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AS ÁREAS INTERNACIONAIS DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS Observatório da Cooperação Descentralizada – Etapa 1

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  • AS REASINTERNACIONAISDOS MUNICPIOSBRASILEIROS

    Observatrio da Cooperao Descentralizada Etapa 1

  • Braslia, 2011

    As reas Internacionais dos Municpios

    BrasileirosObservatrio da Cooperao

    Descentralizada Etapa 1

  • Diretoria da CNM

    Conselho Diretor

    Presidente Paulo roberto Ziulkoski Mariana Pimentel/RS1o Vice-Presidente luiz Benes leocdio de Araujo Lajes/RN2o Vice-Presidente saulo sperotto Caador/SC3o Vice-Presidente Pedro Ferreira de souza Jauru/MT4o Vice-Presidente Valtenis lino da silva Santa F do Araguaia/TO1o Secretrio Jair Aguiar souto Manaquiri/AM2o Secretrio rubens Germano Costa Picu/PB 1o Tesoureiro Joarez lima henrichs Barraco/PR2o Tesoureiro Gilmar Alves da silva Quirinpolis/GO

    Conselho De rePresentAntes reGionAis

    Titular Regio Norte rildo Gomes de oliveira Tartarugalzinho/APSuplente Regio Norte VagoTitular Regio Sul Glademir Aroldi Saldanha Marinho/RSSuplente Regio Sul VagoTitular Regio Sudeste elbio trevisan Cesrio Lange/SPSuplente Regio Sudeste VagoTitular Regio Nordeste renilde Bulhes Barros Santana do Ipanema/ALSuplente Regio Nordeste eliene leite Arajo Brasileiro General Sampaio/CE Titular Regio Centro Oeste Abelardo Vaz Filho Inhumas/GOSuplente Regio Centro Oeste Vago

    Conselho FisCAl

    Titular helder Zahluth Barbalho Ananindeua/PATitular lus Coelho Da luz Filho Paulistana/PITitular orlando santiago Santo Estevo/BA1o Suplente Vago por falecimento2o Suplente liberato rocha Caldeira Valentim Gentil/SP3o Suplente Jos Maria Bessa De oliveira Porto Grande/AP

  • As reas Internacionais dos Municpios

    BrasileirosObservatrio da Cooperao

    Descentralizada Etapa 1

  • Coordenao:Elena GarridoJeconias Rosendo da Silva JniorMoacir Rangel

    textos:Gustavo de Lima Cezrio

    Colaboradores da Domani:Amanda da Silva FonsecaAntouan Matheus Monteiro Pereira da SilvaDante Mistieri Simabukuro

    Colaboradores da CnM:Andreza Aruska de Souza SantosCarlos Eduardo Higa MatsumotoFridah Lopes de MatosLus Maurcio Zanin

    reviso:Keila Mariana de A. Oliveira

    editorao eletrnica:Themaz Comunicao Ltda.

    Ficha Catalogrfica

    Confederao Nacional dos Municpios CNM As reas Internacionais dos Municpios Brasileiros: Observatrio da Cooperao Descentralizada Etapa 1 / Confederao Nacional dos Municpios Braslia: CNM, 2011.

    ISBN 978-85-99129-40-1 120 p.

    1. Cooperao Internacional. 2. Cooperao Descentralizada. 3. Promoo Econmica. 4. Marketing Urbano. I. Ttulo: As reas Internacionais dos Municpios Brasileiros.

    Qualquer parte desta publicao poder ser reproduzida, desde que citada a fonte. Copyright 2011. Confederao Nacional de Municpios.

    Impresso no Brasil.

    Todos os direitos reservados :

    Confederao nacional de Municpios CnMSCRS 505, Bloco C, Lote 1 3o andar Braslia/DF CEP: 70350-530

    Tel.: (61) 2101-6000 Fax: (61) 2101-6008E-mail: [email protected]

  • Palavra do Presidente

    A publicao deste estudo marca a comemorao de 5 anos de CNM Inter-nacional e 30 anos de Confederao Nacional de Municpios. Foi por meio da in-terao internacional que pudemos perceber quo criativas so as polticas locais brasileiras. Somos exemplos no mundo inteiro, sendo o nico Pas que reconhece na sua Constituio a autonomia das unidades municipais. Da mesma forma que somos demandados por diferentes partes do globo, temos a oportunidade de buscar no meio internacional solues e recursos para nossos dilemas.

    Como vice-presidente da Federao Latino-americana de Cidades, Munic-pios e Associaes de Governos Locais (Flacma), constatei que poucos movimentos municipalistas conseguiram construir uma organizao to forte e com tanta credi-bilidade como a nossa. Ao adicionar a viso global a esse cotidiano de debate fede-rativo, a CNM buscou ampliar o espao de atuao dos Municpios brasileiros. Isso porque precisamos reduzir a vulnerabilidade de nossas cidades a crises internacio-nais, criando condies para um enfrentamento mais ativo. A competitividade de nosso Pas depende da implementao de polticas locais capazes de atrair maiores investimentos e seres humanos em busca de melhor qualidade de vida.

    O Observatrio da Cooperao Descentralizada do Brasil (OCBD) uma iniciativa da CNM que visa a coletar as principais polticas municipais de internacio-nalizao. Durante esses 5 anos, observamos e lutamos pela maior institucionalida-de da insero global dos governos locais. A criao de foros internacionais (como o Foro Consultivo de Municpios, Estados Federados, Provncias e Departamentos do Mercosul FCCR; o Frum das Autoridades Locais da Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa Foral CPLP, e o Frum de Governana Local ndia-Brasil-

    Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

  • -frica do Sul FGL-Ibas), a aprovao da legislao sobre a cooperao descen-tralizada com a Frana e a Itlia, o incremento das reas internacionais nos Munic-pios brasileiros so fortes indcios desse processo embrionrio.

    Ao longo desse caminho de institucionalizao, construmos diferentes ar-ranjos administrativos para a integrao dos temas internacionais dentro da prefei-tura. Diferentes tambm foram os motivadores que levaram o surgimento das reas internacionais nos Municpios brasileiros. A primeira etapa do OCDB identificou 30 Municpios com pelo menos dois tcnicos encarregados pelas relaes internacionais desses locais. As experincias desses Municpios sero nossas fontes de aprendizado nas prximas pginas. Em geral, pudemos observar aes que tratam de: poltica in-ternacional, cooperao descentralizada, promoo econmica e marketing urbano.

    Com todo esse conhecimento adquirido, cada vez mais estou certo de que no Municpio que o global se encontra, se choca, se adapta e se transforma. Como presidente da CNM, resta dizer que tenho orgulho de representar os Municpios bra-sileiros no Comit Consultivo das Naes Unidas de Autoridades Locais (Unacla).

    Municipalismo forte se faz com a participao de todos.

    Paulo ZiulkoskiPresidente da CNM

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  • Lista de Tabelas

    tabela 1: Dados histricos da rea internacional nos Municpios brasileiros ......26

    tabela 2: Principais motivadores para a criao da rea internacional .................33

    tabela 3: Quatro micro dimenses de atuao internacional ................................37

    tabela 4: Relacionamentos internacionais em redes temticas .............................45

    tabela 5: As principais redes com atuao internacional dos Municpios brasileiros .................................................................................................................48

    tabela 6: Principais reas temticas de projetos de cooperao entre os Municpiosentrevistados ...........................................................................................................58

    tabela 7: Dados sobre financiamento ....................................................................60

    tabela 8: Balana comercial brasileira por Municpio 2009/setembro (Secex) ..65

    tabela 9: Ranking ICCA 2008 ...............................................................................70

    tabela 10: Status das reas de atuao internacional ............................................77

    tabela 11: Dados sobre oramento prprio para atuao internacional ................80

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  • tabela 12: Caractersticas do quadro de funcionrios ...........................................83

    tabela 13: Formao acadmica dos coordenadores.............................................88

    tabela 14: Grau de satisfao com o apoio recebido do governo federal .............97

    tabela 15: Atribuies sugeridas CNM Internacional......................................104

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  • Lista de Siglas

    ABC Agncia Brasileira de Cooperao

    Acel Cooperao dos Entes Locais

    Aecid Agncia Espanhola de Cooperao Internacional para o Desenvolvimento

    Afepa Assessoria Especial de Assuntos Federativos e Parlamentares

    Aice Associao Internacional das Cidades Educadoras

    AiVP Associao Internacional de Cidades Porturias

    Amop Associao de Municpios do Oeste do Paran

    BiD Banco Interamericano de Desenvolvimento

    Bird Banco Internacional para Reconstruo e Desenvolvimento

    Cida Agncia Canadense para o Desenvolvimento Internacional

    CGlU Governos Locais Unidos

    CnM Confederao Nacional de Municpios

    Cni Confederao Nacional da Indstria

    CnPq Conselho Nacional de Pesquisa

    Codem Conselho de Desenvolvimento Econmico de Maring

    Cofiex Comisso de Financiamentos Externos

    Condesb Conselho de Desenvolvimento da Regio Metropolitana da

    Baixada Santista

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  • erepar Escritrio de Representao do MRE no Estado do Paran

    FAl Frum de Autoridades Locais

    Falp Frum de Autoridades Locais da Periferia

    FAo Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e Alimentao

    FCCr Foro Consultivo de Municpios, Estados Federados, Provncias e

    Departamentos do Mercosul

    FeMP Federao Espanhola de Municpios e Provncias

    FGl ibas Frum de Governana Local ndia, Brasil, frica do Sul

    Fiesp Federao das Indstrias do Estado de So Paulo

    Flacma Federao Latino-americana de Cidades, Municpios e Associaes de

    Governos Locais

    FsM Frum Social Mundial

    Fundetec Fundao para o Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    Gepam Gerenciamento Participativo das reas de Mananciais

    iDh ndice de Desenvolvimento Humano

    iclei Governos Locais pela Sustentabilidade

    lAB Ao Local pela Biodiversidade

    MiDC Ministrio de Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior

    Mre Ministrio das Relaes Exteriores

    seain Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministrio do Planejamento

    oCDB Observatrio da Cooperao Descentralizada no Brasil

    PiB Produto Interno Brutos

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  • PeU Planejamento Urbano Estratgico

    Pt Partido dos Trabalhadores

    sebrae Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    Urbal Programa de Ajuda Urbano Regional

    Unacla Comit Consultivo de Autoridades Locais das Naes Unidas

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  • Sumrio

    1 introDUo ..................................................................................................16

    1.1 Os Objetivos dessa Anlise ..................................................................171.2 O Observatrio da Cooperao Descentralizada no Brasil (OCDB) ..191.3 O Roteiro da Entrevista e a Organizao da Publicao .....................21

    2 histriCo e FinAliDADe DA reA internACionAl .................25

    3 eixos De AtUAo ......................................................................................35

