Resenhando o debate sobre Justiça Ambiental: produção teórica,

breve acervo de casos e criação da rede Brasileira de Justiça Ambiental. Revista

Desenvolvimento e meio ambiente. Curitiba: Editora da UFPR, n. 5, p. 143-149,

2002.

HERCULANO, Selene & PACHECO, Tânia (Orgs.). Racismo Ambiental . Rio de

Janeiro: FASE, 2006.

LAMEGO, Alberto Ribeiro: O Homem e a Restinga , Rio de Janeiro: Editora Lidador,

1974.

LARANJA NEWS. Encontro científico sobre a Área de Proteção Ambiental de

Maricá. Disponível em: http://maricaense.com.br/wordpress/?p=2691. Acesso em: 16

fev. 2011.

LEAL, Márcio Benevides. Mortandade na Lagoa de Maricá. O Rebate, Macaé,

24 mar. 2009. Disponível em:

http://www.jornalorebate.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=

3505&Itemid=58. Acesso em: 16 fev. 2011.

LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental . 4 ed. São Paulo: Cortez, 2006. 240p.

Page 234: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 234/266

227

LIMA, Flávia Valença. Conflitos sócio-ambientais na APA de Maricá: um foco na

Fazenda São Bento da Lagoa. Rio de Janeiro, IBGE – Tese de pósgraduação, 2007.

LIMONAD, Ester. “Yes, nós Temos Bananas!” Praias, Condomínios Fechados ,

Resorts e Problemas Sócio-ambientais. Revista Geographia, Niterói v. IX, n.17, p.1-

26, 2007.

LOPES, José Sergio Leite (coord.) A Ambientalização dos conflitos sociais – 

participação e controle público da poluição industrial . Rio de Janeiro: Relume-

Dumará, 2004.

 _______Lei 9.985, de 08 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II,

III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível

em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm. Acesso em: 01/02/2010.

 _______ Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e

administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá

outras providências.

Lei Complementar Municipal nº 145, de 10 de outubro de 2006, (Plano Diretor

Urbano do Município de Maricá).

LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental . São Paulo (4ª ed.): Cortez, 2007.

LYNCH, Kevin. La buena forma de la ciudad . Coleccion Arquitetura Perspectiva.

Barcelona: Gustavo Gilli Editora, 1985.

Page 235: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 235/266

228

MACHADO. Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro . Malheiros. São

Paulo. 15ª Ed.

MAGALHÃES, Juraci Perez. A Evolução do Direito Ambiental no Brasil .

São Paulo: Oliveira Mendes, 1998.

MARTINS, Angela Maria Moreira. O parcelamento da terra no município de Maricá,

Estado do Rio de Janeiro. 1986. 160f. (Mestrado em Geociências) – Instituto de

Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1986.

MARTINS, José de Souza. A chegada do estranho. Em o cerco está se fechando .

Jean Hébette (org.). Rio de Janeiro: FASE- Vozes; Belém: NAEA/UFPA, 1991.

MATIAS, Mateus L. et al. Disputa por teritório na Área de Proteção Ambiental de

Maricá - Rio de Janeiro. In: Encuentro de Geógrafos de América Latina, 12, 2009,

Montevideo, Uruguai. Trabajos. Montevideo: EGAL, 2009. Disponível em:http://egal2009.easyplanners.info/area07/7688_Lage_Matias_Matheus.pdf. Acesso

em: 16 fev. 2011.

MAX-Neef, M., Elizalde, A., Hopenhayn, M. com a cooperação de Herrera, F.,

Zemelman, H., Jatobá, J.,Weinstein, L. (1989). Desenvolvimento à escala humana: 

uma opção para o futuro. Diálogo de Desenvolvimento, 1, 10-80.

MELLO, Marco Antonio da Silva e VOGEL, Arno. Narrativa versus escritura na

Restinga de Maricá: segundos pensamentos sobre o fenômeno jurídico e o conflito

das formas na reivindicação dos direitos. Comum, Rio de Janeiro, v. 7, n. 19, pp.

