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Conflito de interesses ambientais e urbanísticos dentro do contexto da gestão sustentável de cidades de médio porte no Estado de São Paulo RIBAS, Luiz César; POLLO, Ronaldo Alberto, LEMOS, Stella Vannucci, GARCIA, Yara Manfrin. 1 Professor Assistente Doutor. 2 Doutorando junto ao Programa de Pós-Graduação em Energia na Agricultura. FCA-UNESP 3,4 Mestranda junto ao Programa de Pós-Graduação em Energia na Agricultura. FCA-UNESP. Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial. Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”(UNESP). Botucatu/SP. E-mail: [email protected] Resumo Os empreendedores responsáveis pelo projeto habitacional "Condomínio Vale do Sol IIII" (pretensão de implantação) apresentaram proposta técnica com o intuito de resolver conflitos de interesses gerados com respeito aos moradores do Condomínio Vale do Sol I (já implantado). Os conflitos deram-se em função de problemas ambientais e urbanísticos que tiveram origem numa notificação da Concessionária responsável pela administração da Rodovia Marechal Rondon (entrada e saída das pessoas para a estrada, na região da cidade de Botucatu, Estado de São Paulo) Este trabalho, baseado em método de estudo de caso, e dentro de uma abordagem dedutiva, analizou os aspectos urbanísticos e ambientais da área, a fim de contribuir para o processo de gestão sustentável de cidades de médio porte. Houve, ademais, a utilização de softwares de geoprocessamento para o fim de suporte à presente análise técnica. Investigações foram realizadas, dentro de pontos de vistas urbanísticos e ambientais inerentes à bacia hidrográfica do córrego Água Fria, bem como com base técnica e legal advinda de dispositivos normativos tanto municipais quanto federais. Concluiu-se que a proposta técnica do empreendimento imobiliário Vale do Sol III, restringida basicamente aos escopos tanto da contenção das águas pluviais do loteamento propriamente dito, quanto a uma determinada alternativa técnica e locacional de trânsito, não se apresentou como solução necessária, suficiente e satisfatória no sentido de, ao menos mitigar, os problemas da sustentabilidade da área de entorno (bacia hidrográfica do córrego Água Fria, dentro da qual inserir-se-ia, inclusive, o condomínio Vale do Sol I, objeto de notificação). Palavras chave Gestão ambiental, gestão urbanística, cidades médias, sistema viário, rede de drenagem de águas pluviais.

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Conflito de interesses ambientais e urbanísticos dentro do contexto da gestão sustentável

de cidades de médio porte no Estado de São Paulo

RIBAS, Luiz César; POLLO, Ronaldo Alberto, LEMOS, Stella Vannucci, GARCIA,

Yara Manfrin. 1 Professor Assistente Doutor.

2 Doutorando junto ao Programa de Pós-Graduação em Energia na Agricultura.

FCA-UNESP 3,4

Mestranda junto ao Programa de Pós-Graduação em Energia na Agricultura. FCA-UNESP.

Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial. Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA). Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”(UNESP). Botucatu/SP. E-mail: [email protected]

Resumo

Os empreendedores responsáveis pelo projeto habitacional "Condomínio Vale do Sol

IIII" (pretensão de implantação) apresentaram proposta técnica com o intuito de resolver

conflitos de interesses gerados com respeito aos moradores do Condomínio Vale do Sol I (já

implantado). Os conflitos deram-se em função de problemas ambientais e urbanísticos que

tiveram origem numa notificação da Concessionária responsável pela administração da

Rodovia Marechal Rondon (entrada e saída das pessoas para a estrada, na região da cidade de

Botucatu, Estado de São Paulo) Este trabalho, baseado em método de estudo de caso, e dentro

de uma abordagem dedutiva, analizou os aspectos urbanísticos e ambientais da área, a fim de

contribuir para o processo de gestão sustentável de cidades de médio porte. Houve, ademais, a

utilização de softwares de geoprocessamento para o fim de suporte à presente análise técnica.

