conceitos basicos economia rural

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    CAPTULO I - CONCEITOS BSICOS EM ECONOMIA

    1.1 O PROBLEMA ECONMICO

    A sociedade atual se caracteriza pela existncia de um grande nmero de instituies sociais, queinfluenciam o comportamento individual e coletivo dessa sociedade. A estruturao da sociedade modernaresulta do alto grau de interdependncia entre os indivduos e do fato de que o bem-estar de cada indivduodepende da ao dos demais. Assim, esta sociedade est em evidente contraste com aquela dassociedades primitivas, nas quais cada famlia ou pequenos grupos eram auto-suficientes. Estas instituiessociais se constituem em modelos dentro dos quais a conduta de cada indivduo moldada.

    Existem vrios tipos de instituies sociais, entre as quais se destacam: a) as instituiesreligiosas, que procuram satisfazer as necessidades espirituais dos indivduos; b) as instituies polticas,que tratam dos aspectos referentes ao Estado e formam um sistema de regras conduo dos negciospblicos; c) as instituies econmicasou sistema econmico, que formam o conjunto de organizaesatravs de cujo funcionamento os recursos escassos so utilizados para satisfazer as necessidadeshumanas.

    A economia, uma cincia social que analisa o funcionamento do sistema econmico, pode serdefinida como o estudo da alocao (utilizao) dos recursos escassos na produo de bens eservios para satisfao das necessidades ou desejos humanos. Em qualquer sociedade, o problemabsico alocar os recursos fixos e variveis para satisfazer os desejos individuais e coletivos. Onde estesrecursos so abundantes, o problema de alocao trivial; onde os recursos so escassos, a alocaoassume a importncia preponderante. Portanto, a economia trata do bem estar do homem. Desse modo,pode-se tambm conceituar economia como a cincia da escassez. Os elementos-chaves da atividadeeconmica so: a) os recursos produtivos (R); b) as tcnicas de produo (que transformam osrecursos em Bens e Servios (BS))e c) as necessidades humanas(NH). Esquematicamente tem-se:

    NHBSR

    O problema econmico se centra no fato de que os recursos disponveis ao homem para produzir

    bens e servios so limitados (ou seja, escassos), mas a sua necessidade ou desejo destes bens e servios variado e insacivel. Para certos bens, ar, por exemplo (na ausncia de poluio), cuja quantidade exis-tente maior que as necessidades, no h uma organizao econmica para o seu uso, uma vez que todosos desejos so satisfeitos sem esforo. Contudo, no mundo real, a maioria dos recursos so escassosrelativamente sua demanda, ou seja, eles no existem em quantidades suficientes para atender a todasas necessidades humanas. Em conseqncia, tem-se a dupla situao: a) nenhuma sociedade podeproduzir todos os bens econmicos para todos os seus membros, e b) nenhum indivduo pode gastar maisdo que a sua renda disponvel.

    Os recursos econmicos (tambm chamados de fatores de produo ou inputs), queconstituem a base de qualquer economia, so os meios utilizados pela sociedade para a produo de bense servios que iro satisfazer as necessidades humanas. Ascaractersticasdos recursos econmicos so:a) limitadosem quantidades (ou seja, escassos), b) versteis, isto , podem ser aproveitados em diversos

    usos, c) podem ser combinados em propores variveispara obter o maior nvel de bem-estar de umasociedade. Quanto classificao, os recursos podem ser agrupados em: recursos naturais, recursoshumanose capital.

    a) Recursos Naturais, que consistem em todos os bens econmicos usados na produo e que soextrados diretamente da natureza, como: os solos (agrcolas e no-agrcolas), os minerais, as guas:dos rios, dos lagos, dos mares, dos oceanos e do subsolo, a fauna, a flora, o sol e o vento (como fontesde energia), entre outros. Por exemplo, o Brasilutiliza aproximadamente 50 milhes de hectares comlavouras, dos quais em torno de 36 milhes de hectares so destinados produo de gros (cuja safragira ao redor de 80 milhes de toneladas). Alm desta rea, o pas usa, ainda, um pouco mais de 100

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    milhes de hectares com pastagens naturais e cerca de 60 milhes de hectares com pastagensartificiais. Cabe ressaltar que a rea disponvel para expanso ainda muito grande, uma vez que opas utiliza com lavouras menos de um quinto da rea total dos estabelecimentos rurais.

    Estudos mostram que h, no Brasil, mais de 500 milhes de hectares de terras propcias para culturas epastagens, sendo que as maiores parcelas se encontram no Centro-Oeste (quase um tero), Nordeste(mais de um quarto) e Norte (um quarto), e, em menor proporo, as regies Sudeste (um stimo) e Sul

    (um dcimo)

    1

    . Ainda com relao terra, um grave problema que existe no Brasil a forteconcentrao fundiria, onde apenas um por cento dos estabelecimentos rurais ocupam metade darea total. Esta distribuio desigual da terra tem efeito adverso sobre a sua utilizao, ou seja, elaexplica, em parte, a ainda pequena rea cultivada (h mais de uma dcada, a rea total cultivada vem semantendo ao redor dos 50 milhes de hectares), enquanto, os Estados Unidos, com reaaproximadamente igual do Brasil, cultivam em torno de 120 milhes de ha.

    b) Recursos Humanos, incluindo toda a atividade humana (esforo fsico e/ou mental) usado na produode bens e servios, como: os servios tcnicos do agrnomo, do veterinrio, do mdico ou a mo-de-obra do bia-fria no cultivo e na colheita. Em 1985, a agricultura brasileira ocupava 23 milhes depessoas, o que correspondia a 2,2 hectares de lavoura por trabalhador rural e a quase 10 hectaresincluindo tambm as reas com pastagens. Estima-se que em 1997 estavam ocupadas em torno de 19milhes de pessoas nas atividades da agropecuria nacional.

    c) Capital, que consiste em todos os bens materiais produzidos pelo homem e que so usados naproduo. O fator capital abrange o conjunto de riquezas acumuladas por uma sociedade e com essasriquezas que um pas desenvolve suas atividades de produo. No caso da agricultura, o fator capital fundamental para o aumento da produtividade (ou seja, da produo por unidade de fator, como porexemplo, produo por hectare). Cabe ressaltar que para se ter capital fundamental a participao serhumano, ou seja, no h o fator capital sem o fator trabalho. Entre os principais grupos de riquezasacumuladas por uma sociedade esto os seguintes:

    - Infra-estrutura econmica: transportes (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, e aeroportos);telecomunicaes (equipamentos e satlites) e energia (hidreltricas e termeltricas, linhas detransmisso e sistemas de distribuio).

    - Infra-estrutura social: sistemas de gua e saneamento; sistemas de suprimento: educao, cultura,segurana, sade, lazer e esportes.

    - Construes e edificaes de um modo geral, sejam pblicas ou privadas. No caso da agriculturatem-se as instalaes: pocilga, avirio, cercas, galpes, silos, armazns, audes e currais.