112-148, ago-dez. 2002. Disponível em:

http://www.facha.edu.br/publicacoes/comum/comum19/pdf/marcoantonio.pdf.

Acesso em: 16 nov. 2009.

Page 236: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 236/266

229

MOHAI, P.; BRYANT, B. Environmental Racism: Reviewing Evidence. In: Race and

the Incidence of Environmental Hazards. Chapter 13. 1992.

MORAIS, A.C.R; COSTA, W.M. Geografia crítica: a valorização do espaço . 2ºed.

São Paulo. Hucitec.

MORIN, Edgar; KERN, Anne-Brigitte. Terra-Pátria . 5 ed. Porto Alegre: Sulina, 2005.

181p.

MORIN, Edgar. La Méthode Tome 3: La Connaissance de la Connaissance . Seuil,1986.

MELLO, Marco Antonio da Silva, VOGEL, Arno. Gente das areias: história, meio 

ambiente e sociedade no litoral brasileiro: Maricá-RJ: 1975 a 1995 . Niterói: EDUFF,

2004.

MELLO, Marco Antonio da Silva e VOGEL, Arno. Narrativa versus escritura na

Restinga de Maricá: segundos pensamentos sobre o fenômeno jurídico e o conflito

das formas na reivindicação dos direitos. Comum, Rio de Janeiro, v. 7, n. 19, pp.

112-148, ago-dez. 2002. Disponível em:

http://www.facha.edu.br/publicacoes/comum/comum19/pdf/marcoantonio.pdf. acesso

em: 16 fev. 2011.

MILARÉ. Edis. Direito do Ambiente . Ed. RT. 5ª. Ed. São Paulo, 2009.

MOURA, Danieli Veleda, Praias, dunas e restingas: conceito, características e

importância à luz do Direito Ambiental Brasileiro, Revista Jus Vigilantibus, junho de

2009.

Page 237: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 237/266

230

MOVIMENTO PRÓ-RESTINGA. Projeto de criação do Parque Natural Municipal das

Restinga de Maricá. Disponível em:

http://www.spmm.com.br/movimento_pro_restinga.pdf. Acesso em: 20. mar. 2011.

MOVIMENTO MUNDIAL PELAS FLORESTAS TROPICAIS. Fábricas de celulose –

da monocultura à poluição industrial.. Montevidéu: Secretariado Internacional, 2005.

NEDER Ricardo Toledo. Crise Sócioambiental: Estado e sociedade civil no Brasil,

(1982-1998). São Paulo: Annablume, Fapespe, 2002.

PACHECO, T. Linhas de dignidade . Rio de Janeiro: FASE, 2005.

PACHECO, Tania: “Desigualdade, injustiça ambiental e racismo: uma luta que

transcende a cor”. I Seminário Cearense contra o Racismo ambiental. Fortaleza:

novembro de 2006.

PECCATIELLO, Ana Flávia O.: “O uso e a ocupação do espaço na vila do Abraão -

Ilha Grande, RJ: Uma abordagem sobre o desenvolvimento do turismo, a

urbanização e os instrumentos legais”, Dissertação apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense,

Niterói, 2010.

PELLICCIONE, André e FRANÇA, Fernando. Fórum Social em Maricá impulsiona

luta em defesa da restinga. Sindsprev, 27 jan. 2008. Disponível em:

http://www.sindsprevrj.org.br/jornal/secao.asp?area=24&entrada=261. Acesso em:

20 de mar 2011.

PIMBERT, Michel P.; PRETTY, Jules N. Parques, comunidades e profissionais:

incluindo "participação" no manejo de áreas protegidas. In:DIEGUES, Antonio C.

(org.) Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. São

Paulo: Nupaub - USP Editora, 2000. p. 183-223.

PINTO, L.A. Costa. O negro no Rio de Janeiro – relações de raças numa sociedade 

em mudança. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998.

