conceltuaÇÃo e mensuraÇÃo de comprometimento …pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v2n1/v2n1a04.pdf ·...

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CONCElTUAÇÃO E MENSURAÇÃO DE COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL (1) JAIRO EDUARDO BORGES·ANDRADE (1) o fenômeno denominado "comprometimento organizacional" tem sido uma questão frequentemente levantada pelos profISsionais preocupados com as organizaÇÕes e SI:lU5 recursos humanos. Mais recentemente, coma introdução de programas de melhoria da qualídade nas organizações, passou a ser ainda mais comwn ouvir os especialistas dismrrerem!óObre programas. Contudo, nesses mei- os profissionais poucos avanços têm ocorrido para compreensão do referido fenô- meno. Sua importância éreconhecida e, em muitos casos, seguida de afirmações como "pouco se pode fazer,sem o comprometimento dos empregados" ou "quali- dade exige compromentimento com " organi:r,ação" . De tanto serem ouvidas, ou ditas, afirmativas como estas acabam se tomando fe<:l:!itas impossíveis de serem aviadas ou justificativas para fracassos, pois não trazem juntas as respostas para aquestão: "O que faU'r?" . Em outros casos, as discussões prosseguem para o campo das posslveis "explicações" para aquele feroOmeno, com a introdução dos conceitos de motiva- çãoe satisfação, comosea presença dos mesmos pudesse efetivamente ampliarou aprofundar o conhecimento de seus antecedentes ou as possubilidades de reco- mendações tecnológicas. Esses dois conceitos, por um lado, são por si só mal defi- nidos e amplos demais para apontar soluções ou permitir II. investigação de «,Ia- çõe<; entre eles e aquele fenômeno. Muitas dikadas de pesquisa organizacicnal, em 0/ Est@ artigo , o primoiro doo um conjunta de cinco t.oxIos oob", compromontimonto .. cio""l, It>d.os induldoa n a prOMnt@ Elo. foram. a pr .. . nodu a dioculi clu no Simp"'"'o -P,,"qui .. oob", o Comproa .....timenlo Organiu cional no Br"; l _ " ""lado d. arttt", dunmbt a XXIll Anual d. r.icolopa, ",alizada em Ribárlo PNia- sr,oo mês d. outubro d. 1m. Uma inlroduç'" geral, . plicado aos qualTo pnhim"" artigos, 'aqui d .... nvol.vid • . o. oulroo d_ ... vo<m metodol.ogi ... r,,"ultad os d. p..quitu .... aliz .. d ... <cm ba.., no rcf",encial h>Iirico rnoumido n •• te ao leilor que CONUlte" J'I_ t .. 0/ o..plo.dePo.iculogiaSocialedoTi"ab;o]ho l""titulod.P. ko1"gi. CoIina- UnB "E" 20:5 70910 Br ... llia, DP

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CONCElTUAÇÃO E MENSURAÇÃO DE COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL (1)

JAIRO EDUARDO BORGES·ANDRADE (1)

Unjvasids!d~ de Bras[/ia

o fenômeno denominado "comprometimento organizacional" tem sido uma questão frequentemente levantada pelos profISsionais preocupados com as organizaÇÕes e SI:lU5 recursos humanos. Mais recentemente, coma introdução de programas de melhoria da qualídade nas organizações, passou a ser ainda mais comwn ouvir os especialistas dismrrerem!óObre programas. Contudo, nesses mei­os profissionais poucos avanços têm ocorrido para compreensão do referido fenô­meno. Sua importância éreconhecida e, em muitos casos, seguida de afirmações como "pouco se pode fazer,sem o comprometimento dos empregados" ou "quali­dade exige compromentimento com " organi:r,ação" . De tanto serem ouvidas, ou ditas, afirmativas como estas acabam se tomando fe<:l:!itas impossíveis de serem aviadas ou justificativas para fracassos, pois não trazem juntas as respostas para aquestão: "O que faU'r?" .