    3.1 Poltica Internacional ............................................................................383.1.1 Fruns Internacionais .............................................................383.1.2 Cidades-Irms .........................................................................393.1.3 Redes de Polticas Pblicas ....................................................423.1.4 Outras Aes Polticas ............................................................50

    3.2 Cooperao Internacional .....................................................................513.2.1 Cooperao Tcnica ...............................................................533.2.2 Cooperao Financeira (Captao de Recursos) ...................58

    3.3 Promoo Econmica Internacional ....................................................623.3.1 Comrcio Exterior ..................................................................623.3.2 Atrao de Investimento Externo Direto ................................663.3.3 Turismo Internacional .............................................................68

    3.4 Marketing Urbano ................................................................................713.5 Observaes finais do captulo .............................................................72

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  • 4 Gesto GoVernAMentAl ......................................................................74

    4.1 Status Governamental ..........................................................................744.2 Autonomia Financeira ..........................................................................794.3 Qualificao e nmero de mo de obra................................................824.4 Dificuldades enfrentadas pela Gesto ..................................................89

    5 PArCeriAs estrAtGiCAs ......................................................................91

    5.1 Participao do governo federal ...........................................................915.2 O papel da CNM ...................................................................................99

    6 ConClUso ..................................................................................................106

    Anexo .................................................................................................................108

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  • 16 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    1. Introduo

    A consolidao democrtica vivenciada no Brasil, atrelada intensificao do processo de globalizao, refora o debate nacional sobre a distribuio de com-petncias entre os entes federados. Temas como o de segurana pblica e de educa-o infantil que na Constituio so autonomias do governo estadual e municipal, respectivamente so tratados na prtica dentro da perspectiva de responsabilida-des compartilhadas entre os trs mbitos governamentais e a sociedade. Do mesmo modo, as relaes internacionais e o comrcio exterior que, na concepo legal so competncias da Unio, tm sido foco de esforos de diferentes atores.

    O que se observa, portanto, uma dinmica cada vez mais intensa de abor-dar os assuntos pblicos de forma multidimensional, que amplia a complexidade dos temas e exige dos governos maior habilidade de gesto integrada, intergoverna-mental, participativa e interligada com as tendncias globais. O aumento do nmero de atores capazes de influenciar no s a poltica interna, mas tambm os regimes internacionais traz um desafio para a compreenso de quais eventos e informaes so mais relevantes para a consecuo dos objetivos elegidos. Dada a limitao cog-nitiva da mente humana, a incapacidade de os atores estarem presentes em todas as aes e a escassez de recursos, a maior dificuldade saber priorizar e descentralizar.

    A soluo para essa dificuldade, em grande medida, perpassa o aprimora-mento de mecanismos de coordenao federativa e social. Processo esse que se inicia no prprio Municpio. A leitura da realidade local possibilita aos gestores municipais identificarem quais so os setores e os temas mais propcios na construo de parce-rias para a atuao internacional. A aproximao desses gestores com os centros de ensino, com os movimentos sociais e religiosos e com a classe empresarial permite uma representao mais harmnica e equilibrada, como um reflexo da comunidade.

  • 17Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    Sendo a internacionalizao ativa1 do Municpio algo ainda recente, a coo-perao entre as cidades outro meio importante para compreender quais polticas so mais efetivas e qual a forma mais adequada de realiz-las. O aspecto marcan-te do quadro brasileiro, nesse contexto, a diversidade de aes organizadas em di-ferentes arranjos institucionais o que indica, por um lado, o elevado potencial de inovao presente nesse campo e, por outro lado, a imaturidade do assunto.

    A necessidade de trabalhar de modo regionalizado e, sobretudo, a existncia dessas competncias compartilhadas fazem com que os Municpios busquem ain-da os governos estaduais para a construo de iniciativas conjuntas. Ao longo desse percurso de democratizao da agenda internacional, o dilogo se fortalece signifi-cativamente quando se verifica a participao do governo federal. A internaciona-lizao dos Municpios significa, dessa forma, a ampliao da presena do Estado brasileiro nas inmeras aes ao redor do globo. Embora se reconhea a autonomia e a independncia dessas aes municipais, so ntidas suas propenses de corrobo-rar com a poltica externa do Pas.

    1.1 Os Objetivos dessa Anlise

    A Confederao Nacional de Municpios (CNM) visa, por meio da pre-sente publicao, contribuir para a melhoria dessa coordenao das aes interna-cionais no Brasil. Primeiramente, o governo federal deve ter conhecimento dessas aes municipais a fim de buscar maior convergncia nos discursos e esforos, so-bretudo no que tange ao diagnstico, s prioridades e aos princpios que regem as relaes internacionais.

    O levantamento das informaes a serem aqui apresentadas foi uma forma tambm de evitar a frequente perda de conhecimento com as mudanas eleitorais.

    1 Por internacionalizao ativa entende-se a atuao planejada dos gestores municipais em contraponto forma passiva, na qual os membros da sociedade civil e a iniciativa privada realizam aes internacionais, mas sem que haja qualquer tipo de ao por meio do governo municipal.

  • 18 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    Como as entrevistas para elaborao deste estudo foram realizadas no segundo se-mestre de 2008 com os responsveis pelas reas internacionais dos Municpios, a CNM pde resgatar o histrico, as principais funes e outras percepes importan-tes para a continuidade dessas reas, depois de tantas dificuldades enfrentadas para sua estruturao. Esse objetivo torna-se mais significativo quando se percebe que metade dessas reas foi criada neste ltimo mandato eletivo.

    Diante de todas as justificativas para esta publicao, talvez a mais relevante seja a de compartilhar essas informaes com os prprios gestores municipais. Por um lado, de extrema valia desmistificar o pessimismo frequente de que o Muni-cpio muito incipiente na rea. Quando partirmos de uma anlise comparada, per-cebemos a prevalncia de uma experimentao generalizada dotada de avanos e retrocessos, de resultados a mdio prazo difceis de serem mensurveis. Por outro lado, a similaridade observada em algumas prticas contribui para legitimar esses novos arranjos de polticas pblicas.

    O fato que muitas crticas quanto presena de uma rea internacional no Municpio ainda permanecem. Sabe-se que a estrutura encontrada em metrpoles, como rio de Janeiro/rJ e so Paulo/sP, nunca ser a mesma da grande maioria dos Municpios brasileiros, que so de pequeno porte. Todavia, a CNM continua sensibilizando todos os prefeitos a indicar minimamente um responsvel interna-cional, ainda que essa funo seja desempenhada concomitantemente com outras pastas. Nesse sentido, este estudo prope principiar uma cultura de avaliao sobre a atuao internacional desses Municpios, a fim de orientar os gestores para prti-cas mais efetivas.

    Esta anlise dever alcanar ainda, como pblico-alvo, o setor privado e a sociedade civil. Isso porque a internacionalizao a partir do local pressupe a concepo de governana global compreendida de modo simplificado como a interdependncia existente entre os grupos da sociedade. A publicao traz, des-sa forma, modelos de como os governos locais tm buscado parcerias vantajosas com a iniciativa privada para ambos os setores. Tais exemplificaes podero ser

  • 19Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    ainda instrumento de anlise para a academia elaborar, a partir da prtica, abor-dagens tericas que possam contribuir para o avano da compreenso sobre es-ses fenmenos.

    Por fim, espera-se uma leitura agradvel, clara e fidedigna das informaes levantadas que estimule os atores a aprenderem com o histrico das experincias passadas.

    1.2 O Observatrio da Cooperao Descentralizada no Brasil (OCDB)

    O presente estudo conclui a primeira fase do projeto Observatrio da Co-operao Descentralizada no Brasil. Desde meados de 2007, a CNM elabora essa estratgia para diagnosticar e avaliar a atuao internacional dos Municpios bra-sileiros. Essa demanda surgiu do Frum de Secretrios de Relaes Internacionais Municipais, que apontava a necessidade de consolidar espaos para o intercmbio de informaes entre os pares, reconhecida a limitao de tempo dos encontros re-alizados anualmente. At ento, o que existiam eram estudos de casos especficos ou mesmo a seleo de alguns Municpios para anlise por meio de critrios subje-tivos. O Pas carecia, assim, de um estudo censitrio capaz de abarcar os 5.562 Mu-nicpios brasileiros para se ter um quadro geral de nossa realidade.

    Primeiramente, a CNM buscou outros pases que j tivessem realizado ex-perincia anterior semelhante. A Federao Espanhola de Municpios e Provncias (Femp), em parceria com a Agncia Espanhola de Cooperao Internacional para o Desenvolvimento (Aecid), apresentava uma metodologia, nesse sentido, em que os governos locais informavam voluntariamente as aes realizadas alm das j conta-bilizadas por essas duas organizaes. A rede Observatrio da Cooperao Descen-tralizada, com sede em Barcelona, tambm exercia esse papel, ainda que, de modo mais abrangente, ao buscar informaes de toda a cooperao descentralizada da Amrica Latina e da Europa.

  • 20 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    Com base nas informaes disponibilizadas principalmente nos formul-rios e nos bancos de dados elaborados por essas organizaes espanholas , a CNM buscou adequar a coleta de dados de modo que estes pudessem ser, no futuro, cru-zados com os de outros pases.2 Um questionrio foi, ento, aplicado por meio da Central de Atendimento da CNM no primeiro semestre de 2008. A maior dificulda-de foi encontrar um tcnico na prefeitura que pudesse informar sobre a existncia ou no de uma atuao internacional, quando o contato direto com o prefeito no era possvel. Mesmo assim, a Central de Atendimento conseguiu respostas de 95% dos Municpios brasileiros. A capacidade de apurar a veracidade da informao fi-cou a princpio limitada confiana nas respostas alcanadas.

    Todavia, quando a base de dados foi consolidada, a equipe da CNM ficou receosa quanto aos possveis desvios nas informaes obtidas, a partir de experin-cias anteriores fruto do contato direto mantido com as prefeituras. A rea interna-cional da CNM checou inicialmente essa base com as listas disponibilizadas pela Assessoria Especial de Assuntos Federativos e Parlamentares (Afepa) do Minist-rio de Relaes Exteriores (MRE) e do prprio Frum de Secretrios de Relaes Internacionais. Em seguida, cruzou as informaes com outras variveis disponibi-lizadas pelo Departamento de Estudos Tcnicos da entidade, como: porte popula-cional, Produto Interno Bruto (PIB), faixa de fronteira, ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), presena de centros educacionais etc. Depois, essa mesma equipe retornou diversas ligaes para ajuste final das informaes, sobretudo no que tan-ge categorizao quanto existncia 1) de rea internacional estruturada; 2) de um responsvel por assuntos internacionais; 3) de interessados em assuntos inter-nacionais; ou 4) de desinteresse pelo tema; alm dos 5% que 5) no souberam in-formar ou 6) no foram passveis de ser contatados. Essa etapa transcorreu no se-gundo semestre de 2008.

