condições de saúde da população brasileira

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condições de saúde da população brasileira

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  • BARATA, R. B; RIBEIRO, M. C. S. Condies de Sade da Populao Brasileira. In: GIOVANELLA, Ligia; ESCOREL, Sarah; LOBATO, Lenaura. Polticas e Sistema de Sade no Brasil. Rio de Janeiro- Ed. FIOCRUZ, 2008. 143-181.

    CONDIES DE SADE DA POPULAO BRASILEIRA

    Manoel Carlos Sampaio de Almeida Ribeiro; Rita Barradas Barata

    Entendemos por condies de sade da populao um conjunto de informaes

    sobre o estado de sade e sobre os principais problemas de sade que uma populao

    apresenta. As condies de sade da populao apresenta. As condies de sade da

    populao decorrem de um conjunto amplo e complexo de fatores relacionados com o

    modo como as pessoas vivem.

    Esses modos de vida sofrem modificaes ao longo do tempo, refletindo as

    mudanas histricas na organizao da sociedade e as formas como so repartidos o poder

    e a riqueza entre os diferentes grupos sociais. Os fatores determinam a ocorrncia e a

    distribuio da sade e da doena em populaes incluem aspectos econmicos, sociais,

    polticos, culturais e simblicos, ou seja, as formas como as pessoas compreendem a

    sade e a doena. Alm desses elementos, so tambm fundamentais para a determinao

    das condies de sade: a poltica de sade e a organizao do sistema de prestao dos

    servios de sade existentes em cada sociedade.

    ______________________________________________________________________

    Leia mais sobre as origens, os componentes e a dinmica dos sistemas de sade no

    captulo 3.

    Alm da mudana histrica, as condies de sade esto sujeitas a grandes

    variaes no interior de uma mesma sociedade em uma mesma poca histrica. Este

    padro de distribuio da sade e da doena segundo as caractersticas ou os modos de

    vida das classes sociais chamado de perfil epidemiolgico de classe.

    Em outras palavras, os modos de vida dos grupos populacionais produzem

    determinados padres de adoecimento e de manuteno da sade que variam de sociedade

    para sociedade, de classe social para classe social, entre as famlias e, finalmente, entre

    os indivduos, em um mesmo momento de tempo e entre diferentes momentos de tempo.

    Conhecer estes perfis importante para orientar a tomada de deciso no mbito

    da formulao e implementao das polticas de sade. Conhecer as necessidades de

    sade da populao fundamental para o planejamento dos recursos materiais, humanos

    e financeiros necessrios, para a escolha das formas de organizao mais apropriadas ao

    enfrentamento dos problemas e para a avaliao dos possveis impactos das intervenes

    adotadas.

  • Este captulo discute como avaliar as condies de sade no mbito populacional,

    apresentando, inicialmente, os indicadores disponveis para medir as condies em quatro

    dimenses complementares: o estado de sade, o perfil de morbidade, o perfil de

    mortalidade e a distribuio populacional de alguns fatores de risco.

    praticamente impossvel abranger, em um nico estudo, todos os componentes

    das condies de sade. Assim, opta-se geralmente por analisar os indicadores

    considerados mais importantes para a caracterizao da condio geral. Para cada

    indicador a ser apresentado, possvel pensar em inmeras abordagens, levando em conta

    os diferentes grupos populacionais definidos por idade, gnero, nvel socioeconmico,

    rea de residncia, comportamentos, tipos de exposio etc.

    Tendo em vista a limitao de espao de um captulo de livro, optamos por

    apresentar apenas algumas caractersticas desses indicadores e selecionar alguns

    problemas de sade. Para avaliara a sade em geral da populao, escolhemos dois

    indicadores que resumem a condio geral: a autoavaliao do estado de sade e a

    esperana de vida ao nascer. Ambos so indicadores globais, ou seja, no tratam de

    problemas de sade especficos ou de determinadas doenas, mas se referem ao estado de

    sade geral. Para caracterizar o perfil de morbidade, selecionamos alguns problemas de

    sade com alta incidncia, isto , com grande nmero de casos, mas que no aparecem

    entre as principais causas de mortalidade os casos podem ser, em sua maioria,

    adequadamente tratados, evitando assim os bitos. Outra caracterstica dos problemas

    mencionados no perfil de morbidade a existncia de informaes regularmente

    registradas sobre os mesmos. Existem problemas que, apesar de muito constantes, no

    so registrados e, portanto, no podem ser utilizados no diagnstico da condio de sade.

    No perfil de mortalidade, sero abordados os indicadores mais relevantes e

    algumas causa de bito muito frequentes, permitindo, assim, completar o diagnstico

    sobre os problemas de sade mais importantes da populao brasileira, seja pela

    frequncia dos casos, seja pela frequncia dos bitos.

    Finalmente, trataremos de alguns fatores de risco associados a vrios problemas

    de sade e que tm merecido a ateno da Organizao Mundial da Sade (OMS) na

    orientao dos programas de promoo da sade em mbito mundial.

  • ______________________________________________________________________

    No captulo 4, voc encontrar mais informaes sobre promoo da sade.

    ______________________________________________________________________

    Conceito de risco

    Em epidemiologia, a palavra risco significa possibilidade de ocorrncia. Assim, se quisermos saber qual o risco de um morador da cidade de Salvador adquirir cncer de

    pele, teramos de calcular a probabilidade de uma pessoa pertencente populao de

    Salvador ter esse diagnstico. A probabilidade dada pela relao entre o nmero de

    casos diagnosticados em um ano e a populao residente nesse mesmo ano.

    COMO FAZER PARA AVALIAR AS CONDIES DE SADE DA

    POPULAO?

    No h como avaliar as condies de sade atravs de uma s medida. Para

    podermos traar um panorama populacional das condies de sade, precisamos lanar

    mo de um conjunto de indicadores que podem ser agrupados em: 1) indicadores de

    mortalidade; 2) indicadores de morbidade; 3) indicadores de exposio a fatores de risco;

    4) indicadores de estado de sade.

    Tosos os indicadores podem ser construdos e analisados para a populao como

    um todo ou para grupos populacionais definidos por idade, gnero, etnia e classe ou

    estrato social. Alm desses indicadores construdos a partir de informaes individuais,

    as condies de sade podem ser avaliadas segundo o local de residncia, produzindo

    uma informao agregada para a populao residente.

    Indicadores de mortalidade

    Os indicadores de mortalidade tradicionalmente tm sido usados como

    indicadores de sade. Pode parecer paradoxal que se utilizem taxas de mortalidade para

    indicar as condies de sade. Entretanto, como os registros de bito so obrigatrios, a

    disponibilidade dessa informao para a maioria das populaes no mundo levou a OMS

    a propor diferentes taxas de mortalidade como indicadores de sade.

    No Brasil, todos os bitos devem ser declarados em um formulrio padronizado,

    no qual constam informaes sobre o indivduo, as causas do bito e o mdico

    responsvel pelo atendimento. Os dados so registrados no Sistema de Informaes sobre

    Mortalidade (SIM). Estes dados so computados pelo Datasus, rgo encarregado do

    processamento dos dados no Sistema nico de Sade (SUS). Dispomos de todos os dados

    correspondentes aos bitos ocorridos no pas segundo idade, sexo, causa bsica, ano de

    ocorrncia, local de residncia e de ocorrncia. Para construir as taxas, precisamos de

    dados sobre os bitos (numerador) e dados sobre a populao (denominador). Todos os

    dados podem ser obtidos pela internet (www.datasus.gov.br).

  • Principais indicadores de mortalidade

    Taxa de mortalidade geral = risco de morrer em uma populao

    Taxa de mortalidade infantil = risco de morrer antes de completar 1 ano de idade

    Taxa de mortalidade neonatal = risco de morrer antes de completar 1 ms de idade

    Taxa de mortalidade na infncia = risco de morrer antes de completar 5 anos de idade

    Taxa de mortalidade por causa especficas

    Taxa de mortalidade por sexo ou cor

    Taxa de mortalidade por classe social

    Indicadores de morbidade

    Outros indicadores usados para avaliar as condies de sade so as taxa de

    ocorrncia de doenas para as quais existem registros sistemticos. Basicamente, os

    pases tm registro das doenas de notificao compulsria, ou seja, aqueles que

    apresentam maior potencial de disseminao na populao. A lista dessas doenas

    especfica para cada pas. Outro dado de morbidade disponvel em certos pases, inclusive

    Brasil, referente s internaes hospitalares. Finalmente, em algumas cidades, existem

    registros hospitalares ou populacionais de pacientes diagnosticados com cncer.

    ______________________________________________________________________

    Leia mais sobre doenas de notificao compulsria no captulo 22, sobre vigilncia

    epidemiolgica.

    ______________________________________________________________________

    Diferentemente do registro de bitos, que universal, os registros de doena no

    alcanam todos os eventos existentes na populao. Por exemplo, os casos de resfriado

    comum no so registrados regularmente. Para conhecer sua ocorrncia, necessrio

    realizar pesquisas desenhadas para este fim. Outra particularidade dos dados sobre

    doenas que o mesmo indivduo tem mais de um episdio de doena ao longo da sua

    vida e, para doenas crnicas, existem vrios episdios para o mesmo indivduo ao longo

    da vida.

    Uma maneira de conhecer o perfil de doenas na populao utilizar os dados

    registrados como indicativos do perfil de morbidade, sabendo, porm, que apenas parte

    da morbidade estar sendo avaliada.

    Principais indicadores de morbidade

    Taxa de incidncia pela doena A = risco de adquirir a doena A = nmero de casos novos

    diagnosticados em um perodo de tempo dividido pela populao exposta nesse mesmo

    perodo.

    Taxa de prevalncia pela doena A = estoque de casos da doena A = nmero de casos

    conhecidos da doena A em um perodo de tempo dividido pela populao exposta nesse

    mesmo perodo.

  • Alguns sistemas de informao do SUS

    Nome Fonte Principais informaes

    SIM Sistema de Informao de

    Mortalidade

    Declarao de bito Causa bsica do bito, dados

    demogrficos, local de ocorrncia e

    residncia e caractersticas de bitos

    fetais

    SINAN Sistema de Informaes de Agravos

    de Notificao

    Compulsria

    Fichas de notificao e

    investigao de doenas

    Caractersticas clnicas e

    epidemiolgicas das doenas de

    notificao compulsria

    SINASC Sistema de Informao de Nascidos

    Vivos

    Declarao de nascido

    vivo

    Caractersticas da me (residncia,

    idade, escolaridade), da criana (sexo,

    cor, peso, Apgar), da gestao

    (durao, tipo) e do parto

    SIH Sistema de Informaes

    Hospitalares

    Internaes Hospitalares

    pblicos e conveniados

    ao SUS

    Caractersticas do paciente (sexo,

    idade, residncia) e da internao

    (CID, procedimentos, durao da

    internao, valor)

    SIAB Sistema de Informaes da Ateno

    Bsica

    Fichas da Estratgia

    Sade da Famlia (ESF)

    Cadastro de famlias, condies de

    moradia e saneamento, situao de

    sade (hipertensos, diabticos,

    portadores de tuberculose),

    acompanhamentos

    Indicadores de exposio a fatores de risco

    Como discutido no captulo anterior, os determinantes de sade so diversos e

    complexos e pertencem a diferentes dimenses da realidade. Os estudos epidemiolgicos

    buscam identificar alguns fatores ou circunstncias que podem estar associados maior

    probabilidade de ocorrncia das doena. Estes fatores so chamados de fatores de risco,

    ou seja, situaes ou condies que aumentam o risco.

