concentração empresarial e política antitruste · se truste por consequência significa...
TRANSCRIPT
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
1
Concentração Empresarial e Política Antitruste
Roberto Lima Santos Neto 1
Maria Bernadete Miranda 2
Sumário: 1 Concentração empresarial. 1.1 Regulamentação estatal. 2 Defesa atual da concorrência no Brasil. 3 Princípios. 3.1 Princípio da livre concorrência. 3.2 Princípio da liberdade contratual. 3.3 Princípio da igualdade. 3.4 Princípio da análise econômica. 3.5 Princípio da regra razão. 3.6 Princípio da eficiência. 4 Fundamentação jurídica. 5 Integração de empresas. 5.1 Integração verticalizada. 5.2 Integração horizontalizada. 5.3 Cartel. 5.4 Holding. 5.5 Joint ventures. 6 Forma de controle dos atos. 6.1 CADE e SAE. 6.2 Infrações da ordem econômica. 7 Considerações finais. Referências.
Resumo Devido ao aumento de operações empresariais de concentração, vislumbra-se essencial a um país instituir uma eficaz política antitruste. A legislação antitruste além de proteger o mercado, tende a incentivar a atividade empresarial através de normas de direito material e processual, sendo de suma importância a atividade de órgãos fiscalizadores, dentre eles o CADE. A regulação do mercado surge visto à existência de falhas que criam dificuldades a concorrência real, proporcionando assim, melhores resultados e bem estar social e econômico.
Palavras-Chave: empresa, concentração, antitruste, CADE, concorrência.
1 Concentração Empresarial
O presente artigo científico tem como principal fundamento o estudo da concentração
empresarial de acordo com a politica antitruste instituída pelo ordenamento jurídico nacional.
No que tange o conceito de concentração empresarial é vasta as formas como é
caracterizado o que nos leva a construir o conceito de que concentração empresarial é a
reunião de duas ou mais empresas independentes anteriormente, com o intuito em regra de
satisfazer interesses próprios.
1 Bacharel em Ciências Jurídicas pela Universidade de Sorocaba, UNISO, 2013. 2 Professora orientadora. Mestrado e Doutorado em Direito das Relações Sociais, sub-área Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora de Direito Empresarial na Universidade de Sorocaba, Uniso; professora de Direito Empresarial na União das Instituições Educacionais do Estado de São Paulo, Uniesp - São Roque; Diretora responsável das Revistas Eletrônicas da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque - Fac. Advogada.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
2
Estes interesses subdividem-se em aspectos positivos e negativos, em prol das próprias
empresas, do mercado e ainda da sociedade, razão pela qual se torna insuperável a
necessidade da política antitruste.
Assevera De Plácido e Silva que:
“Truste, do inglês trust, significa (confiança, depósito, crédito), de origem americana, truste (trust) é a organização de ordem financeira, instituída por indústrias ou comerciantes, no intuito de dirigir a produção, ou controlar a venda de certos produtos, fixando-lhes as diretrizes relativas à distribuição nos mercados e aos preços respectivos”. 3
Diante disto, entende-se por truste a união de empresas com o intuito de eliminar a
concorrência e controlar preços4. Se truste por consequência significa perpetuação e
diminuição de dificuldades no mercado, pode-se afirmar que existem também atos
concentracionários legais, ou seja, que não tem por objetivo limitar, falsear ou causar
qualquer outro dano a livre concorrência, conforme disposto no artigo 36, da Lei nº
12.529/2011.
A concentração empresarial é um fenômeno diretamente ligado ao ramo da economia,
visto buscar quase sempre aumento de lucros, melhoria estrutural, interferência nos preços, e
com certeza a diminuição da concorrência.
Preleciona a Professora Maria Bernadete Miranda que “é característico do
desenvolvimento das atividades econômicas dos tempos atuais a concentração das sociedades
empresárias”. 5
Desta forma, o objetivo é a junção de empresas através de institutos permissivos, nas
quais em regra, estão em dificuldades financeiras e querem aumentar participação no
mercado, ou ainda diminuir despesas de produção para obter maior controle sobre o ramo que
atuam.