    2 O desafio de elaborar uma metodologia comum para a coleta de dados sobre a atuao internacional permanece em discusso com as organizaes citadas no pargrafo e com outras associaes de governos locais da Amrica Latina.

  • 21Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    Paralelamente a essa etapa, iniciou-se o contato com os 30 responsveis pelas reas internacionais identificadas como categoria 1. Esses contatos receberam pre-viamente um roteiro, a ser seguido na entrevista, que foi conduzida por telefone pelo coordenador da rea internacional da CNM. Apenas os representantes da cidade de so Paulo/sP e de itu/sP preferiram enviar as respostas na forma escrita. Foi essa fonte, mais especificamente, que se transformou no contedo da presente publicao.

    A degravao do udio e a reviso desta pelos entrevistados ficaram para o primeiro semestre de 2009. Dados os outros projetos da CNM Internacional executa-dos simultaneamente, a prioridade se deu para a anlise das informaes consolidadas na base de dados. Essa sistematizao foi lanada na XII Marcha, em julho de 2009.

    A partir da, as atenes se voltaram novamente para as entrevistas, com a contribuio da Empresa Jnior de Relaes Internacionais da UnB Domani. Es-sa estratgia de estimular a discusso entre os estudantes da graduao enquadra-se como um dos princpios assumidos no projeto OCDB.

    Esta divulgao finaliza, portanto, a primeira etapa desse projeto e estimula a continuidade por meio de uma segunda fase de levantamento que j est em exe-cuo pela CNM.

    1.3 O Roteiro da Entrevista e a Organizao da Publicao

    A entrevista com os responsveis internacionais guiou-se por cinco partes fundamentais. Na primeira parte, buscou-se investigar o histrico da atuao inter-nacional das cidades, analisando o cenrio municipal em que ocorreu a criao e as principais demandas que nortearam a finalidade da rea. O incremento desses r-gos no ltimo mandato eletivo (2005-2008) a caracterstica predominante, em-bora Municpios como Porto Alegre/rs, rio de Janeiro/rJ e Campinas/sP j tenham principiado essa atividade no final da dcada de 1980 e incio de 1990. Os motivos ainda esto muito relacionados captao de recursos e participao em redes de cidades.

  • 22 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    A autonomia foi outra varivel considerada nessa primeira parte. O intui-to era avaliar o status governamental das reas e identificar a que rgo municipal elas se reportavam. Nesse sentido, verificou-se que mais de um tero das reas foi organizado na forma de secretarias com contato direto com o prefeito. No obstan-te, a variedade ainda significativa quando se depara com nomenclaturas como as-sessorias, coordenadorias, diretorias, departamentos, conselhos e autarquias. De fa-to, impossvel traar uma hierarquizao exata de grau de autonomia, j que no h um padro bem definido entre os Municpios brasileiros para uma nomenclatu-ra comum.3 Por outro lado, a ausncia de dotao oramentria prpria, na maioria dos casos, um indicador fcil de ser mensurado ainda que alguns responsveis questionem a necessidade dessa autonomia financeira.

    A qualidade e a quantidade de mo de obra empregada foi um terceiro as-pecto discutido nesse primeiro momento. A proposta era conseguir visualizar, do modo mais aproximado possvel, os nmeros de funcionrios, a funo desempe-nhada por cada membro da equipe, alm da formao acadmica. Se so Paulo/sP chama ateno com os 38 funcionrios formados, o nmero mediano observado uma equipe de cinco pessoas com forte presena de formao em relaes interna-cionais. Ao evitar maiores influncias por meio das perguntas, tentou-se captar, por fim, o modo como cada rea categorizava os eixos temticos no trabalho dirio e em quais dessas dimenses os esforos eram concentrados.

    A segunda parte teve como tema de discusso a relao entre o governo fe-deral e os Municpios. Pde-se verificar, assim, a contribuio da Unio na atuao internacional de cada uma das cidades entrevistadas, mapeando a existncia de par-cerias, financiamentos e projetos conjuntos. Entre os determinantes que interferem no grau de relao desses entes federados esto o porte populacional e a linha par-tidria, destacados na anlise.

    3 O interessante aqui analisar a percepo simblica que est embutida nessas escolhas e mesmo a discusso do Frum de Secretrios de Relaes Internacionais dos Municpios de que esse nome seria inadequado, visto que nem todas as reas apresentavam o status de secretaria.

  • 23Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    A informao sobre os principais projetos ou aes pontuais dessas reas internacionais passa a ser o foco da terceira parte. O objetivo era analisar se havia semelhanas nas motivaes que justificavam essas atividades a ponto de indicarem padres de comportamentos entre os Municpios. Dada a reconhecida dificuldade de mensurar os resultados, buscou-se ainda escutar dos prprios tcnicos a avalia-o sobre quais produtos e impactos haviam sido alcanados.

    A exposio desses resultados contribui para sensibilizar as demais cida-des que ainda no apresentam uma atuao internacional estruturada. Aprender com essas prticas pode evitar dificuldades futuras por outros j solucionadas. Por isso, a quarta parte trouxe as perspectivas sobre os desafios enfrentados pela rea inter-nacional na realizao de suas atividades. Mais de cinquenta por cento indicaram a falta de recursos financeiros e humanos como os principais problemas. As solues, em muitos casos, esto relacionadas a uma maior integrao com as demais secre-tarias da prefeitura, formao de conselhos para atuao internacional e promo-o de experincia profissional de estudantes estrangeiros dentro da administrao.

    Por ltimo, a entrevista serviu como canal de ouvidoria para os Municpios opinarem sobre que papel a CNM deve assumir no mbito da internacionalizao a partir do local. Isso permitiu uma avaliao da entidade, confirmando a percepo de que o carter informativo, de sensibilizao, de articulao, de representao e de capacitao so cinco eixos centrais para o desenvolvimento da CNM Internacional. Essa entidade almeja, porm, colaborar ainda mais com os Municpios e, no contex-to da comemorao dos trs anos da rea, faz desse espao uma via de dilogo na qual aponta as orientaes para futuras aes dentro do movimento municipalista.

    No momento de compilar todas essas dimenses da atuao municipal, ob-servou-se, porm, que outra sequncia lgica seria mais propcia para a construo dos captulos. Isso porque era importante conectar essas cinco partes dentro de um todo, como percebido na fala dos entrevistados. Alm disso, a construo de tabe-las foi o mtodo utilizado para transformar esse contedo em uma forma mais vi-sual, permitindo que uma leitura transversal do documento fosse capaz de absorver

  • 24 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    a mensagem geral que se espera transmitir. Uma vez que apenas trechos das entre-vistas encontram-se presentes nesta publicao, a CNM poder ainda disponibilizar a ntegra da degravao para futuros interessados.

    Logo, o saldo final deste trabalho a sistematizao de informaes rele-vantes disponibilizadas pelos Municpios brasileiros que contavam, no ano de 2008, com uma rea especfica para a atuao internacional. A viso sobre o escopo des-sas 30 reas estruturadas permitir a construo de um panorama til a todos os in-teressados em conhecer a realidade diria dos que buscam nos Municpios inovar e responder s tendncias globais. Portanto, a proposta aqui ser mais que um docu-mento informativo que explore recursos visuais (como apresentao em quadros) para leituras remissivas. Este material alcanar seu objetivo de fato a partir do mo-mento que servir como instrumento de auxlio para gestores governamentais incre-mentar ou iniciar uma comunicao mais efetiva com o mundo.

  • 25Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    2. Histrico e Finalidade da rea Internacional

    A rea internacional resulta de uma confluncia de impulsos e demandas que seguem a particularidade de cada Municpio. De maneira geral, ela instituda como forma de coordenar as aes preexistentes no campo internacional. Do mes-mo modo, h inmeros outros Municpios que no possuem rea internacional es-truturada (e por isso no includa nesta pesquisa) e, no entanto, realizam atividades internacionais. A aprovao de projetos de cooperao tcnica ou a articulao por financiamento com as agncias internacionais um dos exemplos de atividades que estimulam a criao de uma rea especfica para melhorar a coordenao dentro da prefeitura e qualificar a relao com os atores externos.

    Tal fenmeno ainda recente entre as cidades brasileiras apenas 30 do total de 5.562 Municpios. A maioria dos rgos consolidou-se ainda nas duas l-timas gestes municipais dezesseis na gesto 2005-2008 e oito na gesto 2001-2004. Os casos raros que se deram no incio da dcada de 1990 esto relacionados a eventos excepcionais como a influncia da Eco 92 no rio de Janeiro/rJ. Alm disso, h uma forte concentrao em capitais ou regies metropolitanas (principal-mente no Estado de So Paulo).

    Embora, h muito tempo, j tivesse uma posio internacional importante e participasse ativamente de eventos internacionais, o Municpio do rio de Janei-ro/rJ no possua uma rea que coordenasse os esforos empreendidos. Problema solucionado em 1993 com a criao da Coordenadoria de Relaes Internacionais, em que se destacou a importncia do carter visionrio do ento prefeito Cesar Maia. Desde esse incio, a rea chefiada por um diplomata de carreira o que trouxe al-

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    gumas vantagens pela facilidade de relacionamento com o Itamaraty, pela vivncia no exterior e pelo domnio de outros idiomas. Todavia, esse trabalho foi dinamiza-do a partir de 2003, quando houve uma reestruturao.

    A atuao internacional em Porto Alegre/rs, por exemplo, comeou pelo interesse na captao de recursos, sendo a rea estruturada no mesmo ano que a do rio de Janeiro/rJ. O tema da cooperao internacional s seria includo como uns dos objetivos em 1996 o que dinamizaria as relaes com outros governos locais do mundo. A realizao por quatro perodos do Frum Social Mundial contribuiu tambm para a projeo da cidade, sobretudo no mbito das redes de cidades. Esse trabalho foi intensificado, na ltima gesto, na Secretaria Municipal de Captao de Recursos, Investimentos e Relaes Internacionais Captare, tendo a viso sobre a relevncia da captao de conhecimento para o melhor atendimento da populao.

    Tabela 1 DaDos hisTricos Da rea inTernacional nos Municpios brasileiros

    Gesto Lista de Municpios Ano Total

    1993-1996

    Rio de Janeiro 1993

    4Porto Alegre

    Campinas 1994Belo Horizonte 1995

    1997-2000Santo Andr

    1997 2Maring

    2001-2004

    So Paulo

    20018

    CuritibaRecife

    JundiaSo Carlos

    So VicenteJacare

    Florianpolis 2004

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    2005-2008

    Cascavel

    2005

    16

    SuzanoItanham

    ItuDiadema

    GuarulhosSo Jos do Rio Preto

    Santa MariaSalvador

    VitriaSantos

    CamaariFoz do Iguau

    Belm 2006Osasco

    2007So Bernardo do Campo

    Fonte: elaborao prpria.