Em outros casos, as discussões prosseguem para o campo das posslveis "explicações" para aquele feroOmeno, com a introdução dos conceitos de motiva­çãoe satisfação, comosea presença dos mesmos pudesse efetivamente ampliarou aprofundar o conhecimento de seus antecedentes ou as possubilidades de reco­mendações tecnológicas. Esses dois conceitos, por um lado, são por si só mal defi­nidos e amplos demais para apontar soluções ou permitir II. investigação de «,Ia­çõe<; entre eles e aquele fenômeno. Muitas dikadas de pesquisa organizacicnal, em

0/ Est@ artigo , o primoiro doo um conjunta de cinco t.oxIos oob", compromontimonto ""gani~ ..

cio""l, It>d.os induldoa n a prOMnt@ publica~'o. Elo . informa~~ foram. a pr ... nodu a

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sr,oo mês d. outubro d. 1m. Uma inlroduç'" geral, . plicado aos qualTo pnhim"" artigos,

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CoIina- UnB "E" 20:5

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sua maioria dedicadas a esses conceitos, pouco trouxeram de resultados efetivos, além de aumentar a confusão e fa:rer crer que existiriam teorias solidamente sus­tentadas por evidências cientificas. Por outro lado, a simples introdução isolada desses conceitos gerais, na busca de explicações ou predições para aquele fenOme­no, pode ser um exerclcio pouco profícuo de tautologia.. Esquece-se de que, em verdade, uns são correlatos dosoutr05.

A solução parece ser a de buscar definições mais precisas para o fenômeno Ncomprometimento organizacional" e investigar eventos explicativos ou predicativos espedficos, fora da armadilha em quecafram os conceitos gerais de satisfação e motivação. A pesquisa sobre comprometimento organizacional tem ~ tentado avançar nesta direção, como será derrunstrado no presente texto.

A CONCEfTUAÇÃO DE COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL

Na segunda metade da década de 70 e durante OSIlllOS 80, cresceram signi­ficativamente os números relativos ~ publicação de relatas de pesquisas sobre comprometimento organizacional, naliteratum intemacional.Este conceito, a ser definido mais adiante, pode ser compreendido como o equivalente cientifico do controvertido Nvestira camisa da organização~, tendo ganhopopularidadeqUll.'!e pr6xima da que têmosdois outros conceitos anterionnentecitados. No IIra!i~ 05 relatos de pesquisas foram inicialmente feitos por Borges-Andrade, Afanasieff e Silva 1fJ, Borges-Andrade, Came:schi e Silva (, e Borges-Andrnde, Cameschi e Xavier (1989). Um resumo desses relatassem feito a seguir.

OES1iWODAARTE

BastO$ (1993) analisa as principais abordagens e suas respectivas fontes teóricas na investigação do comprometimento organizacional. O autor identifica três disciplinas ou fontes teóricas que contribuíram: a sociologia., as teorias organi­zacionaiseapsicologias.ocial.

Uma dezena de defmiÇÕe5 de comprometimento organizacional já. apare­ceram na literatura, resumidas por aquele autor em cinco enfoques:

(3) BorS-Andrade, J.E.; Afaruloieft R.S. e Silva. MS. Menaur .... de comprometim""t" 00"5"-";'

nóonal em il\fiituiç6M p\iblica •. lnIb.Jh" .p,.....,nllodo duranl<l I XIX R.un.iio AnWll di Sociedad. de P.ico1osl" d. Ribtriri<>f>r"t",1989.

(4) Borg.-Andrada./.E.; Cazn.chi. C.E . • Sil"", MS. Pndit<>r_ d. """'p"""",timenlo <>rpni .... ci<>nal._inotituio;e.de peoquiM.Tntt.lho op_lIod" a XIX R.urúi<> Anual daSoc:i.d.oda

de r.;<:OI<>sia da Ribeõri<>Prltlo, 1989.

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• afetivo (identificaÇ'iioe envolvimento coma organização); • instTumental calculativo (avaliação de investimentos e recompensll3); • sociológico (relação deautoridadeesubordinação); • normativo (intemacionalização de pressões nonnativas de comporta­

mento)e • comportamental (manutenção de determinadas condutas e de CC«lSistên­

ciaentreelasecertascrenças). Quais sio os antecedentes, 08 correlat08 e as oonsequênciu de compro­

metimento organizacional? Os quase vinte anos de pesquisa produziram uma abundante literatura sobre o assunto, no cenário internacional.