    H um conjunto amplo de fatores j estudados. Entre os mais importantes, esto:

    consumo de cigarros, uso de lcool, sedentarismo e obesidade/desnutrio. A distribuio

    populacional dessas condies tambm um elemento que permite avaliar a condio de

    sade, ajudando a prever a taxa de doena que a populao poder apresentar.

    O Brasil monitora, desde 2006, alguns desses fatores de risco por meio do Sistema

    de Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito

    Telefnico (Vigitel), que obtm informaes, por meio de amostras probabilsticas das

    capitais brasileiras, sobre a populao de adultos residentes em domiclios servidos por

    pelo menos uma linha telefnica fixa no ano.

  • Indicadores do estado de sade

    Mais recentemente, os autores insatisfeitos com a utilizao de indicadores

    indiretos como so as taxas de morbidade e mortalidade passaram a buscar indicadores

    positivos de sade. Um bom indicador a autoavaliao do estado de sade.

    Habitualmente, este indicador de estado de sade obtido atravs de uma simples

    pergunta: Em geral voc diria que seu estado de sade ... (ou com alguma pequena

    variao em sua formulao), com opes de resposta em escala. Esta pergunta

    geralmente faz parte de instrumentos que avaliam a qualidade de vida.

    Estudos longitudinais (pesquisas nas quais grupos de indivduos so

    acompanhados ao longo do tempo para avaliar os desfechos) mostram que a avaliao

    que os prprios indivduos fazem de seu estado de sade bastante precisa, isto , tem

    relao com seu estado de sade objetivamente (GOLDBERG et al., 2001).

    Os inquritos populacionais, incluindo a autoavaliao do estado de sade, tm

    sido amplamente utilizados em diversos estudos epidemiolgicos e, alm de serem de

    fcil aplicabilidade, indicam possveis doenas de que a pessoa portadora. Estudos

    mostram sua associao com condio socioeconmica, qualidade de vida, risco de morte

    e utilizao dos servios de sade (SANTOS, 2007).

    Para a populao brasileira, os dados disponveis sobre a autoavaliao do estado

    de sade so provenientes dos Suplementos de Sade da Pesquisa Nacional por Amostra

    de Domiclios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

    Um indicador tradicional que pode ser tomado como indicador global de sade

    a esperana de vida. Ela calculada utilizando-se as taxas de mortalidade por idade

    observadas na populao cujas condies de sade se quer avaliar, aplicando-se a uma

    populao hipottica para estimular o nmero de anos que, em mdia, os indivduos que

    pertencem a esta populao podem esperar viver a partir de seu nascimento (ou em

    qualquer idade). Assim, a esperana de vida uma estimativa das condies de sade em

    um determinado momento.

    Condies de sade no Brasil

    Utilizando-se parte dos indicadores mencionados, podemos traas uma avaliao

    das condies de sade no Brasil. Sempre que possvel, apresentaremos dados de

    tendncias histricas que permitam apreciar as mudanas nas condies de sade que

    acompanham as mudanas gerais observadas na sociedade.

    At meados do sculo XX, a populao brasileira era predominantemente rural e

    a economia do pas dependia fundamentalmente da produo agrcola de exportao. A

  • partir da segunda metade do sculo XX, o pas passou um importante processo de

    industrializao e urbanizao. As condies de sade refletem essas mudanas. Se

    analisarmos as condies de sade na primeira metade do sculo XX, mesmo com a

    precariedade dos dados disponveis, iremos identificar a predominncia de problemas de

    sade associados s caractersticas da vida rural, enquanto na segunda metade

    observaremos o predomnio de problemas relacionadas com as condies de vida urbana.

    O processo demogrfico da populao brasileira no Grfico 1. O crescimento

    vegetativo da populao resultante da diferena entre as taxas de natalidade e

    mortalidade em cada perodo do tempo.

    No incio do perodo analisado, a diferena entre a taxa de natalidade e a taxa de

    mortalidade era igual a 28,6 em cada mil, ou seja, a cada ano a populao crescia cerca

    de 2,8%. Este crescimento alto se manteve at 1965. Entre 1965 e 1980, a queda na

    natalidade foi mais proeminente do que a queda na mortalidade, reduzindo o crescimento

    a 2,3% ao ano. Entre 1985 e 2005, a reduo da natalidade apresentou-se ainda mais

    acentuada, reduzindo a taxa de crescimento populacional a 1,2% no quinqunio de 2000

    a 2005.

    Grfico 1 Taxa de natalidade, mortalidade e populao. Brasil 1950-2005

    Fonte: IBGE, 2007.

    A noo de transio epidemiolgico que aparece em alguns textos inadequada

    para caracterizar a complexidade das relaes entre condies de vida e situao de sade

    e, por isso, no vamos utiliz-la aqui. As principais crticas a esse conceito so: ele adota

    uma viso simplista de evoluo entre doenas carenciais e doenas da abundncia,

  • que no encontra respaldo nem na teoria sobre o processo sade-doena, nem nos dados

    empricos; supe uma sucesso de fases pelas quais todas as populaes passariam, o que

    tambm no se verifica historicamente. Preferimos, portanto, trabalhar com o conceito de

    complexidade, que mais apropriado para retratar o quadro multifacetado que caracteriza

    as condies de sade em todas as populaes.

    Estados de sade

    Tradicionalmente, as condies de sade de uma populao eram avaliadas pela

    falta de sade, isto , pela ocorrncia de bitos e doenas. Mais recentemente, vrios

    indicadores foram desenvolvidos para avaliar diretamente o estado de sade. Entre eles,

    a autoavaliao do estado de sade se mostrou um bom indicador, facilmente obtido em

    inquritos nacionais. Este indicador vem sendo utilizado em pesquisas norte-americanas

    h cerca de duas dcadas. No Brasil ele foi utilizado nas Pnads (1998, 2003 e 2008) e na

    Pesquisa Mundial de Sade.

    A autoavaliao do estado de sade sofreu pequenas variaes entre 1998 e 2008

    (Tabela 1). Em 2008, 77,3% da populao classificou sua sade como muito boa e boa;

    19% como regular; 4% como ruim e muito ruim. Entretanto, a estratificao da populao

    por idade e sexo, renda per capita e regies geogrficas mostra variaes nesta

    distribuio (DACHS & SANTOS, 2006; IBGE, 2008).

    Tabela 1 Autoavaliao do estado de sade por idade. Brasil 2008

    Idade (anos) Muito boa (%) Boa (%) Regular (%) Ruim (%) Muito ruim (%)

    14 a 44 23,8 58,8 15,4 1,6 0,4

    45 a 64 12,3 46,5 33,3 6,4 1,5

    65 a 84 7,3 35,1 43,3 11,1 3,0

    85 e mais 5,5 30,6 41,3 7,3 5,3 Fonte: IBGE, 2008.

    Os dados mostram que, medida que as idades aumentam, o estado de sade

    percebido tente a piorar. Para 83% dos indivduos de 14 a 44 anos, o estado de sade

    percebido bom ou muito bom. J no grupo dos maiores de 84 anos, esta proporo cai

    para 37%. O inverso pode ser observado para a classificao do estado de sade como

    ruim ou muito ruim. Entre jovens e adultos, 2% adotam essa classificao, enquanto 23%

    dos idosos com mais de 84 anos consideram sua sade ruim ou muito ruim (Tabela 1).

    As mulheres tendem a avaliar seu estado de sade como pior quando comparado

    com a percepo dos homens. Estas diferenas so atribudas, em parte, a diferenas de

    gnero, isto , a aspectos culturais que diferenciam a percepo de homens e mulheres; e,

    em parte, a diferenas biolgicas ligadas ao ciclo reprodutivo. As diferenas culturais

  • parecem ser mais importantes, uma vez que em todas as idades o mesmo padro se repete,

    no estando restrito idade reprodutiva. O mesmo padro pode ser observado na maior

    parte das populaes humanas.

    Na Tabela 2, no quintil superior de renda, isto , as pessoas com renda per capita

    de R$ 730,00 a R$ 150.000,00 por ms, em 2008, tendem a perceber sua sade como

    melhor do que as demais.

    Tabela 2 Autoavaliao do estado de sade segundo quintis de renda per capita.

    Brasil 2008

    Renda per capita (R$) Muito bom e bom Regular Ruim e muito ruim

    0 145 76,2 19,9 3,9

    145 259 75,1 20,8 4,1

    260 414 76,2 19,9 3,8

    415 729 74,2 21,2 4,6

    730 150.000 83,5 14,4 2,2 Fonte: IBGE, 2008.

    Para refletir

    Quais seriam as possveis explicaes para a distribuio encontrada de autoavaliao

    do estado de sade por renda per capita?

    Existem tambm diferenas na avaliao do estado de sade segundo as regies

    brasileiras, que, por sua vez, refletem os distintos graus de desenvolvimento econmico

    e social, a composio etria da populao e a distribuio de renda existente em cada

    regio. A melhor situao observada na regio Sudeste, onde 80% das pessoas

    classificam sua sade como boa ou muito boa. As regies Sul e Centro-Oeste apresentam

    proporo um pouco menor de indivduos com sade boa ou muito boa (78%). As piores

    condies so observadas nas regies Norte e Nordeste, onde 76% e 73% dos indivduos,

    respectivamente, consideram sua sade boa ou muito boa (IBGE, 2008).

    Se pretendssemos avaliar as condies de sade da populao brasileira usando

    apenas este indicador, poderamos dizer que as condies so regulares ou ruins, pois

    17% a 25% das pessoas declaram ter sade regular, ruim ou muito ruim, o que um

    percentual alto. A comparao com dados do inqurito nacional de sade dos Estados

    Unidos mostra condio pior para a populao brasileira por idade, gnero e cor (IBGE,

    2008).

    Esperana de vida ao nascer

    A esperana de vida ao nascer resume o impacto da mortalidade em uma

    populao, e por isso ela utilizada como indicador global de sade. No Brasil, segundo

    informaes do IBGE, a esperana de vida em 1910 era apenas 34,6 anos para a populao

  • feminina e 33,4 anos para a masculina. Estes dados significam que, dada a situao de

    vida na poca, os brasileiros poderiam esperar viver em mdia at 33 ou 34 anos. Estes

    valores eram fortemente afetados pelo alto risco de morrer nos primeiros anos de vida.

    O Grfico 2 mostra a evoluo da esperana de vida da populao brasileira entre

    1940 e 2000. Nesse perodo, a esperana de vida ao nascer passou de 42,7 anos para 68,6

    anos. Os maiores aumentos foram observados entre 1960 e 1970 (nove anos de acrscimo)

    e entre 1980 e 1990 (setes anos de acrscimo). Na dcada de 1990, a esperana de vida

    ao nascer apresentou discreta diminuio em consequncia dos impactos da epidemia de

    Aids e do aumento da violncia urbana.