    - Equipamentos de transporte: caminhes, nibus, utilitrios, locomotivas, vages, embarcaes,aeronaves.

    - Mquinas e equipamentos: utilizados nas atividades de extrao, transformao, prestao deservios, na indstria de construo e nas atividades agrcolas: tratores, arados, colheitadeiras,carregadeiras de cana, batedeiras de cereais, debulalhadores de milho, misturadores de rao,cultivadores, sulcadores, enxadas rotativas, sub-soladores, niveladoras, plantadeiras, adubadeiras,semeadeiras, pulverizadores, carretas, distribuidores, aplicadores e ordenhadeiras, entre outros.

    - Matrias-primas ou insumos agrcolas: sementes, fertilizantes, inseticidas, acaricidas, herbicidas,fungicidas, bactericidas, espalhante adesivo, vacinas, raes, combustveis.

    1 Portanto, as reas atuais com lavouras e pastagens correspondem a menos da metade dos cerca de 500 milhes de hectares da rea potencialpara a agropecuria e esta representa menos de 60 por cento dos 850 milhes de hectares (8.500.000 km2).

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    importante clarear dois aspectos. Primeiro, dinheiro no um bem de capital, uma vez que ele nadaproduz. Dinheiro apenas um meio (padro) para medir o valor dos fatores de produo e dos bens eservios, e assim facilitar as trocas. Com dinheiro, o produtor rural tem o potencial para adquirir o fatorcapital. Segundo, o termo insumos se refere aos bens de capital que, ao entrarem no processo deproduo, se transformam, ou seja, no so observados no produto final na sua forma original (exemplos: arao se transforma em carne; o fertilizante se transforma em gros). Estima-se que, em 1997, a agriculturabrasileira tenha utilizado em torno de: 900 mil tratores, 2,8 milhes de arados, 80 mil colheitadeiras e

    consumiu ao redor de 5 milhes de toneladas de nutrientes (NPK), ou a quantidade bruta de 13,7 milhesde toneladas de fertilizantes (tabela 1.1).

    Tabela 1.1 - Utilizao de Alguns Importantes Fatores de Produo na Agricultura Brasileira no Pe-rodo 1960/2000.

    REA DELAVOURAS

    PESSOALOCUPADO TRATORES ARADOS

    CONSUMO DENUTRIENTES

    PRODUODE RAOANOS

    (mil ha) (mil) (mil) (mil) (mil t)* (mil t)1960 28.396 15.454 61 977 304 1.0001970 33.983 17.627 165 1.879 998 3.0001975 40.001 20.345 323 2.094 1.977 6.8831980 49.104 21.163 545 2.236 4.200 15.4941985 52.380 23.273 652 2.370 3.112 11.237

    1990 49.900 21.000 820 2.500 3.500 14.0001997 49.910 19.000 900 2.800 5.000 24.8002000 51.000 18.500 930 2.900 6.400 34.774

    FONTE: ANDA, SINDIRAES E FIBGE(*) total de nutrientes NPK. Em mdia, os nitrogenados representam (23%), os fosfatados (46%) e os

    potssicos (31%). A quantidade bruta de fertilizante eqivale a aproximadamente 2,5 vezes a quantidadede nutriente.

    Tabela 1.1 - Utilizao de Alguns Importantes Fatores de Produo na Agricultura Brasileira, no Pe-rodo 1960/97.

    ANOS REA DELAVOURAS

    PESSOALOCUPADO TRATORES ARADOS

    CONSUMO DENUTRIENTES

    PRODUODE RAO

    (mil ha) (mil) (mil) (mil) (mil t)* (mil t)1960 28.396 15.454 61 977 304 1.0001970 33.983 17.627 165 1.879 998 3.0001975 40.001 20.345 323 2.094 1.977 6.8831980 49.104 21.163 545 2.236 4.200 15.4941985 52.380 23.273 652 2.370 3.112 11.2371990 49.900 21.000 820 2.500 3.500 14.0001997 49.910 19.000 900 2.800 5.000 24.800

    FONTE: ANDA, SINDIRAES E FIBGE(*) total de nutrientes NPK. Em mdia, os nitrogenados representam (23%), os fosfatados (46%) e ospotssicos (31%). A quantidade bruta de fertilizante eqivale a aproximadamente 2,5 vezes a quantidade denutriente.

    O segundo elemento-chave da atividade econmica so as tcnicas de produo, que consistemno know-how (conhecimentos tcnicos, culturais e administrativos, capacidade empresarial e capacidade

    tecnolgica) e dos meios fsicos para transformar os recursos em bens e servios que iro satisfazer asnecessidades humanas. As tcnicas de produo juntamente com as quantidades e qualidades dosrecursos disponveis limitam o nvel de bem-estar de uma sociedade. A produopode ser definida como oprocesso pelo qual um conjunto de fatores pode ser transformado em um produto. A tecnologia um termoutilizado para englobar uma ampla variedade de mudanas nas tcnicas e nos mtodos de produo.Novas variedades de cultivo tais como o milho hbrido, novas e aprimoradas raas de animais, melhoresequipamentos e mquinas, defensivos e fertilizantes so os exemplos mais bvios. A tecnologia tambm serefere a mtodos aperfeioados de combinar os fatores de produo. Um aperfeioamento das tcnicasadministrativas uma parte integrante da revoluo tecnolgica. Falta de decises administrativasapropriadas faz com que as mesmas mquinas, variedades e matrias primas sejam combinadas de modoerrado, resultando em no aumento da produo.

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    Numa perspectiva histrica, pode-se dizer que a tecnologia ligada agricultura ocorreu em trsperodos distintos: o primeiro, o da tecnologia mecnica (que nos EUA ocorreu entre 1920 e 1950,enquanto no Brasil a partir dos anos 50), o segundo, o da qumica (em especial no perodo de 1950 a1990), e o terceiro, o da biotecnologia2 (cujo desenvolvimento vem ocorrendo desde os anos de 1980).Em termos de substituio parcial ou total dos recursos tradicionais, pode-se dizer que a tecnologiamecnica visa substituir o trabalho e a fora animal por trator; a tecnologia qumica objetiva a substituioparcial do trabalho (com o uso de herbicidas, por exemplo) e da terra (via a utilizao de fertilizantes) por

    capital. Cabe ressaltar que a biotecnologia trar, em futuro breve, significativas mudanas tanto noprocesso produtivo da agricultura como no agribusiness3como um todo, uma vez, por causa da proteode patente da propriedade industrial, ela vai gerar produtos com marcas (brands), isto , comcaractersticas que os diferem dos demais produtos.

    A inovao tecnolgica um importante fator de aumento de oferta agrcola, notadamente nolongo prazo. No mundo moderno, a inovao a chave para o sucesso, e a tecnologia est lentamentefazendo o mundo parecer menor. Uma melhoria na tecnologia definida como um conjunto de condiesque capacitam as firmas a: a)gerarem maior produo com a mesma quantidade anterior de insumos, e/ou,b)obterem o mesmo nvel de produo anterior com uma menor quantidade de insumos. Uma tecnologia sser economicamente vivel se ela provocar uma aumento da produo proporcionalmente maior do que aelevao do custo total, de tal modo que resulte numa reduo do custo mdio de produo. Em outraspalavras, uma boa tecnologia aquela que resulta em processos de produo com custos mdios(isto , unitrios) menores. O efeito da tecnologia sobre a produo ser tratado no Captulo IV.