Segundo a Professora Maria Bernadete,
“Esses atos de concentração foram realizados, inicialmente, através da incorporação e da fusão, hoje, entretanto, esse meio de concentração é por muitos considerado
3 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 1424. 4BRASIL. Dicionário in formal. Disponível em: http://www.dicionarioinformal.com.br/truste/. Acesso em 30/05/2013. 5 MIRANDA, Maria Bernadete. Curso teórico e prático de direito societário. 2ª ed. Rio de Janeiro: GZ Editora, 2013, p. 243.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
3
superado pela facilidade com que pode uma sociedade participar de outra, tornando-se sua coligada, controladora ou controlada”. 6
A concentração empresarial ocorre devido à necessidade das empresas diminuírem
custos, e também pela concorrência de mercado. Atualmente, as empresas para manterem-se
no mercado consumidor e na competitividade de seus produtos e serviços, ampliando a sua
distribuição, recorrem a estratégias econômicas, dentre elas: a fusão, incorporação, cisão,
holding, cartel, consórcios, joint ventures, etc.
1,1 Regulamentação Estatal
Mesmo aparentemente diante de um fenômeno estritamente econômico, o Estado
inicia uma regulamentação do se chama direito da concorrência.
Neste sentido, explica Bulgarelli que “ainda, que o fenômeno do ponto de vista
econômico é muito mais amplo do que sob o aspecto jurídico, de vez que se afunila, em face
da regulamentação jurídica na qual deve se enquadrar-se. ” 7
Entende-se por direito da concorrência, o ramo que designa essencialmente o direito
das práticas anticoncorrenciais, o controle das concentrações e ainda o controle de ajudas
estatais. 8
Vale ressaltar que em 1940 iniciou-se a intervenção estatal com a edição do Decreto-
lei nº 2.627, de 26 de setembro, que tratava da fusão e incorporação, mesmo que ainda
somente sobre sociedades por ações.
Ao longo dos anos, gradativamente se fazia necessário nova regulamentação estatal,
que surgiram, dentre elas a Lei nº 8.884, de 11 de junho de 1994 que institui o CADE –
Conselho Administrativo de Defesa Econômica; a Constituição Federal de 1988 que cria
capítulo a respeito da ordem econômica; e ainda a Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011,
legislação atual que estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, tendo como
finalidade a repressão às infrações contra ordem econômica, conforme preceitua o art. 1º.
6 MIRANDA, Maria Bernadete. Curso teórico e prático de direito societário. 2ª ed. Rio de Janeiro: GZ Editora, 2013, p. 243. 7 BULGARELLI, Waldírio. Fusões, incorporações e cisões de sociedades. São Paulo: Atlas, 2003, p. 197. 8WIKIPÉDIA. Direito da concorrência. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_da_concorr%C3%AAncia. Acesso em: 30/05/2013.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
4
2 Defesa Atual da Concorrência no Brasil
Diante do aspecto atual da defesa da concorrência pode-se dizer que é um misto de
normas constitucionais e legislações especiais que juntas regulam este ramo do direito, tendo
na Constituição Federal de 1988 os princípios gerais da atividade econômica conforme
exposto no art. 170.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I- soberania nacional; II- propriedade privada; III- função social da propriedade; IV- livre concorrência; V- defesa do consumidor; VI- defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII- redução das desigualdades regionais e sociais; VIII- busca do pleno emprego IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país. Parágrafo Único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.
Destaca-se ainda a fundamental importância das legislações especiais acerca do tema,
visto que a Lei nº 8.884, de 1994 transforma o CADE, que foi criado pela Lei nº 4.137, de
1962, em autarquia federal, vinculado ao Ministério da Justiça, com sede e foro no Distrito
Federal, conforme dispõe o seu artigo 3º, e institui medidas de prevenção e repressão às
infrações contra a ordem econômica.
Neste caminho, surge a Lei nº 12.529, de 2011 que disciplina a estrutura do Sistema
Brasileiro de Defesa da Concorrência, dispondo também acerca da prevenção e repressão de
infrações contra a ordem econômica.
