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UnB Extensão Modernizadora Projeto une estudantes de engenharia automotiva e museologia para renovar o Museu do Automóvel de Brasília Ano 1 nº 2 Ciência nas ondas do rádio • Consciência política para crianças • A língua que a universidade quer falar • Pesquisa e interdisciplinaridade em campus inacabado • Colégio vive com impacto da presença universitária

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Conexão UnB é a revista-laboratório da disciplina Técnicas de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília ministrada pelo professor Paulo Paniago. Composta em Linotype Veto e Helvetica Neue para publicação online. Não se recomenda impressão. Editado em Brasília - DF.

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Page 1: Conexão UnB

UnB

Extensão ModernizadoraProjeto une estudantes de engenharia automotiva e museologia para renovar o Museu do Automóvel de Brasília

Ano 1 nº 2

Ciência nas ondas do rádio • Consciência política para crianças • A língua que a universidade quer falar • Pesquisa e interdisciplinaridade em campus inacabado • Colégio vive com impacto da presença universitária

Page 2: Conexão UnB

Orientação: Professor Paulo Paniago Editor-chefe: Fellipe Matheus BernardinoEditora de Extensão: Gabriela AlcuriEditor de Ceilândia: Lucas VidigalEditor de Arte: Ivan SashaDiagramação: Camila Rodrigues, Glenis CardosoEditora de Fotografia: Ananda BorgesReportagem: Gabriel Góes, Pedro Menezes, Igor Caldas, Dayana Hashim, Celina Guerra, Alannah TobiasFotografia: André Vaz e Luiz Felipe

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ExpEdiEntE

Page 3: Conexão UnB

Editorial

Consciência política para crianças

Ciência nas ondas do rádio

Seção Extensão Seção Ceilândia

A língua que a universidade quer falar

Pesquisa e interdisciplinari-dade em campus inacabado

Colégio vive com impacto da presença universitária

Capa: Museu Virtual do Automóvel

ÍndicE

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Uma grande universidade

Quando a reportagem de Conexão chegou à Faculdade de Ceilândia (FCE), da Universidade de Brasília (UnB), não pôde deixar de notar um cartaz onde se lia: “Você se sente numa universidade?”. Além de representativa de uma situação em que estudantes e professores dividem espaço com um colégio de ensino médio da cidade, a pergunta também inquieta. Afinal, em sentido amplo, que UnB estamos construindo?

As matérias realizadas nesta revista Conexão refletem a realidade de uma instituição que, entre equívocos e acertos, está crescendo. Os acertos merecem registro e, por isso, nosso destaque à matéria realizada pelo repórter Pedro Menezes, sobre um projeto de

extensão pelo qual estudantes da UnB estão ajudando a modernizar o Museu do Automóvel de Brasília.

Entretanto, ainda que avanços da universidade sejam enfatizados nesta edição, também registramos alguns de nossos mais graves problemas. Por isso, não foi demais ressaltar a situação dos alunos da FCE, que, em síntese, reclamam por mais estrutura para os estudos. Enquanto são criados um novo curso de graduação, em Fonoaudiologia, e o primeiro curso de pós-graduação da FCE, as reinvindicações dos estudantes viriam em boa hora e serviriam para a construção de uma UnB maior – não apenas em quantidade, mas, principalmente, em qualidade.

Felipe Matheus Bernardino

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Editorial

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ExtEnsão

Projetos de Extensão de Ação Contínua (Peac’s) são iniciativas da Universidade de Brasília coordenadas pelo Decanato de Extensão. Objetivo é promover cultura, educação e ciência não só por meio de ensino e pesquisa, mas também de união entre estudantes, professores e técnicos.

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Anualmente, os decanatos da UnB promovem a Semana de Extensão, a qual, em 2011, uniu-se à Semana Universitária. Tal evento tem por finalidades expor o trabalho realizado pelos diversos projetos, além de aumentar a interação social da universidade, uma vez que a Semana é aberta a todo o público brasiliense.

Neste exemplar da Conexão, três Peac’s (Política na Escola, Museu Nacional do Automóvel e Jogando Ciência) receberam reportagens. Ligados a diferentes núcleos acadêmicos – Darcy Ribeiro, Gama e Planaltina, respectivamente – pretende-se mostrar a realidade e o cotidiano de Projetos de Extensão.

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Ciência nas ondas do rádioPrograma Jogando Ciência é iniciativa para difundir conhecimento pelos meios de comunicação

Dayana Hashim

Em Planaltina, Distrito Federal, é tarde de sexta-feira de setembro, no estúdio da rádio comunitária Utopia FM. Estou lá para acompanhar a gravação do programa Jogando Ciência e conversar com a equipe responsável, Marco Aurélio Alves Barbosa, coordenador do projeto, e Célia Albuquerque, recém-formada em gestão do agronegócio. Porém, a pessoa que seria entrevistada pelo grupo havia desmarcado o compromisso próximo à hora de entrar no ar. A solução encontrada por

Barbosa foi me tornar locutora, ao entrevistar Célia ao vivo.

Imprevistos como esses são frequentes na rotina de produção do Jogando Ciência. Projeto de extensão da Faculdade UnB Planaltina (Fup), criado em setembro de 2010, consiste em programa de entrevistas sobre propostas científicas desenvolvidas em Planaltina. Professores, alunos e técnicos da Fup e do Instituto Federal de Brasília (IFB) e membros da comunidade tiveram voz na

“Tenho paixão por automóvel desde pequeno. Comecei construindo uma carretinha, e na Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) me explicaram que seria possível construir um automóvel.”