Investigações foram realizadas, dentro de pontos de vistas urbanísticos e ambientais inerentes

à bacia hidrográfica do córrego Água Fria, bem como com base técnica e legal advinda de

dispositivos normativos tanto municipais quanto federais. Concluiu-se que a proposta técnica

do empreendimento imobiliário Vale do Sol III, restringida basicamente aos escopos tanto da

contenção das águas pluviais do loteamento propriamente dito, quanto a uma determinada

alternativa técnica e locacional de trânsito, não se apresentou como solução necessária,

suficiente e satisfatória no sentido de, ao menos mitigar, os problemas da sustentabilidade da

área de entorno (bacia hidrográfica do córrego Água Fria, dentro da qual inserir-se-ia,

inclusive, o condomínio Vale do Sol I, objeto de notificação).

Palavras chave

Gestão ambiental, gestão urbanística, cidades médias, sistema viário, rede de

drenagem de águas pluviais.

Environmental conflicts of urban interests within sustainable context about

management of medium-sized cities in Sao Paulo state.

Abstract

Responsible entrepreneurs responsible for housing project "Vale do Sol III" (claim of

deployment) had proposed technique in order to solve conflicts of interest, arising with

respect to residents of Vale do Sol I (already implemented). Conflicts gave up due to

environmental and urban problems, originated in a notification of responsible concessionaire

for the administration of Marechal Rondon highway (entry and exit of people on the road, in

the city of Botucatu, Sao Paulo state). This work, based on study case method, within a

deductive approach, analyzed urban and environmental aspects of the area in order to

contribute to sustainable management of medium-sized cities. There was, moreover, use of

GIS software for purpose of supporting this technical analysis. Investigations were carried out

within environmental and urban viewpoints about Água Fria watershed, as well as technical

and legal basis arising devices both municipal and federal regulations. It was concluded that

proposed project of Vale do Sol III, about containment of stormwater and alternative technical

and locational traffic, not presented as necessary solution, sufficient and satisfactory in the

sense of, at least, mitigate sustainability problems of surrounding area (Água Fria watershed,

into which could insert even Vale do Sol I condominium, subject to notification).

Key Words

Environmental management, urbanistic management, cities with medium size, road

system, water top draining.

1. Introdução

O projeto habitacional denominado "Condomínio Vale do Sol I" recebeu uma

notificação sobre problemas urbanísticos (entrar e sair das pessoas para a estrada Marechal

Rondon, na região da cidade de Botucatu, Estado de São Paulo).

Os moradores do referido condomínio estavam preocupados porque estes problemas

poderiam ser agravados se fosse construído um novo empreendimento habitacional

denominado "Condomínio Vale do Sol III”.

Como se não bastasse, havia também problemas ambientais que poderiam acometer o

novo projeto de construção.

Aos 29 de junho de 2011, em atendimento à solicitação da Sociedade Amigos Vale do

Sol, foi elaborado um parecer técnico apontando desconformidades urbanísticas e ambientais

do sistema viário e rede de drenagem de águas pluviais em região objeto da implantação do

projeto técnico do loteamento Vale do Sol III (RIBAS et NETO, 2012).

Investigações foram realizadas dentro de pontos de vistas urbanísticos e ambientais

com base técnica e legal. Foi verificado que a não modificação do projeto do empreendimento

Condomínio Vale do Sol III acarretaria na suspensão da licença de execução do projeto

(RIBAS et PAES, 2012).

Por conta disto, e em fevereiro de 2013, a Incorporadora do loteamento Vale do Sol III

elaborou uma proposta técnica para a adequação urbanístico-ambiental da contenção das

águas pluviais da área a ser ocupada pelo loteamento Vale do Sol III. Elaborou, também,

relatório de impacto ambiental de trânsito relacionado ao referido loteamento enquanto polo

gerador de tráfego, com a sugestão de medidas mitigadoras. Tais aspectos ambientais e

urbanísticos foram relacionados e analisados consoante disposto em Ribas et Netto (2013)

Este trabalho baseado em método de estudo de caso, dentro de uma abordagem

dedutiva, quando a partir de aspectos gerais de normas ambientais e urbanísticas previstos em

dispositivos normativos municipais e federais, analizou os aspectos urbanísticos e ambientais

específicos aplicáveis na área objeto do presente estudo.

Com isto objetivou-se, em segundo plano, contribuir para a gestão ambiental e

urbanística sustentável de cidades de médio porte segundo diretrizes previstas em BRASIL

(2012,a) e BRASIL (2012,b), por exemplo.

A pesquisa proposta é do tipo Estudo de Caso, com natureza descritiva e orientação

epistemológica qualitativa, onde se pretende explicar a situação a partir da prática (GODOY,

2006).

