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  DIREITO PENAL II - 4°semestre Profª Paola Santos  AULA II DIREITO PENAL II TEMA: CONCURSO DE CRIMES PROFª: PAOLA JULIEN O. SANTOS EMENTA: Concurso de crimes. Conceito. Sistemas. Concurso material. Concurso formal. Crime continuado. Concurso de infrações e execução da pena. 1. Conceito: Concurso de crimes significa a prática de várias infrações penais por um só agente ou por um grupo de autores atuando em conjunto. Diversamente do concurso de pessoas, onde um único delito é cometido, embora por vários agentes, no caso do concurso de crimes busca-se estudar qual a pena justa para quem comete mais de um delito. Há dois critérios para empreender essa análise: a) naturalístico – o número de resultados típicos concretizados redundará no número de crimes cometidos, devendo o agente cumprir todas as penas; b) normativo – o número de resultados típicos materializados não é determinante para sabermos qual o número de infrações penais existentes e qual o montante da pena a ser aplicada, devendo haver consulta ao texto legal. Esse é o critério utilizado pela legislação brasileira, conforme os sistemas que verificaremos abaixo. 2. Sistemas do concurso de crimes É possível que, em uma mesma oportunidade ou em ocasiões diversas, uma mesma pessoa cometa duas ou mais infrações penais que, de algum modo, estejam ligadas por circunstâncias várias. Quando isso ocorre, estamos diante do chamado concurso de crimes (concursus delictorum), que dá origem ao concurso de penas. Não se confunde essas hipóteses com a reincidência, circunstância agravante que ocorre quando o agente, após ter sido condenado irrecorrivelmente por um crime, vem a cometer outro delito. São vários os sistemas teóricos preconizados pela doutrina para a aplicação da pena nas várias formas de concurso de crimes. O primeiro é o sistema de acumulação material, em que se recomenda a soma das penas de cada um dos delitos componentes do concurso. É o que se dá no concurso material (art. 69, CP). O segundo é o sistema da acumulação jurídica, pelo qual a pena a ser aplicada deve ser mais grave do que a cominada para cada um dos delitos sem se chegar à soma delas. Assim leva-se em consideração não a soma das penas dos delitos cometidos, nem tampouco acarreta a aplicação da pena mais grave deles acrescidas de uma cota-parte previamente estabelecida em lei, mas há uma média ponderada entre as várias penas previstas para os diversos crimes, impedindo que haja um excesso punitivo por meio da fixação de um teto. Ex.: caso o agen te esteja sujeito a penas diversas (5+4+4+3+2),

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Profª Paola Santos

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 AULA II

DIREITO PENAL II

TEMA: CONCURSO DE CRIMES

PROFª: PAOLA JULIEN O. SANTOS

EMENTA: Concurso de crimes. Conceito. Sistemas. Concurso material. Concursoformal. Crime continuado. Concurso de infrações e execução da pena.

1.  Conceito:

Concurso de crimes significa a prática de várias infrações penais por um só agente oupor um grupo de autores atuando em conjunto. Diversamente do concurso de pessoas,onde um único delito é cometido, embora por vários agentes, no caso do concurso de

crimes busca-se estudar qual a pena justa para quem comete mais de um delito.

Há dois critérios para empreender essa análise: a) naturalístico – o número deresultados típicos concretizados redundará no número de crimes cometidos, devendo oagente cumprir todas as penas; b) normativo – o número de resultados típicosmaterializados não é determinante para sabermos qual o número de infrações penaisexistentes e qual o montante da pena a ser aplicada, devendo haver consulta ao textolegal. Esse é o critério utilizado pela legislação brasileira, conforme os sistemas queverificaremos abaixo.

2.  Sistemas do concurso de crimes

É possível que, em uma mesma oportunidade ou em ocasiões diversas, uma mesmapessoa cometa duas ou mais infrações penais que, de algum modo, estejam ligadas porcircunstâncias várias. Quando isso ocorre, estamos diante do chamado concurso decrimes (concursus delictorum), que dá origem ao concurso de penas. Não se confundeessas hipóteses com a reincidência, circunstância agravante que ocorre quando oagente, após ter sido condenado irrecorrivelmente por um crime, vem a cometer outrodelito.