PRIGOGINE, Ilya. O Fim das Certezas – TEMPO, CAOS E AS LEIS DA

NATUREZA. São Paulo: Editora Unesp, 1996.

Page 238: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 238/266

231

Plano Diretor de Maricá de 1990. p. 52.

PREFEITURA MUNICIPAL DE MARICÁ. Inea pesquisa causa da mortandade de

peixes em Maricá. Disponível em:http://www.marica.rj.gov.br/noticia.php?noticia=1261. Acesso em: 20 de mar 2011.

RIBEIRO, Luís César Queiróz. Dos cortiços aos condomínios fechados: as formas 

de produção da moradia na cidade do Rio de Janeiro . Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira: IPPUR, UFRJ: FASE, 1997.

RIO DE JANEIRO (Estado); Decreto nº 21.287, de 23 de janeiro de 1984.

RIO DE JANEIRO (Estado). Área de Proteção Ambiental: Plano Diretor. Rio de

Janeiro: Feema/Ceca, 1995.

ROSA, Luiz Pinguelli et al (coords.) Impactos de grandes projetos hidrelétricos e 

nucleares – aspectos econômicos, tecnológicos, ambientais e sociais . Rio de Janeiro

AIE/COPPE/ Marco Zero e CNPq, 1988.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro:

Garamond, 2002.

SALGE JR., Durval. Instituição do bem ambiental no Brasil, pela constituição federal 

de 1988: seus reflexos jurídicos ante os bens da união . 1. ed. São Paulo: Juarez de

Oliveira, 2003.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção . SãoPaulo: Edusp, 1997.

SANTOS, M. Espaço e método. São Paulo. ed. Nobel. 1998.

SCHMIDT, A. El concepto de naturaleza en Marx. Siglo XXI. México D.F., 1976.

SCOTTO, Gabriela. Conflitos sócio-ambientais . Rio de Janeiro: IBASE, s.d.

SHIVA, Vandana. Staying alive – Women, Ecology and Development. London: Zed

Books, 1989.

Page 239: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 239/266

232

SILVA, J. B.; BARROS, M. B. A. Epidemiologia e desigualdade: notas sobre a teoria

e a história. Pan American Journal of Public Health v.12, n.6, p.375-383, 2002.

SILVA, Oséias Teixeira da. A valorização da terra e a especulação imobiliária: astransformações do mercado de terras urbanas em Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e

Maricá na nova conjuntura de produção flexível. Revista Tamoios, São Gonçalo v.

IV, n.1, p.1-19, jan/jun, 2008.

SINGER, Paul. O uso do solo urbano na economia capitalista. In: Maricato, Ermíria

(org). A produção capitalista da casa e da cidade no Brasil Industrial. São Paulo:

Alfa-Omega, 1979.

SIQUEIRA, J. O. ; SOARES, Cláudio Roberto FonsêcaSousa ; SANTOS, José

Geraldo Donizetti dos ; Schneider, J. ; CARNEIRO, Marco Aurélio Carbone.

Micorrizas e degradação do solo: caracterização, efeitos e ação recuperadora.

Tópicos em Ciência do Solo, v. 5, p. 219-306, 2007.

SOJA, Edward. W. Geografias pós-modernas. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1984.

SPIRN, Anne. O jardim de granito : natureza urbana e desenho humano . São Paulo:

EDDUSP, 1996.

SZASZ, A. EcoPopulism: toxic waste and the movement for environmental justice.

Minneapolis: University of Minnesota Press. 1994.

THE UNITED CHURCH OF CHRIST, COMISSON FOR RACIAL JUSTICES (UCC).

Toxic Wastes and Race in the United States: A National Report on the Racial and

Socieconomic Characteristics of Communities with Hazardous Wastes Sites. United

Church of Christ. New York. 1987.

TIMNEY, M.M. Environmental Injustice: Examples from Ohio. In: CAMACHO, D.E.

(ed). Environmental Injustice, Political Struggles. 1ª ed. London.DukeUniversityPress.

1998.

TOPALOV, Cristian. La urbanización capitalista. Cidade do México . EditoraEdicol.