    Os recursos econmicos (naturais, humanos e capital) e as tcnicas de produo esto presentesem todas as atividades de produo, embora variem em intensidade, ou seja, a proporo com que cadaum desses fatores e dessas tcnicas contribui na produo varia de setor para setor. Isso significa dizerque h atividades intensivas do fator terra; outras, so trabalho-intensivas; ainda outras so capital-intensivas; e h as que utilizam intensivamente tecnologia. Assim, de acordo com a intensidade de uso dosrecursos, classificam-se as atividades de produo (ou setores da economia). Desse modo, tem-se: a) asatividades primrias: agricultura(lavouras permanentes, temporrias, horticultura, floricultura); pecuria(criao e abate de gado, sunos e aves, pesca e caa) e extrao vegetal(produo florestal: silvicultura ereflorestamento); b) as atividades secundrias de produo: indstria extrativa mineral (mineraismetlicos e no metlicos); indstria de transformao (produtos alimentares, minerais no-metlicos,metalurgia, mobilirio, qumica, fiao e tecelagem, vesturio, calados, material eltrico, detelecomunicaes e de transporte, produtos de matrias plsticas, bebidas, fumo); indstria da construo

    (obras pblicas, construes privadas); c) as atividades tercirias de produo: comrcio(atacadista evarejista); transportes (rodovirios, ferrovirios, hidrovirios e aerovirios); comunicaes(telecomunicaes, correios e telgrafos, radiodifuso e TV); intermediao financeira (bancos,seguradoras, distribuidoras e corretoras de valores e bolsas de valores); imobilirias (comrcio imobilirio,administrao e locao); hospedagem e alimentao (hotis, restaurantes, bares e lanchonetes);reparao e manuteno (mquinas, veculos e equipamentos); servios pessoais (cabeleireiros,barbeiros); outros servios (assistncia sade, educao, cultura, lazer, culto religioso) e governo(federal, estaduais e municipais). De um modo geral, o setor primrio usa mais intensivamente o fator-terra; o setor secundrioou setor industrial, o fator-capital; e o setor tercirio, o fator-trabalho.

    O terceiro elemento-chave da atividade econmica so as necessidades humanas, que seconstituem na razo de ser (ou seja, na fora motivadora) da atividade econmica. Entre as principaisnecessidades humanas se destacam: alimentao (que a mais vital de todas e o centro daspreocupaes da economia agrcola), vesturio, habitao, sade, transporte, educao, segurana social,previdncia social, comunicao, cultura, esporte e lazer, entre outras. As quatro primeiras (alimentao,

    2A biotecnologia, que inclui a engenharia gentica (pela qual o material til de um DNA identificado em um organismo e transferido para dentro

    da carga gentica de um outro organismo) e a cultura de tecidos de plantas e animais, est gerando grandes discusses e conflitos entre os

    pases. Alm da questo econmica (que de dominao pelo uso da patente do processo), h, ainda, aspectos controversos, sob a alegao deque a liberao de plantas e organismos geneticamente alterados poderia perturbar o ecossistema natural. Uma dessas controvrsias ocorreu

    em 1997, com o surgimento da ovelha Dolly, resultado do primeiro clone de um mamfero, obtido a partir do material gentico extrado de

    uma clula mamria da ovelha clonada e implantado numa clula embrionria da qual foi retirado o ncleo original.3Por agribusiness entende-se a soma total das operaes de: produo e distribuio de suprimentos agrcolas, produo das unidades agrcolas

    (ou dentro da propriedade rural), armazenamento, processamento e distribuio dos produtos agropecurios. Portanto, o agribusiness

    engloba os servios financeiros, de transporte, de classificao, de marketing, de seguros, bolsas de mercadorias. Essas operaes so elos dachamada cadeia produtiva. O presente livro centra-se em apenas alguns aspectos do agribusiness.

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    vesturio, habitao e sade) compem o grupo de necessidades primrias, enquanto as demais sochamadas de necessidades secundrias. Estas necessidades variam no tempo e no espao, uma vez queesto sujeitas s influncias da tradio cultural (costumes) e s inovaes tecnolgicas (tanto no produtoem si, quando na propaganda (marketing). A propriedade ou capacidade que os bens de consumo tem desatisfazer as necessidades humanas conhecida como utilidade.

    Finalmente, cabe uma observao sobre os produtos, que so os meios de satisfao das

    necessidades humanas. Os produtos podem ser classificados segundo a natureza e a destinao.Segundo a natureza, os produtos gerados no processo produtivo classificam-se em bens(B) e servios(S),da a sigla: BS utilizada anteriormente. Por bens entende-se os produtos tangveis provenientes dasatividades agropecurias (leite, arroz, feijo, milho, porco, frango, ovos, frutas, etc) e da indstria detransformao e de construo. Por servios compreende-se os produtos intangveis, resultantes deatividades tercirias de produo. Segundo a destinao, os produtos podem ser classificados em: bens eservios de consumo(durveis ou de uso imediato); bens e servios intermedirios(que so matrias-primas ou insumos e que reingressam no processo produtivo para serem transformados, via de regra, embens e servios de consumo); e bens e servios de produo(que so os bens de capital, que vo entrarno processo de produo de outros bens e servios).

    A Figura 1.1, alm de mostrar a interligao entre os elementos-chaves da atividade econmica,serve tambm para facilitar a compreenso dos captulos seguintes deste livro. De um lado, com base nas

    necessidades, nos desejos e na renda dos consumidores, deriva-se a curva de demanda (D) para osprodutos agrcolas. De outro lado, os produtores, para atenderem os consumidores, combinam os recursosescassos para a produo de bens e servios, que sero ofertados no mercado (S).

    Em resumo, o problema fundamental de qualquer economia se centra na seguinte questo:dadas as necessidades humanas, que so variadas e insaciveis, e dados os recursos, que so limitados eversteis, como combin-los de modo a levar ao mximo a satisfao das necessidades da sociedade. Emoutras palavras, o problema surge por causa de duas realidades antagnicas: de um lado, aescassez derecursos, e de outro lado, as ilimitadas aspiraes da sociedade. O objetivo da atividade econmicaatingir m nvel de satisfao de necessidade (nvel de vida to elevado quanto a economia possaproporcionar). Para tanto, devem-se empregar as melhores tcnicas de produo, utilizar plenamente osrecursos econmicos, distribuindo-os adequadamente na produo dos bens mais necessrios para apopulao.