    Grfico 2 srie histrica da esperana de vida ao nascer da populao brasileira

    1940-2000*

    *Assinalamos alguns marcos das polticas de sade no perodo considerado. No h nenhuma relao direta de causa e efeito entre elas e a esperana de vida. Pretendemos apenas situar historicamente ambos os fenmenos.

    Fonte: IBGE, 2007.

    A esperana de vida para a populao brasileira em 2008 foi de 73 anos, ou seja,

    uma pessoa nascida no Brasil pode viver, em mdia, 73 anos. Assim como para o

    indicador anterior, possvel observar diferenas por gnero. Para os homens, a esperana

  • de vida de 69 anos e para as mulheres, 77 anos. Em todas as populaes e para todas as

    idades, a esperana de vida maior para as mulheres. Porm, a grande diferena de oito

    anos observada no Brasil decorrncia do excesso de mortes violentas que esto mais

    concentradas entre os homens jovens (RPSA, 2009).

    Entre as regies brasileiras tambm se observam diferenas, sendo que a menor

    esperana de vida a populao do Nordeste (70 anos) e a maior a da regio Sul (75

    anos). Em todas elas, notam-se as diferenas j assinaladas por gnero, variando entre

    seis e oito anos a favor das mulheres conforme a regio. Entre 1991 e 2008, a esperana

    de vida aumentou em seis anos para homens e em sete anos para as mulheres (RIPSA,

    2009).

    Em termos mundiais, o pas lder o Japo, com esperana de vida de 83 anos

    (Tabela 3). Entre os 192 pases membros da Organizao das Naes Unidas (ONU), o

    Brasil est na posio 82. Portanto, na posio mediana: metade dos pases tem esperana

    de vida maior do que a nossa. Com base neste indicador, tambm poderamos classificar

    as condies de sade no Brasil como regulares.

    Tabela 3 Esperana de vida (EV) ao nascer para pases selecionados 2005-2010

    Pas EV Pas EV Pas EV

    Angola 48,1 BRASIL 72,9 Canad 81,0

    Moambique 48,4 Arglia 72,9 Espanha 81,3

    frica do Sul 52,0 Argentina 72,9 Sucia 81,3

    ndia 64,4 EUA 79,6 Itlia 81,4

    Bolvia 66,3 Grcia 79,7 Austrlia 81,9

    Egito 70,5 Reino Unido 79,8 Japo 83,2 Fontes: UM, 2007; IBGE, 2009.

    De maneira geral, a esperana de vida ao nascer mais baixa nos pases africanos

    e asiticos, apresenta valores intermedirios nos pases americanos e valores mais altos

    nos pases europeus e na Oceania. Entretanto, observam-se: padres diferenciados entre

    os pases africanos do norte do continente e os pases subsaarianos, como, por exemplo,

    Arglia e frica do Sul; um pas asitico, como o Japo, com o maior valor mundial para

    a esperana de vida semelhante dos pases europeus. Na Tabela 3, tambm mostrado

    que a esperana de vida ao nascer no diretamente proporcional riqueza do pas. Os

    Estados Unidos, pas mais rico do mundo, tm esperana de vida prxima observada

    em pases relativamente pobres, como a Grcia.

    Assim, em relao ao estado de sade da populao brasileira, mensurado pela

    esperana de vida ao nascer e pela autopercepo do estado de sade, podemos considerar

  • que as condies so regulares, ou seja, que os indicadores nacionais encontram-se na

    posio mediana.

    O perfil de morbidade

    Para traar de maneira abrangente o perfil de morbidade da populao brasileira,

    seria necessrio considerar os problemas de sade mais importantes por sua frequncia

    ou pelos impactos potenciais. Idealmente, deveramos identificar os principais problemas

    que demandam assistncia mdico-sanitria nos diferentes nveis de ateno do sistema:

    na ateno bsica, na ateno especializada de mdia complexidade tecnolgica e na

    ateno de alta. Entretanto, no existem informaes facilmente acessveis sobre esses

    problemas. Os diferentes sistemas de informao sobre os atendimentos nos servios de

    sade incluem apenas parte da populao que utiliza servios pblicos de sade.

    Optamos por abordar alguns problemas de sade especficos, cujos dados esto

    disponveis no Sistema de vigilncia Epidemiolgica e que demandam aes organizadas

    do Estado para atendimento individual e para modificar as condies de produo e

    transmisso dessas doenas. Como exemplos, selecionamos a malria, a dengue, a

    tuberculose e a Aids, problemas considerados importantes para a sade mundial.

    Alm dessas doenas especficas, inclumos algumas breves consideraes sobre

    trs grupos de problemas de sade que representam grande demanda para os servios de

    sade: as doenas crnicas, os transtornos psiquitricos e a violncia domstica.

    Finalmente, consideramos tambm as doenas evitveis por vacinao, pois elas

    constituam as principais causas de enfermidades na infncia, respondendo por parcela

    considervel de bitos no perodo anterior instituio do Programa Nacional de

    Imunizao.

    Malria

    Entre as endemias vigentes no pas, uma das doenas com maior incidncia a

    malria. Embora tenham ocorrido cerca de 540 mil casos novos por ano em 2006, a

    incidncia est concentrada em 10% dos municpios, dos quais 90% localizados na regio

    Amaznica (Figura 1). O risco de infeco avaliado pelo ndice parasitrio anual (IPA)

    permite classificar esses municpios em quatro grupos: 90 municpios com alto risco de

    transmisso (IPA > 50 casos por mil habitantes); 87 municpios de mdio risco (IPA entre

    10 e 49 casos por mil habitantes); 364 municpios com baixo risco de transmisso (IPA <

    10 casos por mil habitantes); 47 municpios fora da regio Amaznica, onde ainda ocorre

    transmisso natural de forma espordica.

  • Figura 1 Incidncia parasitria anual e casos autctones de malria na regio

    extra-Amaznica segundo municpios brasileiros - 2006

    Fonte: SVS, 2006.

    At o comeo da dcada de 1960, a malria apresentava alta incidncia

    praticamente em todos os estados do pas, com exceo do Rio Grande do Sul, pois a

    maior parte da superfcie territorial brasileira era coberta por matas e havia grande

    abundncia de mosquitos vetores. A transmisso era extremamente facilitada pelas

    atividades agrrias, s quais a maioria da populao se dedicava. Com o rpido processo

    de urbanizao e industrializao, observado principalmente nas regies Sudeste e Sul,

    as condies para a ocorrncia da doena foram modificadas. Simultaneamente, o

    Ministrio da Sade implantou o programa de erradicao da doena, obtendo excedentes

    resultados em praticamente todo o pas, exceto Amaznia. Mesmo assim, em 1970, aps

    a primeira fase da campanha de erradicao, foram registrados 50 mil casos da doena,

    em comparao aos mais de cinco milhes de casos existentes da campanha.

    A tendncia secular da malria a partir de 1980 (Grfico 3) mostra o aumento

    crescente no nmero de casos e no IPA, passando de 160 mil casos para 615 mil no ano

  • 2000. Este aumento explosivo ocorreu na regio Amaznica, em decorrncia do processo

    desordenado de ocupao.

    Com a construo de rodovias, como a Transamaznica e a BR-346, o

    povoamento da regio foi intensificado sem que houvesse condies mnimas de

    segurana ambiental. Somaram-se os programas de assentamento rural do Instituto

    Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra), o estabelecimento de madeireiras

    para explorao comercial, garimpos de ouro, substituio das matas por pastagens e

    outros processos predatrios.

    A instituio do Programa de Intensificao do Controle da Malria reduziu a

    incidncia para 200 mil casos em 2002. A despeito do recuo verificado nesses dois anos,

    a incidncia tornou a crescer nos anos seguintes, chegando a 600 mil caos, em 2005, e

    540 mil casos, em 2006. Em 2008 foram registrados cerca de 300 mil casos novos.

    Grfico 3 Tendncia secular da malria na Amaznia Legal. Brasil 1980-2005

    Fonte: SVS, 2006.

    Dengue

    Outra endemia extremamente relevante a dengue. Diferentemente da malria,

    que afeta principalmente populaes rurais e periurbanas, a dengue uma doena

    eminentemente urbana. A infestao pelo Aedes aegypti est presente em praticamente

    todo o territrio nacional. Quatro tipos sorolgicos do vrus esto em circulao no pas

  • e, desde a dcada de 1990, as ondas epidmicas se sucedem a cada trs anos, repetindo o

    padro observado no Sudeste Asitico.

    A grande dificuldade de controlar as epidemias sucessivas de dengue, bem como

    sua ocorrncia endmica em determinadas reas decorre do fato de que o vetor um

    mosquito extremamente adaptado aos domiclios urbanos. Ele pode se desenvolver em

    qualquer tipo de coleo de gua limpa. Assim, latas, pneus, vasos, plantas como as

    bromlias e outros recipientes que conservam a gua da chuva podem ser criadouros para

    esses mosquitos. A quantidade crescente de lixo nas cidades e muitas vezes presente nos

    quintais das habitaes regulares ou no entorno das favelas o principal determinante

    para o aumento da densidade de mosquitos e o favorecimento da transmisso.

    A incidncia cresceu de 34,5 casos por cem mil habitantes em 1986, quando a

    doena foi reintroduzida no pas, para 385,1 casos por cem mil em 2002. Em 2006, foram

    notificados 275 mil casos em todo o pas, com incidncia de 137,62 casos por cem mil.

    A tendncia de aumento verificada a partir de 2005 continuou em 2008, com incidncia

    de 293 por cem mil (SVS, 2009).

    Grfico 4 Casos de dengue notificados. Brasil 1982-2006

    Fonte: SVS, 2007.

    No Grfico 4, encontra-se a tendncia secular dos casos de dengue notificados no

    pas entre 1982 e 2006. possvel identificar um padro cclico de ocorrncia de

    epidemias (picos) e valores crescentes ao longo do tempo, independentemente das aes

    de controle adotadas pelos servios de sade. Embora desde o incio dos anos 90 o pas

    esteja tentando conter a transmisso da doena, a tendncia da incidncia tem sido

  • aumentar progressivamente a cada episdio epidmico. A infestao pelo vetor est

    presente em todo territrio nacional e foram progressivamente introduzidos os quatro

    tipos de vrus hoje circulantes. Portanto, podemos concluir que a estratgia de controle

    adotada no est apresentando resultados satisfatrios.

    Em 2008, todas as regies do pas, excetuando a regio Sul (oito casos por cem

    mil), apresentaram incidncias superiores a trezentos casos por cem mil habitantes (SVS,

    2009).

