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1 CONCRETO PERMEÁVEL: OTIMIZAÇÃO DO TRAÇO PARA PAVIMENTAÇÃO DE FLUXO LEVE P.F. SCHWETZ A. LORENZI Prof. Arquitetura Pesq. Eng.° Civil UFRGS LEME/UFRGS Porto Alegre; Brasil Porto Alegre; Brasil [email protected] [email protected] L.C.P. SILVA FILHO LIVIA ZOPPAS FERREIRA Prof. Eng.º Civil Grad. Eng.ª Civil LEME/UFRGS LEME/UFRGS Porto Alegre; Brasil Porto Alegre; Brasil [email protected] [email protected] VITOR LINHARES MICHAEL PARISOTO Grad. Eng.º Civil Grad. Eng.ª Civil LEME/UFRGS LEME/UFRGS Porto Alegre; Brasil Porto Alegre; Brasil [email protected] [email protected] RESUMO A drenagem da água superficial em excesso em pavimentos de trafego leve é uma questão que vem preocupando a comunidade cientifica. Dentro deste contexto, o pavimento desenvolvido em concreto permeável vem surgindo como uma ótima alternativa. Este trabalho tem como objetivo principal buscar uma otimização para o traço do concreto permeável, proporcionando uma boa permeabilidade agregada a um bom desempenho em relação ao desgaste mecânico. Para tanto, foram moldados blocos de concreto permeável com dimensões de 60x30x20cm nos traços 1:3, 1:4 e 1:5. Como os resultados não foram conclusivos em relação ao traço a ser adotado, foram concretadas e ensaiadas à flexão 6 vigas de 12x15x45cm, nos traços 1:4 e 1:5. Os resultados indicam a utilização do traço de 1:4 como mistura básica, sendo que esta composição associou um bom coeficiente de permeabilidade com uma boa resistência mecânica. 1. INTRODUÇÃO Os episódios de inundações nas cidades vêm aumentando exponencialmente, reduzindo a qualidade de vida da população e trazendo prejuízos para o valor das propriedades. Este fato é atribuído ao processo acelerado de desenvolvimento urbano e à consequente impermeabilização do solo junto com a canalização do escoamento pluvial. Os efeitos da urbanização sobre o escoamento das águas pluviais têm sido verificados em diferentes localidades, sendo que os aspectos normalmente destacados são o aumento da magnitude das vazões críticas, dos volumes escoados, bem como a redução do tempo para a ocorrência das vazões máximas. As consequências desses impactos se manifestam sob a forma de inundações urbanas, através de frequentes alagamentos e enxurradas causados pela água da chuva [1]. Uma alternativa para reverter o grande impacto ambiental que a impermeabilização urbana acarreta ao meio ambiente, tanto direta como indiretamente, seria a adoção de tecnologias mais limpas, que permitissem uma maior infiltração da água pluvial, tal como o uso de pavimentos de concreto permeável. Embora o uso de concretos com pouco ou nenhum agregado miúdo já tenha sido registrado desde o pós-guerra, somente nos últimos anos, com o aumento das áreas urbanizadas e o incremento dos problemas de drenagem urbana (que resultam em inundações e outros problemas), esse material começou a ser estudado de forma sistemática, constituindo-se em um tipo especial de concreto denominado Concreto Permeável. Os primeiros estudos mais amplos evidenciaram as características atraentes do concreto permeável como alternativa à realização de custosas obras para gerar a infraestrutura de drenagem com o objetivo de sustentar cidades cada vez mais impermeáveis.

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CONCRETO PERMEÁVEL: OTIMIZAÇÃO DO TRAÇO PARA PAVIME NTAÇÃO DE FLUXO LEVE

P.F. SCHWETZ A. LORENZI Prof. Arquitetura Pesq. Eng.° Civil UFRGS LEME/UFRGS Porto Alegre; Brasil Porto Alegre; Brasil [email protected] [email protected] L.C.P. SILVA FILHO LIVIA ZOPPAS FERREIRA Prof. Eng.º Civil Grad. Eng.ª Civil LEME/UFRGS LEME/UFRGS Porto Alegre; Brasil Porto Alegre; Brasil [email protected] [email protected] VITOR LINHARES MICHAEL PARISOTO Grad. Eng.º Civil Grad. Eng.ª Civil LEME/UFRGS LEME/UFRGS Porto Alegre; Brasil Porto Alegre; Brasil [email protected] [email protected]