    Figura 1.1- Como a Economia Interliga a Produo e o Consumo

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    1.2 - O SISTEMA ECONMICO

    O termo sistema econmico engloba todos os mtodos pelos quais os recursos so alocados eos bens e servios so distribudos. O sistema econmico formado por um conjunto de organizaes, cujofuncionamento faz com que os recursos escassos sejam utilizados satisfazer as necessidades humanas.Assim, sistemas econmicos podem ser decompostos em trs grandes grupos de elementos bsicos:

    1 - estoques de recursos produtivos2 - complexo de unidades de produo (empresas)3 - conjunto de instituies

    O estoque de recursos produtivos, que constitui a prpria base da atividade econmica, inclui osrecursos humanos (populao economicamente ativa, capacidade empresarial e tecnolgica) e patrimoniais(reservas naturais e capital).

    Estes recursos s alcanam sua plena significao econmica quando mobilizados pelasunidades de produo (ou seja, as empresas)que integram o aparelho produtivo da sociedade, dandoorigem aos fluxos da produo e da renda, ao executarem as tarefas relacionadas soluo dos problemaseconmicos: o qu, quanto, como e para quem produzir. As empresas so o locus, ou seja, o local ondeos fatores de produo se transformam em bens e servios. Assim, empresas e unidades de produo soaqui consideradas como sinnimos. Estima-se que o nmero de empresas, segundo as atividades deproduo, no Brasil, seja o seguinte:

    - Setor primrio: aproximadamente 5 milhes de propriedades;

    - Setor secundrio: 220 mil

    - Setor tercirio: 1 milho.

    Das 1,22 milho de empresas dos setores secundrio e primrio, aproximadamente 1 milho de

    microempresas (ou seja, empresas que empregam menos de 20 pessoas). Por outro lado, entre as 500maiores empresas privadas do Brasil, duzentas (40 %) delas tm faturamento (valor da produo ou receitabruta) inferior a 250 milhes de reais e aproximadamente 50 (10 %) empresas obtm faturamento superiora um bilho de reais. Das empresas ligadas ao agribusiness brasileiro, cujo nmero de 2.484 empresas,segundo a publicao Balano Anual 97 da Gazeta Mercantil, 224 delas tiveram receita acima de R$ 100milhes em 1996, ou seja, de cada dez aproximadamente uma tem esse faturamento (Tabela 1.2). O setorde alimentos que tem o maior nmero de grandes empresas, principalmente por causa da existncia dealguns conglomerados alimentcios (como: Nestl, Ceval, Santista, Sadia, Cargill, Parmalat, Perdigo, MilhoBrasil e Quaker, entre outros) e de dezesseis empresas ligadas ao subsetor de leos vegetais. Das 500maiores empresas privadas no Brasil, 89 esto diretamente ligadas ao agribusiness (alimentos, bebidas efumo, papel e celulose e txteis), mas apenas 15 faturam acima de um bilho de reais por ano.

    O terceiro grupo de elementos bsico componentes de um sistema econmico constitudo por

    um conjunto de instituies jurdicas, polticas, sociais e econmicas, que do forma s atividadesdesenvolvidas pela sociedade. Por exemplo, os elementos jurdicos disciplinam as atividades individuais ecoletivas, determinando as esferas de ao, os deveres e as obrigaes dos proprietrios dos recursosprodutivos e das empresas que utilizaro estes recursos.

    Cabe ressaltar que esses elementos bsicos de um sistema econmico so fundamentais tantopara o crescimento econmico como para o desenvolvimento econmico4de um pas, uma vez que

    4 O crescimento tem sido definido como um processo pelo qual a renda ou o produto interno bruto (PIB) por habitante aumenta durante um

    determinado perodo, atravs de ganhos contnuos na produtividade dos fatores produtivos. Isto no significa necessariamente uma melhoria nobem-estar geral de uma sociedade, uma vez que ele nada revela sobre a distribuio da renda dentro da sociedade. Por outro lado, o conceito

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    ambos dependem da quantidade e qualidade dos recursos humanos e patrimoniais, da forma como operamas unidades de produo e de um conjunto de instituies que facilitem e no emperrem os procedimentoseconmicos do sistema.

    Tabela 1.2 Nmero de empresas do agribusiness no Brasil e com faturamento (receita) acima deR$ 100 milhes, em 1996.

    SUB-SETORNMERO DE EMPRESAS COM

    FATURAMENTO ACIMA DE R$ 100MILHES EM 1996

    NMERO TOTAL DE EMPRESASNO SUB-SETOR

    AGRICULTURA (*) 25 283ALIMENTOS 45 294

    CANA/ACCAR/LCOOL 22 212CARNE/PECURIA 24 513BEBIDAS E FUMO 28 125TXTIL E COURO 29 486

    MADEIRA/MVEIS/PAPEL 24 379FATORES DE PRODUO 27 192

    TOTAL GERAL 224 2.484(*) Inclui as cooperativas agropecurias (centrais e singulares)Fonte: GAZETA MERCANTIL. Balano Anual 97, So Paulo, Outubro, 1997.

    A prosperidade nacional no herdade, mas criadapela fora das empresas em inovar e seaperfeioar. Muito mais do que a disponibilidade abundante de recursos naturais ou humanos, acompetitividade5 de uma nao depende da capacidade de sua indstria na inovao e noaperfeioamento. a presso e os desafios dos concorrentes, os fornecedores agressivos e os clientesexigentes que formam a base para a competio global, em que reduo nos custos de produo,economia de escala, taxa de cmbio, fuso, aliana, parcerias estratgicas, colaborao e globalizaosupranacional se constituem na palavra de ordem nas empresas.

    1.2.1 Principais Tipos de Sistemas Econmicos

    Os tipos de sistemas econmicos nas suas formas puras no existem, mas mesmo assim vale apena estudar as caractersticas de cada um, com o fim de facilitar a comparao e anlise dos sistemas

    econmicos existentes. De pas para pas, os sistemas diferem notadamente com base em consideraessociais e polticas. Em alguns pases, o sistema capitalista, em outros o socialista, e em ainda outros hum misto de socialismo e capitalismo (socialismo liberal, social capitalismo, ou economia social demercado). Cada sistema, na realidade, diz respeito a um ordenamento institucional, que, por sua vez, tratadas formas de organizao da vida econmica de uma sociedade.

    Capitalismo. O sistema econmico capitalista tem um sistema prprio de se regular, com umgoverno que pouco se envolve em decises econmicas. O capitalismo depende das foras de mercadopara determinar os preos, alocar os recursos e para distribuir a renda e a produo. Isto significa dizer queo capitalismo segue rigorosamente a economia ortodoxa de mercado, ou seja, quem comanda aeconomia so as foras de demanda (que reflete o interesse dos consumidores) e de oferta (que deveexpressar o desejo dos produtores).

