conflito peru equador 1995

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CENTRO UNIVERSITRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

A PARTICIPAO DO BRASIL COMO MEDIADOR NO CONFLITO PERUEQUADOR (1995)

Trabalho de concluso de curso apresentado ao curso de Relaes Internacionais da Faculdades Metropolitanas Unidas como exigncia parcial para a obteno do ttulo de bacharel em Relaes Internacionais sob orientao do Professor Paulo Gustavo Pelegrino Correa.

SO PAULO 2010

A participao do Brasil como mediador no conflito Peru - Equador (1995). So Paulo, 2010. Trabalho de Monografia, para a obteno de grau de Bacharel em Relaes Internacionais. Faculdades Metropolitanas Unidas. Curso de Relaes Internacionais, 2010.

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A PARTICIPAO DO BRASIL COMO MEDIADOR NO CONFLITO PERUEQUADOR (1995)

Monografia de concluso de curso apresentado banca examinadora da Faculdade de Relaes Internacionais das FMU, sob orientao do Professor Paulo Gustavo Pelegrino, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Bacharel. Aprovada em __/__/2010, pela banca examinadora professores. constituda pelos seguintes

___________________________________________________________

______________________________________________________ Prof. (Coordenador da Faculdade de Relaes Internacionais)

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Dedico este trabalho aos meus maravilhosos pais, que me concederam o Dom da vida, a minha querida irm, a minha av que muito especial, ao meu namorado que sempre me ajudou, a todos os meus familiares e amigos que me incentivaram, nunca me deixaram desistir e so especiais em minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeo primeiramente a Deus por ter me dado uma famlia maravilhosa, por eu ter sade, por sempre me guiar, me proteger e sempre cuidar das pessoas que eu amo. Agradeo ao meu pai, Luiz e minha me Ftima, por ter me dado a vida, por tudo que j fizeram e fazem por mim. Por todas as noites em claro, quando eu estava doente, por ter me ensinado a andar, a falar, por ter me ensinado tudo que sei hoje, por terem me dado uma estrutura digna, por fazer de mim uma pessoa melhor e por sempre me apoiar, nunca me desamparar e sempre me incentivar durante minha vida. Sem o amor dos meus pais e no seria nada. Agradeo a minha irm Aline, que sempre me ajudou e continua ajudando. Que estar do meu lado em todos os momentos que eu precisar. Agradeo a minha vozinha que minha segunda me, que sempre zelou por mim, sempre esteve ao meu lado e sempre estar. Agradeo a minha pequena sobrinha Giovanna que meu raio de sol, ilumina meus dias e me d foras para no desistir. Agradeo ao meu namorado que muito importante para mim, que me ensinou muito durante esses quatro anos e trs meses juntos. Fez de mim uma pessoa mais calma, mais paciente e mais corajosa para enfrentar as dificuldades da vida. cada dia me ensina algo novo. Agradeo a toda minha famlia, meus tios, meus primos, os parentes mais distantes e tambm a todos meus familiares queridos que no vivem mais aqui neste plano. Todos foram e so muito importantes na minha vida. Agradeo a todos os momentos felizes que passamos juntos. Agradeo todos os amigos que ganhei durante minha vida. Muitos conquistados durante a escola. No os vejo com a freqncia que gostaria, porm no esqueo jamais deles e como fizeram parte da minha vida. Agradeo em especial, aos amigos verdadeiros que conquistei durante os quatro anos de faculdade. Willian e Deborinha, comigo desde o primeiro dia de aula. Jessy, Ligia e Camis, conhecemos depois. Foram muitos momentos de alegria, muitos momentos tensos, mas todos lembrados com muito carinho. So to importantes e especiais na minha vida, sei que terei a amizade e o carinho de todos para sempre. 5

Agradeo por todos os professores que tive durante a minha vida, que me ensinaram tudo o que podiam, que contriburam para a minha formao. Os professores que me ensinaram a escrever a primeira palavra ou a fazer a primeira conta de adio. Os professores do cursinho, que e ajudaram a ser uma universitria. E por fim, no menos importante que os outros, agradeo ao meu orientador, professor Paulo Gustavo que me orientou e me ajudou a realizar esse trabalho to importante.

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Passagem das Horas Trago dentro do meu corao, Como num cofre que se no pode fechar de cheio, Todos os lugares onde estive, Todos os portos a que cheguei, Todas as paisagens que vi atravs de janelas ou vigias, Ou de tombadilhos, sonhando, E tudo isso, que tanto, pouco para o que eu quero. Fernando Pessoas (heternimo lvaro de Campos) 7

RESUMO Est monografia tem por objetivo traar um panorama histrico do conflito entre Peru e Equador pela regio do Vale do rio Cenepa, atentando principalmente para o fim do conflito em 1995, com o foco na mediao brasileira comandada pelo ento Presidente Fernando Henrique Cardoso. Alm de delinear todos os acordos e os conflitos ocorridos. Palavra Chave: Conflito entre Peru e Equador em 1995, Mediao brasileira, Poltica Externa durante o Governo do FHC, MOMEP.

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ABSTRACT This monograph aims to draw a historical overview of the conflict between Peru and Ecuador by Valley River Cenepa, paying attention mainly to the conflict ended in 1995 with the focus on mediation led by the then Brazilian President Fernando Henrique Cardoso. In addition to outlining all the agreements and conflicts occurred. Keyword: Conflict between Peru and Ecuador in 1995, Mediation Brazilian Foreign Policy during the Cardoso government, MOMEP.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa da Regio fronteiria entre Peru e Equador. Figura 2 - Mapa do acordo Status quo. Figura 3 - Mapa do acordo final. Figura 4 - Mapas dos Postos Militares e locais de combate.

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LISTA DE ABREVIATURAS

MOMEP - Misso de Observadores militares Equador Peru OEA Organizao dos Estados Americanos ONU Organizao das Naes Unidas

SUMRIO 11

Introduo .......................................................................................................... Captulo 1 Contexto histrico: Peru x Equador............................................ 1.1 Incio dos conflitos.......................................................................................... 1.2 Acordos entre Peru x Equador........................................................................ 1.3 Conflito do Vale do rio Cenepa em 1995........................................................ Capitulo 2 - MOMEP ........................................................................................... 2.1 Criao da MOMEP........................................................................................ 2.2 Estrutura da MOMEP..................................................................................... Capitulo 3 Brasil como mediador do conflito entre Peru x Equador em 1995.............................................................................................................. 3.1 historio de Fernando Henrique Cardoso..................................................... 3.2 poltica externa durante os mandatos de Fernando Henrique.................... 3.3 mediao brasileira durante o conflito ........................................................ Concluso.......................................................................................................................... Referncia Bibliogrficas Anexos I Protocolo de Paz, Amistad y Limites ........................................................................... II Declaracin de Paz de Itamaraty entre Ecuador y Peru .............................................. III Acta de Braslia ......................................................................................................... IV Acordos Assinados junto Acta Presidencial de Braslia ........................................ V Mapa da regio em disputa ......................................................................................... VI Mapa do Peru ............................................................................................................ VII Mapa do Equador .....................................................................................................

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INTRODUO

O objetivo deste trabalho analisar a participao do Brasil como mediador no conflito Peru Equador em 1995. Esse conflito deu-se incio durante o processo de independncia dos pases que ento eram colnias espanholas. Os

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pases em questo vo trilhar sua disputa na regio da bacia amaznica1, cordilheira do Andes e tambm na costa martima. Aps os anos 1820, Peru e Equador iro travar diversos conflitos pela posse dos territrios, que pertenciam Espanha. Durante essa poca, no existiam parmetros internacionais que regulasse tal questo, assim a fronteira formada por fatores geogrfico e polticos remanescentes do perodo colonial. No havia normas internacionais que assegurassem a soberania territorial, assim a demarcao dos territrios era um meio de legitimar os governos e tambm assegurar seu poder diante de tal espao. A disputa entre esses dois pases, mais do que pela posse territorial, era um meio de se auto-determinar enquanto Estado e assim ter uma soberania, um territrio mais influente diante de alguns outros Estados da regio. Durante muitos anos foram tentados diversos acordos e diferente medidas para resolver esse conflito, porm no conseguiram chegar acordo nenhum. O conflito entre os dois pases deu-se incio em 1854. A regio em disputa era uma regio selvtica, onde no existia acordos sobre demarcao de fronteiras. Em 1941, eclode o primeiro conflito armando entre os exrcitos dos dois pases. Com o intuito de evitar conseqncias maiores, EUA, Brasil, Argentina e Chile se juntam e do incio ao processo de paz entre estes e assim formam os pases garantes que ficam incumbidos de auxiliar e criar uma soluo que fosse cabvel aos pases. Em 1942, criado o Protocolo de Paz, Amizade e Limites do Rio de Janeiro. Este protocolo demarcava as fronteiras e tambm determinava que os pases garantes, teriam que ser os mediadores durante todo o processo de soluo desse conflito. Passado alguns anos em 1962, o Equador volta a questionar algumas questes fronteirias e considera o Protocolo de 1942, nulo. Em 1981, houve outro embate entre os pases que durou aproximadamente trs semanas. Diversos acordos foram tentados, porm a resposta era sempre negativa. Em 1995, eclode mais um conflito aberto entre os pases em questo. Dentre todos os embates, esse foi o que mais causou estragos e necessidades para os pases. Diante deste cenrio, a pedido dos pases em conflitos, os pases1

A nascente do rio amazonas, est situada em territrio peruano. Este rio considerado um dos mais importantes da Amrica do Sul, pelo seu potencial de navegao e de comrcio.

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garantes decidem formar a MOMEP (Misso de Observadores Militares Equador Peru). Essa misso seria comandada pelo ento presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso e este seria o mediador entre os pases. Aps alguns anos e muitas conversas, finalmente em outubro de 1998, em Braslia, assinado o Acordo Global e definitivo da Paz, que definia a fronteira entre os dois pases.

Figura 1 Mapa da regio Fronteiria. Fonte: http://www.guiageo-americas.com/mapas/americasul-politico.htm, acessado em 02/05/2010.