Seria muito trabalhoso responder de maneira sintética essa pergunta, não f~se uma excelente meta-análise publicada por Mathiew e Zajac (1990), incluindo os resultados de 124 estudOiS apresentados em peri6dicos científicos, feitos com 174 amostTas independentes, somando 52.!XXl sujeitos. Os estudos analisados fo­ram baseados nos diferentes enfoques anteriormente listados, embora a maioria adotasse adefinição de Mowday, Porter e Steers (1982), apresentada na próxima seção. A seguir, os principais achados daquela meta-análise serão resumidos.

Os principais ilntecedentes de comprometimento organizacional investi-gados e que receberam suporte empírico são:

• percepção de competência pessoal; • escopo do trabalho; • comunicação do lfder; • idade; • ética protestante do trabalho; • variedade detarefas; • tTabalhodesafiante; • interdependência de tarefas; • consideração do líder; • liderança participativa; • baixa ambiguidade de papéis; • poucos conflitos de pap6s e • baixa sobrecarga de papéis. As relações entre comprometimento e todos ~ antecedentes listados acima

sÂosignificativas e diretas (positivas). Nos três primeiros casos, elas são altas. Nos demaiS,sãomoderadas.

Valores significativos mais baixOiS foram encontTados, pelos dois autores daquela meta-análise, para os seguintes antecedentes:

• ser do sexo feminino; • ter menorIÚvel de escolaridade; " ser casado;

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• ser mais antigo no cargo; • ser mais antigo na organização; • dispor de mais habilidades ocupacionai.s; • receber sal6rio rnai:I elevado; • ocuparcargosdemaiornivel; • ter mais autonomia nas tarefas; • perttmcer a grupos de trabalhoooe:sos; • trabalharem organizações menores e • trabalharemorganizaçãesdescentralizadu. Os principais correlal:05 de comprometimento organizacional investiga-

dos e significativamentea.ssociados corneie ~o: · motivaçio~

• envol.vimentommotrabalho; • comprometimentoocupacional; • satisfação geral; • satisfação com a supervisão; • satisfação com o próprio trabalho; • beixonivelde estresse; • comprometimento com osindicato; • sstisfaçio com colegas de trabalho; • satisfação com promoção; • safufaçiocom pagamentoe · safufaçiointrlnseca. Tambémtoduasrelaçõe5sãosignifiçativasedlretas.Nioestãoinclukias

115 correlações baixas. Na primeira metade da listagem anterior estão as correla­ções altas e, na segunda, as modersdas.

Na referida meta-análise, as consequências significativas de maior com-prometimento organizacional são, em ordem decrescente:

• pouca intençio de buscar alternativas de emprego; • pouca intenção de sair da organização; • baixa rotatividade; • melhores avaliações de desempenho; • maior pontualidade; • menor absentel'smo; • baixa percepção de alternativas de emprego e • maior produção. As duas primeiras correlações são altM e ascinco últimas são baixu. Asdemais são moderadas. No Brasi~ aproximadamente uma dezena de estudos empúicos fonun reali­

zad05 e publicados, 8l1re 1989 e 1993, totalizando 3684 individuos, em 41 organiza-

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ções. Os resultados de alguns desses estudos e sInteses de outros foram divulgadO'! por Bastos 1'lJ, Borges-Andrade ('I, Dia~ (1993), Gama (1993) e Siqueira (1993) (7XI).