Ademais, de acordo com Eisenhardt (1989), este método propicia uma fonte de

exploração de situações organizacionais típicas, cujos casos podem ser especialmente

reveladores.

Por fim, trata-se de uma metodologia que investiga, empiricamente, um determinado

fenômeno dentro de sua realidade atual, especialmente em condições onde as delimitações

entre o fenômeno e a realidade não estão marcantemente estabelecidos (YIN, 2001).

A caracterização ambiental da área foi realizada a partir do suporte do

geoprocessamento, a partir de softwares especializados tais como o IDRISI.

O IDRISI foi criado na Universidade de Clark, Massachusetts, Estados Unidos da

América. Seu principal desenvolvedor é o Doutor J. Ronald Eastman. Sua primeira versão

surgiu em 1987, em uma parceria com a ONU. É um dos aplicativos de Sistema de

Informação Geográfica de tipo raster mais empregados no mundo, sendo esta difusão devida

as suas grandes capacidades e seu baixo custo (PIROLI, 2010).

O IDRISI reúne ferramentas nas áreas de processamento de imagens, sensoriamento

remoto, SIG, geoestatística, apoio à tomada de decisão e análise de imagens geográficas, além

disso, o usuário pode desenvolver programas específicos de forma a atender novas aplicações

e tem o mesmo, permite a migração de dados para outros software (ROSA, 2005).

O SIG - IDRISI conta com um banco de dados capaz de capturar (adquirir),

armazenar, recuperar e manipular informações digitais, georreferenciadas, provenientes de

imagens, mapas e modelos numéricos do terreno e de efetuar análises geográficas e gerar a

saída de dados na forma de mapas, gráficos, tabelas, etc. Este aplicativo é muito utilizado

atualmente, tendo em vista sua relação custo benefício, preço bastante acessível, fácil

manipulação e interação com o usuário (PIROLI, 2010).

Para Calijuri et al. (1994), o uso do IDRISI, além dos aspectos de agilidade,

compatibilização de informações de diferentes fontes, serve para implantar um banco de

dados informatizado e atualizado, contendo a evolução de eventos no espaço e no tempo;

além de permitir que o banco de dados seja permanentemente alimentado e atualizado com

novas informações.

O problema principal a ser investigado diz respeito ao questionamento da proposta

urbanística e ambiental de contenção das águas pluviais apresentada pelos incorporadores do

empreendimento imobiliário Vale do Sol III seria ambiental e urbanisticamente adequada para

fins de solução do conflito de interesses entre os moradores do Condomínio Vale do Sol I e o

projeto técnico do Condomínio Vale do Sol III.

Como hipótese principal, ter-se-ia que a proposta técnica do Vale do Sol III não se

apresenta como solução necessária, suficiente e satisfatória no sentido de ao menos mitigar os

problemas da sustentabilidade da área de entorno (bacia hidrográfica do córrego Água Fria,

dentro da qual inserir-se-ia, inclusive, o condomínio Vale do Sol I).

2. Caracterização da área de estudo

O loteamento Vale do Sol III é de propriedade da Predial Suzanense Construções e

Incorporações Ltda., nas áreas de matrículas 25.454 e 25.455 situadas à Rodovia Marechal

Rondon km 248 + 250 metros, na cidade de Botucatu/SP.

A bacia hidrográfica do córrego Água Fria localiza-se no município de Botucatu-SP,

entre as coordenadas UTM 758800 à 760900E e 7463440 à 7466040N, com uma área de

384,42 ha distando aproximadamente 270 Km da capital do estado.

2.1. Georreferenciamento da Imagem

O programa de vetorização CartaLinx 1.2 foi utilizado na digitalização do limite da

microbacia e da rede de drenagem.

O Sistema de Informações Geográficas - IDRISI Selva edição 17.0, foi utilizado no

processamento das informações georreferenciadas, na conversão dos dados vetoriais em

imagem raster e na elaboração do mapa final.

Por meio do programa IDRISI, onde por meio do sistema de coordenadas Universal

Transversa de Mercator (UTM) realizou-se o georreferenciamento da área, utilizando os

comandos “output” na imagem georreferenciada para o “input” na imagem a georreferenciar,

onde utilizou-se 4 pontos com coordenadas visíveis na carta planialtimétrica, servindo como

pontos de controle para outros vários pontos homólogos criados e distribuídos ao longo de

toda a imagem (Figura 1).