1979.

Page 240: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 240/266

233

US GENERAL ACCOUNTING OFFICE (GAO). Siting of Hazardous Waste Landfills

and Their Correlations with Racial and Economic Status of Surrounding ommuinities.

GAO. Whashington, DC. 1983.

VIEIRA, Paulo et al. Gestão Integrada e Participativa de Recursos Naturais – 

Conceitos, Métodos e Experiências . Florianópolis: Ed. SECCO/APED, 2005/2006.

VIEIRA FILHO, Antônio. Ofício nº GAB/032/2006 OAB Rio de Janeiro.

WILKINSOn R.G.; PICKETT, K.E. Income inequality and population health: A review

and explanation of the evidence. Social Science & Medicine, 62(7).pp. 1768-1784.

2006.

WHITE, H.L. Race, Class, and Environmental Hazards. In: CAMACHO, D.E. (ed).

Environmental Injustice, Political Struggles. 1ª ed. London. Duke University Press.

1998.

WRIGHT, B. Environmental Equity Justice Centers: A response to Inequity. In:

BRYANT, B. (ed.) Environmental Justice. Issues, Policies and Solutions.1ª ed.

Washington, D.C. Island Press. 1995.

YANDLE, T; BURTON, D. Reexamining environmental justice: A statistical analysis

of historical hazardous waste landfill siting patterns in metropolitan Texas. Social

Science Quarterly 77 (3): 477–92. 1996.

ZANDBERG, P.A., CHAKRABORTY, J. Improving environmental exposure analysis

using cumulative distribution functions and individual geocoding. International Journal

of HealhtGeographics. 2006.

ZHOURI, Andréa et al (orgs.) A insustentável leveza da política ambiental – 

Desenvolvimento e conflitos sócio-ambientais . Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 

Page 241: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 241/266

234

Sites:

Disponível em <http://www.marica.rj.gov.br> Acesso em 22 out. 2010.

<http://www.marica.com.br/2010> Acesso em 23 nov.. 2010.

<http://www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br/index.php?pag=ficha&cod=116.

RESTINGA DE MARICÁ - RJ – BRASIL. Disponível em:

http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/2587. Acesso em: 16 agost. 2010.

AMAZONIA FILMES. Restinga de Maricá - Parte 1. Disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=d4e6WSq12tA&feature=related. Acesso em: 16

agost. 2010.

AMAZONIA FILMES. Restinga de Maricá - Parte 2. Disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=d4e6WSq12tA&feature=related. Acessoem: 16agost. 2010.

IN MagazinNewsweek - Daniel Stone And Justice For All, acessoemagosto de 2011,

http://www.thedailybeast.com/newsweek/2008/10/20/and-justice-for-all.html

 ______________. Restinga de Maricá - Parte 2. Disponível em:http://www.youtube.com/watch?v=grVV9xXPlY8&feature=related. Acesso em: 25

nov. 2010.

Disponível em http://www.marica.rj.gov.br. Acesso em 22 maio 2010.

Disponível em http://www.avantis.es/. Acesso em 22 maio 2010.

Page 242: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 242/266

235

Disponível em http://www.cetya.es/. Acesso em 22 maio 2010.

Disponível em http://www.geexpark.com/index.php. Acesso em 22 abr. 2010.

Disponível em http://www.madrilisboa.pt/. Acesso em 22 abr. 2010.

Disponível em http://www.ademi.webtexto.com.br. Acesso em 25 maio 2010.

Restinga de Maricá - Parte 2. Disponível em:http://www.youtube.com/watch?v=grVV9xXPlY8&feature=related. Acesso em: 16

nov. 2009.

Jornais:

MENDES, Thaís. Favelas avançam no cenário de Arraial do Cabo. O Globo, Rio de

Janeiro, 7 out. 2007. Caderno Rio, p.30.

RIBEIRO, Artur Marques. Imprensa de Maricá faz campanha para construção de

resort. A Voz de Maricá, Maricá, out. 2007.