    Os fatores de produo so de propriedade privada e cada proprietrio dos recursos faz asdecises de produo motivadas pelo desejo de realizar um lucro. Tanto a produo como o consumodependem fundamentalmente da liberdade de escolha dos indivduos da sociedade. Os lucros obtidos ou osprejuzos incorridos so um resultado direto das decises certas ou erradas de negcios. De um lado, oconsumidor procura maximizar satisfao, dado o seu nvel de renda; enquanto de outro lado, o produtor

    de desenvolvimento econmico vincula-se mais com a distribuio do produto e com o grau de utilizao da capacidade produtiva de umpas. Em geral, so objetivos do desenvolvimento econmico: a) o crescimento do produto interno per capita; b) a gerao de emprego; e c) a

    maior igualdade na distribuio de renda.5Por competitividade depende fundamentalmente de trs aspectos: a) daprodutividadedos fatores de produo (isto , maior produo por unidade

    de recurso), a qual resulta em, b) reduo dos custos mdiosde produo, e c) qualidadedos produtos.

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    procura maximizar seu lucro6, dado os seus recursos (ou fatores de produo).

    No capitalismo, os preos de livre mercado so os nicos guias para as decises dos indivduos edas firmas, ao realizarem a produo, a troca e o consumo. A competio acentuada em todos os tipos deatividades econmicas.

    Em suma, as principais caractersticas do capitalismoso:

    a) A propriedade privada dos fatores de produo (terras, mquinas, equipamentos, entre outros), dosbens de consumo (casas, carros, arroz, milho, entre outros) e do dinheiro (para que as empresasadquiram os recursos e os consumidores comprem os produtos).

    b) O controle do funcionamento da economia realizado pelo sistema de preos.O sistema de preo determina: a) a seleo dos bens a serem produzidos e suas respectivasquantidades; b)a combinao e a distribuio dos fatores de produo dos vrios bens e servios; c) aseleo de tcnicas de produo e os mtodos de organizao das unidades produtoras, e d) adistribuio dos bens entre os vrios membros da sociedade. Esta funo dos preos ser melhordetalhada mais adiante neste captulo.

    c) O incentivo para produzir o desejo das empresas em obter lucro, que a diferena entre a receita e ocusto total para produzir. O lucro, no sistema capitalista, o grande incentivo para a ao dos agenteseconmicos.

    d) A importncia da competio entre as empresas e entre os proprietrios dos recursos, apesar dacrescente presena de oligoplios e monoplios nos mercados. Cabe ressaltar que o capitalismoadotado no Brasil, em especial a partir dos anos 1930 at incio da dcada de 90, ignorou essafundamental caracterstica do capitalismo, ao manter a economia brasileira fechada ao mundo, sejaatravs da proibio de importao de alguns produtos, seja atravs de impostos de importao muitoelevados. Assim, a competio entre as empresas era muito pequena, possibilitando que elasformassem conluios ou cartis7, aumentassem os preos dos produtos e servios de maneira absurda,explorando, assim, os consumidores que nada podiam fazer. Era essa economia sem competio quecriava as condies para a inflao, que no era de demanda, mas de oferta. Por isso, era chamado decapitalismo selvagem. Felizmente, a partir do meado dos anos 90, deu-se incio uma maior aberturaeconmica, a qual tem sido a principal sustentao do Plano Real, que um plano de sucesso nocombate inflao.

    e) Papel limitado do governo, apesar da ainda elevada participao do setor pblico nas atividadeseconmicas nos dias atuais. No caso brasileiro, desde a criao do Programa Nacional de

    Desestatizao (leia-se privatizao), em 1990, j foram transferidas ao setor privado, at o final de1997, mais de cinqenta empresas e participaes acionrias estatais federais, a maioria delas nossetores siderrgico, qumico e petroqumico, de fertilizantes e eltrico, alm da concesso dos cincotrechos da Rede Ferroviria Federal (as Malhas Oeste, Centro-Leste, Sudeste, Teresa Cristina e Sul).Com o processo de privatizao pretende-se limitar o papel do governo como estado-empresrio.

    A economia dos Estados Unidos um dos melhores exemplos de economia de mercado(capitalismo). Afinal, a participao do produto agregado gerado por empresas privadas de 98 %, ou seja,as empresas estatais contribuem com apenas 2 % do PIB norte-americano. Em pases europeus como:Frana, ustria, Itlia, Alemanha e Reino Unido, o percentual das empresas privadas varia entre 80 % e 90% do PIB de seus pases, o que significa dizer que as empresas estatais tm um papel relativamente maiordo que nos Estados Unidos.

    Apesar das severas crticas dirigidas ao funcionamento do sistema capitalista ou da empresaprivada, este tipo de sistema econmico, com seus defeitos e virtudes, ainda tem se mostrado como amelhor alternativa para se organizar a atividade econmica. Os crticos citam como os maiores defeitosdocapitalismo: o antagonismo entre o capital e o trabalho resultando na explorao da mo-de-obra pelocapital; a presena de elementos monopolsticos com distoro do correto funcionamento do sistema de

    6A teoria econmica reconhece que nem todas as empresas tentam maximizar lucro sempre, uma vez que h tambm outros objetivos, entre os quaisse destacam a participao no mercado (o chamado market share) e o nvel de produo), mas certamente um dos seus objetivos. Afinal,

    uma empresa no pode existir no longo prazo, se no tiver um razovel retorno para os seus fatores de produo.7So formas de unio de interesses entre diversas empresas do mesmo ramo com o intuito de subir os preos ou impedir sua baixa pela supresso da

    concorrncia. Essas empresas continuam, contudo, independentes.

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    preo, e a no soluo da justia social (a diferena interclasses sociais so acentuadas). A principalvirtude da economia de mercado a eficincia na alocao dos recursos com o conseqente aumento deproduo e da melhoria do bem-estar (nvel de vida) da sociedade. A maior eficincia resultado dacompetio, que, via de regra, existe, e do estmulo ao lucro.

    Cabe destacar que o ambiente nacional determinante para que suas empresas aprendam acompetir constitudo essencialmente por quatro atributos: a) fatores de produo; b) condies de

    demanda (a natureza da demanda do mercado interno pelo produto ou servio); c) fornecedores (apresena ou a ausncia na nao de indstrias fornecedoras e outras correlacionadas que sejamcompetitivas em termos internacionais); e d)ambiente empresarial(condies nacionais que determinamcomo so criadas, organizadas e administradas as empresas, assim como a natureza da rivalidade interna.Uma vez conseguida, a vantagem competitiva tem de ser sempre aperfeioada porque toda avantagem pode ser imitada.

    Este livro identifica-se com o mecanismo de preo ou economia de mercado (capitalismo) poracreditar ser o sistema mais adequado para a maximizao da satisfao das necessidades humanas,apesar de se saber que ele no perfeito, ou seja, este sistema tambm tem suas falhas

    Socialismo. A base do socialismo, como um sistema econmico, a propriedade coletiva ou

    estatal dos recursos produtivos, sendo que o Estado toma as decises. As indstrias so de propriedade dasociedade como um todo. O controle da propriedade mantido pelo Estado (supostamente!) para o mtuobenefcio da populao. Isto requer a deciso centralizada pelos planejadores governamentais e limita osincentivos econmicos individuais.