Assim, a defesa da concorrência preocupa-se com o bom funcionamento do sistema
competitivo dos mercados. Ao se assegurar a livre concorrência, garante-se não somente
preços baixos, mas também produtos de maior qualidade, diversificação e inovação,
aumentando, portanto, o bem-estar do consumidor e o desenvolvimento econômico. 9
3 Princípios
9 LARA, Alexandre. Defesa da concorrência, análise de mercado, práticas desleais, posições dominante. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAMKAAI/defesa-concorrencia-analise-mercado-praticas-desleais-posicao-dominante. Acesso em: 30/05/2013.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
5
Em regra, qualquer ramo do direito tem seus princípios atinentes, que são tidos como
os pilares de sustentação da matéria, tendo o conceito de princípio no latim como o primeiro
instante, ou seja, o momento de início da matéria.
Para De Plácido e Silva,
“Princípio, derivado do latim principium (origem, começo), em sentido vulgar quer exprimir o começo de vida ou o primeiro instante em que as pessoas ou as coisas começam a existir. É amplamente, indicativo do começo ou da origem de qualquer coisa”. 10
Além de demarcar o início da matéria os princípios em geral são utilizados no direito
para suprir a carência de legislações e até mesmo para sanar conflitos que possam vir a existir.
3.1 Princípio da Livre Concorrência
O princípio da livre concorrência é do ponto de vista constitucional a exteriorização da
livre iniciativa.
Assim leciona José Afonso da Silva:
“A livre concorrência está configurada no art. 170,IV, como um dos princípios da ordem econômica. Ela é uma manifestação da liberdade de iniciativa, e para garanti-la, a Constituição estatui que a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.” 11
Conforme Ives Gandra da Silva Martins:
“(...) a livre concorrência é indispensável para o funcionamento do sistema capitalista. Ela consiste na existência de diversos produtores ou prestadores de serviços. É pela livre concorrência que se melhoram às condições de competitividade das empresas, forçando-as a um constante aprimoramento dos seus métodos tecnológicos, dos seus custos, enfim, à procura constante de criação de condições mais favoráveis ao consumidor (...)”. 12
10 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 1090. 11 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo. Malheiros, 2004, p. 775. 12 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários à constituição do Brasil. São Paulo: Malheiros, 2004, p.189.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
6
O texto constitucional, em seu artigo 170 assegura à todos o livre exercício de
qualquer atividade econômica, independentemente de autorização dos órgãos públicos, salvo
nos casos previstos em lei, encontrando-se aí o princípio constitucional da livre iniciativa. A
liberdade de iniciativa compreende o início da atividade econômica e a sua cessação, estando
os empresários livres para produzir e colocar seus produtos e serviços no mercado
consumidor, manifestando-se o princípio da livre concorrência.
3.2 Princípio da Liberdade Contratual
O princípio da liberdade contratual, também chamado de pacta sunt servanda está
diretamente relacionado ao contrato, e vincula suas partes contratantes.
Vale ressaltar ainda, que este princípio é tido como uns dos mais antigos do direito,
prosperando no tempo.
3.3 Princípio da Igualdade
Ao relacionarmos o princípio da igualdade com a legislação que trata da política
antitruste brasileira devemos buscar, o porque, da aplicação desse princípio, e o que realmente
se pretende resguardar.
O princípio da igualdade ou isonomia visa equiparar pessoas físicas ou jurídicas que
atuam num mesmo patamar, dentro de circunstâncias iguais ou parecidas para que não haja
favorecimento a nenhuma delas.
Diante da legislação antitruste brasileira, este princípio está presente para permitir que
haja entre os sujeitos do mercado uma igualdade, desde o acesso, permanência e surgimento
de novos sujeitos.
3.4 Princípio da Análise Econômica
O princípio da análise econômica é tratado de forma especial, visto que sem sua
utilização não é possível a caracterização por si só dos abusos de poder econômico, isto
porque o direito regra as situações abstratas, e a análise econômica faz um estudo acerca da
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
7
situação concreta, para ao final definir se houve ou não o abuso do poder econômico, assim,
cometendo ou não as infrações definidas por lei.
3.5 Princípio da Regra Razão
No ramo do direito da concorrência a aplicação do princípio da regra razão tem-se
portado de forma a diminuir a rigidez da legislação antitruste.
Com a aplicação do princípio da regra razão consegue-se diminuir o número de ações
contrárias a livre concorrência, sempre buscando o bem estar econômico e o interesse social.