    Tuberculose

    Outra doena infecciosa bastante importante no perfil de morbidade no Brasil a

    tuberculose. Dede o advento do tratamento antimicrobiano, em meados no sculo XX,

    observou-se uma ampla reduo na mortalidade por esta causa. Porm, a incidncia

    permaneceu alta em todas as regies do pas. Na dcada de 1990, o quadro praticamente

    no se alterou, permanecendo em torno de cinquenta casos por cem mil. No entanto, a

    partir de 2000, observa-se uma queda na incidncia em todas as regies. Em 2010, a

    incidncia no pas era de 37 casos por cem mil (SVS, 2011).

    A transmisso da tuberculose facilitada pelas condies de vulnerabilidade das

    pessoas infectadas como desnutrio, alcoolismo e doenas que reduzem a capacidade

    imune e pelas condies de moradia, em que se destacam as aglomeraes

    intradomiciliares e os ambientes midos, pouco ventilados e pouco ensolarados. As

    principais formas de controle so o diagnstico precoce e o tratamento adequado.

    Durante as dcadas de 1980 e 1990, constatou-se o aumento da incidncia da

    tuberculose no apenas nos pases no desenvolvidos, mas tambm nos pases mais

    desenvolvidos, em associao com o aparecimento da epidemia de Aids e com o aumento

    da proporo da populao vivendo em condies de pobreza extrema nos grandes

    centros urbanos em todo o mundo. Entre moradores de rua e populao albergada, as

    incidncias so muito altas, e parte dos casos apresenta resistncia aos medicamentos,

    tornando a doena extremamente grave.

    Aids

    Ainda entre as doenas infecciosas, importante destacar a epidemia de Aids,

    presente no pas desde a dcada de 1980 (veja a taxa de incidncia e mortalidade no

    Grfico 5). A incidncia registrada em 2009 foi de 20,1 casos por cem mil habitantes,

    correspondendo a 38.538 casos no pas (SVS, 2011).

    O risco de infeco desproporcionalmente alto entre usurios de drogas

    injetveis (cerca de novecentos casos por cem mil expostos); muito alto entre

  • homossexuais masculinos (cerca de trezentos caos por cem mil); e considervel entre

    heterossexuais de ambos os sexos cerca de trs casos por cem mil). A distribuio

    proporcional dos casos que no avalia os riscos, mas apenas mede a parcela que cada

    modo de transmisso representa em relao ao todo - mostra concentrao maior de casos

    entre os heterossexuais (40%), seguidos dos homo e bissexuais (18%), usurios de drogas

    injetveis (14%) e transmisso vertical (3%), refletindo a proporo desses grupos na

    populao em geral.

    Grfico 5 Taxa de incidncia e mortalidade por Aids. Brasil 1992-2009

    Fonte: SVS, 2010.

    O programa de controle da Aids foi institudo no brasil praticamente desde o incio

    da epidemia, contando com a participao ativa das organizaes no governamentais,

    principalmente nas atividades de preveno. A distribuio gratuita dos medicamento

    para qualquer paciente que deles necessite tambm uma caracterstica importante do

    programa, que certamente tem contribudo para a reduo da mortalidade e reduzindo a

    carga viral, tornando, provavelmente, menor o risco de transmisso de um indivduo

    contaminado para um indivduo suscetvel.

    Doenas evitveis por vacinao

    Ainda com relao a doenas infecciosas, importante frisar que as doenas

    evitveis por imunizaes apresentam reduo expressiva no pas aps a extenso da

    cobertura vacinal. Ente 1980 e 2008, a incidncia de coqueluche, difteria, sarampo,

    rubola e ttano neonatal reduziu-se em mais de 96%. Convm chamar a ateno para

    algumas para algumas tendncias mais atuais. Em 2008, no houve casos de sarampo no

    pas. No entanto, ocorreram 1.375 casos de coqueluche (58% de aumento em relao a

    2007) e uma epidemia de rubola em 2007, com 8.128 casos notificados.

  • As meningites por Haemophilus influenza apresentaram reduo de 94%, entre

    1995 e 2005, aps a introduo da vacina na rotina de atendimento aos menores de um

    ano. A poliomielite, que nos anos 50 provocava grandes epidemias e produzia nmero

    considervel de indivduos portadores de sequelas definitivas, foi completamente

    eliminada do pas atravs da ampliao da cobertura vacinal.

    O programa Nacional de Imunizaes (PNI) do Brasil um dos maiores do mundo

    em nmero de vacinas includas e em nmero de doses aplicadas. Embora o programa

    tenha sido criado ainda no final da dcada de 1970, apenas com a universalizao do

    acesso aos servios de ateno bsica, possibilitado pelo SUS, as coberturas vacinais

    atingiram nveis suficientes para interromper a transmisso desses agentes infecciosos na

    populao. O Brasil referncia mundial para programas de imunizao, estando entre

    os pases que obtiveram os melhores resultados no controle dessas doenas.

    O principal impacto do PNI nas condies de sade pode ser observado tanto na

    reduo das taxas de mortalidade infantil (menore de 1 ano de idade) quanto na reduo

    das taxas de mortalidade na infncia (menores de 5 anos).

    Doenas Crnicas

    Alm das doenas infecciosas, o perfil epidemiolgico da populao brasileira

    apresenta prevalncia crescente das doenas crnicas, cuja etiologia bastante complexa,

    envolvendo diferentes aspectos das condies de vida. Tal prevalncia s pode ser

    conhecida por meio de inquritos populacionais, uma vez que no h registros

    sistemticos para toda a populao.

    De maneira geral, a prevalncia de doenas crnicas autorreferidas pela populao

    nas Pnads de 1998, 2003 e 2008 ficou em torno de 30% para a populao adulta. Esta

    taxa varia com: 1) o gnero maior em mulheres; 2) a idade diretamente

    proporcional ao seu aumento; 3) a condio socioeconmica inversamente

    proporcional ao nvel de escolaridade, renda e posse de bens. Entre as condies crnicas

    mais mencionadas pela populao, esto as dores lombares, a artrite ou o reumatismo e a

    hipertenso arterial, todas elas afetando mais de 10% da populao adulta.

    Estas doenas so importantes porque, ao serem de longa durao, representam

    grande parte da demanda por servios de sade em todos os nveis de ateno. Os

    dispndios da populao com medicamentos de uso contnuo para o controle dessas

    enfermidades constituem parcela relevante dos gastos familiares em tosdas as faixas de

    renda. Elas tambm esto entre as pricipais causas de internao hospitalar.

  • Com o processo de envelhecimento populacional, o grupo das doenas crnicas,

    que j bastante importante, tende a se tornar cada vez mais relevante. Os fatores de

    risco, cuja distribuio populacional discutiremos mais adiante, so todos relacionados

    com a produo dessas doenas e devem ser os alvos preferenciais nos programa de

    promoo da sade.

    Transtornos psiquitricos

    Nos atendimentos realizados na rede bsica de servios de sade, os problemas

    relacionados com a sade mental so bastante frequentes. Os indicadores de sade

    tradicionais, por estaremm baseados principalmente em dados de mortalidade, no so

    capazes de captar a relevncia que estes problemas apresentam no perfil epidemiolgico

    de morbidade.

    Os dados disponveis so escassos, porm, alguns estudos populacionais podem

    dar uma idia da magnitude do problema. Veras e Coutinho (1991), estudando a

    populao de idosos de trs bairros do Rio de Janeiro, encontraram prevalncias de

    depresso variando entre 20,9%, em moradores da rea com melhor nvel

    socioeconmico, a 36,8%, em moradores da rea mais pobre. Outro estudo multicntrico

    realizado em clientela de servios de ateno bsica do Distrito Federal, de So Paulo e

    de Porto Alegre encontrou taxas de prevalncia de depresso variando de 0,9%, em So

    Paulo, a 10,2%, em Porto Alegre (Mari el al., 1987).

    J os transtornos mentais comuns apresentaram prevalncia de 29% em uma

    amostra de trabalhadores de uma universidade pblica brasileira, com prevalncia de

    22% para os hoens e 34% para as mulheres (LOPES, FAERSTEIN & CHOR, 2003).

    Entre a clientela do Programa Sade da Famlia do municpio de So Paulo, a prevalncia

    de transtornos mentais comuns foi de 24,1%, sendo maior entre as mulheres, os maiores

    de 45 anos, os indivduos com baixa escolaridade e os de baixa renda e os migrantes

    (MARAGNO et al., 2006). Estudo multicntrico incluindo a regio metropolitana de So

    Paulo e duas cidades do interior, em 2002, encontrou prevalncia de 10,7% para os

    homens e 23,2% para as mulheres (CESAR et al., 2005).

    Os problemas psiquitricos agudos geraram 251 mil internaes no SUS em 2010,

    correspondendo a 2,5% do total de internaes hospitalares e 5% dos gastos efetuadod

    pelo SUS para pagamento de hospitalizaes no pas.

    Violncia domstica

    Outro problema muito frequente em servios de ateno bsica, mas ainda pouco

    conhecido e divulgado, refere-se s consequncias da violncia domstica para mulheres,

  • homens, crianas e idosos. No h dados representativos para o pas como um todo.

    Entretanto, os estudos realizados com clientelas de servio apontam prevalncias

    alarmantes.

    A violncia domstica representa um enorme desafio para as equipes de sade,

    seja na ateno bsica, seja na ateno hospitalar, pois a maioria dos profissionais no

    est adequadamente treinada para enfrentar o problema. Tradicionalmente, as questes

    relativas violncia foram consideradas do mbito policial ou da segurana pblica.

    Entretanto, as repercusses sobre a sade nas dimenses fsica, mental e social so

    tais que elas no podem ser ignoradas pelo setor sade.

    Alm disso, h investigaes conduzidas, principalmente nos Estados Unidos,

    mostrando que os servios de sade so as instituies que tm maior possibilidade de

    detectar o problema e tentar interferir no processo antes que a violncia resulte em bito.

    Embora as informaes ainda sejam escassas, devemos considerar esses

    problemas entre os principais no perfil epidemiolgico de morbidade, evitando, assim,

    que os mesmos continuem a ser ignorados ou ocultados por falta de conhecimentos.

    Resumindo o perfil de morbidade

    Na anlise das condies de sade, o perfil de morbidade importa mais pela

    complexidade de sua composio do que pela intensidade dos indicadores. Os poucos

    exemplos selecionados aqui para caracterizar o perfil de morbidade da populao

    brasileira mostram que ele complexo, incluindo problemas agudos e crnicos de sade,

    doenas que esto mais relacionadas com as caractersticas dos comportamentos humanos

    e com as condies de vida em geral, como a Aids e as doenas crnicas no

    transmissveis, e problemas que exigem intervenes sobre o ambiente, como a malria e

    a dengue. importante ressaltar que, alm de doenas propriamente ditas, o perfil de

    morbidade inclui problemas de sade como os transtornos mentais comuns e os efeitos

    da violncia domstica ou familiar.

    O perfil epidemiolgico de morbidade no Brasil rene todos esses tipos de

    problemas de sade, refletindo a complexidade da organizao social e a diversidade de

    situaes que caracterizam a estrutura epidemiolgica atual. Preferimos a noo de

    complexidade noo de transio epidemiolgica, pois esta d a ideia de uma evoluo

    linear, na qual tipos de problemas considerados arcaicos so substitudos por problemas

    modernos. Nesta viso, a fase de doenas infecciosas e doenas carenciais

    caractersticas de sociedades arcaicas, rurais e pobres daria lugar fase das doenas

    crnicas ligadas aos estilos de vida na sociedade moderna. Entretanto, como vimos no

  • caso brasileiro, a situao no to simples e todos os tipos de problemas de sade

    coexistem na sociedade como um todo.