Carlos César (Corpo de Bombeiros/DF) e filho Marcos César (Ciências Naturais/FUP) – Construção de carros artesanais

“Reparamos que, bem próximo aos rios de Planaltina, havia muitos loteamentos irregulares e prática de agricultura. Tivemos curiosidade de descobrir como isso afeta o meio ambiente e em especial a água.”

Júlia Ervilha e Tiago Kisaka (Gestão Ambiental/FUP) – Projeto de pesquisa: Monitoramento da qualidade da água na sub-bacia do ribeirão Mestre D’Armas

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dEpoimEntos

ExtEnsão

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rádio por meio da iniciativa. “A ideia original era criar um elo entre a comunidade e a universidade que passasse pela divulgação da ciência”, conta Barbosa.

Desde que foi criado, o programa teve participação de três alunas da Fup: Célia Albuquerque, a primeira participante; Sabrina Almeida, estudante de gestão ambiental, atualmente afastada devido à maternidade; e Laryssa Costa, também de gestão ambiental e atual locutora. Inicialmente, o projeto seria voltado apenas para a internet, até que surgiu a possibilidade de ter um espaço na grade de programação da rádio Utopia, transmitida em 98,1 MHz. Por conta da equipe pequena e do pouco tempo de projeto, é difícil manter frequência de

veiculação ao vivo, que de semanal passou, nesse semestre, a ser quinzenal.

Célia foi locutora durante quase um ano, mas na hora em que foi entrevistada mostrou nervosismo: “Aqui do outro lado é mais difícil!”, brincou.

Entretanto, mesmo desacostumada com a situação, empolgou-se ao falar da experiência adquirida no tempo em que esteve à frente do microfone. Ela afirma que, além de ter obtido aprendizado na área de comunicação, pois não tinha experiência com locução ou mídias, o Jogando Ciência foi oportunidade de conhecer pessoas interessantes e variedade de projetos existentes em Planaltina. Segundo ela, a comunidade não conhece esse tipo de trabalho: “O que senti foi que dentro da própria FUP, por exemplo, os

Um dia de gravação no estúdio da rádio comunitária Utopia FM: estudantes da Universidade de Brasília se empenham em divulgar a ciência para a comunidade de Planaltina

Luiz Felipe

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professores não conhecem os projetos que são desenvolvidos”.

Essa vivência levou Célia a escrever uma monografia de graduação sobre difusão de ciência via rádio. Ela acredita que é preciso compartilhar esse conhecimento de maneira diferente,

a qual esteja ao alcance das pessoas. “O intuito do programa é desmistificar a noção do cientista como um cara meio maluco, socado dentro do laboratório.” Mas lamenta a falta de apoio para esse tipo de iniciativa: “Eu via, nas dificuldades que as pessoas tinham de levar ciência no rádio, as mesmas que passávamos aqui no programa, como a dificuldade com verba”, completa Célia, e afirma ainda que é Barbosa quem muitas vezes precisa desembolsar para manter o projeto.

Laryssa participa na produção do projeto desde o início, primeiro voluntariamente e agora através do Programa Institucional de Bolsas de Extensão (Pibex). Com a saída de Célia e a licença de Sabrina, tornou-se locutora do programa. “Foi difícil,

gosto de lidar com pessoas, mas lidar com meu nervosismo e a improvisação é algo com o qual nunca paro de trabalhar”, afirma. Mesmo sem morar em Planaltina, Laryssa é entusiasmada pelo que faz: “Por meio do Jogando Ciência, informamos à população sobre os trabalhos que a UnB e o IFB realizam naquela região e a convidamos para conhecer e participar, assim consolidamos um vínculo entre a universidade e a população”.

Os integrantes do projeto ainda não fizeram pesquisa para descobrir quem são os ouvintes, e Barbosa reconhece que há poucas ações de divulgação. No entanto, ele destaca que o número de ouvintes não é tão importante por se tratar de rádio laboratório, e que a prioridade é aumentar a quantidade de pessoas dentro da rádio. “Propaganda para o Jogando Ciência custaria caro. Você teria que colocar muito dinheiro nisso; dinheiro que poderia ir para formação de alunos, objetivo principal do projeto”, enfatiza.

“Imagine um paciente em uma clínica, entre quatro paredes, fazendo exercícios repetitivos e enfadonhos, voltados para seu problema. Na equoterapia, o paciente se encontra em ambiente aberto, em contato com a natureza, e não se foca na doença. O praticante é visto como ser holístico, um todo.”

André Melo (Professor Instituto Federal de Brasilia) – Projeto de equoterapia

* * *“Assim como um mapa de previsão do tempo, o mapa de ruídos permite saber o clima acústico e nível sonoro em cada local de uma cidade.”

Armando Maroja (Doutor em física, professor de ciências naturais/FUP) – Mapa de ruídos de Brasília

dEpoimEntos

Luiz Felipe

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Consciência política para criançasProjeto de extensão procura estimular o espírito crítico infanto-juvenil

Celina Guerra

Sobre o projetoO projeto nasceu por meio do Programa de Extensão Tutorial de Ciência Política (PET/POL), no final de

2002, com o nome Cidadania na Escola. No início, os assuntos em foco eram voto e eleições. Ao final das seis aulas que ocorriam ao longo do semestre, se elegia um representante de turma. Com isso, no entanto, havia o problema de conferir demasiada autonomia à criança, que por vezes a utilizava de maneira incorreta.