3.6 Princípio da Eficiência
Dentre o princípio da eficiência devemos observá-lo como garantidor das condições
ideais de mercado, ou seja, trazendo o bem-estar social e econômico, jamais fazendo menção
ao seu ponto de vista empreendedor, sendo por este aspecto viabilizador de produtividade e
qualidade visando resultados melhores.
Ainda, o princípio da eficiência tem como função a garantia da melhora do mercado
em geral, como exemplo a estabilidade de preço, entrada de novas sociedades, aumento do
emprego e não o interesse de perpetuar uma sociedade que tende apenas aumentar seus lucros.
4 Fundamentação Jurídica
Deveras salientar, que ao tratarmos de um tema aparentemente novo como é o direito
da concorrência, faz-se necessário buscar seus fundamentos jurídicos, ou seja, estudarmos a
base do direito concorrencial e suas leis derivadas, que tornam possível a sua materialização.
A priori verifica-se que a Constituição Federal de 1988 traz consigo além dos
princípios gerais da atividade econômica dispostos no artigo 170 e seus incisos, como a livre
iniciativa do caput que se manifesta na livre concorrência e ainda na defesa do consumidor,
normas repressivas, conforme dispõe o artigo 173, § 4º, in verbis: “A lei reprimirá o abuso do
poder econômico que vise a dominação de mercados, a eliminação da concorrência e o
aumento arbitrário dos lucros”.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
8
Desta forma, mesmo tendo princípios gerais e normas repressivas, não se pode
materializar o direito, surgindo à legislação específica afim de, complementar a aplicabilidade
do texto trazido pela Constituição Federal, norma esta, elaborada com o intuito de preservação
da concorrência e consequentemente garantia para as empresas envolvidas e a sociedade.
Neste contexto, surge a Lei nº 8.884, de 1994 que além de transformar o CADE em
autarquia, expõe sua composição e competência, e ainda o mais importante, determinada
quais são as infrações contra a ordem econômica e principalmente consolida as respectivas
penas a serem impostas.
Assim, com o advento da Lei nº 12.529, de 2011, algumas alterações foram propostas
em leis esparsas e ainda na própria Lei nº 8.884, de 1994 visando melhorar a estrutura e
aplicabilidade do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência.
Hoje o atual modelo seguido pelo ordenamento jurídico brasileiro é de que o Estado
irá intervir na ordem econômica em casos de desrespeito, não se utilizando do princípio da
autorregulamentação dos mercados.
Observa-se ainda, que a Constituição Federal de 1988, é taxativa ao tratar de
princípios gerais do direito, como a legalidade que está presente em vários artigos do título da
ordem econômica e financeira, criando ainda relevantes contextos de possível intervenção
estatal, diante disto: a) Legalidade, exigência de legislação prévia para atuação, artigos 170 §
único, 171 § 1º, 172, 173 §§ 4º 5º, 174 e 175; b) Livre Concorrência; c) Defesa do
Consumidor, artigo 173 §§ 4º 5º; d) Fiscalização, Incentivo e Planejamento, artigo 174; e)
Exploração Direta da Atividade Econômica, artigo 173; f) Repressão ao Abuso do Poder
Econômico, artigo 173 § 4º; g) Responsabilização de Empresas e Dirigentes, artigo 173 § 5º;
h) Fixação de Diretrizes e Bases, artigo 174 § 1º.
5 Integração de Empresas
A integração de empresas é um processo no qual se busca gerar crescimento, contudo
pode ter também uma faceta relacionada à diminuição de custos de operação.
Neste sentido, integrar significa fazer parte, ou ainda, tornar parte de algo. Neste
contexto, é válido dizer que independente da forma que seja utilizada para a realização da
integração, o intuito é sempre soma, seja um novo processo anterior ou posterior à produção,
ou seja, a compra de uma indústria de mesmo porte.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
9
A integração empresarial surge como necessidade para as empresas em geral, que
querem, sobretudo conseguir aumentar sua participação no mercado, melhorar a
infraestrutura, produtividade e ainda gerar segurança e confiança pelo consumidor.
São formas de integração de empresas: Integração verticalizada, integração
horizontalizada, cartel, holding, joint ventures, etc.
5.1 Integração Verticalizada
Dentre as possibilidades de integração empresarial está a integração verticalizada ou
vertical, que se dá quando uma empresa em expansão passa a controlar diferentes processos
de produção, sempre contínuos, o que gera a diminuição de custos e maximização dos
resultados a serem obtidos.