Captulo 1 - CONTEXTO HISTRIA: PERU x EQUADOR

Apresentaremos neste primeiro captulo, um pouco da histria do Peru e Equador, estes pases que iniciaram um conflito, por uma regio chamada de Vale do rio Cenepa, durante o processo de independncia. Mostraremos tambm todos os acordos que foram tentados para cessar esse conflito, e a principal disputa que

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foi durante o ano de 1995 e somente com a interveno da MOMEP que o acordo definitivo de paz foi feito em 1998. 1.1 Incio dos conflitos Peru e Equador eram colnias Espanholas. Em 1534, chegaram os espanhis, que depois de derrotar o exrcito inca, iniciou a colonizao em algumas regies da Amrica Latina. Em1820 foras locais se organizaram para derrotar o exrcito monarquista da Espanha. As necessidades militares e diplomticas levaram o vice - reino de Nova Granada (capital da Venezuela), Audincia de Quito e Colmbia a formarem a Gr Colmbia2. No mesmo ano, George IV reconheceu a Gr Colmbia, porm no assinou nenhum tratado que reconhecesse como Repblica. Cada um desses trs pases era bem sucedido em uma rea. Nova Granada tinha uma rea agrcola bem vasta. A Colmbia exportava fumo e o Equador produzia cacau em muita quantidade na regio litornea que favoreceu sua balana comercial. Esses pases s tiveram sua independncia declarada em 1830, quando surgiu o primeiro conflito entre Peru e Equador3. Peru reivindicava a parte Sul de Audincia de Quito. Aps um ano de guerra, Peru sai derrotado, Equador torna-se independente e assim os pases Colmbia e Venezuela se tornam independentes. Em 28/07/1821, o general Jos de San Martn declarou rompidos os vnculos coloniais entre Peru e Espanha e assim mais um pas independente. O processo de independncia do Peru foi resultado das aes de uma minoria criolla e espanhola que estava preocupada em manter seus privilgios sob uma nova ordem. Essas pessoas foram influenciadas por correntes liberais que surgiram no sc XVIII nos Estados Unidos e tambm colaborou para acabar com a monarquia francesa. A primeira independncia da Amrica Latina deu-se em Provncias Unidas do Rio da Prata ( Argentina) e depois em Nova Granada (Venezuela), e a partir de ento os pases que eram colnias espanholas ou portuguesas lutaram pela independncia. A partir do primeiro conflito entre Peru e Equador, as fronteiras desses pases no esto mais estabelecidas. Essa instabilidade dura at 1942. Essa

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LESLIE, Bethel. Histria da Amrica Latina. Da independncia at 1870, p. 505 590. Ibid. p. 505 590.

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indefinio se d pela dificuldade de acesso a regio em disputa e tambm porque a Espanha nunca havia se preocupado com essa questo4. Em 1854, comea a disputa entre os pases. O governo equatoriano vendeu Terras da Amaznia, pois tinha que arrecadar fundos para pagar uma dvida internacional. O governo Peruano reivindica seus direitos e a soberania sobre a rea vendida e exige que as vendas sejam canceladas. Em 1859, o exrcito peruano invade o Equador, que estava envolvido em Guerra Civil, e Guayaquil ocupada pelos peruanos. Em 1860, o governo Equatoriano forado a assinar o Tratado de Mapasingue que reconhecia a soberania do Peru e cancelava as negociaes dessa regio. Ao termino da Guerra Civil no Equador, os peruanos so expulsos e o Tratado no reconhecido. Em 1887 iniciam negociaes. Em 1890, cria-se o Tratado Garca-Herrera que concede ao Equador acesso ao Rio Marann e ao Rio Amazonas. No final de sc XIX, o Peru desiste de aceitar o acordo, pois a regio concedida ao Equador estava muito valorizada pela expanso do ltex. No decorrer dos anos, surgiram outras tentativas de acordos e mediaes de alguns pases como Argentina, Brasil, Espanha e EUA. Em 1910, houve as Arbitragens do Rei da Espanha que era um acordo para resolver a questo fronteiria com a mediao do Rei espanhol. Em 1936 houve o Status quo Militar que tinha base na posse efetiva que cada pas tinha na regio amaznica. Esse acordo designava delegaes nacionais a se reunir em Washington, para resolver a disputa. Foram dois anos de negociaes, porm no chegaram a um tratado definitivo de fronteiras. E em 1938, houve tambm as Arbitragens do Presidente Roosevelt, que tinha por objetivo resolver essa questo com a intermediao do presidente. As tentativas de acordos foram frustradas, porm durante esse perodo ao ocorreu nenhum conflito5.

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BIATO, Marcel. O processo de Paz Peru Equador. Parcerias Estratgicas, p. 241-247. BIATO, Marcel. O processo de Paz Peru Equador. Parcerias Estratgicas, p. 241-247.

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Figura 2: Mapa do acordo Status Quo. Fonte: MARCELLA, Gabriel. War and Peace in the Amazon: Strategic Implications for the states in Latin America of the 1995 Ecuador x Peru War, p. 8

Em julho de 1941, eclode a guerra. A tropa peruana, aps vrios enfrentamentos, invade o Sul do Equador, sob o comando do General Eloy Ureta. Foram 15 mil peruanos contra 3 mil equatorianos. Em setembro do mesmo ano, Peru j ocupava todo territrio que se estendia pela margem do Rio Marann, Rio Amazonas e tambm a provncia de El Oro. Com esse ataque, o Peru tinha como objetivo criar situaes para que as negociaes se desenrolassem sob suas condies6. O exrcito peruano vinha se preparando havia algum tempo, ao contrrio do exrcito equatoriano que no possua muitos homens e armamentos, e poucas de suas tropas estavam em Quito protegendo o governo. Em dezembro de 1941, os EUA entram na Segunda Guerra Mundial, aps o ataque japons a Pearl Harbour. Com isso, os norte-americanos pressionam os dois pases a acertar um acordo rapidamente, pois tinha que concentrar suas atenes para a Guerra Mundial. No dia 29/01/1942 assinado o Protocolo do Rio de Janeiro de 1942 ou Protocolo de Paz, Amizade e Limites, que tinha por objetivo encerrar a guerra comeada em julho/1941, fixar uma fronteira comum para os pases e a aceitao6

MARCELLA, Gabriel. War and Peace in the Amazon: Strategic Implications for the states in Latin America of the 1995 Ecuador x Peru War, p. 1-24.

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dos pases (Argentina, Chile, Brasil e EUA) como mediadores dos conflitos sobre a fronteira, para assim encontrar uma soluo harmoniosa. Em 1961, o Protocolo do Rio de Janeiro, foi declarado nulo pelo governo equatoriano. Este alegava que de acordo com a cartografia das Foras Armadas dos EUA, que atuou na regio de 1943 1946, o rio Cenepa era muito maior do que o conhecido e que passava entre os rios Zanora e Santiago. Com a descoberta da continuao do rio Cenepa a determinao do Protocolo tornava-se invalido, pois este estabelecia que a fronteira deveria localizar-se na poro do territrio entre o Rio Zanora de Santiago e este no mencionava a existncia da Cordilheira do Condor. Os dois pases solicitaram ao Brasil que desempenhasse o papel de mediador para essa divergncia. Assim, o Ministro das Relaes Exteriores, Oswaldo Aranha, solicita o trabalho do Capito - de - Mar e Guerra Braz Dias de Aguiar para verificar a passagem dos Rios em questo. O laudo do Capito favorvel ao Protocolo, e a contestao do Equador em relao Cordilheira do Condor aceita. partir de ento, as conversas entre os dois pases no se realizam e o Equador declara a nulidade de Protocolo do Rio de Janeiro7. Em 22/01/1981, houve outro embate de aproximadamente trs semanas. Esse embate ocorreu quando o Peru sobrevoando antigos postos militares, avista bandeiras Equatorianas e atacado por metralhadoras. A inteno do Equador era ocupar as bases abandonadas pelo pas inimigo, portanto aps a descoberta o governo peruano reconquista as bases perdidas para que o confronto se limitasse quela rea. Sem suporte areo, os equatorianos foram obrigados a abandonar seus equipamentos e o local j capturado pelos peruanos. Peru declarado o vencedor desse conflito que ficou conhecido como Incidente de Paquicha. A economia peruana encontrava-se em caos. As Foras Armadas estavam desgastadas por lutar durante 15 anos contra guerrilhas de esquerda. J as Foras Armadas equatoriana encontravam-se igualmente dividida entre Guayaquil, Quito e o litoral prximo a rea de disputa. Mesmo assim a marinha peruana superava a equatoriana. No ano de 1995, mais uma vez, o Equador tenta estabelecer bases na regio do Vale do rio Cenepa e defender seus interesses. Satisfeito com o Protocolo7

BIATO, Marcel. O processo de Paz Peru Equador. Parcerias Estratgicas, p 241-247.

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de 1942 e sem desejar parecer o agressor, Peru foi forado a conceder a iniciativa aos equatorianos. E novamente a guerra recomea. As tropas comeam a trocar tiros em janeiro de 1995. Helicpteros atacam posies inimigas, msseis so lanados e a guerra se intensifica. A partir do dia 17 de fevereiro de 1995, as Naes Unidas tentam intermediar um cessar-fogo, porm no respeitada. Depois de dezenove dias de combate, a linha fronteiria continuava a mesma, porm os nmeros indicavam a vitria equatoriana. Os peruanos desejavam a manuteno da fronteira e isso contribui para o acordo de cessar-fogo intermediado pelos Pases Garantes. Em outubro de 1998, assinado em Braslia o Acordo Global e definitivo de Paz que considerava todas as pendncias dos dois pases encerradas. O Peru cederia ao Equador uma rea de 1Km, conhecida como Tiwinza, como propriedade privada, porm permanecia sob soberania peruana e o governo equatoriano no poderia manter policiais na regio. Cada pas construiria em seu territrio um Parque de Proteo Ecolgica, onde os membros da comunidade nativa poderiam transitar livremente por essa rea, e a segurana seria feita por guardas de parque, cujo nmero no poderia passar de 50 de cada lado8. 1.2 Acordos entre Peru e Equador Apresentaremos aqui os acordos firmados durante o processo de disputa da regio do Vale do rio Cenepa. Em 1859, em meio crise no Equador, foras peruanas invadem Guayaquil, em conseqncia da disputa sobre o territrio j mencionado. Desse conflito, surge o Tratado de Mapasingue, em 20 de fevereiro de 1860, no qual, o Equador se comprometia a no adjudicar Gr-Bretanha os territrios em disputa, em contrapartida os peruanos se retirariam de Guayaquil9. Em 1887, Peru e Equador iniciam negociaes, com a inteno de resolver a questo fronteiria. Em 02 de maio de 1890, assinado o Tratado Garca-Herrera que concede ao Equador acesso aos Rios Marann e Amazonas10.

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MARCELLA, Gabriel. War and Peace in the Amazon: Strategic Implications for the states in Latin America of the 1995 Ecuador x Peru War, p 1-24. 9 BIATO, Marcel. O processo de Paz Peru - Equador. Parcerias Estratgicas, p 241-247. 10 Ibid. p 241-247.