FELICE, Gabriel. Maricá volta a questionar quem é o dono da restinga. O

Fluminense, Niterói, 18 dez. 2006. Disponível em:

http://midiaemeioambiente.blogspot.com/2006/12/maric-volta-questionar-quem-o-

dono-da.html. Acesso em: 16 nov. 2009.

FIGUEIRA, Archibaldo. Grilagem transnacional avança na Restinga de Maricá (RJ).

A Nova Democracia, Rio de Janeiro, ano VII, n. 46, set. 2008. Disponível em:

http://www.anovademocracia.com.br/index.php/index.php?option=com_content&task

=view&id=1836&Itemid=105. Acesso em: 16 nov. 2009.

Page 243: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 243/266

236

LEAL, Márcia Benevides. Mortandade na Lagoa de Maricá. O Rebate, Macaé, 24

mar. 2009. Disponível em:

http://www.jornalorebate.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=

3505&Itemid=58. Acesso em: 16 agosto 2010.

MOVIMENTO PRÓ-RESTINGA. Projeto de criação do Parque Natural Municipal das

Restinga de Maricá. Disponível em:

http://www.spmm.com.br/movimento_pro_restinga.pdf. Acesso em: 16 nov. 2009.

PREFEITURA MUNICIPAL DE MARICÁ. Inea pesquisa causa da mortandade de

peixes em Maricá. Disponível em:http://www.marica.rj.gov.br/noticia.php?noticia=1261. Acesso em: 16 nov. 2009.

Page 244: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 244/266

237

Anexo I

Page 245: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 245/266

238

Anexo I 

OFICINA DE DIAGNÓSTICO RÁPIDO PARTICIPATIVO DA ÁREA DE PROTEÇÃOAMBIENTAL DE MARICÁ (APA MARICÁ)

A Fundação Instituto Estadual de Florestas promoveu, com o apoio do Projeto

de Proteção à Mata Atlântica – PPMA, no dia 31 de Maio de 2008 (no Colégio

Elisário da Mata, Rua Abreu Rangel, N° 115, Centro de Maricá), a Oficina de

Diagnóstico Rápido Participativo da Área de Proteção Ambiental de Maricá (APAMaricá).

Na abertura dos trabalhos, Adriano Melo, administrador da APA Maricá,

cumprimentou os participantes, destacando a importância de estarem reunidos,

organizações governamentais e da sociedade, em uma oficina de diagnóstico rápido

participativo, gerando subsídios para a gestão da referida Unidade de Conservação.

A oficina foi iniciada com uma apresentação dos participantes, quemencionaram a que instituição e ou grupo social possuem vinculação. O diagnóstico

participativo da APA foi iniciado através de uma dinâmica de mapeamento da visão

de cada um dos participantes a respeito da APA Maricá. Todas as informações

foram expostas em um quadro e brevemente discutidas pelos participantes.

Em seguida foi realizada a identificação, o ordenamento temático e a análise

dos aspectos que, considerados como forças restritivas, impedem ou dificultam o

cumprimento de seus objetivos de criação. Os temas mapeados foram: conselho

gestor; Plano de Manejo; Poder Publico; gestão; educação/ informação; categoria da

UC; fiscalização/proteção; recursos naturais e questões fundiárias. Em seguida, os

aspectos identificados como forças restritivas – pontos fracos e ameaças – foram

analisados destacando-se, segundo a visão individual dos participantes, aqueles

considerados de maior gravidade.

Na continuidade, os participantes identificaram, de forma livre e espontânea,

os principais aspectos ou fatores que, inerentes a APA e ao contexto local que,

considerados como forças impulsoras, contribuem para o cumprimento de seus

Page 246: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 246/266

239

objetivos de criação. Os temas mapeados foram: gestão, conhecimento e pesquisa,

patrimônio natural/ cultural, turismo, conservação / preservação, integração com

Outras UC's, controle / participação, proteção / fiscalização e populações locais. Os

aspectos identificados foram organizados em um painel e analisados, destacando-se

aqueles de maior relevância.