Figura 1. Círculos (em vermelho) de Pontos de Controle.

2.2 Delimitação da área e da rede de drenagem da microbacia

No programa CartaLinx, através do comando “Begin Arc” foram traçados os limites

da bacia hidrográfica pelo divisor de águas, definidas pela conformação das curvas de nível

existentes nas cartas planialtimétricas que ligam os pontos mais elevados da região em torno

da drenagem (Argento & Cruz, 1996) e finalizado com o comando "Finish Arc” . Para

poligonizar a área utilizou-se o comando "Polygon Locator” e "Build Polygons".

Para visualizar apenas o limite da área de estudo, utilizou-se o comando

"Preferences" e a seguir em "Backdrop" e "Clear". Já para a imagem de fundo (ou seja, a

carta georreferenciada), utiliza-se o comando "Preferences", "Backdrop" e "Browse.

Através do comando “Begin Arc” no CartaLinx foi traçada a drenagem principal e

seus afluentes, onde para a ligação destes com o rio principal usou-se o comando “Break

Arc” para a ligação dos “nós” onde foram finalizadas com o comando “Finish Arc”. Em

seguida exportou-se o mapa do CartaLinx para o IDRISI, onde com o comando “Map

Properties” foi realizado a escolha da legenda, grade de coordenadas, o norte, escala gráfica e

através do comando “Area” foi mensurada a área da microbacia estudada (Figura 2).

Figura 2. Localização da bacia hidrográfica do córrego Água Fria.

2.2. Base Cartográfica

Utilizou-se a carta planialtimétrica em formato digital, editada pelo Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística - IBGE (1969), folha de Botucatu (SF-22-R-IV-3), em escala

1:50.000 com equidistância das curvas de nível de 20 metros, onde obteve-se os pontos de

controle (coordenadas) para o georreferenciamento e a altimetria para digitalização do limite

da microbacia, Figura 3.

Figura 3. Carta planialtimétrica em formato digital editada pelo IBGE.

3. Resultados e Discussão

Um dos principais aspectos urbanísticos e ambientais abordados na proposta apresentada

pelo Condomínio Vale do Sol III diz respeito à solução técnica para a contenção de águas

pluviais na área especificamente ocupada pelo loteamento em questão, enquanto que o outro

aspecto diz respeito, primordialmente, ao sistema viário associado à estrutura do referido

condomínio.

3.1 Contenção das águas pluviais do loteamento

Dentro deste particular aspecto depreenderam-se, conforme disposto em Ribas et Netto

(2013), os seguintes pontos principais:

i) o loteamento terá 9 quadras e 119 unidades (lotes) distribuídos numa área total de

110.324,81 m2, sendo que da área total 24,06% correspondem à área do sistema viário;

ii) o terreno local tem uma conformação topográfica que indica que as águas pluviais

captadas na área do loteamento serão efetivamente direcionadas, superficialmente,

para o leito do córrego Água Fria, em localidade à montante do loteamento Vale do

Sol;

iii) por conta disto, e considerando as desconformidades urbanísticas e ambientais já

anteriormente apontadas com respeito à drenagem das águas pluviais do referido curso

de água em área do loteamento Vale do Sol, a Incorporada propôs, como medida de

mitigação de impactos ambientais, a construção de um reservatório de águas pluviais e

um canal de escoamento das águas em direção ao córrego Água Fria, com 34 metros

de extensão, visando, primordialmente, a dissipação da energia cinética1 das águas

pluviais captadas e direcionadas superficialmente pelo loteamento Vale do Sol III ao

córrego Água Fria;

iv) Por outro lado, parte das águas pluviais do loteamento Vale do Sol III (ruas 01, 06,