Assim, a iniciativa passou a se concentrar na aplicação da política no dia-a-dia dos estudantes, como maneira de resolver conflitos pertinentes à realidade de cada um. O objetivo é incentivar o diálogo entre alunos, professores e funcionários para alcançar metas e resolver conflitos em conjunto.

Desde o início até 2010, o projeto atuou apenas em escolas da Ceilândia. Depois de perceber a boa interatividade com o grupo desse local e a forte mobilização política presente na cidade, o grupo deixou a Ceilândia a fim de focar em diferentes lugares para explicação de práticas políticas. A partir do início deste ano o Política na Escola começou a agir na Cidade Estrutural e passou a atuar apenas no CEF2.

Sob justificativa do desafio de enfrentar a imagem desgastada que o termo política tem entre a população brasileira, surgiu, em 2003, o Política na Escola. A iniciativa é atividade de extensão ligada ao Instituto de Ciência Política (Ipol) da Universidade de Brasília (UnB). Neste ano, alunos integrantes atuam no Centro de Ensino Fundamental dois da Estrutural, localizado na Quadra dois Área Especial Conjunto um/dois.

O projeto é organizado por meio de aulas sobre política, além da realização de dinâmicas com os alunos participantes. Um exemplo é a “dinâmica dos grupos políticos”. Nela, os estudantes são agrupados aleatoriamente e, depois, questionados sobre como usar os três passos da participação – informar, comunicar e agir –

para resolver problemas que concernem à saúde, à educação e ao meio ambiente dentro da escola.

Além de quebrar preconceitos ligados à prática política, outro objetivo é estimular o espírito crítico nas crianças. Exemplo disso ocorreu neste ano, quando grade que dava acesso à área de lazer da escola foi trancada. As crianças participantes do projeto não aceitaram quietas tal determinação. “Conversamos com a diretora para saber a causa do fechamento e fizemos cartazesde protesto para a reabertura da grade”, narra João Pedro Soares, aluno do quinto ano do CEF2.

Participam da iniciativa em média 300 alunos do quarto e do quinto ano. Segundo Mariflor Jesus, diretora da escola, o projeto foi bem recebido pela

escola. “Tudo o que vem para agregar valor à educação das crianças é válido”, conta.

O Política na Escola é organizado de forma que nenhum participante tem maior poder de decisão sobre os outros. “Não há hierarquia, gostamos de ser pensados como grupo que decide em conjunto”, relata Fernanda Arrechea, aluna de serviço social da UnB, atuante no projeto há dois anos e meio. Ainda sobre o funcionamento da iniciativa, Ângela Batista, aluna de ciência política da UnB, integrante do projeto desde o primeiro semestre de 2011, completa: “Não queremos impor o nosso saber. Ao contrário, divulgamos a ideia de que o professor não deve ser visto como autoridade máxima dentro de sala de aula”.

EntEnda o caso

ExtEnsão

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Logo após entrar num galpão duplo com área total de 1800m², uma bancada de madeira recepciona visitantes. Nela há dezenas de revistas, adesivos e camisetas estampadas por carros; sobre móveis de vidro, mais de 400 miniaturas de automóveis, troféus de corrida e placas comemorativas. Uma biblioteca com mais de sete mil exemplares de publicações e livros relacionados ao tema se apresenta como o maior acervo especializado do país.

Trata-se do Museu do Automóvel de Brasília, localizado no Setor de Garagens, próximo ao

Modernização do Museu Virtual do Automóvel

Palácio do Buriti. Ao todo, 42 veículos contam a história automobilística brasileira, do começo ao fim do século 20. Estão lá, desde o DKW-Vemag, de 1958, apelidado Candango em homenagem aos trabalhadores da construção de Brasília, até o Fiat 147, de 1976, que surgiu como “o mais econômico dos nacionais” – palavras inscritas na placa que o acompanha. Pode-se fazer um recorte da trajetória política do Brasil com ajuda, por exemplo, de alguns modelos lançados no início da década de 60 pela Fábrica Nacional de Motores

Pedro Menezes

Projeto de extensão da Universidade de Brasília ajuda a salvar o espaço

ExtEnsão

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(FNM). São os nomeados JK e Jango que, em 1964, por conta da cassação dos direitos políticos dos dois ex-presidentes, tiveram os nomes trocados por FNM 2000 e Turismo Internacional Modelo Brasileiro (Timb), respectivamente.

Com possível despejo por parte do Governo Federal (entenda o caso), o museu tem por curador Roberto Nasser, um dos maiores colecionadores de automóveis do Brasil e doutor em antigomobilismo – palavra criada para designar manutenção e reparo de carros antigos. Nasser ajudou a formalizar o termo, presente no dicionário Houaiss, desde 2009. Além disso, o curador foi personagem principal da criação da placa preta– regulamentada, em 1998, pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), órgão máximo normativo da política de trânsito – a qual considera veículos de coleção aqueles fabricados há mais de 30 anos, que conservam características originais e integram coleção.