São vários os sistemas teóricos preconizados pela doutrina para a aplicação da penanas várias formas de concurso de crimes. O primeiro é o sistema de acumulação

material, em que se recomenda a soma das penas de cada um dos delitoscomponentes do concurso. É o que se dá no concurso material (art. 69, CP).

O segundo é o sistema da acumulação jurídica, pelo qual a pena a ser aplicadadeve ser mais grave do que a cominada para cada um dos delitos sem se chegar à somadelas. Assim leva-se em consideração não a soma das penas dos delitos cometidos, nemtampouco acarreta a aplicação da pena mais grave deles acrescidas de uma cota-partepreviamente estabelecida em lei, mas há uma média ponderada entre as várias penas

previstas para os diversos crimes, impedindo que haja um excesso punitivo por meioda fixação de um teto. Ex.: caso o agente esteja sujeito a penas diversas (5+4+4+3+2),

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que somam 18 anos, notando que a mais grave delas atinge 5 anos, a pena não poderápassar de 15 (o triplo da mais grave), julgando-se extinto o montante que ultrapassaresse teto, no caso, 3 anos. Não adotamos esse sistema no Brasil.

Pelo terceiro sistema, da absorção, só deve ser aplicada a pena do mais grave delito,desprezando-se os demais. Não adotamos esse sistema expressamente, mas há casosem que a jurisprudência, levando em conta o critério da consunção, no conflitoaparente de normas, termina por determinar que o crime mais grave, absorve o menosgrave.

Por fim, há o sistema da exasperação, segundo o qual deve ser aplicada a pena dodelito mais grave, entre os concorrentes, aumentada a sanção de certa quantidade emdecorrência dos demais crimes. Trata-se de um sistema benéfico ao acusado e adotado,no Brasil, nos arts. 70 (concurso formal) e 71 (crime continuado).

3.  Concurso Material

3.1.  ConceitoNos termos do art. 69, dá-se concurso material quando o agente, mediante duas oumais ações ou omissões, comete dois ou mais crimes, idênticos ou não. Quando issoocorrer, as penas deverão ser somadas. Normalmente os crimes são apurados nomesmo processo, mas, quando isso não for possível, a soma das penas será feita na Vara das Execuções Criminais. A regra do concurso material não se aplica, entretanto, quando estiverem presentes os

requisitos do crime continuado (crime da mesma espécie, praticados nas mesmascondições de tempo, local e modo de execução).

 Assim, ausente qualquer dos requisitos do crime continuado, poderá ser aplicada aregra do concurso material, desde que o agente tenha praticado duas ou mais condutasque impliquem o reconhecimento de dois ou mais crimes.

O concurso material, também chamado de concurso real, pode ser homogêneo, quandoos crimes praticados forem idênticos (dois roubos), ou heterogêneo (um homicídio e umestupro)

O art. 69, caput, em sua parte final, esclarece que, no caso de aplicação cumulativa depenas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.

O §1° do art. 69, por sua vez, determina que, sendo aplicada pena privativa deliberdade, não suspensa (sem aplicação de sursis), por um dos crimes, em relação aosdemais não será cabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva dedireitos.

Suspensão condicional do processo: Súmula 243 do STJ – “O benefício da suspensão do processo não é

aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal oucontinuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência damajorante, ultrapassar o limite de um (01) ano”.

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Já o §2° dispõe que, sendo aplicadas duas penas restritivas de direitos (emsubstituição às penas privativas de liberdade), o condenado cumprirásimultaneamente, se forem compatíveis, ou sucessivamente se não for possível ocumprimento simultâneo.

3.2. Critérios para a aplicação da penaÉ imprescindível que o juiz, para proceder à soma das penas, individualize cada umaantes. Ex.: três tentativas de homicídio em concurso material. O magistrado deve, emprimeiro lugar, aplicar a pena para cada uma delas e, no final, efetuar a adição, poiscada uma pode ter um iter criminis diferenciado, conduzindo a diminuições emmontantes diversos.

Súmula 81 do STJ – não cabe fiança ao réu se, em concurso material, as penas mínimas paraos vários crimes que praticou, somadas, forem maiores do que 2 anos.

No Código penal, denomina-se concurso material moderado, uma vez que é limitadopelo disposto no art. 75, que prevê o máximo de cumprimento da pena em 30 anos.Portanto, apesar das somas das penas pode ser superior a esse teto, o condenado nãoirá cumprir mais do que três décadas preso. Por isso, o concurso material adotado éatenuado.