Todosesses estudos se b6searamnol.'flfoqueafetivo. Umbreveresumo dooonjunto desses achados será descrito a seguir, eliminando-se achados repetidos em mais de um estudo. Infelizmente, o número de pesquisas disponfveis no Brasil ainda. não permite a realização de uma. meta-análise, oomo aquela

Os mais importante5 antecedentes de comprometimento encontrados no cenário nacional, são as percepções de:

ção;

• oportunidades de crescimento na. carreira e progresso profissional; • sistema. justo de promoções e • influência. da instituição no País. Outros antecedente$ importantes, embora oommenor poder preditivo, são: • ter menor escolaridade; "estarC<lsado; • ser mais velho; • perceber mais dificuldades para ingressaroomo emprega.dode institui-

• ter mais tempo de serviço; • ter maior experiência gereno:::ial; • existir relação entre o trabalho realizado e a educação anterionnente

recebida; " maiOl' oferta de treinamento na organização; " percepção de equidade salarial intema (ãorganização);

(5) Butoo. A.V.a. Compm>neli""",to Úlpniudonal: __ ""tec:eden .... em dimntoo ... tor_ da

admirlUtnoçflo o pupoo ocupocioruoi •. Trabalho .p ...... nbldo dunnlo o SimpÓllio "Pasqui ..

oobro Comprometimonlc Organizacional no Bruil- o ootado d. arteN , XXII! Rowlilo Anual

da Sociood.d. B ..... ileir. de F.icologia. Ribeirlo Preio, 19\13

(6) Borg .... Andr.de, J.E, Compromotimento organiudona\ no Admini.lro,lo público . om

....... oegmentoo meio • fim. TnbtJho • .,-,tado duronú> O Simp6tio "P-,uiH.ob:n! Com_

ptometimenlc o.pni>:llcionol no Brui1 - O ".tudo d. orI.-. XXIII Reuniio Anual da Soci<Oda­

ded..P';coIoj5iod" Ribeirlo f'ma,1993

(7) Siq\Wta, MMM. (19\13), Ca,"~im.,,1a OrS"m..cio ... l, tIS uI""tIS ruliZlllk. "" U..n:-.mdlh

Ftdtr'rl1 u Ubtrll"diol, Monuocrilc .prooentado no SimpÓlio: p".qcin. oobn Comprometimen­

to o.r;anincional no Bruil_o ootadodo am. I XXlllR.unilo Anual da Poioologio. RilNairio

Pl'1lto/SP: Soded.lde Bto.;leit. de Poirologia. P'A.1-18.

(8) Com exo""lo doo t ""ult.d<>l divulgad<>l por Gama (1993), 00 demm (ou .lnteH doo d ...

m.u) .!lo incluldoo noo pr6ximoo quatro amaoo oobno comprometimento Olgo.ni%llcionll,.

apr".""tadMnap_topublicllÇlo.

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• percepção de equidade salarialextema (à organização); • clareza na definição das atividades; • maior esoopo do trabalho; • maior autonomia para realizar o trabalho; • trabalho ser provedor de mai~ retroalimentaçio; • mais oooperaçãonosgroposdetrabalhoe • colegas serem provedores de mais retroalimentação, quanta ao trabalho

reali7.ado. Quanto aos correlato!; de comprometimento organizacionaL já enconlra­

d()!; no Brasile rclatadO!ó pelOl5 autores anterionnentecitadOl5, eles estãoapre5l'llta­d06 a seguir, em ordem decrescente de importância:

• satisfação coma supervisão recebida; • 5<ltisfação com o salário e mm o sistema de benefícios (saláriOl5 indiretos); • interesse pelas atividlldes de trabalho e satisfação com omesmo; • satisfação com as tarefas que realiza e com II maneira como elas sio

distribuídas; • satisfação geral coma empresa; Constata-se,no cenário nacicnal, ainda um pequeno esforço no sentido de

investigar as consequências de comprometimento organizacional. Além disto, a maiuria daquelas que foram investigadas relaciona-se a evento.~ disposicionais, encontrados na própria definição operacional utilizada para comprometimento. Portanto, são dad05 que precisam ser tomad05 comcerta cautela e sugerem a neces­sidade de mais estudos.

As consequências significativas encontradas nos relatos das pesquisas realizadas incluem o que se segue:

• pouca intenção de procurar novo emprego; • baixa intl'llção de rotatividade; • pouca intenção detrocarde empreSo'l e • menor mobilidade interna (rotatividade l'lltre setores, dentToda empre-

sal· Uma análise global do conjunto de antecedentes mais importanl:e! encon­

trad08nameta-análise feita por Mathiew e Zajac (199O) aponta que, no exterior, as variáveis preditorasmais relevantes envolvem fatores pessoais relativos aoernpre­gado, ° planej.amento e o manejo adequados deatividades e a qualidade da lide­rança exercida pelos gerentes. Ku Brasil, us estudos até aqui reali:tados indicam, quanto a este mesmo oonjunto, um padrãodepreditores bastante distinto.