Mantido com verba arrecadada pela venda de ingressos (R$ 10 inteira e R$ 5 meia, isenção a alunos da rede pública de ensino),o museu sofre com a falta de visitantes – há dias não passam de dez, alto contraste com os cem mil que já o visitaram em sete anos de existência, pouco mais de 14000 pessoas por ano. Parte do serviço que o acervo necessita, como limpeza e restauração, é feito por voluntários, como Kefere Lúcio da Rocha, ex-instrutor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e colaborador do museu. Pedagogo por formação e especialista em mecânica, Kefere, movido pela paixão por carros antigos, ajuda durante brechas no horário de trabalho.

Novas perspectivas, porém, tentam recolocar o museu na agenda dos brasilienses e turistas. Por meio do Museu Virtual do Automóvel, fruto de um projeto de extensão de ação contínua (Peac) da Universidade de Brasília (UnB), dez alunos do curso de museologia do campus Darcy Ribeiro e engen-

Luiz Felipe

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Thiago Ito é um dos estudantes do curso de engenharia automotiva que trabalha na modernização do Museu doAutomóvel

haria automotiva da Faculdade UnB Gama (FGA), coordenados pela professora Maria de Fátima Souza, da FGA, trabalham para modernizar o museu. “O papel é de, inicialmente, criar um plano museológico. É por este documento que o museu virtual vai ser regido, ao serem defini-das prioridades e objetivos. Ao fim desse processo, cada bolsista vai trabalhar em uma área específica, como gestão, arranjo do acervo e desenvolvimento do ambiente virtual”, explica Larissa Menandro, estudante do terceiro semestre de museologia, no projeto há sete meses. Rafael Rodrigues da Silva, aluno do quinto semestre de engenharia automotiva e bolsista há um ano, expõe os objetivos do grupo: “Modelar virtualmente subsiste-mas automotivos e, posterior-mente, simular o funcionamento, de forma que os visitantes do museu possam compreender os mecanismos de forma mais clara”. A experiência de visitar o museu será mudada, como Rafael demonstra em um protótipo do site: “Pessoas conseguirão acessar o museu online, conferir o catálogo de carros com breve histórico, informações técnicas e curiosidades”.

Para Nasser, a virtualização dos carros é um “passo natural a ser tomado” no que diz respeito aos modelos que precedem a produção ou que são retomados para estudos históricos: “Henry Ford construiu o Modelo T praticamente sem desenho. Era um inventor. A possibilidade de

hoje termos até as mínimas peças modeladas é fantástica não só para a indústria automobilística, em que os projetos mais detalhados são absolutamente indispensáveis, mas para os alunos de engenharia e amantes de carro”.

Um cartaz com os escritos “em processo de montagem e estudo pelos alunos de engen-haria – UnB” destaca o atual trabalho dos alunos do projeto: desmontar e modelar em três di-mensões um carro de corrida de 1977, Fórmula V-Heze, perten-cente à categoria de competição Fórmula Vee, que durou de 1966 a 1982 e revelou à Fórmula 1 nomes como Emerson Fittipaldi. A modelação demanda cerca de 12 horas semanais e tem prazo de um ano para ficar pronta.

Segundo Nasser, a virtualização irá “abrir um leque imenso de novas possibilidades, principalmente a quem não tem interesse ou conhecimento sobre carros antigos”. A interatividade trabalhará no sentido de tornar o museu mais atrativo aos visitantes: poderão movimentar digitalmente milhares de peças que compõem um automóvel, uni-las em conjuntos como motor, transmissão ou carroçaria e simular funcionamento parcial ou integrado. Na carroçaria, por exemplo, o visitante poderá assistir ao processo que torna possível o movimento do volante e das múltiplas engrenagens envolvidas.

A proposta anima visitantes, como Gilberto Costa, 57 anos:

Luiz Felipe

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“Lembro do meu primeiro Fusca, comprei em 1979. Acho que, de tanto mexer nele, o conheci por inteiro. Meu filho, porém, nem chegou a vê-lo. A virtualização pode ser uma experiência fantástica aos mais novos, que, como ele, já nasceram na era digital”, diz, ao ver o filho, Lucas Henrique, 14 anos, entretido com motores do acervo. “Não basta mais só carros e placas explicativas, os tempos são outros e a tecnologia não pode ser ignorada. O Museu Virtual vai tornar mais vivo o Museu do Automóvel de Brasília”, conclui.

Desocupação da área do museu

Os dois galpões que o museu ocupa precisarão dar lugar a arquivos do Ministério dos Trans-

portes (MT). Desde 2009, o MT pede para reintegrar a posse do terreno na Advocacia-Geral da

União (AGU), e em setembro de 2010, foi dado prazo de 90 dias para que o museu desocupasse a

área pertencente ao Governo Federal. Após recurso movido por Nasser, obteve-se 180 dias, ven-

cidos em 30 de maio de 2011. Nova ação movida no Tribunal Regional Federal (TRF) solicita maior

tempo hábil para promover a mudança do acervo de carros e da biblioteca.

É desejo do MT utilizar o local como depósito para arquivos da extinta Rede Ferroviária Federal

Sociedade Anônima (RFFSA), empresa estatal criada em 1957 e que cobria grande parte do ter-

ritório brasileiro, até ser desativada em 2007. A justificativa é que o convênio entre União e Funda-

ção Memória do Transporte, entidade sem fins lucrativos que responsável pelo museu, foi rescin-

dido há mais de dez anos. Por meio de nota, o MT disse estar, juntamente com a AGU, em busca

de formas para cumprir a decisão judicial.