Na etapa de planejamento, os participantes manifestaram idéias sobre ações

propostas que devem ser implementadas na APA Maricá e Região. Os temas

mapeados foram: conselho, áreas degradadas, pesquisa (arqueológicas), Plano de

Manejo, proteção / fiscalização, recategorização, população local, legislação,

educação/pesquisa e questões fundiárias. As ações propostas foram organizadas

em um painel e analisadas destacando-se, segundo a visão individual, aquelas

consideradas estratégicas e urgentes para a implantação efetiva da APA e o

desenvolvimento sustentável da região.

Em uma reflexão sobre a importância do processo participativo e da atuação

integrada do governo e sociedade na gestão da APA, os participantes identificaram

as principais instituições envolvidas com o contexto regional da APA Maricá,

indicando aquelas a serem contatadas para que, caso se afirme a relevância epertinência, estejam representadas no Conselho Consultivo da APA.

No encerramento da oficina, em uma avaliação, os participantes

manifestaram seus sentimentos. O interesse e comprometimento dos participantes

com a oficina possibilitaram vivenciar um ambiente construtivo, de intercâmbio de

idéias e busca de soluções para os problemas diagnosticados. Cabe destacar o

empenho do administrador da APA Maricá, de fundamental importância para a

realização desta Oficina.

Este relatório é constituído dos painéis elaborados e discutidos pelos

participantes durante a oficina; complementado com análise e comentários do

moderador. A estrutura desenvolvida no presente trabalho segue os aspectos

teóricos e metodológicos realizado em outras atividades semelhantes pelo Sr.

Roberto Rezende.

Page 247: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 247/266

240

A Visão geral dos participantes sobre a APA Maricá são as seguintes:

• O futuro da soberania nacional;

• Legislação frágil;

• Abandono do poder publico;

• Grande diversidade biológica, um dos últimos remanescentes de restinga do RJ;

• Paisagem natural;

• Local de grande relevância ecológica, contudo, carente de institucionalização;

• Fundamental para a preservação da natureza do planeta;

• Patrimônio ambiental;

• Reclassificação;

• Parque Nacional ou Estadual de Barra de Maricá;

• Unidade de conservação do tipo APA não adequado para a restinga de Maricá;

• O governo deve desapropriar a área e transformar numa U.C.que Garanta a

proteção do ecossistema, da colônia de pescadores e da pré-história. A atual

categoria coloca em risco este patrimônio;

• Espaço fundamental na construção da identidade do Município. Patrimônio do povo

de Maricá;

• Área de extrema importância para o sistema lagunar e para a comunidade

pesqueira, linda, pode ser transformada em parque com visitação turística e de

ensino;

• Falta de fiscalização na área;

• Área com grande diversidade biológica;unidade de conservação;

• Área importante p/ o ambiente de Maricá, porém, desconhecida p/ sua população;

• APA=Unidade de Conservação subordinada ao SNUC,PNGC,PNRHI, Reserva

Biosfera da Mata Atlântica;

Page 248: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 248/266

241

• Ecossistema frágil e vulnerável,atualmente, sem que nem as leis existentes

conseguem proteger;

• Fauna e flora ameaçados, assim como sambaquis e pescadores tradicionais;

• Legislação não garante a preservação da restinga p/ a comunidade;

• Precisa ser mais observada e protegida por aqueles que não a conhecem;

• Unidade de conservação preservada c/ espécies endêmicas e em extinção.