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Aps alguns anos, negociaes entre os dois pases voltam a acontecer e no ano de 1910, estes solicitam ajuda ao Rei da Espanha para que arbitre a questo da fronteira. O laudo favorece o Peru. S no provocou uma guerra, pois alguns pases (EUA, Argentina e Brasil) a evitaram. Em 1941, eclode o confronto armado. Peru invade o Equador, ocupa parte de seu territrio e tambm reas que no fazem parte da disputa. Os pases so forados a assinar um acordo, pois os EUA tinham que concentrar suas atenes para a Guerra Mundial11. Em 29 de janeiro de 1942, assinado, o Protocolo do Rio de Janeiro ou Protocolo de Paz, Amizade e Limites, composto por nove itens 12. Esse documento inicia-se com a declarao de que os governos do Peru e Equador aceitam a intermediao dos governos dos pases garantes para encontrar uma soluo amistosa para ambos os lados. O objetivo principal do Protocolo era encerrar a guerra que havia iniciado no ano anterior. O primeiro artigo garantia que os governos dos dois pases tinham o propsito de manter a relao de paz, amizade, boa vontade entre eles. O segundo artigo afirmava que o governo do Peru tiraria em quinze dias, aps a data do acordo, as foras militares da linha do combate. J o artigo terceiro dizia que os pases garantes acertariam a retirada das tropas conforme o artigo anterior. O quarto artigo delimitava as novas posies das foras militares dos dois pases em questo. O artigo quinto garantia a mediao dos pases garantes at a demarcao definitiva da fronteira. Esse artigo manteria o vinculo entre os pases. A definio do artigo sexto era que o Equador poderia usufruir da navegao do Amazonas e seus afluentes da mesma maneira que o Brasil e a Colmbia. O Protocolo do Rio de Janeiro previa tambm em seu artigo stimo que qualquer dvida em relao a execuo do protocolo, teria que ser resolvida por meio da intermediao dos pases garantes o mais breve possvel13. O artigo oitavo demarcava a questo fronteiria. Aonde comeava e terminava o territrio de cada pas. E por fim, o artigo nono garantia que a linha descrita anteriormente foi aceita pelos dois pases e que estes poderiam, sem embargos, transitar pelas regies.

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Ibid. p 241-247. BASE DE DATOS SER EM EL 2000. Protocolo de Paz, Amistad y Lmites. Disponvel em http://www.ser2000.org.ar/protect/Archivo/d000cb4d.htm, acessado em 10/03/2010. 13 BASE DE DATOS SER EM EL 2000. Protocolo de Paz, Amistad y Lmites. Disponvel em http://www.ser2000.org.ar/protect/Archivo/d000cb4d.htm, acessado em 10/03/2010.

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Em 1961, o Equador descobre que o Rio Cenepa maior do que o apresentado no Protocolo, ento decide-se anular o Protocolo14. Em janeiro de 1995, o Equador tenta estabelecer bases na regio de disputa e defender seus interesses, porm a guerra recomea. Foram dezenove dias de embate. No dia 17 de fevereiro de 1995, assinado em Braslia a Declarao de Paz do Itamaraty, que um documento onde pretende instaurar o cessar fogo e o processo de separao das tropas para o incio das negociaes diplomticas. A Declarao de Paz do Itamaraty contm seis itens 15. O item de nmero 1 dizia que os pases em confronto tomariam todas as providncias necessrias para facilitar o trabalho da MOMEP, que inicialmente duraria noventa dias, podendo se estender caso necessrio. A MOMEP a misso de observadores militares formada pelos pases garantes (Argentina, Brasil, Chile e EUA) que tinha como principal tarefa a fiscalizao area das zonas em conflito, com a inteno de verificar a continuidade do cessar fogo j acordado para as negociaes diplomticas 16. A fiscalizao area era feita por oficiais dos pases garantes e oficiais do Peru e Equador. A MOMEP instituda oficialmente no documento da Declarao de Paz do Itamaraty, e estaria no territrio em litgio um ms aps a assinatura do acordo. O item 2 referia-se a imediata e simultnea separao das todas as tropas e tambm indicava para onde as tropas deveriam seguir. O item 3 previa que a MOMEP proporia uma zona desmilitarizada aos pases em conflito. O item de nmero 4 se referia ao item 217. O item 5 referia-se a desmobilizao gradual nas regies fronteirias no envolvidas diretamente no combate. Em seu ltimo item, a Declarao de Paz do Itamaraty previa o incio das conversaes entre as partes para que se cumprissem as determinaes presente nos itens anteriores18. Essas conversaes iniciaram-se oficialmente em 23 de fevereiro de 1996 em Quito, e tinha como objetivos um documento que previa a troca da lista de impasses entre Peru e Equador e tambm um acordo para a formao de um grupo de trabalho para o estabelecimento da

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BIATO, Marcel. O processo de Paz Peru - Equador. Parcerias Estratgicas, p.241-247. BASE DE DATOS SER EM EL 2000. Declaracin de Paz de Itamaraty entre Ecuador y Peru de 17 fev, 1995. Disponvel em: http://www.ser2000.org.ar/protect/Archivo/d000cb4e.htm, acessado em 11/03/2010. 16 BIATO, Marcel. O processo de Paz Peru - Equador. Parcerias Estratgicas, p. 241-247. 17 Ibid. p.241-247. 18 BIATO, Marcel. O processo de Paz Peru Equador. Parcerias Estratgicas, p. 241-247.

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confiana mtua que seria formado por funcionrios da rea de defesa dos pases 19. A troca de listas de impasse subsistentes, cerimnia que ocorreu em Braslia, ficaria em sigilo at que a MOMEP informasse s partes diplomticas o correto cumprimento das determinaes de desmobilizao militar e ento os representantes diplomticos dos pases garantes entregariam as listas aos chanceleres dos pases em questo20. Em 19 de junho de 1996, em Buenos Aires assinado por representantes dos pases garantes e das partes, um documento que d continuidade as negociaes. Essas negociaes ocorreriam em Braslia, porm o governo brasileiro precisaria aprovar. O documento tambm estipulava a participao autnoma e ativa dos pases garantes na nas negociaes e afirmava que, as negociaes dos impasses subsistentes seriam feita em Braslia21. Em outubro de 1998, enviada uma carta pelos presidentes do Peru e Equador ao presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, onde os pases reconhecem os impasses em relao a questo fronteiria e tambm solicitam que os pases garantes proponham uma soluo definitiva. Aps a carta enviada ao presidente brasileiro, Peru e Equador aceitam as condies impostas pelos pases garantes de que a proposta feita por estes seria de carter mandatrio e no poderia ser recusada por nenhuma das partes22. Em 23 de outubro de 1998, os presidentes dos pases em questo recebem uma carta, Carta aos Presidentes do Equador e Peru, onde constavam as principais providncias que encerrariam o conflito. Tais providncias seriam a criao de parques ecolgicos vizinhos ao longo do trecho em disputa e o Peru cederiam 1Km da sua rea ao Equador23. Em 26 de outubro de 1998 em Braslia, assinado o Acordo Global e Definitivo de Paz que considera encerradas todas as pendncias entre os dois pases. Tal Acordo definiu que o Peru cederia ao Equador, Tiwinza, uma rea de 1Km, localizada no interior de seu territrio24. Essa rea foi cedida ao Equador em19

Ecuador Ministrio das Relaciones Exteriores. Soberania Territorial, 23/02/96. Disponvel em: http://www.mmrree.gov.ec/mre/documentos/pol_internacional/bilateral/sob_territorial_peru_acuerdos_ quito.html, acessado em 01/04/2010 20 Ibid. 21 Ibid. 22 Ibid. 23 BRAGA, Isabel Peru e Equador encerram 57 anos de disputa. Base de Datos Ser en El 2000. Disponvel em: http://www.ser2000.org.ar/protect/Archivo/d000e4fc.htm, acessado em 01/04/2010. Carta a los presidentes de Ecuador y Peru. 24 Ecuador Ministrio das Relaciones Exteriores, Soberania Territorial, 23/02/96. Disponvel em: http://www.mmrree.gov.ec/mre/documentos/pol_internacional/bilateral/sob_territorial_peru_acuerdos_

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regime de propriedade privada, portanto o Peru continuaria tendo soberania sob a mesma. Esse processo ocorreria mediante escritura pblica, a ttulo gratuito, e o Peru no poderia confiscar essa rea e o Equador no poderia manter oficiais na regio25. O Acordo Global e Definitivo de Paz previa que, de cada lado da fronteira, na regio do conflito, cada pas construsse um parque de Proteo Ecolgica. O lado peruano com 54,4 Km e o lado equatoriano com 25,4 Km. Os membros das comunidades poderiam transitar livremente por essa regio, e a segurana seria feita por guardas de parque, cujo nmero no poderia exceder cinqenta de cada lado26.

Figura 3: Mapa do acordo final Fonte: LA PAZ: la mejor notcia. Hoy on Line, 17 de outubro de 1998. Disponvel em http://www.hoy.com.ec/especial/17/171c.htm, acessado em 20/04/2010

No mesmo dia foram aprovados mais de seis acordos bilaterais, entre Peru, Equador e os pases garantes. Tais acordos eram principalmente sobre a livre navegao nos rios da regio, desenvolvimento da infra-estrutura e da economia da regio fronteiria. Ainda no dia 26 de outubro de 1998, as partes e os pases garantes assinavam a Ata presidencial de Braslia. Esse documento firmava a paz, resumia os acordos comerciais de confiana mtua e de parceria econmica,quito.html, acessado em 01/04/2010. 25 Ibid. 26 Ibid.

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agradecia aos pases garantes pela participao decisiva nos conflitos e solicitava que estes permanecessem nestas condies at a demarcao conclusiva da fronteira27. 1.3 Conflito do Vale do Rio Cenepa em 1995 Em janeiro de 1995, o Equador tenta mais uma vez estabelecer bases na regio em disputa, o Vale do Rio Cenepa, e assim defender seus interesses. Como o Peru estava satisfeito com o acordo de 1942, teve que conceder a iniciativa do pas inimigo e assim mais uma guerra se inicia. Cerca de 3000 equatorianos e 2000 peruanos iniciam a guerra e trocam tiros. Para reforar sua posio, os soldados equatorianos lanam foguetes contra os inimigos28.Peruvian forces, under the command of General Eloy Ureta, invaded Ecuador with 15,000 troops against 3,000 poorly led and equipped Ecuadorean soldiers.(MARCELLA: 1995, p.6)

Os dois pases possuam aeronaves muito sofisticadas e o Equador usufrua de uma tecnologia moderna, como global satlites de posicionamento para localizar alvos na rea de combate29. No dia 26 de janeiro, helicpteros foram usados para atacar tropas inimigas. Os soldados equatorianos evitavam os confrontos diretos com os soldados peruanos e assim utilizam emboscadas para atacar aos inimigos, a guerra area se intensifica com a utilizao de caas Sukhoi por parte do Peru e caas Mirage por parte do Equador30. No dia 29, um avio de caa equatoriano KfirC.2 derruba um avio de ataque Cessna A-37 do Peru e um mssil equatoriano derruba um helicptero peruano tambm. Em 1 de fevereiro, o Peru apoiado por tanques T-55 de fabricao sovitica lana uma ofensiva terrestre. Os equatorianos resistem ao ataque utilizando as27

Ecuador Ministrio das Relaciones Exteriores. Soberania Territorial, 23/02/96. Disponvel em: http://www.mmrree.gov.ec/mre/documentos/pol_internacional/bilateral/sob_territorial_peru_acuerdos_ quito.html, acessado em 01/04/2010 28 MARCELLA, Gabriel. War and Peace in the Amazon: Strategic Implications for the states in Latin America of the 1995 Ecuador x Peru War. p. 1-24. 29 Ibid. p. 1-24 30 MARCELLA, Gabriel. War and Peace in the Amazon: Strategic Implications for the states in Latin America of the 1995 Ecuador x Peru War. p. 1-24.

