configuração de interesse público

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Caracterização do Interesse Público: RESUMO: A celeuma que se deu no TJ Paranaense após a regulamentação da lei nº 12.557 de 18 de novembro de 201, através do decreto 7.724 de 16 de maio de 2012. O Tribunal de Justiça decidiu sobre a inconstitucionalidade da divulgação individualizada de salários de servidores públicos dos três poderes paranaenses. INTRODUÇÃO: Antes de expor minha opinião, é preciso que leiamos o artigo 5º, caput, incisos II e XXXIII e artigo 37 da Constituição Federal que diz: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; (...) XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

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Caracterizao do Interesse Pblico:

RESUMO:A celeuma que se deu no TJ Paranaense aps a regulamentao da lei n 12.557 de 18 de novembro de 201, atravs do decreto 7.724 de 16 de maio de 2012. O Tribunal de Justia decidiu sobre a inconstitucionalidade da divulgao individualizada de salrios de servidores pblicos dos trs poderes paranaenses.

INTRODUO:Antes de expor minha opinio, preciso que leiamos o artigo 5, caput, incisos II e XXXIII e artigo 37 da Constituio Federal que diz: Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:(...)II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei; (...)XXXIII - todos tm direito a receber dos rgos pblicos informaes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindvel segurana da sociedade e do Estado;

Art. 37. A administrao pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia (...):[footnoteRef:1] [1: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm]

Ainda sem querer fazer deste breve comentrio um transcrito de artigos de lei, de relevncia que nos atenhamos ao artigo 3, incisos I, II e III da lei 12.527/2011 que esclarece: Art. 3o Os procedimentos previstos nesta Lei destinam se a assegurar o direito fundamental de acesso informao e devem ser executados em conformidade com os princpios bsicos da administrao pblica e com as seguintes diretrizes:I observncia da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceoII divulgao de informaes de interesse pblico, independentemente de solicitaesIII utilizao de meios de comunicao viabilizados pela tecnologia da informao

Se lermos o que a Constituio Federal e a lei 12.527/2011, dizem em seus artigos no precisaremos colecionar praticamente nenhum posicionamento doutrinrio ou jurisprudencial para sabermos o que o legislador quis efetivamente, ao transportar sua vontade aos artigos acima.Podemos ver que o artigo 37 da CFB de 1988 primou o interesse pblico, quando imps a administrao pblica e ao administrador estarem submetidos a este comando imperativo. E nesta seara no podemos deixar de mencionar, mesmo que mais superficial dos mais importantes princpios constitucionais da administrao pblica. Que so:Princpio da Legalidade: Ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei;Ao mesmo tempo que protege o cidado estabelece a submisso da administrao pblica a lei.

Princpio da Impessoalidade:Previsto no artigo 37 da CFB, cria uma separao entre o interesse do particular e o pblico.

Princpio da Publicidade:Tambm tem sua previso legal no artigo 37 da CFB, e trata da transparncia e divulgao dos atos praticados pela administrao pblica.

Poderamos comear abordando o entendimento do Desembargador ( o nico dos 20 paranaenses) Jorge de Oliveira Vargas, mas vou tentar entender ou no porque os outros 19 votaram pela inconstitucionalidade da divulgao individualizada de salrios de servidores pblicos.Pois bem, o que parece sopesar que tal divulgao fere a prpria Constituio que no artigo 37 da Carta submete ao administrador a transparncia e divulgao da destinao do recurso pblico e por outro lado artigo 5, inciso X, que trata da intimidade e da vida privada, e agora eu empresto a frase usada pelo Desembargador Jorge de Oliveira Vargas (...) o uso do carto de crdito, a movimentao da conta corrente, mas no se aplica ao querecebe, pois esse dinheiro pago pelos contribuintes e por isso est relacionado vida pblica. Quando uma pessoa assume um cargo pblico, a vida privada fica separada da vida pblica e os vencimentos que recebe do governo, como agente pblico, dizem respeito vida pblica e no privada.[footnoteRef:2] [2: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/paradesembargadorholeritedeservidoredeinteressepublico3eyk7vmint2j5f6w6p9q4gt3i]

O que a lei manda que seja divulgado o quanto que saiu dos cofres pblicos e a sua destinao final, para o contracheque de qual servidor, discriminando o que salrio, ajuda de custo, e outros benefcios mais, porque a soma de todas as rubricas totalizam que saiu dos cofres pblicos e sua destinao. Isso nem de longe parece ferir a intimidade e a vida privada. Quando o servidor se sujeitou a ser servidor, junto as regalias que o cargo promove tambm sabido das particularidades que a funo exige que se cumpra.

Analisemos hipoteticamente que o princpio da publicidade, neste caso conflitasse com o direito a intimidade, e o que estivesse em jogo fosse o interesse pblico, este prevaleceria sobre aquele.