    As secretarias em Campinas/sP e em Belo horizonte/MG foram funda-das no mesmo mandato eletivo das anteriores (um ano depois), com o objetivo se-melhante de coordenar as aes de carter internacional j existentes. A primeira, embora mantivesse a perspectiva da cooperao tcnica, estava mais orientada por um vis de desenvolvimento econmico e atrao de investimentos. J a assessoria internacional da capital mineira surge com o intuito de determinar as diretrizes da in-ternacionalizao da cidade. Em 2005, a Secretaria Adjunta de Relaes Internacio-nais seria instituda como forma de ampliar a articulao da prefeitura e suas aes internacionais com o conjunto do Municpio universidades, entidades de classe, setor privado, organizaes da sociedade civil, governo federal e governo estadual.

    Na gesto municipal 1997-2000, surgem outras duas reas internacionais. A compreenso da necessidade de internacionalizao e de desenvolvimento regional segue como um princpio desde a criao da rea no Municpio de santo Andr/sP.

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    A principal finalidade da enxuta assessoria na poca era incrementar a cooperao tcnica com outros Municpios (principalmente na perspectiva das cidades-irms). Com o aumento da captao de recursos, ocasionada pela participao da Unio Eu-ropeia em um projeto social chamado de Santo Andr Mais Igual, a equipe foi am-pliada em 2001, constituindo a Secretaria de Relaes Internacionais e Captao de Recursos. O caso de Maring/Pr chama ateno por ter sido uma demanda nas-cida dentro do Conselho de Desenvolvimento Econmico. Diante da percepo de que a cidade vinha perdendo seu dinamismo econmico, uma estratgia com vistas ao futuro da cidade foi criada com a dimenso internacional.

    A Secretaria Municipal de Relaes Internacionais em so Paulo/sP foi criada em junho de 2001 pela Lei 13.165 para atuar em conjunto com as outras se-cretarias municipais na definio, coordenao e implementao das aes interna-cionais da prefeitura. Por lei, a secretaria possui as seguintes atribuies:

    I. assessorar o prefeito em contatos internacionais com governos e enti-dades pblicas ou privadas;

    II. estabelecer e manter relaes e parcerias com organismos multilate-rais, organizaes no governamentais internacionais, fundaes, re-presentantes diplomticos, empresas internacionais, cidades-irms do Municpio de So Paulo e outras entidades afins;

    III. fornecer suporte tcnico aos rgos da Administrao Direta e Indi-reta do Municpio de So Paulo em contatos internacionais, bem co-mo no desenvolvimento e na elaborao de convnios e projetos de cooperao internacional.

    A cidade de Curitiba/Pr, por sua vez, sofreu forte influncia do governo estadual que possua uma estrutura para apoiar esse relacionamento internacional. A mesma equipe do Estado do Paran foi responsvel pela implementao da Se-cretaria de Relaes Internacionais no Municpio. Entre as atividades, encontram-se

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    a organizao de eventos, a recepo de delegaes e a cooperao com outros Mu-nicpios, sobretudo com cidades-irms. Vale ressaltar que o sistema de transporte coletivo da capital catarinense ganhou destaque em todo o mundo a partir da dcada de 1970. A busca por uma projeo internacional semelhante levou Jundia/sP a criar sua rea internacional.

    J so Carlos/sP, so Jos do rio Preto/sP e recife/Pe sofreram maior influncia da rede Mercocidades (fundada em 1995). No ltimo caso, isso ocorreu em menor grau, visto que a capital j mantinha presena em vrios eventos interna-cionais. No entanto, tais aes eram pontuais e, na maioria das vezes, desenvolvi-das de maneira independente. A primeira assessoria internacional em um Municpio do Nordeste foi criada, ento, em 2001 com orientao para a cooperao interna-cional. Todavia, no incio da gesto 2004-2008, uma reforma administrativa criou a Coordenadoria de Captao de Recursos e Relaes Internacionais, cuja princi-pal finalidade passou a ser a captao de recursos e a atrao de investimentos pa-ra o Municpio. Fato semelhante ocorreu em so Jos do rio Preto/sP, quando o Departamento de Desenvolvimento Econmico e Relaes Internacionais foi cria-do em 2005, dando continuidade ao trabalho desenvolvido desde 2001, dentro da Secretaria de Planejamento.

    Por outro lado, em Guarulhos/sP observou-se fenmeno inverso. Ou seja, inicialmente o assunto internacional fazia parte da Secretaria de Desenvolvimento Econmico. Todavia, quando a Coordenadoria de Relaes Internacionais foi cria-da em 2005, observou-se uma atuao mais forte nas redes de cidades como a prpria Mercocidades e a Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU). A inteno maior, no entanto, era dar projeo internacional. Isso porque, apesar de possuir um PIB expressivo (o segundo do Estado de So Paulo) e um grande contingente po-pulacional, ela era muito confundida com a cidade de So Paulo, tendo em vista o grande fluxo em relao ao aeroporto internacional.

  • 30 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    A promoo econmica ainda seria o aspecto fundamental para as duas grandes cidades porturias: Santos/SP e Vitria/ES. A primeira aponta, assim, as fi-nalidades de captao de investimento, de atrao de empresas estrangeiras para o Municpio e de incremento do comrcio internacional. Contudo, essas duas cidades no deixam de destacar a promoo da cooperao com outras entidades e cidades no exterior. O caso de Cascavel/PR interessante ainda nesse contexto ao ter como principal impulso o agronegcio. A rea internacional encontra-se dentro da Fun-dao para o Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (Fundetec) que gerencia o parque tecnolgico agroalimentar da cidade. Essa fundao pblica foi criada com o intuito de expandir a atividade industrial ligada a esse ramo da economia que tem tradio na cooperao tcnica. A atuao internacional da Fundetec abrange no apenas o Municpio de Cascavel/PR, mas tambm 51 cidades da regio de abran-gncia da Associao de Municpios do Oeste do Paran (Amop), alm de entida-des regionais, como a Itaipu Binacional.

    O incremento de turistas internacionais na cidade outro motivador para o surgimento da rea internacional, pois esto relacionados ao emprego e renda, co-mo observado em Florianpolis/sC, Foz do iguau/Pr e so Vicente/sP. Desse modo, o cargo de assessor para assuntos internacionais foi criado, no primeiro ca-so, quando o Municpio estava bem cotado para ser a capital turstica do Mercosul, com a finalidade de incentivar a insero no bloco regional. Foz do iguau/Pr re-presenta bem essa necessidade de integrao com os pases vizinhos, j que se en-contra em uma fronteira trplice com Argentina e Paraguai. a nica cidade na fai-xa de fronteira do Pas com uma rea internacional estruturada que, em razo do alto contingente de turistas por conta das Cataratas do Iguau, se volta para a vocao tu-rstica. So Vicente segue, por fim, esse mesmo olhar sobre o turismo e o Mercosul.

    Ao encerrar a motivao econmica, vale retomar o tema da captao de recursos por dois motivos. Primeiro, para diferenci-lo tanto desta ltima dimenso quanto da cooperao tcnica, sendo mais bem traduzida pela cooperao financei-ra. Segundo, para demonstrar como h nesse tema uma mistura entre esfera nacio-

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    nal e internacional. De um lado, a Secretaria de Relaes Internacionais e Institucio-nais de so Bernardo do Campo/sP surge, em 2007, impulsionada principalmente pelos financiamentos obtidos pelo Municpio junto s organizaes financeiras in-ternacionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Por outro lado, nota-se um direcionamento de parte significativa dos esforos no mbito fe-deral e estadual, como apontado pela Diretoria de Relaes Internacionais e Capta-o de Recursos de suzano/sP.

    Essas duas cidades fizeram questo de enfatizar tambm sua atuao no ei-xo da cooperao tcnica. No caso de So Bernardo, destaca-se o projeto conclu-do em 2008 em parceria com o governo japons de despoluio da represa Billings. Jacare/sP, por exemplo, teve a criao da Coordenao de Projetos Internacionais justificada na aprovao pelo Programa de Ajuda Urbano Regional (Urbal) de um projeto voltado gesto pela cidadania. Diadema/sP, por outro lado, investiu re-cursos prprios para a cooperao descentralizada com Montreux, na Sua. A iden-tidade poltico-partidria dos prefeitos na poca foi um motivador a mais, dada a proximidade ideolgica entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Comu-nista francs. Essa questo muito destacada pelo secretrio de Camaari/BA ao apontar a influncia da cultura de atuao internacional das prefeituras petistas. Se-gundo ele, as cidades muitas vezes se espelham na experincia de outras, como foi o caso desse Municpio com santo Andr/sP.

    Uma ltima distino a ser feita aqui o caso de Belm/PA, que aponta a visita de delegaes de outros pases cidade como o motivador para a instalao da rea internacional. Entretanto, essas distines so cada vez mais difceis de se-rem realizadas, uma vez que os Municpios tm aberto esse leque de possibilidades para receber mais oportunidades internacionais. Nesse sentido, o argumento sobre a principal finalidade para a criao da Secretaria de Relaes Internacionais em salvador/BA decai na atrao de investimentos e na consolidao de parcerias es-tratgicas para alavancar o desenvolvimento do Municpio e melhorar a qualidade de vida da populao, sobretudo a mais carente. osasco/sP, por sua vez, expressa sua funo como a de estabelecer contatos e parcerias internacionais.

  • 32 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    itu/sP e itanham/sP reforam, nesse sentido, a necessidade de centralizar as diversas iniciativas que surgem no Municpio. Sendo assim, o objetivo da rea in-ternacional para itanham/sP consolidar os programas internacionais tais quais:

    1. criar um banco de dados (histrico local) relacionado rea interna-

    cional; 2. planejar e implementar as polticas e os programas de promoo interna-

    cional da cidade para educao, cultura, lazer, turismo e meio ambiente;3. fornecer suporte para o desenvolvimento do setor de comrcio e de ne-

    gcios;4. coordenar suas atividades e protocolos de cidades-irms e cidades ami-

    gas; e5. propor e promover intercmbio, debates e pesquisas no mbito das re-

    laes internacionais para o desenvolvimento econmico e social.