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emboscadas de guerrilha. No dia 7, o ministro do Estado Maior das Foras Armadas (EMFA), general Benedito Leonel, declara que a idia de enviar uma misso de observadores a regio em disputa no est descartada e com isso o Brasil permanecia de sobreaviso31.

Figura 4: Mapa dos postos militares e locais de combates Fonte: EL FILO de la guerra. Caretas, Lima, 02 fev. 1995. Disponvel em, http://www.caretas.com.pe/1348/condor/mapa.jpeg, acessado em 25/04/2010

No dia 9, o Brasil decide suspender as vendas de armas para os pases em conflito, pois encontrava-se como um dos mediadores e tambm porque houve uma denuncia onde dizia que o Chile estava vendendo armas para o Equador ao mesmo tempo que dizia buscar a paz no mbito diplomtico 32. De acordo com o jornal peruano La Republica, dois avies equatorianos teriam sido visto na base militar chilena de Iquique recolhendo armamentos e no vo de volta ao Equador os avies teriam abastecido em Rio Branco, no Acre33.31

BERLINCK, Dborah. Brasil pode enviar observadores militares O Globo, Rio de Janeiro, 08 fev 1995. O Mundo, p. 19 32 BRASIL suspende vendas de armas para o Peru e Equador O Globo, Rio de Janeiro, 08 fev 1995. O Mundo, p. 15. 33 CHILE acusado de vender armas. O Globo, Rio de Janeiro, 05 fev 1995. o Mundo, p.15

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Em 10 de fevereiro, o Equador faz uma proposta de cessar fogo e diz que tem por objetivo e inteno a retirada e identificao dos mortos, porm Lima rejeita e Fujimore alega que era uma proposta para obter vantagens diplomticas 34. Na noite do dia 13, fora decretado por Lima o cessar fogo e no dia seguinte aceito por Quito, porm no mesmo dia houve ataques. Aps derrubar com um mssil, um avio equatoriano, o Peru captura os postos de Cueva de los Tayos e Base Sur. No dia 15 de fevereiro, iniciada a conversa entre Peru e Equador para poderem assinar o acordo sobre o envio da MOMEP. Em 17 de fevereiro foi formalizado em Braslia o cessar fogo, no qual recebeu o nome de Declarao de Paz do Itamaraty, assinado pelos pases fiadores35. O documento previa o envio de quarenta homens de cada pas garante com a tarefa de supervisionar a separao das tropas e criar uma zona desmilitarizada. O ento presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, declara imprensa sobre o documento e enfatiza que no houve interferncia de terceiros e tambm no teve o envolvimento de foras de fora do hemisfrio na Declarao do Itamaraty36. Em 21 de fevereiro um grupo provisrio da MOMEP com vinte pessoas entre eles militares e diplomatas, viajaram em um avio da FAB rumo regio de conflito para fazer o reconhecimento da rea e acompanhar o recuo das tropas37. Ao chegar regio de conflito, a misso encontrou problemas com relao ao cessar fogo, pois os combates continuavam. Aps cinco dias da assinatura do acordo, as tropas ainda trocavam tiros de canho e fuzil. A misso ameaou abandonar a mediao e entregar definitivamente o caso a OEA, diante da postura dos pases em no parar a guerra38. O ento chanceler brasileiro Lus Felipe Lampreia afirmou a imprensa: Foi uma mensagem enrgica. Avisamos o Peru e o Equador que se houver nova violao do acordo de cessar fogo entregaremos o caso ao Conselho Permanente da OEA39.34

FUJIMORE rejeita trgua proposta pelo Equador. O Globo, Rio de Janeiro, 11 fev 1995. O Mundo, p.22. 35 BASE DE DATOS SER EM EL 2000. Declaracin de Paz de Itamaraty entre Ecuador y Peru de 17 fev. 1995. disponible em: http://www.ser2000.org.ar/protect/Archivo/d000cb4e.htm, acessado em 11/03/2010. 36 FERNANDO Henrique Cardoso celebra vitria para o continente. O Globo, Rio de Janeiro, 18 fev 1995. O Mundo, p.22. 37 PRIMEIRO grupo de observadores viaja tera feira. O Globo, Rio de Janeiro, 18 fev 1995. O Mundo, p.22. 38 SELENE, Ascnio. Fiadores advertem Equador e Peru sobre sanes da OEA. O Globo, Rio de Janeiro, 25 fev 1995. O Mundo, p. 15. 39 Ibid.. P.15.

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ameaa de deixar a OEA cuidar do assunto e a presso americana, fizeram com que o cessar fogo finalmente fosse respeitado. A OEA contribuiu de forma indireta, pois no seria possvel saber at quando continuaria os conflitos. O cessar fogo ocorreu nesse momento, pois os pases beligerantes deixaram clara a preferncia por uma soluo local, que poderia ser alcanada sem sanes. Deixar que a soluo fosse por responsabilidade da OEA, faria com que a resoluo do problema demorasse para acontecer, pois a OEA no possua nenhum modelo de fora militar como a MOMEP e tambm porque essa interveno provocaria resistncia de membros da organizao e serviria como interveno da poltica externa Norte-Americana. A partir de ento, os pases se reuniram por diversas vezes durante alguns anos e finalmente em 26 de outubro de 1998, em Braslia, assinado o Acordo Global e Definitivo da Paz.

Captulo 2. MOMEP Apresentaremos neste captulo, como se deu a criao da MOMEP (MISSO de Observadores militares Equador Peru) e quais eram seus principais objetivos. Falaremos tambm da sua importncia para a resoluo do conflito e de como era formada sua estrutura. 27

2.1 Criao da MOMEP A MOMEP (Misso de Observadores militares Equador - Peru) foi criada com o objetivo de auxiliar os pases, Peru e Equador, a resolver os conflitos por razes fronteirias e ajud-los no cessar fogo. Brasil, Chile, Argentina e EUA compunham a MOMEP que antes era conhecida como Pases Garantes. A criao da MOMEP foi o momento de maior comprometimento dos pases garantes com o Equador e o Peru. O momento de maior importncia para a misso foi quando est teria auxiliado na incorporao de oficiais dos dois pases e tambm a promoo de uma srie de encontros entre militares dos pases em conflito com a inteno de criar medidas de confiana mtua. Um dos momentos mais difceis teria sido encontrar uma soluo definitiva para o conflito e essa soluo teria que contemplar o que o Protocolo do Rio j previa, e ento satisfazer as duas partes. A MOMEP foi uma manifestao da vontade dos pases garantes em resolver definitivamente o conflito que j durava tantos anos. As funes da misso eram de observar, fiscalizar e negociar entre os militares, mesmo porque est no tinha autoridade para executar intervenes militares. Seus integrantes possuam treinamentos e o principal era de como retirar-se da regio em conflito em caso de novos combates40. A misso possua um Estado Maior, e as ordens eram emanadas por este. Todos os militares, independente de sua nacionalidade, teria que cumprir essas ordens. Isso era considerado um instrumento de conteno aos embates, pois a misso tinha o papel de mediadora entre os pases. E no caso de supervisionar e mediar a separao das foras, a MOMEP ajudava os diplomatas dos pases garantes e beligerantes a alcanarem um acordo definitivo. A MOMEP criou quatro grupos de trabalhadores que ficariam responsveis por resolver diferentes assuntos. A diviso do grupo seria: Comisso I: responsvel pelo comrcio e pelo desenvolvimento entre as partes, sua sede era na Argentina. Comisso II: responsvel pela integrao econmica das fronteiras, sediada em Washington, Comisso III: responsvel pela demarcao fronteiria, sediada no Brasil e por fim Comisso IV: responsvel pelo desenvolvimento da confiana mutua e segurana entre os pases, sediada no Chile41.40 41

Revista Verde-Oliva. Centro de Comunicao Social do Exrcito Brasileiro, n166, 199, p 11. BIATO, Marcel. O Processo de Paz Peru-Equador. Parcerias Estratgicas, p. 242-243.

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Aps a guerra de 1995, os pases garantes desencadearam esforos, que foram considerados os maiores desde os anos quarenta, para ajudar a resolver os problemas conflitantes na regio. O presidente peruano, Alberto Fujimore, recusa a interveno da OEA (Organizao doa Estados Americanos), pois em um dos artigos do Protocolo do Rio de Janeiro de 1942, havia a garantia de que os pases garantes iriam intervir nos conflitos42. Durante todos os conflitos ocorridos na regio, os pases garantes ficavam de sobreaviso em relao ao envia da misso, mesmo que Equador no tivesse aprovado a idia. Enquanto um acordo no era acertado a MOMEP permanecia em gestao, para poder ajudar os pases no cessar fogo. Em 14 de fevereiro de 1995, depois de muitos conflitos, Equador e Peru, assumem um cessar fogo, e o ento presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, anuncia pessoalmente a imprensa sobre o acordo e sugere a liderana brasileira durante as negociaes entre os pases. Nesse momento a MOMEP comea a ganhar concretude para supervisionar o acordo sobre o cessar fogo e as conversas sobre o envio de uma misso de fora e no de qualquer misso comeava a ser cogitado. No dia 15 de fevereiro, iniciam-se as conversaes entre os pases garantes, Peru e Equador para a assinatura do envio da misso a regio dos combates. Segundo o ento Secretrio-Geral di Itamaraty, Sebastio do Rego Barros, o objetivo da misso seria assegurar que o cessar fogo no fosse rompido. No dia 17 de fevereiro, foi formalizado o cessar fogo anunciado no dia 14, e este receber o no me de Declarao de Paz do Itamaraty. Esse documento previa o envio de quarenta observadores do Brasil, Chile, Argentina e EUA com a misso de supervisionar a separao das tropas e propor a criao de uma Zona Desmilitarizada. No dia 21 de fevereiro, um grupo provisrio da MOMEP, contendo 20 pessoas entre diplomatas e militares embarca num avio da FAB rumo rea de conflito. No dia 12 de maro, chegara regio de conflito o primeiro grupo efetivo da MOMEP. Este tinha a durao prevista para trs meses, porm logo foi prorrogado por mais noventa dias e em 22 de agosto foi acordado que a Misso duraria at a definitiva estabilizao das diferenas entre o Peru e o Equador.42