RESUMO A drenagem da água superficial em excesso em pavimentos de trafego leve é uma questão que vem preocupando a comunidade cientifica. Dentro deste contexto, o pavimento desenvolvido em concreto permeável vem surgindo como uma ótima alternativa. Este trabalho tem como objetivo principal buscar uma otimização para o traço do concreto permeável, proporcionando uma boa permeabilidade agregada a um bom desempenho em relação ao desgaste mecânico. Para tanto, foram moldados blocos de concreto permeável com dimensões de 60x30x20cm nos traços 1:3, 1:4 e 1:5. Como os resultados não foram conclusivos em relação ao traço a ser adotado, foram concretadas e ensaiadas à flexão 6 vigas de 12x15x45cm, nos traços 1:4 e 1:5. Os resultados indicam a utilização do traço de 1:4 como mistura básica, sendo que esta composição associou um bom coeficiente de permeabilidade com uma boa resistência mecânica. 1. INTRODUÇÃO Os episódios de inundações nas cidades vêm aumentando exponencialmente, reduzindo a qualidade de vida da população e trazendo prejuízos para o valor das propriedades. Este fato é atribuído ao processo acelerado de desenvolvimento urbano e à consequente impermeabilização do solo junto com a canalização do escoamento pluvial. Os efeitos da urbanização sobre o escoamento das águas pluviais têm sido verificados em diferentes localidades, sendo que os aspectos normalmente destacados são o aumento da magnitude das vazões críticas, dos volumes escoados, bem como a redução do tempo para a ocorrência das vazões máximas. As consequências desses impactos se manifestam sob a forma de inundações urbanas, através de frequentes alagamentos e enxurradas causados pela água da chuva [1]. Uma alternativa para reverter o grande impacto ambiental que a impermeabilização urbana acarreta ao meio ambiente, tanto direta como indiretamente, seria a adoção de tecnologias mais limpas, que permitissem uma maior infiltração da água pluvial, tal como o uso de pavimentos de concreto permeável. Embora o uso de concretos com pouco ou nenhum agregado miúdo já tenha sido registrado desde o pós-guerra, somente nos últimos anos, com o aumento das áreas urbanizadas e o incremento dos problemas de drenagem urbana (que resultam em inundações e outros problemas), esse material começou a ser estudado de forma sistemática, constituindo-se em um tipo especial de concreto denominado Concreto Permeável. Os primeiros estudos mais amplos evidenciaram as características atraentes do concreto permeável como alternativa à realização de custosas obras para gerar a infraestrutura de drenagem com o objetivo de sustentar cidades cada vez mais impermeáveis.

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P. Schwetz, A. Lorenzi, L. C. P. Silva Filho, L. Z. Ferreira, V. Linhares, M. Parisoto, Otimização do traço do concreto permeável para pavimentação de fluxo leve