02, 07, 08) deverão ser captadas e direcionadas superficialmente por intermédio do

leito da rua 03 (que, por seu turno, será prolongamento da atual Alameda Aquarius,

pertencente ao sistema viário do loteamento Vale do Sol) e, por extensão, para o leito

do córrego Água Fria, somente que em ponto diferente daquele apontado no projeto

técnico elaborado pelo Empreendedor2;

v) Tais medidas resolvem, portanto, primordialmente, e ainda assim em parte, o

problema da área do empreendimento imobiliário Vale do Sol III propriamente dito, e

não necessariamente da área de entorno (em situação, inclusive, que diz respeito aos

problemas ambientais e urbanísticos de drenagem das águas pluviais do loteamento

Vale do Sol);

vi) desta feita, o projeto técnico de contenção de águas pluviais resolverá apenas em

parte o problema de drenagem das águas pluviais do loteamento Vale do Sol conforme

situação anteriormente apontada;

vii) resolverá somente em parte até porque o problema de drenagem das águas pluviais

do córrego Água Fria também é originado a partir da área da bacia hidrográfica à

montante do local onde se pretende implantar o loteamento Vale do Sol III;

viii) o entendimento de que a proposta técnica para contenção das águas pluviais do

loteamento Vale do Sol III apresentada pelo Empreendedor é solução parcial e que há

também contribuição “externa” para o surgimento do problema de drenagem de águas

pluviais verificado na área do loteamento Vale do Sol é, inclusive, corroborado pela

reportagem anexada ao presente laudo técnico;

ix) isto porque, conforme atesta a reportagem, o problema ambiental e urbanístico da

inadequada drenagem das águas pluviais do local está associado às obras públicas,

construções e empreendimentos industriais, comerciais e residenciais que serão

instalados à montante da área e que acarretarão significativas alterações antrópicas tais

como a impermeabilização do solo;

1 Relação matemática entre massa e velocidade das águas pluviais. Em certo sentido inclusive de acordo com

sugestões, dentre outras, apontadas no Parecer SMMA n. 52/2010, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente,

da Prefeitura Municipal de Botucatu, datado de 22 de abril de 2010 (SMMA, 2010).

2 Vide a planimetria (cotas altimétricas da porção do loteamento mais afastada do córrego Água Fria

relativamente à rua 03 do loteamento Vale do Sol III).

x) ademais, ainda que tais obras públicas e empreendimentos não viessem a ser

implementados, o problema de drenagem de águas pluviais continuaria ocorrendo,

ainda assim, por conta das alterações antrópicas já até aqui havidas e, principalmente,

em razão do “subdimensionamento” da capacidade de vazão de águas do córrego

Água Fria junto ao ponto de passagem subterrânea no leito da Avenida Primavera,

junto ao loteamento Vale do Sol, conforme se verifica na Figura 4 abaixo;

Figura 4. Ponto de passagem subterrânea das águas do córrego Água Fria sob o leito da

Avenida Primavera, em área do loteamento Vale do Sol. Observa-se, pelo conjunto de

resíduos vegetais, inclusive, que o local não dá conta do escoamento das águas principalmente

em eventos pluviométricos de significativa monta.

xi) Por tais razões3 é que se reforça o entendimento técnico já anteriormente

formulado em Ribas et Netto (2012,a) de que a Municipalidade deve, no médio prazo,

e paralelamente à implantação de um conjunto significativo de empreendimentos

habitacionais e urbanísticos na região de entorno, via Lei Municipal específica baseada

no plano diretor, delimitar área para aplicação de operações consorciadas4 com o

objetivo de implantar obras estruturais e não estruturais de drenagem das águas

pluviais do córrego Água Fria, dentre outras medidas de adequação das condições

ambientais e urbanísticas da bacia hidrográfica do córrego Água Fria; e

3 Significativas alterações antrópicas em área à montante dos loteamentos “Vale do Sol I” e “Vale do Sol III” e

solução apenas parcial, bem como necessária mas não suficiente, do projeto técnico de contenção de águas

pluviais do loteamento Vale do Sol III em termos da solução dos problemas ambientais e urbanísticos da região

como um todo, visto que tais problemas extrapolam o escopo de ação do loteamento Vale do Sol III

propriamente dito.

4 Considera-se operação urbana consorciada o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder

Público municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores

privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a

valorização ambiental (parágrafo 1º, do art. 32, do Estatuto da Cidade).

xii) No curto prazo, a Municipalidade deve, paralelamente à implantação do

loteamento Vale do Sol III, e dentro do contexto de um projeto de adequação dos

volumes excessivos de vazão das águas do córrego Água Fria em decorrência de

fenômenos pluviométricos esporádicos de elevada intensidade, melhorar as condições

de escoamento das águas pluviais do córrego Água Fria junto à Avenida Primavera.