• Uma das poucas restingas que resistem as pressões externas. Muitas espécies

endêmicas.Berço de peixes p/ a lagoa;

• Reserva de areia que garante o equilíbrio da costa;

• Raro e precioso bioma, frágil diante da inoperância e sério compromisso (ausente)

do estado, a mercê da especulação imobiliária;

• A categoria APA é equivocada p/a área de restinga uma vez que este ecossistema

deve ser todo preservado;

• Ambiente com uma vegetação bastante diversificada e importante, porém, sujo e

com pontos de degradação;

• Área de preservação é para ser preservada, leis existem para serem acatadas e

tratados de preservação respeitados;

• APA parcialmente degradada necessitando com urgência do conselho gesto e

ações imediatas p/ sua preservação;

Page 249: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 249/266

242

1 Mapeamento e Priorização

Page 250: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 250/266

243

Page 251: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 251/266

244

2 Gráficos das Priorizações: Forças Restritivas

Page 252: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 252/266

245

De acordo com os gráficos acima, as principais forças restritivas

identificadas pelos participantes se relacionam aos seguintes itens:

• Educação ambiental

A inexistência de ações de educação ambiental e também de um centro depesquisas na região na APA. Este aspecto, segundo os participantes seria de

grande importância para que a própria unidade de conservação seja mais bem

reconhecida e respeitada enquanto local de alto valor ambiental.

• Gestão – diálogo com a população local

Em relação ao processo de gestão, os participantes apontaram como de

grande relevância a ausência de diálogo do poder público e dos administradores daAPA Maricá com as populações locais no processo de gestão. Neste caso, a

população citada foram os moradores da localidade denominada Zacarias. Segundo

os participantes, a importância do diálogo se dá em função de uma gestão mais

participativa da unidade de conservação, mas também com base na importância em

se discutir, junto a estes moradores, possíveis impactos decorrentes de

empreendimentos na região.

Page 253: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 253/266

246

• Atuação do Poder Público

Em relação ao Poder Público, os participantes interpretam que há setores

governamentais que estariam potencializando conflitos locais em função deadequações no Plano de Manejo da APA aumentando a permissividade de

atividades de interesses empresariais e de especulação imobiliária. Vale ressaltar

que, segundo os participantes, os conflitos se potencializam em função da APA estar

localizada em região costeira de manguezais e restingas, biomas protegidos por

legislações estaduais e federais. Foi citada ainda que a prefeitura local, do município

de Maricá, encontra-se, até o momento, ausente do processo de gestão da APA.

• Gestão – ausência de conselho

A ausência de um conselho9 da APA Maricá foi considerado um aspecto

negativo, também de relevância, já o conselho foi apontado como importante

instrumento de gestão, previsto na legislação, e que deveria estar acompanhando

todos os processos relativos a elaboração e implementação do Plano de Manejo.

• Gestão – elaboração do Plano de Manejo

Foi considerada de altíssima relevância a inadequação do processo de

elaboraçãoo Plano de Manejo em função da não participação dos atores sociais

locais no processo. Segundo os participantes, o Plano de Manejo permite

planejamentos conflituosos em relação aos aspectos socioambientais que deveriam

ser melhor discutidos com a população local como, por exemplo, a ocupação e uso

intensivo de áreas de vegetação de restinga.

Categoria da UC:

Foi considerada de altíssima relevância a necessidade de propor um projeto

de recategorização da APA para unidade de conservação de proteção integral para

que, desta forma, os recursos naturais possam ser preservados integralmente. Isto

porque, segundo os participantes da oficina a categoria APA é muito permissiva.

Além dos temas mencionados acima foram priorizados aspectos negativos

relacionados com o tema Fiscalização - foi apontada a ausência de fiscalização,

Recursos naturais – foi apontada a possibilidade de erosão em áreas da APA caso

haja uso intensivo, e Questões fundiárias - tema ligado a proposta de

Page 254: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 254/266

247

recategorização, pois as APA´s podem ser compostas de terras públicas e/ou

privadas e como a demanda é pela proteção integral da área, conseqüentemente, é

reivindicado que a área seja de domínio do estado.