    O que pode ser observado que os motivadores para a criao da rea in-ternacional so variados. Em alguns casos, o que foi fator principal no surgimento se transforma em secundrio mais frente, seja por mudana dos tomadores de de-ciso ou mesmo de diagnstico. Outra concluso que o intercmbio entre as ci-dades tende a favorecer a ampliao do escopo de atuao dessas reas, levando a tratativa de todos os aspectos levantados acima. A vantagem do desempenho de di-ferentes funes a maior capacidade de a rea contribuir para integrao dentro da prpria prefeitura. Por mais que seja difcil resumir em um nico motivador, no geral, nota-se uma predominncia desses motivadores iniciais que justifica a expo-sio do quadro a seguir.

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    Tabela 2: principais MoTivaDores para a criao Da rea inTernacional

    Municpio Motivador Central Total

    Porto AlegreCaptao de Recursos 3So Bernardo do Campo

    SuzanoBelm

    Cooperao Tcnica17

    Belo HorizonteCamaariCascavelCuritibaDiademaItanhamItuJacareOsascoRecifeSalvadorSanta MariaSanto AndrSo CarlosSo Jos do Rio PretoSo PauloGuarulhos

    Projeo Internacional 3JundiaRio de JaneiroCampinas

    Promoo Econmica 4MaringSantosVitriaFlorianpolis

    Turismo Internacional 3Foz do IguauSo Vicente

    Fonte: elaborao prpria.

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    A motivao na captao de recursos, indicada em trs Municpios, pode ser compreendida como a cooperao financeira com organismos mundiais como com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). J a cooperao tcnica expres-sa a relao entre cidades ou mesmo projetos com agncias internacionais com en-foque no intercmbio de conhecimento. A participao poltica dentro de redes de cidades ou outras vias como irmanamentos impulsionam esse tipo de cooperao o que justifica sua elevada concentrao no quadro.

    A categoria da promoo econmica abrange, nesse contexto, as dimenses de comrcio exterior e atrao de investimento. Isso porque a dimenso do turis-mo enquadrada mais frente como parte da categoria anterior foi apresentada de modo separado para dar maior nfase ao perfil desses trs Municpios. Por fim, Projeo Internacional foi a nomenclatura utilizada pelos responsveis dos Munic-pios para trabalhar a marca da cidade externamente o que na CNM denominamos como Marketing Internacional.

    Quando comparamos o quadro de motivadores com o de ano de criao, percebemos, portanto, que no h uma correlao entre o perodo e o motivador. Isso pode ser bem representado na anlise do perodo de 1993-1996, em que cada um dos quatro Municpios foi estimulado por fatores diferentes: rio de Janeiro/rJ (Projeo Internacional), Porto Alegre/rs (Captao de Recursos), Campinas/sP (Promoo Econmica) e Belo horizonte/MG (Cooperao Tcnica). Dessa forma, a variedade de demandas e os diferentes contextos prevalecem nos casos observa-dos. Todavia, fato tambm que h uma tendncia de os Municpios mais recentes aglomerarem todas essas funes dentro da mesma estrutura.

  • 35Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    3. Eixos de Atuao

    O captulo anterior demonstrou que as motivaes para a atuao interna-cional nos Municpios so diversas e se ampliam com a criao da rea internacio-nal. No contexto brasileiro, em que a maioria das reas foi criada na ltima gesto (2005-2008), a compreenso sobre essa pluralidade de aes demonstra-se ainda imatura o que dificulta o alcance de conceitos comuns. Por isso, buscou-se dar a oportunidade aos entrevistados de apresentar sua prpria diviso sobre os principais eixos de atuao. Foi a partir da explicao desses eixos que se puderam alcanar padres mnimos de anlise propostos abaixo.

    Todavia, ao tentar simplificar essa anlise dentro de categorias passveis de comparao, gera-se uma viso fragmentada que no corresponde dinmica real, j que essas aes so de elevado grau de interdependncia. Por isso, importante reforar que o objetivo deste captulo perceber quais so as dimenses da atuao internacional dos Municpios, quais delas esto includas no escopo das 30 reas examinadas e, dentre elas, quais so os esforos prioritrios. Vale enfatizar que, no tempo destinado a cada entrevista, no era possvel retratar todas as aes do Muni-cpio. Nesse sentido, a CNM tentou incrementar o estudo com informaes em que tinha segurana sobre sua veracidade entendendo que o propsito final no in-dicar aqui uma secretaria vencedora, mas sim disponibilizar o mximo de aprendi-zado til para experincias posteriores.

    Portanto, a avaliao sobre os ganhos alcanados pelas reas internacio-nais resume-se aqui percepo oferecida pelos prprios entrevistados. Desse mo-do, antecipamos o bloco trs relacionado aos resultados dos projetos e aes pon-tuais para elaborar uma abordagem nica. Isso porque as respostas desse bloco foram muito semelhantes discusso na primeira parte sobre os esforos e priori-dades. A anlise que se segue partir, assim, de quatro macro dimenses identifica-

  • 36 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    das (poltica internacional, cooperao internacional, promoo econmica e ma-rketing urbano), com ilustraes oferecidas pelos Municpios que tm esse tipo de atuao internacional.

    MunicpioPoltica Internacional Cooperao Internacional Promoo Econmica

    Marketing UrbanoFruns Cidade-Irm Polticas Pblicas (Redes) Outros Tcnica Captao de Recursos Comrcio Exterior IED Turismo

    Belm x x x xBelo Horizonte x x x x x xCamaari x x x x x xCampinas x x x x x x xCascavel x x xCuritiba x x x x x xDiadema x x x xFlorianpolis x x x x xFoz do Iguau x x x x xGuarulhos x x x x xItuItanham x x x xJacare x x x x xJundia x x x x xMaring x x x x xOsasco x x x x xPorto Alegre x x x x x x x x xRecife x x x x x xRio de Janeiro x x x x x x x x xSalvador x x x x x x x x xSanta Maria x x x x x x xSanto Andr x x x x x x x x xSantos x x x x x x xSo Bernardo do Campo x x x x x xSo Carlos x x x x xSo Jos do Rio Preto x x x x x xSo Paulo x x x x x x x x x xSo Vicente x x x x x xSuzano x x x x xVitria x x x x x x x

    Fonte: elaborao prpria.

  • 37Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    Tabela 3: QuaTro Micro DiMenses De aTuao inTernacional

    MunicpioPoltica Internacional Cooperao Internacional Promoo Econmica

    Marketing UrbanoFruns Cidade-Irm Polticas Pblicas (Redes) Outros Tcnica Captao de Recursos Comrcio Exterior IED Turismo

    Belm x x x xBelo Horizonte x x x x x xCamaari x x x x x xCampinas x x x x x x xCascavel x x xCuritiba x x x x x xDiadema x x x xFlorianpolis x x x x xFoz do Iguau x x x x xGuarulhos x x x x xItuItanham x x x xJacare x x x x xJundia x x x x xMaring x x x x xOsasco x x x x xPorto Alegre x x x x x x x x xRecife x x x x x xRio de Janeiro x x x x x x x x xSalvador x x x x x x x x xSanta Maria x x x x x x xSanto Andr x x x x x x x x xSantos x x x x x x xSo Bernardo do Campo x x x x x xSo Carlos x x x x xSo Jos do Rio Preto x x x x x xSo Paulo x x x x x x x x x xSo Vicente x x x x x xSuzano x x x x xVitria x x x x x x x

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    3.1 Poltica Internacional

    Para analisar a poltica internacional, primeiramente, devem-se compreen-der as diferentes percepes dentro do conceito de poltica, a comear pelo carter eletivo dos prefeitos e dos vereadores. Dessa forma, as autoridades municipais so convocadas a representar sua comunidade em diferentes eventos dentro do pas ou fora deste. Nesses eventos, posicionamentos polticos so demandados em ques-tes de sua competncia. Como os temas so cada vez mais globais, essas autori-dades so impelidas a extrapolar os limites constitucionais, trazendo a voz informal de seus cidados, sobretudo em assuntos relacionados cultura local. A partir da, laos de amizades passam a ser firmados por meio de irmanamentos ou outras for-mas de relacionamento que possibilitam o intercmbio de conhecimento sobre po-lticas pblicas.

    3.1.1 Fruns internacionais

    A subdimenso dos Fruns Internacionais representa esses espaos polti-cos em que as autoridades locais aproximam o debate das relaes internacionais da vivncia local. O que acontece nesses espaos uma grande reflexo e indicao de solues para as problemticas globais. Por exemplo, do Frum Social Mundial (FSM), criado em Porto Alegre/rs, surgiu o Frum de Autoridades Locais (FAL) e uma srie de outros fruns como o Frum de Autoridades Locais da Periferia (Falp), indicado como uma das atuaes de cidades como Camaari/BA, Guarulhos/sP e santa Maria/rs. O carter popular, com predomnio de uma viso do movimen-to de esquerda, marca esses fruns como bem pode ser observado na semelhana partidria (PT) das trs cidades apontadas anteriormente.

    Por sua vez, a articulao de redes, como o Mercocidades e a Flacma, fez nascer o Foro Consultivo de Municpios, Estados Federados, Provncias e Departa-mentos do Mercosul (FCCR) do qual participam os Municpios de Belo horizonte/

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    MG, santo Andr/sP e so Carlos/sP. salvador/BA um entusiasta do Frum de Autoridades Locais da Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa (Foral CPLP) e esteve presente nos encontros organizados pela CNM que antecederam instalao deste frum. Porto Alegre/rs, por outro lado, tem colaborado com esse trabalho da entidade de oficializao do Frum de Governana Local ndia-Brasil-frica do Sul (FGL Ibas). Esses trs fruns representam a conquista dos governos locais por espa-os de discusso sobre as prioridades da poltica externa brasileira no eixo SulSul.

    O rio de Janeiro/rJ, ao ser sede do Programa das Naes Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-Habitat), foi indicado a ser um entre os vinte repre-sentantes que compem o Comit Consultivo de Autoridades Locais das Naes Unidas (Unacla).4 A capital carioca ainda foi selecionada para sediar, em 2010, o V Foro Urbano Mundial, organizado por essa mesma agncia. Curitiba/Pr e so Paulo/sP demonstram-se ainda como cidades engajadas em discusses promovi-das pela ONU, como os Fruns sobre Mudanas Climticas.

    Diferenciar esses Fruns de seminrios promovidos pelas redes, da atra-o de encontros bilaterais realizados nas cidades ou mesmo acontecimentos co-mo o Encomex nem sempre simples. Por isso, o conceito aqui adotado limitou-se aos assentos polticos ocupados pelas cidades ou aos demais espaos que se deno-minam por fruns.

    3.1.2 Cidades-irms

    Salvo a exceo do Municpio de Itu, todos os demais mantm acordos de irmanamentos com cidades em outros pases. O Programa Cidades-Irms foi lan-ado em 1956 pelo ento presidente dos Estados Unidos Eisenhower, no contexto de reconstruo ps Segunda Guerra Mundial. O objetivo era desenvolver proje-tos assistenciais por intermdio dos governos locais, ampliando o entendimento e

    4 A CNM, mais recentemente, tambm assumiu um assento nesse comit por meio da indicao da Organizao Mundial de Cidades e Governos Locais unidos (CGLU).