Emergem, como mai~ poderosos, ° crescimento ocupacional proporciona­do pela organização, a exiswncia de políticas justas de gestão de recursos hwna­nos e o slalus externo da instituição.

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Enquantofora do Brasil parecem !ler mais importantes variáveis de nlvel mais micro (relativas ao individuo ou ao seu grupo social mais imediato), no País g<lnham importância as variáveis de TÚvel mais macro (relativas a aspectos mais gerais das organizações como um todo). A continuidade das pesquisas poderá detenninar se este fenômeno nacional é duradouro ou um efeito das mudanças políticas e sociais ocorridas recentemente. Como a grande maioria dos estudos realizados se baseou no enfoque afetivo, é necessário mudar o foco do presente t~xto para ~ste assunto, de mmo que se possa oferecer mais infonnações sobre a naturezadesseenfoque.

OENFOQUEAFETlVO

o enfU"J.ue aferi vo fcX consulidado (no que se refere ao que havia sido publi­cadona década de 70) em um livro (Mowday, Porter eSteers, 1982). Este livro está centrado nos chamados "v!nculosempregado-organização", explorando ampla­mente os fenômenos do comprometimento organizacional, absenleismo e rotativi­dade, tomando o primeirocomouma atitude que seria um importanteantecedente dos outros dois.

Os três autores propõem um instrumento para med.iressa atitude Gáantes divulgado e utilizado poreles próprios) eap~entllm evidências eropfrioI5 favo­ráveis concemente~ à sua confiabilidade e validade.

Tambémapresentarnfartomaterialempíriooe conceitual para subsidiar a construção de modelos de explicação e predição dos referidos fenômenos, bem como relativos à sua natureza, processos de desenvolvimento cognitivo e suas cOClseqUj~ncias desejáveis e indesejáveis (para o marco referencial obrigatório para todaa pesquisa que se sucedeu, com base no enfoqueafetivo.

Segundo Bastos (1993), este enfoquetem as teorias organizacionais como fonte teórica principal e suas rafl.es nos trabalhos de Etzioni (1975) e Buchanan (1974). A definição de comprometimento organizacional adotada nos trabalhos de pesquisa empírica até agora realizados no Brasil, é ndeum processo nfetivode identificação e envolvimento do indivíduo com uma organização particular (Mowday, Porter e Steerll, 1982). Isso englobaria trê5 caracterÍ5tica5 conceituai1! (inclufda~ no in.~trumento de medida):

• crença e aceitação dos objetivos e valores organizacionais; • disposição para defender a organização; • de!lejo de manter vínculo corneia. Bastos (1993) apOClta, com propriedade, um problema sério nesta conceitu­

ação: intenções comportamentais não deveriam ser nela incluídas, mas apenas sentimentos em relação à organil.ação. Contudo, como até 1993 não tinham sido realizadas pesquisas nacionais utilizando instrumentos desenvolvidos para eli-

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minar tais aspectos e, além disto, como a tradição da área todavia 0(5 usa,. será aqui usada definição.

Na próxima seÇão, serio discutidas as características dos instrumentos de medidaemusonestaárea.

A MENSURAÇÃO DE COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL

o instrumento usado nos estudos oonçementes ao enfoque afetivo é apre­senta.dono livro deMowday; Portere Steers (1982) e SU115 propriedades psic:ométricas são detalhadas por Mowday, Steers e Porter (1979). Eleé denominado Questioná­rio de CompromelimenloOrganizacional-QCO, incluindo quinz.eítens (noveafir­mativas positivas e seis negativas) que oobrem as três características conceituais anterionnente apresentadas. As resp05ms devem ser dadas em uma escala ancora­da de 7 ponta<; do tipo Likert, indo de Discordo Plenamente até Concordo Plena­mente. O escore de cada individuo é obtido através da média aritmética de suas resposta5 aos quínze itens. Como se deIIlOf\5trará a seguir, tanto os autores desse questionário quantooutr'1;t6 autores já investigararnsuas qualidades psicométricas.