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A alta permeabilidade é, portanto, a principal razão porque esse material está sendo investigado e produzido nos dias atuais. Quando o concreto permeável é utilizado em pavimentação externa, a água da chuva pode infiltrar diretamente no solo, diminuindo a vazão que segue para o sistema de drenagem urbano. Além disso, sua adoção também contribui para a manutenção dos aquíferos subterrâneos e à redução da velocidade e da quantidade do escoamento superficial dessas águas. E, ao permitir a infiltração natural das águas pluviais, o material acaba contribuindo para um uso mais eficiente do solo, pois não são mais necessárias obras de drenagem extensas e dispendiosas, como pontos de retenção, valas, tubulações e outros mais. Além disso, evidências coletadas indicam que o uso desse material pode colaborar para reduzir os efeitos de ilha de calor, favorecer a vegetação, evitar acidentes por escorregamento em superfícies lisas com acúmulo de água, colaborar para a captura de gás carbônico e reduzir o consumo de agregados e cimento. Para garantir a permeabilidade do concreto o mesmo deve possuir um alto índice de vazios interligados, com pouca ou nenhuma porção de areia na sua composição, para permitir a percolação de grande quantidade de águas pluviais. Quando o material é dimensionado adequadamente, o seu grau de permeabilidade é suficiente para permitir a passagem de todo o fluxo precipitado na maioria dos eventos de chuva, praticamente anulando o escoamento superficial [2]. Para a produção do concreto permeável é muito importante que se formem vazios interligados, fato fundamental para garantir a permeabilidade das águas pluviais. Por essa razão, na maioria das misturas, não se utiliza de agregado miúdo (areia), sendo o concreto confeccionado apenas com água, cimento e agregado graúdo. Dessa forma se obtem um material conglomerado, formado por partículas de agregado graúdo recobertas com uma camada razoavelmente espessa de cimento e água. Devido à sua alta porosidade, a resistência desse concreto pode ser mais reduzida, quando comparada ao concreto convencional. Por essa razão, seu uso é muitas vezes limitado a áreas de tráfego leve ou pouco intenso. Segundo a norma do American Concrete Institute [3], as misturas de concreto permeável normalmente tendem a desenvolver resistências de compressão na escala de 3,5 MPa a 28 MPa. Ou seja, apesar do elevado índice de vazios, o contato entre os agregados graúdos que compõem o esqueleto do concreto permeável garante uma resistência razoável. A pasta ou argamassa de cimento, usada em pequenas quantidades, garante que os agregados permaneçam unidos, evitando o desmoronamento e dificultando a perda de material por abrasão. Por todas essas razões, foi estabelecido um estudo sobre o mesmo, no âmbito da linha de pesquisa em Concretos Especiais do Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais (LEME) da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) em conjunto com Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para o desenvolvimento de um estudo como objetivo de otimizar o traço do Concreto Permeável com materiais locais. 2. CONCRETO PERMEÁVEL Por definição, o concreto permeável é um material que possui um índice de vazios de 15 a 25% do seu total, usando pouca ou nenhuma quantidade de agregado fino na sua pasta, apenas o necessário para manter uma coesão entre os agregados graúdos e a porosidade. Em virtude desta baixa quantidade de agregado miúdo, em função da porosidade, o mesmo apresenta uma baixa resistência à compressão, algo em torno a 3,5 a 28 MPa [3]. Desta forma, o mesmo vem sendo usado para locais de tráfego leve, tais como: estacionamentos, entradas de garagens, calçadas e outros mais. Ao se optar pela utilização do concreto permeável, existe a possibilidade de uma diminuição da construção de grandes obras de drenagem, permitindo um melhor uso do solo e evitando grandes alterações no meio ambiente [4]. Quando se trabalha com este tipo de concreto, a relação a/c aplicada deve ser na faixa de 0,26 a 0,45. O material deverá apresentar, também, uma capacidade de percolação das águas pluviais variando entre 120 l/min./m2 e 320 l/min./m2, com uma média de 200 l/min./m2 e picos de até 700 l/min./m2. Contudo, na sua produção, e conseqüente funcionamento, é preciso levar em conta dois fatores importantes: a capacidade de percolação do solo abaixo do pavimento permeável e o índice pluviométrico característico da região. Dentre os pontos positivos para a utilização deste concreto, pode-se ressaltar:

• eliminação dos problemas das enxurradas urbanas • recarga dos lençóis freáticos • redução da poluição dos corpos hídricos pelo carreamento de poluentes • minimização dos efeitos do aquecimento global • aumento da arborização em centros urbanos

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• redução dos custos com obras de drenagem • favorecimento de economias regionais • melhora na tração dos carros por conta da sua rugosidade.