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    a amizade internacional em todos os nveis da comunidade. No Brasil, os primei-ros irmanamentos se deram entre o rio de Janeiro/rJ e Istambul/Turquia (1965) e Kobe/Japo (1969), alm de Porto Alegre/rs e Kanazawa/Japo (1967). Essa prtica ainda se mantm, como observamos nos casos de rio de Janeiro/rJ com Coimbra/Portugal (2008), Vitria/es com Zhuhai/China (2008) e Campinas/sP com Duran/frica do Sul (2009).

    No seria de estranhar que a maior concentrao de irmanamentos das ci-dades entrevistadas ocorre com governos locais portugueses (22). O idioma apa-rece como um forte indicador da marca cultural, havendo cidades com nomes se-melhantes a exemplo de Porto Alegre/rs e Portoalegre. O relacionamento com a Itlia (11) tambm se explica por fatores histricos culturais. A forte presena de irmanamentos como governos locais dos Estados Unidos (12) demonstra a pre-sena do hegemon, onde essa prtica se iniciou. O que talvez mais chame aten-o a posio de pases como China e Japo, 15 e 14 cidades-irms respectiva-mente. Frana e Argentina tambm se destacam com 8 irmanados com governos locais brasileiros.

    so Paulo/sP (33), rio de Janeiro/rJ (28) e recife/Pe (28) so as cida-des brasileiras com a maior quantidade de irmanamentos. Para esta ltima, o obje-tivo maior a troca de experincias e a captao de recursos. Para santos/sP que possui 14 cidades-irms espalhadas pela sia, Amrica Central e Europa , o intui-to identificar dificuldades comuns, captar recursos e conhecimento, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da populao santista. Essa mesma cidade afir-ma que a assinatura destes convnios leva em conta ainda o sentido de reafirmao da fraternidade que deve nortear as relaes humanas, considerando mister o rela-cionamento pacfico entre as mais diversas naes.

    Segundo a gestora municipal santista, at a criao da assessoria de rela-es internacionais, esses irmanamentos no saiam do papel e ns procuramos sem-pre fomentar essas relaes. Nesse mesmo sentido, o representante de Curitiba/Pr afirmou que um resultado da rea internacional para o Municpio a reviso de

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    acordos de cidades-irms, dos memorandos de inteno, para os quais tem havido um esforo para que se tornem concretos, fato exemplificado pelas visitas s cida-des de Suwon, na Coreia, e Hangzhou, na China.

    As comemoraes do Centenrio da Imigrao Japonesa para o Brasil e do Ano da Frana no Brasil so exemplos de fatos que favoreceram a concretiza-o de novos e a retomada dos antigos irmanamentos. Nesse sentido, houve festivi-dades em vrias cidades, como em Jundia/sP com contribuies da cidade-irm de Iwakuni e em santos/sP com a participao de Shimonoseki. O Municpio de suzano/sP destaca, assim, que uma das motivaes na questo dos irmanamentos a ideia de fazer intercmbios culturais a fim de que as razes dos povos que forma-ram a cidade (comunidades japonesas, rabes, afrodescendentes) sejam resgatadas. Por fim, so Bernardo do Campo/sP refora a relevncia do aspecto cultural no momento de identificar caractersticas semelhantes que justifiquem o irmanamento.

    Outros exemplos de resultados possveis de serem alcanados por meio do irmanamento podem ser observados no caso de Belm/PA e recife/Pe. A par-ticipao da capital paraense na edio 2008 do Salo Internacional do Livro de Pointe--Pitre, maior cidade do departamento ultramarino francs, localizado no Caribe, contou com a representao de literrios locais e com uma mostra fotogr-fica do Mercado do Ver-o-Peso, alm de outras ilustraes das principais aes cul-turais da cidade. A questo do idioma outro aspecto desenvolvido por recife/Pe, que envia assessores para a aprendizagem do mandarim na China.

    A dimenso econmica tambm est presente nessa estratgia internacional das cidades. itanham/sP, que possui irmanamentos desde 1990, conseguiu o fi-nanciamento da passarela da rodovia Anchieta ponto turstico do Municpio por meio de uma das suas cidades-irms. A cidade canadense de Saint-Hyacinthe, por sua vez, tem um acordo com Cascavel/Pr em que se objetiva a instalao de empresas no parque tecnolgico desta cidade. Um ltimo exemplo pode ser dado de Maring/Pr, que tem irmanamentos com cidades na Frana, na Espanha e em Por-tugal, onde j houve exposies do setor de confeces para iniciar negcios na rea.

  • 42 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    so Jos do rio Preto/sP afirma ter uma atuao relativamente tmida com irmanamentos com a cidade de Nantong, na China, e com a cidade de Vicen-za, na Itlia, em razo do polo da indstria joalheira riopretense. O estabelecimen-to de negcios com a cidade de Nantong comeou a partir do recebimento de uma comitiva da cnsul da China. Porto Alegre/rs, que fez contatos iniciais na rea de esportes com o Municpio de Kanazawa, conseguiu atrair trs misses do Japo in-teressadas em contatos de comrcio na rea txtil. Esses dois casos ilustram bem como a estratgia de irmanamentos est intrinsecamente associada, por fim, com outras dimenses.

    3.1.3 redes de Polticas Pblicas

    Assim como a estratgia de irmanamento, quase todas as cidades analisadas fazem partes de redes temticas para o desenvolvimento de suas polticas pblicas locais. Alm do intercmbio de conhecimento possibilitado por essas redes, aumen-ta-se a chance de obter informaes sobre convocatrias internacionais de projetos, de conhecer os grandes especialistas sobre o tema, de ampliar o relacionamento di-reto com empresas multinacionais interessadas na rea, de adquirir capacidade de comparao com o que h de mais inovador sobre o assunto. Municpios ainda co-mo Camaari/BA, Porto Alegre/rs e santo Andr/sP destacam, por fim, a opor-tunidade de projeo internacional da cidade por meio das redes.

    A quantidade de redes existentes dificulta, todavia, a deciso dos Munic-pios sobre em quais delas participar. Especialmente em razo das elevadas taxas de filiao geralmente cobradas, preciso priorizar. Por isso, algumas redes no co-bram taxas de filiao como forma de estmulo participao, sendo sustentadas pe-lo prprio governo local que mantm a sede. Sttutgart, por exemplo, utiliza o Cities for Mobility como canal para divulgar suas inovaes em mobilidade. Essa rede constitui-se ainda em um dos grupos de trabalho e comits da organizao mundial Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU).

  • 43Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    No sendo possvel abordar todas as redes de cidades, destacamos abaixo apenas as mais indicadas nas entrevistas. Iniciaremos, nesse sentido, com a CGLU que surge com a misso de reunir essas redes internacionais. Essa organizao mun-dial composta por sete sesses regionais mais a rede Metropolis. No caso, o Brasil uma sub-regio da sesso denominada Federao Latino-americano de Cidades, Municpios e Associaes de Governos Locais (Flacma). O objetivo o fortaleci-mento e a unificao do movimento municipalista internacional, a fim de se posi-cionar de modo coordenado diante das organizaes como as Naes Unidas. To-davia, os Municpios brasileiros ainda no se engajaram de modo adequado nesse movimento e, como ainda h um impasse sobre a incluso direta dos filiados Me-tropolis, apenas Guarulhos, entre as 30 cidades, encontra-se com capacidade ativa de voto e assento.

    Uma das redes que compe a Flacma o Mercocidades. Ao contrrio da re-alidade anteriormente exposta, 25 das cidades analisadas fazem parte desse grupo. Isso ressalta a grande autonomia da rede que dividida em 14 unidades temticas: ambiente e desenvolvimento sustentvel; autonomia, gesto e financiamento; cin-cia, tecnologia e capacitao; cooperao internacional; cultura; desenvolvimento econmico local; desenvolvimento social; desenvolvimento urbano; educao; g-nero e Municpio; juventude; planejamento estratgico; seguridade cidad; turismo.

    Belo horizonte/MG, Porto Alegre/rs e santo Andr/sP so as nicas cidades brasileiras que j assumiram a Secretaria Executiva da rede. O que h em comum entre as trs a linha partidria, sendo ambos do Partido dos Trabalhadores (PT). so Carlos/sP (PT) tambm coordenou uma unidade temtica de Cincia, Tecnologia e Capacitao. O responsvel por Camaari/BA (PT) enfatizou essa im-portncia de afinidade partidria para a discusso de assuntos internacionais. O Mu-nicpio de Jacare/sP, semelhantemente, destacou entre os seus esforos a discusso das Polticas Internacionais por meio da Secretaria de Relaes Internacionais do PT.

    so Jos do rio Preto/sP, cujo prefeito era do Partido Popular Socialista (PPS), coordenou tambm uma comisso de trabalho, chamada Fomento ao Ne-

  • 44 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    gcio. O objetivo era promover a participao da parte privada de cada cidade nas reunies da rede e, para tal, promover encontros, feiras, rodadas de negcios etc. Isso foi alcanado pelo Municpio que atraiu vrios empresrios para atua-o junto ao Municpio dentro do Mercocidades. Esse tema tambm se enquadra em polticas de promoo econmica, mais especificamente na atrao de inves-timento externo a ser abordado mais frente.

    Outra dimenso fortemente atrelada a esse relacionamento em redes o es-tmulo cooperao internacional. A Rede Urbal, nesse sentido, financia projetos de cooperao tcnica na rea de gesto compartilhada, planejamento intersetorial, cultura e juventude entre outros. A motivao do trabalho na rea de juventude em Diadema/sP, por exemplo, tem razes histricas e visa retomada das aes nessa rea que diminuiu ao longo do tempo. Esse projeto desenvolvido em parceria com Roma, Medeln e Granada. As redes, nesse sentido, criam um ambiente favorvel para a construo dessas parcerias multilaterais exigidas em convocatrias como a do Urbal. Desde que foi lanado, em 1995, esse programa j aprovou mais de 180 projetos com engajamento de mais de 700 autoridades locais da Europa e da Am-rica Latina, totalizando milhares de Euros para cooperao descentralizada. Entre os entrevistados, 22 cidades fizeram parte de pelo menos uma das redes, como ob-servado no quadro a seguir:

  • 45Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    Tabela 4: relacionaMenTos inTernacionais eM reDes TeMTicas

    Rede 4

    A Cidade como Promotora do

    Desenvolvimento Econmico

    Rede 6

    Meio Ambiente Urbano

    Rede 8

    Controle da Mobilidade

    Urbana

    Rede 9 Financiamento

    Local e Oramento

    Participativo

    Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador

    Porto Alegre, So Pau-lo, Salvador

    Belo Horizonte, Curiti-ba, Florianpolis, Gua-

    rulhos, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Santo Andr, So Pau-lo, So Vicente, Vitria

    Belm, Belo Horizon-te, Campinas, Marin-g, Recife, Rio de Ja-neiro, Santa Maria,

    Santo Andr, So Pau-lo, Jacare*, So Car-

    los*, Suzano*

    Rede 10

    Luta Contra a Pobreza Urbana

    Rede 12

    Promoo da Mulher nas

    Instncias de Deciso

    Rede 13

    Cidades e a Sociedade da Informao

    Rede 14

    Segurana Cidad na

    Cidade

    Santa Maria, Santo Andr, So Bernardo

    do Campo, So Carlos, Rio de Janeiro, Belm, Belo Horizonte, Diade-

    ma, Guarulhos, Ma-ring, Porto Alegre,

    Recife, Campinas*, Ja-care*

    Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Santo Andr, So Bernardo do Campo, So Paulo,

    Guarulhos.