EntEnda o caso

Luiz Felipe

Luiz Felipe

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cEilândiaA Faculdade de Ceilândia (FCE), com cursos voltados para a área da saúde, é um dos campi da Universidade de Brasília (UnB) fora do Plano Piloto. Tendo as atividades iniciadas em 2008, a FCE utilizou, no começo, instalações do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ) da universidade até que as obras de adequação do campus provisório terminassem.

Tal campus divide o mesmo prédio com o Centro de Ensino Médio número quatro (CEM 04) da Ceilândia. Desde então, os cursos de enfermagem, farmácia, fisioterapia, gestão em saúde coletiva e terapia ocupacional, subordinados à FCE, aguardam o término da construção do campus definitivo.

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O primeiro bloco foi parcialmente entregue no segundo semestre de 2011 e está sendo utilizado. Os outros prédios, apesar dos constantes atrasos nas obras, ainda não foram entregues.

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A língua que a universidade quer falarGraduação em fonoaudiologia iniciará atividades no próximo ano, mas esbarra nas dificuldades de estrutura do campus

Entre os dias 13 e 23 de setembro, a reitoria, no campus Darcy Ribeiro, ficou ocupada. Cerca de oitenta estudantes da Faculdade de Ceilândia (FCE) se fixaram lá e centenas passaram para protestar contra o atraso nas obras que impede o funcionamento dos cursos. Eles chegaram a pedir o cancelamento do vestibular. Mas os integrantes do Conselho Universitário (Consuni) decidiram pela manutenção dos exames e, no segundo semestre de 2012, será criado curso para a formação de fonoaudiólogos.

A fonoaudiologia pode ser voltada para o lado mais clínico ou psicopedagógico e trabalha com quatro grandes vertentes, que também são especializações que os profissionais devem escolher: linguagem, voz, motricidade oral e audição. Motricidade oral, ou orofacial, é o campo que estuda e busca corrigir problemas nos movimentos do rosto ou da língua, por exemplo.

Professora da área básica da FCE, Tatiana Lavich explica: “Às

vezes, bebês prematuros nascem com problema e, para aprenderem a sugar, há esse trabalho”. Além disso, fonoaudiólogos tratam desde queimaduras a estágios pós-acidente vascular cerebral (AVC), passando por dificuldades do paciente na comunicação falada e, inclusive, na linguagem escrita.

Estrutura

Tatiana coordenou o Grupo de Trabalho (comumente chamado de GT) Novos Cursos, que organizou a graduação em fonoaudiologia. Segundo ela, os estudos começaram em fevereiro de 2010 com consultas à população de Ceilândia. Diana Pinho, diretora da FCE, salienta que esse é o modelo adotado pela Universidade de Brasília (UnB). “Tentamos construir a relação com a comunidade e pautar ações para atender às necessidades que ela tem”, afirma.

A professora Tatiana diz que “adequar os currículos das outras universidades para as diretrizes usadas em Ceilândia foi o principal

desafio”. O GT Novos Cursos teve de buscar parâmetros em outros estados para construir a matriz curricular da fonoaudiologia, uma vez que no Distrito Federal (DF) e Entorno, somente a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás e o Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (Uniplan) oferecem o curso. Os GTs tinham de ser formados apenas por professores da FCE, ou seja, nenhum fonoaudiólogo fez parte da criação do curso para a área, mas foram encaminhadas pesquisas sobre o assunto, como informa Tatiana. Carla Cavalcante, fonoaudióloga da Câmara dos Deputados, conta que a falta de oferta do curso nas universidades federais por aqui é um dos problemas enfrentados pela categoria. “O curso nas particulares é muito caro, a pessoa sai de lá e não ganha o que pagou”, afirma. Brasília não possui o curso, e por isso o número de profissionais vindos de fora e mais qualificados é alto. Mesmo quem se forma por aqui não tem mercado garantido.

Gabriel Goes

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cEilândia

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Mas as dificuldades da profissão vão muito além, assim como as defasagens na infraestrutura da UnB em Ceilândia.

O campus atual fica logo na saída da estação Guariroba do metrô de Brasília. É uma escola, o centro de ensino médio (CEM) número quatro de Ceilândia, que foi dividida para abrigar universitários e estudantes do ensino médio. Nessa partilha, os primeiros ficaram com dois banheiros, três laboratórios, cerca de dez salas de aula e algumas salas de professores, além de uma pequena biblioteca e um laboratório de informática. Tudo isso para aproximadamente 1,6 mil alunos. A copiadora é improvisada em um dos cantos, ladeada por tábuas de madeira, e o chão treme levemente quando o trem passa.

A diretora confirma tal precariedade: “Era para ficarmos aqui quatro semestres. Já estamos há sete”. Paulo Henrique Gomes, estudante de saúde coletiva, alega que há uma dificuldade imensa para pegar disciplinas optativas. “Querem ofertar, mas não tem espaço”, afirma.

Para a professora Paula Melo Martins, do curso de farmácia, o problema vem da “maneira politiqueira e a falta de articulação maior” com que processos de licitação e desenvolvimentos de um plano para as obras foram

conduzidos. Mesmo assim, ela acredita que não pode haver cancelamento do vestibular. Segundo ela, esse pedido foi mais um alerta dos alunos do que um objetivo. “O intuito era incomodar”, afirma. Ariane Soares, de terapia ocupacional, diz que “quem está de fora não tem nada a ver”, e por isso não pode ser prejudicado.