  Hipóteses diversas: admite-se concurso material entre quadrilha ou bando efurto qualificado mediante concurso de pessoas (STF, RTJ 147/615). Pode haver

concurso material entre roubo e quadrilha armada. Igualmente entre roubo e extorsão(“seqüestro relâmpago”).

4.  Concurso formal

Nos termos do art. 70, caput, do CP, ocorre quando o agente, mediante uma única açãoou omissão, pratica dois ou mais crimes. Nesse caso, se os crimes forem idênticos(concurso formal homogêneo), será aplicada uma só pena, aumentada de 1/6 a ½. Ex.:agindo com imprudência, o agente provoca um acidente, no qual morrem duas pessoas. Assimo juiz aplica a pena de um homicídio culposo, no patamar de 1 ano (supondo-se que omagistrado tenha aplicado a pena mínima), e, na seqüência, aumenta-se de 1/6 (p. ex.),

chegando a pena de 1 ano e 2 meses de detenção. Se, entretanto, os crimes cometidos nãoforem idênticos (concurso formal heterogêneo), o juiz aplicará a pena mais grave,aumentada, também de 1/6 a ½. Ex.: em um só contexto o agente profere ofensas quecaracterizam calúnia (crime mais grave) e aumenta de 1/6 a 1/2 deixando de aplicar a penareferente à injúria.

4.1.  Concurso formal perfeito

Encontra-se na primeira parte do art. 70, vale dizer, o agente pratica duas ou maisinfrações penais por meio de uma única conduta. Exemplo: o preso subtrai, para si,

comprimidos de psicotrópicos quando realiza uma faxina (concurso formal – art.155/CP e art. 28 da lei de tóxicos – salientando-se que não há mais pena de prisão para

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o sujeito nesta situação, conforme lei 11.343/2006). Neste caso o agente tem em menteuma só conduta, pouco importando quantos delitos vai praticar, por isso, recebe a penamais grave com o aumento determinado pelo legislador.

4.2.  Concurso formal imperfeitoSitua-se na segunda parte do art. 70, neste caso as penas devem ser aplicadascumulativamente se a conduta única é dolosa e os delitos concorrentes resultam dedesígnios autônomos. Exemplo: o agente enfileira varias pessoas e com um único tiro,de arma potente, consegue matá-las ao mesmo tempo, não merece o concurso formal,pois agiu com desígnios autônomos. Por isso, são somadas as penas.

  Ponto relevante: conceituação de desígnios autônomosEm virtude de divergências doutrinárias a respeito da conceituação do requisito de

desígnios autônomos, se significa o agente ter agido com dolo direito ou de qualquerforma de dolo (direito ou eventual), esclarecedora é a posição equilibrada em que o juizdeve, no caso concreto, deliberar qual a melhor forma de concurso a aplicar. Ex¹.: acozinheira que, pretendendo assassinar todos os membros de uma família para a qualtrabalha, coloca veneno na refeição a ser servida, está praticando vários delitos comuma só ação – merece ser punida pela unidade de resoluções (desígnios autônomos)recebendo a pena cabível pela aplicação do concurso material. Ex².: alguém vai asacada de um prédio, chamando por populares, e brada-lhes “Patifes” estariaofendendo a hora de um ou de todos? Qual seria a sua intenção? Teria cabimento

aplicar-lhe o concurso material, somando-se as penas, num total de 30 a 40 injurias?Obviamente que não.

Em síntese:a)  Havendo dolo quanto ao crime desejado e culpa quanto ao(s) outro(s)resultado(s) da mesma ação, trata-se de concurso formal perfeito;b)  Havendo dolo quanto ao delito desejado e dolo eventual no tocante ao(s) outro(s)resultado(s) da mesma ação, há concurso formal perfeito;c)  Havendo dolo quanto ao delito desejado e também em relação aos efeitoscolaterais, deve haver concurso formal imperfeito.

4.3.  Concurso material mais favorável ou benéfico

O parágrafo único do art. 70 determina ser imperiosa a aplicação do concurso material,caso seja mais favorável do que o formal. Ex.: se o réu esta respondendo por homicídiodoloso e lesões culposas, em concurso formal, valendo-se da regra do art. 70, a penamínima seria 6 anos – pelo homicídio simples acrescida de 1/6, resultando em 7 anosde reclusão. Se aplicada a pena seguindo a regra do concurso material, a pena ficaria

em 6 anos de reclusão e 2 meses de detenção. Portanto, já que o concurso formal é umbeneficio ao réu, deve ser aplicada a pena como se fosse concurso material. É a opçãodo legislador pela regra do acúmulo material.