    So Jos do Rio Preto, So Carlos, So Ber-

    nardo do Campo, Curi-tiba, Maring, So

    Paulo, Belo Horizon-te, Recife, Vitria, Gua-

    rulhos

    Rio de Janeiro, Vitria, Belm

    Fonte: Observatorio de la Cooperacin Descentralizada *Membro observador

  • 46 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    A capital baiana desenvolve projetos ainda com o Centro Iberoamericano de Desenvolvimento Estrutural Urbano (Cideu), que dizem respeito assistncia no Planejamento Urbano e tambm ao incremento de arrecadao de impostos. Ca-maari/BA, que destacou esse tema como uma das prioridades da secretaria, fez parte do curso de formao em Planejamento Urbano Estratgico (PEU) oferecido por essa rede de durao de um ano. Em 2010, a cidade de Belo horizonte/MG, como vice-presidente dessa rede, sediou o XVIII Congresso do Cideu.

    A poltica de internacionalizao da capital mineira tem foco especfico no apoio boa governana, gesto pblica e ao desenvolvimento de programas e po-lticas pblicas. Nesse sentido, o Municpio busca inserir-se, por meio de suas di-versas secretarias, em redes internacionais que correspondam s expectativas que se tem em relao atuao de Belo horizonte/MG no meio internacional. Uma das principais polticas da secretaria, inclusive, consiste em coordenar suas aes s re-des de cidades. Nesse sentido, Belo horizonte/MG ainda a coordenadora nacio-nal da Associao Internacional das Cidades Educadoras (Aice).

    A rede, organizada pela Aice, surgiu durante o 1o Congresso Internacio-nal das Cidades Educadoras, realizado em 1990. Seu principal objetivo era adotar a educao como direito fundamental de todos os cidados, alm de identificar e de-senvolver aspectos educativos presentes nas polticas de cada localidade. Na pgina eletrnica do Municpio, o prefeito de salvador/BA afirmou que conceito de cida-de educadora parte do princpio de que a educao pode e deve extrapolar os mu-ros da escola, sendo um norte nas relaes sociais e humanas, a integrao entre a escola e as comunidades situadas no seu entorno.

    A prefeitura de santos/sP informou que participa em quatro redes de Mu-nicpios: a Aice, o Mercocidades, a Rede Urbal e a AIVP. Essa ltima, a Associao Internacional de Cidades Porturias, demonstra a peculiaridade da cidade santista que, alm de dar maior visibilidade ao Municpio, promove o intercmbio de infor-maes especficas sobre cidades porturias. Belo horizonte/MG, nesse sentido, a nica representante brasileira na rede Switch, que aborda a gesto da gua urbana integrado aos impactos sociais, econmicos e ambientais.

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    Na questo do meio ambiente, a rede Iclei, Governos Locais pela Susten-tabilidade, a mais antiga. Ela foi lanada como Conselho Internacional para Ini-ciativas Ambientais Locais em 1990, na sede das Naes Unidas em Nova Iorque. O Iclei fornece informaes, providencia treinamento, organiza conferncias, facilita o intercmbio entre cidades e a constituio de redes, executa pesquisas e projetos--piloto, alm de prestar servios tcnicos e de consultoria. Na temtica de Mudan-as Climticas, essa rede tem desempenhado um papel relevante em propor solues polticas para minimizar os efeitos do aquecimento global. Curitiba/Pr, integrante do grupo de Ao Local pela Biodiversidade (LAB) promovido pelo Iclei, destaca, nesse sentido, o projeto desenvolvido na cidade de biodiversidade urbana Bioci-dades que foi apresentado em Bonn, Alemanha.

    A importncia das redes pode ser resumida nas palavras do responsvel in-ternacional de recife/Pe: A tica de Relaes Internacionais perpassa no s a troca de experincia como a insero do Municpio no cenrio internacional, ento a gente no pode evidentemente deixar de receber experincias e transmitir expe-rincias nas reas que ns temos. A Secretaria de Relaes Internacionais de so Paulo/sP refora seu papel na construo e na manuteno de espaos de reflexo e na intensificao dos intercmbios de prticas bem-sucedidas das gestes locais. Nessas redes, h a possibilidade de se debater e aprender com as experincias de polticas pblicas exitosas que foram implementadas nas mais diversas cidades do globo.

  • 48 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    Tabela 5: as principais reDes coM aTuao inTernacional Dos Municpios brasileiros

    Flacma/CGLU Metropolis Mercocidades Cideu Cities for Mobility Cidade Educadora Iclei

    Belm X Belo Horizonte X X X X X XCamaari X X Campinas X Cascavel Curitiba X XDiadema X Florianpolis X X Foz do Iguau X Guarulhos X X X Itu Itanham Jacare X Jundia Maring X Osasco X Porto Alegre X X X X XRecife X X Rio de Janeiro X X XSalvador X X X Santa Maria X Santo Andr X X X XSantos X X So Bernardo do Campo X X So Carlos X X XSo Jos do Rio Preto X So Paulo X X X X X XSo Vicente X X Suzano X Vitria X X X

    Fonte: elaborao prpria.

  • 49Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    Tabela 5: as principais reDes coM aTuao inTernacional Dos Municpios brasileiros

    Flacma/CGLU Metropolis Mercocidades Cideu Cities for Mobility Cidade Educadora Iclei

    Belm X Belo Horizonte X X X X X XCamaari X X Campinas X Cascavel Curitiba X XDiadema X Florianpolis X X Foz do Iguau X Guarulhos X X X Itu Itanham Jacare X Jundia Maring X Osasco X Porto Alegre X X X X XRecife X X Rio de Janeiro X X XSalvador X X X Santa Maria X Santo Andr X X X XSantos X X So Bernardo do Campo X X So Carlos X X XSo Jos do Rio Preto X So Paulo X X X X X XSo Vicente X X Suzano X Vitria X X X

  • 50 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    3.1.4 outras Aes Polticas

    A fim de enquadrar aspectos da atuao internacional que, por ventura, es-tivesse fora das quatro dimenses de poltica, cooperao, promoo econmica e marketing urbano, criou-se um campo outros. Todavia, ao final da anlise, obser-vou-se que esses aspectos esto relacionados fortemente com uma postura poltica. Trs foram os principais aspectos identificados: relaes com representaes diplo-mticas e cerimonial; promoo cultural; e a solidariedade entre os povos.

    Cascavel destaca, assim, a importncia de Consulados de pases estrangei-ros no Brasil, principalmente da Espanha e do Canad, como agentes fortes no que se refere internacionalizao do Municpio e ao reconhecimento de seu potencial para atuar em mercados mundiais. A Diretoria de Relaes Internacionais de so Vicente/sP, dentro do seu eixo prioritrio de buscar oportunidades em pases e em Municpios do Mercosul, utiliza tambm essa estratgia de estreitamento de laos com representaes diplomticas presentes no Brasil ao tambm enfatizada por outros Municpios como salvador/BA. Campinas/sP e so Bernardo do Cam-po/sP, por exemplo, descrevem que em seu relacionamento com os Consulados em So Paulo, so divulgadas leis de incentivo qualidade de vida da cidade como for-ma de capturar novas parcerias. No caso de Foz do iguau/Pr, as questes de ter-ras e dos brasiguaios predominam no trabalho conjunto com as embaixadas pre-sentes na cidade.

    Vitria/es e Curitiba/Pr afirmam ainda visitar, em suas misses interna-cionais, as representaes diplomticas brasileiras fora do Brasil, por intermdio do Ministrio das Relaes Exteriores. Essa prtica tem um efeito importante de for-talecer a cultura da atuao internacional dos Municpios, sendo essas representa-es um ponto de apoio para aspectos emergenciais ou colaboraes futuras dentro desses pases. Portanto, o recomendado que os Municpios encaminhem um fax Assessoria Especial de Assuntos Federativos e Parlamentar (Afepa) informando o seu roteiro no exterior para que essas representaes diplomticas sejam informadas.

  • 51Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    As secretarias do rio de Janeiro/rJ, de Curitiba/Pr e de Foz de igua-u/Pr denominam-se como responsveis por organizar o cerimonial de recepo das delegaes estrangeiras com o apoio de outras secretarias, como a de turismo. Entre as aes internacionais de Jundia/sP, tambm houve a recepo de delega-es diplomticas e empresariais do Canad, da Coreia do Sul, da China e da Ale-manha. Enquanto em Porto Alegre/rs o tema da democracia participativa o que mais atrai comitivas internacionais como a de Moambique, em Curitiba/Pr o sistema de transporte coletivo que mais chama a ateno externamente.

    Salvador tambm d exemplo de eventos organizados na cidade em par-ceira com as embaixadas, tal como ocorreu no Salvador frica com os pases como a frica do Sul, Angola, Benin e Moambique. Nesse sentido, a maioria das reas internacionais dos Municpios analisados participou de marcos culturais co-mo o Ano da Frana no Brasil, evento em que se observou inmeros aconteci-mentos de valorizao da multiculturalidade, independentemente da existncia de irmanamento entre os Municpios. O que a comunidade mais ganha nesse tipo de ao a ampliao da compreenso sobre os benefcios do convvio nas diferenas.

    Atrelado a esses eventos, h tambm a conscientizao da populao so-bre a importncia da solidariedade internacional entre os Municpios como bem exposto por osasco/sP e Curitiba/Pr. O comprometimento poltico em colaborar com o desenvolvimento de outros povos o passo inicial para diversas atividades internacionais, desde as mais simples, como o irmanamento at as mais prolongadas como projetos de cooperao internacional de longo prazo. Essa a principal justi-ficativa que permeia as aes pelos pases do norte, e o Brasil, com um desenvolvi-mento j avanado, precisa se adaptar a essa nova forma de ser visto externamente.