Mesmo com todos os problemas de infraestrutura, a fonoaudióloga Carla Cavalcante afirma que a introdução dessa área de formação na FCE terá ótimo impacto. Até porque, segundo ela, “sempre foi esperado da UnB um curso nessa área. A

UnB precisa ter essa possibilidade de graduação”. É também a opinião de Hélida Maia, colega de profissão de Carla. Mas as duas alertam para os problemas da categoria.

Profissão

“‘Ah, é uma profissão bonita’, a pessoa pensa. Mas é difícil. É muito mal remunerada”, conta Carla. Atualmente, existem 700 profissionais da área no Distrito Federal, o que é pouco para atender à população de mais de 2,5 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE em 2009. Mas,

Fonoaudióloga da Câmara dos Deputados, Carla Cavalcante acredita que o novo curso da UnB trará benefícios para a população, pois o número de profissionais nesta área está escasso

Gab

riel G

oes

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segundo Carla, o problema não deve ser visto desse ângulo. “Não tem pouco fonoaudiólogo. Tem pouco fonoaudiólogo no serviço público”, afirma. Isso se dá, segundo Hélida e Carla, porque há muita gente para atender, trabalha-se em excesso e a remuneração não é boa, e por isso há preferência pelo serviço privado.

Hélida, uma das duas únicas da profissão no hospital público em Ceilândia, faz o teste da orelhinha e atua na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) todos os dias, só com recém-nascidos. Ela atende mais de dez pacientes por plantão, mas não é suficiente. “Não há como atender toda a demanda”, lamenta. Nenhuma das duas

A fonoaudiologia, como profissão, foi idealizada na década de 30, mas só teve seu primeiro curso criado nos anos 60, na Universidade de São Paulo (USP). A regulamentação do exercício da prática profissional aconteceu em 1981, com a promulgação da Lei nº 6965, que autorizou a criação, inclusive, dos Conselhos Federal e Regionais. O Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) define as normas e atos que devem conduzir o exercício profissional e os oito Conselhos Regionais existentes fiscalizam o cumprimento dessas normas e são responsáveis também por expedir os documentos necessários à habilitação da atividade profissional, pois, sem ela, o exercício age na ilegalidade.

O fonoaudiólogo é um profissional da saúde, de atuação autônoma e independente, que exerce suas funções nos setores público e privado. É responsável por promoção da saúde, avaliação e diagnóstico, orientação, terapia, monitoramento e aperfeiçoamento

Silvia Maria Ramos, presidente do Conselho Regional de

Fonoaudiologia da 5ª. Região – Crefono-5

artigo

fonoaudiólogas sabe precisar o número de pacientes que buscam o serviço, mas Hélida informa que somente no Centro de Atendimento Médico Psicopedagógico (Comp) há uma fila que dura três anos. Carla, no entanto, acredita que o problema de falta de profissionais e desvalorização da área deve terminar. “É um ciclo. Agora está ruim, mas tende a ficar bom de novo”, diz. Para ela, nova geração de fonoaudiólogos mais qualificados surgirá quando a atual começar a se aposentar, com a abertura de cursos em instituições respeitadas, como a UnB. O serviço público também terá benefícios com convocação de profissionais dos concursos que já foram e dos que serão feitos.

Mesmo distante em tempo e estrutura, o curso está bem encaminhado, segundo informa Tatiana. Até porque, para ela, “há interesse no funcionamento para a UnB continuar recebendo recursos do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni)”. O fluxograma está definido e inclui disciplinas de acústica, psicologia, ortodontia e pedagogia, entre outras. O processo licitatório para contratação de professores foi aprovado e alguns fonoaudiólogos de outros estados já demonstraram interesse. O próximo passo é comprar equipamentos, que já contam com verba do programa.

de aspectos fonoaudiológicos. Exerce, também, atividades de ensino, pesquisa e administrativas. Segundo o CFFa, existem 35.504 profissionais da área registrados e ativos no Brasil. Eles podem atuar em unidades básicas de saúde, hospitais e maternidades, consultórios, domicílios, creches, escolas, asilos, empresas e meios de comunicação.

A criação do vestibular de Fonoaudiologia na UnB é de grande importância, pois será a primeira instituição federal a oferecer o curso na região norte e centro-oeste e propicia a formação de novos profissionais focados principalmente para atuar na rede pública.

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Pesquisa e interdisciplinaridade em campus inacabadoObras no novo edifício da unidade acadêmica não impedem funcionamento de projetos de especialização, mestrado e doutorado

Alannah Tobias

Antes mesmo de contar com as obras do edifício próprio con-cluídas, a Faculdade de Ceilândia (FCE) da Universidade de Brasí-lia (UnB) teve, em 2009, o início do funcionamento de dois pro-gramas de pós-graduação, em ensino e em ciências e tecnolo-gias em saúde. O primeiro pro-cesso seletivo desses segmentos para novos alunos ocorreu em setembro passado e teve mais de 90 inscritos para 24 vagas oferecidas. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) avaliou os cursos com nota quatro em um máximo de sete, no último le-vantamento. Ambos os projetos procuram atuar com a interdis-ciplinaridade. Os cursos buscam interface entre as diferentes áreas de trabalho na saúde.