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5.  Crime continuado

5.1.  Conceito

Há crime continuado quando o agente comete dois ou mais crimes da mesma espécie,mediante mais de uma conduta, estando os delitos, porém, unidos pela semelhança de

determinadas circunstâncias (condições de tempo, lugar, modo de execução ou outrasque permitam deduzir a continuidade).

5.2.  Natureza Jurídica

Há duas teorias a respeito da natureza jurídica do crime continuado:

1ª) trata de uma ficção jurídica2ª) trata-se de uma realidade

Ficção Jurídica: o delito continuado é uma pluralidade de crimes apenas porque a lei

resolveu conferir ao concurso material um tratamento especial, dando ênfase aunidade de crime.Realidade: o delito continuado existe, porque a ação pode compor-se de vários atos,sem que isso tenha qualquer correspondência necessária com um ou mais resultados. O Código penal adotou a teoria da ficção, por ter feito a opção pela teoria objetiva pura,sem buscar analisar eventual unidade de desígnios do agente.

5.3.  Teoria do crime continuado

Existem três teorias para se reconhecer o crime continuado:

a)  Subjetiva: Por tal teoria, o delito continuado somente existiria caso o agenteconseguisse demonstrar que agiu com unidade de desígnios, ou seja, que desde o iniciode sua atividade criminosa tinha um único propósito. É a menos utilizada peladoutrina.b)  Objetiva: Por tal teoria, não se exige a prova da unidade de desígnios, mas únicae tão somente a demonstração de requisitos objetivos, tais como a prática de crimes damesma espécie, cometidos em semelhantes condições de lugar, tempo, modo deexecução, entre outras.

c)  Objetivo-subjetiva: Exige-se para a prova do crime continuado, não somente ademonstração dos requisitos objetivos, mais ainda a prova da unidade de desígnios.

OBS: a corrente ideal, sem dúvida, deveria ser a terceira, tendo em vista possibilitar umaautentica diferença entre o singelo concurso material e o crime continuado; afinal este últimoexigiria unidade de desígnios. Entretanto, a lei penal adotou claramente a segunda posição, ouseja, a teoria objetiva pura. Em virtude disso, deve-se seguir literalmente o art. 71 do CP, poisnão cabe ao juiz questionar os critérios do legislador.

5.4.  Crimes da mesma espécie

Como a lei não define, explicitamente, o que são crimes da mesma espécie, a questãonão é pacifica. Há duas posições a esse respeito:

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1.  Para a primeira – são delitos de igual espécie os que se assemelham pelosmesmos elementos objetivos e subjetivos, ainda que não estejam descritos no mesmoartigo de lei.2.  Para a segunda – são apenas os crimes previstos no mesmo tipo legal, mas

admitindo-se a continuidade entre as suas formas simples, agravadas, qualificadas,consumadas ou tentadas.

 A posição mais acertada é a primeira, pois o instituto do crime continuado visa o beneficio do

acusado, e, também em razão das expressões que o legislador emprega nos arts. 69 e 70. Neles,

 fala em crimes “idênticos ou não”, enquanto que no art. 71 refere-se a “crimes da mesma

espécie” o que demonstra que os delitos não precisam estar previstos no mesmo tipo. Porém a

segunda posição é amplamente majoritária na jurisprudência.

5.5.  Condições de tempo

Não há possibilidade de se fixar, a esse respeito, indicações precisas. Apesar disso,firma a jurisprudência majoritária o entendimento de que, entre as infrações, devemediar no máximo um mês. O juiz, por seu turno, não deve limitar-se a esseposicionamento, embora possa tomá-lo como parâmetro.

5.6.  Condições de espaçoDefende-se como critério básico a observância de um certo ritmo nas ações do agente,vale dizer, que ele cometa seus delitos em localidades próximas, demonstrando uma

certa periodicidade entre todas. O critério quanto à definição fica a cargo domagistrado.

5.7.  Formas de execuçãoEm virtude da complexa definição quanto às formas de execução semelhantes, deve o juiz levar em conta, fundamentalmente, os métodos utilizados pelo agente para ocometimento de seus crimes, que pode levá-lo a estabelecer um padrão.