3.2 Impacto Ambiental de Trânsito

Do estudo do Empreendedor sobre a influência temporária e permanente do loteamento

Vale do Sol III enquanto polo gerador de tráfego, e à luz do conteúdo disposto na

correspondência RTC-387/10, datada de 05 de abril de 2010, encaminhada pela

Concessionária “Rodovias Tietê S.A”5, ter-se-ia a relacionar os seguintes comentários

principais:

i) o polo gerador de tráfego do Vale do Sol III deve vir a se somar aos polos geradores de

tráfego dos loteamentos Vale do Sol e Vale do Sol II já implantados e todos terão, como

principal via de entrada e saída, justamente a Rodovia Marechal Rondon (SP -300), que é

o foco central da RTC – 387/10;

ii) o polo gerador de tráfego do Vale do Sol III terá a Alameda Aquarius e a Avenida

Primavera, integrantes do sistema viário do Vale do Sol, como principal via de acesso;

iii) tais situações, diga-se de passagem, proporcionarão uma sobrecarga6 da portaria do

loteamento Vale do Sol que está situada junto à rodovia Marechal Rondon e,

consequentemente, pressões adicionais à circulação e trânsito (local e de passagem) de

veículos por esta rodovia;

iv) tal sobrecarga, conforme inclusive apontado pelo relatório do Empreendedor,

acarretará “picos” acumulativos, em horários de “rush” (manhã, meio dia e tarde), tanto

do trânsito local quanto do trânsito de passagem da rodovia Marechal Rondon;

v) além disto, o relatório de impacto ambiental de trânsito não esclarece sobre o

tratamento urbanístico a ser proporcionado ao tráfego de terceiros e visitantes que o

loteamento Vale do Sol III certamente irá gerar;

vi) desnecessário mencionar que a rodovia Marechal Rondon não conta, na localidade,

com uma avenida marginal que trata-se, exatamente, de um mecanismo seguro e

apropriado para racionalizar, assegurar, disciplinar e ordenar o trânsito local e o trânsito

de passagem;

vii) com respeito ao polo gerador de tráfego do loteamento Vale do Sol III, quando da

situação específica das obras de implantação do loteamento, a proposta do Empreendedor,

5 Vide, a propósito, RIBAS et PAES (2012).

6 A despeito das medidas de mitigação sugeridas pelo Empreendedor que serão, inclusive, objeto de apreciação

mais adiante.

ainda que adequada7, por si só demonstra o potencial de restrições de acesso por

intermédio da Rodovia Marechal Rondon; e

viii) por fim, o relatório de impacto ambiental de trânsito não considerou, adequada e

suficientemente alternativas técnicas e, principalmente, locacionais, inclusive dentro do

contexto da ampliação do cenário de ampliação urbanístico local, para o que, tanto a

Municipalidade, quanto a Concessionária Rodovias Tietê S.A., e à luz do aqui exposto,

deveriam ser consultadas com respeito à formulação de uma nova proposta.

4 Comentários Finais

A proposta ambiental e urbanística apresentada pelo Condomínio Vale do Sol III, para a

finalidade de dar uma solução satisfatória e, desta forma, contribuir para a gestão sustentável

da região da bacia hidrográfica do córrego Água Fria, no município de Botucatu/SP,

contempla, a princípio, aspectos tanto das águas pluviais do loteamento quanto do impacto

ambiental e urbanístico de tráfego (trânsito).

Assim, no que se refere à proposta de contenção das águas pluviais do loteamento Vale do

Sol III e,

Considerando o potencial, em futuro próximo, de significativas alterações antrópicas em

área à montante dos loteamentos Vale do Sol e Vale do Sol III,

Considerando que a proposta técnica apresentada pelo Empreendedor é solução parcial,

bem como necessária, mas não suficiente, do problema de drenagem de águas pluviais do

córrego Água Fria conforme anteriormente apontado,

Considerando que, independentemente do projeto técnico de contenção de águas pluviais

do loteamento Vale do Sol III, ainda haverá a necessidade de se buscar uma segura, concreta e

definitiva solução para os problemas ambientais e urbanísticos da região como um todo,