    O Estado socialista envolve um planejamento central de todos os esforos econmicos, com osrecursos alocados de acordo com estes planos. O Estado tambm estabelece e administra todos os preos.A direta competio econmica , portanto, eliminada e o Estado que inicia novas atividade econmicas.Isto significa dizer que a liberdade econmica individual, que uma das foras do capitalismo, cerceadanum ambiente socialista deeconomia coletiva ortodoxa.

    Portanto, as trs caractersticas bsicas do socialismo so: a) a coordenao de toda ouquase toda atividade produtiva diretamente pelo governo (quase eliminando a liberdade econmica

    individual); b) a propriedade governamental ou coletiva dos fatores de produo, exceto os servioshumanos; e c)a falta de incentivos (leia-se obter lucros quase um pecado) para a ao dos agenteseconmicos. O resultado geral h uma baixa eficincia econmica, ou seja, de um lado os fatores deproduo so subtilizados, e de outro, e at como conseqncia, o atendimento do nvel de bem-estarsocial muito baixo. Como a propriedade dos recursos econmicos no a fonte de renda individual, otrabalho considerado o criador de todas as coisas que tm valor, ou seja, todo o produto da atividadeeconmica deve ir para a classe trabalhadora.

    A ex-Unio Sovitica (cujo fim ocorreu em 1991 com a formao de 15 repblicas independentes),os pases do Leste Europeu e a China tm sido tpicas economias centralmente planejadas, com o Estadosendo o proprietrio dos recursos produtivos e o comandante das aes econmicas. Nesses pases, osvrios segmentos estatais so ainda responsveis pela quase totalidade do valor bruto da produoindustrial. Por exemplo, a participao do produto agregado gerado por empresas estatais em pases como

    a Tcheco-Eslovquia, a Alemanha Oriental e Unio Sovitica era superior a 90 %, no final dos anos 80,enquanto na China era de 66 %. Ainda na China, no incio de 1980, 78 % do total de pessoas empregadaseram em empresas estatais.

    Praticamente todas as terras so de propriedade do Estado, sendo que, no caso da ex-URSS,aproximadamente um quarto de toda a rea cultivada pertencem a fazendas do Estado ( sovkozes),enquanto outros trs quartos so alocados em fazendas coletivas (kolkhozes) sobre as quais o Estado temcompleto controle. Alm disso, o governo teve, por muitos anos, sua disposio, nacionalizados os bancose o sistema de transporte, o monoplio do comrcio internacional e o comrcio atacadista domstico, e maisde 90 por cento das vendas no varejo. Nos ltimos anos, contudo, tem havido grandes mudanas, como

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    por exemplo, em 1996, o comrcio exterior da Rssia experimentou uma considervel liberalizao, depoisque o governo abriu mo de quase todo o controle direto das exportaes e importaes. A tendncia ade que esses Estados mantenham cada vez menos controle sobre os fatores de produo e sobre asdecises de produo, pois eles j se conscientizaram de que o setor privado pode fazer melhor.

    No caso da URSS, pode-se dizer que as bases institucionais da economia coletiva ortodoxa (decomando central) comearam a mudar com a glasnost(abertura poltica) e aperestroika(reestruturao

    econmica) promovidas por Mikhail Gorbatchev, nos anos 80. Grandes mudanas vem ocorrendo naChina, desde os anos 80, a ponto de atualmente mais da metade do nmero de empresas j esto nasmos do setor privado (e joint-ventures), as quais so responsveis por mais de 40 % do valor bruto daproduo chinesa. Na verdade, todos os pases de economias ortodoxas de comando central, aoperceberem a baixa eficincia econmica de seus sistemas (ineficincia decorrente da burocratizao),esto gradativamente indo na direo da economia de mercado, ou seja, o socialismo de mercado.

    Sistemas econmicos mistos. Como sistema econmico misto pode-se entender o socialismode mercado ou a economia social de mercado. A maioria das economias do mundo podem serclassificadas como mistas, ou seja, uma combinao das caractersticas tanto do capitalismo como dosocialismo. Por exemplo, os Estados Unidos so considerados quase como o extremo do capitalismo, maso governo norte-americano orienta a produo em muitas indstrias, e as regulamentaes governamentaisexistem em quase todos os setores da economia. Subsdios e concesses so utilizados para incentivar ou

    desestimular a produo de bens e servios especficos. No todo, contudo, o sistema americano essencialmente capitalista, existindo o mnimo de empresas pblicas.

    Elementos de capitalismo so tambm encontrados em sistemas socialistas. A Inglaterra j foi umaeconomia bastante socialista, mas teve muitas empresas de grande porte nacionalizadas, a partir dos anos70. O Estado possua a maior parte da indstria de carvo e de ao e as empresas de transporte pblico,eletricidade e gs. Por outro lado, o proprietrio privado sempre existiu e a quase totalidade dos pequenosnegcios sempre foi conduzida e controlada pelos indivduos. A Sucia, o Japo e a Frana estiveram nalista dos exemplos clssicos de economia mista tambm conhecida como socialismo liberal ou socialcapitalismo. Nestes pases, a quase totalidade dos recursos produtivos so de propriedade privada.Contudo, o planejamento centralizado tiveram um papel relativamente importante. Especificamente, naSucia havia as previses dos planos qinqenais, que eram teis para a tomada de deciso dosempresrios. Na Frana, o plano funcionava apenas como um bom indicativo, o que significa que era menoscoercivo do que o planejamento sovitico mas mais efetivo do que os planos da Sucia, Japo ouInglaterra. O objetivo do planejamento francs servir de guia para auxiliar os setores pblicos e privadosda economia.

    No Brasil, o setor pblico passou a ser denunciado cada vez com maior freqncia e intensidade,como consumidor de recursos escassos e operando em nveis de baixa eficincia. Os constantes dficitspblicos e a elevada dvida pblica interna so considerados como principal responsvel pelos altos juros,os quais so o principal responsvel pelo baixo crescimento da economia brasileira (ao redor de 3 % aoano) e pelo elevado nvel de desemprego (em torno de 7 % da populao economicamente ativa). Asreformas da Previdncia, Administrativa, Tributria e Patrimonial (leia-se a privatizao), em andamento,devem contribuir para o maior controle do Estado e maior equilbrio das contas pblicas. J h atualmenteconsenso de que preciso que o Estado assuma sua funo tpica, deixando de ser empresrio e cuidandodas reas de sade, educao e segurana.

    A economia social de mercado tem como preocupao possibilitar que todas as classes tenhamacesso a todos os mercados (por exemplo, para mercados onde se exige maior pode compra, como osautomveis, os mais pobres tm acesso porque h modelos mais simples), alm de facilitar o amplo acessos necessidades bsicas.