5.8.  Outras circunstâncias semelhantes A semelhança seja ela temporal (período de tempo entre os crimes), espacial(igualdade de lugares), modal (identidade de métodos ou participantes) e outras devem ser vistas como circunstancias cuja presença não exclua a existência do criemcontinuado. Devem ser apreciadas como um todo, pois formam um conjunto, e não peloexame separado de cada uma delas, portanto, singularmente, não possuem valordecisivo.

5.9.  Critério de dosagem de aumentoO melhor critério é o que se baseia no numero de infrações ou condutas ilícitascometidas, como parâmetro para o aumento de 1/6 a 2/3. Com relação ao limite da

pena, deve-se atender, também para o caput do art. 71, á remissão do parágrafo único,que manda observar as regras do art. 70 e a do art. 75 do CP.

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Tabela feita por Flávio Augusto Monteiro de Barros.

2 crimes Aumenta-se em 1/63 crimes Aumenta-se em 1/54 crimes Aumenta-se em 1/4

5 crimes Aumenta-se em 1/36 crimes Aumenta-se em 1/27 ou mais Aumenta-se em 2/3

5.10.  Crime continuado e inimputabilidadeQuando, durante os vários delitos que constituem o crime continuado, o agente torna-se inimputável ou, ao contrário, iniciar os delitos inimputável e curar-se depois, surgeduas possíveis soluções:a)  Deve ser aplicada pena e medida de segurança – penas para os delitos relativos

ao estado de imputabilidade e medida de segurança para os que abrangerem ospraticados no estado de inimputabilidade. Ex.: ao praticar 4 furtos, o agente eraimputável nos dois primeiros e inimputável nos dois últimos).b)  Deve ser aplicada pena ou medida de segurança: depende da prática do últimodelito, se foi quando imputável aplica-se a pena, se foi quando inimputável aplica-semedida de segurança.

Em razão do CP adotar a Teoria Objetiva pura, esta ultima é a melhor solução.

5.11. 

Crimes praticados contra vítimas diferentes e bens personalíssimos A jurisprudência era pacifica ao estipular não ser cabível para crimes violentoscometidos contra vítimas diferentes e ofendendo bens personalíssimos, tais como vidaou integridade física. Aplicava-se a sumula 605 do STF “Não se admite continuidadedelitiva nos crimes contra a vida”), hoje incompatível com o nosso CP. Atualmente, osacórdãos seguem tendência em sentido contrario, o parágrafo único do art. 71 prevêclaramente a possibilidade de se acolher o delito continuado mesmo contra vitimasdiferentes e bens personalíssimos.

5.12.   Ações concomitantes, contemporâneas ou simultâneasNão podem ser havidas como continuidade delitiva, pois a lei é bastante clara ao exigirque as ações precisam ser subseqüentes.

5.13.  Espécies de crime continuado (diferença de apenação)a)  Crime continuado simples – previsto no caput do art. 71.b)  Crime continuado qualificado ou especifico – previsto no parágrafo único do art.71.

5.14.  Diferença entre crime continuado e delito habitual

No delito continuado, cada uma das condutas agrupadas reúne por si mesma, todas ascaracterísticas do fato punível. Enquanto que no crime habitual a pluralidade de atos é

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um elemento do tipo, tal como o exercício ilegal da medicina, que se realizahabitualmente, na continuidade, ao invés, cada ato é punível e o conjunto constitui umdelito, mas isso não quer dizer que cada furto não seja um delito.

 A reprovabilidade é mais intensa nos delitos habituais do que na continuidade. Ocrime continuado favorece o delinqüente. Por derradeiro, o crime continuado surgiucomo forma de amenizar a punição daquele que, sem dar conta disso, comete váriosdelitos em seqüência, atingindo patamares muito elevados de penalidades, caso fossemtodas somadas. Já nos crimes habituais a finalidade foi uma sanção mais severa para odelinqüente por profissão, consciente de que ganha a vida contrariando o ordenamento jurídico.

6.  Concurso de infrações e execução da pena

Conforme dispõe o art. 76 do CP, “no concurso de infrações, executar-se-á

primeiramente a pena mais grave”. Logo, cumprida a pena de reclusão, deverá passarpara a de detenção, já que ambas não comportam a somatória, pois são de espéciesdiferentes.