Ibid. p 241-247

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A cada 21 dias, ocorria substituio dos grupos alojados nos pases e estes eram compostos por dez oficiais observadores e um mdico. Aps algumas informaes, os observadores concentraram-se em desmobilizar as tropas atravs de negociaes, iniciar a superviso area e tambm criar a regio desmilitarizada. A MOMEP criou um plano para a retirada dos militares da regio em questo e em 20 de setembro de 1995 fica responsvel por mais uma rea, a Zona Alfa, e tambm controlava os armamentos dos pases, pois um ms antes havia sido violado o cessar fogo. Esses acordos resultaram em uma confiana mtua entre os dois pases e tambm em visitas e troca de mensagens entre os comandantes das fronteiras. Em julho de 1998, essa confiana quebrada, pois foras equatorianas e peruanas intensificaram suas patrulhas e avanaram seus postos de vigilncia e assim a MOMEP ficaria responsvel pela terceira regio: a Zona de controle. A MOMEP receberia mais uma misso, por parte dos altos funcionrios dos pases garantes, que era de certificar a retirada de minas e o estabelecimento da fronteira. Com essa nova misso, os observadores ficaram praticamente restritos as atividades areas por razo das minas que foram jogadas sobre a regio e encontravam-se espalhadas em locais e quantidade indefinidos. Essa questo foi um problema para a MOMEP, pois est precisava da desminagem da regio para poder estabelecerem os marcos fronteirios. O ento Conselho Consultivo da MOMEP solicitou aos pases em questo, mapas da distribuio das minas. O Equador aceitou de imediato, porm o Peru insistia que seu pas no havia espalhado minas, mesmo assim o Coordenador Geral brasileiro, decidiu que o plano de desminagem aconteceria mesmo sem a colaborao do Peru. Em 1997, os EUA abandonaram suas funes de suporte logstico que eram mnimas na MOMEP. O Brasil ento passou a planejar a logstica, alm das decises operacionais que j eram de sua responsabilidade. Anos mais tarde o ento presidente dos EUA, Bill Clinton, se oferecer para fazer a mediao pessoal e assim encontrar uma soluo definitiva para os pases em conflito. E experincia da MOMEP tem algo a oferecer aos pases sul-americanos participantes, pois esta atuou de forma autnoma sem a interveno de rgos multilaterais internacionais, ou seja, a importncia da MOMEP encontra-se na

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estrutura de cooperao internacional, na capacidade de negociao e tambm na autonomia da misso em relao aos EUA43. 2.2. Estrutura da MOMEP Como j vimos anteriormente, a MOMEP foi uma misso que no teve como colaborao, entidades internacionais. A MOMEP no possua estrutura blica para influencia nas guerras. Com isso, a MOMEP no se caracteriza como uma misso de interveno militar. Esta foi constituda por um grupo de observadores, que foram nomeados pelos seus respectivos exrcitos, e um grupo que dava suporte logstico que era chamado de Grupo de Apoio. A composio da MOMEP era a seguinte: Um Coordenador Geral, Oficial General do Exercito, cujo suas funes eram: coordenar, planejar e controlar a atuao da MOMEP de acordo com as suas determinadas funes. Este tambm tinha por funo integrar o Comit Consultivo Superior junto, aos responsveis dos pases garantes e oficiais generais de cada parte em litgio. A funo deste Comit era tratar de questes pertinentes a desmilitarizao, desmobilizao, manuteno do cessar fogo, suspenso de operaes militares e controlar a atualizao do regulamento da MOMEP. Um Estado Maior, que era responsvel pelo assessoramento do Coordenador, este era composto por: a) Chefe de Estado Maior do Exrcito Brasileiro; b) Um Oficial, da Fora Area Brasileira; c) Um Oficial de inteligncia, do Chile d) Um Oficial de Operaes , da Argentina e um Chefe de Observadores Militares, mediante rodzio ente Chile e Argentina; e) Um Oficial de Logstica, dos EUA; f) Um Oficial representante do Equador; g) Um Oficial representante do Peru; Partes. Um grupo de Observadores Militares dos Pases Garantes e das

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Revista Verde Oliva,,p.12.

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de cada Parte.

Em escritrio em Bagua, Peru, com um Oficial Garante e um Oficial Grupo de apoio Multinacional (esse grupo foi criado em 1997, quando

os EUA deixa de cumprir suas funes logsticas) constitudo por: a) Um Coordenador Geral, Oficial do Exrcito Brasileiro; b) Um Subcoordenador, Oficial Superior mediante o rodzio do Chile e Argentina; c) Uma Seo de Pessoal, responsvel pela coordenao da equipe mdica, todos chilenos; d) Uma Seo de Inteligncia e Bem-Estar, todos argentinos; e) Uma Seo de Operaes, que era responsvel por coordenar as misses areas da MOMEP, pela segurana das instalaes e pelo adestramento do contingente operacional brasileiro, todos brasileiros. f) Uma Seo Logstica, responsvel pela administrao e suporte as operaes da MOMEP, todos brasileiros Uma Seo de Aviao do Exrcito Brasileiro, com pilotos, mecnicos de vo, equipe de manuteno e militares de salvamento areo, todos brasileiros. Ao final da misso, a MOMEP era composta por 134 pessoas, sendo 123 homens e 11 mulheres. Desde 134 colaboradores, 14 eram militares argentinos, 53 militares e 1 civil brasileiros, 11 militares chilenos, 19 militares e 5 civis dos EUA, 9 militares e 13 civis do Equador e por fim 9 militares peruano44.

Capitulo 3 - O BRASIL COMO MEDIADOR DO CONFLITO ENTRE PERU EQUADOR EM 1995. Falaremos neste captulo sobre a poltica externa durante o governo do Fernando Henrique Cardoso e sobre a participao do Brasil como mediador no conflito entre Peru e Equador que durou mais de 50 anos. O fim do conflitou ocorreu com a participao da MOMEP que foi uma misso que envolvia quatro pases:44

Revista Verde Oliva,p.12. FIGUEROA, Rafael Recasens. Mision de Observadores Militares Ecuador-Peru (MOMEP): experiencia de la participacion de Chile. Revista de Marina de la Armada de Chile, v.117, n. 858, p. 427 e ss., Sept-Oct, 2000. Disponvel em www.revistamarina.cl/revistas/2000/5/recasens.pdf, acessado em 22/04/2010

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Brasil, Chile, EUA, Argentina, e o ento presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso que coordenava essa misso. 3.1 histria de Fernando Henrique Cardoso Em 18 de julho de 1931, nascia no Rio de Janeiro, em uma famlia de militares, Fernando Henrique Cardoso. Formou-se em Sociologia pela USP (Universidade de So Paulo), e em 1952 se tornar professor dessa instituio. Durante o golpe de 1964, FHC perseguido, pois lutava pela melhoria do ensino e por universidades mais modernas, e se exila no Chile e tambm na Frana. Este retorna ao Brasil somente em 1968. Assume a ctedra de cincias polticas da USP e junto com outros professores funda a CEBRAP (Centro Brasileiro de analise e planejamento). Fernando Henrique declarava-se crtico do regime militar e defensor da democracia. Assim este se fez lder do Congresso Nacional e conduziu as mudanas na legislao do pas, as quais abriram as portas para a Democracia. FHC, no s lecionou na Universidade de So Paulo como tambm em diversas outras do mundo, no Chile na Universidade de Santiago, na Califrnia, nos EUA, em Cambridge, na Inglaterra, entre outras. Entre os anos de 1982 1986, foi presidente da Associao Internacional de Sociologia e alguns anos mais tarde recebe o ttulo de membro honorrio estrangeiro da American Academy of Arts and Sciences. Foi eleito um dos cem maiores intelectuais pblicos do mundo em 2005. Foi casado, com a Sra. Ruth Correia Leite com quem teve trs filhos45. A vida poltica de Fernando Henrique Cardoso inicia-se em 1974 quando foi convidado por Ulysses Guimares, presidente do partido MDB (Movimento Democrtico Brasileiro), a coordenar a plataforma eleitoral do partido. Em 1978 eleito suplente de Andr Franco Montoro, e em 1983 assume a vaga de Montoro no senado, pois este havia se candidatado governado do Estado de So Paulo. Em 1984 Fernando Henrique se destaca por participar das Diretasj e tambm da candidatura de Tancredo Neves, que veio a falecer antes mesmo de assumir a presidncia. No ano de 1985, Fernando Henrique Cardoso, se candidata a prefeitura de So Paulo, porm no eleito e assim retoma ao senado brasileiro.

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http://www.ifhc.org.br/index.php?module=conteudo&class=fixo&event=ver&id_conteudo=7, acessado em 15/05/2010.

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Em 1988, funda o partido PSDB, pois alegava estar insatisfeito com as nodefinies do partido em que atuava. Mrio Covas, Jos Serra, Franco Montoro, ajudaram FHC, a fundar esse novo partido e assim outros lideres de diversos partidos juntaram-se a eles. Fernando Henrique Cardoso assume o Ministrio das Relaes Exteriores em 1992, logo aps o ento presidente Fernando Collor de Mello sofrer um impeachment, e Itamar Franco assumir. No ano seguinte, torna-se ministro da Fazenda e assim mobiliza a opinio pblica favor de um novo plano econmico, o chamado Plano Real, onde seus objetivos eram controlar o dficit pblico e a reforma monetria. Foi afastado do Ministrio da Fazenda, pois estava disputando as eleies para presidente do Brasil em 199446. FHC vence as eleies no primeiro turno, e em 01 de janeiro de 1995 assume a presidncia do pas. Seu primeiro mandato foi marcado por privatizaes das grandes estatais nos seguimentos de comunicao e petrolfero, assim quebrando o monoplio existente no pas, o que contribuiu para a renovao dos investimentos nas reas de telefonia e de minrios. Deu abertura para o capital estrangeiro, assim eliminando suas restries e ocasionando modernizao na economia. Em 1998, FHC, se reelege, no primeiro turno e assim governa o Brasil por mais quatro anos, at 2002. Seu segundo mandato foi marcado pela inflao que se manteve baixa, pelos programas de auxilio as pessoas mais carentes como bolsa-escola, bolsaalimentao entre outros, pelos avanos na rea da sade e na questo agrcola com a reforma agrria. OS agricultores tiveram acesso ao crdito e a terra tambm. Os portadores de deficincias, os idosos e a gestantes tiveram uma assistncia ampliada. A economia brasileira teve um perodo de estagnao durante o governo do FHC, pois os baixos investimentos e a longa estiagem levaram as centrais hidreltricas ao colapso, e com isso a ameaa de um apago no pas. Como medida preventiva, o ento presidente imps o racionamento de energia eltrica. OS oito anos de presidncia do Fernando Henrique Cardoso foi marcado tambm pela reforma no setor pblico, pelo acesso as polticas sociais e principalmente pelo respeito s regras da democracia47.46

http://www.ifhc.org.br/index.php?module=conteudo&class=fixo&event=ver&id_conteudo=7, acessado em 15/05/2010. 47 CARDOSO, Fernando Henrique. A arte da poltica. p. 601- 640.