    3.2 Cooperao Internacional

    A Cooperao Internacional Descentralizada passa por um momento im-portante de reflexo no Brasil. O fato que as agncias bilaterais, aos poucos, tm retirado seus recursos do Pas; o governo federal tem limitado os emprstimos in-

  • 52 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    ternacionais afirmando no ser mais necessrio a presena de organizaes co-mo o Banco Mundial ; e a Agncia Brasileira de Cooperao (ABC) tem declara-do aos demais parceiros que agora s prestamos cooperao.

    Todavia, essa mensagem repassada pela Unio no a mesma dos gover-nos locais. A boa notcia que as organizaes internacionais j entenderam isso e, em certa medida, tem direcionado seus programas cada vez mais para os Munic-pios. verdade que o Brasil a sexta maior economia do mundo, mas esses recur-sos esto fortemente concentrados, a comear pelo oramento retido na Unio. Os Municpios, sobretudo os das regies Norte e Nordeste, tm forte apelo por recur-sos de desenvolvimento destinado reduo da pobreza.

    De qualquer modo, as regies Sul e Sudeste tm muito interesse em conti-nuar a cooperao com os pases desenvolvidos para aprimorar cada vez mais su-as polticas pblicas. Nesses casos, h uma relao mais simtrica, sendo o Brasil modelo de sucesso em vrias polticas locais espalhadas em todo territrio nacio-nal. H muitas obras de infraestrutura que necessitam ainda de financiamento e, em alguns casos, as melhores condies esto nas agncias financeiras internacionais.

    A cooperao sul-sul tem sido um eixo central da atuao dos Municpios brasileiros. Abarcamos sim a tica da cooperao prestada de que muito temos a ensinar, mas abraamos ainda mais a perspectiva de que muito queremos aprender com pases com grau de desenvolvimento parecido com os do Ibas, at os com maiores fragilidades como os de lngua portuguesa na frica. Isso fica bem expres-so na fala do representante de santa Maria/rs: a cooperao para ns enxerga-da como uma via de duas mos, tanto tu aprende quanto tu ensina, ento quando tem resultado do outro lado, a gente considera como resultado concreto.

    Recursos so investidos do prprio oramento municipal, mas para ser in-crementado necessita de maior participao do governo federal. O ideal que os Municpios no tivessem de gastar tantos esforos para convencer setores da Unio do quanto suas atividades contribuem para a poltica interna e externa do pas. Uma aposta que comea a ser desenhada com o governo francs a cooperao trian-

  • 53Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    gular, em que os dois pases desenvolveriam projetos conjuntos com um terceiro. Contudo, nem mesmo na relao bilateral conseguimos alcanar os re-

    sultados desejados. O embaixador ento responsvel pela rea internacional do rio de Janeiro/rJ assim afirma: ns entramos muito firmes para ajudar cida-des que tm proximidade cultural e histrica conosco, como Luanda, Maputo e Assuno, oferecendo ajuda tcnica, mandando misses com tcnicos nossos, e no tivemos resultados.

    Outra sada para os governos locais brasileiros talvez seja recorrer aos fun-dos de cooperao descentralizada financiada pelas prprias cidades do Norte. H inclusive recursos destinados a projetos entre ONGs em que o governo local as-sume a funo de interligao. Apesar desses desafios que vo exigir um reposi-cionamento, o que pode ser observado com esses 30 Municpios que importantes avanos j foram alcanados.

    3.2.1 Cooperao tcnica

    A cooperao tcnica pode ser dividida entre as celebradas com as agncias internacionais (bilaterais ou multilaterais) e as diretamente realizadas com gover-nos locais de outros pases. Quando essas cooperaes so direcionadas ao conti-nente africano, geralmente utiliza-se a expresso cooperao prestada como forma de ressaltar o maior grau de assimetria entre os atores. Uma terceira categoria des-tacada nas entrevistas a cooperao cientfica, ou seja, a firmada com universida-des de outros pases.

    A Agncia Canadense para o Desenvolvimento Internacional (Cida) foi uma das que mais aprovou projetos com os Municpios brasileiros. santo Andr/sP, por exemplo, desenvolveu o Projeto de Gerenciamento Participativo das re-as de Mananciais (Gepam) de 1998 a 2004. Dentro da proposta de disseminao e multiplicao das experincias, esse mesmo projeto se estendeu para os Munic-pios de osasco/sP e Jacare/sP com o tema Empreendedorismo e Cidadania. Ou-

  • 54 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    tro projeto que adota o princpio da disseminao o Novos Consrcios Pblicos para Governana Metropolitana no Brasil. Com durao prevista de 2006 a 2010, esse projeto j envolveu inmeras das cidades entrevistadas, como Belo horizon-te/MG, recife/Pe, santo Andr/sP, osasco/sP.

    rio de Janeiro/rJ informou ainda um projeto com a Agncia Francesa de Desenvolvimento (AFD) para a instalao de veculos ligeiros sobre trilho, com destino Barra da Tijuca e ao centro da cidade. Com a Agncia Espanhola de Coo-perao Internacional para o Desenvolvimento (Aecid), salvador/BA realizou uma semana de atividades dedicada construo de capacidades para os gestores mu-nicipais que trabalham com o desenvolvimento de programas, projetos e aes em carter social, econmico, ambiental, estrutural ou urbanstico.

    No mbito multilateral, a parceria mantida com a Citties Alliance possi-bilitou cidade de salvador/BA desenvolver um projeto de Plano Diretor Urba-no. Entre as atividades estavam o cadastramento e a regularizao de habitaes precrias nas reas centrais e perifricas do Municpio. Jacare/SP, com um pro-jeto dentro da rede Urbal, aponta resultados como o Guia de Gesto pela Cidada-nia. Belo Horizonte/MG, tambm com esses recursos da Unio Europeia, imple-mentou um projeto na rea de telemedicina, denominado @LIS, que promoveu o pronturio eletrnico na rede municipal de sade A Comisso Europeia, j em outro contexto, financiou parte significativa do projeto Santo Andr mais Igual (na ordem de cinco milhes de Euros) que se juntou a outros recursos provindos do BID, do governo brasileiro etc.

    No eixo da cooperao descentralizada, dois programas j ganharam vias oficiais dentro da Presidncia da Repblica. A Agncia de Cooperao dos Entes Locais (Acel) da Itlia responsvel, assim, por coordenar o programa 100 Citta citado por grande parte dos entrevistados. Nesse contexto, tanto suzano/sP quanto osasco/sP enfatizaram os intercmbios na rea urbanstica. santa Maria/rs con-seguiu, ainda, no mbito da cooperao com a Itlia, um projeto que culminar em um milho e duzentos mil reais para o desenvolvimento do turismo local.

  • 55Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    A cooperao com a Frana talvez seja a mais institucionalizada do ponto de vista do envolvimento do governo federal. Nesse quadro, rio de Janeiro/rJ, em parceria com Paris, implementou um projeto de restaurao do centro histrico do bairro de So Cristvo. J a parceria entre a Prefeitura de so Paulo/sP (PMSP) e a Regio le de France (Crif), firmada em 2006, visa a atividades em reas como Sade e Cultura. Existem, assim, cinco projetos que pressupem a concesso de re-curso a fundo perdido por parte da Crif igual ou superior a contrapartida da PMSP. Vitria/es, por sua vez, possui um acordo de cooperao com Dunkerque, no nor-te da Frana, que resultou no projeto Portal Sul, no qual se prev aes para me-lhorias nas reas de paisagismo, infraestrutura e mobilidade.

    Parcerias entre prefeituras e associaes estrangeiras podem ser observa-das ainda no caso de santa Maria/rs com a Umotest (que rene 15 cooperati-vas de produtores de queijo e leite da Frana). Como a captao de recursos era de responsabilidade do Instituto de Planejamento Urbano de Florianpolis/sC, a rea internacional dessa cidade fortaleceu os projetos sociais, como a visita Frana de escolas de futebol infantil da rede municipal financiadas pelo clube de futebol francs (Saint-Etienne). O acordo de cooperao de recife/Pe com a ci-dade de Nantes, na Frana, resultou ainda em um financiamento, por parte da pre-feitura francesa, para a construo de um Centro de Economia Solidria em uma favela recifense.

    Alm da Frana e da Itlia, h uma forte relao com os pases ibricos eu-ropeus. A prpria Florianpolis/sC mantm relao com um consrcio hospitalar da Catalunha/Espanha que colaborou na integrao de deficientes visuais na socie-dade. Com Portugal, santos/sP assinou acordos de cooperao tcnica com vrias cidades portuguesas, um deles incluindo o Conselho de Desenvolvimento da Re-gio Metropolitana da Baixada Santista (Condesb).

    As relaes com os Estados Unidos tambm foram lembradas pelas cida-des entrevistadas. rio de Janeiro/rJ, nesse sentido, comentou a cooperao tc-nica com sua cidade-irm, Atlanta, na administrao do Hospital Ronaldo Gazola.

  • 56 Coletnea Cooperao Internacional MunicipalConfederao Nacional de Municpios CNM

    Campinas/sP, por outro lado, deu o exemplo da empresa municipal de saneamen-to bsico (Sanasa) em parceria com o USVA rgo americano que trata da ques-to do lixo vinculada dimenso social, econmica e poltica.

    Da Amrica Latina at os continentes mais distantes, os Municpios brasi-leiros avanam a sua cooperao trazendo resultados significativos. Enquanto so Vicente/sP tem um convnio educacional de cooperao tcnica com a cidade de Naha, no Japo, que visa capacitao de professores e de funcionrios pblicos, santos/sP apresenta iniciativa semelhante com a cidade de Ulsan, na Coreia do Sul. J o projeto de so Paulo/sP, Mundo no CEU, se volta para a formao dos ado-lescentes que estudam nos Centros Educacionais Unificados por meio de encontros com cnsules de vrios pases. O Cnsul do Mxico, por exemplo, apreciou tan-to esse projeto que levou a exposio sobre Frida Kahlo, preparada pelos prprios alunos do Centro de Educao Unificado (CEU), ao Memorial da Amrica Latina e, posteriormente, ao seu pas de origem.

    O que se observa que, apesar do ensino superior no ser uma competn-cia municipal, h inmeros projetos de cooperao cientfica que interliga as pol-ticas pblicas locais com universidades estrangeiras. O projeto de santo Andr/sP com a Universidade de Turim trouxe, assim, benefcios na rea urbanstica como a reurbanizao de ncleos habitacionais , alm de intercmbios de estudantes de ps-graduao. De modo semelhante, o relacionamento de Diadema/sP com Mon-treux, na Frana, viabilizou bolsas de estudo para alunos de nvel superior e da ps--graduao. Com a Universidade d