Existem, porém, alguns pontos negativos a serem considerados na utilização deste material. Como este concreto possui um processo único de implantação, o mesmo necessita ser produzido por empresa especializada. Existe também, a questão do entupimento dos poros, que exige uma manutenção anual. Além disso, por ser um material relativamente novo, constata-se uma resistência por parte da população em sua adoção [2]. O transporte do local da produção do concreto permeável até o local da pavimentação não deve exceder em uma hora. Isto se dá pelo fato de que este concreto reage muito mais depressa do que o convencional pela pouca quantidade de água na sua mistura. A concretagem deve ser feita com cuidado, com a checagem da consistência visualmente. A mesma deverá ser contínua em todo o pavimento, devendo-se utilizar uma vibroacabadora para permitir uma melhor acomodação dos agregados. Contudo, em virtude do rápido tempo de pega, este processo deverá ser concluído em, no máximo, 15 minutos. Tão logo é finalizada esta etapa, utiliza-se um rolo compressor da largura do pavimento, para evitar danos como abertura de fissuras. Através da utilização do rolo, tem-se a garantia de uma maior compactação do pavimento, sem o comprometimento da permeabilidade. Como o concreto permeável possui um alto índice de porosidade, o processo de cura torna-se muito importante, de forma a evitar-se ao máximo uma perda excessiva de água. O processo de cura também deve iniciar logo no término da pavimentação, cobrindo-se a região concretada com um plástico sobre o pavimento durante sete dias [4]. A Figura 1 mostra um pavimento de concreto permeável sendo executado. A utilização deste tipo de concreto data do século XVIII, sendo que sua grande difusão se deu durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha, com uma grande quantidade de entulhos para dispor e carência de matéria-prima, fez uso dos mesmos para produzir este tipo de concreto. Após isto, se seguiram outros exemplos, onde o concreto permeável foi utilizado como uma alternativa economicamente viável e ambientalmente correta. Nos dias atuais, existem empresas especializadas no desenvolvimento deste tipo de material nos EUA, Europa e Japão. Foram, também, desenvolvidas normas internacionais com recomendações para seu preparo, podendo ser citadas a ACI-522R-06 “Pervious Concrete” e a ACI-211.3R-02 “Guide for selecting proportions for no-slump concrete” do American Concrete Institute.

Figura 1: Execução de Pavimento em Concreto Permeável [5]. Os sistemas de drenagem urbana pluvial têm a função de direcionar e auxiliar o escoamento do volume de água não absorvido pelo solo após a ocorrência de precipitações atmosféricas, prevenindo desta forma a formação de inundações. Estes sistemas tradicionais de drenagem são constituídos, tipicamente, pela rede de transporte de escoamento e as soluções normalmente empregadas consistem em galerias e condutores subterrâneos, responsáveis por transportar rapidamente os excessos de água para jusante. Atualmente, tem-se observado uma grande ineficiência das redes pluviais, visto que a grande maioria dos sistemas existentes encontra-se ultrapassado, não atendendo mais as

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necessidades dos atuais centros urbanos, que naturalmente cresceram e estenderam-se para além dos seus limites, comprometendo todo o fluxo das águas na bacia [6]. A concepção clássica de sistemas de drenagem objetiva principalmente o rápido escoamento das águas pluviais, transportando-a de montante a jusante no menor tempo possível. Como consequência, pode-se observar o aumento das vazões de pico, aumento do volume escoado, redução do tempo de escoamento e principalmente a ocorrência de alagamentos, enchentes e enxurradas. Este princípio, porém, foi abandonado nos países desenvolvidos já no início da década de 1970 [7]. Entretanto algumas cidades brasileiras ainda adotam esta concepção de projeto. Princípios modernos da drenagem urbana pluvial defendem que novos projetos não contribuam para o aumento da vazão de pico das condições naturais. Para isso o planejamento da bacia deve incluir controle do volume de saída, evitando-se a transferência dos impactos para jusante. O controle da drenagem na fonte pode ser executado através de áreas de infiltração e trincheiras, pavimentos permeáveis ou sistemas de retenção. O princípio é manter a vazão preexistente, não permitindo a transferência do problema para localidades a montante da bacia. A utilização dos concretos permeáveis na drenagem urbana é uma alternativa para reverter o grande impacto que a impermeabilização urbana acarreta ao meio ambiente. Sua contribuição pode se dar tanto de forma direta como indireta, visto que além de permitir uma maior infiltração da água pluvial, o mesmo irá diminuir as obras de infraestrutura de drenagem urbana. O concreto permeável, quando utilizado em áreas externas, permite que a água da chuva infiltre diretamente no solo, diminuindo a vazão que segue para o sistema de drenagem urbano. Além disso, a sua adoção também contribui para a manutenção dos aquíferos subterrâneos e à redução da velocidade e da quantidade do escoamento superficial dessas águas. Ao permitir a infiltração natural das águas pluviais, o material acaba contribuindo também para um desenvolvimento mais sustentável.