    1.2.2 - Funes de um Sistema Econmico

    Independente do tipo de sistema econmico e das tradies culturais e polticas, qualquer

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    economia, ao alocar os recursos escassos, deve considerar cinco questes (problemas) fundamentais (quese constituem nas funes de um sistema econmico):

    a) O que produzirUma vez que os recursos so escassos, nenhuma economia pode produzir todas as quantidades detodos os produtos como desejado por todos os membros da sociedade. Uma maior produo de umproduto normalmente significa menos de outro (s) produto (s). Portanto, cada sociedade deve escolher

    exatamente quais os bens e servios a serem produzidos. Em essncia, essa escolha feita pelosconsumidores, quando despendem suas rendas, atravs dos preos que eles esto dispostos a pagarpelos produtos. Quanto mais acentuado o desejo por certos bens, maiores os preos. As empresas, porsua vez, produziro aqueles bens que possibilitem maiores lucros.

    b) Como produzirEsta segunda questo trata da combinao apropriada dos fatores produtivos para a obteno de umcerto nvel de produo ao menor custo disponvel (ou um mximo de produo com dado nvel decusto). Os preos dos fatores tm um papel fundamental neste processo, ao indicarem quais os recursosmais escassos (porque o preo de um fator normalmente reflete a sua relativa escassez), e, portanto,quais fatores devem ser economizados. O como produzir envolve problemas de seleo decombinao de recursos e de tcnicas a serem empregadas no processo produtivo. A escolha dastcnicas, por sua vez, depende dos preos relativos dos recursos e do nvel de produo.

    c) Quanto produzirEste um problema que o empresrio resolve com base no preo do produto e nos custos de produo,uma vez que ele escolhe o nvel de produo que maximiza o lucro. Se a indstria no est produzindoquantidades suficientes, o preo do produto se elevar. Assim as firmas existentes produziro mais, e/ounovas firmas entraro no mercado. Por outro lado, se h um excesso de oferta, os preos tendero acair, sinalizando que as firmas devem reduzir a produo.

    d) Para quem produzirEsta uma questo que diz respeito distribuio do produto, a qual depende o nvel e a distribuioda renda pessoal. Quanto maior a renda de um indivduo (a qual depende da quantidade e dos preosdos recursos que possui e emprega no processo produtivo), maior a parcela de produto da economiaque ele pode adquirir.

    e) O que reservar para as futuras geraesEste um problema de manuteno e ampliao da capacidade produtiva da economia. Isto implica nos conservar intacta a fora produtiva atravs de uma proviso para depreciao, como tambmaumentar a quantidade dos recursos da economia e melhorar as tcnicas de produo.

    Estas questes situam-se em trs diferentes nveis. No nvel econmicodecide-se sobre o que equanto produzir e o que reservar s futuras geraes. No nvel tecnolgico, sobre como produzir, e nosocial, sobre para quem produzir, ou seja, sobre como repartir o produto.

    1.2.3 - Organizao de um Sistema Econmico Capitalista

    O que se pretende nesta seo (e tambm no prximo captulo) examinar a economia como umtodo, uma vez que, a partir do captulo III, a anlise ser em pormenores (microeconomia). Parte-se de ummodelo simplificado de um sistema econmico de empresa privada e depois incorpora-se num outromodelo mais completo.

    Um Modelo Simplificado

    A organizao de um sistema econmico pode ser melhor visualizada atravs de um modelo

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    simples de uma economia de mercado, sem considerar as relaes como exterior (economia fechada) e aparticipao do governo, conforme mostra a Figura 1.2.

    As duas principais unidades econmicas envolvidas num sistema econmico de livre empresa soas famliase as empresas.

    As famliasenglobam todas as pessoas e unidades familiares da economia e so, na realidade, osconsumidores dos bens e servios produzidos na economia.

    As empresas, por outro lado, so os atores econmicos que produzem os bens e servios de umanao. Para realizar este processo, elas devem comprar ou alugar os recursos econmicos. As empresasso constitudas por proprietrios individuais, corporaes, cooperativas, enfim, por sociedades, em todosos nveis do processo produtivo. As famlias e as empresas interagem em dois tipos de mercados: omercado de bens de consumo e servios(BS), e o mercado de recursos ou fatores de produo(R).Portanto, as famlias, as empresas e esses dois mercados compem uma economia de livre empresa eformam o centro em torno do qual se desenvolve a economia.

    Um diagrama de fluxo circular usado para ilustrar como as famlias e as empresas interagemnuma economia (figura 1.2). A metade superior do diagrama mostra o fluxo (real) de bens (finais) deconsumo e servios das empresas para os consumidores e um fluxooposto (monetrio)de moeda dosconsumidores para as empresas. Os preos dos bens e servios interligam os dois fluxos, ou seja, omercado de produtos para bens e servios estabelece preos que regulam a quantidade e qualidade debens produzidos e consumidos. O valor do fluxo real (que areceitaauferida pelas empresas pela vendados produtos) deve ser igual ao valor do fluxo monetrio (que se constitui no custo de vida dosconsumidores).

    A metade inferior do diagrama de fluxo circular mostra o movimento de recursos econmicos(terra, trabalho e capital) das famlias para as empresas (fluxo real), que interagem no mercado derecursos. O fluxo oposto (monetrio) ocorre quando as empresas pagam as famlias pelo uso dos recursosna forma de: salrios (do trabalho), dividendos, juros e lucros (do capital) e aluguel (da terra e dos imveis).Este mercado determina os preos dos fatores que regulam o fluxo de recursos das famlias para asempresas. Em termos monetrios, os dois fluxos tambm se igualam, ou seja, o valor do fluxo real (que a

    rendaauferida pelos consumidores pela venda de seus recursos) igual ao valor do fluxo monetrio (querepresenta o custo de produopara as empresas).

    As transaes entre famlias e empresas so limitadas pela escassez. Os consumidores tmrendas limitadas, mas desejos ilimitados. As empresas tm restries na produo, devido aos recursoslimitados para produzir os bens e servios.

    Para uma economia estacionria (que no se contrai e nem cresce), os fluxos monetrios deambas as metades se eqivalem, uma vez que, nesse caso, o valor agregado dos bens de consumo eservios igual ao valor agregado dos recursos. Isto significa que tanto os consumidores gastam toda a suarenda (no h poupana) como as empresas gastam toda sua receita com os proprietrios dos recursos(no h poupana) e, portanto, o investimento lquido zero.

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    Figura 1.2 - Fluxo Circular Mostrando a Interao entre Famlias e Empresas, num ModeloEconmico Simplificado.

    Uma sntese de todos estes movimentos ou fluxos com suas respectivas caractersticas pode sertambm evidenciada nas informaes do quadro 1.1.

    Quadro 1.1 - Caractersticas dos Fluxos Real e Monetrio entre Famlias e Empresas nos Mercadosde Produtos e de Fatores.

    ATIVIDADE MERCADO DE BENS E SERVIOS MERCADO DE RECURSOS

    FLUXO REAL

    Produtos das empresas para satisfazer asnecessidades dos consumidores em:- Bsicas: Alimentao; Habitao;

    Vesturio e Sade.

    - Secundrias: Educao; Transporte;Comunicao; cultura;Segurana Social; Esporte;Previdncia Social; Lazer.

    Os principais fatores de produo so:Recursos naturaisRecursos humanosCapitalCapacidade EmpresarialCapacidade Tecnolgica

    FLUXOMONETRIO

    As Famlias transferem parte de suasrendas as empresas ao adquirirem seusprodutos.