OSDAIXJSOBTlDOSPEWSAUfORESDOINSTRUMENTODEMEDlDA

No referido livro, são descritos resultados da aplicação do Questionário em vários grupos ocupacionais.As menores médias foram eJl(X)ntradas entre téc­nicos de psiquiatria (3,Oe4,3), cientistaseengenheiros (4,4), empregad06 públicm (4,5) e funcionários universitários (4.6). Os escores mais elevados foram obtidos entre treinandos de vendas (6,1) e gerentes de fábricas de automóveis (5,3). Os desvios padrões ficaramentreO,64(treinandos de vendas) e 1,3 (funciooários uni­versitários).

Os índices de confiabilidade {(l de Cronbach) ficaram entre 0,82 e 0,93 e análises [atoriais, na maioria dos estudos, resultaram em somente um fator, que é interpretado como evidência da presença de apenas um constructo medido pelo OCQ. Vários outros resultados são relatados, como indicadores de validade con· vergente, disaiminante e preditiva.

Os três autores sintetizamos resultados das análises psicométricas feitas por eles e por outros, concluindo que o OCQ tem evidencias moderadas de valida· de e evidências poderosas de ccnf:iabilidade. Ele seria adequado para uso em pe:!­quisa, mas outros usos não seriam recomendados. Os respondentes podem facil· mente manipular seus esçores, se tiverem algum interesse especial para fazê-lo (por exemplo, emseleo:;ãode pessoal ou avaliaçãodedesemptclm).

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OSDADOSDASAPLlCAÇOESDOlNSTRUMENTODEMEDlDANOBRASlL

No Brasil, o OCQ foi enviado, no final de 1988einfciode 1989,a indivfdu­os com pelo menos 1° grau completo, selecionados aleatoriamente em duas insti­tuições públicas federais: a Superintendência de Oe:smvolvimento do Centro-Oes­te - SUDECO (administraçãodireta, vocacionada para o desenvolvimento regio­nal, extinta em 1990) e a Empresa Brasileirade PesquisaAgropecuária - EMBRAPA (administração indireta, na ocasião voltada para a pesquisa agropecuária nacio­nal, espalhada por quase todos os estados do País).

Borges-Andrade, Afanasieff e Silva encontraram, para a Iltnostra que con­tinha dados das duas instituições, umfndice deccnfiabilidade ( q),855) tão eleva· do quanto os descritos anteriormente. Análises flltoriais também indicaram a pre­sença de apenas um fator explicando entre 80% e 100% da variação da medida. Fomm encontradas correlações item-fator menores nas afirmativas negativas, do que nas positivas, o que também foi relatado pelos autores que originalmente de­senvolveram o instrumento.

Na EMBRAPA, enccntrou-se um escore médio de comprometimentoorga­nizacional de5,23 (bem acima do que tem sido relatado para instituiÇ'Õescientífi­cascongêneres), com desvio padrão de 0,89 e et-O,834. Na SUDECO, oescore Olé­diofoi de4,.38 (bem próximo do que tem sido relatado pam órgãos similares),com desvio padrão de 1,13 e <1;0,86. Naquela empresa, os questionários fomm envia­dos a 1069 indivíduos, nÚlnero .. l/3do universo dos empregad06 com os requisi­tos definidos para a pesquisa. Nesta superintendência, eles foram enviados a 150 servidores, número ,,1/2 do universo daqueles que cumpriam os requisitos.

A devolução dos instrumentos foi de 63% na EMBRAPA (n;6n), sendo que niio houve dífere'nças significativas na taxa de devolução, quanto à idade, tempo de serviço, salário e cargo, embora tenham ocorrido taxas sigrtificativamen­te mais elevadas entre os residentes no Sul e Sudeste, que tinham previdência complementar e seguro e os IotadOl5 em6rgiios descentralizados (espalhados pelo Pais). Dentre 015 devolvidOl5, 75%0 foram antes do mviode um pedidodedevolu­ção.