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Em 2002, o ento presidente recebe das Naes Unidas, o prmio Mahbub ul Hag pro Notvel Contribuio ao Desenvolvimento Humano. Durante a transio de presidentes, Fernando Henrique organiza e facilita o acesso a informaes de modo auxiliar o ento eleito presidente Lula. 3.2 A poltica externa durante o governo de FHC Fernando Henrique Cardoso esteve na presidncia brasileira por dois mandatos, oito anos. Este presidente tinha a diplomacia presidencial como sua aliada, pois esta contribua para estabelecer um ambiente que favorecesse o desenvolvimento da economia e a aliana com Estados importantes. Em seu discurso de posse, FHC j afirmava que o Brasil precisava garantir uma participao mais ativa no mundo para influenciar uma nova ordem. Durante todo o mandato de Fernando Henrique Cardoso, ele teve como objetivo promover uma imagem ativa e confivel do Estado brasileiro perante os outros. Tambm visava uma ao diplomtica que fosse voltada para o total entendimento entre os pases, assim evitando tenses e estabelecendo um ambiente confivel de convvio internacional. FHC, durante seus mandatos, tinha uma concepo multilateral das relaes internacionais, porm enfatiza a ordem no mbito internacional pautada na cooperao entre os Estados e tambm na possibilidade de uma ordem global atravs das instituies, assim o afastando das relaes bilaterais e diretas com os outros Estados48. Diante do cenrio internacional, a postura do ento presidente Fernando Henrique Cardoso era a mais diplomtica possvel, pois este usava de seu prestgio pessoal para inserir o Brasil nos assuntos internacionais assim tentando facilitar o desenvolvimento de alguns setores brasileiros.A diplomacia compreende ao externa dos governos expressa em objetivos, valores e padres de conduta vinculados a uma agenda de compromissos pelas quais se pretende realizar determinados interesses. Essa agenda , em princpio, determinada muito mais de fora do que de dentro de cada nao. (CARDOSO, 2006, p:601)

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CERVO, Amado Luiz. Insero Internacional. Formao dos Conceitos brasileiros. P 8-97

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O governo de FHC foi marcado inicialmente pela estabilizao econmica nacional, que vinha do plano Real.49 FHC tinha um conceito central da mudana poltica que era a estabilizao. Tal estabilizao era sustentada por trs vertentes: democracia, abertura econmica e estabilidade monetria. Essas vertentes levaram o presidente a aplicar a cartilha do Consenso de Washington e com isso vieram mudanas importantes no governo. Essas mudanas foram: privatizao de empresas estatais, implementao da estrutura regulatria estvel e tambm a transparncia dos gastos pblicos diante dos moldes ditados pelo FMI e BM. As conseqncias dessas mudanas foram: a retirada do poder estatal do pas assim desenvolvendo polticas internas prprias. Com isso, Fernando Henrique transfere a conjuntura de deciso governamental para o foro poltico das instituies, assim delimitando o papel do Estado e aumentando o interesse nacional pela idia de interesse global. Ou seja, o governo transfere gradativamente, as decises soberanas para as instituies internacionais, tentando buscar um poder situacional e assim desmerecendo o Estado. Diante da queda do papel brasileiro internacionalmente, das presses internas por causa das privatizaes, FHC vai rever seus parmetros e decidir voltar suas atenes para uma zona de influncia direta, ou seja, a Amrica do Sul. Apesar das perdas polticas, FHC ser visto com credibilidade diante de seus vizinhos devido ao grande sucesso do plano real e a estabilizao econmica. Atravs dessa maior credibilidade e de sua diplomacia pessoal, FHC aprofunda a idia de cooperao institucional e multilateral na regio da Amrica do Sul e assim se expressar atravs do Mercosul50.[...] Cada pas, portanto, luta por seus objetivos especficos. Mas para essa luta ter embasamento prtico, e no se perder na retrica preciso rever algumas vises do passado, quando se confundia autonomia com retraimento e progressismo com interferncia dos governos na sociedade civil.(CARDOSO, 2006, p. 601)

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Plano Real, foi o plano traado por FHC enquanto ainda era ministro da economia durante o governo de Itamar. Esse plano foi criado com a inteno de estabilizar a economia, diminuir a inflao e ciria uma moeda forte para o pas. Para saber mais consultar Fernando Henrique Cardoso, A arte da Poltica. 50 CERVO, Amado Luiz. Insero Internacional. Formao dos Conceitos brasileiros, p 8-97

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Durante os dois mandatos, FHC tem como objetivo em relao a paz, defender os direitos humanos, defender a no proliferao das armas atmicas e tambm a resoluo pacfica de conflitos, ou seja, como cita: de que os valores que ele (Brasil) cultiva internamente, como parte de sua identidade nacional, so tambm, em grande medida, os valores prevalecentes no plano internacional. Diante desses valores cultivados pelo ento presidente, algumas premissas se concretizam em aes, tal como, a adeso ao tratado de no-proliferao de armas nucleares, envio de tropas a misso de paz da ONU, o papel de ator atuante nos conflitos sul-americanos e tambm na idia constante de uma cadeira como membro permanente no Conselho de Segurana da ONU. Fernando Henrique Cardoso, implementa na sua poltica externa o conceito de autonomia pela integrao, ou seja, uma autonomia articulada com meio internacional, pois FHC sempre defendeu a integrao entre os Estados e esse era o caminho para adquirir o fortalecimento diante do sistema internacional. Este dizia que tinha que conciliar os valores universalmente prevalecentes com a identidade nacional. Com a autonomia pela integrao, o pas poderia ampliar seu controle sobre o destino, pois teria uma agenda proativa, assim resolvendo o problema da agenda interna de desenvolvimento e crescimento. A boa relao do presidente Fernando Henrique Cardoso com os pases vizinhos e at mesmo com os EUA, que est um pouco mais distante, foram fatores importantssimos para a ampliao do Brasil no cenrio internacional e tambm para a consolidao do Mercosul diante da economia internacional.Temos de manter boas relaes com os Estados Unidos e ter a capacidade de organizar o espao sul-americano, o Mercosul.(CARDOSO,2006, p. 605)

A poltica externa de Fernando Henrique Cardoso foi pautada na diplomacia presidencial, na boa relao com os outros Estados, para que assim o pas fosse visto como confivel, e tambm na idia persistente de inserir o Brasil nos assuntos Internacionais. partir desses princpios tivemos mudanas significativas durante os dois mandatos do ento presidente. Essas mudanas foram: confiabilidade despertada pelos pases vizinhos, assim atraindo investimentos para o pas e conseqentemente um maior desenvolvimento na econmica brasileira. Outra mudana importante foi o apoio de organismos multilaterais e de governos importantes em momentos de crise. 37

Fernando Henrique Cardoso herdou a diplomacia presidncia dos antigos presidentes que passaram pelo Brasil, e tambm herdou alguns projetos que foram concludos durante seu mandato. O mesmo aconteceu com o atual presidente brasileiro, Luiz Incio Lula da Silva, este herdou projeto do FHC, e deu continuidade aos mesmos, porm modificando alguns detalhes diante da forma de governar o pas. 3.3 A mediao brasileira durante o conflito O Brasil acompanha o conflito entre Equador e Peru desde 1941 quando eclodiu a primeira grande guerra entre os pases. Junto com mais trs pases, Argentina, EUA e Chile, que formavam os pases garantes, fizeram diversos acordos e tentativas para que esse conflito tivesse uma soluo, porm os conflitos continuaram por mais algumas dcadas. Em 1995, mais um grande conflito acontece e ento os governos dos pases em questo, decidem pedir ajuda aos pases garantes. A partir de ento, o processo de busca pela paz entre os pases e de resoluo dos conflitos ser guiado pelos garantes e o Brasil ser o mediador entre os pases. A mediao brasileira se dar atravs dos dilogos promovidos entre as partes, assim facilitando o processo de busca pela paz. Para definir a resoluo dos conflitos, foram criados alguns critrios que teriam que ser seguidos. Esses critrios foram: reconhecer o Protocolo do Rio de Janeiro como documento base para os possveis acordos entre os beligerantes, os garantes e todos os envolvidos na questo. E tambm algumas definies anteriores seriam retomadas51. Aps acordado que o Protocolo do Rio de Janeiro seria o ponto de partida, o prximo passo foi o encontro dos pases garantes com Peru e Equador, em fevereiro de 1995 na capital brasileira, Braslia. Desse encontro, foi criada a Declarao de Paz do Itamaraty, que tinha como objetivo principal por fim ao conflito que j durava dcadas e conseguir uma soluo pacfica e definitiva que suprisse as necessidades dos pases em disputa.

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CARDOSO, Fernando Henrique. A Arte da poltica. p 634 - 640

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Foi elaborado um processo que solucionaria o conflito em quatro tempos. Esse processo era divido em: 1) no ano de 1995, ocorreria o cessar fogo entre os pases; 2) no ano seguinte, 1996, seriam feitas reunies para decidir o calendrio das conversas entre os governos com a participao dos pases garantes; 3) no ano de 1997, seria feito um levantamento das necessidades e reivindicaes entre as partes, cujo nome foi dado de impasses subsistentes; 4) em janeiro de 1998, seria feito um cronograma para resolver esses impasses 52. Toda essa estrutura foi criada para que o conflito fosse resolvido da melhor maneira possvel e assim fosse evitado que a violncia se instalasse novamente entre as regies. Como vimos no capitulo anterior, cada pas garante ficou responsvel por uma comisso, e o Brasil ficou com a mais difcil de ser resolvida, que a questo fronteiria. Essa questo era crucial para criar um acordo entre as partes e para no ter mais problemas, o ento presidente Fernando Henrique Cardoso, decidiu convocar especialistas para estudar as demarcaes da regio em disputa e assim desenvolver meios para solucionar o conflito. Mesmo com a MOMEP em campo, ainda assim aconteceram alguns desentendimentos entre os pases que ameaaram o processo de paz. Esses conflitos aconteceram por um valor moral. Os pases queriam a regio da Twintiza que no tinha uma localizao estratgica, porm seu valor para os equatorianos era muito importante. Foi nessa regio que estes resistiram aos muitos embates com o exrcito peruano. Diante desse cenrio, FHC ir buscar uma soluo de conflitos aplicada pela ONU, pois os parmetros que regem as relaes internacionais brasileira vo acordados com a Carta das Naes Unidas. Esses parmetros esto inseridos na Constituio Federal de Brasil de 1988. So eles: 1) independncia nacional; 2) prevalncia dos direitos humanos; 3) autodeterminao dos povos; 4) no interveno; 5) igualdade entre os Estados; 6) defesa da paz; 7) soluo pacfica dos conflitos; 8) repdio ao terrorismo; 9) cooperao entre os povos para o progresso da humanidade; 10) concesso de asilo poltico. FHC decide integrar as resolues de conflito, pois de maneira individual, o pas desenvolver seu poder situacional e em conjunto com a ONU, seu poder institucional. Seu poder situacional ser mais bem elaborado, pois envolver seus52