    As empresas remuneram as famlias pelouso dos recursos, atravs de:

    SalriosJurosAluguisLucrosDividendos

    OFERTA Exercida pelas Empresas Exercida pelas FamliasDEMANDA OU

    PROCURAExercida pelas Famlias Exercida pelas Empresas

    INTERAO Atravs dos preos dos produtos Atravs dos preos dos recursos

    Um Modelo Mais Completo

    O modelo apresentado na Figura 1.2 no incluiu as relaes com o exterior, nem a participao dogoverno e nem os mercados: de capitais, financeiro e de bens de capital, o que pode ser visualizado nafigura 1.3, cujo diagrama representa um sistema econmico mais completo de uma economia de

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    mercado. Neste modelo tem-se as grandes unidades econmicas (as famlias, as empresas e o governo)que interagemnos seis mercados(de bens de consumo, de bens capital, de fatores, financeiro, de capitaise externo).

    A produo das empresas segue dois fluxosdistintos: o fluxo de bens de consumo (so os quesatisfazem diretamente as necessidades humanas ou do governo) e o de bens de capital(que satisfazemindiretamente as necessidades humanas, uma vez que eles so usados na produo de bens de consumo

    e de novos bens de capital). Estes ltimos tm dois destinos: parte vai para investimentos de reposio(necessrio para repor aquelas unidades de capital que se desgastam ou se tornam obsoletas) e parte serempregada em novos empreendimentos (investimento lquido, o que implica em aumentar o estoque decapital). A soma dos investimentos de reposio e lquido forma o investimento bruto.

    A poupana a parcela da renda no consumida pela comunidade na satisfao de suasnecessidades imediatas, ou seja, fundamentalmente o excesso de renda global em relao ao consumoagregado da coletividade. Como fluxo, a poupana chega s empresas: ou atravs do mercado financeiro(rendendo juros aos poupadores), ou atravs do mercado de capitais, e neste caso, pode ser via compra deaes (rendendo dividendos) ou via emprstimo para atender as necessidades de capital circulante e degiro, pela emisso de debntures (rendendo juros e correo monetria).

    1.3 - ECONOMIA AGRCOLA

    A economia agrcola pode ser definida como uma cincia social aplicada que trata da maneira que o serhumano escolhe usar o conhecimento tcnico e os recursos produtivos escassos, como terra, trabalho,capital, e capacidade administrativa, para produzir alimentos e fibras e distribu-los para consumo dosinmeros membros da sociedade. Do mesmo modo que a economia, sua disciplina parente, a economiaagrcola procura descobrir relaes de causa e efeito e utiliza o mtodo cientfico da teoria econmica paraencontrar respostas aos problemas na agricultura.

    A aplicao da teoria econmica aos problemas agrcolas vem atravs de um processo depaulatina aceitao. Como as razes de uma rvore, as origens do campo atualmente conhecida comoeconomia agrcola, se assentam em muitas direes, notadamente de duas fontes: das cincias fsicas,qumicas e biolgicas e da cincia econmica. Os mais notveis primeiros esforos foram feitos poragricultores e agrnomos que reconheceram que a habilidade para cultivar plantas e criar animais no erasuficiente para garantir o sucesso dos fazendeiros. Os interesses cientficos de algumas dessas pessoasforam direcionados para os problemas da administrao da propriedade rural, com nfase especial naseleo de empreendimentos agrcolas e pecurios, manuseio da safra, custos de produo e determinaodos tipos de fazenda mais rentveis.

    A maioria dos estudantes iniciantes provavelmente tem somente um vago conceito da economiaagrcola. Para o estudante uma mistura de muitas reas. O currculo de um economista agrcolanormalmente deve incluir aulas de tcnicas agrcolas, cincia, estatstica, matemtica, administrao,economia geral e cincias sociais. Os estudantes que concentram seu estudo em economia agrcola podemoptar por reas como agribusiness, administrao rural, economia da produo, comercializao agrcola,poltica agrcola, finanas, desenvolvimento econmico, recursos naturais, abastecimento alimentar edesenvolvimento de comunidade.

    A economia agrcola uma importante rea de conhecimento porque ela se preocupa com asnecessidades bsicas da sociedade. A produo de alimentos e fibras para todas as pessoas do mundo naforma e no tempo certo um processo extremamente complexo. Mais de 40 por cento da populaomundial ainda vive da agricultura e aproximadamente 1 bilho de pessoas constitui uma populaoeconomicamente ativa no setor agrcola. Elas cultivam mais de 1,6 bilho de hectares e produzem mais de2,3 bilhes de toneladas de produtos, dos quais em torno de 1,9 bilho de toneladas de gros (cereais eleguminosas).

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    Figura 1.3 - Sistema Econmico Mostrando a Interao entre Famlias, Empresas e Governo, nosMercados de Produtos, de Recursos, Financeiro, de Capitais e Externo.

    Atualmente utiliza-se 0,3 hectare, que a rea necessria para alimentar cada habitante do globo.O mundo tem ainda disponvel praticamente o dobro de solos potencialmente aproveitveis para aagropecuria (estima-se um total de 3,2 bilhes de hectares). Isto significa dizer que, mantido o atual nveltecnolgico e o consumo per capita, a populao global mxima pode chegar a aproximadamente onzebilhes de seres humanos. Devido ao crescimento da populao mundial e recentemente elevada taxa dedesenvolvimento econmico da China (cuja populao de 1,25 bilho de pessoas), o aumento daproduo de alimentos dever receber cada vez maior ateno. Cabe ressaltar que o Brasil o pas commaior potencial de expanso da produo agropecuria, em especial por causa da regio do Cerrado, quecobre um quarto do territrio brasileiro, cuja rea disponvel de fronteira agrcola superior a 70 milhes dehectares.

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    A agricultura uma parte integrante do sistema alimentar mundial, e a produo agropecuria abase desse sistema. Os economistas rurais devem ter uma boa compreenso de agricultura e pecuria,devido ao seu impacto sobre a aquisio de insumos e sobre o atendimento das necessidades dosconsumidores.

    Para entender estas relaes econmicas, o estudante deve conhecer a base fsica de todos osprodutos agrcolas, pois cada produto tem suas prprias caractersticas. O estudante deve entender a

    influncia do clima para poder decidir como e o que produzir. Alm dos aspectos estritamente ligados aoprocesso produtivo, o estudante deve ter conhecimento das polticas governamentais e seus impactos sobrea produo e a distribuio de alimentos e fibras.

    Finalmente, uma recomendao ao estudante e ao leitor: no tente memorizar nenhuma dasdemonstraes grficas expostas ao longo deste livro. Se assim o fizer, voc estar tornando a economiamuito mais difcil. Ao invs disso, recomenda-se que voc aprenda os princpios econmicos mostradospelos grficos, pois ao fazer isso voc perceber que muito mais fcil aplicar estes princpios para umgrande nmero de problemas do mundo real.