Testaram-se diferenças estatisticamente sigrtificativas entre questionários devolvidos antes e depois do pedido de devolução, em termos de 56 variáveis. Em somente cinco casos encontraram-se diferenças significativas: os devolvidos antes da cobrança provinham de empregad05 que percebiam mais utilidade em seu tra­balhu, relatavam maior solicitação de atividades incompatíveis no trabalho, acre­ditavam conhecer melhor os objetivos de seu trabalho, percebiam melhores condi­ções de salubridade e valorizavam, em menor grau,. a estabilidade corno uma <;a­

racterlstica desejável em organizações de emprego alternativas.

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Na SUDECQ, por causa deuma greve, metade dos instrumentos foi aplica­da e recolhida antes da paralisação de atividades e a outra metade depois da mesma. As duas metades haviam sido escolhida~ aleatoriamente. Não foram en­contradas diferenças significativas entre as respostas dos questionários devolvi­dos antes e depois da greve. A taxa de devolução foi de57% (n=86). Destes, somen­te 2 questionários foram devolvidos depois de uma cobrança. Como 10 instrumen­tos dtegaram mm rasura.!; e tiveram que ser eliminados, logrou-se finalmente res­postas utilizáveis de 76 servidores.

A escala traduzidaeadaptada por Borges-Andrade.Afanasieffe Silva foi posteriormente aplicada numa amostra de 313 servidores da Universidade Fede­ral da Bahia. por Brandão (1991). Foi confrrmadaa sua estrutura unifatorial. Com a eliminação de dois ftens (também citados pelos autores da escala como possuin­do cargas fatoriais baixas), a autora obteve um 0=0,85.

Retirando cinco (tens da mesma escala, para controlar B mensuração de intenções como parte da medida decompromentimento, "Bastos (1992) aplicou-a numa amostra de 428 trabalhadores de diversas organizações públicas e privadas, em Brasflia e Salvador. A escala reduzida apresentou uma correlação de 0,97 com a escala original. Emergiu também apenas umfator interpretável. com 0=0,87.A escala foi aplicada juntamente com outras referentes a comprometimento com o sindicato e a profissão e o envolvimento com o trabalho. Análises fatoriais, realiza­das pelo autor mm todos estes dados, demonstraram existir validade discriminante.

CONCLUSÃO

Apesar de problemas conceituais emetodológicos, a pesquisa sobre com­prometimento organizacional tem produzido conhecimentos e desenvolvido metodologias. Instrumentos de medida confiáveis estão di~ponfveisee já é possí­vel oferecer algumas·respostas para a questão: "O que fazer para modificar o com­prometimento organizacional?". Neste sentido, sabe-se que o padrão dos mais importantes prec!itores de comprometimento no Brasil é bastante distinto daquele do exterior. Enquanto aqui predominam fatores da natureza macro-organizacio­nal, lá fora predominam os micro-organizacionais e os pessoais. A continuidade das pesquisas poderá detenninar se estas diferenças siíoduradouras ou um efeito passageiro de mudanças políticas e sociais recentes, ocorridas no nível nacional. Ainda. são insuficientes, contudo, os oonheciment06 sobre as consequências de comprometimento organizacional no contexto brasileiro. Será preciso confirmar, com outras metodologias de pesquisa, os resultados até a!:,'Of3 obtidos cum as vari­áveis antecedentes, pois a grande maioria se baseia emdesenhos de corte transver­sal e análises correlacionais.

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o instrumento de medida de comprometimento organizacicruU afetivo tem evidências empiricas favoráveis, mas nem por isto deixa de ter problemas conceituais oriundos de uma definição operacional que inclui aspectos disposicionais que deveriam ser eliminados. Além disto,seu lt'IOdeve se restringir às finalidades de investisação, sendodesaoonselháveis as aplicações objetivando seledonar ou avaliar pessoal. Esforços recentes foram bem sucedidos, no sentido de elimina~ os aspectri'l indesejáveis desse instrumento. São necessários, no entan­to, investimentos para &esmvolver instnunenlos de medida que tomem por base os enfoques de comprometimento.

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