BIATO, Marcel. O Processo de Paz Peru-Equador. Parcerias Estratgicas, p. 241-247,

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prprios valores, idias e atitudes para a resoluo de conflitos. O Brasil ajudar na cooperao de um Estado para com o outro e no na coao, pois seu intuito que as partes mantenham o contato para melhor resolver o conflito e assim o presidente tambm projetar seus princpios para com os pases. Ao desenvolver seu poder institucional, o Brasil estar legitimando seus esforos para a busca de paz entre os Estados e assim lhe dar um papel de ator diante do Direito Internacional. FHC, ento sugeri uma proposta aos presidentes. Essa proposta era: a construo de dois parques ecolgicos, na regio de Twintiza, um em cada fronteira e sua administrao ser feita em conjunto. Esses parques ecolgicos no poderiam ser explorador e nem militarizados.Certa noite, jantando com os dois presidentes, propus que se construsse um parque ecolgico binacional em um trecho da selva que era contestado. A idia parecia caminhar, mas sempre havia um porm, e as foras polticas locais reinterpretavam cada proposta ao sabor de suas convenincias, dificultando as margens de manobra dos presidentes para a transigncia. Quando estvamos quase a ponto de bater o martelo, em uma reunio em uma pequena sala da Granja do Torto (casa de campo do presidente brasileiro), novo impasse: um trecho do futuro parque fora usado como cemitrio para alguns soldados equatorianos mortos nas batalhas. Sugeri, ento, que se abrisse uma estrada ligando o cemitrio com a fronteira do Equador, com livre acesso para os nacionais daquele pas. Fujimore ( presidente do Peru) fingiu que no aceitaria, mas, de repente, virou-se para um pequeno quadro de paisagem buclica pendurado na parede. Era um quadro modesto, de pintor desconhecido, mostrando uma carrocinha puxada por um burro em uma estrada de terra. Apontando a estrada disse: - S se for daquela largura... Por ali no passam carros com tropas, imagino.(CARDOSO, 2006, p. 638)

Aps este acordo, o conflito entre os pases foram resolvidos. Os pases garantes propem que seja feita uma ata para a provao do acordo entre as partes. Essa ata ficou denominada como single undertaking e sua funo era reunir todas as decises legais que foram acertadas, durantes as comisses. O acordo final foi declarado em 26 de outubro de 1998 em Braslia e foi denominado de Acordo Global e Definitivo de Paz entre Equador e Peru que tinha por objetivo a criao do parque ecolgico, j mencionado anteriormente, o livre acesso da populao entre os parques, porm estes no poderiam ser explorados por pas algum. A segurana seria feita por homens militares que no poderiam ultrapassar o nmero de 50 em cada fronteira. Esse acordo foi considerado criativo e

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transformador diante de outras solues j relatadas em outros conflitos, pois as partes se comprometeram a criar o parque e a seguir o que dizia o acordo final53.

CONCLUSO

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BIATO, Marcel. O Processo de Paz Peru-Equador. Parcerias Estratgicas, p. 241-247,

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Nos captulos apresentados neste trabalho, abordamos o conflito entre Peru x Equador que se deu por uma regio chamada vale do rio Cenepa. O conflito teve iniciou durante a independncia dos pases. Esse conflito tinha um significado mais moral do que territorial para os combatentes. Seu fim aconteceu somente em 1995, com a ajuda da MOMEP que era uma misso de observadores militares Equador Peru comanda pelos quatro integrantes dos pases garantes (Chile, EUA, Brasil e Argentina), e tinha o auxilio dos militares dos pases conflitantes. Durante todo o perodo do conflito foram feitos diversos acordos, porm no foram respeitados. No ano de 1995, os presidentes dos pases em disputa decidem pedir ajuda aos pases garantes para que definitivamente seja resolvida a questo da fronteira. Foi enviada para rea de conflito, a MOMEP, para que supervisionasse os exrcitos enquanto os presidentes entravam em acordo. O ento presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, ficou responsvel por cuidar da questo fronteiria, ou seja, a questo mais difcil do acordo. Foi um momento importante durante seu governo. Era o momento de demonstrar para os Estados, que o Brasil tinha o interesse de manter as relaes amigveis entre todos e principalmente entre seus vizinhos da Amrica do Sul. Fernando Henrique defendia a boa relao entre os Estados. No concordava com os conflitos, pois dessa maneira os pases no se integrariam e assim poderia trazer dificuldades para seu prprio desenvolvimento. Durante todo o conflito, foram gerados muitos problemas entre Peru e Equador. Os pases foram atacados por diversas vezes e isso fez com que a estrutura, economia, poltica, ou seja, o pas em geral fosse afetado. Alm dos problemas internos e da relao conflituosa entre estes dois pases, outros problemas foram gerados pela aliana de pases terceiros, assim contribuindo para a continuao da guerra, o fornecimento de armas e outros materiais blicos, para atacar o adversrio, alguns pases deixaram de investir ou criar acordos com Peru e Equador por estarem em guerra durante varias dcadas. Se os pases garantes, a MOMEP junto com a mediao brasileira no tivesse conseguido o cessar fogo durante a guerra de 1995, a probabilidade do conflito, ter se estendido por mais uma ou duas dcadas seriam grandes. A participao do Brasil, durante esse processo de paz, foi fundamental para que solucionasse o problema e tambm para o aumento do seu poder situacional, 42

pois conseguiu projetar seus ideais, valores e cultura. Outro ponto importante foi o treinamento do exrcito brasileiro durante os quatros anos em que passaram junto a MOMEP. Aps o fim da mediao brasileira e o acordo definitivo da paz entre os dois pases, o Brasil foi visto de outra maneira pelos atores internacionais e pelos outros Estados tambm, pois no recebeu a colaborao de rgos internacionais para auxiliar durante o conflito e sua mediao no foi uma mediao viciada, mas sim uma mediao que buscou o desenvolvimento estrutural dos pases e principalmente a transformao do conflito evitando que a violncia retornasse. Isso contribuiu com a insero do Brasil nos assuntos internacionais, com as parcerias que surgiram depois desse conflito, com o desenvolvimento do pas e diversos outros assuntos, pois os Estados tinham uma viso diferente do Brasil. Assim conclui-se que o objetivo do ento presidente Fernando Henrique Cardoso em fazer uma presidncia diplomtica para ento inserir o Brasil nos assuntos internacionais foi bem sucedida, pois partir do momento da mediao o pas teve mudanas considerveis pela sua insero junto a outros Estados, e sua boa relao para com eles.

Referncias Bibliogrficas

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Anexo I - Protocolo de Paz, Amistad Y Lmites54 Base de Datos SER en el 2000 Titulo: Protocolo de Paz, Amistad y Lmites Autor : Fuente: Gobiernos y Legislaturas Extranjeros 54

BASE DE DATOS SER EN EL 2000. Protocolo de Paz, Amistad y Lmites. Rio de Janeiro, 26 fev. 1942. Disponvel em: www.ser2000.org.ar/protect/Archivo/d000cb4d.htm, acessado em 10/03/2010. .

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Fecha : 2/26/42 Idioma: castellano Clasificacion Tematica 1: Regmenes, mecanismos, tratados Clasificacion Tematica 2: Regmenes, mecanismos y tratados Clasificacion Tematica 3: PROTOCOLO DE PAZ, AMISTAD Y LMITES Ro de Janeiro 1942 Los Gobiernos de Per y Ecuador, deseando dar solucin a la cuestin de lmites que por largo tiempo los separa, y teniendo en consideracin el ofrecimiento que les hicieron los Gobiernos de Estados Unidos de Amrica, de la Repblica Argentina, de los Estados Unidos del Brasil y de Chile, de sus servicios amistosos para procurar una pronta y honrosa solucin del problema, y movidos por el espritu americanista que prevalece en la III Reunin de Consulta de Ministros de Relaciones Exteriores de las Repblicas Americanas, han resuelto celebrar un Protocolo de Paz, Amistad y Lmites en presencia de los Representantes de esos cuatro Gobiernos amigos. Para ese fin intervienen los siguientes plenipotenciarios: Por la Repblica del Per, el seor doctor Alfredo Solf y Muro, Ministro de Relaciones Exteriores; y Por La Repblica del Ecuador, el seor doctor Julio Tobar Donoso, Ministro de Relaciones Exteriores; los cuales despus de exhibidos los plenos y respectivos poderes de las Partes y habindolos encontrado en buena y debida forma, acordaron la suscripcin del siguiente protocolo: ARTCULO PRIMERO Los Gobiernos del Ecuador y del Per, afirman solemnemente su decidido propsito de mantener entre los dos pueblos relaciones de paz y amistad, de comprensin y de buena voluntad, y de abstenerse, el uno respecto del otro, de cualquier acto capaz de perturbar esas relaciones. ARTCULO SEGUNDO El Gobierno del Per retirar, dentro del plazo de 15 das a contar de esta fecha, sus fuerzas militares a la lnea que se halla descrita em el artculo VIII de este Protocolo. ARTCULO TERCERO 48

Estados Unidos de Amrica, Argentina, Brasil y Chile, cooperarn, por medio de observadores militares, a fin de ajustar a las circunstancias la desocupacin y el retiro de tropas en los trminos del artculo anterior. ARTCULO CUARTO Las Fuerzas Militares de los dos pases, quedarn en sus nuevas posiciones hasta la demarcacin definitiva de la lnea fronteriza. Hasta entonces, el Ecuador, tendr solamente jurisdiccin civil en las zonas que desocupar el Per, que quedan en las mismas condiciones en que ha estado la zona desmilitarizada del Acta de Talara. ARTCULO QUINTO La gestin de Estados Unidos, Argentina, Brasil y Chile, continuar hasta la demarcacin definitiva de las fronteras entre el Per y el Ecuador, quedando este Protocolo y su ejecucin bajo la garanta de los cuatro pases mencionados al comenzar este artculo. ARTCULO SEXTO El Ecuador gozar para la navegacin en el Amazonas y sus afluentes septentrionales de las mismas concesiones de que gozan el Brasil y Colombia, ms aquellas que fueran contenidas en un Tratado de Comercio y Navegacin destinado a facilitar la navegacin libre y gratuita em los referidos ros. ARTCULO SPTIMO Cualquier duda o desacuerdo que surgiere sobre la ejecucin de este Protocolo ser resuelto por las Partes con el concurso de los Representantes de Estados Unidos, Argentina, Brasil y Chile, dentro del plazo ms breve que sea posible. ARTCULO OCTAVO La lnea de frontera ser referida a los siguientes puntos: a) En el Occidente 1)- Boca de Capones, en el Ocano; 2)- Ro Zarumilla y Quebrada Balzamal o Lajas; 3)- Ro Puyango o Tumbes, hasta la Quebrada de Cazaderos; 4)- Cazaderos; 5)- Quebrada de Pilares y del Alamor hasta el ro Chira; 6)- Ro Chira, aguas arriba; 7)- Ros Macar, Calvas y Espndola, aguas arriba, hasta los orgenes de este ltimo en el Nudo de Sabanillas; 49