3.PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL

Em virtude de que o concreto permeável ainda não possui uma grande difusão no Brasil como em outros países, pouco se sabe sobre os seus métodos de produção e instalação em pavimentação. Desta forma, fez-se necessário uma investigação quanto ao melhor traço utilizado, vislumbrando-se os melhores resultados de permeabilidade deste concreto de maneira a permitir uma rápida percolação da água das chuvas para o lençol freático, associado a bons resultados de abrasão. A pesquisa teve início com a busca pela otimização do traço do concreto permeável, que proporcionasse uma boa permeabilidade associada a um bom desempenho em relação ao desgaste mecânico. Para tanto, foram moldados blocos de concreto permeável com dimensões de 60x30x20cm nos traços 1:3, 1:4 e 1:5. A relação água/cimento foi fixada em 0,3. A dosagem final para cada traço, em peso, pode ser visualizada Na Tabela 1, sendo que para cada traço foram utilizadas 6 formas. A concretagem foi feita individualmente para cada bloco. Primeiro foi colocado o agregado (pedrisco) e deixou-se rodar por 1 min. Após foi inserido o cimento, deixando rodar por mais um minuto e por último foi adicionada a água, rodando a mistura por 2 minutos. A seguir, a mistura final foi colocada na forma (Figura2a), previamente preparada com desmoldante, e compactada com um rolo (Figura 2b). Após a moldagem dos 6 blocos, os mesmos foram envoltos em plástico para iniciar o processo de cura.

Tabela 1: Dosagem Final do Concreto Permeável (em peso) Traço 1:3 1:4 1:5

Volume de cada forma 0,0315 0,0315 0,0315 Porcentagem de vazios 15% 15% 15%

Massa de pedrisco por forma (kg) 45,06 49,62 52,83 Massa de cimento por forma (kg) 15,02 12,41 10,47

Massa de agua por forma (kg) 4,51 3,72 3,17

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Após 24 horas os blocos foram desmoldados e identificados. Dois blocos foram imersos em um tanque com água para que tivessem uma cura saturada por 28 dias. Outros dois blocos foram envolvidos em uma manta geotêxtil denominada BIDIM. Estes blocos foram mantidos encharcados com água para simular uma cura úmida. Os dois blocos restantes foram deixados no laboratório na temperatura ambiente.

(a)

(b)

Figura 2: (a) Concretagem das formas e (b) Compactação dos blocos de Concreto Permeável. O processo de extração dos corpos de prova teve início 28 dias após a concretagem. Foram extraídos 8 corpos de prova cilíndricos de cada bloco. Após a extração dos corpos de prova, foram realizados os ensaios de permeabilidade, abrasão e resistência à compressão, bem como a e dos resultados obtidos.

4. ENSAIOS E RESULTADOS

4.1. Ensaio de Permeabilidade Para o concreto permeável é necessário caracterizar o coeficiente de permeabilidade previamente à execução do pavimento. Em função de não existire normas brasileiras para a realização deste ensaio, o procedimento foi realizado segundo as recomendações da ACI 522R-06 [3]. Esta norma propõe a utilização um permeâmetro de carga variável, onde a amostra de concreto poroso é posicionada. Após a instalação, o circuito é aberto permitindo-se a passagem de água através da amostra de concreto permeável até o dreno, saturando-a e garantindo a retirada do ar. Em seguida, o circuito é fechado através de uma válvula, mantendo-se o nível entre a superfície da amostra e o dreno do permeâmetro. Para o ensaio de permeabilidade do concreto tomou-se como base o ensaio descrito por Neithalath [8]. Basicamente o corpo-de-prova cilíndrico foi envolto em uma membrana de látex e inserido no interior do equipamento. Após a instalação, o circuito é aberto permitindo-se a passagem de água através da amostra de concreto permeável até o dreno, saturando-a e garantindo a retirada do ar. Em seguida, o circuito é fechado através de uma válvula, mantendo-se o nível entre a superfície da amostra e o dreno do permeâmetro. Aplica-se uma coluna d’água de 290 mm e a válvula é novamente aberta, registrando-se o tempo para a coluna d’água descer até 70 mm da superfície da amostra. O procedimento é repetido três vezes para cada corpo de prova e considera-se o tempo médio. O coeficiente de permeabilidade é determinado de acordo com a Lei de Darcy.