Este modelo de integração força a indústria ou empresa a ter que gerenciar novas
operações ainda não realizadas, como exemplo, uma indústria moveleira que além de fabricar
os móveis destinados ao mercado interno, resolve parar de terceirizar o transporte, adquirindo
caminhões e contratando mão de obra especializada para a entrega.
Utilizando da integração vertical a empresa acaba por consequência a criar barreiras
para outras empresas que buscam os mesmos produtos e insumos, principalmente nos ramos
em que estes são escassos.
Cabe ainda salientar que as operações de integração verticalizadas são geralmente
utilizadas por empresas que buscam três aspectos: 1) querem aumentar sua confiabilidade no
mercado, ou seja, como no exemplo citado, entregar o produto no prazo certo trazendo
segurança e confiança para a marca; 2) se busca melhorar a qualidade e quantidade, trazendo
como efeito a eficiência, o que em regra gera lucros maiores; 3) aumento do poder de
mercado, o que gera perigo no que tange ao direito da concorrência, visto que dependendo do
ramo que se está inserida ocorrem os oligopólios e monopólios.
Observa-se ainda, que os aumentos de operações empresariais verticais tendem a
diminuir a quantidade de ofertantes de serviços, ou seja, as pequenas empresas que prestam
serviços de transporte à industrias estão se extinguindo, visto a necessidade de manter o
controle geral da produção, conglomerando processos.
5.2 Integração Horizontalizada
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
10
Quando se fala em operações de integração horizontal, estamos diretamente tratando
da eliminação da livre concorrência, gerando perigo a defesa do consumidor.
Assim, a integração horizontal consiste na aquisição de sociedades do mesmo nível de
produção, que em regra são concorrentes diretos, podendo ocorrer exceções. Desta forma, o
ato horizontal busca agregar infraestruturas existentes para consequentemente não ter que
criá-las.
Acerca dos benefícios do ato de integração horizontal, entende-se ser apenas para as
próprias empresas, visto que gera a real eliminação da concorrência, e ainda é uma forma de
expansão com baixo custo, isto porque muitas vezes se aproveita inclusive a marca adquirida,
sendo, sempre mais fácil sua continua inserção no mercado.
Ademais, é sabido do interesse relevante do Estado em impedir as ações horizontais,
visando impedir as formações de grandes grupos dominadores e conglomerados oligopolistas
e monopolistas.
5.3 Cartel
A formação de cartéis tem por objetivo fraudar o mercado, ou seja, de forma direta ou
indireta organizar combinações de preços com concorrentes, podendo ainda haver divisão
mercadológica, com o principal intuito de parcialmente eliminar a concorrência, e prosperar
apenas os seus mandatários.
Com os cartéis surgem afrontas aos princípios do direito da concorrência, como a livre
concorrência que será mitigada vista as manobras utilizadas para diminuição do mercado, a
defesa do consumidor em vista do aumento dos preços, e dificuldades na oferta.
Além disto, a formação de cartéis é tida como crime no Brasil, sendo vista como a
mais grave ofensa a concorrência.
Segundo o Ministério da Justiça,
Cartel é um acordo explícito ou implícito entre concorrentes para, principalmente, fixação de preços ou quotas de produção, divisão de clientes e de mercados de atuação. O objetivo é, por meio da ação coordenada entre concorrentes, eliminar a concorrência, com o consequente aumento de preços e redução de bem-estar para o consumidor. Segundo estimativas da Organização de Cooperação e
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
11
Desenvolvimento Econômico (OCDE), os cartéis geram um sobrepreço estimado entre 10 e 20% comparado ao preço em um mercado competitivo13.
Assim, os cartéis são acordos que visam a manipulação do mercado, gerando danos
diretos aos consumidores.
5.4 Holding
Entende-se por holding o instituto do direito empresarial no qual uma empresa
controla ou passa a controlar um grupo de outras empresas, todas com personalidade jurídica,
visando prover objetivos comuns.
Assim leciona a professora Maria Bernadete,
“Surge assim as chamadas Holdings, ou Konzerns, caracterizadas pela reunião de empresas através de um processo de concentração e sob uma direção comum, mas sem fusão de patrimônios e nem a perda da personalidade jurídica de cada integrante, pois, os grupos de sociedade visam à concretização de empreendimentos comuns” 14.