8)- Del Nudo de Sabanillas, hasta el Ro Canchis;' 9)- Ro Canchis, en todo su curso, aguas abajo; 10)- Ro Chinchipe, aguas abajo, hasta el punto en que recibe el Ro San Francisco; b) En el Oriente 1)- De la Quebrada de San Francisco, el "divortium aquarum" entre el Ro Zamora y el Ro Santiago, hasta la confluencia del Ro Santiago con el Yaup; 2)- Una lnea hasta la boca del Bobonaza en el Pastaza. Confluencia del Ro Cunambo con el Pintoyacu en el Ro Tigre; 3)- Boca de Cononaco en el Curaray, aguas abajo hasta Bellavista; 4)- Una lnea hasta la boca del Yasuni en el Ro Napo. Por el Napo, guas abajo, hasta la boca del Aguarico; 5)- Por ste, aguas arriba, hasta la confluencia del ro Lagartococha, o Zancudo con el Aguarico; 6)- El Ro Lagartococha o Zancudo, aguas arriba, hasta sus orgenes, y de all una recta que vaya a encontrar el Ro Gep, y por ste hasta su desembocadura en el Putumayo, y por el Putumayo arriba hasta los lmites del Ecuador y Colombia. ARTCULO NOVENO Queda entendido que la lnea anteriormente descripta, ser aceptada por el Per y el Ecuador para la fijacin, por los tcnicos, en el terreno, de la frontera entre los dos pases. Las partes podrn, sin embargo, al procederse a su trazado sobre el terreno, otorgarse ls concesiones recprocas que consideran convenientes a fin de ajustar la referida lnea a la realidad geogrfica. Dichas rectificaciones se efectuarn con la colaboracin de Representantes de los Estados Unidos de Amrica, Repblica Argentina, Brasil y Chile. Los Gobiernos Del Per y del Ecuador sometern el presente Protocolo a sus respectivos Congresos, debiendo obtenerse la aprobacin correspondiente en un plazo no mayor de treinta das. En fe de los cual los plenipotenciarios arriba mencionados firman y sellan, en dos ejemplares en castellano en La ciudad de Ro de Janeiro, a la una hora del da veintinueve de enero de mil novecientos cuarenta y dos el presente Protocolo, bajo los auspicios de Su Excelencia el seor Presidente del Brasil y en presencia de los seores Ministros de Relaciones Exteriores de la Repblica Argentina, Brasil y Chile y del Subsecretario de Estado de los Estados Unidos de Amrica.

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Firmado: Alfredo Solf y Muro Osvaldo Arnha Firmado: J. Toobar Donoso Juan B. Rossetti Firmado: E. Ruiz Guiaz Summer Welles Aprobado por Resolucin Legislativa N 9574 del 26/II/942.

Anexos II - Declaracin de Paz de Itamaraty entre Ecuador y Peru55. Base de Datos SER en el 2000 Titulo: Declaracin de Paz de Itamaraty entre Ecuador y Per Autor : Fuente: Gobiernos y Legislaturas Extranjeros 55

BASE DE DATOS SER EN EL 2000. Declaracin de Paz de Itamaraty entre Ecuador y Per. Disponvel em: http://www.ser2000.org.ar/protect/Archivo/d000cb4e.htm, acessado em 11/03/2010.

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Fecha : 2/17/95 Idioma: castellano Clasificacion Tematica 1: Diferendos Clasificacion Tematica 2: Medidas de fomento de la confianza Clasificacion Tematica 3: Conflictos DECLARACIN DE PAZ DE ITAMARATY ENTRE ECUADOR Y PER En la reunin de alto nivel diplomtico de los pases garantes del protocolo de Ro de Janeiro, los vicecancilleres del Ecuador y del Per, embajador Marcelo Fernndez de Crdoba y embajador Eduardo Ponce Vivanco, en representacin de sus gobiernos confirman el cese de hostilidads entre el Ecuador y el Per, conforme a los comunicados oficiales divulgados por los dos gobiernos, a partir de las 12 (doce) horas - hora de Quito y Lima - del 14 de febrero. Para consolidar el acuerdo de cese del fuego, y a fn de evitar nuevas confrontaciones que alteren las relaciones de paz, amistad y buena vecindad entre Per y Ecuador. Las dos partes conviven 1. Aceptar complacidas el ofrecimiento de los pases garantes para el envo de una misin de observadores, a fin de velar por la estricta aplicacin de los compromisos sealados en los numerales 2, 3 y 5 del presente acuerdo. Las partes solicitan que el plazo de la misin sea inicialmente de 90 das, pudiendo ser extendido, en caso necesario, para lo que las partes y los pases garantes harn oportunamente los arreglos pertinentes. La misin de observadores de los pases garantes empezar su trabajo al producirse la suspensin de las operaciones militares. Las partes se comprometen a proveer el apoyo y las facilidades necesarias para que la misin de observadores pueda ejercer susfunciones y para asegurar la integridad fsica de sus miembros, lo que oportunamente ser objeto de una "definicin de procedimientos" entre las partes y los pases garantes. Asimismo, las partes se comprometen a designar de inmediato a las autoridades militares que servirn de enlace con la misin de observadores. 2. Separar inmediata y simultneamente todas las tropas de los dos pases comprometidas en los enfrentamientos, a fin de eliminar cualquier riesgo de 52

reanudacin de las hostilidades, con prioridad en el caso de las fuerzas que estn en contacto directo. En ese sentido, las tropas de Ecuador se concentrarn en el puesto de Coangos (03 29' 40.9''s/ 78 13' 49.67''w) y las del Per en el PV1 - puesto de vigilancia N1 (03 32' 00''s/78 17' 49''w), comprometindose a no efectuar desplazamientos militares en el rea de enfrentamiento. Dada la importancia de este compromiso, las partes aseguran que la misin de observadores tendr las condiciones para verificar su cumplimiento. El proceso de separacin de fuerzas se har con la supervisin de los pases garantes. La misin de observadores instalar centros de operaciones en los puntos considerados de mayor tensin, como es el caso de Tiwintza y Base Sur. 3. Solicitar a la misin de observadores de los pases garantes que, en el marco del cumplimiento de los estipulado en el numeral anterior, recomiende a los gobiernos de Ecuador y Per un rea a ser totalmente desmilitarizada, en cuya determinacin se tendrn debidamente en cuenta las garantas necesarias para la seguridad de las zonas vecinas de ambos pases. 4. Dejar constancia que las referencias geogrficas del numeral (2) tendrn efecto solamente en la aplicacin del citado proceso de desmilitarizacin y separacin de fuerzas. 5. Iniciar de inmediato, como medida de fomento de confianza, en las zonas fronterizas no comprometidas directamente en los enfrentamientos y con la supervisin de los pases garantes, una desmovilizacin gradual y recproca, con el retorno a sus guarniciones y bases de las unidades desplegadas en las operaciones militares. 6. Iniciar conversaciones -en el contexto del prrafo 4 de la comunicacin dirigida a los gobiernos de Ecuador y Per por los pases garantes del Protocolo de Ro de Janeiro el 27 de enero de 1995- para encontrar una solucin a los impases subsistentes, tan pronto se cumplan los puntos anteriores y se restablezca un clima de distensin y amistad entre los dos pases. En fe de lo cual, firman la presente declaracin los representantes del Ecuador y del Per, en dos ejemplares en espaol en la ciudad de Brasilia, a las horas del da 17 de febrero del ao de 1995, en presencia de los representantes de Argentina, Brasil, Chile y Estados Unidos de Amrica, pases garantes del protocolo de Ro de Janeiro. Hecho en el palacio de Itamaraty, Brasilia, 17 de febrero de 1995. 53

Firma por la Repblica del Ecuador: Marcelo Fernndez de Crdoba. Firma por la Repblica del Per: Eduardo Ponce Vivanco. Por los pases garantes firman: Juan Jos Uranga (Argentina), Sebastio Do Rego Barros (Repblica Federativa del Brasil), Fbio Vio Ugarte (Repblica de Chile) y Melvyn Levitsky (Estados Unidos de Amrica).

Anexo III Acta Presidencial de Braslia56 En la ciudad de Brasilia, el 26 de Octubre de 1998, los Excelentsimos seores Jamil Mahuad Witt, Presidente de la Repblica del Ecuador y Alberto Fujimori Fujimori, Presidente de la Repblica del Per, se reunieron para dejar56

ECUADOR. Ministrio de Relaciones Exteriores. Acta de Braslia de 26 de octubre de 1998.

Disponvel em: http://mmrree.gov.ec/mre/documentos/tratados/FIRMA%20DE%20PAZ%20ENTRE %20ECUADOR, acessado em 18/03/2010

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constancia formal de la conclusin definitiva de las diferencias que durante dcadas han separado a sus dos pases. Estuvieron presentes, en su condicin de Jefes de Estado de los pases Garantes del Protocolo de Paz, Amistad y Lmites, suscrito en Ro de Janeiro el 29 de enero de 1942, los Excelentsimos seores Fernando Henrique Cardoso, Presidente de la Repblica Federal del Brasil, Carlos S. Menem, Presidente de la Repblica Argentina, Eduardo Frei Ruiz-Tagle, Presidente de la Repblica de Chile y el Representante Personal del Presidente de los Estados Unidos de Amrica, seor Thomas F. McLarty III. En ocasin de este trascendental evento, los Presidentes del Per y del Ecuador convinieron en suscribir la presente. ACTA PRESIDENCIAL DE BRASILIA, Por la cual, 1. Expresan su convencimiento acerca de la histrica trascendencia que para el desarrollo y bienestar de los pueblos hermanos del Ecuador y del Per tienen los entendimientos alcanzados entre ambos Gobiernos. Con ellos culmina el proceso de conversaciones sustantivas previsto en la Declaracin de Paz de Itamaraty del 17 de febrero de 1995 y se da trmino, en forma global y definitiva, a las discrepancias entre las dos Repblicas de manera que, sobre la base de sus races comunes, ambas Naciones se proyecten hacia un promisorio futuro de cooperacin y mutuo beneficio. 2. Declaran que con el punto de vista vinculante emitido por los Jefes de Estado de los Pases Garantes, en su carta de fecha 23 de octubre de 1998, que forma parte integrante de este documento, quedan resueltas en forma definitiva las diferencias fronterizas entre los dos pases. Con esta base, dejan registrada la firme e indeclinable voluntad de sus respectivos Gobiernos de culminar, dentro del plazo ms breve posible, l