Para fomento da pesquisa em educação dentro das ciências médicas, o programa de pós-graduação de ensino em saúde pretende discutir métodos e ma-

A Coordenação Nacional de Aperfeiçoamen-to de Pessoal de Nível Superior (atual Capes), criada em 11 de julho de 1951 pelo Decreto nº 29.741, tem objetivo de assegurar a existência de pessoal especializado em atender às neces-sidades dos empreendimentos públicos e priva-dos que visam o desenvolvimento do país. Em outras palavras, desempenha papel fundamental no crescimento da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados da Federação.

O sistema de avaliação, continuamente aper-feiçoado, serve de instrumento para a comu-nidade universitária na busca de um padrão de excelência acadêmica para os mestrados e dou-torados nacionais. Os resultados servem como base para que se formulem políticas para a área de pós-graduação, bem como para a expansão das ações de fomento (bolsas de estudo, auxí-lios, apoios).

A avaliação compreende acompanhamento anual e avaliação de três em três anos de des-empenho de todos os programas e cursos que integram o Sistema Nacional de Pós-graduação, (SNPG). Os resultados, expressos por nota na escala de um (mínima) a sete (máxima), funda-mentam a deliberação do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do Ministério da Educação (MEC) sobre quais cursos devem ter o reconhe-cimento no triênio subsequente.

saiba mais

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teriais para cursos superiores da área. Com isso, componentes do projeto entendem que melhoras nos estudos fisiológicos ajudam a preparar profissionais capac-itados para atender recursos humanos no Serviço Único de Saúde (SUS).

Uma das áreas de concentra-ção do programa de mestrado e doutorado em ciência e tecnolo-gia em saúde é a de mecanismos básicos e processos biológicos. Tal área estuda principalmente os fatores físicos e químicos apli-cados no tratamento do corpo humano. Essa parte do programa de pós-graduação é subdividida em duas linhas de pesquisa: a de mecanismos moleculares e fun-cionais da saúde humana, que investiga processos infecciosos a fim de buscar estratégias para di-agnóstico, prevenção, controle e tratamento de doenças; e a linha de nanotecnologia aplicada à saúde, que objetiva desenvolvê-la partir de modelos técnicos ex-

perimentais. Outra parte do pro-grama de mestrado e doutorado em ciência e tecnologia em saúde é a de promoção, prevenção e in-tervenção em saúde. Nela, atuam graduados dos cursos de farmá-cia, terapia ocupacional, fisiote-rapia e gestão em saúde coletiva. As linhas de pesquisa desse seg-mento são divididas em saúde, educação, ambiente e trabalho; saúde, funcionalidade, ocupação e cuidado; e estratégias interdis-ciplinares em promoção, preven-ção e intervenção em saúde.

Sem nem ao menos ter alu-nos de graduação formados – a primeira turma ainda cursa o oitavo semestre –, a FCE possui elevada produção acadêmica (ver quadro), mesmo com todos os problemas de estrutura. O campus ainda é provisório e es-tudantes da FCE dividem espaço com o Centro de Ensino Médio número quatro (CEM 04). Mes-mo assim, os professores dos programas de pós-graduação

A falta de espaço e de estrutura física não foi obstáculo para criação e sucesso do programa de pós-graduação

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André Vaz

Números da pós da FCE:

Extrato consolidado da produção de 2008 a 2010 dos 22 docentes que participaram da proposta inicial encaminhada para avaliação da Capes:

0,59 livros publicados por docente2,36 capítulos de livro publicados por docente9,14 artigos publicados em periódicos internacionais por docente4,5 artigos publicados em periódicos nacionais por docente3,03 trabalhos completos publicados em anais de congresso por docente3 registros de patente de autoria de dois dos docentes1,5 projetos financiados por agência de fomente por docenteDados fornecidos pela Faculdade da Ceilândia (FCE).

trabalham para desenvolver ainda mais os projetos, principalmente com a inaugu-ração do novo prédio da FCE. “Não trabal-hamos mais com prazos do governo. Agi-mos como podemos, dentro dos nossos limites. Estamos onde estamos graças às nossas ações e vontade de desenvolver a área de saúde como propõe o SUS e tam-bém em dar retorno à sociedade”, afirma o professor e coordenador adjunto do programa Emerson Fachin.

Emerson Fachin, professor e coordenador adjunto do programa de pós-graduação, acredita que o sucesso do programa se deve à von-tade de desenvolver uma área de saúde digna à sociedade

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Colégio vive com impacto da presença universitáriaPermanência do ensino superior em escola pública gera oportunidades e obstáculos

Igor Caldas

Quase 1,5 mil alunos da Faculdade da Ceilândia (FCE) compartilham mesmo prédio com o Centro de Ensino Médio número quatro (CEM 04). A convivência acontece desde 2008, quando a Universidade de Brasília (UnB) e o Governo do Distrito Federal (GDF) durante gestão do governador José Roberto Arruda, firmaram parceria para a instalação provisória da FCE no CEM 04 até o término das obras da sede do campus, prevista para que durassem apenas um ano. Mas sucessivos atrasos na construção aumentaram a espera para três. A única comunicação que existe entre as duas unidades, no mesmo edifício, é uma porta de vidro vigiada por seguranças do campus. Mas tal separação não impede o convívio entre universitários e escolares.