    Na realidade concreta das sociedades, o processo no linear nem, se observa a

    simples substituio de um conjunto de problemas por outro.

    Os perfis epidemiolgicos retratam a multiplicidade de situaes de produo do

    processo sade-doena, no podendo ser reduzidos, sem perda de capacidade explicativa,

    a uma simples sucesso de fases perfeitamente diferenciadas. Os mesmos processos

    sociais que caracterizam a modernidade determinam o aumento das doenas crnicas por

    meio de uma srie de mecanismos relacionados contaminao ambiental, ao

    envelhecimento populacional, obesidade, ao sedentarismo etc., o agravamento de

    doenas infecciosas j existentes e o aparecimento de novas doenas. No possvel

    separar um processo do outro, como se houvesse uma justaposio de condies de vida

    e de condies de sade de diferentes tempos histricos.

    Perfil de mortalidade

    Em relao ao perfil de mortalidade, dois aspectos fundamentais para a avaliao

    das condies de sade so: a distribuio das causas de morte e o padro etrio da

    mortalidade.

    Distribuio das causa de morte

    O primeiro aspecto pode ser avaliado pela importncia relativa dos grupos de

    causas de morte ao longo do tempo. Se agruparmos as causas de morte em causas

    infecciosas, neoplasias, cardiovasculares, agresses e violncias e as demais, podemos

    analisar a evoluo do perfil de mortalidade proporcional ao longo do tempo (Grfico 6).

    Grfico 6 - Mortalidade proporcional por grupo de causas. Brasil 1930-2009

    Fonte: Silva-Junior et al., 2003; Datasus, 2011.

  • No Grfico 6, no medido o risco de morrer por estas diversas causas na

    populao. apresentado, apenas, qual era a contribuio proporcional de cada grupo de

    causa na mortalidade geral.

    Assim, podemos observar que, em 1930, quase 50% dos bitos da populao

    brasileira eram provocados por doenas infecciosas. Este grupo de causas permanece

    como o principal at a dcada de 1960. A partir de 1970, a mortalidade proporcional por

    doenas infecciosas deixa de ser a principal causa de morte. A reduo proporcional da

    mortalidade por doenas infecciosas acarreta o aumento proporcional de todas as outras

    causas.

    O segundo grupo de causas com frequncia relativa em 1930 era o das

    cardiovasculares, respondendo por aproximadamente 10% dos bitos. O percentual

    manteve-se praticamente inalterado at 1950 e, a partir da, h um crescimento acentuado.

    Em 1970, as causas cardiovasculares ultrapassam as infecciosas, tornando-se as principais

    causas de bito na populao brasileira. Proporcionalmente, as causas que mais cresceram

    no perodo foram as neoplasias e as causas externas (aumento de cinco vezes).

    Os processos sociais mais significativos para explicar as mudanas observadas no

    perfil da mortalidade proporcional foram a urbanizao ocorridas no pas aps a dcada

    de 1960; o progressivo envelhecimento populacional determinado pela reduo da taxa

    de fecundidade e reduo da mortalidade na infncia; a melhoria das condies de

    saneamento bsico nas zonas urbanas; a melhoria das condies nutricionais; as

    modificaes nos hbitos alimentares e de atividades fsicas; o crescimento do crime

    organizado e o aumento da frota de veculos motorizados. Todos eles contriburam, em

    alguma medida, para as transformaes observadas.

    No plano das polticas de sade, no perodo entre 1930 e 1950, a atuao se

    restringe ao mbito da sade pblica, com as campanhas promovidas pela Fundao

    Rockfeller para o diagnstico e o tratamento da malria e da ancilostomose, dois

    problemas que afetam a produtividade do trabalhador rural. A assistncia mdica

    populao rural era realizada pelas Santas Casas e por outros hospitais filantrpicos e

    pelas Caixas de Aposentadorias e Penses para os trabalhadores urbanos. A cobertura de

    servios era suficiente. Diversas iniciativas foram tomadas a partir da dcada de 1970, no

    sentido de unificar os servios pblicos de sade e universalizar o acesso. Esse

    movimento culminou na criao do SUS j na dcada de 1990. No caso especfico das

    enfermidades infecciosas, foram determinantes na queda da mortalidade proporcional; o

    desenvolvimento e uso de antibiticos, reduzindo significativamente a gravidade dessas

  • doenas, e a ampliao da cobertura vacinal, diminuindo acentuadamente a incidncia de

    doenas que eram causas importantes de mortalidade na infncia.

    ______________________________________________________________________

    Voc encontra mais informaes sobre estas e outras medidas atinentes s polticas de

    sade do perodo Imperial (1822) at a constituio do SUS (1990) nos captulos 11 e

    12.

    As principais causas de morte so apresentadas na Tabela 4 para o Brasil e para

    os pases membros da OMS, agrupados por nvel de renda. Apenas 17 causas so

    responsveis por mais da metade dos bitos na populao mundial.

    Nos pases de renda alta, as dez principais causas se distribuem entre

    cardiovasculares, respiratrias, neoplsicas e metablicas. Nenhuma das causas pertence

    ao grupo das doenas infecciosas ou das causas violentas. Para os pases de renda mdia,

    como o Brasil, alm das causas cardiovasculares, neoplsicas e respiratrias, aparecem

    doenas infecciosas, acidentes e causas perinatais.

    Nos pases com renda baixa, nenhuma das causas pertence ao grupo das

    neoplasias, e as demais se distribuem entre as causas cardiovasculares, respiratrias,

    infecciosas e perinatais. Chama a ateno que, para estes pases, alm da Aids que j

    aparecia entre os pases de renda mdia, so causas importantes de mortalidade a malria,

    a tuberculose e as diarreias. Os acidentes de trnsito aparecem em ltimo lugar

    Tabela 4 Mortalidade proporcional para as dez principais causas de bito. Brasil

    e pases de alta, mdia e baixa renda 2002

    Causas Brasil Pases com

    renda alta

    Pases com

    renda mdia

    Pases com

    renda baixa

    Doena

    coronariana

    7,5 (2a) 17,1 (1a) 13,4 (2a) 10,8 (1a)

    Doena

    cerebrovascular

    7,8 (1a) 9,8 (2a) 14,6 (1a) 6,0 (5a)

    Cncer de pulmo 1,5 (9a) 5,8 (3a) 2,7 (8a)

    Pneumonias 3,2 (6a) 4,3 (4a) 3,3 (4a) 10,0 (2a)

    Doena pulmonar

    obstrutiva crnica

    3,3 (5a) 3,9 (5a) 7,6 (3a) 3,1 (9a)

    Cncer de clon e

    reto

    3,3 (6a)

    Alzheimer 2,7 (7a)

  • Diabetes 3,4 (4a) 2,7 (8a)

    Cncer de mama 1,9 (9a)

    Cncer do

    estmago

    1,8 (10a) 2,8 (5a)

    HIV/Aids 3,0 (6a) 7,5 (3a)

    Causas perinatais 1,3 (10a) 2,9 (7a) 6,4 (4a)

    Acidentes de

    trnsito

    3,1 (7a) 2,6 (9a) 1,9 (10a)

    Doena Cardaca

    hipertensiva

    2,6 (8a) 2,6 (10a)

    Doenas diarricas 5,4 (6a)

    Malria 4,4 (7a)

    Tuberculose 3,1 (8a)

    Homicdios 4,2 (3a)

    Fontes: WHO, 2007; Datasus, 2007.

    Distribuio dos bitos por idade

    Alm do perfil de distribuio das causas, importante conhecer o perfil de

    distribuio dos bitos por idade, para avaliar as condies de sade de uma populao.

    Do ponto de vista sanitrio, o ideal que a taxa de mortalidade seja muito baixa entre

    crianas, jovens e adultos e s comece a aumentar entre os idosos, como consequncia do

    desgaste que todo ser vivo sofre ao longo de seu tempo de existncia. Entretanto,

    condies sociais diversas acabam por determinar que, em cada populao, este perfil de

    distribuio etrio seja diferenciado, refletindo as condies de vida e a vulnerabilidade

    dos diversos grupos s agresses do ambiente social, econmico, cultural e poltico no

    qual vivem.

    demostrada no Grfico 7 a evoluo da mortalidade proporcional por idade nos

    ltimos 25 anos para a populao brasileira. A mortalidade de menores de um ano, que

    correspondia a 24% dos bitos em 1980, passa a corresponder a apenas 5% dos bitos em

    2004. Porm, a mortalidade em maiores de 64 anos passa de 32% para 51% dos bitos.

    Apesar da melhoria observada, estes valores ainda esto longe do ideal. Nos pases

    desenvolvidos, mais de 90% dos bitos esto concentrados na ltima faixa etria.

  • Embora se constate reduo importante na mortalidade proporcional em menores

    de um ano, cerca de metade dos bitos no brasil pode ser considerada prematura, pois

    ocorre antes dos 65 anos de idade.

    Grfico 7 Mortalidade proporcional por idade, Brasil 1980-2009

    Fonte: Datasus, 2011.

    Mortalidade Infantil

    A taxa de mortalidade infantil um dos mais potentes indicadores de condies

    de sade. O risco de morrer antes de completar 1 ano de idade afetado tanto pelas

    condies de vida quanto pela qualidade da assistncia ao parto, ao recm-nascido e aos

    problemas de sade comuns no primeiro ano de vida.

    A taxa de mortalidade infantil um dos mais potentes indicadores de condies

    de sade. O risco de morrer antes de completar 1 ano de idade afetado tanto pelas

    condies de vida quanto pela qualidade da assistncia ao parto, ao recm-nascido e aos

    problemas de sade comuns no primeiro ano de vida.

    No Grfico 8a, representada a tendncia secular da mortalidade infantil no

    Brasil de 1930 a 2009. Nota-se uma evidente tendncia de queda, relacionada ao aumento

    da esperana de vida apresentado no Grfico 2, expressando a evoluo histrica das

    condies mdico-sanitrias do pas ao longo do perodo.

    Grfico 8a Mortalidade infantil. Brasil 1930-2009

  • Fonte: IBGE, 2011; Datasus, 2011.

    Desde 1980, como se v no Grfico 8b, a taxa de mortalidade infantil apresenta

    tenncia acentuada de queda. De um valor de 67 bitos por mil nascido vivos em 2004,

    com reduo de 65% no perodo. At 2008, a mortalidade infantil continuou caindo,

    atingindo os 14 bitos por mil nascidos vivos.

    A velocidade de queda no foi igual em todas as regies brasileiras, como pode

    ser observado para o perodo de 1996-2007 (Tabela 5). As regies Norte e Nordeste

    foram as que apresentaram as maiores redues, seguidas das regies Sudeste e Centro-

    Oeste. A regio Sul, que tinha a menor taxa em 1996, tambm apresentou a menor

    reduo.