Nesta mesma linha o Ministro Celso de Mello em sede cautelar monocrtica declinou:

O sistema democrtico e o modelo republicano no admitem nem podem tolerar a existncia de regimes de governo sem a correspondente noo de fiscalizao e de responsabilidade. Nenhum membro de qualquer instituio da Repblica, por isso mesmo, pode pretender-se excludo da crtica social ou do alcance do controle fiscalizador da coletividade e dos rgos estatais dele incumbidos (STF, j. 22.02.08, Info STF n 495).(grifei)

Como asseverou o Ministro Celso de Mello, em deciso monocrtica disse ser inconcebvel que algum membro, (aqui leia-se inclusive membros do nosso TJ). LEVI em seu artigo DAS RESTRIES AO PEDIDO DE INFORMAES A RGOS PBLICO. publicado na Revista Eletrnica de Direito do Estado, esclarece:O direito informao um direito fundamental que, na lio da doutrina, abrange trs nveis: o direito de informar, o direito de se informar e o direito de ser informado (J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional. 5. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1992). H liberdade de informao quando se verifica a livre circulao de informaes e o livre acesso s fontes de informaes (cfr. Pinto Ferreira, Comentrios Constituio Brasileira, Ed. Saraiva 1989, Vol 1., p. 13. )[footnoteRef:3] [3: LEVY, Jos Luiz. DAS RESTRIES AO PEDIDO DE INFORMAES A RGO PBLICO. Revista Eletrnica de Direito do Estado (REDE), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Pblico, n. 17, janeiro/fevereiro/maro, 2009. Disponvel na Internet: . Acesso em ]

Em seu art. 5, a Carta Magna assegura a todos o direito de receber de todos os rgos pblicos informaes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindvel segurana da sociedade e do Estado. (inciso XXXIII) . Ao mesmo tempo, estabelece restries a esse direito. No prprio art. 5, inciso XXXXIII, in fine, como salientado, so ressalvadas aquelas informaes cujo sigilo seja imprescindvel segurana da sociedade e do Estado.[footnoteRef:4] [4: IDEM]

Vemos que s se sustentaria o entendimento de tal medida ser inconstitucional, se esta ameaasse a segurana da sociedade, e este caso no me parece que tal sigilo seja imprescindvel a segurana.

TAMBELLINI, em seu artigo Direito de acesso a informaes pessoais de servidores. Lei de acesso a informaes, com muita propriedade salienta que a intimidade constitucional no tem carter absoluto:

certoque a garantia constitucional da intimidadeno temcarter absoluto. Na realidade, como j decidiu esta Suprema Corte, No h,no sistema constitucional brasileiro, direitos e garantias que se revistamde carter absoluto, mesmo porquerazes de relevante interesse pblico ou exigncias derivadas do princpio de convivncia das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoo, por parte dos rgos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas,desde que respeitados os termos estabelecidos pela prpria Constituio (RTJ 173/807, Rel. Min. CELSO DE MELLO).Isso no significa, contudo, que o estatuto constitucional das liberdades pblicas - nele compreendida garantia fundamental da intimidade -possa ser arbitrariamente desrespeitado por qualquer rgo pblico (negritamos).Assim, se por um lado, o direito privacidade do indivduo constitucionalmente erigido como garantia, por outro lado, esta no tem carter absoluto, podendo, diante de razes de relevante interesse pblico ou exigncias derivadas do princpio de convivncia, ser mitigada.[footnoteRef:5] [5: TAMBELLINI, Guilherme Luis da Silva.Direito de acesso a informaes pessoais de servidores. Lei de acesso a informaes.Revista Jus Navigandi, Teresina,ano 17,n. 3349,1set.2012. Disponvel em:. Acesso em:24 mar. 2015. ]

RODRIGUES em Direito de acesso a informaes pessoais de servidores. Lei de acesso a informaes. Discorre sobre o liberalismo do direito:Nada no Direito absoluto (Donizetti, 2009:361) e no h direito absoluto luz da Constituio. E o princpio da publicidade compartilha dessa natureza relativa (as restries constitucionais e legais o relativizam), comportando excees vlidas dentro da Administrao Pblica.

Todavia, no que tange especificamente publicidade de dados remuneratrios pessoais (exposio individualizada de contracheques), a Lei n. [footnoteRef:6]12.527/2011 no faz nenhuma referncia, embora estabelea normas gerais sobre o tratamento de informaes ou dados pessoais (cap. IV, Seo V, art. 31). [6: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm]

O Decreto n. [footnoteRef:7]7.724, de 16.05.2012 (que regulamenta a Lei n. 12.527/2011) determina que sejam divulgadas na internet as informaes sobre remunerao e subsdio recebidos por ocupante de cargo, posto, graduao, funo e emprego pblico, incluindo auxlios, ajudas de custo,jetonse quaisquer outras vantagens pecunirias, bem como proventos de aposentadoria e penses daqueles que estiverem na ativa, de maneira individualizada, conforme ato do Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto (art. 7, 3., inc. VI).[footnoteRef:8] [7: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/decreto/d7724.htm] [8: RODRIGUES, Joo Gaspar.Lei de Acesso Informao e divulgao da remunerao de servidores.Revista Jus Navigandi, Teresina,ano 17,n. 3281,25jun.2012. Disponvel em:. Acesso em:25 mar. 2015.]

CONCLUSO:

A Constituio de 1988 foi inaugurada com o vis de expor os servidores pblicos a fiscalizao pela sociedade. Todos sem exceo legislativo, executivo e judicirio devem ser responsveis pela publicidade de seus gastos, pois ningum est acima da Constituio.

Pasma-me saber que estes 19 Desembargadores so quem julga os recursos da sociedade paranaense, ser que devemos prestar mais ateno a estes contracheques desses polticos digo desses Desembargadores, porque no mnimo essa deciso foi tendenciosa e onde a fumaa h fogo.