Para o diretor do CEM 04, Nilson Magalhães, a convivência do ensino médio com universitários possui dificuldades. “Quando aqui tem eventos como feiras de ciência,

Ao atravessar a porta de vidro que separa o ambiente universitário do ambiente escolar, alunos do ensino médio encontram oportuni-

dades de aprendizagem e trabalho

por exemplo, acabamos por atrapalhar o pessoal da UnB, do mesmo jeito que eles nos atrapalham quando transitam do campus ao auditório, que fica do nosso lado, ao desviar a atenção de nossos

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estudantes”, explica. Mas Magalhães também ressalta as vantagens do convívio. Segundo ele, a aproximação entre as duas unidades ajuda a habituar o vestibulando à rotina universitária. No primeiro vestibular de 2011, o CEM 04 teve quatro alunos aprovados para o curso de engenharia na Faculdade do Gama (FGA) da UnB. Para Magalhães, os frutos da convivência devem permanecer por mais tempo depois da finalização da obra do campus da FCE. “A UnB deveria manter alguns laboratórios aqui, até para que a convivência entre escola e universidade seja mantida”, diz.

Com o intuito de integrar o ensino médio com a universidade, docentes da FCE oferecem vagas de estágio a alunos do CEM 04. Raflem Matos, 17, cursa terceiro ano e trabalha sob a supervisão da professora Kátia Menezes, da terapia ocupacional, como auxiliar administrativo em um dos laboratórios do campus. “A UnB precisava de estagiários, aí os professores de lá passaram em cada sala procurando pelos melhores alunos, que

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ré VazcEilândia

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estudantes”, explica. Mas Magalhães também ressalta as vantagens do convívio. Segundo ele, a aproximação entre as duas unidades ajuda a habituar o vestibulando à rotina universitária. No primeiro vestibular de 2011, o CEM 04 teve quatro alunos aprovados para o curso de engenharia na Faculdade do Gama (FGA) da UnB. Para Magalhães, os frutos da convivência devem permanecer por mais tempo depois da finalização da obra do campus da FCE. “A UnB deveria manter alguns laboratórios aqui, até para que a convivência entre escola e universidade seja mantida”, diz.

Com o intuito de integrar o ensino médio com a universidade, docentes da FCE oferecem vagas de estágio a alunos do CEM 04. Raflem Matos, 17, cursa terceiro ano e trabalha sob a supervisão da professora Kátia Menezes, da terapia ocupacional, como auxiliar administrativo em um dos laboratórios do campus. “A UnB precisava de estagiários, aí os professores de lá passaram em cada sala procurando pelos melhores alunos, que

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foram os escolhidos”, explica Matos. Ao todo, nove estudantes recebem bolsa de R$ 355. “Acho pouco, mas é bom para eu ganhar meu próprio dinheiro”, diz.

Algumas vezes, alunos e professores passam por adversidades devido às diferenças de condutas toleradas entre os dois ambientes. “Eu já tive de intervir alunos da universidade que se beijavam no pátio do ensino médio. Pode parecer normal em ambiente de ensino superior, mas não é permitido no ambiente escolar”, diz James Oliveira, supervisor pedagógico do CEM 04. É proibido fumo e demonstrações de namoro nas escolas públicas. “Quando os alunos da FCE vêm usar o auditório, a gente tem que ficar de olho. Às vezes eles esquecem que aqui é um colégio”, completa Oliveira.

Apesar de o impacto da presença da UnB no CEM 04 ser grande, universitários da FCE pouco conversam com os alunos do ensino médio. “Não vejo nenhuma tentativa de interação nossa com o pessoal do colégio. Às vezes, eles fazem algumas brincadeirinhas com as meninas da

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À espera de prédio próprio

O programa de expansão da Universidade de Brasília (UnB) previa, em con-vênio com o Governo do Distrito Federal (GDF), construção de uma faculdade voltada às ciências da saúde em Ceilândia. Para que fosse concluído ainda na gestão Arruda (2007-2010), o campus foi entregue ainda em obras e, para tanto, o núcleo de prática jurídica da Faculdade de Direito da UnB da cidade foi usado como sede provisória. Depois, o centro de ensino médio (CEM) número quatro teve parte de suas instalações cedidas à universidade. A promessa era de que em um ano os alunos da UnB seriam transferidos para a sede definitiva. Mas já se passaram três anos e a Facuçdade de Ceilância (FCE) ainda utiliza o espaço físico do colégio.

universidade. Mas não há hostilidade por parte deles, também”, comenta Priscilla Duhau, do quinto semestre de gestão em saúde coletiva. O convívio com estudantes do CEM 04 torna o ambiente da faculdade pouco condizente com a atmosfera acadêmica de uma universidade, como diz Karen Fernandes, da fisioterapia. “Não temos espaço suficiente para aulas, as salas são apertadas, o auditório tem de ser dividido e temos que ir para a obra

inacabada do campus usarmos os laboratórios”, comenta. Os problemas estruturais também são sentidos no CEM 04. “A cantina do nosso colégio foi substituída pela sala de professores da UnB. Isso impede que seja preparado qualquer tipo de alimento para compor a merenda. Então são oferecidos apenas alimentos prontos pra gente: cereais, leite em pó, biscoito, essas coisas”, conta Tábita Raiane, 18, do terceiro ano.

Histórico

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Conexão UnB é a revista-laboratório da disciplina Técnicas de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília ministrada pelo professor Paulo Paniago. Composta em Linotype Veto e Helvetica Neue para publicação online. Não se recomenda impressão. Editado em Brasília - DF

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UnB

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