    Grfico 8b Mortalidade Infantil. Brasil 1980-2008

  • Fonte: Datasus, 2011.

    Tabela 5 Mortalidade infantil por regies brasileiras 1996 e 2007

    Regio Mortalidade infantil (1.000 NV)

    1996 2007

    Reduo (%)

    Norte 33,7 22,1 33,0

    Nordeste 53,3 28,7 52,8

    Sudeste 24,4 14,6 23,8

    Sul 19,2 12,9 18,5

    Centro-Oeste 24,3 16,5 23,6

    Brasil 33,7 20,0 33,1 Fonte: Datasus, 2009.

    A mortalidade infantil tambm varia com as condies sociais. A escolaridade das

    mes (Tabela 6) um dos principais fatores de rosco, assim como o peso ao nascer.

    Tabela 6 Mortalidade infantil segundo a escolaridade materna. Brasil 2004. *

    Escolaridade materna Mortalidade infantil

    (1.000 NV)

    Risco relativo

    Nenhuma 45,48 5,77

    1 a 3 anos 15,43 1,96

    4 a 7 anos 11,63 1,48

    8 a 11 anos 9,08 1,15

    12 anos 7,88 1,00

    *Os dados se referem apenas aos casos com informao de escolaridade materna. Fonte: Datasus, 2007.

    Comparando os riscos relativos de mortalidade infantil para os diferentes pesos

    ao nascer e para a escolaridade da me (Grfico 9), possvel avaliar a influncia desses

    dois fatores. Os risco relativo mede quantas vezes o risco de morrer foi maior para as

    crianas nascidas com peso insuficiente, de acordo com os diferentes nveis de

    escolaridade da me, e para as crianas nascidas com peso normal, mas de mes com

    menor escolaridade. O menor risco de morrer foi observado para crianas nascidas com

    peso normal cujas mes tinham 12 ou mais anos de escolaridade. Esse grupo foi tomado

    como referncia para as demais comparaes.

    Risco relativo

    uma medida da associao entre a exposio a determinado fator de risco e a

    probabilidade de ocorrncia do problema estudado.

    O risco relativo calculado dividindo-se a taxa de incidncia, prevalncia ou

    mortalidade nos indivduos expostos pela taxa de incidncia, prevalncia ou

    mortalidade nos indivduos no expostos.

    O clculo permite estimar a fora da associao, ou seja, quantas vezes maior

    a probabilidade de adoecer ou morrer para quem apresenta a caracterstica de

    exposio.

  • Grfico 9 Taxa de mortalidade infantil por peso ao nascer e escolaridade da me.

    Brasil 2009. *

    *Grfico em escala Logartmica

    Fonte: Datasus, 2011.

    Para refletir

    Analisando as trs curvas no grfico, como voc avaliaria a importncia do peso

    ao nascer e da escolaridade materna na determinao da taxa de mortalidade infantil?

    Como essas exposies se relacionam?

    A taxa de mortalidade infantil pode ser decomposta em dois indicadores: a

    mortalidade neonatal, que mede o risco de morrer antes de completar um ms de vida, e

    a mortalidade ps-neonatal, que mede o risco de morrer no primeiro ano de vida, a partir

    do 28 dia (Grfico 10). O primeiro componente indica as condies relacionadas ao

    parto e aos cuidados imediatos com o recm-nascido, enquanto o segundo componente

    (mortalidade ps-neonatal) est relacionado principalmente s condies de nutrio,

    higiene e exposio a infeces no ambiente domstico.

    Todos os componentes da mortalidade infantil mantm tendncia de queda nos

    ltimos dez anos. O componente neonatal corresponde a cerca de dois teros da

    mortalidade infantil, em decorrncia da reduo mais acentuada do componente ps-

    neonatal com a melhoria dos padres nutricionais e o controle das doenas evitveis por

    vacinao. A mortalidade neonatal precoce, que retrata o risco de morrer na primeira

    semana de vida, corresponde a 40% da mortalidade infantil e a quase 80% da mortalidade

    neonatal, sugerindo que as condies de ateno ao parto constituem o principal risco

    neste grupo etrio.

  • As principais causas de bito em menores de um ano esto relacionadas a

    problemas perinatais, desconforto respiratrio do recm-nascido, malformaes

    congnitas e doenas infecciosas, entre as quais se destacam as pneumonias e diarreias.

    Grfico 10 Mortalidade infantil, neonatal e ps-neonatal. Brasil 1994-2008

    Fonte: Datasus, 2011.

    Mortalidade por agresses e violncias

    As agresses ou violncias (causas externas), desde a dcada de 1980, aparecem

    como uma das causas mais importantes de morte em todas as idades, mas principalmente

    como causa de bito de jovens do sexo masculino (Grfico 11).

    Grfico 11 Taxa de mortalidade por acidentes de trnsito, suicdio e homicdio.

    Brasil 1980-2007

    Fonte: Datasus, 2011.

  • A tendncia secular para os trs principais grupos de causas externas mostra

    aumento discreto da mortalidade por suicdio entre 1980 e 2007, oscilao em torno da

    mdia para a mortalidade por acidentes de trnsito e aumento acentuado para a

    mortalidade por homicdios. Durante a dcada de 1980, prevalecem como causas externas

    os bitos por acidentes de trnsito e, a partir da dcada de 1990, os bitos por homicdio.

    A distribuio dessas taxas de mortalidade por idade e sexo (Grfico 12) permite

    verificar que, para os acidentes de trnsito, o risco aumenta constantemente a partir dos

    15 anos, tanto para homens como para mulheres, e em todas as idades maior para os

    homens (cerca de trs a seis vezes, conforme a idade). Para os homicdios, o risco

    extremamente alto entre os 15 e os 34 anos, caindo progressivamente com a idade. Em

    todas as idades, o risco acentuadamente maior para os homens, chegando a ser 15 vezes

    maior no grupo de 15 a 34 anos.

    O risco de morrer em decorrncia a leses autoinflingidas se mantm praticamente

    constante a partir dos 5 anos de idade, sendo tambm maior para os homens em todas as

    idades.

    Grfico 12 Taxa de mortalidade por homicdio e acidente de trnsito segundo

    idade e sexo. Brasil 2004

    Fonte: Datasus, 2007.

    Para refletir

    Que hipteses voc formularia para explicar a diferena de risco entre os sexos

    e os grupos etrios no risco de morrer por homicdios ou acidentes de trnsito?

  • A distribuio dos principais grupos de causas de mortas violentas entre as regies

    brasileiras tambm mostra diferenas importantes (Tabela 7). A regio Norte apresenta

    o menor risco para acidentes de trnsito, suicdio e violncia policial. A regio Nordeste,

    o menor risco para acidentes de trnsito. A regio Sul, o menor risco para homicdio. Os

    maiores riscos para acidentes de trnsito e suicdios so observadas nas regies Sul e

    Centro-Oeste, enquanto para homicdio os maiores riscos so observados nas regies

    Sudeste e Centro-Oeste.

    Tabela 7 Taxa de mortalidade por causas externas nas regies brasileiras 2007

    *Risco relativo

    Fonte: Datasus, 2011.

    Mortalidade por doenas cardiovasculares

    As doenas cardiovasculares aparecem como a primeira causa de mortalidade em

    adultos e idosos no Brasil. Este grupo de diagnstico inclui vrias condies, das quais

    selecionamos duas: infarto do miocrdio (doena coronariana) e doena cerebrovascular,

    por serem as mais importantes no perfil de mortalidade. Na Tabela 8, so apresentadas

    as mortalidades por doenas coronarianas e doenas cerebrovasculares no Brasil e em

    alguns pases selecionados.

    A doena coronariana a principal causa de morte nos pases de renda alta e renda

    baixa, e a segunda nos pases de renda mdia, considerando todas as causas de morte. As

    doenas cerebrovasculares, por sua vez, so a principal causa de bitos nos pases de

    renda mdia, a segunda nos pases de renda alta e a quinta nos pases de renda baixa. No

    Japo, pas de alta renda, as doenas cerebrovasculares so a primeira causa de bito. O

    Brasil pertence ao grupo de pases de renda mdia e apresenta esse mesmo padro: as

    doenas cerebrovasculares so a primeira causa de bito e as coronarianas, a segunda.

  • Convm ressaltar que as regies Sudeste e Sul apresentam as menores diferenas entre as

    taxas de mortalidade por estas doenas.

    No Brasil, a tendncia secular da mortalidade por infarto do miocrdio apresenta

    aumento discreto e constate nos ltimos 25 anos, com risco sempre maior para os homens.

    Entretanto, a diferena na mortalidade entre os sexos vem se estreitando ao longo do

    tempo, mostrando, assim, que houve um aumento ligeiramente maior na mortalidade das

    mulheres. Para cada bito feminino, havia 1,8 bito masculino, em 1980, e 1,5, em 2004.

    Os primeiros bitos por infarto aparecem j no grupo de 15 a 24 anos, porm com

    risco muito baixo. O risco aumenta acentuadamente a partir dos 45 anos de idade,

    conforme se observa no Grfico 13.

    Tabela 8 Mortalidade por doenas coronarianas e cerebrovasculares (por 100 mil),

    por regio brasileira e para pases selecionado 2004

    Fonte: WHO, 2007.

  • Grfico 13 risco relativo da mortalidade por infarto do miocrdio segundo a idade.

    Brasil - 2004

    Fonte: Datasus, 2007.

    A taxa de mortalidade pelas doenas cerebrovasculares (outro tipo de doena

    cardiovascular) aumentou lentamente entre 1980 e 1993. A partir de 1994, a tendncia

    de queda. O mesmo padro pode ser observado para homens e mulheres, e a diferena de

    risco praticamente entre os sexos.

    O risco de morrer por doena cerebrovascular para a populao brasileira, em

    2007, foi de 51,1 bitos para cada cem mil habitantes, enquanto o risco de morrer por

    infarto do miocrdio, no mesmo ano, foi de 48,9 bitos em cada cem mil habitantes.

    A distribuio da mortalidade por doena cerebrovascular por idade (Grfico 14)

    semelhante quela observada por infarto do miocrdio. Embora ocorram alguns bitos

    muito precoces a partir dos 15 anos de idade, o risco aumenta signitivamente com a idade.

  • Grfico 14 Taxa de mortalidade por doena cerebrovascular segundo idade e sexo.

    Brasil 2004

    Fonte: Datasus, 2007.

    Do ponto de vista das polticas de sade, podemos destacar dois conjuntos de

    polticas importantes para enfrentamento dessas enfermidades. As polticas de promoo

    da sade e reduo da exposio a fatores de risco, como obesidade, sedentarismo e hbito

    de fumar, e as polticas assistenciais. No caso das doenas coronarianas, a despeito dos

    avanos tecnolgicos, uma parcela significativa dos casos evolui para bito antes de se

    ter acesso a um servio de sade. Para os demais, a disponibilidade de recursos

    diagnsticos e teraputicos ou seja, o acesso assistncia especializada fundamental

    para a reduo da mortalidade. No caso das doenas cerebrovasculares, alm da ateno

    especializada, a ao dos servios de ateno bsica essencial, visto que o principal fator

    de risco para essas doenas a hipertenso arterial. O controle adequado da hipertenso

    arterial, no mbito das aes de ateno bsica, um dos componentes da reduo da

    mortalidade por doena cerebrovascular.