Visando não só prover os objetivos comuns compactuados, as holdings, por
conseqüência, acabam por se fortalecer perante o mercado, inclusive em crises econômicas,
tornando comum o surgimento de novos grupos de sociedades, e diferenciando-os das
empresas não agrupadas por serem mais estáveis.
5.5 Joint Ventures
Joint venture, é um instituto do direito empresarial, a qual não tem significado direito
na língua portuguesa, contudo, trata-se de uma junção empresarial através de contrato, sempre
com tempo determinado, em que as empresas são independentes, cuja intenção é promover a
feitura de algo em comum participação.
Leciona a professora Maria Bernadete,
13BRASIL. Ministério da Justiça. Cartel. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/main.asp?ViewID=%7B9F537202%2D913E%2D4969%2D9ECB%2D0BC8ABF361D5%7D¶ms=itemID=%7BDEB1A9D4%2DFCE0%2D4052%2DA5D9%2D48E2F2FA2BD5%7D;&UIPartUID=%7B2868BA3C%2D1C72%2D4347%2DBE11%2DA26F70F4CB26%7D. Acesso em: 01/06/2013. 14 MIRANDA, Maria Bernadete. Curso teórico e prático de direito societário. 2ª ed. Rio de Janeiro: GZ Editora, 2013, p. 247.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
12
“Joint Venture é, portanto, uma figura jurídica originada da prática, cujo nome não tem equivalente em nossa língua, mas que pode assim ser entendida como contrato de colaboração empresarial. Ela corresponde a uma forma ou método de cooperação entre empresas independentes, denominado em outros países de sociedade entre sociedades, filial comum, associação de empresas etc” 15.
Para ilustrar melhor o entendimento de joint venture, temos como exemplo, o caso em
que o proprietário de um terreno com ótima localização formula um contrato de colaboração
empresarial com uma empresa do ramo de construção civil para que esta erga um edifício
como o intuito de partilharem os lucros.
É sabido ainda, que o contrato de joint venture pode ser realizado em diferentes áreas
ou atividades, sempre com termo, visando à elaboração em conjunto de algo.
6 Forma de Controle dos Atos
Neste ponto da pesquisa trataremos dos instrumentos existentes para a real proteção da
concorrência em nosso ordenamento jurídico, ou seja, a forma de controle dos atos.
Seguindo neste liame, verifica-se que a Lei nº 12.529, de 2011 dá atribuições ao
CADE como autarquia federal, consistindo numa macroestrutura com o intuito de reprimir
abusos decorrentes de atos contra a ordem econômica.
É válido salientar ainda que a repressão deve ser feita de acordo com as tipificações
existentes na legislação, não podendo se furtar o órgão administrativo à observância do
princípio da legalidade.
6.1 CADE e SAE
Diante do controle dos atos, dentro do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência
verifica-se papel de maior importância ao CADE, órgão vinculado ao Ministério da Justiça,
autarquia federal, com jurisdição em todo território nacional, com sede e foro no Distrito
Federal, visto que assim vem previsto no artigo 4º da Lei nº 12.529, de 2011.
A constituição do CADE está prevista em seu artigo 5º, cujos órgãos são: Tribunal
Administrativo de Defesa Econômica, Superintendência Geral e Departamento de Estudos
Econômicos.
15 MIRANDA, Maria Bernadete. Curso teórico e prático de direito societário. 2ª ed. Rio de Janeiro: GZ Editora, 2013, p. 267.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
13
“O Cade tem como missão zelar pela livre concorrência no mercado, sendo a entidade responsável, no âmbito do Poder Executivo, não só por investigar e decidir, em última instância, sobre a matéria concorrencial, como também fomentar e disseminar a cultura da livre concorrência”.16
É válido destacar as funções exercidas pelo CADE, que são: preventiva visto que se
decide sobre aspectos da ordem econômica visando garantir a livre concorrência, a repressiva
que tem o papel investigatório e decisório e ainda o educacional que busca incutir na
sociedade valores da ordem econômica para estimular estudos acadêmicos sobre o tema de
defesa da concorrência, assim fazendo prosperar as melhores práticas entre agentes do
mercado, e sobretudo os consumidores.