4.2. Ensaio de Abrasão O ensaio de abrasão foi realizado segundo especificações da ASTM [9]. Este ensaio tem início com a pesagem de três corpos de prova simultaneamente. Após a pesagem, os corpos de prova são colocados em uma máquina denominada Los Angeles Machine, que consiste em um tambor de aço que pode ser rotacionado a uma velocidade controlada.

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Neste ensaio, a norma recomenda que a máquina deve ser rotacionada a uma velocidade de 30 a 33 rotações por minuto. Após 500 rotações, o material é retirado e peneirado. A peneira deve ter um diâmetro de 25 mm. O material retido na peneira é novamente pesado. A partir dos resultados obtidos na pesagem inicial e final do material, é calculada a perda de massa em porcentagem. 4.3. Ensaio de Resistência à Compressão Simples Os ensaios de resistência à compressão foram realizados em uma prensa hidráulica servo-controlada, marca SHIMADZU, com capacidade para 2.000 kN. O ensaio de resistência à compressão foi realizado segundo as especificações da NBR 5739 [10]. Foram rompidos os corpos-de-prova resultantes da extração dos blocos concretados. Durante o ensaio, foram utilizados discos de neoprene contidos em cápsulas metálicas para melhorar a distribuição das cargas, uma vez que a superfície do concreto permeável é bastante irregular. 5. ANÁLISE DE RESULTADOS Os resultados obtidos nos ensaios realizados com os corpos de prova extraídos de blocos concretados nos traços 1:3, 1:4 e 1:5, cada um exposto a três diferentes tipos de cura, são apresentados a seguir. 4.1 Ensaio de Permeabilidade A Figura 3 apresenta os resultados obtidos no ensaio de permeabilidade para cada um dos traços, relacionando os três tipos de cura utilizados. Analisando a figura, observa-se que quanto menor o traço, maior a quantidade de pasta e maior a influência da cura. Verifica-se, ainda, que com o traço 1:3 foram obtidos coeficientes de permeabilidade muito baixos em comparação com os demais traços.

Figura 3: Resultados do ensaio de permeabilidade, considerando os diferentes tipos de cura 4.2 Ensaio de Abrasão A Figura 4 apresenta os resultados obtidos no ensaio de abrasão para cada um dos traços, relacionando os três tipos de cura utilizados. A análise do gráfico indica que, no traço 1:3, a cura com a manta geotextil (BIDIM) apresentou os melhores resultados. Observa-se, ainda, que as curas imersa e ambiente não tiveram influência significativa na abrasão. Outra constatação que pode ser feita é que no traço 1:4, a cura ambiente foi a melhor e no traço 1:5 a cura imersa foi a melhor. Mas observa-se que a variação dos resultados entre os tipos de cura não é significativa.

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4.3 Ensaio de resistência à compressão A figura 5 ilustra os resultados obtidos no ensaio de abrasão para cada um dos traços, relacionando os três tipos de cura utilizados. Analisando as mesmas observa-se que o tipo de cura interferiu significativamente na resistência à compressão dentro do mesmo traço. Não foi encontrado um padrão de comportamento nesta variação. Uma das razões para isto pode ser a dificuldade encontrada em manter um paralelismo entre as superfícies superior e inferior do corpo de prova. Além disso, durante a extração, as superfícies superior e inferior sofrem danos, impedindo uma adequada distribuição das tensões de compressão.

Figura 4: Resultados do ensaio de abrasão, considerando os diferente tipos de cura.