    Mortalidade por neoplasias

    O grupo das neoplasias tambm aparece entre as principais causas de morte no

    perfil de mortalidade da populao brasileira, de maneira semelhante ao que ocorre nos

    pases de renda alta ou mdia. No Brasil, o grupo das neoplasias a segunda causa de

    mortalidade. A mortalidade por neoplasias fortemente afetada pela capacidade

  • diagnstica existente e pelo acesso da populao ao recursos para diagnstico e

    tratamento. Em parte pela maior ocorrncia de neoplasias entre adultos e idosos, a

    mortalidade por este grupo de causas costuma ser tanto maior quanto melhores forem as

    condies de vida da populao, embora existam certos tipos de cncer, como os

    carcinomas de estmago ou de esfago, que esto associados pobreza e falta de

    higiene, principalmente nas etapas iniciais da vida.

    Os determinantes de cada tipo de cncer so muito variados e, consequentemente,

    o comportamento epidemiolgico bastante diverso. Assim, mais adequado examinar

    cada tipo de cncer separadamente para analisar as condies de sade de uma populao.

    No Brasil, os cinco tipos de cncer com maior importncia populacional so: cncer de

    estmago; de pulmo, brnquios e traqueia; de mama; de colo de tero e de prstata.

    Destes, o cncer de estmago, o de pulmo e o de mama aparecem entre as dez principais

    causas de bito nos pases de renda alta. Nos pases de renda mdia, o cncer de estmago

    e o de pulmo esto entre as dez principais causas de bitos e nenhum tipo de cncer

    aparece entre as principais causas de morte nos pases de renda baixa.

    No perodo de 25 anos (entre 1980 e 2007), a mortalidade por cncer de estmago

    vem declinando lentamente. Os coeficientes caram, nos homens, de 9,9 bitos por cem

    mil habitantes para 9,1; nas mulheres, de 4,9 para 4,8 bitos por cem mil. Dados de alguns

    estudos realizados a partir do acompanhamento de clientelas de servios universitrios

    mostram que a maioria dos pacientes tem seu diagnstico feito j nas fases mais

    avanadas da doena, comprometendo, assim, a eficcia do tratamento e reduzindo a

    sobrevida em cinco anos.

    Assim como j apontado para as doenas cardiovasculares, a mortalidade por

    cncer de estmago muito baixa em menores de 45 anos. A parti desta idade, a

    mortalidade aumenta exponencialmente.

    O risco de morrer por cncer de pulmo, traqueia e brnquios tem crescido no pas

    nos ltimos 25 anos. As taxa de mortalidade aumentaram de 5,5 para 10,5 bitos por cem

    mil habitantes, entre 1980 e 2007. Esta tendncia foi observada tanto na mortalidade

    masculina quanto na feminina, sendo que nas mulheres o aumento foi relativamente

    maior, uma vez que, no incio do perodo analisado, havia trs casos masculinos para caso

    feminino e, no final, a razo havia cado para dois casos masculinos para cada caso

    feminino.

    A anlise dessas tendncias no simples. H, pelo menos, trs componentes

    relacionados ao tempo atuando para produzir este perfil. Primeiro, necessrio considerar

  • o padro do hbito de fumar em uma populao se faz a partir da populao masculina

    das classes com melhores condies de vida, disseminando-se a seguir para as outras

    classes. Com a evoluo do hbito, as classes com piores condies passam a apresentar

    maior frequncia de fumantes. Numa terceira etapa, as mulheres comeam a fumar e, em

    seguida, com a vigncia de campanhas antitabagistas, as classes com melhores condies

    de vida diminuem sua exposio.

    O segundo aspecto a ser levado em considerao o processo de envelhecimento

    populacional, uma vez que o cncer de pulmo uma doena mais prevalente entre

    idosos. Por ltimo, h que se considerar a evoluo dos meios diagnsticos, aumentando

    a identificao dos casos que anteriormente poderiam estar recebendo outros diagnsticos

    menos precisos.

    A mortalidade por cncer de pulmo muito baixa antes dos 35 anos, aumentando

    exponencialmente a partir dessa idade (Grfico 15).

    Grfico 15 risco relativo da mortalidade por cncer de pulmo segundo idade e

    sexo. Brasil 2007

    Fonte: Datasus, 2011.

    Para refletir

    Que hipteses voc acha que explicariam por que o risco relativo da mortalidade

    por cncer de pulmo, alm de aumentar com a idade, progressivamente maior para

    os homens? Lembre-se que as neoplasias tm tempo de induo longo.

    O cncer de prstata apresentou aumento expressivo como causa de morte na

    populao masculina. Os coeficientes praticamente triplicaram em 25 anos, enquanto a

  • populao mais afetada constituda por homens de 65 anos e mais aumentou 20% no

    mesmo perodo. As taxas de mortalidade passaram de 3,9 bitos, em 1980, para 12,3

    bitos por cem mil homens, em 2007. Provavelmente, parte do aumento pode estar

    relacionada com a capacidade diagnstica desenvolvida no perodo. O risco de os

    indivduos com 65 anos e mais morrerem por cncer de prstata cerca de noventa vezes

    maior do que o risco dos indivduos entre 55 e 64 anos; e o risco destes nove vezes

    maior do que o dos indivduos entre 44 e 54 anos de idade.

    Entre as mulheres, a maior causa de mortalidade por neoplasias o cncer de

    mama. As taxas de mortalidade praticamente dobraram nos ltimos 25 anos, passando de

    6,1 bitos por cem mil mulheres, em 1980, para 11,5 bitos, em 2007. Os riscos so

    exponencialmente crescentes com a idade, chegando a ser 32 vezes mais elevados nas

    mulheres de 65 anos e mais, em comparao com o risco das mulheres de 35 a 44 anos.

    Antes dos 35 anos, a mortalidade desprezvel. O aumento da mortalidade, a despeito da

    ampliao da cobertura dos servios e da maior oferta de exames preventivos, como a

    mamografia, pode parecer contraditrio primeira vista. Entretanto, necessrio lembrar

    que o aumento da deteco precoce da doena leva tempo para refletir-se nas taxas de

    mortalidade, ou seja, as mulheres que morreram de cncer de mama em 2007 comeam a

    desenvolver a doena em diferentes momentos nos vinte ou trinta anos anteriores, no

    tendo sido beneficiadas pela extenso da oferta de servios.

    O cncer de colo de tero ainda uma causa importante de mortalidade feminina,

    embora o diagnstico precoce e o tratamento nas fases iniciais da doenas sejam

    conhecidos h quase um sculo.

    As taxas aumentaram 21% no perodo de 1980 a 2007, portanto, em menor

    proporo do que as observadas para o cncer de mama (Grfico 16).

    Do mesmo modo que para o cncer de mama, o aumento da mortalidade a partir

    de 1980, perodo de implantao do programa Ampliado e Integrado de Sade da Mulher

    e de expanso dos servios de ateno bsica no pas, pode parecer contraditrio. Ainda

    mais levando em conta que as coberturas populacionais do exame de deteco precoce

    para o cncer de colo de tero tm aumentado de maneira significativa nos ltimos dez

    anos. Entretanto, at que este fato repercuta nas taxas de mortalidade sero necessrios

    vrios anos. Do mesmo modo que para o cncer de mama, as mulheres que morreram de

    cncer de colo de tero em 2007 tiveram o incio da doena muitos anos antes, no tendo

    sido beneficiados pela expanso dos servios.

  • Grfico 16 Risco relativo para a mortalidade por cncer de colo uterino e

    cncer de mama por idade. Brasil 2007

    Fonte: Datasus, 2011.

    Tanto para o cncer de colo de tero como para o de mama, o risco de morrer

    aumenta acentuadamente com idade, refletindo a sobrevida diferencial nos dois tipos de

    cncer e as diferenas de incidncia para as distintas geraes de mulheres.

    Resumindo o perfil de mortalidade

    O perfil de mortalidade apresentado inclui apenas uma pequena parcela dos

    indicadores que podem ser utilizados para avaliar as condies de sade da populao.

    Cada um dos grupos de causas analisados corresponde a causas importantes para os

    diferentes grupos etrios na populao.

    Os dados apresentados sugerem que a populao brasileira apresenta condio

    regular de sade em comparao aos indicadores dos pases desenvolvidos. A reduo

    progressiva da mortalidade por doenas infecciosas e o aumento relativo da mortalidade

    por doenas cardiovasculares e neoplasias decorrem do processo de envelhecimento

    populacional, relacionado com a queda acentuada da fecundidade nas trs ltimas dcadas

    (diminuio do nmero de crianas na populao), bem como da reduo acentuada da

    mortalidade na infncia, possibilitando a sobrevivncia at a idade adulta.

    O aumento da mortalidade por enfermidades tpicas da idade adulta e da velhice

    , e parte, explicado pelo envelhecimento populacional e, em parte, pela maior capacidade

    de diagnstico, reduzindo progressivamente os bitos com causas mal definidas. A

  • extenso de cobertura dos servios de sade proporcionada pelo SUS, iniciada h mais

    de vinte anos, contribui para a reduo da mortalidade prematura e tambm para o melhor

    esclarecimento dos diagnsticos. Entretanto, o enfretamento de boa parte dos problemas

    de sade aqui analisados necessita, alm da extenso de cobertura, de articulao entre os

    diferentes nveis de complexidade no interior do sistema, garantindo a integralidade das

    aes de sade e a melhoria da qualidade das prestaes para que as intervenes tenham

    impacto sobre o perfil epidemiolgico.

    Exposio a fatores de risco

    Analisar as condies de sade da populao inclui ainda estudar a distribuio

    populacional dos principais fatores de risco. Tendo em vista os objetivos de promoo da

    sade, identificar essas distribuies pode orientar a poltica de sade, identificar essas

    distribuies pode orientar a poltica de sade na preveno de agravos futuros.

    Para o conjunto das doenas crnicas no transmissveis, os fatores de risco

    conhecidos esto relacionados a comportamentos humanos, na dimenso mais proximal

    da determinao. A compreenso dos processos que levam os indivduos a adotar os

    chamados comportamentos de risco remete a anlise para outras dimenses da

    organizao social, buscando sua explicao nos perfis epidemiolgicos de classe social

    e na dimenso social e poltica especfica de cada formao social.

    Aqui sero considerados apenas quatro tipos de exposio que esto relacionados

    com parte considervel das doenas crnicas no transmissveis e dos agravos sade em

    geral: tabagismo, consumo de lcool, sedentarismo e sobrepeso. Diferentemente dos

    agentes infecciosos (bactrias, vrus e parasitas), estes fatores de risco no so especficos

    para determinada patologia. Todos eles esto relacionados com uma ampla gama de

    problemas de sade e, por isso, so alvos das aes de promoo da sade.