Ainda no SBDC existe um segundo órgão integrante, cujo o nome é SAE – Secretaria
de Acompanhamento Econômico que visa num aspecto macro a promoção da concorrência.
6.2 Infrações da Ordem Econômica
Sobre as disposições gerais das infrações da ordem econômica, encontram-se contidas
nos artigos 31 à 35 da Lei nº 12.529, de 2011, da qual se extrai a de maior importância aquela
de aplicação as pessoas físicas ou jurídicas, independente de publicas ou privadas, se
enquadrando ainda sociedades de fato ou de direito, sem necessidade de termo, ainda que
sobre monopólio legal.
Vale frisar ainda que a responsabilidade é solidária entre empresa, empresário e
administrador, mesmo que composto através de grupos de sociedades, como exemplo
holdings.
Tece também sobre a personalidade jurídica que poderá em casos de abuso ser
desconsiderada, não excluindo ainda outros ilícitos previstos além da repressão da ordem
econômica.
Sendo extenso, o artigo 36 da Lei nº 12.529, de 2011 preceitua o que constitui infração
da ordem econômica, ressaltando ainda que independe de culpa, definindo os objetos e
efeitos, e contendo ainda excludentes, in verbis:
“Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os
16 BRASIL. Conselho administrativo de defesa econômica. O que é o Cadê? Disponível em: http://www.cade.gov.br/Default.aspx?2606060a16f4371321. Acesso em 03/06/2013.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
14
seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: I – limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; II – dominar o mercado relevante de bens e serviços; III – aumentar arbitrariamente os lucros; e IV – exercer de forma abusiva posição dominante. § 1.º A conquista de mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores não caracteriza o ilícito previsto no inciso II do caput deste artigo. § 2.º Presume-se posição dominante sempre que uma empresa ou grupo de empresas for capaz de alterar unilateral ou coordenadamente as condições de mercado ou quando controlar 20% (vinte por cento) ou mais do mercado relevante, podendo este percentual ser alterado pelo Cade para setores específicos da economia. § 3.º As seguintes condutas, além de outras, na medida que configurem hipótese prevista no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam infração da ordem econômica. I – acordar, combinar, manipular ou ajustar com concorrente, sob qualquer forma: a) os preços de bens ou serviços ofertados individualmente; b) a produção ou a comercialização de uma quantidade restrita ou limitada de bens ou a prestação de um número, volume ou frequência restrita ou limitada de serviços; c) divisão de partes ou segmentos de um mercado atual ou potencial de bens ou serviços, mediante, dentro outros, a distribuição de clientes, fornecedores, regiões ou períodos; d) preços, condições, vantagens ou abstenção em licitação publica. II – promover, obter ou influenciar a adoção de conduta comercial uniforme ou concertada entre concorrentes; III – limitar ou impedir o acesso de novas empresas ao mercado; IV – criar dificuldades à constituição, ao funcionamento ou ao desenvolvimento de empresa concorrente ou de fornecedor, adquirente ou financiador de bens ou serviços; V – impedir o acesso de concorrente às fontes de insumo, matérias-primas, equipamentos ou tecnologia, bem como aos canais de distribuição; VI – exigir ou conceder exclusividade para divulgação de publicidade nos meios de comunicação de massa; VII – utilizar meios enganosos para provocar a oscilação de preços de terceiros; (...).
Assim, observa-se que no § 1.º há exclusão de um fato típico, ou seja, este fato típico
não gera dano ao mercado, tão pouco a livre concorrência, visto que basta que haja eficiência
na relevância de mercado para não haver infração.
O parágrafo segundo é apenas explicativo, não dispondo sobre qualquer infração que
se possa praticar, contudo deixa claro o que vem a ser posição dominante, traduzida na
empresa ou grupo societário que consegue alterar condições de mercado, e ainda deixa uma
interrogação no que vem a ser mercado relevante.
Neste diapasão, mercado relevante é a delimitação do mercado em que se deseja
estudar, ou seja, analisar seus concorrentes e produtos para daí iniciar o processo de estudo
acerca das possíveis infrações.
O mercado relevante após determinado é visto como ferramenta fundamental para se verificar a ocorrência de ilícitos no âmbito do direito brasileiro da concorrência.