Figura 5: Resultados do ensaio de resistência à compressão, considerando os diferentes tipos de cura. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa procurou mostrar a eficácia do concreto permeável, tendo com o objetivo principal a otimização do traço para encontrar o equilíbrio entre uma boa permeabilidade associada a um bom desempenho em relação ao desgaste mecânico. Foram, também, realizados ensaios de resistência à compressão em corpos de prova extraídos. A partir da análise dos resultados obtidos com os ensaios realizados foram elencadas as algumas considerações:

• O traço 1:3 não apresentou bons resultados no ensaio de permeabilidade e deve, portanto, ser descartado; • A cura imersa e a cura utilizando manta geotextil (BIDIM) não agregaram valor do ponto de vista de

permeabilidade e abrasão, além de demandarem custo e complexidade de execução. Desta forma, sugere-se a adoção da cura ambiente para a caracterização do concreto permeável.

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Em face aos resultados obtidos, conclui-se que o Concreto Permeável deve possuir as seguintes características para apresentar um bom desempenho:

• Equilíbrio entre a permeabilidade, a abrasão e a resistência mínima para tráfego leve; • O custo do material não pode exceder ao do concreto convencional; • O concreto permeável precisa ter uma boa resistência à flexão.

Os resultados encontrados ainda precisam ser mais trabalhados, sobretudo os de resistência à compressão, para que este concreto tenha uso numa pavimentação como calçada e estacionamentos. Os resultados de permeabilidade obtidos, apesar de serem muito bons, ainda precisam estar de acordo com a capacidade de permeabilidade do solo onde vai ser instalada a pavimentação. Torna-se necessário, ainda, o estudo da capacidade pluviométrica da região. Existem, ainda, outros fatores a serem levados em consideração na produção desse concreto, condizentes com a realidade brasileira, como: a resistência da população; o descaso desta com os seus resíduos sólidos, o que poderá entupir os poros, comprometendo a permeabilidade; e a necessidade de mão-de-obra especializada na construção de um pavimento permeável, sobretudo por conta das etapas a seguir na sua construção. Em vista de todo esse processo de urbanização e expansão dos grandes centros urbanos é preciso observar a questão da gestão das águas pluviais. Nos dias atuais, em função de uma má gestão das mesmas, inúmeros transtornos são causados à população, tanto em relação aos danos estruturais quanto à proliferação de doenças. Deve-se levar em conta o impacto causado no meio ambiente pela poluição carreada nos centros urbanos para os corpos hídricos, a modificação do ambiente pela construção de tubulações de drenagem e os custos necessários para estes empreendimentos. Nesse cenário se insere o concreto permeável, como uma alternativa ecologicamente correta e viável, aproximando o ambiente urbano das condições de urbanização. 6. REFERÊNCIAS [1] Lamb, G.S., “Desenvolvimento e Análise do Desempenho de Elementos de Drenagem Fabricados em Concreto

Permeável”. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, 2014, 145p. [2] Polastre, B.; Santos, L.D., “Concreto Permeável”. Disponível em: http://www.usp.br, 2006. [3] ACI COMMITTEE 522. Pervious Concrete (ACI 522R-06). Farmington Hills: American Concrete Institute, 2006. [4] Tennis, P.D.; Leming, M.L.; Akers, D. J., “Pervious Concrete Pavements”. EB302.02, Portland Cement Association,

Skokie, Illinois, e National Ready Mixed Concrete Association, Silver Spring, Maryland, USA, 2004. 36p. [5] Huffman, D., “Understanding Pervious Concrete”. In: The Construction Specifier. Buffalo: CSI, Dezembro/2005.

p.42 – 49. [6] Aciolli, L.A., “Estudo experimental de pavimentos permeáveis para o controle do escoamento superficial na fonte”.

Porto Alegre, UFRGS: Instituto de Pesquisas Hidráulicas. Março/2005. 162p. [7] Tucci, C., Inundações Urbanas. Porto Alegre: ABRH/RHAMA, 2007, Vol.11. 393p. [8] Neithalath, N. et al., “Development of Quiet and Durable Porous Portland Cement Concrete Paving Materials”.Final

Report, The Institute for Safe, Quiet, and Durable Highways, 2003, 179p. [9] ASTM INTERNACIONAL. Standard Test Method for Determining Potencial Resistance to Degradation of

Pervious Concrete by Impact and Abrasion, 2013. [10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 05739:1994 - Ensaio de Compressão de Corpos

de Prova Cilindrícos. Rio de Janeiro: ABNT, 1994.