    Tabagismo

    O tabagismo responsvel, segundo estimativas da OMS, por cinco milhes de

    bitos ao ano na populao mundial. O incio do hbito ocorre ainda na adolescncia e

    seu abandono difcil, em fase da dependncia qumica que o consumo de cigarros

    provoca.

    No Brasil, segundo dados do Inqurito Domiciliar sobre Comportamentos de

    Risco e Morbidade Referida de Doenas e Agravos No Transmissveis, realizado em 15

    capitais e no Distrito Federal, o hbito de fumar tem incio antes dos 20 anos de idade em

    todas as capitais pesquisadas (BRASIL, 2004).

  • Segundo este inqurito, a prevalncia do hbito de fumar em maiores de 14 anos

    nas 15 capitais e no Distrito Federal variou entre 16%, em Belm, e 25,2%, em Porto

    Alegre. Em todas as capitais, a prevalncia foi maior entre os homens. As estimativas do

    Vigitel em 2008 corroboram estas tendncias (Brasil, 2004; Datasus, 2008).

    A Pnad estima em 2008 17,3% de fumantes acima do 14 anos no Brasil, sendo a

    prevalncia do tabagismo 1,6 maior em homens (21,6%) do que em mulheres (13,3%).

    A regio Sul apresentou a maior prevalncia de tabagismo, 19,3%, seguidas de

    17,3% na regio Sudeste e 16,6% nas regies Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Em todas

    as regies o tabagismo maior nos homens, sendo a diferena entre homem e mulher

    menor na regio Sul (Datasus, 2008).

    A prevalncia de tabagismo em indivduos com 15 a 24 anos de idade menor do

    que a observada para indivduos com 25 anos e mais, sugerindo que est havendo

    diminuio progressiva do hbito na populao brasileira, uma vez que, conforme

    assinalado anteriormente, o hbito se inicia antes dos 20 anos para a maioria dos

    fumantes. As campanhas de combate ao fumo e a legislao restritiva propaganda de

    cigarros, levando maior conscientizao da populao para os riscos de adoecimento e

    morte associados ao hbito de fumar, certamente tm influenciado essa distribuio.

    A prevalncia do hbito de fumar maior entre os indivduos com menor

    escolaridade. Pessoas com at trs anos de escolaridade apresentam prevalncia duas

    vezes maior que aquelas com 15 anos ou mais de estudo, tendncia observada em todas

    as regies do pas (Datasus, 2008).

    A taxa de cessao do hbito de fumar , no entanto, semelhante em todas as

    capitais, variando entre 46% e 52%. A proporo de ex-fumantes semelhante entre

    homens e mulheres (Brasil,2004).

    Consumo de lcool

    O consumo de lcool responsvel por 3,2% a 4% dos bitos ocorridos na

    populao mundial, segundo estimativas da OMS. Diferentemente do cigarro, o consumo

    moderado de lcool considerado salutar para a preveno de doenas cardiovasculares.

    Consumo moderado definido como uma dose por dia, para mulheres, e duas doses por

    dia, para homens. O consumo acima desses nveis prejudicial sade (consumo de

    risco), estando associado com um maior risco para vrias doenas do aparelho digestivo,

    como pancreatite, gastrite, lcera gstrica, cncer de esfago e cirrose heptica, alm de

    transtornos mentais, agresses e violncias. Para acidentes de trnsito e homicdios, estar

    alcoolizado fator de risco tanto no papel de vtima quanto no de agressor.

  • A prevalncia de uso de lcool isto , consumo de lcool nos ltimos trinta dias

    nas capitais estudadas variou de 32,4%, em Joo Pessoa, a 58,6%, em Florianpolis,

    sendo alta em todas as capitais e no Distrito Federal. A prevalncia foi sempre maior entre

    homens. A menor diferena foi observada em Porto Alegre, onde a razo de consumo

    entre homens e mulheres foi de 1,4 para 1,0. A maior diferena foi observada em Manaus,

    com razo de 2,6 para 1,0 (Brasil, 2004).

    O consumo foi sempre maior entre os indivduos com maior escolaridade. Estre

    os indivduos que no completaram o ensino fundamental, o consumo de lcool

    apresentou prevalncia variando entre 31%, em Manaus, e 42,4%, em Porto Alegre. Para

    aqueles que completaram o ensino fundamental ou com escolaridade maior, a prevalncia

    variou entre 36,7%, em Manaus, e 67,9%, em Florianpolis. Estes dados so coerentes

    com os relatos de literatura, que sempre apontam maior consumo de lcool nas classes

    sociais com melhores condies de vida (Brasil, 2004).

    No grupo de 15 a 24 anos, a prevalncia do consumo tendeu a ser menor do que a

    observada no grupo de 25 a 49 anos, exceto para Campo Grande, Vitria, Curitiba,

    Florianpolis e Porto Alegre, onde mais da metade dos jovens referiu consumo de lcool

    no ltimo ms. A prevalncia aumenta entre adultos e tende a diminuir entre os idosos.

    O consumo de risco no acompanha necessariamente a maior prevalncia do

    consumo. Florianpolis, que foi a capital onde a maior proporo de pessoas declarou

    haver consumido lcool no ltimo ms, esteve entre as capitais com as menores taxas de

    consumo de risco.

    O consumo de risco foi referido por 5 a 12% da populao de adultos nas capitais

    estudadas. A maior prevalncia foi observada em Vitria, com 12,4%, e a menor em

    Curitiba, com 4,6%. As cinco capitais com as maiores propores de indivduos

    apresentando consumo de risco foram: Vitria, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte e Natal.

    Entretanto, as maiores prevalncias de consumo de lcool no ltimo ms foram

    observados em Florianpolis, Porto Alegre, Vitria, Belo Horizonte e Aracaju, havendo

    coincidncia entre prevalncia de consumo e de risco apenas para Vitria e Belo

    Horizonte.

    Atividade fsica

    A atividade fsica regular considerada, atualmente, como um importante meio

    de prevenir a mortalidade precoce. O sedentarismo est associado maior mortalidade

    por enfermidades cardiovasculares e a diversos tipos de cncer. Alm de atuar

  • diretamente como fator de risco, o sedentarismo tambm est relacionado ao sobrepeso e

    obesidade, tendo assim, tambm, um efeito indireto sobre a sade e a doena.

    A prevalncia de sedentarismo e de atividade fsica insuficiente para beneficiar a

    sade variou de 30,4% da populao adulta em Porto Alegre a 54,5% da populao adulta

    de Joo Pessoa, mostrando, portanto, taxas altas de inatividade na populao residente

    nas 15 capitais brasileiras estudadas. A proporo de inativos foi sempre maior entre as

    mulheres, exceto em Belm, onde a proporo de homens inativos ultrapassou a

    proporo de mulheres.

    A Pnad 2008 tambm investigou os fisicamente inativos, definidos como aqueles

    indivduos que no fazem atividade fsica no lazer nos ltimos trs meses, no andam a

    p ou de bicicleta como transporte para o trabalho, no realizam atividades no trabalho

    ou em casa que demandem esforo fsico.

    A pesquisa encontrou 19,9% de inativos no Brasil, sendo esta proporo um pouco

    maior na regio Sudeste, 21,8%, e um pouco menor na regio Sul, 17,1%. Em todas as

    regies do pas, a proporo de homens fisicamente inativos foi de 1,7 vez maior que a

    das mulheres (Datasus, 2008).

    A tendncia para a maioria das capitais estudadas foi o aumento do sedentarismo

    com a idade, com exceo de Belm, onde houve reduo do sedentarismo com a idade,

    e Joo Pessoa e Aracaju, onde as propores so praticamente idnticas nos grupos de

    jovens, adultos jovens e adultos. Ao considerarmos as regies, no entanto, a tendncia de

    aumento da inatividade fsica com a idade uniforme.

    Quanto escolaridade, o grau de sedentarismo e atividade fsica insuficiente

    apresentou comportamento distinto entre as capitais. Para a populao de Manaus, Belo

    Horizonte e So Paulo, no houve relao entre escolaridade e sedentarismo. A utilizao

    de apenas duas classes para a varivel escolaridade pode ter sido insuficiente para

    discriminar diferentes situaes. Para a populao do rio de Janeiro e de Porto Alegre, o

    sedentarismo foi maior na populao com menos de oito anos de escolaridade formal,

    enquanto nas demais capitais o inverso foi observado (Brasil, 2004).

    A Pnad 2008 revela uma tendncia em todas regies de maior inatividade fsica

    nos extremos da escolaridade, isto , a proporo de inativos foi maior nos indivduos

    com menos de 1 ano e mais de15 anos de instruo. Nas regies Nordeste e Sudeste, os

    indivduos de maior escolaridade foram os que apresentaram a maior proporo de

    inativos.

  • Sobrepeso e obesidade

    O sobrepeso e a obesidade, mensurveis pelo ndice de Massa Corporal (IMC),

    so problemas que vm crescendo na maioria das populaes do mundo, em decorrncia

    das mudanas nos hbitos de vida, principalmente na dieta e na atividade fsica. Esto

    associados ao maior risco para vrias doenas cnicas, problemas ortopdicos e distrbios

    psicolgicos.

    ndice de Massa Corporal (IMC)

    a medida mais utilizada em inquritos populacionais para avaliar excesso de

    peso, sobrepeso e obesidade. O IMC calculado pela diviso do peso em quilos pela

    altura em metros ao quadrado.

    A OMS estabelece que o IMC superior a 25 kg/m2 significa excesso de peso;

    entre 25 e 30 kg/m2, sobrepeso; e acima de 30 kg/m2, obesidade.

    Os dados do Vigitel de 2008 revelam taxa de sobrepeso variando de 36% a 49%

    e taxas de obesidade variando de 10% a 15% entre os indivduos adultos entrevistados

    nas capitais brasileiras e no Distrito Federal (Datasus, 2008).

    Monteiro, Conde e Castro (2003), comparando a prevalncia de obesidade em

    homens e mulheres por meio de dados de trs inquritos populacionais, observaram que

    as taxas de prevalncia de obesidade aumentaram em ambos os sexos ao longo do tempo

    e que as taxas so maiores para as mulheres em todos os inquritos (Grfico 17).

    Em relao escolaridade, Monteiro, Conde e Castro (2003) encontraram

    comportamentos distintos para homens e mulheres. Entre os homens, no houve

    associao clara entre grau de escolaridade e obesidade. J para as mulheres, o padro

    variou nos diferentes perodos. Em 1975, o risco de obesidade foi diretamente

    proporcional escolaridade, isto , quanto maior a escolaridade, maior a prevalncia de

    obesidade. Em 1989 e 1996, observou-se relao inversa entre escolaridade e risco de

    obesidade, demostrando mudana de comportamento entre as mulheres.

    Grfico 17 Prevalncia de obesidade segundo o sexo. Brasil 1975-1996

    Fonte: Monteiro et al., 2003.

  • Resumindo a exposio a fatores de risco

    A anlise da distribuio populacional dos fatores de exposio mostra que a

    condio de sade da populao brasileira regular, tendendo a manter-se assim ou