“O mercado relevante pode, então, ser definido a partir do conjunto de bens que concorrem diretamente entre si, ou seja, que são substituíveis”. 17
17 ANTITRUST FOR DUMMIES. Antitruste para Iniciantes. Disponível em: http://antitrustfordummies.blogspot.com.br/2009/07/licao-6-mercado-relevante.html. Acesso em 03/06/2013.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
15
O terceiro parágrafo retoma a ideia principal do artigo 36, em que se determinam as
hipóteses de incidência das infrações da ordem econômica, tecendo ainda acordos, visando
manipulação de preços, limitação de acesso ao mercado, impedindo acesso a insumos e
matéria prima, concedendo ou exigindo exclusividade entre outras proibições.
Visto o grande número de impedimentos que gera a prática de ilícitos da ordem
econômica, é que se verifica a importância do direito da concorrência em regular de forma
eficaz, principalmente com a atuação do CADE, visando a preservação de condições
adequadas de mercado e garantia de direitos.
7 Considerações Finais
Haja vista a grande quantidade de mobilizações empresariais, visando o agrupamento
de sociedades, que se torna necessária a existência da legislação pertinente ao direito da
concorrência, contudo, ainda mais importante do que a existência destas leis é sua
aplicabilidade, para que se garanta a livre iniciativa, que se desdobra consequentemente na
livre concorrência e defesa do consumidor, sendo estes princípios constitucionalmente
garantidos para promoção da concorrência leal.
A legislação que trata do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência é bem
elaborada e tem se efetivado gradativamente.
É de suma importância lembrar que os atos de concentração empresarial nem sempre
são maléficos ao mercado, por vezes são necessários para manutenção de empregos, e ainda
em momentos de quebra de grandes sociedades, para que não haja uma crise interna.
No decorrer do artigo cientifico conseguimos tratar desde os atos concentracionistas
até sua política regulatória, tomando como importante alguns tópicos acerca do CADE, das
infrações e ainda de exclusões legais.
Assim, foi possível compreender aspectos do direito da concorrência como os modos
de integração, a prática abusiva do cartel, grupos de sociedades, e ainda contratos de
cooperação como nos casos da joint venture.
Por fim, entende-se que a legislação vem se adequando com o passar dos anos as
modernas mudanças no âmbito do direito empresarial, e se não a mesma velocidade, com a
mesma eficiência.
Revista Virtual Direito Brasil – Volume 7 – nº 1 - 2013
16
Referências ANTITRUST FOR DUMMIES. Antitruste para Iniciantes. Disponível em: http://antitrustfordummies.blogspot.com.br/2009/07/licao-6-mercado-relevante.html. Acesso em 03/06/2013. BRASIL. Conselho administrativo de defesa econômica. O que é o Cadê? Disponível em: http://www.cade.gov.br/Default.aspx?2606060a16f4371321. Acesso em 03/06/2013. _______. Ministério da justiça. Cartel. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/main.asp?ViewID=%7B9F537202%2D913E%2D4969%2D9ECB%2D0BC8ABF361D5%7D¶ms=itemID=%7BDEB1A9D4%2DFCE0%2D4052%2DA5D9%2D48E2F2FA2BD5%7D;&UIPartUID=%7B2868BA3C%2D1C72%2D4347%2DBE11%2DA26F70F4CB26%7D. Acesso em: 01/06/2013. _______. Dicionário in formal. Disponível em: http://www.dicionarioinformal.com.br/truste/. Acesso em: 30/05/2013. BULGARELLI, Waldírio. Fusões, incorporações e cisões de sociedades. São Paulo: Atlas, 2003, p. 197. LARA, Alexandre. Defesa da concorrência, análise de mercado, práticas desleais, posições dominante. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAMKAAI/defesa-concorrencia-analise-mercado-praticas-desleais-posicao-dominante. Acesso em: 30/05/2013. MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários à constituição do Brasil. São Paulo: Malheiros, 2004, p.189. MIRANDA, Maria Bernadete. Curso teórico e prático de direito societário. 2ª ed. Rio de Janeiro: GZ Editora, 2013. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2009. SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo. Malheiros, 2004, p. 775. WIKIPÉDIA. Direito da concorrência. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_da_concorr%C3%AAncia. Acesso em: 30/05/2013.