Entende-se que o projeto de contenção de águas pluviais do loteamento Vale do Sol III

deve ser aceito se e somente se;

a. A Prefeitura Municipal de Botucatu, previamente à implantação de um conjunto

significativo de empreendimentos habitacionais e urbanísticos na região de entorno8,

via Lei Municipal específica baseada no plano diretor, delimite uma área para

aplicação de operações consorciadas9 onde deve ser implantado um conjunto de obras

estruturais e não estruturais de drenagem das águas pluviais do córrego Água Fria,

dentre outras medidas de adequação das condições ambientais e urbanísticas da bacia

hidrográfica do córrego Água Fria; e

b. A Prefeitura Municipal de Botucatu, prioritária e previamente à implantação do

loteamento Vale do Sol III, e dentro do contexto de um projeto de adequação dos

volumes excessivos de vazão das águas do córrego Água Fria em decorrência de

fenômenos pluviométricos esporádicos de elevada intensidade, melhorar as condições

7 Muito embora sujeita à prévia aprovação por parte dos órgãos competentes da Prefeitura Municipal de

Botucatu.

8 Loteamentos Jardim Tropical, Santa Elisa, Riviera, dentre outros (bacia hidrográfica do córrego Água Fria).

9 Considera-se operação urbana consorciada o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder

Público municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores

privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a

valorização ambiental; parágrafo 1º, do art. 32, do Estatuto da Cidade, cf. Brasil (2012,a).

urbanísticas e ambientais locais para fins de um mais adequado escoamento das águas

pluviais do córrego Água Fria junto à Avenida Primavera10

.

Por outro lado, considerando a proposta de contenção das águas pluviais do

loteamento Vale do Sol III, recomenda-se, tendo em vista que o relatório de impacto

ambiental de trânsito não considerou alternativas técnicas e, principalmente, locacionais,

inclusive dentro do contexto da ampliação do cenário urbanístico local, que a Municipalidade

e a Concessionária “Rodovias Tietê S.A.”, à luz do aqui exposto, que sejam consultadas com

respeito à formulação de nova proposta de acesso viário.

Dentro deste escopo, e como sugestão, a alternativa técnica e locacional da

implantação de um acesso “marginal” à rodovia Marechal Rondon, conforme vislumbrado na

Figura 5 abaixo.

Figura 5. Alternativa técnica e locacional a ser discutida pelo Empreendedor

(implantação de via marginal de acesso aos loteamentos)

5. Referências Bibliográficas

ARGENTO, M.S.F.; CRUZ, C.B.M. Mapeamento geomorfológico. In: CUNHA, S.B.,

GUERRA, A.J.T. (Org.). Geomorfologia: exercícios, técnicas e aplicações. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil, 1996. Cap. 9, p.264-82.

BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da

Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm> Acessado

em: 29 de junho de 2012

BRASIL. Lei n. 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo

Urbano e dá outras providências. Disponível em:

< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm> Acessado em: 29 junho de 2012

10

Vide fotografia 1, por exemplo.

CALIJURI, M. L.; CALIJURI, M. C.; TUNDISI, J. G.; RIOS, L. Implantação de um

Sistema de Informação Geográfica na bacia hidrográfica do ribeirão e represa do Lobo

(Broa) – Estado de São Paulo. In: GIS Brasil 94, Congresso e Feira para usuários de

Geoprocessamento. Curitiba: SAGRES, 1994. Cap. 12, p.35-43.

EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research. Academy of

Management Review, v. 14, n. 4, p. 532-550, 1989.

GODOY, A. S. Estudo de caso qualitativo. In. GODOY, C. K.; BANDEIRA-DE-MELO,

R.; SILVA, A. B. Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: Paradigmas, estratégias e

métodos. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 115-146.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Carta

Topográfica. Serviço gráfico do IBGE, 1969. Escala 1:50.000.

PIROLI, E. L. Introdução ao Geoprocessamento. UNESP - Campus Experimental de

Ourinhos, 2010, 46p.

RIBAS, L. C. et NETTO, A. C. Parecer Técnico: Desconformidades urbanísticas (sistema

viário e rede de drenagem de águas pluviais) do projeto técnico do loteamento Vale do

Sol III. Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial. Faculdade de Ciências

Agronômicas. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP).

Botucatu/SP. 29 jun 2012. 16 págs. (PT Vale do Sol III – FINAL.doc).

_____________________. Parecer Técnico: Análise da proposta de contenção das águas

pluviais e do relatório de impacto ambiental de trânsito. Departamento de Economia,

Sociologia e Tecnologia. Faculdade de Ciências Agronômicas. Universidade Estadual

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do Sol III 28052013.doc)

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