3 Mapeamento e Priorização: Forças Impulsoras

Page 255: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 255/266

248

Page 256: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 256/266

249

Page 257: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 257/266

250

4 Gráficos das Priorizações: Forças Impulsoras

De acordo com os gráficos acima, as principais forças impulsoras

identificadas pelos participantes se relacionam aos seguintes itens:

Page 258: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 258/266

251

• Recursos naturais

De acordo com os participantes há na região da APA Maricá diversas

espécies ameaçadas de extinção, além das espécies endêmicas. Além disso, a áreaseria fundamental para a sobrevida do sistema lagunas pois é região de reprodução

da fauna marinha. É importante ressaltar também que, segundo os participantes, a

região abriga várias espécies ameaçadas de extinção e é refúgio de aves

migratórias, o que ressaltaria a importância de tornar grande parte da área como

região de proteção integral, e não de uso sustentável como prevê a atual categoria

da APA.

• Pesquisas

Por conter grande relevância em relação aos aspectos naturais foi citado

pelos participantes que há diversas pesquisas já realizadas no local e que a

compilação destas pesquisas poderiam inclusive servir de subsídio pra a gestão da

APA. Além das pesquisas de cunho ecológico, foi citado pelos participantes que a

região da APA abriga diversos sítios arqueológicos de grande relevância que

deveriam ser estudados e registrados.

• População local

De acordo com os participantes, a presença dos moradores da comunidade

de Zacarias, tida como população tradicional reconhecida pela legislação brasileira,

é um patrimônio da APA Maricá. Segundo os participantes, a presença dos

moradores com suas culturas, história e costumes representa um valioso patrimônio

que deve ser preservado.

• Gestão – fiscalização

Segundo os participantes a região da APA Maricá, apesar de ainda não

contar com efetiva fiscalização, é de fácil acesso para fiscalização e monitoramento.

Page 259: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 259/266

252

5 Mapeamento e Priorização: Propostas de Ações

Page 260: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 260/266

253

Page 261: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 261/266

254

Page 262: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 262/266

255

Page 263: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 263/266

256

6 Gráficos das Priorizações: Ações Propostas

Page 264: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 264/266

257

Page 265: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 265/266

258

De acordo com os gráficos acima, as principais ações propostas

identificadas pelos participantes se relacionam aos seguintes itens:

• Gestão – uso da APA

Segundo os participantes deve haver mecanismos de gestão da APA que

possibilitem o controle efetivo da atividade imobiliária no local. Foi sugerido que haja

atenção em relação aos possíveis impactos sociais, ambientais e econômicos na

APA caso seja permitida a instalação de empreendimentos de grande porte10.

• Gestão – categorização

Foi sugerida a mudança da categoria da unidade de conservação. Apesar de

ser solicitada uma categoria que permite maior efetividade de proteção da área, não

há clareza nem consenso sobre o que seria mais adequado. Isto ocorre

principalmente do pouco entendimento e conhecimento das características previstas

na legislação para cada categoria de UC. Neste caso, foram citadas como alternativa

um Parque, pois é uma unidade de proteção integral, uma APA (só que federal), pois

poderia representar uma ação mais efetiva em função de ser atribuição federal, e

uma Resex, em função da existência de população tradicional no interior da APA.

É importante considerar, principalmente, que a demanda é, ao mesmo

tempo, pela maior proteção de determinadas regiões e pela asseguração dos usos

por parte das populações locais.

• Gestão – população local

Foi sugerido que a população local participe mais ativamente do processo de

gestão e que sejam garantidos e mantidos os seus direitos de uso e suas relações

com os recursos naturais presentes na APA Maricá.

• Gestão – conselho e Plano de Manejo

Foi sugerida que seja feita uma articulação entre os órgãos gestoresambientais em suas distintas esferas e as universidades visando efetivar a gestão.

Page 266: Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

7/21/2019 Conflitos e Injustiça Ambiental: (Re) avaliação da Legislação referente à Área de Proteção Ambiental de Maricá - RJ

http://slidepdf.com/reader/full/conflitos-e-injustica-ambiental-re-avaliacao-da-legislacao-referente 266/266

259

Além disso, foi ressaltada a importância da criação do conselho da APA. Neste

mesmo sentido, foi solicitado que após a criação do conselho seja feita uma revisão

do Plano de Manejo em função do presente plano ter sido considerado “falho” em